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NÃO LEIA

ISTO
Cada uma das quatro investigações também é
uma aventura. Tudo que você tem a fazer é tirar
Kaagi (e sua assistente, Meilekki) da história e por
seus personagens. As notas de Kaagi devem dar
dicas de como mestrar a aventura, mostrar meios
de introduzir PdMs e evidências aos personagens, e
dar-lhe uma descrição geral do cenário. Já que
Kaagi é um magistrado Kitsuki, ele não perde
muitos detalhes (mas ocasionalmente, seus precon-
ceitos o superam, e ele ignora o significado do que
encontrou).
Para cada investigação, você encontrará pri-
meiro os escritos do diário, seguido de uma seção
contendo instruções sobre como transformar esta
investigação numa aventura. Na seção do Mestre,
você encontrará as divisões das cenas mais impor-
tantes, estatísticas dos PdMs, mapas de localiza-
Magistrados Kitsuki são ções importantes, e sugestões do que fazer quando
famosos em Rokugan pela seus jogadores se desviam do curso que Kaagi
precisão de suas observa- tomou.
ções, mesmo que a legitimi- O livro em suas mãos é o diário de um magis-
dade de seus meios ainda
trado Kitsuki chamado Kaagi. O objetivo da obra
seja muito debatida. Uma
das mais poderosas ferra- de Kaagi era descobrir a verdade por trás da más-
mentas dos Kitsuki são seus cara dos Ninjas. Quatro de suas mais importantes Cada uma das investigações a seguir se desti-
diários. Investigadores investigações estão neste livro. À medida que você na a ser uma aventura simples com princípio e
treinados na escola Kitsuki lê seus itens, você descobrirá os segredos que ele resolução. Um panorama maior é revelado quando
aprendem, entre outras descobriu, por seus olhos. todas as investigações são completadas, mas seus
coisas, um tipo único de Caminho das Sombras é um suplemento de jogadores ainda devem ter um ar de completude no
meditação. Ela os permite campanha de longo prazo. Ele pode ser usado co- fim de cada seção. A intenção é dar a seus jogado-
focarem-se no fim de um ou mo uma série isolada de aventuras, mas é ideal- res uma breve noção de que algo muito estranho
vários dias e lembrar, em
mente destinado a aumentar sua campanha atual. pende à marga da percepção de Rokugan. A “ame-
absoluto detalhe, os eventos
que testemunharam. O Pelos movimentos de Kaagi pelas investigações, aça Ninja” é muito mais perigosa que qualquer um
resultado disto é uma exten- uma após a outra, você poderá facilmente inseri-las — mesmo os Shosuro — suspeitam.
sa coleção de observações e entre as seções de sua linha história regular e con- A primeira investigação de Kaagi é mais ou
experiências, registradas e tínua. Embora cada uma das aventuras seja única, menos um assassinato mundano, mas há elementos
catalogadas como se tives- todas elas têm um tema similar, logo seus jogado- perturbadores no fundo que os jogadores podem
sem sido escritas no mo- res começarão a reconhecer a diferença entre suas não captar. Isto deve prenunciar eventos futuros,
mento exato dos eventos. seções regulares de campanha e as vezes que você dar aos jogadores a impressão de que algo está
Ao fim de cada investiga- entrou no cenário de Caminho das Sombras. À errado. Há informações de fundo que jogadores
ção, o magistrado manda
medida que seus jogadores se movem por cada perspicazes podem captar, mas já que só têm al-
seus registros para a grande
biblioteca no castelo Kitsuki uma das investigações, eles devem sentir que estão gumas peças do quebra-cabeças, eles provavelmen-
onde esses volumes são mais próximos de um grande segredo, e quanto te não serão capazes de montá-lo ainda. Há ele-
mantidos como um recurso mais você espalha as aventuras, maior este mistério mentos de intriga, mas a aventura termina com
contínuo. se tornará. uma briga total entre os PdJs de um astuto assassi-
Os escritos de Kaagi foram editados. Embora no.
você vá ler alguma informação trivial (ao menos A segunda investigação se preocupa com as-
pode parecer de início) muito dos detalhes real- sombrações. Ela começa com uma fúria repentina e
mente monótonos foram omitidos para sua conve- inesperada de um samurai do Caranguejo (matando
niência de leitura. Por exemplo, ninguém realmente mais da metade de sua unidade), e termina com a
quer saber o que foi servido em cada refeição. Nem conclusão de que ele pode não estar louco afinal.
se importam em saber de um aniversário que ele de Os Kuni não encontraram traços da Mácula das
repente se lembrou. Seus editores levaram isto em Terras Sombrias, e suspeitam do uso de venenos do
consideração, logo você verá espaços de tempo Escorpião ou possivelmente maho. Os PdJs (Kaagi,
ausentes entre as investigações. na história) são levados a investigar isto, passar a
noite na casa do morto, e no fim confrontam alguns em Caminho das Sombras, e detalhes de como usá-
demônios muito pessoais. la em seu jogo.
A terceira investigação envolve Isawa Ujina, Os verdadeiros Ninjas de Rokugan são mais
o atual Noviço do Vazio do Clã Fênix e herdeiro da do que homens e mulheres vestidos de preto que-
posição de Mestre Elemental. Sua futura noiva da rendo matar e roubar. Embora alguns, treinados
Garça foi raptada por Ninjas, e os magistrados são pelo Escorpião, cumpram este papel, a origem do
levados a ajudar Ujina a recuperá-la. Quando fi- “mito Ninja” retrocede a uma fonte muito mais
nalmente confrontam seus raptores, porém, os velha e sinistra. Esta não é a história dos falsos
magistrados e Ujina são introduzidos a uma força Ninjas, Escorpiões que escondem suas faces por
que mudará suas vidas para sempre. trás de máscaras e pós, venenos e fumaça, mas seus
A quarta investigação é uma longa persegui- primos mais sombrios. O inimigo que se esconde
ção envolvendo perseguidores sobrenaturais impla- na sombra não é humano, embora tente ser. Não
cáveis. Ela os apresenta à única arma que podem pretende roubo ou ganho, embora suas ações pare-
usar contra esta ameaça. çam motivadas por motivos humanos. Ele é tão
Finalmente, a conclusão do diário de Kaagi antigo quanto as pegadas de Lady Sol e Lorde Lua
arremata sua busca pela verdade sobre o mito Ninja sobre a terra, e os que a servem nunca podem se
e o destino de seu há muito perdido irmão. O obje- libertar de suas garras negras. Ele é pesadelo. É o
tivo final de uma força sombria é revelado e Kaagi horror sobrenatural que se impõe, sem rosto, e
deve fazer uma escolha: enfrentar as trevas, ou amaldiçoa a luz.
unir-se a elas. Esses são os verdadeiros Ninjas.
No último capítulo deste livro, você encontra- Esta é a total extensão da Sombra. Pelas caixas de texto deste
rá uma descrição do inimigo que foi apresentado Entre, se ousar. texto, você encontrará esta-
tísticas de PdMs, explica-
ções e descrições dos lacaios
da Escuridão Viva e seus
poderes, e ganchos de aven-
tura adicionais. Eles se
destinam a dar vários meios
de usar a Escuridão, mesmo
que você não pretenda ter
uma campanha apenas
orientada aos Ninjas.
A Escuridão é astuta e es-
perta. Haverá vezes em que
ela se envolverá numa aven-
tura, e seus PdJs nem mes-
mo terão noção disso.
É exatamente assim que a
Escuridão gosta.
Enquanto escrevo isto, sinto minha idade mais do que já senti antes. Sete dias atrás, no meio de uma grande tempestade, uma
viajante chegou no Castelo Kitsuki. Ela pediu por abrigo da tempestade, e passou uma hora no Saguão do castelo. Então, agra-
decendo àqueles que a admitiram, ela lhes entregou um pacote e pediu que o entregassem ao daimyo. Depois de fazê-lo, ela foi embora,
com a tempestade ainda ruidosa.
Pela manhã, o pacote foi trazido a mim. Abrindo-o, encontrei o diário de meu aluno, Kitsuki Kaagi. Como todos os outros
alunos, Kaagi sempre mantinha um diário consigo para registrar suas investigações. Soube que era dele pelo mon, mas a caixa de
madeira que continha as páginas estava surrada, quebrada e manchada com marcas de fogo e água. As páginas estavam arranhadas e
gastas, mas permaneciam intactas.
Os servos que admitiram a garota não a reconheceram, mas por sua descrição, suponho que era a serva de Kaagi, uma eta. Não
foi um feito difícil para mim abrir a caixa de meu aluno, pois minha chave era mestra à dele. Lá dentro, no topo de páginas embaralha-
das, estava um pedaço de papel rasgado. Apressadamente escritas no papel estavam as palavras: “Não Leia Isto”. Creio que a mão
possa ser a de Kaagi, mas as letras estão distorcidas. Não posso ter certeza.

Por dezessete anos, Kaagi foi meu aluno, meu aluno, e para todo o mundo, meu filho. Ele chegou a mim aos oito anos, Matsu
Kaagi, para aprender os caminhos do Dragão. Seu pai era um velho amigo que disse que queria que seu filho estudasse os caminhos
dos Kitsuki, mas creio que ele queria na verdade que Kaagi estivesse seguro.
Sete meses depois; recebi notícia de que a família de Kaagi foi morta, salvo pelo irmão mais velho, que estava numa escola da
Fênix. Velhos inimigos da Garça finalmente ganharam os ouvidos do Imperador, e os olhos do mundo se espantaram quando
atacaram. No fim, eles destroçaram uma casa menor dos Matsu, assassinando cada habitante.
Por sua proteção, acolhi o órfão Kaagi em minha família e procurei por seu irmão. Mas depois de três semanas, um emissário da
Fênix chegou e disse que o garoto, Iyekao, não foi encontrado. Ele desapareceu de seu quarto três noites após a destruição de sua
família.
Os inimigos do garoto devem estar por perto. Talvez eles acabem com ele rapidamente, no silêncio antes que a proteção venha. Por
meses, Kaagi se enlutou, sofrendo com fortes terrores noturnos. Ele disse ter estranhas visões de sombrias e nefastas figuras que vinham a
seu quarto à noite e dançavam. Os anos passaram, os medos diminuíram e Kaagi se tornou um excepcional aluno e bom homem.
Temi por ele todos esses anos, mais do que por muitos de meus pupilos. Embora nossa profissão dificilmente seja segura, os estudos
de Kaagi sempre foram particularmente perigosos. Talvez por alguma necessidade remanescente de explicar as sombras de seu passado,
ele tornou seu trabalho encontrar um dos maiores enigmas de Rokugan: os Ninjas.
Agora, sentado em minha fogueira, aguardo a decisão de um conselho de Kitsuki chamado para discutir a questão. O livro de
Kaagi está trancado num cofre de cristal no castelo Mirumoto, uma precaução sugerida pelo próprio Togashi. Pela manhã, o conse-
lho anunciará sua decisão sobre se eu, ou qualquer outro, terá permissão de lê-lo.

- Kitsuki Yasu
Item 1
Cheguei esta manhã no Castelo Ichime, lar do recentemente falecido Akodo Maouri. Todo servo pelo que passei ao
longo da estrada quando perguntei o caminho ao meu destino, marcou o sinal das Fortunas sobre suas cabeças. “Kitsuki
Kaagi,” pensei comigo mesmo, “O que você começou?” Visitei este lugar quando criança com meu pai em várias ocasiões; é
perturbante perceber que os grandes e sombrios muros que me lembrava daquela época não se tornaram mais baixos ou mais
leves aos meus olhos de adulto.
A morte de Akodo Maouri foi relatada do modo usual para um homem de sua posição. O shugenja de sua corte enviou
comunicações místicas a todas as grandes fortalezas, incluindo o castelo Kitsuki. Pelo anúncio, soubemos que Maouri
morreu no mês passado numa noite de lua nova. Ele será sucedido por seu filho, Akodo Hakenka.
O que me chamou a atenção como peculiar sobre a mensagem foi que o corpo de Maouri não seria sepultado até a
próxima lua cheia, uma quantia incomumente longa de tempo. Perguntei ao shugenja que enviou a mensagem porque o
atraso do funeral era necessário e ele respondeu: “Por razões espirituais”. O que ele não disse me disse que a morte de Maouri
era incomum e alarmante de algum modo. Portanto, vim com toda pressa para prestar meus respeitos e satisfazer minha
curiosidade sobre o caso.
Mandei minha companheira de viagens, Meilekki, mover-se pelo castelo, reunir o que conseguisse dos boatos dos
servos. Por ela parecer ser da posição deles, eles falariam livremente com ela. Os servos falam em tons calmos de uma
maldição de família que abateu o pai de Maouri e agora reclamou Maouri também. Dizem que os etas que prepararam o
corpo notaram uma estranha marca no peito, e que foram instruídos a removê-la se possível. A marca se recusava a sair
apesar dos esforços. Também disseram que o pai de Maouri portava a mesma marca em seu leito de morte, e que é o sinal de
uma maldição passada de primogênito para primogênito.
Estou duplamente feliz por minha pressa, pois o corpo será posto a repouso na próxima noite. Estou ansioso para ver
esta marca e ver se ela é boato de servos ou algo real. Meilekki chegou a oferecer incentivos às pessoas apropriadas para que
possamos ver o corpo ainda esta noite. Enquanto isto, consegui entrevistas com outros membros da casa.

Item 2
Akodo Toshiin, o shugenja da corte, parece arrogante e incerto. Seus mantos são caros e um pouco maior que o homem
que os veste. Pude notar imediatamente que ele não gostava de mim.
“Kaagi-san, suas acomodações estão satisfatórias? Há algo que possa fazer por você?” ele me pergunta.
É um truque, pois se eu responder sim ou não com pressa, eu o insultarei. Responder sim à primeira pergunta indica
que quero algo dele. Uma resposta negativa à segunda pergunta significará que minhas acomodações não são aceitáveis.
Também não me vejo gostando muito dele.
Cuidadosamente, respondo: “Foram-me oferecidas toda cortesia e conforto desde que cheguei ao castelo Ichime. Não
quero nada. Obrigado.”
Ele assente para mim e nos sentamos numa mesa ao lado de uma janela, observando o pátio central do castelo Ichime.
As flores abriram há pouco, e a fragrância seja suave e flutue até nós numa brisa suave. Toshiin me oferece uma xícara de
chá, e nós dois bebemos.
“Vejo que você não é novo a este castelo,” diz Toshiin. “Você foi colega de brincadeiras de Hakenka-sama, não foi?”
“Estive aqui em várias ocasiões com meu pai. E sim, tenho quase a mesma idade que o lorde. Mas você não está aqui há
muito tempo. Não me lembro de você nessas visitas.”
“Tenho sido a mão direita de Akodo Maouri por nove anos! Tenho servido bem quanto qualquer shugenja já serviu a
seu senhor!” Sua mão estapeia a mesa.
“Perdoe-me, Toshiin-san. Não intento desrespeito. Só conversar.” Então ele é facilmente provocável, e exibe seu
ferimento, seu orgulho, na manga. O homem é muito escandaloso, volátil e impaciente para carregar qualquer segredo por
muito tempo. “A morte de Maouri-sama deve pesar grandemente em você.”
“Sim, isto é, claro. A morte de meu senhor foi muito breve, muito dura. E de tal maneira…” Então o silêncio, cheio de
apreensão.
O homem precisa de uma isca, eu suspeito. “Ouvi coisas estranhas desde que cheguei. Estava passando pelos aposentos
de Maouri-sama quando…”
“Você ouviu algo estranho em seus quartos?” Mais surpreendentemente ainda, há um ar de pânico em sua voz e olhos.
“Não, não exatamente. Quis dizer meramente que estava passando por eles quando ouvi dois servos no canto do
corredor. Eles ainda não tinham me visto, mas quando me aproximei, ouvi, quase que por acidente, algo sobre maus agouros
e maldições. Logo depois, eles se viraram para o canto e, me vendo, ficaram em silêncio. Houve algo sobre a morte de
Maouri que deve ser causa de alarde?”
O homem me olhou como um lagarto, tentando olhar em diferentes direções. “Você deve entender que sempre tive total
respeito por Maouri-sama,” ele disse, suave e rápido. “Mas ainda é necessário tomar precauções. Pelo bem do resto do
séquito mais do que o meu próprio.” O que ele me diz é precisamente o que ele tem em mente.
Ele continua: “É por isso que ordenei o atraso antes do sepultamento.” O orgulho saindo de novo. “Foi necessário, para
garantir que a má fortuna não recaia sobre nós.”
“É claro,” eu respondo. “Você tem maior compreensão do que qualquer um sobre tais assuntos.” Acho que ele está
começando a se aquecer para mim. “Mas você viu qualquer coisa como isto em suas outras experiências?”
“Visto, não. Mas li relatos antes de maldições familiares que seguiam caminhos específicos no sangue como esta. E
quando precauções não foram tomadas, o infortúnio se espalhou nos da família imediata, e em um caso toda uma casa. Foi
por isso que ordenei o funeral à luz da lua cheia. E por isso insisti que os etas fizessem o possível para remover a marca do
corpo. Eles são baixos, afinal. Como o infortúnio pode afetá-los?”
Ele pausou por uma respiração, e então continuou: “Não, realmente creio que eu tenha feito de tudo para proteger a
casa. Mas o jovem lorde, ele é bravio demais para seguir minhas instruções. Ele não visita o templo, não jejua, nada disso.
Ele não vê seu próprio perigo, e nisto, nos põe em perigo também. Afinal, um lorde amaldiçoado põe todos nós em risco.
Mas seu irmão Sokoi não é de puro sangue, e jovem demais além de…”
Ele para de repente, sua boca se fechando como uma armadilha. Eu o perdi agora, temo. Falar publicamente sobre
destronar um senhor para pôr outro, na casa do próprio lorde, parece ter cessado seu entusiasmo sobre o assunto. Eu tento de
novo: “Mas e a marca, ela é familiar para você também?”
“Bem, é claro que você já leu sobre isto em histórias de famílias…” Ele está reticente agora. E usei demais os meus
truques. “Mas isto é para a família, afinal. Não tenho liberdade para discutir sobre seus problemas particulares.”
“É claro. Obrigado de novo por sua hospitalidade. Toshiin-san. Sinto-me mais seguro, sabendo que está vigiando por
todas as nossas boas fortunas.” Eu digo, sorrindo enquanto me levanto.
Sua paranoia está completa agora, ele não sabe se estou elogiando ou zombando. Deixo-o divagar enquanto deixo a
sala.

Item 3
Minha entrevista com Akodo Toshiin felizmente terminou, esperava falar com Matsu Nari, karo de Maouri. Ele é
mais contido, próximo a Hakenka, minha outra escolha de conversação. Passando por um pequeno grupo de garotas, com
trouxas fluindo por trás delas como asas de seda, pergunto onde posso encontrar Ichime Amai. Elas me orientam para o
lado leste do jardim do pátio, oposto aonde Toshiin e eu admiramos a vista. Então as jovens riem e entram no corredor.
Amai está precisamente onde prometeram que estaria, sentada no sol próximo a um pequeno lago. Ela está
cuidadosamente debulhando milho e jogando aos peixes, enquanto ao seu lado, um grande gato cinza se estica.
“O dia está amável,” eu digo, e me sento de frente para ela na baixa rocha convenientemente localizada para meu
propósito. “A primavera está agradavelmente adianta este ano.”
Ela se vira e olha para mim bem lentamente. Após vários momentos, ela curva sua cabeça uma vez. Se ela concordou
ou mostrou respeito, não posso dizer. A mulher é intenso silêncio enquanto se senta com seu velho gato cinza. A fera parece
que está esperando para morrer. Como o gato, Amai já passou de sua época e, suponho, nunca foi particularmente bela.
Sua face é quadrada, seus olhos são pequenos e sua pele é clara, linhas suaves demais indistintas mesmo sob a definição
artificial de sua maquiagem. Sua voz, quando ela fala, é como vento murmurante por corredores ocos, baixa e pensativa.
“Posso ajudá-lo, senhor?”
“Ficaria feliz se falasse comigo,” digo, sorrindo. “Minha família foi amiga de Maouri, e vim prestar meus respeitos
amanhã à noite. Enquanto isto, espero falar com os que eram próximos a ele, pelo bem da memória, e gentileza. Percebo que
você era.”
“Sim, senhor.” Ela olha para cima agora, mas não para mim, mas por meu ombro esquerdo, ao outro lado do lago.
Lá está um menino, sentando muito parado à sombra de uma árvore. Ele está observando algo atentamente no chão diante
dele. Não sei como não o vi quando cheguei.
A lealdade de Amai para com Maouri é dita como impecável. Se acreditarmos nas histórias, quando ela descobriu que
estava grávida de seu filho, ela se ofereceu para se atirar dos muros do castelo para que não comprometesse a reputação de
Maouri. Ele declinou a oferta, dando a Amai e seu filho um lugar na casa, mesmo que sua esposa ainda vivesse. A criança
diante de mim deve ser Sokoi, o filho ilegítimo que Amai lhe deu. O garoto parece ter doze anos.
“Amai. Você estava com Maouri-sama na noite em que ele morreu?”
“Não, meu senhor. Ele estava insone naquela noite, e não queria ninguém perto dele. Ele reclamou naquela noite que
não estava se sentindo bem. E ele disse que estava nostálgico. Trouxe-lhe sakê em seu quarto, e fiquei um pouco enquanto o
divertia com música. Então ele me disse para ir.”
“Mas você encontrou o corpo?”
“Sim. Procurei-o pela manhã, para levar-lhe chá. Ele estava deitado em seu futon. Seus olhos estavam abertos e ele
estava deitado.”
Creio que tenha havido uma palidez em sua face além do pó com que ela se pinta. E uma tristeza em seus olhos. “Ele
estava feliz, nos dias antes de sua morte? Só pergunto porque, como disse, fui amigo da família, e espero que estivesse bem.”
O silêncio foi meu companheiro, então. Interessante. “Ele estava mal, então? Algo o atribulava?”
“Não, meu lorde, tudo estava bem.” Isto foi dito muito suavemente. Então, abruptamente: “Ele estava feliz! Antes de
sua morte, ele estava feliz! Alguns problemas da casa o perturbavam um pouco, o desrespeito de seu filho, mas nada mais.”
É a maior intensidade que já vi dela. Ela não está olhando para mim, mas para o céu, a grama, o filho dela. Ela
parece preocupada, como se não estivesse falando mais comigo. De fato, ela se vira para mim de novo, quase surpresa por eu
ainda estar ali. Com sua mão esquerda, ela estica o corpo, pega pedaços de milho no saco à sua direita, e atira-os no lago.
Bolhas de água surgem dele indiscriminadamente.
“Algo errado com sua mão direita, senhora? Algum ferimento?”
Ela a esconde em sua cintura, um pouco intencional. “É a idade,” ela diz. “A dor das juntas que vêm por viver demais.”
Assinto para ela então. “Obrigado por falar comigo. Alivia meu coração saber que o amigo de meu pai estava feliz em
seus últimos dias.”
Ela assente, mas olha para outro lugar de novo, e não presta atenção quando me retiro. Quando olho para o canto do
pátio, e a sombra do muro, sinto um calafrio. Viro-me, repentinamente ansioso, mas apenas a mulher permanece no jardim
com seu filho, que eu acho que está olhando para mim.

Item 4
Esperando-me no corredor está Meilekki.
“Veremos o corpo de Maouri esta noite, uma hora após o jantar,” ela diz. Estou, como sempre, apaixonado por sua
eficiência. “Os guardas encarregados de vigiar o corpo estão muito preocupados que alguma má sorte possa atingi-los pela
proximidade a um cadáver amaldiçoado. Expliquei a eles que já que você era um shugenja de grande habilidade, você
poderia ser capaz de discernir olhando o cadáver se eles corriam algum perigo real. E é claro, você poderia então saber como
protegê-los.”
“Então hoje eu sou um shugenja?”
“Foi o método mais eficaz e menos caro em que pude pensar.”
“Eles não têm fé no shugenja da casa?”
“Não. Você deveria ter ouvido os nomes maravilhosos que têm para ele. Eles sabem muito bem que ele os vê como
dispensáveis.” Ela então me mostrou seu sorriso arteiro. “Eles tinha dúvidas sobre você, até que expliquei que sua mãe era
originalmente hinin, e que sou secretamente sua meia irmã.”
Graças à imaginação colorida e língua astuta de Meilekki, já fui conhecido pelo país como tudo desde um trágico ronin
se escondendo de inimigos do Escorpião, a um louco porém brilhante eta, astutamente escondendo minha real posição mas
usando informação que obtinha da comunicação com os espíritos ancestrais das casas nobres dos Grandes Clãs.
“Temo que sua improvisação nos levará à morte algum dia, Mei. Mas enquanto isso, não posso discutir sua eficácia.
Para onde vai agora?”
“Há um chefe na cozinha que ofereceu dividir uns copos do melhor sakê do castelo comigo.”
“Hm. Embora eu tenha certeza de que isto ajudará nossa causa imensamente, pensei que poderia visitar os quartos de
Amai enquanto ela não está lá, para ver se algo chama seu olho.”
“Por quê? Pense nisto, era precisamente o que tinha em mente. O encontrarei antes do jantar ser servido.” Ela diz por
sobre o ombro.
Um dos muitos atributos convenientes de minha companheira é sua habilidade de ir aonde a propriedade diz que não
posso. Por exemplo, aposentos particulares de damas. Encontrei Meilekki há dois anos. Ela visitou o castelo Kitsuki como
serva de um cortesão da Garça que foi até lá para ver como nosso “ramo curioso” da árvore do Dragão se parecia. Notei a
inteligência e a natureza inquisitiva de Meilekki imediatamente. Além disso, o Garça notou minha atenção e a ofereceu
como presente no fim de sua visita. Embora esteja certo que ele tenha confundido a natureza de minha admiração, a aceitei
mesmo assim.
Desde então, tenho ensinado Meilekki vários princípios básicos de meu trabalho. Ela sabe, por exemplo, como
procurar por algo fora do lugar. Ela tem um sentido aguçado para pessoas e pode dizer, quase sem erros, quando são
honestas e quando não. Mostrei a ela alguns truques simples de ervas e para isto ela também tem um talento natural, além
de uma excelente memória.
Não estou totalmente certo do que ela fazia e de onde ela veio antes de estar a serviço do cortesão da Garça. Tornou-se
um jogo entre nós testar meus poderes de percepção com ela me contando uma história após outra sobre sua origem (similar
àquelas que ela inventa sobre mim), desafiando-me a discernir o que é verdade e o que era falso. Por exemplo, estou certo de
que ela passou um tempo numa casa de geishas. Ela em várias ocasiões produziu conhecimento que ela não poderia ter
adquirido de qualquer outra fonte. Mas não sei se ela prestava o ofício usual lá, ou se, como às vezes ela diz, ela cozinhava
para as mulheres e preparava seus quartos.

Item 5
Encontro Matsu Nari numa saleta. Ele está escrevendo à luz de uma lanterna de papel. Ele olha para cima quando
entro na sala.
“Kaagi-san. Ouvi que chegou esta manhã. Você deve descansado de suas viagens. Sua jornada foi boa?”
Alto e duro, Matsu Nari parece uma árvore da qual homem são algum tiraria um arco. Seu porte é rígido, suas
roupas lhe caem bem. Ele tem o ar de um homem que dá pouco tempo a vaidades. Ele serviu a Maouri por quase 18 anos,
tempo durante o qual nada questionável foi dito a seu respeito. Em todos os registros, ele foi uma extensão de seu daimyo. Ele
já liderou o exército no lugar de Maouri, quando o daimyo foi gravemente ferido no campo. A vitória foi decisiva.
“Foi uma boa viagem. Obrigado por perguntar, Nari-san. Tive sorte em ir ao mesmo tempo em que um shugenja
passava por este castelo. Ele estava indo com pressa, e foi bom em deixar me beneficiar de seu feitiço de rapidez. Diminuiu
meu tempo de viagem consideravelmente. Fiquei duplamente feliz já que esperava chegar para o funeral.”
“Que sorte a sua. Mas o que posso fazer por você, Kaagi-san? Tudo está de seu agrado aqui?”
“Muito certamente. Só gostaria de ter uma razão mais agradável para visitar. De fato, devo admitir, algo me
atribulou desde a minha chegada. Ouvi rumores de que a morte de Maouri-sama pode ter chegado em circunstâncias
sombrias.”
“Rumores ridículos. Conversa de servos. Espero que não tenha se atribulado demais por isto.”
“Não foram quando vinham dos servos, mas os rumores que ouvi também vieram de fontes superiores. Combinadas
com as estranhas circunstâncias do funeral… Bem, devo admitir estar preocupado.”
“Sim. Esperava que a superstição e medo diminuíssem rapidamente, mas não aconteceu. Digo-lhe verdadeiramente,
não sou um homem supersticioso, mas muitos aqui são, e temo o que minhas palavras podem causar.
“Você fala da preocupação que o modo da morte de Maouri-sama possa afetar o governo de seu filho?”
“Esta é precisamente minha preocupação. Fiz o melhor que pude para manter tais questões quietas, mas o shugenja
insistiu em atrasar o funeral, e assim alertou outras casas de que há causa para alarde. E há as histórias de família também,
que tentei suprimir. Mas boatos encontraram papéis que descreviam a morte do pai de Maouri, e isto só piorou as coisas. O
estranho comportamento de meu senhor durante as semanas anteriores à sua morte não ajudou também.”
“Não ouvi a respeito da morte do pai de Maouri, ou seu comportamento.”
“Perdoe-me. Dar mais causas de alarde não foi minha intenção,” ele disse. “Mas sei de sua reputação como homem de
bom senso, logo te direi tais coisas. Talvez você ache algo para acalmar as mentes supersticiosas. Temo o que poderiam fazer
caso não o façam.”
“Na hora da morte de meu senhor, uma estranha marca foi encontrada em seu peito. Era impossível remover, muito
parecida com uma tatuagem. Mas ninguém próximo de Maouri-sama se lembrava de tê-la visto antes.”
“Poderia ser uma tatuagem?” Perguntei.
“Não. Amai o viu dois dias antes de sua morte, e jura que não havia marca. Embora uma tatuagem possa ter sido
colocada neste ínterim, não haveria tempo para curar. Isto, é claro, bastou para os inclinados se alarmarem. Para piorar as
coisas, Toshiin lembrou-se de algo nos manuscritos da história da família. Antes que desencorajasse o esforço, ele tornou
públicas as descobertas de que o pai de Maouri tinha um desenho similar em seu peito na hora de sua morte.”
“Além disso, por várias semanas antes de morrer, Maouri estava atribulado. Ele começou a se retirar mais cedo que o
usual para a cama. E suas discussões com seu filho — eles sempre discordavam, mas nas últimas semanas suas discussões se
tornaram furiosas, até violentas. Houve conversas pouco após a morte de meu senhor que Hakenka poderia estar envolvido.
Na última noite de Maouri eles discutiram ferozmente sobre as terras que Maouri concordara em conceder a outra família.
Hakenka acusou seu pai de estar velho demais e com medo de liderar, e Maouri declarou que devolveria suas terras ao
Campeão Akodo antes de permitir que Hakenka governasse.”
“Nada bom pode vir de pai e filho lutando.”
“Bem certo,” concordou Nari. “A impaciência de Hakenka o colocou numa posição precária. Desrespeito aberto de seu
pai, combinado com o medo crescente de homens poderosos em volta dele… Para ser direto, creio que ele ainda possa ser um
bom daimyo, mas se todas as bocas em torno dele gritarem para ele renunciar, elas serão ouvidas. Ele não pode esperar
repelir ataques para sempre, e pessoas com medo ficam desesperadas.”
“Eles colocariam Sokoi, um jovem ilegítimo, em seu lugar?”
“Só digo que houve conversas.”
“Creio que eu entenda, Nari-san.”
“Entende? Espero que sim.”
“Investigarei o mais honestamente possível,” digo, e parece que pelo mais breve momento, algo escuro passou por sua
face. “Boa noite, Nari-san. Talvez nos falemos de novo.”
“Talvez sim.”
Item 6
O jantar terminara quase há uma hora, e não vi sombra de Meilekki. Estive em nossos quartos, passei pelos corredores
escuros e espreitei nas passagens que levavam às câmaras das damas, mas ela não apareceu. Nem vi ou ouvi indicação de que
ela estava fazendo qualquer coisa incomum.
Muito do resto dos servos estava reunido na sala principal para um pouco de entretenimento ou se recolhera. O castelo
estava escuro, e apesar do calor da tarde, esfriou rapidamente. Estou de volta ao pátio agora, num bosque de pequenas
árvores próximo ao canto nordeste. O ar está surpreendentemente frio; devia ter me vestido melhor, especialmente já que não
estou certo aonde estou indo para ver o corpo de Maouri. Se Meilekki não aparecer em breve, podemos perder a chance
inteiramente. Claro que ela sabe disso. Não posso imaginar o que poderia estar detendo-a.
Uma lufada de vento súbita me faz estremecer e os galhos das árvores, ainda trocando suas novas folhagens, estalam
furiosamente. Enquanto me movo entre os troncos, me torno mais ciente de um som consciente, um leve eco de meus próprios
passos. O vento distorce o ruído, logo estou incerto da distância, mas creio que deva haver alguém entre dez ou quinze passos
atrás de mim. Temo que se me virar agora, no denso bosque, serei incapaz de distinguir minha própria sombra. Logo me
dirijo a terreno mais claro, mantendo meus passos medidos e casuais, fingindo não ter notado nada estranho.
Tomo uma trilha que espero me levar mais próximo ao muro leste do castelo. De algum modo, devo ter me confundido,
pois percebo que estou andando em direção a um bosque de arbustos próximo ao centro do pátio. Depois dos arbustos, me
lembro de uma clareira. À esquerda de um grande arbusto, esperava ver o muro sul, mas encontro o oeste, e mais distante.
Não estou de todo certo de como cheguei aqui e agora, e quando paro, não posso ouvir mais as pegadas. Minha sombra
foi despistada? Ou, em meu estado distraído, ela se aproximou? Começo a me mover mais rapidamente, tentando recuperar
meu fôlego e ouvir ao mesmo tempo. De vez em quando, penso ouvir as passadas de novo, mas nada é certo. Não ouso virar
em nenhuma das pequenas trilhas, não sem saber se elas são escuras demais para enxergar.
Me vejo passando por uma pequena copa de árvores, e as pegadas se tornam mais distintas de novo. Elas estão mais
próximas desta vez, e me preocupo que meu sutil perseguidor possa se aproximar para atacar mais rápido do que eu consiga
ouvir e reagir. Estou prestes a me virar e olhar quando entro na clareira perto do lago onde Amai e eu nos sentamos hoje
cedo.
As pegadas continuam comigo quando me movo ao centro da clareira. Ouvindo, esperando… Quando estou certo de
que estou num lugar aberto, me viro. Silêncio e a tranquilidade de uma noite sem vento são meus únicos companheiros. Não
posso imaginar como isto pode ocorrer, mas não há traços de pegadas no chão atrás das minhas.
Estou perplexo. É difícil questionar meus sentidos, mas sou incapaz de encontrar evidências que os apoiem. Só então,
ouço as pegadas de novo, desta vez de além da clareira. Olhando para cima, vejo Meilekki andar para a luz.
Item 7
“Isso deveria ser um jogo?” Eu pergunto. Sei que há raiva na minha voz e não me incomodo em disfarçá-la. “Eu
podia tê-la matado no bosque!”
“O que você quer dizer? No bosque, quando? Estive aqui no lago, e você acabou de chegar.” Ela parece confusa.
Eu estou confuso. Demoro alguns minutos em minha cabeça, tentando tirar sentido deles, mas de algum modo tudo
está confuso. “Onde você esteve? Estive procurando por você por uma hora.”
“Estive esperando. Concordamos em nos encontrar aqui. O que impediu você?”
Algo parece estranho — não o que ela está dizendo, mas de algum modo ela está dizendo isso. Há uma incerteza que
nunca vi nela antes.
“Você parece estranho,” ela diz, ecoando meu sentimento. “Está tudo bem?”
“Você deveria me encontrar antes do jantar. Depois de ter vasculhado os quartos de Amai. Nunca planejamos nos
encontrar aqui.” Tento conter meus tons de voz.
“Então o que está fazendo aqui?” Não há rebeldia em sua voz, só confusão.
“Procurando você!”
“Por quê? Você não esperava me ver aqui?”
Não tenho certeza se estou sofrendo uma brincadeira. Ainda assim, por alguma razão, não quero relatar a história de
meu seguidor misterioso. Ela ainda não parece fazer qualquer sentido. “Estamos atrasados para ver o corpo de Maouri?”
“Não. Temos outra hora e meia antes da guarda trocar.”
“Onde você esteve?” Pergunto. “O que você encontrou?” Estou caminhando de volta ao castelo agora, seguindo a
liderança dela. Ela pausa por um momento.
“Fui aos aposentos de Amai,” ela diz. “Eles servem bem a uma serva, mas não para uma dama. O lugar era muito
limpo, organizado. Ela tem poucas indulgências: dois ornamentos de cabelo; um livro de haiku, coisa gasta; um kimono
especialmente belo; e um espelho de mão muito elaborado. Ela não parece incrivelmente vã, considerando o que ela poderia
ter pedido dadas as circunstâncias.”
“Ela não tem muito pelo que ser vã, realmente,” Eu digo. Estou começando a me sentir mais parecido comigo mesmo
quando ouço o relatório de Meilekki. Minha cabeça parece estar clareando, como se me recuperasse de sakê demais.
“Esta é uma coisa curiosa.” Mei parece pensativa quando segura a porta aberta que leva ao castelo. “Não a vi. Ela usa
muita maquiagem?”
“Mais do que eu prefiro pessoalmente,” Respondo, sorrindo. “Mas não tanta quanto já vi mulheres mais velhas
usarem na corte quando sentem que seus encantos naturais estão sumindo. Por quê?”
“Ela possui pouca. Chamou minha atenção o espelho ser tão pequeno. Uma mulher que aplica a própria tintura,
especialmente o quanto achei que ela usasse, normalmente teria um espelho grande o bastante para mostrar toda a sua face
de uma vez. Você não acha?”
“Não tenho uma base suficiente para comparação. Talvez alguém mais a ajude?”
“Talvez. Ah, outra coisa. Ela tem um pequeno jardim de ervas em vaso. Está morto.”
“Hm. Talvez ela parou de cuidar dele por distração ou tristeza quando Maouri morreu. Ou talvez sua artrite seja
grande demais para deixá-la cuidar dele adequadamente.”
“Não. Se me deixasse terminar a frase, eu lhe contaria algo muito curioso.”
Ela está usando o olhar confiante e importante que ela poupa para ocasiões especiais. Ela parece muito com ela mesma
agora, e logo imagino se talvez era ela que estava me seguindo no jardim. “Grande dama, por favor, ilumine-me,” eu brinco.
“As ferramentas foram usadas recentemente. O jardim está perfeitamente cuidado. Mas está morto ainda assim.”
“Interessante. Algo mais?” Dobramos um corredor e começamos a nos mover em passos acelerados.
“Nada eu pudesse ver. Mas tive que sair rápido. Ela voltou. Ela não me viu; você não precisa se preocupar.”
“Aonde você foi depois disto?” Pergunto, esperando uma confissão.
“Encontrei o garoto, Sokoi. Falamos por um tempo, no lago. E então você veio.”
“Você passou a maior parte de três horas se sentando e conversando com um garoto de doze anos? A conversa foi
profunda?” Não tento conter meu sarcasmo.
“Sim. Não. Não me lembro sobre o que conversamos,” Ela para de caminhar na frente de uma porta de madeira que
descia pelo corredor. “Não é estranho? Não parece que passou tanto tempo assim.” Ela olha para mim de repente. “Estava
indo encontrá-lo antes do jantar. Eu estava, não? Só agora notei, estou com fome. Que coisa estúpida de fazer, pular o
jantar. Não sei de onde tive essa ideia.”
“Você disse que estava falando com Sokoi, e então cheguei. Mas não vi vocês dois primeiramente. Quando ele foi
embora?” Ainda estou caçando uma confissão. Suspeito que agora este é um dos seus jogos de histórias. Os detalhes mudam
um pouco a cada vez, e cabe a mim estreitar os detalhes.
“Não sei. Não me lembro.” Ela parece levemente perturbada, provavelmente porque sua brincadeira a fez perder o
jantar. “Bem, vamos ver o corpo!” Ela diz com um ânimo súbito, e então bate duas vezes na porta. “Lembre-se, você é um
grande e terrível shugenja.”

