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Prevenção Primária e Secundária para Doenças Cardiovasculares
Prevenção Primária e Secundária para Doenças Cardiovasculares
cardiovasculares
Do que se trata
A doença cardiovascular representa a maior causa de mortes no Brasil. Estima-se que o
número de portadores de diabetes e de hipertensão é de 23 milhões. Aproximadamente
1.700.000 pessoas têm doença renal crônica (DRC), sendo o diabetes e a hipertensão arterial
responsáveis por 62,1% dos diagnósticos primários dos indivíduos submetidos à diálise. Além
disso, as doenças circulatórias expressam um alto impacto na mortalidade da população
brasileira, correspondendo a 32% dos óbitos em 2002, o equivalente a 267.496 mortes.1
Com o passar dos anos, os conceitos de atenção primária e secundária tiveram seu
sentido ampliado, abordando a terminologia “fator de risco”, sendo este não apenas uma
forma de pré-doença, mas também um fator que, uma vez estabelecido, deve-se tentar deter
o seu progresso e reduzir as suas consequências.
A prevenção pode ser abordada de duas formas: uma de base individual e outra de
base populacional. Na primeira, busca-se oferecer uma proteção individual a pessoas de alto
risco. Em contrapartida, a abordagem populacional busca controlar fatores determinantes
numa população como um todo.4
Quando pensar
A prevenção com base no conceito de risco cardiovascular global significa que os
esforços para a prevenção de novos eventos cardiovasculares serão orientados, não de
maneira independente pelos riscos da elevação de fatores isolados, como a pressão arterial ou
o colesterol, mas pelo resultado da soma dos riscos imposta pela presença de múltiplos
fatores, estimado pelo risco absoluto global de cada indivíduo. Sob o enfoque preventivo,
quanto maior o risco, maior o potencial benefício de uma intervenção terapêutica ou
preventiva.1
As pessoas com baixo risco (inferior a 10% em 10 anos) têm pouco benefício na
prevenção secundária.7 A prevenção secundária deve ser pensada naqueles com doença
cardiovascular clínica (infarto agudo do miocárdio, angina, acidente vascular cerebral, etc.).
O que fazer
Anamnese
Deve ser direcionada à avaliação de risco global do indivíduo, podendo-se utilizar
tabelas de risco cardiovascular para estratificação de risco e definição de condutas.
Para todos os indivíduos deve-se identificar idade, sexo, etnia, história pessoal de
tabagismo (se parou há menos de 12 meses, considerar tabagista em abstinência).
Exame físico
Uma boa avaliação clínica é suficiente para classificar a maioria dos indivíduos quanto
ao risco cardiovascular aumentado ou não, portanto, valorize esta ferramenta.
No exame físico, deve-se aferir a pressão arterial (nos dois braços ao menos uma vez),
pulsos, calcular índice de massa corporal, circunferência abdominal, testes rápidos de glicose e
lipídios quando possível.8
Exames complementares
O início da avaliação dos riscos cardiovasculares deve seguir o preconizado pela Tabela
141.1.
Tabela 141.1. Idade de início da avaliação cardiovascular
Pessoas com diabetes, aqueles que Pode-se fazer o controle de fatores individualmente
recebem medicação ou tratamento com maior frequência, p. ex., medir 3 vezes em um
para cessar tabagismo ou mês até controlar e, depois, a cada 6 meses.
aconselhamento intensivo de
mudança de estilo de vida.
Conduta proposta
Práticas preventivas não farmacológicas
Independentemente do tipo de prevenção (primária ou secundária), deve-se orientar a
promoção de um estilo de vida saudável. Dependendo do grau de complicação e
principalmente da singularidade de cada indivíduo, sugere-se realizar este manejo por meio de
uma alimentação saudável, atividade física regular, controle de peso, controle da ingesta
alcoólica, do uso do tabaco (mesmo que passivo) e de outras drogas. No entanto, é importante
que o profissional avalie o nível de evidência e tenha uma meta durante a orientação. Vale
lembrar que cada indivíduo est· inserido numa realidade, com diversas situações
socioeconômicas (renda, recursos disponíveis no bairro, formais e informais, carga horária de
trabalho, tipo de ocupação, qualidade de moradia, etc.) e, principalmente, com o seu tipo de
cultura. Buscar espaços já existentes dentro do território e potenciais atores que possam
auxiliar na promoção à saúde são ações importantes. Ressalta-se que as medidas de base
populacional têm mais força que medidas individuais. A Tabela 141.3 mostra os níveis de
evidência para alguns tipos de orientação.
Atividade física Avaliar os riscos com uma história de atividade física e/ou um
teste ergométrico. Encorajar 30 a 60 minutos de atividade
30 minutos, 7 dias por aeróbica de intensidade moderada, como caminhada rápida, de
semana (mínimo 5 dias por
preferência todos os dias da semana, completado por um
semana ou 150 minutos por incremento das atividades de vida diária (p. ex., intervalos de
semana, divididos no maior caminhada no local de trabalho, jardinagem, trabalho
número possível de dias) doméstico).
A United States Preventive Services Task Force (USPS-TF), recomenda o uso de ácido
acetilsalicílico na prevenção primária em mulheres após os 55 anos e em homens após os 45
anos, embora no cen·rio da atenção primária, muitas vezes os riscos superem o benefício do
uso desta terapia.7 Há estudos consistentes questionando o seu uso, avaliando como incertos
seus resultados na prevenção primária e deve ser ponderado com relação ao aumento do risco
de hemorragias.11-14
Embora diretrizes entre 2005 e 2008 preconizem o uso de ácido acetilsalicílico para
diabéticos, essa prática preventiva é questionável. A decisão desse tratamento deve ser
considerada caso a caso, informando as pessoas de forma compreensível sobre as evidências
disponíveis e sobre os riscos.13-15
DICAS
• Toda decisão de tratamento clínico deve ter por base o risco cardiovascular
absoluto da pessoa.8
• Muitos jovens e adultos apresentam baixo risco cardiovascular no momento
da consulta, porém possuem fatores de risco potencialmente modificáveis
(p. ex., tabagismo). Uma boa estratégia é fazer um exercício de
longitudinalidade do quanto impactar·no futuro e o ganho obtido com a
alteração deste fator de risco.8