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DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE INDEFERE OS BENEFÍCIOS DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA


GRATUITA. PESSOA JURÍDICA. POSSIBILIDADE DO BENEFÍCIO. SÚMULA No 481, DO SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA. COMPROVAMENTE DE AUSÊNCIA DE LUCROS E GANHOS DE CAPITAL, ALÉM DA CONDIÇÃO
DE DESEMPREGADO DO SÓCIO. REFORMA QUE SE IMPÕE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de ___________ no 0042997-84.2017.8.16.0000 da 19a Vara Cível do
Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba no qual figuram como ___________
VENTURE TRANSPORTE LTDA e como ___________ BANCO BRADESCO S/A.
1. Relatório
Trata-se de recurso de ___________ com pedido de efeito ativo voltado a impugnar a decisão proferida (mov.57.1)
nos autos de ação de busca e apreensão no 0024923-13.2016.8.16.0001 ajuizada pela ___________, nos seguintes
termos:
2. O art.5o, LXXIV, da Constituição Federal, dispõe “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos”.
O Art.98, do Código de Processo Civil, por sua vez, estabelece que “A
pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas
processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei”.
Já o art. 99, §3o, do mesmo diploma dispõe que “Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida
exclusivamente por pessoa natural”. Ou seja, o pedido de gratuidade relativo a pessoa jurídica, com ou sem fins
lucrativos, deve necessariamente vir instruído de comprovação da condição de hipossuficiência.
Nesse exato sentido, a posição sumulada pelo Superior Tribunal de Justiça:
“Súmula 481/STJ - Faz jus ao benefício
da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os
encargos processuais”.
No caso, em pese à alegada situação financeira difícil, a empresa encontra-se regularmente constituída e não foi
cabalmente demonstrada a total ausência de receitas e patrimônio, suficiente para inviabilizar a assunção dos ônus
decorrentes desta demanda.
Nessas condições, deferir o benefício, que, em última análise, é custeado pelo Estado, equivaleria a carrear à
população os ônus que deveriam ser pagos pela requerente, o que não pode ser admitido.
Ante o exposto, INDEFIRO o pedido de concessão de gratuidade processual.
Inconformada, a parte ___________ sustentou, em síntese, que a decisão do Magistrado a quo indeferiu o pedido
de concessão do benefício da assistência judiciária gratuita merece ser reformada, haja vista que juntou documentos
aos autos que comprovam a sua incapacidade de arcar com as custas e despesas processuais.
Por fim, requereu, liminarmente, a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita e a concessão do efeito
ativo ao recurso e, a fim de reformar definitivamente a decisão ___________ concedendo-lhe o benefício pleiteado.
Foi deferido o pedido de efeito suspensivo da decisão ___________ à sequência 7.1. Foram apresentadas
contrarrazões à sequência 14.1,
oportunidade em que o ___________ pleiteou pela improcedência do recurso.
É o relatório.
2. Voto - Fundamentação
Presentes os pressupostos de admissibilidade, tanto
intrínsecos (legitimidade, interesse, cabimento e inexistência de fato impeditivo e extintivo), quanto extrínsecos
(preparo, tempestividade e regularidade formal), admito o recurso interposto, determinando o seu regular
processamento.
A ___________ requer a modificação da decisão proferida, a fim de obter o benefício da gratuidade da justiça, o qual,
foi indeferido pelo Juízo “a quo”.
Observa-se que o MM. Juiz fundamentou sua decisão no sentido de que em que pese tenha alegado difícil situação
financeira da empresa, esta encontra-se regularmente constituída e não foi cabalmente demonstrada a total ausência
de receitas e patrimônio, suficiente para inviabilizar o pagamento das custas da demanda.
A concessão da assistência judiciária gratuita é um direito fundamental previsto no art. 5o, inciso LXXIV, da
Constituição Federal, ao dispor que o "Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos".
Por sua vez, a Lei no 1.060/50 prescrevia, em seu artigo 4o, que a mera alegação de insuficiência econômica para o
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo próprio ou de sua família, era suficiente
para o deferimento do benefício da justiça gratuita, ante a presunção iuris tantum de veracidade, considerando a
ausência de prova em sentido contrário.
No mesmo sentido, o Novo Código de Processo Civil, que revogou parcialmente a referida Lei, estabelece que
"presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural" (§ 3.o, art. 99,
CPC/15), bem como que "o juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a
falta dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à
parte a comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos." (§ 2.o, art. 99, CPC/15).
Ressalta-se que apesar de se operar a presunção da hipossuficiência de recursos da pessoa natural, também pode
ser concedido o benefício a pessoa jurídica, desde que essa comprove documentalmente o seu estado de
hipossuficiência financeira, nos termos do art. 98, caput, do Código de Processo Civil.
Este é o entendimento trazido na Súmula no 481, do Superior Tribunal de Justiça: “Faz jus ao benefício da justiça
gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos
processuais”.
Da análise dos autos, denota-se que a ___________ alegou não possuir condições de arcar com o pagamento das
custas e despesas processuais, tendo inclusive juntado a cópia da declaração do imposto de renda da pessoa
jurídica, onde consta a inexistência de lucros e ganhos de capital, oportunidade que comprovou ausência de
rendimentos, bem como cópia da CTPS do sócio Izaias Rodrigues, demonstrando a ausência de vínculo de emprego
no momento.