Item 8
Não tinha certeza do que esperar ao ver o corpo de Maouri, agora separado de seu espírito por quase duas semanas.
Dois guardas nos deixam entrar numa pequena câmara, vazia de todo salvo por uma pequena mesa onde estavam jogando
dados e várias lanternas ao longo das paredes. A cena seria confortável, quase feliz, exceto pelos olhares fechados nas caras
dos homens.
Então, eles abrem uma segunda porta do outro lado da sala. Sou imediatamente atingido pelo odor. Cada um de nós
pega uma lanterna da parede e entra na segunda câmara. Esta sala parece um pouco maior que a última. No centro da
sala está uma longa e baixa mesa onde repousa o defunto. Velas acesas o cercam, emitindo um odor como madeira de
cerejeira. Mas o cheiro de morte é mais forte. Aproximo-me da mesa, inicialmente incapaz de distinguir as sombras e
formas no falecido. Então Mei, chegando por trás de mim, e ergue sua lanterna bem próximo dele.
Há algo semelhante a um homem lá. A cabeça com rosto onde deveria estar, tronco e membros todos no lugar. Mas o
que quer que faça o homem parecer consigo mesmo se foi há muito tempo. Já vi cadáveres em campo e nas aulas durante
meu treinamento como magistrado. Mas algo aqui está terrivelmente errado de um modo que jamais vi.
O rosto, quando me aproximo, está mais enrugado do que um homem da idade de Maouri deveria merecer. Há uma
qualidade de couro na carne, e um encolhimento nas pálpebras. O corpo está da altura e proporção certas para o homem de
que lembro, mas parece mais magro. Do pescoço para baixo o cadáver está enrolado em faixas de seda, pintadas com letras
arcanas. Precauções adicionais, sem dúvida, do diligente Toshiin.
“No que ele está deitado?” Pergunta Mei, entre o interesse e o nojo.
“Sal. O puseram em sal. E acho que Toshiin usou um feitiço de algum tipo para preservar o corpo. Ele ainda não
começou a apodrecer, de fato. Está só… Seco… Oh, não.”
“Oh, não, o que? O que foi?” Exige Mei.
Estou entre um tipo de paralisia por horror e um sorriso doentio. Tentando conter o riso que não deveria ter tanto
humor assim, eu digo a ela: “Toshiin não deveria saber o que fazer. Ele queria esperar para cremar o corpo, mas não podia
deixar seu senhor apodrecer e feder enquanto isso. Então ele usou o único feitiço que conhecia para amenizar o processo. É
para guardar as rações por longas jornadas.”
“Quão incompetente este homem pode ser?” A voz de Mei é quase um sussurro. Não estou certo se é choque ou se ela só
não quer que os guardas lá fora ouçam.
“Até onde posso dizer, Akodo Toshiin é um homem que vive em constante medo de parecer tolo.”
“Uma razão bem justificada,” ela diz com sarcasmo.
“Isto o faz fazer coisas tolas ao invés de admitir que ele não tem certeza do melhor curso a seguir. Devo dizer, porém,
esta é certamente uma improvisação original.”
“Brilhante,” ela diz, movendo-se para o outro lado do corpo. “Suponho que deva fazer meu trabalho mais fácil.” Ela
começa a desatar a seda do torso superior, inclinando-se cuidadosamente sobre as chamas tremulantes das velas. Pausando,
ela bate seu punho na clavícula. O som produzido é um ruído agudo e ecoante que me faz tremer. Mei sorri para mim.
“Ninguém em casa, eu temo.”
“Você é das Terras Sombrias mesmo, não é? Algum espírito Oni que veio a residir numa forma humana para
atormentar os homens mortais.”
“Não de todo,” ela diz, ainda sorrindo quando saca uma pequena e afiada faca. “Eu só gosto do meu trabalho.”
Ela põe a seda do lado do peito e nós dois nos inclinamos para frente para olhar. Seguro a lanterna, iluminando o
cadáver. De início, não posso ver nada além de carne escurecida e enrugada. Então, ajustando a luz, posso distinguir a
marca escura no centro do peito. O sinal parece ter dez por dez centímetros, um padrão simples de linhas curvas. Olhando de
perto, posso ver que são bem pretas, embora os cantos estejam borrados, indistintos. “Lá,” eu digo apontando para as linhas.
“Eu vejo,” ela diz. Coçando levemente com seu dedo, e então arranhando um pouco a ponta de seu dedo, e então com a
lâmina da faca, ela mexe a cabeça. “Não há diferença para a textura da pele, e os servos estão certos. Não sai. Espere um
momento.”
Ela põe a faca entre os dentes, e aproxima as duas mãos para examinar o peito, estômago e garganta do cadáver.
depois ela passa suas mãos pelos braços algumas vezes, parando nos pulsos. Tenho que segurar um tremor quando ela enfia
um dedo entre os lábios do homem, e então até onde ela pode alcançar garganta a baixo, colocando sua mão livre por fora do
pescoço enquanto ela o faz. Então ela tira a faca da boca.
“Há uma rigidez no peito, a área próxima à marca, isto é inconsistente com o resto do corpo. Ele está todo rígido, mas
está um pouco seco. Esta área…” Ela passa seu dedo num círculo alguns centímetros em volta do formato. “… Está rígido,
parece mais denso.” Para provar sua razão ela bate no centro do peito. O som é mais abafado que o produzido na clavícula
— como se batesse numa espessa porta de madeira.
“A rigidez continua pelos vasos sanguíneos maiores,” ela adiciona. “Não tenho certeza, mas acho que a garganta pode
ter se fechado antes da morte.”
“Um veneno? Podia ser alguma coisa que afetasse o sangue?” Estou pensando alto. “Podemos tirar uma amostra da
marca?” Pergunto.
“É claro.” Ela começa a escavar um pedaço com a ponta da faca até um fragmento se soltar. Ela o põe numa pequeno
frasco de vidro que ela tampa e enfia junto com sua faca em seu obi.
“Há sinais de luta? As unhas estão quebradas? Não vejo ferimentos, mas não creio que seja este o ponto.”
“As unhas estão intactas,” ela diz, examinando uma mão, e então a outra. “Não posso ver marcas ou ferimentos nele,
mas não sei se deveria haver algum depois de toda a carne ter endurecido agora.”
“Vamos,” Eu digo, me virando. “Não acho que reste algo mais para nós aqui.”
“Está com pressa, então?” Ela está rindo para mim, eu acho. “Espere um momento. Preciso substituir essas ataduras.
Você pode imaginar…” Ela ri quando chega perto da mesa. “… Se Toshiin chega aqui amanhã à noite e as encontra fora
de lugar? Acho que ele pensaria que o lugar foi invadido por Onis.”
Os guardas ainda estão na sala externa, parecendo pensativos. Ponho minha melhor cara de tumba para eles. “Posso
garantir com absoluta confiança que nenhum mal cairá em vocês ou aos seus próximos por seu dever aqui. Não há maldição
neste lugar que tenha qualquer poder para feri-los.” Assinto a ambos quando se ajoelharam em obediência, e Mei e eu
saímos.
“E depois?” Ela pergunta enquanto subimos a escada.
“Cama, eu acho.” Posso sentir meus músculos tensos pelos meus exercícios no pátio.
Mas Mei parece totalmente desperta.

Item 9
Posso ouvir as pegadas se movendo atrás de mim, e acho que posso sentir uma respiração na minha nuca. Mas quando
puxo as cortinas de seda para longe, tentando me livrar delas, pareço me enrolar mais. Estou procurando por algo, mas não
sei o que é, e se não encontrar logo, ele sumirá. A grama é fria debaixo de meus pés descalços, e úmida, mas não lembro de ter
trazido meus sapatos. As cortinas estão molhadas agora, também. Isto as torna mais pesadas, difíceis de tirar. Os símbolos
pintados nelas começam a escorrer, espalhando preto e escarlate em minhas mãos e roupas. Deve haver uma fonte perto, pois
a bainha de meu manto está encharcada e está enrolando nos meus pés. As pegadas estão atrás de mim, mas mais distantes
agora. Elas devem estar amarradas no pano molhado também. Se eu puder me lembrar pelo que estou procurando — ou
seria quem? — então conseguirei escapar daqui.
Estou subitamente livre. Na clareira do lago, eu olho em volta, esperando que Meilekki esteja lá. Começo a tremer no
ar frio da noite por que meus mantos estão tão molhados. Quando olho para cima posso ver duas luas, lado a lado. Uma está
cheia e brilhante, e a outra é preta. Estou caminhando de lado mas não quero. A água, se eu tocá-la, me deixará impuro,
como tocar no corpo de Maouri. Mas já há um corpo lá. Flutuando nas águas paradas, logo abaixo da superfície, está
Meilekki. Seus olhos estão totalmente arregalados e um pequeno peixe sai de seus lábios abertos. Seu kimono se desfaz como
uma nuvem e não posso entender porque ele não ficou pesado com a água e a puxou para baixo. Não a encontrei a tempo
porque não me lembrei que estava procurando por ela, e agora é tarde.
Aproximo-me, querendo dizer que lamento, e percebo que não é Mei afinal. O corpo é muito pequeno. É Sokoi, e ele
está afundando na água enquanto observo. Seus olhos estão abertos e mortos, mas seus lábios se movem enquanto ele afunda
mais e mais.
Acordo frio e molhado, e de início não posso separar isto de meu sonho. Então percebo que estou encharcado em suor e
o fogo apagou. Me levanto para acendê-lo quando o faço, algo chama minha atenção, um movimento no canto. Quando
me viro, sinto a força abandonar minhas pernas, e quase caio. Sokoi está em pé na janela, não como o vi à tarde, mas como
o vi no lago. Suas roupas estão pingando água verde no piso de minha sala. Ele parece tão jovem e frágil e seus olhos olham
para o nada. Mas sua boca ainda está aberta e se fechando como se tentasse falar ou respirar. E enquanto olho para a poça
crescente em seus pés, vejo uma grande rocha amarrada com uma corda em um dos seus calcanhares. A carne em torno do
nó está amassada e roxa. Quando olho para sua face, vejo que se desgastaram, olhos estufados e roxos.
Acordo, enrolado em minhas cobertas. O fogo ilumina minimamente a sala. Ainda está escuro, mas os primeiros
pássaros começaram a limpar as gargantas. Tenho que encontrar Mei, antes que ela se afogue. Não. Isto não está certo.
Tenho que chegar a ela antes dos servos acordarem, e ir ao quarto de Maouri para que possamos vasculhá-lo em paz. Visto-
me rapidamente, tentando tirar a estranha apreensão de meu sono atribulado. Enquanto me visto, me apresso para
encontrar Mei. Digo a mim mesmo que minha apreensão é irracional, que é só produto de uma noite de sono perturbada e
me apresso aos aposentos de Maouri antes do sol subir demais. Mas não posso repelir a leve sensação de pânico quando bato
levemente na porta de seu quarto e espero para ela responder. Um longo momento se passa, e então o painel desliza. Mei
está vestida para a manhã e sua boca está cheia de bolo de arroz. Ela me oferece um enquanto fecha o painel atrás dela.
“Não posso acreditar que perdi o jantar noite passada,” Ela diz engolindo. Por um momento, sou tomado por uma
cálida afeição a ela, antes ela me encara e diz: “Você podia pelo menos ter me trazido alguma coisa.”

Item 10
“Por aí não,” diz Meilekki. “Vire-se para a esquerda.”
“Os aposentos de Maouri ficam à direita. Passei por eles ontem.” Respondo, me virando para encará-la.
“Eu sei,” ela diz. “Mas não estamos indo para o quarto de Maouri. Temos outro compromisso hoje.”
“Do que está falando?” Estou ficando mais impaciente quando passamos pelo corredor dolorosamente aberto. “Quero
examinar o quarto antes dos servos acordarem e andarem por lá. Esta era a razão para acordarmos tão cedo, se bem me
lembro.”
“Tive uma visita noite passada,” diz Mei. Ela se vira na passagem da esquerda e começa a andar deliberadamente
rápido. “Uma serva veio a mim noite passada. Ela tinha uma mensagem de um general aposentado que mora aqui no
castelo Ichime. O nome era Akodo Temoru. Alguém que você conheça?”
O mais irritante é que ela nem sequer se vira para ver se estou seguindo-a. “O nome soa um pouco familiar.”
“Pelo que a serva disse, ele é um pouco anterior ao seu tempo. Ele foi amigo e general do pai de Maouri. Ele se
aposentou há anos. Ele fica no castelo, mas é muito recluso. E quer falar com você. Cedo. Antes dos olhos e ouvidos dos servos
estarem por aí. Naturalmente, achei que ficaria interessado.”
Não há protestos reais a serem feitos, então continuo no corredor atrás dela. Após vários minutos, nos vemos numa série
de corredores pretos.
Há ganchos para lanternas na parede mas poucas estão acesas.
“Este não é um modo auspicioso de manter um dos maiores generais após sua aposentadoria,” digo suavemente. Por
alguma razão, percebo que não quero causar muito barulho nesses corredores escuros e ecoantes.
“Até onde sei, foi escolha dele. Ele poderia ter um dos quartos da frente, no centro da atividade do Castelo Ichime. Ele
poderia ter os quartos que escolhesse. Ele e o pai de Maouri eram como irmãos. Mas aparentemente, ele valoriza sua
privacidade e quer passar a maior parte de seu tempo sozinho. Pelo menos é o que a garota que trouxe a mensagem disse.”
“Hm. Você tem certeza que sabe aonde está indo? Essas passagens parecem todas iguais.”
“Tenho certeza de que estou seguindo as direções que me foram dadas. Se estão certas, você sabe tanto quanto eu. Aqui,”
ela diz, parando de repente. Ela aponta à tapeçaria descrevendo dois poderosos leões comendo a carcaça de um alce. “Deve
ser três portas à esquerda da tapeçaria,” ela diz.
Caminho à passagem indicada e bato de leve. Um longo momento se passa em silêncio. E então outro. E então há o
som fraco de farfalhar lá dentro, e a porta se abre lentamente. O homem lá dentro parece velho demais para se levantar
sozinho. Sua face é tão enrugada quanto um manuscrito seco amassado e aberto de novo. Seu corpo é curvado e ele se reclina
pesadamente numa bengala adornada com pedaços de joias. Seus mantos são belos, mas simples e velhos.
Por um momento ele olha para mim, um escrutínio em seus olhos que só senti de meu sensei. Deixaria-me nervoso de
fato, se eu sentisse que tinha algo a esconder.
“Estou feliz que tenha vindo,” ele diz finalmente. “Entre.”
Seu apartamento não é grande, mas está abarrotado de lembranças de todo um século. Tapeçarias cobrem as paredes,
sobrepostas. Estantes e mesas estão lotadas de armas e peças de armaduras, algumas brilhando, outras gastas. Em outras,
há leques de mulheres e coisas do tipo. Há uma grande mesa em um canto da sala, próxima a uma pilha de travesseiros e
cobertores macios. Temoru se move lentamente e com muito cuidado se põe em sua grossa almofada. Ele gesticula com sua
mão para uma almofada próxima um pouco à frente e à esquerda da dele. Me sento nela, e Mei, como se fosse uma serva
eta bem comportada se ajoelha à minha direita. Temoru tem o olhar de um homem que escolheu se cercar com as
lembranças de seus dias de glória, e se aposentar com eles.
“Seu pai tinha um bom nome,” Temoru diz num tom grave, cheio de poeira. “Para alguns de nós que se lembram, é
um bom nome ainda.” Abro minha boca para agradecê-lo, mas ele continua antes de eu começar. “Não pretendo
compreender o que sua nova família faz, ou o que ela honra. Mas ouvi que os Kitsuki se interessam na verdade e são bons em
descobri-la.” Uma longa pausa vem, e Temoru olha pensativo à distância. Quando ele fala de novo, sua voz está mais baixa.
“Sempre foi amigo da verdade. Vi muitas vezes ela ser dura. Mas creio que alguma verdade seja necessária para
prevenir um grande erro.” Ele olha para mim diretamente. “Te contarei a verdade para que você, como Kitsuki, possa
impedir um erro. Mas confio em sua discrição como um Matsu para guardar o que lhe digo em segredo. Você deve
encontrar outro meio de corrigir as coisas que não seja dizer que eu as contei aqui.”
“Temoru-sama, farei tudo o que estiver em meu poder para ajudar o Leão,” digo curvando minha cabeça. “Mas de
que erro você fala?”
“Começarei do começo. Fui homem com Akodo Bakusho, pai de Maouri. Antes disso, fui um garoto ao lado dele.
Bakusho e eu brincávamos quando crianças. Atiramos lama nas mesmas garotas. Nossas cerimônias de gempukku
ocorreram quase ao mesmo tempo. Aprendemos a lutar juntos como homens, e quando chegou o tempo, cortejamos as
mesmas garotas que provocávamos quando crianças.”
“Eu era de posição inferior à Bakusho, mas quando fomos para fora da escola Akodo ele me levou consigo. Éramos os
melhores já vistos.” Posso ver orgulho ainda brilhando como brasas quentes nos olhos do velho homem. “Não demorou muito
para chamarmos a atenção de um general que lecionava lá. Ele nos levou sob suas asas. Éramos seus pupilos especiais e
aprendemos técnicas de batalhas mais especializadas que aprendíamos na escola. Com seus outros alunos, nos tornamos um
tipo de guarda, uma unidade conjunta. E o ajudávamos em deveres especiais, patrulhas, vigias; às vezes ele nos levava para
lutar pequenas batalhas. Vimos batalha antes de qualquer outro na turma. Ele se orgulhava de nossa habilidade e éramos
leais a ele.”
O velho respira fundo e continua. “Um dia, ele nos disse que tínhamos uma importante tarefa a completar, uma missão
vital. Havia negociações ocorrendo entre os Akodo e os Doji. Uma disputa sobre quem guardaria um território comum.
Nenhum dos dois queria que as forças do outro na área fosse maior, logo não chegavam a um acordo. Nosso general — seu
nome não importa — sabia por fontes próprias que um espião Escorpião estaria viajando em disfarce às negociações. O
espião usaria mentiras e truques para desacreditar os dois lados até que as negociações se rompessem. Então, sem decisão
clara, o território estaria desprotegido ou protegido por homens já suspeitos uns dos outros, deixando-o aberto e vulnerável
para os bandidos que o Escorpião usaria.”
“Fomos interceptar uma caravana; o espião estaria fingindo ser uma pessoa do meio nobre com um séquito. É claro, os
supostos servos seriam assassinos. Deveríamos abordá-los na estrada, usando surpresa à nossa vantagem. Assim que
eliminássemos a ameaça, declararíamos o que fizemos e a traição de nossos inimigos. Seríamos heróis.”
Houve um olhar atribulado na face do general e senti um profundo pesar na minha barriga.
“Esperamos por eles na estrada, prontos para emboscá-los. A caravana chegou como as fontes de nossos generais
previram. Esperamos nos arbustos, e assim como planejávamos, investimos. Alguns homens puxaram suas armas antes que
estivéssemos sobre eles, mas não adiantou. Éramos bem treinados e tínhamos a exuberância da juventude de nosso lado. Um
de nós chegou à carruagem,” ele diz olhando para mim bem firmemente. “Um de nós chegou até ela e atravessou a espada
na cortina. Uma garota gritou. Nós congelamos onde estávamos. Talvez não fôssemos tão disciplinados quanto pensávamos.
Os servos, e eram servos, salvo por dois guardas reais que caíram no primeiro ímpeto, estavam assustados demais para se
moverem. Podíamos ver isso em suas faces.”
“Nosso general tirou a cortina e olhou na carruagem. Lá dentro estava a filha do daimyo Doji, vestida em toda a
fineza ensanguentada da Garça. Entende? Ela estava para ser oferecida em matrimônio a um general Akodo para firmar
as negociações.”
“Não sabíamos o que fazer depois, o que foi muito bom.” Temoru não está mais olhando para mim. Ele está olhando
direto para aquele dia de novo.
“Ficamos confusos de início. Olhamos para nosso general por orientação. Alguns de nós não entenderam quando ele
comandou que matássemos o resto do séquito… Uns oito homens restantes, eu acho, e uma mulher, uma serva. O fizemos
porque a única lógica restante no mundo naquele momento era a cadeia de comando. Acho que alguns de nosso grupo
pensaram que as coisas saíram como planejado. Talvez pensassem, ou se fizeram acreditar, que a garota era de fato a espiã.”
“Quando terminamos, tiramos o dinheiro e valores dos corpos, incluindo a arca que continha o dote da filha. Pareceria
que bandidos os roubaram. Soube depois que o incidente selou a decisão da Garça de patrulhar o território intensamente,
tornando as negociações um sucesso. No caminho de volta à escola, passamos por um rápido e fundo rio, e atiramos tudo o
que pegamos. As sedas afundaram com o ouro, e tudo afundou até o fundo. Tudo menos isto,” ele diz, se estendendo à
pequena mesa à sua direita. Ele levanta um enfeite de cabelo muito delicado. Os pequenos entalhes de ouro ainda brilham
quando se movem, embora alguns estivessem quebrados.
“Não pude deixar isto ir. Suponho que vi como um pequeno tributo a ela, para guardar e lembrar. Quando
retornamos à escola, nosso general nos disse para nunca falar o que houve. Não cometeríamos seppuku, pois levantaria
suspeitas. Ele disse que ele foi deliberadamente enganado, que havia sido manipulado a fazer algo que traria desonra sobre
todo nosso clã, e estava determinado a não dar vitória aos Escorpiões naquele dia.”
“Dois de nossos sete pupilos prediletos não completaram seu treinamento na escola, mas encontraram razões para
retornar para casa. Creio que um deixou sua família e se juntou a um monastério. O resto de nós ficou. Fomos proibidos de
falar do que havíamos feito ou do grupo de que fomos separados. E eventualmente, a memória sumiu. Não falamos um com
o outro depois disto, embora Bakusho e eu tenhamos ficado juntos como sempre. Terminamos nosso tempo na escola,
casamos com nossas esposas, e Bakusho me deu um lar aqui. Ninguém falou na questão de novo.” Ele se vira para mim e
seus olhos são tristes, mas duros, como pedras de rio.
“Estou honrado por sua confiança nesta questão, Temoru-sama,” eu digo, curvando minha cabeça bem baixo. “Mas
não estou certo que você quer que eu faça com o conhecimento.”
“Quando Bakusho morreu, mais cedo do que deveria, eles encontraram uma marca nele. Muito foi sussurrado sobre
ela na época, tudo besteira supersticiosa. Permaneci em silêncio. Mas agora Maouri está morto, e disseram que
encontraram uma marca nele também, e é um sinal de uma maldição que afligirá seu filho. Alguns afastariam Hakenka do
trono pelo bem desta tolice. Não o farei.” Com estas palavras, Temoru agarra seu peito e cuidadosamente puxa a lapela de
seu kimono.
“Esta é a marca que encontraram em Bakusho,” ele diz. E lá, perto do centro de seu peito está um formato como a que
vi em Maouri, mas menor, e muito mais distinto.
“Esta é a marca,” ele repete, “e Maouri não pode tê-la, porque fizemos a marca de nossa irmandade da escola Akodo.
Ninguém a viu desde então, salvo nossas esposas. E ninguém a teria dado a Maouri exceto por Bakusho, e ele não o fez. É
por isto que chamei você, Kitsuki Kaagi-san.”
De volta aos corredores fora do quarto de Temoru, Meilekki e eu falávamos em tons apressados.
“Maouri poderia ter feito a marca em si após encontrá-la no cadáver do pai? Um tipo de tributo, talvez?” Perguntou
Mei.
Parece improvável. Por que teria feito tal coisa sem saber o que era? Especialmente quando tantos rumores negros o
rodeavam. Além disso, Amai disse não ter conhecimento dela. Não vejo como ela poderia não tê-la visto por tanto tempo.
Além disso, a marca de Maouri era diferente. Era borrada, não tão precisa. Temoru foi claramente tatuado.”
“Poderia ter sido desenhada após sua morte?”
“Creio que não possamos julgar. Não temos informação suficiente. Creio que seja uma suposição segura, encontrar uma
maldição de família como causa de seu afastamento.”

Item 11
Chegamos no quarto de Maouri sem incidentes. A pesada porta de madeira está trancada, mas isto é de pouca
importância. Superei o mecanismo em alguns momentos, e a porta se abre sem som. Mei e eu entramos, fechando a porta
por trás de nós. Lá dentro há divisórias de papel separando a câmara em salas menores. A parte principal da sala contém
seu futon, guarda-roupas, uma mesa para se refrescar e uma estante para seu daisho. Do outro lado da sala está uma janela.
Aberta.
Mei olha para mim e levanta suas sobrancelhas. “Você acha que estão arejando os maus espíritos?” Ela pergunta com
um sorriso arteiro.
“Não deveria estar aberta,” respondo. “Este quarto deveria estar selado após a morte de Maouri e deixado intocado.”
“Exceto por nós, é claro.”
“Claro,” digo distraído enquanto vou para a janela. É uma longa descida. Esta parede é a mais próxima de uma
encosta, tornando-o o mais seguro. É quase uma queda livre daqui até a base da montanha. Recolho minha cabeça e
examino a janela. A poeira na soleira está apenas um pouco gasta, obra dos ventos que sopram na sala agora. A soleira está
gasta. Ao primeiro olhar, não diria que está frouxa o suficiente para se abrir sozinha, mas não posso estar certo.
“Você acha que está frio aqui o suficiente para a janela estar aberta há muito tempo?” Pergunto a Mei. “A sala está
fria, mas deveria estar depois de não ter fogo. O ar não parece fresco o bastante para a janela ter sido aberta a mais do que
alguns minutos.” Estou distraído por algo um pouco mais afastado no chão.
Indo para onde está, vejo o que o objeto é cilíndrico, do tamanho da minha mão do pulso aos dedos. Parece ser feito de
madeira branca incrustada com um padrão intrincado. A poeira na área ao redor dele está intacta, mas o cilindro em si não
tem traço de poeira. Eu o pego cuidadosamente.
“O que se faz com isso?” Pergunto, virando-me para Mei. Ela está perto do futon.
“O que?” Ela pergunta, olhando para cima. “Estes são os mesmos cobertores que estavam no futon quando ele
morreu?”
“Devem ser,” digo, virando-me para ela. “Veja isto.” Quando viro o dispositivo, ele repentinamente se estende. Mais
dois cilindros, um menor que o outro, saem do primeiro, travando com cliques quase inaudíveis. O resultado é um objeto
cilíndrico um pouco mais curto que meu antebraço, afinando-se em uma das pontas. O segmento mais externo é coberto com
um padrão finamente esculpido de giros interrompidos por ocasionais ângulos agudos. Os dois segmentos externos são
extremamente lisos, permitindo-lhes voltar ao lugar.
“Nunca vi nada como isso. Você acha que é um dispositivo Unicórnio? Já vi tralhas fenomenais que eles trouxeram de
suas viagens. Não se parecem com elas, mas é bem trabalhado.”
“Parece um brinquedo. Não me incomodaria com isto,” ela diz brevemente. “Venha ver isto.” Ela se agacha sobre o
futon de novo.
“O que é?” Pergunto, movendo-me para perto dela.
“Há um cheiro,” ela diz, seu nariz se torce um pouco. “Algo forte.”
Ela está certa; posso senti-lo quando me aproximo. “É óleo obuno como uma base, eu acho. Misturado com algo mais,
não tenho certeza do que… Cera de abelhas, talvez?”
“O que é óleo obuno?” Pergunta Mei com interesse.
“É destilado das folhas de uma planta espinhosa. Tem propriedades medicinais, mas não é muito usado pelos efeitos
colaterais potentes. Se você misturar com ginseng, pode evitar infecção. Mas se você não misturar bem, se o obuno for muito
potente pode deixá-lo doente.”
“Ou morto?” Pergunta Mei com uma sobrancelha erguida.
“Ou morto,” assinto. “É um veneno estranho, porém. Levaria muito tempo e…” Hesito por um momento.
“E…?” Pergunta Mei impacientemente.
“Há uma razão para você não ter ouvido falar da planta antes. Não se faz muito uso como remédio porque há outras
opções mais seguras, tão eficazes quanto. Mas na primeira vez que tentaram encontrar um uso para ele, não foi como
remédio. Foi como tintura de tecido.” Estou desamarrando o cordão de minha bolsa química.
“Tive uma ideia.” Não posso evitar em sorrir para mim com a súbita revelação e a expressão assustada na face da Mei.
“Obuno, misturado com essência de folhas de kello e tebo, faz uma tintura de ébano escuro. Muito bonita, muito usável na
corte por quase um mês. Ou seria, anos atrás. Eu era só um garoto, mas me lembro de ter achado graça na época. Todos
cujas roupas foram tingidas com ele começaram a ter uma má reação. De início, acharam que era uma praga. Pessoas
estavam desmaiando, tendo falta de ar, este tipo de coisa. Eles finalmente notaram que era resultado da tintura contra a
pele, mas não perceberam até que um samurai engajado num duelo repentinamente desmaiou. Quando eles o despiram, suas
costas estavam com um preto acinzentado onde seu suor fez a tintura escorrer. A mistura é tão potente que o fez desmaiar.”
Estremeci. “Acho que não foi de fato engraçado, mas eu era só um menino.” Tirei a caixa agora. O interior é forrado
em seda, com lugares para duas dúzias de pequenos frascos cheios de líquidos, pós e pedaços de plantas. “Isto é extrato de
ginseng,” digo, segurando um frasco. “Se borbulhar quando misturado com o obuno, então Maouri era só fascinado por
remédios antigos. Isto,” eu digo, erguendo outro, “é extrato kebo. Muito sal e água, e é muito próximo ao que seria a
transpiração de uma pessoa.”
Apalpando as cobertas, acho uma parte macia onde a cera se espalhou. Cuidadosamente, derramo um pouco de cada
frasco em lados opostos da área. A reação é quase instantânea. Onde o kebo cai, uma mancha profunda começa a se
espalhar.
“Olhe,” digo com satisfação.
Mei assente. “Não há borbulhas. Então a marca no peito de Maouri era desta mistura de obuno? É possível que ele
não soubesse de seus efeitos?”
“Acho que Maouri não sabia nada sobre ele. Para ter uma mancha preta em seu peito, ele teria que receber aplicações
por semanas. A cera provavelmente era para engrossar a tintura, logo a mistura não escorreu pelo corpo. Teria que ter
consistência para criar o mesmo formato. Então, quando a mistura de obuno entrou na pele, a cera podia ser removida,
Maouri deve ter visto a marca se desenvolvendo por semanas e não contou a ninguém. Creio que ele não tenha tido ideia de
onde ela vinha ou porquê.”
“Isso explicaria porque os cantos estavam borrados,’ diz Mei, assentindo. “Quem o pintou deveria só ter visto desenhos
de memória antes das linhas começarem a aparecer. Deve ter sido Amai. Ela era a única que ficava perto dele à noite. Ela
deve ter visto algo quando estava sozinha com ele.”
“Eu sei. Só queria que fizesse mais sentido. A posição dela aqui seria muito mais segura com ele vivo.”
Pauso por um momento, olhando para a borbulhante mancha preta. “Acho que é hora de eu falar com Akodo
Hakenka.”
Item 12
Sou mantido esperando por minha entrevista com Hakenka. Creio que seja porque ele está cuidando de uma questão
mais importante, como polir sua bainha, ou pentear meticulosamente seu cabelo.
A porta à minha frente se abre, e um dos homens de Hakenka me pede para entrar. Quando o faço, vários outros
samurais passam por mim de saída. Aparentemente, Hakenka tem estado realmente ocupado.
Akodo Hakenka está no centro de sua sala de guerra. Ao seu lado, está Matsu Nari, e ele me saúda com um polido
assentir, apropriado à minha posição. A mesa diante deles está coberta com mapas e manuscritos, e Hakenka os encara com
uma forte expressão de determinação. Estou certo de que sua falha em notar minha presença é perdoável por sua
preocupação, e assim espero calmamente, determinado a não dar sinais externos de impaciência.
Minutos passam. Longos minutos. Não posso tirar a sensação de que se a sala tivesse uma janela seria capaz de ver os
raios passar pelas colinas próximas. Um século depois, ele tira os olhos dos papeis com uma expressão de leve surpresa.
“Kaagi-san. Perdoe-me, esqueci que estava esperando. Você entende, é claro, que tenho muito o que fazer como
daimyo. Mas suponho que você não tem tais responsabilidades para afligi-lo.”
Minha paciência se esvai rapidamente. “Hakenka-sama, me espanta que você como homem detém seu poder como
uma criança a um brinquedo novo. É claro, crianças são irresponsáveis, e perdem coisas. Você não é uma criança, Hekenka,
e tem muito em jogo aqui para se esquecer disso.” Nari me olha preocupado, mas continua em silêncio.
A face de Hakenka avermelha. “Como ousa falar comigo desta maneira? Talvez se ache no direito por nos
conhecermos quando crianças. Você é um homem sem família, e eu sou um daimyo!” O ultraje em seu tom é o de um homem
que convence aos outros de sua grandeza na esperança de que se convença também.
“A família que foi minha se foi, é verdade. Não é culpa minha, nem farei nada para prevenir isto. Mas tenho uma
nova família agora e eles não são faltos em nome ou perícia. Guardaria minhas palavras mais cuidadosamente se fosse você,
Hakenka-sama. Você possui sua posição porque seu pai está morto. Mas a mesma morte que tê-lo colocado no poder por
pouco tempo, e você está falando com o único homem que pode prevenir isto.”
Sua face, roxa de raiva, fica meio cinzenta. Eu continuo.
“Você está certo, lembro-me de nossa infância. Lembro-me que você era arrogante, e acho que é arrogante agora.
Mas me lembro que você era bravo, e não estúpido quando sua era sua danação, logo acho que será um bom daimyo aqui, se
não um grande. É por isso que vim falar-lhe sobre as circunstâncias do assassinato de seu pai.” Mantenho meu tom de voz.
Não tenho tempo ou paciência para rompantes. Nem tenho tolerância para seu orgulho, e logo ele deve ser reprimido.
“’Assassinato’, você diz. Por que diz isso?” Há um olhar estreito dele. A ira e o ultraje foram suplantados por temor.
Se já não tivesse certeza de que ele não estava envolvido, sua reação o tornaria um suspeito.
“Seu pai foi envenenado, provavelmente por algum tempo. Você viu a assinatura do assassino — o sinal em seu peito.”
Enquanto falo, vejo Nari assentir.
“Não há tal marca!” Ele grita com o ultraje de um homem desesperado.
“Claro que há. Eu a vi claramente,” respondo em meu mais calmo tom. É tentador provocar sua raiva, mas sei que não
servirá de nada. “Porém, o fato é que seu pai estar marcado não arrisca sua liderança. De fato, creio que a firmará quando
devidamente apresentada. A maneira pela qual seu pai foi morto mostrará claramente que ele foi assassinado por mãos
humanas, não pela ira de um espírito. E mais, prova que as mãos em questão não foram suas, apesar dos ânimos entre os
dois e seu óbvio benefício pela sua perda.” Não posso resistir a esta última provocação.
“Você tem testemunho que condene o assassino?” Ele pergunta, sua face afoita.
“Não testemunho. Mas a evidência aponta ao culpado.”
“Qualquer tolo poderia deixar uma trilha de migalhas para apontar um dedo. Se não se pode encontrar alguém para
condenar este homem, então que valor você tem para mim?”
“Talvez devêssemos ir e falar com Amai. Acho que é dela o testemunho que você busca.”
“Aquela cadela é a assassina de meu pai?”
“No mínimo, creio que ela deva ter ocultado algum conhecimento a respeito. Creio que seja melhor falarmos com ela.”
Hakenka está tremendo com ultraje quando chama um jovem samurai. Com uma ordem curta, ele comanda que o
homem traga Amai até nós com pressa. Observo-o enquanto esperamos. Ele parece quase perdido em profunda tristeza,
como se sentisse a morte de seu pai pela primeira vez. Contemplo como questionar Amai quando ela chegar. Ela teve a
oportunidade, mas ainda não consigo encontrar um motivo. Além disso, suas maneiras na tarde de ontem me fazem sentir
que há algo ausente aqui. Seu luto era maior que o de qualquer outro membro do séquito de Maouri que vi.
Meus pensamentos são interrompidos pelo som de pegadas se aproximando, rápido. O samurai que Hakenka enviou
aparece na porta, suado e sem fôlego. Curvando-se rapidamente, ele diz: “Meu senhor, perdão. A mulher está morta.” Nari
se aproxima de seu senhor, como se temesse algum grave perigo.
“O que?” Não tenho certeza se é a voz de Hakenka ou a minha. “Quando? Onde?” Ele exige.
“Em seu quarto, meu senhor. O corpo dela está na cama, como…” Ele pausa, mas seus pensamentos são tão claros
como se ele os dissesse em voz alta. “Ela está como Maouri-sama.” O terror na face do homem é inconfundível.
“Hakenka-sama, vamos lá ver,” digo, virando-me para a porta. “Talvez haja algo a ser aprendido.” Ao homem na
porta, “Por favor, vá e ache minha serva, Meilekki e leve-a aos aposentos de Amai. Espero que encontre esta mulher viva.”
Ele olha para Hakenka por aprovação e, assentindo, vai ao meu pedido. O novo daimyo, Nari e eu deixamos a sala,
rumo aos aposentos dos servos.

