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Musica Movimento Danca PDF
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DANÇANDO NA ESCOLA
Resumo:
Durante o ano letivo de 2008 foram desenvolvidas intervenções artístico-
pedagógicas com os alunos dos 4° anos da Escola Municipal de Ensino Fundamental
Professor Antônio Rodrigues de Campos. Foram elas: jogo geléia, cujo foco era a
composição corporal, uma apresentação de vídeo com o objetivo de oferecer uma
apreciação estética da linguagem da dança e duas oficinas de curta duração sendo
uma delas “O Jogo Teatral e a Dança” abordando aspectos presentes nessas duas
linguagens e a outra “Música ↔ Movimento ↔ Dança”.
O foco deste texto é a oficina “Música ↔ Movimento ↔ Dança” que, por meio
do movimento como ponto de intersecção entre a dança e o aprendizado musical,
propiciou uma vivência corporal de elementos formais da música e aproximou as duas
linguagens, considerando conceitos tais como o pulso dentro do tempo e sua possível
organização métrica. Desta forma pudemos oportunizar aos alunos uma experiência
estética e a comunicação entre as linguagens artísticas da dança e da música
presentes nas intervenções oferecidas.
1
Na música é a teoria do compasso e do ritmo; É a técnica musical que trata da estruturação do
ritmo e da melodia (MED, 1986, p.128)
compasso se torna desnecessária para a compreensão da métrica, pois o importante é
saber como se percebe os macrotempos e os microtempos.
Partindo desse princípio, Gordon (2000) nos diz que é por meio da métrica
que conseguimos achar uma sintaxe rítmica, e que o único modo de compreender
o ritmo musicalmente é por meio do movimento do corpo e da audição do
movimento do corpo (GORDON, 2000). Para tanto, destaca importantes autores
que estudaram essa percepção rítmica: Dalcroze e Laban.
Emile Jaques-Dalcroze desenvolveu um trabalho sistemático de educação
musical baseado no movimento corporal e na escuta musical ao perceber em seus
alunos o baixo preparo e ao constatar a dificuldade que os mesmos apresentavam ao
cantar obedecendo aos influxos rítmicos. E que o problema deles não era a
compreensão intelectual, pois a dificuldade residia em executá-los corretamente.
O sistema de Dalcroze “parte da natureza motriz do sentido rítmico e da idéia
de que o conhecimento precisa ser afastado de seu caráter usual de experiência
intelectual para alojar-se no corpo do indivíduo e transformar-se em experiência vivida”
(FONTERRADA, 2008, p. 135), buscando trabalhar de forma ativa a escuta, a
sensibilidade motora, o sentido rítmico e a expressão. Dessa forma, por meio de
atividades que promovem a reação corporal a um estímulo sonoro ou exploram o
espaço em diferentes direções, planos e trajetórias, que combinem, alternem ou
dissociem movimentos, que estimulem a concentração, a memória e a audição,
podemos vivenciar as estruturas formais da música.
Esse sistema, chamado por Dalcroze de Rithmique, é direcionado para a
educação e busca a relação entre a pessoa e a música, procurando desenvolver uma
escuta consciente que parte do movimento corporal estático ou em deslocamento.
Desta forma, o sistema procura gerar a compreensão, a fruição, a conscientização e a
expressão musical nas pessoas. A música deixa de ser um objeto externo à pessoa e
participa diretamente da criação do movimento pela pessoa. Metaforicamente o corpo
expressa a música e se transforma em ouvido, passando a ser a própria música. No
momento em que isso ocorre, música e movimento se integram na pessoa.
Por outro lado, Rudolf Laban (1978) pesquisou e observou o movimento
humano, trazendo-o para o centro da experiência humana. Seus estudos nos levam a
entender que o movimento é ao mesmo tempo funcional e expressivo e que todo
movimento pode ser aproveitado para a dança. Dessa forma o corpo do cotidiano, o
mesmo corpo que anda, corre, senta, brinca e não é preparado especialmente para a
dança, mas pode dançar a partir dos movimentos funcionais que possui.
Destaca ainda que “quando criamos e nos expressamos por meio da dança,
executando e interpretando seus ritmos e formas, preocupamo-nos exclusivamente
com o manejo de seu material, que é o próprio movimento” (LABAN,1990 p.108).
Indica-nos que o movimento apesar de ser um ato mecânico pode nos
revelar aquilo que se passa no interior de quem está se movimentando: “Cada fase do
movimento, cada mínima transferência de peso, cada simples gesto de qualquer parte
do corpo revela um aspecto de nossa vida interior” (IDEM, 1978, p.48), pois cada
movimento se origina de excitações internas de nossos nervos, provocadas tanto
pelas impressões externas imediatas quanto pelas impressões externas previamente
vivenciadas e experimentadas de nossa memória. Também aponta que “o pensar por
movimentos poderia ser considerado como um conjunto de acontecimentos na mente
de uma pessoa” (IDEM, 1978, p.42). Assim quaisquer que sejam as tarefas as que as
pessoas se dediquem exprimem algo acerca de si mesmas por meio de seus
movimentos.
Atividade 01
Os alunos, em círculo, repetiram a seguinte frase musical:
Atividade 02
Essa segunda atividade proporcionou aos alunos a oportunidade de interagir
com músicas fora do cotidiano e do universo cultural deles.
Aproveitamos a idéia de marchar e sugerimos que eles se portassem como
um exército de leões a marchar junto com a música “Introdução e Marcha Real do
Leão”. Após esta música pedimos para que eles se movimentassem como se eles
fossem elefantes, e para isto utilizamos a música “O Elefante” e finalmente pedimos
que se movimentassem como se eles fossem tartarugas ao som de “Tartarugas”.