Nessas condições, salvo melhor juízo, tendo em vista a ausência de vencimentos líquidos e, somando com o
comprometimento de seus gastos, poderá haver dificuldade do sustento dos sócios e de seus familiares, em razão
da necessidade também de pagar as custas do processo.
A rigor, o Juiz não pode exigir nada mais do que exige a lei, muito embora haja doutrina e jurisprudência dizendo o
contrário. Respeito entendimento outros, mas não podem prevalecer, enquanto estivermos em um Estado de Direito
democrático.
Neste sentido, o entendimento do e. Superior Tribunal de Justiça:
PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO ANULATÓRIA DE PENALIDADE DE TRÂNSITO - ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
GRATUITA - INDEFERIMENTO - ALEGADA NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA HIPOSSUFICIÊNCIA -
REQUISITO NÃO EXIGIDO PELA LEI No 1.060/50.
- Nos termos do art. 4o da Lei no 1.060/50, a parte gozará dos
benefícios da assistência judiciária, mediante simples afirmação, na própria petição inicial, de que não está em
condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família.
- Hipótese em que a instância ordinária, ao fundamento de que a declaração de insuficiência financeira prestada pelo
recorrente não bastava para comprovar sua situação de necessitado, indeferiu o pedido.
- Recurso especial conhecido e provido (STJ -REsp 686722/GO. 2a Turma, Rel. Min. FRANCISCO PEÇANHA
MARTINS, DJ 03/10/2005).
(...) 1 - A simples afirmação da necessidade da justiça gratuita é suficiente para o deferimento do benefício, haja vista
o art. 4o, da Lei no 1.060/50 ter sido recepcionado pela atual Constituição Federal. Precedentes da Corte. 2 - Ainda
que assim não fosse, é dever do Estado prestar assistência judiciária integral e gratuita, razão pela qual, nos termos
da jurisprudência do STJ, permite-se a sua concessão ex officio. (...) 4 - Recurso especial conhecido e provido (STJ
- REsp no 320019/RS, 6a Turma, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU 15.04.2002).
A Constituição Federal recepcionou o instituto da assistência judiciária gratuita, formulada mediante simples
declaração de pobreza, sem necessidade da respectiva comprovação (STJ - REsp 200390/SP, 5a Turma, Rel. Min.
Edson Vidigal. DJU 04.12.2000).
Para se obter o benefício da assistência judiciária gratuita, basta que seu beneficiário a requeira mediante simples
afirmação do estado de miserabilidade, sendo desnecessária a sua comprovação (STJ - Resp no 121799/RS, 6a
Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJU 26.06.2000).
E também o Supremo Tribunal Federal:
A garantia da CF 5o LXXIV - assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos -
não revogou a de assistência judiciária gratuita da L. 1060, de 1950, aos necessitados, certo que, para obtenção
desta, basta a declaração, feita pelo próprio interessado, de que a sua situação econômica não permite vir a juízo
sem prejuízo de sua manutenção ou de sua família. Essa norma infraconstitucional põe-se ademais, dentro do espírito
da Constituição, que deseja que seja facilitado o acesso a todos à justiça (CF 5o XXXV) (STF - RE 205746- 1/RS, 2a
Turma, Rel. Min. Carlos Velloso, DJU 28.02.1997).
Ademais, o artigo 99, §2o do Código de Processo Civil/2015 discorre que o juiz somente poderá indeferir o pedido
de assistência judiciária gratuita se existirem nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais
para a sua concessão, o que, em análise, não se verifica nos autos de origem.
Desta forma, concedo a gratuidade de justiça à ___________, confirmando a liminar, anteriormente deferida.
3. Dispositivo
Acordam os Desembargadores da 18a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, por unanimidade de votos,
conhecer e dar provimento ao recurso de ___________, nos termos do Voto do Relator.
Curitiba, 09 de maio de 2018.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Marcelo Gobbo Dalla Dea (com voto) e dele participou o
Desembargador Espedito Reis do Amaral.

Considerando o acórdão acima, do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, responda às questões abaixo:

1) O acórdão acima se refere ao julgamento do recurso de:


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2) Qual é a previsão legal deste recurso?

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3) Cite e explique duas outras hipóteses de cabimento deste recurso.

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4) Supondo que o recurso acima não tivesse sido conhecido, por decisão monocrática do relator, qual seria
o recurso cabível contra esta decisão?

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5) Qual é a previsão legal do recurso mencionado na sua resposta à questão 4?

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6) Tendo em vista que a decisão recorrida foi publicada em 14/05/2018 (segunda-feira), qual era o último dia
do prazo para a interposição do recurso julgado no acórdão acima?

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7) Supondo que o acórdão acima violou questão constitucional e que já houve a manifestação expressa sobre
o dispositivo legal tido por violado, bem como o tema possui repercussão geral, qual é o recurso cabível
contra esta decisão colegiada?

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8) Em matéria de recursos interpostos nos Tribunais de segunda instância, cite e explique quais são os
recursos cabíveis contra a decisão do Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal que inadmite os recursos
extraordinário e especial.
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9) Diferencie as hipóteses de cabimento do recurso ordinário ao STJ e do recurso ordinário ao STF.

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