Item 13
O quarto de Amai está como Mei descreveu, simplesmente mobiliados e simples. A mulher em si jaz no futon. Ela está
vestida para o dia, parecendo para todo o mundo que só se deitou para um curto descanso. Ela está meio de costas, meio em
seu lado direito. Seu braço esquerdo ao longo do corpo, e suas mãos repousam num pequeno espelho de prata, as costas dele
são cobertas num intricado padrão floral. As solas de seus sapatos, deixados à porta, têm sujeira úmida neles, mais indicação
de que ela já esteve do lado de fora e retornou. Sua face está pacífica, mas os leves borrões em sua maquiagem cobrindo seus
olhos pela face direita me dizem que ela esteve chorando. É o máximo que posso discernir sem tocar o cadáver.
“Isto é inaceitável!” Hakenka troveja. “O tsukai a envenenou também?”
“Não posso dizer a esta distância,” respondo. “Um exame mais próximo é necessário.”
“O que você sugere?” Ele pergunta.
“Esperaremos,” digo enquanto perpasso o topo da mesa no leito de Amai. Tudo parece ser como Mei descreveu. Vejo o
livro de haiku e reconheço o nome do escritor. Mei estava certa: eles são muito ruins. As plantas no jardim envasado de
Amai estão mortas, embora o solo tenha sido regado hoje, e as ferramentas usadas recentemente.
Então, Meilekki chega na porta. Ela olha para mim com sobrancelhas erguidas enquanto se ajoelha, da maneira
devida de um eta. Assinto e então olho em direção ao corpo na cama. Ela se move sem hesitação. Avaliando a posição com
uma olhar rápido, ela começa a mover suas mãos levemente sobre corpo, começando pelas têmporas e descendo. Olho para a
porta com interesse. Dois dos três guardas de Hakenka portam olhares abertos de repulsa. O terceiro tem mais modos.
O próprio Hakenka está olhando com um tipo de falso fascínio. Ele olha, para mim e por um momento nossos olhos se
encontram e ele parece como se estivesse prestes a dizer algo, mas não diz. Ao invés disso, ele volta a olhar Meilekki.
Mei continua a checar o corpo, pausando para olhar debaixo das pálpebras, abrir a boca e checar a garganta. Ela
procura com praticada eficiência. Quando chega ao obi, ela para.
“Aqui,” ela diz. “Isto é interessante.” Ela retira algo do obi. Ela exibe um pequeno pote de cerâmica. Lá dentro há a
maquiagem branca que Amai guardava em sua mesa. “Ela está carregando muito para uma mulher que não é vaidosa,”
diz Mei. “E isso é tudo o que ela está carregando.”
Demora um momento eu notar. “Não há espelho em seu obi? Talvez ela estivesse carregando o que está em suas mãos.”
“Duvidoso,” responde Mei. “Este pote é bem usado. O desenho pintado no topo está bem gasto pelo atrito com o pano.
Diria que ela o carregava consigo. Mas o espelho estava aqui quando eu… Encontrei com ela outro dia. É possível que ela o
tenha esquecido, mas não provável.”
Ela começou a examinar o corpo de novo, voltando à face, e então puxa o kimono para o lado no topo. Posso ver que a
maquiagem termina um pouco abaixo do pescoço. Normal. A seguir ela pega o braço esquerdo de Amai, checando primeiro
a mão, e então a manga. Ela pega a direita e para.
“O que é?” Pergunto, me abaixando. Ela está examinando a ponta dos dedos. Puxando uma ponta do kimono de
Amai, Mei começa a esfregá-las, e então a maquiagem branca começa a sumir. De início não tenho certeza de ver
claramente. Mas por um momento, se torna distinto. Os dois dedos mais próximos do polegar da mão direita de Amai têm
um tom de ébano escuro da ponta até um pouco depois da primeira articulação.
Viro-me para Hakenka e digo: “Hakenka-sama, acho que temos um testemunho, agora.”

Item 14
Todo o séquito Ichime se reuniu no saguão principal. Hakenka se senta em seu trono. Akodo Toshiin está à sua
esquerda, Matsu Nari à sua direita. Todos esperam de joelhos num grupo no piso inferior ao palanque. Mesmo Temoru se
libertou de suas câmaras isoladas. De minha posição à esquerda do trono, perto do canto da plateia, posso ver claramente
Hakenka erguer seu braço direito por silêncio. Em momentos toda a conversa para.
“Estou ciente dos rumores sussurrados nestes corredores desde a morte de meu pai.” A voz de Hakenka é clara.
“Entendo e aprecio as preocupações de meus servos,” ele continua. “E por esta razão, pedi que o estimado magistrado
Kitsuki Kaagi-san viesse e visse esta questão com seu olho treinado e objetivo. Se eu fosse de fato um homem amaldiçoado,
seria meu dever abdicar pela segurança e fortuna dos leais a mim.”
Sim, de fato, creio que ele possa ser um estadista.
“À frente, Kitsuki Kaagi-san, e explique o que encontrou,” diz Hakenka.
“Meu senhor,” Eu retomo, curvando-me baixo diante dele. Ergo-me lentamente, usando um momento para olhar nas
faces dos três homens diante de mim. Então me viro para a multidão reunida.
“As circunstâncias da trágica passagem de Akodo Maouri foram de fato estranhas,” começo. “Mas estou aqui para
lhes garantir, absolutamente, que estas circunstâncias não foram de maneira alguma sobrenaturais. Não há, e nunca houve,
uma maldição na linhagem de Akodo Hakenka.”
Um baixo murmúrio passa pela reunião, mas é rompido pela voz ultrajada de Akodo Toshiin.
“Como ousa!” Sua voz é alta com ira chocada. “Examinei o corpo de Akodo Maouri pessoalmente. Eu vi a marca!
Você não é shugenja ou monge. De que modo está qualificado para julgar questões do mundo espiritual?”
“Você se esquece, Toshiin-san.” A voz de Hakenka é dura. “Você já causou problemas suficientes com seus medos
supersticiosos.”
Toshiin recua, parecendo se encolher. Sua face é um escarlate escuro enquanto faz desculpas abafadas ao homem ao
homem que lhe dá ou posição ou lhe tira o teto.
Respirando fundo, eu continuo: “Não estou qualificado para julgar tais coisas, Toshiin-sama. Porém, tenho uma
noção única nos afazeres dos homens, e neste caso, eles negam o envolvimento do sobrenatural. A morte de Akodo Maouri só
não foi natural porque os atos negros das mãos dos homens roubaram sua vida antes do tempo apontado pelas Fortunas.
Ele foi assassinado com veneno.”
Espero um momento para isto penetrar na minha atenta plateia.
“A marca em seu peito não apareceu do ar no momento de sua morte. Foi desenhada nele, noite após noite, por uma
mão em que confiava. A substância da tinta era veneno, e com o tempo, reclamou sua vida. Isto foi feito para criar medo
nesta casa, e nos que detêm o poder no castelo Ichime. Fez Maouri temer, e ele escondeu a marca, sem saber sua causa. O
assassino sabia que os que viram o corpo se lembrariam da morte de Akodo Bakusho e teriam medo. Eles queriam impedir
que Akodo Hakenka-sama tomasse seu lugar por direito para que outro tomasse seu trono. Ichime Amai envenenou
Maouri um pouco cada noite para que seu filho fosse um daimyo.”
Há caos por um momento quando as notícias afundam. Então eu continuo.
“Encontrei o veneno que ela usou. O encontrei nos aposentos de Maouri, e o encontrei manchando as mãos de Ichime
Amai, que morreu por sua própria trama. Para assegurar a posição do filho, ela foi agente de sua própria morte. E com
esta morte, ela testemunha contra si própria.”
Dirijo-me para o trono. “Meu senhor,” eu digo, curvando-me de novo: “Estou honrado em ter sido de valia nesta
questão.”
“E eu o agradeço por sua ajuda e perícia, Kistsuki Kaagi-san.” Ele assente, e volto para meu lugar na multidão.
“A suspeita de uma maldição na linhagem de meu pai foi limpa,” ele anuncia. “Sua assassina encontrou a justiça.
Decreto que seu filho, Ichime Sokoi continue a viver aqui sem ser perturbado. Ele é jovem e não pagará pelos crimes de sua
mãe, salvo por sua perda.”

“Então, foi divertido?” Mei me pergunta. Estamos de volta para minha câmara, bebendo chá e relaxando um pouco
após o dia de intriga. Pouco depois, iremos para o funeral de Maouri.
“Acho que foi divertido para Hakenka,” digo um pouco feliz.
“É uma pena que você não estava olhando na direção certa para ver a cara de Toshiin.”
“Sim, bem, você estava. Como ele aceitou isso?” Pergunto enquanto viro minha katana, checando seu gume.
“Bem o bastante, exceto pelo rompante.” Mei brinca com uma de suas facas do Unicórnio. “Onde você me quer esta
noite?”
“Atrás da parede de papel que separa o altar de Hakenka de seu quarto de dormir. Você cabe lá?”
“Se eu movê-la um pouco.” Ela hesita. “Você acha que eles virão esta noite?”
“Não sei se eles podem evitar,” digo, bebendo meu chá. “Amai possivelmente não arranjou tudo isso sozinha. Alguém
teve que forçá-la. Estou certo de que ela não sabe o que estava fazendo quando feriu Maouri, ou não teria feito parte disso.
Ela provavelmente pensou que a razão era perturbá-lo, incomodá-lo despertando seus medos e superstições. Aliás, se ela
soubesse que era veneno, ela teria usado um pincel ou algum objeto para aplicá-lo. Não, creio que quem quer que a atraiu em
primeiro lugar planejou que ela morreria pelo mesmo veneno, um jeito fácil de prender as pontas soltas. Só demorou mais
que o esperado, já que teve que chegar pelo seu sangue da ponta dos dedos até o coração.”
“Acho que a pessoa que arranjou isto terá que fazer um movimento mais direto para completar seus planos. Eles virão
por Hakenka hoje à noite.” Tomo outro gole de chá.
“Vou me retirar para meu quarto após a cerimônia, e então voltar. Você não me verá a menos que precise de mim,”
Mei diz com um sorriso. Ela toma todo o seu chá num gole bárbaro e vai para a porta. “Boa sorte.”
“Não vejo como isto se aplica a nada no momento,” Sussurro enquanto ela se vai.

Item 15
O quarto de Hakenka está preto. Não há janela para deixar entrar a luz da lua cheia. Não tenho certeza se isso
funcionará em nossa vantagem ou não. Acendi uma lanterna escondida sob uma grossa cobertura de madeira. Nenhuma
luz escapa dela agora, mas caso precisemos dela, só levará um momento para revelá-la. Hakenka e eu estamos atrás de
tapeçarias penduradas nos dois lados de sua cama. Estivemos aqui desde pouco depois da cremação de seu pai. Pelo cansaço
das minhas pernas, estimaria umas duas horas.
Estou começando a temer que a paciência de Hakenka sumirá quando sinto um leve movimento da tapeçaria. No
mesmo instante há um sopro abafado e uma batida. Hakenka salta de seu esconderijo, e estou um instante atrás dele,
pausando o bastante apenas para descobrir a lanterna. Hakenka já está engalfinhado com a forma escura. Suas lâminas
colidem sobre a efígie destroçada que deixamos na cama de Hakenka.
O invasor está coberto de preto, cabeça aos pés. A luz da lanterna se desvia dele, e ele se move com uma velocidade que
jamais vi. Hakenka já está superado, se retirando, quando entro na luta. Esquivo a lâmina que o estranho me arremessa
com a mão esquerda por pouco. Ele se desvia de meu primeiro corte enquanto levo a luta para perto de Hakenka, e ele
bloqueia meu segundo ataque com sua outra lâmina esquerda. Esta ele não atira. Nunca vi suas técnicas antes. Ele nunca
está aonde seu próximo movimento parece levá-lo. Então Hakenka tenta esquivar um golpe e tropeça. Quando cai, ele corta
selvagemente as pernas de nosso atacante. A sombra hesita um momento e eu a pressiono pelo lado, mas minha lâmina pega
apenas um pedaço de pano.
Por um momento, acho que o pegamos quando Hakenka, já de pé, chega bem rápido. Então nosso oponente se vai, tão
subitamente quanto apareceu. Estou diante de Hakenka e estamos olhando um para o outro como tolos quando um borrão
de movimento à minha direita me faz girar. A sombra está lá de novo, a três metros, e antes de nos movermos para frente,
há um sopro suave, e a sensação como se uma parede de ar me detivesse. Ouço Hakenka tossir enquanto sinto minha
garganta fechar. A sala vira uma confusão verde, e minha visão borra. Tento erguer minha katana em guarda, mas meus
membros estão pesados.
A figura está se movendo em direção a nós, mais lenta agora. Acho que está deslizando, mas a sala se inclinou de algum
modo. Ele se move na direção de Hakenka, que nem olha para cima, mas se afunda. A sombra ergue sua katana sobre sua
cabeça, pronta para golpear Hakenka. O braço cai longe demais para o lado, e há um estalo quando a lâmina cai no chão.
Penso ter visto mais movimento na entrada. O ar está começando a clarear agora, e minha respiração está retornando. Algo
assobia pela minha cabeça e já estou me movendo para frente de novo com minha katana erguida quando percebo que foi
uma das facas de Mei. Ela atirou uma no inimigo, ele esquivou e a coisa maldita quase me arranca uma orelha. Minha
mente nublada tem certeza que me arrependerei disto.
Desço minha espada num arco rápido rumo ao tronco do oponente, mas ele se esquiva com sua lâmina esquerda e
aponta a direita para mim. A katana de Hakenka a intercepta e a empurra para cima enquanto perfuro a minha para
frente, atingindo as costelas. Ele grita e então… Eu reconheço o som.
A voz é Matsu Nari.
Ele gira então para defender o ataque de Mei por trás e Hakenka faz outro corte em sua perna. Ele está cercado — e
se pudéssemos cansá-lo um pouco mais — mas então ele atira a lâmina esquerda, um tiro desesperado, e há outra lufada de
ar e o espaço ao meu redor de novo se enche de fumaça verde. Está mais perto desta vez, e mal posso respirar, mas sinto mãos
me arrastar pela sala. Caio no corredor de joelhos, tossindo, e percebo que perdi minha katana. Então Hakenka cai ao meu
lado, procurando por ar. E Mei, de costas contra a parede, escorrega até o piso com um olhar assustado em sua face.
“Ele se foi,” ela diz. “Desapareceu.”
“Como… Como ele… Se move tão rápido?” Engasga Hakenka. “Como ele pode… Desaparecer?”
“Como você acha?” Responde Mei com um sorriso cansado. “Ele é Ninja.”

Item 16
“Então é isso,” digo enquanto Mei e eu andamos pelo pátio, nossas bolsas empilhadas e amarradas em nossos pôneis.
“Hakenka está estabelecido. Sei que está procurando um novo shugenja para a corte. Eles devem estar chegando em breve.”
“Espero que sejam melhores que Toshiin,” ri Mei. “Aquele homem era um tolo incompetente.”
“Claro que era. Nari o contratou. Afinal, você não quer se cercar de pessoas competentes quando planeja um golpe.
Suspeito que ele o escolheu especificamente por sua natureza supersticiosa. Então, depois de Maouri morrer, Nari só teve que
deixar as histórias de família certas por aí e esperar que Toshiin trombasse nelas. Deste modo, ele não teria que se conectar
com a questão mais do que o necessário.”
“Foi bem tramado. Há quanto tempo você acha que ele planejava isso?”
“Desde que chegamos, de uma forma ou de outra. Li pela cópia de Hakenka das Histórias Ikoma em sua biblioteca
noite passada e descobri que Matsu Nari morreu uma morte pouco lembrada há muito tempo atrás. O resto de sua família,
que não era grande, não durou muito. Eles tinham pouca riqueza ou terra, então os familiares mais próximos dividiram
tudo e se foram. Até onde posso imaginar, nosso Matsu Nari foi treinado nas escolas Shosuro. Ele tinha um conjunto de
maquiagem escondido que superava em muito o de Amai, e algumas outras bugigangas. Hakenka ordenou que fosse tudo
destruído.”
“Hm. Ele não é do tipo que perdoa, é?” Mei sorri.
“Não sei. Pensei que ele fosse generoso considerando o garoto, Sokoi.”
“Mas não adianta nada agora,” ela diz, olhando para uma linha de árvores próxima.
“O que quer dizer?”
Mei olha para mim, um pouco surpresa. “Ele se afogou, não ouviu? Tarde da noite passada, no lago do pátio. Eles o
encontraram esta manhã. Acho que não foi importante o bastante para atingir ouvidos influentes.” Ela está sorrindo para
mim, mas então some. “Você está bem?” Ela pergunta, estendendo uma mão para mim. “Você parece pálido.”
“Não, estou bem.” Digo, repelindo-a. “Só surpreso. Eles encontraram algo incomum no corpo?” Vejo de novo o Sokoi
de meu sonho, seu tornozelo preso a uma grande rocha. Um calafrio me percorre, pensando nos vingativos guardas de
Hakenka atirando o jovem garoto na fria água verde.
“Eu diria se tivessem,” Mei ri. “Você precisa de outro mistério? A conversa é de que o garoto, infeliz com a morte de
sua mãe e única companheira, se atirou. Ou talvez ele tenha escorregado. A única coisa engraçada para mim é que ele ficou
lá poucas horas antes de o tirarem, ou o peixe começaria a comê-lo. Peixe estúpido normalmente come qualquer coisa que não
o coma.”
“Você tem um… Estranho senso de humor.”
“Prefiro considerá-lo único.”
‘Única’ é sempre uma boa descrição de Mei. ‘Perturbadora’ é outra.
Mas esta é uma questão para outro dia, então viajamos.
A informação a seguir resume os PdMs, eventos e
informações que podem ser descobertas em cada
cena. Ela se destina a lembrar o Mestre o que os
jogadores precisam ver em cada cena em questão.
Estas cenas não precisam ser jogadas na ordem
estrita. Se os Pdjs quiserem entrevistar Hakenka
primeiro e esperar para entrevistar Amai depois, tudo
bem. Só lembre-se que Amai morre na manhã se-
guinte, dificultando muito qualquer entrevista.

Akodo Maouri está morto.


Sua morte parece resultar de uma maldição, mas
na verdade se deve a um veneno. Ele foi envenenado
por várias semanas por sua serva/amante, Amai.
Amai é uma mulher mais velha que nunca teve o
direito de ser uma geisha de grande escala, mas sua
 Amai começa a envenenar Maouri. lealdade foi inquestionável. Seu romance com Maou-
 Maouri morre do veneno. ri foi muito público e escandaloso.
 Os PdJs recebem uma mensagem de que Maouri Um assassino treinado, Shosuro Geru, está se
está morto. passando pelo confiável conselheiro de Maouri, Mat-
 A cremação deve ocorrer duas semanas após sua su Nari. O Escorpião tirou total vantagem da lealdade
Cada Investigação tem morte. Ele será cremado durante a lua cheia. de Amai, e a convenceu a pintar uma marca negra no
recursos para ajudá-lo. No  Os PdJs chegam. peito de seu amante enquanto ele dorme. Ameaças
começo de cada Investiga-  Algum tempo depois chegarem, os PdJs ouvem sobre seu filho, combinado com garantias de que a
ção está uma cronologia que servos falando de uma maldição de família. tintura não fará mais do que assustar Maouri a aten-
lhe dá tempos precisos para  Toshiin — o shugenja do daimyo Leão — conta ao der aos pedidos do Escorpião persuadiram Amai a
eventos importantes. Tam- fazer o que Geru pedia. O que Amai não sabia era
grupo sobre Amai, a muito pública cortesã do
bém dividimos cada Investi- que a tinta que usou para pintar a marca era um ve-
gação em Itens para uma daimyo.
neno de ação lenta.
rápida referência. Amai não revelou nada depois de Maouri morrer
porque Geru a convenceu de que ela seria culpada
 Matsu Hiroru, um ronin banido do Clã Leão, apare- pelo assassinato (com razão). Assim, de novo para
ce. Ele acidentalmente deixa cair uma zarabatana. salvar a posição do seu filho (e sua vida), ela concor-
 Amai passeia pelo jardim. Ela retorna para seu dou em ficar absolutamente calada sobre o assunto.
quarto, tira seus sapatos e morre do veneno que Sua alma, porém, está pesada pela perda e sua parte
usou para matar Maouri. no crime.
A mancha que Amai pintou no peito de Maouri
lembra a marca que o pai de Maouri tinha. Quando
Maouri morreu, a marca foi encontrada, e Nari usou
 Se a maldição não for desacreditada, Hakenka será Toshiin — o shugenja supersticioso da casa de Ma-
deposto e Sokoi será posto no trono. Nari será ouri — para espalhar o rumor de uma maldição de
apontado seu Regente e Conselheiro. família. Toshiin acredita que a maldição é passada de
 Se a maldição for desacreditada, Nari tentará matar primogênito em primogênito. O castelo começou a
Hakenka. Se os PdJs não intercederem, Nari conse- sussurrar que Hakenka herdará a maldição, e que ele
guirá. deveria abdicar e deixar Sokoi tomar seu lugar, para
 Em qualquer caso, se Hakenka ascender ao trono, o que a maldição possa ser quebrada. Toshiin exigiu
corpo de Sokoi é encontrado, afogado, na manhã que o corpo fosse queimado na primeira noite da
seguinte. próxima lua cheia… Daqui a quase duas semanas.
Precisa de uma desculpa para jogar seus PdJs nas Os personagens chegam e são saudados por
intrigas do Castelo Ichime? Aqui vão algumas. Akodo Toshiin.
Como Kaagi, um (ou mais) deles passou um tem- Toshiin confirma os rumores de uma maldição e
po (inverno ou verão) no Castelo Ichime. Isto serve sugere acreditar que Sokoi deva ganhar o trono, não
bem a qualquer personagem do Leão, que também Hakenka. Se pressionado, ele revelará que viu a mar-
pode ser parente de Maouri e Hakenka, tornando a ca no peito de Maouri e ordenou que os etas a remo-
questão pessoal. Personagens que moraram no Caste- vessem.
lo Ichime conhecerão a área. Eles também se lembra- Nesta noite, Toshiin encontrou um livro na bi-
rão de Hakenka como um pretenso valentão, e perce- blioteca a respeito da história da família. Quando o
berão que ele cresceu para se tornar… Um pretenso pai de Maouri morreu, uma marca idêntica foi encon-
valentão. trada em seu peito. Toshiin somou um e um e conclu-
Quando a morte de Maouri foi descoberta, Toshi- iu com uma “maldição de família”. Ele consultou
in enviou uma mensagem para todo Leão na área Nari (quem deixou o livro para Toshiin encontrar em
próxima, bem como os shugenjas das grandes casas. primeiro lugar), que fingiu tentar convencer o shu-
Shugenjas curiosos podem estar intrigados pelo dese- genja a manter a maldição em segredo. Toshiin en-
jo de Toshiin em iniciar serviços funerais duas sema- trou em pânico — como Nari esperava — e enviou
nas após a morte (é tradicional iniciar preparações uma mensagem mágica notificando o Leão da morte
funerais imediatamente após a morte; o corpo é de Maouri, que também foi um mal disfarçado grito
queimado no quarto dia, não no oitavo, como Toshi- por ajuda.
in planeja). Shugenjas (e samurais) inventivos tam- Se confrontado com suas preocupações sobre a TERRA: 1
bém podem ganhar o favor de um daimyo do Leão ascensão de Hakenka, ele dirá: “Estou só pensando ÁGUA: 1 Percepção 2
removendo a maldição de uma vez por todas. É claro, no que é melhor para o clã, como um Leão leal”. FOGO: 1 Inteligência 2
eles terão que ir ao Castelo Ichime para fazê-lo. Toshiin não é um Leão muito bom. Ele não é um AR: 1 Consciência 3
Notícias viajam rápido, especialmente as más, e a shugenja muito bom também. Kaagi destaca que seus VAZIO: 1
morte de Maouri se move pelas cortes de Rokugan mantos parecem “de algum modo maiores que o Escola/Nível: Nenhum
como um corcel Otaku a pleno galope. Qualquer homem que os usa…”, implicando que Toshiin não é Honra: 4,4
cortesão que não veja uma oportunidade de tirar capaz de manter sua posição. Transpasse isto aos Status: 1,5
Glória: 3,2
vantagem da situação não vale o arroz que come. Se seus PdJs, particularmente qualquer shugenja do
Vantagens: Voz
a maldição prevenir Hakenka de governar, alguém grupo. Eles também podem descobrir que Nari con- Desvantagens: Má Saúde,
mais… Adequado pode ser posto em seu lugar. Se tratou Toshiin após o último shugenja da casa ter Ovelha Negra, Amor Ver-
não, os personagens poderiam ser a razão primária falecido. dadeiro
pela qual Hakenka manteve a posição de sua família, Se os PdJs desejarem entrevistar Hakenka ou Na- Perícias: Atuação 1, Etique-
e estará em dívida com os PdJs. De qualquer modo, o ri, Toshiin lhes dirá que eles terão que esperar. Os ta 3, Falsificação 1, Trancas
cortesão ganha. dois estão em reunião e não podem ser interrompi- 1, Veneno 1, Sedução 3,
Outro ângulo: Se há uma maldição envolvida, en- dos. Porém, Toshiin lhes diz que têm quartos espe- Sinceridade 3, Prestidigita-
tão isso significa que um maho-tsukai provavelmente rando por eles, bem como repouso dos rigores da ção 1
também está envolvido, e isto é domínio dos Magis- estrada. Se os personagens forem magistrados, eles
trados Imperiais. podem exigir vasculhar o castelo, mas lembre-se que
Um dos personagens também pode conhecer al- gritar com um anfitrião traria desonra a suas insíg-
guém que more no castelo — um primo embaixador, nias, e que Hakenka acabou de herdar uma prestigia-
uma irmã cortesã, um tio sensei. Alguns dias depois da posição no exército do Leão.
da morte, o personagem pode receber uma nota escri- Em outras palavras, não forcem a sorte.
ta por uma mão corrida, apressando-os a virem e
visitarem: “Algo está errado, e não sei o que é,” diz
a nota. “Venha, antes que seja tarde demais!”
Qualquer que seja a razão, garanta que não demo- Os quartos dos personagens vislumbram os jar-
re muito para chegar ao castelo Ichime, não importa dins do castelo, e dali, os personagens podem ver
onde os personagens estejam. Assim que chegarem, Ichime Amai, sentada, alimentando os peixes.
tudo ocorre muito rápido. Eles só terão dois dias para Qualquer um com a Perícia Corte provavelmente
acertar as coisas antes que a linhagem de Maouri seja saberá (Inteligência/Corte, NA 10) que o romance de
apagada da existência. Amai com Maouri foi famoso. Sua lealdade a ele foi
lendária. Quaisquer personagens que possa detectar
mentiras (NA 15) discernirá da conversa com ela que escolher um método diferente (distrair os guardas,
a história de oferecer para se atirar dos muros do usar feitiços para discernir informações sobre o cadá-
castelo para salvar sua reputação foi bem verdade. ver, etc.), mas devem obter informação similar, base-
Amai lhes diz exatamente o que ela fez e onde es- ado em seu julgamento de seus esforços.
tava na noite antes do corpo de Maouri ser encontra- Os guardas que foram posicionados para “prote-
do. Ele estava reclamando de febre e náusea, e ela ger” o corpo de Maouri estão amedrontados de uma
trouxe chá e tocou música para ele. Na manhã se- maldição, e afoitos por qualquer iluminação espiritu-
guinte, ela foi a seus aposentos e o encontrou morto. al que possam adquirir. Assim, o truque de Mei fun-
Qualquer um na casa atestará que o choque quase a cionou — eles foram convencidos a deixar outro
matou. shugenja ver o corpo, na esperança de que possam
Ela também relata que ele esteve discutindo com ser capaz de eliminar a “maldição”. Outros ardis
seu filho Hakenka. Ela crê que o garoto não o respei- podem funcionar tão bem quanto, se tiverem prepa-
te como um filho deveria, e ela nunca gostou de ração e antecipação.
Hakenka.
Quando ela atira grãos aos peixes no lago, ela o
faz com a mão esquerda (Percepção + Consciência,
NA 20) notará que ela não é canhota. Se pergunta- Comparado a Toshiin, Matsu Nari é um sopro de
rem, ela culpará a idade. Seus dedos não parecem ar fresco. Ele parece ser um Leão com uma dose
manchados, mas um observador cuidadoso (Percep- cavalar de senso comum Caranguejo. Ele parece se
TERRA: 2 preocupar com o dano que uma “maldição de famí-
ÁGUA: 3 ção + Consciência, NA 30) notará traços de maquia-
gem. lia” fará com a reputação da casa, e quer que os PdJs,
FOGO: 2
AR: 2 Se os personagens saírem da linha com Amai, como magistrados ou amigos de família, provem que
VAZIO: 3 lembre-os que ela é a concubina escolhida de Maouri, os rumores são falsos o mais rápido possível.
Escola/Nível: Shugenja e que a casa a tem em alta estima. Qualquer compor- Ele fala aos personagens sobre a marca no peito
Kitsu 1 tamento inapropriado para com Amai receberá seve- de seu senhor. Ele está preocupado porque embora
Honra: 5,0
ras reprimendas dos samurais da casa de Hakenka, seja possível que a marca seja uma tatuagem, mas é
Glória: 5,4 impossível que tal tatuagem tenha curado. Assim, ele
Status: 2,2
bem como sussurros de seu comportamento desonra-
do chegará a toda corte nas terras do Leão. Em outras está convencido de que a marca é algo mais. Ele diz
Vantagens: Kami Ami- aos personagens que Toshiin encontrou o registro nas
gável palavras, sejam legais com a velha dama.
Além disso, Sokoi aparecerá no fim desta cena, histórias da família de uma marca encontrada no
Desvantagens: Falha no
Bushidô (Coragem) quase fora das visões dos personagens. Não faça peito do pai de Maouri. As duas eram idênticas.
Perícias: Etiqueta 4, muito destaque sobre o fato que ele simplesmente Ele comenta que o comportamento de Maouri an-
Heráldica 2, História 3, “está lá”. De fato, jogue algo como: “Você supõe que tes de sua morte era suspeito. Ele se retirava mais
Caligrafia 2, Meditação 2, o garoto estava brincando de pique-esconde, e você cedo a cada noite, negligenciando mesmo a compa-
Corte 5, Facas (Tanto) 1
estava tão concentrado que nem o viu”. Use informa- nhia de sua amada Amai. Ele perdeu o controle,
Feitiços: Bênção da Pu- tornando-se violento com seu próprio filho. Se per-
reza, Trilha à Paz Interior,
ções que manterão seus jogadores alertas, imaginan-
do se o que viram foi uma nota importante ou outra guntado, Nari revelará que Maouri e Hakenka briga-
Reversão das Fortunas, vam sobre terras que ele havia concedido à Garça.
Proteção da Pureza, Bálsa- descrição inútil de fatos irrelevantes.
Use o jardim, e as cenas no palácio, faça seus per- Ele não revelará o que Hakenka e ele estavam discu-
mo de Jurojin
sonagens questionarem tudo. Seja explícito ao des- tindo mais cedo neste dia, mas pode deixar a enten-
crever um velho vaso na sala de Hakenka. Torça suas der que era algo do mesmo assunto.
sobrancelhas. Mencione sua idade, e cor suspeita. Finalmente, Nari menciona que muitos no castelo
Peça aos jogadores rolarem Consciência NA 10, e acham que seria melhor se Sokoi fosse colocado no
então diga-lhes que notam um tipo específico de flor trono ao invés de Hakenka. “Toshiin acredita que
no jardim. Se mencionar, eles irão investigar, então isto quebrará a ‘maldição’,” diz Nari. Ele é cético, é
lhes dê muitas coisas a examinar. Logo, eles se can- claro, pois é exatamente isso que os personagens
sarão de olhar para tudo, e terão que decidir o que é querem ouvir.
importante por conta própria. Não se esqueça que Nari (Shosuro Geru) é o cul-
E é exatamente aí que eles veem Sokoi. pado. Ele realmente não se importa com o que o
grupo faz. Se eles acreditarem na ‘maldição de famí-
lia’, Sokoi é posto no trono, e o Escorpião tem um
daimyo fantoche. Se eles não acreditarem na teoria
O item 4 é uma descrição de como Kitsuki Kaagi de maldição e perceberem que Amai matou seu se-
recebe permissão para ver o corpo. Seus PdJs podem
nhor, isto tira a atenção dele. Ele ainda pode matar sobre a maquiagem pode dizer que não é a maquia-
Hakenka, pintá-lo com a marca, e Sokoi herda. gem adequada para tais atividades. Amai também
Nari está tentando fazer o grupo suspeitar de possui um espelho. Não é um item incomum para
qualquer um, exceto ele. Lembre-se, todos têm um uma concubina, mas ainda assim, raro.
motivo, e o único inocente — Toshiin — é o único Finalmente, o jardim na janela de Amai está mor-
que quer que todos acreditem na maldição. Ele até to. Ela não o jogou fora, porém. Personagens com
“tropeçou” no livro de história para apoiar sua causa. experiência em jardinagem (Consciência/Medicina
(Herbalismo) ou Venenos NA 25) será capaz de dizer
que morreram pela exposição a algum produto quí-
mico ou vegetal que prejudicou a vida das plantas.
Se os personagens decidirem se aventurar no jar- Amai continua a regar o pequeno jardim ainda assim,
dim à noite, use esta cena. Ela deve dar aos PdJs a esperando que cuidado constante recupere sua saúde.
impressão de que eles chamaram a atenção de algo Se os personagens investigarem a alcova de
sombrio e perigoso que não podem explicar direito. Amai, eles se complicam. Samurais não entram em
O que quer que seja, não tem Mácula das Terras aposentos de servos a menos que o servo tenha algum
Sombrias e jade não tem efeito sobre ele. Porém, se tipo de problema. Se forem ao leito de Amai, corre-
qualquer um dos personagens tem um cristal consigo, rão notícias de que Amai é suspeita de algo. Isto
eles não serão afetados nesta Cena. Eles não ouvirão acarretará o mesmo que ser desrespeitoso com ela:
barulhos, não verão imagens, e não serão capazes de um monte de Leões bravos.
entender porque seus amigos estão
tão assustados. Na prática, eles ve- TERRA: 3
em seus companheiros se assustarem ÁGUA: 2 Percepção 3
com nada além da sombra de uma FOGO: 2 Inteligência 3
árvore, ou o som do vento passando AR: 2
pelas folhas. VAZIO: 2
Há toneladas de coisas assusta- Escola/Nível: Bushi Akodo
doras para jogar nos PdJs se você os 2
Honra: 6,4
conhecer bem. Segredos Sombrios,
Status: 3,2
medos ou fobias, quaisquer obses- Glória: 6,5
sões ou paixões não resolvidas po- Vantagens: Nenhuma
dem facilmente serem integradas nas Desvantagens: Bravo,
imagens e sons que ouvem. Conheça Idealista, Falha de Bushidô
seus personagens. Saiba suas fra- (Cortesia)
quezas. Este é o lugar para mostrar a Perícias: Kyujutsu 3, Ken-
eles que seus segredos não são tão jutsu 2, Batalha 5, Narração
secretos… Especialmente da Escu- 1, Conhecimento: História 3
ridão.
Um elemento importante nesta
cena é a visão do Sokoi afogado. Ela
define eventos do futuro, e dá aos
jogadores uma noção do que exata-
mente está esperando por eles à
frente.

O quarto de Amai fica no setor


dos servos. Não há nada de interesse
no cômodo exceto muita maquia-
gem. Claro, Amai está envelhecen-
do, e é muito razoável que ela use
isto para esconder este fato. Qual-
quer um com a Perícia Disfarce ou
Conhecimento: Ninja que pergunte
Amai é adorada no Castelo Ichime. Sequer supor gostarem de você, e o separa da Ordem Celestial.
que ela teve algo a ver com a morte de seu senhor (e Para “reentrar” na ordem e ser perdoado de seu ato
estão, se estão procurando provas em seu quarto) impuro e desonrado, o PdJ deve realizar rituais num
resultará numa perda de face pelos personagens (-1 portal Torii — e o mais próximo está a dez milhas,
ponto de Honra). É por isso que Kaagi enviou Mei num pequeno vilarejo perto de um monastério.
checar o quarto de Amai. Samurais que toquem o corpo serão tratados co-
Se tentarem comprar ou comandar um servo a re- mo etas. Eles serão ignorados, evitados e sua honra
alizar a mesma investigação por eles, o servo é con- será temporariamente diminuída a 0 para fins de
vencido de seu bom propósito (Consciên- interação com PdJs e PdMs.
cia/Sinceridade NA 15), a notícia se espalhará pelo Recomendamos que se personagens samurais de-
castelo e, bem, vide acima. sejarem manusear o corpo de qualquer maneira, eles
façam uma rolagem de Vontade contra NA igual à
sua Honra x 5. Se passarem na rolagem, eles conse-
guem, mas perderão permanentemente 5 pontos de
Honra (mais a penalidade temporária de ter sua Hon-
ra baixada a 0). Se falharem, o pensamento nada em
sua consciência, fazendo-os perderem 2 pontos de
Honra (“Como pude sequer pensar em fazer algo tão
desgraçoso…”). Shugenjas Kuni, que trabalham com
cadáveres muito frequentemente, e outros persona-
gens com históricos horripilantes podem perder só 1
ponto, se você achar apropriado.
TERRA: 2 Narre esta cena bem lentamente, enfatizando o fa-
ÁGUA: 3 to de que estão numa pequena sala fechada com um
FOGO: 2 Agilidade 3 corpo morto que parece notavelmente preservado.
AR: 2 Mesmo os PdJs Kuni devem estar desconfortáveis,
VAZIO: 2 embora menos que outros personagens. E lembre-se:
Escola/Nível: Bushi
isto é Rokugan. Os mortos ocasionalmente voltam à
Akodo 2
Honra: 6,0 vida. Embora Maouri não tenha traço de Mácula das
Glória: 2,1 Terras Sombrias, ele pode muito bem estar amaldiço-
Status: 1,0 ado, e todos nós sabemos como essas maldições
podem ser contagiosas.
Perícias: Kyujutsu 2, Para tornar a cena mais assustadora, você pode
Defesa 2, Kenjutsu 3, Bata- pode querer que alguém interprete o cadáver. Tire
lha 1, Narração 2, Conheci- No fundo do porão da casa, o corpo de Maouri todos da sala, ponha seu corpo no chão, e diga aos
mento: História 1, Caça 1 espera. Não é uma visão bonita. Maouri foi posto personagens para se aproximarem. Peça-os para fazer
numa cama de sal e encantado com um feitiço de exatamente o que seus personagens estão fazendo.
preservação de alimentos. Se isto não convence os Encoraje seu cadáver a tremer quando alguém se
personagens que Toshiin é meio desligado, nada irá. aproxima para dar uma boa olhada na marca. Se
A marca é evidente no peito de Maouri. A pele é funcionar bem, todos pularão e perguntarão se isso
mais rígida na área enegrecida, como uma queimadu- realmente ocorreu. Sorria e responda: “Talvez. É
ra. Mei também nota que ela faz um eco distinto difícil dizer nas sombras.”
quando se bate. Os cantos da marca estão borrados,
imprecisos. Isto se deve ao fato de que Amai estar
pintando de memória, logo, quando começou, ela não
estava pegando as proporções exatas toda noite. Não Há muitas oportunidades de usar sequências de
há outra evidência indicando envenenamento, mas sonhos na campanha de Caminho das Sombras. Os
algo causou a mancha. sonhos de Kaagi podem ser presságios, ou podem ser
Esta cena demonstra ao menos uma razão pela só seu subconsciente. O mesmo poderia ser dito para
qual Mei é indispensável nas investigações de Kaagi. os personagens. Há também outra oportunidade de
Samurais não têm estômago para autópsia. Esta cena assustar seus jogadores. Aqui está como armá-la.
também ilustra a típica resposta samurai a ter que ver Primeiro, garanta que a última coisa que façam é
um corpo morto. Um corpo morto é como um vômi- ver o corpo. Se você teve sucesso com a cena seis, os
to. Simplesmente tocá-lo fazem as Fortunas não personagens devem estar bastante assustados para
começar. Então, enquanto estão no sonho, tire suas honra de receber um presente do outrora lendário
roupas, seus sapatos suas armas e faça-os correr pelo Akodo Tamoru vale 2 pontos de Glória.
jardim de novo. Algo os está perseguindo. Eles veem
seus camaradas se afogando. Quem disse que é tudo
um sonho?
Finalmente, se eles gritarem, eles acordam em Assim que os personagens entrarem no quarto de
seus quartos, cobertos em suor, olhando para um Maouri (quando quer que seja), Matsu Hiroru, um A zarabatana é uma ar-
Leão treinado pelos Kolats, sai pela janela, aciden- ma especializada, destinada
Sokoi afogado, corda e pedra e tudo mais. Então eles a disparar um dardo envene-
acordam de verdade… Cheirando a água estagnada. talmente deixando para trás sua zarabatana. Ele apa-
recerá em outra aventura, mas por hora, ele ficará nado. A zarabatana tem um
Se os PdJs perguntarem se Sokoi sempre brinca dardo (carregado), que causa
no lago, um servo os dirá que o garoto quase se afo- fora de vista.
1k1 de dano, mas usa um
gou. Alguns personagens irão direto ao lago procurar A sala tem uma janela, e dá para um precipício. veneno (uma variante do
pelo corpo. Eles não encontrarão. Os espíritos da Quando os personagens chegam, Hiroru está pendu- fugu) que, a menos que o
água no lago não se lembram do incidente (o que diz rado com garras do lado de fora da janela. Os perso- personagem passe numa
algo por si só). O lago é um beco sem saída, e Nari os nagens precisam estar especificamente olhando para rolagem de Vigor NA 25, o
lembrará que têm outro problema a resolver antes de cima da janela, e passarem numa Rolagem Simples matará em 2 horas. O ataque
de Percepção (NA 30) para vê-lo. Por causa do ki- deve atingir pele (some +5
começar a procurar por coisas que viram em seus
mono de cristal de Hiroru, eles não podem re-rolar 10 ao NP de alvos não armadu-
sonhos. rados e +10 para armadura-
neste teste. Faça esta rolagem atrás de seu escudo
dos).
para que os personagens não presumam automatica-
mente que há algo a ser visto. Por hora, você deve
Akodo Tamoru é um velho amigo da fa-
mília. Ele é um homem orgulhoso que perce-
be que o tempo finalmente o pegou. Houve
uma época em que Tamoru não era um ho-
mem a ser provocado. Agora, ele se senta em
seu quarto quieto com seu passado ao seu
redor e se lembra.
Tamoru é um maravilhoso personagem a
ser aprofundado. Ele se cerca com história
para que a velha idade não engula as glórias
de seu passado. Ele precisa de objetos físicos
de suas antigas glórias para ajudar sua memó-
ria senil. Ache uma voz distinta para Tamoru
(velha e rouca, ou digna e grave), faça todo
esforço para manter uma postura militar.
Quando sua concentração é quebrada, suma
por um momento e então retorne. Pegue
objetos aleatórios, olhe longamente para eles,
respire fundo. Então, vire-se e termine o que
estava dizendo.
Tamoru tem algo muito importante a di-
zer. Ele ouviu os rumores de uma “maldição
de família”, e sabe que são rumores e nada
mais. Ele diz a eles o segredo da guarda do
Leão, o evento com a garota da Garça e as
tatuagens que ele e o pai de Maouri fizeram.
É por isso que ele sabe que a “maldição” é
falsa.
Quando toda a conversa terminar, Tamoru
pode escolher recompensar um personagem
por serviço excepcional. Ele o fará com um
objeto de seu passado. Os presentes (escolha
algo apropriado) serão apenas tralhas, mas a
“rolar falso” muito, mantendo os personagens aten- digam que alguém possa estar tentando bloquear sua
tos, e espalhando informações totalmente irrelevan- ascensão ao poder.
tes, como sugerimos na cena três. Hakenka é um Leão. Ele é breve, bravo e se ofen-
Há muita evidência nesta sala; os personagens de fácil. Ele também é um bushi muito talentoso, e
devem ser encorajados a dedicarem tempo ou perde- não é um homem a ser menosprezado. Ele é o senhor
rão algo. A primeira pista é a mancha preta. Tem um desta casa, e todo bushi ao seu comando (uns 80)
odor distinto que pode ser identificado pelos PdJs lutará e morrerá por ele sem hesitação. Ele tem três
com as perícias apropriadas: Consciência + Veneno bushis na sala com ele. Todos são samurais Ichime
ou Medicina: Herbalismo (NA 20) ou Consciência + típicos.
Corte (NA 30). É óleo obuno, uma distinta tintura Não se esqueça que Nari está na sala com Haken-
preta que também é levemente venenosa. Amai esta- ka. Ele prestará atenção ao que os personagens estão
va usando uma dose saudável de óleo obuno com dizendo e tentará induzi-los para longe de qualquer
cera de abelha (para evitar que a tintura escorresse). revelação que ele não queira que Hakenka ouça. Ele
Personagens com Corte se lembrarão do incidente já preparou Hakenka para os personagens. Ele lhes
que Kaagi relata em seu diário, sobre o duelista da diz que cuidará deles assim que Hakenka possa con-
Garça que quase morreu por envenenamento de obu- tinuar sua reaquisição de terras que seu pai perdeu
no. Personagens com Veneno ou Herbalismo saberão para a Garça. Se Hakenka se frustrar ou perder sua
de uma informação diferente. Se tiverem sucesso na paciência, ele dá a Nari um sinal e Nari leva os per-
primeira rolagem, eles podem fazer uma segunda sonagens para um corredor adjacente e ouve o que
TERRA: 1 Vontade 4 rolagem em NA 15 para saber que misturá-lo com eles têm a dizer, prometendo que passará a Hakenka
ÁGUA: 1 Percepção 3 ginseng fará borbulhas. quando o lorde tiver paciência para ouvir.
FOGO: 1 Inteligência 4 Então, há a janela. A perturbação é muito nova, Então, ele agradecerá os personagens por seus es-
AR: 1 Consciência 5 coisa de poucos momentos atrás. Ela veio de Hiroru forços e lhes perguntará se há algo mais que possa
VAZIO: 5
saltando pela janela no último momento. Se olharem fazer por eles. Nari quer os personagens do seu lado.
Escola/Nível: Bushi
Akodo 3 pela janela, verão a longa e brutal queda. Não há Quanto mais confiarem nele, e acharem que ele está
Honra: 8,7 evidência de alguém escalar as paredes. A tampa da agindo para ajudá-los, melhor.
Glória: 7,3 janela é velha e gasta, e pode possivelmente ter
Status: 1,2 afrouxado da chuva e ventos da noite passada.
Vantagens: Mente Cla- O óleo obuno não é comumente usado como ve-
ra, Liderança, Estrategista neno porque é uma morte óbvia. O mais leve toque Algum tempo depois do amanhecer após a chega-
Desvantagens: Idealis- da tintura contra transpiração deixará uma clara mar- da dos personagens, Amai finalmente sucumbe ao
ta, Fraqueza (Agilidade) ca negra, e em excesso manchará a pele. A cera de veneno em seu sistema. Quando seu corpo é encon-
Perícias: Kyujutsu 4, trado, ele está deitado num futon, metade do lado
abelha foi usada para deixar o óleo obuno mais sólido
Atléticos 4, Batalha 4, Nar- esquerdo e metade de costas. Sua maquiagem está
ração 5, Defesa 4, Jiujutsu e mais fácil de ser pintado. Amai, sem saber do ve-
neno lento do óleo obuno, pintou o símbolo em seu borrada (ela chorou) e as solas de seus sapatos estão
(Imobilizar) 4, Heráldica 5,
peito à noite, e então espalhava a cera ao terminar. enlameadas. Em seu obi está um pequeno pote de
História 5, Cavalaria 2, Caça
3, Kenjutsu 4, Tanto 4 Isto provocou a mancha no peito de Maouri, e nos cerâmica cheio de maquiagem branca. Em sua mesa
dedos de Amai. Se os personagens exigirem ver baixa está um livro de poemas de amor muito ruins
Amai após procurarem nos aposentos de Maouri, ela (pense em livros de romances bregas), um testemu-
ainda morre pelo veneno momentos antes de chega- nho de seu caráter. Está gasto e há muitas páginas
rem. viradas. Outros servos comentarão que era seu livro
favorito. A capa está manchada com digitais de sua
maquiagem.
Ela usou a maquiagem para cobrir as óbvias man-
Hakenka não está de luto pela morte do pai. Ele chas pretas em seus dedos. Personagens que lavem as
nunca gostou de seu pai (ele está convencido de que mãos dela descobrirão isto. Os personagens agora
sua mãe morreu de coração partido). Se alguém ousar têm clara evidência do envolvimento de Amai. Infe-
questionar sua falta de emoção, ele dirá: “Um Leão lizmente, o motivo ainda não está claro.
se enluta quando está sozinho”. Não é segredo que Hakenka não gosta de Amai.
Ele está ocupado olhando mapas táticos da área Rumores pelo castelo persistem que ele expulsaria a
quando recebe os personagens e conta com eles para concubina e seu filho bastardo do castelo se pensasse
manter as coisas breves. Ele é facilmente irritado por que poderia ficar impune por isso.
“evidência”, e os incentiva a irem direto ao ponto. Se Nari estiver onde o corpo é encontrado (e deve
Ele está muito interessado em quaisquer notícias que estar), ele lembrará os personagens destes fatos.
Agora que ela está morta, ele pode dizer o que quiser castelo Ichime dão a ele deve deixar claro que eles o
sem medo de entregar sua identidade. Ele pode dizer obedecem voluntariamente, se fosse encarregado —
que envenenou Maouri para plantar a teoria de mal- mesmo que temporariamente (até que Sokoi fosse
dição nas mentes do castelo. Ele também pode dizer velho o bastante, é claro). Nari tem confiança, é res-
que sabia que ela era uma geisha treinada pelo Es- peitado e está pronto para tomar o poder. Ele sim-
corpião, mas respeitava o pedido de seu senhor em plesmente precisa de um peão da linhagem devida.
guardar segredo. Ele não dirá aos personagens mais Sokoi.
do que o necessário, porém. Isto faz parecer que ele Os personagens não precisam chegar a Nari para
está empurrando-lhes informação para ignorar as concluir que há outra pessoa envolvida na conspira-
deles próprios. Ao invés disso, ele irá a Hakenka e ção. Tudo que eles têm que perceber é que deixaram TERRA: 2 Vontade 4
convencerá o daimyo a expulsar os personagens, o assassino se mover. Se seguirem as pegadas de ÁGUA: 2 Percepção 4
culpando qualquer descortesia menor pela tristeza e Kaagi e aparentarem que vão embora, para então FOGO: 4
irritação do daimyo. voltarem para se esconderem nas sombras e aguardar, AR: 5
os eventos se desdobrarão como com Kaagi e Mei. VAZIO: 3
Nari aparecerá e tentará matar Hakenka. Ele até tem Escola/Nível: Ator Sho-
uma boa porção da tinta para pintar outra marca. Se suro 3
Essencialmente, os personagens agora têm uma Honra: 0,7
ele tiver sucesso, ele pode pintar a marca e deixar
escolha. A “maldição de família” foi exposta como Glória: 5,6
alguém encontrá-lo pela manhã. Status: 1,5
assassinato, e os personagens identificaram o culpa- Este é o plano quando ele viu Kaagi e Mei irem Desvantagens: Nenhu-
do. Não há nada mais para eles fazerem aqui, e embora. Ninguém confia na evidência Kitsuki. Uma ma.
Hakenka (e possivelmente Temoru) publicamente os simples mentira é mais fácil de engolir do que a Perícias: Atuação 4,
agradecem por resolverem o caso. complicada verdade que Kaagi quis que todos acredi- Defesa 3, Etiqueta 2, Falsi-
O problema é, eles ainda não perceberam. Não tassem. ficação 2, Trancas 4, Nin-
tudo, pelo menos. Kaagi foi capaz de ver o panorama Os Atributos e Perícias de Nari estão na caixa de jutsu 3 (Nageteppo), Ken-
todo, mas seus personagens podem não ter sido capa- texto, junto com as regras para seu equipamento jutsu (Ninja-to) 2, Venenos
zes ainda. Aqui está como Kaagi resolveu tudo. 4, Furtividade 5
Ninja — incluindo bombas de fumaça. Nari gastou
De início, o motivo de Amai faz sentido, mas as- Perícias como Matsu
muito tempo se acostumando a ele, logo não o afeta Nari: Kyujutsu 2, Defesa 4,
sim que se olha debaixo da superfície, ele rui. Ela tanto quanto os PdJs. Kenjutsu 4, Batalha 2, Nar-
amava Maouri. Além disso, ela era completamente Aliás, Mei não foi afetada pelas bombas de fuma- ração 3, História 4, Corte 2
dedicada a ele. Ela só o trairia se fosse coagida ou ça também.
convencida. Isto significa que há alguém mais envol- Nível de Proteção: 15
vido. Alguém que quer Hakenka fora do caminho. (+5 bônus de Sombra)
Kaagi decide parecer fraco para atrair o assassino Ferimentos: 8: -1; 12: -
mestre. Obviamente, alguém mais quer colocar Sokoi Personagens que consigam frustrar os planos de 2; 16: -3; 20: -4; 32: Morto
no trono. Amai nunca pareceu ter o desejo de ser Nari recebem até 3 Pontos de Experiência e calorosas Armas Primárias: Fa-
mais do que era, ou usurpar a posição de direito de congratulações. Os que não forem elegíveis, ganham cas de Arremesso (1k1):
Hakenka, e seu filho é jovem demais para ter engen- 1. Envenenadas com uma
variante do fugu. Qualquer
drado sua ascensão ao poder de tal maneira. Quem Além destas recompensas, Akodo Tamoru dá a
um afetado deve fazer rolar
mais poderia estar envolvido? Obviamente, alguém cada personagem um presente. Conforme já mencio- Vigor contra NA 25 ou
com um conhecimento de venenos, e alguém que se nado, este presente soma 2 pontos à Glória do perso- morrer em 2 horas. O ataque
beneficiaria diretamente da herança de Sokoi. Se nagem. Hakenka agradece aos personagens por salvar deve atingir a pele (some +5
Sokoi fosse nomeado herdeiro, quem teria controle sua posição e os recompensa com documentos de à proteção de alvos não
direto da província? Alguém que teria que ser gover- viagem vitalícios por sua província. Os personagens armadurados, +10 para
nador até que o menino fosse velho o bastante para também notarão que conseguiram um pouco do favor armadurados).
governar pessoalmente. com o Clã Leão assim que notícias de suas ações se Nageteppo (granadas de
Só há uma pessoa no castelo nesta posição, e é espalharem. Mestres podem colocar isto na campa- fumaça): PdJs afetados
devem rolar Vigor contra
Nari. No fim da aventura, o controle nominal de Nari nha como acharem devido.
NA 30 ou caírem no chão
sobre Hakenka, e o grande respeito dos samurais do por inalação da fumaça.
Na estrada do Castelo Ichime
Estamos a cerca de dois dias do castelo Ichime. Estive seguindo a trilha do homem que se chamava Matsu Nari. Até
agora, ele parece estar indo diretamente para terras do Escorpião. Rastreá-lo não foi particularmente difícil, suspeito que
por causa de seu estado ferido. Ainda assim, considerando sua condição, ele tem sido mais sutil do que eu esperava. O que é
mais surpreendente é que uma segunda trilha apareceu, sobreposta à dele. Se não estivesse rastreando Nari, teria perdido a
pista menos óbvia que várias vezes a cruzou.
Fui capaz de discernir até agora que o indivíduo tem entre um metro e meio e um e oitenta de altura, pesa entre cin-
quenta e oitenta quilos, e tem um talento incomum para discrição.
Esta segunda trilha apareceu primeiro cerca de meio dia de jornada do castelo Ichime e reapareceu com alguma regu-
laridade desde então. Até agora, não vimos incidente adicional.
Até onde posso dizer, recuperei-me completamente da substância a que fomos expostos durante a luta com Nari. Estou
que foi um veneno de baixa intensidade, empregado numa dose limitada. Nosso oponente provavelmente desenvolveu imuni-
dade a ele. Mei parece ser naturalmente inalterada pela coisa. Ela não sofreu de doença quando foi capaz de ajudar
Hakenka e eu na sala. Mais mistérios de Mei.

Item 19
Estivemos na estrada por três dias e meio sem incidentes. Acabei de descobrir uma marca deliberada na estrada diante
de nós. Alguns gravetos que pareciam ter caído ao acaso na verdade foram colocados numa rude formação de cruz, apon-
tando às árvores à esquerda da estrada principal. Prosseguindo com atenção, Mei e eu começamos a explorar mais a linha
de árvores. É meio dia e os bosques estão convenientemente iluminados. Uma vez fora da estrada principal, há uma trilha
muito menor pelos arbustos. Galhos foram quebrados, plantas pequenas foram empurradas e a grama está perturbada.
A vários metros da linha de árvores ouço Mei gritar. O corpo do homem que só conheci como Matsu Nari se pendura
numa corda pelos pés amarrada a um galho de árvore. Seus olhos estão quase na altura dos meus e congelaram num olhar
duro. Sua garganta foi cortada com precisão limpa. A julgar pelas moscas amontoadas em suas narinas e a boca levemente
aberta, posso estimar que ele esteve aqui a maior parte do dia. Tenho que vomitar. O fedor deste dia agradavelmente quente é
repentinamente massacrante quando o vento vira para nós.
Enquanto Mei e eu estamos diante do corpo destroçado, um corvo particularmente gordo desde dos galhos, assustando
as moscas, e começa a arrancar um pedaço de sua face.
“Não quero revistá-lo,” diz Mei, um pouco atrás de mim.
“Acho que ele pode ter mais inimigos do que suspeitávamos.”
“Possivelmente mais do que ele mesmo sabia.”
“Mei. Ele pode muito bem estar carregando dispositivos, equipamento que poderia nos dizer muito sobre seus métodos.”
Ela se move sem palavras. Quando chega ao corpo, o corvo dá um grasnado indignado antes de subir no ar. Ele retira
um pouco, não querendo abandonar seu prêmio. Mei escala a árvore, e então aparece no galho segurando o corpo de Nari.
“Você quer pegá-lo quando descer?” Ela sorri para mim. “Não? Foi o que pensei.”
Há uma batida seca quando o corpo cai no chão. O corvo grasna de novo, furioso por talvez ter que dividir sua recom-
pensa com predadores terrestres. Mei salta para baixo um momento depois e começa um rápido percurso do corpo.
Ela remove duas adagas da perna direita. Há duas bainhas vazias na esquerda. As roupas de Nari são todas pretas,
um tecido macio que não faz barulho quando Mei o move. Das amarras ao redor dos pulsos direito e esquerdo, ela remove
dois shurikens. Ela pausa na cintura. As dobras de sua veste superior se soltam de seu corpo, seguras apenas frouxamente por
uma corda preta.
“Se ele tinha outro cinto, ou qualquer bolso, seu assassino deve tê-los levado,” diz Mei, se levantando.
“Espere.” Repentinamente me lembro de algo de nossa última noite em Ichime. “Corte sua manga direita, do pulso até
o ombro.”
Mei pausa por apenas um momento, e então o faz. O corpo está de bruços, e há uma clara mancha vermelha atrás de
seu braço, cerca de dez centímetros abaixo do ombro. Muito claramente no olho de minha mente, vejo o mesmo braço ergui-
do com uma katana caindo em direção a Hakenka antes de algo atingi-lo por trás. Presumi que era uma das facas de Mei.
Mas há um momento, percebi que a manga estava intacta.
“Com o que você o feriu?” Repentinamente me sinto desconcertado e curioso.
Mei me dá um olhar julgador. Então ela procura em seu cinto e remove o dispositivo segmentado que encontramos no
chão do quarto de Maouri.
“É uma zarabatana,” ela diz. “Havia um dardo carregado quando a encontramos. Então tirei vantagem disto quando
surgiu a necessidade.”
“Por que não me disse que sabia o que era?”
Ela olha diretamente para mim e diz, muito seriamente: “Devo ter me distraído, e então passou pela minha mente.”
Ela se levanta e começa a caminhar para a estrada.
“E sobre o corpo?” Chamo depois dela. Me sinto confuso, talvez por todo o incidente.
“Você quer queimá-lo?” Ela diz com um sorriso? “É mais adequado, acho, que ele seja deixado aos pássaros. Não vão
deixar muito.”
Como que de acordo, o corvo volta ao defunto e começa a beliscar sua nuca. Sigo Mei de volta à estrada.
“E agora?” Ela pergunta com um sorriso. Seu bom humor parece ter retornado. De algum modo, sinto vontade de
falar mais sobre o curioso dispositivo que agora guardo num bolso no fundo de meu kimono. Faço uma nota mental de dis-
cuti-lo depois em maiores detalhes.
“Acho melhor seguirmos a segunda trilha. Olhe aqui, estas marcas na poeira à frente, na mesma distância que as esti-
vemos seguindo?”
“Na trilha de um assassino de assassinos, é? Soa como história de livros de travesseiros para mim. Vamos lá,” ela diz,
ficando de lado para que eu assuma a frente.

Item 20
Faz vários dias desde que encontramos o corpo de Nari. Seguimos a trilha do assassino por vários vilarejos, mas ele
sempre passa sem entrar. Mei e eu paramos algumas vezes para suprimentos e conforto. Esta noite dormiremos a céu aber-
to. Meu mapa provincial diz que estamos a várias milhas do próximo posto ou vilarejo.
Mei foi buscar lenha enquanto reúno nossos pertences para a noite. Estou desenrolando meu saco de dormir quando
ouço um claro ruído de madeira contra o chão, vindo de longe. Olhando entre as árvores posso ver uma figura vindo na
direção de que viemos. Suas costas estão inclinadas, e seu passo é lento. Ele é um homem velho, ao olhar para ele, com uma
bengala retorcida.
“Oja-san,” eu chamo, usando o termo honrado para ‘Avô’. “Aonde você vai?”
Ele para, assustado, e olha em volta, virando num lento e nervoso ciclo. Sua cabeça vira na minha direção quando me
aproximo.
“O que é você?” Ele fala um pouco forte, segurando seu bastão na sua frente num gesto de proteção.
“Um homem,” respondo, segurando minhas mãos aos lados e sorrindo para reafirmá-lo.
“Deixe-me ver seus pés então,” ele diz numa voz autoritária. “Ou senão o tomarei por um fantasma, vindo para assom-
brar pessoas honestas!”
Levanto meu kimono até os calcanhares, e ele relaxa, baixando seu bastão ao chão.
“Sou Kitsuki Kaagi,” digo a ele. “Um Magistrado do Divino Imperador.”
“Pensei que pudesse não ser natural,” ele diz. “Saindo da mata assim, um velho não pode ter certeza, você sabe.”
“Entendo, Oja-san. Mas aonde você vai? O sol já está quase baixo, e não há vilarejos por alguns caminhos nesta dire-
ção.”
“Ou da direção de que vim,” ele diz, assentindo. “Estou indo ver minha bisneta. Ela está se casando, e não posso me
atrasar. Então estou viajando pela noite, a menos que me canse. E então me recolho,” ele diz, apontando para um cobertor
nas suas costas.
“Minha companheira acaba de voltar com madeira,” digo, ao ouvir o farfalhar nas árvores atrás de mim. “Você se
juntaria a nós por algum chá e jantar?”
“Bem, suponho que poderia parar um pouco. Só para descansar meus pés, sabe?” Ele diz, como se para me reafirmar.
Ele caminha na minha direção e, pegando seu braço, eu o conduzo em direção a nosso pequeno acampamento.
Mei está lá, acendendo o fogo sem olhar para ele. Seus olhos estão em nós enquanto o velho e eu chegamos à clareira.
Sei sem olhar para lá que há uma faca no chão à frente dela. Para cortar o pão, ela insistiria, se perguntada.
“Qual é seu nome, vovô?” Pergunto quando o ajudo a se sentar.
“Seru Haka,” ele responde.
“Haka-san, esta é minha companheira, Meilekki.”
Ela sorri calidamente para ele, e ele assente sua cabeça com um sorriso próprio. Quando ela quer ser charmosa, Mei
tem os modos perfeitos para agradar homens velhos e pequenos gatos.
“Gostaria de pão, Haka-sama?” Ela diz, oferecendo a ele um pequeno pedaço.
“Obrigado.” Ele o pega com uma mão afoita e começa a comer enquanto ela ferve a água para o chá.
Nós três compartilhamos uma refeição modesta de arroz e peixe fresco. Então o velho abaixa sua xícara de chá segura-
da com as duas mãos para se aquecer.
“Devo retribuir sua gentil hospitalidade,” ele diz. E então sobre meus princípios de objeção, ele continua: “Uma histó-
ria, talvez?”
“Isso seria fantástico!” Diz Mei, ainda encantadora e graciosa. Assinto de acordo.
“Hm. Deixe-me ver,” diz o velho enquanto se senta numa árvore e deixa seu olhar vagar pelas estrelas.
Ele sorri um pouco arteiro. “Muita gente sabe,” ele começa, “de como Mãe Sol e Pai Lua criaram o mundo. Como
eles se uniram, de mãos dadas nas névoas recém-criadas e deram nomes a tudo que viam. Àquilo que voava, eles chamaram
de pássaro. Ao que nadava, eles chamaram de peixe. E àquilo que pensava e tentava servi-los com honra, eles chamaram de
homem. Mas o que muitos não sabem, é quando Mãe Sol e Pai Lua deram nomes a tudo o que havia, algo, um pequeno
pedaço de algo, não quis um nome. E esta coisa pequenina, se escondeu atrás da recém-chamada rocha, e se cobriu sobre a
recém-chamada ‘sombra’.”
“E ela disse para sombra: ‘Esconda-me do Nome, pois isto me deterá e me tornará uma coisa. Esconda-me agora, e
me lembrarei de você. E me aliarei a você. E em todas as formas que poderei tomar não terei nome, te servirei e te ajudarei a
se tornar grande’.”
“E sombra ouviu seu pedido, e pensou nele, pois sombra era uma pequena e fraca. Não tinha forma sólida própria,
apenas imitava as de sua volta, como a de rocha. E fugia da grande e arrogante ‘luz’ facilmente. Então sombra pensou que
um amigo não seria uma coisa ruim, e concordou em esconder seu companheiro até que Mãe Sol e Pai Lua acabassem com
os nomes e retornassem aos altos céus.”
“E sombra e a coisa que escondera fizeram uma aliança, e se ajudaram. Pois eram tão próximas que a coisa anônima
se parecia muito com a sombra. Tanto que alguns escolheram chamá-la de sombra profunda, como uma prima próxima.
Mas isto era só um apelido, não um nome real, e assim esta ‘sombra profunda’ não estava presa. E até este dia ela vaga.
Talvez você a tenha visto, quando usou sua lanterna num pedaço de escuridão que não se desviou como deveria. Ou talvez
você tenha olhado para um amigo e viu o que pensou ser uma sombra em sua face, e que eles não pareciam ser eles mesmos.
Ou talvez quando era jovem, havia uma sombra deitada em seu futon, ou debaixo de sua janela, e se moveu quando nada
mais se movia. Talvez ela falasse com você tarde da noite e sabia seu nome mesmo que você não soubesse o dela. Pois esta é a
única coisa até hoje que escapa do nome, porém, homens duros tentam. Ela resiste a isto como seu maior medo. E assim ela
está livre para mudar de forma, e mudar de novo.”
Ficamos em silêncio, nós três, ao fim da história do velho. Sinto o calafrio da noite passar por mim. Está mais frio do
que eu esperava. Olho para Mei, mas ela está olhando para o fogo, ou talvez para as sombras perto dele.
O velho põe sua bengala no chão e se levanta. Colocando seu copo vazio próximo ao fogo ele sacode o cobertor em que
estava sentado. “Obrigado de novo por sua hospitalidade,” ele diz com sorriso jovial. “Melhor eu ir agora. Tenho uma boa
distância para viajar ainda, e não quero me atrasar.”
“Oja-san, não ficaria mais um pouco?” Pergunto, levantando-me com ele. Sinto-me um pouco frustrado. “Está tar-
de. Você pode dormir aqui e continuar pela manhã.”
“Não, não estou cansado agora,” ele diz. “Seguirei meu caminho. Obrigado de novo.” E então ele sai pelas árvores e
ruma para a estrada. “Boa jornada,” ele grita enquanto vai.
Minutos se passam preenchidos pelo som dos grilos entoando suas canções, despreocupados dos juízos dos homens.
“Sinto como uma criança que foi largada sozinha no escuro após os adultos irem embora,” diz Mei suavemente en-
quanto ela se enrola em seus cobertores.
Entendo perfeitamente o que ela quer dizer.
Item 21
A trilha que seguimos continua a nos levar pelas estradas principais. Ocasionalmente, ela some. Então, quando espero
voltar e tentar voltar, um novo sinal aparece. Estivemos viajando pelo território do Escorpião e estamos quase na fronteira
que dividem com o Caranguejo. Os guardas no último posto estavam num humor especialmente bom, e recentemente
passamos por uma unidade de samurais vindo na direção oposta. Eles pareciam em bom ânimo, apesar do cansaço e
abatimento. Temos mais um posto do Escorpião para passar, e estava determinado a perguntar o que estava havendo.
Nossas viagens foram tranquilas. Perguntei mais a Mei sobre a zarabatana, e de como ela sabia usá-la. Ela explicou
que enquanto trabalhava como serva numa casa de geishas, um visitante Shosuro deixou para trás um objeto similar. Uma
das mulheres lá, uma Escorpião, era familiar a ele. Ela explicou seu uso a algumas outras garotas, incluindo Mei, por
diversão. Ela me garante que são extremamente simples e precisas, motivo pelo qual ela a escolheu como primeiro recurso na
sala enfumaçada. Por alguma razão, não estou totalmente convencido. Quando disse isso a ela, ela respondeu que se estivesse
mentindo, eu não saberia. Desde então, deixamos o assunto descansar.
O próximo posto aparece à vista quando subimos uma colina baixa. Nos aproximamos e posso ouvir o coro fraco de
uma canção feliz vindo do prédio baixo onde os guardas estão alojados.
Quando nos aproximamos, um guarda nos saúda. Apresento meus documentos, e ele os examina de perto antes de
devolvê-los com um sorriso feliz.
“Indo ver o Caranguejo, é?” Ele ri. “Você os verá de mau humor, aposto!”
“Arrasadas é mais provável,” diz um dos companheiros do homem. “Juntem-se a nós pelo sakê antes de irem àquele
lugar miserável.” Ele passa copos para mim e Mei com um sorriso.
“Presumo que seu bom humor e o mau humor deles está relacionado?” Pergunto, aceitando o copo.
“Bom palpite,” ele responde. “Por meses, os tolos disputaram terra que era claramente nossa. Então reunimos uma
força e tentamos retomá-la, e ontem eles falharam — miseravelmente. Destroçamos eles até em casa!” Ele se serve mais
sakê enquanto relata os eventos, então checa para ver se nossos copos estão vazios. Vendo que não, ele guarda a garrafa.
Mei e eu demoramos para repousar nossos pôneis. Nossas provisões já estão bem estocadas, e nos despedindo dos vigias,
continuamos em nosso caminho. Um pouco depois, passamos por uma unidade retornando da batalha. Eles carregam um
dos camaradas numa maca improvisada, mas de outro modo pareceriam em boa forma. Eles nos saúdam agradavelmente
quando passamos. É a última porção de felicidade que vemos.

Item 22
A terra tem sido campos e planícies pelos últimos dias. Mas ao passar pelas terras do Caranguejo, entramos num breve
trecho de floresta. É difícil agora ver os rastros na luz fraca que se filtra pelas copas. Para dificultar mais, a estrada está
muito movimentada pela passagem de guerreiros. Faz duas horas desde a última pista, a escuridão está aumentando.
começo a me desesperar que possamos ter perdido nosso alvo depois de tudo, quando um movimento súbito nas árvores
chama minha atenção.
“Não se mova,” diz uma voz dura quando me viro para ver no que tropecei. O som aumenta quando quatro
Caranguejos armadurados saem. “O que vocês fazem aqui?” Exige o líder.
“Estamos de passagem.” Mantenho minha voz calma, apesar da eminente ameaça na dele.
“De passagem para onde? Fazendo o que?” Ele rosna.
Os três samurais atrás dele se aproximam, ameaça em suas posturas.
“Estou aqui em minha capacidade como magistrado da família Kitsuki. Isto é tudo o que lhe concerne.”
“Acho que são espiões,” grunge um dos homens à esquerda do líder.
“Acho que são problema,” ecoa outro.
“Já chega de problemas aqui,” responde o homem na frente, assentindo lentamente. “Não precisamos de mais.”
Sua mão direita se move um centímetro, e sacamos nossas katanas ao mesmo tempo. Os outros três Caranguejos
formam um círculo, mantendo Mei fora. Eles não interferem, mas posso senti-los se aproximando nas minhas costas, um
empecilho ao meu movimento. Isto deu errado bem rapidamente. Estou olhando diretamente nos olhos de meu oponente, e
há algo lá além da crueldade de um valentão. Há medo, e bem lá no âmago, raiva. Sinto o ar se mover antes de vê-lo vir;
dou um passo à direita para que seu primeiro ataque passe por mim seu lado é brevemente exposto. Corto e me aproximo,
mas ele se vira mais rápido do que esperava, bloqueando meu golpe. O que piora as coisas é que não posso dizer se ele só
desafia minha habilidade ou quer me ferir.
“Parem!” O berro quase me ensurdece. Ele vem de algum lugar à minha direita, embora pelo volume, pensei que viesse
bem do meu lado. Meu oponente recua com respeito, obedientemente caindo em um joelho. Os outros três fazem o mesmo,
baixando suas cabeças. Diante de mim quando me viro está um homem mais velho, mas ainda em forma. Sua armadura e
ornamentos o declaram como um general. Ele anda para frente, e me curvo até a cintura em respeito à sua posição. Ele
baixa sua cabeça para mim, e então se refere aos Caranguejos com quem lutei.
“O que é isso?” Ele pergunta. “Vocês nos desonram atacando viajantes em estradas públicas agora?”
“Não, meu senhor,” diz o samurai, com a cabeça ainda baixada.
“O que então os provocou a tal ação?” O general tem o olhar que é quase, mas não muito, cansado além da raiva. “Por
que razão você saca sua espada contra um homem solitário e sua serva?”
“Meu senhor, pensamos que eles poderiam ser espiões do Escorpião,” cospe um dos outros homens.
O olhar do general recai sobre ele, e há um fogo naqueles olhos que queimam a alma do homem. “Ainda assim,” ele diz,
sua voz é baixa, “Vocês deixaram a garota em suas costas. Um risco perigoso se ela é o que vocês suspeitam.”
Eles parecem envergonhados. O homem com quem lutei se vira para mim e se curva bem baixo. “Me desculpe,” ele diz
em sua voz grave, mas agora ela está cheia de humildade.
“Nosso reforço chegou,” diz o general. “Reúna os outros e vão para o vilarejo.” Ele então se vira para me olhar e,
mesmo sem a fúria me sinto desconfortável. Como uma criança repentinamente repreendida, me vejo tentando me lembrar
se fiz algo pelo qual pudesse ser repreendido.
“Sou Hida Misogi. Espero que aceite minhas desculpas. Por favor aceite a hospitalidade de nossa vila. Entendo que
não posso recompensá-lo por seu problema, mas espero que permita me desculpar.”
“Meu nome é Kitsuki Kaagi, e estou honrado por sua generosidade, Misogi-san. Na verdade, saudaria o conforto de
um teto e paredes para a noite.”
A oferta do general é mais conveniente do que ele percebe, pois enquanto ele falava, notei o primeiro sinal de nosso alvo
desde um longo tempo. Na terra fofa ao lado da trilha está a leve e mínima pegada do sapato macio que estive seguindo todo
este caminho.
Estou tão preocupado por um momento, que quase perco o interessado levantar de sobrancelha do general quando digo
meu nome. O general é um homem grande. Largo de ombros e substancial como um todo, ele tem uma face larga e
semblante composto vastamente de ângulos fechados. Sua postura é digna apesar de sua óbvia exaustão. Sua armadura está
bem gasta, mas igualmente bem cuidada.
“Kitsuki, não é?” Ele pergunta quando seguimos. “Você é treinado nas estranhas ciências de sua família?”
“Sou um magistrado, se é o que quer dizer.”
“Pode ser a fortuna de fato que o trouxe até nós então, Kaagi-san. Fomos alvos de estranhas circunstâncias
recentemente, e um homem de suas habilidades únicas pode ser exatamente do que precisamos.”
“Como posso ser útil?” Pergunto, minha curiosidade foi despertada.
“Explicarei com o tempo,” ele diz. “É uma longa história, e não é agradável. Esperarei até depois do jantar.”
Caminhamos um pouco mais antes de ele dizer: “Peço de novo para perdoar meus homens. Eles estão cansados,
exaustos pela luta recente com o Escorpião. E estão um pouco afetados pelos outros problemas que mencionei. Acima de
tudo,” ele diz com um tom cauteloso em sua voz: “Há boatos de esta floresta ser assombrada por um fantasma ambulante.”
“Mesmo?” Digo, tentando conter o ceticismo em minha voz.
Pelo olhar que ele me lança, sinto que falhei. “Dizem que uma figura branca foi vista pulando pelas árvores numa
velocidade que mortal algum pode igualar. Dizem que ela desaparece do nada na primeira brisa forte ou se algum homem
tenta interceptá-la. Temo que a questão tenha afetado terrivelmente suas mentes, já que quando o encontraram, um
antagonista sólido, estavam mais propensos a agressões aos que aparentemente são homens de honra.”
“Creio que eu entenda, Misogi-san,” eu digo.

Item 23
Chegamos no vilarejo em cerca de um quarto de hora. Vejo mais um traço da pista que seguimos no caminho, e então
mais nada. Quando chegamos, somos saudados na casa do general com comida e bebida. O calor do fogo é bem-vindo
depois do frio e umidade da noite. Suspeito que a chuva chegará esta noite, tornando duplamente feliz que tenhamos um
lugar coberto para passar a noite. Temo, porém, que ela apagará todo rastro do homem que estivemos seguindo. Depois do
jantar, relaxamos um tempo na sala frontal da casa do general. Eventualmente, minha curiosidade me vence: “Misogi-san,
sobre o que discutimos antes…”
O general parece levado a uma leve revelia. “Sim, suponho que haja tempo para isto. Eu disse que a história é longa, e
ela é, mas tentarei mantê-la concisa. Não direi que ela também é assustadora, uma história sombria por inteiro.” Ele se
senta confortavelmente, erguendo seu copo de sakê, ele sorve um gole lento.
“Recentemente tivemos problemas com o Escorpião sobre terra que esteve em disputa. Era parte do território do
Escorpião originalmente, mas foi cedido ao Caranguejo como presente por alguma ajuda que lhes prestamos nos anos
passados. Só recentemente firmamos um antigo acordo, mas eles negaram nossa tese. Foi resolvido resolver a questão pela
força dos braços, ontem ao amanhecer. Além disso, um de nossos melhores generais recentemente retornou de um dever nas
Terras Sombrias com sua unidade. Poucos sabiam de seu retorno. Planejamos colocá-los numa posição da qual pudessem
chegar no ponto crítico da batalha.”
“Ninguém sabia de nada até que a unidade não conseguiu chegar. Sem eles para manter uma área aberta nas linhas
do Escorpião, dois de nossos grupos foram separados do resto. Os outros estavam confusos, tentando reagrupar. Foi uma
bagunça. O Escorpião, acostumados com a terra, nos destruíram. Quando terminou, enviamos homens para encontrar
nossa força principal. Encontramos um caos ensanguentado. Foi um massacre. Só quatro de nossos vinte e cinco
sobreviveram. Dois, incluindo o general, estavam seriamente feridos. Outro samurai estava caído. O único intacto era um
jovem bushi, quase um garoto, ainda em treinamento. Ele foi feliz o bastante para estar fora buscando água quando
aconteceu.”
“Pelos relatos dos sobreviventes, eles estavam terminando o jantar e planejando se recolherem para a noite. Um de
nossos homens, Hida Boti foi checar outro, Hida Dasan. Dasan havia comido pouco e havia ficado quieto a noite inteira.
Boti provavelmente se preocupou que ele estivesse doente e não estivesse capaz de lutar no dia seguinte. Dasan virou-se para
ele, katana sacada, e partiu o outro ao meio antes que ele tivesse qualquer chance de agir. Então, katana numa mão e
wakizashi na outra, ele prosseguiu abrindo seu caminho entre seus companheiros, homens que lutaram lado a lado por anos.
Ele matou dezesseis antes de ser derrubado. Mais cinco morreram dos ferimentos antes que a ajuda chegasse.”
Ele olha para mim, e suspeito que alguns no grupo possam ter-lhe sido bem estimados. “Dasan e o resto de sua unidade
foram checados quando voltaram das Terras Sombrias para ver se portavam a Mácula. Os shugenjas da Muralha
disseram que não. Talvez o horror do lugar tenha afetado sua mente e finalmente a tomado, mas Dasan é bem experiente.
Ele serviu em três missões nas Terras Sombrias, incluindo esta última, e nunca mostrou qualquer sinal de ter pernas de
Garça. Há uma terceira noção que me ocorreu, porém. E é por isso que pedi sua ajuda.” Ele pausa para me lançar um
olhar bem profundo.
“Ouvi,” ele continua, “que o Escorpião tem drogas que fazem um homem se enfurecer. E ouvi que os magistrados
Kitsuki têm conhecimento similar de tais coisas, mas mais honra do que o necessário para usá-los. Poderia me dizer se tal
coisa ocorreu com Hida Dasan? E como isto pode ser realizado?”
Pauso por um momento para reunir meus pensamentos. “Posso ser capaz de discernir tal coisa,” inicio, “se pudesse ver o
corpo, e dependendo do que foi usado. Ervas têm uma qualidade mercurial. Algumas somem pouco após a ingestão, não
deixando rastro. Outras deixam sinais. Nunca ouvi falar de uma que funcionasse como a que descreveu, mas usarei meu
conhecimento e treinamento para ver o que posso encontrar, se é o que deseja.”
“É. Há um problema com o corpo, porém. Como disse, os shugenjas na Muralha procuraram pela Mácula e nada
encontraram, mas depois do que ocorreu, não bastou para o povo de lá. Portanto, outros shugenjas vieram e estão realizando
um ritual que revelará uma visão mais profunda do coração e mente de Dasan. O corpo é uma parte do ritual, e eles
terminarão em mais dois dias. Entendo que não tenho o direito de pedir isto, Kitsuki Kaagi-san, mas você ficaria até lá, e
investigaria a questão?”
Lanço um olhar para Mei no primeiro ribombar de trovão que vem de cima. Suas sobrancelhas se erguem e ela
inclina a cabeça para a janela, além de onde a chuva desaba. Parece que vai ser uma longa tempestade.
“Misogi-san, eu vou.”

Item 24
“Então foi ideia sua, ou dele, nós ficarmos na casa do lunático até a hora de vermos o corpo?” Pergunta Mei
agradavelmente quando levamos nossas coisas para a sala externa da casa de Hida Dasan.
“Pareceu um bom lugar para começar. Talvez, se houve um veneno, ele tenha sido administrado aqui. Ou talvez haja
algo mais. Você preferia dormir debaixo das árvores?”
Mei abre sua boca para responder, e então para quando duas servas de Hida Kohi, esposa de Dasan, adentram a
câmara. Uma se movimenta apressadamente para segui-la, presumidamente para a sala de visitas, enquanto a outra leva
Mei aos aposentos de servos.
“Lamento muito,” murmura a mulher que estou seguindo. “Trago as desculpas de minha senhora por não recebê-lo em
pessoa. Ela não está bem.”
“Entendo,” digo, sorrindo. A mulher parece tão nervosa que pode se ferir com tamanha ansiedade.
“Aqui,” ela diz, “este é o quarto de hóspedes. Há algo mais que possa trazê-lo?”
“Há toalhas para o banho?” Pergunto.
“Sim! Absolutamente. Toalhas e sabão. Gostaria que chá fosse levado para você lá?”
“Não, obrigado, ficarei bem.” Então, por ela ainda ficar de pé na porta: “Obrigado, estou bem.” Ela insiste mais um
momento, e então se curva enquanto sai da porta, deslizando o painel por trás dela.
Demoro-me no banho, aproveitando a água quente ainda mais pelo ar frio que se filtra pelas tábuas da parede.
Quando me retiro, me vejo relutante em dormir. Repousei-me em meu futon, ouvindo a chuva e vendo as sombras
provocadas pelo tremor de minha vela. A chuva ainda bate no teto, e na terra lá fora. Quando a fadiga cai sobre mim, o
som se reduz a um baixo sibilo.
As sombras parecem se mover mais fluidamente do que antes, e na escuridão da minha mente, sou lembrado de uma
peça de sombras que vi quando era criança. Artistas viajantes visitaram a casa de meu pai e apresentaram uma história
para nós onde sombras provocadas por recortes de papel dançavam sobre uma cortina e interpretavam pequenas cenas.
Meus olhos estão quase fechados de sono quando vejo elas se acumularem na janela na parede esquerda da minha cama.
Elas se amontoam lá, indo e vindo ali, como uma mulher dançando.
Eu acordo com o som da voz de um jovem garoto, gritando fortemente. Minha katana está pronta em minha mão,
mas nada além de mim parece ameaçar. Ouço de novo. Sem voz. Nem ouço movimento algo em lugar algum da casa.
Certamente alguém mais, pelo menos Mei, deve ter ouvido, a menos que minha mente esteja pregando peças em mim. Me
movo à janela e olho, tentando ver nas trevas. O único movimento é a chuva. Relutantemente, retorno a minha cama.
Guardo a katana e, por um momento, sinto-me estranhamente nostálgico olhando à chama da vela. Lembro que nossa ama
costumava deixar uma vela acesa no quarto onde meu irmão e eu dormíamos. Um vento frio sopra pela sala de repente e a
luz se vai.

Item 25
Em meu sonho, pois estou bem certo de que é um sonho, vejo meu irmão escalar a janela estreita de meu quarto. Ele se
senta no chão perto da minha cama e espero um longo tempo para ele falar. Finalmente, ele diz: “Me desculpe por deixá-lo,
Kaagi. Não foi certo. Éramos jovens. Pensei que pudesse melhorar as coisas, o que houve a nossa família. E se pudesse, então
você não teria que fazê-lo.”
Sinto a ferroada de uma antiga culpa. “Eu nunca de fato tentei,” digo, minha voz é apertada.
“Eu sei,” ele diz. “Provavelmente é melhor assim.”
Estou olhando para o espaço onde ele estava, mas há apenas sombras e trevas lá. Olho em volta e vejo que estou sentado
numa árvore caída, longe de um homem que de algum modo estou certo de que é Hida Dasan. Em nossa volta há os corpos
caídos do resto de sua companhia. Nos tratamos solenemente por um tempo, e então ele diz: “Me desculpe por você ter
vindo.”
“Vou provar que você foi envenenado?” Indago.
“Não no corpo. Não de um modo que você reconhecerá. Ainda. Por isso eu sinto muito, por…” E ele hesita, então ele
estende o braço para a carnificina o nosso redor, “… Por tudo isso,” ele termina, mexendo sua cabeça lentamente.
“Você irá para casa agora?” Pergunto a ele.
“Nenhum de nós vai para casa depois de um ponto,” ele responde. “Eu e você fomos longe demais.”
Ele parece triste, uma ruína sangrenta de homem. Ele está coberto pelas tripas de seus amigos, mas seu
arrependimento parece maior que qualquer um de seus ferimentos, como se visse uma vida de tristeza ao invés de um
momento de tragédia. Ele está calmo e se senta enquanto fala comigo em tons calmos, assim como eu.
“A loucura deixa você às vezes, depois da morte.” Ele assente para mim, respondendo a meus pensamentos. “Temo que
irá retornar, porém. Pareço não conseguir encontrar saída daqui. Procuro por minha mãe e meu pai para me levar aonde
preciso ir agora, mas só posso encontrar minha esposa.”
“Eles o queimarão logo,” digo, tentando ser firme. “Talvez isso ajude.”
“Espero que sim,” ele diz, assentindo. “Você tem que ir agora. Acho que ela está voltando. Minha loucura, minha
vida.”
Me levanto e começo a trilhar o caminho que sei que me levará até minha cama. Atrás de mim, ele começa a vociferar
incoerentemente, como uma fera em dor. Penso na janela de meu quarto e estou lá. Algum tempo depois e abro meus olhos e
o sol está brilhando pela janela. A luz é cinzenta, mas a chuva parou.

Item 26
Me levanto e me visto, e então vou à sala principal. Mei já está lá, falando com um jovem samurai.
“Este é Hida Kurusu,” diz Mei, sorrindo quando assente para seu companheiro. Ela está vestida como uma garota
comportada ao contrário do kimono de camponesa que ela usa quando viajamos. O jovem samurai se levanta quando me
aproximo e se curva respeitosamente. Sua face tem a esperança afoita da juventude, mas seus olhos, quando os ergue, são
sombreados como alguém que viu demais, cedo demais.
“Sou Kitsuki Kaagi,” digo, retribuindo a reverência.
“Kurusu-san estava sendo treinado por Hida Dasan,” diz Mei puxando assunto. Mas seu olhar para mim de
maneira alguma é trivial. Assinto levemente quando Kurusu olha para seu chá.
“Você mora aqui, Kurusu-san?” Pergunto, a bolsa dele está no canto da sala.
“Sim. Fui pupilo de Dasan, e não deixarei sua casa e esposa indefesas agora que ele se foi.” Há uma intensidade em seu
olhar, uma amarga determinação.
“Os outros que moravam aqui estão bem?”
“Quatro dos homens, sim. Mas eles se foram,” ele responde. A casa de um homem desonrado não é lugar popular para
jovens samurais que querem criar fama. Por um momento, imagino se Kurusu entende o mal que faz a si mesmo ficando
aqui, mas olhando para a determinação expressa em sua mandíbula e ombros, percebo que ele entende precisamente.
“Kurusu-san, há perguntas que gostaria de fazer, mas não nesta casa. Você falará comigo?” Pergunto.
“Certamente,” ele responde. “Gostaria de comer primeiro?”
“Não, obrigado. Não estou com muita fome.” E é verdade.
Nos levantamos, passando pela pequena entrada da casa. À frente há uma passagem estreita, três passos pelo chão. As
trilhas ainda estão enlameadas pela noite passada. Kurusu lidera, e Mei e eu o seguimos a uma pequena ponte de pedras que
cruza um rio estreito que divide o vilarejo dos campos de arroz adjacentes. A ponte, pelo menos, não está coberta de lama.
Paramos lá e Kurusu se vira para mim.
“Venho muito aqui,” ele diz. “Isto servirá para sua conversa?” Ele parece cauteloso, mas bastante cansado.
“É muito bonito,” digo, movendo-me ao seu lado. Mei se move ao lado oposto onde observa calmamente a trilha. Você
dificilmente saberia que ela está lá se não estivesse procurando por ela. Mei é especialmente boa nisso. “Creio que você era
próximo a Hida Dasan.”
Kurusu respira fundo. “Meu pai,” ele começa, “está servindo na Muralha Kaiu. Ele tem estado lá desde que minha
mãe morreu. Não acho que ele vá querer estar cercado de nada civilizado agora que ela se foi. Ele me enviou para cá para
aprender bushidô porque achou que a Muralha não era para alguém da minha idade. E assim fiquei aqui com Dasan-
sama, aprendendo dele os caminhos da honra e dos homens.”
“O que aconteceu.” Em meu tom mais diplomático, “Previamente, você esperava?”
Ele ri de novo, desagradavelmente. “Você tenta falar delicadamente de algo brutal, meu senhor. Mas não, nem por
um momento pensei que Dasan-sama fosse tão atribulado para fazer tal coisa. Jamais pensaria nele como capaz. Se não
tivesse visto, não acreditaria. Mesmo se a fonte fosse o próprio Imperador.”
“Ele estava atribulado? Não tanto para predizer sua ação, mas atribulado mesmo assim?”
“Sim. Ele estava bem quando retornou pela primeira vez das Terras Sombrias. Ele era solene, como muitos homens
são. Ao invés de ficar mais agressivo, porém, ele parecia ficar mais apreensivo. Ele me confidenciou que sentia desconfortos,
quase um medo, em partes do dia e da noite. Ele era infestado por sonhos maus. Ele não podia se lembrar deles, mas dizia
que acordava quase seis vezes à noite, sentindo que escapara por pouco.”
“Quando o tempo passou, ele parecia se tornar cada vez mais atormentado. Seu apetite diminuiu. Sua paciência
encurtou, acho que por causa de sua falta de repouso. Ele disparava palavras duras a membros de seu séquito. Kohi-san
suportou tudo com grande dignidade. Ela sorria e tolerava. Mas as servas não aguentavam e até alguns dos homens
começaram a ser afetados por seu humor.”
“Alguns dias atrás, viemos aqui conversar, ele e eu. Ele estava perturbado por algo. ‘Há uma grande loucura em mim’.
Foi o que ele disse.”
“Acho que está voltando,” disse o Dasan de meu sonho, “Minha loucura, minha vida.” Ou Dasan teria dito “Minha
linda?” De repente, não consigo me lembrar.
“Dasan disse para mim: ‘Noite passada eu fui para a cama. Kohi e eu conversamos. Sentei-me na cama, e disse a ela
duramente que não gostava do modo que suas servas se comportaram, sempre se intrometendo, como se fossem ratos ouvindo
nas portas. Disse a ela para controlá-las melhor. Ela disse que só eram atenciosas, tentando ver minhas necessidades. Me
enfureci e disse a ela podia cuidar das minhas próprias necessidades e as mulheres dela deviam cuidar das delas. Ela
concordou agradavelmente, e então me virei para ela. Ela não tinha face quando olhou para mim, cabisbaixa. Sem face. E
então, a não face sorriu para mim. Não posso explicar, mas era a coisa mais horrível que já vi. Pensei em correr do meu
quarto como que em terror mortal. Mas a próxima coisa de que me lembro é que acordei em minha própria cama e era de
manhã. Não sei o que fazer. Não posso olhar para ela agora, pois temo que a veja de novo sem face.’”
Kurusu olhou para mim, uma tristeza clemente em seus olhos. “Ele estava tremendo e suando como um homem em
febre. Mas quando o toquei, sua pele era fria. Quando o chamado veio para nos prepararmos para a batalha, disse a ele que
ele deveria ficar, mas ele disse que não ficaria naquela casa. Ele disse que iria à batalha e seria um homem, não ficaria em
casa, assustado como uma criança. Pensei em ir ao general com minhas notícias. Temi que em seu estado, ele fizesse algo
impensado em batalha. Mas minha lealdade com ele foi forte demais. Não podia envergonhá-lo dizendo o que ele me
contou em confidência para outro. Jamais suspeitei que ocorreria.”
“Não posso ir,” ele diz, olhando para mim com olhos cheios de dor. “Estou dividido. Ela é minha senhora, esposa de
meu senhor, e não posso deixá-la. Mas temo o que Dasan disse. Temo que ela seja uma tsukai. Você entende?”
“Entendo,” digo gravemente. Se ele for a alguém e relatar que suspeita que ela seja uma tsukai, e estiver errado, ele
cometeu uma ofensa mortal. Ele a traiu e a seu senhor.

Item 27
Após deixarmos Hida Kurusu com seus pensamentos, Mei e eu vamos ao general de Dasan. O encontramos em sua
casa, repousando sob cuidados de sua bisneta. Recebemos permissão para vê-lo mas avisado de que ele está sob influência de
ervas potentes sendo usadas para manter a dor suportável.
“Nakai-sama,” digo curvando-me. “Meu nome é Kaagi. Sou magistrado da família Kitsuki e a pedido de Hida
Misogi fui chamado para investigar o que houve com você e seus homens. Se está se sentindo bem, gostaria de lhe perguntar
sobre aquela noite.”
Por um longo tempo, ele olha para mim, seus olhos brilharam. Então seus lábios se abriram com um leve engasgo e ele
começa a falar: “O que… Você… Quer?”
Sua voz é arrastada, seja pelas drogas ou pelo profundo talho que passa pelo lado de sua face. Seu corpo é oculto por
uma coberta, mas posso ver muitas de suas ataduras. Seus dois olhos são fundos e a pele é um roxo amarelado escuro.
“Misogi acha que Dasan pode ter sido Maculado, ou que o Escorpião pode ter usado alguma poção para enlouquecê-
lo. Os shugenjas estão checando o primeiro. Estou aqui para investigar o segundo.”
“Um demônio,” ele coaxa. “Um demônio estava nos olhos dele. Ele…Rastejava como uma serpente… Mas muito
rápido. Nunca vi… Nada… Tão rápido. Me fez esfriar.”
“Como isto…” Começo, mas ele interrompe.
“Eles caíram muito rápido, como granizo numa monção, quebrados e sangrando. Meus melhores homens jamais
sacaram suas espadas. Os ensinei a serem cautelosos, a verem morte em tudo, uma poça d’água, a escuridão entre duas
rochas, o olhar de uma dama. Mas nunca os ensinei a temer seu irmão. Não aqui.” Ele se contorce no lençol. Olho para ver
se a garota está por perto, incerto se devo tentar contê-lo. Seu braço direito sai, o que restou dele. O membro enrolado está
curto demais para estar inteiro.
“Ele estava gritando. Isso foi o pior… A voz era dele e era sã. Mas ele uivava que éramos demônios. Ele dizia que
sabia, que viu nossas faces. E então no fim quando o abateram, ele disse que nos salvara. Que não podia nos encontrar
agora.” Sua voz derrapa, a lucidez some de sua expressão e seus olhos se fecham.
Gesticulo para Mei e deixamos a casa calmamente.

Item 28
“O que você tira disso?” Pergunta Mei quando passamos pelo vilarejo.
“Ele está delirante, claro,” respondo. “Não sei o que tirar do resto. Pelo que ele diz, e pelo que sabemos, Dasan deve ser
incrivelmente rápido para fazer o tipo de estrago que fez.”
“Você acha que ele estava possuído?” Pergunto com um riso. De repente quero colocar leveza no dia. Mas Mei olha
para mim, e então dedica sua atenção à estrada. “Não sei o que o fez fazer isso,” Suspiro. “Os shugenjas terminarão seu
ritual amanhã. Eles saberão se ele tinha a Mácula.”
“Eles saberão se ele estava sob um feitiço de tsukai?” Ela sussurra distantemente, virando seus olhos ao céu enegrecendo.
“Não sei. Acho que terei que pensar num outro meio de perguntar.”
Mei e eu voltamos à casa de Dasan. Chegamos quase junto com a chuva. As servas já prepararam o jantar e o servem
com a ansiosa atitude de ratos esperando o gato voltar. Novamente, Hida Kohi não se junta a nós. As mulheres se
desculpam profundamente por ela quando servem o chá.
Kurusu chega no meio da refeição, triste e molhado. As mulheres estão mais relaxadas quando o servem.
Familiaridade, suponho. Sua face é sombria e ele põe sua comida sem comer. A casa tem toda a alegria de um funeral.
Após a refeição ser levada, Kurusu vai à bancada e se senta olhando a chuva, como se observasse algo mais sair da
escuridão.
Detenho Mei quando ela vai ao quarto dos servos. “Amanhã saberemos de algo. Não ficaremos outra noite se tudo der
certo.” Vejo pela sua expressão que o humor a afetou também.
“Não seria tão esperançosa,” ela diz com um mover resignado de sua cabeça. “Nada parece muito bem nesse lugar.”
Um pouco do cabelo de sua face caiu, e ela não se incomodou de prendê-lo de volta. Distintamente Mei. “Veremos que
podemos achar amanhã.” Ela assente, e então vira e se vai pelo corredor.
“Mei,” chamo depois dela. Ela para. “Esqueci de perguntar. Você gostaria de dividir o quarto com suas amigas
servas?” Inclino minha cabeça em direção à cozinha apontando para as servas de Kohi.
“Como esquilos vivos nas paredes,” ela diz triste. “Vou tomar um banho bem longo e espero que elas já tenham dormido
quando eu voltar.”
Então partimos. Me sento um pouco em meu quarto, registrando este diário, cuidando de minhas espadas.
eventualmente, ouço Mei no corredor, retornado do banho. Seu passo é familiar, quieto e apressado.

Item 29
Tiro as coisas de minha cabeça na câmara de banho. Demora um pouco para tirar a teimosa lama de onde ela
espirrou em meus pés e pernas. Em seguida, me reclino na banheira. A água é quente, vapor sobe no ar. Posso me sentir
começando a boiar. As palavras de Kurusu voltam a mim, relatando a história de Dasan sobre enlouquecer, sobre olhar
para a esposa e vê-la sem face, parte da escuridão maior. Então me lembro da voz de Dasan em meu sonho: “Está voltando.
Minha loucura, minha vida.” Ou ele teria dito: “Minha linda”? Por que não consigo me lembrar, ou sequer registrar isto?
Não está certo, eu deveria ser capaz de me lembrar mesmo dos meus sonhos com esforço suficiente.
‘Ela não tinha face.’ Dessa vez não Kurusu ou a voz do onírico Dasan. É o general abatido, e imagino o que houve
com seu braço. Se eles encontraram o resto dele. Eles o enterraram, ou ainda está perdido nas matas, na lama e na chuva.
Estariam as aranhas rastejando nele agora…
Algo se move em minha perna na água…
Estou de pé num raio antes de sequer perceber. Salto da banheira, atirando água para todos os lados. Não há nada
em minha perna, mas não posso ver através da superfície da água na sala escura. A única luz vem de minha lâmpada na
parede e a vela que trouxe comigo. Minha katana está no meu quarto. Estúpido, num lugar onde nem sequer confio. Não sei
como pude ter sido tão relapso.
A porta se escancara e agarro a única coisa à mão, a vela, girando para enxergar a forma na entrada. Os ombros são
largos e não posso ver a face.
“O que é?” Vem a voz de Kurusu, rápida e com força.
Por um longo momento sinto um tipo de vertigem, como se a sala parecesse girar toda de uma vez à minha volta, então
volta a repousar, lentamente se estabelecendo. A face Kurusu está lá, apenas obscurecida pela luz trêmula. Seu rosto está
preocupado. “Ouvi você gritar,” ele diz.
Não me lembro de gritar, mas posso tê-lo feito. “Senti algo, na banheira,” digo. “Era grande se movia pela minha
perna, como uma serpente.”
Em seu crédito, Kurusu não me questiona. Ele só vai até a banheira e a olha cautelosamente, ignorando minha nudez.
Ele foi bem treinado. Kurusu se estica e puxa pela beirada. A água escorre pelo piso e pelos nossos pés. Ela seca rápido, e nós
dois olhamos o fundo aparecer. A banheira está vazia. A lenta exalação de Kurusu reflete a minha. Ele se vira para mim,
prestes a falar, e para. “Sua mão,” ele diz.
Olho para baixo e percebo que ainda estou segurando uma vela acesa, a cera escorre sobre meus dedos. A abaixo
rapidamente, mas posso sentir a dor da cera quente. Kurusu aparece com um balde de água fria da mesa e derrama na
minha mão, esfriando o que resta da cera. Com minha mão boa, puxo meu kimono. Flexiono minha outra mão, sentindo a
cera rachar e quebrar. Começo a tirar os pedaços, com dor. “Havia algo na banheira,” digo sem olhar para Kurusu.
“Não duvido,” ele diz numa vez sem humor. “Não duvido que nada possa acontecer nesta casa.”
O sigo pelo corredor. “Posso?” Ele diz quando chegamos à porta de meu quarto.
“Claro,” respondo. Nós dois entramos quando ele desliza o painel atrás de nós.
“Depois que partimos hoje, fiquei um pouco na ponte”, ele diz. Ele olha para mim enquanto fala, mas a luz de vela
reflete na lâmina de minha wakizashi. “Não sei por quanto tempo fiquei lá, mas algo se mexeu entre as rochas na margem
abaixo e chamou meu olho. Me pareceu suspeito, então fui olhar.”
Ele para agora, olhando para o teto. Há um olhar de dor nos olhos que faz minha respiração agarrar na garganta.
“Lady Kohi tinha um rouxinol que Dasan trouxe da corte como presente de casamento. Não o via há dias, ou pensei nele até
hoje. Mas estava lá, morto entre as rochas, sua cabeça estava virada.” Ele olha para mim com um desespero que não posso
consolar. “Como isso pode acontecer exceto por feitiçaria? Magistrado, devo esperar enquanto uma bruxa mata meu mestre
e amigo?”
“Não sei, Kurusu-san,” mexo minha cabeça lentamente. “Acho que feitiçaria é raro, mais do que creem os homens. E
creio que é fácil culpar o que não conhecemos sobre o que nós não entendemos. Talvez, o pássaro escapou e, estando
desacostumado à natureza, encontrou algum obstáculo.”
“E há um momento atrás? Você encontrou algum obstáculo no banho?” Não há humor na voz ou face do garoto,
ambas envelheceram muito rapidamente.
“Não sei. Verei o corpo de Dasan amanhã. Esta noite, creio que devemos esperar.”
“Você é um homem de sabedoria, Kaagi-sama,” ele diz. “Não sei que outra explicação pode haver, mas esperarei até
amanhã se disser que devo. Mas amanhã à noite, saberei o que é verdade e o que não é, ou agirei. É tudo o que sei como
fazer.”
Ele desliza o painel quietamente, indo embora. Sinto como se tivesse falhado com ele, mas não sei o que mais eu poderia
fazer.

Item 30
Não sei o quanto dormi quando ouço a porta de meu quarto se abrir de novo. Deito-me parado por alguns momentos,
esperando meus olhos se ajustarem à cálida luz das estrelas passando pela janela. A forma em minha porta não é alta, e
posso ver a curva de um corpo de mulher sobre o longo kimono. Em meu sono, acho que a vi sorrir, mas está muito escuro
para isso.
“Mei? O que é?” Digo, me sentando.
“Esquilos,” ela responde, “nas paredes.”
“As servas não vão se perguntar aonde você foi?”
“Não. Elas falam enquanto dormem. Conversam, falam, tagarelam.” Ela se move mais perto ao meu futon, passa por
onde a luz fraca da janela a toca. “Pensei que você talvez não conseguisse dormir também.” Há um estranho tom em sua voz,
como se ela estivesse rindo de uma piada que não entendo. Ela se senta, movendo-se bem devagar. Seu cabelo está solto, e
passa por minha mão queimada, sedoso e frio como água.
“Estou dormindo,” digo, me sentindo como um tolo.
“Você está dormindo agora?” Sua mão se estende, passa pela minha perna.
Parece aquela coisa no banho.
Eu salto, tirando-a de minha cama e agarrando minha wakizashi de onde ela está na mesa baixa. Posso senti-la
rindo, mas não faz som. Quero mais luz, mas preciso soltar minha lâmina para acender uma vela. A iluminação do exterior
é leve, mas posso ver agora que a silhueta diante de mim está errada para ser a de Mei. O cabelo é longo demais, o corpo
muito alto, mais esguio.
“Vim por hospitalidade, certificar-me que estão confortáveis,” ela diz. Sua voz é sibilante. Me faz pensar em serpentes,
e ainda posso ver aranhas rastejando num braço mutilado, a mão agarrada ao cabo da katana. Vejo as asas de um rouxinol
em voo, e então Dasan está diante de mim. Um buraco imenso no lado esquerdo de sua cabeça jorra sangue e um fluido
cinza desce de seus olhos; e seu semblante se contorce em raiva e tristeza agoniada, as duas expressões lutam no campo de
batalha da sua face. “Estou feliz por você conhecer meu marido,” diz a mulher. “Acho que vocês dois poderiam ser amigos.”
Sinto um sopro de ar, seguido de uma absoluta paralisia, como se estivesse no olho de uma grande tempestade.
Diretamente diante de mim, Hida Dasan está pronto, sua katana diante dele, ainda pingando sangue e carne de seus
companheiros. Um olhar rápido confirma que estamos na clareira cheia de cadáveres do massacre de Dasan. O fedor dos
corpos sobe até nós e o ar está entupido de moscas. Então, eu ignoro tudo isso e foco no homem à minha frente.
Dasan foi cortado, golpeado e ferido muito seriamente para se levantar, ou assim diz minha mente sã. Mas sua postura
é sólida e sua lâmina, imóvel. Seu olho restante me olha com total determinação e absolutamente razão alguma. Minha
katana está na minha mão e percebo que estou em posição de luta. Quando nos olhamos, o zumbido das moscas e o fedor
somem. Ouço meu próprio coração bater rapidamente, mas descompassado. E posso sentir o dele batendo forte num ritmo
lento. Seu corpo sobe e desce com sua respiração forçada, e um som líquido sai de algum lugar de sua garganta em cada
inalação.
O espaço entre nós vibra com energia, pondo meus nervos no limite. Tento focar através dele, mantendo minha atenção
em Dasan. Então, justo quando estou certo de que tenho que atacar ou fugir da tensão, Dasan solta um grito ininteligível e
golpe sua espada em mim com uma força que parte a rocha em que eu estava um momento atrás. Atiro-me para o lado um
instante antes de ele atingir. Dasan a levanta na minha direção novamente e mal bloqueio sua lâmina desta vez. Meu ombro
fica dormente do impacto.
Ignorando a dor, ponho minha própria espada em torno do mesmo movimento. Ele não se move para bloquear ou
fugir de meu caminho e a katana abre uma linha clara em seu peito. Sangue grosso escorre da fenda, mas a ferida não
impede seu próximo ataque. Tenho que me atirar de novo para evitar ser partido em dois. Quase caio quando meu pé pisa
numa rocha frouxa. Minha espada sai a esmo quando tento bloquear seu próximo golpe. Novamente ela corta sua carne
desprotegida, e novamente ele não parece ligar. Ele anda para frente, sua mão esquerda aberta agarra a frente de meu
kimono. Instintivamente, corto para cima e sua mão é arrancada de seu corpo.
Por um momento, ele para como se estivesse intrigado. Sua mão ainda está agarrada no pano até que a puxo e a jogo
fora, minha pele arrepia. Meu momento de desatenção é tudo que Dasan precisa para se mover para frente de novo,
golpeando para baixo com sua katana. De repente, tenho um plano, e desta vez quando esquivo, me movo deliberadamente à
minha esquerda, erguendo minha katana ao alto. Corto em seu pescoço e de novo ele não se esforça em me deter. Ao invés
disso, ele ergue sua katana para outro golpe. Termino o corte, atravessando o pescoço de Dasan. O corpo decapitado dá mais
um passo manco para frente, e então tropeça e cai. O fedor do lugar vem em outra onda. O mundo gira de novo, e estou
cercado pela escuridão de minha sala vazia com apenas traços leves do ruído da matança em meus ouvidos. Então a
escuridão engrossa, tanto que estou afundando nela, e me sinto caindo para sempre…

Item 31
“Kaagi, você está bem?”
Mei está me chamando em algum lugar.
“Fale se estiver vivo, droga!”
A voz de Mei não é tão profunda assim, e ela não deveria ser forte o bastante para me levantar assim.
Abro meus olhos bem lentamente. De início estou cego pelo brilho. Meus sentidos retornam um depois do outro, como
se esgueirassem de uma noite de devassidão, me vejo face a face com Kurusu. Ele tem uma mão enrolada em meu kimono e
está me levantando. Demora uma respiração ou duas para ter a noção mental de todas as partes do meu corpo e reuni-las.
Os olhos de Kurusu são cheios de preocupação como os de Mei. Posso vê-la sobre o ombro dele, ajoelhada atrás dele no chão.
“Estou bem,” digo roucamente. Minha garganta está seca e apertada, e busco o copo em minha mesa.
“Ficamos preocupados quando não veio para o café da manhã,” ela explica. “E aí está você, desmaiado no chão com
uma wakizashi ao seu lado. Por um minuto, tive medo que você ficou tão entediado com tudo isso que decidiu tirar a própria
vida.” Sua voz é leve, mas seus olhos estão preocupados.
“O que houve depois de eu deixá-lo noite passada?” Diz Kurusu. Sua voz tem um ar desesperado. Desaperto seu punho
de minhas roupas. Ele pisca, então me solta, se senta e solta uma profunda e trêmula respiração. “O que devo fazer?” Ele
pergunta.
Ele não está perguntando para mim, estou certo, mas devo responder de todo modo. “Nada ainda,” digo, pondo-me de
pé. Minhas pernas e costas doem. “Estou indo falar com os shugenjas agora. Não faça nada até eu retornar. Vamos ver se
podemos ter uma noção do que temos aqui antes de decidirmos o que fazer a respeito. Enquanto isso, saia desta casa. Vá
caminhar, passar um tempo com amigos, qualquer coisa menos ficar aqui. Voltarei e encontrarei você.”
Ele olha para mim com uma expressão tonta de um homem empurrado em direções demais, mas assente. Os dois
aguardam fora da porta enquanto me visto. Então nós três caminhamos juntos à cinzenta luz do dia.
“Lembre-se,” digo enquanto partimos, “Voltarei e encontrarei você.”

Item 32
Enquanto Mei e eu caminhamos para a casa de General Misogi, explico os eventos da noite passada a ela, por
inconsciência e companhia.
“Então ela deve ser uma tsukai,” diz Mei. “Qual é o problema? Vamos mandar alguém queimá-la.”
Eu paro, esquecendo como ela pode ser direta às vezes. “E se estivermos errados?” Argumento. “E se há algo mais na
casa, algo que não tenha nada a ver com ela? Aliás, e se eu estiver tendo surtos histéricos? Queimamos a mulher por isso,
sem provas?”
“Você acha que está tendo surtos histéricos?” Pergunta Mei, muito seriamente.
“Não,” respondo honestamente.
“Não te entendo,” ela diz. “A maior parte do tempo você é tão prático, e então com outras coisas, é como se você batesse
numa parede onde seu senso comum deveria estar. Só porque o testemunho às vezes é menos preciso que a prova, você não
deve invalidá-lo. Mas você… Você nem mesmo escuta seu próprio testemunho! O que seus olhos veem, seus ouvidos ouvem;
não é este o ponto?”
“É superstição, Mei,” começo.
“Isso não significa que não seja verdade!” Ela quase grita em frustração.
Parcialmente, ela está certa. Mas muitas decisões erradas foram feitas em nome da superstição, não posso evitar em
sentir que preciso de mais evidência para confirmar ou reprovar isto.
Chegamos na casa de Misogi num silêncio mútuo.
“Estou feliz que chegaram cedo,” diz Misogi. Mesmo relaxado, sua voa ressoa pela casa. “Estava me preparando para
encontrar-me com os shugenjas.”
Nós três caminhamos juntos a uma grande tenda perto do limite do vilarejo. O prédio, explica Misogi, serve como lar e
oficina para os shugenjas do vilarejo, bem como um pequeno oratório aos kamis locais. Misogi bate na porta três vezes.
Esperamos um pouco antes de um jovem garoto atender. Ele se curva, evitando seus olhos, e abre mais a porta, dando-nos
espaço para passar. Então ele nos deixa na pequena e redonda sala frontal. Velas queimam aos montes ao longo das paredes.
O garoto parece não ter mais do que dez, talvez onze. Imagino se ele é filho de um shugenja, ou um empréstimo de alguma
casa que quer agradar os kamis. Meus pensamentos são chamados aos negócios em mãos pelo som de pegadas vindo.
Kuni Yanaka, o shugenja residente, aparece na porta. Misogi o cumprimenta pelo nome e nos apresenta. Yanaka
tem o ar de alguém perpetuamente distraído por algo muito mais interessante que nós. Ele mal olha, mas seus olhos têm uma
intensidade febril. Ele nos leva corredor abaixo até outra sala. Posso sentir o odor acre de enxofre misturado com alguns
outros produtos químicos saindo pelas portas, e me vejo pensando que as velas na antessala, com seu delicado aroma de
jasmim, ajudam a evitar este odor severo.
Quando chego à porta, tenho que me esforçar para continuar na câmara. No centro da sala está o corpo de um
homem, empalado num grande finco de jade. De início, é tudo o que posso ver. Por vários segundos meus olhos, como se de
acordo, se recusam a focar em qualquer outro detalhe, permitindo-me apenas uma vaga sugestão de forma e cor. Então,
minha vista começa a clarear. O corpo do homem repousa numa mesa de pedra mais alta que minha cintura, dois metros de
comprimento por meio metro de largura. Um cone de jade, a base do qual presumivelmente repousa na mesa, sai do dorso
do homem. A jade possui veios pretos; o corpo foi aberto em vários lugares. Os maiores ferimentos foram fechados com fios
pretos. O que inclui uma longa incisão passando pelo tronco e outra pela barriga de um lado ao outro da cintura. Há longas
linhas do ombro ao pulso e da coxa à canela. E há outros cortes, presumidamente recebidos em batalha. O que inclui um
golpe devastador na perna esquerda e outro do lado direito da cabeça. Observo a face do defunto, e reconheço sem surpresa a
face de Hida Dasan como ela me apareceu nas últimas duas noites.
Lentamente, o resto da sala entra em foco. Como a entrada, ela é redonda. As paredes estão repletas de estantes
contendo manuscritos, caixas, jarras e implementos que não posso identificar. Além do general, eu, Mei (que está
examinando o corpo à distância, mas com grande fascínio) e Yanaka, há dois outros homens na sala. Um é um homem
redondo que parece que já foi atlético, mas cujo apetite eventualmente superou seu exercício. Sua face tem uma qualidade
gentil, imperceptível exceto pela pequenez de seu nariz e a largura de seu sorriso dentuço. O outro é vagamente familiar, largo
de ombros, mas de resto todo magro. Suas sobrancelhas são grossas e seus olhos fundos. Seus mantos são os de um shugenja,
mas não gostaria de cruzar espadas com ele.
“Este é Kuni Kabai,” Yanaka aponta para o gordo, “E Kuni Inoba. Eles vieram me ajudar no ritual.” Conheço o
nome de Kuni Inoba. Histórias de famosos caçadores de bruxas me assustavam nos meus antigos dias de aluno, e os contos
do Sombrio Inoda estavam entre os mais impressionantes. Ele certa vez nos visitou na escola, para aprender o que fazíamos
lá. Ele falou conosco sobre os sinais que deve se observar ao encontrar forças sombrias e desconhecidas.
“Então, o que decidiram?” A voz de Misogi comanda mesmo quando faz uma pergunta.
O camarada risonho dá um passo à frente e começa. “Temos, como pode ver,” ele aponta para o corpo, “procurado por
qualquer sinal de que estava infectado pelas Terras Sombrias. Nada foi deixado sem olhar.” Estou impressionado e
assustado por seu senso de humor. “Não há rastro de Mácula.”
“Desculpe-me, senhor,” diz Yanaka, olhando para seu companheiro. “Mas nada que encontramos aqui nos deu
qualquer ideia do que possa ter causado suas ações. Só podemos assumir que ele dever ter enlouquecido.”
Misogi solta um longo suspiro, e se vira para mim. “Magistrado,” ele diz calmamente, “prove se puder que não foi isso.
Diga-me que este homem foi vítima de sua própria mente ou venenos do Escorpião.”
Assinto uma vez, e então me chego ao corpo. Mei anda comigo sem receber o pedido. “Minha eta checará o tecido
macio de seu nariz e garganta,” digo, “e o interior da boca.”
Ela enfia seus dedos, demorando para ter certeza. Então, olhando para mim por aprovação, ela checa os olhos,
erguendo as pálpebras, e nós dois olhamos de perto as órbitas nubladas. “Por já fazer vários dias, não há nada incomum na
textura, cor ou consistência,” ela murmura. Então, olhando para Yanaka, ela pergunta: “Posso?” Quando ela põe o dedo
ao longo das amarras segurando o torso fechado. Ele assente. Leve surpresa corre sua face como um pássaro estranho.
Removendo sua faca, ela corta o tecido. Ao fazê-lo, as dobras da pele caem para os dois lados, revelando as entranhas
de Dasan. “Isto é mais fácil que o normal,” diz Mei. Ela já está distraída. Os órgãos estão intactos, com exceção do coração e
pulmões, que foram arruinados pelo grande finco de jade. A cor está regular. O sangue coagulou como deveria, descendo
para as costas do cadáver. Inclino-me para frente um pouco, inalando levemente. Ao meu gesto, Mei abre o estômago.
Continuamos desta maneira por um tempo antes de eu assentir para Mei que terminamos. Yanaka pensativamente
caminha para frente e entrega a ela um pano para limpar as mãos. Ela sorri e o agradece. Começo a imaginar se esse tempo
todo pensei errado sobre as origens familiares de Mei. A semelhança é incrível.
Virando-me para Misogi, respiro fundo. Posso sentir os olhos de Mei em mim. Aguentei o quanto pude antes de
externar minhas suspeitas. “Faz vários dias, o que dificulta minha certeza, mas não posso encontrar veneno aqui. Porém,”
dirijo meus olhos para Kuni Inoba quando falo o resto, “Tenho razões para pensar que podemos estar procurando no lugar
errado por evidência de feitiçaria das Terras Sombrias.”
“O que sua evidência sugere?” Pergunta Inoba calmamente.
“A esposa de Dasan, Hida Koshi. Penso que ela pode ter contribuído para a loucura de seu marido.” Relato, diante da
sala tenebrosa, meus estranhos encontros dos últimos dias, bem como as suspeitas manifestas por Hida Kurusu. Durante
tudo isto, uma sensação de medo enche meu estômago. Esta sala fechada com seu aroma de morte parece um cenário
estranhamente apropriado para meu sinistro conto.

Item 33
Está chovendo quando saímos. Nós seis andamos em fila na lama grossa. Misogi está na frente, os três shugenjas atrás
dele, eu e Mei por último. Chegamos na casa de Dasan e somos recebidos por uma das servas nervosas. Ela protesta
levemente quando Misogi diz a ela que estamos aqui para ver lady Kohi e que ela deve aparecer. A serva diz que sua senhora
está se sentindo mal, ainda de luto. Misogi, com sua voz que guiou exércitos, a comanda a falar com sua senhora, e ela foge
da sala.
Pelo que parece ser um tempo bem longo, esperamos. Então, o silêncio absoluto é rompido pelos suaves e trôpegos
passos, chegando lentamente pelo corredor central. Hida Kohi emerge do corredor, e minha sensação de incômodo parece
me sufocar por um momento. Isto está errado, mas por tudo de que posso me certificar, não posso dizer o porquê.
Esta é, sem dúvida, a mulher que estava no meu quarto noite passada. Ela é mais alta que muitas mulheres. Seu cabelo
é longo e pesado, chegando até os joelhos, e está amarrado frouxamente no meio de suas costas. Seu semblante é elegante,
mas muito cansado, os olhos fundos em exaustão. Sua postura é rigidamente reta mas parece que ela é mantida
principalmente por pura força de vontade. Sua voz é o tom profundo da noite passada, mas tão dura que é quase rouca.
“Vocês vieram me falar de meu marido.” É uma afirmação, direta, desprovida de emoção.
“Não, senhora,” diz Misogi, rigidamente. “Viemos testar se você é culpada de praticar maho.”
Só seus olhos mudam, brilhando brevemente de raiva. “Não sou.”
Inoba dá um passo à frente. Sua face é impassível, sua voz, vazia, como o som que sai de um poço. Ele pega o pingente
de jade de seu pescoço e o segura pelo cordão. “Pegue o pingente,” ele diz. Ela ergue a mão sem hesitar e o agarra. Seus olhos
se travam; os dele são pedra, os dela, desafio. “Veja,” ela diz, soltando-o e mostrando a palma da mão para que vejamos que
não há queimadura. “Satisfeitos?”
“Não,” diz Inoba. Das dobras de seus mantos, ele tira um fino disco de pedra. Não reconheço o material, mas é cinza
com um folheado metálico. É mais largo que a palma da mão de um homem. Indo atrás de Kobi, Inoba segura o disco
diante de sua face onde ambos possam vê-lo. “Se sua verdadeira forma for outra que não esta, então a forçarei a se
manifestar,” ele diz olhando para o espelho de rocha. Ele entoa sons como uma prece, mas as sílabas são estranhas para
mim. Há uma pausa nervosa e posso ver Misogi e os outros shugenjas se inclinarem para frente em antecipação. Inoba
move a cabeça.
“Ela parece igual,” ele diz. “Não é uma esposa raposa ou hengeyokai. É possível que sua forma externa seja verdadeira
e incorrupta enquanto a sua interior é possuída por uma força maligna.” Novamente Inoba procura em seus mantos. Desta
vez o que ele tira é pequeno, do tamanho de uma semente grande. Quando recebe luz, posso ver que é uma pedrinha de jade
polida. “Você engolirá isto, e se for pura não lhe fará mal e ajudará a protegê-la de males futuros. Se houver um demônio
no corpo desta mulher, seu espírito será queimado.”
Kohi olha com nojo. Ela mexe a cabeça, lentamente olhando para o resto de nós. Sinto uma mistura de apreensão e
culpa e quando seus olhos me tocam, mas ela não mostra sinais de reconhecimento. Quero olhar para longe quando ela pega
a pedra e coloca na boca. Ela engole com dificuldade, e então abre a boca e levanta a língua para Inoba inspecionar.
Quero dizer que basta, que é tolice. Mas minha boca está cheia de cinzas. Ela é uma mulher, que só está de luto pelo
marido perdido. Não há bruxaria, só minha própria estupidez. Kurusu e eu estivemos contando histórias de crianças ao
redor da fogueira. Tive pesadelos, e ele viu uma ave morta. O que me fez pensar que isto é razão para submeter uma mulher
a rituais supersticiosos de um povo determinado a viver com medo do que não conhecem?
“Há um último teste,” cita Inoba. Ele permanece calmo como um lago num dia sem vento. “Um tsukai não pode
aguentar ser amarrado,” ele diz, puxando duas cordas de seu cinto. “Amarrarei suas mãos e pés. Se ela for uma praticante
de bruxaria, ela enlouquecerá.” Misogi caminha para trás, uma mão em sua katana.
Penso que deve ser apenas o orgulho de Kohi que ainda a mantém parada e de pé enquanto, em sua própria casa,
diante dos olhos de homens com quem viveu por anos, enquanto ela é amarrada como um pacote de arroz para o mercado.
Inoba dá o último nó, e então recua. Todos os olhos estão em Hida Kohi quando ela fica rigidamente no lugar. Nem um
cabelo de sua cabeça se move. “Estou bem sã,” ela diz após vários momentos. “Minha única loucura está em minha tristeza.”
Inoba assente e caminha para desfazer os nós. Uma mudança chega à sala. Há um leve ar de alívio embaraçado
misturado com desapontamento enquanto os homens olham pela sala entre si, como se não vissem o que está ocorrendo bem
diante deles.
“Lady Kohi.” Misogi anda para frente e inclina sua cabeça. “Você tem minhas desculpas por isto. Tínhamos que ter
certeza, e houve testemunho. Por favor, diga-nos se qualquer coisa que eu ou meu séquito possamos fazer por você neste
tempo difícil.” Por um momento penso que ela cuspirá na cara dele. Então ela assente curtamente mas fica imóvel enquanto
nos retiramos de sua casa. Olho para trás depois de vários metros e posso vê-la pela porta aberta ainda de pé lá.

Item 34
Na casa de Misogi, nos despedimos dos shugenjas. Misogi ordena que tragam chá para nós enquanto ele, Mei e eu nos
ajeitamos no calor de sua sala.
“Você tem minhas profundas desculpas, Misogi-sama,” digo, meus olhos travados no chão. “Não deveria ter falado
tão apressadamente.”
“Você relatou o que experimentou. O resto de nós julgou como feitiçaria. Se não era verdade, melhor. Dasan
simplesmente enlouqueceu; sua mente foi fraca demais para aceitar as atrocidades que viu. É trágico, mas não é a primeira
vez que tal coisa ocorreu. Na verdade, estou feliz por Kohi não ser uma bruxa. Ela é uma mulher admirável.”
Assinto às suas palavras. “Minha companheira e eu podemos ficar em sua casa esta noite? Sairemos pela manhã, mas
está tarde agora e prefiro não atribular Lady Kohi esta noite.”
“Claro.” Misogi parece distraído, sua testa enrugada com pensamentos.
“Há algo mais, Misogi-sama?” Pergunto.
“Só gostaria que minhas preocupações fossem mais facilmente resolvíveis do que são,” ele diz, olhando o fogo. “Os
sonhos que você teve, vendo faces de pessoas que ainda não conheceu… São maus presságios, creio. Tais coisas não podem vir
de lugar nenhum.”
O jantar é servido, e comemos em silêncio. Está tarde quando terminamos, e mais tarde ainda quando terminamos um
copo de shochu, um sakê particularmente forte, com o general. Mei se senta perto do fogo como um gato preguiçoso.
“Melhor eu ir e recuperar nossos pertences da outra casa,” digo a ela.
“Mmmm,” ela murmura, girando o copo de sakê lentamente em sua mão. Ela o esvaziou mais de uma vez. “Temos
realmente que sair naquilo?” Ela aponta para a tempestade lá fora. “Talvez possamos pegar nossas coisas de manhã.”
“Preciso de meu diário,” digo, mexendo a cabeça. “Você não precisa vir se suas coisas estão empacotadas. Só vou pedir
a uma das servas para trazê-las.”
“Você quer que meu companheiro solar afaste as nuvens?” Ela sorri largamente.
“Deveria levá-la junto para lavar o shochu.” Não posso evitar em rir da cara que ela faz. “Fique aqui. Posso usar o
tempo para pensar, de todo modo.”
“Talvez a chuva lave essa sua cara solene,” ela diz com um sorriso largo.

Item 35
Vejo a sabedoria de Mei quando chego à casa de Dasan. Estou ensopado quando subo os três degraus até o portão. A
porta está aberta, logo entro sem bater. A sala da frente está vazia. Não esperava de fato ver Kurusu aqui, mas esperava.
Não o vi desde que o deixei esta manhã, e penso sobre o que ocorreu hoje.
Grito uma saudação, levemente. Não quero assustar as servas, muito menos Hida Kohi. Ninguém responde.
Acendendo uma lanterna na sala da frente, prossigo casa a dentro. A cozinha está vazia quando passo em meu caminho ao
meu quarto. Junto alguns dos meus pertences, e levanto minha bolsa. Ao entrar no corredor, ainda não há barulho. Talvez
todos tenham ido dormir, mas não sei porque eles o fariam com as portas ainda abertas.
“É para deixar o cheiro da chuva entrar,” diz uma voz quase atrás de mim. “Amo o cheiro da chuva à noite.”
Me giro, minha mão indo ao cabo de minha katana. Lady Kohi está de pé no corredor. Ela sorri lentamente.
“Acabei de sair do banho,” ela diz. “Não pensei que voltaria.”
“Não sou tão facilmente enganado assim,” respondo cuidadosamente. Minha voz é mais firme que minha mão, então
aperto com força a katana, mantenho espaço suficiente entre eu e ela para sacar. “Não falo comigo mesmo em voz alta, mas
você respondeu a pergunta em meus pensamentos. O que é você?”
“Tem certeza de que não falou alto?” Ela pergunta, sorrindo. As últimas duas palavras soam como minha própria
voz.
“Muita certeza,” digo, pondo a lanterna no chão e sacando minha katana lentamente. Mantenho meus olhos na
forma sombria da mulher à minha frente. “Quem é você?” Repito.
“Sua anfitriã?” Ela dá um passo. “A escuridão contra a qual você se guarda com isso?” Ela olha para a lanterna. Ela
ainda está sorrindo, e dá outro passo. “Não vai ajudá-lo. É apenas uma ilusão de luz.” Ela pausa. “Estamos te olhando há
muito tempo, Kitsuki Kaagi-san. E você tem nos observado. Me faz pensar que você quer ser nosso amigo.”
Ela se aproxima, suas mãos repousando sobre o obi. Tenho a katana sacada em minha frente. Ela caminha ao ponto
de encostá-la contra sua barriga. “Tenho um presente para você.” Sua voz é o sussurro de uma risada. “Não quer ver? Você
vai ter que me deixar passar; está no meu quarto.”
Ela passa por mim lentamente. Há espaço suficiente para nós dois com minha lâmina no meio. Quando ela fica bem
na minha frente, sou quase acometido pelo ímpeto de empurrar a katana para frente, mas o olhar confiante em seus olhos
me faz temer que ela não se importaria. Ela vira de costas para mim e continua a andar pelo corredor em direção ao seu
quarto.
“Acho que você esteve sozinho, Kaagi. Acho que você esteve muito sozinho. Você sente falta de ter uma família?”
Um calafrio passa por mim. “Por quanto tempo esteve observando?” Minhas palmas no cabo estão escorregadias.
“Você é meu visitante. Se não o observasse cuidadosamente, como eu saberia do que precisa? O que deseja? Estivemos
esperando desde antes de você nascer.” Sua cabeça se inclina enquanto ela fala e acho que ela está sorrindo. Ela passa pela
porta do seu quarto e eu sigo, não querendo perdê-la de vista. A única iluminação é a luz da lanterna no corredor e a luz das
estrelas vindo da janela. “Meu presente é santuário, Kaagi. É nunca estar sozinho, ou ter medo do escuro.” Um relâmpago
cai e então vejo três corpos deitados no futon. Dois são as servas, e o terceiro… É Lady Kohi. Volto à mulher que segui até
aqui. Ela está com os braços dobrados, ombros vibrando com riso, mas onde sua face deveria estar está uma escuridão maior
que o maior canto da sombra. Naquele lugar vazio posso ver a loucura de que Hida Dasan estava me avisando.
“Você vê, Kaagi, é tudo superficial. Um homem de seu talento pode ver quão insignificante aparências podem ser.” A
voz é de Hida Kurusu. Tenho a impressão de um sorriso mas não há boca. Posso sentir o mundo girando sob mim e com
toda a força que tenho, me atiro no corredor, correndo para sala e porta da frente. “Não vá,” ela grita atrás de mim,
“Temos muito sobre o que conversar!” A chuva é como gelo, como se eu queimasse em febre. Não sei para onde estou
correndo, e só no meio do caminho quando meus pés derrapam na lama. Na chuva que cai, acho que ouço uma risada.

Item 36
Acordo com o cheiro de jasmim e morte. Tento me sentar rapidamente, só para me ver atrapalhado por pesadas
cobertas. Olhando em volta, vejo Mei olhando para mim do outro lado da saleta. Seus olhos são vermelhos, sua pele parece
cinza e há poeira e sua face e roupas.
Sua voz estremece um pouco quando ela fala: “Nunca mais deixo você ir a lugar algum sozinho de novo. Você parece
um trapo. O que nossos anfitriões vão pensar?”
“Estamos na casa de Yanaka?” Pergunto, olhando em torno de meu leito, gemendo pela dor na minha cabeça. As
paredes estão cobertas em seda e papel. “O que houve?”
“Eles o encontraram na rua, coberto de lama. Você quase se afogou na água da chuva. Você estava segurando sua
katana, e suas coisas estavam nas suas costas. E claro, você deixou minhas coisas para trás…” Ela pausa e assoa num trapo
bem gasto.
“Você está chorando,” digo, firmando-me num ombro.
“Não seja estúpido,” ela responde, jogando o trapo em mim. “Provavelmente peguei um resfriado mortal te
procurando na chuva.” Ela pontua isto com uma fungada. “Você estava sussurrando algo sobre Kohi não ser ela mesma e
não ter face. Bem, isso bastou para Kurusu. Ele e Misogi levaram um grupo com tochas para destruir a casa de Dasan.
Com minha bolsa lá dentro, claro.”
“Misogi não estava convencido de que Kohi não era uma tsukai”, ela continua apesar da fadiga. “E, como se ela
quisesse confirmar, lá estava ela, girando, dançando enquanto a casa queimava ao redor dela.”
“Kurusu assistiu enquanto a casa queimava?” Pergunto. O frio se espalha por mim de novo.
“Presumo que sim. Não o vi depois que acenderam as tochas.”
“Mas você nunca o viu enquanto via a figura dançando, viu?”
“Não,” Ela move a cabeça lentamente. “E não o vi pelo resto da noite. Por quê?”
Relato os eventos da noite para Mei. “Sei o que vi, mas não sei o que nada disso significa,” termino. “Creio que
devamos pegar os suprimentos de que precisamos e sair daqui. Preciso limpar meus pensamentos.”
Demora muito pouco para dizermos obrigado e adeus a Yanaka. Posso dizer que ele tem perguntas para mim, e não
quero respondê-las. Explico que estou em grande pressa, e ele é polido o bastante para não me pressionar mais. Reunimos os
suprimentos de que precisamos para substituir o que foi perdido no incêndio, e saímos pela estrada.
Passamos pelos restos da casa de Dasan na saída do vilarejo. Inoba está lá, vasculhando os destroços. Há pouco deixado
além de cinzas. O fogo parece ter queimado bastante apesar da chuva.
“Kaagi-san,” o caçador de bruxas me saúda quando me aproximo. “Noite difícil, não?”
Assinto. “Você estava aqui quando começaram isto?” Pergunto a ele.
“Não. Yanaka e eu chegamos tarde. Kabai já havia partido. Quando chegamos aqui, as coisas já estavam
acontecendo.” Ele parece atribulado. “Está claro então que, apesar dos testes, ela era uma bruxa? Seria grave se ela fosse
queimada e não fosse, mas você entende, é grave para mim se meus testes não bastaram para detectar sua corrupção.”
“Não creio que era Kohi, ou que era apenas uma bruxa, Inoba-san. Conheço os contos de que elas são capazes, e temo
que seja algo mais, algo pior. Vi Kohi ao meu lado, e ao mesmo tempo, a vi inconsciente, talvez morta, com suas servas. Ela
falou comigo de coisas que não deveria saber, e usava outras vozes… E agora Kurusu não está em lugar algum.”
“Ah, muito bem, isto explica,” ele diz assentindo com a cabeça soberbamente. “Kohi não era a bruxa então, viu? A
mulher que testei era humana, portanto os testes funcionaram. Mas um Oni vestindo sua forma falou com você, e talvez
tenha causado os problemas de Dasan também. Pode ter sido Kurusu o tempo todo. Provavelmente ele foi destruído no
fogo, mas ficarei por alguns dias. Para ter certeza.” Ele parece preocupado enquanto fala. “Não há, é claro, necessidade de
mencionar isto para os aldeões diretamente. Só lhes causaria tristeza de saberem que queimaram a mulher errada. Talvez já
estejam todos mortos. Não, acho que não há necessidade para mais tristeza ou embaraço.”
“Inoba, não foi como nada que já encontrei, em pessoa ou em meus estudos.” Minha frustração cresce quando ele
continua. “Temo que é uma coisa que nós não conhecemos.”
“Era uma criatura das Terras Sombrias,” ele diz secamente. Posso ver que ele continuará a acreditar nisto, apesar de
qualquer coisa que eu diga. Ele não acreditará que há uma ameaça maior que as que ele já vive no meio.
Assinto para ele. “Talvez esteja certo, Inoba-san. Sua experiência é maior que a minha. Desejo-lhe sorte.”
“E boa viagem para você, Kaagi-san,” ele responde com um sorriso. Ele está revirando as cinzas de novo antes de
darmos três passos.
Enquanto viajam por terras do Escorpião, em
seu caminho para territórios do Caranguejo, seus
PdJs encontram Escorpiões incomumente joviais,
no posto de guarda e na estrada. Lembrem-se, só
porque Escorpiões têm uma reputação de traiçoei-
ros, não significa que eles não sabem se divertir.
TERRA: 3
ÁGUA: 2 Força 4 Seus soldados de infantaria não são diferentes de
FOGO: 2 qualquer outro jovem tomado pela exuberância de
AR: 2 uma batalha bem vencida.
VAZIO: 2 A segunda investigação dá a seus jogadores a Em suma, a menos que os PdJs saiam do cami-
Escola/Nível: Bushi Hi- oportunidade de darem a primeira olhada clara na nho para causar problemas, não há uma luta. Se
da 1 Escuridão Enganosa. A composição para esta in- forem gentis, podem até ser convidados à festa. Se
Honra: 5,0 vestigação pode ser tão simples ou complexa o houver Caranguejos em sua festa, os Escorpiões
Glória: 1,0 quanto quiser. Você pode mestrar a segunda inves- diminuirão a festa por cortesia, mas também pro-
Status: 1,0 tigação como uma história própria, como um in- vocarão um pouco. Se seu PdJ Caranguejo é um
Vantagens: Grande termediário entre episódios de sua campanha regu-
Perícias: Kyujutsu 3, sério cabeça quente, as coisas podem ficar feias,
Batalha 1, Defesa 3, Jiujutsu
lar ou simultaneamente a outra aventura. Se você mas ele terá que provocar uma luta de fato. Se seus
4, Kenjutsu 3, Conhecimen- optar por este último curso, tente criar um cenário PdJs acabarem numa luta, o Escorpião recusará um
to: Terras Sombrias 2, Ar- que ocorra próximo ao vilarejo à luz do dia. Então, duelo ao primeiro sangue. Eles têm instruções
mas Pesadas (Tetsubo) 3 encha as noites dos personagens com a segunda estritas de enfrentarem apenas um oponente de
Ferimentos: 6: -0; 12: - investigação de Kaagi. Afinal, personagens rara- cada vez (neste caso, o Caranguejo do vilarejo).
1; 18: -2; 24: -3: 30: -4; 36: mente esperam ser atacados na proverbial “pousa- Em outras palavras, eles serão duramente discipli-
Caído, 42: Inconsciente; 48: da”. nados quanto a entrar em brigas enquanto em ser-
Morto Definir a aventura é fácil. Faça seus PdJs viaja- viço.
rem por terras do Caranguejo em seu caminho para Presumindo que seus PdJs sejam agradáveis e
outra aventura. A oferta de um lugar seco para corteses, eles até mesmo poderão estocar os supri-
dormir quando a tempestade cai é um forte incenti- mentos básicos de que precisarem.
vo para ficar no vilarejo Utokii. Assim que che-
TERRA: 2 gam, Misogi, líder do vilarejo, pede que fiquem e o
ÁGUA: 2 Percepção 3 ajudem a determinar o que deu errado com Dasan.
FOGO: 2 Ele também pede que vigiem Hida Kohi. Ele tem Assim que os PdJs estiverem em terras do Ca-
AR: 3 Consciência 4 medo que Kohi possa fazer algo incauto se deixada ranguejo, as coisas são diferentes. Os Caranguejos
VAZIO: 2 sozinha, e teme deixar sua esposa desprotegida estão quase tão espantados quanto seus vizinhos.
Escola/Nível: Bushi num tempo de tal perigo. Além disso, Misogi já Seus jogadores terão que fazer uma impressionante
Bayushi 1
suspeita que Kohi está envolvida em maho e parti- manobra para evitar uma luta, porque o Caranguejo
Honra: 1,5
Glória: 1,0 cipa da morte de seu marido. Colocando os PdJs está fervendo por uma.
Status: 1,0 perto dela, ele ganha observadores imparciais. Pouco após de cruzar a fronteira, os PdJs en-
Perícias: Kyujutsu 3, Em todo caso, é importante que os personagens tram numa densa floresta. Nuvens de tempestade
Defesa 3, Jiujutsu 3, Iaijutsu acabem ficando na casa de Dasan. Por hora, a Es- estão começando a se juntar, fazendo as sombras
2, Kenjutsu 3, Venenos 1, curidão Enganosa já criou interesse em um ou mais aumentar. Um pouco antes do crepúsculo, eles
Sinceridade 2, Furtividade 3 de seus PdJs. Isto pode ter começado no Castelo encontram o Caranguejo. A patrulha consiste de
Ferimentos: 4: 0; 8: -1; Ichime ou, dependendo do histórico de seus perso- oito bushis, mais um capitão. Eles estão posiciona-
12: -2; 16: -3; 20: -4; 24: nagens (como marcas das sombras), isso pode ter dos nas árvores fora da trilha.
Caído; 28: Inconsciente; 32:
começado há muito tempo. O truque é perturbar os Peça a seus PdJs para rolarem Percepção + Fur-
Morto
personagens na calada da noite, e então fazê-los se tividade, NA 15. Qualquer um que passe nota a
sentirem tolos à luz do dia. relativamente pouco sutil patrulha de bushis Ca-
ranguejos “escondida” alguns metros fora da estra-
da. Se os Caranguejos forem chamados pelo grupo,
eles saem das árvores e fazem um desafio direto.
Se não forem percebidos, eles se movem até cerca-
rem os PdJs. O capitão faz o primeiro movimento. rão perto do combate. Então, justo na hora do pri-
Ele lutará com qualquer um dos PdJs que achar que meiro golpe, chega o irado Misogi.
lidera. A menos, é claro, que haja um personagem O general repreende seus homens e se desculpa
Escorpião no grupo, neste caso o personagem será aos PdJs. Para se desculpar, ele os convida para
o alvo isolado da fúria do agressor. jantar em sua casa e passarem a noite no vilarejo.
Se algum dos PdJs estiver interessado em tentar
falar com o Caranguejo furioso por violência, eles Nota: Se vocês estiverem seguindo as investi-
têm que fazer uma rolagem de Consciência + Sin- gações, e os personagens estão seguindo Hiroru
ceridade contra NA 30. Se tiverem sucesso, o Ca- como Kaagi está, o general também deve fazer um
ranguejo será rude, mas convencido a não atacar. comentário enjoado sobre um fantasma na floresta
Se os personagens não puderem ou nem tentar — uma figura toda de branco que aparece ou de-
levar as coisas para a diplomacia, as coisas chega- saparece em plena vista, voando entre as árvores.
TERRA: 4
ÁGUA: 3 Força 5
FOGO: 3 Agilidade 4
AR: 2 Reflexos 4
VAZIO: 3
Escola/Nível: Bushi Hida
3
Honra: 4,6
Glória: 4,5
Status: 3,0
Perícias: Batalha 4, Jiu-
jutsu 5, Conhecimento:
Terras Sombrias 4, Ikebana
3, Kenjutsu 4, Teologia:
Shintao 4, Cerimônia do
Chá 3, Armas Pesadas (Tet-
subo) 5

TERRA: 2 Vigor 3
ÁGUA: 3 Percepção 4
FOGO: 2
AR: 2 Reflexos 3
VAZIO: 2
Escola/Nível: Bushi Hida
2
Honra: 0
Glória: 2,4
Status: 1,1
Vantagens: Grande, Mãos
de Pedra
Desvantagens: Nenhuma
Perícias: Kyujutsu 3, De-
fesa 3, Jiujutsu 2, Kenjutsu
3, Conhecimento: Terras
Sombrias 3, Armas Pesadas
(Tetsubo) 4
Na casa de Misogi, os personagens co-
mem bem e são deixados o mais confortá-
vel possível. Misogi os atualiza dos eventos
recentes.
O Caranguejo perdeu o que deveria ser
uma vitória fácil para o Escorpião, e com
isso, uma valiosa porção de terra.
A batalha foi perdida quando a força
principal não apareceu como planejado.
A companhia em questão, um grupo de
veteranos experiente que recentemente
retornou das Terras Sombrias, foi depois
encontrada destroçada por um dos seus
Enquanto os personagens
estão na casa de Dasan, eles
homens, Hida Dasan.
serão atacados pela Escuri- Houve quatro sobreviventes ao massa-
dão Viva em seus sonhos. A cre: Nakai, o general seriamente ferido;
Escuridão está procurando Aboko, que está inconsciente e quase morto
terreno, e tentará aterrorizá- por seus ferimentos; Iaku, que desde então
los enquanto dormem (vide saiu do vilarejo para retornar à sua família;
regras para manifestações e Kurusu, aluno de Dasan.
oníricas na p. XXX). Todos os membros da companhia foram
Além disso, se deixarem a
examinados na Muralha por Mácula das
casa e não completarem a
aventura, estes pesadelos
Terras Sombrias e pareciam estar bem.
continuarão indefinidamen- Misogi então pede pela ajuda dos perso-
te. nagens. Ele pergunta se algum deles tem a
Os PdJs são atormentados habilidade de detectar veneno do Escorpião
por sonhos terríveis pela (perícias: Veneno ou Herbalismo), ou se
duração desta aventura. A têm meios sobrenaturais de determinar o
Escuridão pode escolher um que deu errado (ex.: se um deles é um Kit-
personagem por noite, su- su, capaz de falar com o fantasma — sem
tilmente tentando influenciá-
saber que Dasan não está no Jigoku, e não
los a desenvolver um senso
de horror e medo. Um PdJ
pode ser acessado). Como Mestre, você
influenciado não recuperará sabe as especialidades de seus personagens.
pontos de Vazio ou feitiços Considere previamente um modo pelo qual
por dormir. Ao invés disso, eles poderiam ser chamados a ajudar.
eles devem Meditar (usando O porém, é claro, é que o corpo não es-
a perícia adequada) para tará disponível por mais dois dias. Misogi
recuperá-los. se desculpa pela inconveniência de atrasá-
Se eles não meditarem para los em sua viagem e expressará novamente
recuperar pontos de Vazio, a
quão feliz ele ficaria se puderem ajudar.
Escuridão receberá +10 a
seu NA, assim que o perso-
Além disso, ele explicará que embora haja
nagem gastar todo o seu uma pousada de viajantes, ele ficaria grato
Vazio. se pudesse ficar na casa de Dasan. Ele está
preocupado sobre Kohi ficar sozinha.
Os PdJs podem dizer “não” neste ponto,
mas se o fizerem, lembre-os quão mal esta
recusa refletirá neles e ao(s) senhor(es) que
servem.
está de luto e não deseja deixar seus aposentos ou
falar com ninguém. Ela instruiu as servas para
Os PdJs devem ser encorajados, até mesmo co- fornecer-lhes o que desejarem.
agidos a ficarem na casa de Dasan. Recusar o con- Personagens que permaneçam acordados po-
vite de Misogi é um insulto. Se um ou mais dos dem ouvir o canto do rouxinol de Kohi ou sua
jogadores decidirem ficar em outro lugar no vilare- lamúria. Hida Kohi (ou pelo menos, eles presumem
jo, a geografia não desencoraja a Escuridão Viva. que seja a voz de Hida Kohi, já que sua voz é mais
PdJs que escolham ficar na pousa, ou deponham grave que muitas das servas) pode ser ouvida ca-
uma família de camponeses local, têm experiências minhando pelos corredores de sua casa, solfejando
idênticas às dos que ficam na casa de Dasan. Além uma canção para ela mesma. Se, porém, um dos TERRA: 3
disso, se os PdJs deixarem o vilarejo, os sonhos do PdJs for aos corredores escuros se encontrar com ÁGUA: 3 Percepção 4
Dasan morto os seguem, chamando-os de volta. Se ela, eles só veem um pedaço de seu kimono pas- FOGO: 2
os personagens decidirem deixar o vilarejo e não sando pela porta do quarto dela antes da tela se AR: 2 Consciência 4
retornar, eles recebem permanentemente a desvan- fechar. VAZIO: 3
tagem Pesadelos e não recebem pontos por ela. Escola/Nível: Bushi Hida
Qualquer PdJ que a ouça e tenha perícia em 3
Em sua primeira noite na casa de Dasan, man- música ou poesia pode fazer uma rolagem de Cor- Honra: 6,2
tenha as coisas calmas até os personagens estarem te, Música ou Poesia/Percepção contra NA 15 para Glória: 5,4
prontos para irem para a cama. se lembrar do nome da canção (Morte ao Amor) e Status: 3,5
A casa de Dasan tem dois quartos de hóspedes, sua letra. A canção é muito antiga, fora de moda. A Vantagens: Mente Clara,
além da sala frontal onde Kurusu dorme. Os perso- letra fala de uma esposa fiel que espera por anos Voz
nagens se espalham por estes três cômodos. Perso- para o marido voltar de uma guerra. Quando ele Desvantagens: Nenhuma
nagens femininos têm a opção de dormir no quarto finalmente volta, é para levá-la (uma velha agora) Perícias: Kyujutsu 3, Ba-
das mulheres, mas as servas não forçarão isto (em- consigo para a terra dos mortos. Num outro final talha 4, Defesa 2, Jiujutsu
bora se a samurai-ko escolha dormir no mesmo (Imobilizar) 4, Caça 4,
alternativo, o samurai retorna anos depois e, vendo Kenjutsu 4, Lei 2, Conheci-
quarto que seus companheiros, haverá boatos es- sua mulher, foge em terror, pois ela havia morrido mento: Terras Sombrias 4,
candalosos, e possivelmente 1 ponto de perda de e seu fantasma esperava pacientemente. Sinceridade 3, Armas Pesa-
Honra). Assim que seus personagens estiverem Por volta das duas ou três da manhã, os PdJs das (Tetsubo) 4
alojados, não os deixe descansar. Comece com encontram Hida Dasan. Todos eles percebem que
sons estranhos, do tipo que tira o sono, mas o deixa estão no bosque ao redor do vilarejo. Os PdJs po-
incerto se foi isso que acordou você. Se vários dem ver e ouvir um ao outro, mas se tentarem tocar
personagens estão dividindo um quarto, acorde um, qualquer coisa, percebem que são insubstanciais. A
e um pouco depois, outro. Só um por vez ouve clareira está repleta com os restos mortais do mas-
qualquer barulho estranho. TERRA: 4
sacre de Dasan. O guerreiro Caranguejo aparecerá
ÁGUA: 2 Força 4
Eles podem ouvir sibilos, o som de pássaros aos PdJs como fez com Kaagi. Ele falará com eles FOGO: 2 Agilidade 3
selvagens, batidas altas, vozes familiares sussur- normalmente, mesmo que porte ferimentos clara- AR: 4
rando, o uivo de ventos fortes, o som de uma kata- mente mortais. PdJs devem rolar Vontade contra VAZIO: 3
na deixando sua bainha, ou qualquer outra coisa NA 20 ao falarem com Dasan. Quaisquer persona- Escola/Nível: Bushi Hida
que você considere eficaz. Não repita o mesmo gens que não rolem com sucesso são incapazes de 4
som, não deixe todos ouvi-los, e se os PdJs forem deixarem a cena ou o sonho até que ele acabe. Os Honra: 5,6
investigar, garanta a eles que nada parece fora do que conseguirem podem acordar gastando um Glória: 4,6
comum. ponto de Vazio. Eles encontrarão seus companhei- Status: 4,0
As servas nunca admitem ouvir ou notar nada. Vantagens: Mãos de Ca-
ros num sono profundo do qual não conseguem
ranguejo, Grande
Se despertas, elas estarão com sono e confusas. Se acordar. Pelo restante da aventura, personagens que Desvantagens: Nenhuma
personagens mulheres estiverem dividindo o quarto durmam são incapazes de usarem pontos de Vazio Perícias: Kyujutsu 4, Ba-
com elas, elas notam que as servas não acordam a para ajudarem suas rolagens. talha 4, Defesa 4, Caça 4,
menos que os PdJs as perturbem. Em contraste, Jiujutsu 4, Kenjutsu 4, Co-
Hida Kurusu não dorme. Ele deita parado em seu nhecimento: Terras Sombri-
leito com olhos abertos a noite toda. Se os PdJs o as 4, Armas Pesadas (Tetsu-
perguntarem a respeito, ele lhes dirá que não ouve bo) 5
nada. Se perguntado porque não está dormindo, ele
responderá que não dormiu desde que deixou a
batalha.
Caso os PdJs perguntem por Hida Kohi em
qualquer momento, as servas explicarão que ela
Dasan está calmo e sem remorsos pelo que fez. a noite. O dono da pousada mora no quarto dos
Ele diz aos PdJs que lamenta que vieram. Ele res- fundos.
ponde as perguntas ambiguamente, mas não menti- As casas dos bushis com famílias ficam no lado
rá. Além disso, ele sugerirá aos PdJs que eventu- sul da cidade. Uma pertence a Dasan, outra a Hida
almente se envolverão nos problema dele mais do Nakai, o general gravemente ferido de Dasan. As
que gostariam. Depois de um tempo, Dasan come- outras duas pertencem aos homens que foram mor-
ça a ficar agitado. Ele se levanta, caminha, e fala tos. Casas de camponeses formam a porte oeste do
sobre loucura. Então ele diz aos PdJs para ficarem vilarejo. Fora isto, edificações menores são campos
longe dele o mais rapidamente que puderem. Os de arroz dispersos. Um pequeno riacho passa pela
PdJs repentinamente conseguem deixar o sonho. floresta e pelos campos.
Assim que o fazem, eles acordam na manhã nubla- Se você está mestrando outra aventura junto
da. com esta, deixe-a progredir normalmente durante o
dia. Se os PdJs não questionarem Kurusu, ele os
procurará, desesperado para conversar com alguém
sobre suas observações atribuladas. Ele pode fazê-
O vilarejo fica à beira de uma floresta na fron- lo durante o dia ou à noite após seu retorno à casa.
teira entre os territórios do Caranguejo com o Es- Kurusu diz a eles sobre o crescente incômodo
corpião. São umas seis horas de caminhada a partir de Dasan, sua conversa de loucura e seus medos
da fronteira do Escorpião. Uma estrada bem cuida- em relação à esposa. Kurusu confessará seus pró-
da está a outras três horas além do vilarejo. Outras prios medos de que Kohi seja uma maho-tsukai
TERRA: 4 cidades estão dispersas pela estrada principal. (você pode ler as palavras de Kurusu direto do
ÁGUA: 3 Utokii é uma cidade designada a guardar contra texto do diário). Ele implora que sejam cautelosos,
FOGO: 3 Inteligência 4
a ameaça pela estrada da floresta. No centro do mas não relatem publicamente as suspeitas dele até
AR: 3
VAZIO: 3 vilarejo fica uma guarnição que abriga de cinco a que mais informação possa ser encontrada.
Escola/Nível: Caçador de quinze bushis a todo momento. Uma torre de vigia Se os PdJs pedirem para falar com Misogi, eles
Bruxas Kuni 3 fica anexa à guarnição. Próxima à casa de Misogi notarão que ele passa o dia todo isolado. Se pressi-
Honra: 5,6 está a casa de Hida Yanaka, o shugenja residente. onado, seus servos dirão que o general está passan-
Glória: 5,4 No lado norte da cidade está uma pousada de um do o tempo com sua senhora. O general não tem
Status: 3,0 andar com uma grande porta frontal onde os visi- esposa. Ela morreu há alguns anos.
Vantagens: Mãos de Pe- tantes podem comer durante o dia e dormir durante O shugenja local estará trabalhando no corpo
dra, Mãos de Caranguejo,
de Dasan por mais um dia. Se os PdJs forem à sua
Grande
Desvantagens: Maldição casa, um jovem garoto servo explicará que Yanaka
das Sete Fortunas (Benten) está fazendo um trabalho importante e não pode
Perícias: Kyujutsu 2, ser distraído. A casa cheira intensamente a jasmim.
Atléticos 3, Defesa 4, Jiu- Sob este cheiro está o odor intenso de morte.
jutsu 4, Herbalismo 3, Caça O general de Dasan, Hida Nakai, mal é coeren-
4, Conhecimento: Terras te, como no relato de Kaagi (vide o texto para uma
Sombrias 5, Shintao 4, descrição detalhada). Sua bisneta está lá para cui-
Facas (Tanto) 4, Armas dar de seus ferimentos. Ela veio de outro vilarejo,
Pesadas (Tetsubo) 3
e o shugenja local lhe deu instruções para mantê-lo
o mais confortável possível. Nakai tem outra famí-
lia. A garota, Hikuko, chegou após a tragédia. Ela
é jovem, com semblante apertado e um queixo
forte. Seu cabelo cumprido amarrado para trás num
grosso e severo rabo de cavalo, e ela se senta no
canto da sala enquanto os PdJs conversam com o
velho. Se ele começar a ficar agitado, ela se apro-
xima para cuidar dele; embora seus lábios não se
movam, os olhos dela falam volumes. ‘Vocês estão
fazendo ele piorar’, ela dirá aos PdJs sem dizer
uma palavra.
O resto do vilarejo é bem desolado. Várias fa-
mílias estão de luto pelos homens que Dasan ma-
tou. O resto está inconsolado pela tragédia e pela
perda da região que foram incapazes de proteger do estava sentado antes da matança começar. Gravado
Escorpião. na madeira estão as mesmas palavras repetidas:
Há doze bushis morando nos quartéis. Nove de- “Meu rosto é só meu. Meu rosto é só meu”.
les, os PdJs encontram na estrada. Nenhum deles Kaagi tem preconceitos contra superstições que
foi parte do grupo de Dasan. Eles são mais polidos o impede de tomar ação direta em relação a Kohi.
do que no último encontro, mas ainda suspeitam Seus personagens provavelmente não comparti-
dos PdJs. Se um dos personagens for um Caran- lham de suas opiniões estranhas. Se escolherem
guejo, os homens falarão mais livremente. O boato tentar os tests para ver se Kohi é mais do que uma
nas fogueiras à noites é de que Dasan era insano, mulher (imagine, ela ainda não saiu de seus apo-
mas não se manifestou até que retornasse para casa sentos) os resultados serão negativos, mas confu-
de seu último dever nas Terras Sombrias. Outros sos, como se algo na casa dificultasse a leitura.
dizem que não foi Dasan quem retornou, e sim um Lembre-se não há de fato algo errado com
monstro vestindo a sua pele, algo que os shugenjas Kohi. Ela é o que se esperaria que fosse: uma viúva
ainda não sabem. enlutada. Mas sua ausência e as circunstâncias a
Eles estão quase certo. Mas não foi Dasan que tornam o alvo perfeito para suspeitas, especialmen-
foi tomado pela Escuridão nas Terras Sombrias. te com um pedaço da Escuridão na forma de Kuru- Aqui estão alguns testes
Foi Kurusu. A Escuridão Viva o encontrou lá e está su. comuns de caçadores de
bruxas. Nem todos eles
usando-o como um traje sob medida.
funcionam, mas alguns sim
Se seus PdJs investigarem o local onde ocorreu (critério do Mestre).
o massacre, eles o encontrarão menos destruído do
que viram em seus sonhos. O chão não está cheio A segunda noite na casa de Hida Dasan é muito Um maho-tsukai não pode
de cadáveres. Todos os restos que o Caranguejo parecida com a primeira. Hida Kohi ainda está se aguentar ser amarrado.
encontrou foram reunidos e levados ao vilarejo sentindo mal demais para descer para jantar. As Se um maho-tsukai tocar
para um funeral devido. Há ainda a questão do servas serve peixe seco enrolado em arroz, tempe- jade, ela o queimará.
braço mutilado do General. Uma rolagem de 40 ou rado com ervas locais que são pungentes demais Maho-tsukai não pode
mais usando Percepção/Investigação o encontra a para um jantar casual. Se os personagens ainda não cruzar água corrente.
falaram com Kurusu, ele os procura e lhes conta Se um maho-tsukai engolir
vários metros do local, parcialmente enterrado na
jade, ele será consumido por
lama. Se os personagens fizerem uma rolagem de sobre seu medo sobre Hida Kohi e as estranhas
fogo.
25 ou mais eles verão várias inscrições metódicas palavras de Dasan nos dias anteriores ao massacre. Prender um prego de ferro
no tronco de uma árvore caída, próximo à beira do Novamente, a diversão real começa quando os na sola do pé de um maho-
acampamento. Presumidamente, era onde Dasan personagens tentam dormir. tsukai o prenderá no lugar.
Um maho-tsukai não pode
aguentar ficar sujo.
Um maho-tsukai não pode
caminhar para o leste (dire-
ção de Otosan Uchi).
Maho-tsukais são criaturas
compulsivas; se você puser
um quebra-cabeças diante
deles, eles devem tentar
completá-lo. Além disso, se
você derrubar uma tigela de
arroz no chão, eles devem
contar cada grão.
ainda é um oponente formidável. A única diferença
é que agora ele só pode ser de uso da Escuridão em
A Escuridão Viva pode tomar a forma de as- seu estado incorpóreo, nos sonhos.
sombrações locais, mas não está limitada a suas Se os PdJs falharem em decapitar Dasn ele os
regras. Se os PdJs invocarem feitiços para procurar persegue até que os personagens sejam derrotados.
por Mácula das Terras Sombrias, eles não a encon- Personagens mortos desta maneira ainda acordarão
trarão. Se tentarem fazer contato com Dasan, não pela manhã, mas serão incapazes de gastar pontos
conseguirão. Qualquer um realmente perceptivo de Vazio pelo resto da aventura. Além disso, o
pode sentir uma impressão de extrema tristeza e personagem adquirirá Fobia: Mortos-Vivos.
infortúnio geral.
Neste ponto, você pode querer deixar cada jo-
gador por si. Na versão da história de Kaagi, ele
pensa que Mei foi ao seu quarto. Ao invés disso, Os personagens acordam no dia seguinte com
ele percebe que é a mulher que ele presume ser dificuldades para se vestir. Seus apuros noturnos
Hida Kohi. Dali, o que já era mau fica pior ainda. lhes darão -1 dado para toda ação física pelo resto
Prepare antecipadamente algo especial para cada do dia. O curso dos eventos do dia dependerá do
um de seus personagens. Deixe-os serem visitados formato que você escolheu para esta investigação.
por outros PdJs, alguém que sejam próximos, ou As coisas principais que precisam ocorrer são as
melhor ainda, alguém que particularmente não seguintes:
gostem ou confiem. Talvez o visitante seja alguém  O shugenja Caranguejo termina de examinar
TERRA: 2 Vontade 4 que não deveria estar mesmo lá: irmã, pai ou espo- o corpo de Dasan e chega à conclusão de que não
ÁGUA: 2 Percepção 4 as, talvez alguém que já esteja morto. Esta é uma há Mácula das Terras Sombrias.
FOGO: 3 grande oportunidade para fazer seus jogadores  O caçador de bruxas, Kuni Inoba, faz uma vi-
AR: 2 Consciência 4 interpretarem as coisas que põem em suas fichas de sita a Hida Kohi (se os PdJs não manifestarem
VAZIO: 2
personagem mas não tiraram do armário há algum suspeita, Kurusu, vencido pela preocupação, o
Honra: 5,8 tempo. fará) e Kohi é oficialmente declarada inocente de
Glória: 5,6 Quando todos chegarem ao mesmo ponto da praticar maho.
Status: - história — a percepção de que sua anfitriã é total- Se você está mestrando uma aventura diurna
Vantagens: Grande, Bên- mente assustadora, combinada com a aparição de separada desta segunda investigação, você pode
ção de Benten seu anfitrião mais do que morto — reúna-os no escolher ter os PdJs presentes para um ou todos
Desvantagens: Brava mesmo lugar, a batalha com Hida Dasan. estes eventos. O que quer que eles não estejam
Se você tem poucos jogadores, ou eles são mui- próximos, eles ouvem, provavelmente de Misogi
Perícias: Etiqueta 3, Corte to pacientes, você pode escolher deixá-los lutar mantendo-os atualizados.
3, Jiujutsu 2, Medicina 4,
com o fantasma individualmente. Se você estiver Se seus jogadores estão procurando ativamente
Música 4, Cerimônia do Chá
4, Kyujutsu 2, Criação: se sentindo gentil, ou se quiser encerrar a aventura a questão; ou se eles querem realizar uma investi-
Armaduras 3, Comércio 4 neste fim de semana, faça uma luta grupal. gação separada do corpo de Dasan, então eles de-
Como o Dasan que Kaagi enfrenta, ele não será vem estar presentes para o relatório do shugenja e
atrapalhado ou afetado pelo dano de ferimentos de o interrogatório de Kohi. Assim que a questão da
armas normais. Armas encantadas o ferem, mas Mácula ou prática de maho por Kiho ter sido solu-
não o matam ou o destroem. Os únicos meios de cionada, Misogi e o resto do vilarejo ficarão con-
deter o fantasma é decapita-lo, como Kaagi faz tentes em por o resto da culpa na doença mental de
(requerendo um golpe mirado na cabeça, com um Dasan. Os jogadores podem ou não aceitar isso.
NA aumentado em 10). Se um dos jogadores tiver Eles são muito bem-vindos em realizar quaisquer
um feitiço de banimento espiritual à mão, e tiver investigações ou testes por si próprios que acharem
tempo para executá-lo, isto manda o agradecido apropriados. De fato, Inoba se interessará em
Dasan para fora do alcance da Escuridão Viva. quaisquer novas técnicas que puderem mostrar a
Assim que uma destas condições for atendida, os ele.
PdJs, caem num sono profundo, acordando umas
duas horas depois do amanhecer. Eles se recupe-
ram mais rápido como se seu Vigor ou Vontade
fossem excepcionais (4 ou mais). À noite, seus personagens provavelmente esta-
Dasan está morto, mas a Escuridão continua a rão cansados de toda a diversão que tiveram. Eles
possuir o seu espírito a menos que ele seja banido podem escolher passar ou não outra noite na casa
adequadamente. Em seu estado morto-vivo, o bushi de Dasan, ou podem escolher investigar de maneira
mais discreta. Distância não impedirá a Escuridão mas sim que sua face deveria ser uma ausência de
Viva. Esta é a última noite no vilarejo. Problemas identidade que mentes sãs simplesmente não po-
são causados, coisas novas são aprendidas, e agora dem aceitar. Se falharem, eles podem sofrer um
tudo está pronto para acontecer. Se seus PdJs não ferimento leve (1 Nível de Ferimento ou menos) na
estão na casa de Dasan, atraia-os para lá, talvez saída.
com uma mensagem desesperada de Kurusu dizen- Personagens que passarem na rolagem de medo
do que ele tem algo para mostrar a eles. podem achar um meio de sair da casa em seguran-
Quando os personagens chegam, tudo deve pa- ça se escolherem. “Kohi” não os deterá. Porém,
recer normal exceto pela porta estar aberta. Kurusu eles podem escolher ficar e lutar. Quando o primei-
não está em lugar algum. Assim que passarem pela ro ataque é feito, ele passa por Kohi como se ela
porta frontal, a casa está inteiramente negra. Se os fosse uma sombra, e o golpe atinge uma lanterna
personagens estão carregando lanternas, elas apa- atrás dela. A lanterna está apagada, mas ao cair no
gam abruptamente. chão, ela explode numa chama azul, rapidamente
Kohi aparece aos personagens, mas ela é a úni- ficando escarlate. As três mulheres na cama já
ca coisa que podem ver no escuro. Seus arredores e estão mortas.
seus companheiros sumiram nas sombras. Kohi Neste ponto, mesmo se a casa não pegar fogo, a
fala com eles íntima e particularmente. “Estivemos comoção será óbvia para o lado de fora. Misogi e
observando você, seguindo você, e queremos que Inoba correrão para a cena junto com o resto do
se una a nós.” Não é necessário separar os jogado- vilarejo. Inoba ouve os personagens, e decide que
res para isto; de fato, é mais engraçado se você não está acontecendo maho. Ele manda que o lugar seja
o fizer. Diga aos jogadores que cada um deles sente destruído. Misogi o segue, e se a casa já não estiver
como se a voz estivesse falando apenas com eles. pegando fogo, não demorará muito para isto.
Se um dos personagens escolher ficar do lado Pela manhã, a evidência e a casa de Dasan esta- TERRA: 2
de fora, eles não veem nem ouvem nada. Se entra- rão destruídas. Se os corpos das mulheres foram ÁGUA: 1 Percepção 2
rem, será a mesma escuridão absoluta que o resto tirados do prédio antes do incêndio, qualquer um FOGO: 1 Agilidade 2
do grupo encontrou. que os investigue não encontra marcas nas servas. AR: 2 Consciência 3
Os jogadores podem ver os outros claramente, O corpo de Kohi, porém, porta sinais de forte luta VAZIO: 2
Honra: 5,0
mas seus personagens estão perdidos em suas pro- (afinal, ela era uma Caranguejo e esposa de um
Glória: 0,0
ximidades. Eles podem chamar um ao outro, mas guerreiro). Há marcas escuras em sua garganta e Status: 0,5
suas vozes são distorcidas como se por um nevoei- torso. Se chamado para examinar os cadáveres, Vantagens: Bênção de
ro denso. Eles podem tatear, mas o que encontram Inoba insiste que é obra de alguma criatura obscura Benten
não é bem o que esperariam. Por exemplo: um das Terras Sombrias. Ele, porém, não definirá qual. Desvantagens: Fraqueza
personagem pode dizer ao outro para estender suas (-1 Inteligência)
mãos e então se agarrar nelas. Mas momentos Perícias: Culinária 3,
depois, esta mão começa a se contorcer e se enro- Limpeza 3, Etiqueta 3,
lar. O ar no corredor fica frio e úmido, e o cheiro Ninguém viu Hida Kurusu desde a tarde anteri- Furtividade 1
da carnificina do campo de batalha é forte. O chão or. Estranho, já que foi o aviso dele que levou os
abaixo dos pés é como lama grossa. Mas as luzes PdJs à casa. Não há rastro que marquem sua saída
ainda estão apagadas. do vilarejo. Kurusu não reaparecerá.
Quaisquer personagens que ataquem Kohi na Assim que Misogi e Inoba perceberem que Ku-
escuridão podem atacar um de seus companheiros rusu desapareceu, eles presumirão que ele também
por engano: se rolarem mais 1’s do que qualquer era um maho-tsukai, possivelmente usando Kohi
outro número, eles atingem um aliado. Após vários para afastar a suspeita dele. Eles não estão errados,
momentos, a luz fraca da lua começa a entrar, e os exceto pelo fato de que Kurusu não ser um tsukai,
personagens se veem olhando para a cena no quar- mas parte da Escuridão Viva. A figura que parecia
to de Kohi. As servas e a própria Kohi jazem dis- ser Kohi no fim era a mesma entidade que usava a
persas no leito. A figura falando com eles se torna forma de Kurusu. Considerando a questão encerra-
sem face. Os personagens precisam fazer uma da, Misogi agradece os PdJs por sua ajuda e, pre-
rolagem de medo para impedir que fujam cega- sumindo que qualquer outro negócio em que os
mente, “Kohi” tem nível de medo 3, e os jogadores PdJs estejam envolvidos como encerrado, ele ofe-
devem rolar Vontade contra NA 15 ou os PdJs rece fornecer suprimentos que podem querer antes
correm. O aterrorizante não é que ela não tem face, de voltarem para a estrada.
Item 42
Resido atualmente próximo a Kyuden Tonbo na Pousada do Conforto Perpétuo. O nome do lugar é otimista, mas no
todo, a qualidade dos quartos e o serviço têm sido satisfatórios. Parei aqui em meu caminho ao Castelo Kitsuki para passar
alguns dias em repouso e reflexão.
Discuti comigo mesmo desde que deixei o vilarejo Hida, tentando decifrar o que era e o que vi lá. Tentei dispensar os
acontecimentos como um truque de magias das Terras Sombrias, mas todo o encontro me deixa incomodado. No coração de
minha compreensão, creio que encontrei algo mais significativo, algo não registrado. Não posso defini-lo, mas me vejo
sofrendo uma sensação de temor remanescente quando tento lembrar de detalhes específicos.
Mesmo agora, acordo, atribulado, por sonhos de que não me lembro. Isto é extremamente incomum, evidência
adicional de que algo mais está ocorrendo é imediatamente aparente.
Os últimos três dias eu passei em estado de relativo ócio. Além de ter completado os relatos deste diário, prestei meus
respeitos ao daimyo da Libélula, visitei o boticário para repor meu suprimento de produtos químicos, e gastei o tempo
caminhando pelas ruas na companhia de homens e mulheres. É bom estar fora, cercado por pessoas preocupadas com
afazeres diários da vida. Dei meu dinheiro para Mei, confiando de que ela nos reabasteceria para o resto de nossa viagem.
Amanhã deixarem esta cidade e viajaremos pela rota sutil ao castelo Kitsuki.

Item 43
A porta se abre quietamente. Não há bater nem esforço para ocultar o som dos passos, presumo que seja Mei.
“O pônei ganhou ferradura nova,” ela diz. “As coisas velhas estavam gastas e não durariam muito mais. Nossos
estoques de comida estão cheios, comprei sapatos novos e coisas para substituir o resto do que se perdeu no fogo. E comprei
para você um novo kimono com brotos lilás e pôneis saltitantes na frente e uma geisha indisposta nas costas. Você está me
ouvindo?”
“Deixo tais questões a seu critério porque tenho profunda confiança em seu bom julgamento.” Viro-me do trabalho de
lubrificar minha lâmina para ver se ela realmente comprou a roupa hedionda com que ela estava me ameaçando. Minha
confiança só vai até certo ponto, afinal. Há um kimono, mas é de um tom bem mais sutil de azul com fios de ouro
entrelaçados. O padrão é inteiramente comum. “Muito bem. Sabia que podia confiar em você.”
Mei deixa o resto de seus presentes num canto, e então segue para desembrulhá-los um de cada vez. “O clima parece
bom,” ela diz. “Amanhã teremos um bom dia de viagem. Estou ansiando por isso. Estou determinada a lembrar do
caminho desta vez.”
“Lhe ocorreu que se você não pode achar, talvez haja uma razão?” O caminho para o Castelo Kitsuki, como as
estradas ao resto das posses do Dragão, não é conhecido por sua facilidade. “Pensei que não sairíamos se você está cansada
demais. Quero aproveitar o resto do dia. O que você acha de jantar em uma das outras pousadas? Talvez eles tenham algo
além de arroz e bolos de peixe.”
“Não acho que realmente precisemos disto,” Mei diz de maneira estranha. “Acho que a comida daqui é ótima — não
muito rica, nem muito preparada… Por que sair afinal? Parece que pode chover, e com todo o tráfego, as ruas virarão um
pântano em minutos.”
Mei deve estar genuinamente com raiva para mentir para mim tão mal. “Pensei que tinha dito que o clima estava
bom. ‘Perfeito para viajar’,” Observo suas costas bem de perto quando ela pausa, e então continua a empacotar.
“Gosto de viajar na chuva.” Ela diz secamente.
“Por que você não quer sair de novo?”
“Não quero que você saia. Aliás, você não quer mesmo sair.” Ela se levanta lentamente e se vira. “Quero ir para casa,
assim como você.” Ela olha para mim séria. “Há um homem nas ruas, o karo de um castelo da Garça a algumas milhas a
sudeste daqui. Ele está procurando ‘pelo Grande Kaagi das lendas e histórias, para alistar sua ajuda numa questão deveras
grave’. Você sabe como eles falam.” Ela se joga na esteira e olha para cima com traquinagem cômica. “Ele irá nos impedir.
Acho que se nos escondermos aqui, ele pode se desanimar e ir embora.”
Mexo minha cabeça quando me levanto, pondo minhas espadas em meu obi. “Você sabe que não posso fazer isso. É
melhor ver qual é o problema.” Ela se levanta enquanto caminho para a porta. Ela está resmungando algo baixo demais
para entender, mas ela me segue pela escada estreita.
Ela toma a frente quando chegamos à rua, indo à direita no fim da rua, uma esquerda numa rua de casas de chá,
finalmente passando pelo caminho dos comerciantes, a rua principal da cidade. Não é difícil avistar a figura azulada e bem
vestida no centro da alameda, balançando um manuscrito enrolado sobre sua cabeça e tentando conversar apesar do som do
tráfego. O povo ao seu redor parece estar tentando ajudá-lo, mas ele não parece se comunicar muito eficazmente.
Ele nos avista quando nos aproximamos e um olhar de excitação aliviada toma seu semblante. “Kitsuki Kaagi-san?”
ele pergunta quando passa por Mei. “Sou Doji Sanju, karo de Doji Mikara, daimyo do Castelo Ukara. Ouvi que você
estava por esta região e pensei se não poderia ajudar meu senhor que está em aguda e desesperada necessidade de assistência.
Você nos ajudará?” Ele pergunta como que se apenas por formalidade. Suponho ao seu modo que ele está correto.
“Claro que o ajudarei. Mas qual é o problema?” Enquanto respondo posso ver Mei mexer sua cabeça.
“A filha de meu senhor desapareceu,” ele diz lançando seus olhos ao longe como se ela pudesse aparecer atrás de um
arbusto próximo. “Ela saiu a quase duas semanas atrás para ir à casa de um lorde da Fênix com quem se casará. Ela nunca
chegou; nem ela ou qualquer membro de seu séquito foram vistos desde então. Meu senhor pediu ajuda a Otosan Uchi, mas
sabia que estava por perto e sua reputação é falada em muito bom tom. Se não se importar, preferiria deixar o resto dos
detalhes para quando viajarmos. Sei que meu senhor é muito ansioso e gostaria de perder o mínimo de tempo possível.”
“Claro,” respondo. Demora pouco tempo para juntar nossos pertences da pousada, arrumar os pôneis e sair rumo ao
castelo Ukara. Enquanto viajamos, Sanju continua com a história.
“A filha de meu senhor, Ninube, é uma garota talentosa, versada nas artes da poesia, canto, dança e retórica. Ela é sua
filha única, e seu casamento com a família Isawa deixou ele e sua família em grande alegria. Seu prometido é Isawa Ujina,
um belo jovem que é como um filho para meu senhor e senhora. Duas semanas atrás, Ninube saiu para visitar a família de
seu noivo. O casamento só será na primavera, mas Ninube foi passar o inverno aprendendo os caminhos da casa de seu
marido.”
“Há uma semana, Ujina chegou num estado de preocupação no castelo de meu senhor. Ninube não havia chegado
ainda, e ele temeu que ela estava doente ou algum infortúnio a teria acometido. Quando as duas partes perceberam que a
garota desaparecera, eles tomaram ação imediata.”
“Felizmente, ou assim pensamos na hora, um grupo de magistrados Imperiais, a caminho de Otosan Uchi, parou
para desfrutar da hospitalidade de meu senhor e ainda estavam presentes. Eles saíram imediatamente à procura de Ninube.
Mas agora eles não retornaram, e outra semana se passou.” Sanju recita o relato como se tivesse sido bem ensaiado. Claro,
ele teve a jornada inteira para praticá-lo. Atribuo seu cuidado a uma preocupação normal para as frases e formalidade ao
invés de um ardil praticado.
Ele continua. “As pessoas começaram a falar. Começou com os servos, mas agora a nobreza menor também especula.”
Ele parece embaraçado. “Dizem que há sombras nas colinas e na floresta que não se movem com a luz. Eles dizem que há
Ninjas por lá.” Ele olha para mim, e então para longe. “Foi por isso que vim. Você é famoso por entender desses assuntos.”
Chegamos ao castelo Ukara em menos de um dia. Está tarde quando chegamos, mas luzes ainda brilham pelas janelas
como vagalumes. O castelo tem a aparência da casa de verão de um lorde. Os jardins na frente são impressionantes, mesmo
na escuridão da meia noite. Lagos e riachos se ligam, captando a luz das estrelas e lançando-a por suas superfícies fluidas. A
beleza das flores é aparente mesmo com os botões fechados.
Guardas atentos no portal saem quando Sanju se aproxima, deixando-os passar pelo salão de entrada. Minha
impressão inicial é de tetos altos e sedas delicadas. Tapeçarias ornadas cobrem as paredes e detalhadas esculturas se alinham
no corredor. Sigo Sanju por vários corredores similarmente decorados até um par de grandes portas. Mais dois guardas se
movem quando nos aproximamos, e a luz some, cegando-me por um momento. Quando minha visão retorna, posso ver a
sala perante mim coberta com lanternas de papel brilhantemente coloridas. Elas pendem em todo canto, repousam em toda
mesa, até mesmo no chão. O que presumo ser a nobreza menor povoa a sala num estado de ansiedade enérgica. Mapas
espalhados nas mesas parecem um arranjo dissonante que foram trazidos especialmente para a ocasião. Ninguém, porém,
parece estar olhando para eles. O lugar tem aparência de uma sala de guerra cheia de crianças, muito zumbido vindo sem
resolução. Mei sussurra pelo meu ombro direito: “É como se ele tentasse reunir uma sala de crise, mas só tinha alguns favores
para enchê-la.” Como resposta, uma lanterna amarela brilhante gira lentamente no passo de Sanju. O karo se move
apressadamente para o lado de um homem sentado no centro do caos. Presumo que seja Doji Mikara pelo olhar
impacientemente preocupado em sua face e a qualidade de seu kimono.
“Mikara-sama,” diz Sanju curvando-se baixo, “Eu trouxe Kaagi-san.”
Curvo-me ao homem sentado. “Fico feliz em ser útil.”
Mikara se levanta. “Estou feliz em ter sua ajuda, Kitsuki Kaagi-san.” Ele diz com um assentir gracioso. “Ouvi muitos
de seus feitos, perseguindo um assassino Ninja por terras mortais, forçando homens desonestos a se arruinarem com a
verdade; você é por todo relato um homem a ser temido.”
“Meu senhor, temo que alguns dos relatos que ouviu possam ser um pouco mais coloridos do que os eventos reais. Mas
como disse, estou inteiramente à sua disposição.” Enquanto falo, aproveito o tempo para examinar Mikara. Ele parece velho
o bastante para se aposentar e deve ter tido sua filha em idade avançada se ela só agora tem idade para se casar. Sua fala é
polida, mas posso ver a tensão que faz seu semblante saltar. Ele está muito preocupado com a ausência de sua filha. Ele
parece à beira do pânico, e suspeito que seja apenas uma vida inteira de honra que impeça seu tom de voz e suas palavras
lentas. Vejo-me sentindo uma grande simpatia por este velho homem, fora de seu leito em tão avançada hora. “Seu karo me
relatou os eventos recentes. Se você e eu pudermos resumir as coisas, começarei meus preparativos e posso muito
provavelmente começar a procurar por sua filha imediatamente ao nascer do sol.”
Sua face perde sua tensão. “O que seria muito apreciado,” ele diz com um sorriso cansado.
“Já entendo que sua filha saiu há duas semanas, desaparecida em algum lugar entre aqui e a casa da Fênix a que ela
estava viajando, e não foi vista desde então. Você enviou um grupo de magistrados Imperiais há quase uma semana, e nada
se ouviu deles desde então. Isto está correto?” Ele assente. “Quando Isawa Ujina-san, noivo de sua filha, chegou, ele disse se
os guardas na fronteira das terras da Fênix relataram sua passagem?”
“Não o fizeram. Ele perguntou, quando passou por eles, na esperança de que ele não a tivesse visto na estrada. Mas ela
não cruzou o rio. Enviei batedores ao posto de guarda lá, e eles relataram que ela e seu séquito passaram por lá um dia após
terem saído daqui.” Seus olhos são afoitos, mas resolutos. “Os magistrados também passaram por aquele ponto. Mas
ninguém ouviu deles depois.”
“Muito bem,” digo a ele. “Precisarei de um mapa de sua rota pretendida. Onde está Isawa Ujina-san agora?”
“Ele provavelmente está no jardim interior. Ele passou muito de seu tempo tentando se focar e talvez aprender algo por
suas meditações. Ele até agora não teve sucesso. Ele queria sair e procurar por Ninube de novo, mas o persuadi a esperar até
que você chegasse. Ele é um bom jovem, mas não sei que bem faria se ele ou minha filha estivessem sozinhos se uma ameaça
surgisse. E…” Ele olha em direção ao chão,”… Amo minha filha. Mas não posso suportar as repercussões da família de
Ujina se perder seu filho mais velho.” Ele olha para cima e o conflito do dever paternal e real é fácil de ver em sua face.
“Ujina vai querer ir com você. Bem como o magistrado do Escorpião, eu suspeito. Se sua saúde o permitir.”
“Quem?” Digo, tentando não franzir. Repentinamente imagino quem mais ele esqueceu de mencionar.
“Desculpe,” diz Mikara. “Presumi que sabia, mas foi tolice. Quando os magistrados Imperiais saíram para procurar
por Ninube, um deles, um magistrado da família Bayushi, ficou para trás porque não estava bem. Ele permaneceu aqui
desde então.”

Item 44
Retiro-me pelo resto da noite. Demoro a dormir. No olho de minha mente vejo a filha da Garça do velho general
Matsu. A garota nunca chegou para seu casamento, massacrada por Leões, guiados pela mão manipuladora do Escorpião.
Não faz sentido que a história se repita, mas a sensação de coincidência me deixa incomodado. Quando a manhã vem, sinto
que dificilmente fechei os olhos. Meu corpo dói da viagem da noite passada e tão pouco repouso. Ainda assim, me levanto
mais cedo que o planejado. Mei está bocejando no corredor quando abro a porta da sala do luxuosamente decorado quarto
de hóspedes.
“O Bayushi primeiro, ou o Fênix?” Ela pergunta sem preâmbulos. Pelo seu mau humor, concluo que o sono dela não
foi melhor que o meu.
“Faz pouca diferença,” respondo. “Suponho que falarei com o Escorpião primeiro, e terminemos isso. Se puder nos
arranjar uma cópia do mapa da rota de Doji Ninube, e rastrear seu futuro marido, nos pouparia tempo. Ainda quero sair
daqui o mais cedo possível.”
“Devo desencorajá-lo a se juntar a nós?” Ela pergunta enquanto descemos o corredor.
“Não. Pelo que Mikara disse noite passada, duvido que possa. Além disso, não nos faria mal ter um shugenja por
perto, especialmente se nosso inimigo é algo que possa ameaçar até mesmo um grupo de Magistrados Imperiais.”
“Estou feliz que pense assim também,” diz Mei com um meio sorriso. “Estava preocupada em ser a única com uma
dose saudável de autopreservação. Um pequeno conselho, porém,” ela diz, só se virando quando nos separamos. “Coma algo
antes de falar com o Escorpião. Não faz sentido ser paciente e astuto de estômago vazio.”

Item 45
Me sento com Bayushi Baka, e me lembro das últimas palavras de Mei e desejo que as tivesse levado mais a sério.
Baka é um homem alto e esbelto cujo cabelo pesado está amarrado para trás de um belo semblante e olhos atraentes.
Uma meia máscara de madeira cobre a porção superior de sua face e nariz. Embora pálido, ele não parece particularmente
doente. Ainda assim, quem na casa Doji não o acusaria de mentir?
“De fato, quisera eu ser-lhe de mais ajuda, Kaagi-san,” ele diz com um sincero sorriso. “Mas não acho que tenha
qualquer conhecimento que você já não possua.”
“Entenderia, é claro, Baka-san, se você quiser nos acompanhar nesta jornada, já que a busca agora também é por seus
companheiros desaparecidos bem como pela filha de Mikara-sama.” Retribuo seu sorriso com igual sinceridade.
Conhecimento pode, à sua maneira, ser uma máscara bem como a astúcia.
“E eu, é claro, o faria de bom grado,” ele diz em tom de genuíno arrependimento. “Mas justo agora, acabei de receber
comunicação de minha família informando-me que sou chamado ao castelo Bayushi numa questão de máxima urgência.”
“Mais urgente que o bem estar de seus companheiros?” Ergo minhas sobrancelhas em falso choque.
“Isto, aliás, não cabe a mim decidir.” Ele mexe sua cabeça tristonho. “A mensagem é do próprio Bayushi Shoju. Não
posso recusar.”
Nos olhamos por longos momentos. Nenhuma palavra é dita, mas algo é comunicado silenciosamente. Ele está
mentindo, nós dois sabemos disso. O que ainda está para ser visto é se romperei o protocolo se o disser isto.
Uma mudança ocorre no rosto de Baka. Seus olhos e boca se endurecem, e sua fachada escorre, substituída por algo
mais honesto que a própria sinceridade. É repulsa expressa. Que ele mostra para mim como sinal de respeito. “Seu tipo e o
meu são inimigos, Kitsuki.” Seu sorriso é amargo. “Somos aranhas e vocês são formigas. Nossas teias podem pegar você, e
cearemos bem. Mas muitos de vocês poderiam, pelo peso, derrubar nossas teias. Não se esqueça de que não há muitos dos
seus no mundo.”
“Não fui com meus companheiros porque sabia que estavam arruinados. Minha presença não os teria ajudado, mas
minha ausência teria feito todo um mundo de bem. Eles irem era tão inevitável quanto você os seguir. Você verá em sua
jornada o que já encontrou você.” Sinto um calafrio. Nos olhos de Baka vejo o reconhecimento do medo que sinto em meu
coração. Em algum lugar no fundo de minha mente, a esposa de Dasan está dançando nas chamas que a devoram.
“Você pode ser um tolo,” ouço Baka dizer. “Não sei ao certo. Mas sei que chamou a atenção de algo que você gostaria
de não ter chamado. E isto está esperando por você na estrada lá fora. Lhe darei estes avisos. Não deixe nenhum de seus
companheiros viajar separadamente por qualquer espaço de tempo. Você deve confiar no que sente, especialmente se é medo.
Mas não ponha muita fé no que vê ou ouve. E confie em si mesmo acima de todos os outros. Pois quando não puder mais
confiar em si mesmo, você não importará mais. Isto é tudo que posso fazer para ajudá-lo.”
“Você avisou seus amigos?” Minha voz soa oca.
“Teria, se achasse que entenderiam ou ouviriam. Mas ainda não haviam visto. Quanta atenção você teria me dado se
não você mesmo não tivesse visto o que espreita nas sombras?” Ele se ergue de sua cadeira abruptamente. “Tenho que
empacotar minhas coisas agora,” ele diz bruscamente. “Irei embora em breve, pela estrada oposta. Boa sorte.” Não há
humor em seu sorriso.
Me levanto e caminho à porta em pernas rapidamente rígidas. Viro-me de volta a ele quando vou. “Haverá uma
formiga a menos se eu não retornar.” Observo para ver se Baka olhará para mim quando ele responde.
Ele não olha. Ao invés disso, ele diz: “Você está certo.”
Item 46
Encontro Mei no pátio. Ela está do lado de uma fonte feita de pratos intrincadamente sobrepostos, cada um
derramando delicados fios de água em mais pratos abaixo. Ao lado dela está um jovem. Ele é alto como a fonte, e quando ele
se move há uma fluidez remanescente do fluxo da água.
“Kaagi-san,” ele me saúda. Ele se curva num movimento rápido, e sorri com autenticidade que é inteiramente
refrescante após a ‘sinceridade’ do Escorpião. “Sou Isawa Ujina,” ele diz. “agradeço-lhe por sua ajuda em encontrar
Ninube. Espero que aceite minha companhia em sua jornada.”
“Doji Mikara-sama me disse que estaria ansioso,” respondo, retribuindo seu sorriso. “Sua ajuda será bem-vinda.” Seu
sorriso faz pouco para mascarar seu medo e tensão. Ele é jovem, mas posso ver linhas fundas em seus olhos, e meu palpite é
que estão lá há quase um mês. Ele usa um cabelo longo, amarrado atrás numa trança rebelde. Seus mantos estão com muita
poeira na parte de baixo. Pela posição, posso intuir que ele tem se ajoelhado aqui no jardim por um longo tempo.
Olho novamente na face de Ujina, seus olhos. Estou surpreso em não encontrar traços vermelhos que esperaria ver num
homem que não dormiu.
“Algo está errado, Kaagi-san?” Ele pergunta, incomodado com meu escrutínio.
“A quanto tempo você não dorme, Ujina-san?” Viro de lado e gesticulo para se juntar a mim no caminho de volta ao
prédio. “Um homem exausto será um impedimento na estrada.”
Ele ri enquanto caminho na trilha ao meu lado. “Me esqueci de quão observadores homens de sua escola são,” ele diz,
batendo em seu kimono. “Você está correto. Estive aqui no jardim por algum tempo, e não tenho dormido. Estou bem
renovado, porém. Tenho estado num estado de meditação, tentando encontrar uma sensação de onde minha noiva está. Tive
pouco sucesso até agora, mas minha comunicação próxima com o mundo me susteve tão bem quanto qualquer sono faria.”
“Você disse que teve pouco sucesso. Mas houve algum?” Vejo-me extremamente curioso sobre esta comunicação a que
ele se refere. Ouvi histórias sobre shugenjas da Fênix que são capazes de superar a habilidade mais comum de questionar
elementos específicos do mundo natural. Um de meus professores, um homem que passou algum tempo no castelo Isawa,
falou que são capazes de expandir sua percepção, como ondas na água, até que possam sentir o estado das coisas bem longe de
onde estão. O que mais impressionou meu professor foi uma habilidade dos mesmos homens entenderem profundamente as
sensações e motivos de outro homem. Ele descreve a habilidade como incrivelmente similar à nossa própria abordagem em
discernir o caminho dos homens de mentiras e verdades. Pensei por muito tempo se tal habilidade poderia ser resultado de
um nível de observação tão agudo que se tornara subconsciente.
“Não tive sensação de Ninube, não pela terra, ou de seu espírito.” Seu tom é amargurado, mas quando olha para
cima, sua expressão é inquisitiva. “Está errado. Mesmo que estivesse morta, no fundo de algum pântano, eu deveria ter uma
sensação de ausência. O fato de eu não sentir nada me leva a pensar que é mais complexo.” O garoto parece curioso apesar de
tudo.
Em menos de uma hora estamos de partida. Mikara nos deseja bons votos quando montamos nos pôneis fortes e bem
criados que nos ofereceram. Parece que ele não dormiu. Um quarto pônei carrega provisões dignas de homens mais nobres
do que eu, e mais do que tal homem precisaria. O sol mal se levanta quando partimos pela trilha. O céu ainda está nublado
de sono e névoas tristonhas dão ao cenário uma beleza pacífica que espero ser um bom presságio para o resto de nossa
viagem.
Cavalgamos em silêncio por grande parte da manhã. Penso de início que Ujina se perdeu em pensamentos, ou talvez
esteja descansando após uma longa noite. Mas quando olho mais atentamente, posso ver que embora seus olhos estejam
fechados, sua postura está reta. Seu corpo acompanha o movimento do pônei como se fosse inteiramente natural para ele.
Quando olho para Mei com curiosidade ela apenas sorri e dá de ombros antes de direcionar sua atenção de volta ao cenário.
Os mapas de Doji Mikara mostram pequenas fazendas e um vilarejo que devemos passar no meio ou final da tarde. As
colinas dão espaço a terra mais íngreme e rochosa, quando nos aproximamos das montanhas entre as terras Isawa. Depois
disto, não haverá companhia humana até cruzarmos as montanhas e emergirmos em território Fênix. A trilha é muito bem
cuidada para rastrear o grupo de Ninube e os magistrados, mas não estou preocupado. Os relatos de Mikara dizem que
ambos passaram pelo vilarejo. Dali, começarei a busca por rastros de fato.
Quase ao meio dia paramos por uma refeição leve. Ujina se levanta sem dizer uma palavra. Pegamos a estrada e
lanhamos quando o sol se ergue no céu.
“Falei com os Kitsuki antes,” diz Ujina de maneira amigável. “No castelo Isawa, estudiosos Kitsuki e Togashi vieram
visitar. Eles estavam interessados em nossa técnica, e nós estávamos nas deles.”
“Este é um interesse que compartilho,” respondo, esticando as costas. Não estou acostumado a cavalgar, e sinto
dormência em minhas costas e pernas. À noite, elas protestarão com maior força, eu acho. “Estava imaginando se o que você
chama de ‘meditação’ não teria algo em comum com o estado que nós Kitsuki aprendemos a usar.”
“Você não é o primeiro a pensar assim.” Ujina se inclina na grama, sem preocupação alguma com o efeito no kimono
limpo. "Um homem chamado Kitsuki Tubo passou um tempo na casa de minha família. Ele pensava de modo bem
parecido.”
“Conheço Kitsuki Tubo. Ele foi um de meus professores. De fato, estava pensando nele esta manhã.” Tubo é um
homem rotundo, não muito alto, nem muito baixo. Mas apesar de sua aparência, sua mente é uma das mais aguçadas que
já encontrei.
“Ele era brilhante.” Responde Ujina num tom de concordância. “Nunca conheci ninguém como ele.”
Um calafrio percorre minha espinha apesar do calor do meio dia. Olho rapidamente para Ujina, mas ele está olhando
para o campo. Suas palavras, tão próximas aos meus pensamentos, me levam de volta ao momento nos corredores da casa
de Dasan e meu encontro com a coisa que se parecia com sua esposa. Na luz brilhante do dia parece um pensamento tolo,
mas ele ainda perdura.
“Algum problema?” Pergunta Ujina. Minha expressão deve trair meu senso de propriedade pois ele está ereto e vira
sue corpo na minha direção, sua cabeça tombada para o lado. “É a meditação,” ele diz, “a que você acha que se parece com
sua técnica. Não tenho que ver ou ouvi-lo para senti-lo no padrão das coisas.”
Demoro um momento para entender. Ele pode sentir meu alarde do modo que um cão fareja medo numa lebre a ser
caçada. Faz sentido agora que ele possa ter uma impressão similar de meus sentimentos em relação a Tubo, e respondeu a
isto. Agora que penso a respeito, lembro-me de Tubo descrever algo similar.
Quando relaxo, ele parece fazer o mesmo. “Isto é fascinante,” digo, genuinamente impressionado. Sua percepção não se
parece com nada que já encontrei. Sua consciência é impressionante, e não posso evitar em imaginar se nossos métodos
podem não ser compatíveis afinal.

Item 47
Ao meio dia, chegamos ao vilarejo de Arika, a última área realmente povoada antes das colinas de Nemui Kaminari
Yama, as montanhas que ficam entre as terras da Garça e da Fênix. O líder do vilarejo é cortês e nos oferece chá e comida.
Ele também nos oferece a hospitalidade de seu lar caso passemos a noite e continuarmos renovados pela manhã.
“Houve rumores, meus senhores,” diz o líder em seu tom mais polido. “Cavaleiros estranhos têm estado nos limites das
colinas. Temo que possam ser bandidos. Dizem,” ele baixa sua voz, “que não são bandidos, mas algo mais sombrio. Dizem
que há Ninjas nas colinas.” Ele olha para nós ansiosamente. “Perdoem-me. É boato de camponês.” Ele baixa a cabeça e se
curva saindo da sala.
Ujina e eu trocamos olhares. “Você ouviu algum rumor?” Pergunto quando o líder se foi.
“Não do meu lado da passagem,” ele mexe a cabeça. “Quanto a bandidos, não seria a primeira vez que homens sem
terra fizeram lar temporário nestas colinas. Mas Ninjas? Espreitando nas árvores de uma passagem vazia? Improvável.
Você supõe que poderia ser o que houve a Ninube?”
“Você conhece a região melhor do que eu,” respondo. “Mas há meios piores de tentar fazer fortuna. Se são bandidos,”
reafirmo a ele. “Eles provavelmente a manterão bem. Ela vale mais como refém do que qualquer outra coisa.” Ele parece
mais calmo. Sei que ele poderia ver se quisesse que de fato não acredito nas minhas palavras. Mas agora Ujina quer muito
acreditar em mim, e ele o faz.
“Será mais perigoso viajar nas colinas quando o dia sumir,” sugiro. “Se ficarmos aqui e começar a viagem ao
amanhecer, poderíamos tirar vantagem da luz do dia.”
“Perdoe meu egoísmo, Kaagi-san,” ele diz com um lento movimento de sua cabeça. “Não posso suportar passar outra
noite no conforto enquanto minha prometida está em algum lugar da mata.”
“Entendo.” E entendo mesmo. A mente de um homem deve ser prática porque seu coração jamais o fará.
Após um breve descanso continuamos. Cruzamos o rio que passa por Arika, o último ponto onde Ninube e seu povo, e
os magistrados, foram vistos. O resto do dia passa quietamente e, como Ujina previu, quando a escuridão cai, a terra se torna
mais rochosa. Ao crepúsculo, nos vemos numa trilha cada vez mais pedregosa. A precaução nos manda desmontar.
“Vamos um pouco mais,” diz Ujina quando pergunto a ele se acha sábio acamparmos à noite. “Ainda há uma hora ou
quase de luz fraca antes da noite chegar, e acho que há uma clareira, um lugar plano, não muito acima. Notei quando passei
por aqui antes.”
Ele está mentindo, é claro. Não deliberadamente, mas um homem faminto mentirá para si mesmo, prometendo que
comerá logo quando sabe que não há comida. Simpatizo com sua ansiedade, e continuamos. Olho agora e de novo para
Mei. Ela ficou em silêncio a maior parte do dia, quando normalmente fica quando estamos acompanhados. Sei que ela o faz
para manter nosso relacionamento como serva e senhor, mas com Ujina tão quieto, sinto falta de suas conversas. De sua
parte, Mei presta atenção em nossos arredores, observando as árvores dos dois lados da estrada. Quando a escuridão cai, ela
fica mais atenta.
As sombras ao redor da trilha se aprofundam. Logo Ujina terá que admitir que é noite e acamparemos. Não posso
evitar a sensação de que a escuridão está se aproximando atrás de nós, nos levando para frente. Uma noção tola. Ainda, é
uma sensação nervosa e me vejo pensando na risada da esposa de Dasan.
Posso ver as colinas à frente se tornando planaltos. A trilha em que estamos parece nos levar a uma passagem pelas
montanhas. O caminho é ocasionalmente viajado, mas não o bastante para merecer cuidados. Rochas grandes foram
tiradas, mas pedras menores, do tamanho de um punho, ainda sedimentam a estrada.
A sensação de que estou caindo termina quase antes de perceber que comecei a cair. Sinto gosto de poeira, e há um
momento de pura confusão física quando tento libertar meus braços e pernas enrolados em meu kimono.
“Você está bem?” Pergunta Mei, logo à minha direita. “O que houve?”
“Um buraco de rato, talvez,” diz Ujina. Sua voz vem de algo lugar perto dos meus pés. “Não, uma cobra.” Ele diz,
com certeza. Ele se vira para mim. “Como você está?”
“Estou bem.” Tento me levantar de novo. Me sinto ridículo. Meu equilíbrio ainda está prejudicado, a queda me tirou o
fôlego. Pego a mão oferecida de Ujina e me ergo, mas uma súbita dor em meu pé esquerdo me derruba. “Acho que sofri
algum dano,” digo com um gemido. Reclinando sobre Mei, testo o pé com peso, e há dor.
Ujina se dobra para olhar. “Você o torceu,” ele diz com um olhar de arrependimento. “Desculpe. Devíamos ter parado
enquanto havia luz.”
Assinto. Dizer qualquer coisa seria mesquinho. “Aquela clareira ainda está à frente?” Sorrio apesar de mim mesmo.
“Acho que sim,” ele diz, retribuindo o sorriso com um mais cálido. E de fato ele está certo. Outros dez minutos à frente,
comigo a cavalo, chegamos um lugar plano alguns metros fora da trilha. Amarramos os cavalos e fazemos um pequeno
acampamento sob as árvores. Observo com interesse enquanto Ujina reúne um punhado de folhas no centro da clareira. Ele
se curva sobre ele e fala baixo demais para eu distinguir mais do que a sugestão de sílabas. Ele parece conversar com os
galhos. Então, como resposta, uma fraca luz emerge no centro, ficando cada vez mais brilhante até que a conversa seja uma
nítida oratória explodindo em felicidade à nossa frente. “Chá?” Pergunta Ujina casualmente.
As provisões de Mikara são, sem surpresa, excepcionais. Nas bolsas de nosso quarto pônei, encontramos folhas. Ujina
sorri quando nota minha apreciação. “Mikara-sama tem comida trazida do rio que cruzamos há algumas horas. E é claro
que ele teve os melhores chefes para prepará-la.”
“Você está se casando com uma ótima família,” diz Mei com convicção quando ela se senta para sua refeição. Um
apetite satisfeito sempre a torna mais sociável.
Após algum tempo gasto em calma digestão, puxo o mapa da rota pretendida de Ninube de uma dobra em meu obi.
“Parece que entraremos na passagem principal amanhã cedo, correto?” Pergunto a Ujina. “Quanto até a estrada ficar de
fato inóspita?”
“Amanhã à tarde, a trilha ficará pelo menos duas vezes mais íngreme. Mas é o pior dela.” Ujina estão tentando não
olhar para meu pé ferido, apoiado em nossas bolsas. “Os cavalos devem ser capazes de carregá-lo. A menos que queira
voltar, isto é.” Ele olha para longe nesta última frase.
Posso sentir os olhos de Mei em mim. Talvez eu tenha um pouco da habilidade Ujina em mim afinal. “Você voltaria
conosco?” Faço a pergunta mesmo já sabendo a resposta.
“Não.” Ele olha para as árvores.
“Você não sabe como rastreá-los.” Afirmo. Ujina não responde. Sejamos justos, não há muito que ele possa dizer.
“Continuaremos.” