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Tradução: Chayra Moom

Primeira Revisão Inicial: Jaqueline Sales


Segunda Revisão Inicial: Ana

Revisão Final: Argay Muriel


Leitura Final: Pl
Formatação: Gaby B.
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Capítulo Um

Está lindo, hoje. Os seus olhos são castanhos


profundos, e escuros, com uma pontinha de calor que estou
descobrindo que esconde um oceano turbulento de
inteligência, astúcia e crueldade. Ele é jovem, hoje. Nem
mesmo vinte e cinco, creio eu. Sua juventude se mostra na
incapacidade de, ainda, permanecer sentado no meu intocado
sofá de couro branco, na maneira como cruza as pernas
longas e bem definidas, no tornozelo no joelho, vestidas com
um Armani Cinza Ardósia, e em seguida, estendendo o braço
no tornozelo diante de você, de maneira que estica o pulso
com Rolex e delicadamente pega um fio invisível solto em sua
camiseta de decote em V preta, a maneira como esfrega seu
joelho com os dedos fortes, mas de aparência frágil e toca sua
mandíbula e, em seguida, cava em seu bolso pelo seu
smartphone elegante que não está lá, porque libertá-lo do
dispositivo é uma parte integrante do programa de
treinamento. E definitivamente, você precisa de treinamento.

Seu nome é Jonathan, hoje. Não Jon, ou John, ou


Johnny, mas Jonathan. Você acentua, muito sutilmente, a
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primeira sílaba, Jonathan. É fofo, que esse pequeno acento


na primeira sílaba de seu nome oh-tão-genérico. Jonathan.
Como que para se certificar de que estou ouvindo antes de
dizer o resto, como se dissesse: “preste atenção ao que eu
sou.” Você é tão jovem, Jonathan. Você é apenas alguns anos
mais jovem do que eu, mas a idade é muito mais do que
quantas vezes já foi girado em torno do sol. Sua idade
transparece mais do que sua incapacidade de quietude;
encarando-me, com aqueles olhos castanhos em camadas,
olhando-me com luxúria, cálculo, maravilha e sem nem um
pouco de medo.

Você é como todo o resto de vocês -oh, como eu odeio a


falta de uma conjugação para você no plural do idioma Inglês;
outras línguas são muito mais precisas e eficazes e elegantes.
Deixe-me tentar novamente: Você (singular, Jonathan) é
muito parecido com todo o resto de vocês (plural, a multidão
de homens-meninos que vieram e se foram antes de você-
singular, Jonathan).

Você, Jonathan, olha para mim com aquele olhar


vigoroso, faminto ganancioso, necessitado, perguntando-se
como pode me possuir, como poderia quebrar as regras
vinculativas ao presente contrato, como pode me conseguir
para sair com ele e ser sua, e como poderia me fazer soltar a
blusa ou me curvar para baixo para que assim possa pegar
um melhor vislumbre do meu decote, como pode ter-me de
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qualquer forma. Mas, como todos os outros, ele não pode.


Não é, nada disso.

Eu não sou para você.

Eu pertenço a um homem, e apenas um homem. Não o


que você deseja, pelo menos.

E você, Jonathan, e você -plural -não é digno de sequer


pensar o seu nome. Nem ao menos compreender a
sofisticação, o polimento, a cultura, o charme, a elegância, o
poder fácil e o domínio natural que ele possui. Você
simplesmente não pode.

Ele é o sol que forma arcos através do horizonte, e você é


um vaga-lume esvoaçando para lá e para cá no meio da noite,
cada um de vocês pensam que sua pequena luz brilha mais,
sem nunca perceber o quão pequeno e insignificante vocês
realmente são.

Estamos sentados no meu sofá, bebendo chá Harney &


Sons Earl Grey, e estou observando a sua postura, a posição
do seu braço e o ângulo de seu pulso, a envergadura de seu
pescoço e a mudança dos seus olhos. Vejo tudo isto, observo
cada detalhe, para poder julgar tudo, faço contagens mentais
e preparo a minha lição. Por agora, entretanto, eu tomo um
gole de minha bebida, e o deixo guiar a nossa conversa.

Você é um conversador abismal, Jonathan. Fala de


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esportes, como um menino comum de cócoras sobre


tamborete de barra que enxagua cerveja. Como se eu alguma
vez pudesse eventualmente poupar um único momento de
pensamento para tal coisa. Mas eu o deixo falar tolamente
sobre algum jogador, e aceno um hum-hum em todas as
pausas adequadas, e deixo brilhar os meus olhos como se eu
me importasse. Porque você precisa desta lição, Jonathan.
Vou deixá-lo divagar sobre o futebol, e fingir que me importo
e vou deixar desperdiçar meu tempo e o seu, e quando ficar
sem palavras, ou talvez até finalmente perceber que estou
apenas divertindo-me com ele, vou estripá-lo como um peixe.

Você me deu, por isso não vou ser gentil sobre isso.

“... E ele estava mudando os números como ninguém,


sabe? Tipo ele é apenas um animal no campo e ninguém pode
tocá-lo, não uma vez que ele tem a bola. Cada jogo é como, eu
falo de a porra da bola para ele seu maldito idiota, apenas dar
a bola para ele, é tudo que você tem que fazer. Obviamente, o
escolhi para o meu campeonato de futebol de fantasia, e ele
vai me fazer uma porrada de dinheiro ...” — Vejo o gesticular
com as mãos, enrolá-las em círculos, e assim por diante, até
que eu estou tendo que me esforçar para ouvir cada palavra
como se fosse pepitas de som sem substância.

Termino o meu chá.

Sirvo-me de outra xícara, e bebo a metade disso, e ele


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não terminou o seu primeiro porque ainda está falando, e é


interminável.

Finalmente não posso suportar isso por mais tempo.

Estabeleço minha xícara sobre o pires com um barulho


alto, intencionalmente, o assustando em silêncio. Deixo a
ausência de ruído fluir através de mim por um momento,
banhar-se no silêncio e deixo recolher os meus pensamentos
e o deixo ver o meu desagrado. Ele está suando,
desconfortavelmente, e não consegue encontrar o meu olhar.
Ele sabe que cometeu um erro.

— Madame X, me desculpe, eu...

— Isso é o bastante, Jonathan. — Digo isso, acentuando


a primeira sílaba, para mostrar o quão tolo ele parece. —
Você tem desperdiçado cerca de trinta minutos do meu
tempo. Lembre-se, Jonathan, quanto por hora nossas sessões
custam ao seu pai?

— Eu, hum...

Eu o olho com lâminas em meu olhar.

— Sim? Fale, claramente, e não tente erradicar as


palavras com enchimentos maldosos.

— Mil dólares por hora, Madame X.

— Correto. Mil dólares americanos por hora. E, tendo


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desperdiçado trinta minutos falando sobre futebol, o quanto


você perdeu?

— Quinhentos dólares.

— Correto. Pelo menos você pode gerenciar matemática


simples. — Saboreio o meu chá, reunindo minha ira em uma
bola concentrada no meu âmago. — Esclareça-me, Jonathan,
por qual motivo você pensou que tal lixo ridículo valeria a
pena o meu tempo.

— Eu, um...

Eu abaixo minha xícara com um barulho alto mais uma


vez, e ele recua. Levanto-me, aliso meu vestido sobre meus
quadris, e não perco o lance libertino de seus olhos em cima
de mim como se eu fosse o levar para outra porta.

— Estamos prontos aqui, Sr. Cartwright.

— Não, Madame X, me desculpe, eu vou fazer melhor,


eu prometo...

— Eu não acho que você vai, por que não acredito que
seja capaz de fazer melhor, Sr. Cartwright. Você não pode
mesmo parar de dizer 'um' e 'como' e usando vulgaridades.
Para não mencionar perder o nosso tempo juntos para falar
sobre futebol.

— Eu estava conversando, Madame X.


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— Não, Jonathan, você não estava. Você não estava


falando comigo, você estava falando para mim. Você estava
vomitando excrementos de sua boca, simplesmente por uma
questão de ouvir-se falar. Talvez entre os seus... amigos... tal
lixo poderia ser considerado conversa. Eu sou uma dama. Eu
não sou sua amiga. Eu não sou uma vagabunda de bar de
cabeça vazia, que pode se deslumbrar com os seus dentes
brancos e cabelo cortado em salão e calças caras. Não me
importa o quanto o seu pai vale a pena, Sr. Cartwright. Nem
mesmo remotamente. Então, se você deseja continuar estas
sessões, você vai ter que melhorar, e muito rapidamente. Eu
não tenho tempo a perder, nem paciência para lidar com
absurdos.

— Sinto muito, Madame X.

Eu olho para ele.

E ele está choramingando, e rastejando. Agindo como


uma criança. Quando fala preenche suas frases com palavras
de baixo calão e ainda sem dizer nada de valor. E quando o
chamo para pensar em suas falhas, pede desculpas como um
menino que foi pego com a mão no pote de biscoitos.

Olha para mim, sentando-se para frente com os pulsos


sobre os joelhos, os dedos se contraindo e coçando e
arrancando sem descanso. Ele não tem dignidade, postura e
elegância. Ele tem todo o charme de um tronco de árvore.
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Meu trabalho com você será um verdadeiro teste de


minhas habilidades. Encontro-me irritada em dar um
sermão. Com raiva dele, por ser um idiota total. Brava, por
me fazer perder meu tempo com um desastrado, gago,
maldizendo um crianção como você, porque você, Jonathan, é
tudo o que representa de pior da minha clientela. Estou
aborrecida com ele, com raiva, fervendo com mal disfarçado
desprezo; e Jonathan? Isso não significa nada de bom para
você.

— Sente-se direito. Mantenha suas mãos paradas.


Encoste-se no sofá e relaxe. Sua linguagem corporal deve
transpirar confiança e controle, Sr. Cartwright. Você deve
parecer à vontade em todos os momentos.

— Estou à vontade — ele argumenta.

Não perco tempo respondendo, só ando em sua direção


e paro assim que eu estou em pé entre a seus joelhos.
Mantenho meus olhos sobre os seus, deixo todo o peso do
meu corpo ser pressionado nele, mostro o meu desprezo total
e completo. Você não é ninguém, não é nada. Você é uma
criança mimada. E eu deixo tudo isso a mostra em meu olhar
quando olho para baixo para ele.

Ele muda de posição desconfortavelmente mais uma vez,


transferindo o peso de uma nádega a outra. Olha para longe
primeiro, e traça o vinco de suas calças com um dedo.
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Eu apenas fico a sua frente, encarando em silêncio.

Ele quebra.

— O quê? O que você quer, Madame X?

— E é por isso que você está aqui. Não deveria ter que
perguntar isso. Você deveria saber. Melhor ainda, deveria me
dizer o que eu quero. Isso seria um começo.

— O que seria preciso para que você possa ficar


interessada em mim? — Pergunta isso com um sorriso
afetado, mesmo que eu possa dizer que para ele significava
ser sedutor. Ou algo assim.

Eu sorrio e me afasto.

— Ah, Jonathan. Eu nunca poderia ser sua. Você não


poderia me interessar. Nem um pouco. Falta... bem, não há
simplesmente muito para enumerar. É por isso que você está
aqui.

Eu ouço-o levantar-se, e espero-o fazer sua jogada. Ele


anda de lado por trás de mim, e sim, ele é alto, e tem passado
tempo suficiente na academia para ter um corpo bem
esculpido. Sem ter um domínio, no entanto... não é nada. Ele
coloca suas mãos em minha cintura, me vira no lugar, e eu
deixo.

— Por que estou aqui, Madame X?


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— Você não devia ter que perguntar isso, Jonathan.

— Por que você continua dizendo meu nome desse jeito?

— É dessa forma que deve ser dito.

— Parece ridículo.

— E você também é.

Abaixo as sobrancelhas e o toque de calor, que agora vi,


está sendo mandando para longe de suas bochechas. Boa. Eu
quero que tire a fachada de distância; quero chegar a sua
verdadeira natureza.

— Eu não, — ele insistiu.

Eu sorrio, e é, um sorriso divertido e cruel.

— Se você quer discutir, procure a sua irmã ou participe


de uma equipe de debate do ensino médio. Discutir deve ser
abaixo de você.

— Por que estou aqui, Madame X? — Ele pergunta de


novo, e ainda com mãos na minha cintura, mas não faz nada
com isso.

Permitindo que ele me toque é uma moeda, e ainda ele


falha em gastá-la.

— Você realmente não sabe?

Ele dá de ombros.
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— Na verdade não.

— Quem sou eu?

— Você é Madame X.

— E o que isso significa, o que você acha que é?

Ele pisca, e olha para a direita.

— Você é... uma prestadora de serviços. — Eu


simplesmente o olho com uma sobrancelha levantada. Ele
limpa a garganta e gagueja. — Bem, eu-hum.

— Se você disser 'hum' mais uma vez, ficarei


descontente. — Minha voz é fria, mas eu o deixo me tocando,
só para ver o que vai fazer.

— Eu não quero dizer isso.

— Covarde. — Eu deixei a palavra sair de meus lábios


como uma pedra.

Ele me solta, anda alguns passos, com um rubor


subindo por seu pescoço, e volta.

— Você é como uma... uma prostituta. Ou uma


acompanhante. Mas... não.

Eu o fuzilo com meu olhar para que possa ver minha


reação. Ando em sua direção, quadris balançando com extra
sedução, lábio moldados em desprezo.
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— Sério? Você acha?

— Bem, não exatamente, mas...

— Você acha que isso é sobre sexo? — Eu paro a um


milímetro de distância dele. As pontas dos meus seios quase
tocam a sua camiseta, mas não o fazendo. — O que deu a
você essa impressão, Sr. Cartwright?

Ele cora, e depois empalidece.

— Bem, eu quero dizer, seu nome é Madame X. Como


um... uma senhora. E mil dólares por hora? Quero dizer,
vamos lá.

— E quanto de mim diz prostituta, Sr. Cartwright? — Eu


levanto o meu queixo e mantenho o meu olhar fixo ao seu.

— Nada... Eu quero dizer... — Ele pausa e deixa o


silêncio cair, deixo-o pendurar-se em seu silêncio.

Um minuto de silêncio é insuportável na maioria das


circunstâncias; para ele, isso é pura tortura.

— Leu o contrato, Sr. Cartwright? — Levanto uma


sobrancelha.

Ele levanta ombros com indiferença.

— Na verdade não.

— E ainda assim você tem esperança de herdar a


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empresa de seu pai? — Balanço a cabeça. — Patético.

Ele está ficando irado. Suas falas e ações são como


copias de um livro: narinas dilatadas, olhos semicerrados, os
dedos flexionados os punhos.

— Eu estou ficando cansado disso. Não vou pagar mil


dólares por hora para ser insultado.

— Você não está me pagando nada, seu pai está. E


espero que não se canse disso. Talvez você vá encontrar a
coragem interna para parar de ganhar meus insultos.

Eu me afasto dele e recupero o nosso contrato. É curto e


simplesmente redigido, mas infalível.

— Você assinou, e eu também, e assim fez o seu pai. Eu


sei o texto de cor, e sei que seu pai o leu, mas você é
simplesmente demasiado preguiçoso e também se acha no
direito de não ser incomodado.

Com o contrato em uma das mãos, eu uso a outra para


empurrá-lo. Bato com minha mão no centro do peito, e ele
está tão surpreso que cai para trás e senta-se com força no
sofá. Ele está chocado em silêncio. Eu coloquei um pé sobre a
madeira de teca africana, escura reluzente entre os seus pés,
coloquei o salto estilete de meu Louboutin preto em seu peito,
e pressionei com força suficiente para causar desconforto.

— Preste atenção, Jonathan. Primeiro, e mais importante,


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nunca assine nada sem ler tudo, cada parágrafo e suposição,


cada linha de letras miúdas. Você acha que seu pai teria
assinado isso sem ler. — Ele abre a boca para protestar, eu
movo meu calcanhar em seu peito e ele pressiona os dentes
fechados. — Eu vou ler para você, Jonathan, e você vai ouvir.
É muito simples, realmente.

Eu me inclino para frente, e seus olhos se alargam


quando eu intensifico a dor. E ainda, seus olhos voam para a
curva da minha panturrilha, onde o jade profundo do vestido
Valentino está apenas a milímetros abaixo do meu joelho.

— Preste atenção, seu idiota. Mantenha seus olhos nos


meus, não nas minhas pernas. Eu vou facilitar para que você
possa ouvir. “Ao assinar este documento, os assinantes
concordam com as seguintes estipulações que dizem respeito
tanto ao contratante, doravante referida como Madame X, e o
cliente, Jonathan Edward Cartwright III. O item de número
um: Nem Madame X nem o cliente devem de forma alguma
referir-se ou discutir com ninguém deste contrato e/ou os
serviços prestados, nem as cláusulas ou condições contidas
neste documento. Item de número dois: Remuneração para
Madame X deve ser realizado através de transferência
bancária eletrônica das contas de Jonathan Edward
Cartwright II às contas de Indigo Services, LLC, cujos termos
não devem ser adicionados, reforçados, alterado ou em
qualquer forma emendada por qualquer um, Madame X ou o
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cliente. Item número três: Os serviços prestados por Madame


X, agindo como um agente subcontratado para os de Indigo
Services, não incluirá atos sexuais de qualquer espécie, seja
os orais, manuais, ou penetração, e tais não deve ser inferido,
solicitado ou exigido por qualquer Madame X em nome de
Indigo Service ou por Jonathan Edward Cartwright III nem
quaisquer representantes do cliente. O item de número
quatro: As informações relativas a este contrato como dizem
respeito aos serviços educacionais prestados devem
permanecer sob a autoridade da Madame X sozinha, e não
podem ser desafiados, ou protestados pelo cliente ou seus
representantes, e de modo algum procurar alterar ou desafiar
o programa educacional e quaisquer métodos utilizados
devem resultar na rescisão do contrato, o que resultará em
uma taxa de rescisão igual ao total estimado de horas de
programas faturáveis fornecidos pelo inquérito, acrescido de
uma taxa de reclamação de trinta e cinco por cento do total .
Número cinco: O panfleto programa educacional fornecido no
inquérito é um documento de proprietário legalmente
protegido, licenciado e protegido por direitos autorais. O
panfleto e seu conteúdo devem não ser copiados, distribuídos
ou de qualquer forma comunicados para alguém não
nomeado no presente contrato. A violação deste item deve
resultar na rescisão imediata do contrato, resultando em
todas as taxas de terminação de atendimento, bem como
todas e quaisquer ações necessárias para punir violações de
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direitos autorais. — Faço uma pausa e olho para ele vejo se


tem de fato me ouvido. — Bem, Jonathan? Alguma pergunta?

Ele balança a cabeça.

— Não. Vejo que eu estava em errado por não ler o


contrato. Sinto muito, Madame X. Eu espero que não tenha a
insultado.

Eu sorrio generosamente e retiro o pé do seu peito. Ele


esfrega no local dolorido com uma palma e estou espantada
ao ver como a sua mão treme ao fazê-lo.

— Você leu o panfleto, Jonathan?

Ele balança a cabeça novamente.

— Não, eu não.

— Pare de desperdiçar palavras. Diga o que você quer


dizer, e só isso.

— Ok.

— Não 'ok', Jonathan; — Sim, Madame X. — É um teste;


se você realmente me obedecer, responder com tal submissão
chorona, então você será reprovado no teste, e você falhou-o
miseravelmente.

Seus olhos se estreitam e vejo tomar uma respiração


profunda.
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— Você está brincando comigo.

Sorrio para ele, e este é o meu sorriso afiado, meu


sorriso de predadora. Ele encolhe-se longe de mim quando
me inclino, e seus olhos vão para o meu decote.

— Os olhos nos meus, Jonathan, — estalo. — Você não


vai me olhar assim. Você não fez por merecer.

— Merecer? — Há esperança em sua voz.

Menino patético.

Coloco as mãos na parte de trás do sofá, em ambos os


lados de sua cabeça. Meu rosto está a polegadas do seu, e eu
posso sentir o hálito pútrido, e posso dizer que ele não se
preocupou em escovar os dentes esta manhã. Eu nem sei por
onde começar, como eu posso até começar a salvar o seu
direito, mimado, preguiçoso, sua personalidade passiva. Eu o
encaro até desviar o olhar e tentar enterrar-se nas almofadas
do sofá.

Quando eu sei que ele vai ouvir, se endireitar e ficar com


a minha rígida espinha e minha cabeça erguida, literal e
figurativamente olhando para o meu nariz.

— Eu não estou sendo paga para ser legal com você,


Jonathan, então eu não vou ser. Eu estou sendo paga para
ensiná-lo a ser um homem. Como sentar, falar, comer, beber
e pensar, não apenas como um bastardo preguiçoso e rico,
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mas como o herdeiro de uma empresa multibilionária. Não te


daria uma hora do dia caso contrário, Jonathan. Eu não
olharia para você duas vezes. Eu não tentaria sorrir para
você, se te visse em um bar, ou na rua. Você transpira
incompetência. Todo o seu rumo e atitude diz que você não
dá uma merda a como você é visto.

— Eu pensei que não deveria se importar? — Pergunta.

— Errado. Você deve estar sempre ciente de como você é


percebido. Aparecendo estar tão confiante em si mesmo que
as opiniões dos transeuntes não importar é uma coisa, e isso
é o que você procura: o aparecimento de confiança casual, a
aparência de indiferença e a arrogância apenas suficiente
para ser atraente. — Faço um gesto para ele com um dedo,
para cima e para baixo para o indicar como um todo. — Neste
momento, Jonathan? Você fede. Sua respiração é rançosa, e
você coloca colônia cara demais, de baixa qualidade. Isso por
si só é broxante. Nenhuma mulher nunca vai querer estar em
torno de um homem que não consegue se lembrar de escovar
os dentes antes de encontrá-la. E isso é apenas a minha
impressão olfativa. Você é diferente e submisso, contudo
totalmente arrogante. Você não se preocupou em ler um
contrato que assinou, então você não sabe mesmo com o que
é que você concordou. Isso me diz que você é
irremediavelmente preguiçoso e totalmente incompetente.
Você não tem qualquer influência, nenhuma presença. Não
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tenho nenhum desejo de passar outro momento em sua


companhia, e não para qualquer coisa. Você me entediou com
a conversa de futebol, de todas as coisas. Em uma palavra,
Jonathan Cartwright, você é patético. Nós estamos feitos
aqui.

Aponto para a porta, e ele levanta-se, visivelmente


irritado agora.

— Você não pode falar assim comigo sua...

— Eu certamente posso. Eu não preciso de você. Eu


tenho uma lista de espera de cliente de dois anos. Eu não fui
procurá-lo; seu pai me procurou, porque ele está
desesperado. Seu pai, agora... ele tem presença. Quando seu
pai entra em uma sala, as pessoas o notam. Quando ele fala,
as pessoas ouvem. E sim, isso se deve em parte ao fato de
que ele é um dos homens mais ricos do país. Mas como você
acha que ele ganhou a sua riqueza? Sentando-se ao redor e
vendo futebol? Encostando-se à aba de seu pai? Não! Ele
exigiu que seus pares tomassem nota, e eles fizeram. Ele
exige atenção e respeito simplesmente por mérito de quem ele
é. Você... não. — Eu giro a maçaneta da porta e a deixo
aberta, fazendo um gesto para o hall de entrada e o elevador.
— Vá embora, Jonathan, e não se incomode em voltar a
menos que você possa aprender a higiene básica, no mínimo,
se não como fazer conversa interessante.
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Ele olha para mim, e vejo raiva, vergonha e dor em seus


olhos. Ele odeia ser comparado com o seu pai, é claro, mas só
porque sabe que essas comparações o deixa profundamente
carente.

Fecho a porta atrás dele, enquanto ouço a porta do


elevador abrir e fechar mais uma vez, só então eu deixo-me
cair contra a porta e solto os nervos e respiro. Eu insultei o
filho de um dos homens mais poderosos do mundo.

Mas então, esse é o meu trabalho.

Uma batida na porta, o balanço do silêncio de


dobradiças, e então o calor e a dureza atrás de mim, um leve
toque, mas uma inebriante colônia, o rangido de couro. Mãos
na minha cintura, lábios no meu pescoço. Respiração na
minha pele.

Não me atrevo a ficar tensa, não me atrevo a puxar uma


respiração tensa de medo. Não me atrevo a me afastar.

Mãos poderosas tocam-me e me mantem no lugar, e um


dedo indicador toca meu queixo, elevando meu rosto, inclino
o meu olhar. Eu não posso respirar, não me atrevo, não me
foi dada permissão.
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— Você está mais bonita do que nunca, X. — A voz


profunda e suave, culta, como o ronronar de um motor
afinado.

— Obrigada, Caleb. — Minha voz é calma, com cuidado,


as minhas palavras são escolhidas e precisas.

— Scotch. — O comando é um murmúrio, quase


inaudível.

Eu sei como prepará-lo: um copo de cristal, um único


cubo de gelo, líquido âmbar grosso uma polegada até antes
do topo. Eu ofereço o copo e espero, mantendo meus olhos
baixos, com as mãos atrás das costas.

— Você foi muito dura com Jonathan.

— Eu tenho que discordar respeitosamente.

— Seu pai espera resultados.

—Nunca falhei em produzir resultados.

— Você o mandou embora em menos de uma hora.

— Ele não estava pronto. Precisei mostrar os seus


defeitos. Ele precisa entender o quanto tem que aprender.

— Talvez tenha razão. — Cliques de gelo, e eu tomo o


copo vazio, coloco de lado, e forço-me a permanecer no lugar,
a manter a respiração e me lembrar de que eu devo obedecer.
— Eu não vim aqui para discutir Jonathan Cartwright, no
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entanto.

— Suponho que não. — Não deveria ter dito isso.


Lamento assim que as palavras saem livres.

Meus pulsos são presos juntos sob um aperto


esmagador. Olhos escuros encontram os meus, me
perfurando e assustando.

— Você não supõe?

Eu deveria pedir perdão, mas eu sei melhor. Levanto


meu queixo e enfrento olhos escuros frios, cruéis,
inteligentes.

— Você sabe que eu vou cumprir o contrato. Isso é tudo


o que eu quis dizer.

— Não, isso não é tudo que você quis dizer. — A sua


mão passa através do cabelo preto artisticamente
desarrumado. — Diga-me o que você realmente queria dizer,
X.

Eu engulo em seco.

— Você está aqui para o que você sempre quer quando


você me visita.

— Que é? — Um dedo quente toca meu esterno, desliza


para dentro do vale do meu decote. — Diga-me o que eu
quero.
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— A mim. — Eu sussurro, onde nem mesmo as paredes


podem ouvir.

— Com muita verdade. — Minha pele queima onde


dedos fortes com unhas bem cuidadas traçam uma linha de
corte até meu ombro. — Você testa minha paciência, às
vezes.

Eu fico imóvel, nem mesmo respiro. Sinto sussurros de


respiração através do meu pescoço, sopro quente na minha
nuca, e os dedos brincam com o zíper do meu vestido.

— Eu sei, — eu digo.

E então, quando eu espero para sentir o deslizar do


zíper na minha espinha, o calor do seu corpo se afasta e o
hálito quente do scotch se foi, e uma única palavra queima a
minha alma:

— Tire a roupa.

Minha língua raspa sobre os lábios secos, e meus


pulmões se contraem, protestando contra a minha
incapacidade de respirar. Minhas mãos tremem. Eu sei que
isso é esperado de mim, e eu não posso, ousar resistir, ou
protestar. E... parte de mim não quer. Mas quem me dera...
quem me dera ter liberdade de escolher o que eu quero.

Hesitei um pouco.

— X. a.... roupa. — O zíper desliza para baixo para entre


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as minhas omoplatas. — Mostre-me sua pele.

Alcanço as minhas costas, e abaixo o zíper ao seu local


de nidificação na base da minha espinha. Mãos duras
insistem em me ajudar na remoção das mangas nos meus
ombros, meus braços e, em seguida, o vestido está flutuando
para o chão aos meus pés. Essa é toda a ajuda que vou
conseguir. Eu sei de longa experiência que tenho de fazer
uma demonstração do que vem a seguir.

Viro a cabeça e vejo a pele bronzeada e a barba de dois


dias por fazer em um maxilar refinado, poderoso, nítidas as
maçãs do rosto, lábios finos, firmes olhos tão negros como
vazios, olhos que pingam desejo. Meu cabelo cai sobre um
ombro. Eu levanto um joelho assim que meus dedos dos pés,
agora nus tocam a teca reluzente, mostro meus ombros,
deixo meu olhar mostrar minha vulnerabilidade. Com uma
respiração profunda, eu desengancho o sutiã e deixo a roupa
cair.

Pego minha calcinha.

— Não, — vem o ronronar, — deixe-a. Deixe-me.

Deixo seus dedos deslizar sobre as minhas coxas. A


minha calcinha desliza para baixo lentamente, onde dedos
tocam, assim também fazem seus lábios, quentes e úmidos,
tocando minha pele, e eu não posso hesitar, não posso me
afastar ou expressar o quanto eu quero apenas ficar sozinha,
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ter ainda uma vez o direito de querer outra coisa.

Mas eu não tenho esse direito.

Mãos deslizam sobre a minha pele nua e inflamam o


meu desejo contra a minha vontade. Eu sei muito bem que o
calor deste toque, os fogos de clímax, os momentos de brilho
quando os olhos escuros adormecem e mãos poderosas
acalmam-me estou autorizada a baixar a guarda. Ele ainda
está de pé, com os joelhos tremendo, enquanto os lábios
secos deslizam sobre a minha pele trêmula. Minhas coxas
estão abertas e relâmpagos com o toque de uma língua para a
minha pele lisa.

Eu suspiro, mas um único olhar me silencia.

— Não respire, não fale, não faça barulho. — Eu sinto o


sussurro no meu quadril, sentir as vibrações em meus ossos,
e eu aceno com a concordância. — Não goze até que eu diga.

Eu não tenho escolha, a não ser ficar e aceitar


silenciosamente o assalto a meus sentidos: cabelo masio
passa por mim, mãos suaves contra a minha barriga, barba
por fazer em minhas coxas, mãos segurando meu traseiro,
fúria floresce dentro de mim. Eu me seguro, mantendo-me
focada, mordendo a língua para silenciar os gemidos, ponho
minhas mãos ao meu lado, porque não foi me dada
autorização para tocar.
| 32

— Boa. Deixe ir agora, X. Dê-me a sua voz. — Um dedo


me penetra, ondas, encontram a minha necessidade e eu
perco a minha voz, deixo escapar. — Bom, muito bom. Tão
bonita, tão sexy. Agora me mostre o seu quarto.

Eu lidero o caminho para o meu quarto, empurro a


porta para revelar a colcha branca, macios travesseiros
pretos, tudo dobrado e arranjado, conforme necessário.
Deito-me, deixando de lado travesseiros, e espero. Olhos
deslizando sobre a minha forma nua, me examinando,
avaliando-me.

— Acho que um extra de vinte minutos no ginásio a


fariam bem. — Esta crítica é entregue clinicamente,
destinado a lembrar-me do meu lugar. — Deslize para baixo.

Eu escondo a embreagem do meu instinto, a dor no meu


coração, a queimação em meus olhos. Escondê-lo, enterrá-lo,
porque não é permitido. Eu pisco, aceno com a cabeça.

— Claro, Caleb.

— Você está linda, X. Não me entenda mal.

— Eu sei. E obrigada.

— É justo que os nossos clientes esperem perfeição. —


Uma sobrancelha levantada indica que eu deveria terminar a
instrução
| 33

— E você também.

— Exatamente. E você, X, eu sei que você pode entregar.


Você é perfeita, ou quase, no mínimo. — Um sorriso agora,
ardente, brilhante e ofuscante, incrivelmente lindo, destinado
a me acalmar. Um dedo toca meus lábios e, em seguida,
traçam locais favoritos na minha anatomia: lábios, pescoço,
seios, quadris. — Vire.

Ele me passa para o meu estômago.

— De joelhos.

Subo meus joelhos sob o meu estômago.

— Dê-me suas mãos.

Eu estendo as duas mãos e os meus pulsos são


imobilizados em uma grande mão, brutalmente poderosa.
Meus ombros se tocam, meus braços são presos juntos e meu
rosto é pressionado contra o colchão. Eu engulo em seco,
sinta, respire.

Ah, a dor, a pulsação feroz quando estou sendo


penetrada. Sou balançada para frente e meus ombros aderem
ao aperto em meus pulsos me mantém no lugar.

Eu não tenho escolha, a não ser sentir o fogo em


expansão, a não ser deixá-lo empurrar através de mim e me
fazer ficar sem fôlego, e eu quero chorar, quero chorar,
| 34

vontade de chorar.

Mas eu não posso.

Ainda não.

Deixo-me ir quando disser para fazê-lo:

— Goze para mim, X.

E depois que acabou, virei-me para deitar de costas,


ofegante, ele sussurra em cima de mim.

— Tão bom, X. Tão linda. — Um dedo toca o meu


queixo, levantando meu olhar. — Você gostou disso?

— Sim. — Não é uma mentira. Não totalmente, pelo


menos.

Fisicamente, estou balançada e tremula. Fisicamente,


tremores ainda me aproveitam e o toque me faz tremer e eu
estou sem fôlego. Fisicamente, sim, eu gostei. Eu não posso
evitar, mas apreciá-lo.

Ainda... há um espaço dentro de mim, um profundo


poço onde verdades que nem sequer ousam pensar vivem
escondidas e sempre enterradas. Lá em baixo, onde essas
verdades residem, eu sei que anseiam... a absolvição, a
liberdade, uma respiração tomada em privacidade, uma
palavra dita sem segundas intenções.

Mas eu não posso deixar esses pensamentos. Não posso,


| 35

não o faço. Eu sou uma mestre do autocontrole, afinal. Eu


poderia adiar o orgasmo. Eu poderia ficar sem respirar até ter
permissão para respirar ou desmaiar. Eu poderia permanecer
sentada imóvel por horas, até que me digam para me mover.
Eu sei que posso fazer essas coisas, porque eu tenho o
controle. Eu aprendi o controle total na mais dura das
escolas.

E por isso é brincadeira de criança deixar meu corpo


pender livremente sob o disfarce da intimidade em um corpo
duro, tenso, musculoso até um celular nas calças
descartadas exigir atenção.

— Eu tenho que atender. — Uma pausa, um suspiro,


um toque do dedo em uma tela do telefone celular. — Caleb.
Sim. Sim. Claro, dê-me vinte minutos. Claro. Não, não o deixe
até que eu chegue aí.

Um beijo em meu rosto, um dedo traçando meu corpo


desde o ombro pelo o quadril até os pés.

— Eu tenho que ir.

— Tudo bem. — Eu não pergunto quando esperar um


retorno, porque eu não quero saber, e porque eu não gostaria
de obter uma resposta.

— Você sentirá minha falta?

— Claro. — Isso é uma mentira, e nós dois sabemos


| 36

disso.

— Bom. Seu próximo cliente será em duas horas, então


você tem tempo para tomar banho, vestir-se e se preparar.
Seu nome é William Colin Drake, e ele é o herdeiro de uma
empresa de desenvolvimento de tecnologia, vale cinquenta
bilhões. Termos e condições usuais aplicáveis. O arquivo de
William vai chegar na forma habitual.

— Devo esperar tanto problema com William como com


Jonathan?

A peculiaridade de um sorriso, de diversões.

— Não, acredito que não. William é um animal muito


diferente, pelo que tenho observado. — Uma pausa, e um
olhar especulativo para mim. — Mas, X ?

— Sim, Caleb?

— Cuidado com William. Ele tem um lado mau, muita


raiva.

— Obrigada pelo aviso.

— Ele precisa aprender a controlá-la, então você vai ter


que tirar isso dele e fazê-lo ciente disso. Mas tenha cuidado.

Tirar sua raiva. Picar uma cobra, cutucar um urso


enquanto dorme. O risco de lesão. Não será pela primeira vez,
e não será a última. Espero não precisar de cuidados
| 37

médicos, como da última vez. Isso não está coberto no


contrato, é claro, mas é compreendido: nunca, prejudicar a
propriedade de Caleb Indigo; não é um bom negócio.

Quando a porta se fecha atrás de uma larga, parte de


trás de um terno, tomo banho para tirar o cheiro de sexo. Eu
esfrego com mais força e mais tempo do que tenho porque
devo lutar com a fervura de emoções proibidas. Quando a
minha pele está em carne viva, eu me forço a sair do banho e
me visto, aplico maquiagem, refaço a cama, preparo o chá.

E então eu me sento no sofá e respiro, me recomponho,


empurro para baixo a vulnerabilidade, guardo o medo e o
desejo. Mais uma vez, sou Madame X.

Eu poupo um único olhar, momentâneo no pequeno


ponto escuro no teto, escondido em um canto, e deixo meus
olhos me traírem. Eu me imagino vendo um ponto vermelho
nas profundezas escuras da câmera, e que eu posso ver todo
o caminho ao longo da trilha de elétrons e através do monitor
para os rostos do outro lado.

Imaginar, isso é tudo que eu posso fazer.

Há um bater decidido na porta, e levanto, expiro


lentamente, levanto o queixo, aliso meu vestido sobre meus
| 38

quadris, e mexo o pé no sapato, respire, respire, deixe o


momento ficar.

E então eu abro a porta, e recebo-o.

Ele é bonito, mas não tão bonito assim. Você prende-se


com dignidade, e seu olhar revela arrogância. E sim, como eu
encontro o seu olhar cinza estreito, vejo feiura, uma
propensão para a crueldade, a agressividade.

— Eu vejo que eles não exageram quão quente você é, —


ele diz.

Eu ignoro a sua observação, e faço um gesto para o sofá.

— William. Obrigada por ter vindo. Sente-se, por favor.


Você gostaria de um pouco de chá?

Ele olha para o bar.

— Scotch seria melhor. — E então ele afunda no sofá,


cruza o tornozelo sobre o joelho, e espera para ser servido, e
seus olhos me seguem avidamente. Eu entrego-lhe o copo,
três cubos de gelo, um dedo de uísque. — Eu li o contrato, e
eu tenho que dizer que não era o que eu estava esperando.
Nem você.

Eu entrego-lhe o contrato, e vejo o lê-lo mais uma vez, e


depois de assiná-lo, e assim faço eu.

— O que você estava esperando, William?


| 39

— Bem, eu certamente não estava esperando ponto três,


isso é certo. Eu assinei, então eu vou seguir as regras, mas
estou decepcionado, Madame X. Eu adoraria lhe tirar esse
vestido. — Seu olho examina-me, tomando o seu tempo me
examinando e criticando meu corpo.

— Tenho certeza que sim, William.

— Chame de Will, por favor. — Ele saboreia com


elegância casual.

— Tudo bem, então, Will. Diga-me, o que você espera


para sair de nossas sessões juntos?

— Eu tenho uma pergunta melhor. — Ele se inclina


para frente, levanta o contrato como se estivesse prestes a
rasgá-lo. — O que você diz de rasgar este filhote de cachorro e
ir para as coisas boas? Podemos sempre assiná-lo novamente
mais tarde.

Eu ainda devo cheirar fracamente a sexo, apesar de


como impiedosamente me esfreguei: Suas narinas se abrem,
e vejo o inalar, inclinar-se mais perto, deixo seu ombro tocar
o meu. Eu tomo o contrato dele, gentilmente, mas
firmemente, coloco-o sobre a mesa de café, e deslizo para
longe dele.

— Acho que não, William. — Eu retiro o copo de scotch


dele. Ele não protesta, mas seus olhos endurecem. — Você
| 40

assinou, e está legalmente vinculado por ele agora. Se você


não quiser continuar, pode pedir para ter o contrato
absolvido. Se não, eu devo insistir que você mantenha
quaisquer outros tais comentários para si mesmo, como eles
não são nem permitidos nem desejados.

Ele se levanta, e está bem na minha frente. Seus olhos


são difíceis, profundo e rodando com potente veneno.

— Oh, eu acho que você mente, Madame X. Eu acho que


eles são desejados. Mas... eu assinei o contrato, e eu sou um
homem de palavra. — Ele retoma o seu lugar no sofá e cruza
as pernas e sorri para mim. — Assim. Ensine-me. Eu estou
pronto para aprender.

Eu ando longe da pepita de verdade em suas palavras,


respiro lentamente e depois viro, deixo o meu afiado olhar
sobre ele, deixo o silêncio expandir. Ele não muda, mas
começa a mostrar sinais de desconforto.

— Diga-me, William. Qual é o seu segredo mais


profundo e escuro?

Ele é o único a deixar que o silêncio respire, neste


momento, seus olhos perfuram, e queimam.

— Eu não tenho certeza que você realmente quer saber,


Madame X.

— Ah, mas eu quero William. Eu não teria perguntado


| 41

se eu não quisesse. — Eu dou dois passos mais perto dele. —


Você realmente não acha que você pode me chocar, não é?

Vejo engolir e piscar os olhos, e então ele deixou um


sorriso curvar seus lábios.

— Tudo bem, mas você pediu por ele. E... isto é coberto
nos termos do contrato, sim? Você não pode falar sobre isso
com alguém?

— Eu não posso, e eu não faria isso. — Eu não vou


informá-lo sobre as câmeras ou microfones.

— Eu gosto... duro, — ele diz. — E eu gosto deles...


relutantes. — Ele me olha, como se para avaliar o efeito de
suas palavras.

Eu aceno.

— Continue.

E ele segue em frente, em detalhes cada vez mais


gráficos.

Eu nunca estive tão feliz da terceira estipulação como


estou agora.
| 42

Capítulo Dois

Eu acordo abruptamente; e não estou sozinha.

Perfume caro, apenas uma dica no ar. Há outros aromas


em camadas abaixo da colônia, mas são muito fracos para
identificar. Meu quarto é uma escuridão total, não há nada
para ver, somente sombras dentro de sombras. Minha
máquina de ruído murmura, o calmante acidente, suave das
ondas em uma costa.

O sono é quase impossível para mim, por causa dos


sonhos.

— Caleb. — Eu mantenho a minha voz baixa, calma.

Não há resposta. Não preciso de nenhuma, no entanto.


Espero. Sento-me, puxo o lençol sobre meu peito, coloco
debaixo dos braços. O lençol que contem mil fios lisos,
macios de algodão egípcio é meu único escudo, e é uma fina e
frágil na melhor das hipóteses.

Clique. A luz âmbar envolve-me, banhando o quarto em


um brilho ofuscante. Na poltrona Louis XIV no canto ao lado
| 43

da minha cama, ao lado da janela do chão ao teto com sua


cortina opaca. Vestido em calça preta. Camisa branca,
abotoaduras com dois quilates de diamantes. O colarinho
está desabotoado. Apenas um botão, o superior; a concessão
para o adiantado da hora é chocante em sua descontração
atípica. Sem gravata. Eu vejo-o dobrado, a parte mais fina
que pendura fora de um bolso interno do paletó.

Olhos escuros se fixam em mim. Sem piscar. Perfurante.


Firme, frio, ilegível. Ainda... há algo. Cautela? Algo que eu
não consigo entender.

— Abaixe o lençol.

Ah. Um ligeiro insulto.

Eu libero o lençol, deixo-o reunir em volta da minha


cintura. Meus mamilos endurecem na frieza, sob o controle
desse olhar escuro.

— Chute-o fora.

Dobro o meu joelho, levanto a minha perna, afasto o


lençol com meu dedo. Calcinha de seda vermelha, lingerie
corte biquíni. Eu mantenho o meu nível de olhar, minha
respiração mesmo, não fazendo nada para trair o martelar do
meu coração, o bater na minha barriga.

— A quem pertence, X?

— A você, Caleb. — É a única resposta. A única resposta


| 44

que já existiu.

— O que eu quero, X?

— A mim.

Um botão, dois, três, e então a camisa junta-se ao


paletó, dobrado ordenamento na parte de trás da cadeira.
Sapatos, reservados. Meias dobradas, em um sapato. Calças,
em seguida. O zíper, muito lentamente. A tortura de
momento, esperando o zzzzzzhrip. Esperando o algodão fino,
elástico da cueca boxer preta de encontrar o seu lugar de
descanso em cima das calças, dobrados em terços precisos de
lojas de departamentos precisas sobre a almofada.

Eu não desvio o olhar. Eu sigo cada movimento, e


mantenho minha expressão neutra. O corpo revelado é um
estudo em beleza masculina clássica. Uma escultura de
perfeição esculpida em carne. Músculos tonificados,
cuidadosamente e primorosamente trabalhados para o efeito.
Um punhado de cabelos escuros no peito, uma trilha de
barriga lisa e uma grossa ereção. É um corpo projetado para
gerar desejo ao espectador. E ele faz. Ah, sim. Eu não sou
imune.

A cama imerge. Dedos grossos longos com unhas


perfeitamente cuidadas varrem pelo meu cabelo preto e
grosso, que está solto em volta dos meus ombros no
momento. Nunca é baixo, a menos que eu esteja na cama.
| 45

Caso contrário, ele é feito em um coque ou uma trança pura


presa em um coque. Nunca para baixo. A curva do pescoço e
da garganta de uma mulher é tão exótico e erótico quanto os
seios, quando devidamente exibido; esta foi uma lição que
aprendi cedo. Um puxão da mão, e minha garganta está nua,
minha cabeça puxada para trás. Esta aspereza é inesperada.
Eu abafo um suspiro de surpresa. Não medo. Não posso, não
devo temer. Ouso nem mesmo me permitir sentir isto, muito
menos mostrar.

Lábios, beliscando e beijando minha garganta. Molhado,


devagar, um pouco desajeitado. Aqueles lábios, na minha
bochecha. Amarga respiração atado com álcool sopra sobre
mim. Os dedos se aprofundam, cavam, perfuram. Não estou
pronta, mas isso não importa. Não agora, não neste
momento. Talvez não para sempre. Desconforto momentâneo,
e em seguida um dedo encontra meu pacote mais sensível
dos nervos, e eu sinto a umidade me lubrificar, infiltrar-se
através das minhas partes íntimas. Em seguida um suspiro.
Um grunhido masculino, tão característico como a gola
desabotoada e a visita de fim de noite embriagada.

A língua, passa em meu mamilo. Dureza cutucando


minha suavidade. Penetração. Uma, duas, lábios no meu
rosto, meu queixo, minha garganta, meu peito. Eu estou
pressionada contra o colchão com o seu peso sobre mim, a
mão no meu quadril, a cintura em bom estado que
| 46

pressionando minhas coxas separadas. Começo a me


perguntar, no fundo, nos recessos da minha mente, quanto
tempo isso vai durar, este encontro face a face.

Não muito.

Mãos em minha cintura, virando-me para o meu


estômago. Desenho meus quadris acima, joelhos embaixo de
mim. Uma mão toca o meu cabelo, e a outra o meu quadril.
Sinto a sua dura presença quente atrás de mim, seus dedos
buscando, encontrando-me úmida e pronta, guiando o seu
grosso membro nu em mim.

Longo, lento, sem pressa. Não exatamente difícil, mas


descuidado. Não como a eficiência habitual e magistral
estimulação. Não, este é um ritmo lento, preguiçoso, no início
e, em seguida, aumentando e aumentando. Eu não posso
resistir a desabrochar dentro de mim, a pressão de um
clímax iminente pulsando através de mim. Não me atrevo a
liberá-lo, no entanto, assim que eu cerrar os punhos e
espremer os olhos fechados e se concentrar em contê-lo,
segurando-o de volta.

O ritmo torna-se punitivo. Mais próximo a áspero como


nunca. Mas ainda assim, mesmo em intoxicação,
primorosamente magistral. Este corpo foi criado para o sexo.
Projetado para possuir, ao prazer, a dominar. E eu sou, todas
essas coisas.
| 47

Se eu vou, ou não.

— Agora, X. Goze para mim, agora. Dê-me sua voz. —


Um murmúrio áspero, baixo e forte.

Eu finalmente deixo ir com um gemido ofegante na base


da minha garganta, deixo o clímax queimar através de mim.

Terminado, eu estou autorizada a cair para frente.


Ausência atrás de mim. Torneira aberta. Toca-me as costas, e
entrega-me, uma toalha quente e úmida.

— Limpe-se.

Eu obedeço, e devolvo a toalha, rolo para o meu lado, e


deixo meus olhos se fecharem. Deixo minhas emoções
emaranhadas, cair, deixar a sonolência pós-orgástica puxar-
me para baixo. Deixo a poderosa correnteza profunda, dos
meus pensamentos mais íntimos e medos e desejos girar-me
em uma queda desorientada, muito abaixo da superfície
tumultuada do mar que é a consciência.

Sangue. Sirenes. Perda. Confusão. Chuva na escuridão,


um raio arrancando a escuridão, latejante trovão à distância.
Chorando. Sozinha.

— X, acorde. Acorde. Você está sonhando de novo. —


| 48

Mãos na minha cintura, os lábios no meu ouvido, um


sussurro reconfortante.

Eu fico ereta, enquanto soluço. Cabelo gruta em minha


testa em emaranhadas manchas de suor. Fios na minha
boca. Minhas costas estão molhadas de suor. Meus braços
tremem. Meu coração está batendo forte.

— Sshh. Silêncio. Você está bem agora.

Sangue, vermelho e grosso, agitado e misturando com a


chuva na calçada. Um par de olhos, aberto, vagos e cegos.
Membros dobrados em ângulos não naturais. Um relâmpago,
súbito e brilhante, iluminando a noite para o espaço de um
batimento cardíaco. Uma sensação que tudo consumia de
horror, terror, o tipo de perda que rouba a sua respiração e
suga a medula de seus ossos.

Soluços. Arruinada, tremendo, incapaz de falar. Eu


tento empurrá-lo para baixo, ganhar o controle, mas eu não
posso. Eu só posso chorar e ofegar e tremer, tremer e chorar.
Meus pulmões doem. Eu não posso respirar, não posso
pensar, só posso ver o sangue, escarlate e grosso como
xarope, arterial, sangue vazando para longe misturado com a
chuva.

— X. Respire. Respire, ok? Olhe para mim. Olhe nos


meus olhos. — Eu procuro olhos escuros, encontro-os
| 49

estranhamente quente, em causa.

— Eu não posso, não posso respirar... — Eu suspiro.

Puxou-me contra o peito firme, suave. Batimento


cardíaco sob a minha orelha. Eu fico tensa; conforto como
este é irreal. Eu ainda não posso respirar ou piscar.
Paralisada de medo, com o veneno de pesadelos no meu
sangue.

— Como é que nós nos encontramos, X?

— Você -me s-s-salvou.

— Está certo. Do que eu a salvei?

— Dele. — Eu sinto uma presença do meu sonho, a


malevolência, uma fome de sangue escarlate.

— Eu a encontrei na calçada, sangrando até a morte.


Você tinha sido gravemente ferida. Espancada quase até a
morte. Atacada quase irreconhecível. Peguei você em meus
braços e a levei para o hospital. Você teria se arrastado,
sozinha, morrendo... tão longe. Uma milha, quase. Eles
pensam que você sabia onde o hospital era, e você estava
tentando chegar lá. Mas você não chegou a fazê-lo.

— Você me levou para o hospital. — Recitando as


palavras, eu posso começar a encontrar o meu fôlego.

— Isso é certo. — Uma pausa, um suspiro. — Eu a


| 50

trouxe, e eles não me deixaram voltar com você, mas você não
tinha identificação e estava inconsciente. E simplesmente não
podia deixá-la sozinha, sem saber o que tinha acontecido com
você. Sem saber se estaria bem. Então, eles me deixaram
ficar na sala de triagem enquanto eles trabalhavam em você.

— Você esperou por seis horas. Eu morri na mesa, mas


eles me trouxeram de volta. — Eu sei destas palavras, esta
história. É a única história que eu tenho.

— Sua cabeça tinha sido muito danificada. De seus


muitos ferimentos, o traumatismo craniano foi o mais
preocupante, eles me disseram. Você talvez nunca pudesse
recuperar a consciência, E se você fizesse, poderia não se
lembrar de nada. Ou algumas coisas, mas outros não. Ou
tudo. Ou você poderia ser paralisada, ou ter um acidente
vascular cerebral. Com os danos ao seu cérebro, não havia
nenhuma maneira de saber até que você acordou.

— E eu quase não acordo.

— Eu tive que sair eventualmente, mas voltei no dia


seguinte, para verificar você.

— E a próxima, e a próxima. — Eu sei que todas as


batidas, todas as pausas, onde a dizer minhas falas. Eu
posso respirar. Eu posso trabalhar meus pulmões: inflar,
desinflar; inspire expire. Flexiono os meus dedos, pisco os
olhos, concentro me enrolando meus dedos do pé. Exercício
| 51

familiar.

— A polícia encontrou a cena do crime onde tinha sido


atacada. Foi assassinato. Você tinha uma família, mas eles
tinham sido assassinados. E você tinha testemunhado isso.
Visto tudo. Quase não sobreviveu.

— E ele ainda está lá fora.

— Esperando por você para mostrar o seu rosto.


Esperando para se certificar de que você não pode nunca
dizer a ninguém o que você sabe.

— Mas eu não sei nada. Não me lembro de nada. — Isso


é verdade. Esta é uma parte do ritual, mas é a verdade.

— Eu sei disso, e você sabe disso. Mas ele não sabe. O


assassino está lá fora, e sabe que você sobreviveu, viu tudo.

— Você vai me proteger. — Outra verdade.

Um dos muito poucos. Estou protegida. Oferecida por.


Mantida segura.

Mantida.

— Eu vou proteger você. Você tem que confiar em mim,


X. Vou mantê-la segura, mas você tem que confiar em mim.

— Eu confio em você, Caleb. — Estas quatro palavras,


devo empurra-las para fora. Às vezes, eu não acredito nelas;
| 52

outras vezes, eu faço. Hoje é a primeira.

É como comer uma laranja, tentando separar as


sementes da carne e cuspir as sementes somente. Não é
verdade, mas também reside. Confiar, mas algo amargo, bem
como, algo falta.

— Bom. — Os dedos no meu cabelo preto e grosso.


Suavizaram. Acariciaram. — Durma agora.

Clique. Escuridão agora, um cobertor se envolve em


cima de mim, a máquina de ruído me acalmando com bater
suavemente ondas em uma praia imaginária. Eu deixei o som
das ondas me levar embora, como flutuando em uma maré.

Ao longe, ouvi a porta abrir, fechar.

Estou sozinha.
| 53

Capítulo Três

O amanhecer traz consigo a vergonha. Eu estou fraca.


Eu estava fraca. Os pesadelos, eles sugam a minha força,
transformam-me nesta criatura, suave, vulnerável, num
ponto cego e sem armadura. Carente de oxigênio, sedenta de
luz, com fome de toque para me lembrar de que os sonhos
são apenas ilusão, para me lembrar de que estou segura, e eu
volto para o único conforto que posso encontrar.

O ritual.

As palavras.

A história.

Mas, à luz do dia — banhada e vestida, cabelo trançado e


torcido em um nó na parte de trás da minha cabeça,
maquiagem aplicada cuidadosamente, pés revestidos em
saltos caros — vestida com a minha armadura, eu não sou
aquela gatinha chorosa, eu a desprezo. Se eu pudesse chegar
minhas garras nessa versão de mim mesma, eu iria rasgá-la
sem piedade, deixá-la em pedaços. Sacudi-la até que seus
dentes batessem juntos, dar-lhe um gosto do veneno verbal
| 54

que uso para manter os meninos ricos errantes na linha.


Dizer-lhe que uma senhora não mostra medo. Uma senhora
não chora na frente de ninguém. Uma senhora nunca mostra
fraqueza. Cabeça erguida, eu diria. Costas retas. Encontre a
sua dignidade, pondo-a como uma armadura.

Eu faço isso. Vasculho a minha emoção. Afasto-me do


espelho no meu closet, longe da tentação de examinar as
cicatrizes no meu ventre, meus braços, meu ombro, sob as
raízes do meu cabelo no lado esquerdo da minha cabeça, a
meio caminho entre o topo do meu ouvido e a coroa da minha
cabeça. Não há cicatrizes. Nenhum lembrete de um passado
perdido. Nenhuma fraqueza, sem pesadelos, sem necessidade
de conforto.

Eu sou X.

Já passa das cinco da manhã. Eu preparo um café da


manhã com claras de ovos caipiras, torradas de trigo moído à
mão com uma camada fina de manteiga orgânica. Fatio uma
laranja, cubro a metade com filme plástico e devolvo-o a
geladeira, toque em alguns grânulos de adoçante Truvia
sobre cada fatia de laranja. O chá preto, sem açúcar ou leite.
Suplementos vitamínicos orgânicos.

Mais tarde, entre clientes, passarei uma hora na


máquina de remo, e depois de uma hora fazendo yoga. Em
seguida haverá o almoço: uma salada de espinafre frescas
| 55

cultivados organicamente, nozes, cranberries secas, farelo de


queijo bleu1, e um fio de vinagrete, uma tigela de frutas
frescas cortadas e misturadas, uma garrafa de água
destilada, deionizada. Ou, alternativamente, um superfoods
smoothie2, verde, amargo e saudável.

Um extra de vinte minutos no ginásio, tinha sido me dito.


Diminuir, isso significava. A instrução de dieta e exercício
tinham vindo com o pacote que recebo todas as manhãs, um
grande envelope pardo deslizado sob a porta, contendo o
dossiê sobre os meus clientes para o dia e os contratos
correspondentes.

Cronometrado corretamente, há sempre alguns minutos


extra após o café da manhã e antes de meu primeiro cliente
do dia. Eu termino o café da manhã às 5:45, e o meu
primeiro cliente chega às 6:15 A.M.; o primeiro horário é
reservado para o mais difícil dos clientes, aqueles que mais
precisam de uma lição dissonante. Se você não pode fazer o
tempo cedo, você não passará no curso, e será cobrada a taxa
de rescisão e queixa.

Tenho trinta minutos para mim, antes que William


Drake chegue, estou na janela da sala de estar, olhando para
as ruas movimentadas abaixo. Este é o meu passatempo
favorito, observando as pessoas correndo aqui e ali, falando
em seus telefones celulares, jornais dobrados sob os braços

1
Queijos com veios azuis como roquefort, gorgonzola etc., produzidos por fungos que se desenvolvem
durante o amadurecimento do queijo.
2
Os verdes, espinafre e couve, fornecem uma infinidade de vitaminas, minerais e fitonutrientes. São
antioxidantes, anti-câncer, anti-inflamatórios, ossos fortes e suporte cardiovascular
| 56

de negócios de terno, vestidos lápis finos fenda só assim nas


costas e abraçando os pés meias. Posso imaginar quais são
as suas histórias.

Aquele homem, ali, de terno carvão apenas um pouco


frouxo no ombro, ombreiras um pouco grossas, calças um
pouco longa no calcanhar. Calvície, um ponto desencapado
chá de tamanho de pires na parte de trás de sua cabeça.
Falando em um telefone celular, mão gesticulando
freneticamente, irritadamente, o indicador esfaqueando o ar.
Com o rosto vermelho. Ele é um homem de negócios lutando,
contra o montante em um negócio cruel. Estoques, talvez. Ou
lei. Lei corporativa. Ele está sempre por trás, por pouco não
fazê-lo. Uma esposa, um filho pequeno. Ele é mais velho que
sua esposa por vários anos, e seu filho acabou de entrar na
escola. Ele é velho o suficiente para cuidar de uma criança
em cima de lutar para torná-lo na empresa é uma tarefa de
Sísifo. Sua esposa se casou com ele porque ela pensou que
sua fortuna iria melhorar, uma promoção iria colocá-los em
um lugar mais fácil, e ela precisava de um green card, talvez.
Há afeto, mas nenhum amor real. Ele está muito ocupado
para o amor, muito ocupado cronometrar sessenta ou oitenta
horas por semana tentando fazer o exorbitante aluguel New
York City. Eles vivem no Bronx, talvez, para que ela possa
estar mais perto de sua família, porque ela precisa de ajuda.
Ela provavelmente está trabalhando em um emprego ao lado
enquanto seu filho vai para a escola, embora esconda
| 57

dinheiro sem o conhecimento de seu marido, porque ela está


perdendo a fé em sua capacidade de cuidar deles. O
suficiente para que ela pudesse se mover para fora e fornecer
segurança para seu filho, se acontecesse o pior.

É uma agradável distração, concentrando-se nas


fictícias vidas, normais de pessoas aleatórias. Permitindo-me
saber com segurança como é a vida lá fora, para eles. Com
segurança, porque perguntar como uma vida lá fora seria
para mim? Isso é perigoso. A ameaça para a minha sanidade
mental, que depende de um equilíbrio cuidadoso.

Ouço o ding fraco do elevador chegando. Olho para o


relógio de parede em estilo veneziano: 06:10 A.M.; cinco
minutos mais cedo. Mas um momento ou dois passam e não
há nenhuma batida na porta. Movo-me em toda a sala,
mantendo meus cliques de calcanhar o mais silencioso
possível, e fico perto da porta, ouvindo.

— Sim, eu estou quase lá, — ele diz, em sua voz baixa.


— Eu odeio esses compromissos muito cedo. Não, meu pai
me fez vir. Algum tipo de treinamento corporativo estúpido,
basicamente. Faça-me um líder melhor, besteira assim.
Colocar a minha bunda na linha. Não, cara não tem nada
disso. Realmente não posso falar sobre isso. Não, de verdade,
eu não estou autorizado a falar sobre isso. Eu assinei um
contrato e, se eu foder com o meu pai ele vai me cortar
totalmente. Depois do que aconteceu com aquela vagabunda
| 58

Yasmin, estou em gelo muito fino com ele, então eu tenho que
andar na linha do caralho... ou o quê? Ou ele vai
basicamente destripar a posição de presidente para fora da
carta e entregar todo o poder à diretoria, o que significa que
não herdarei nada quando ele se aposentar. Ele tem os
documentos elaborados. Ele mostrou. Não, cara, porra eu os
vi, ok? Foi depois que ele fez o juiz me deixar sair sob fiança.
Ele teve que pagar uma porrada de dinheiro para manter a
coisa toda tranquila. Pagou Yasmin meio milhão para manter
a boca fechada sobre o que aconteceu. Meu plano? Meu plano
é ir junto com este programa de treinamento, manter o meu
pai feliz, jogar o jogo. Eu tenho amigos lá dentro, no quadro,
alguns deputados que estão descontentes com o local onde o
meu pai está tomando a empresa. Se eu conseguir coisas de
cordas ao longo de um ano ou dois, eu provavelmente possa
trabalhar um pouco de magia nos bastidores, roubar todo o
show da merda do velho filho da puta, e refiro-me a puxar um
negócio real golpe de estado. E assim que eu tenho as minhas
mãos sobre a empresa... homem, e vai ser definitivo. Eu
tenho planos... não, eu não posso fazer isso esta noite. Eu
tenho... outros planos... não, eu soltei essa puta, ela era uma
gritadora. Esta é uma nova. Ela estava toda embrulhada
como um pequeno doce presente. Ela não está vestindo
absolutamente nada, exceto as algemas, e eu nem sequer
tenho que amordaçá-la. Não, seu idiota, você não pode
ajudar. Última vez que deixei você ajudar, você levou muito
| 59

longe, e eu tive que pagar a puta para evitar que ela latisse
sobre o que o seu traseiro estúpido fez com ela. Eu já lhe
disse, há uma arte para isso. Escuta, cara, eu vou me
atrasar, eu tenho que ir. A cadela que executa esse show não
fode, posso lhe dizer que muito gratuitamente. De qualquer
forma, de verdade, eu tenho que ir. E Brady? Fique longe de
minha casa, porra, ok? Estou falando sério. Vou matá-lo, se
você for a qualquer lugar perto dela. Tudo bem, tchau.

Meu coração acelera, eu deu alguns passos rápidos para


longe da porta, me ajeitando para a neutralidade. Respire
fundo, Foco. Ponha a armadura. Sem rachaduras, sem
fendas. Dura. Fria. Suave. Inalcançável. Imaginem garras no
lugar de unhas. Olhos de víbora. Gelo.

Bate-bate.

Olho para o relógio: 06h17. Uma última respiração


profunda, saindo através dos lábios. Torço a maçaneta,
balanço ao abrir a porta.

— Sr. Drake. — Uma sobrancelha arqueada. — Você


está atrasado.

Ele levanta o seu braço, estende seu pulso, e descobre


seu extravagante relógio Blancpain. Eu detesto esse
movimento: braço sobe, vira o punho para frente. É
ostensivo, vaidoso. E aquele relógio? Facilmente trezentos mil
dólares. Couro de jacaré, dezoito quilates de ouro, cristal de
| 60

safira... todas as armadilhas extravagantes dos ricos


inseguros. Não estou impressionada.

— Por uns dois minutos, X. — Como brisa passou por


mim, e eu estremeço por sua colônia. Deve ter tomado banho
nisto para feder tão densamente. — É legal, cara. Nada
demais. Dois minutos, seja como for. Estou aqui.

Eu permaneço em pé ao lado da porta, com as mãos ao


meu lado, de cabeça erguida, o olhando por sobre meu nariz.

— Não, senhor Drake. Não nada demais. — Eu gesticulo


para a porta. — Você pode ir. Terminamos aqui.

Ele tem a decência de olhar pelo menos um pouco


preocupado.

— X, vamos lá. São dois minutos. Quem diabos se


importa com cerca de dois minutos? Eu estava no telefone.

Eu sei, eu o ouvi, eu sei melhor do que dizer isso, porém.

— Eu me importo com cerca de dois minutos, senhor


Drake. Um minuto, trinta segundos, um único momento.
Tarde é tarde. Você deveria estar batendo a esta porta às seis
e quatorze. A pontualidade é uma característica chave do
sucesso, Sr. Drake.

— Meu pai se atrasa para reuniões o tempo todo, —


salienta, sem se mover da sua posição de três passos para o
| 61

meu apartamento.

Eu levanto uma sobrancelha.

— Seu pai é fundador, CEO e acionista majoritário de


uma das corporações mais poderosas do mundo. Ele tem
poder, o que lhe concede o privilégio de estar atrasado, para
mostrar-se sempre que ele desejar, porque ele exerce o
controle. Você não tem nada, William. Você recebe uma
mesada. Você é tolerado. O seu lote na vida é fazer o que
mandam, para aparecer onde você é dito para aparecer,
quando você é dito para aparecer, e não um único
milissegundo mais tarde. Seu pai é um dos maiores e piores
tubarões no oceano, e você é um peixinho. Adeus, William.
Talvez na próxima semana você vá pensar duas vezes sobre
latir em seu telefone celular fora da minha porta,
desperdiçando, assim, o meu tempo, que -preciso lembrá-lo -
é infinitamente mais valioso do que o seu nunca será.

