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Psicologia jurídica:
história, ramificações e
áreas de atuação
Liene Martha Leal
Resumo
A Psicologia Jurídica é um dos ramos da Psicologia que mais
cresceram nos últimos anos e o presente artigo faz um levantamento
histórico dessa relação entre a Psicologia e a justiça desde o início
do século XIX, quando os médicos foram chamados pelos juízes da
época para desvendarem o ‘‘enigma’’ que certos crimes apresentavam;
passando pelo surgimento da Psicologia Criminal, em 1868; pelo
nascimento da Criminologia, em 1875; e finalizando com a introdução
do termo Psicologia Jurídica por Mira Y Lopez em 1950. Em seguida,
apresenta as definições de Psicologia Jurídica, Psicologia Forense,
Psicologia Criminal e Psicologia Judiciária e as áreas de atuação da
Psicologia Jurídica.
Palavras-chave:
Psicologia Jurídica; Psicologia Forense; Psicologia Criminal.
Abstract
The Juridical Psychology is one of the branches of the psychology
that more they grew in the last years and the present article makes
a historical rising of that relationship between the psychology and the
justice since the beginning of the century XIX, when the doctors were
called by the judges of the time for they unmask ‘’mystery’’ that certain
crimes presented; going by the appearance of the Criminal Psychology,
in 1868; for the birth of the Criminology, in 1875; and concluding with
the introduction of the term Juridical Psychology for Mira Y Lopez in
1950. Soon after, it presents the definitions of Juridical Psychology,
Forensic Psychology, Criminal Psychology and Judiciary Psychology and
the areas of performance of the Juridical Psychology.
Key-words: Juridical Psychology; Forensic Psychology; Criminal
Psychology.
N
o início do século XIX, na França, os médicos foram
chamados pelos juízes da época para desvendarem
o ‘‘enigma’’ que certos crimes apresentavam. Eram
ações criminosas sem razão aparente e que, também “não partiam
de indivíduos que se encaixavam nos quadros clássicos da loucura”
(CARRARA, 1998, p.70). Segundo Carrara (1998), estes crimes que
clamaram pelas considerações médicas não eram motivados por
lucros financeiros ou paixões, pareciam possuir uma outra estrutura,
pois diziam respeito à subversão escandalosa de valores tão básicos
que se imagina que estejam enraizados na própria “natureza
humana”, como o amor filial, o amor materno, ou a piedade frente à
dor e ao sofrimento humano. Conforme Castel (1978), estas foram
as primeiras incursões dos alienistas franceses para fora dos asilos
de alienados. Mas, e a Psicologia, que lugar viria ocupar nesta
relação entre a criminalidade e a justiça?
De acordo com Bonger (1943), a Psicologia só viria
aparecer no cenário das ciências que auxiliam a justiça em 1868,
com a publicação do livro Psychologie Naturelle, do médico francês
Prosper Despine, que apresenta estudos de casos dos grandes
criminosos (somente delinqüentes graves) daquela época. Ele
obteve seu material de estudo das detalhadas informações contidas
na La Gazette des Tribunaux e de outras publicações análogas.
Despine dividiu o material em grupos de acordo com os motivos
que desencadearam os crimes e, logo em seguida, investigou as
particularidades psicológicas de cada um dos membros dos vários
grupos. Concluiu ao final que o delinqüente, com exceção de poucos
casos, não apresenta enfermidade física e nem mental. Segundo
ele, as anomalias apresentadas pelos delinqüentes situam-se em
suas tendências e seu comportamento moral e não afetam sua
capacidade intelectual (que poderá ser inferior em alguns casos e
enormemente superior em outros). Conforme suas observações, o
delinqüente age com freqüência motivado por tendências nocivas,
como o ódio, a vingança, a avareza, a aversão ao trabalho, entre
outras.
Na opinião de Despine, o delinqüente possui uma deficiência
ou carece em absoluto de verdadeiro interesse por si mesmo, de
simpatia para com seus semelhantes, de consciência moral e de
sentimento de dever. Não é prudente, nem simpático e nem é capaz
de arrependimento. O próprio Despine considera que sua obra
a) Constituição Corporal
HERDADOS b) Temperamento
c) Inteligência
MISTO d) Caráter
e) Prévia experiência de
situações análogas
f) Constelação
ADQUIRIDOS g) Situação externa atual
h) Tipo médio de reação social
(coletiva)
i) Modo de percepção da situação
Fonte: MIRA Y LOPEZ, E. Manual de Psicologia Jurídica. 2. ed. São Paulo:
Impactus, 2008.
De acordo com Mira Y Lopez (2008), os fatores herdados
que influenciam o modo de reação da pessoa, são a constituição
corporal, o temperamento e a inteligência. Segundo ele, quanto
à constituição corporal, a reação de um homem corpulento difere
da de um homem magro e baixo, assim como, uma crítica vinda
de um jovem adolescente não será recebida da mesma forma se
for feita por um idoso. O fator morfológico origina na pessoa um
obscuro sentimento de superioridade ou inferioridade física em
frente às situações e influencia a determinação do seu modo de
reagir. Em outras palavras, a constituição corporal imprime um selo
característico na pessoa e condiciona em grande parte o seu jeito
de ser.
Se por constituição corporal entendemos o conjunto de
propriedades morfológicas e bioquímicas transmitidas ao indivíduo
por herança, podemos definir o temperamento como a resultante
funcional direta da constituição corporal, sendo responsável pela
nossa tendência mais primitiva de reação em frente dos estímulos
ambientais. E com relação à inteligência, Mira Y Lopez (2008) defende
a idéia de que ela nos fornece subsídios para uma adaptação melhor
à realidade e uma melhor compreensão dela. Portanto, para uma
pessoa pouco dotada do ponto de vista intelectual, os recursos de
Referências Bibliográficas
ALTOÉ, S. Atualidade da Psicologia Jurídica. Revista de Pesquisadores da
Psicologia no Brasil (UFRJ, UFMG, UFJF, UFF, UERJ, UNIRIO). Juiz de Fora,
Ano 1, Nº 2, julho-dezembro 2001.
MACEDO, G. de. Criminologia. 2. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais,
1977.
Sobre a autora
Liene Martha Leal
Mestre em Psicologia de Universidade de Fortaleza (UNIFOR);
Professora da UFPI.
e-mail: lienemartha@hotmail.com