Todas essas três músicas são partes integrantes da obra Carnaval dos Animais de
Camile Saint-Saëns (Le Carnaval Dês Animaux Septuor – Fantasie, Saint Säens).
Para o término desta atividade utilizamos a música Can-Can de J. Ofenbach (The
Royal Philarmonic Orchestra – Can-Can and Other Dances From The Opera) e
marcamos os microtempos. A escolha das músicas foi pensada para proporcionar aos
alunos uma vivência com métricas binárias e ternárias.
Atividade 03
Esta atividade consistiu em utilizar uma música que alternasse trechos de
métrica binária e ternária. Pedimos aos alunos que se movimentassem enquanto a
música tocasse compassos ternários e quando a música alternasse os compassos,
eles parariam em uma pose apenas marcando os macrotempos com palmas.
Atividade 04
Nessa atividade2 utilizamos a parlenda “Água Mole, Pedra Dura Tanto Bate
Até que Fura” da seguinte forma:
A atividade consistiu em falar a frase marcando a pulsação (por meio de
passos parecido com a marcação feita na primeira atividade). Atribuímos a cada
palavra um tempo. A frase foi repetida constantemente, mas cada vez que a frase era
repetida, substituímos a última palavra por um som corporal ou gesto (mantivemos o
mesmo som/gesto fixo para cada palavra até o término da atividade). As substituições
das palavras por sons foram feitas da última palavra para a primeira. Desta maneira
obtivemos o seguinte resultado:
2
Atividade com a parlenda “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, de
autoria de Eduardo Dias de Souza Andrade, Guilherme Granato, Julianus A. Nunes, Karina
Kimie Kimori.
Após a primeira oficina, percebemos que alguns alunos não se interessaram
por algumas atividades. Por exemplo, a segunda atividade cujo foco era a vivência de
diferentes métricas por meio do movimento, as crianças demonstraram inicialmente
gostar e logo em seguida se desinteressavam. Outro momento percebido nesta
primeira oficina foi a última atividade, em que alguns alunos estavam já demonstravam
desinteresse quando estávamos fazendo a quinta vez do último exercício.
A partir desta percepção notamos que primeira proposta de atividades da
oficina podia ser melhorada se adicionássemos às atividades um momento que
oferecesse um maior tempo de expressão dos próprios alunos deixando que eles
pudessem dançar livremente a dança deles. Outro aspecto notado foi que a última
tarefa que se utilizou da parlenda “Água mole pedra dura, tanto bate ate que fura”
seria mais produtiva se ela fosse trabalhada em grupos menores.
Quanto à estrutura dos exercícios da oficina não foi notado nenhum
problema, por isso mantivemos essa estrutura começando por um exercício de
aquecimento e preparação da aula, logo em seguida exercícios de escuta ativa
exercitando assim por meio de uma forma lúdica, a apreciação musical e, para
finalizar, aplicamos um exercício de prática musical que envolveu o fazer musical e
que pôde instigar a investigação sonora corporal e trabalhou os conceitos pensados
para a oficina.
A partir destas reflexões a oficina foi alterada da seguinte forma:
Entre a atividade dois e três foi inserida o seguinte exercício:
Enquanto marcávamos os microtempos da música de J. Ofenbach nos
organizamos novamente em um círculo. Após o término da música utilizada durante a
formação da roda passamos a ouvir obras musicais retiradas do universo cultural dos
alunos, o que incentivou todos a participar em roda e com palmas para marcar os
macrotempos.
Definimos um número de marcações para que alguém pudesse ficar no
centro da roda e dançar ou se movimentar da forma que quisesse. O aluno tinha que
respeitar as seguintes condições: só era permitida uma ou duas pessoas no centro do
círculo; o aluno permaneceria no centro do círculo por apenas o número de marcações
que definimos e só era permitido entrar no centro do círculo quando a marcação
começasse.
A outra alteração foi desdobrar a última atividade em dois momentos. No
primeiro momento, até a metade da parlenda, fizemos esta atividade sem nenhuma
alteração com todos alunos juntos. Este momento foi importante para que todos
pudessem entender as regras do jogo. Após essa dinâmica dividimos os alunos
presentes em grupos pequenos, aproximadamente cinco por grupo, a fim de que todos
terminassem a atividade tendo mais liberdade e um poder de contribuição maior,
incentivando uma investigação sonora corporal.
REFERÊNCIAS:
Bibliográficas:
ANDRADE, Mario de. Dicionário Musical Brasileiro. Rio de Janeiro: Itatiaia, 1999.
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares nacionais para o
Ensino Fundamental: Arte – 1ªa 4ª séries. Brasília: SEF, 1997.
ARTAXO, Inês e MONTEIRO, Gisele de Assis. Ritmo e Movimento. São Paulo:
Phorte, 2008.
FONTERRADA, Marisa T. de Oliveira. De tramas e Fios: um ensaio sobre a música e
educação. São Paulo: Unesp, 2008.
GORDON, Edwin E. Teoria de Aprendizagem Musical, Competências, Conteúdos e
Padrões. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2000.
LABAN, Rudolf. Dança Educativa Moderna. São Paulo: Editora Ícone, 1990.
_____________.Domínio do Movimento. Org. Lisa Ullmann. São Paulo: Summus,
1978.
MED, The Royal Philarmonic Orchestra – Can-Can and Other Dances From The
Opera da Musica Brasília. Distrito Federal: Musimed, 1986.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 1986.
CDs:
Le Carnaval Dês Animaux Septuor – Fantasie, Saint Säens; Virgin Classics: 2003.
The Royal Philarmonic Orchestra – Can-Can and Other Dances From The Opera;
Naxos: 2003.