Ele cruza os três passos entre nós em um borrão. Sua


mão está sobre minha garganta, cortando meu suprimento de
ar. Deixando hematomas, certamente. Ele está cara a cara
comigo, os olhos irradiando fúria, pânico e ódio.

— O que você ouviu, prostituta?

Eu pisco, forçando-me a manter a calma. Meus pés mal


tocam o chão, meus saltos altos caídos fora de meus pés. Não
consigo respirar. Estrelas piscam e brilham nos meus olhos.
| 62

Eu não luto, não arranho seus braços ou pulsos. Eu o


encaro. Certificando-me de que ele está segurando meu olhar.
E então, deliberadamente, eu deixo o meu olhar ir em
movimento para cima, para o canto do teto, onde a câmera
está escondida. Seus olhos seguem o meu, e embora não
possa vê-lo, pois está bem escondido, meu significado é claro.
Eu levanto meu queixo, levanto uma sobrancelha.

Ele me solta. Eu inalo uma respiração profunda,


forçando-me a fazê-lo lentamente, para bloquear os joelhos e
permanecer na posição vertical, em pé. Instinto tem me
querendo entrar em colapso no chão, ofegante, esfregando
minha garganta. Mas não. Dignidade é a minha armadura.

Ding.

As portas do elevador se abrem suavemente e ele fica


pálido. A minha porta ainda está aberta. Ele recua um passo,
dois, três. Balança a cabeça. Quatro homens enormes andam
através da entrada, usando ternos pretos idênticos, camisas
brancas e gravatas pretas finas, com receptores de telefone
na orelha direita, cabos à direita sob seus colarinhos.

— Virá conosco, por favor, senhor Drake. — Um deles


fala, mas seus lábios mal se movem para que possa ter vindo
de qualquer um deles.

É educadamente formulada, é claro, porque ele é


herdeiro de uma empresa multibilionária. Mas então, ele
| 63

colocou suas mãos em mim, e Caleb não tolera isso. De modo


algum. Não de qualquer um. Se não fosse um pedaço
desagradável e patético, da escória, eu teria quase pena dele.
Eu conheço estes homens, e eles não sentem misericórdia.

Mas então, eu também não.

Ele sopra o ar para fora do seu peito. Seus lábios em


um sorriso de escárnio.

— Foda-se. Você não pode me dizer o que fazer. — Ele


passou como brisa por mim.

Ele fez isso talvez quatro passos completos, que o


levaram para fora do meu apartamento para o corredor. Ele
mesmo ao virar da esquina. Grande erro, William. Não há
câmeras lá fora. Um dos guardas se move como uma cobra
impressionante, mais rápido do que se pensava. Um único
golpe, de britadeira forte, dirigido para seu fígado. Ele cai
como um saco de farinha, gemendo, se contorcendo.

— Len, — eu digo. Um dos guardas gira a cabeça sobre


o pescoço grosso, olha para mim. Eu aceno para ele, com um
dobrar do meu dedo.

Ele se move para frente, com as mãos atrás das costas.

— Senhora?

— Eu ouvi falando ao telefone com um amigo.


Algumas... partes bastante desagradáveis de informações. —
| 64

Eu aponto para o teto. — Seus microfones são potentes o


suficiente para ter pego?

O rosto de Len permanece impassível.

— Eu não sei do que você está...

— Não insulte minha inteligência, Len.

Uma pausa.

— Vou verificar as fitas, senhora. — Len olha para ele.


— Ele é um pedaço de merda.

— Ele é um predador, Len. Um criminoso doentio. Ele


tem uma mulher mantida em cativeiro em algum lugar, e ele
vai fazer algo terrível a ela, se não já o fez.

— Sua puta desgraçada! — Ele grasna do chão. — Você


não pode provar nada.

Um dos guardas coloca o sapato grande e polido em sua


garganta.

— Você não fala com Madame X dessa forma, garoto.

— Meu pai tirara todos os seus empregos — ameaça.

Len ri.

— Há pessoas neste mundo muito mais perigosas que o


seu papai, garoto. Nosso empregador faz com que seu pai
pareça um pequeno gatinho triste.
| 65

Ele olha para mim, curioso agora.

— X? Ela é apenas uma prostituta.

O sapato pressiona para baixo e começa ao sufocar. Len


caminha sobre ele, e ajoelha-se ao seu lado.

— Garoto, você não tem ideia do que está falando. Meus


amigos e eu? Nós somos apenas peões no tabuleiro. X? Ela é
a rainha. E você? Você não está nem mesmo no tabuleiro.
Seu pai precioso? Ele pode se classificar tão alto como um
cavaleiro. Talvez. — Len coloca a mão no bolso do paletó, tira
uma cópia do contrato. — E isto? Este é um documento
juridicamente vinculativo, assinado por você e seu pai. Há
toda uma porrada de impressão sobre esta coisa, filho. Sabe
o que essa letra miúda diz? Ela diz que meus amigos e eu
estamos indo bater em você, até nada restar além de seu
pequeno cadáver insignificante, e, em seguida, você vai
mostrar-nos a sua pequena sala de jogos, e depois nós vamos
arrastá-lo para a delegacia de polícia mais próxima. E
depois... e, em seguida, nosso empregador vai processar o seu
pai por cada dólar e cada ação que ele vale, e não há nada
que alguém possa fazer para nos parar. Entende... filho?

Ele treme. Quer blefar, e vociferar. Ele nunca tinha sido


intimidado ou ameaçado antes. Eu duvido que tenha já até
sentido dor. Seu pequeno branco insignificante. Mas os olhos
de Len, eles são uma sombra de aço cinza que traz às
| 66

lâminas a nossa mente. Eles não são apenas os olhos frios;


gelo é frio, o inverno é frio. Os olhos de Len? Eles são um
vácuo frio. Frio no espaço profundo. Zero grau Kelvin. Eles
não são sem vida, porque eles exalam ameaça como os de um
leopardo a perseguir a presa. Eles detêm verdades de uma
variedade de gotejamento escarlate.

Len olha para mim.

— Podemos lidar com as coisas daqui senhora.

Tomo isso como uma sugestão e volto para dentro.


Fecho a porta. Mas eu não posso resistir de ficar com o
ouvido na porta. Há sons que fazem o meu intestino torcer.
Batidas, pancadas abdominais. Os sons tornam-se
gradualmente... molhados.

Tremo e afasto-me da porta.

Eventualmente, ouço o ding do elevador, e eu estou


sozinha mais uma vez. Quarenta e sete minutos até o meu
próximo cliente.

Com as mãos tremendo, eu faço uma caneca de chá.


Earl Grey, com um toque de leite. Até o momento que eu
estou engolindo o bocado final, ouço o elevador de novo, e
minha porta se abre.

A figura que anda pela minha porta não é um cliente.


| 67

Fúria transforma olhos escuros em mais escuros.


Pálpebras se estreitaram. Peito inchado e comprimido, os
dedos fechados em punhos.

— Você está bem, X? — A voz de trovão, surge no


horizonte.

Dou de ombros.

— Isso foi... desagradável, mas eu vou ficar bem. —


Minha voz é firme, mas rouca por ser sufocada.

Mãos nos meus ombros, mas gentilmente, me segurando


no lugar. Olhos passam por meu rosto, procurando.
Pressiona levemente a minha garganta.

— Ele machucou você.

Toco minha garganta onde William me agarrou. A carne


está sensível. Eu me torço cuidadosamente para de seu toque
nos meus ombros, viro-me para o espelho na parede acima de
uma pequena mesa lateral decorativa. Minha pele é escura, a
cor de caramelo, talvez até um tom ou dois mais escuros. Eu
não me machuco facilmente, mas há contusões do tamanho
de impressão digital em minha garganta. Meus olhos estão
avermelhados. Minha voz é rouca, ruidosa.
| 68

A presença atrás de mim, é quente, enorme e cheia de


raiva.

— Aquele pequeno miserável tem sorte que Len chegou


a ele antes de mim.

Isso me faz tremer, porque eu tenho certeza que William


nunca mais será tão bonito quanto ele já foi. Nem tão...
saudável.

— Estou bem.

— Ele me custou dinheiro. Você não pode trabalhar o


resto do dia, pelo menos. Talvez mais. Você não pode ver os
clientes com hematomas em sua garganta.

Tanto para preocupação, ao que parece. Eu afasto um


nó de amargura.

— Será que Len verificou as fitas? — Pergunto.

— Por que você se importa?

— Eu ouvi o que ele disse ao seu amigo. Ele deve ser


interrompido.

— Um relatório foi aberto. A polícia está investigando. —


Não é uma resposta, mas, em seguida, eu sei melhor do que
esperar uma confirmação das câmeras e microfones.

Eu sei que elas estão lá, mas ninguém vai abertamente


confirmá-las. É algum tipo de segredo, como se eu não
| 69

estivesse sabendo que cada movimento que eu faço, cada


palavra que eu falo é visto e ouvido. É para minha própria
proteção, eu percebo isso. Os eventos de hoje provam isso.
Mas a maioria dos dias, a total falta de grades de privacidade,
pesa muito.

— Eu vou ser capaz de trabalhar amanhã, — eu digo.

— Dr. Horowitz virá mais tarde para verificar você.


Acalme-se no resto do dia. — Um nariz no meu cabelo, perto
da minha orelha. Inalação, exalação, lenta e deliberada, com
o sempre tão ligeiro a vacilar na exalação. — Estou feliz que
você está bem, X. Ninguém nunca colocará as mãos em você
novamente. Os clientes serão ainda mais cuidadosamente
avaliados a partir de agora. Isso não deveria ter acontecido.
Se você tivesse se machucado seriamente, eu não sei o que
eu faria.

— Teria treinado uma nova Madame X, provavelmente,


— eu digo, de forma imprudente. Tolamente. Estupidamente.

— Nunca haverá outra Madame X. Não há ninguém


como você. Você é especial. — Esta voz, estas palavras,
baixas, trêmulas com potente emoção, eu não sei como
absorvê-las, como reagir a elas. — Você é minha, X.

— Eu sei, Caleb. — Eu mal posso falar, não me atrevo a


olhar no espelho, a testemunhar essa vulnerabilidade, paixão
| 70

estranha e exótica.

Dedos, apenas as pontas, as almofadas, tocando para


baixo em minha bochecha. Seguindo minha alta maçã do
rosto. Finalmente devo olhar no espelho, ver a cabeça e
ombros de cabelo escuro em cima de mim. Olhos quase
pretos, prendendo-me no reflexo. Ponta dos dedos arrastando
para o lado do meu pescoço. Mão, torcendo, atingindo em
torno de minha garganta, encaixando os dedos um por um
para as contusões, mas gentilmente, ternamente, fazendo
contato.

— Nunca mais.

— Eu sei. — Eu sussurro, porque dói dizer, e porque eu


de alguma forma não me atrevo a falar mais alto.

Eu vejo o quadro, congelado no vidro do espelho: terno


carvão casaco de manga, magro, costurado, moldado a um
braço grosso. Pulsos desabotoados, o laço do nó da gravata
pouco visível por cima do meu ombro direito, um triângulo
perfeito de seda carmesim contra o branco impecável. Olhos
escuros e potentes, uma mão segurando a minha garganta.
Possessivo, proprietário, mas de alguma forma suave. Uma
promessa, não uma ameaça. Ainda... ainda um aviso. Minha,
como a mão em minha garganta diz.

Uma súbita inalação profunda e então eu estou sozinha


no espelho, observando um conjunto de costas largas e
| 71

ombros retroceder.

Quando os cliques da porta se fecham deixo a


respiração, que eu tenho aguentado sair em sum sopro, pode
cair, tremendo, com as mãos sobre os joelhos. Saio dos meus
saltos vermelhos brilhantes Jimmy Choo, deixo-os no
espelho, vertical, o outro inclinou para o lado.

Eu puxo uma respiração, desabafo. Outra. Apertar a


minha mão, dedos curvados em um punho, numa vã
tentativa de impedi-los de tremer. Um soluço rasga fora de
mim. Eu sufoco-o. Outro, mais alto. Eu não posso, não
posso. Se eu desistir, a porta será aberta novamente e eu vou
sucumbir à necessidade de conforto. E em guerra com meu
eu desigual, preciso do conforto físico, tal conforto carnal... e
eu vou detestá-lo. Odeio. Insulta-me. Sinto uma necessidade
profunda, secreta para tomar banho e esfregar a memória
dele da minha pele, logo que a porta se fecha atrás de sua
forma ampla e musculosa.

No entanto, ainda preciso dele. Não posso lutar contra a


reação do meu corpo para tal primazia crua, masculina,
sexual, sensual.

Pego uma almofada do descanso do sofá, cruzo os


braços sobre ela, enterro o meu rosto sobre o tecido áspero, e
choro. A câmera está atrás de mim; ele só vai me ver sentada
no sofá, finalmente, processando os eventos da manhã. Ele só
| 72

vai me ver em uma reação normal, natural de trauma.

Eu agito tudo, tremendo tanto que minhas juntas doem,


soluçando na almofada. Sozinha, posso retirar a armadura.

Não é até que eu tenha chorado quase tudo que bate a


realidade de que essa foi à primeira vez na memória recente
que uma visita veio e se foi, e eu fiquei completamente vestida
o tempo todo. Uma anomalia.

Deixo minhas lágrimas secarem, encontro minha


respiração, o meu equilíbrio. Deixo de lado a almofada.
Levanto-me, agito as mãos e mexo no meu cabelo. Não há
mais fraqueza. Nem mesmo sozinha.

Olho para o relógio são 07:48. O que vou fazer com o


resto do dia? Eu nunca tive um dia inteiro para mim. Deve
ser um luxo, um dom precioso.

Não é.

Um dia inteiro sozinha com meus pensamentos?

Eu estou aterrorizada.

Silêncio respira verdade; solidão gera introspecção.


| 73

Capítulo Quatro
É uma mulher. Não esperava por isso. A documentação
listava seu nome como George E. Tompkins. Vinte e um anos,
um metro e setenta, filho único e herdeiro de uma fortuna
bastante significativa de um barão do petróleo do Texas.
George Tompkins. Nenhuma fotografia. Estava à espera de
um garoto do Texas, com sotaque e „vocês‟ com um grande
cinto brilhante e arrastado Tony Lamas.

Nove horas da manhã, porque Caleb cancelou meus


primeiros compromissos do dia para que eu pudesse dormir
um pouco mais... apliquei corretivo extra sobre os
hematomas preto-verde-amarelo em minha garganta.

Oito e cinquenta da manhã. ding... toc toc.

— Madame X?

Uma senhora nunca é pega sem palavras. Então num


piscar de olhos, estampei o meu sorriso, e acompanhei, a
garota do Texas, alta e magra para dentro do meu
apartamento. Sem falar, mas com a graça esperada.
| 74

Ela é alta e magra... com seios proeminentes que não


podem ser escondidos totalmente, mesmo por trás de uma
camisa de botão branca folgada. Uma gravata de bolinhas
real. Sim, arrastado Tony Lamas. E sim, uma fivela de cinto
brilhante maior que ambos os meus punhos juntos. Olhos
verdes deslumbrantes, cabelo em algum lugar entre loiro
escuro e castanho claro, um corte caro e penteado....
Bruscamente, posto para o lado, se separaram de forma
legível. Um corte masculino, não um corte de princesa, mas
um verdadeiro estilo masculino. Sem brincos, pulseiras, não
há nenhum anel, sem colar. Nenhum indício de feminilidade,
exceto aqueles seios, que imagino são simplesmente muito
grandes para esconder, para que você não se incomode.

Ela caminha por mim a passos largos, ereta e rígida,


uma arrogância em seu andar, um balanço/casual que é
uma estranha mistura de masculino e feminino. Investiga ao
redor em minha casa, a noite estrelada de Van Gogh na
parede, o retrato Sargent, que é o meu homônimo em outro.
O sofá de couro branco, pisos de madeira escura, tetos altos,
vigas de suporte que cruzam os limites máximos feitos da
mesma teca Africana importadas que o chão. A estante
construída do teto ao chão, mais teca africana a rebentar,
empilhadas três de profundidade em alguns lugares, com os
livros. Ficção de todos os tipos, biografias, traduções de
clássicos antigos, novelas literárias atuais, suspense, horror,
crime verdadeiro, romances independentes publicados, de
| 75

não ficção sobre temas como biologia, física, psicologia,


história, antropologia... Li quase tudo. É o meu único
passatempo, a minha única forma de entretenimento. Gasto
vários momentos em silêncio, folheando minha coleção de
livros.

— Deve ler muito, — diz. Sua voz poderia ser masculina


ou feminina. Alta o suficiente para ser uma mulher, baixa o
suficiente para passar por um macho de alta expressão.

— Sim.

Ela olha para mim. Não apenas olha, não apenas vê,
mas examina. Inteligência brilha em seus olhos verdes
vívidos. Curiosidade, nervos, confiança, rebeldia. Olhos
complexos.

Eu sei o que vê quando ela olha para mim: um metro e


setenta e três nos meus pés descalços; cabelo preto, longo,
grosso e reto, brilhante, que pende para o meio dos meus
bíceps quando está solto, o que raramente está; sou
construída em curvas, quadris em forma de sinos e seios
grandes, mas estou em forma, tonificada, atlética, ágil —
minha dieta é rigorosa, meu exercício, e regime são ativos e
implacáveis; olhos negros que me dizem parecer ver muito e
dar muito pouco; maçãs do rosto salientes, lábios carnudos,
queixo delicado, clássico rosto em forma de coração. Eu sou
exótica. Eu poderia ser espanhola ou do Oriente Médio.
| 76

Mesmo Islander, ou Havaiana, Filipina.

Eu sou bonita. Extraordinariamente bela, minhas


características possuem algum tipo de simetria e perfeição
que só vem uma vez em uma geração. Requintada. De tirar o
fôlego.

Eu sei o que pareço.

Eu suporto a sua avaliação sem vacilar, sem desviar o


olhar.

Outra lição aprendida cedo: para estabelecer a


autoridade em qualquer situação, esperar o silêncio, forçar a
outra pessoa a falar primeiro.

Ela cede.

— Eu sou George.

— Bom dia, George. Bem-vinda. Gostaria de um pouco


de chá?

— Tem algum café?

Eu balanço a cabeça.

—Não, sinto muito. Não bebo café.

— Eu estou bem, então. Não me importo muito sobre o


chá. — Ela passeia sobre a sala de estar, olha pela janela a
partir de uma distância longa o suficiente para que eu
| 77

suspeite que tem medo de altura. Sim, ela estremece de


forma sutil e se afasta, encolhendo os ombros, com
desconforto. Move-se para o Van Gogh. — Este é um original?

Eu ri, mas gentilmente.

— Não, infelizmente. O original está no MOMA. É uma


reprodução, mas, uma excelente.

Move-se para o retrato de Madame X. Este captura o seu


interesse por alguns momentos.

— Isto é interessante.

Não comento. Não falo sobre esse retrato, ou a sua


relevância para o meu nome. Eu não falo sobre mim em tudo.

Finalmente, ela se vira e toma um assento no sofá,


estende as suas longas pernas e cruza-as sobre os tornozelos,
arremessa um braço nas costas do sofá. Eu pouso na
poltrona diagonal para o sofá, um companheiro daquele do
meu quarto. Joelhos juntos, pés inclinados para um lado,
tornozelos cruzados abaixo, Jimmy Choos vermelho em
exibição. Isso é um truque, a exibição dos meus sapatos. Vê
se olhar para eles, observá-los. Não faz.

Hora de tomar esta nomeação pela nuca.

— Você não é o que eu estava esperando... Senhorita


Tompkins.
| 78

Uma carranca, então. Onda do lábio superior, cantos da


boca virados para baixo. Desgostoso, irônica.

— “Meu nome é George”.

— Explique.

— Explicar o meu nome? — Ela pareceu realmente


confusa, então com raiva. — Você primeiro.

Ha. Ordenadamente defendido. Ponto, Tompkins.

— Estou nomeada para que a pintura. — Aponto para a


Sargent.

— E o meu nome para o Estado.

— Portanto, o seu nome é Georgia, então?

Ela me dá um olhar duro, olhos duros como jade.

— A última pessoa que me chamou de Geórgia acabou


precisando de implantes dentários.

Eu sorrio.

— Anotado.

Outro silêncio longo e constrangedor.

— Então. Como este pequeno programa é seu trabalho,


Madame X? — Uma pausa. — E realmente tenho que chamá-
la de Madame X todo o maldito tempo? É um bocado grande.
| 79

— Simplesmente 'X' está bem, se preferir. — Deixo


alguma dureza entrar em meu olhar. Ela não desvia o olhar,
mas posso ver que exige esforço. Ela tem fibra. — Eu vou
confessar, George, que o seu caso pode exigir algumas...
modificações dos meus métodos habituais.

— Por quê? Porque eu tenho peitos e uma vagina?

Meus lábios apertam em sua vulgaridade.

— Sim, George. Porque você é uma mulher. Meus


métodos são voltados para os homens, e minha clientela é,
exclusivamente, pelo menos até hoje homens. Ou melhor,
meninos esperando para se tornar homens.

— O que é que você faz, então? Papai foi muito vago.


Disse-me que eu tinha que vir para Nova York e vê-la, e fazer
o que você me dissesse, e eu não tenho que gostar disso, mas
eu não podia estragar tudo.

— É tudo o que foi lhe dito?

— Basicamente.

Mastigo o interior da minha boca e olho pela janela,


pensando, pensando.

— O seu pai pode ter se confundido sobre a natureza


dos meus serviços, nesse caso.

Ela se inclina para frente, puxando os pés juntos, com


| 80

os cotovelos sobre os joelhos.

— Quais são os seus serviços?

— Considere isso... treinamento de etiqueta, boas


maneiras, comportamento, atitude. Aparência, padrões de
fala, as primeiras impressões.

— Então você ensina os ricos idiotas como ser menos


babaca.

Eu pisco e tento segurar uma risada. Ela realmente é


engraçada.

— Essencialmente, sim. Mas há mais do que isso.


Atitude vem para jogar muito. Como você se apresenta. Como
o sexo oposto percebe você. Como se impõe, mesmo
passivamente.

— Como você está suposto a afirmar-se passivamente?


— Pergunta.

— A linguagem corporal, silêncios estratégicos, postura,


contato com os olhos.

Ela se levanta, anda para longe, do outro lado da sala,


fica na frente do sofá olhando para mim, e então
abruptamente se senta novamente.

— E como exatamente você está qualificada para


ensinar caras, como ser mais viris? — Inclina a cabeça. —
| 81

Quero dizer, é realmente isso, não é? A maioria dos caras


hoje, especialmente os ricos nascem com uma colher de prata
e toda essa merda, eles são apenas maricas, certo? Não há
um alfa entre eles. Eles são todos, arrogantes, agressivos,
vaidosos egocêntricos, intitulados pequenos babacas—
beberrões. Não poderia encantar ou paquerar uma garota na
cama, não importa quanto eles tentem, então eles confiam em
seus maços de dinheiro e carros de luxo para fazer o trabalho
para eles.

— Eu sinto amargura, George, — eu digo inexpressiva.

Ela ri, seus olhos iluminando, cabeça jogada para trás,


uma gargalhada real. Se solta.

— Poderia dizer que sim. Fui forçada a conviver em


torno de babacas assim toda a minha vida. Papai tinha essa
ideia de que tínhamos que nos encaixar com a elite rica, uma
vez que temos o mesmo tipo de dinheiro. Exceto, que não
gostamos deles. Ele é um fazendeiro, um vaqueiro do Texas
das antigas, que só aconteceu de tropeçar no negócio do
petróleo. Eu quero dizer tropeçar, também. Apostou o bilhete
azul contra uma mão de Hold'Em. Tendo muita sorte, ganhou
a escritura de um terreno que só acarretou de ter poços de
petróleo nele. Bing-bang crescimento, alguns bons
investimentos e todo um inferno de sorte depois, estava
rolando nas notas de cem. Mas ele pensou que poderia
comprar sua liberdade de ser colarinho azul, o que significava
| 82

vestir sua bunda caipira em smokings, e eu em vestidos com


babados de cabras, indo para bailes. O problema é que você
pode tirar o caipira para fora do campo, mas você não pode
tirar o campo do caipira. Por isso, se destacou. Os rapazes da
alta sociedade, eles me farejaram rápido. Sabiam que não era
o tipo de garota que eles estavam acostumados. Sabiam que
havia apenas... algo de errado comigo. E eu tinha cabelos
longos encaracolados, em seguida, também, e vestidos de
garotas. Mas eles ainda não sabiam.

— Sabiam o quê, George?

— Não brinque, X. — Ela me olha.

— Você também. — A olho de volta.

Levanta um ombro em uma forma curta e direta.

— Eles não sabiam que era lésbica.

— Com licença?

— Você me ouviu.

— Diga o que você quer dizer, George, e não seja vulgar


sobre isso. Essa é a primeira lição.

— Que seja. — Ela suspira. — Eles descobriram que eu


sou lésbica. Isso é claro o suficiente para você? Eles poderiam
dizer que eu sou um verdadeiro tapete azul devorador de
Dykesville, lesbiana.
| 83

Eu rolo meus olhos.

— Você faz piadas às suas próprias custas, George. É


impróprio.

— Quem vem? — Ela levanta um canto de seus lábios


para cima em sua própria piada.

Endureço meus olhos.

— George.

— Tudo bem, tudo bem. — Ela ergue suas mãos palmas


para fora. — Eu sei que é inconveniente. E sim, eu faço
piadas às minhas custas.

— E não apenas a sua própria custa, mas dos outros


que também escolheram o seu estilo de vida.

Seus olhos brilham, e eu percebo que errei. Seus lábios


apertam, o queixo levanta.

— Mostra o quanto você sabe.

— Minhas desculpas, George, o que eu deveria ter dito


era...

— Não é uma escolha, sua cadela certinha. Você acha


que eu teria escolhido isto? Acha que eu teria escolhido ser
gay? Uma menina gay de Lubbock, Texas? Sério? Uma
menina gay caipira de um dos estados menos tolerantes deste
| 84

maldito país?

Deixo sair um suspiro, lento. Não sorrio, exatamente,


mas deixo meus olhos mostrarem o meu arrependimento.

— Sinto muito, George. Não é uma escolha, e eu sei


disso. Eu apenas me expressei mal.

— Você sabe como era, para mim? — Pergunta. Eu


balanço minha cabeça. — Não, claro que não. Eu não podia.
Eu nunca sai, não definitivamente, sabe? Mas eles souberam,
mesmo antes que eu parasse de disfarçar para o meu pai.
Eles sabiam, e eles falavam. Eu ia para as festas e as
reuniões no clube de campo, e tudo isso, e eles me
paqueravam. Como, o quê? Por quê? Eles sabiam que eu era
gay, mas ainda assim eles paqueravam? Um deles me
encurralou no banheiro feminino depois de uma festa uma
noite, tentou se forçar em cima de mim. Ele ia me foder
direto, ele disse. Bem, ele era um maricas, e eu cresci
laçando bois e domando cavalos. Vamos apenas dizer que
não foi tão bom para ele.

— Você o dissuadiu de seus esforços para forçá-lo a


heterossexualidade, presumo?

— Eu bati sua bunda em hambúrguer, é o que eu fiz.


Bateu os dentes, e eu quero dizer literalmente. Eu também
pisei nas bolas tão forte que espremi uma delas. E eu
| 85

também quero dizer, literalmente.

Eu tremo.

—Foi bastante eficaz, eu suponho.

Ela sorri maliciosamente.

— Sim, eles me deram um amplo espaço depois disso. —


O sorriso desaparece. — Papai e eu tivemos uma conversa,
depois disso. Adivinhe, ele teve um pressentimento de que
algo estava diferente em mim, mas estava esperando que eu
encontrasse o cara certo e me esqueceria disto. Como se fosse
uma fase ou alguma merda. Ainda meio na esperança de que,
mesmo agora, eu vou de repente dizer, 'Opa! Acho que eu não
gosto de buceta depois de tudo! Traga um pau!'

Eu não posso evitar outro riso silencioso.

— George, seja séria.

— Estou falando sério. Isso é o que ele pensa, na cabeça


dele. Não vai acontecer, no entanto. Eu disse ao meu pai,
depois que fiz Rapey, o alisador, em desdentado e uma
maravilha de uma bola só, eu disse a ele que eu não ia jogar
seus jogos, não mais. Eu não era uma garota normal, e
acabei fingindo. Ele não conseguiu controlar-me vindo a
público e dizendo que eu era gay. Ele teria tido um ataque
cardíaco. Então, eu só... disse-lhe que não estava jogando em
torno de mais nada, e ele consentiu. Parei de usar vestidos,
| 86

cortei o cabelo, comecei a me chamar de George e não


Geórgia. Mas eu estava mais feliz depois disso, e ele poderia
dizer. Comecei a mostrar interesse no seu negócio, na
empresa. Eu sou tudo que ele tem, você vê, uma vez que
mamãe morreu anos atrás. E ele não é mais tão jovem.
Queria que eu assumisse para ele, e enquanto eu estava
brincando de ser boa menina, eu não estava em nada disso.
Agora que estou mais ou menos fora do armário, estou
disposta a ajudá-lo com o negócio.

— Então por que você está aqui, George?

Ela dá de ombros e balança a cabeça.

— O inferno se eu sei. De verdade eu pensei que era


como treinamento corporativo de sensibilidade, ou algo
assim. Como, como desligar a sapatona quando estou perto
dos figurões.

Deixo sair uma respiração, levanto, ando para longe


dela, passando pela janela, olhando para fora para os
transeuntes treze andares abaixo.

— Eu vou ser franca com você, George. Eu não sei o que


eu posso fazer por você. Suponho que isso depende do que
você quer. Normalmente, eu não gasto um único pensamento
com o que querem os meus súditos. Eles não são realmente
meus clientes, no coração deles, você vê. Seus pais são. Eu
sou paga pelos pais destes, como você os chama,
| 87

convencidos, pequenos arrogantes, ... idiotas. — Eu nunca.


Mas algo sobre você me tem torcida em uma forma que eu
não reconheço. — Sou paga pelos pais para treinar os filhos a
se apresentar em um pacote mais saboroso. Eu não sou uma
milagreira. Não posso forçar um tigre a mudar seus passos,
ou seja, eu não posso mudar a natureza básica das crianças
dos meus clientes. Mas eu posso ajudá-los a aprender a
disfarçar, eu suponho. É desonestidade, mas sou muito bem
paga para me envolver.

— Mas eu não sou um cliente comum.

— Você não é uma... idiota. — A palavra tem um gosto


estranho em meus lábios. Mas não desagradável. Pergunto-
me se eu vou ouvir sobre minha língua mais tarde. Viro-me
para enfrentá-la. — E eu não tenho certeza do que eu estou
destinada a ensinar-lhe. Ao contrário do resto da minha
clientela, eu não teria que esconder sua verdadeira natureza.

Ela parece atordoada.

— Você, você não iria? Por que não?

Dou de ombros.

— Há uma qualidade refrescante para sua marca de


honestidade bruta, George. E você não parece... intitulada.

— Porque eu não sou. Papai e eu viemos do nada. Eu


cresci em um barraco de dois quartos de cento e dez anos de
| 88

idade, em quase quinhentos acres. Eu cresci andando em


selas mais velhas do que eu, dirigindo caminhões velhos,
vestindo roupas que não se encaixam, comendo arroz e feijão
e quase nada de carne. Tivemos área cultivada e um monte
de cabeça de cavalos e gado, mas que realmente não se
traduz em renda, em dinheiro. Lembro-me daquela vida, X.
Lembro-me de não ter praticamente nada, e eu sei que não fiz
tudo para ganhar o que temos. Papai teve sorte, sim, mas ele
teve que ralar a bunda para transformar aquele pequeno
pedaço de sorte no que ela é hoje. Portanto, não. Não tenho
direito.

— É isso que se define, George. Por uma margem muito


grande.

— Eu tenho uma grande margem para você, querida. —


Ela sorri maliciosamente e pisca os olhos.

Suponho que a conversa estava se tornando um pouco


pessoal demais para ela.

— Voltemos à questão em apreço, então. O que eu


deveria fazer com você?

— O inferno se eu sei. Tudo o que sei é que papai não


vai estar mais satisfeito se eu voltar para o Texas sem ter
terminado isso. Prometi a ele que faria, então eu vou. Ele me
permite ser quem eu sou e não dizer nada sobre isso. Ele não
faz qualquer pergunta quando eu digo que tenho um
| 89

encontro, enquanto eu mantenho a minha merda no DL. E


ele não tolera ninguém no escritório ou que ele faz negócios
com quem fala merda sobre mim. Ele rejeita ofertas porque
alguém tem um caso de lábios soltos sobre a filha estranha
de Mike Tompkins. Então eu acho que devo algo em troca.

— Eu não estou apenas certa que isso...

— Basta fingir que sou um cara, X. Faça o que você faz


como se eu fosse apenas uma criança idiota de outro cliente.

— Mas você não é um homem, ou um idiota. E esse é o


tipo em que meus métodos são destinados.

— Somente... finja, ok? Faça o que você faz, a maneira


como você costuma fazer isso.

Dou alguns passos em direção a ela, empurrando para


baixo os meus sentimentos, e armo meu manto de hostilidade
fria sobre as minhas características.

— O que eu normalmente faço é cortar falsidade e


fingimento e atitude. Se isso vai funcionar, então você não
pode questionar-me.

— Falsidade? Que diabos você está falando, X?

— Primeira coisa. Sente-se direito. Não se curve. E o


suficiente com a fala arrastada cativante do Texas. É muito.

— O que há de errado com a maneira que eu falo?


| 90

— É burguês, faz você parecer ignorante. Se os


empresários e mulheres vão te levar a sério, você precisa
apresentar-se como competente, educada e suave. Um pouco
de sotaque é aceitável, e talvez até mesmo lhe dê uma ligeira
vantagem, mas a linguagem chula e da maneira quase
ininteligível em que você fala a identifica como nada além de
uma caipira desbocada do sertão, desleixada — Ignoro o
brilho de raiva em seus olhos. Você quer jogar este jogo?
Muito bem, então. Deixe-nos jogar. — Aparecendo como mais
de colarinho azul é tomar uma série de alterações em sua
natureza essencial, Geórgia. Não é sobre as roupas que veste
ou o carro que você dirige, ou a casa em que vive. Qualquer
um pode encontrar um saco de dinheiro e comprar coisas
mais agradáveis. Trata-se de aprender a comportar-se com
dignidade e sofisticação.

— Acha que eu falo como uma caipira? — Ela parece


quase magoada.

— Sim. — Esforço-me para falar devagar, para tirar


minhas sílabas e torcê-las, e deixar cair as extremidades de
minhas palavras. — Você soa como isto. — Isso sai: Ocêeeee
soa com issssto.

— Tenho notícias para você, senhorita. — Levanta-se, se


empurrando para fora do sofá com violência. — Eu nunca
vou soar tão arrogante como você.
| 91

— Claramente. Mas é algo que se aproxima da gramática


correta demais para pedir?

Ela anda, corre uma mão através de seu cabelo.

— Eu nunca vou soar como você. — Ela sai plana, sem


sotaque, mas sem vida.

— Mantenha o sotaque, mas erradique a gramática


pobre.

— Isso não vai ser fácil.

Eu concordo.

— Melhor. Você ainda vai soar como a si mesma, mas


muito mais... aceitável em situações formais. — Eu aceno
com a mão para sala. — Situações como esta, por exemplo.
Isto é suposto ser um cenário formal de cliente/ prestador de
serviços. Nós não somos amigas, Geórgia. Somos parceiros de
negócios. E eu já perdi a conta de quantas vezes você já usou
a palavra com F.

— Eu disse, meu nome é George.

— Para seus amigos, talvez. Para suas namoradas. Em


casa ou no bar. Mas na sala de reuniões? Seu nome é
Geórgia. — Meu tom não deixa espaço para discussão. —
Seja Geórgia. Isso irá simplificar as coisas de forma
exponencial em situações profissionais.
| 92

— Você está pedindo muito, X.

— Homens de negócios são facilmente confundidos,


Geórgia. Eles entendem de números e dinheiro, declarações P
e L, a avaliações de ações. Eles não entendem uma mulher de
negócios chamada George. Eles vão passar toda a reunião
tentando descobrir o que pensar, como falar com você. Você é
um homem? Uma mulher? Eles não saberão. E isso vai
prejudicar o ponto da reunião.

— Então, eu tenho que voltar a fingir ser uma mulher


cadela certinha.

Eu balanço minha cabeça.

— Não, Geórgia. Somente... apresentá-los com algo que


se aproxime remotamente de algo familiar para eles. Use um
terno de negócio. Mesmo um terno masculino, se você
preferir. Mas tê-lo adaptado para atender você...
devidamente. Você não tem que acentuar a sua anatomia
feminina, mas também não tente escondê-la. A menos que
você esteja querendo ir para uma aparência transexual?

Ela franze a testa.

— Eu não. Eu ainda sou uma mulher, mas.... Eu não


sou uma garota feminina. Não vou usar vestidos. Fazer o
cabelo exigente e maquiagem e saltos. Eu gosto de roupas de
homem.
| 93

— Você vai prender seus seios? — Pergunto.

— Não.

— Você poderia?

— Provavelmente não. — Ela hesita. —Tentei fazê-lo,


algumas vezes. E odiei isto.

Faço uma pausa, formulo meus pensamentos.

— Você tem que encontrar um meio, então. Você não


tem que atenuar o seu senso de ego. Isso não é o que eu
estou pedindo de você. Mas se você quer que os homens do
mundo dos negócios a aceitem, mesmo que ligeiramente, você
tem que pagar uma pequena deferência ao modo de como as
coisas são para eles. É injusto, talvez, mas é a realidade. Há
mulheres em posições de poder. CEOs, CFOs, presidentes.
Mas ainda é um mundo de homens, Geórgia. E se você deseja
jogar nisto, especialmente nos escalões superiores, então você
tem que jogar o jogo.

— Não. Eu não. Eu sou quem eu sou, e eles podem levar


isto ou deixar. Eu não vou mudar quem eu sou apenas para
um bando de homens velhos de dura cerviz de bolas
sacudindo.

Meus olhos se fecham lentamente.

— Geórgia. Eu não estou pedindo que ...


| 94

— Sim, você está! — Ela da vários passos pisando em


minha direção, olhando duro para mim. — Mudar a maneira
como eu falo, vestir-me diferente. Ser diferente.

— Você disse que queria fazer isso? Bem... isto é o que


eu faço, Geórgia. Eu removo o fingimento. Eu corto a merda.
Que, neste caso, é a maneira confusa na qual se apresenta.
Você está tentando ser um homem? Mas não inteiramente. E
na sala de reuniões, discussões de negócios será esquecida a
favor de saber o que devem pensar que você é. Minha
sugestão é se apresentar como... andrógena, eu suponho que
você poderia dizer. Um terno de negócio masculino, não um
terno de poder de uma mulher. Um terno sob medida caro,
mas adaptado para acomodar o seu busto e quadril.
Elegante, sapatos baixos. Um relógio em couro escuro com
um perfil elegante. Deixe seu cabelo crescer um pouco e
colocá-lo atrás de seu rosto.

— Então você quer me vestir como um homem


metrossexual, basicamente.

— Se esse é o termo que deseja usar, claro. É uma


aparência que poderia ir de qualquer maneira. O ponto é, é
profissional. Uma aparência condizente com o representante
chefe do petróleo Tompkins. Pode se vestir como quiser em
outros momentos. Falar como quiser, fazer o que quiser. Sua
vida pessoal é sua. Mas ao administrar os negócios, quando
no relógio, por assim dizer, deve retratar-se como um
| 95

empresário. E eu uso a construção de gênero neutro


intencionalmente.

Ela pousa no braço do sofá.

— Não vão ainda estar se perguntando se eu sou um


homem ou uma mulher?

— Sim. Mas se você usar a gramática correta, não


amaldiçoando e não ficar usando vulgaridade ou expressões
grosseiras e vestir-se profissionalmente, e provar que você
sabe sobre o negócio e exige ser respeitada e levada a sério,
essas questões de seu gênero sexual acabará por deixar de
ser tão importante. Eles ainda vão sussurrar atrás das
costas, é claro, mas se você os procura com sua aparência e
comportamento, eles vão ser obrigados a tratá-la como igual
quando se trata de negócios.

— E quanto a situações menos formais, onde um terno


não é necessário?

Eu dou de ombros.

— Calças sob medida, um botão para baixo sob medida,


camisa polo dos homens em um tamanho que se encaixa
perfeitamente.

Ela parece desconfortável.

— O problema é quando eu visto tops que se encaixam,


| 96

meus seios mostram.

Eu mantenho um olhar firme.

— Sim?

— Então, eu não gosto disso. Eles olham. Faz-me sentir


como aquela menina nos vestidos tudo de novo.

— Então deixe-os olhar. Se isso a incomoda tanto assim,


deverá prendê-los ou realizar uma redução. Vestindo roupas
largas em uma vã tentativa de... nem mesmo realmente os
esconde ou disfarçam, mas, eu não sei mesmo qual o
propósito da camisa folgada é, para ser honesta. — Eu
aponto para sua camisa e, em seguida, faço uma pausa por
um momento antes de começar de novo. — Seja qual for o
caso, ele diz que você não tem certeza sobre quem você é ou o
que você quer. Geórgia, meu ponto é, você pertence a sua
sexualidade, sim? Você é lésbica. Ok, muito bem. Mas você
não pertence ao seu corpo. Você tem que decidir se você está
confortável com o seu corpo, com o fato de que você é, muito
obviamente, uma mulher. E uma bem-dotada. Não estou
dizendo para se vestir como uma mulher. Mas não esconda a
sua aparência. Isso só confunde a questão e faz você parecer
insegura.

Um longo silêncio. E então:

— Eu sou insegura.
| 97

— E isso mostra.

— Portanto, não os esconder, mas não os destacar.


Somente... deixá-los estar lá?

— Ou fazer algo sobre o fato de que você não está


confortável com eles.

— Não é tão simples assim.

— Eu tenho certeza de que não é. Eu estou destilando


uma questão muito complicada até o absurdamente
simplista.

— Que ainda não é exatamente justo para mim.

— Eu não sou paga para ser justa. Sou paga para obter
resultados. Não sou eu quem deve fazer essas coisas, então
eu tenho o luxo de afirmar coisas que são, claramente mais
fáceis ditas do que feitas. — Eu me movo para ficar algumas
polegadas de distância de onde ela ainda está empoleirada
com um quadril no braço do sofá, com um pé no chão. —
Confiança, Geórgia. É o que eu digo aos meus clientes com
mais frequência. Todo mundo é atraído à confiança. Trata-se
de arrogância e certeza para parecer indiferente, mas
acessível. Se preocupar com como você se apresenta,
importar de como se parece, certificando-se sempre de estar
no seu melhor, comportar-se acima de qualquer suspeita,
falar com autoridade, no entanto, parecendo como se você
| 98

não se importasse com o que os outros pensam sobre você. A


confiança é sexy. Arrogância de verdade não é.

— E quanto a você, X? Ao que você é atraída? — De


repente, o ar é denso e tenso, e eu sou pega de surpresa.

Eu dou um passo para trás.

— Isto não é sobre mim.

— Não é? Se eu tiver sucesso em seu jogo, então você


não deveria ser afetada por isso? — Ela me segue, e agora
está em meu espaço.

Encarando-me. Olhando-me. Avaliando-me.

Nós somos da mesma altura. Talvez, ela fosse uma


polegada mais baixa do que eu sou, mas naquelas botas com
o calcanhar grosso, estamos iguais. Mas de alguma forma
consegue olhar para mim. Sua presença alguma forma capta
essa energia masculina da dominação, de calor, dureza. Ela
está perto, muito perto, cara a cara comigo, olhos verdes em
chamas, vendo. Suas mãos vão para a minha cintura, aperta-
me. Puxa-me contra ela. Seios esmagam contra seios.
Quadris trituram contra quadris. No entanto, apesar do
cheiro de sua excitação no ar, no meu nariz, não há cume de
espessura entre nós, sem espessamento físico do desejo. É
desconcertante. Desorientador. Geórgia exala necessidade
masculina. De fome. Suas mãos escavam em meus quadris
| 99

apenas assim, e seus olhos raspam para baixo dos meus e


para meu decote, e seus lábios despontam em um sorriso
agradecido.

Eu estou respirando com dificuldade. Falta de ar.


Arrastando respirações profundas de oxigênio, o inchaço do
meu peito dentro do meu vestido, e ela percebe. Seus quadris
moem. Algo em mim faísca, flashes. Aquece-se. A mistura
estranha de sua suavidade e dureza é sedutora e
desorientador. Ossos do quadril são duros contra o meu,
ainda não há suavidade, também, e quando ela moe
novamente, eu sinto a centelha mais uma vez, quando a sua
frente esfrega contra a minha.

Continuo tensa e rígida. Congelada. Eu não sei o que


fazer. O que está acontecendo? O que estou sentindo? O que
ela está fazendo?

O que estou fazendo, deixando isso acontecer?

Coloco uma distância, tropeço para trás.

— Isto... que não é apropriado, George-Geórgia.

Ela sorri. Vangloria-se enquanto segue a minha retirada.

— Não é tão absurdamente simplista mais, não é, X?

— Você assinou um contrato, Geórgia. — Estou a


lembrar-nos, e de alguma forma ela sabe disso.
| 100

— Não é nenhum de nós tão simples, querida. Você


sentiu. Você me sentiu.

— O contrato, Geórgia.

Ela zomba.

— Foda-se o contrato, X. Você e sua buceta altiva me


querem X. Você me cheira, e você não gosta. Eu complico
tudo para você, não é? — Ela fica frente a frente comigo
novamente. Meus mamilos me traem, embora difícil. — Eu sei
que você sente isso. Molhada, X? Toda escorregadia para
mim? Você sabe o quão bom um pau pode fazer você se
sentir? Eu sei o que você gosta, porque eu gosto, também.
Exatamente da mesma maneira. Nenhum cara jamais poderá
lamber a sua boceta tão bem quanto eu posso. Eu sei
exatamente como fazer você se contorcer, fazer como você
quer e deseja, e não dá-lo a você até que seja a porra muito a
tomar. Eu sei, X. Você quer um gosto? Ficar um pouco suja?
Ser um pouco usada?

Como isso aconteceu? De onde veio isso? Um momento


estávamos discutindo sobre, sua aparência, tudo foi
adequado e no controle e pelo menos um pouco familiar. E
então, de repente, a propósito de nada, isto. Ela, no meu
espaço, na minha cabeça, sob a minha pele.

Há um brilho em seu olhar. Alguma coisa... inteligente,


| 101

e maliciosa. Ela sabe exatamente o que está fazendo.

Ela está brincando comigo.

E eu não gosto disso. Nem um pouco.

— Chega. — Mantenho-me firme, colunas de aço, em


meu olhar. — Nossa hora acabou.

Ela sorri, um processo lento, sabendo a curva bela de


seus lábios.

— Tudo bem então. Se você diz.

Eu não tenho nenhuma ideia de quanto tempo passou.


Eu não me importo. Ela mudou a minha visão de mundo,
George. Ela faz parecer estreito, de alguma forma.

Minha visão de mundo é estreita. Minha visão de mundo


é composta de 3.565 pés quadrados. Três quartos, um
banheiro e uma ampla cozinha de plano aberto e sala de
estar. Janelas do chão ao teto e vista para o centro de
Manhattan. Essa é a minha visão de mundo.

Esse é o meu mundo inteiro.

E ela, esta súbita sedução... interrompe tudo o que sei.

Luto pelo equilíbrio e compostura e a respiração,


passando por ela. Giro a chave, a porta é aberta com
demasiada força. Espero, olhos olhando para ela, mas não o
| 102

vejo.

Ela anda arrogantemente para a porta, clicando saltos


das botas, e para cara a cara comigo mais uma vez. Muito
perto, mais uma vez.

— Confiante o suficiente para você agora, X?

Ela tomou o controle disto, de alguma forma, roubando


o meu domínio sobre o que eu faço e quem eu sou e o que eu
quero. Eu olho para ela, fingindo calma. Ela sorri, sabendo
que é mentira. Empurra mais perto, até que nossos corpos
estejam alinhados, inclina-se, em mim, e eu acho que ela vai
me beijar. Em vez disso, lambe a ponta do meu nariz. Meu
lábio superior. Sorri afetadamente.

— Até a próxima semana, X. Pense sobre o que eu disse.


O que eu ofereci. Eu não estava brincando, você sabe. Eu vou
tirar você daqui mostrar algo que você não vai esquecer
nunca, posso garantir isso, querida.

— Adeus, Geórgia.

— Chame-me de George. Não é a sala de reuniões,


somos nós. Já passamos das formalidades, eu diria. Eu senti
seus seios ficarem duros, cheirei sua vagina se molhar. Faz-
nos amigos, eu diria.

Eu passo para trás, balançando, e fecho a porta na sua


cara.
| 103

Capítulo Cinco
Tarde. Os clientes são atendidos durante o dia. Tomou
cada força de minha capacidade para me recompor o
suficiente para que eu possa lidar com o restante dos clientes
do dia. No entanto, depois que eles se foram, eu estou
sozinha, eu ainda estou abalada com o que aconteceu.
Ninguém entra em meu espaço. Ninguém me afeta. Ninguém
me toca.

Ninguém mais...

Ding.

— X. Onde você está? — Expressa uma voz baixa e com


raiva.

— Eu estou aqui, — digo. — Na minha biblioteca.

Eu chamo isso de uma biblioteca. Realmente, é apenas


um quarto forrado do chão ao teto e de parede a parede com
estantes recheadas. Um canto é deixado em aberto, uma
poltrona de Louis XIV, uma lâmpada, e uma pequena mesa
| 104

agrupada no triângulo do espaço aberto. No centro da sala há


uma caixa de vidro com meus livros premiados, cópias
assinadas e primeiras edições de livros de Hemingway,
Faulkner, Joyce e Woolf, uma cópia de Um Bonde Chamado
Desejo assinado por Tennessee Williams, e até mesmo um
século IV tradução iluminada da Odisseia.

Possessões apreciadas; presentes.

Lembranças.

A porta de entrada para a minha biblioteca está cheia,


escurecida. Olhos escuros estão cheios de fúria enquanto um
ser feroz. Mãos apertando em punhos e balançando em um
ritmo de pulsação. Eu abaixo Smilla’s Sense of Snow de
bruços na minha coxa. Finjo uma calma que não sinto; essa
raiva é incomum e perigosa. Não sei o que esperar.

Cinco passos longos e poderosos diminuindo o espaço


em uma caça predatória, uma mão rápida arrebata o meu
livro e joga-o em pela sala, que racha alto contra uma
prateleira, páginas esvoaçando, uma pancada gentil se ouve
quando ele atinge o tapete. Eu não tenho tempo para reagir,
sem tempo para sequer respirar. Uma mão brutalmente
poderosa agarra meu pulso e me empurra na posição vertical.
Agarra minha garganta. Dedos em minha traqueia, suaves
como o beijo de um amante, ainda tremendo com uma fúria
contida.
| 105

Respiração em meus lábios e nariz, limpo do odor


alcoólico. Sobriedade torna esta fúria ainda mais
aterrorizante.

— Geórgia Tompkins foi chamada de volta ao Texas.


Você não vai vê-la novamente.

— Está bem. — Sai de mim como um sussurro,


penitente. Cuidadoso.

Lábios se movem contra os meus, voz zumbindo, um


estrondo como um terremoto sentido a partir de centenas de
milhas de distância.

— O que diabos foi isso, X?

Eu engulo em seco.

— Eu não sei.

— Responda-me, porra. — Dedos apertam em


advertência.

— Eu fiz. Não sei o que aconteceu, Caleb. Isso me pegou


de surpresa. Eu -eu não sabia como reagir.

— Foi inaceitável. Eu tive que forçar Michael Tompkins e


sua bicha vagabunda a assinar acordos de confidencialidade
ainda mais, para que a sua impropriedade não seja vazada
para o resto da minha clientela. — Eu vacilo em seu insulto
cruel e vulgar, tão casualmente atirado. Sinto-me ofendida
| 106

por Geórgia, de alguma forma, embora eu não devesse, e não


me atrevo a mostrar. — Você trabalha para mim, X. Lembre-
se disso. Estes são os meus clientes. Meus negócios. Você me
representa. E quando você age dessa forma, quando você se
permite ser tocada... reflete em mim.

— Eu sinto muito, Caleb.

— Você sente muito? Você deixou uma lésbica tocar em


você? Quase a beijar? Você a deixou falar com você daquele
modo? E você... — tremendo naquela voz estrondosa —
...você parecia, como tudo aquilo afetou você. Como se você
gostasse.

— Não, Caleb. Eu só estava...

— Você, X? Você gostou do jeito que ela te tocou? Você


gostou do modo como se sentiu? É melhor do que o que eu á
faço sentir? A maneira que eu toco você? — Mãos na minha
cintura, onde as dela estavam. Lábios, escovando os meus.
Uma língua tocando outra, nariz, lábio superior. Espelhando.
Zombando.

— Não...

— Não, o quê?

— Não, Caleb. — Esta é a resposta correta, a esperada.


Eu sei isto. Mas eu tenho medo, abalada, e incapaz de
respirar, então eu esqueci.
| 107

— Não. Ela não faz sentir melhor do que eu, não é?

— Não, Caleb.

Estou perdida, deu-me um empurrão violento. Eu


tropeço e sou pega contra o vidro da vitrine. Um pé bate
contra o interior do meu tornozelo, tocando meus pés
afastados. Outra, para o outro lado. Agora meus pés estão
mais afastados do que a largura dos meus ombros. Quadris
contra meu traseiro. Reflexo no vidro: meu rosto, pele escura
corando, assustada, mas a minha boca está aberta em uma
careta, os olhos de pálpebras pesadas, lábios úmidos, as
narinas dilatadas, atrás de meu rosto uma estrutura maior,
pele pálida, cabelos escuros, olhos escuros. Cinzelado,
características esculpidas tão lindas que dói.

Lábios na concha do meu ouvido:

— Você estava molhada para ela, X?

Eu balanço minha cabeça.

— Não, Caleb, — eu minto.

— Os seus mamilos ficaram duros para ela, X?

— Não, Caleb, — eu minto.

Estou usando um vestido de uma linha cinza claro, um


de um tipo concebido e elaborado para as minhas medidas
por uma estudante de moda de destaque, estudando aqui em
| 108

New York City. É inestimável, original, e uma das minhas


roupas favoritas.

Mãos apertam o tecido em meus ombros em ambos os


lados do zíper na minha espinha. Um puxão forte, e o vestido
está rasgado, vibrando no chão aos meus pés. Eu não
respiro, não falo, não me movo. Não me atrevo.

Sutiã se desprendeu tiras postas de lado. Mãos em


meus seios, levantados para descansar sobre vidros frios.
Empurra a minha espinha para curvar-me para frente até os
meus seios serem esmagados contra o vidro. A calcinha é
puxada para baixo, bruscamente.

— Caleb...

— „Por favor, me foda, Caleb.‟ — Isso é dito em uma voz


grossa e áspera. — Diga, X.

Eu choramingo.

— P-Por favor.

— Eu não consigo ouvi-la.

Eu ouço um zíper se abrir, sinto a carne contra a minha


carne, uma ereção quente, rígida, situada entre os globos do
meu traseiro. Mãos nas dobras de meus quadris. Mãos
vasculham minha coluna, costas, acariciando em círculos
suaves. Mãos mergulham em volta da minha cintura,
| 109

mergulham entre as minhas coxas. Tocando-me.

— Eu senti seus seios ficarem duros, cheirava sua


boceta se molhar. Faz-nos amigos, eu diria. — As palavras
são sussurradas em meu ouvido, combinado com um toque
rítmico, criando um som de sucção molhada entre as minhas
coxas. — Você está molhada para mim, não é, X?

— Sim, — eu choramingo.

— Seus seios estão duros para mim, não estão, X?

— Sim, — eu sussurro.

Desliza sua ereção, brinca.

— Ela não pode dar-lhe isto, pode?

— Não. — Eu engulo em seco, odiando que meu corpo


queira isso apesar do terror nas minhas entranhas, apesar do
nó de confusão na minha garganta.

— Então diga. — Um minuto de silêncio enquanto os


dedos se movem, é levando ao ápice. — Diga, X.

— Por favor, por favor, me fode, Caleb. — Sussurro, e eu


sou recompensada com uma penetração súbita e lenta.

Sinto-me abusada. Maltratada. Manipulada. Eu me


sinto suja.

No entanto, eu quero isso.


| 110

Por quê?

POR QUÊ?

O que há de errado comigo? Meus seios estavam duros


para George, eu estava molhada para ela. No entanto, estou
ainda mais dura e mais úmida agora.

E eu não tinha medo de George.

Um impulso, um lento e metódico. Punho em meu


cabelo, pressionando o meu rosto no vidro.

Eu não vejo nenhuma reflexo agora, apenas os meus


livros: Por Quem os Sinos Tocam, As I Lay Dying, The Dead,
Possuir de um quarteto de um.

Longas, e lentas estocadas. Sons molhados. Suar nas


minhas costas. Bater de carne. Minha respiração, ofegante,
sussurra. Eu sei como parece: um som erótico. Eu
choramingo e gemo, gemo e suspiro. Minha voz me trai. Não
posso negar que sou afetada, que tal habilidade carnal, tal
ferocidade sexual, tal poder primal consumado e vigor
implacável me tem aquecida e me contorcendo, que eu sou
feita inútil, escrava feita para isso. Para a sensação de ser
possuída, de ser usada assim. Em tais momentos não estou
sozinha, e eu odeio e preciso disso em igual medida.

Gozo, violentamente, e eu me odeio por isso.

Lábios na concha do meu ouvido enquanto eu minto


| 111

curvada sobre o vidro, a borda de corte em minha barriga,


ofegante, à beira das lágrimas:

— A quem você pertence, X? — Cada palavra é


enunciada com cuidado, precisamente.

— Eu pertenço a você, Caleb. — É a verdade nua e crua,


porém eu posso sentir sobre isto.

— Este corpo é de quem? — Um tapa em meu traseiro,


afiado, mas não precisamente dolorosa.

— Seu, — murmuro, um pouco acima de um sussurro.

Sou puxada na vertical, uma ampla, palma dura


colocada na parte de trás do meu pescoço. Olhos se abatem
sobre mim, me perfurando, escuro e ainda furioso, mas agora
cheios de brilhos e frações de outras emoções desconhecidas.
Dedos se aprofundam entre as minhas pernas. Deslizam,
esfregam, recolhe o sêmen ainda quente, recém-derramado.
Passa em minha língua. Meu gosto, almiscarado, salinidade,
a minha própria essência feminina tecidas em torno do
masculino. — Esse sou eu, dentro de você. Você nos prova?

Eu concordo. Eu não posso falar.

Dedos beliscam meu seio, forte.

— Sua sexualidade pertence a mim, X. Ninguém mais


pode nem mesmo cheirá-la, você me entende? Você. É. Minha
— O aperto não cessa, a dor aguda me fazendo tremer,
| 112

fazendo uma parte de mim torcer e contorcer de necessidade.


Eu odeio, odeio, odeio meu corpo por reagir assim. — Você
entende, X?

— Sim.

O aperto é mais forte ainda, forte o suficiente para me


fazer chorar.

— Sim, o quê?

— Sim, Caleb! — Eu suspiro.

Dedos liberam meu seio, e meus joelhos tremem, com


alívio. Eu não consigo parar de cair. Braços me pegam,
levantam-me facilmente. Leva-me para o meu quarto,
contentar-me com gentileza requintada. Muito gentilmente. A
ternura dói e confunde pior do que a dor, pior do que as
exigências de propriedade, aflige-me mais do que o domínio
sexual.

— Durma. — É um comando.

E eu...?

Eu obedeço.

Acordo abruptamente, desorientada. Minhas cortinas


| 113

estão abertas, deixando entrar a luz do luar e o brilho


cintilante de inúmeras janelas do horizonte. Chego à minha
mesa de cabeceira para o controle remoto que fecha a cortina.

O controle remoto sumiu. Minha máquina de ruído


também.

Meu coração afunda.

Levanto-me, ainda nua, e vou até a janela. Olho para


cima. A cortina ainda está lá, instalada acima da janela. Mas
sem o controle remoto, não há nenhuma maneira de abaixa-
la.

Lágrimas piscam em meus olhos. Este é o meu castigo,


então. Sem as cortinas e o ruído, como vou dormir?

Eu não vou, ou não muito bem.

Eu luto contra a fraqueza. Deito-me, me cubro com o


cobertor, puxo sobre a minha cabeça, tento dormir. Mas
depois de apenas alguns momentos sinto como se estivesse
sufocando, sufocando em minhas próprias respirações
quentes, recicladas. Eu lanço o cobertor a distância. Olho
para o teto.

Estou acordada agora.

Frustrada e com raiva, eu chuto o cobertor longe, rolo


para fora da cama, vou para o banheiro. Ligo o chuveiro,
quente. Piso dentro, e assovio contra o calor escaldante. Eu
| 114

não baixo a temperatura, embora. Eu esfrego.


Impiedosamente, sem parar. Até que a minha pele fique
vermelha e quase sangrenta, eu esfrego. Cada polegada de
mim, como se eu pudesse vasculhar afastando não apenas a
sensação daquelas mãos duras, brutais, mas às vezes
macias, mas também para limpar qualquer doença dentro de
mim que me faz reagir a ele, para precisar do seu toque,
qualquer que seja o veneno que tem me envenenado para
precisar daquela dominação sexual.

Se eu pudesse sangrá-lo, eu o faria.

Em um momento de insanidade, tomo a lâmina


descartável que eu uso para depilar as pernas e em outros
lugares. Coloco a lâmina no meu antebraço. Arrasto a
navalha para o lado, e sinto a picada, uma vez que corta a
minha pele à parte. Chocada com a dor súbita, eu deixo cair
a navalha e assisto como poços de sangue deslizam de meu
braço, comportas, lavou-se pelo ralo pelo chuveiro. Estou
fascinada pelo derramamento do meu próprio sangue, vê-lo
correr.

Mas eu não tento cortar-me novamente. Eu não tenho a


coragem de buscar a maneira para isso. Eu sou muito
covarde. Eu ainda desejo viver.

E então, sem aviso, eu estou caída no chão do chuveiro


e soluçando, água do chuveiro quente batendo em mim, e eu
| 115

estou abalada por soluços, soluços, soluços. Meus punhos


batem em meu crânio. Meus dedos arranham meus olhos,
meu cabelo.

— Foda-se. — Sai de dentes cerrados. —FODA-SE! — Eu


grito, finalmente, mas a palavra surge como um lamento sem
palavras, e mesmo que seja abafado pelo som do chuveiro.

É uma sensação boa amaldiçoar, embora.

Eu encontro força suficiente para ficar em pé, para


desligar o chuveiro, secar, e vestir uma camiseta e calcinha.

Buscando conforto, eu ando para à minha biblioteca em


pés descalços, dedos podados. Talvez algumas horas com
Smilla me acalmassem.

A porta está trancada.

Eu tento novamente. Sacudo. Tremo. Bato meus punhos


contra a madeira.

Outra punição.

Eu torço no lugar e descanso as costas contra a porta,


lutando ainda mais com as lágrimas. E como eu inclino
contra a porta, meu olho lança através da sala para a estante
restante.

Que foi esvaziada de todos os livros.


| 116

Exceto um, um novo título.

A obediência à autoridade: Uma Visão Experimental por


Stanley Milgram.
| 117

Capítulo Seis

Uma semana sem livros é uma eternidade. Eu não tenho


nenhuma televisão, sem rádio. Nenhum visitante ou amigos,
salvo meus clientes. Não há visitas de fim de noite, qualquer
um; uma longa e notável ausência. Eu estou ficando louca.
Depois que meus clientes do dia são feitos, eu passeio.
Caminho o perímetro do meu mundo, parede a parede, janela
para janela, canto a canto. Eu não murmuro para mim
mesma, mas é preciso contenção considerável. À noite, eu
não durmo. Eu me arremesso, olho para o teto. No final, eu
sempre me encontro na janela, testa pressionada contra o
vidro, os braços cruzados sob os meus seios, mãos colocadas
sobre os meus cotovelos, observando. Assistindo.

Observo o tráfego em pé, como é meu costume.

Você á vê, lá em baixo? Uma mulher jovem, cerca de


trinta anos. Menos que isso, talvez. É difícil dizer a esta
distância. Esta tarde da noite, meia-noite, ela está vestida
com um terno de negócio. Saia lápis apertada, azul marinho.
Combinando blazer dobrado e envolto em um antebraço.
| 118

Blusa branca, nenhum absurdo, feito sob medida. Três


botões são desfeitos, porém, revelando um pequeno decote
muito para ela estar indo em qualquer lugar, mas suficiente
para ir para casa ou no bar. Uma bolsa marrom pendura de
um ombro, magro, pequena, alça quase invisível. Saltos de
cunha escuros, tento marinho ou cinza escuro. Cabelo em
um coque. No entanto, a maneira como ela anda, ela conta
uma história. Rapidamente, pernas bamboleando
rapidamente apesar dos estreitos limites de sua saia na
altura do joelho. Muito rápido. E o rosto dela, enterrado em
seu telefone celular. O conjunto de seus ombros. Ela está
chateada com alguma coisa. Ela atinge o canto, faz uma
pausa no cruzamento, e enfia seu telefone em sua bolsa.
Endireita os ombros. Respira profundamente. Meneia a
cabeça, como se chamando a indiferença, a coragem.

Mesmo daqui, eu posso ver a luz da tela de seu telefone


em sua bolsa aberta. A partir desta distância não é nada,
mas um pequeno brilho branco. Ela hesita e retira seu
telefone, lê a mensagem e o coloca de volta em sua bolsa sem
enviar uma resposta. Mas em vez de andar para frente
quando a luz se transforma, ela permanece no cruzamento,
esperando por algo.

Um sedan preto, caro, elegante para em seu lado do


cruzamento, aproximando-se dela. Para ao lado dela. A porta
do passageiro traseiro é empurrada, aberta a partir de dentro.
| 119

Ela balança a cabeça. Passos para trás. Meu coração bate.


Ela está gesticulando com raiva, dedos apontando,
apunhando. Ela está gritando, claramente. Faz um retorno de
mais um passo. A porta traseira do lado do motorista se abre,
e um homem alto se sai de dentro. Meu coração salta várias
batidas. Aquele cabelo, escuro, artisticamente confuso.
Passos confiantes, arrogantes, predador. Esses ombros.

Não é possível.

No entanto, meus olhos me dizem que é.

A mulher para, quase fora do meu campo de visão. Ela


está sacudindo a cabeça. Falando, balançando a cabeça. Ela
segura as palmas da mão para fora como se para repelir um
ataque, mas eu poderia dizer a ela, eu deveria estar perto o
suficiente para falar com ela, ela o faz em vão. Aquelas
enormes, mãos poderosas lançam-se com a rapidez de uma
serpente impressionante. Agarra seus ombros. Puxa para
mais perto, corpo a corpo. Eu vejo esses lábios finos e
expressivos em movimento, dizendo algo. Ela balança a
cabeça, mas não se afasta. Por que ela não está se afastando?

Porque ela está sendo beijada, cheia e furiosa, um beijo


exigente. Mesmo daqui, eu posso ver seus joelhos
fraquejarem. Tudo o que está mantendo-a na posição vertical
são aquelas mãos brutais, segurando a parte traseira e
mantendo-a pressionada com força contra aquele, peito
| 120

tenso. Suas mãos apertam, agarram, através do cabelo, a


possuem.

Ela tem permissão para tocar?

Um beijo?

Esses lábios não me beijam.

Minhas mãos não chegam para tocar.

O que é esta fúria dentro de mim? Este desgosto? Este


medo? Esta confusão? Não sou nada mais que uma
possessão. Eu sei disso. Eu não quero ser beijada. Não por
aqueles lábios. Eu não quero tocar, aquele corpo.

Isso é a verdade, apesar de sementes da dúvida.

Claramente, mantem-se as regras diferentes do que a


mim.

No entanto, é apenas tão claro o domínio, o


conhecimento magistral da anatomia feminina a excitação, e
como manipula até que a propriedade está completa. Sei
disso muito bem. Ela é submetida, lá na calçada. Ela está
andando de costas até seu traseiro esbarra contra a porta do
passageiro da frente do carro. Ela derrete. Rende-se. A
calçada não está vazia; esta é Nova York, ela nunca dorme.
Ninguém está sozinho na rua. No entanto, a cena contra a
porta do carro é privado, erótico. Ao longo de um ombro largo
eu posso ver sua boca, entreaberta. Mãos escavam debaixo de
| 121

sua saia ao longo de sua cintura. Eu conheço esse toque. A


excitação sexual, a inevitabilidade do clímax.

Bem ali na rua.

Vejo-a gozar. Ela fica mole, realizada ainda mais uma


vez. Um momento passa. E então ela é deixada sozinha,
inclinando-se contra a porta do carro, saia torcida fora do
lugar, cabelo solto livre do bolo, blusa franzida e amarrotada.
Bolsa esquecida, pendurada em um cotovelo. A porta traseira
do lado do motorista está fechada por trás dessa forma alta e
poderosa. Ela hesita. Endireita sua saia. Ajusta a blusa.
Substitui a alça de sua bolsa em seu ombro. Corrige seu
cabelo.

Toma uma respiração profunda.

Vai embora.

Bom!

Corra!

Continue indo, menina. Não se deixe seduzir, não seja


enfeitiçada.

Três passos, ela faz isso. E então, como a esposa de Lot,


ela se vira para olhar para trás. Mas ao contrário da mulher
de Lot, porém, ela não vira sal. Mas ela é igualmente
condenada, por tudo isso. Seu olhar sobre a porta do
passageiro traseiro ainda aberta. Ela não consegue resistir.
| 122

Eu quase posso ouvi-lo, o canto da sereia de um deus carnal


chamando-a para mais perto, puxando-a para dentro, para
mais perto e mais perto de uma boca faminta e impiedosa.

Mais perto, mais perto.

E então, a tola, ela se abaixa, se inclina e desliza para


dentro do carro. Eu vejo uma mão alcançá-la, puxá-la fora do
equilíbrio, então ela cai para frente, pernas abertas, saia
ampla e mostrando muita perna, caminhando para cima,
desnudando uma tanga preta minúscula. Ela chuta, lutando
para sentar-se, e a mão chicoteia para baixo para quebrar
contra o seu traseiro. Ela acalma, e a mão permanece colada
a sua nádega. Outra mão e o braço embainhou o terno longo
ligado a ele, atinge, agarra a maçaneta da porta.

Eu assisto, hipnotizada, como um rosto que eu sei


muito bem como se parece fora das sombras do interior,
olhos escuros, subindo, encontrando os meus. Lábios não
chegam a sorrir, porque deuses não sorriem ou sorriem
maliciosamente. Mas há um espírito de algo como
divertimento ou satisfação sobre essas belas características
ferozmente masculinas.

Um momento, então, quando eu não consigo desviar o


olhar, vendo e vendo-me.

Tudo isso foi para meu benefício?


| 123

Orquestrada para provar alguma coisa?

Eu me afasto estômago balançante. Eu poderia vomitar,


mas eu não faço.

— Madame X. Como está hoje? — Sua voz é suave e


educada, ele entra e senta-se no sofá.

— Estou bem, Jonathan, — eu minto. — E você?

— Tudo bem, eu suponho. — Ele dá de ombros, mas sua


voz revela uma hesitação infinitésima.

— Você supõe? — Eu consulto.

Ele percorreu um longo caminho desde o nosso primeiro


encontro. Alguns dos meus melhores trabalhos, ele é.

— Não é nada. — Acena uma mão, olha em minha


estante, ainda vazia, mas há um título, que não me atrevo a
remover. Nem em lê-lo, embora; meu pequeno ato de rebeldia.
— Onde estão todos os seus livros?

Eu caço por uma mentira adequada. Não consigo pensar


em nada. Eu não esperava que ele fosse notar ou se importar.
Eu dou de ombros. Diga a primeira coisa que vem à mente.
| 124

— Eu estou os substituindo.

Ele se levanta. Caminha para a estante, pega o livro,


examina o título. Silêncio, então, ele lê algumas páginas do
meio.

— Isso é fodido, X.

— Ter os meus livros substituídos?

Ele balança a cabeça, levantar o livro em um gesto.

—Não, isto.

Eu não li, não sei nada sobre isto. Não posso trair a
minha ignorância, no entanto.

— Por que você diz isso, Jonathan?

Ele dá um encolher de ombros.

— Este livro. É um experimento social. Há um professor


e um estudante. O professor faz perguntas, e se há uma
resposta errada o professor pune o aluno com uma máquina
de choque elétrico. Ou algo assim.

— Você reuniu todas estas informações a partir do


pouco que você acabou de ler?

Ele sorri para mim.

— Ah não. Eu tive aulas de psicologia na faculdade, e


estudamos este livro. Foi um tempo atrás, então eu realmente
| 125

não me lembro muito sobre isso, mas eu me lembro, mesmo


assim, pensando em como fodido foi o experimento. Os
resultados, entretanto, que ficaram comigo. A obediência é
uma construção social. Assim é a autoridade de uma pessoa
sobre outra. É... algo que concordamos, nos permitimos ir
junto, mesmo que seja prejudicial para o nosso bem-estar.
Nós concordamos em dar a outra pessoa mais autoridade
sobre nós. Ou, vice-versa, podemos tomar o poder,
autoridade ou qualquer outra coisa, e usá-lo, mesmo que isso
vá contra nossa moral de alguma outra forma. É confuso.
Mostra como somos dependentes de construções sociais,
ainda que de um modo geral nós nem sequer percebemos o
que está acontecendo, e o que estamos fazendo.

— Não são construções sociais, assim que compõem a


própria estrutura da sociedade, embora?

Acena com a cabeça.

— Sim, com certeza. Mas quando você se tornar ciente


deles, mesmo que brevemente, ele pode mexer com a sua
cabeça. Andei me questionando depois que estudamos esse
livro. Cada interação olhei como se fosse algo novo. Como
quando você diz uma palavra tantas vezes que perde o seu
sentido, sabe?

— Saciedade semântica, — eu digo.

— Sim, isso. Eventualmente eu voltei ao normal, parei


| 126

de pensar sobre coisas tão objetivamente. Mas durante


semanas, era fodido, estranho. Você percebe aos poucos os
pequenos acordos tácitos que fazemos sem perceber isto, você
sabe?

Eu balanço minha cabeça. Eu sigo intelectualmente,


mas em prática? Não. A minha experiência é mais... limitada.

— Vamos fingir que eu não sei, Jonathan. O que você


quer dizer?

— Bem, em termos de obediência e autoridade... damos


às pessoas autoridade sobre nós. Por que eu deixo você
mandar em mim? Por que eu volto aqui, semana após
semana, permitindo-lhe dizer às coisas que você diz para
mim, dizendo-me o que dizer, como agir e como me vestir,
quando eu não sei nada sobre você? Nós não somos amigos,
não estamos envolvidos em um relacionamento, eu
pessoalmente nem pagando você. No entanto, aqui estou. Por
quê?

— Seu pai.

— Exatamente. Mas eu odeio meu pai. Eu realmente o


odeio X. Então, por que estou aqui?

— Porque ele mantém controle sobre algo que você quer.

— Certo. Exatamente. Dinheiro. O futuro da empresa.


Eu sacrifiquei minha infância pôr sua empresa. Meu pai
| 127

sacrificou a minha infância para a empresa. Ele nunca estava


em casa, e quando estava se trancava em seu escritório,
trabalhando. Estava sempre esperado para se destacar, para
ser o melhor. Para obter as notas para que eu pudesse ir para
a escola da Ivy League, para obter o grau que lhe diria que
ganhei o direito de herdar a empresa. Então eu fiz tudo isso,
e mesmo assim eu não consegui apenas... assumir o controle.
Ou até mesmo começar perto do topo. Não, eu tenho que
começar de baixo, como aprendiz. Claro, eu entendo.
Trabalhar para isso, aprender sobre negócio de baixo para
cima. Certo. Ótimo. Mas eu fui trabalhar com ele todos os
fins de semana, X. Cada maldito fim de semana. Eu não
joguei com os meus amigos, eu não pratiquei esportes ou
jogos de vídeo ou fui ao parque ou andei de bicicleta. Eu fui
para o escritório com ele, observando-o trabalhar. — Tudo vai
ser seu um dia, Jonathan, — ele dizia. — Portanto, preste
atenção. — Eu prestei atenção. Eu sei de cada contato, cada
conta. Eu sei tudo. Estou pronto. Mas ele ainda me mantém
fora. Tornando impossível mover-me para cima. Promove
outros caras sobre mim quando por todas as normas e
objetivos, eu sou o mais qualificado, filho do presidente da
empresa ou não. Ele me faz vir aqui e fazer isso com você,
porque, aparentemente, eu não sou homem o suficiente,
tampouco um. O que, obviamente, significa deixar alguma
vadia metida mandar em mim e me insultar. — Ele olha para
mim, encolhendo-se. — Sinto muito. Só estou...
| 128

— Está tudo bem, Jonathan. Deixarei isto ir, desta vez.


E, além disso, eu sou um pouco uma cadela, mas depois, eu
sou paga para ser, não é?

Você ignora totalmente o fato do que eu falei

— Mas o ponto é, eu faço isso porque eu ainda


mantenho a esperança de que vou ser bom o suficiente. Eu
lhe dou o poder sobre mim, porque eu quero o que ele tem.
Eu quero o que é meu. — Ele bate sua cabeça, brevemente, e
depois olha para mim, seus olhos talvez um pouco forte
demais, um pouco sabidos demais. — Todos nós temos uma
motivação para deixar que os outros nos controlem, porém,
não é?

— Por que, Jonathan.... Eu mal o reconheço, agora. Tal


introspecção é diferente de você. — Eu devo manter a
conversa focada nele.

Em minhas circunstâncias atuais, não me atrevo a


permitir que esta linha de discussão tornar-se focado em
mim. Isso seria... muito mal.

— Eu sou um idiota rico, X. Eu entendo. Eu possuo isto,


e eu não vou pedir desculpas por isso. Foi-me dado tudo que
eu sempre quis, e então alguns mais. Exceto agora que eu fiz
tudo que me pediu para tomar meu lugar ao seu lado na
gestão da empresa, agora... eu ainda não sou bom o
suficiente. Eu não era bom o suficiente para ele desejar
| 129

passar mais tempo comigo como uma criança, então eu fui


trabalhar com ele, esperando que ele me notasse. Ele nunca
fez. Eu acho que ele nunca será. Mas eu ainda lhe dou
autoridade sobre mim.

— De onde tudo isso está vindo, Jonathan? — Contra


toda razão, eu me pego pensando que apenas talvez poderia
haver uma pessoa decente sob a pele do idiota rico.

Ele encolhe os ombros.

— Ele me disse que se eu fizesse isso, vir aqui e


deixasse você me ensinar ou o que quer que seja, ele me faria
vice-presidente júnior de operações. Então, eu estou aqui.
Estou tentando.

— Realmente você está. E fazendo um bom progresso


também. Na verdade, estamos mantendo uma conversa
interessante, e isso é a melhoria de fato.

— Sim, bem. O desagradável, porém a porra do velho


apenas deu a Eric Benson essa posição, mesmo que ele antes
tivesse prometido a mim. Nós ainda temos o que, mais de três
semanas disto? E ele deu a Eric porra Benson. Benson é uma
ferramenta do caralho. Um bajulador idiota maldito
chupador. Nunca tem qualquer ideia de sua autoria, ele só
vai junto com todos os outros e beija bundas com sorriso
estúpido. Cuzão do caralho.
| 130

Eu não sei o que dizer a você. Não é o meu trabalho ser


sua confidente, seu confessor, o seu ombro para chorar, ou
seu amigo com quem lamentar. É o meu trabalho torná-lo
menos idiota.

— Quanto é suficiente o bastante, Jonathan?

Ele olha para mim com olhos miseráveis.

— O quê?

— Quanto é suficiente? Quanto tempo você vai se


inclinar ao moinho de vento?

Ele geme de frustração, se inclina para trás, e passa


suas mãos através de seu cabelo.

— Gah. Chega com a porra dos enigmas, X.

— Não é um enigma, é uma alusão. É de Dom Quixote.

— Eu conheço a porra do Dom Quixote, X. Eu fui para a


porra da Yale, você sabe.

Eu sabia disso, eu não fui para Yale, ou em qualquer


outro lugar. Não digo nada, entretanto. Ele não precisa de
minha superioridade agora. Ele precisa de um empurrão na
direção certa.

— Se você sabe quem Dom Quixote foi então o que é que


eu estou tentando dizer a você?
| 131

Ele franziu a testa para mim, e eu posso vê-lo pensando.

— Para moinhos de vento.

— O que Dom Quixote acha que os moinhos de vento


eram? — Pergunto.

— Gigantes.

— Correto. Mas o que você acha que foi o seu maior


defeito?

— Pensar que os moinhos de vento eram gigantes.

— Errado. Pensar que ele poderia matá-los, mesmo que


esses moinhos de vento tenham sido seus verdadeiros
gigantes. Ele teria sido esmagado como um mosquito.

— E você acha que eu estou não só contra moinhos de


vento, mas há um gigante que não posso matar em primeiro
lugar.

Permaneço em silêncio. Você deve resolver algumas


coisas por si mesmo.

— O que não estou fazendo certo, embora? O que há de


errado comigo que ele não pode simplesmente só...

— Jonathan. — Eu repreendo.

— O quê?

— Deixe de lamentar e pense.


| 132

Ele olha para mim, mas, para seu crédito, não se lança
para mim. Em vez disso, ele se levanta em direção à janela.
Minha janela, aquela em que vejo os transeuntes tão lá
embaixo e imagino histórias para eles.

— Quando eu tinha três anos, — diz, refletindo uma


figura régia à janela, uma mão em seu bolso, a outra apoiada
no vidro, cabeça baixa, voz calma, — fiz um desenho. Não me
lembro do que. Eu tinha três anos, então provavelmente era
um monte de rabiscos, certo? Mas eu tinha três anos, e eu
queria desenhar e dar a meu pai. Então, eu dei a ele, e eu me
lembro de estar entusiasmado que ele tinha olhado para
mim, que ele tinha olhado para meu desenho. E você sabe o
que ele fez? Ele o pegou, olhou para ele, para mim, e ele não
sorria ou me disse como era bom. Ele disse: „Não é ruim,
Jonathan, mas você pode fazer melhor. Tente novamente.‟ —
Ele soltou um longo suspiro. — Eu estava só com três. E isso
era... foi pela primeira vez. Voltei para a minha pequena mesa
com meus pequenos lápis de cor, e lembro-me de desenhar
uma outra imagem. Sendo orgulhoso disso. Querendo dar a
ele e que ele me dissesse que estava ótimo, que ele adorou. Só
que ele tinha deixado, voltado a trabalhar. E a primeira
imagem que eu tinha desenhado estava no lixo. Não enrolado
ou qualquer coisa, eu só... me lembro de vê-lo enfiando na
lata de lixo com envelopes rasgados e um lenço de papel e
outros lixos. Essa foi a primeira vez que eu me lembro de não
me sentir bom o suficiente. E eu passei cada dia de merda,
| 133

desde então, tentando levá-lo a olhar para os meus desenhos


malditos e dizer-me o quão bom eles são. Vinte e três anos.

Eu sento-me lateralmente na cadeira, uma perna


cruzada sobre a outra, assistindo-o na janela. E espero ele
falar novamente, e é um longo tempo de silêncio antes de
fazer.

— Ele é o gigante. Não é um moinho de vento, mas um


gigante real. E eu não tenho esperança de matá-lo, não é?
Então por que estou tentando? Isso é o que você está
pedindo, não é? Por que se preocupar?

— Não, não é por que se preocupar. Essa é a pergunta


errada.

Levanto-me, passo com cuidado sobre ele, minhas


sandálias Gucci Úrsula de salto alto fazem clique, clique,
clique, clique sobre o chão. Estou a uma curta distância,
perto o suficiente para cheirar sua colônia, que é fraca, fraco
e sedutor. Perto o suficiente para perceber o quão alto ele
realmente é, e que eu possa ter feito meu trabalho um pouco
bem demais com ele.

— Então, qual é a pergunta certa, X? — Ele vira, um


pivô. Eu não recuo, e finjo não perceber o seu olhar que flui
sobre mim.

— O que você deve matar? Essa é a questão. Estamos


| 134

todos nós diante de algo, ou escorregando em alguma coisa.


Não estamos? Mas temos que escolher quais gigantes que
tentamos matar.

Hipócrita, eu. Não há escolha para mim. Ela foi feita em


meu nome, e que em si é um gigante que não posso matar.
Mas isto não é sobre mim. E devo parecer sábia.

Assente com a cabeça, compreendendo. Seus olhos


estão em mim. Eu seguro o seu olhar e espero. Um olhar para
o relógio me diz que a hora acabou, mas então eu sei que já
posso sentir isso. Eu posso sentir a passagem de tempo.
Minha vida é medida em incrementos de uma hora, e assim
eu estou finalmente sintonizada com a sensação de passagem
de uma hora, usada para a carícia lenta de cada minuto, o
piso escorregadio de cada minudo, das horas deslizando
sobre mim. Uma hora se passou, no entanto, ele ainda está
aqui. Olhando para mim como se estivesse me vendo pela
primeira vez.

— X...

Eu seguro.

— Escolha o seu gigante, Jonathan.

Ele me segue passo a passo.

— Eu acho que talvez eu vá começar a responder por


Jon. — Seus olhos, marrom e ricamente texturizados em
| 135

arcos de luz e tons mais escuros, fixam no meu. Ele não está
olhando de soslaio, ou fitando; pior, ele está vendo.

— Jon, então. — Eu encontro o seu olhar, e eu devo


concentrar intensamente em manter ereta a parede da
neutralidade entre nós. — Escolha o seu gigante, Jon.

Um passo. Nem mesmo um passo, mais de um


escorregar de um couro italiano macio de bico pontudo, e
uma única folha de papel de folhas soltas não poderiam caber
entre o meu corpo e o seu, e embora não nos tocamos, isto é
ilícito, um momento roubado. Você não pode entender o risco
que corre. O risco que eu corro.

— E se eu escolher me inclinar neste moinho de vento,


X? — Pergunta isto com a sua intenção telegrafada no
sussurro de sua voz, no modo como suas mãos se contorcem,
como se coçando para me tocar na cintura ou na face.

Eu mantenho o meu olhar e minha voz calma, neutra;


as ameaças mais terríveis são mais bem entregues sotto você.

— Há gigantes, Jonathan, e depois há titãs.

Clique... ding.

Eu dou um suspiro de alívio... ou é decepção?


| 136

Capítulo Sete

Não espero a batida na porta. Ele vem às 19:30, sábado.


Tenho imaginado dezenas de histórias fictícias por agora. É
tudo que tenho que fazer. Quando a batida vem -rap-rap-rap-
rap, quatro firmes, mas educados bater, eu salto, pisco os
olhos, e olho para a porta como se esperasse que explodisse
em chamas, ou vir à vida. Recupero a compostura, e aliso
minha saia por cima do meu quadril, escondo as minhas
feições em uma máscara em branco, e abro a porta.

— Len. Boa noite. Qual é o problema?

O amplo rosto de Len, desgastado pelo tempo parece


talhada em granito e expressa a mesma medida de emoção.

— Boa noite, Madame X. — Um saco de roupa negra


paira sobre um braço. — Isto é para você.

Eu levo o saco.

— Por quê? Quer dizer, o que é isso?

— Está para se juntar Sr. Indigo para o jantar esta


noite.
| 137

Eu pisco. Engulo em seco.

— O acompanhar para o jantar? Onde?

— Andar de cima. Rapsódia.

— Rapsódia?

Um encolher de ombros.

— Restaurante, perto do topo do edifício.

— E eu vou acompanhá-lo? Para o jantar?

— Sim, senhora.

— Em público?

Outro encolher de ombros.

— Não sei senhora. — Toque de um pulso, revelando


uma borracha preta onde olha a hora. — Sr. Indigo a espera
em uma hora. — Len fala, fecha a porta, e se coloca de costas
para ela. — Vou esperar aqui, Madame X. Melhor ir ficar
pronta.

Eu tremo por toda a parte. Eu não sei o que é isto, o que


está acontecendo. Eu nunca me junto ao „Sr. Indigo‟ para o
jantar. Eu janto aqui. Sozinha. Sempre. Isto não é como as
coisas vão. É fora do normal, não faz parte do padrão. A
urdidura e trama da minha vida é uma dança cuidadosa,
coreografada com precisão. As aberrações me deixam
| 138

ofegante, aperto no peito, olhos piscando muito rapidamente.


Aberrações são indesejáveis.

Jantar no Rapsódia com o Sr. Indigo. Eu não sei o que


isso significa; é semanticamente nula.

Tomo banho, embora eu já esteja limpa. Eu me depilo,


aplico loção. Lingerie, de renda preta, modelo biquíni francês
e sutiã meia taça, agente provocador. O vestido é magnífico.
Vermelho escuro, decote alto em torno de minha garganta,
ambos os braços nus, cortado pela esquerda quase até o
quadril, costas abertas, a assimetria da assinatura de
Vauthier. A peça de costura deve ser de aprendiz de costura,
provavelmente. Elegante, sexy, dramático. O vestido é o
suficiente de uma declaração sobre a sua própria, então eu
opto por sandálias de salto alto pretas simples. Maquiagem
leve, um toque ao redor dos olhos, batom nos lábios, cor nas
minhas bochechas.

Coração batendo, eu saio para a sala de estar, pronta


em quarenta minutos. Algo me diz que não faria bem manter
o Sr. Indigo esperando.

— Muito agradável, Madame X, — Len diz, mas parece


uma formalidade, parte da charada.

— Obrigada.

Um aceno, um cotovelo oferecido. Meus pulmões estão


| 139

congelados e meu coração está na minha garganta enquanto


eu tomo o braço de Len, o sigo para fora do hall de entrada,
além da minha porta: tapetes grossos marfim, paredes de
ardósia, pinturas abstratas, uma mesa com um vaso de
flores. Um pequeno corredor que conduz a uma escada de
emergência: Cuidado, saída de emergência somente, alarme
soará. As portas do elevador são de cromo polido, espelho
brilhante. A janela perto da saída de emergência mostra a
silhueta de Manhattan, luz solar de noite de verão que cobre
ouro no vidro.

O hall de entrada além do meu condomínio é menor do


que eu pensava que seria.

Uma fechadura, onde o botão de chamada seria uma


chave em um anel do bolso de Len inserido e torcido,
retirado, e as portas deslizam abertas imediatamente. Não há
botões, apenas mais uma fechadura com quatro graus pode-
se transformá-lo em: G, 13, Rhap, PH — Len insere a chave e
torce-se para o marcador Rapsódia, e então estamos em
movimento. Apenas não há nenhuma sensação de
movimento, sem elevador ou mergulho do meu estômago. Um
breve silêncio, sem música de espera, e depois as portas
deslizam abertas com um ding suave.

As minhas expectativas são frustradas. Despedaçadas.

Nenhuma conversa silenciosa de um bom


| 140

estabelecimento sofisticado no balanço de uma noite


completa. Sem tilintar dos talheres em pratos. Sem riso.

Não há uma pessoa à vista.

Não tem um servidor, nem um cliente, nem um único


chef.

Todo o restaurante está vazio.

Dou um passo para frente, e imediatamente as portas


deslizam fechando-se entre Len e eu, deixando-me sozinha.
Eu sinto meu coração torcer, martelando ainda mais rápido.
Minha frequência cardíaca é certamente um risco médico,
neste momento. Mesa após mesa, vazia. Dois lugares, quatro
lugares, seis lugares, todas as mesas cobertas com pano
branco redondo com cadeiras dobradas, guardanapos
dobrados em formas de origami elaborados, pratos colocados
em ambos os lados dos talheres, copos de vinho no canto
superior direito. Não há uma luz no restaurante iluminando,
banhando-me nas sombras douradas da queda do entardecer
em transmissão a partir dos painéis de trinta pés de altura de
vidro de toque de todo o perímetro do restaurante, que ocupa
todo o andar do edifício. A cozinha fica no centro, em plano
aberto, de modo que os clientes em três lados são capazes de
ver os chefs preparando a comida, e as mesas do outro lado,
um vislumbre das janelas e do horizonte. O elevador em
frente da qual eu ainda estou em pé é um dos quatro que
| 141

formam a parede de trás da cozinha, e há uma placa acima


„meu‟ elevador que proclama que ele seja um elevador
privado, sem acesso ao público, no lugar de um botão de
chamada, existe um buraco de fechadura.

Mil perguntas estão borbulhando no meu cérebro.


Claramente, meu apartamento é apenas um dos muitos neste
edifício. No entanto, o hall além do meu apartamento oferece
acesso apenas para o elevador e as escadas de emergência. A
metragem quadrada do apartamento, no entanto, não é
suficiente para ocupar todo o décimo terceiro andar. Por um
elevador privativo que só vai para quatro lugares, e requer
uma chave de acesso? Será que cada um dos meus clientes
obtém uma chave? Ou há um atendente de elevador?

Por que o restaurante está vazio?

O que eu deveria fazer?

Um violino toca notas suaves altas oscilando em silêncio


de fora a minha esquerda. Um violoncelo junta-se a ele. Em
seguida, uma viola e outro violino.

Eu sigo a música em torno da cozinha e descubro uma


visão de tirar o fôlego: uma única mesa de duas pessoas
envolto em branco, definido para dois, uma garrafa de vinho
branco no gelo em um balde de mármore em um carrinho ao
lado da mesa, e uma meia dúzia ou por isso mesas foram
removidas para limpar um espaço amplo em torno dele, com
| 142

velas brancas grossas em cinco pés de altura em ferro forjado


preto está formando um perímetro. O quarteto de cordas está
fora nas sombras de alguns metros de distância, dois rapazes
e duas moças, smoking preto e modesto, vestidos pretos.

Nas sombras um pouco além do anel de velas está uma


sombra mais escura. Alto, elegante, poderoso. Mãos enfiadas
casualmente nos bolsos das calças cinza-carvão. Sem
gravata, botão superior desfeito para revelar um pedaço de
carne. Casaco, botão do meio apertado. Lenço carmesim
dobrado em um triângulo perfeito no bolso do casaco.
Espesso cabelo negro penteado para trás e para o lado, um
único fio solto para armar através de uma têmpora. Aquele
fantasma de diversão nos lábios finos.

Eu assisto o pomo de Adão subir.

— X. Obrigado por se unir a mim. — Essa voz, como


pedras caindo na parede de garganta.

Eu não tive escolha, tive? Mas, claro, estas palavras


permanecem pressas a minha garganta, junto com meu
coração e minha respiração. Passos cuidadosos em saltos
altos em todo a sala ampla. Venho a uma parada ao lado da
mesa. Assisto pernas longas tomar alguns passos curtos, e
eu estou olhando para um, queixo forte bem barbeado,
brilhantes olhos escuros.
| 143

— Caleb, — eu respiro.

— Bem-vindo à Rapsódia.

— Você alugou todo o restaurante? — Eu questionei.

— Não aluguei tanto como lhes ordenei que os fechasse


para a noite.

— Você é o dono, então?

Um raro sorriso completo.

— Sou o dono do edifício, e tudo dentro dele.

— Oh.

Um espasmo de um dedo, apontando para minha


cadeira.

— Sente-se, por favor.

Sento-me, dobro as mãos no meu colo.

— Caleb, se me permite perguntar...

— Você não pode. — Dedos fortes levantam uma faca de


manteiga, toca sobre o copo de vinho suavemente, o cristal
tocando alto no silêncio. — Vamos ter a comida trazida para
fora e, em seguida, vamos discutir as coisas.

— Muito bem. — Eu abaixo minha cabeça. Concentro-


me na respiração, e diminuo meu ritmo cardíaco.
| 144

Sinto em vez de ver ou ouvir a presença de outra pessoa.


Olho para cima, um homem de idade indeterminada fica ao
lado da mesa. Ele podia ter trinta e cinco anos, ele poderia
ser cinquenta. Rugas nos cantos dos olhos e da boca, jovens
e inteligentes olhos, cabelo castanho claro.

— Senhor, senhora. Gostariam de ver um menu?

— Não, Gerald, tudo bem. Vamos começar com a sopa


do dia, seguido pela salada da casa. Sem cebolas no meu. O
filé mignon para mim, meio passado. Diga Jean-Luc apenas
este lado de passado. Não é bem sangrento. Para a senhora,
ela vai ter o salmão. Legumes e purê de batatas para nós
dois.

Aparentemente, eu estou tendo salmão. Preferiria ter o


filé mignon também, mas não me tinha sido dada uma
preferência e não me atrevi a protestar. Isto foi anormal no
extremo, e eu não estava prestes a ter qualquer outra coisa
tirada.

— Muito bem, senhor. — Gerald levanta a garrafa de


vinho branco. — Vou apresentar este, senhor?

— Não, eu escolhi isto, afinal de contas. Marcos deveria


ter separado uma garrafa de tinto para nós também. Tem que
abrir para respirar, e sirva com as entradas.

— Muito bem, senhor. Haverá alguma coisa que eu


| 145

possa fazer por você neste momento?

— Sim. Têm avise ao quarteto que toque a suíte em Sol


maior, em vez do B menor.

— Claro senhor. Obrigado. — Gerald se curva na


cintura, profundamente.

Em seguida, ele apressa-se e tece entre as mesas,


sussurra ao tocador da viola, que levanta a mão, e os outros
três tocadores deixam seus instrumentos e conversam em
silêncio. Uma breve reunião de chefes, e, em seguida, eles
atacam de novo, uma melodia diferente desta vez. Voltando,
Gerald desarrolha o vinho com elaborada cerimônia e
derrama uma medida em cada um de nossos copos, e dá o
meu primeiro.

Eu não deveria estar nervosa para tomar uma bebida,


mas eu estou. Bebo chá e água, exclusivamente. E não tenho
nenhuma memória de beber qualquer outra coisa, além de
chá e água.

Como vai ser com vinho, eu me pergunto.

São as pequenas coisas; foco no menor para manter a si


mesmo a partir de hiperventilar sobre o maior.

Eu assisto, imito: o dedo indicador, dedo médio e


polegar no meio da haste, levanto com cuidado. Leve os
menores goles. Molho meus lábios com o líquido frio. Lambo
| 146

meus lábios. Choque ondula sobre mim. O sabor é... como


nada que eu alguma vez experimentei. Não é muito doce, nem
muito azedo, mas um pouco de ambas as coisas. Um sabor
explosivo estoura em minha língua.

Olhos escuros me observam cuidadosamente, seguindo


cada movimento, seguindo a minha língua enquanto eu
executo ao longo de meus lábios mais uma vez. Observa-me
como eu tomo outro gole, um gole real, desta vez. Um
pequeno gole. Rolo-o em torno de minha boca, frieza na
minha língua, uma explosão de sabor, formigamento,
espumante. Leve, frutado.

É tão bom que eu poderia chorar. A melhor coisa que eu


já provei.

— Gostou? — Tão profunda estrondosa voz após um


longo gole casual, o vidro substituído na mesa, precisamente
ajustada assim.

— Sim, — eu digo, mantendo a ânsia de minha voz. — É


muito bom.

— Achei que gostaria. É um Pinot Grigio. Nada muito


extravagante, mas vai perfeitamente bem com a sopa e
salada.

Obviamente, eu não sei nada disso. Oferece-me vinhos,


Pinot Grigio, quartetos de cordas... este é um mundo
| 147

estranho no qual eu estou sendo de repente e


inexplicavelmente imersa.

— Pinot Grigio. — Eu aceno. — É delicioso.

Uma ruga em torno dos olhos, um elevar de um canto


dos lábios.

— Não fique muito acostumada com isso, X. Não quero


que você desenvolva quaisquer hábitos caros ou insalubres.
Esta é uma ocasião especial, afinal de contas.

— É? — Eu não tenho ideia do que a ocasião poderia


ser.

Gerald aparece, então, com uma bandeja redonda preta.


Duas tigelas de china branca baixa, contendo uma sopa
vermelha de algum tipo.

— A sopa du jour é um gaspacho cremoso. Andaluz,


feito usando os elementos tradicionais de pepino, pimentão e
cebola. Pão fresco cozido na casa era usado para engrossar a
sopa, e é decorado com uma mistura cortada dos vegetais
acima mencionados. Chef Jean-Luc está confiante de que não
há gaspacho Andaluz tão bom deste lado do Oceano
Atlântico. — Gerald gira minha tigela um quarto de volta,
apresenta a minha colher de sopa com um floreio grandioso e
um arco, não é tão profundo uma curva como o oferecido a
meu companheiro... anfitrião... amante... guardião...
| 148

— Muito bom Gerald. Obrigado. — Alguma nota


indefinível com aquela voz abismal contém um aviso: Saia, se
você sabe o que é bom para você.

Gerald se foi num piscar de olhos, desaparecendo nas


sombras.

Eu mergulho a colher para o líquido vermelho, levanto


delicadamente para a minha boca preparando para o calor,
insegura do sabor prestes a conhecer a minha língua.

— Oh! Está frio! — Eu digo surpresa.

— É um gaspacho. — Está, se divertindo, não muito


condescendente. — É uma sopa fria. O Andaluz foi
originalmente servido após a refeição, mas aqui nos Estados
Unidos é mais frequentemente servido antes, na tradição
inglesa e americana.

— Sopa fria. Parece... antitético, — eu digo, e depois levo


outra colherada a boca.

— Talvez assim, teoricamente, — vem à resposta, entre


bocados. — Na prática, no entanto, é muito bom. Preparado
adequadamente, pelo menos, e Jean-Luc é um dos melhores
chefs do mundo.

Apesar da surpresa da sopa ser servida fria, é deliciosa,


cremosa e cheia de sabor maduro de legumes frescos. Eu
como com um gole de vinho, e apesar de eu ter uma vaga
| 149

noção de que o vinho branco deve ser emparelhado com


alimentos coloridos semelhantes, a luz, sabor frutado do
vinho, de fato, compensa a sopa de legumes fria em um
delicioso contraste. Nenhum de nós fala, terminamos a sopa,
e Gerald aparece quando estou raspando a última mancha
vermelha da tigela. Ele leva a taça de mim e substitui com
uma salada, faz o mesmo do outro lado da mesa.

— Continuando com o tema espanhol, a salada desta


noite é um caso simples de pepinos, cebolas e tomates,
levemente aromatizada com vinagre de vinho tinto e azeite. —
Mais uma vez, Gerald gira o prato em frente a mim,
curvando-se, apresentando brilhantemente a salada colorida,
artisticamente disposta em formas geométricas.

O vinho vai ainda melhor com a salada, cada mordida


sentindo alegremente na minha língua, o formigamento do
vinho é brilhante.

Momentos mais longos de silêncio enquanto nós


comemos a salada. Minha taça de vinho está vazia por talvez
15 segundo no total, quando Gerald aparece mais uma vez
das sombras e reabastece.

— Dispense a formalidade, Gerald, e despeje o restante


da garrafa. — O comando vem suavemente e não pode ser
desafiado tão firme e confiante é a voz.

Autoridade total. Expectativa absoluta de obediência,


| 150

mesmo em um assunto tão simples como despejar um copo


maior de vinho do que é, aparentemente, formalmente
aceitável.

— Como deseja senhor. — Gerald derrama o vinho em


meu copo em primeiro lugar, torcendo a garrafa para evitar o
aborbulhamento.

Alternando entre as duas taças, Gerald torna-se possível


que cada um de nós tenha exatamente a mesma quantidade,
até as últimas gotas. Notável precisão, realizada com
familiaridade ritual.

A salada está terminada. O quarteto permite um


momento de silêncio permear, em seguida, eles atacam de
novo, em uníssono praticado. Eu bebo o meu vinho,
saboreando cada gota. Por fim, no entanto, não posso me
conter por mais tempo.

— Caleb, você disse que esta era uma ocasião especial,


mas devo confessar, eu não tenho nenhuma ideia...

— Cale-se e desfrute da experiência. Estou ciente de sua


ignorância, e eu vou esclarecê-la em meu próprio tempo. Por
enquanto, beba o seu vinho. Ouça a música. Escolhi a dedo
este quarteto dentre os estudantes mais promissores na
Juilliard. Cada um dos músicos está entre os melhores do
mundo no seu respectivo instrumento.
| 151

Não é esperado que eu respondesse. Eu me inclino para


trás, giro um pouco, e descanso um braço nas costas da
minha cadeira. Tentativa de parecer à vontade, confortável.
Quanto tempo passa, eu não posso dizer. Minutos, talvez.
Dez ou quinze. Eu luto contra a inquietação. Cruzo as
pernas, descruzo. Olho para as janelas, desejando que eu
pudesse parar e olhar para baixo, observar as pessoas,
examinar a cidade a partir de cada novo ângulo, ver novas
porções do horizonte. Eu sei o modo de exibição de cada uma
das minhas janelas assim como eu sei que a visão de minhas
próprias mãos. Uma nova perspectiva seria algo para
desfrutar.

Eventualmente Gerald aparece com uma garrafa já


aberta de vinho. A garrafa é vermelha mais escura, quase
opaca, e não tem rótulo. Ele derrama um dedal em um copo
limpo, muito pouco para realmente beber. Eu assisto com
fascinação um ritual claramente familiar para ambos os
homens, o redemoinho da pequena quantidade de líquido em
torno do fundo da taça; inspirar pelo nariz, cálice derrubado
em um ângulo, só assim. Um gole, então. Uma molhagem dos
lábios, abanada em torno da boca. Um aceno de cabeça. No
entanto, em vez de encher o copo, Gerald enche o meu
primeiro. Uma estranha cerimônia apresentá-lo ao homem
para testes e aprovação, mas derramá-lo para a mulher em
primeiro lugar. Inexplicável para mim.
| 152

— É da propriedade em Mallorca, Gerald?

Gerald acena, colocando a garrafa para baixo com muito


cuidado.

— Correto, senhor. E engarrafado aqui para suas


reservas exclusivas. Uma das mil garrafas disponíveis
acredito, apesar de que Marcos seria o melhor homem para
pedir números precisos. — Um gesto para as sombras. —
Devo chamá-lo, senhor?

Um sacudir da cabeça.

— Não, está tudo bem. Ele só tem um bouquet pouco


mais pungente do que a última garrafa, é tudo.

— Eu acho, senhor, que essa garrafa é a primeira de um


novo lote que recentemente chegou.

— Ah. Isso explica tudo.

Gerald concorda.

— Eu acredito que o prato principal esteja pronto,


senhor.

Um aceno de mão, uma demissão.

Estou perplexa. Sobrecarregada. Chegado de Mallorca?


Reservas exclusivas de mil, garrafas sem rótulo de vinho?
Todo um edifício no coração de Manhattan?
| 153

— Onde está Mallorca, Caleb?

— É uma ilha no Mar Mediterrâneo propriedade da


Espanha. Eu, ou melhor, minha família é proprietária de uma
vinha lá, entre outros lugares.

Família? É difícil pensar nesse homem como tendo uma


família. Irmãs, irmãos? Pais?

Gerald aparece com um prato grande em cada mão.


Salmão, laranja-rosado, rodeados de legumes grelhados,
couve-flor, brócolis, cenouras, couves verdes e brotos de
feijões verdes, purê de batatas espesso coroado por uma
tapinha de fusão de manteiga.

Ainda tenho que provar o vinho, que é da cor de rubi, a


sombra recém-derramada de sangue. Eu trago a taça para o
meu nariz e inalo; o cheiro é de terra, maduro, pungente,
poderoso. Eu tento um gole. Eu tenho que suprimir a vontade
de tossir, cuspi-lo. Eu engulo, educo meus recursos para a
máscara em branco. Eu não gosto disto, não em todo. Seca,
rolando sobre a minha língua com uma dúzia de tons de
sabor decadente.

— Não gostou do vinho tanto, presumo?

Balanço minha cabeça.

— Está... muito diferente.


| 154

— Bem diferente, ou mal diferente?

Estou em território perigoso e desconhecido. Dou de


ombros.

—Não foi como o Pinot Grigio.

Um ruído na parte de trás da garganta. Uma risada,


talvez. Se eu não soubesse melhor.

— Você não gostou. Você pode dizê-lo, se for esse o


caso.

Eu recatadamente deslizo a taça longe de mim uma ou


duas polegadas.

— Eu preferiria um pouco de água gelada, eu acho.

— Mais do Pinot, talvez? — Meu cálice é atraído para


mais perto do outro lado da mesa.

Eu dou de ombros, tentando não parecer muito ansiosa.

— Isso seria maravilhoso, Caleb. Obrigada.

Um único dedo levantado da mesa, uma volta da cabeça.


Gestos sutis, feitos com o conhecimento que eles vão ser
notados. Gerald aparece se curvando perto.

— Senhor?

— A senhora não encontra o adequado vermelho para


seu paladar, estou com receio. Ela vai ter mais do Pinot
| 155

Grigio. Eu terminarei isto, eu suponho. Não faz sentido


desperdiçá-lo.

— Imediatamente, senhor. — Gerald apressa-se nas


sombras e se foi por apenas alguns momentos antes de
retornar com um único copo de vinho branco.

Eu estava esperando mais do ritual de abrir e encontrei-


me um pouco desapontada que eu não iria ver isto
novamente. Tão estranho, tão adorável, como a valsa de um
glutão. Não importa. Eu bebo o vinho e aprecio. Sinto em
meu sangue, zumbindo calorosamente em meu crânio.

O salmão, claro que, é muito bom. Leve, saboroso,


agradável.

Nada é dito, durante o curso da refeição. O único som é


o quarteto tocando suavemente nas sombras, o tilintar de
garfos. Finalmente, ambos os pratos são empurrados para
longe, e eu sigo o exemplo cobrindo o que eu não terminei
com o meu guardanapo. Gerald remove os pratos, desaparece
e reaparece com dois pratos, cada um dos quais contém uma
única tigela pequena, em que está... Eu não sei o que é isso.

— Chef Jean-Luc oferece Flan Almendra, uma


sobremesa tradicional espanhola para senhor e senhora, para
terminar a noite.

— Obrigado, Gerald. Isso é tudo.


| 156

— Claro senhor. E posso apenas dizer que é um prazer


extraordinário servi-lo esta noite. — Gerald se curva
profundamente e, em seguida, sai.

Flan acaba por ser em algum lugar entre pudim e torta,


com uma crosta de amêndoa crocante. Eu como devagar,
saboreando-o, forçando-me a ser recatada, uma senhora, e
não devorar como eu desejaria, era tal comportamento
bárbaro permitido.

Apesar de tudo isso, meu cérebro está zumbindo. A


única pergunta, queimando: Por quê? Por quê? Por quê?

Não me atrevo a perguntar.

Finalmente, não há mais nada para comer, e apenas a


últimas polegadas de vinho permanece no meu copo. Meu
vermelho foi reivindicado há muito tempo, e a garrafa
terminada. Eu realmente não sei como tanto vinho espesso,
pungente pode ser bebido com tanta rapidez.

— X. — A voz, zumbindo na minha cabeça. Em meus


ossos. É uma sonoridade solta. — Você tem sido muito
paciente esta noite.

Eu só posso dar de ombros.

— Tem sido uma noite agradável, Caleb. Obrigada.

— Eu decidi que hoje, é vai seu aniversário.


| 157

Eu não tenho nenhum pensamento na minha cabeça,


sem capacidade para o pensamento racional. O
pronunciamento deixou-me totalmente desequilibrada.

— O quê?

— Desde que não sabemos nada de você antes do


nosso... encontro, decidi, tardiamente, admito que necessita
de um aniversário. — Um encolher de ombros fácil. — Hoje
são dois de julho. O ponto médio exato do ano civil.

Tento respirar. Invocar palavras. Pensamentos.


Emoções.

— Eu, um. Hoje é o meu aniversário?

— Agora é. Feliz Aniversário, X.

— Quantos anos seriam? — Eu não posso deixar de


perguntar.

— Os médicos, naquele dia, presumem-se, com um alto


grau de precisão, dezenove ou vinte anos. Isso foi há seis
anos, então eu vou dizer que hoje é o seu vigésimo sexto
aniversário.

Seis anos. Vinte e seis.

As peças do quebra cabeça voam e flutuam em


confusão. Gaspacho. Andaluz. Vinho tinto espanhol. Salada
de pepino espanhol. Flan espanhol.
| 158

— Andaluz... Caleb, isso é um lugar na Espanha?

Uma expressão de curiosidade.

— Andaluzia, sim.

— Você achou alguma coisa sobre mim? É disso que se


trata? — Eu não posso parar a questão.

Não é possível ser mais respeitosa ou educada.


Sinalizadores de curiosidade em mim. Espero, também, mas
apenas uma faísca, uma frágil, facilmente extinta, clareira de
ponto de luz.

Uma pausa, uma hesitação. Língua deslizando sobre os


lábios, o rolar de um ombro, deslocando-se na cadeira.

— Sim. Um pouco de algo, pelo menos. Eu tive o seu


DNA analisado.

— Você fez? — Eu pisco, respiro, sem saber se é normal


sentir-se como se tivesse sido de algum modo aberto,
desmembrado, o pouco de privacidade que tinha.

— Sim. Quando você estava dormindo, a última vez que


a visitei, eu levei um pedaço de seu cabelo de sua escova de
cabelo, e limpei o interior da sua boca. Você dorme como um
morto, para começar, e estava... muito cansada. Você mal se
mexeu. — Um brilho de satisfação no olho, não é bem um
sorriso. — Meus cientistas foram capazes de rastrear certos
marcadores em seu DNA e determinaram com um grau
| 159

surpreendente de precisão onde origina sua herança étnica.

Estou sem fôlego com antecipação -essa frase, ela ocorre


na ficção com frequência. Mas, na realidade, não é uma
sensação totalmente agradável.

— O que... — Eu tenho que começar de novo. — O que


seus cientistas descobriram?

Uma mão, unhas bem cuidadas, aparadas cutículas,


grandes e poderosos e graciosos dedos, acenando para a
mesa.

— Você não consegue adivinhar?

— Espanha? — Eu sugiro.

— Precisamente. Eles são companheiros inteligentes, os


geneticistas. Eles ainda estão trabalhando, comparando
marcadores e tudo o que é que eles fazem, tentando reduzi-lo,
obter resultados mais específicos. Disseram-me que com o
tempo eles podem ser capazes de me dizer uma região
específica da Espanha, coisas assim. Mas, por agora, tudo
que nós sabemos é que... você, Madame X, é de origem
espanhola. — Aqueles olhos, escuro, expressivos, difíceis,
com fome, passando por cima de mim. — Você parece isso,
também. Há muito tempo pensei que poderia ser. Minha
beleza espanhola.

Companheiros inteligentes. Geneticistas na folha de


| 160

pagamento. Meus cientistas. Quem tem cientistas no


retentor?

— Eu teria tido Jean-Luc preparar um prato principal


tradicional espanhol para nós, mas eu pensei que poderia
estar colocando-o em um pouco demasiado espesso. Comida
espanhola também é muito rica, e você não está acostumada
a tal tarifa. Eu não gostaria de sobrecarregar o seu sistema
digestivo, bem como suas emoções tudo em uma noite, você
sabe.

— Sim, eu sei. — Meu cérebro fornecendo palavras


relevantes, soando no momento esperado, mas na verdade eu
estava entorpecida, tonta, girando e corto o que parecia ser
um ataque de ansiedade.

— Você precisa de um momento, X?

Eu concordo.

— Leve um minuto, então.

Levanto-me e movo com grande alívio para longe da


mesa, longe do anel de velas, longe da presença enorme e
esmagadora. Longe da música. Profundamente nas sombras,
para a janela. A noite já tinha caído há muito tempo sobre a
cidade, então agora luz vinha de inúmeras praças, amarelo e
branco em linhas horizontais e verticais puro em todo o
horizonte, de postes de luz muito abaixo, de luzes traseiras
| 161

que partem vermelhas e faróis se aproximando brancos.

Eu sou espanhola.

Eu tive o seu DNA analisado. Tal frase fácil, tão


facilmente falada.

O que significa para mim, saber que eu sou de origem


espanhola?

Nada; tudo.

Meus olhos picam, doem. Meus pulmões se apertam e


estou tonta, e eu percebo que estou prendendo a respiração.
Eu pisco e respiro. Tanta emoção dolorosa sobre o quê?
Sabendo aonde no mundo meus antepassados anônimos e
desconhecidos vieram? Fraqueza.

Eu decidi, hoje, é seu aniversário.

Outro fato que sente que ambos ponderados com


significado e totalmente desprovido disto como bem. Um
aniversário?

Uma menina com cabelo escuro passa, dezenas de


andares abaixo, no lado oposto da rua, segurando a mão de
sua mãe. É muito, longe para ver muito mais. Eles sabem
suas origens. Sua família. Seu passado. A mão de uma mãe
para se agarrar. Uma filha para cantar doces canções. Talvez
um pai, um marido esperando por elas.
| 162

— X? — A única letra, falada em um murmúrio que


seria um sussurro para qualquer pessoa com uma voz menor.

— Caleb. — Uma confirmação é tudo o que eu posso


controlar.

— Você está bem?

Eu dou de ombros.

— Eu suponho.

— O que significa não, eu acho. — Mão quente na


minha cintura, um pouco acima do meu quadril. — O que
está errado?

— Por quê?

— Por quê? — Verdadeira confusão.

— Por que o meu DNA analisado? Por que me falar? Por


que me dar um aniversário arbitrário? Por que me trouxe
aqui para o jantar? Por que agora?

— Era para ser...

— Você vai me dar um nome espanhol agora, também?

Um silêncio preocupante. Eu o interrompi, falei fora de


hora. No escuro e corajoso romance noir, alguém diria,
Homens morreram por menos, e com o homem atrás de mim,
só poderia ser verdade. Parece possível; eu olho para a mão
| 163

na minha cintura. Parece capaz de violência, de entregar de


morte.

— Seu nome é Madame X. — Um estrondo duro no meu


ouvido. — Não se lembra? Apenas seis anos de memórias,
cada um é cristalino.

— Eu trouxe você para o MOMA, no dia em que saiu do


hospital. Todo o museu à sua disposição, e você passou o
tempo todo na frente de duas pinturas.

— Van Gogh, Starry Night, — eu digo.

— E de John Singer Sargent, Retrato de Madame X. —


Outra mão em mim, este inferior, abaixo do meu osso do
quadril, onde se torna coxa. Puxando-me para trás, tenso
contra um peito duro. — Eu não sabia do que chamá-la. Eu
tentei todos os nomes que eu poderia pensar, e você tinha
acabado de agitar sua cabeça. Você não iria falar. Não foi
possível, realmente, eu acho. Tinha que rolar por aí com
aquela cadeira de rodas, lembra? Não tinha de aprender a
andar ainda. Mas você apontou para a pintura, de Sargent.
Então eu parei, e você apenas olhou para ele, e olhou para
mim.

— Foi a expressão em seu rosto. Parece em branco, em


primeiro lugar. Ela está no perfil, assim que você acha que
pode ser difícil dizer o que ela está pensando. Mas se você
olhar de perto, você pode ver alguma coisa lá. Abaixo da
| 164

superfície, talvez. E a curva de seu braço. Ela parecia forte.


Ela é tão delicada, mas... este braço, a tocar a mesa, é...
parece-me forte. E eu me senti fraca, tão impotente. Então,
para ver uma mulher tão delicada olhando com algo parecido
com força? É só... falou-me, de algum modo. Tranquilizou-
me. Disse-me que talvez eu pudesse ser forte, também.

— E você é.

— Às vezes.

— Quando você precisa ser.

— Agora não.

— Por quê? — Respiração, dos lábios na minha orelha é


atado ao vinho.

— É muito para processar. Não sei o que pensar Caleb.

— Você vai descobrir isso. — Os dentes na minha


orelha. Eu, inclino a cabeça para fora, fecho os olhos eu odeio
a minha fraqueza, minha reação química involuntária. —
Vem. Mais uma surpresa para você, em seu quarto.

Eu não tinha certeza que tinha espaço dentro de mim


para mais surpresas, mas eu me permiti ser levada para
longe da janela, com uma vista fascinante da cidade. Para o
elevador. Uma chave, de um bolso da calça, inserido, torcido
ao 13. Descida, momentos de silêncio absoluto em que meu
| 165

coração é certamente audível.

Como sou conduzida em minha sala de estar, a primeira


coisa que noto é que meus livros foram substituídos na
minha estante. Coração pulando com esperança, eu viro e
vejo que a minha biblioteca é aberta mais uma vez. Estou
autorizada a deixar o abraço forte armado, vaguear em minha
biblioteca. Passo as mãos sobre as lombadas dos meus
queridos amigos, esses muitos livros. Meu olhar recai sobre
este título, A forja de Deus; Lã; Eu sei porque o pássaro
prendido canta; Lolita; Respiração, olhos, memória; Uma breve
história do tempo; Influência: Ciência e prática; American
Gods... em todos os lugares os meus olhos olham ficando, no
livro que me ensinou algo inestimável. Eu poderia chorar de
alegria por ter a minha biblioteca de volta.

Eu viro, mostro uma lágrima: gratidão expressa.

— Obrigada, Caleb.

De alguma forma, a distância entre o centro da entrada


e da sala foi percorrido de forma invisivelmente,
silenciosamente, e um polegar trilha através da umidade na
minha bochecha.

— Eu acho que você aprendeu a sua lição agora, não é?

— Sim, Caleb.

Profundas, longas, respirações com rajadas, inchando


| 166

aquele grande, poderoso peito, olhos raspando na minha


forma, ansioso, faminto e admirando.

— Minha beleza espanhola. Minha X. — Há uma nota


com essas palavras, na entrega dos mesmos... deve ser o
vinho, o álcool afastando um pouco da velamento parede de
granito quaisquer emoções turvar por trás daqueles olhos,
que sempre me pareceu o equivalente ocular de Homero
„mares de vinho-escuro.‟

— Caleb. — O que mais posso dizer? Não há nada.

— Olha. — As palavras segurar um fio de satisfação. Há


um novo tomo no caso: Tender Is the Night. F. Scott
Fitzgerald. — É uma primeira edição assinada, a versão
original 1934, com as memórias.

Há luvas brancas, no caso, é claro. Eu abro a caixa,


visto as luvas, retiro o livro com a respiração instável e mãos
firmes. A inscrição, na própria mão de Fitzgerald: De quem
deseja que ele pudesse estar em 1917s 20th, em intrincado,
letra redonda, o nome abaixo, o F rabiscado, os traçados para
baixo duplo Ts em Scott, o travessão redondo e mergulhando
para se fundir com o segundo F que começa Fitzgerald.

— Caleb, é... é incrível. Muito obrigada.

— É seu aniversário, afinal de contas, e aniversários


requer presentes.
| 167

— É um presente maravilhoso, Caleb. Eu devo valorizá-


lo. — Eu olho para cima e vejo que o tempo para admirar o
meu presente acabou, por enquanto.

Hora de mostrar o meu apreço.

Algumas coisas não podem ser apressadas.

Esta noite, insaciabilidade vem sob a forma do meu


corpo sendo lentamente desembrulhado, polegada por
polegada. O vestido abriu, baixou a minha lingerie -narinas e
os olhos vão de pálpebras pesadas e mãos alcançam; a
evidência da minha „beleza espanhola‟ -e então a lingerie é
descartada, deixada de lado.

Nua, eu espero.

— Dispa-me, X.

Para revelar que o corpo é como inauguração de uma


escultura de Michelangelo. Um estudo da perfeição masculina
feito em mármore implacável. Cada ângulo esculpido com um
cinzel profundamente penetrante. Minhas mãos trabalham e
meus olhos devoram. Meu coração resiste, bate como um
martelo numa bigorna. Meu corpo, embora. Deus, meu corpo.
Ele sabe algo que meu coração metafísico e compreensão
cerebral não: Caleb Indigo foi criado por um artista com o
propósito expresso de arrebatar mulheres.

Especificamente, neste momento, esta mulher.


| 168

E eu odeio o meu corpo por isto. Digo isso para lembrar


o caminho das coisas. Que isto é esperado de mim.
Requerido. Exigido. Eu devo; minha vontade não entra nessa
equação.

E o meu corpo? Ele tem uma resposta: Eu não me


importo sobre os requisitos... tudo que eu sei é um desejo
singular: TOQUE-ME.

Toque-me.

Toque-me.

Meu corpo diz, assim como faz o corpo que eu já


desnudei.

Então, eu obedeço. Eu obedeço ao meu corpo e o


comando tácito dentro das duas palavras tão recentemente
faladas:

— Dispa-me.

Toque-me, que a ordem implica.

Então, eu toco.

Acaricio em vida a ereção tão grande e perfeita como o


resto. Bem, ele já estava totalmente vivo e pronto; eu apenas
dei-lhe a atenção que estava implorando por estar tão alto e
grosso e reto.

Mãos vão para meus ombros, delicadamente e


| 169

implacavelmente me empurrando a meus joelhos. Lanço os


olhos para cima e obedeço. Boca, gosto carne. Lábios
curvados para embainhar meus dentes, mãos mergulham em
um ritmo lento. Assisto agora. Respirações rápidas e
irregulares, suas mãos agarram meu cabelo, a voz profere
gemidos guturais. Gosto defumado, essência vazando.

— O suficiente. Jesus, X. — Amaldiçoa, mais raro ainda


que um sorriso.

De repente, eu estou no ar, sendo transportada para o


meu quarto e jogada sem a menor cerimônia na minha cama.
Eu embaralho para trás, bato de lado nos travesseiros, mas
eu estou muito lenta. Lábios enrolam em um grunhido, olhos.
Arrastando-me asperamente, e o meu coração pula uma
milha do peito para garganta enquanto quadris separam as
minhas coxas. Cara a cara?

Não me atrevo a pensar, não me atrevo a ter esperança.


Respiro, agarro-me a amplos ombros duros... exalo
acentuadamente como estou perfurado.

Movimento, cara a cara.

Eu não posso respirar.

Esta é uma noite de estreias, parece.

Atrevo-me a vibrar meus quadris ao ritmo do nosso


sexo, me atrevo a manter os olhos abertos para ver. Há
| 170

turbulência. Desejo. Conflito. Necessidade aquecida.


Exigência. Fogo. Urgência.

E também em mim?

Eu acabo de analisar e enumerar as minhas próprias


emoções. Para fazer isso seria abrir a caixa de Pandora, e não
ouso.

Movimento desesperado agora. Olhos nos meus.


Inabalável, penetrante. Há um mundo nessas esferas
escuras, uma galáxia inteira num mero mortal, como eu não
posso compreender.

Perto.

Tão perto.

Respiração me deixa. Nenhum de nós olha para longe.

Oh Deus! Mãos agarram e apertam, contusão.

— Porra. Foda-se! — E, em seguida, ausência total.


Tudo arrancado, calor, presença, respiração, o corpo.

O momento é perdido.

— Caleb? Fiz algo de errado?

Seu enorme corpo fica na janela, mostrado sua silhueta,


a sexualidade masculina erótica na sombra, ombros
curvados, a cabeça inclinada, as mãos largas e altas na
| 171

armação, quadris estreitos e belo traseiro, firmes, apertados e


redondos, pernas como pilares Gregos. Ombros enormes.

— Por aqui, X. — Um comando, proferido tão baixo a


ponto de ser quase inaudível.

Eu ouço, porém, pois eu estou dolorosamente em


sintonia com cada sussurro, cada respiração.

Levanto-me, movo provisoriamente até a janela. Toco em


um ombro com os dedos trêmulos.

— Você está bem? Fui eu?

— Cale-se. Fique na janela. — Então, inesperadamente


duro. Quase com raiva.

Para mim?

Não me atrevo a questionar novamente. Esse tom não


tolera argumento.

Eu estou à janela, tremendo toda. Viro a cabeça, olho


por cima do meu ombro. Oh. Aquele rosto, lançado na
sombra agora, mas não as sombras da luz ausente, mas das
sombras da emoção velada, recursos suavizados em pedra
insensível. Apenas os lábios ligeiramente franzidos e
apertados traem o tumulto interno.

Eu tremo de frio, arrepios pavimentam como pedras na


minha pele.
| 172

Um pé cutuca o meu separadamente, e, em seguida, os


braços como boa constrição como uma cobra em volta do
meu peito, agarra meu peito, outra em volta da minha
cintura para agarrar meu quadril. Atrás de mim, flexionando
os joelho, um momento para se encaixar nessa grossa ereção
quente para minha abertura, e depois um empurrão para
cima, dentro duro. Eu ofego, um grito de surpresa e dor. Tão
difícil, tão repentino, tão forte.

Sem gentileza aqui, nenhuma ternura. Nenhum do


erotismo de apenas momentos atrás. Isto é o que eu sempre
soube. Empurrada fortemente, usada asperamente.
Grunhidos no meu ouvido.

Eu fico na vertical e me agarro aos braços que me


seguraram, escorregadias de suor e com o músculo. Loucos,
impulsos selvagens por trás, para cima e para baixo, as
pernas dobradas e afastadas.

Finalmente, quando eu acho que certamente o momento


do clímax deve estar perto, encontro-me empurrada para
frente por isso estou dobrado na cintura, cabelo em punhos e
puxados então a minha cabeça se encaixa para trás, uma
mão segurando meu vinco quadril com força de hematomas.

Bate, bate, bate.

Eu choramingo, grito, e então...


| 173

— Caleb!

Desacelera agora. Ainda assim tão forte, duro e


selvagem, mas lentamente.

Pronunciando esse nome, era uma súplica. Um protesto.


Tudo que consegui.

Eu sinto a liberação, o jorro quente.

As mãos libertam-me, de repente, e eu caio para frente,


bato contra a janela. Abrindo os olhos, eu olho para fora da
janela e vejo o outro lado da rua, uma torre de escritórios
preto no meio da noite, todas as janelas escurecidas, exceto
uma, a janela em frente à minha própria. Uma figura na luz,
observando.

Que espetáculo!

Mãos, suaves agora, levantam-me, colocando-me na


cama. Eu luto contra as lágrimas. Eu sofro. Meu coração dói,
minha alma. O que eu fiz para merecer tão brusca e
impensada foda? Não houve reciprocidade nisso. Nenhum
pensamento para o meu prazer.

Deixei-me adormecer, e durmo.

Mas um som vibra no meu ouvido, desliza através da


cortina de inconsciência. Uma voz.

— Sinto muito, X. Você é minha, e só minha. Você não


| 174

pode saber. Quem me dera se pudesse, mas você não pode


saber. Você não pode saber. Você é minha. E eu não
compartilho.

Palavras sem sentido. Eu sei quem é dono de mim; que é


um erro que não deva fazer novamente.

Um pedido de desculpa?

Deuses não oferecem desculpas.


| 175

Capítulo Oito

— Eu preciso de uma acompanhante para um evento, X.


— Ele olha para mim de lado.

— Peça a um amigo. — Finjo estar ocupada mexendo o


leite no meu chá, então não tenho que olhar para ele.

— Nenhum dos meus amigos é adequado.

— Pergunte a uma de suas namoradas, então.

Ele ri.

— Eu não tenho nenhuma namorada X.

Minha vez de rir.

— Há. Eu posso cheirá-las em você, Jonathan.

— Há meninas, mas eles não são namoradas.

— Então, és mesmo um playboy por excelência. — Digo


com uma pitada de humor, e uma ponta de verdade.

— Culpado das acusações. Mas, novamente, nenhum


deles é adequado. Eles não são elegantes o suficiente para
este evento.
| 176

— O que é o evento? — Não deveria perguntar, porque


eu sei onde ele está indo com isso, e não é possível.

— É uma angariação de fundos, uma coisa de caridade.


Mas ele é superclasse alta. Somente para convidados, taxa de
entrada de 10 mil, e isso é apenas para entrar. Há uma lista
de convidados que vai ler como o Oscar. Eu não posso levar
qualquer piranha velha em algum vestido de puta, como eu
costumo fazer para essas coisas. Preciso de alguém com
presença e classe.

— Jonathan, eu sei o que você está...

— Eu preciso de você, X.

— Eu não estou disponível.

Ele franze a testa.

— Você nem sequer sabe quando é.

— Não importa quando é. — Meu chá está muito bem


agitado a este ponto, mas ainda assim eu soo minha colher
contra a porcelana.

— Eu vou lhe pagar taxas normais pelo seu tempo, é


claro.

Olho para cima acentuadamente, os olhos brilhando.

— Eu não sou uma acompanhante, Jonathan


| 177

Cartwright.

— Isso não foi o que eu quis dizer! Eu juro, eu só... Eu


sei que você não é, eu quis dizer, não seria, como, um
encontro. Seria parte do meu treinamento. Ver como eu faço.
Um teste.

Bem recuperado. Escondo um sorriso.

— Entendo. Muito inteligente. — Mas ainda não é uma


possibilidade, eu tenho medo.

De repente, ele está no sofá ao meu lado, em vez de em


pé casualmente na janela como se tornou seu hábito. Perto
demais. A colônia agrada meu nariz. Eu olho para o lado, e
vejo o seu relógio Cartier, uma coisa quadrada pedaços de
prata com uma pulseira de couro preto, masculino e elegante.

— Por que não, X?

Eu cruzo as pernas ao longo do joelho, tomo um gole do


meu chá. Não olho para ele.

— É ... não acabou. — Não é possível. Não para mim.


Não com ele. Não com ninguém.

— Por que, X? — Suas iniciativas de mãos ao longo do


sofá de volta.

Eu gelo, silenciosamente implorando-lhe para não fazer


isso, para não colocar o seu braço em volta de mim. Não faça
| 178

isso, Jonathan. Para mim e para você, não faça isso. Eu vim a
gostar de você, contra todas as probabilidades, e eu não quero
ver nada acontecer com você.

— Jesus, X. Você é a mulher mais irritadiça que eu já


conheci. Nem sequer estou tocando em você e você está toda
tensa.

— Eu não sou espinhosa.

Ele bufa.

— Tudo bem, querida. O que você quiser. — O sarcasmo


é predominante em seu tom.

Corrijo-o com um olhar.

— Querida?

Levanta as mãos em sinal de rendição simulada.

— Desculpe, desculpe. Mas você está um pouco...


distante.

Eu me levanto, xícara vazia na mão. Eu nem mesmo


estava ciente de ter terminado o meu chá, mas a xícara está
vazia. Movo-me para a cozinha, lavo a xícara, coloco de
cabeça para baixo no rack de secagem. Eu sinto que ele, está
a um pé de distância.

— Se eu sou espinhosa ou distante, talvez seja por uma


razão. — Eu me comprimo na menor área possível contra a
| 179

pia como ele invade o meu espaço. — É um aviso, Jonathan.


Um que você faria bem em prestar atenção.

— Tire as mãos, não é?

Deixo escapar um suspiro, para ele se afastar.

— Sim. Mãos fora.

— Propriedade da Indigo Services? — Sua voz é nítida.

Eu recupero o fôlego e olho para cima. De repente, ele


parece ver mais profundamente a verdade das questões que
eu tinha assumido que era capaz.

— Não, Jonathan. Só... não.

No entanto, você faz.

— Você é uma eremita, X? Quero dizer, nunca vi você


mesmo passar por cima do limiar deste apartamento.

Ele se encaminha para fora da cozinha. Olha ao redor.

— Quero dizer, porra, X. Não vejo uma televisão ou um


rádio ou um computador. Eu nem sequer vejo um maldito
apontador de lápis. Tipo, eu não vejo um único aparelho
elétrico, exceto para a porra da geladeira e torradeira. E a
coisa com o elevador? O conjunto de elevador assustador,
com a porra de um operador e guarda— costas? Ou ele é um
diretor de prisão? Você tem um celular? Merda, até mesmo
um telefone fixo? Você tem qualquer contato com o mundo
| 180

exterior de qualquer maneira? — Ele faz uma parada atrás do


sofá.

Eu cruzo a sala paro diante dele, lâminas em meu olhar,


irradiando gelo em mim.

— Eu acredito que é hora de você ir embora, Sr.


Cartwright.

— Por quê? Por que eu estou fazendo perguntas que não


são autorizadas a responder?

Sim, exatamente. Não digo, no entanto. Deus, não. Isso


seria desastroso. Fico só o olhar, e, para seu crédito, ele não
desvia o olhar. Ele apenas retorna o olhar, possivelmente
vendo mais do que eu estou destinada a permitir.

Ele chega em seu bolso e retirar um caixa de prata fina,


pressionando um botão, e a caixa se abre, revelando cartões
de visita. Desliza um cartão livre, fecha a caixa, e coloca de
volta no bolso de suas calças. Um passo, e ele está me
sufocando, me encarando. O cartão preso entre o polegar e o
indicador, ele desliza no V de meu decote sem tocar minha
pele.

A ação do cartão cutuca minha carne. Seus olhos estão


sabendo. Muito perspicaz. Quando ele deixou de ser o menino
mimado e tornou-se este homem confiante? Ele não irrita a
minha carne, não incita pânico ou fervor sem fôlego em mim,
| 181

mas isso não é culpa sua.

Há gigantes, que eu posso vê-lo tornar-se, com o tempo,


e, em seguida, há titãs. E apesar de ter encontrado o seu
equilíbrio, descobriu o fogo em sua barriga e como utilizá-lo,
ele não é um titã.

Mas a sua proximidade me deixa nervosa, no entanto.

— Adeus, Madame X. Posso honestamente dizer que


sem você, eu nunca teria a coragem de viver de acordo com
meu potencial. Então... obrigado.

Sua mão ergue, paira um fio de cabelo longe do meu


queixo. Seu rosto é uma polegada do meu. Eu acho que por
um momento terrível ele está prestes a me beijar. Não consigo
respirar; o meu coração não bate. Eu não pisco. Ele me tem
pressa contra o encosto do sofá, e eu não me atrevo a colocar
minhas mãos nele para movê-lo. Para fazê-lo seria o mesmo
que acender um fósforo em uma sala cheia de dinamite; há
pouca chance de uma faísca errante vá encontrar um fusível,
mas o risco é simplesmente muito grande.

Ele recua, um passo. Dois. Uma respiração, uma única


elevação do peito, o queixo se eleva. E então lá está ele,
aquele sorriso despreocupado, sabendo, um pouco
zombeteiro, maduro com humor juvenil, malandro. Ele gira,
gira o botão, empurra para abrir a minha porta, e ele se foi.
| 182

Quando a porta clicou fechando, eu retiro o seu cartão


de visita de meu decote e examino.

JON CARTWRIGHT

Proprietário, Cartwright Business Services, LLC

Tel: (212) 555-4321

E-mail: jecartwright@cbs.com

Ele começou seu próprio negócio. Estou extremamente


orgulhosa dele.

Quando a porta se abre repentinamente, eu não olho


para cima, assumindo talvez tenha esquecido algo.

Não é ele.

— Bem, bem, bem, — diz uma voz profunda, leonina. —


Parece que o nosso pequeno Jonathan cresceu.

— Caleb. — Eu olho para cima acentuadamente e dou


um passo para trás, surpresa. — Sim. Parece que ele fez. —
Estendo o cartão de visita, fingindo desinteresse casual. Eu
não acho que ele é uma farsa verossímil, porém.

Os olhos escuros sacodem sobre o cartão.


| 183

— Bom para ele. Ele tem o potencial para fazer bem, eu


acho. Talvez Indigo Services lhe ofereça um contrato.

Permaneço em silêncio. Empreendimentos comerciais


não estão dentro da minha esfera de conhecimento ou
influência.

Suaves, passos largos silenciosos de pantera em toda a


sala, senta, reclina com elegância real na poltrona Louis XIV.
Examinando o cartão de Jonathan. Especulando.

— Você defendeu suas perguntas e avanços muito


habilmente, a propósito. Bem feito.

— Ele é inofensivo.

— Não, ele não é. Você está errada, eu temo. Ele não é


inofensivo em tudo. — O cartão vira, vira, vira, girou entre o
índice, médio e dedo anelar.

Atrevo-me.

— O que você quer dizer? Que mal há nele?

— Suas perguntas. Sua curiosidade. — Olhos,


queimando como fogueira, me queimando. — Ele não
entenderia a verdade, X. — O cartão voa pelo ar como uma
faca, em seguida, tremula no chão.

A verdade. Qual a verdade?

Permaneço em silêncio, sabendo que minha entrada não


| 184

é necessária ainda.

— Você vai acompanhar Jonathan ao evento dele.

Eu giro uma pretensão admirável de surpresa casual,


quando dentro estou totalmente atordoada, fraca o suficiente
para que eu pudesse ter sido derrubada com uma pena.

— Eu vou? Sério? — Eu soo mais ansiosa que deveria.

Eu não estou ansiosa; eu estou aterrorizada. Ou melhor,


estou ansiosa e aterrorizada em igual medida.

— Você irá. Mas será bem guardada, no entanto. Len e


Thomas vão estar ao seu lado em todos os momentos.

— Por quê?

— Por Len e Thomas? Ou por que eu estou enviando-lhe


com Jonathan?

— Ambos, eu suponho.

— Bem, Len e Thomas, porque eles são os mais


adequados para cuidar de você. Len é tão cruel como ele é
vigilante, e Thomas, também... vamos apenas dizer que ele
tem um conjunto de habilidades bastante específica.

Uma pausa.

— Quanto ao por que estou lhe enviando? Ele irá


dissipar qualquer suspeita. O evento em si é muito particular,
| 185

então não haverá câmeras, sem a imprensa. Todos os outros


frequentadores terão a sua própria segurança, bem, por isso
é um evento seguro para você prestar atenção como qualquer
coisa.

Eu ainda não entendo muito bem, mas eu não digo


nada. Eu não preciso entender.

Estou saindo.

— Diga alguma coisa, X.

— Não estou certa o que dizer, honestamente.

— Você está animada? Assustada?

Dou de ombros.

— Ambos.

— Compreensível. Depois do que passamos, eu posso


ver como você pode ter sentimentos mistos sobre isso.

Eu concordo.

— Sentimentos mistos. Sim. — Eu soo fraca, um pouco


incoerente. É demais para tomar. Para processar. Muitos
pensamentos, sentimentos demais, muitas perguntas. Muitas
dúvidas.

Encontro-me à espera, expectante. Uma distração seria


bem-vinda. No entanto, quando as pernas longas desdobram
| 186

e olhos me encaram de tal grande altura, eles estão distantes,


um pouco frio. Cálculo.

— Tenho muito a fazer hoje, X. Eu não tenho tempo, eu


tenho que ir.

— Você não vai... ficar? — Eu sei como eu soo, e por


que, e eu odeio isso. Eu odeio que pareço desapontada,
necessitada.

— Não. Eu não posso, mas você sabe o quanto eu desejo


que eu pudesse.

Frio e calculista se torna quente e divertido.

— Você sabe o quanto eu desejo poder ficar, não é, X?

— Sim, Caleb.

— Mas você entende por que eu tenho que ir.

— Sim, Caleb.

No entanto, apesar das reivindicações de assuntos


urgentes, eu sinto sua ereção esmagada contra a minha
barriga, mãos suavizando até minhas coxas, levantando a
bainha do meu vestido. Deslizando sob o elástico da calcinha,
entrando em mim. Ondulando, circulando, imergindo,
batendo. Rapidamente, nenhum jogo ou pretensão.

Eu venho em instantes.
| 187

— Sua boca, X. — Afundo-me de joelhos.

Abro o zíper. Livro o fecho do gancho de calças sob


medida. Saboreio a carne. Essência esfumaçada. Minhas
mãos e boca firme, limpa, carne masculina, e então acabou,
mais rápido do que eu pensava ser possível, considerando o
tempo que pode durar em outras circunstâncias.

— Obrigado, X. — Um suspiro, masculino agora fora


escondido. A poucos passos, e a porta está silenciosamente
se abrindo. — Vou mandar alguém com um vestido
apropriado para o evento.

Permaneço onde estou, ajoelhada no meio da sala de


estar, vestido amarrotado, batom manchado, cabelo
despenteado agarrando os dedos.

— Está bem.

— Não fique tão triste, X. Eu vou estar de volta, e nós


vamos ter algum tempo bom juntos.

— Está bem.

— X. — Esta é uma reprimenda. — O que é?

— Eu não te entendo, é tudo.

Um longo, longo silêncio, a porta meio aberta, expressão


escondida na porta.
| 188

— Você não precisa.

— Eu gostaria, apesar de tudo. Eu tento.

— Por quê? — Curiosamente inquisitivo, estranhamente


afiado, sutilmente suave. Tudo em uma palavra.

— Eu... você é o que eu sei. O que eu tenho. Tudo o que


tenho. No entanto, eu não lhe conheço. E eu não entendo
muito de você. Do seu tempo, de você. E quando eu fizer isso,
é... — Eu dou de ombros, incapaz de articular mais.

— Em suas próprias palavras, X... é por uma razão. É


um aviso. — Um passo para fora da porta. A conversa
acabou.

Mas eu ouço cinco palavras atiradas para fora da minha


boca como balas imprudentes:

— Eu vi você. Com ela.

— X. — Ele rosna. Rosnou.

— Aquela garota. Ela estava chateada. Ela estava com


raiva de você. Eu vi você transar com ela, ali mesmo na
limusine. A porta aberta, para todo o mundo ver. Eu vi. E eu,
eu sei que você me viu. Você olhou diretamente para mim, e
você, você sorriu. — Por que diabos eu pareço tão irritada,
tão ciumenta, de modo enlouquecida?

— Maldição, X.
| 189

— Eu sei que não significo nada para você, Caleb, mas


você deve ostentá-la na minha cara? — Eu sou imprudente.
Isso é loucura.

A porta bate fechando. BANG!

— Você precisa pensar muito cuidadosamente sobre


suas próximas palavras, X. — É falado com uma voz que se
assemelha à beira de um bisturi.

Meu queixo, por conta própria, se eleva. Atreve-se


rebeldemente para cima.

— Assim como você.

Três passos atacam, uma breve sensação de ausência de


peso, e então eu estou presa contra a parede como se eu não
pesasse nada, quadris rígidos esmagando-me contra a
parede, uma mão em minha garganta, cortando meu oxigênio
de uma forma que não machuque.

— Vamos deixar uma coisa bem clara. Você pertence a


mim. Não o contrário. Não presuma falar comigo como se eu
lhe devesse merda para obter esclarecimentos sobre qualquer
coisa que eu faço ou com quem o faço.

Eu pisco. Vejo estrelas. Escuridão invade a minha visão.

— Você me entende, X? — É sussurrado tão baixo a


ponto de ser quase inaudível.
| 190

Eu mergulho meu queixo ainda que levemente, levantá-


lo. Eu sou liberada. Eu caio no chão, ofegante, oxigênio
correndo em meu cérebro em uma inundação fresca.

Eu mal noto como minha janela favorita é escurecida, o


quadro preenchido. Ombros curvados, a cabeça de
pendurada.

— Porra. X, eu sinto muito. Eu exagerei. — Gira, um


olhar para mim. — Você está bem?

Estou deitada, muito pouco feminina, contra a parede,


os joelhos separados, a bainha do vestido levantado em torno
das minhas coxas. Eu ofego. Apenas respire. Eu não
respondo. Eu não tenho a força.

Ou a coragem. Que tem sido sufocada dentro de mim.

Eu repugno ser estrangulada muito intensamente, estou


descobrindo.

Passos suaves, enorme, duro, pesado corpo agachando-


se ao meu lado. A mão estendida para tocar. Hesitante,
gentil.

Estremeço para longe.

A mão se retira.

— Foda-se, Foda-se! — A última palavra é gritada,


repentina e assustadora.
| 191

Eu empurro para longe, incapaz de refrear a minha


reação instintiva de medo.

— Sinto muito, X. — A mão, no meu ombro.

Tensa. Congelada. Olhos fechados, mandíbula apertada,


dedos tocam em minhas coxas. Eu nem sequer respiro até a
mão e sua presença que acompanha é retirada. E mesmo
assim, eu tomo uma respiração lenta, cuidadosa. Cuidado
com o canto do meu olho. Agressivos, passos de raiva. A
porta é aberta. Batendo com tanta força violenta que a porta
lasca e as rachaduras de quadros.

Ouço a porta do elevador, e então o silêncio.

Sento-me onde estou há não sei quanto tempo.


Eventualmente, ouço o elevador de novo, vozes masculinas.

Len.

— Senhora? — Ao meu lado. Levantando-me para os


meus pés.

— Vamos. Eu tenho um cara que vai consertar a porta


para você. Por que você não vai se deitar, hein? Quer um
pouco de chá ou algo assim?

Balanço minha cabeça, puxo do aperto de Len, tão


delicadamente solícito e cuidadoso como é.

— Nada. — Eu sussurro, minha voz rouca. — Obrigada.


| 192

Vou para o meu quarto, deito na minha cama, ainda


usando meu vestido. Len fecha a minha janela deixando tudo
escuro, e liga a minha máquina de ruído.

— Você não deveria irrita-lo, minha senhora. Não é


inteligente. Você tem um tigre pela cauda, é melhor não
irritá-lo. Sabe o que estou dizendo?

— Apologia clássica para abuso doméstico, Len. —


Minha voz é rouca novamente. Eu não acho que eu vou ter
hematomas, embora.

— Eu não estou me desculpado, apenas dizendo.

— Defendendo, você sabe o que, não importa. Obrigada,


Len. Isso é tudo.

— Ok, então. — Uma pausa. — Estarei amanhã, com o


estilista.

— Estilista?

— A roupa, para o evento do bastardo garoto rico.

— Jonathan, você quer dizer.

— Sim, tanto faz. Eles são tudo a mesma coisa.

Eu não respondo. Eu sinto meus olhos ficando pesados.


Ignoro a turbulência no meu coração, na minha cabeça,
ignorando a queimação em minha garganta e a dor nos meus
| 193

olhos.

Ouço o barulho da porta da frente sendo substituída, e


depois o silêncio.

E durmo.

Escuridão. É espessa, crua e voraz. Uma besta surda,


com dentes rangendo. Olhos vermelhos, bolas luminosas.

Eu tropeço através da escuridão com fome em pés


descalços. Bato meu dedo do pé, sinto uma nova pontada de
dor perfurando por toda parte, agonia enquanto uma unha do
pé é arrancada.

Outra besta, com os olhos brancos brilhantes. Alto,


rugindo.

Uivos, choro, subindo e uivando é ensurdecedor, tudo


ao meu redor. Tantos monstros, e rápido, quebrando
desatentos através da escuridão, os olhos brilhantes e caudas
vermelhas incandescentes.

Tropeço, o meu caminho na escuridão iluminada por um


raio, meus ossos abalados pelo trovão, meu rastro apagado
por um dilúvio de chuva fria. Eu não estou chorando ou
gritando, porque eu me machuquei muito, porque chorar
| 194

exige fôlego, e eu não tenho oxigênio, sem respiração,


pulmões chamuscados das chamas com fome.

As Chamas.

Eles estão em algum lugar atrás de mim, ainda trêmula


e com cheiro de carne assada.

Os animais formam um circulo em torno de mim,


rugindo, piscando os olhos demasiado brilhantes, garras
alcançando, arrastando ataduras e agulhas.

Quadrados, quadrados intermináveis acima de mim.


Quadrados perfurados com um milhão, milhões de pontos.
Cento e dez mil, quatrocentos e vinte e quatro pontos,
buracos negros cravado nos quadrados brancos.

Vozes, zumbindo em torno de mim como ecos de mil


anos atrás.

Palavras. Sons que deve ser compreensível, mas não


são. Palavras, palavras, palavras, que não significam nada.
Nada.

Perda.

Agonia.

Aflição

Dor.
| 195

Um rosto, mais e mais e mais.

Sonhos de chamas.

Sonhos de escuridão.

Escuridão.

Não há mais escuridão. Mantenho a escuridão na baía!


Há animais na escuridão. Eles querem meu sangue, desejam
a minha carne.

Não consigo respirar.

Eu estou me afogando em um oceano de escuridão, e eu


não posso respirar.

— Respire, X. — Um comando.

Respiro, arrasto uma respiração muito dolorosa.

— Respire.

Eu respiro.

Mãos acariciam meu rosto; um corpo embala o meu. Eu


encontro conforto mesmo que vagamente lembrando-me de
pulsos de medo através de mim.

— Caleb.

— Continue respirando, X. Você está bem. Você estava


sonhando.
| 196

Deus, os sonhos. Eles me devastam, saqueiam minha


alma.

A consciência retorna com uma sacudida como um raio


atingindo uma árvore.

— Deixe-me ir. — Eu arrasto para longe. — Não me


toque.

— X...

Eu saio da cama, caio no chão em uma pilha de roupas,


amontoada na escuridão contra a janela. Uma sombra se
ergue na escuridão, ombros masculinos, esse rosto, angular e
bonito, angélico em sua perfeição, mesmo em perfil
sombreado. Minha porta está aberta, deixando entrar uma
lasca de leve, um lance de brilho espetando a escuridão,
estabelecendo um perfil bonito em relevo.

— Eu sinto muito. Você sabe que não é fácil para mim


dizer, para você ou qualquer outra pessoa. Eu nunca me
desculpo. Não por nada, não importa o quê. Mas eu estou
pedindo desculpas a você, X. Eu sinto muito. Eu não deveria
ter feito o que fiz, e eu sinto muito. — Ao meu lado,
agachado, braços pálidos nus, vestindo apenas cueca boxer.

— Eu sei. — É todo o perdão que posso reunir.

— Você está ferida?


| 197

— Não.

Um dedo toca o meu queixo, levantando meu rosto,


então eu estou olhando para o sombreado perfeito.

— Olhe para mim, X.

— Eu estou. — Aqueles olhos, tão escuros, tão


desconhecidos, tão penetrantes, eles estão abertos e tristes e
preocupados.

— Não tenha medo de mim.

— Eu não estou. — Ah, sim uma mentirosa hábil,


quando se deve ser.

Ergue-me, e sou embalada contra um duro peito quente


e nu. Eu posso ouvir os batimentos cardíacos, lento e
constante. Mãos correm para cima e para baixo nos braços,
alisa meu cabelo para longe. Ainda estou em meu vestido. Eu
não sei que horas são.

Meu coração bate no meu peito.

— Sara.

— O quê? — Eu me permito parecer tão confusa quanto


eu sou.

— O nome dela é Sara. A garota que estava comigo. Sara


Abigail Hirschbach. Seus pais são judeus, membros
proeminentes da comunidade judaica ortodoxa aqui em Nova
| 198

York. O pai dela é um sócio meu. E Sara... bem, nós temos


uma história complicada. Um tipo dentro e fora de coisa. Ela
gostaria que fosse mais 'dentro' do que eu estou, embora eu
explique que eu não faço e não nunca gostarei dela daquele
modo. No entanto, ela continua voltando para mais do que eu
quero dar a ela. Que é puramente físico.

— Por que você está me contando isso? — Eu me esforço


para manter a voz neutra.

A minha pergunta é ignorada.

— Eu vou ser honesto com você, X. Nunca espere nada


de mim. O que você sabe de mim, é tudo o que existe. E a
verdade é... você sabe o verdadeiro Caleb Indigo muito mais
profundamente do que qualquer um dos meus outros...
conhecidos, vamos chamá-los assim... nunca saberá. Eles
recebem menos do que você. Menos do meu tempo, e menos
de mim naqueles breves momentos. Você... você é especial, X.

— Quantos são?

— Quantos o quê?

— Conhecidos. — Deixo o veneno no meu tom.

— Há muitos. Eu não darei nenhuma desculpa para


quem eu sou, X. Os animais em seus sonhos? Eu sou como
aquelas bestas. Sempre faminto. Nunca saciado, nunca
satisfeito. E as muitas, muitas meninas que eu... visito, eles
| 199

são lanches. Uma mordida, aqui e ali. O suficiente para mim


até que eu possa festejar.

Respiração quente na minha carne. Meu vestido está


rasgado aberto, de cima para baixo.

— Caleb...

— Você é a festa, X.

Lábios na minha pele. Mãos devorando a carne. Dedos


procuram minha umidade, o meu calor oculto. Há medo
dentro de mim, mas isso só serve para excitar. Temo, oh...
profundamente posso temer. Temo que o predador rondando
atrás de mim. Temo as garras nas sombras, a besta voraz
cujo apetite não pode ser apagado. Temo, mas eu tremo de
emoção quando eu pego um vislumbre dele, e me pergunto se
ele está vindo para mim. E quando eu vejo os olhos e o brilho
do luar na garra, eu sei que está vindo para mim. Ele vai me
devorar, pois sou apenas uma coisa macia, toda a carne
baixo-ventre facilmente se separaram.

Mas essa noite? Esta noite, eu acho que tenho as


minhas próprias garras.

— Não, Caleb. — Eu me arranco livre, nua, apenas de


calcinha. Cruzo os braços sobre os meus seios, meu peito
arfando com medo e necessidade, a raiva e as emoções
tumultuada miríade muito turbulento e misturado ao nome.
| 200

— Não. Você me machucou.

Silêncio, repleta de tensão.

Pés apunhalam precisamente através das pernas das


calças, botões de camisa estão equipados através de
aberturas rapidamente e sem inépcia. Meias e sapatos
escorregaram, paletó dobrado sobre um antebraço de
espessura. Uma mão desliza em um bolso das calças e retira
um telefone, breve brilho branco da tela, seguiu. Chaves
tilintam, giradas ao redor e em torno de um dedo indicador.

— Eu vou dar-lhe algum tempo, X, se é isso que você


precisa. E eu vou dizer uma última vez: Desculpe-me, se eu a
feri.

Há uma promessa escondida nas entrelinhas dessas


palavras: Seu tempo para superar isso é limitado.

A pergunta que ferve dentro de mim como a minha porta


da frente abre e fecha e só eu fiquei é muito simples: Posso
superar isso? O que eu faço se eu não puder?

Eu posso perdoar? Eu devo? Eu ainda quero?

Temo que não.

E eu temo o que isso significa para os próximos dias.


| 201

Capítulo Nove

Jonathan está a minha porta, mãos enfiadas nos bolsos


do quadril, cabelo penteado para trás, vestindo um smoking
fino e elegante com um laço estreito em sua garganta. Bonito,
jovem, confiante. Afável.

Você poderia ser Jay Gatsby.

— Madame X. Boa noite. — Inclina-se, beija-me


formalmente em ambas as bochechas. — Você está linda.

Eu realmente estou. Uma estilista chegou esta manhã,


puxando um rack cheio até transbordar com sacos de
vestuários. Um homem robusto, com cabelos artificialmente
prateados, vestindo terninho de uma mulher no pêssego
pálido com saltos de quatro polegadas oferecendo-me um
rápido, sorriso genuíno, me ajudou dentro e fora de trinta e
seis vestidos antes de escolher o que eu estou usando agora.
O vestido é alguma marca que eu nunca tinha ouvido falar,
um designer cujo logotipo é um único espesso Z. Um
estudante, talvez, ou um novo designer. Gem não especificou,
dizendo apenas que o designer não importa, não neste caso.
Que meu melhor era tudo o que importava. O vestido é
| 202

vermelho profundo, flutuando solto em meus quadris para


escovar o chão em volta dos meus pés, a saia feita de algum
material leve, transparente parece puro, mas não é. Da
cintura para cima, o vestido é de alguma forma sexy ao ponto
de indecência sem realmente revelar muito em tudo. A parte
de trás é aberta, mergulha até a própria base da minha
espinha, mostrando o menor indício de meu cóccix. O aberto
atrás corta profundamente ao redor minhas costelas,
também, por isso que estou na verdade nua a partir logo
abaixo e ao lado dos meus seios para logo acima do meu
traseiro. Um pedaço triangular de seda carmesim me cobre
da garganta para o diafragma, oferecendo um único
vislumbre do decote, mas é cortado para se agarrar e armar
ao efeito sensual, o triângulo de tecido de alguma forma a
apoia os meus seios não insignificantes em destaque
amontoada. Uma pulseira fina, quase invisível envolve em
torno de minha garganta, apertando na parte de trás do meu
pescoço com um gancho delicado. Gem aplica fita dupla face
para as bordas dos meus seios, onde um toque de decote lado
é visível, impedindo o vestido de se soltar e revelando mais do
que o pretendido. Eu insisto no meu favorito par de saltos
preto de Jimmy Choo. Gem tinha trazido uma seleção
bastante excessiva de vistosos sapatos, cravejado de
diamantes que ele queria que eu experimentasse, mas insisti
em meu próprio, porque se eu ia passar a noite nervosa e
preocupada e fora do meu elemento, eu me sentiria melhor
| 203

em sapatos familiares. Cabelo, maquiagem, tudo feito de


forma simples e com grande efeito, cabelo empilhados na
minha cabeça, algumas mechas escapando para enquadrar o
meu rosto, maquiagem mínima, apenas um toque de sombra
para os olhos, alguma mancha em meus lábios, um contorno
em minhas maças do rosto.

Seu elogio é entregue com facilidade enganosa. Mas


enquanto esperamos o elevador, eu sinto seus olhos em mim,
de cima para baixo, olhando para longe, roubando atrás de
mim.

— Está tudo bem, Jonathan? — Pergunto com meu tom


afiado.

— Muito bem, muito bem.

— Então pare de olhar para mim.

Ele levanta uma sobrancelha e sorri.

— Não posso evitar isto, X. Você é tão linda que dói. Não
posso acreditar que Caleb, — ele olhar para trás, para
Thomas, e se corrige — Sr. Indigo, quero dizer , concordou em
deixá-la vir.

Thomas. Meu guarda-costas durante a noite. Um


gigante de um homem, muito literalmente um gigante. Mais
de dois metros de altura e extremamente musculoso. Pele
negra como a meia-noite, a cabeça raspada no couro
| 204

cabeludo, os olhos sempre mudando e movendo-se, vendo,


avaliando, olhos inteligentes e astutos, que nunca olham
diretamente para mim. Ele não disse uma única palavra, e eu
não acho que ele vai, a menos que seja absolutamente
necessário.

— Foi uma surpresa para mim, também, honestamente.

— O que mudou a mente dele?

Deixo o silêncio prolongar por um momento antes de


responder.

— Ele mantém seu próprio conselho, Jonathan. Eu não


posso falar qual o seu raciocínio, nem vou tentar.

Eu posso ver o reflexo de Thomas na porta do elevador;


Ele parece quase divertido, neste caso robusto e brutal uma
face poderia ser dita para ter uma expressão tão mundana.
Um ding anuncia a chegada do elevador. As portas deslizam
abertas e Thomas entra na abertura, gesticula para nós
entrarmos com uma enorme mão. Aproveito o canto de trás
diagonalmente oposto a Thomas, e fico ao seu lado. Perto
demais. Sua colônia é fraca, distraidamente deliciosa, leve e
cítrico e exótico. Seu corpo me prende no canto, e embora ele
não olhe para mim, está de alguma forma ainda consciente
de mim, e eu estou ciente de sua consciência. É
desorientador. Eu respiro para controlar meus nervos, e
embora eu respire superficialmente, meus movimentos o
| 205

fazem olhar para os meus seios por trás da seda carmesim,


ele assiste meus seios subirem e disserem. Eu inclino minha
cabeça para o lado, olhá-lo com uma sobrancelha levantada
de repreensão, os lábios franzidos.

Ele cora adoravelmente e encolhe os ombros. Eu o


encaro até que ele desvia o olhar primeiro. Aquele movimento
de pulso, no entanto. Ai está, estende o braço, vira o pulso,
ostentação, um amplo gesto dramaticamente entregue para
revelar um relógio fantasticamente caro. Um Bulgari, ouro
rosa e pele de crocodilo marrom.

— Não faça isso, Jonathan, — eu digo, sem olhá-lo.

— Fazer o quê? Eu só olhei para o meu relógio.

— Você fez uma amostra disso. Ninguém se importa


quão caro seu relógio é. Fazer isso só serve para chamar a
atenção para a sua superficialidade.

— Oh, vamos lá, X. E como vou verificar as horas? —


Ele soa petulante.

— A verdadeira riqueza não chama a atenção para si


mesmo. O verdadeiro poder não clama por aviso prévio.
Comande sem parecer buscar isto.

— Entendi, — murmura.

— Fale claramente, — eu estalo. — Você não é um


| 206

menino a murmurar quando repreendido.

— Tudo bem, entendi. Ok? — Ele balança a cabeça e


suspira. — Jesus.

— Este é o seu teste, Jonathan. E eu estou com você,


assim é melhor o desempenho ser impecável.

— Então não fique pegando no meu pé sobre cada coisa


pequena coisa do caralho. Faz-me autoconsciente, e isso é
quando eu me atrapalho.

O elevador se abre, revelando uma garagem subterrânea


expansiva cheia de automóveis brilhantes e caros de
aparência. Ele se dirige em direção a um, algo longo e baixo
elegante e preto com apenas duas portas, um logotipo
tridente adornando o nariz.

Há um ruído surdo, duro atrás de nós, o que me leva


um momento para perceber que é proveniente de Thomas. É
um grunhido, para chamar nossa atenção. Thomas inclina a
cabeça para um lado, indicando um carro diferente. Este é
longo e baixo, elegante e branco. Len está fora dele em um
smoking para coincidir com Thomas.

— Vamos lá, crianças. Tempo é um desperdício. — Len


desliza para o banco do motorista, e Thomas leva três passos
longos que cobrem algo perto de dez pés, e abre a porta
lateral traseira do passageiro, trazendo consigo e fechando a
| 207

porta atrás de mim enquanto eu me sento.

— A Maybach, hein? — Ele fala sem dificuldade, parece.


Ele espera até que eu esteja sentada e depois circula ao redor
para o outro lado — Legal. Landaulet sessenta e dois?

— Claro que é. Veículo de uso pessoal do Sr. Indigo, —


diz Len.

Eu não poderia me importar menos que tipo de carro


que é. Os assentos são luxuosos, o ar fresco e confortável. Há
uma sensação de poder suave, uma inclinação, e, em
seguida, um brilho, cegando de luz à medida que saímos da
garagem.

Meu coração martela em meu peito; estou do lado de


fora, do mundo, pela primeira vez em muito tempo.

Não consigo respirar.

Sua mão aperta a minha coxa.

— X? Você está bem?

Eu forço ar em meus pulmões. Pisco, enrolo meus dedos


em punhos e me forço a respirar. Dentro... e fora. Dentro... e
fora. Não posso responder a ele, e eu não sou, claramente,
assim parece uma pergunta fútil para mim. Liberto meus
punhos. Achato as palmas das mãos nas minhas coxas,
cotovelada sua mão. Eu não posso suportar toque, não dele,
| 208

agora não.

Os meus olhos abrem. Olho pela janela. Os edifícios são


vertiginosos, subindo centenas de pés no ar, subindo ao
redor como uma tribo de titãs aglomerados. Eu estou me
afogando no fundo de mil gargantas de vidro. Buzinas
tocando, alto mesmo no interior acusticamente abafado do
carro. O Maybach Landaulet 62, como ele nomeou este
veículo. Algum tipo de automóvel de luxo, presumo. Não sei
nada sobre essas coisas e cuidar ainda menos. Ele parece
impressionado, que suponho que é o propósito.

As pessoas. Então, muitas, muitas pessoas. Multidões


deles, um rio infinito de cabeças, cabelo, chapéus, e ombros,
braços oscilantes, borrões de cor, um guarda-chuva preto,
apesar do tempo claro e quente da noite. Um rugido de um
motor de um caminhão com rodas de grandes dimensões e
tubos de escape verticais jorrando fumaça negra. Um homem
em um terno zanzando entre veículos em movimento,
correndo pela rua, pasta segura debaixo de um braço. Tanto.
É muito.

— X. Olhe para mim, querida. — Ele me toca. Dedos no


queixo, traz meu rosto para ver o seu.

Eu empurro meu rosto longe do seu toque, mas eu olho


para ele. E respiro. Um pouco, pelo menos.
| 209

Ele sorri.

— Ei. Aí está você. Está tudo bem, X. É só Manhattan.


— Ele franze a testa, uma sutil redução de suas
sobrancelhas, cantos da boca achatamento, lábios afinados.
— Você realmente não sai muito, não é?

Eu balanço minha cabeça.

— Não. Eu não.

— Bem... se você está sobrecarregada, por que você não


se concentrar em mim, hein? Olhe para mim. Fale comigo. —
Ele pega minha mão, segura palma com palma, dedos
enrolados em torno, como as crianças de mãos dadas. É
platônico, e estranhamente reconfortante. — Este evento, vai
haver uma grande quantidade de pessoas famosas lá. Exceto
que, no entanto, vai ser chato pra caralho. Só para você
saber. Lotes de pé ao redor com champanhe extravagante e
scotch barato, falando sobre o quão rico toda a gente é. Iates
e aviões particulares, que é dono de qual ilha e que
propriedade onde. — Ele toma um arco, o tom pretensioso de
voz. — Você já tentou o Lafite sessenta e seis? Positivamente
divina, meu velho. Eu tenho uma garrafa, você vai ter que vir
a minha casa em Hamptons. — Uma mão passeia em
desgosto. — Velhos ricos charlatões. As pessoas famosas são
piores, eu acho. Basta estar ao redor e esperar que todos
venham a eles, prestar atenção a eles. Eles se preocupam, no
| 210

entanto, sabe? Isso é o que me tem em um humor tão irritado


com isso. Todos eles se importam. Já esteve em um desses,
você foi a em todos. Haverá dança, apesar de tudo. Valsas
adequadas e merdas assim. Boa coisa que eu aprendi, certo?

— Boa coisa, sim, — eu digo, fraca.

— Você pode dançar, X?

Eu pisco.

— Dançar?

Ele ri.

— Sim. Dançar. Como a valsa ou o cha-cha ou o que


quer.

Eu finalmente abro um sorriso, e sinto-me um pouco


melhor.

— Cha-cha? Acho que não. Posso dançar valsa, no


entanto.

Ele arca uma sobrancelha sugestivamente.

— Você provavelmente causaria alguns ataques


cardíacos se dançasse cha-cha, eu acho. Aquelas velhas
cabras e seus marca-passos não seriam capazes de lidar com
isso.

— Lidar com o quê? — Pergunto.


| 211

Ele olha para mim, mais descaradamente.

— Você, X. Dançando o cha-cha neste vestido. Todo o


seu sangue corria para o sul, e eles cairiam mortos. — Ele
agarra seu ombro e imita um ataque cardíaco, em seguida,
explode em risadas.

— Não é apropriado, Jonathan.

Ele acena a mão com desdém.

— Oh, anime-se, X. É uma piada.

Vejo Len olhar para ele no espelho retrovisor, e um


vislumbre de Thomas no espelho também. Ambos estão tanto
se divertido ou desaprovando. Eu não tenho certeza de como
interpretar o olhar que ele está recebendo a partir deles. Ele
tem sido bem-sucedido em me distrair de meus nervos, no
entanto, e por isso eu sou grata.

O silêncio desce durante vários minutos, e, em seguida,


Len traz o carro a uma parada suave fora de um edifício. É
exatamente como todos os outros, parece-me, embora não
haja um toldo que se estende desde a porta de entrada para a
rua, e quando Len para o carro, Thomas sai e mantém aberta
a porta para mim, e então Jonathan. Ele desliza facilmente
através do interior, ao invés de sair do lado da rua. Já fez isso
antes. Tenho que me concentrar em fazer cada movimento
gracioso como subir a partir do veículo de baixo, ajustar meu
| 212

vestido, e esperar por ele. Assim que está ao meu lado,


abotoa o botão do meio do seu casaco de smoking e me
oferecer o seu braço. Dois porteiros uniformizados, com
longos, sobrecasacas cauda e bonés Bellman puxam duas
enormes portas de madeira com aço alças de correr de cima
para baixo, curvando-se profundamente quando Jonathan e
eu entramos no hall de entrada, Thomas caminhando atrás
de nós.

Sinto um peso enorme no meu ombro e viro para ver


Thomas olhando para mim, rosto largo impassível, segurando
um único dedo. Espere, diz o gesto. Dentro de momentos Len
está entrando, assim movendo-se para ficar atrás de
Jonathan, enquanto Thomas está atrás de mim.

— Tudo bem, gangue. Hora de ir. — Len me chama a


atenção. — Uma vez que estamos lá dentro, vou me misturar.
Manter um olho em você, fora da vista. Thomas estará com
você o tempo todo, apesar de tudo. — Um olhar sobre ele. —
E Jonathan? A única coisa que eu vou dizer a você é lembrar
cláusula três do contrato que assinou, sim?

Seu rosto se fecha.

— Sim, eu me lembro.

— Boa. Isso é tudo. Vamos nos divertir. — Len mexe seu


ombro, aperta o botão do meio do seu paletó, e acena com a
| 213

cabeça.

Outro par de porteiros uniformizados se curva e puxam


as portas abertas, e nós percorremos. Um corredor com
painéis de madeira, escuro conduz a um púlpito, atrás da
qual um homem alto, cavalheiro idoso em um smoking com
uma rosa vermelha na lapela.

— Senhor, senhora. Bem-vindo. O nome?

— Jonathan Cartwright, terceiro e convidado.

— Posso ver sua identificação, senhor? Para fins de


segurança, é claro. — O host estende a mão enrugada, e ele
lhe entregar um cartão, leva-o de volta. — Muito bem, Sr.
Cartwright, senhora. Podem entrar, por favor. — Um gesto a
um terceiro e último conjunto de portas, manipulado mais
uma vez por dois porteiros uniformizados.

Como eles abrem as portas, um zumbido baixo


cumprimenta-nos — não digo nós, porque não há nós.
Apenas dois indivíduos que compartilham o mesmo espaço
para um curto período de tempo.

Eu tenho que me lembrar disto.

Um zumbido baixo de vozes, murmúrios tranquilos,


risos educados. Um quarteto de cordas e um pianista toca
música clássica em algum canto, um microfone de um lado
para um lado contra a parede, à espera de um convidado
| 214

musical especial, imagino. A multidão está agrupada em


grupos de quatro e seis, às vezes até oito em um círculo,
todos em smokings e vestidos, relógios caros brilhantes,
diamantes brilhando. Mudanças de olhos, cabeças girando,
sutilmente digitalização para rostos familiares.

Eu conheço precisamente três pessoas aqui, e eles estão


todos fazendo a entrada comigo.

Ninguém observa a nossa chegada. Eles percebem, veem


que não somos claramente famosos, e seus olhos saltam
sobre nós. Retornam para conversas e bebidas. Damos dois
passos para o salão quando uma jovem mulher em um
vestido preto de bom gosto, mas curto com um avental na
cintura dela se aproxima de nós, bandeja na mão, tendo
copos flutes de champanhe. Ele toma uma flute, entrega-o
para mim, e um outro para si mesmo.

Len desaparece. Thomas está atrás de nós, perto, mas


não sufocante. A distância precisamente medida, eu acho.

— Para você, Madame X. E por estar fora daquele


apartamento.

Eu pisco para seu brinde inesperado.

— Sim. Como você diz. — Eu brindo a minha taça


contra a sua.

— Não gostou do meu brinde, X? — Ele toma um gole,


| 215

seus olhos brilhando com humor.

— Isso foi... não era o que eu estava esperando de você


para brindar.

— O que você estava esperando, então?

Tomo um gole recatado. É doce, borbulhante, com um


toque crocante. Eu gosto, mas não tanto quanto o vinho que
tive com... balanço a cabeça, recusando-me a deixar minha
mente vagar a partir desta experiência. Recusando-se a
deixar que pensamentos de Caleb Indigo manchem o meu
prazer. Se é diversão que eu estou sentindo; é uma emoção
estranha, uma vibração na minha barriga, uma aceleração do
pulso, falta de ar, antecipação de... alguma coisa.

— X?

Eu balanço a minha cabeça.

— Sim?

— Está comigo querida? Perguntei o que você estava


esperando que eu desse como motivo para fazer um brinde.

Eu pisco. Respiro. Invoco meu juízo. Sorrio para ele,


fingindo humor fácil, que não sinto.

— Meu vestido?

Ele ri.
| 216

— Ah. Seu vestido. Sim, bem... que vale um brinde,


também, eu diria.

Seus olhos são quentes e amigáveis. Às vezes eu não o


reconheço como o pirralho arrogante, ocioso, imbecil, que
era, apenas algumas semanas atrás. Mesmo desde a última
vez que o vi, ele ganhou porte, confiança. Encontrou-se,
penso eu. Eu o coloquei em movimento, mas ele fez o resto.

Ele levanta a sua taça a minha.

— Para o vestido mais sexy do salão.

Eu sorrio, brindo, bebo.

Estamos ainda a poucos passos para entrar no salão.

— Jonathan. Quem é a sua convidada arrebatadora? —


Um homem mais velho, de cabelo de prata com um pouco de
preto nas têmporas. Seus olhos, um nariz e queixo diferente.
— Apresente-me, meu filho.

— Pai... Jonathan Edward Cartwright, o segundo, quero


dizer, posso apresento-lhe Madame X.

Nos limites da minha casa, onde eu realizo negócios,


com a pintura na parede para dar credibilidade, meu nome é
apropriado, uma coisa de mistério e poder. Aqui... ele só
parece estranho.

Enfio todos os pensamentos, convoco a minha capa de


| 217

indiferença, minha armadura de dignidade legal.

— Sr. Cartwright. — Cumprimento-o.

— É um prazer conhecê-la, Madame X. — Os olhos do


seu pai não comunicam prazer, no entanto. Há hostilidade.
Um ar de cálculo implacável. — Você fez um trabalho
maravilhoso com meu filho. Devo admitir, eu estava cético do
programa, mesmo que eu a tenho contratada para isso. Mas
você fez maravilhas. Mais do que eu esperava, isso é certo.

Ele muda de pé para pé, desconfortável.

— Pai, eu não acho que este é o momento nem o lugar


para...

— Cale a boca, Jonathan, seus superiores estão falando.


— Seu pai o rejeita, bruscamente, casualmente, brutalmente.

Ele faz o seu melhor para não vacilar, mas a sua


expressão, o que talvez só eu possa ler com tanta facilidade,
comunica uma dor profunda e familiar. Eu vejo onde ele
aprendeu seus maneirismos, e quais os hábitos de longa data
enraizados, ele luta diariamente para se tornar o homem que
ele está se tornando.

Sinto minhas garras se estenderem.

—Tenho que concordar com Jonathan, Sr. Cartwright.


Este não é o momento nem o lugar para discutir essas coisas.
Este é um evento social, afinal de contas, e existem... devo
| 218

dizer... certas cláusulas que ditam o conhecimento de quem


eu sou e o que faço. Cláusulas que, pela sua natureza
impedem a discussão aberta em um ambiente público como
este.

— Entendo. Bem. — Os olhos estreitos em hostilidade


aberta agora. — Suponho que tenho que agradecer pelo
desejo abrupto do meu filho atacar por conta própria?

— Você faz. — Eu sorrio e mantenho o meu tom


amigável, adoço docemente como eu derramo o veneno. — Ele
estava sofrendo. Seus talentos naturais e habilidades
estavam sendo desperdiçados. Você estava desperdiçando o
potencial do seu próprio filho. Intencionalmente, parece-me.
Qualquer chance de verdadeira felicidade ou sucesso de seu
filho estava sendo estrangulado pelo seu óbvio desprezo. Eu
não o orientei intencionalmente para longe de você ou de sua
empresa, nem eu o aconselhei sobre quaisquer assuntos de
negócios em qualquer forma. Isso não é o meu trabalho. Meu
trabalho era mostrar para ele como ser sua própria pessoa, e
que, agora que eu lhe conheci, claramente destinado a ajudá-
lo a superar a enorme desvantagem de ser seu filho.
Jonathan vai fazer coisas incríveis, agora que ele saiu debaixo
de seu polegar, Sr. Cartwright. Muito a sua perda, bem, eu
acho.

Jonathan se engasga com champanhe.


| 219

— X, vejo alguns dos meus amigos ali. Vamos dizer oi,


hein?

Eu permito que ele me puxe para longe de seu pai, que


é, neste momento, fumegante, com o rosto vermelho, veia da
testa pulsando perigosamente. Talvez o Cartwright sênior vai
sofrer um ataque cardíaco. Encontro-me não inteiramente
descontente com a perspectiva.

Ele me encaminha em todo o salão em direção a um


pequeno grupo de homens mais jovens, todos entornos da
sua idade, cada um com uma mulher agarrada a um braço de
smoking, modelos glamorosas pingando diamantes, todos os
sorrisos superficiais e seios falsos. Antes de alcançarmos o
conjunto de seus amigos, no entanto, ele me puxa para o
lado, para o bar ao longo de uma parede. Ele pede duas
cervejas, jogando de volta o seu champanhe como espera. Eu
saboreio o meu, e espero.

Ele tem algo a dizer, e então eu o permito tempo para


formular suas palavras. Que ele pensa antes de falar é
encorajador.

— Ninguém jamais se levantou para mim antes, X.


Ninguém. Nunca, nem em nada. E ninguém fala com o meu
pai dessa maneira.

— Na hora, então.
| 220

Ele reúne um sorriso fraco, então aceita o copo de


cerveja, tragando metade dela antes de voltar para mim.

— Sim, acho que sim. O ponto que eu estou tentando


fazer aqui é... obrigado. Eu nunca me importei por aquele
bastardo. Eu nunca vou.

— Você só tem que se importar com si mesmo.

— Sim, eu entendo isso. Mas eu acho que é a natureza


humana básica, querer ser algo para importar a seu próprio
pai.

— Acho que sim, — eu digo. — Mas a autopreservação é


também um fator essencial da natureza humana.

— Você não está preocupada que se tornou uma inimiga


dele?

Eu balanço a cabeça.

— De jeito nenhum. Não há nada que ele possa fazer


para me prejudicar. Se ele causar problemas para Caleb,
então que assim seja. Problemas com o Caleb é negócio de
Caleb, não meu — Envolvo meus dedos em torno de seu
braço. — Vamos dizer oi para os seus amigos.

Ele bufa.

—Aqueles idiotas? Eles não são meus amigos. Eles são


apenas algumas idiotas que eu conheço. Caras como eu
| 221

costumava ser. Ricos, egocêntricos, vaidosos, e totalmente


inúteis. Nenhum deles jamais fez um verdadeiro dia de
trabalho em suas vidas inteiras. E essas cadelas em seus
braços? Iguaizinhas a eles. Cadelas ricas que não fazem
nada, mas fazem compras na Quinta Avenida e obtém Botox
e cheiram coca e saem de férias sem fim para os Hamptons
ou porra Turks e Caicos, tudo isso à custa de seus pais.
Nenhum deles jamais fez uma única coisa para si. E eu era
como eles.

— E agora?

— Sempre quis assumir para o meu pai. Eu queria. Eu


queria... para ser uma parte do que ele estava fazendo. Ele é
uma pessoa horrível e um pai de merda, mas ele é um inferno
de um homem de negócios. Então, eu era o único entre
aqueles caras em que desde momento que estava no segundo
ano da escola estava trabalhando no expediente ou na sala de
cópia, trabalhando para caramba noites e fins de semana,
pagando minhas dívidas. Meu pai nunca me deu uma única
pausa por ser seu filho. Ele ordenou a todos que me
tratassem exatamente como qualquer outro candidato para
cada posição que eu inclinava-me. E algumas pessoas,
porque eu era um Cartwright, trataram-me ainda pior. Mas
eu joguei o jogo. Eu suguei e fiz o meu melhor. Eu tenho
trabalhado todos os dias da minha vida desde a oitava série.
Eu tenho o meu próprio dinheiro. Comprei o meu Maserati
| 222

com o meu próprio dinheiro. Comprei o meu apartamento


com o meu próprio dinheiro. Eu tenho um empréstimo de
negócio no meu próprio nome e levantei o capital para o meu
próprio negócio, tudo sem usar uma única conexão com o
meu pai. Mas nada disso importa. — Ele termina uma cerveja
e começa a próxima. Eu estou no meu quarto gole de
champanhe.

— Era para eu continuar a trabalhar para ele,


continuar a ser empurrado de lado e passado por cima e
tratado como lixo. E agora que estou no negócio por mim, ele
me odeia ainda mais.

— Por isso, soa como se você nunca foi, na verdade,


como eles?

— Eu agia como eles, embora. Como um idiota.


Intitulado. Mimado. Eu nunca fui nada, mas era rico. Eu faço
o que eu quero, quando eu quero. Sim, eu ganho o meu
próprio rendimento, mas eu ainda corro para mulheres como
se não fossem nada. Uma após o outra, só para constar.
Todas tratadas por mim, como merda.

— O que mudou? — Estou muito curiosa.

— Você. — Ele não olha para mim quando diz isso.

Meu coração afunda.

— Eu? Jonathan, eu não fiz nada mais do que me foi


| 223

pago para fazer.

— Eu quero você, X. Mas eu não posso ter você, e eu sei


disso. Ele queima a minha bunda, você sabe disso? Nós não
somos nem mesmo amigos. Eu nem sequer chego a muito.
Mas você... você não é como qualquer uma que já conheci.
Você... Importa-se. Você não precisa de ninguém, não precisa
de nada. Você não leva desaforo, de ninguém. Não sei o que
era... o que é sobre você que me fez ver tudo de forma
diferente. Honestamente não sei. Eu só... desde que te
conheci, eu acho que eu só quero ser alguém que importa.

— Você é importante, Jonathan. — Atrevo-me a mais


um gole, um mais longo, a boca, bolhas nítidas lavam sobre
minha língua, correndo através do meu cérebro. — E... nós
somos amigos.

— Mas apenas amigos. — Não é uma pergunta, mas há


uma vaga nota fraca, e juvenil da esperança.

Dói para esmagá-lo.

— Sim, Jonathan. Só amigos. É tudo o que é possível.

— Por quê? — Ele vira, gira para descansar um quadril


contra o bar, em frente a mim.

Fico de costas para a borda da barra, taça realizada em


ambas as mãos, observando a multidão de fluxo e
deslocamento.
| 224

— Eu não posso responder a isso, Jonathan. É só... é.

— Você não pode mudá-lo?

Deixo escapar um suspiro.

— Não. Eu não posso.

— Você quer? — Sua respiração está em meu ouvido.


Está muito perto. Perto demais. Eu odeio quando ele faz isso.
Você é meu amigo, Jonathan. E isso é algo monumental para
mim, mas você não pode vê-lo.

Eu gostaria de poder fazê-lo ver o que sua amizade


significa para mim. Mas eu não sei como.

— Não importa se eu quero. — Eu sussurro isso, porque


é algo que eu não deveria dizer. Mas eu faço, de forma
imprudente.

Thomas está longe o suficiente que ele não possa ouvir


nossa conversa. Acho que não. Mas ele ainda me deixa
nervosa. Ele está lá para me manter segura, e manter-me
perto. Eu não posso deixar de me perguntar o que ele faria se
eu fosse para tentar deixar, aqui e agora. Trazer-me de volta,
provavelmente. Mas... onde eu iria? O mundo é um lugar
caro.

E perigoso também.

— Por que não, X? Por que não importaria? — Sua voz é


| 225

tão próxima eu posso sentir as vibrações.

Algo se encaixa dentro de mim.

— Droga, Jonathan! Pare de fazer perguntas que não


posso responder! — Eu lanço para trás o resto do
champanhe, meia o valor de uma flute, engulo, sinto correr
através de mim, queimar minha garganta no caminho para
baixo, batendo pesado no meu estômago.

Eu fujo. No meio da multidão, a cabeça abaixada,


dobrando para a pequena porta discreta escondendo-me nos
banheiros. Thomas está atrás de mim, seguindo
silenciosamente à distância.

Abro a porta do banheiro mais próximo, pulmões no


limite, olhos queimando, dor no peito, coração batendo
fortemente, vendo através de um borrão. Porta do box, bate
abrindo, bate fechando. Encosto-me contra a porta de metal
fria, luto por calma. Luto para respirar.

Eu não o desejo, não fisicamente. Mas há algo lá,


alguma faísca de necessidade. Ele incita a dúvida em mim.
Faz-me pensar na minha própria vida, na minha existência
ordenada. Faça-me questionar quem eu sou.

E essas perguntas me trazem ataques de pânico.

Eu fungo. Pisco com força.


| 226

NÃO.

Eu não posso deixar perder-me nessa enxurrada de


emoção. Eu estou no controle. Eu estou no controle, respire,
não posso fazer isso, não aqui, não agora. Não por causa de
Jonathan Cartwright, Terceiro. Ele não sabe nada de mim.
Ele me quer, porque não pode me ter, e isso é tudo que é. E
seja qual for o parentesco eu possa sentir por ele em troca
baseia-se menos que isso. Ele representa o meu sucesso mais
óbvio. Isso é tudo o que é.

Eu gosto da minha vida.

Eu estou satisfeita.

Eu não preciso de mais.

Eu não quero saber o que mais pode existir, lá fora, para


mim.

Eu estou segura sob a proteção de Caleb Indigo.

Então por que estou lutando contra as lágrimas?

Ouço a porta abrir, fechar. Uma torneira é aberta.

Silêncio, mas o conhecimento de que alguém está lá


fora, que fixa a maquiagem, provavelmente, endureço. Eu não
posso ser fraca. Não serei. Eu violentamente empurro para
baixo as minhas emoções. Desligo-as. Enterra-os. Mantenho
minha cabeça erguida, e saio do privado.
| 227

Congelo.

Estou no banheiro dos homens.

Quando eu saio do privado, olho para cima, vejo um


homem, estou muda. Um homem está olhando para mim, um
telefone celular em suas mãos.

Estou sem fôlego.

Há beleza, e depois há perfeição. Tenho conhecido


muitos homens bonitos. Alguns robustos. Alguns
simplesmente bonitos. Nenhum deles jamais fez comparação
com Caleb Indigo, no entanto, em termos de atração
masculina pura.

Até agora.

Este homem?

Ele é o esplendor do céu feito carne.


| 228

Capítulo Dez

— Ei lá. Parece que um de nós está no banheiro errado,


eu acho. — Sua voz é baixa, quente, divertida e gentil,
banhando-me em sensação.

Não posso me mover, não posso respirar. Ele está


olhando para mim, vendo-me com os olhos tão azuis que faz
meu coração gaguejar no meu peito, olhos que desafiam a
descrição.

Há inúmeros tons de azul:

Azul ciano. Azul violeta. Bebê azul. Azul marinho. Azul


Ultramarinho. Celeste. Céu. Safira. Elétrico. Tantos outros
em variação.

E então há índigo.

Oh, como é irônico.

Seus olhos, eles são índigo.

Eu tento falar, mas minha boca só abre e fecha sem


produzir som. Algo em mim está quebrado, fora de ordem.

— Você está bem? Você parece chateada. — Um passo


| 229

rápido, e eu sou assaltada pelo aroma de goma de canela,


atado com notas de álcool e cigarros. Mas é a canela, que está
em mim, no meu nariz, no meu paladar.

Sua mão toca o meu cotovelo; outra passa pelo meu


rosto, não exatamente tocando minha pele, apenas passando
cabelo solto para longe dos meus olhos.

— Eu estou bem. — Digo em um sussurro rachado.

Ele ri.

— Eu não nasci ontem, querida. Tente novamente.

Meus olhos piscam.

— Sinto muito incomodá-lo.

Eu forço meu corpo em movimento, passando por ele.

Ele me agarra pelo bíceps, me gira em torno de volta, e


eu sou puxada para cima contra seu peito duro, largo e
quente.

— Você não me perturbou. Pelo contrário. Tome um


minuto. Não há necessidade de apressar-se.

— Eu tenho que ir.

— Toda a melhor razão para ficar, então. — Deus Santo,


essa voz.

Calor, como luz do sol da tarde através de uma janela


| 230

sobre as pálpebras fechadas, aquecendo a pele. O calor da


manhã cedo, antes de verdadeira consciência assumir,
quando toda a existência é reduzida para baixo, para o casulo
de mantas.

Eu não entendo o que ele quer dizer, mas suas mãos são
suaves, gentis, firmes sobre os meus ombros, meu rosto está
contra seu peito, nada educadamente, não em toda forma
adequada. E eu não pretendo mover. Nunca. Estou em uma
altura que meu ouvido é sobre o seu coração, e eu ouço isto...

Bumpbump-bumpbump-bumpbump.

Lento, constante e reconfortante.

— Qual é seu nome? — Pergunta ele, um único dedo


traçando uma linha íntima da minha têmpora em torno da
curva da minha orelha, até a base da minha mandíbula.

Uma coisa simples, pedindo um nome. Tão fácil para


todo mundo. Algo que eu nunca considerei até hoje, o quão
impossível uma interação normal, como esta, poderia
ausentar o que eu sei.

Entro em pânico. Afasto-me. Tropeço. Sou pega,


levantada.

— Ei, ei, está tudo bem. Sinto muito, está tudo bem.

Eu balanço minha cabeça.


| 231

— Eu tenho que ir.

— Apenas me diga o seu nome.

Eu não vou mentir.

— Eu não posso.

Um bufo de descrença divertida.

— O que, é um segredo?

— Eu não deveria estar aqui. — Eu giro um passo de


distância.

— Sem brincadeiras. É um banheiro masculino, e você


definitivamente não é um homem. — Sua mão envolve em
torno de meu pulso, facilmente engolindo-o e mantendo-me
no lugar.

Um puxão, e eu estou de volta contra a parede que é seu


peito. A ponta do dedo, o que traçou atrás da minha orelha,
através do tambor de delicado do meu templo, ele toca meu
queixo. Eu tenho que olhar, entretanto eu sei devo olhar em
seus olhos, de modo que são quase roxos, assim prendendo
em seu estranho tom de azul. Então, sabendo, tão quente,
vendo-me de alguma forma, como se o livro da minha alma é
nua para ele, colocou aberta.

— Ouça, Cinderela. Tudo que eu quero é o seu nome.


Diga-me, e eu posso fazer o resto.
| 232

— O resto? — Eu sei, intelectualmente, cerebralmente,


que eu deveria afastar-me, sair, sair daqui antes de qualquer
coisa comprometedora aconteça. Mas não posso. Eu sou uma
criatura do mar profundo, profundo, viciada em uma linha,
elaborada para a luz. — O resto do quê?

Eu engulo em seco. Tudo em mim está em ebulição,


banhada, coruscante, tonto, confunde e se perde e selvagem.

— O resto de você e de mim.

— Eu não sei sobre o que você está falando.

— Sim você sabe, Cinderela. Você sente isso. Eu sei que


você sente. — Ele franze a testa, e mesmo esta expressão é
estonteantemente linda.

Eu não deveria estar aqui também. Não nesta festa, não


neste banheiro, e certamente não com alguém como você. Eu
não pertenço aqui. E você também não. Mas aqui estou eu, e
aqui está você, há... algo aqui. Foda-se eu tenho uma palavra
para isso, mas há algo acontecendo entre nós.

— Você é louco. Eu tenho que ir. — Eu recuo.

Minhas mãos tremem. Algo nas sombras mais


profundas do meu ser se irrita contra cada polegada de
espaço que eu pus entre nós, entre mim e ele. Algo no tecido
do meu ser exige que eu fique, que eu lhe diga quem eu sou,
que eu lhe dou o que ele exige de mim.
| 233

Mas isso é impossível.

— Sim, eu estou louco. Não vou discutir com você. Mas


isso não tem nada a ver com você e eu, querida.

— Não existe você e eu, e pare de me chamar de


querida. — Eu não me atrevo a virar, a mostrar-lhe as costas.
Eu arrasto para trás, para a porta, chega atrás de mim para a
maçaneta.

— Então diga-me seu nome, Cinderela.

Minha mão treme na maçaneta da porta. Eu empurro a


alavanca para baixo. Puxo o peso da porta de mola na minha
direção, sem tirar os olhos de cima dele. Eu preciso olhar
para longe, mas eu não posso. Não é possível. Eu estou presa
pelo seu olhar. Enlaçados por seu calor, e não apenas calor
físico, mas alguma acolhedora e envolvente, aninhada, todos
os consumidores de calor em minha alma. Ele aquece o gelo
em mim, se espalha através dos escancarados abismos
solitários do meu ser ecoando com frio e ausência.

— Não. — É um sussurro, inaudível sobre o martelar do


meu coração. Se eu lhe dou o meu nome, eu lhe darei tudo de
mim.

Um nome é uma coisa de poder.

— Por que não? — Passos fáceis longos o levam a mim.

Suas mãos enrolam em torno da base da minha espinha


| 234

e me puxam para frente, e os cliques das portas fechadas, e


eu estou contra seu peito, respirando canela e cigarros. — Eu
vou dizer-lhe o meu, então, que tal? Meu nome é Logan
Ryder.

— Logan Ryder... — Estou piscando para ele, tentando


respirar, minhas mãos sobre o seu peito, sentindo sua
respiração, sentindo o trovão do seu batimento cardíaco sob a
palma da minha mão direita. — Oi.

— E seu nome é...? — Ele está tão perto, tudo o que


posso sentir e tudo o que posso cheirar e tudo o que posso
provar, seu cheiro está me consumindo e seu calor é todo
envolvente, e eu não posso dar-lhe o meu nome, porque é
tudo o que tenho para dar, a moeda não me atrevo a passar.

Eu apenas balanço a cabeça.

— Eu não posso. Eu não posso. — Longe dele, forçando


as minhas pernas para obedecer à prudência de minha
mente, em vez de o desejo do meu coração e corpo.

— Posso lhe contar um segredo, Cinderela?

— Se você quiser. — Eu ainda estou lutando para fazer


meus pulmões operar, e ele sai ofegante.

— Eu não tenho ideia do que estou fazendo agora. —


Seus dedos cavam a carne logo acima do meu traseiro,
segurando-me firmemente contra ele.
| 235

Como se eu pudesse me mover; estou paralisada por


essa sensação.

— Nem eu, — eu admito.

Ele sorri maliciosamente, e uma de suas mãos sobe para


o meu rosto. Segura a minha bochecha. Seu polegar escovam
as maças do meu rosto.

Sinto-me absurdamente perto das lágrimas, por alguma


razão inexplicável.

— Talvez sim, mas eu sou o único a fazer isso... — Ele


respira, e me beija, me beija, e me beija.

Ou... ele teria, mas eu tropeço para trás no fragmento de


segundo antes que seus lábios toquem o meu, coloco uma
distância suficiente entre nós, e o beijo é interrompido antes
que ele possa me arruinar.

Ele suspira, a uma curta pequena lufada de espanto e


frustração e desejo.

BAM! - BAM!

Um punho pesado bate duas vezes na porta, e eu salto,


tropeço para trás e afasto até minha espinha achata contra a
porta. Eu fico olhando para Logan, olhos ardendo e pulmões
| 236

doloridos para o ar, com as mãos tremendo.

Eu empurro a porta aberta e escorrego para fora do


disso, bato com força contra o peito de Thomas.

— Aonde você vai? — Sua voz fortemente acentuada, é


grosso como o petróleo, mais profundo que canhões.

Suas mãos seguram meus ombros, me define vários pés


para trás, longe dele, me viro.

— Eu entrei no banheiro errado por engano.

Uma pata maior do que de um urso envolve meu braço,


suavemente, mas implacável, e leva-me para longe do
banheiro.

— Da próxima vez, eu entro com você.

De volta para o salão de baile. Len está lá, de braços


cruzados, olhos infelizes. E Jonathan, no bar a poucos
passos de distância, bebendo.

Algo está encerrado, algo mais começou.

— Madame X. Você deve prestar mais atenção ao qual


banheiro entrar. — A voz de Len é afiada, uma falsa amizade
acentuada. — Você não gostaria de me ver preocupado para
onde você tinha ido, vai?

— Não, as minhas desculpas. — Eu caço para uma


explicação adequada. — Foi uma coisa feminina. Inesperado.
| 237

Eu tenho certeza que você entende.

A mão de Thomas ainda em torno de meu braço, Len na


minha frente, eu luto para respirar, para a calma. Finjo o
sabor de um quase beijo ainda permanecem em meus lábios.
Espero que minha pulsação frenética não possa ser ouvida
sobre a banda. Estou tonta.

A conversa acabou, e todos já emparelhados em casais


para dançar, algumas pessoas ao longo das bordas da
multidão, observando, esperando, bebendo.

Jonathan me leva para a pista de dança, onde os casais


valsam e giram e balançam. Suas mãos estão educadamente
colocadas na minha cintura e sua mão está na minha,
quente, seca e solta. Ele lidera com facilidade praticada, me
guiando através de uma dança, e depois outra. Fazemos uma
pausa quando a banda faz um intervalo, e nós saboreamos
um vinho que eu acho muito claro, frutado, e doce demais. E,
em seguida, a banda toca de novo, e ele me leva de novo para
a pista de dança, ajusta a sua mão na minha cintura, onde o
seu toque não pode ser interpretado como qualquer coisa,
mas platônico. Ele joga conversa fora, mas eu deixo ela me
levar, sem responder, e ele parece esperar isso, para
compreendê-lo, carregando em uma mão única conversa
sobre, eu não sei mesmo o que.

Eu não estou pensando em você.


| 238

— Posso interromper? — Oh, sua voz. Agora afiada e


expectante, não deixando espaço para a desobediência.

Você não tem chance, doce Jonathan.

Mãos fortes, quentes e rígidas me levam, me giram na


pista de dança embora, e seus passos não são tão
experientes, tão suaves, mas poderosos, implacáveis e
confiantes. Sua mão não está na minha cintura, não é
educado, não platônico. Sua mão está no meu quadril, me
colocando intimamente. Não completamente inadequado, mas
quase. Os dedos estão emaranhados no meu, em vez de
apertando como amigos.

— Oi, — ele diz, e olhos índigo encontram o meu.

— Oi, — eu respiro trás.

E nós dançamos. Nós balançamos e valsamos em


círculos graciosos, e o tempo é como a água, uma passagem
música e depois dois, e eu não consigo desviar o olhar. Não
desejo. Os olhos dele me procuraram, e parece-me ver. Leia-
me, como se eu fosse um livro familiar e amado, perdido há
muito tempo e só agora descobriram mais uma vez.

— Qual é o seu nome, Cinderela? — Sua testa toca a


minha, e eu temo a intimidade da cena, a mão no meu
quadril, seus dedos entrelaçados com os meus, os nossos
corpos muito perto.
| 239

Eu devo terminar está dança.

E me afasto.

— Espere! — Ele pega a minha mão e me puxa de volta


contra ele.

Estamos perdidos na multidão de dançarinos, mas sei


que Len está assistindo e assim Thomas, e assim Jonathan, e
isso não pode acontecer, não deveria estar acontecendo. Ele
está muito próximo. Ele me toca como se nós fossemos
moldados, providos e formados para pertencer um ao outro,
como se ele me conhecesse, como se meu corpo fosse seu
para tocar.

— Por que você não apenas dize-me o seu nome? — Ele


soa quase desesperado.

— Eu não posso. — Eu não sei de que outra forma de


explicar isso.

— É apenas um nome, querida.

— Não é. É mais do que isso. É quem eu sou. — Eu


quero sorrir, quero me jogar nele, para provar seus lábios,
para sentir o calor duro do seu peito e o calor de seus braços.
Eu quero dizer um milhão de coisas traiçoeiras.

— Exatamente. — Seus dedos deixam a minha mão e


escorregam e deslizam até meu antebraço, e Deus, as pontas
dos dedos na parte de baixo da proposta de meu antebraço é
| 240

tão íntima e tão suave que eu não posso respirar e eu estou


excitada por essa intimidade inocente, minhas coxas
apertando juntos como eu olhar para ele, apenas as pontas
dos dedos no meu braço, arrastando a partir do pulso para
cima e até ao cotovelo, de volta para baixo, rastreamento e
cócegas.

— Eu quero saber quem é você.

Seus dedos vão para meus lábios, tocá-los, onde seus


lábios quase tocaram os meus. Eu balanço minha cabeça.

— Você não pode.

— Por que não?

— É impossível.

— Nada é impossível.

Eu não tenho resposta para isso. Só posso puxar meu


braço livre, e ele não pode fazer nada, a não ser permitir. Vou
embora, e isso dói, dói, o impulso de olhar para trás. A
atração para retornar a ele e terminar o quase beijo é como
um fio esticado espetado através do meu coração, arrancado
a zumbir como uma corda de harpa. Cada passo longe de
Logan faz todo o meu ser cantar a canção de cordas
dedilhadas.

Eu o encontro no outro lado do salão, encostado na


parede com um copo de vinho na mão, envolvendo Len na
| 241

conversa. Eu ouço palavras cogitadas e para trás que eu


acredito que são termos de carro, o tipo de coisa que eu
imagino que homens discutem entre si em uma língua
estranha toda a seus próprios: cavalos de potência e torque e
cilindros.

Thomas, no entanto, está à beira da multidão dançando,


e aqueles grandes olhos negros em mim, e eu me pergunto o
quanto eles viram.

— Madame X? — Jonathan diz meu nome, como se


suspeitasse de algo.

— Eu estou bem, Jonathan. — Eu me recuso a olhar em


qualquer lugar, mas ao vermelho escuro, levantou-se em sua
lapela. Eu não tinha notado isso antes. Ele corresponde à
sombra do meu vestido exatamente.

— Eles estão nos sentando para o jantar. — Ele me


escolta, guia-me através da multidão, através de um conjunto
de portas vigiadas, a um enorme salão cheio de grandes
mesas redondas com seis talheres cada.

Há um palco na frente da sala. A tribuna, um microfone.

O jantar é muito tranquilo, silencioso, formal. Garfo


fora, garfo dentro, colher fora colher dentro. Água gelada.
Saboreio vinho branco. Mordisco saladas verdes, uma fatia de
pão, em seguida, um jantar de codornas desfiadas e arroz
| 242

integral e vagens de ervilha picantes cozidos em óleo. Como o


jantar termina, e um delicado mousse de chocolate escuro é
trazido a mesa, um robusto homem de meia-idade sobe ao
palco, ajusta o microfone, bate-o. Fala em tons lentos e
preciosos, apresentando os itens a serem leiloados esta noite.
Uma pintura original de valor inestimável. Um colar de safira
de duzentos anos de idade. Uma cadeira que pertenceu ao rei
Luís XVI. Uma antiga Roman Gladius Hispaniensis.

Jonathan dá um lance sobre o colar. Cem mil. Duzentos


mil. Duzentos e cinquenta mil. Ele é irresponsável com o seu
dinheiro, eu acho. Ele ganha o lance.

A espada capta minha atenção. A bainha é de bronze, o


punho de osso polido, a lâmina tão antiga e sem caroço e
enferrujado que sua forma é quase perdida. Esta é a joia da
coroa do leilão, um pedaço da história com qualidade de
museu. Os lances começam em um número incompreensível.
Três homens no lance: um velho com quatro mechas de
cabelo branco envolto em toda a careca, um homem
ridiculamente bonito que eu assumo é uma estrela de
cinema, e...

Ele.

A mesa contém dois outros casais, um par de


celebridades, o outro um casal de idosos ignorando o leilão
completamente. A cadeira ao lado de Logan está vazia, o
| 243

ajuste do lugar removido.

Ele descansa em sua cadeira, um copo de vinho tinto


segurado pela haste em uma mão. Como a licitação continua,
ele levanta o copo como seu sinal, rubi líquido balança na
taça.

A licitação atinge sete dígitos.

Preciso desviar o olhar, mas não posso.

Ele é um jaguar, as características perfeitas e elegantes,


compacto, fácil poder realizado em repouso, exalando ameaça
simplesmente por sua mera existência. Cabelo loiro como
uma queda do ouro, penteado para trás em mechas torcidas e
onduladas em torno de seus ouvidos, as extremidades
escovar colarinho. Olhos índigo varrendo o salão.

Encontrando-me.

Ele não desvia o olhar. Mesmo quando ele levanta o seu


vinho em uma tentativa silenciosa, ele não desvia o olhar.

Nem eu.

Jonathan está ao meu lado. Logan está do outro lado do


salão. Caleb Indigo está sob minha pele.

Eu estou sem pulso, sem respiração, sem funções vitais.


Tudo o que eu sou é visão, a guerra de nervos, o fogo da
necessidade, a calcificação do medo dentro da minha
| 244

garganta.

— Amigo seu? — Ele pergunta, sua voz baixa, lançada


aonde somente eu posso ouvir.

— Não. — É a única resposta de que sou capaz.

— Você é uma mentirosa melhor do que isso, X. Eu vi


vocês dois dançando. — Ele toma um longo gole de uísque. E
bebe pesadamente. Eu me preocupo. — Logan Ryder. Eu já
ouvi falar dele.

— Oh? — Eu me esforço para parecer casual, e quase


tenho sucesso.

Mas meus olhos ainda estão bloqueados, puxados,


hipnotizados, atraídos para o olhar exótico do homem do
outro lado do salão. Eu devo desviar o olhar ou trair-me
ainda mais. Somente... sou incapaz. Torno-me fraca.

Minha vontade é eviscerada pela memória de um quase


beijo. Estou destruída pelo desejo de terminá-lo, para
consumar o beijo.

— Ele é uma espécie de um mistério no mundo dos


negócios. Tem seus dedos em uma dúzia das tortas mais
lucrativas na cidade, mas ninguém sabe nada sobre ele. Onde
ele obteve o seu dinheiro, o quanto ele vale, onde vive, nada.
Apenas apareceu um dia em cena, investindo aqui e ali. Ele
tem uma habilidade fantástica por liquidar direito, quando os
| 245

preços são melhores. Ele nunca vem a eventos como este,


entretanto. Recluso total. — Ele soa especulativo. — Ele é um
cliente de vocês?

— Não.

— Mas você o conhece.

— Não, eu realmente não conheço. — Eu sôo quase fria,


quase mesmo, quase aceitavelmente casual.

Jonathan se inclina perto.

— Eu vou dar-lhe a sua mentira, Madame X. Devo-lhe


muito.

— Eu não estou...

— Só me faça um favor, você vai?

— O que é isso? — Eu forço meu olhar, ao longo, longo


finalmente, até o meu prato vazio. Não tenho conhecimento
de ter comido a sobremesa, mas não há mais nada a não ser
manchas marrons e migalhas. Eu sinto seus olhos ainda me
observando de longe, mesmo com a minha própria fechada,
comprimida.

— Pare de fingir, eu a conheço melhor do que isso. Pare


de fingir, eu vi a maneira como vocês dois dançaram. Vocês
podem não conhecer um ao outro, mas você o quer.
| 246

— Não, eu não.

— Não? — Seus olhos são nítidos, até demais.

— Não. — Eu engulo em seco, forço os olhos para o seu.


— Eu sou leal a Caleb. Mas eu concordo em esquecer o
assunto se você for.

— Por mim tudo bem. — Ele se levanta. Estende a mão


a minha, me ajuda a levantar. Assim que eu estou de pé, ele
deixa-me ir. — Eu já tive o suficiente desta merda de show.
Vamos.

— Muito bem. — Eu realizo um milagre: eu não olho


para trás. Nem uma única vez.

Nenhuma esposa de Lot, eu.

Jonathan, Thomas e Len, todos os três me escoltam


para fora do prédio. Estou na liderança, escapando dos
limites quentes do edifício. Uma vez que estamos fora da
noite, sirenes uivam e buzinas tocando e oito pessoas passam
entre mim e a entrada em um bando conversando, rindo,
arrastando nuvens de fumaça de cigarro e alegria. Dedos
entrelaçados no vermelho transparente nas minhas coxas, eu
agrupo as saias, levantá-los clara da calçada. Olho para fora
e para cima para o céu noturno, nas praças de janelas,
edifícios familiares visto de um ângulo estranho, táxis
amarelos em fileiras cerradas. Semáforo de Trânsito, ciclismo
| 247

de verde para amarelo para vermelho, as luzes muito maior e


mais brilhante daqui de baixo.

Ignoro Thomas, ignoro o seu olhar interrogativo, ignoro


as sobrancelhas intrigadas do Len levantadas em um arco.
Eu passo longe, saias, realizada em torno de meus tornozelos,
saltos clicando no concreto. Liberdade. Maduro, ar espesso
em meus pulmões, ruídos na minha orelha.

O salto dos meus sapatos pega uma rachadura na


calçada e eu tropeço, um pé descalço no concreto frio agora.
Eu tropeço, quase caio no chão. Mas um corpo rígido está lá,
um braço em volta da minha cintura.

Uma porta, sustentadamente aberta com uma cunha,


uma explosão de repente familiar de perfume: canela, vinho,
e agora a fumaça do cigarro, fortemente.

Eu olho para cima, e lá está ele.

— Cinderela. Você está bem?

Eu não posso estar tão perto dele. Não é possível.

Eu me afasto, com a intenção de deixar o meu sapato


pego na calçada. Eu tenho que ficar longe dele antes que eu o
beije. A necessidade de provar sua boca é esmagadora, a
necessidade de sentir seus braços em volta de mim está me
consumindo.

— O seu sapato. — Ele se inclina, recupera meu sapato,


| 248

e entrega-o para mim.

Deslizo-o no meu pé, e depois Thomas está lá, uma


grande mão segurando meu braço, me transformando no
lugar.

— É hora de voltar agora, Madame X.

Eu vejo uma luz nos olhos de Logan quando Thomas


fala o meu nome.

Eu caminho ao lado de Thomas volto para o carro.

Oh, eu viro e olho para trás. Eu devo.

Coloco um pé no carro, uma mão no telhado. Olho para


fora ao longo telhado e capô elegante, assistir o flash do
semáforo ir para verde brilhante, os carros em uma fila
acelerando. Outra multidão de pessoas passa sob o toldo,
mas esta é uma multidão incidental, nenhum falando com os
outros.

Ele está lá, me observando atentamente, cabelo loiro


solto e ondulado. Uma mão no bolso da calça, o outro levanta
um cigarro aos lábios, um círculo de laranja brilhante
lançando seus olhos e testa e maçãs do rosto altas
acentuadas em iluminação, uma breve pausa, e uma nuvem
de fumaça branca se enrolando e longe e dissipando.

Esta é uma vinheta, visto em uma rápida olhada, e


depois Thomas me pressiona suavemente, mas firmemente
| 249

para baixo e para dentro do carro, a porta fecha-se com uma


conversão suave, e então ele está fora da vista como o
Maybach arredonda um canto.

Vejo-o ainda, porém, seus olhos em mim através do véu


de fumaça, me vendo, buscando, me querendo tanto quanto
eu quero que ele.

Em minha porta, acompanhada por Thomas, Len, e


Jonathan, eu desejo apenas por um momento tranquilo e
sozinha, para ter uma palavra com Jonathan. Em vez disso,
Len e Thomas permanecem na soleira da porta do elevador,
bloqueando-a aberta, deixando claro que ele não estará
entrando comigo, mas sim saindo com eles.

— Obrigado por ir comigo esta noite, Madame X.

— Não há de que. — Eu ofereço-lhe um pequeno,


apertado, triste sorriso. — Adeus, Jonathan. E boa sorte com
o seu negócio.

— Você também. — Seus dedos se movem em seu bolso.


— Espere.

Faço uma pausa com a minha porta aberta. Ele se


aproxima, leva-me pelos ombros, me vira. Ele fica atrás de
| 250

mim. Eu o sinto, ouço sua respiração. Algo frio e cortinas


pesadas contra o meu esterno. Eu olho para baixo, vejo uma
enorme safira. O colar antigo que ele ganhou no leilão.

— Jonathan...

— Não está em debate, X. — Suas mãos trabalham na


parte de trás do meu pescoço, enquanto fixa o fecho. Ele dá
um passo para trás. — Lá.

Dirijo-me, e ele sorriu. Aceno com a cabeça.

— Por quê? — Pergunto.

Ele dá de ombros, e há aquele sorriso, aquele sorriso


despreocupado.

— Porque eu posso. Porque eu quero. Parece perfeito em


você.

— Por que você comprou isto, Jonathan? Não é para


mim, com certeza.

Ele dá um encolher de ombros novamente, menos fácil


desta vez.

— Porque meu pai estava lá. Para fazer um ponto.

— Você gastou um quarto de milhão de dólares para


ofender seu pai, para lhe mostrar que você poderia, só por
que?
| 251

— Sim, basicamente.

— Isso é infantil. — Eu chego a até soltar o colar.

— Talvez, sim. Mas é a minha decisão infantil para


fazer. Mantenha-o, X. O meu presente para você. — Algo em
sua voz, algo em seus olhos me convence.

Abaixo minhas mãos. Levanto os dedos dos pés, abraço-


o brevemente, platonicamente.

— Tudo bem, Jonathan. Nesse caso... obrigada.

— Não há de que. — ele me saúda, dedos indicador e


médio juntos, tocaram a sua testa. — Até mais.

E ele se foi.

Eu não o verei novamente. Eu sinto mais tristeza com


isso do que eu tinha esperado.

Sozinha, finalmente, eu estou na minha janela favorita.


Assisto os táxis e os caminhões de entrega passar, vejo o ciclo
de semáforo mais próximo verde -âmbar -vermelho, sentindo
a memória de ar livre em meus pulmões, o som de buzinas e
sirenes e vozes, o cheiro da cidade.

Olhos índigo.

Polegar na minha bochecha, lábios nos meus, algum


conhecimento inexplicável de um segredo para sempre
passado em momentos roubados no banheiro dos homens, a
| 252

sensação de respiração na minha respiração, uma voz quente


e fortes mãos suaves, o cheiro de canela e cigarros.

Eu quero chorar por aquilo que eu perdi quando deixei


aquele banheiro.

Mas eu não posso, porque eu não sei o que foi que eu


perdi, só que ele se foi, e que significou tudo para mim.
| 253

Capítulo Onze

Acordo de repente e completamente, sentindo uma


presença.

— Caleb.

— X.

É escuro, totalmente. Mas eu cheiro sua assinatura,


colônia picante, ouço uma respiração ligeira inalado,
expirado. O arrastar de um pé na madeira.

— Que horas são, Caleb?

— Três e quarenta e seis da manhã.

Eu não sento. Permaneço no meu lado direito, de costas.


Permito-me um toque de veneno na minha voz.

— O que você quer, Caleb?

— Eu já tive o suficiente de sua atitude. Eu disse que


estava arrependido. Acabou. — Minha cama mergulha. Uma
mão no meu quadril, sobre o cobertor.

— Não tenho o direito de minha própria raiva, Caleb?


| 254

Você me machucou. Você me assustou. E sobre o quê?

— Você não fala comigo assim. Você não me questiona.

— Ou você vai me estrangular? Como William fez?

— Ou eu vou estar com raiva. E isso não é um bom


lugar para que eu esteja não para qualquer um. Menos do
que tudo para você. Eu não tive a intenção de lhe machucar,
X.

— No entanto, você fez, e eu não estou bem com isso, —


eu digo.

Eu desejo desesperadamente empurrar a mão dele, mas


ele desliza para cima da minha cintura, e os dedos enroscam
no cobertor. Afasto-o. Agora estou com frio.

Mão enorme dura, empurrando-me as costas. Eu não


resisto. Ainda não.

— Vamos, X. Esqueça.

— Você não acha que eu tentei? Eu não posso. Eu não


posso simplesmente deixá-lo ir, Caleb. — Eu finalmente
sento-me, desejando que eu pudesse tirar os cobertores em
torno de meu peito, mas eles foram deixados de lado, e é
escuro, e eu não corro o risco de fazer contato físico.

— Droga. Tudo isso por causa daquela estúpida Sara. —


Raiva, crua e abundante.
| 255

— Sara não colocou as mãos em minha garganta, Caleb.


Você o fez.

— E eu nunca vou ser perdoado por isso?

— Eu não sei. — Lembro-me o gosto de vir na minha


boca, naquele dia.

A forma como o meu serviço sexual era apenas...


esperado. E determinado tão facilmente, sem dúvida. Eu me
desprezo. Eu me detesto por me deixar cair de joelhos e
colocar a minha boca em que a ereção espera, para fazer o
que me foi dito, sem questionar. Por que eu faria isso? O que
eu sou para oferecer tal subserviência pronta?

Talvez tudo isso é uma refração, tudo distorcido pela


minha memória de um toque muito diferente na minha pele,
a forma como os lábios tocaram o meu.

— Não. — Eu digo com firmeza.

— Não? — Divertia-se agora. — Não, você não vai me


perdoar?

— Não.

Mãos em meus braços, tateando, buscando,


encontrando a parte de trás da minha cabeça. Puxando-me.
Calor e sensação de peso em cima de mim.

— Eu acho que você vai, X.


| 256

— Caleb... — Eu resmungo, presa, claustrofóbica,


sentindo sua presença opressiva esmagando-me para baixo e
para baixo e para baixo até a cama, até que eu estou deitada
e as mãos são difusas sobre a minha pele, raspando o
algodão solto da camiseta que visto como uma camisola,
empurrando-o em torno de minha garganta, expondo meus
seios para as sombras. Tudo é escuridão, e peso, e minha
pele a ser tocada. Palmas das mãos, suaves, mas insistente.
Dedos encontraram e puxaram a minha calcinha.

— Caleb. — Encontro resistência. — Eu não quero isso,


Caleb.

Lábios, na minha pele, em minha barriga. Cabelo


fazendo cócegas no meu quadril.

— Sim, você quer.

O problema é que meus hormônios se lembram do que


essas mãos podem fazer. A fenda úmida entre as minhas
coxas se lembra do que aqueles dedos podem fazer, e sua
ereção eu sei que está pronta à espera pode fazer. Eu me
lembro, e eu sinto a contradição. As mentiras, confusas e
misturadas. Eu minto. Eu quero isto. Sei que o aconteceu foi
um momento de raiva, isolado. E eu sei, também, que talvez
não seja tão isolada. Talvez, se eu fizer a pergunta errada,
dizer a coisa errada, desejo o impossível, talvez aquelas mãos
que podem oferecer tal prazer vai oferecer a dor mais uma
| 257

vez. A dor como punição. Outro momento acidental de


estrangulamento, até mesmo um punho ou a mão aberta.
Quem sabe?

Lembro-me também um momento roubado no banheiro


masculino, e a sensação de segurança absoluta.

Quem sou eu, e o que eu quero?

Será que isso importa mesmo o que eu quero?

— Veja? Eu posso sentir seu cheiro, X. — Um nariz,


esfregando minhas coxas afastadas, inalando. — Sinto o seu
cheiro. Você quer isto. Você me quer. Você sempre me quis, e
você sempre vai. Você sabe, e eu sei disso.

Eu me contorço, saltos de sapatos cavam o colchão,


sinto meus quadris levantarem da cama no furto molhado de
uma língua. Uma emoção, punção através de mim. Tanto
prazer, a ponta da língua cócegas e girando no ponto preciso
onde eu vou sentir mais prazer, recomeçando, passando
rapidamente.

Mas é mais forte do que o prazer a auto aversão. O ódio


de mim mesma por sucumbir, por ser fraca, por ceder, por
deixar prazer ditar minhas ações. Por deixar o prazer tirar a
pouca liberdade que tenho.

Eu chego para baixo, emaranhando meus dedos no


cabelo grosso... e empurro.
| 258

— Não, Caleb. — Eu torço, rolo.

Deslizo para fora da cama. Encontro o interruptor de


luz, ligo-o. Olhos escuros, apertando os olhos contra a luz
repentina. Despenteado, cabelo preto imperfeito. Uma
mancha da minha essência ao redor da boca expressiva.
Camiseta, calças de terno.

Com os pés descalços, lindo e brutal.

Como eu nunca vi a brutalidade, antes?

— X... o que está acontecendo com você?

Estou quebrando. O status que está desmoronando.

— Eu não posso querer-te, Caleb. Mas eu posso ajudar a


ceder a ele.

— Ceder a ele? Como é proibido, ou algo assim? Que há


algo de errado com ele e eu transando? — Um passo ao redor
da cama, mais perto de mim. Aglomerando-me em um canto.

— O que somos nós, Caleb? Quem sou eu? O que eu


sou para você? Aonde vai tudo isso? Porque eu sou... — Eu
engulo, solto um suspiro. — Às vezes, Caleb... às vezes me
sinto como uma prisioneira aqui. Sinto-me como sua
prisioneira.

Uma respiração, dura e longa e trêmula. Uma mão


passando para baixo da testa ao queixo.
| 259

— X... vamos lá, não seja assim. Esta não é você. Por
que você está me fazendo essas perguntas? — Eu estou
contra a parede, e grandes mãos pousam em ambos os lados
do meu rosto, me incriminando, prendendo-me. — Você
morreu, X. Você não tem ninguém. Você não sabia nada de si
mesma. Eu a ensinei a andar novamente, a falar novamente,
a ser uma pessoa novamente. Eu lhe dei um lar, um conjunto
de habilidades. Dei-lhe um emprego. Dei-lhe uma vida.

— E em troca, tudo o que tenho a fazer é ter sexo com


você? Chupar você sempre que lhe apetecer? Nunca faça
perguntas? Nunca queira mais?

— Isso não é como é, X.

— Certamente parece, às vezes.

— Você está errada. Nós temos algo. — A respiração na


minha bochecha.

Olhos escuros repletos de emoções indecifráveis. Não


consigo ler este rosto, não posso ler aqueles olhos expressivos
marrons. Esta, a proximidade, a honestidade, é nova e
desorientadora. É como se uma veia na montanha fosse
aberta, revelando uma fenda, deixando escapar a pressão
reprimida por muito tempo.

— O que nós temos, Caleb? Explique isso para mim. —


Silêncio. — Você me salvou, sim. Você forneceu para mim,
| 260

sim. Lembro-me de tudo isso. Eu não me esqueci. Mas isso?


— Eu coloco minhas mãos para fora, toco os músculos
peitorais duros, movo as minhas mãos entre o meu corpo e o
dele.

— Não sei o que somos. O que é isso. O que você


realmente quer de mim. Eu vi você com outra mulher. Você
tem um monte de mulheres, você disse isso. Você visita
mulheres por toda a cidade e você transa com elas? E então
você volta aqui, para mim, sempre que você sente que quer
algo diferente, e você me fode, também? Mas eu não estou
autorizada a questionar isso? Eu não tenho permissão para
até mesmo dar um passeio lá fora?

— Você tem um ataque de pânico só indo para fora.


Você não sabe o que fazer lá fora, X. Nós tentamos, lembra?
Você ficou sobrecarregada. Você para de respirar. Eu não
estou mantendo-a prisioneira, eu estou mantendo-a segura.

Eu me lembro. Os primeiros dias, havia passeios fora,


na cidade, nas calçadas, tarde multidões correndo por nós.
Eu tinha que fazer isso, mas o barulho e o calor e os
inúmeros rostos e a babel de vozes, as sirenes, os carros...
tudo caiu sobre mim, me batendo ao chão, fazia meus
pulmões fecharem e meus olhos ficarem tontos, fazia o
mundo girar e minha cabeça latejar e eu tinha que ser levada
de volta para dentro até que eu pudesse respirar de novo,
trancada no meu quarto, na escuridão, com o mantra
| 261

sussurrou em meu ouvido:

Você é Madame X. Sou Caleb Indigo. Eu a salvei de um


homem mau. Você está segura aqui. Vou mantê-la segura.
Você é Madame X. Sou Caleb Indigo. Você está segura comigo.
Nunca vou deixar ninguém lhe machucar novamente. É tudo
apenas um sonho ruim agora. Você está segura. Você é
Madame X. Sou Caleb.

De repente está lá, essas palavras, o mantra,


sussurrada em meu ouvido, aqui e agora, no meu quarto,
neste momento. Lembrando-me, trazendo-me de volta para
quando o mundo era novo, quando eu estava nascendo em
personalidade. Quando eu estava reaprendendo que língua
era, o que significava para falar e ouvir e caminhar, pensar e
estar vivo.

— Eu sou Madame X. Você é Caleb. — Eu não posso


ajudar, sussurrando-o de volta. — Você me salvou. Você me
ensinou tudo o que eu sou.

— É isso mesmo, X. Você está segura aqui.

E, pela primeira vez em seis anos, pela primeira vez


desde a noite de sonhos e monstros de olhos vermelhos e de
sangue, sinto um beijo pressionado para meus lábios, suave e
lento e hesitante, como se para beijar, assim é tão novo
quanto é para mim.
| 262

Não me atrevo nem a respirar até que os lábios se


afastem. Não ouso. Respirar seria inalar o veneno da verdade,
misturado com confusão, atado com sedução.

Eu pressiono as palmas das mãos em seu peito. E


empurro.

— Eu cresci, Caleb. Eu mudei. Eu aprendi coisas novas.


Não tenho certeza de nada mais. Muito menos você e eu.

— Droga, X. — Assovia. — Não faça isso comigo.

Um longo, longo silêncio. Não me movo, porque eu não


posso. O corpo pesado, perfeito ainda me cerca dentro, me
prende contra a parede do meu quarto, os braços ao lado de
meus ouvidos, os lábios não exatamente tocando o meu.

— Não faça isso para mim. — Isto é, quase, uma


súplica.

Eu sinto algo afiado dentro de mim. Eu empurro


novamente. Com mais força. Até a parede do peito e braços e
coxas gira distância. Eu arremesso calor e raiva, deslizo para
a minha cama, quase nua, com uma camiseta de algodão fino
cuja bainha apenas mal cobre o meu traseiro. Eu desvio o
olhar examinando. Respiro profundamente, de forma
uniforme.

— X?
| 263

Eu não respondo.

Um suspiro. Parece... triste. Desamparado. Solitário.


Nitidez em mim, algo duro e calejado. Algo que lembra um
momento no banheiro masculino, quando me senti segura.

Quando um beijo me fez sentir...

Estimada.

Eu fui mudada naquele momento roubado com um


estranho.

E eu não posso voltar.


| 264

Capítulo Doze

Um mês inteiro passa.

Eu faço o meu trabalho, finjo ser indiferente e intocável,


agarro e insulto ricos rapazes e corrijo a sua gramática e sua
postura, empurro-os ao limite de sua tolerância. E então,
quando eles começam a pensar mal de mim, eu lhes permito
orientar a conversa, finjo me importar quando falam,
incentivo-os, os deixo testar o seu charme em mim. Finjo
estar encantada. Finjo ser quase seduzida. Finjo estar
perturbada quando eles chegam muito perto. É tudo um jogo.
Tem sido sempre um jogo. Mas agora, parece ainda mais um
jogo. Estou dormente por dentro, e a carga de jogar é pesada.

Sozinha, eu espero. Mas a minha porta do quarto não é


escurecida novamente. Não há profundas visitas da noite.

Que sentimento é esse, mais sensações de alguma forma


sem peso dentro? É esperança? Alívio? Deveria me sentir
aliviada que as visitas parecem ter terminado? Devo minha
vida. Meu eu. Meu passado e meu futuro.

É uma dívida pesada.


| 265

Algo mudou, e eu não consigo precisar o momento exato


quando, ou como, ou por quê. Ou mesmo o quê. Algo a ver
com Jonathan, estranhamente. Vendo sua transformação,
talvez o único verdadeiro sucesso que eu já tive, observando-
se desdobrar e renascer fora de seu casulo, tornar-se um
homem que vale a pena conhecer. Fez uma mentira do que eu
faço, para a alteração era tudo próprio fazer dele. Eu dei o
impulso de ver a necessidade de mudança, talvez, mas que
no máximo apenas. Eu não fiz nenhuma mudança.

Agora eu me pergunto que tipo de serviço que presto.


Uma vez eu pensei que eu fiz algo de valor. Mas agora eu me
pergunto. Esses jovens que passam por minha vida, o que eu
faço por eles? E o pagamento que recebo por isso?

Como é que eu existia, de alguma forma o termo viver


parece muito forte, de repente, por tanto tempo, não tendo
feito nenhuma pergunta?

Fui flutuando, fazendo o que me disseram, cega de bom


grado.

Agora vejo mais claramente, mas tudo o que sou capaz


de fazer é contornos de ausência, a forma de tudo o que está
faltando. Eu vejo o quanto eu não sei.

E então, um dia, seis semanas após o evento do leilão de


caridade, a minha porta se abre, e meu coração para de
| 266

bater.

Sento no meu sofá, tomando chá, esperando meu último


cliente do dia. Estranhamente, eu não recebi nenhum
relatório, sem contrato. Apenas um aviso informando que o
horário final do dia seis e quarenta e cinco da tarde, foi
preenchida no último minuto. O cliente irá fornecer todos os
materiais necessários no momento do serviço.

Sento-me, perna enganchada recatadamente sobre o


joelho, e espero. Aliso meu vestido sobre minhas coxas; é um
vestido branco com um decote quadrado, a bainha caindo a
uma polegada acima dos joelhos. Saltos de cunha aberto
azul. Cabelo em um nó enganosamente complicado na minha
nuca, o pingente de safira no meu peito.

Ding.

Assisto a porta se abrindo, vejo o movimento da porta


para dentro. Encolho os ombros, solto um suspiro, forço
minha postura para parecer relaxada, minha expressão vazia,
indiferente. Puxo a barra do meu vestido mais perto de meus
joelhos, de modo a não mostrar muita carne.

Pires na mão esquerda, xícara na minha direita.


Porcelana branco liso, ouro alinhando a borda do prato e da
borda da xícara. Harney & Sons Earl Grey imperial, um toque
de leite.
| 267

Estes detalhes são marcados a ferro em meu cérebro.

Assisto por cima da borda da minha xícara de chá como


a porta se abre, um quadro masculino enche a abertura.
Passos completamente. Fecha-se a porta.

Meu coração gela. Pulmões detém minha respiração.


Xícara de chá em meus lábios, faço uma pausa. Olhos bem
abertos, sem piscar.

É ele.

Logan.

Em jeans escuro azul, apertado em torno de coxas


grossas, um rasgo no joelho esquerdo, na coxa direita.
Contorno retangular de um telefone celular no bolso do
quadril direito. Camiseta preta, com decote em V, abraçando
as costelas e tórax poderoso, mangas esticadas ao redor do
bíceps douradas. Espelhados óculos de aviador com armação
prata, pendurados no ápice do V. Cabelo loiro ondulado
penteado para trás, pendurada em seu queixo, um fio através
de seus demais azuis, olhos quase roxos. Mandíbula tão
forte, tão forte que podia ser cortada a partir de penhascos à
beira-mar. Maçãs do rosto acentuadas. Lábios se curvaram
em um sorriso quando ele encontra o meu olhar. Lábios que
me beijaram, lábios que roubaram a minha respiração e, com
isso minha vida.
| 268

— Encontrei você. — Eu tremo na intimidade de sua voz


estrondosa e quente.

Parece uma voz que eu sempre conheci, uma voz ouvida


em sonhos esquecidos, os sonhos que você se esquece ao
acordar, sonhos que você deseja poder voltar para superfície,
para a vigília.

Eu gentilmente defino a minha xícara de chá e pires na


mesa de café, de modo a não trair minhas mãos trêmulas. Eu
não posso tirar meus olhos de Logan. Eu também não posso
falar, não posso oferecer tanto como um educado olá.

Ele se move em direção a mim, os olhos em mim o


tempo todo, e senta-se na mesa de centro, uma coisa
resistente de madeira preta espessa e vidro polido, um mapa
antigo do mundo sob o vidro. Tão perto. Joelhos escovam
meu.

Ele se inclina para frente, no meu espaço. Sorri.

— Qual é o problema... Madame X? O gato comeu sua


língua?

Eu respiro, e minhas pálpebras vibram e estou abalada


fora da minha paralisia. Canela e cigarros. Seus movimentos
de mandíbula, rolamento, elevação, comprimindo; goma, a
fonte da canela.

— Logan. Eu. O que você está fazendo aqui? — Nem


| 269

pareço suspeita, preocupada, chateada mesmo. — Como você


me encontrou?

— Uma vez que tinha o seu nome, não foi tão difícil.
Consegui uma consulta com você tão cedo era apesar de
tudo. Você está em alta demanda, ao que parece.

— Por que você está aqui? — Eu tenho que lembrar de


respirar, forçar cada inspiração, cada expiração.

— Eu sou seu seis e quarenta e cinco. — Ele se move


mais perto. — Eu estou aqui para aprender, Madame X.

Cada lufada está cheio de seu perfume, canela picante,


fraco acre apego fumaça de cigarro ao algodão. Outros
aromas, muito fraco para identificar. O cheiro de um homem
que passou por um dia depois de um banho, cheiro de vida,
cheiro de cidade.

— Então como é este trabalho, Cinderela? — Ele aperta


a alça da minha xícara de chá em um grande polegar e o
indicador, levanta o copo, e examina o conteúdo. — Chá,
hein? Tem mais? Eu poderia provar uma xícara de chá. Ou
algo mais forte, se você tem isso.

Eu tomo a desculpa bem-vinda para me afastar, para


encontrar um lugar onde eu possa encontrar minha
respiração, meu equilíbrio.

— Eu tenho chá, ou uísque.


| 270

— Que tipo de scotch?

— Laphroaig. Malte, décimo oitavo ano.

— Ah. As coisas boas. — Ele se move para tomar o meu


lugar no sofá, a minha xícara de chá ainda na mão. — Eu
não me importaria de uma bebida alcoólica, então, — diz ele
com um sotaque falso cadenciado, com os olhos brilhando.

— Como você gostaria que fosse? — Pergunto.

— Puro, por favor.

Eu derramo um único dedo, em seguida, tampo o


recipiente de cristal. Volto, e vejo como Logan coloca os lábios
na minha xícara de chá, seus lábios compatíveis com as
marcas vermelhas pálidas de meus lábios deixadas pelo meu
batom. Dedos voltam à xícara de chá, bebe o meu chá,
substitui o copo no pires. Por que isso me faz tremer, a partir
de ossos da carne, do couro cabeludo aos dedos do pé?

Eu entrego-lhe o seu scotch, e seus dedos na minha


escovam. Minha pele queima, onde ele me tocou. Formiga. Eu
retiro minha mão, enrolo em um punho. Ainda tremo,
arrasada por um toque momentâneo.

Eu não posso me virar, não posso desviar o olhar como


ele agora levanta o copo aos lábios, e eu não posso ajudar,
mas ver como ele inclina o copo, o líquido âmbar espesso
desliza entre os lábios, e eu assisto o pomo de Adão enquanto
| 271

ele engole.

Eu sinto um ciúme para o scotch, tocando os seus


lábios.

E então eu me sinto estúpida por pensar uma coisa tão


ridícula.

Eu coro.

Eu. Ruborizo.

Abaixo minha cabeça para cobrir o meu


constrangimento, mas então ele está rindo quando ele engole
e define o copo para baixo.

— O quê?

— Nada.

Estou em frente ao sofá, ao lado da mesa de centro.


Perto, mas, a uma distância apropriadamente educada. No
entanto, ele é capaz de alcançar, escova minha bochecha com
o polegar.

— Você está corando.

— Não.

Ele ri novamente. Levanta-se, me aglomera.

—Você está. Eu posso dizer. Por que você está corando,


Cinderela?
| 272

— Eu não estou corando. E meu nome não é Cinderella.

— Você é, e eu decidi que ele se encaixa. Eu gosto disso.

— Você decidiu. — Há uma nitidez para o meu tom.

Assim íntimo. Tão perto. Um pé permanece entre os


nossos corpos, mas é muito perto. O ar crepita bastante entre
nós.

Ele sorri, uma inclinação arrogante de seus lábios.

— Eu estou apenas brincando, X.

— Por que Cinderela? — Eu ouço-me perguntar.

— Bem... você apareceu, toda bela do baile, misteriosa e


sexy como o inferno. Todos queriam saber quem você era.
Você saiu com tanta pressa, vocês todos, mas deixou um
sapatinho de cristal para trás. Você não me disse seu nome.
E esse vestido? — Ele deixa escapar uma respiração profunda
e balança a cabeça, como se superar. — Aquele vestido.
Jesus. — Ele dá de ombros. — Parecia um conto de fadas
para mim.

— Entendo. — Afasto, passo até a janela, e eu sinto seu


olhar em mim enquanto eu ando.

Os meus quadris sempre balançam muito quando eu


ando? Minhas coxas sempre escovam tão deliciosamente
contra a outra a cada passo?
| 273

Eu assisto um homem e sua esposa andando de mãos


dadas juntos, treze histórias a baixo. Acho que não posso
inventar uma história para eles. Posso quase me ver lá,
andando de mãos dadas com um homem loiro. Nenhum de
nós fala. Nós passeamos, dedos entrelaçados, movendo-se em
sincronia. Eu não sei para onde vamos, o homem loiro e eu.
Não importa; nós apenas estamos indo, e vamos juntos.

Balanço a cabeça, viro me, congelante, suspiro. Ele está


lá, de alguma forma atrás de mim e eu não o ouvi se mover
ou senti sua presença. Scotch deixado sobre a mesa, com as
mãos soltas ao seu lado. Olhos índigo conhecendo. Vendo.
Perfurando.

— Quem é você, X? — Voz como um arco desenhado


através de um fio de violoncelo, a menor, mais profundo, nota
mais emotiva me acariciando, tremendo meus ossos, fazendo
minha pele arrepiar, apenas sua voz. É como um toque, de
alguma forma íntima.

Como posso responder? Eu sinto um aperto na


garganta.

— Eu não sei. — Minha capacidade de mentira é


enlaçada e descartada pela abertura em seus olhos.

— Você não sabe quem é? — Descrença.

Encontro-me na defensiva.
| 274

— E quem é você, Logan Ryder? Como você responderia


a essa pergunta?

Ele pisca lentamente, enfia as mãos nos bolsos de


quadril, olha para mim por um longo momento.

— Eu sou Logan Ryder. Eu sou um empreendedor, um


investidor anjo, e um filantropo. Solteiro e independente. Um
encrenqueiro semi-reformado.

— Isso é o que você é, Logan. Não quem você é. — Eu


pressiono as costas para a janela, precisando de espaço.

Quando ele está perto, eu não posso respirar, mas não


de pânico. De outra coisa. A expectativa do aperto no peito.
Memória. Medo do que eu poderia fazer se ele pressionar de
novo, do jeito que ele fez no banheiro. Eu não tenho controle
quando ele está próximo. Ele me dá curtos circuitos, e estou
nervosa.

— Nasci em San Diego. Cresci pobre. Garoto surfista.


Passava os dias na praia, nas ondas. Faltava mais escola do
que assistia. — Seus olhos estão distantes, vendo o passado.
— Entrei em uma enrascada. Cai dentro com a multidão
errada. Fiz algumas merdas ruins... vi amigos morrer, e eu
percebi que eu tinha que sair daquela vida ou eu ia acabar
morto ou na cadeia. Pareceu-me no momento em que a única
saída para alguém como eu estava em entrar no exército.
Então eu passei os próximos quatro anos vestindo o verde do
| 275

exército. Nunca vi um combate, mas consegui muita


formação em como trabalhar duro e as festa. Tenho o meu
GED, então algo bom veio disto.

— Esse é o seu passado, não quem você é. — Minhas


mãos são planas contra o vidro frio.

— É mais do que ninguém sabe sobre mim.

— Oh.

— Sim... oh. — Ele sorri. — Eu estou indo para a parte


que começo a definir quem eu sou. Depois que eu me graduei
saí do exército, eu estava entediado. Tinha algum dinheiro
guardado e nada para fazer. Desapontado ao redor um pouco,
começando a me meter em problemas novamente. Eu tenho
um talento especial para o problema, você vê. Ele me segue, e
eu o sigo. Estamos muito estreitamente interligados,
problemas e eu. Conheci um cara num bar em St. Louis. Ele
tinha uma empresa de segurança privada. Conversamos um
bom jogo, me levou a inscrever-se para um passeio no
deserto. Uma turnê como um contratante de defesa virou-se
para dois, virou-se para três. Bom dinheiro, merda ruim. —
Ele dá de ombros. — Saiu após o terceiro, levou meu dinheiro
e fugiu. Eu já tinha visto o suficiente. Feito o suficiente.
Então eu peguei o que eu tinha, comprei um bar em Chicago,
redesenhei-o, rebatizei e recompus. Vendi. Feito isso
novamente. Fiz um bom dinheiro, descobri que eu tinha uma
| 276

boa cabeça para esse tipo de coisa. E eu gostava de sujar as


mãos, rasgando os lugares separando e reconstruindo. Então
eu tive esta oportunidade de investimento... aqui, em
Manhattan. Um investimento de dinheiro grande, grande
risco, grande retorno. Isto.... Não deu certo. Vamos apenas
dizer que o deixei lá.

Sinto um grande buraco no enredo.

— Você está ignorando algo, Logan.

Ele balança a cabeça.

— Sim eu estou. Essa é uma história que eu não estou


interessado em contar ainda. É uma grande parte de quem eu
sou, mas ainda é difícil falar. Ainda aprendendo a superá-lo,
você poderia dizer.

— Mas você me perguntou quem eu sou. Não é tão fácil


de responder, não é?

Ele simplesmente dá de ombros, um elevador gaulês de


um ombro.

— É justo fazer uma pergunta que eu acho difícil de me


responder? Não, claro que não. Mas como você responde a
essa pergunta, me fala algo. Por exemplo, você não respondeu
nada. Você simplesmente virou-se a questão de volta ao redor
de mim. Você está na defensiva. Privada. Impossível saber.
Quem é você, X? — Seus olhos são profundos, e afiados.
| 277

Faça-me uma resposta. Alguma coisa. Qualquer coisa.

Eu não deveria falar sobre mim. Isso nunca foi dito de


imediato, em voz alta. É uma regra não oficial. Não fale sobre
mim mesmo.

Mas como eu não posso? Ele está olhando para mim, os


olhos como os mares mais profundos, turbulentos e repleto
de abismos de tais profundidades impenetráveis eu poderia
se perder e esmagadas e devorados.

— Eu sou Madame X. — É uma resposta, não é?

— Mais. — A demanda tranquila. Um comando.

— Eu... Eu não sei. — Eu me afasto, desesperada,


descanso minha testa contra o vidro e nevoeiro com a minha
respiração. — Você deveria ir.

— Eu tenho cinquenta minutos a mais, X.

Dez minutos? Isso é tudo o que passou? Uma


eternidade, sobrecarregadas e torcido em um círculo, tudo no
espaço de seiscentos segundos.

— Diga-me uma verdade sobre si mesma. Ele não tem


que ser embaraçoso, ou um segredo. Somente... qualquer
coisa.

— Por quê? — Eu sussurro.

Esta deve ser uma conversa simples, mas não é, e até


| 278

mesmo o porquê do que está além de mim. Ele me confunde,


define tudo o que sei de como minha vida funciona em cima
de sua cabeça.

— Porque eu sou curioso. Eu quero saber.

— Eu sou de origem espanhola.

Ele está muito perto. Inclinando-se. Respiração no meu


ouvido.

— Isso não foi tão difícil, foi?

— O que aconteceu? Com o investimento? — Por que


diabos eu estou pedindo-lhe isso?

Ele ri.

— Direto para a jugular. Isso foi... complicado. Certos


elementos do acordo não foram exatamente legal. Eu sabia
disso, mas eu pensei que eu tinha ido através de camadas
suficientes para me manter limpo, você poderia dizer. Mas...
Eu fui traído.

— Então você é um criminoso.

— Era uma vez, sim. Semi-reformado, lembre-se. Todos


os meus atuais esforços do negócio são totalmente legais.

— Você não parece o tipo.

— Qual tipo?
| 279

— Ser um criminoso.

— Cheguei a um ponto em que eu tive que me


reinventar. — Ele ainda está tão perto que eu posso ouvi-lo
engolir, ouvir sua respiração.

Ele ainda cheira aromas fracos de goma de canela, mas


esse aroma é dominado por scotch. Eu não sei o que ele fez
com sua gengiva; um detalhe estranho para se notar. Ele não
está me tocando, embora. Estou de pé no meu espaço.

Por que não estou empurrando-o?

— Reinvenção de si mesmo é difícil, — eu digo.

— Sim. É. — Seu dedo agora, o dedo indicador, no meu


queixo. Basta tocar. Não me viro para ele, apenas tocando. —
Por que você tem que reinventar a si mesmo, X?

— Porque eu... me perdi. — É a forma da verdade, se


falta de substância.

— Você está deixando algo fora, X.

— Sim eu estou.

— Como sobre o seu verdadeiro nome?

— Eu já lhe disse. Meu nome é Madame X.

— Isso não é nem espanhol. — Há um sorriso em suas


palavras, embora eu não olhe para ele para vê-lo. Eu posso
| 280

ouvi-lo, e ele está cegando o suficiente em sua beleza, mesmo


ouvido, mas não visto.

Deixo escapar um longo suspiro, lento.

— É o único nome que eu tenho.

Sinto o sorriso desvanecer. Meus olhos mudam seu foco,


e agora eu posso ver seu reflexo no vidro da janela. Seus
olhos estão procurando, uma mecha de cabelo de ouro em
seu olho. Os cantos dos olhos são plissados, como se de
longas horas no sol. Sua pele é resistida, couro. Áspero. Ele é
bonito, mas duro e afiado, ameaça escorrer de seus poros.
Mas de alguma forma totalmente suave. Tão poderoso, tão
seguro de sua capacidade para eliminar qualquer ameaça
para si mesmo que ele não precisa de postura. Um tigre na
selva que ele sabe que é rei.

— X. Por que X?

Meus olhos vão, por sua própria vontade, para a pintura


na parede. Ele se afasta de mim, e eu suspiro de alívio. Mas
arrasto atrás dele para ficar ao lado dele na frente Retrato de
Madame X. Ele examina-o. Nós olhamos para ele em silêncio
por um longo, longo tempo. Eu, lembrando-me. Ele, talvez,
procurando pistas. Ele não vai encontrar nenhuma pista nas
pinceladas, nem na composição, nem no sujeito, nem no uso
da cor, o preto e o branco e os pardos, não no arco de seu
pescoço ou a nitidez do seu nariz, a palidez de sua pele ou a
| 281

cortina de sua mão. As únicas pistas que se encontram


dentro de mim.

Minha voz, silenciosa na luz dourada da noite. — Eu me


perdi. Eu perdi... quem eu era. Quem eu poderia ser. Eu
perdi... tudo. E eu vi esta pintura. Eu não sei por que, mas
ela me surpreendeu. Eu não tinha nada, sem nome, sem
passado, sem futuro. Eu me vi nesta pintura, e ela... que
significava algo para mim. Eu me vi nela, de alguma forma.
Eu não sei. Eu nunca vou saber. Mas eu escolhi esta pintura.
Madame X. Outros retratos da época, eles recebem nomes.
Mas esta? Somente... Madame X. Ela tem um nome, você
sabe: Virginie Amélie Avegno Gautreau. Mas neste retrato, ela
é Madame X. O tema de uma pintura, nem mais, nem menos.
Algo em que significou algo para mim.

Espero um comentário, algo profundo e significativo. Em


vez disso, ele se vira e se move através da sala para a parede
oposta, Starry Night de Van Gogh.

— E este?

Eu dou de ombros.

— Eu só gosto.

— Besteira.

Franzo a testa na vulgaridade súbita e severa.


| 282

—Logan...

— Conte a verdade, ou diga-me para calar a boca, mas


não minta para mim.

— Eu não estava mentindo. Eu vi, e gostei. Senti-me


vazia, e... em branco. Entorpecida. O tipo de dormência onde
você tem tantos sentimentos que você acaba de parar de
sentir qualquer um deles. Eu não poderia expressá-los, não
poderia expressar qualquer coisa. E esta pintura? Expressa
tanto. Solidão, mas também a paz. Distorção, confusão,
paixão. Insanidade, até mesmo. Há algo para se apegar,
embora, no campanário da igreja. Olhe para ela, e você
poderá ver muitas coisas. Seja qual for o que o seu passado
trouxe-o, há algo desta pintura em você. É claro que, em
seguida... Eu não sabia nada disso. Nem mesmo o meu
nome. Eu só... Sabia que podia olhar para a Starry Night e
que iria me ajudar a fazer o sentido de algumas das muitas
coisas em minha mente.

— Eu tenho tantas perguntas. — Sua voz é calma


quando ele diz isso, como se admitir um segredo que ele teme
irá esvazia-lo.

— Eu também. — Há muito mais verdade nessas duas


palavras que eu possa suportar.

Eu sou obrigada a dar as costas, deixo-me cair no sofá.


Acho que meus dedos enrolados em torno do copo de vidro,
| 283

olhando para o valor do dedo do uísque escocês. Tocá-lo aos


meus lábios. E sim, meus lábios tocam a mancha tênue na
borda, onde a boca dele pressionou contra vidro: uma
intimidade. Meus lábios queimam, minha garganta queima,
meus olhos lacrimejarem, eu tusso e engulo, tusso. Corrida
de fogo líquido na minha garganta se espalha através do meu
estômago e em minhas veias.

Oh.

É por isso que eles bebem essa porcaria.

A pós-combustão, o calor no meu sangue, o calor


torturante no meu crânio... outro sabor, outra tosse -engulo -
tosse, tosse, e o zumbido se expande.

Eu poderia flutuar.

Cotovelos sobre os joelhos, joelhos juntos, pés


afastados, apoiando-me para frente, olhando para o mapa
com sua grafia estranha e curvatura bizarra e relações
geográficas não precisas, estou atordoada e flutuante nas
nuvens, encontro uma folga no meu crânio, algo desconexão
vital. A corda, serpenteando e curvando em si, não mais
anexado.

Sua mão, envolvendo em torno da minha. Não tira o


copo fora, mas sim a sua mão sobre a minha, sobre a minha,
engolindo, envolvente, cobrindo. Ele está no sofá ao meu
| 284

lado. Como? Quando? Ele o é enorme. Ele tem talvez um


metro e oitenta, uma polegada ou mais dois, no máximo.
Compacto. Seus músculos parecem... mais, de alguma forma.
Mais espesso, embora não tão extremamente abaulamento e
perfeitamente concebido como... Balanço a cabeça,
esquecendo de onde essa linha de pensamento estava indo.
Ele é um predador. Cada músculo afiado do uso. Nada sobre
nada excesso. Estou olhando. Indefesa.

Meu olhar é atraído para cima, longe da escultura de


braços e peito e coxas, para cima, para piscinas índigo
tumultuados, tão brilhantes e vividos a ser quase
luminescente.

Oh...

Sou atraída. Caindo para frente. Vejo a eternidade no


tom de azul.

Minha mão, por baixo da dele, aperta o vidro. Sua, na


minha, levanta. O copo com o seu conteúdo scotch toca sua
boca. Eu tiro o copo para cima, minha mão formando o
movimento, derramando o líquido sobre a língua. Eu posso
ver seus dentes, uma mancha cor de rosa da língua. Eu
assisto boba o seu pomo de Adão. Ele não tosse enquanto
engole. Agora o copo, quase vazio, está se movendo para mim.
Minha mão sob a do Logan. Nossas mãos se movendo em
sincronia. Ele traz o copo aos meus lábios, inclino-me, e eu
| 285

engulo.

O fogo queima.

Em minha garganta, em minhas veias,

Entre as minhas coxas.

Calor e umidade, ardente e potente como o uísque


escocês em minha barriga, piscinas entre as minhas pernas.

As narinas de Logan se dilatam, e me pergunto se ele


pode sentir a minha essência. Quanto tempo se passou
agora? Quantos minutos foram tomados na troca de goles, a
minha e a dele? Eles passaram em silêncio, no entanto
muitos são. Mas este silêncio está vivo. Não a mera ausência
de palavra ou som, mas a comunicação de algo mais
profundo, contados alguma linguagem de olhos de reuniões e
mãos para escovar e as respirações, uma sintaxe de olhares
sensuais, e algo ainda mais profundo, algo sinto no intestino,
algo compartilhado que não podem ser enumerados ou
encapsulado ou ser comunicado por simples pensamento ou
linguagem.

Como há uma coisa na beleza da arte que desperta a


alma, então há algo em um silêncio profundamente vital que
move o coração.

Seus olhos se movem para os meus lábios como eu


engulo o scotch, e desta vez eu não tusso. Eu lambo meus
| 286

lábios, e seus olhos seguem o caminho da minha língua de


canto a canto da boca, capturando cada última gota do
uísque. Sua língua se move também. Entre os seus lábios, e
eu o vejo enquanto me observa. Eu quase posso provar sua
língua e lábios, ao invés da minha.

Seus lábios se separam, e ele suspira, o ar que passa


ligeiramente por seu nariz também. Suas sobrancelhas são
atraídas para baixo, o enrugamento na ponte de seu nariz
franzido e profundo. O suspiro... era o som que ele fez depois
de me beijar.

Huh. É assim que parece. Huh, mas uma respiração, ao


invés de vibrar as cordas vocais.

Eu tenho esse som capturado em minha alma.

A ponta do meu nariz toca seu. A terra tem se inclinado


e eu estou caindo para ele. Meus cotovelos ainda em meus
joelhos, mas meus braços estão cruzados em um X, mão
esquerda caída ao meu joelho direito e vice-versa.

Três goles de scotch. Eu não estou bêbada; Estou


intoxicada por Logan.

Há um pouco de líquido no canto da boca de Logan.


Estou totalmente apreendida pela necessidade de lamber isto
fora. Beijá-lo. Para saborear scotch em sua pele. Eu me
inclino para frente, respirando lentamente, língua deslizando
| 287

ao longo de meus lábios.

Mas, no último momento, eu me surpreendo, paro. Eu


poderia chorar a partir da necessidade de provar seu beijo,
para saborear carne com uísque e mel. Em vez disso, eu toco
meu polegar à boca. Limpo. Esfrego. E então...

Eu chupo a dica de umidade do meu polegar. O peito de


Logan faz um som como de montanhas colidindo. Um
gemido? Um murmúrio?

Sentido retorna o bom senso, embora em fragmentos


tontos. Eu tropeços em meus pés, tropeço longe, fujo para o
quarto.

Ele é demais. Perto demais. Muito intenso incorporado


no sentido da minha necessidade e envolvido na substância
do meu desejo. Não posso compreender momentos sem ele
agora. Agora não posso respirar, porque ele é de todos os
segundos do fractal que possuo, ele é cada fragmento
gaguejado do tempo, e cada respiração é uma bebida dele.
Embriagada, eu respiro ainda mais dele. Afogamento se
tornaram nada, mas o sabor da sua presença, o sabor de
seus olhos nos meus e do olhar de junta passada, a festa de
uma memória de um beijo.

Eu fecho a porta do meu quarto e caio para trás contra


ele. Não ouço nada. Apenas a batida estrondosa do meu
coração, o conhecimento da minha culpa. A promessa do que
| 288

as câmeras viram, e o que vou sofrer por isso.

Eu ouço porta da frente aberta. É um som sutil, um


clique do botão, o fecho de correr. O sussurro de selo de
tempo na madeira.

De repente, o pânico se apodera de mim.

Se ele sair agora, eu entrarei em colapso para dentro


como uma estrela sob seu próprio peso.

Irracional, eu abro a porta meu do quarto, e fujo para


fora, do outro lado da sala, o amoroso, agora vazia, sozinha
na mesa de café. Minha porta está se fechando. Eu entendi.

— Logan?

Eu não sei o que vem a seguir; eu não pensei tão longe à


frente. Eu só sabia que não poderia deixá-lo ir embora assim.

Vejo-o agora. De costas para mim, ombros largos e


curvados, duros punhos cerrados, bela cabeça baixa. Uma
figura imponente, viril, masculina, que desperta o erótico.

— Cinderela. — Ele ouve a minha porta, torce a cabeça


para olhar para mim por cima do ombro. Ele não está
sorrindo, e seu peito é exigente, como se sua respiração foi
sugada por um intenso combate físico.

— Príncipe encantado. — É sussurrado, quase


inaudível, um pequeno som sibilante.
| 289

Eu pisei em meu limite. Sair para o corredor. Fora do


alcance das câmeras.

Outra regra tácita, violados.

O que vem depois?

Eu bato contra seu peito, e suas mãos estão nas minhas


costas, baixo, puxando-me contra ele. Nós torcemos, uma
série de passos de dança, com a boca inclinada em toda
minha, não apenas nos beijando, mas degustando, sentindo,
sondando, desafiando, provocando. Nós giramos. Sou
levantada do chão, e minhas costas estão contra a parede ao
lado da minha porta, uma rotação completa de 360 graus.
Suas mãos nas minhas costas. Oh... mais baixo. Pontas dos
dedos cavando a bolha suave de ondulação superior do meu
traseiro. Sinto o seu coração batendo num ritmo duas vezes,
martelando no peito, tão furioso quanto a minha. Meus
braços... deslizando serpentina em volta do seu pescoço, as
mãos cobrindo a parte de trás da cabeça e nuca debaixo de
seu cabelo, macio, firme, quente e forte.

Eu o beijei.

Empurro para cima com a minha boca e envolvo-me em


seu beijo.

Todo o mundo deixa de existir. Desvanece-se. Cintilação


e gotejar, uma chama de vela extinta.
| 290

Ah, este beijo.

É tudo.

Toda a história e a potencialidade inteira do futuro.

As minúcias do presente, comprimido na singularidade


de sua boca na minha, suas mãos suave e forte e confiante,
gentilmente exploram a curva da minha bunda e o sino de
meus quadris. Puxa, mantendo-me tensa contra ele.

Sinto sua ereção entre nós, eu estou de modo contra seu


corpo duro.

Estou condensada em uma massa de necessidade.

O beijo é êxtase, sua língua desliza entre meus lábios,


me provando, escorregando e buscando. Eu gosto dele, em
troca, beijo-o de volta. Demanda com o meu corpo seu beijo,
seu toque. Suas mãos movem para baixo para as costas das
minhas coxas, copo, onda, e de repente eu estou no ar, e
minhas pernas parecem saber o que fazer. Elas enrolam em
torno de sua cintura. Eu me contorço. Gemido. É a minha
garganta, fazendo esse barulho tão carente? Isto é. Sua mão
está na parte de trás do meu pescoço, sob o nó do meu
cabelo, o outro braço por baixo da minha parte inferior, me
apoiando, me segurando.

Nosso beijo é uma de fome, como se ambos passássemos


toda a nossa vida sem isso, sabendo em nossas entranhas
| 291

que precisávamos e não ter um nome para ele ou uma


definição dele, mas agora aqui está ele e não podemos viver
sem outro momento. Um beijo de necessidade absoluta.

Eu me contorço, minhas pernas ao redor de sua cintura,


meu núcleo de moagem contra sua barriga. Meus seios
esmagados contra seu peito.

Eu poderia vir do beijo por si só, quase a fazer.

— X... — Ele respira, e o beijo é quebrado.

Ding.

Eu salto para baixo de cima dele, torço afastado e


arremesso através da porta, correndo para o meu quarto.
Bato a porta do quarto atrás de mim. Mergulhar debaixo das
cobertas da minha cama.

Eu tremo.

Eu choro, então com fio de êxtase que eu poderia


iluminar uma cidade. Choro, as lágrimas molham o lençol
debaixo do meu rosto, oprimida, superada. E, como eu choro,
olhos cerrados fechados, eu vejo. Cabelo Loiro, pendurado em
torno de seu rosto, e agora sua mão roça através dele,
empurrando-o de volta. Seus olhos são quentes, sabendo, me
acariciando com sua luz ultravioleta. E eu sinto seu corpo em
torno do meu, suas mãos em mim, seus lábios nos meus, sua
língua dentro da minha boca. Eu gosto dele. Scotch e canela
| 292

fraca.

Lágrimas no meu rosto, o peito arfando com uma


desordem selvagem das emoções, sou submetida a uma onda
de necessidade tão potente que me contorço na minha cama,
minhas pernas abertas. Meu vestido é levantado em torno de
meus quadris, e eu estou coberta sob meus cobertores. Estou
hiper consciente da minha mão, pois rouba toda a minha
barriga e entre as minhas pernas. Desliza sob o elástico da
minha calcinha. Eu lambo meus lábios e provo o sal das
lágrimas e a impressão fraca do scotch e o sabor dos lábios
de Logan. Eu sinto sua boca na minha. As mãos sobre meu
traseiro, acariciando, apertando, explorando com tanta
gentileza doce possessiva. E seu beijo, como ele brilhou vivo
dentro de mim, o fogo em minha alma, fazendo-me sentir
mais vivo do que eu já senti.

Eu me toco.

Coloco meus dedos em minhas partes íntimas, e os


deslizo em meu calor úmido, e eu me faço gozar, uma vez,
duro, imediatamente após o contato, mais rápido do que se
pensava, e eu vejo seus olhos, sinto sua respiração, provo a
sua necessidade. Eu abafo um gemido. Eu me contorço
contra meus dedos e finjo que é seu, deslizando contra o meu
clitóris, circulando-o... assim... fazendo-me gozar de novo,
mais forte, e eu finjo que estes são os seus dedos, dois deles,
mergulhando profundamente em minha fenda, enroscando-se
| 293

e, arrastando umidade sobre o meu clitóris, manchando a


minha essência em círculos cada vez mais rápidos até que eu
canivete sob os cobertores, bufando respirações selvagens de
ar quente reciclado, dentes apertam o cerco contra os meus
gemidos de seu nome.

— Logan... Logan... — Sussurrou, desesperada.

Eu tenho que respirar ar fresco. Eu jogo os cobertores


de volta para minha cintura. Limpo os meus olhos com a mão
livre. A única ainda não está presa entre as minhas coxas. Eu
não estou mais chorando, mas estou tão perturba que eu não
sei como até mesmo como sentir tudo isso, como expressá-lo.
Eu poderia gritar. Energia ferve dentro de mim, meu corpo
inteiro em chamas com adrenalina, memória e calor.

Eu preciso de Logan.

Eu preciso dele. Deus, eu preciso dele. Ele me faz sentir


viva. Sou livre nele, com ele.

Corro até a janela. Sim! Lá está ele. Caminhando pela


estrada, marcha solta, fácil. As mãos nos bolsos. Ele atinge o
outro lado, para, vira. Olha para cima. Ele pode saber minha
janela de todos os outros? É, mas um único retângulo de luz
fraca em uma cidade de incandescência. Eu estou perdida no
brilho?

Eu coloco a mão no vidro, palma da mão, dedos


| 294

espalhados ao lado de minha testa tocando a janela fria. Ele


me vê? Ele levanta a mão, acena, uma vez. E então, ah, em
seguida, ele coloca seu polegar para o canto da boca, como se
enxugando uma gota de umidade. Um gesto, repetido,
espelhado. Um sinal?

Treze andares acima, mas ele me vê? É possível?

Então ele se afasta. Desce as escadas do metrô. E se foi.

Tremo com a lembrança do seu beijo, os tremores de


minha fantasia de seu toque.

Eu faria qualquer coisa para tornar essa fantasia em


realidade.

Qualquer coisa.

Eu sei que nunca vou dormir, então eu vou para a


minha biblioteca e finjo ler, finjo que eu não estou pensando
nele. Finjo que eu não estou conspirando, esperando,
sonhando.

Fantasiando de impossibilidades.

Adormeço em minha cadeira na biblioteca, luzes acesas,


no silêncio, sonhando com cabelo loiros e olhos índigo e
lábios que me levam daqui.
| 295

Capítulo Treze

Acordo, desorientada, dura.

E então eu me lembro de ontem à noite, e os meus


dedos tocam meus lábios. Eu sorrio. Eu estico, pernas se
esticando longe da cadeira, coluna enrijecida e ondulada para
trás, braços tensos e tremor, um trecho de corpo inteiro,
felina e luxuriante.

Ding.

Eu pisco os olhos em confusão; já perdi a hora? Ainda


estou em meu vestido do dia anterior, cabelo despenteado e
emaranhados e parcialmente atado, maquiagem borrada. Eu
posso sentir a maquiagem endurecida e descamação em
meus olhos.

O espaço de tempo entre a chegada do elevador e minha


porta da frente quebrando aberto é infinitesimal. Um sopro de
um momento, menos ainda.

A moldura negra gigantesca enche a porta da minha


biblioteca. Thomas.

— Ele viu o vídeo de ontem. — Sua voz é como a nota


| 296

de baixo mais profundo sendo eletronicamente distorcida


inferior. Incrivelmente profunda, xaroposo, e ainda de alguma
forma suave como a seda.

Eu estou lenta, sonolenta.

— O quê? Quem viu o vídeo?

Thomas leva três passos irritados em minha direção,


sobressai sobre mim, e a expressão em seus olhos é tão
aterrorizante. Estou chocada totalmente desperta.

— Ele viu você e o cara do leilão. Com o cabelo amarelo.

— Caleb. Ele viu as fitas? — Eu estou começando a


entender o problema.

Thomas agarra meus braços, me torce, me impulsiona


em direção à porta da frente.

— Ele é um louco. Você deve ir.

— Ir?

— Ou ele vai matar você. Ele é louco. — Thomas, com


seu sotaque africano, não significa louco como na raiva, eu
percebo. A implicação é mais assustadora do que mera raiva.

Estou com os pés descalços. Meus sapatos de ontem


foram esquecidos, entre a porta da frente e da biblioteca. Um,
no seu lado. O outro, de cabeça para baixo. Eu corrigi-os com
os dedos dos pés, enfio os nos meus pés. Embaralho para a
| 297

porta, desembaraço o cabelo.

Thomas rosna em seu peito.

— Não há tempo para sapatos, não há tempo para fixar


o seu cabelo bonito. VÁ!

Solto o meu cabelo, e dou um passo em direção à porta,


e tropeço para fora no corredor, no elevador, que fica aberto.
A chave ainda está em, torcido ao 13. Thomas, em seu terno
ocidental sob medida, parece feroz e selvagem, o branco de
seus olhos brilhantes, dentes à mostra. Mesmo de terno
ocidental, ele parece um antigo guerreiro Nubian. Posso vê-lo
com uma pele de leão, um escudo redondo, e uma longa
lança, dançando na poeira e o calor do cozimento do sol
Africano.

Pisco os olhos, e é apenas Thomas novamente, em um


terno preto com uma camisa branca, gravata preta fina, um
cabo encaracolado à direita para baixo atrás da orelha e sob
seu colarinho. Seus olhos vão sem foco por um momento, e
ele toca um dedo para o dispositivo em seu ouvido, e, em
seguida, olha para mim. Ele atinge em passar por mim, torce
a chave até o PH -cobertura -e, em seguida, me puxa para
fora do elevador.

— Desça as escadas. — Ele empurra o que eu pensava


que era uma escada de incêndio. Bloqueado, equipado com
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uma sirene ou algo assim.

Apenas uma barra e as marcas de uma saída de


emergência. Nenhuma sirene geme quando eu empurro a
porta aberta. Uma escadaria, além de paredes branco
acinzentado, corrimãos metálicos, escadas recobertas de
borracha azuis em uma espiral quadrada decrescente. Os
sapatos em mão agora, eu desço as escadas. Eu tropeço e
perco um passo, ouço a voz de Thomas, não posso entender
as palavras. Balanço e tropeço, desço as escadas tão rápido
meus seios saltam dolorosamente. Eu perco mais um passo
quando chego a um patamar, tropeço, colido com a parede
oposta. Pauso para recuperar o fôlego, braço, cotovelo e
quadril dolorido onde eu colidi com a parede. Abaixo, eu ouço
uma voz.

— Ela está descendo as escadas. — Uma voz masculina,


nasal e desconhecida. — Thomas a alertou, eu acho. Sim
senhor.... Estou a caminho do sétimo andar. Alan está no
piso térreo. Nós vamos encontrá-la, senhor, eu prometo. Sim.
Eu vou atualizá-lo quando estivermos com ela. Ilesa, entendi.
Claro, senhor. Nem um arranhão.

A voz está ecoando de alguns níveis abaixo e aproxima-


se. O pânico me sufoca. Eu empurro a porta na aterrisagem,
marcado com o numero 10. Um corredor limpo, moderno
pintado de preto, pálidas paredes cinzentas, carpetes creme,
pinturas abstratas nas paredes. Uma alcova, banheiro dos
| 299

homens, banheiro das mulheres. Eu entro no banheiro das


mulheres, agarro o contador e apoio, com falta de ar, lutando
contra soluços. O que está acontecendo? Por que Thomas me
avisou, me ajudou a escapar? Será que ele tem pena de mim,
se preocupa comigo? Aonde ele achou que eu iria fugir? Nada
faz sentido. E a escada de incêndio não sendo alarmada
confunde-me também. Talvez ele quis dizer apenas para dar
tempo a raiva de Caleb para ele esfriar a cabeça. Eu não sei.
Eu só sei que tenho que aproveitar a oportunidade que se
apresenta. Eu não posso ficar aqui por mais tempo. Não
depois do que eu experimentei com Logan.

O que eu faço agora? Olho para mim mesmo no espelho.


Eu estou horrível. Eu respiro fundo, empurro para baixo o
meu pânico.

Limpar pensamento, decisões racionais. Não aja fora de


pânico ou medo.

Eu uso os meus dedos para libertar o meu cabelo de seu


nó, perdendo alguns fios pretos longos no processo. O laço do
cabelo elástico preto tem o meu cabelo enrolado em torno
dele, e meu cabelo está um desastre emaranhado. Eu penteio
com os dedos o melhor que posso e, em seguida, torço em um
coque, reunindo todos os fios soltos, molhando-o com a pia
um pouco para suavizar tudo para fora. Amarro-o de volta.
Sabonete e água, esfrego o rosto limpo. Seco com toalha de
papel marrom áspero de um dispensador -que é automática.
| 300

Levei um minuto para descobrir.

Cara limpa, cabelo arrumado. Eu endireito o meu


vestido, suavizo o pior das rugas da melhor forma possível.
Ajusto meu decote. Puxo a bainha para baixo. Deslizo sobre
meus sapatos. E respiro fundo.

Saio, encontro a escada, olho em volta, debato a tentar o


elevador. Eles estão procurando por mim na escada agora,
presumo.

Como eu estou debatendo internamente, eu ouço


estalos, estática ecoando na escada, uma voz masculina.
Afasto, sigo o corredor em torno de uma curva à esquerda,
deslizo através de uma porta de vidro em um escritório. Há
uma mesa de madeira ornamentada, polida. Vasos de plantas
altas nos cantos, arte pontilista em uma parede.

Uma jovem mulher com um fone de ouvido senta-se


atrás da mesa, de frente para uma tela de computador.

— Posso ajudar?

— Eu acho que eu saí no andar errado, — eu digo. —


Você pode me apontar para os elevadores?

Seus olhos se estreitam, filma sobre mim. Ela está à


procura de algo.

— Posso ver o seu crachá de segurança, senhorita?


| 301

— Eu...

Ela toca um botão na frente dela.

— Se puder esperar um momento, eu vou ter a


segurança subindo e nós vamos lhe dar um crachá de
identificação temporária.

Viro e saio fora.

— Senhorita? Você tem que voltar! — A voz dela é alta,


então acalmou como as oscilações pesada porta de vidro
fechada atrás de mim.

Volto para os elevadores, toco no botão de chamada.


Espero, pânico crescendo nas minhas entranhas. As portas
do elevador se abrem, e eu entro no carro vazio. Este não é o
mesmo elevador que para em minha porta. Há botões,
dezenas deles: G, um numeral com uma estrela ao lado dele,
e, em seguida, números ascendentes todo o caminho até a
cinquenta e oito. Meu chão desaparece, treze, está em falta.
Eu olho duas vezes: dez, onze, doze, quatorze, quinze...

Eu empurro o G. Garagem? Eu não sei.

Sensação de descida. Algum instinto tem me pressionar


os dois, e o carro para. Eu saio no segundo andar,
suprimindo pânico. Presumo que há câmeras de segurança
em todos os lugares, que os guardas estão apenas a
momentos atrás de mim. Eu tenho mil problemas na minha
| 302

frente, mas tudo o que eu quero agora é sair deste edifício.

Como eu saio, ponto para o lado, um guarda de


segurança em um terno preto, walkie-talkie na mão, passos
em torno de um canto, me vê, grita. — Pare!

Eu saio de volta, pressione o ícone FECHAR A PORTA,


espero o primeiro número do meu dedo encontra. A superior,
cinquenta e oito. Ouço uma libra punho na porta de fora,
mas o elevador está em movimento.

— Suba, suba, suba.

Eu abruptamente aperto o botão para o sexto andar; o


elevador para, as portas deslizam aberta, e eu saio. Olho para
os lados e não vejo ninguém. Inclino-me para o elevador, e
toco para o cinquenta e oito novamente e deixo o elevador
continuar a sua ascensão.

Eu olho em volta: paredes brancas lisas, sem


decorações, piso de concreto nu, industrial, cru, aparência
inacabada. Vigas expostas acima pintadas de preto,
tubulações expostas pretas pintadas da mesma cor. O
corredor se estende cerca de vinte pés sem porta ou marcação
de qualquer tipo, em seguida, viro para a direita. Eu sigo isto,
e agora existem portas de cada lado do corredor, escalonados
de tal forma nenhuma porta está diretamente em frente à
outra. Porta após porta. Portas de entrada simples, sem olho
mágico, a porta pintada no mesmo plano branco com grandes
| 303

números pretos em estêncil industrial. Conto: 1, 2, 3, 4, 5...


até mesmo números à direita, probabilidades, à esquerda.
Conto doze portas.

Eu ouço o ding do elevador e as portas se abrindo.

— Sim, estou em busca do sexto andar. Entendido.

— Um segundo. — A mesma voz nasal da escada.

Meu coração troveja, minha garganta fecha. Agarro a


maçaneta mais próxima, torço, empurro. Estranhamente, ela
abre; eu estava esperando que estivesse bloqueada.

Eu tenho um sentimento de desorientação, déjà vu. Este


poderia ser o meu apartamento, até o piso e as dimensões e a
pintura. A única diferença é a obra de arte nas paredes, e não
há nenhuma cadeira Louis XIV aqui, mas o sofá é o mesmo,
estantes embutidas são os mesmos, uma cozinha ligada à
sala de estar através do piso plano aberto, um pequeno
corredor que conduz ao único quarto com banheiro privado,
um pequeno escritório em frente ao quarto. Em vez de uma
biblioteca, vejo equipamentos de exercício: uma enorme bola
roxa exercício, pesos livres, máquinas de peso.

Por força do hábito, eu fecho a porta atrás de mim. Clica


ruidosamente como fecha. Ouço, pés descalços na madeira.

— Caleb? — Uma voz feminina suave, fina, alta, um som


metálico a ele.
| 304

Eu não tenho nenhuma esperança de se esconder ou


fugir de volta para fora; só posso esperar que essa menina vá
ser solidária com a minha situação.

Baixa, pequena, com o cabelo loiro avermelhado, sardas,


olhos castanhos pálidos. Muito bonita. Rosto em forma de
coração, queixo delicado. Expressivo, olhos expectantes.

— Você não é, quero dizer — você não é Caleb.

— Não, eu certamente não sou.

— Quem é você?

Hesito, infinitamente.

— Eu sou Madame X.

— Esse é o seu nome?

— Sim. E o seu? — Eu me esforço para parecer


confiante.

Encolhe os ombros, como se isso não fosse importante.

— Eu sou 6-9-7-1-3. Por agora. Mas eu vou ser Rachel.

Meu coração torce.

— Seis e nove... o quê?

Um gesto, apontando para a porta em frente.

— Do outro lado, ela é 6-9-7-1-4. — Um dedo que


| 305

aponta ao lado. — Ela é 5. Abaixo do caminho são 7 e 9, e em


frente a nós são 2, 6 e 8.Estas somos nos, por agora.

— Eu estou confusa. — Eu tenho que me apoiar para


trás contra a porta. Algo problema para mim. Uma ideia, uma
horrível.

A garota está vestida com uma mudança; essa é a única


palavra para isso. Não é um vestido, não uma camisola. É de
algodão fino branco liso, trava no meio da canela. Ela está
claramente nua por baixo. Descalça. Cabelo em um simples
rabo de cavalo baixo, sem maquiagem, sem pintura nos
dedos dos pés ou mãos.

— É o meu número de aprendiz. Quem é você, e por que


você está aqui?

— Eu trabalho para Caleb. — É a verdade e espero que


soe autoritário.

— Mas por que você está aqui? — A garota vem em


minha direção, há suspeita em seus olhos. — Não há
ninguém em constante. — Ela estremece, começa de novo. —
Eu quero dizer.... Ninguém nunca visita, exceto Caleb.
Ninguém, nem nunca. Então, quem é você e o que você quer?

Eu examino o teto, os cantos onde a moldagem junta.

—Você é assistida?

— Assistida? — 6-9-7-1-3 segue o meu olhar. — Você


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quer dizer as câmeras? — Um bufo de escárnio. — Você só


pode estar brincando comigo. Todo este andar é fora do
monitor. Este, nove, cinquenta e oito, e, obviamente, a
cobertura de Caleb em cima. Treze não existe, ou não há
nenhuma maneira de chegar a ele. O rumor é que Caleb tem
um esconderijo secreto no décimo terceiro andar, como um
quarto vermelho ou algo assim. Mas neste piso, nove e
cinquenta e oito, não há câmeras de segurança ou de áudio.
Risco muito grande, eu acho. Não pode ter as pessoas
saberem o que está acontecendo, certo?

Eu balanço minha cabeça.

— O que acontece nestes três andares... Rachel?

A garota não responde imediatamente.

— Eu ainda não, eu ainda não sou Rachel. Ainda não


ganhei o meu nome. Eu sou apenas Três... por agora — olha
de lado de especulação; uma decisão tomada. — E se você
não sabe, eu provavelmente não deveria dizer.

Eu me movo passando pela garota, caminho até a


janela, minha janela favorita, a mesma, mesmo lugar.
Ligeiramente inferior a vista, mas quase tão reconfortante.
Assisto os carros passarem, os pedestres. Familiar, calmante.
Quase posso respirar.

Silêncio. Pés de preenchimento sobre a madeira, eu


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cheiro shampoo e sabonete.

— Você disse que seu nome é Madame X?

— Eu sou o seu segredo no décimo terceiro andar. —


Sussurro.

— O que você faz? — Ela se apoia contra a moldura da


janela de frente para mim, assumindo uma pose familiar que
sugere que ela gasta tanto tempo em pé aqui como eu faço na
minha própria janela.

— Se você não sabe, eu provavelmente não deveria dizer,


— digo.

— Isso não é justo. Eu nem sabia que você existia. Como


eu vou saber?

— Exatamente. Eu não sabia que você existia ou


qualquer uma de vocês, Três. — Dirijo-me, descaso meu
ombro contra a janela. — Você disse que era o seu número de
aprendiz. Aprendiz de quê?

— Aprendiz de noiva. — É sussurrado. — Esse é o meu


objetivo, pelo menos. Primeiro eu tenho que fazer Escolta, e
depois Companheira. Então Noiva.

— Eu não entendo.

— Eu e todas as outras meninas neste piso, nós somos


a propriedade do Indigo Services. Nós somos parte do
| 308

programa de aprendizagem.

— Propriedade? — Eu mal consigo falar palavra.

Uma constante, mesmo olhar.

— Eu me inscrevi para isso. Assim fizeram todas as


outras, de modo que você não tenha nenhuma fodida pena
em seus olhos para mim. É melhor do que estar nas ruas, e é
aí que eu ainda estaria se não fosse por Caleb. Estou livre
das drogas. Sem cafetão. Nenhuma dívida. Nada de besteira.
É uma maneira de sair. Eu não sou uma escrava. Eu sei que
você está pensando essa palavra. Você não me conhece, então
não me julgue, cadela.

— Eu não estou julgando, Três. Eu só não entendo.

— Como não pode? Você nasceu na fodida Marte ou algo


assim?

Meus instintos se mostram.

— Era você.

Três rosna para mim, lábio superior em um sorriso de


escárnio.

— Eu não entendo o que há de tão errado com a forma


como eu falo. Caleb está sempre com raiva de mim sobre isso,
também.

— A percepção é vital. Discurso adequado cria a


| 309

impressão de classe, Três. Gramática, lúcido, sintaxe concisa.


Sem vulgaridade. Você deseja ser levada a sério? Então você
deve agir como a... — eu ia dizer cavalheiro, mas eu tenho
que mudar de tática. — Como uma dama. Uma mulher de
classe.

— Quem diabos é você, Madame X?

— Alguém muito parecida com você, eu temo, só que


muito menos autoconsciente, eu estou percebendo. — Eu
olho para a porta. — Você pode sair? Se você quiser?

Três faz uma cara.

— É claro que posso. Quer dizer, eu não iria, mas eu


posso. A porta não está bloqueada, elevador funciona. Uma
vez por semana eu posso ir num encontro prático com Caleb
até Rapsódia. Eu recebo um vestido novo, sapatos novos,
começo a colocar a maquiagem. Se eu fizer bem, ele pode me
levar para fora, lá fora, para a final mensal.

Eu tenho que formular minha pergunta com cuidado.

— Três, poderia, poderia explicar para mim como o


programa funciona?

Um encolher de ombros.

— Seguramente. Fácil. Eu era sem-teto. Trabalhando na


rua, certo? Não tendo nenhuma maneira de me alimentar,
então acabei vendendo a única coisa de valor que eu tinha,
| 310

entendeu? Eu mesma. Então eu conheci Caleb. Ele me


contratou para um dia inteiro. Acho que ele viu alguma coisa,
eu não sei. Potencial? Disse-me que tinha um programa que
me daria habilidades, e, eventualmente, uma vida fora das
ruas. Tipo de um programa de formação seguido por um
programa de encontros, tudo em um. Agora, eu estou no
programa de treinamento.

— Que tipo de treinamento?

Mais um encolher de ombros preguiçosos, indolente. Eu


coço a corrigir seu comportamento, mas não é o meu trabalho
para fazê-lo.

— Tudo. Há um tutor, o Sr. Powers. Ele faz o tipo


escolar usual de coisas. Ajuda-nos a obter um diploma, se
precisamos de um, ou promove a nossa educação se tivermos
um diploma já. Ou ele pode fazer estudos guiados em áreas
específicas. Você está interessada em ciência ou alguma
merda, ele pode ajudá-la a encontrar recursos e que quer. De
qualquer forma, o Sr. Powers está sempre em cima de mim
para falar correto, também, mas eu cresci falando assim, todo
mundo que eu conhecia falava assim, e alguns hábitos são
duros de quebrar, sabe? E depois há a senhorita Lisa. Ela é
chefe do programa. Mantém o controle de nosso progresso,
nos diz o que precisamos fazer para melhorar, para subir
para o próximo nível. Ela é a chefe cabeça, supervisora chefe
| 311

basicamente. E depois... há Caleb.

— E o que ele faz? — Pergunto. Eu não tenho certeza se


quero saber a resposta, embora.

Três não me responde, não olha para mim. Seu rosto


pálido cora.

— Eu não deveria estar pudica sobre isso, considerando


onde ele me encontrou. O que eu estava fazendo. — Outra
pausa. Pela coragem, eu acho. — Ele nos ensina a agradar.
Como agir atraente. Como seduzir. Como olhar, como se
vestir, como, como foder.

— E ele ensina-lhe tudo isso, pessoalmente, não é?

Alargamento dos olhos.

— Ah sim. Claro. Ele oferece o exame final. Certifica-se


de que estamos prontas para cada fase. Uma escolta tem
menos exigências do que uma acompanhante e uma noiva
tem o maior de todos.

— Requisitos? — Minha voz soa fraco.

Três encolhe os ombros.

— É complicado. Aprender essas diferenças é parte do


treinamento, por isso não é como eu só posso resumir em
uma ou duas frases, que você conhece? — Um olhar para
longe, para fora da janela. — Eu não deveria estar dizendo
| 312

essas coisas de qualquer maneira. Não é suposto estar


falando sobre isso para quem não participa do programa. Nós
assinamos um acordo. Mas você é o grande segredo no andar
treze, então eu estou supondo que você provavelmente tem
segredos do seu próprio jeito. Você não vai delatar-me para
Caleb, não é?

Eu balanço minha cabeça.

— Não, Três. Eu não vou. Eu prometo.

Eu tenho um milhão, milhões de perguntas, mas eu


nem sei por onde começar. Mas Três de repente fica na
posição vertical, longe da janela, olha para o relógio de parede
simples.

— Merda! Você tem que sair daqui. Eu tenho uma


avaliação, agora!

— Uma avaliação?

— Sim, com Caleb.

— Caleb está vindo aqui, agora?

Nós duas ouvimos uma voz. Que ambas reconhecemos.


Mas ao invés da calma habitual, há raiva, quente e
barulhenta. — Não, Douglas, não está tudo bem. Se ela não
saiu do edifício, então ela está se escondendo em algum
lugar. Porra encontre-a, ou haverá inferno para pagar.
| 313

— Do lado de fora porta.

Três assovia no meu ouvido.

—Debaixo da cama. Vá! Nem sequer respire, ok? Ele não


vai ficar muito tempo. — Especialmente não com esse humor.

Eu me apresso em direção ao quarto, deslizo para


debaixo da cama, fazendo-me tão pequena quanto possível.
Braços sob meu peito, face à madeira empoeirada. Mal
consigo respirar

Ouço a porta abrir. Ouço aquela voz profunda e grave.

— Três. Bom Dia.

— Caleb. — Três soa... ofegante. — Estou bem. Como


você está?

— Nada bem. Tem havido... um problema. Ele tem me


distraído, eu temo. — Passos na madeira, e vejo sapatos de
couro brilhantes caros castanhos, calças cáqui. — Talvez
devêssemos reagendar sua avaliação para amanhã. Eu não
tenho certeza se posso me concentrar no momento.

— Mas... Senhorita Lisa me disse que eu finalmente


tenho a minha primeira apresentação de Escolta amanhã,
mas só se eu passar esta avaliação. — Três soa realmente
desapontada. — A menos que você acha que há uma chance
de que eu possa falhar...
| 314

— Eu acho que há muito pouco risco disso, Três. O seu


progresso tem sido notável.

— Não acha que eu poderia... ajudá-lo com o seu


humor? — A voz de Três sai baixa, sensual, repleta de
sugestão. — Eu sei que não posso corrigir nada...

— Três. — É uma advertência.

— Desculpe Caleb. Eu quis dizer, corrigir alguma coisa.


— Eu vejo os pés descalços femininos emoldurados entre
calçado maior. Três levanta na ponta dos pés. Um silêncio
que fala de algo acontecendo que não consigo ver. Um beijo
talvez. Sons, quieto demais para interpretar.

— Eu poderia distraí-lo de sua... distração, você sabe?

Eu cerro os dentes e respiro devagar, lentamente. Eles


estão se aproximando, Três caminhando para frente em
direção à cama, os sapatos de couro italiano andando logo
trás.

Parece que Três será avaliada.

A cama sobre mim mergulha abaixo com o peso. Molas


rangem. Os sapatos estão polegadas do meu rosto. Três de
pés, e depois um joelho toca o chão, o outro. A fivela de cinto
toca, sons do zíper. A calça cáqui cai em torno dos tornozelos,
e eu obtenho um vislumbre das panturrilhas peludas
familiares. Sons molhados. Um gemido masculino. Inquieto,
| 315

engasgos desmaiar.

— Muito bom Três. — Isso, entregue através de dentes


cerrados. — Mmmm. Mais língua, mais movimento de toda a
sua cabeça. Não apenas sugar. Alterne usando suas mãos,
seus lábios e sua língua. Sim, assim. — Um grunhido, como
Três demonstra obviamente em particular... técnica,
suponho.

Meus intestinos torcem. Sentimentos que eu não ouso a


examinar, a raiva dentro de mim.

Sugando, engasgos, grunhidos e gemidos do sexo


masculino, suspiro. Ele continua por mais tempo do que eu
pensava possível. Os sons desaparecem por um momento ou
dois, e em seguida, retomam, silêncio, uma mordaça feminina
acompanhada de um gemido masculino.

— Você está pronta, Três? — Baixo, densamente


dublado, os dentes cerrados, sem fôlego. — Eu estou indo
gozar. Eu vou deixar você decidir onde você quer que eu vá.

Água na boca. Engolindo. Um gemido masculino longo e


gutural. Suspiro. Peso de Três de desloca para trás enquanto
ela se senta sobre os calcanhares, uma mão plantada no
chão. Não veio em sua mão, manchas brancas sobre seus
dedos. Aparentemente, ela não elegeu a engolir tudo.

Um momento de silêncio.
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— Muito, muito bom, Três. — Um longo suspiro, e o


peso sobre a cama se desloca para trás. — Da próxima vez,
eu gostaria que você levasse meu gozo em seu rosto. Eu
pessoalmente não encontro prazer nisso, mas os outros
fazem, e você precisa estar preparada para saber como ele vai
se sentir.

— Sim, Caleb. — Por que ela parece tão ansiosa?

— Agora.... Eu quero que você me diga a verdade, certo?


Penalidade livre para esta resposta, independentemente do
que você diga. Na nossa última sessão juntos, você fingiu o
seu orgasmo?

Uma hesitação. E então a voz de Três, sai baixa, com


vergonha.

—Sim, não. Bem, mais ou menos. Eu quero dizer... Eu


exagerei, um pouco. Eu gozei, mas não tão, tão duro quanto
eu poderia ter feito parecer.

— Por quê?

— Porque eu, eu queria que você pensasse.... Eu não


sei. Eu não sei.

— A verdade, Três. Agora.

— Eu queria gozar. Mas é só... Eu não posso, muitas


vezes. — Sua voz é pequena. Tão delicada. Mortificada. — Eu
tentei. Por conta própria, e com você, e antes de me tornar
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um aprendiz. Minha vida inteira é só... é difícil para mim


gozar. E quando eu faço, não é apenas muito duro, eu acho.
Eu ainda aprecio as coisas, quando você os faz para mim,
quero dizer. Eu gosto muito. Mas eu apenas não posso gozar
sempre, ou não como... tão intensamente como eu me sinto
como você espera de mim.

— Primeiro, um aviso. Não finja, ou exagere. Nunca


mais, não importa o quê, você entende?

— Sim, Caleb.

— Agora levante-se e coloque as mãos na cama.

— Mas você disse sem penalidade! — Um protesto em


pânico.

— Eu não vou puni-la pela sua resposta, Três, eu vou


puni-la por fingir. Eu disse que no início não para nunca
mentir, falsificar ou fingir. Não sobre qualquer coisa. Eu exijo
a verdade absoluta em todas as situações. — A suavização da
voz. — E esta punição não vai para seu registro de programa.
Isso é entre nós. Então você entende que eu estou falando
sério.

— Mas... Caleb, eu entendo. Ok? Eu não vou fingir de


novo, eu juro!

— Três. Levante-se, agora. Coloque as mãos na cama,


agora. — Lenta, deliberada, precisa, calma.
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Três se levanta, se coloca no lugar; posso ver os joelhos


tremendo. Os sapatos de couro italiano deslizam para frente,
e eu vejo a calça subir, ouço a fivela do cinto. A cama
mergulha muito ligeiramente, e os pés de Três estão
espalhados largura dos ombros. Eu vejo como a bainha de
mudança de Três sobe fora da vista.

Bate! Mão na carne.

Bate! Mais uma vez.

Três grita. Há dor naquele grito, dor real. Mas também


existe... excitação.

Bate!

Bate!

Os sons da palmada batendo, pontuado por gritos de


Três de dor e aumento da excitação sexual. Frio na barriga.
Uma parte de mim é... não está tão horrorizada com isso
como eu deveria estar. Três está gostando disso. Fazendo isso
voluntariamente. Três poderia deixar à vontade. Como a
surra continua, gritos de dor tornam-se gradualmente gritos
inteiramente eróticos de necessidade. Pés descalços
embaralham no chão, joelhos mergulhados, o corpo curvado
empurrando de volta para os golpes, para o toque.

Gostaria de saber se existe apenas a palmada, ou se


alguma coisa está acontecendo. Dedos, bem como, talvez,
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movendo-se dentro de suas partes íntimas? Da maneira que


Três está gemendo e choramingando, eu presumo isso.

Eu posso ver como isso pode ser intensamente


excitante. Sinto-me suja por espionar sobre isso, e mais suja
ainda por me sentir curiosa e ciumenta. Mas uma parte de
mim está encontrando um prazer voyeurista escuro nisso.
Estou doente, isso é doentio.

Mas eu não posso ficar longe.

Ouço Três gozar. O gemido de liberação é estridente e


alto, e ao meu ouvido, genuíno.

O turno branco é posto de lado, no chão. Calça drapeja


em torno dos tornozelos. Três grita. A cama se desloca,
mergulhos, e é balançado lateralmente por um forte impulso.
Três é dobrada sobre a cama, com os pés masculinos
alinhados atrás. Os sons de sexo são altos, e rápidos. Três
choraminga com cada tapa carnuda da pele contra a pele, e
depois como o ritmo aumenta, os gemidos tornam-se gritos e,
em seguida grunhidos, e posso dizer a partir do movimento
dos pés descalços de Três ao aceitar os impulsos se volta para
a participação ativa, empurrando de volta para eles.

Grunhido masculino de liberação, esbofeteamento de


corpo em corpo desacelera e para, e Três está ofegante,
gemendo, emitindo gemidos agudos.
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Estou úmida entre as minhas coxas, excitada, e doente


com culpa, vergonha e confusão.

Um momento de silêncio, então, nenhuma pessoa se


mexe ou fala. E então eu vejo calça deslizar para cima, ouço
uma fivela de cinto, farfalhar de tecido. Eu posso imaginar
mãos fortes enfiando uma camisa branca e imaculada para
as calças, puxando-a blusa, dedos para os bolsos de quadril
para que eles ajustem a protuberância ou dobra. Um ritual
familiar de vestir-se, ajustando; Três ainda está nua, é claro.
Artisticamente colocada, provavelmente, a olhar saciado,
saturado, sonolento.

Eu sei que a pose muito bem, tendo assumido ele


próprio um milhão de vezes.

— Isso foi exagerado, Três? — Arrogante, e inseguro.

— N-não. Não, Caleb. — Um suspiro. — Foi real. Eu vim


tão difícil, Caleb.

— O que você acha que fez a diferença?

— Você... me bater. Eu... eu gostei disso. Doeu, mas eu


gostei. — Três soa envergonhada. — Eu gosto muito disso.

— Não fique chateada, Três. Você não deveria sentir


vergonha. Conheça o seu corpo, saiba a sua sexualidade.
Com o tempo, você vai aprender a controlar seus encontros
sexuais. Mesmo quando você está sendo fodida como eu te
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fodo, por trás, onde você não tem controle físico sobre o que
pode estar acontecendo com você, você ainda será capaz de
exercer influência sobre quão agradável é para o seu parceiro.
Você será capaz de controlar o quão rápido você quer gozar,
quão intensamente. Sei a diferença quando você finge, Três.
Alguns homens podem não ser capazes, mas eu posso.
Quando você realmente aproveita e participa, em vez de ser
apenas um receptáculo passivo, você se torna uma criatura
muito mais primorosamente erótica. Quando você era uma
prostituta, isso não importava. Seus Johns pagavam para
deixá-los fodê-la, e eles não davam uma única merda como
você se sentia sobre eles. Mas você não é mais uma
prostituta, Três. Você não vai ser paga por sexo, implícito ou
explicitamente. O Indigo Services não fornece profissionais do
sexo; nós fornecemos companheirismo, parceria e romance.
Se tiver relações sexuais com um cliente, ele será a sua
escolha, uma decisão mútua entre você e o cliente, depois de
seu contrato de serviço ter expirado. Tenha isso em mente,
para amanhã. O contrato básico Indigo Services proíbe
expressamente qualquer tipo de ato sexual durante o período
de tempo dos serviços prestados. Se você optar por se
envolver em relações sexuais com o cliente após o termo do
contrato, que é a sua escolha, e você nunca deve se sentir
pressionada pelo cliente. Se você sentir qualquer tipo de
pressão de qualquer tipo, informe a Lisa imediatamente o
cliente será penalizado. Você não deve nunca ser pressionada
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a fazer sexo por um cliente. E você deve sempre desfrutar do


sexo. Você entende?

— Eu entendo. — A voz de Três é pequena, insegura.

— Você desfrutou um pouco de sexo com dor com o seu


ex. Eu suspeitava disso, mas agora sabemos. Talvez nas
próximas semanas, quando você começar a trabalhar como
uma acompanhante, iremos explorar os limites da sua
apreciação a dor.

— Mas você não vai... me machucar? — Três soa


ofegante, ansiosa e um pouco de medo.

— Não. Nunca. Você é valiosa. Para mim, e para Indigo


Services, e, finalmente, você deve ser valiosa para o homem
que finalmente a escolher como esposa.

— Você acha que alguém vai me escolher, Caleb? — Ah,


a dúvida, o medo, a vulnerabilidade que ouço me corta até o
osso.

— Três, querida Três. — Eu não sou a única, a julgar


pelo tom de voz. — Sim. Eu acho que alguém vai. Como não
poderiam? Sua personalidade brilha através de cada
situação. Sei que este programa não é a coisa mais fácil de
passar. Deixando de lado o seu nome, o seu passado... nunca
é fácil. Mas apesar de tudo, a sua beleza permanece inegável,
e refiro-me à beleza da sua alma, assim como a beleza do seu
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corpo.

Nunca recebi essa espécie genuína, de palavras


edificantes. Sou indigna?

— O-obrigada, Caleb.

— Parabéns, Aprendiz 6-9-7-1-3, você é agora uma


Escolta. — Isto é dito com grande formalidade. — Já escolheu
o seu nome?

— Rachel. Três — Rachel, agora, suponho — soa


animada, alegre.

— Por que você escolheu este nome?

Uma pausa.

— Você vai rir.

Posso quase, quase imaginar uma peculiaridade sutil


dos lábios.

— Eu acho que não.

— Eu costumava assistir muito Friends. Sabe Ross,


Rachel, Joey, Chandler, Phoebe e Monica?

— Eu estou familiarizado. Eu não assisto televisão, mas


é uma parte comum o suficiente da cultura pop que eu já
ouvi falar.

— Quando eu era criança, eu assistia com a minha irmã


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mais velha. Ela fazia sua lição de casa e eu sentava com ela
e, bem, e então... quando acabei trabalhando para Slade, eu
assistia tarde da noite. Isso foi... uma maneira de escapar, eu
acho. E eu sempre simplesmente amei Rachel a mais.

— Você sente falta?

— O quê? Assistir Friends?

— Sim.

Três fica quieta por um momento antes de responder.

— Sim, às vezes. Eu não perdia nenhum dos, eu não


ligo de perder qualquer parte do resto do meu passado,
obviamente, mas Friends? Sim. Eles eram como os meus
amigos. Suas vidas eram melhores do que a minha. Eles
tiveram problemas fáceis, então eu poderia esquecer o meu
por um tempo. Eu sinto falta disso.

— Talvez algo possa ser arranjado. Eu não permito que


minhas meninas se distraiam com tais trivialidades como a
televisão, como você sabe, mas talvez como uma recompensa
por alcançar a certificação de Escolta eu poderia arranjar
uma televisão para você.

— E as outras meninas?

— É uma recompensa para você, Rachel.

— O que significa que eu posso compartilhá-la, certo?


| 325

— Muito bem, então. Lisa estará em rever e informar-lhe


para amanhã. Mais uma vez, parabéns.

Mocassins sutilmente pisam, e eu vejo uma pitada de


porta branca que se abre, o baque-clique, uma vez que se
fecha. Eu espero vários momentos mais longos.

— Saia, ele já se foi. — A mão de Rachel aparece na


frente do meu rosto, acenando-me de debaixo da cama.

Eu saio, dolorida e rígida, e me levanto com as pernas


bambas. Escovo a poeira, endireito as minhas roupas. Rachel
descansa em sua cama, nua. Seus seios são leves, aréolas
rosa pálido. Ela é raspada totalmente nua entre as coxas,
enquanto que eu não sou. Sinto o cheiro de sexo no ar,
almiscarado, sêmen, feromônios, suor.

Eu não sei o que dizer, o que fazer. Felicitá-la? Eu não


sei. É difícil olhar para ela. Eu continuo ouvindo seus
gemidos, o som de ser espancada, quão completamente ela
desfrutou isso. Eu quase posso vê-la, inclinada sobre a cama,
o cabelo no rosto, pele pálida de suas nádegas avermelhada
com cada batida. Eu afasto as imagens.

— Nunca tive uma audiência antes, — diz Rachel. — Me


senti um pouco estranha no começo, sabendo que estava a
ouvir. Mas então... — Um encolher de ombros, indiferente.

— O quê? — Eu não posso deixar de perguntar. — Mas,


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então, o quê?

— Mas então eu esqueci. Bem, mais ou menos. Eu


estava meio de distantemente ciente de que você estava lá,
mas isso só tornou ainda melhor. — Ela ri. — Deus, eu não
tinha ideia de que eu gostaria de ser espancada tanto.
Quando eu era uma prostituta, as coisas eram simples. Eles
sempre me queriam por trás, ou estilo cachorrinho. Caleb...
Ele é meio estranho sobre posições, apesar de tudo. Só gosta
de estilo cachorrinho ou por trás. Inclina-me, levanta-me de
frente para uma parede, você sabe? Como aquilo. Nunca cara
a cara. Conversei com as outras meninas sobre ele, e ele é o
mesmo com elas.

O mesmo é verdade para a minha própria experiência.


Eu não ofereço isso, porém.

— Hmmm. Gostaria de saber o que Caleb tem contra


relações sexuais cara a cara?

Mais um encolher de ombros, que é uma expressão de


assinatura, eu estou percebendo.

— Ah, provavelmente, problemas de relacionamentos,


você sabe? Caras como ele, não é apenas o controle, certo?
Ou não o controle sobre nós, a garota que ele fode, mas o
controle sobre si mesmo. Cara a cara, você vê os olhos da
outra pessoa. Você vê a sua expressão. Torna mais... pessoal,
| 327

eu acho. E com a gente, para Caleb... não é pessoal.

— É sexo, Rachel. Como não é pessoal?

Uma expressão de perplexidade total.

— Nós somos apenas aprendizes, sabe? Nada além de


meninas para serem treinadas. Os clientes, quando chegam a
sua partida, eles esperam que as meninas sejam... perfeitas,
basicamente. Educada, bem-educada e boa na cama. Todo
mundo está sempre assim, „Oh, eu quero comer uma virgem‟,
mas virgens não são boas de cama. Elas são desajeitadas,
muito rápidas, não há graça nelas. Homens e mulheres
ambos. Mulheres é pior, eu ouço, porque uma virgem, ela tem
a dor para lidar. Você tem que treiná-las, especialmente, eu
acho. Um cavalheiro está vindo para Indigo Services para
uma esposa de troféu, ele quer uma mulher que saiba como
agradar, que saiba o que fazer com o pau dele, sabe? Quem
sabe como trabalhar isso durante toda a noite. Uma virgem
não pode fazer isso. Esses caras que estão comprando a
noiva, eles não querem ter que treinar a sua esposa para a
foda como eles querem ser fodidos. Eles querem ser fodidos
por uma especialista. E você não precisa ser um especialista
em porra, exceto pela merda.

— Então, Caleb... a fode até que você vire uma


especialista. — A vulgaridade tanto parece e soa estranha e
desajeitada na minha língua.
| 328

— Correto.

— Oito de você em um momento?

— Bem, não todas de uma vez. Não gosto, ménage à....


qualquer que seja oito é em francês.

— Mas você está ciente de que ele está tendo relações


sexuais com cada uma de vocês aprendizes?

— Bem, sim. Ele é Caleb. — Como é algo óbvio, tipo,


duh.

Mas eu entendo. Há algo hipnótico sobre aqueles olhos


escuros, essa presença dominante, a confiança absoluta da
sexualidade masculina primal, algo fascinante em domínio
total.

— Isso não te incomoda? — Pergunto.

— Na verdade não. Ouvi dizer que, quando é ele e Cinco,


ao lado. Ela é uma gritadora. Ele está sempre tentando fazê-
la calar a boca, mas assim que ele tem o seu curso, ela
começa a uivar como um maldito gato no cio. Irritante como o
inferno, se você me perguntar. — Rachel se levanta, caminha
com um ar de confiança em sua nudez.

Eu a sigo. Um pouco de curiosidade carnal me tem


olhando seu traseiro; suas nádegas ainda estão cor de rosa, e
vejo uma mancha brilhante sobre o interior de suas coxas,
| 329

baixos, uma gota de sêmen escorrendo para fora dela.

Estou igualmente repelida e excitada. Não com a visão


de gotejamento pós-coito, mas com a lembrança do meu
próprio passeio da cama para o banheiro, a memória
deliciosa da dor, uma sensação de... satisfação, quase, ao
sentir a aderência molhada morna na minha pele.

E então, tão rápido quanto as sensações rolam por mim,


eles são substituídos por aversão e ódio.

Repulsa.

Tudo isso destinado principalmente a mim mesma. Na


minha cegueira, a minha ingenuidade.

Em meus pensamentos confusos. No fato de que


qualquer parte de mim sentiu prazer no que ouviu.

Eu ouço o chuveiro ligado, espirro, fecha rapidamente.


Rachel emerge com uma toalha em torno de seu corpo.

— Você é o problema, garota? — Sua voz é nítida.

Sua gramática pobre e sotaque ressoam e propensão


para a maldição dá uma falsa sensação de que ela é de
alguma forma pouco inteligente; ela não é.

— O problema? — Eu finjo não entender o seu


significado.

— Não se faça de tímida comigo, Madame X. Encontrá-


| 330

la, disse ele. Você está fugindo de Caleb. — A última é uma


acusação, flagrante.

Eu suspiro.

— Sim. Você está correta.

— Ele vai encontrá-la.

— Eu sei disso.

— Não há mais ninguém como ele, você sabe. Tenho


apenas vinte e dois anos, mas eu estive nas ruas desde que
eu tinha treze anos. Conheci todos os tipos de homens,
conheço os truques. Alguns deles não eram ruins, apenas...
solitários. Ou muito ocupado para se preocupar com ainda
tentando configurar o sexo casual, eu acho. Alguns estavam
curiosos. Alguns virgens, aqui e ali. Mas, em tudo, em que eu
já conheci, nunca houve ninguém como ele. Não entendo por
que você está fugindo.

— Minha situação é... — Eu tenho que procurar por


uma palavra apropriada. — Única.

— Não é todo mundo? — Rachel me olha.

— Bem, eu acho isso é verdade, mas eu sou diferente.


Eu não quero soar...

— Você é diferente. Você é especial. Entendi. Você é o


grande segredo de Caleb no décimo terceiro andar. O que
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você não entende é o que ele fez por mim. Para todos nós
aqui. Eu sei o que você pensa de nós. Eu posso sentir você
nos julgar.

— Eu não a estou julgando...

— O inferno que você não está! — Ela se aproxima, os


olhos inteligentes, orgulhosos e perfurantes. — Eu era uma
cabeça de metanfetamina. Ok? Você não, você não pode
entender isso, se você viveu. Tudo que me importava era a
próxima dose. Eu ia morrer, e Caleb Indigo me salvou. Ele me
tirou da rua, me deu um lugar para viver, me alimentou. Ele
até me tirou das drogas. Antes, eu estava virando truques
para pagar a próxima dose. Ninguém deu uma única merda
sobre mim, eu muito menos. Agora aqui? Eu tenho uma
razão para viver. Eu tenho uma razão para ficar longe das
drogas. Eu tenho valor, aqui. Sim, eu sei que não sou a
única, mas Caleb gasta o seu tempo comigo. Eu, a prostituta,
a dependente de drogas. Quando ele está comigo, eu sou a
única que importa. — Esta última com uma voz calma e com
convicção. — Ele me faz sentir como se eu pudesse elevar-se
a algo além do que eu costumava ser. Posso ser posta no
caminho de noiva, e quem sabe, talvez eu até mesmo possa
ser combinada com alguém que poderia me amar. — Essa
esperança, agarrou-se com tenacidade. — Você foge de tudo
aquilo se você quiser.

Um longo silêncio. Eu não sei o que dizer. Eu tenho


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muito na minha cabeça, no meu coração.

— A garagem é sua única chance real, eu diria, — diz


Rachel. —Tome o elevador para descer, faça uma corrida para
isto. Boa sorte para você. Não vou dizer nada, mas se Caleb
perguntar, eu estou dizendo a verdade.

— Eu não iria pedir-lhe para mentir por mim. — Eu


tento um sorriso amigável. — Obrigada, Rachel. E... Parabéns
pela promoção, acho?

Ela faz um aceno de cabeça, parte encolher de ombros.

— Obrigada.

Dou um último sorriso, um último olhar. Em seguida,


abro a porta, espreito e saio. Fecho a porta atrás de mim, um
sentido de finalidade no suave clique. Caminho para longe da
porta marcada 3. Concentre-se no agora, o foco em alcançar
o ar livre, chegando a luz solar, atingindo o exterior.

Passo para o elevador, e meu dedo paira sobre o G. Mas


eu hesito. Por que estou hesitando?

Preciso de respostas. É por isso. Quem sou eu? Quem


sou eu para Caleb? O que significa tudo isso?

A convicção na voz de Rachel. Sentindo-se como se ela


fosse a única que importava quando estava com Caleb... que
soa muito familiar.
| 333

Em vez de G, meu polegar apunhala o L, para o átrio.

Descida, meu estômago retorce. As portas suavemente


se abrem. Eu saio.

Rosto surpreso.

— Madame X!

Eu me detenho com brusquidão.

— Mantenha as mãos para si mesmo. Leve-me para


Caleb. — Eu finjo autoridade.

Finjo que não estou uma confusão de nervos, agitada,


furiosa, desorientada. Finjo como se tudo o que eu achava
que sabia apenas não foi levantado.

Len separa a multidão de curiosos e guardas de


segurança. Um rosto familiar, pelo menos.

— Madame X. Deu-nos um susto. Pensei que talvez você


tivesse se perdido. — O rosto de Len é impassível, dando
nada.

— Leve-me para ele, Len.

— Por que não voltamos para o seu apartamento? Foi


uma manhã agitada; tenho certeza que você gostaria de
descansar. — Um comando educadamente formulado.

— Eu não penso assim, Len. Leve-me para a cobertura.


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Agora. — Meus olhos são estreitados, minha voz dura e fria.

Len pisca duas vezes, permite uma respiração curta.


Levanta o punho à boca.

— Eu a tenho, senhor. Ela quer vê-lo... não, ela quer


que eu a leve até a cobertura... Sim senhor. Entendi, senhor.

Len pega meu braço superior, e encaminhamos para o


elevador no lado direito do banco de portas. Este elevador
apenas para pessoal autorizado. Uma chave abre as portas, a
mesma chave torcida ao PH. Subindo, meus nervos atacam
com cada pé as subidas do elevador. Len é estoico, em
silencioso.

Eu tento formular pensamentos, tento decifrar meus


sentimentos.

Tudo o que eu pensei que eu ia dizer foge quando as


portas se abrem no nível da cobertura.

— Madame X. Por favor, entre. — Oh, aquela voz.


Profunda como canyons, áspera como lixa.
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Capítulo Quatorze

— Eu estou contente de ver que voltou a seus sentidos.


— Fúria reprimida, os dentes cerrados.

As portas se fecham atrás de mim, e tão logo eu ouço o


gemido do elevador e desaparece, eu passo para frente.

— Seu desgraçado.

— Desculpe-me? — Descrença, choque.

— Gostaria de saber onde eu estava agora, Caleb? —


Pergunto isso na minha voz mais doce e inocente.

Olhos escuros estreitam em suspeita.

— Onde você estava, X? Esclareça-me.

Estou peito a peito, olhando para cima. Eu fervo.

— Eu estava no sexto andar.

— Entendo.

— No apartamento três. Conheci uma jovem muito


| 336

interessante que disse que seu nome era, curiosamente, Três.


Mas então, você vê, tive o privilégio de ouvir muito...
esclarecedora... avaliação e promoção, no qual ela ganhou um
nome real.

— Eu não sei o que você pensa que você ouviu ou viu, X,


mas não é o que você pensa.

— Não é? Isso é estranho, porque parecia muito como se


o que eu ouvi foi Três chupar seu pau. — Meu sangue ferve
na memória, na indignidade da minha própria excitação
incontida. Eu não posso temperar a minha fúria. — Estou
bem segura o que eu ouvi, foi você fodendo com ela. Assim
como você me fode. Que devo dizer, o que levanta algumas
questões muito interessantes, Caleb.

— Você viu isto, não é? — Isto é calmamente dito,


silenciosamente, até mesmo em sua voz.

— Vi isto? Não. Ouvi é um termo mais preciso, eu acho.


Eu estava debaixo da cama, você vê. Escondendo-me de você
e seus capangas.

Músculos da mandíbula trabalham.

— X, há elementos para tudo isso que você não, que


você não pode compreender.

— Então me ilumine, Caleb! — Eu grito. — Porque


parece que eu sou apenas mais uma das garotas no sexto
| 337

andar. Exceto, que eu não tenho o mesmo futuro que elas


têm. Sou mantida no escuro, sozinha, dia após dia, servindo
cliente após cliente. Mas eu não estou autorizada a formar
uma amizade com nenhum deles. Eu não estou autorizada a
ter relações de qualquer tipo. Exceto você, quando você se
digna a me visitar, no meio da noite. Você está me treinando,
também? Como você está treinando meninas do dois ao oito?
Ensinando-me como a agradar um homem, antes de me
vender pela melhor oferta? É isso? Ou eu sou apenas o seu
pequeno segredo sujo no décimo terceiro andar escondido? O
segredo que você se esgueira, tarde da noite, tem relações
sexuais no escuro, depois que termina a formação de todas
as outras meninas. Ou sou eu...

— Você é minha! — Vem o silvo venenoso, me cortando.


Enormes mãos seguram o meu rosto, inclina a cabeça para
cima, dedos brutais segurando firme, não me permitindo
escapar. — Você não é como elas, X. Você é secreta porque
você é especial.

— Eu não acredito em você.

— Você acha que eu estou vendendo aquelas meninas,


X? É isso que você pensa? — Uma abrupta mudança de
tática. — Isso não é como é, e se você realmente tivesse falado
com Rachel, você entenderia isso.

— Você fez lavagem cerebral nela. Assim como você fez


| 338

comigo.

— Eu salvei a vida dela, como eu fiz com a sua! A tirei


das ruas e me sentei com ela até passar a desintoxicação da
metanfetamina. Eu dei banho nela, e a segurei enquanto
balançava tanto que eu pensei que ela iria quebrar um osso,
e eu a alimentei com minhas próprias mãos. Isso não é algo
que eu venderia como um saco de batatas, porra! Eu estou
dando a ela um futuro, e eu não vou sentar aqui e me
defender para alguém que não tem a primeira pista de merda
de quem eu sou! — Sou liberada abruptamente, e pernas
longas começam a andar para frente e para trás, impaciente,
com raiva. — Você não sabe nada sobre mim, X. Não é a
primeira coisa.

— Esse é o ponto! — Eu grito. — O que você acha que


eu estou tentando...

— E você esquece o que eu fiz para você? Quem estava


lá quando acordou, sozinha?

— Você estava, mas...

— E quando você não podia falar, não podia andar,


quem te trouxe em uma cadeira de rodas e carregava um
notebook em qualquer lugar, de modo que pudesse se
comunicar? Quem te levou para o MOMA? Quem lhe mostrou
a pintura Madame X? Quem a segurou quando você chorou
durante a noite, todas as noites, durante semanas? Você não
| 339

tinha nome, nem passado. Eu não podia voltar o seu


passado, mas o que eu lhe dei, X?

— Uma identidade, — eu sussurro.

— E um futuro! — Perfume masculino, calor, dedos


segurando minha cintura. —Você construiu uma vida, X. Eu
lhe dei o melhor de tudo. As melhores roupas, a melhor
comida. Uma educação. Habilidades. Um trabalho, algo para
mantê-la de enlouquecer de tédio! Eu não estou te mantendo
prisioneira, eu estou mantendo-a segura! Você esqueceu de
tudo isso?

— Não, eu não esqueci.

— Eu não costumo trazer essas coisas. Você sabe disso.


Eu me concentro no agora, no futuro imediato. Eu sigo em
frente. Eu não me debruço sobre o que você era, X. Eu não
espero um reembolso ou um mesmo obrigado. — O dedo
indicador e o polegar, apertam meu queixo, levantando meu
rosto. Largo, profundo, olhos escuros penetram o meu. Eu
não consigo desviar o olhar. — O que eu espero, X, é a
lealdade.

— Como você se atreve? — Eu me afasto. — Lealdade?


Quando você tem oito mulheres sentadas esperando para
prestar serviços de manutenção em todos os seus caprichos?
Esperando por um vislumbre de você, esperando para a
próxima... avaliação? No entanto, você espera lealdade de
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mim?

— Não fale do que você não entende. E isso é algo que


você não entende.

— Você aparece no meu quarto tarde da noite, e me


fode. Isso é tudo o que é. Assim como elas. Todas elas. Não
significam nada para você, não é? Nem eu, nem elas. Somos
apenas... recipientes para os seus... impulsos masculinos,
enfeitado com desculpas de fantasia. — Eu luto contra um
soluço. — E você sempre parte e eu só... quero significar
alguma coisa. Mas você nunca me dá nada de si mesmo. É
uma sensação boa com certeza, mas quando isso acaba, o
que me resta? Você mesmo disse.... Eu não sei nada sobre
você. Como eu poderia? Não sei nada sobre mim mesma. Mas
o que importa, certo? Estou lá apenas para satisfazê-lo
quando você tiver vontade de me foder.

Há um silêncio, então é um silêncio mais cheio de


tensão e volatilidade do que qualquer outro que eu já senti.

— Como você pode não ver, X? — Está, tão quieto que


eu tenho que me esforçar para ouvi-lo.

— Ver o que, Caleb?

— Ver o quanto que você é especial para mim. Eu a


mantenho distante. A mantenho para mim. Essas meninas,
Rachel e as outras, eu tenho que dar-lhes distância. Elas
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estão todas danificadas, e eu estou tentando torná-las


inteiras. Eu sei que você não entende, mas é isso o que estou
tentando fazer. Eu não as vendo, eu as combino. Todas elas,
cada uma, todos elas se combinam com alguém que vai
apreciá-las, mesmo amá-las. Funciona. Eu já vi isso
funcionar. Mas, para que elas saiam e sejam as esposas que
precisam ser, elas têm que se sentir bonitas. Elas precisam
sentir a sua própria autoestima. E quando elas vêm até mim,
quando entram no programa, elas não são.

Alguns passos trazem um corpo que não posso ignorar


para ficar ao meu lado. Um longo dedo indicador toca minha
bochecha, traça a sua curva.

— Mas você, X. Você é especial. Eu sempre soube que


você seria. Quando eu encontrei você, eu só sabia que tinha
que ajudá-la. E sim, eventualmente ia colocá-la no programa.
Mas eu não consegui. Eu não posso.

Há uma falha nesta lógica, em algum lugar, mas estou


tonta, perdida. Calor domina meus sentidos, a pressa
repentina e inesperada da verdade abafa minha lógica. Mãos
abrangem minha cintura, segurando com a necessidade
feroz. Lábios tocam minha orelha. Há ternura aqui, e é tão
estranha e tão bem-vinda.

— Por quê? — Eu sussurro. — Por que não pode?

— Eu não posso lhe dar a outra pessoa, porque você é


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minha. Você pertence a mim. Não consigo compartilhar você.


Eu não vou. Você é.... — o pomo de Adão sobe e desce, com
um engolir duro. — Você quer dizer algo para mim, X. —
Atrás de mim agora.

Nunca ouvi falar tais coisas desta boca. Nunca vi tanta


intensidade e abertura. Estou inundada de dúvidas.

Lábios tocam minha garganta, e me enfeitiça, absorve-


me, me tece no encalço escuro de sua teia e trama.

— Você não sente isso? — Amplas mãos poderosas na


minha barriga. —Não sente... nós?

Ah, essa palavra. Nós. Isso significa que pertenço. Quero


isso. Eu quero acreditar.

— Você sente, X?

— Sinto muito, Caleb. — E eu faço. Eu faço.

Eu não deveria, mas eu faço. Eu sou fraca. Tão fraca.

Eu estou caindo sob o feitiço.

Minhas coxas tremem, minha barriga treme e aperta.


Necessidade pulsa em mim. O corpo duro atrás de mim é
enorme e poderoso e incita algo com fome dentro de mim.
Não posso ajudar, mas inclino a cabeça para trás, expondo
minha garganta. Uma enorme mão desliza para cima do meu
corpo, segura meus seios, e depois enrola em torno de minha
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garganta, gentil, mas insistente. A outra escorrega pelo meu


corpo, sobre a minha barriga, para baixo entre as minhas
coxas. Aconchego-me. Os dedos ondulam e reúnem a borda
do meu vestido, levanta-o. Polegada por polegada, minhas
coxas são descobertas. Então meus quadris. Em seguida, a
lingerie preta sobre as minhas partes íntimas.

Uma mão na minha garganta, a outra no meu núcleo.


Uma escava, a outra agarra. Uma apertada com pressão
suficiente para tornar-me trêmula com uma pitada de medo,
a outra cava sob a seda para encontrar carne, roubando o
fôlego.

— Você é minha, X.

Eu só posso gemer em resposta. Dedos curvados,


deslizamento dentro, encontram-me sensível e carente, aperta
apenas para definir me sacudindo, joelhos fracos.

Eu gozo, de forma rápida e forte.

Mas não terminei. Ah não. Enquanto eu reúno as


minhas forças para ficar de pé sozinha, os dedos deslizam
para fora de mim e descompacta as calças. Meu vestido está
em torno de minha cintura, respiração quente no meu
ouvido, e agora minha calcinha desapareceu, deixando-me
nua da cintura para baixo, o ar frio e úmido em meu núcleo
quente. Ouço sapatos sendo expulsos, calças e o baque do
cinto no chão. Pés cutucam a minha parte, e uma mão me
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empurra para frente. Minha bunda está nua, exposta. Eu


pingo com necessidade. Eu sofro. Deus, eu sofro.

A mão na minha garganta não diminuiu seu aperto, e


agora, inclino para frente, esse aperto é tudo o que me
impede de cair.

Um gemido do fundo da garganta, e eu estou cheia.


Profunda, lenta e difícil.

— Você sente isso, X? Você nos sente?

Eu não sei como compreender isso. Palavras nunca


entraram esta equação, nunca foram uma parte deste ato.

— Sim, Caleb.

— Sim, o quê?

— Sim, eu sinto isso.

Mas é o mesmo, ainda. Apesar das palavras, apesar da


emoção palpável, é o mesmo. Vejo apenas o piso. Sinto
apenas o que eu estou autorizada a sentir.

Mas, em seguida, algo muda. Um impulso, outro. Eu


lamento, tropeço, agito, apenas a mão na minha garganta me
mantém em pé. Estou tonta com a falta de ar. Eu não estou
sendo sufocada, mas ele ainda está prendendo meu oxigênio.

Controle.
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Eu quero mais.

— Deixe-me o ver, Caleb. — Digo, em voz alta, e estou


espantada com a minha própria ousadia.

A presença dentro de mim desaparece, e eu sou


transportada na posição vertical por um puxão no meu
cabelo. Mãos me viram. Olhos de fogo, ardente, queimando,
escuro e desconhecido.

— Você quer me ver?

Deus, esse corpo é vertiginosamente perfeito. Todos os


ângulos duros e músculos enormes. Esculpidos, corte, e
perfeito. Eu alcanço, e por uma fração de segundo, estou
autorizada a tocar carne firme, mas apenas por um momento.

Mãos tiram o vestido para fora de mim, que fazem o


trabalho do sutiã sem alças, e então eu estou nua.

Sou empurrada para trás, e eu tropeço em cima de algo.

Tão focada no homem diante de mim, que não notei


nada do espaço em torno de mim. Isso não muda agora. Um
sofá, eu acho. Eu caio para trás sobre o braço de um sofá, e
calor do sexo masculino e dureza me segue em cima de mim.
Nas minhas costas, as pernas ficam penduradas sobre a
borda, caio para o espaço. Uma ampla fatia de carne
masculina e músculo preenche esse espaço, separam as
minhas pernas. Mãos apertam minhas coxas, me puxam, e
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depois aperta meus quadris e me levanta. Posso ver os


ângulos agudos e restolho escuro, olhos selvagens, zangados,
barra fina de uma boca. Eu tenho um momento de
respiração, um momento para olhar, para ver peitorais e
abdômen sulcado, e depois um impulso acentuado aciona o
eixo de espessura em mim.

Deixo escapar um suspiro de surpresa. Ele raspa dentro


de mim, me enche em um ângulo estranho, plenitude, mas
diferente. Mãos seguram meus quadris, sou levantada e
puxada para trás, para o próximo impulso, que é duro e
áspero.

— Oh! Oh Deus! — Doem esses golpes duros, mas eles


me fazem sentir bem também.

— Você é minha, X. Você pertence a mim.

Quadris batem entre as minhas coxas, e eu sou


balançada para frente, mas mãos fortes mantêm-me firme
para a próxima estocada poderosa.

Olhos escuros não deixam os meus. Eu não consigo


desviar o olhar, nem mesmo para fechar meus olhos
enquanto tremores do orgasmo explodem através de mim.
Não posso desviar o olhar, não agora.

— Minha. — Um impulso de balanço, enviando-me


sobre a borda. — Diga, X. Porra, diga! Diga que você é minha.
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Eu preciso do próximo impulso, preciso dele para ficar


aqui do lado oposto da felicidade, onde tudo é nada, e nada
importa, mas o calor e a plenitude e a ligeira dor que queima
e a pontada e o aperto de mãos em meus quadris e a batida
do corpo contra corpo. Neste momento, é tudo que importa.
Estou condicionada a precisar, neste momento, isto agora. É
tudo que eu sou.

— Eu sou sua, Caleb. — Eu digo em um gemido, um


soluço.

Assim que essas três palavras deixam meus lábios, eu


sinto a pressa quente e úmida da liberação dentro de mim,
sinto o pesado corpo cair para frente, e eu aceito o peso, sinto
o músculo duro sob minhas mãos. Barba no meu rosto,
bochecha contra bochecha. Um momento de respiração
mútua, áspera e irregular.

— X. — Meu nome, dito assim, com tal.... Não


vulnerável, mas algo como isso, eu quero acreditar em tudo o
que eu ouvi nos últimos minutos.

Eu deveria dizer algo, mas o quê?

De repente, o peso se foi, e a expressão estátua em


branco fria está no lugar.

— Eu tenho que ir.

Deito no sofá, nua e saciada, confusa, emocionalmente


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demolida. Eu observo o corpo nu como ele está coberto palmo


a palmo com roupas caras. Sapatos, último, deslizou, e
amarrou rapidamente.

— Fique. — Digo na esperança.

Uma pausa. Hesitante. Tudo o que posso ver é uma


costa larga, cintura em bom estado, pernas fortes. Eu não
posso ver a expressão naquele rosto bonito, demasiadamente
bonito.

— Eu não posso. Eu estarei de volta, no entanto. Você


fique aqui. Não vista as roupas. — Um estrondo, de peito
largo, de alguma profunda emoção muito grossa e masculina
e tumultuada para expressar em meras palavras. — Só...
fique. Eu voltarei. E X?

— Sim, Caleb?

— Você é especial para mim.

Eu sinto algo torcer dentro de mim, expandir e florescer


com esperança.

Chave de prata, torcido. Portas de elevador aberta,


passos fáceis para o carro, por sua vez, e eu posso ver uma
sugestão da tempestade de emoções. Há muito mantido
escondido, eu estou percebendo.

Ainda correm águas profundas, eu acredito que a


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declaração vai.

As portas do elevador se fecham, e eu estou sozinha.

Olho ao redor, enormes janelas deixando entrar a luz do


sol. Talvez 30 minutos se passaram desde que eu entrei nesta
cobertura.

O espaço é enorme. Explorando, percebo todo o andar


superior do edifício que compõe esta cobertura, mais pés
quadrados do que eu possa contar. A maior parte é espaço
aberto, dividido aqui e ali com meias paredes e painéis de
papel, ou seccionado com longos sofás para criar recantos
informais de espaço. A cozinha, longe à distância, todos em
mármore reluzente e aço inoxidável. A varanda, as próprias
paredes deslizam separadamente e o teto inclinado para trás
e longe da vista para descobrir uma área externa cortada da
estrutura do próprio edifício.

Lá, um conjunto de painéis de papel elaboradamente


pintados, inspirados na cultura japonesa, o corte fora do
quarto. Habilmente estendidos em camadas, três conjuntos
formam uma barreira de modo a que o quarto não pode ser
visto do exterior. Uma grande cama baixa, com um edredom
branco, bem feito. A cabeceira de cada lado, vazia de
quaisquer efeitos. Uma parede real forma o lado esquerdo do
quarto, e nela uma porta, que leva ao banheiro.

Preciso de um banho, de repente percebo. Eu não tive


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um em um longo tempo.

Mas quando eu entro no interior do banheiro, há uma


banheira profunda, e eu sorrio para mim mesmo.

Eu corro a água quente, encho a banheira. Entro, pele


queimando pelo calor delicioso, enquanto espirro água no
chão. Afundo-me, submersa, gradualmente, até que eu estou
imerso no meu nariz.

Imediatamente, sou agredida pelo caos em minha


mente, arremetida furiosa de tudo o que eu recuso a pensar
sobre.

Eu sofro entre as minhas coxas, e agora que a fonte


dessa dor se foi, eu sinto vergonha, constrangimento,
repulsa. Ódio. Eu caí na feitiçaria mais uma vez. Caleb de
alguma forma tece um feitiço sobre mim, de me fazer
esquecer todas as minhas objeções e todos os meus
pensamentos e tudo o que é lógico ou racional.

Caleb é um deus, e deuses são intrometidos... ou assim


diz os mitos antigos. Como um deus, Caleb se mete com a
minha racionalidade. Manipula o meu corpo e minha mente.
Afoga meus sentidos com perfeição masculina, me cega com a
beleza. Agora, sozinha, só vejo as partes distintas que
compõem o conjunto, e o efeito não é o mesmo. Os olhos, a
boca, o queixo; os braços, as mãos, a musculatura maciça...
estes são Caleb. A raiva, o frio, o calor do corpo e toque hábil,
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a maneira que eu posso ser derretida para nada. Estes,


também. Mas todos juntos, é mais.

E eu caio toda vez para isto.

Eu deixo Caleb tecer uma teia de palavras e toque, e eu


deixei ser fodida, apenas poucos minutos depois de Rachel.

Estou enojada...

No entanto, também ligada.

O ódio é para mim.

E Caleb. Por brincar comigo, por me fazer sentir que eu


significava alguma coisa. Como pode todos os meus
pensamentos e protestos e objeções ser varridos tão
facilmente?

Será que Caleb tomou banho depois de Rachel e antes


de mim? Eu duvido. Eu não tinha cheiro ou evidência de um
chuveiro. Eu levanto e olho para trás no chuveiro; está seco,
não utilizado.

Eu tenho as essências mistas de Rachel, Caleb e eu,


tudo misturado junto?

Nojo, e mais profundo do que isso, vergonha.

Eu me apaixonei por mentiras. Acreditei em explicações


puras e declarações banais de que eu sou especial.
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E, no entanto, aqui estou, nesta cobertura, na banheira


de Caleb, tomando banho, esperando.

A água quente me puxa para baixo, me faz suar, faz


meus olhos pesados.

Ódio é exaustivo.

Um ruído me desperta. Sento, jogando água fria em


todos os lugares, as pontas do meu cabelo aderindo à minha
parte de trás. Eu espero, tensa, com certeza eu ouvi algo.

Passo a Passo.

— Caleb? — Eu soo com medo. Nua, vulnerável,


desorientada acidentalmente adormeço em água quente,
tonto de superaquecimento, não estou em condições de me
defender das feitiçarias de Caleb.

Os passos não são de Caleb, porém. Arrastado,


estranho. Eu olho em volta por uma toalha, não vejo nada.
Cruzando os braços sobre os meus seios, eu agacho na água
agora fria, à espera de quem quer que seja aparecer.

Sapatos pretos brilhantes, em primeiro lugar. Perna de


calça, cintura, paletó. É Len, superando a frente enquanto se
inclina para trás, andando estranhamente.
| 353

Ah. Um braço ao redor sua garganta, o cano brilhante


de uma pistola em sua têmpora. Eu reconheço a mão
segurando a arma, e do antebraço de ouro preso debaixo da
garganta de Len.

— X? — Eu ouço sua voz familiar suave, em primeiro


lugar, e então ele e Len estão no banheiro, Logan não é bem
visível atrás Len.

— Logan? O que... que você está fazendo?

— Eu vim para lhe pegar. — A arma cutuca a têmpora


de Len. — Ele não queria me deixar, e perdeu.

Eu estou absolutamente sem palavras, curvada na


banheira, encolhida, toda molhada, com frio, tremendo.

— De joelhos, filho da puta. — Logan empurrou Len na


parte de trás da cabeça com o cano da arma.

Len hesita.

Logan pressiona com mais força, recua o cano. — Não


faça isso sujo, homem.

Meu coração para. Len pisca, aperta os olhos fechados,


ombros levantam... e, em seguida, Len ajoelha-se,
lentamente, um movimento pesado, um antagonista. Logan é
visível agora: vestindo calça jeans azuis, gastas botas de
combate pretas, uma camiseta cinza com decote em V
escondido atrás da fivela do cinto com o resto deixou para
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fora da calça, esticada em torno de seus braços. Chapéu


preto, borda puxada baixo para esconder o rosto.

— Tire o seu cinto, sapatos e meias, — instrui Logan.

Len cumpre, desafivelando o cinto preto de couro fino,


brilhante, varrendo-o, sapatos sociais pretos, em seguida, e
meias com padrões de losango.

— Deite-se de lado e coloque as mãos em seus


tornozelos.

Mais uma vez, Len cumpre, rolando lentamente e


estendendo os pulsos juntos. Logan, com a arma ainda na
mão apontada para Len, empurra o final do cinto entre os
tornozelos de Len e no chão, chama a ponta sobre os
tornozelos e os pulsos de Len, alimenta isto com destreza
através da fivela, todos com uma só mão. Puxa o esticando, e,
em seguida, mais difícil, Len esta grunhido em dor. Só então
Logan coloca a pistola na parte de trás de sua calça jeans.
Alguns movimentos rápidos, e o cinto é amarrado em um nó.
Um pé de meia é enrolado e empurrado na boca de Len, a
outra esticada em torno de modo a formar o que parece ser
uma mordaça dolorosamente apertada.

Todo o processo de amarrar e amordaçar Len leva


menos de trinta segundos.

— Você está bem? — Logan leva dois passos rápidos


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para mim, ajoelha-se diante de mim.

Seus olhos estão sobre os meus, e eles são o índigo do


mais profundo oceano azul, tranquilo e preocupado.

Eu aceno com a cabeça.

— Sim. — Mas então eu olho para Len, e eu começo a


tremer. — Não.

— Ferida?

— Não, eu não estou ferida.

Ele olha em volta, como eu fiz, procurando uma toalha.


Ele vê o que eu não vi, no entanto: um armário escondido na
parede. Ele se move como líquido recupera uma toalha
branca grossa, e passa sobre mim.

—Vamos lá. Calma agora.

Eu me levanto, saio. Os olhos de Logan permanecem no


meu, e embora eu esteja nua na frente dele, eu não me sinto
tão vulnerável quanto eu deveria. Ele envolve a toalha ao
redor dos meus ombros, me aconchegando nele.

— Você pode andar? — Pergunta ele, sua voz suave e


quente no meu ouvido.

— Sim. — Eu dou dois passos, mas então meus joelhos


me fazem uma mentirosa. Ainda estou tonta, desorientada.
Sinto que as minhas forças acabaram, e com sede. Os braços
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de Logan estão em torno de mim, me pegando facilmente.

— Eu sinto muito. Adormeci na banheira.

— Assim está bem. Você está superaquecida. — Ele se


move comigo, passando lateralmente para fora da porta,
carrega-me em toda a sala em passos fáceis.

— Eu preciso colocá-la para baixo. Eu não deixarei você


cair, embora.

Eu encontro meus pés, apoio contra ele. Sinto-me mais


forte agora, mas sua proximidade é calmante, e eu estou
confusa, cansada. Eu nunca tiro cochilos, e eu sinto como se
eu tivesse caído através de um buraco no chão em algum
outro lugar. Como Alice no buraco do coelho. Nada é certo.
Eu não deveria estar na cobertura de Caleb, e Logan não
deveria estar aqui também.

E certamente não deveria me sentir segura nos braços


de um homem que apenas amarrou e amordaçou alguém com
uma arma, usando o próprio cinto e meias como seu
cativeiro.

Mas eu faço.

Logan retira uma chave de Len, do bolso dele. Insere e


gira para ativar o elevador, que leva um momento para
chegar, e, em seguida, as portas abrem.

Logan me cutuca. — Isso não o segurará por muito


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tempo. Teremos que nos movimentar, se quisermos fazer isto.

Ele nos leva ao meu andar, o braço em volta da minha


cintura, me segurando, me ajudando a ficar pé, rapidamente,
mas com cuidado.

Em minha porta, ele se localiza atrás, retira a arma,


uma peça preta de metal que parece pequena em sua mão,
segura naturalmente, como se fosse uma extensão do seu
braço. Ele abre a minha porta, um braço em volta de mim,
seu corpo em frente ao meu. O cano varre a abertura, de
forma rápida e profissionalmente. Ele me senta no sofá, as
ondas para mim em um gesto para ficar, e então desaparece
no meu quarto.

Momentos depois, ele está de volta, uma pilha de roupas


em suas mãos, e me entrega algumas. — Você literalmente
não tem roupas práticas, X. Você não tem sequer roupa
íntima prática.

Ele escolheu um conjunto de roupa íntima preta Agent


Provocateur, sutiã meia taça, calcinha tipo de menino, curto.
Um vestido azul pálido, sem mangas, na altura do joelho,
flores vermelhas impressas em torno da bainha. Sandálias de
tiras de prata, com o menor salto em meu armário.

Eu dou de ombros, e alcanço as roupas. — Eu não


compro minhas roupas.
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Os olhos de Logan estreitam, mas ele não comenta sobre


esse comentário.

— Vista-se! — Diz ele, brusco, mas com uma nota de


bondade. — Não temos muito tempo. — Ele se afasta,
empurra as mãos nos bolsos de trás, o cano da arma
recheado diagonalmente na cintura em suas costas.

Eu me visto rapidamente. É estranho como ter roupas


possa mudar a mentalidade de uma pessoa.

Logan se vira, espia-me para ter certeza que eu estou


decente, e então se vira completamente. Ele leva meus braços
em suas mãos, olhos sinceros e quentes.

— Certo, X. Só vou perguntar isto uma vez, e você


precisa pensar seriamente sobre a sua resposta. — Sua mão
vai para a minha bochecha, e retira uma mecha de cabelo
úmido da maça do meu rosto. — Eu posso levá-la para longe
daqui, se é isso que você quer. Mas eu não vou levá-la para
fora daqui sobre o meu ombro como um bárbaro. Você pode
vir comigo, ou não. É a sua escolha.

Eu engulo em seco.

Isto é tudo que eu conheço. Caleb, Len, este


condomínio. Eu olho para a esquerda: a minha biblioteca, a
porta aberta, todos os meus livros à espera. Minha janela,
minha visão.
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Mas no andar de cima, aquela cena. Curvado, uma mão


dura na minha garganta. A magia do toque de Caleb, como se
a minha vontade é de alguma forma sujeita a tal manipulação
fácil. Tão facilmente deixada sozinha, nenhuma explicação,
apenas uma expectativa de que eu estaria lá, esperando,
pronta para fazer o que Caleb instrui.

Eu não sei o que eu quero.

Eu não conheço Logan. O desconhecido é assustador, e


quando você não tem passado, sem identidade, quando você
tem, mas raramente se aventurou para fora do pequeno reino
do familiar, tudo é desconhecido e assustador.

Mas Logan está me dando uma escolha.

Isso, por si só, é suficiente para me convencer.

O desconhecido é assustador.

Uma eternidade de as mesmas poucas coisas que eu


sei... que é mais assustador ainda.

— Leve-me com você, Logan. — Eu me esforço para soar


confiante, quando não estou.

Um pequeno sorriso cruza os seus lábios.

— Eu esperava que você fosse dizer isso. — A palma da


sua mão se ergue e esfrega a minha bochecha

Esse toque, tão gentil, tão amável, insinuando força


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mantido à distância; ele acaricia minha bochecha na palma


da mão, e meus olhos se, fecham. Um momento, somente,
mas acalma a turbulência na minha alma, mesmo que
apenas por um momento fugaz.

Como os meus olhos estão fechados, eu sinto sua


respiração, seus lábios tocando o meu. Docemente,
suavemente,

Ele me beija,

E me beija,

E me beija.

Tudo em um momento.

Eu suspiro enquanto seus lábios deixam o meu, e então


suas mãos enroscam na minha, dedos entrelaçam, e ele me
puxa em movimento.

— Vamos, querida. Hora de ir.

E ele me leva para longe de tudo que eu sei.


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Capítulo Quinze

No elevador, Logan puxa o boné da cabeça e encaixa


sobre o minha, bate a aba inferior sobre o meu rosto. Ele
esfrega a mão pelo cabelo dele, fazendo uma bagunça, os
cachos loiros enrolados. Mas, mesmo assim, com seu cabelo
em um uma bagunça, ele é tão sexy minha respiração vem
curta com a visão dele.

— Só vamos sair daqui, ok? À direita da porta da frente.


— Ele desliza um braço em volta da minha cintura, escava a
outra mão no bolso, retira o seu telefone celular e entrega
para mim. — Mantenha sua cabeça baixa. Finja que você está
envolvida no Facebook ou algo assim, certo? Basta agir como
se você não possa ser incomodada para olhar para cima.

Eu levo o dispositivo em minhas mãos. É um retângulo


grande, preto e brilhante em um caixa de borracha, com um
único botão redondo na parte inferior. Logan pressiona o
botão com o polegar e a tela se acende, mostrando Logan com
um cão grande marrom-chocolate, a sua língua pendurada
para fora. Ele deixa o seu polegar no botão por um segundo, e
| 362

as mudanças de tela, mostrando fileiras de pequenos ícones


em cores diferentes, com diferentes logotipos. Por trás das
fileiras de ícones é uma fotografia impressionante de uma
galáxia em espiral.

Eu não tenho a menor ideia do que fazer. Não possuo


um telefone celular e não tenho conhecimento de como usar
um, por isso é provável que eu nunca possua um, qualquer
um.

Eu só olho para a tela por um momento, e depois olho


para Logan.

— Eu não sei o que fazer.

Ele franze a testa para mim.

— O que você quer dizer?

Eu levanto o telefone no gesto.

— Com isso. Nunca tive um telefone celular.

Suas sobrancelhas se elevam.

— Você é cheia de surpresas, não é? — Ele toca a tela


com o dedo indicador e aperta a esquerda, puxando a tela
cheia de pequenos ícones para a direita. Ele encontra um
ícone, aperta, e ele se expande para revelar um conjunto
oculto de ícones; ele aperta novamente.

— Tetris. É fácil. Basta encaixar os pequenos pedaços


| 363

para que eles façam uma linha reta transversalmente.


Toque-os, e eles vão girar. É como um quebra-cabeça em
movimento.

Um par mais toques, e a tela resolve em algo como papel


gráfico, linhas de marcação para fora da tela em pequenos
quadrados. Um quadrado amarelo brilhante aparece, caindo
lentamente da parte superior da tela para o fundo.

Quando o elevador chega ao hall de entrada, eu entendo


o objetivo básico do jogo, e eu estou absorta. Eu permito que
intencionalmente tornar-me absorvida em força as várias
formas para se adaptar com os outros assim que a linha
desaparece. Caso contrário, eu estaria apavorada. Eu estou
aterrorizada; eu estou apenas fingindo, até mesmo para mim,
que eu não sou. Um jogo de vídeo não pode apagar meu
pânico em deixar o condomínio, o meu medo de ser
descoberta, e voltar, e ser punida.

Estou indo embora.

Com Logan.

Eu estou deixando tudo o que conheço, com um homem


que eu encontrei duas vezes.

E eu estou jogando um jogo de vídeo.

Eu poderia rir do absurdo de tudo.

O braço de Logan desliza mais firmemente em torno da


| 364

minha cintura, e eu inclino para ele, e deixo guiar-me. Eu


mantenho meu foco no telefone celular nas mãos, tocando
nas teclas com ambos os polegares como eu já vi meus
clientes e Caleb fazer em numerosas ocasiões. Finjo que eu
estou fazendo algo mais importante no dispositivo do que
jogar um jogo.

Estou tensa, mal consigo respirar, o coração


martelando; espero um clamor a cada passo. Eu ouço vozes,
música fraca, o ding dos elevadores que chegam ao lobby e
abertura. Eu ouço as portas se abrirem à frente, deixando
entrar uma breve fatia do ruído do exterior, e então eles
fecham, retornando sufocante silêncio do lobby.

Nunca vi o lobby do edifício antes, nas poucas vezes em


que saí, eu entrei e saí através da garagem, e, em seguida,
sempre sob forte vigilância, passava do carro para o elevador
e vice-versa, tão rapidamente quanto possível. Eu quero olhar
ao redor, mas eu não faço. Eu vejo o chão sob os meus pés,
quadrados pretos brilhantes de mármore marmorearam com
estrias de ouro.

Sinto tensão do torso de Logan e a mudança enquanto


ele me leva através das portas, placas pesadas de vidro com
alças de prata. O ruído da estrada, buzinas, motores, freios
gritando. A superfície velha de pânico, e agora a minha
frequência cardíaca aumenta a uma velocidade perigosa,
batendo tão forte no meu peito que é fisicamente doloroso.
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Minha respiração deixa meus pulmões congelados. Eu não


posso piscar, e minhas pernas não se movem.

Estes ataques de pânico são por que fiquei na torre de


Caleb por tanto tempo.

Logan me arrasta, essencialmente, o seu telefone celular


pendurado em meus dedos.

— Você está bem, querida? — Sua voz no meu ouvido,


zumbido, quente.

Eu tento forçar o oxigênio, e uma espécie de sucesso, o


suficiente para raspar fora uma resposta. — Pânico... ataque.

Um homem em um terno passa por mim,


acidentalmente batendo com o ombro contra o meu, não
reduz a velocidade e nem olha para mim. Embora, encolho
meu ombro batendo contra o edifício, e eu sinto como se
estivesse tentando entrar na pedra, caindo de joelhos. Outra
pessoa passa, uma mulher com pouca roupa em shorts que
mal cobre o seu traseiro e um top que deixa pouco do seu
decote para a imaginação; ela olha para mim, aversão e
desprezo em seu olhar, como se eu pessoalmente a tivesse
ofendido de alguma forma. Eu a vejo, olho para ela, incapaz
de desviar o olhar. Ela nunca presenciou um ataque de
pânico antes? Por que alguém que eu nunca conheci olharia
para mim com tanto ódio?
| 366

— X, você precisa controlar isso, querida. Eu tenho


você. Ninguém vai lhe machucar. Você está segura comigo.
Você só precisa andar dois quarteirões comigo, ok? — Ele
está ajoelhado na minha frente, com as mãos no meu rosto.
Pisco, e seus profundos olhos azuis corrigem no meu. — É
isso aí. Olhe para mim. Você está bem. Você está bem.
Respire para mim, tudo bem? Respire fundo, está pronta?

Eu aceno, seguro seus antebraços com os dedos


desesperados, o focalizo em seus olhos azul, azul, azul,
arrasto em uma golfada de ar quente do verão Manhattan.

Ele sorri sua cara amável e paciente, seus olhos não


vacilam no meu.

— Que bom querida. Boa. Outro. Comigo, ok? Respire


fundo pelo nariz, pela boca. Continue. Boa. Apenas
mantenha seus olhos nos meus.

Estou respirando, olhando para ele, e minha frequência


cardíaca diminui um pouco. Outro momento ou dois de
respiração profunda, e então ele está me puxando para os
meus pés, mão enroscada na minha. Tenho seu telefone
celular em um aperto de morte na outra mão, apertando com
tanta força agora meus dedos machucam. Eu me inclino para
ele, seu volume duro no meu lado reconfortante, seu cheiro
em sua camiseta enchendo minhas narinas, amaciante e o
aroma fraco de um cigarro. Seu passo é solto e fácil sem
| 367

pressa, embora eu noto olhando nas janelas como nós


passamos por eles, e então quando paramos no sinal
vermelho, ele angula para me encarar, ajustando o chapéu na
minha cabeça, mas o olhar dele é pela rua atrás de nós,
olhando para a perseguição.

— Acho que estamos livres, — ele murmura para mim,


suavizando os dedos pelo meu cabelo solto, úmido, jogando-o
para trás sobre meus ombros. — Meu carro está próximo.
Metade de um quarteirão, nem isso. Sente-se melhor?

Eu ainda estou apavorada além de toda razão, mas não


estou no aperto do ataque de pânico mais. Eu empurro meu
queixo com um breve aceno.

Estou bem.

Ele sorri para mim, aperta minha cintura com o braço.

— Essa é minha garota. Você está indo muito bem.

Ele é tão calmo. Será que ele não entende o que Caleb é
capaz?

Sua garota? Eu sou a namorada dele? Ou isso é apenas


uma expressão? Com Logan, é difícil dizer.

Ele me puxa em uma esquina, numa rua transversal


estreita esmagada com caminhões de entrega estacionados,
metade da largura da rua bloqueada por barreiras de
construção laranja e branco. Há um SUV prata quadrada
| 368

estacionada entre um caminhão de entrega de produtos


branco e uma van preta de alta. Logan me puxa para o SUV,
ajuda para cima e no banco do passageiro. Eu recebo um
aroma de seu perfume novamente, e inalo, encontro alguma
calma estranha nele quando ele me atravessa para clicar o
cinto de segurança no lugar.

Estamos em movimento dentro de segundos, invertendo


fora do local de estacionamento, acelerando e virando de volta
para a estrada principal. O carro tem cheiro de couro e
baunilha. Ele se vira de forma aleatória, penso eu, à esquerda
aqui, ali, três esquerdas, direitas para os vários blocos, e
depois novamente à direita, seus olhos observando seus
espelhos, tanto quanto o tráfego à frente.

— Eu não vejo qualquer sinal que estamos sendo


seguidos. — Diz ele para mim, um sorriso triunfante no rosto.
— Nós fizemos isso, X! Você foi incrível!

— Incrível? Eu tive um ataque de pânico, logo que


saímos Logan. Ainda estou me sentindo doente. Nada parece
certo. Eu não sei o que estou fazendo, eu não sei o que está
acontecendo. Metade de mim se sente como se eu tivesse
cometido o maior erro da minha vida, e a outra metade está
tão aliviada que eu poderia chorar.

— Você pode sentir, no entanto você sente. Vamos levar


tudo lento, tudo bem? O que você quer fazer primeiro?
| 369

Eu dou de ombros.

— Eu não sei. Eu não sei nada, Logan.

Ele balança a cabeça.

— Tudo bem, também. Só me deixe tomar conta de


tudo, então, ok? Pense em qualquer coisa que você quiser,
basta dizer.

Ele pressiona um botão circular no console entre nós, e


música alta enche o ar, cacofônico, irritado, som, a voz de um
homem gritando de raiva. Eu tremo contra a porta,
imediatamente tensa e confusa com o volume e o ódio cru na
voz do cantor. Cantor... uma palavra que eu não tenho
certeza se aplica ao que eu estou ouvindo, exatamente. Logan
torce o botão, e o volume reduz a um nível tolerável, e, em
seguida, ele bate outro botão, torções, pressiona o botão, e a
música muda, agora só bateria e teclado e uma voz feminina
mais palatável a cantar.

— Desculpe. — diz Logan. — Suponho Slipknot


provavelmente não é o seu tipo.

— Slipknot?

— Sim. Heavy metal. — Ele olha para mim. — Deixe-me


dar um palpite aqui e dizer que você não sabe que tipo de
música você gosta, também?
| 370

— Você adivinhou corretamente, — eu admito.

— O que sabe que você gosta?

Eu suspiro.

— Muito pouco. Eu gosto de livros, acho que posso dizer


com confiança. Livros antigos, primeiras edições assinadas,
versões raras. Ficção de todos os tipos.

Logan está quieto por um momento. A música muda,


algo sobre o rap na cidade, embora o que é isso eu não
poderia dizer. É cativante, no entanto, e encontro-me
balançando a cabeça ao ritmo.

— Se você tivesse que dizer alguma uma coisa que você


queria mais do que qualquer coisa, o que seria?

— Um chuveiro. Um longo, banho quente. Roupas


confortáveis. E então algo para comer. — Faço uma pausa
por um momento, e depois deixo escapar o que se sente como
um segredo. — Alimentos pouco saudáveis. Algo gorduroso e
gratificante.

Logan sorri para mim.

— Fácil suficiente. Primeira parada, então, é Macy.

Eu não percebi o quão grande meus olhos poderiam ir


até que Logan me levou em uma excursão estonteante na loja
de departamentos Macy. Eu estava completamente perdida
| 371

dentro de segundos, algumas voltas para baixo um corredor e


depois outro e eu teria sido duramente pressionada para
encontrar a saída. Não que eu teria me importado, eu acho.
Eu poderia ter saído sem parar, fui de prateleira após
prateleira de roupas, conteúdo para simplesmente olhar,
simplesmente ver todas as várias coisas que se podia
comprar. Logan foi incessantemente vigilante, aparentemente
casual como ele me guiou de região para região, fingindo
olhar para uma camisa ou um vestido, enquanto observava
em todas as direções, ao mesmo tempo.

Eu escolho roupas simples e confortáveis: um par de


jeans, uma camisa, roupas íntimas, um par de sapatilhas
planas. Eu não tento qualquer coisa em, apenas adivinhando
tamanhos. Logan parece aliviado quando nós estamos de
volta em seu veículo, e agora ele dirige um caminho menos
tortuoso através Manhattan para uma rua tranquila, estreita
e arborizada com casas baixas de arenito ligadas uns as
outras em uma longa fila. Ele estaciona seu carro ao lado de
uma árvore, que é cercado em tijolos, pequenas luzes
enterradas no coberto de folhas na base da árvore. Três
passos para cima, a chave gira na fechadura, e, em seguida,
há um sinal sonoro alto vindo de um painel branco na parede
ao lado da porta. Logan pressiona uma série de botões
numerados, e o sinal sonoro para.

— Desarmado. — Diz uma voz desencarnada, eletrônica,


| 372

vagamente feminina.

Há um latido selvagem, incessante vindo de trás de uma


porta em algum lugar. Logan fecha a porta atrás de mim,
torce o botão para acionar o ferrolho.

— Venha, — diz ele. — Eu tenho que deixar a cacau


sair do quarto. Ela é amigável, eu prometo. Exuberante ao
receber, mas amigável.

Não tenho tempo para sequer entrar em pânico antes de


Logan desaparecer pelo corredor, abrir uma porta, e o latido
fica mais alto, mais alto, e então há um borrão marrom e do
raspar das garras afiadas na madeira.

— Cacau, para baixo, menina! — Logan grita, mas é


tarde demais.

Um agito quente pesado, latindo, lambendo, batendo em


massa dentro de mim, enormes patas de urso em meus
ombros, uma língua batendo molhada no meu rosto, e o peso
do cão me empurrando, me derruba para trás fora de
equilíbrio, e então eu estou no chão, enrolada em uma bola
apertada, lutando contra as lágrimas, afastando uma língua
louca, uma pata no meu ombro, um nariz frio empurrando
em minhas mãos para obter o meu rosto.

Não sei se rio ou choro

Ouço Logan rindo.


| 373

— Leve-a de cima de mim, Logan, — consigo dizer,


passando a língua canina que parece estar tentando ver o
que eu comi por último através da minha garganta, e como
recentemente eu assoei meu nariz via língua, exame das
minhas narinas.

— Cacau, sente-se. — A voz de Logan é difícil, e afiada.

Imediatamente, o enorme animal marrom que reconheço


da tela do telefone celular do Logan para de me lamber e se
senta sobre os quadris, lamentando-se em sua garganta.

— X, diga olá para Cacau — Ele se ajoelha ao meu lado


enquanto eu me alavanco para uma posição sentada no chão,
limpando o meu rosto. — Diga a ela prazer, X.

Olho fixamente para o cão desconfiada.

— Será que ela vai tentar me comer de novo?

Logan ri.

— Comer você? Ela estava apenas dizendo oi, em


linguagem filhote de cachorro louco.

Eu lhe dou uma olhada de lado.

— Filhote de cachorro? Ela é do tamanho de um urso


pardo, Logan.

— Ela tem apenas um ano de idade, e nem mesmo


oitenta quilos. — Ele passa a mão em sua orelha
| 374

carinhosamente, esfregando em círculos com o polegar. —


Você é uma boa menina, não é, Cacau?

Dou a meu rosto ainda úmido, uma última limpada com


meu antebraço, e depois torço na minha bunda, então eu
estou enfrentando o cão.

— Prazer, Cacau.

O cão levanta a pata, um sorriso de cão pateta no rosto.


Eu tomo sua pata e agito como faria com mão de um homem,
e ela late.

— Diga-lhe boa menina, — instrui Logan.

— Boa menina, Cacau, — eu digo, e o cachorro


imediatamente se lança para mim, a língua em primeiro
lugar. Desta vez, eu tento o que Logan fez, fazendo minha voz
aguda e difícil. — Sente-se, Cacau.

— Vê? — Logan diz, agarrando o cão ao redor do


pescoço e puxando-a contra o peito, deixando-a lamber o
queixo, rindo. — Ela é uma boa menina.

Claramente, o homem ama o seu cão. Algo sobre isso faz


meu coração derreter. Eu não sei o que fazer comigo
enquanto eu assisto Logan esfregar, acariciar e beijar seu
cachorro como se ela fosse uma criança muito amada.
Diferente da tentativa de não derreter, isso é.
| 375

Finalmente, Logan se levanta, enxuga seu rosto.

— Tem que ir para fora, Cacau?

Cacau late e, com um arranhar de garras, lágrimas em


toda a casa para uma porta traseira e planta as coxas sobre a
madeira brilhante, cauda grossa batendo
descontroladamente, com a cabeça girando entre Logan e a
porta. Logan puxa a porta de vidro deslizante para o lado, e
Cacau passa através da abertura assim que é grande o
suficiente para caber seu volume. O espaço, que não tinha
percebido que existia em Manhattan, é pequeno, mas
elaborado e bonito. Um pequeno terraço de paralelepípedos,
uma mesa redonda de ferro forjado com quatro cadeiras, uma
grelha de prata brilhante e um terreno de grama talvez uma
dúzia de passos em frente, arbustos floridos que revestem o
muro de volta. Logan segue Cacau, e eu o sigo; estamos
juntos, o cão brinca ao redor feliz, circula três vezes, e em
seguida, se agacha para fazer o seu negócio.

É calmo aqui. Mesmo no meio do dia, não há nenhum


babel de sons de tráfego, sem buzinas ou motores de moagem
ou sirenes.

— Isto não é onde eu imaginei que você vivia. — Eu digo,


a propósito de nada.

— Esperava algum arranha-céu do centro,


provavelmente? Grandes pontos de vista e grande quantidade
| 376

de mármore negro? — Ele enfia uma mão em seu bolso da


calça, raspando na calçada com a ponta da bota do pé dele.

Eu aceno. Quase.

— Eu estive por um tempo. E odiava.

Ele dá de ombros.

—Encontrei este lugar meio por acaso. Comprei,


remodelei eu mesmo, e adotei a Cacau. Ter um lugar
tranquilo para ir, no final do dia? É inestimável. Ter um lugar
lá fora com algum verde e um pouco de privacidade? Mais
ainda. E Cacau para me fazer companhia.... Não poderia ficar
melhor. — Ele olha para mim. — Bem, pode, mas isso vai
acontecer a tempo. Eu espero.

Ele está falando sobre mim? Ele está olhando para mim
como se ele pudesse ser. Mas eu não sei o que fazer, o que
dizer a ele, como processá-lo. Isto é incompreensível para
mim. Um cão, um quintal, paz e tranquilidade. Sem a vista
da cidade, nenhum desfile interminável de histórias de
inventar, cruzando treze histórias abaixo de mim. Não há
expectativas sobre o meu tempo. Escolhendo a minha própria
roupa. Descobrindo o que eu gosto...

É muito para mim. Eu estou sufocando com as


possibilidades. Eu me afasto, puxo a porta de vidro aberta,
através de dardos, encontro o corredor e a porta aberta
| 377

mostrando-me o banheiro. Não me incomodo em fechar a


porta atrás de mim, eu só entro em colapso sobre a tampa do
vaso sanitário, rosto em minhas mãos. Meus ombros
levantam, e eu sinto as lágrimas escorregando.

Não sei por que estou chorando, mas eu não consigo


parar.

Eu salto de uma milha para o ar quando sinto um nariz


frio tocando a minha face. Ela não me lambe ou pula em cima
de mim, ela apenas coloca o queixo no meu joelho. Rio
através das minhas lágrimas ao ver sua expressão, os olhos
arregalados escuros olhando para mim, como se ela pudesse
de alguma forma lamentar, como se ela estivesse tentando se
comunicar comigo. Confortando-me com a sua presença.

E funciona.

Eu enterro meus dedos em sua pele macia, sedosa,


curto, marrom-chocolate, coço suas orelhas de abano,
acaricio o seu pescoço grosso de animal de estimação.

— Veja o que eu quero dizer? — A voz de Logan, da


porta. — Há uma razão que chamamos os cães „ de melhor
amigo do homem‟. É por isso.

Fungo e sinto uma nova onda de fluxo de lágrimas sobre


mim, escondo o meu rosto contra o ombro de Cacau e choro
sobre ela; sua única reação é colocar o queixo no meu ombro
| 378

e muito gentilmente lambe o lóbulo da minha orelha.

Eventualmente, isso passa. Eu olho para cima, e Logan


está sentado no chão ao meu lado, pernas esticadas, costas
contra a parede.

— Sinto muito, — murmuro, limpando meu rosto. — Eu


não sei por quê...

— Pare, — ele interrompe. — Você não tem que se


desculpar. Eu sei, tenho a sensação que você passou por
muita coisa. Não precisa me dizer nada, eu só.... Estou aqui
para ajudar, ok?

Eu luto para me acalmar, minhas emoções ainda


correndo alto, turbulenta e misturada.

— Por que, Logan? Você não sabe nada sobre mim. Por
que você quer me ajudar? — Limpo meus olhos novamente.
—Tornou-se inimigo de Caleb. E para quê?

Ele se move para ajoelhar-se diante de mim, cutuca a


ponta de seu chapéu para cima da minha cara.

— Não se preocupe com ele. Ok? Caleb não é o seu


problema mais. Ele é meu. — Seus dedos escovam sobre
minhas bochechas. — Quanto ao por que eu estou fazendo
isso? Eu gostaria de poder dizer que foi puro altruísmo,
resgatando a donzela em perigo, porque eu sou apenas esse
tipo de cavaleiro de armadura brilhante. Eu não posso dizer
| 379

que é, entretanto.

Eu tenho que focalizar em piscar, em respirar, em não


deixar me mergulhar para frente e inalar o cheiro dele e
sentir seus músculos sob minhas mãos e saborear sua
língua, lábios e pescoço. Em vez disso, eu só olho para ele, e
mantendo-me completamente imóvel.

— Por que não?

— Porque a verdade é, eu tenho motivação mais egoísta.


Quero dizer, sim, você não pertencia àquele lugar, e eu só....
Eu tive que tirá-la de lá. Mas... você ficar longe de câmeras de
Caleb e gorilas de segurança... para você ficar sozinha...

— Você me queria sozinha? — Por que é que a única


coisa que eu estou agarrando?

— Sim. Eu fiz.

— Nós estamos sozinhos agora. — Sussurro, minha voz


caindo para nada, um som minúsculo, uma respiração. Seu
rosto parece mais perto, e eu posso sentir o cheiro dele agora,
e sento suas mãos nas minhas coxas.

— Sim, — Logan diz, sua voz não muito mais alta do


que a minha. — Isso é verdade.

Mas, em seguida, Cacau late, um latir feliz, como se ela


também quisesse estar no momento.
| 380

Logan se levanta. Ele está respirando pesadamente,


sobrancelhas abaixadas, olhos atentos. Ele aponta no
chuveiro envidraçado.

— Queria um banho. Não tenho qualquer material de


banho feminino infelizmente, mas você pode ficar limpa, pelo
menos. — Ele dá um tapa leve na coxa, e Cacau sai do meu
lado para sentar ao seu lado, língua pendurada para fora. —
Eu vou levar Cacau em um pequeno passeio, para lhe dar um
pouco de privacidade, ok? Vou trancar e armar o alarme
quando eu sair. Toalhas e panos debaixo da pia. Poderemos ir
almoçar quando estiver pronta.

Ele bate no poste da porta, oferecendo-me um rápido


sorriso. E então ele se foi. Eu ouço algo tilintar, ouço as
garras no chão, a porta aberta, um sinal sonoro do alarme
quando ele insere o código. Então a porta se fecha, e eu estou
sozinha.

Pela primeira vez que me lembre, eu estou


verdadeiramente, completamente sozinha.

Não há câmeras observando cada movimento meu, sem


microfones ocultos gravando cada som. Sem segurança
esperando em algum lugar, se eu tentar partir por conta
própria Sem Len, sem Thomas...

Sem Caleb.
| 381

Eu tenho um flash de memória, os olhos de Caleb nos


meus, escuro e intenso com a fúria do orgasmo. Mãos em
mim, um momento de algo como conexão. Face a face, pela
primeira e única vez.

Se tivesse ficado com Caleb, o que poderia ter


acontecido? Há muito por trás daqueles olhos quase pretos,
um mundo de emoção, um mundo de pensamentos
indecifráveis e profundas. Caleb admitiu coisas para mim,
verdades que nunca pensei ouvir.

Mas Caleb se afastou.

E agora eu estou sozinha.

Quando tomava banho... antes... Sempre me despia no


banheiro, e vestia lá também. Se houvesse qualquer quarto
naquele apartamento que eu poderia ter tido qualquer
privacidade, teria sido banheiro. E eu não gosto da sensação
de estar sendo observada quando faço algo tão privado e
pessoal como a mudança.

Mas agora, eu posso fazer o que eu quiser.

Estou sozinha.

Sinto a maior liberdade para caminhar pela sala, para


examinar a enorme TV e o sofá de microfibra marrom, o
aparelho de som, a obra de arte nas paredes variando de
cartazes de bandas para pinturas clássicas, a fazê-lo sozinha,
| 382

sem ser observada. O silêncio é grosso, feliz. A sensação de


isolamento é encantadora.

Há uma escadaria. Na parede que está em frente às


escadas há uma pintura.

Noite estrelada de Van Gogh.

Gostaria de saber se tem algum significado pessoal para


ele, como faz para mim, ou se é apenas mais uma obra de
arte?

A cozinha é pequena, limpa, convidativa. Uma pequena


sala de jantar, uma mesa redonda com duas cadeiras, um
puxada para fora, como se recentemente alguém sentou. Uma
pilha de revistas e envelopes, um conjunto de chaves no
gancho. Logan Ryder, um envelope diz, com um endereço.

Um pensamento se apodera de mim enquanto estou na


cozinha; antes que eu possa duvidar de mim mesmo, eu
alcanço até as minhas costas, puxo para baixo o zíper do
meu vestido. Meu coração martela na minha garganta. Dou
de ombros para fora da peça, deixo cair para o chão. Sutiã, e
em seguida, a calcinha. Estou nua agora, na cozinha de
Logan. Há a porta de vidro deslizante, o quintal, o muro alto.
Árvores além, mas sem edifícios, sem ninguém para ver a
menos que seja um helicóptero voando.

Ousando, um pouco de medo, nervosa, eu saio, apenas


| 383

para a emoção do mesmo.

Estou do lado de fora, totalmente nua.

Eu quero dançar e gritar de alegria pelo sentimento, de


liberdade. Atrevo-me a meia dúzia de passos para o quintal,
olho em volta de mim na cerca subindo uma dúzia de pés
sobre minha cabeça, bloqueando minha visão e a dos
vizinhos.

E então eu ouço uma voz atrás do muro à minha


esquerda, e arremesso de volta para dentro, tremendo. Eu
não perco mais tempo entrando no chuveiro, a água um
pouco quente demais. Há uma garrafa de dois em um
shampoo e condicionador e uma barra de sabão; eu sorrio
para mim mesma como eu ensaboo meu cabelo e esfrego no
meu couro cabeludo, lembrando a afirmação de Logan de não
ter qualquer -material feminino para banho.

Tomo um longo, longo tempo esfregando meu corpo.


Limpando a memória de Caleb de mim. Tentando esfregar um
pensamento persistente, um desejo fraco, um pensamento no
que poderia ter sido, se tivesse ficado com Caleb.

Eu esfrego esse desejo afastando até que minha pele


pareça crua. Caleb não ficou; eu fui tomada, usada para
saciar algum tipo de necessidade, e depois deixada sozinha
mais uma vez, como sempre.
| 384

Mas não posso, não importa quanto eu tente, finjo que


não houve um momento, porém fugaz, quando os olhos de
Caleb encontraram os meus e há um momento de intimidade.
Isso aconteceu. Foi real. Eu sei que eu não imaginei isso. Tão
rapidamente como ocorreu, no entanto, Caleb esmaga-o como
um inseto ofensivo.

E que, mais do que qualquer outra coisa, ajudou a levar


o meu desejo de escapar. Eu esperava a intimidade, um
vislumbre de quem é Caleb. Um vislumbre do homem, ao
invés da figura, o mestre, o proprietário. Mas tal esperança foi
e sempre será, agora eu acredito, em vão.

Eu torço o botão de água quente até a minha pele


formigar com o calor, como se eu pudesse escaldar a dor até
ir embora.

Mesmo depois de tudo que passei, minha fraqueza por


Caleb permanece. Eu o temo, mas eu preciso dele.

E eu me odeio por isso.

Eu estou aqui, eu acho, para tentar limpar afastando


essa necessidade. Para substituí-lo, talvez, com necessidade
de outra pessoa.

Sou atraída por Logan, hipnotizada por ele, hipnotizada,


extasiada, encantada.

Ele é tão gentil. Tão atencioso.


| 385

Tão quente.

Mas em baixo disso é um caroço de gelo e aço; por trás


de seus olhos índigo se esconde a astúcia de um predador, às
vezes penso, a ferocidade de um guerreiro.

E que, tanto quanto eu temo isso, também me faz sentir


segura.

Eventualmente, eu sei que não posso demorar no


chuveiro, e desligo a água, encontro uma toalha vermelho-
ferrugem grossa dobrada em três partes limpa sob a pia,
envolvo o meu corpo formigando ao redor. Enrolo outra em
volta da minha cabeça para absorver um pouco da água; meu
cabelo é tão espesso que, sem um secador de cabelo, ele vai
estar úmido durante horas. Eu espreito a cabeça para fora do
banheiro e sinto que eu ainda estou sozinha. Eu encontro o
saco com as minhas roupas novas pela porta da frente. Eu
tenho isso na minha mão, e naquele momento, a volta do
botão tranca, a porta oscila em direção a mim, e meu coração
pula na minha garganta.

BEEPBEEPEBEEPBEEP

Cacau salta para mim, latindo, coloca as patas


molhadas em meus ombros nus.

Caos absoluto segue-se por um momento selvagem.

Logan está empurrando Cacau, que está a bloqueando a


| 386

entrada, que por sua vez me tem tropeçando para trás. Além
de Logan, a chuva é despejada para baixo em baldes
martelando, tão espessa que obscurece a minha visão da rua
além.

O alarme emite um sinal sonoro cada vez mais rápido, e


Cacau está em cima de mim, latindo, cauda abanando,
espalhando cópias enlameadas da pata sobre mim e sobre a
toalha, e suas garras pegam no algodão da toalha e soltam
isso, ameaçando puxá-la longe. Logan pisa sobre Cacau,
apunhalando no painel de alarme para desarmá-la, em
seguida, batendo a porta fechada.

Eu empurro Cacau com uma mão, tentando me


levantar, mantendo a toalha no lugar com a outra.

Logan está encharcado até os ossos, sua camiseta cinza


tudo, mas agora transparente, aderindo a abdominal tão
sulcado, estriado e duro eles poderiam ser esculpidos em
pedra, que adere a sua magra parte superior do corpo, duro,
peitoral, ombros largos. Seu cabelo é liso e pegajoso e adere a
suas bochechas e queixo.

Poças de água da chuva em seus pés, e seus olhos são


olhos azuis quentes, presos nos meus. Nenhum de nós se
move. Eu não estou respirando.

A toalha cobre meu tronco e está solta em torno de mim,


presa apenas por uma das minhas mãos, a outra ainda corta
| 387

as saudações enlameadas e exuberantes de Cacau.

— Cacau... sente. — Sua voz é fraca, como se ele tivesse


de se lembrar de como falar. — Fique, Cacau.

O cão senta-se... em meus pés. Pelo molhado, em meus


pés. Ela cheira a cachorro molhado, um cheiro muito forte.

Eu desenrolo a toalha enrolada em um turbante em


volta do meu cabelo e a entrego a Logan, que, sem olhar para
longe de mim, se ajoelha ao lado de seu cão, soltando sua
coleira, e limpa-a com cuidado e carinho, cada uma de suas
patas, pernas, seu corpo longo, suas orelhas de abano,
repetidamente até que ela está balançando para se libertar.

— Vá para o seu quarto, Cacau. Vá deitar-se. — Sua voz


ainda é fraca, e ele ainda está olhando para mim, e eu não
consigo me mover, paralisada de alguma forma pelo azul
superaquecido do olhar do Logan.

Cacau late uma vez, e, em seguida, trota para seu


quarto.

Minhas costas estão na parede, fria contra minhas


costas nuas. Eu preciso me cobrir, mas não posso.

Logan está diante de mim, somente alguns passos, e ele


está molhado, também, mas agora ele está tão quente que ele
se sente como ele poderia ser fumegante. Eu sinto o cheiro
dele, o homem-cheiro, tão pungente quanto cachorro
| 388

molhado.

Ele levanta sua camisa, descarta, mostrando um tronco


que é uma maravilha esculpida de massa muscular magra,
com fio. Ele não é um urso gigantesco de um homem, não
apenas outro corpo masculino que vi neste estado de nudez.
Vestido com aquelas calças jeans desbotadas e nada mais, ele
é alto, mais de seis pés, mas ele é um homem de nitidez
esculpida, cada músculo definido, cada músculo magro e
duro. Ele não tem carne de reposição ou muscular extra,
nada desnecessário. Ele é todo rígido as linhas e sulcos
profundamente gravados. Existem muitas cicatrizes também.
Linhas brancas finas que cruzam seu peitoral esquerdo, seu
bíceps direito e antebraço esquerdo alto perto do cotovelo.
Duas cicatrizes enrugadas redondas em seu ombro direito,
uma na carne de seu músculo, a outra mais acima na
clavícula, e um terço abaixo, logo abaixo de suas costelas.
Existem tatuagens de coloração da pele em seu ombro, um
amontoado quase indecifrável de imagens em seu braço
esquerdo da clavícula até pouco acima do cotovelo, de modo
que eles seriam todos, mas oculto se ele usasse uma camisa
de manga curta. Vejo garotas pinup dos desenhos animados e
chamas e um Jolly Roger feita de um crânio sorridente e
cruzadas de fuzis de assalto e as iniciais em letras inglesas
antigas quase escondidas em um enredo de arame farpado,
frases que eu não consigo entender nem mesmo inscrição.
Todo o emaranhado de imagens começa logo acima do
| 389

cotovelo, concebido como se a crescer fora de uma árvore


cujas raízes envolvem em torno de seu bíceps, o amontoado
de imagens e desenhos que formando o tronco e os ramos
estendendo os dedos esqueléticos entre a clavícula e voltando
em direção aos ombros.

Meus dedos coçam para traçar as imagens, classificar e


nomeá-las e descobrir suas histórias.

Sua camisa estatela no chão, um som molhado. Água


escorre em riachos por seu rosto, sobre seu pescoço e
ombros, e segue a linha de seu esterno, sobre diafragma e
nas ranhuras profundamente gravadas de seu abdômen.

— Tem lama em você, — ele murmura, sua voz uma tira


baixo que desliza suave sobre mim. Seus dedos traçam pelo
declive superior dos meus seios, através da cópia da pata
enlameada.

— Bem, eu estava limpa, — digo, por falta de coisa


melhor a dizer.

— Agora nós teremos que lutar durante o banho.

— Você vai. Isto irá limpar.

Ele desce entre nós, leva o canto final da ponta da


toalha, levanta, limpa na lama até que minha pele está limpa
novamente. — Lá. Bom como novo.

Claro que, ao levantar a toalha, ele mostrou uma porção


| 390

significativa da minha pele nua, dos joelhos a barriga. O ar é


frio na minha pele, e eu estou tremendo. Ou talvez seja Logan
me fazendo tremer.

Uma mão pressiona meu peito, me mantendo, pelo


menos nominalmente coberta, eu espelho sua ação,
levantando um canto da toalha e uso-o para limpar as gotas
de água sobre seu peito.

Como seria fácil deixar cair à toalha. Uma parte de mim


quer, sente-se ousada o suficiente para arriscar. Para deixá-
lo me ver. Para deixá-lo me tocar, pele a pele nua.

Eu me pergunto se ele pode ler minha mente: sua mão


está em minhas costas, e me puxa para ele. Eu tropeço, e de
bom grado caio contra ele, face ao peito. Batimentos
cardíacos, como um tambor: bumpbump-bumpbump-
bumpbump. Sua carne é quente, suave, firme e úmida. Minha
bochecha adere ao peito, mas eu não tenho vontade de me
afastar. Minhas mãos estão em seu peito, encostadas contra
a pele em ambos os lados da minha cabeça. Palma da minha
mão esquerda está no lado direito do peito, e eu posso sentir
as cicatrizes enrugadas lá. Ferimento de bala é o meu palpite.
Meus dedos tocam as cicatrizes, traço-as suavemente.

Logan murmura em meu ouvido. — Não eram tão ruins


quanto parecem. Carne e ossos atingidos, principalmente. —
Ele pega a minha mão, move-a para baixo para que meus
| 391

dedos toquem a ferida logo abaixo das costelas. — Este aqui


quase me pegou, levou maldito seis meses para recuperar.
Cortou a parte inferior do meu pulmão, faltou pouco para
algumas outras partes importantes.

Quem é esta mulher louca que habita o meu corpo? Eu


não sou o que eu estou acostumada a ser. Esta mulher, ela é
selvagem, ousada. Ela agarra suas costelas com ambas as
mãos, sentindo grossas fatias de músculo sensível,
explorando com as pontas dos dedos. Esta mulher, isso sou
eu, esta é X? Seus lábios tocam a pele. Pena sobre tatuagens
cruza a linha central do seu esterno, beijo, beijo, beijo, e
tocam as cicatrizes ímpias. Meus lábios, sua pele; química
explosiva. Toque delicado, apenas uma respiração,
movimento em toda a carne, mas o suficiente para me colocar
em chamas. Sinto-o tremer sob minhas mãos, sob a minha
boca. Beijo cada cicatriz. Não sei por quê. Cada cicatriz
curada sobre a sua pele. — Encontro próximo do tipo
estilhaços, — ele murmura — um beijo. A marca de
queimadura no antebraço, brilhante, muito suave, ondulado.
— Fiquei muito perto de um cano do rifle quente, — ele
sussurra em explicação-beijo.

Toda vez que meus lábios tocam sua pele, ele inala
bruscamente, como se minha boca estivesse em chamas,
como se a minha língua fosse incandescente, queimando sua
carne.
| 392

Pele nua sob minhas mãos, músculo duro... Eu estou


viciada. Embriagada por ele. Eu paro os movimentos de
beijos, lábios em sua clavícula, e apenas toco. Dedos em seus
ombros, traçando a tinta brilhante eu posso ver mesmo com
os olhos fechados, abaixo, para explorar sua cintura acima
do jeans, deslizando as palmas para cima os lados a gaguejar
pontas dos dedos sobre costelas. Um poema de toque, uma
canção de beijos.

— X, você tem que parar. — Sua voz é tensa, um fio,


lento, com precisão.

— Por quê? — Eu nunca senti essa necessidade, sentir


tal prazer em apenas tocar. Eu me deleito em ser autorizada
a tocar como eu desejo, sem orientação, sem comandos, sem
instruções. Apenas tocar como eu desejo, a boca movendo-se
por sua própria vontade, minhas pequenas mãos explorando
uma obra de arte.

— Porque agora não é o momento. — Ele pega a minha


mão esquerda, reúne a sua direita no mesmo aperto suave,
escova meu cabelo para fora do meu rosto com a mão vazia.
— E se você continuar assim, eu vou esquecer isso.

— O que não é o momento nem o lugar para? — Eu olho


para cima e encontro seus olhos.

— Para o que eu quero fazer com você, e quanto tempo


| 393

isso vai levar. — Ah, a promessa nos olhos, essas palavras.

Eu tremo.

— Ah.

— Sim. — Ele faz uma respiração profunda, como se por


coragem.

Seus olhos percorrem o meu rosto, como se para


memorizar. Minhas mãos ainda imobilizadas no círculo suave
de sua mão esquerda, a sua direita cutuca meu queixo para
cima, inclinando meu rosto para ele, a ponta do polegar
escovando minha bochecha e depois patinando sobre minha
testa, deslizando uma mecha de cabelo para fora.

— Droga, — ele murmura, e me beija, e me beija, e me


beija.

Sem fôlego, atordoada, coração loucamente batendo,


pulmões agarrando, mãos tremulando e segurando, eu o beijo
em troca.

Um beijo. Uma coisa tão simples. A união de duas


bocas. Lábios tocando, um pouco úmidos, mas firme, ainda
com fome hesitante. Mãos alcançam, ouso mais perto de
amostras erógenas de pele. Tão simples. No entanto, tão
complexo, tão cheio de significado. Pulsando com perguntas,
pulsando com possibilidade.

Será que ele me beija para começar outra coisa, algo


| 394

mais?

Beijo ele para implorar por mais?

Podemos nos beijar a apenas beijar, para encontrar um


do outro, para sondar as profundezas do desejo sem a
vulnerabilidade da nudez compartilhada?

Eu quebro o seu domínio sobre meus pulsos. Levanto,


ambos os braços em volta de seu pescoço forte, agarro a ele.
Pressiono-me contra ele. Fazemos uma pausa para respirar,
os lábios tocando, mas não trancados, ofegantes, os olhos
abertos e vendo um ao outro de tão perto que apresenta
borrão. Seus olhos são azuis como o oceano mais profundo, a
sombra da noite, logo depois do crepúsculo, quando o sol se
afundou e as estrelas ainda não perfuram o céu. Suas mãos
encontram a minha cintura, pele tudo o que há para
encontrar de mim é carne nua, pois estou nua, e sem
vergonha, e cheia de fome.

O chão desaba, e minhas pernas envolvem em torno da


cunha dura de seus quadris. A firmeza tensa de sua barriga
está quente contra a minha pele nua. Ele gira, pressiona a
minha coluna para a janela. Suas mãos cobrem meu traseiro
nu, mantendo-me no ar sem esforço, sua língua se aprofunda
em minha boca, rouba o meu sentimento e minha respiração,
rouba a minha vontade, rouba o meu desejo de saber tudo,
menos isso, mas seu beijo, mas neste momento.
| 395

Estou confiante em seu poder sobre mim. Entregue a


ele. Perde-se para isto. Qualquer coisa pode acontecer, e eu
gostaria que fosse, desde que é com Logan Ryder.

Não sei por quê.

Só sei que ele possui algum poder secreto sobre mim, e


eu não posso resistir.

Uma mão passou a deter-me, um forte antebraço


barrado abaixo de mim, sua outra mão desliza pela minha
espinha, alisando sobre a pele, para cima e para baixo,
encontrando meu pescoço, apertando, massageando, e depois
de volta para baixo. Acalmando, ainda desperto. Eu quero
relaxar contra ele, e ainda quero devorá-lo. Minhas mãos,
também, procuram mais, exploram, chegam, encontram.
Ombros, duro e redondo. Costelas, a cintura. Costas largas,
pele quente. Acima em seu cabelo, debaixo da umidade,
cachos ondulados.

Sinto-o recolher o meu cabelo grosso em um punho,


agarrando na base do meu crânio, inclina a minha cabeça
para trás assim que eu estou olhando para ele, ou eu estaria
e seu beijo me mergulhando no esquecimento. O domínio
sobre o meu cabelo é delicioso. Firme, mas suave. Eu não
posso fugir, deveria mesmo querer.

Não.
| 396

Eu só desejo ser beijada, e ansiosamente pressionar


meus lábios até o seu e provar a sua língua na minha boca e
da embreagem e agarrar o labirinto infinito de músculo e
carne tensa.

Quanto tempo passa assim? Minutos? Momentos?


Horas?

Li uma vez em um texto antigo que um momento é um


quadragésimo de uma hora. Talvez um milhão de momentos
passam, e conto cada um, cauterizo cada momento e carimbo
a cada momento em minha mente, em minha memória. Eu
não quero nunca esquecer esta experiência com Logan, se
não acontecer mais nada com ele.

Uma infinidade de momentos.

Suas mãos, estão mais uma vez no meu traseiro nu,


segurando, escavando, apertando suavemente, em seguida, a
mão na minha bochecha, áspera, dura, calosa, forte, gentil
como a varredura de uma pena aveludada através da pele.
Seus lábios, vasculhando o meu, inclinando, beliscando, seus
dentes pegando meu lábio, superior e, em seguida, mais
baixo. A mordida de seus dentes no meu lábio inferior é uma
droga, o rebocar de seus dentes é um afrodisíaco.

Eu sinto meu lábio inferior afastando sinto a sua


respiração, a sua língua, e eu sou transformada em uma
| 397

selvagem.

Faço um som na minha garganta, um ruído que não


posso descrever, mas nada como um rosnado.

Mas então, quando eu estou pensando em como chegar


para baixo entre nós e libertar o botão de sua calça jeans e
agarrar sua ereção em minhas mãos, Logan define-me para
baixo e se afasta.

Estou totalmente nua, a toalha caída e esquecida.

Um quadro vivo: eu, nua, os mamilos endurecidos sob


seu olhar voraz, o desejo fazendo piscina no meu âmago em
gotejar o escorregadio calor, o zíper inchado dele, uma veia
em sua pulsação no seu pescoço, punhos apertando e
libertando, peito arfante, os meus seios subindo e descendo
com a minha própria respiração enlouquecida. Um momento,
onde eu sei que são meros momentos longe de mim, agride , e
eu não o pararia, só o encorajaria e gemeria por ele e
imploraria por mais.

— Jesus, X. — Ele esfrega o queixo com uma palma. —


Você me deixa louco. — Ele parece abalado.

Eu não posso ficar de pé, apenas me inclino fraca contra


a parede.

— Eu tenho que saber o que você quer de mim, Logan.


— As palavras saem espontaneamente.
| 398

Ele inclina a cabeça e franze a testa.

— O que eu quero de você? — Ele ajoelha, reúne a


toalha em suas mãos, pressiona sobre o meu peito, cobrindo-
me.

Não sou inconsciente de certa relutância nele como


quando faz isso.

Eu me esforço para ficar em pé, bloqueio meus joelhos,


passo as mãos trêmulas pelo meu cabelo.

— Eu não confio em mim mesma com você. Você me


faz... selvagem. Mas a minha situação, não é... Eu não estou
segura. E eu preciso saber o que você quer. O que está
acontecendo. Eu, eu...

Ele se move como um raio, as mãos de alguma forma


instantaneamente agarrando meus bíceps superiores
gentilmente, polegares traçando círculos.

— Você pode confiar em mim, X.

— Eu quero.

— Mas?

— Mas como eu vou saber? Não consigo nem respirar


quando estou com você. Não faz sentido. Eu não me
reconheço, e tudo é assustador o suficiente, como é sem
sentir que eu vou... não sei. Perder-me. Eu mal tenho nada a
| 399

perder, mas mesmo isso é... um risco.

— Eu não tenho certeza que estou entendendo.

Balanço a minha cabeça, saio de seu aperto, e busco


distância.

— Eu não estou fazendo sentido. O que é diferente de


mim.

Ele me segue, mas não me agarra novamente.

— Você sabe, eu tenho notado algumas coisas.

— O que é Logan?

— Você é hábil em evitar falar de si mesmo.

Eu dou de ombros.

— Não há muito a dizer sobre mim mesmo. — Isto, pelo


menos, é uma verdade.

— Há tanta coisa para quem você é, é impossível até


mesmo saber por onde começar.

Eu franzo a testa.

— Você faz parecer como se eu fosse complicada.

— Complexidade, é teu nome X. — Ele está perto de


mim novamente, a toalha úmida e fria, a única barreira entre
nossos corpos. Eu não posso ajudar, mas descanso minha
| 400

cabeça contra seu peito.

— Isso não é verdade, — eu protesto.

— Então, qual é a sua cor favorita?

— Eu não sei.

— Poeta favorito?

— E. E. Cummings.

— Comida favorita? — A voz dele está no meu ouvido.


Estrondoso, zumbido, íntimo e familiar.

— Eu não sei.

— Banda favorita?

— Eu não sei. — Instintivamente, eu me afasto do


controle do seu olhar, exceto a toalha é apenas vagamente
envolta contra a minha frente, então agora estou nua de
costas para ele. Eu sinto seus olhos em mim, na curva da
minha espinha e a bolha inchada do meu traseiro. — Eu não
sei nada sobre mim, Logan. Eu não sei. Ok? Eu não sou
complicada, eu sou... incompleta.

— Baby. Você é complexa. — As mãos dele patinam


sobre minhas costas, ambos se movendo em círculos suaves.
— Não é uma coisa ruim. Isso faz de você misteriosa. Eu
tenho a sensação de que um homem pode passar a vida
inteira para conhecer você e ainda não desembrulhara todas
| 401

as suas camadas.

— Você mal me conhece.

— Exatamente. — Uma pausa. Dedos em meu cabelo,


que ainda está úmido. A intimidade deste momento faz meu
coração doer. — O único nome que eu tenho para você é X.
Eu sei que você é de ascendência espanhola. Eu sei que você
trabalha para Caleb Indigo, e é difícil como o inferno de
encontrar, mesmo para uma das meninas de Caleb. E isso é
dizer algo.

Logan tem ambas as mãos sobre meus quadris agora,


segurando-me pressionado contra ele, minha espinha ao seu
peito, minhas nádegas curvadas contra o arranhão áspero do
denim. Eu sinto a protuberância de sua ereção por trás do
zíper. Eu fico apenas assim, e se ele estivesse nu também, eu
inalo bruscamente e afasto essa necessidade, esse desejo,
esse pensamento.

Mas nós somos peças do quebra-cabeça, ele e eu. De


que outra forma poderíamos encaixar perfeitamente juntos?

Eu tremo para as possibilidades turbulentas nas


profundezas escuras de meus desejos mais baixos.

— Qual é o seu nome verdadeiro?

Raiva, súbita e quente.

— Eu te disse que meu nome real, droga! — Eu tento


| 402

me afastar, mas ele não vai me deixar. Pela primeira vez


desde que eu o conheço, eu recebo uma pequena amostra de
sua força real.

Ele me mantém no lugar com as mãos nos quadris, seu


aperto inquebrável, mas ainda suave e cuidadoso.

Ele é implacável.

— O inferno que é! — Ele está com raiva também. —


Você está tentando me dizer seu nome real, jurídica é
Madame X?

— Sim!

— Besteira. Eu posso levar tudo isso na boa fé, querida,


mas não vou tolerar que me enganem, ou ter a verdade
escondida de mim. — Sua voz é um rosnado baixo, mais frio
do que eu pensei que ele poderia soar. Aqui está o homem
que matou, o homem que era uma vez um criminoso.

— Eu não estou mentindo. — Sai um som pequeno,


triste e derrotado.

Suas mãos me viram. Inclino o meu rosto para ele. —


Então, qual é o seu nome?

— Meu nome é Madame X. Fui nomeada após a pintura


de John Singer Sargent. — Eu dou de ombros para longe
dele, todo o meu fogo aquecido, esfriou-se agora. Algo arde
em meus olhos. Algo molhado. Por que eu estou chorando?
| 403

Eu não sei. Ou talvez existam muitas razões para escolher


um.

Eu inalo bruscamente. Quadrados de meus ombros.


Firmo minha mandíbula. Empurro para baixo o turbilhão de
emoções. Pisco até que minha visão é clara.

E então eu vou embora.

Chego até a entrada do corredor, tentando envolver a


toalha em volta de mim, precisando ser coberta agora, e
então ele passou por mim para ficar na minha frente,
bloqueando o meu caminho para o banheiro e seus olhos
estão em conflito, preocupado, confuso. Um amplo polegar
varre minha maça do rosto, manchando uma lágrima pela
minha pele.

— Eu acredito em você.

— Felizmente para mim, meu nome não depende de sua


crença para sua existência. Nem eu. — Lá estão as garras,
para defesa agora.

— Você é uma das meninas de Caleb? — A pergunta é


inesperada, e me joga fora de equilíbrio.

— Eu não sei o que você quer dizer. — Minha voz é


cuidadosamente modulada para a neutralidade fria.

— Claro que não. — Ele não parece surpreso, e também


não soa como se acreditasse em mim. Ele suspira, esfrega o
| 404

rosto com as duas mãos. — Você sabe o que? Vamos


esquecer isso por um momento. Eu preciso de comida. Você
vai almoçar comigo, Madame X? — Ele olha para o pulso, no
relógio de borracha preta grossa. — Ou o jantar, eu acho que
seria neste momento.

— Eu... — Eu estou com fome. Eu também tenho medo


de muitas perguntas pontiagudas de Logan. Fome vence a
cautela. — Sim. Acho que eu vou.

— Bom. Você precisa se vestir, então, e eu preciso me


trocar. — Um momento, então, em que nenhum de nós
parece disposto a afastar-se em primeiro lugar. Finalmente,
Logan suspira. — Sinto muito, X. Eu não queria questioná-la
ou torná-la louca. Eu só... há muita coisa que eu não sei, e
eu quero conhecê-la.

Eu poderia chorar novamente na sinceridade vulnerável


em sua voz.

— Você está certo, você sabe. Eu sou complicada. Mas


também não sou. É apenas... Difícil para eu falar de mim.
Estou desacostumada a tentar, então você vai ter que perdoar
se não estou sempre muito... próxima.

— Eu vou fazer o meu melhor para ser paciente, mas


você deve entender uma coisa sobre mim: quando encontro
algo que eu quero, eu vou atrás, duro.
| 405

Só posso engolir em seco e me pergunto como eu deveria


responder a isso.

— Ok, — é tudo o que posso controlar.

— Vista-se, X, — diz ele, com a voz mais áspera do que


jamais esteve, — antes de descobrir o quanto autocontrole
demora para não... violentá-la sem sentido.

— Violentar? — Mais uma vez, eu soo fraca. Eu não sou


claramente eu em torno deste homem.

— Violentar. Você gosta de livros antigos, certo? Esse é


um tipo antigo da palavra. Isso significa...

— Eu sei o que significa. — Um pouco mais nítida, um


pouco mais em mim.

— No entanto, você ainda está ai parada, basicamente


nua. — Ele dá um passo em minha direção, e nunca um
homem apareceu tão primitivo, tão intimidante, sexualmente
masculino como Logan, neste momento, o seu duro, magro
corpo, formam enchendo o estreito corredor, nu, mas para
jeans, mãos punhos ao lado do corpo, a cabeça inclinada
para frente para que tudo o que posso ver são as maçãs do
rosto afiadas e olhos de fogo. — Eu tive você nua em meus
braços, X. Eu poderia tê-la contra a parede. Mas não o fiz.

— Por que não? — Eu o questiono, congelada no lugar


como um cervo que está fascinada a um predador.
| 406

— Porque você não está pronta. Não para o que eu


quero.

— E o que você quer, Logan?

Outro passo. Moléculas simples nos separam, mais uma


vez. Uma respiração, e eu estaria em seus braços, e eu sei
nada iria parar o inevitável, a nossa carne deve se tocar
novamente.

— Tudo, Madame X. Eu quero tudo. — Ele ergue sobre


mim, minha cabeça inclinada para trás para que eu possa
olhar para ele, e nossos lábios estão quase se tocando, mas
não completamente. — Tudo e mais um pouco.

Ele tem razão.

Eu não estou pronta.

Ele gira fora do meu caminho, e eu deixo escapar uma


respiração superficial, algo muito parecido com alívio. Agora
eu me tornei mulher de Lot: eu viro, pressiono minha espinha
a porta, e meus olhos bloqueiam em Logan. Eu procuro
desajeitadamente à maçaneta da porta, sem tirar os olhos de
Logan. Entrando e fechando a porta entre nós leva cada
grama de vontade que eu possuo, e ele não se afasta, não
pisca, não respira nem quando eu coloco a porta entre nós.

E mesmo assim, sinto-o, ainda, do outro lado.


| 407

Capítulo Dezesseis

Ele me leva a um pequeno restaurante italiano. Nós


caminhamos até lá, uma hora e meia de caminhada lado a
lado em toda a cidade.

As ruas estão molhadas, as árvores pingando gotas


cintilantes na neblina à noite dourada. O sol voltou,
espreitando entre nuvens e arranha-céus para iluminar tudo
com um brilho de luz brilhante decadente, fazendo tudo
parecer romântico e bonito e perfeito.

Não sinto pânico por estar fora, e é incrível.

— Eu amo esta hora do dia, — Logan diz, a propósito de


nada. — Os fotógrafos chamam a hora dourada.

— É lindo, — eu digo, meu coração cheio de alegria pelo


luxo simples deste momento.

Ele aponta para a luz do sol entre nós e os edifícios à


nossa esquerda quando atravessamos um cruzamento. —
Você sabe, os japoneses têm uma palavra. Komorebi. Significa
o modo que a luz solar filtra pelas árvores em uma floresta.
Eu sempre pensei que deveria haver uma palavra similar,
| 408

algo que capta a esta hora do dia, neste lugar. A forma como
o sol é um ouro tão perfeito que você pode quase, mas não
completamente olhar diretamente para ele, o modo que está
emoldurado pelos edifícios, brilha fora dos vidros, transforma
tudo lindo. — Ele olha para mim. — Tão bonito.

Ele está se referindo a mim? Ou para a luz do sol, o


momento?

Nós caminhamos, e eu memorizo isto. Sua mão na


minha, seus dedos se enredam entre os meus dedos,
esfregando o polegar em pequenos círculos na teia da pele
entre o polegar e o indicador. A beleza da cidade, o ar quente
e exuberante e com cheiro de chuva fresca, a familiar
cacofonia de Nova York, a liberdade, o homem ao meu lado.

— Há outra palavra, — ele diz, mais uma vez,


quebrando o silêncio. — Este é sânscrito. Mudita, ele diz que
moo-dee-tah, e isso significa... como faço para colocá-lo? Para
tirar a alegria na felicidade de outra pessoa. Felicidade
vicária.

Eu o assisto, e espero por ele para elaborar.

Ele olha para mim, um sorriso iluminando seu rosto


lindo.

— Eu estou experimentando mudita agora, observando-


a.
| 409

— Sério? — Pergunto.

Ele balança a cabeça.

— Ah sim. Você está olhando para tudo como se fosse a


coisa mais linda que você já viu.

Eu gostaria de poder explicar isso a ele. — Tudo é belo,


Logan.

— E eu só... Eu amo essa inocência, eu acho. Eu tendo


a ser cansado, uma grande parte do tempo. Eu vi um monte,
sabe? Um monte de merda desagradável, e é fácil esquecer a
beleza. — Ele faz uma pausa. — Eu gosto de palavras
estranhas, porque capturam as coisas de maneira que o
inglês não pode. Eles capturam a beleza de pequenos
momentos. Palavras como Komorebi lembram-me de pôr de
lado a minha desilusão geral e apenas aproveitar o momento.

— Que tipo de coisas você tem visto, Logan? —


Pergunto, embora eu não saiba por que, ou se a resposta será
algo que possa aguentar.

Ele não respondeu apenas me dirige com um


empurrãozinho para meu cotovelo através de uma porta
baixa em um restaurante escuro, tocando música de
acordeão, aroma de alho forte no ar.

Ele acena para um velho limpando uma toalha xadrez


vermelho e branco.
| 410

— Tem uma mesa lá trás para mim, Gino?

— Sim, sim, claro que sim. Vá em frente, vá em frente.


Sente-se, eu vou trazer vinho e pão para você e sua amiga
bonita. — Gino sorri e corre para a cozinha, curvado, mas se
movendo mais rápido do que eu teria pensado ser possível.

Logan me conduz através de uma porta traseira e em


um pequeno pátio ao ar livre. Eu provavelmente poderia tocar
ambas as paredes se tentasse, mas há quatro mesas lotando
o espaço, três delas ocupadas por outros casais. Luzes
brancas em um fio ao redor do perímetro da parede sobre as
nossas cabeças.

Mal tivemos tempo para sentar, Logan de costas para a


parede, quando Gino retorna, uma cesta de vime cheia de pão
de alho em uma mão, uma garrafa de vinho e duas taças na
outra. Ele define o cesto de pães entre nós e, em seguida,
derrama o vinho, um líquido rubi escuro.

— Este é um bom Malbec, — diz Gino. — Da Argentina,


porque não é bom Malbec nunca veio em qualquer outro
lugar. É bom, muito bom. Você gostara dele, eu acho.

— Há vinho que eu não goste, Gino? Responda-me isso.

— Vinho de merda, isso é o que, — Gino diz, colocando


um copo na minha frente. Ele e Logan ambos riem, mas se há
uma piada, eu perdi.
| 411

Ambos os homens me olham, expectante.


Aparentemente eu vou experimentá-lo primeiro? Mais uma
experiência nova. Timidamente, lembrando-me da última vez
que tentei vinho tinto, tomo um gole.

Isto é diferente. Mais suave, não mordendo minhas


papilas gustativas muito mais fortes. Saboroso, mas não
muito forte. Eu concordo.

— Eu gosto disso. Mas eu não sou um especialista em


vinhos.

— Quem é um especialista em vinho? Eu não, — Gino


diz. — Certamente não este palhaço. Não há sommeliers aqui,
mia bella, apenas bom vinho e boa comida.

— Mia bella? — Pergunto.

— Significa apenas 'minha linda' — responde Logan.

— Ei, quem é italiano por aqui, amigo? Não é você, isso


é claro. Você não saberia bella de bolla. Deixe a linguagem do
amor para mim, heh?

— Eu pensei que o francês era a língua do amor? — Ri


Logan.

— Nah, nah. Italiano. Italiano é molto più bella. — Gino


acena uma mão. — Bah. Francês. Parece um pato assoar o
nariz. Mas para falar Italiano é cantar, meu amigo. Agora. O
| 412

que você quer para comer?

— Surpreenda-nos, Gino. Mas lembre-se, nós dois


estamos com muita fome.

— Mamãe está na parte de trás, e você sabe como ela é.


Você vai precisar de um guindaste para tirá-la daqui antes
que ela termine com você. Você vai estar tão recheado, que
você vai implorar por misericórdia. E então ela vai te fazer a
sobremesa! — Ele ri, uma gargalhada barulhenta que, apesar
de mais uma vez ter perdido o humor, não deixa de ser
contagiosa.

Encontro-me sorrindo, e bebendo o vinho, o que é, como


ele disse, muito, muito bom.

Sozinhos, mais uma vez, Logan se inclina para frente,


seus antebraços sobre a mesa.

— Gino é um velho amigo. E ele não estava brincando


sobre Maria. Ela vai manter o envio de comida até que não
possamos comer mais nada.

Tomo um gole de vinho.

— Isto é perfeito, Logan. Obrigada.

Ele olha para mim e seus olhos se estreitam, os sulcos


da testa também.

— Posso fazer algumas perguntas, X?


| 413

— Se você também responder, com certeza.

— É um negócio, — diz ele. — E você dirige um negócio


duro. Eu não sou muito de falar de mim, também.

— Então, nós estamos bastante unidos como um par de


bocas fechadas, não estamos?

Ele balança a cabeça, rindo, e rasga um pedaço de pão


de alho fora do pão.

— Acho que nós somos. — Ele mastiga, engole, e seu


sorriso desaparece. — Eu acho que vou começar com o óbvio
primeiro: Como é que você sabe tão pouco sobre si mesma?

Eu suspiro, um longo suspiro de resignação.

— Eu posso responder a isso em quatro palavras:


amnésia retrógrada total aguda.

Logan pisca como se estivesse tentando processar o que


ouviu.

— Amnésia.

— Sim. — Eu tento cobrir meu desconforto com um


grande bocado de Malbec.

— Amnésia retrógrada total aguda, — ele repete, e se


recosta na cadeira quando Gino chega com uma grande tigela
de salada e dois pratos, servindo uma generosa porção para
cada um de nós antes de desaparecer mais uma vez sem uma
| 414

palavra. Quando ele se foi, Logan pega a salada com o garfo,


espeta alguma alface e um pedaço de mussarela fresca, seus
olhos em mim como ele faz isso. — Você pode descompactar
isso um pouco para mim?

Eu levo algumas mordidas, ordenando para fora meus


pensamentos.

— Significa apenas que eu não tenho ideia de quem eu


costumava ser. Sofri um traumatismo craniano severo que
afetou a minha capacidade de lembrar qualquer coisa sobre
mim. Não tenho memórias anteriores ao acordar no hospital.
Nenhuma. Isso foi há seis anos, e eu não me recordo de nada,
então, os médicos dizem que é improvável que eu vá. Muitos
pacientes de amnésia experimentam o que é chamado de
amnésia temporal graduada, o que significa que não vão se
lembrar de eventos mais próximos do trauma, mas vão se
lembrar de informações pertinentes sobre si e seu passado
mais para trás, memórias de infância e similares. A maioria
dos pacientes pode e vai experimentar a recuperação
espontânea, em que eles recordam a maioria das informações
esquecidas, embora os eventos imediatamente anteriores à
trauma, muitas vezes, ainda estarão ausentes. A gravidade do
trauma e danos para as vias neurais determinam a
severidade e a permanência da perda de memória. No meu
caso, o trauma foi extremamente grave. Muito menos que eu
tenha sobrevivido que eu acordei do coma em tudo, muito
| 415

menos foi capaz de funcionar em qualquer coisa como um


nível normal? É considerado um milagre inexplicável. Que eu
escapei do acidente apenas com amnésia, porém grave, é um
motivo de comemoração. Ou assim me foi dito. Mas o fato é,
eu acordei sem memórias. Nenhum conhecimento de mim
mesma de qualquer tipo.

Logan parece abalado.

— Droga, X. O que aconteceu?

— Ninguém está inteiramente certo. Fui... encontrada


por alguém. — Eu não ouso nem se quer pensar em seu
nome. — Eu estava quase morta. Um assalto que deu errado
acredita-se. Eu deveria ter morrido. E disseram-me, que eu
morri na mesa de operação. Mas me trouxeram de volta, e eu
sobrevivi. Eu tinha uma família, mas eles morreram e eu não.
Eles foram assassinados, e eu escapei de alguma forma. Ou...
assim me disseram.

— E ninguém poderia identificá-la?

Eu balanço a cabeça.

— Parece que não. Eu não tinha nenhuma identificação


comigo, e minha família estava morta. Não havia ninguém
para me identificar.

— Então você acordou sozinha, sem o conhecimento de


quem você é?
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— Não... sozinha, não.

— Nós vamos voltar a isso, como eu tenho as minhas


suspeitas. — Outra pausa enquanto Gino remove a prato
semi acabado de saladas e os nossos pratos, substituindo-os
por pequenos quadrados de lasanha. Nós dois cavamos, e
depois de algumas mordidas, Logan fala novamente. —
Então, você pode formar novas memórias, embora, certo?

— Sim. Esse é o outro tipo de amnésia, a incapacidade


de formar novas memórias. É chamado de amnésia
anterógrada. — A lasanha é incrível, e eu não quero estragar
a experiência por falar, por isso caio em silêncio, enquanto
nós dois comemos.

— Então... — Logan começa novamente, depois que


ambos terminamos.

Eu falo sobre ele.

— Eu acho que é a minha vez.

Ele dá de ombros.

— Justo.

— Conte-me sobre sua infância.

Ele sorri, e parece um pouco triste, para mim.

— Uma história bastante típica, realmente. Mãe solteira,


meu pai nos deixou quando eu era um bebê. Minha mãe
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trabalhava em dois, às vezes três empregos apenas para


fornecer um telhado e algo como três refeições por dia. Ela
era uma boa mulher, me amou, cuidou de mim o melhor que
podia. Não tenho reclamações, não. Ela só... estava
trabalhando muito. Não poderia manter-me sob o polegar da
maneira que eu precisava. Eu matei muita aula. O pai do
meu amigo correu uma loja de surf fora da cidade, certo? Ele
sabia que estávamos a matar aula, mas ele nunca tinha se
graduado, então eu acho que ele não se importava. Eu não
sei. Ele nos emprestava as pranchas e nós surfávamos
durante todo o dia. Nós só víamos até à costa para comer um
sanduíche e depois voltar para o mar, ficar de fora nas ondas
até que foram exaustos demais para nadar. Foi assim que foi
para Miguel e eu, de como a quinta série em diante. Ir à
escola, ir surf. Eventualmente, seu pai apenas deu-nos
nossas pranchas, e nós corríamos a caça de praias para as
melhores ondas. Parece ótimo, não é? Isso foi. Direto até que
atingiu a idade do ensino médio. Miguel tinha um primo,
Javier, e ele nos levou a fumar maconha. E ele também nos
levou a ajudá-lo a vender droga. O que levou a estar em uma
gangue. Eu, Miguel, seu primo, alguns outros caras. Muitos
problemas. Saia do mesmo fingindo que dava a mínima para
a escola. Mamãe fingia que não sabia, desde que eu não fosse
preso e deixá-la saber que eu estava vivo a cada dois dias.
Assim como era, sabe?

Ele arrasta novamente quando Gino aparece mais uma


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vez, desta vez com pratos de frango parmesão com um lado


de massas com tampo com um montão de molho vermelho.

— Então, as coisas eram... não bom, mas nada louco, eu


acho. Ninguém foi preso, ninguém se machucou. Nós
fumávamos maconha e surfávamos e vendia algumas moedas
de dez centavos aqui e ali. Nada grande, não o suficiente para
realmente chamar a atenção dos comerciantes mais graves,
certo? Mas, então, o verão antes de eu ter sido um mais
velho, eu tinha dezessete anos, eu acho. Quase dezoito anos.
O primo de Miguel foi abordado por um comerciante de
grande tempo, pela fronteira, cara chamou a si mesmo
Cervantes. Queria Miguel e Javier para serem suas mulas,
executar algum produto no sul. Grandes cortes, grande risco.
Eu não estava nisso, porque eu era branco, sabe? Na maioria
das vezes, isso não importa, mas para isso, ele fez. Assim, ele
se aproximou deles quando eu não estava por perto. Eles
foram com ele. Correu o produto, foi pago o grande momento,
percebi que tinha atingido o prêmio, certo? Sim, isso foi
muito bem durante alguns meses, até Javier ficar em apuros.
Foi pego por uma abordagem do DEA. Javier virou delator. E
Miguel tomou a queda. Cervantes... ele achava que era Miguel
o informante quando um grande carregamento foi
interceptado e custou lhe um par cem mil. Miguel e eu
estávamos surfando, como sempre fizemos no início da
manhã. As melhores ondas, você sabe, quando é um pouco
depois do amanhecer. — Ele abaixa a cabeça, agitando
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suavemente as borras do vinho dele. — Cervantes e três de


seus soldados estavam em terra, esperando por nós. Não
disse uma palavra, apenas, apenas iluminou-o. Uma dúzia de
balas no peito. Bem na minha frente. Era isso. Sem ameaças,
sem avisos, sem interrogatório. Não disse nada para mim,
também. Como, obviamente, se eu dissesse alguma coisa
para a polícia, eu seria o próximo. Miguel era meu melhor
amigo, homem. Ele era como uma família sabe? Nós
tínhamos sido amigos desde a terceira série. — Bam-bam
bam, morto. Bem na minha frente.

— Meu Deus, Logan.

Ele fez movimento espasmódico sua cabeça lado a lado.

— O que eu deveria fazer? Eu sabia que ia ser o


próximo. Ou eu seria sua mula, e acabaria na prisão,
eventualmente, ou eu ia acabar morto. Bem, um dia
aconteceu de eu passar por um serviço de recrutamento das
forças armadas, e esse cara estava do lado de fora fumando
um cigarro, usando um uniforme fodão, emblemas e uma
medalha real e merda. Parou-me, perguntou o que eu estava
fazendo. O exército fez soar como um bom show. Uma boa
maneira de sair da merda que eu me encontrava. Então,
entrei para o exército. E honestamente, foi a melhor coisa
para mim. Fui enviado para o Kuwait. Acabou que eu tinha
um talento especial para os motores, e eles precisavam de
mecânicos para consertar os caminhões e tanques e merda.
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Acabou ficando meu diploma e um conjunto de habilidades e


algum dinheiro no banco. Mas então, como eu disse antes,
quando os meus quatro anos estavam fora, acabei preso em
St. Louis reuniu-se Philip, o cara Blackwater... tive a minha
bunda recrutada novamente. Desta vez, eu tinha treinamento
de combate. Eles colocaram uma arma em minhas mãos, me
enviaram para o Iraque, e me pagaram enormes quantias de
dinheiro para pendurar minha bunda do lado de fora em um
helicóptero. Tinha tanto de um talento especial para pregar
insurgentes de cem jardas de distância para fora do lado de
um helicóptero movendo como eu fiz para a limpeza de areia
para fora das câmaras de pistão. Fez isso por... há muito
tempo. Senti-me como um fodão, sabe? O exército regular e
os caras da marinha nos odiavam, mas era apenas porque
nós cobrávamos o quádruplo do que eles, para fazer a mesma
coisa.

— Quádruplo?

Ele balança a cabeça.

— Isso aí. Facilmente. Perigo de pagamento, certo? E eu


gostei do perigo. Não tinha ninguém em casa esperando por
mim, e eu sinceramente não dava a mínima para o que
acontecia comigo.

— E então você foi baleado, — sugeri, sentindo a forma


do que veio a seguir.
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— E então eu levei um tiro, — ele concordou. — Um


idiota com um AK teve sorte. Quer dizer, não havia nenhuma
maneira que ele poderia ter feito isto de propósito, você sabe?
Demasiado longe, movendo-se muito rápido... mas isso não o
impediu de tentar. Usávamos coletes à prova de balas, é
claro, mas houve um incidente no início da manhã com um
IED e uma emboscada, por isso tínhamos nos mexidos e eu
esqueci o colete na minha pressa para entrar no helicóptero.
Levou os dois para o meu ombro, não é grande coisa, não
teria sido fatal. Mas então ele atirou novamente, e uma
rodada me bate lá em baixo. Você viu isso. — Ele indica suas
costelas, e eu posso ver a ferida enrugada na minha mente.
— Ainda bem que eu estava amarrado em, digamos assim.
Eles me arrastaram de volta, me levaram a um médico, me
mandaram para EUA. Isso era para mim, tanto quanto o
combate foi. Mas eu passei um longo tempo me recuperando.
Pensando. Eu evitei a morte duas vezes. Cervantes deveria ter
me matado. Provavelmente teria, no final, se eu tivesse ficado
ao redor. Mas ele não o fez, e eu fugi com o exército. Então eu
esperei a bala para o meu estômago, e isso quase me matou.
A bala perfurou meu pulmão, comprometendo
permanentemente minha capacidade pulmonar. Por pouco
não acertando um monte de outros órgãos e minha espinha.
Foi ruim. Muito ruim. E você gasta bastante tempo deitado,
pensando sobre o quão perto você veio a morrer, percebe que
você deveria estar morto, você começa a repensar suas
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prioridades.

— E que conclusões chegou?

— Que eu tinha que fazer algo de mim mesmo. Eu tinha


sobrevivido quando eu não deveria ter. Eu estava vivo, e eu
quero dizer que eu acho que soa como um clichê, mas eu
senti como se tivesse sido dada uma segunda chance. Uma
coisa levou a outra, e acabei em Chicago, trabalhando para
um investidor, um cara que compra casas hipotecadas,
corrigias, e vende-as com lucro. Eu tinha dinheiro, mas eu
precisava ficar ocupado. Aprendi o suficiente para fazer eu
mesmo, lançando casas por conta própria. Esta foi uma
grande coisa por um tempo, de volta quando o mercado
imobiliário estava indo a todo o vapor. Fiz minha mente, e
decidiu ir maior. Comprei um bar que tinha ido abaixo,
proprietário ficou sem dinheiro. Reformei, contratei algumas
pessoas que sabiam nada sobre a execução de um bar, vendi
com um grande lucro. Isso me rendeu bolsos mais profundos,
deixe-me assumir riscos maiores para recompensas maiores.
A maioria deles valeu a pena, alguns não sofreu e cada vez
que eu tinha um grande pagamento, eu usava para financiar
o próximo negócio. Aprendi outras habilidades, aprendi a
reconhecer quando algo vai pagar e quando é um fracasso.
Entrei no desenvolvimento de tecnologia, comprei algumas
outras empresas...

— E então você encontrou-se no lado perdedor de um


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mau negócio.

Ele assentiu.

— Sim. Mas isso é uma história totalmente diferente.

— E que você não gosta de falar.

— Certo. — Ele me olha. — De volta para você. Como


você acabou com Caleb?

Tudo dentro de mim congela. Eu não sei como


responder. Eu não sei como falar sobre Caleb. Como explicá-
lo.

— Ele estava lá quando eu não tinha ninguém, — eu


acabo dizendo. É verdade suficiente.

Logan concorda, mas é o tipo de aceno que implica que


ele percebe que eu estou mantendo volta mais do que eu
estou dizendo.

— Que tal eu oferecer um pouco realmente...


informações pessoais? Então você vê que eu sou de verdade.
Eu só quero saber. Não vou te julgar ou tentar... Eu não sei.
Eu só quero saber.

— Que tipo de informações pessoais? — Eu não posso


deixar de perguntar.

Uma pausa, como Gino traz ainda outro prato, outra


coisa tipo de lasanha como, de largura rolos de massa em
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folhas, recheado com ricota e salsicha chão, encharcado em


marinara.

— Você viu a pintura? — Pergunta Logan.

— Starry Night, — eu digo. —Sim, eu a vi. Gostaria de


saber sobre isso.

— Você sabe, Van Gogh só vendeu algumas pinturas em


sua vida, e essa era um delas. Mas essa versão particular da
Starry Night foi realmente apenas uma das dezenas que ele
fez que foram semelhantes. Pintou-os de um asilo na França.
O que nós chamamos uma casa psiquiátrica agora. Um
hospício para os ricos. Ele era cronicamente deprimido,
sofreu uma ruptura mental. Cortou uma das suas orelhas
fora, eu acho, ou parte dele. Admitiu-se lá, para Saint-Paul
de Mausole. Ele tinha uma ala inteira para si mesmo, e ele
sentava nesta sala que ele tinha como seu estúdio, e ele
pintar a vista, mais e mais e mais. Diferentes perspectivas,
tentando técnicas diferentes. Dia, noite, fim acima, muito
longe, tudo. Há outro, chamado Starry Night sobre o Rhone.
De qualquer forma, ele tinha acabado de pintar a vista do que
o quarto uma e outra vez. Mas aquele, aquele que ambos têm
cópias de, é algo especial. Ele era um homem profundamente
perturbado, Van Gogh, e que a pintura, eu acho que para
mim ele só... ecoa coisas que eu simpatizo. O acordo que deu
errado... Eu acabei na prisão. Eu não quero entrar em
detalhes, mas eles nos deixavam sair para o pátio durante o
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dia, para que pudéssemos levantar pesos e toda essa besteira


clichê. A vista do pátio havia um monte na distância com
algumas árvores sobre ele, e os pássaros voavam em todas as
direções. Eu posso vê-lo agora, a grama de ir para a
distância, com dentes de leão amarelo em manchas aqui e ali.
Em seguida, a colina, e as árvores. Eu não sei que tipo,
carvalho, talvez? Grossa, enorme, com esses ramos se
espalhando enormes. E eu estaria lá no quintal, no calor,
olhando para aquele grupo de árvores e as sombras que eles
expressavam, sonhando de estar lá em cima na colina, à
sombra. Foi uma cena que eu poderia pintar a partir da
memória, mesmo agora, se eu fosse capaz de desenhar uma
merda. E Starry Night, é... há essa sensação de distância,
paz, eu não sei, é difícil para mim para colocá-lo em palavras.
Mas isso só me faz lembrar como me senti, olhando para
aquele morro todos os dias.

— Para mim, é a vista da cidade a partir da minha


janela, no meu condomínio. É difícil para eu ir para fora.
Você viu isso. Andar a pé até aqui, foi a primeira vez que me
lembro que eu não senti qualquer pânico em tudo. Mas,
olhando para fora, observando as pessoas e os carros, todos
só cuidando de suas vidas tão facilmente, é só... Às vezes eu
anseio por algo tão simples, tão fácil. Mas então eu fico fora, e
o ruído, e as pessoas, e tudo é tão grande, e há muito de
tudo... — Eu fecho meus olhos, tento fazer o sentido de meus
próprios pensamentos. —Starry Night, para mim, é sobre
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como nada disso importa. As estrelas vão brilhar, e eles vão


iluminar o mundo, não importa quem você é, ou, no meu
caso, que você não é. Quer dizer, eu acordei, e eu não era
ninguém. Mas a cidade continuava. Isso é reconfortante e
assustador, dependendo do meu humor. Mas as estrelas
brilharam, por Van Gogh, e haverá catedrais e ciprestes, e
haverá algo lá fora que é lindo, não importa o que está dentro
de mim. Eu não sei como fazer mais sentido. Como você
disse, é difícil colocar em palavras.

— Não, eu entendo. — Sua mão se estende para a


minha, e não há um momento, então, que passa entre nós.
Um entendimento. É nebuloso, mas real.

Mas então o tempo reafirma-se, e eu não posso cair de


volta para aquele momento, não importa o quanto eu
quisesse.

Algo mudou.

Estar aqui, com Logan, como este... é muito fácil. Muito


simples. Muito real. Eu quero aproveitar isso, o vinho e a
comida e o homem incrivelmente bonito, que parece querer
me conhecer, mas eu não posso. Ele quer saber sobre Caleb,
e como posso explicar isso?

Como posso explicar que, mesmo agora, Caleb é uma


parte de mim? Mesmo agora, para falar sobre Caleb como é...
sacrilégio. Como traição. Gostaria de colocar em palavras a
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riqueza do que ocorreu entre Caleb e eu seria fazer menos


deles, para descobrir as coisas leves que não devem ser
reveladas. Nem segredos, apenas... coisas privadas.

Não se pode ser mais nua, mais nua, mais vulnerável do


que estar sem identidade, a ser desnudada de todas as
personalidades, para ser totalmente sem identidade, sem
alma.

Para ser ninguém.

Caleb fez-me alguém. E esse alguém é tudo enrolado e


tecido em torno da pessoa que é Caleb.

— X? — A voz de Logan. Calma, mas afiada.

— Sim, me desculpe. — Eu tento sorrir para ele.

— Eu perdi você lá, não foi?

Eu só posso olhar para ele, olhar em seus olhos.

— Nós podemos... podemos ir, Logan? Isto é...


Maravilhoso. E talvez você não consiga entender isso, mas... é
muito maravilhoso. Demais.

Ele suspira um som triste.

— Sim... não, eu entendo. Eu realmente faço. — Ele se


levanta, procura em seu bolso, e joga um pouco de dinheiro
sobre a mesa.
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Gino está lá, pratos na mão.

— Não, não, você não pode ir, ainda não. O melhor está
por vir!

Logan bate-lhe no ombro.

— Desculpe-me, cara. Minha amiga não está se


sentindo bem.

— Ah. Bem, se você deve ir, você deve ir. — Ele dá de


ombros, como se dissesse: o que será, será.

Do lado de fora, então, a mão de Logan na minha. Noite


caiu. Luz dourada desapareceu ao anoitecer, ouro derretendo
em sombras. A hora mágica se foi, e o feitiço parece ter
partido. Eu não sei por que ou como. Mas eu ando, e sinto-
me pouco à vontade.

Em vez de beleza, agora vejo o baixo-ventre. O lixo nas


ruas, o cheiro de lixeiras, fumaça de óleo diesel, gritos
zangados de um homem de uma janela aberta. Uma
maldição. Vidro esmaga sob os pés. Grafite nas paredes, a
feiura estragando tijolo em ruinas.

Eu me sinto um pouco tonta com o vinho, cabeça dura.


Uma dor de cabeça estimula no interior do meu crânio.

A caminhada de volta parece que vai ser interminável, e


os meus pés doem.
| 429

Quando foi que eu acordei do banho?

Quanto tempo passou? Uma eternidade, assim parece.

Isso foi tudo, realmente tudo, apenas hoje?

O comprimento do dia está caindo em mim, a pressão de


tudo que eu já experimentei pesando fortemente. Comida
pesada, o vinho pesado. A boca de Logan na minha, seu
corpo contra meu, seu beijo. Querendo ele, ainda sentindo
como se... como se eu não deveria tê-lo. Como se para estar
com ele seria... errado, de alguma forma. Eu não posso fazer
o sentido dele. Para tentar é estonteante.

Eu quero a minha própria cama, a minha biblioteca. Eu


quero ler Mansfield Park e saborear Earl Grey. Eu quero ver a
noite cair da minha janela.

Mas eu não posso. Eu deixei isso para trás. Eu andei


longe dele.

Isso foi um erro? Parecia certo no momento. Mas agora?


Eu não tenho tanta certeza. Quem é Logan? Um guerreiro.
Um homem que foi para a prisão. Um homem que foi para a
guerra.

Um homem que arriscou muito para fazer o que ele


sentia em me libertar.

Mas ele pode me entender, compreender a minha


| 430

situação?

— X? — A voz de Logan mais uma vez, em causa. —


Você está bem?

Eu tento acenar. — Tem sido um longo dia. Estou muito


cansada.

— Tantas coisas não ditas.

— Vamos levar você para casa, hein? — Seu braço em


volta da minha cintura.

Casa? Onde é a casa? O que é o lar?

— Eu não posso mais andar, Logan. Eu só não posso.

Sinto-o olhar para mim.

— Merda. Eu sou um idiota. Eu sinto muito. Você já


passou por muita coisa hoje, não é? O que eu estava
pensando? — Ele levanta uma mão e, como mágica, um táxi
amarelo aparece e desvia-se de nós.

Logan me ajuda, desliza depois de mim, dá o seu


endereço. O passeio é curto.

Ele paga o motorista de táxi. Estamos parados, fileiras


de pedras marrons em ambos os lados. Escuridão, como um
cobertor, perfurado por lampiões. O braço de Logan volta da
minha cintura, me ajudando a pé os poucos pés de onde o
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táxi nos deixou sair à porta da frente de Logan.

Vou dormir com Logan? Em sua cama? Em um sofá?


Um quarto de hóspedes?

Tanto de mim quer ir para casa. Isto parece uma


aventura, como algo de uma história, e eu só quero voltar à
vida real. Mas não é a vida, não é uma história, não é um
conto de fadas.

O que é isso?

Eu estou muito cansada.

Eu quero voltar para quando eu estava nua no corredor,


as mãos de Logan em mim, de volta à quando as coisas eram
simples e possíveis. Naquele momento, tudo era simples e
fácil. Eu só queria que ele.

Eu ainda quero que ele.

Sinto-me segura, com o braço em volta de mim assim.

Mas eu não sei o que o amanhã vai me trazer. Para essa


matéria, eu não sei o que agora vai ser assim. Estou perdida
e confusa e com saudades de casa. Isto é o máximo de tempo
que estive longe do meu condomínio, longe de tudo o que é
familiar.

Sinto Logan tenso, vêm a uma parada abrupta.

— Fique aqui, — ele sussurra para mim, e me ajuda a


| 432

inclinar-se contra a árvore.

A luz brilha por baixo, brilhante. Eu pisco, e vejo que o


Logan está com suas mãos em punhos em seus lados. Ele é
tenso, enrolado.

Espio entre as sombras e vejo uma outra forma, sentado


nos degraus de arenito de Logan. Uma forma familiar.
Ombros largos, curva familiar de queixo visto de perfil,
aquelas maçãs do rosto, a testa, os lábios.

Dou um passo para a frente.

— Caleb?

— Fique aí, X. — A voz de Logan é dura como ferro. — E


você fica exatamente onde você está, Caleb. Mantenha-se
longe dela.

— X. Vamos. — Aquela voz, profunda e escura como um


abismo.

Eu pisco, influência sobre os meus pés. Logan, na


minha frente, agindo como um escudo humano entre Caleb e
eu.

Caleb, agora de pé, com as mãos nos bolsos.

Dois homens; escuro, uma luz.

Eu quero correr, quero subir nesta árvore e aconchegar


| 433

no recanto dos ramos.

Caleb dá mais um passo mais perto de mim, Logan


bloqueando o caminho com seu corpo.

Tensão crepita.

A violência é espessa no ar.

Eu não posso respirar, pânico brotando dentro de mim,


tão familiar quanto as rugas nas palmas das minhas mãos.

Eu vejo olhos como sombras da meia-noite, olhando


para mim. Expectante. Sabendo.

Vendo-me, vendo-me.

— É hora de ir para casa, X. — Essa voz, implacável,


como a escuridão que se fez carne, como sombras que se
enrolam como estacas do sono a sua alegação, as sombras
não a temer, mas sim sombras que calmaria, as sombras que
os sonhos de testemunhas e esperar durante a noite até o
nascer do sol.

— Você não tem que ir com ele, X. — disse Logan.

— Você sabe onde você pertence. É hora de ir. — Caleb


falou.

Onde eu pertenço? Eu sei onde eu pertenço?

Caleb caminha em direção a um carro elegante, baixo,


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preto, Len esperando, segurando a porta do passageiro


traseiro. Logan gira para me encarar. Ele não está em pé no
meu caminho, não me impedindo. Nem me tocando.

Caleb à minha esquerda. O condomínio, o que eu


conheço. Minha biblioteca. Minha janela.

Logan na minha frente. O arenito, Cacau. A fantasia de


normalidade.

— Você é Madame X. — A voz à minha esquerda,


confiante, calma, forte. — E você pertence a mim. Seu lugar é
comigo.

— Mas você não tem que ir, X. — Logan chega para


mim, mas não me toca. Não é bem assim. Quase, mas não
completamente. — Você não tem que ir. Você não vê isso?

Eu sinto a força. Um fio invisível, enganarem meu pulso.


Meu tornozelo. Minha cintura. Minha garganta. Não é um
perfume ou uma memória, ou um toque. Não é feitiçaria.

Eu perdi vinte anos de memória. Eu perdi tudo o que eu


era. Eu me perdi.

Mas agora eu tenho um passado. Seis anos, talvez


apenas uma fração quando comparado com a totalidade da
minha vida, mas é a única história que eu conheço. A
biblioteca. A janela. Chá. O tempo de maneira passa em
incrementos embalando, cada momento ordenado e
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conhecido e compreendido.

Logan... ele representa o desconhecido, um futuro que


poderia ser. Um sonho. Um cão para acariciar meu rosto,
para me receber. Beijos na loucura de momentos selvagens,
paixão que consome. Desordem, frenesi de necessidade, o
tempo como areia deslizando através de um punho cerrado,
tantas coisas novas.

Mas depois há Caleb... meu salvador, meu passado e


meu presente. Eu recebi um vislumbre, raro e precioso,
passado paredes céu de alta e para o santuário interior de
quem é o homem realmente é.

Caleb me deu tanto... um nome, uma identidade, uma


vida.

Ele é um mistério, e muitas vezes inescrutável, mas ele é


tudo que eu conheço.

Eu engasgo com a minha respiração.

Eu sinto meu pé deslizar para trás.

Os olhos de Logan distorcem, e sua mandíbula aperta.


Ele vê o escorregar infinitesimal do meu pé, e ele
corretamente lê o sinal para o que é.

— Não, X.

— Sinto muito, Logan.


| 436

— Não faça isso. Você não sabe o que está fazendo. —


Ele soa absolutamente certo disso.

— Eu sinto muito. Obrigada, Logan. Por tudo. Obrigada.

Caleb está esperando, observando, alto e largo e vestido


impecavelmente em um terno, marinho com riscas estreitas,
camisa branca, gravata fina cinza-ardósia. Dedos desenrolam
de um punho, palma levantada, mão estendida.

— Venha agora.

Eu não posso fazer-me quebrar o meu olhar longe de


Logan, longe da tristeza, a necessidade. Ele também me vê.

Eu recuo. Volto.

Logan levanta o queixo, mandíbula endureceu, punhos


ao seu lado, testa franzida. Jeans desbotado, um Henley
verde pálido, quatro botões no pescoço, cada uma desfeita,
mangas empurrado para cima em torno de espessura,
antebraços com fio. Vejo suas mãos, e por um momento,
apenas as mãos. Ele me tocou, tão suavemente. Senti uma
vida de toque em que neste momento se sente como foram
roubados momentos.

Um momento é 1/4 de uma hora.

Quantos quadragésimos de uma hora que eu roubei com


Logan?
| 437

Eles se sentem como roubados, de fato, mas não menos


preciosos por isso.

Mãos, sobre os meus ombros, me puxando para trás.


Dedos que me conhecem, os dedos que foram descoladas
todas as minhas camadas, noite após noite, e me conhecido
na escuridão e me conhecido na luz.

Eu ainda não virei às costas, não desviei o olhar, assim


como eu recuo para as sombras ao redor do carro esperando.

O interior é legal, e em silêncio.

Escuro.

Logan está em uma piscina de luz pálida, quadro,


iluminado. Ele me olha e não pisca.

Eu vejo, ainda assim, mesmo quando Len fecha a porta,


e eu tenho que assistir através de um vidro colorido.

Um poderoso rosnado baixo, do motor e, em seguida,


Logan está atrás de mim, ainda observando, cada vez menor.

Um longo e profundo, o silêncio preocupante, já que o


carro me retorna aos desfiladeiros de vidro e aço familiares,
ecoando com a vida incessante de noite nesta cidade.
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Quando ele fala, sua voz atinge acordes dentro de mim,


martelos nas cordas de um piano. Todo o meu ser cantarola,
e devo voltar, deve olhar. Deve atender aos seus olhos como a
escuridão de uma noite sem lua.

— Você é Madame X, e você... é... minha. — Seus dedos


beliscam o meu queixo, incline a cabeça para olhar para ele.
— Diga, X.

As palavras eu sinto que são puxadas para fora de mim,


puxadas, enredadas, enroscadas e arrancadas para fora do
emaranhado de conflitos dentro de mim:

— Eu sou Madame X, e eu sou sua.


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Capítulo Dezessete

Ele não fala, não até que voltamos para o edifício, para o
décimo terceiro andar.

— Por que você partiu, X? — Sua voz é como um trovão


a distância.

— Você partiu primeiro. — Eu estou em minha janela,


vestida ainda em meu jeans simples, minha camiseta
confortável, roupa interior de algodão e sutiã esportivo, e
minhas sapatilhas.

— Assim você fugiu com outro homem? — Uma


acusação.

— Sim. — Ele não vai ouvir qualquer recusa de mim.

— Depois de tudo que eu fiz por você, de tudo que afinal


temos compartilhado, você achou tão fácil me abandonar
como se eu fosse lixo? — Ele soa quase humano, quase
machucado.

— Tudo o que temos compartilhado? — Eu coloco a


palma da mão contra o vidro frio, encontrando uma medida
pequena de paz interior na vista relaxante, familiar dos
| 440

carros passando para lá e para cá, os edifícios subindo preto


e refletindo sombras e luz fraca. — O que nós
compartilhamos Caleb? Eu não sou nada mais que uma
possessão para você. Você me usa como quer, e espera que
eu fique e simplesmente espere por você.

— Você age como se eu a tratasse como uma escrava.


Como um mero... objeto físico.

— Sim! — Eu giro, e ele está lá, e as minhas mãos


atacam o seu peito, duro. — Eu sou um objeto para as suas
necessidades sexuais, Caleb. Assim como Rachel e as outras.
Diga às desculpas que você quiser, você não me engana mais,
não como você as tem enganado. Elas têm a promessa de
encontrar o valor à outra pessoa pelo menos. Vendidas como
om bem móvel, talvez, mas pelo menos elas têm uma meta,
um futuro, uma promessa de algo mais. Eu ando por este
apartamento dia após dia, dia após dia, e ainda assim eu não
vou a lugar nenhum. Eu não consigo nada. Eu não tenho
futuro. Eu sou Madame X, sim. Mas quem é essa? Quem sou
eu? E para você, Caleb, quem sou eu? O que eu sou? Você
gosta de me foder. Eu entendo e muito. Mas isso é algo que
você faz a mim, não comigo. E sim, você é muito, muito bom
no que faz. E eu gosto disso. Admito livremente. Mas isso não
é compartilhado, Caleb. E quando isso acontece, é só você...
fazendo. E então quando está feito, e você sai. Você sai. Você
sai. Você sempre sai! Você é tudo que eu tenho, e você está
| 441

sempre me deixando!

Ele está estranhamente calado. Como eu cheguei aqui,


contra ele? Mãos presas entre nossos corpos, palmas para o
seu peito. Inclinando-me contra ele, como se eu não pudesse
ficar sem ele.

Não estou completamente segura que isso não é a


verdade.

Ele está absolutamente imóvel, seu peito mal se


movimenta com a respiração. Os seus olhos estão em mim, e
eles estão brilhando com o calor, crepitando com fogo escuro,
como se por trás dessas sombras dentro dele existe um
inferno, um sol, uma supernova sempre agitando, mas só
pode ser visto ou sentido quando ele se digna a permitir que o
véu que guarda o mundo a partir do seu interior se levanta
brevemente.

Um erro -não há movimento, vindo de dele: sua


mandíbula pulsa furiosamente.

— Você acha que... — a pausa para respiração — você


acha que tudo que faço é foder você? Será que eu ouvi isso
corretamente?

— Sim. — Eu não vou recuar desta vez. Não posso. Não


devo. — Isso é tudo o que você já fez para mim: foder. Base,
sem sentido, vazio.
| 442

— Você não poderia estar mais errada, X. Estou


monogamicamente fiel a você, sexualmente? Não. E eu não
vou explicar nem pedir desculpas por isso. Eu sou quem eu
sou. Eu sou o que sou. Mas o meu tempo com você, limitado,
pois pode ser, nunca foi... base, ou sem sentido, ou vazio. —
Ele diz essas três palavras, as minhas palavras, com tal
veneno ácido não posso deixar de vacilar. — Então, longe
disso, X. Eu não sou um homem a quem a emoção vem fácil,
e isso não é provável que mude.

Meu queixo levanta.

— Eu... não... acredito em você.

— Não? — Uma sobrancelha arqueada. — Permita-me


mostrar-lhe, neste caso.

Outro momento que é gravado em mim: Ele é, iluminado


pelo brilho pálido da cidade, gigantesca, uma criatura de
potência sexual crua, fervendo, furioso, suas mãos subindo
de seus lados como se estivesse em câmera lenta, seus olhos
fixos em mim, piscam a cada poucos fragmentos de um
segundo, um movimento lento de longos cílios negros, e, em
seguida, suas mãos agarram a minha camisa, e erguem.

Eu espero que ele rasgue as minhas roupas, mas não o


faz. Ele as remove cuidadosamente.

Reverentemente, quase.
| 443

O sutiã ele rola para cima até os meus seios


derramarem livres, e então ele puxa para fora da minha
cabeça, levantando-o, forçando os braços para cima. Meu
jeans que ele desabotoa, abrem, empurra para baixo,
retirando minha calcinha com o jeans. E foi assim que, em
questão de segundos, eu estou nua.

E então, depois de 15 minutos, seus olhos vagando em


minha forma, devorando a minha carne, ele dá um passo
atrás. Longe de mim. E ele olha para mim, os olhos
desafiando-me a olhar para longe, para quebrar a fragilidade
da atração, dessa coisa entre nós. O que é, eu não sei. Eu
não posso parar isto, no entanto. Esta é a sua feitiçaria.
Agora eu sinto isso. Agora eu estou perdida em seu feitiço.

Como eu soube que seria.

Ele remove seu paletó, jogando-o descuidadamente ao


chão. Em seguida, a gravata, arrancada com impaciência. E
depois a camisa, um botão de cada vez, com os dedos hábeis.
E então o seu cinto, sapatos de bico largo, meias. Mesmo ele
parece momentaneamente estranho, retirando suas meias;
elas são impossíveis de tirar graciosamente. Mas, então, ele
está apenas em sua roupa de baixo, tecido preto esticado
sobre a pele pálida, um quadro enorme como uma montanha
de músculos, todos os rochedos de carne dura. E agora...
polegares no elástico, não olhando para longe, ele os empurra
| 444

para baixo, e agora está nu comigo.

Pele não marcada, de proporções perfeitas. Um deus que


se fez carne.

Sua ereção sobressai dura e orgulhosa, e eu tremo


perante o flash de memória física que me assalta, o
conhecimento tátil do caminho seu membro inchado, se
dirigindo para dentro de mim, enchendo-me, me perfurando.

Eu tremo, mas eu não posso fugir. Não posso falar boca


seca, incapaz de desviar o olhar, disposta a tentar, sabendo
que é inútil.

O modo que ele fecha o espaço entre nós, movendo-se


lentamente, assim eu sei a sua intenção, ele chega até mim.
E eu espero, eu não sei o quê. Para ser beijada? Para ser
levantada e fodida aqui mesmo, neste momento?

Eu não esperava o que acontece: ele me segura pelos


ombros, e por uma fração de segundo ele acabou de me
olhar, olhos escuros ardentes, mandíbula pulsante, um
milhão de palavras queimando dentro de dele, ardente e
sempre silenciosa, como se elas estivessem sendo
consumidas antes de poderem alcançar seus lábios. E então
ele me gira, uma torção abrupta, e me empurra contra a
janela, o vidro frio contra os meus seios nus. E então ele está
lá, atrás de mim, prendendo, e seu eixo entre as minhas
| 445

coxas, e sua respiração está em meu ouvido.

— Isto é uma foda, X. — Ele se enfia em mim.

Forte, súbito, uma breve pontada de dor quando ele


estica-me. E então eu jorro molhada na plenitude dele, e eu
grito, e cedo, caio, mais a sua presença.

Um impulso.

Eu sinto isso, essa queimação. O afloramento de


explosivo. Eu soco isto para baixo.

— Sim, Caleb. Essa merda. Isto é o que você faz comigo.


Só isso. Isso é tudo que sempre foi. — Minha voz é forte,
embora eu seja fraca.

— Olhe para a janela, X.

Eu faço, mas em vez de a cidade, eu nos vejo. Refletidos.

Ele, enorme atrás de mim, pálido e musculoso,


movendo-se, flexionando a pele que sofre mudanças na luz,
enquanto ele me fode.

As minhas palmas contra o vidro, seios achatados,


aréolas círculos escuros ao redor dos meus mamilos eretos,
quadris largos e pele escura, cabelo solto e selvagem, olhos
enlouquecidos. Movendo-se enquanto estou sendo fodida.

— Você vê a forma como parecemos juntos?


| 446

— Eu preciso de mais, Caleb. — Eu empurro para trás


em seu corpo, em seu movimento, para o que ele está fazendo
comigo. — Eu preciso de mais do que apenas isso. Isto é tudo
que você me dá, e isso não é suficiente.

De repente, eu estou vazia ofegante, quando ele se retira


de mim. Permaneço desfalecida contra o vidro, vendo ele no
reflexo. Um momento, então, ele está, de pé nu atrás de mim,
eixo brilhando molhado com nossas essências, o enorme
peito subindo e descendo com a respiração muito conflituosa.
Seus olhos brilham.

Estou à beira do orgasmo, balançando com ele, cheio de


asfixia com necessidade disso.

— Você pede o impossível de mim, X.

— Tudo o que eu estou pedindo é você. — Até que eu


diga isso, eu nunca entendi como isso é verdade. Dói admitir,
a punção da dor profunda através de cada molécula de mim.

Ele é um enigma. Ele não mudará, e eu sei disso, mas


ainda me sinto como se eu PRECISASSE dele e eu o ODEIO
por isso, me odeio mais ainda pela necessidade dele, porque
preciso dele. Ele me liga aos fantasmas uivantes do meu
passado assassinado, me liga à memória de acordar como
ninguém, acordar incapaz de falar ou se mover, incapaz de
expressar o tormento absoluto de acordar perdida, sozinha, a
minha alma ecoando com ausência, minha mente em branco,
| 447

o meu passado apagado tão completamente que eu não


consigo chorar por que eu não sei o que perdi.

EU PRECISO DELE.

Condeno todos os deuses por me sobrecarregar com esta


verdade, mas eu preciso dele.

Eu não quero precisar de Caleb, mas eu faço.

E ele não vai, não pode me dar. Eu não sei por que, e
eu sei que ele nunca vai me dizer.

Seus olhos muito lentamente se agitam fechado. Suas


mãos fechadas desenrolam-se.

Ele chega para mim. Eu tremo, paralisada no lugar.


Suavemente agora, mais suave que ele alguma vez foi, ele me
vira no lugar, dobra os joelhos, enrola suas mãos atrás das
minhas coxas e facilmente me levanta, puxa minhas pernas
em volta do tronco de sua cintura, e, no momento antes de
penetrar-me, ele faz uma pausa.

— Ah, X. Você não sabe o que você está pedindo. — O


rugido de sua voz é o deslizar implacável de uma avalanche.

— Mas eu peço de qualquer forma, Caleb, — eu digo.

E então ele está em mim. Um deslizamento lento, doce.


Minha boca cai aberta, e seus olhos estão grandes, assim
como os meus, e suas mãos tomam o meu traseiro, me
| 448

abaixa sobre ele. Eu agarro o seu pescoço, ofegando com a


dor dele, o perfurar doce lento, até que ele está assentado
dentro de mim e eu não posso nem respirar por isso, só posso
deixar cair a cabeça para trás e choramingar.

— É isso que você quer, X? — Ele pergunta, e fixa


minha coluna contra o vidro. — Olhe para mim, droga e me
responda.

Abro os olhos. Meu lábio superior está modulado em um


grunhido de êxtase.

— Sim, Caleb. É isso que eu quero.

Mas não é. Não é só isso. Há muito mais, mas eu não


tenho as palavras para tudo.

Três empurrões curtos, meu clitóris raspando contra o


seu eixo duro, bombeando, e eu gozo.

Eu desmorono contra o seu peito, sentindo, cheirando e


provando o seu suor.

Ele se move, me leva ainda cheia dele; cada passo me


faz vacilar e me contrair, ofegar e o formigamento, atirando
raios de pós-espasmos através de mim. E então ele me deita
na minha cama, de costas, e minhas pernas penduradas fora
da beirada. Ele está entre as minhas coxas abertas, e
empurra, uma vez.
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Eu grito.

Ele empurra de novo, suas mãos segurando meus


quadris, e eu gemo em voz alta.

Ele se inclina para frente, e eu o sinto em cima de mim,


sinto seu olhar. Eu envolvo meus braços em torno de seu
pescoço, pernas ao redor de sua cintura, e me penduro. Ele
rasteja para frente, arruma gentilmente para a minha cabeça
estár no travesseiro, e agora ele está ajoelhado em cima de
mim. Ainda em mim. Doendo em mim. Eu o sinto tremer com
a necessidade. Seus olhos permanecem nos meus, e ele
espera, completamente imóvel agora.

Eu arqueio minhas costas, flexiono os quadris, e


empurrou contra ele.

Ele geme.

Ah, aquele som. Sua voz, tão frequentemente silenciosa,


burburinhos de um som de prazer sem palavras, e eu vibro
por ouvir isto.

Ele imerge sua cabeça, e eu pressiono meus seios para


sua boca.

Algo selvagem e mais quente do que um raio estala por


mim ao toque de sua boca no meu mamilo.

Eu me desprendo novamente como um vulcão em


erupção, o impulso contra ele, e agora ele se move, move,
| 450

move.

Nós nos contorcemos juntos.

Seus gemidos ficam altos.

Minha vez de gritos, soluços de prazer.

Sua mão aperta o meu pescoço, me elevando para ele; a


outra onda ao redor parte de trás da minha coxa perto do
meu joelho e envolve a perna em torno de seu quadril, e ele
empurra em mim, e nos conhecemos um ao outro, impulso
para o impulso. Eu olho para ele e vejo seus olhos
arregalados e surpresos, vejo emoção que sangra fora dele.
Leva a crueza cortando deste momento para fazê-lo mostrar
qualquer coisa, mas agora eu vejo isso.

Ele não sabe como fazer isso.

Não mais do que eu.

Estamos aprendendo isso juntos.

— Caleb, — eu sussurro, e gozo.

É uma explosão de felicidade, tudo em mim voando para


o além, e eu exalo cada molécula de respiração que me resta
quando sou arrancada pelo orgasmo, trançado.

E então, quando o clímax atinge o seu pico, ele faz o


impensável.
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Ele me beija.

E ele vem, desencadeando-se dentro de mim, um jorro


quente e úmido, enchendo-me, e ele se move freneticamente e
me beija e agarra as minhas coxas deixando hematomas pela
força frenética e sua outra mão agarra o meu peito e os
polegares apertão meu mamilo ereto, densamente me beija e
eu estou vindo novamente, e agora ele me vê, com os olhos
abertos como estão os seus, e este é um momento como
nenhum outro, algo enorme e maníaco e aterrorizante o nova
estourando e enchendo-nos.

Ele goza,

E eu gozo,

E ele me beija,

E eu o beijo,

E há uma linha entre nós, algo real que se estabeleceu.

Sua testa toca a minha, e ele está ofegante. Esmagando-


me com o seu peso.

— Jesus, X.

Ele tenta se mover para fora de mim, mas me agarro a


ele.

— Não me deixe, Caleb, — eu sussurro.


| 452

Ele está começando a se fechar. Talvez, se tornando


mais ele. Ou... menos ele. Eu não sei. É o verdadeiro Caleb o
ser atormentado que vislumbrei preso por trás do véu
sombrio de seus olhos? Ou a realidade que ele é uma criatura
rude, fria, eficiente, impessoal de ternos personalizados e
carros caros?

Agarro seu pulso com uma mão, bloqueio minhas coxas


em torno de sua cintura e ligo meus saltos em torno de sua
parte traseira, mantendo-o firme contra mim, em mim,
mesmo que ele amoleça. Com a outra mão, eu faço algo que
eu nunca tinha feito antes: eu toco o seu cabelo. Passo os
dedos pelos fios manchados de tinta.

— Se você sair agora, Caleb, tudo isso será para nada.


Você vai desfazer tudo que acabamos de compartilhar. Eu vi
parte de você, Caleb.

— Porra, X. Você não entende. — Um rosnado áspero,


uma maldição dele, por isso não característico.

— Não, eu não. Mas... fique de qualquer maneira.


Relaxe, apenas por um momento.

Ele está tenso por um momento, uma escultura de


granito. E então, lentamente, ele derrete, suaviza, e mergulha
um ombro para a cama, se muda para o lado. Aos poucos,
como se completamente inseguro se está fazendo certo, ou
mesmo o que está fazendo, ele coloca sua cabeça no
| 453

travesseiro ao meu lado. Tirando de dentro de mim, sua


masculinidade esta frouxa e molhada contra sua coxa. Eu
sinto sua essência vazando fora de mim, mas não me atrevo a
me mover, não me atrevo a sequer pensar nisso. Eu deito ao
seu lado, as mãos enfiadas debaixo do travesseiro, do meu
lado, de frente para ele.

Eu me sinto como se estivesse me enrolando ao lado de


um leão em sua gaiola.

Ele estende a sua mão, e eu enrijeço, deixo de respirar.

Mas tudo que ele faz é me tocar, o indicador acariciando


para cima da minha coxa para o meu quadril, sobre a minha
cintura, até minhas costelas, ao meu peito.

— Você é linda. — Um murmúrio, como do fundo do


mar escuro turbulento.

— Obrigada. — Eu mudo para o lado, armo o meu braço


atrás de mim para que o seu hesitante toque possa escovar
do peito de volta para o meu quadril.

Atrevo-me a tocar o seu bíceps. As contrações


musculares do Leão, e eu sei que eu poderia ser devorado em
uma fração de segundo.

Um jogo de toques, exploração de reciprocidade: a ponta


do dedo para o meu mamilo, minha palma deslizando do
joelho ao osso do quadril irregular; localizando meu traseiro,
| 454

seguindo a curva de extremidade exterior de quadril para


prega interna e para cima de minha espinha.

Ele não fala, e eu não ouso quebrar a magia disto. É


muito frágil.

Meus olhos pesam muito.

Seu toque desliza sobre mim, hesitante e gentil e suave


e lento.

Derivam e roçam... E eu durmo.


| 455

Capítulo Dezoito

Eu acordo sozinha.

Silêncio.

— Caleb?

Nada.

Raios do alvorecer através da janela. Olho para a


esquerda, e vejo que a minha porta do armário está aberta.
As prateleiras estão sem roupas, nem mesmo um cabide à
vista.

Minha garganta aperta. Eu salto para fora da cama, e


vou para a minha biblioteca.

Ela está lá, intacta.

Volto para o meu quarto, para o meu armário. Vazio.


Totalmente vazio. Até mesmo a mesa contra a parede do
armário de entrada está vazia. Eu não tenho uma única peça
de roupa para vestir.

Volto para a sala de estar. Desapareceu o sofá, a mesa


| 456

de café, a poltrona Louis XIV. A mesa de jantar se foi.

Minha porta da frente está aberta.

A porta do elevador está aberta, a chave na ranhura no


interior do elevador.

Estou totalmente confusa.

De volta para dentro, para a biblioteca. Há minha


cadeira e a mesa no triângulo entre as estantes. Na mesa há
um envelope contendo uma pilha de notas de cem dólares, e
uma nota manuscrita em negrito, letras inclinadas:

Madame X,
Este vestido é o que eu encontrei você vestindo. É seu,
desde antes.
Deixo-lhe os livros, porque sei que você os estima.
As câmeras e microfones estão desligados.
Não haverá mais clientes.
Parta, se você deseja; há dinheiro suficiente no
envelope para permitir que você vá para onde quiser. Mas
se você optar por sair estará por sua conta. Não irei
persegui-la desta vez.
Ou, você pode pegar o elevador para a cobertura. Mas
se você escolher isto, você deixa tudo neste apartamento
onde está, e vinde a mim como você está agora, nua, apenas
| 457

com o nome que você escolheu para si mesma no dia do


Museu de Arte Moderna.
~ Caleb

Dobrado sobre a almofada da cadeira está um vestido.


Azul profundo escuro. É claro. Um tom de azul que parece ser
uma característica definidora na minha vida...

Caleb Indigo.

Olhos índigo de Logan.

E agora este vestido...

Índigo.

Exceto que este vestido não é novo. Não é bonito. Foi


uma vez, talvez. Eu o levanto, e estou estrangulada pela
emoção. Eu não reconheço este vestido; ele está rasgado. Do
decote até a bainha, está rasgado. Rasgado ao meio e
manchado com sangue. Há outro rasgo, este no lado de
baixo, à direita.

Eu toco o meu quadril direito, onde há uma cicatriz.

Há manchas de sangue no tecido azul escuro no decote,


em cima dos ombros, nas costas.

Por que, eu não sei, mas eu lentamente passo através de


um buraco. Encaixo meus braços através das mangas. Puxo
| 458

as pontas.

É muito pequeno. Mesmo sem danos, não me ajustaria.


Eu sou muito grande no busto e traseiro para este vestido.
Muito alta, bem, talvez.

Seis anos.

Eu teria em torno de dezoito ou dezenove anos quando


eu usei pela última vez este vestido, sinto-me como se
fantasmas do passado se apegassem à minha pele,
penetrando em mim através do tecido.

A etiqueta diz Sfera. Até mesmo o estilo é estranho para


mim. Tão curto, chegando nem mesmo ao meio da coxa. Sem
mangas, intacto o decote teria sido alto em torno de minha
garganta. Olho fixamente para o material que segurava na
minha mão, uma pista inútil para quem eu costumava ser.
Um fragmento vazio do meu passado.

A garota que usou este vestido da Sfera... quem era ela?


Qual era o nome dela? Será que ela tem pais? Uma irmã? O
que ela gostava de fazer? Ela tinha amigos? Ela esboçava
corações em diários? Será que ela tinha uma queda por um
garoto? Será que ela fala espanhol? Se ela fez, eu esqueci
isso.

Este vestido não pode me dizer nada. Eu não posso nem


usá-lo, e se eu pudesse, se eu pudesse costurar as pontas...
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eu faria?

Não.

Portanto, esta escolha seria, Caleb?

Vejo através dele.

É uma maneira de retomar o que você sente que tirei de


você na noite passada.

Nua, hesitante, eu entro no elevador, torço a chave para


o PH.

As portas fecham, e o elevador sobe.

As portas se abrem, e eu vejo a cobertura, considerando


que a última vez que estive aqui, eu não fiz isso, não
realmente.

Espaço amplo, piso alcatifado branco grosso, uma


parede de janelas com uma vista impressionante da cidade.
Mobiliário moderno preto. Reconheço o sofá em frente ao
elevador como o que Caleb me teve em cima. É a parte de um
conjunto: um sofá em forma de L, uma cadeira moderna e
minimalista, uma pequena mesa de prata redonda, e outra
cadeira, formando um quadrado pequeno para bloquear o
espaço em frente ao elevador.

Ao longe, no canto mais distante da cobertura, a


cozinha, e perto disto um pequeno recanto no canto onde
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duas paredes de vidro se fundem. Ele está lá, sentado à


mesa, apoiado em uma cadeira, elegantemente casual em
jeans azul e uma camiseta de gola branca. Uma caneca em
suas mãos, um tablet eletrônico retangular sobre a mesa na
frente dele.

Há um ajuste de lugar ao seu lado. Um pires e uma


xicara. Um prato, com uma baguete cuidadosamente
apresentada, fatiada em metades, uma metade colocada de
bruços em um ângulo estranho. Preciso e perfeito.

— Venha, sente-se. — Sua voz é muito forte: a cobertura


é enorme; combina com ele exatamente.

Atravesso o espaço hesitante. Se há alguém nos prédios


em frente, eles podem me ver, e eu ainda estou nua.

Ele sorri quando me aproximo, abaixa sua xícara de


café.

Ele está de pé. Retira a sua camiseta branca lisa.


Acomoda-a em minha cabeça, puxa a abertura do pescoço em
cima de mim, e eu coloco meus braços nas mangas. Vestida,
um pouco, eu me sinto mais confiante.

Eu olho para a xícara de chá, eu posso ver a etiqueta:


Harney & Sons Earl Grey e o baguete, simples, com requeijão
light espalhado.

— Você sabia que eu viria.


| 461

Seus olhos ainda são impenetráveis, mas estou


começando a ver vislumbres de algo. Talvez eu esteja
aprendendo a o ler finalmente. Ou talvez ele esteja
aprendendo a deixar-me lê-lo.

— Claro que sim, — ele diz. — Você é minha.

É isso, dele, é uma verdade, não posso negar.

A questão é: será que eu quero ser?

Continua...

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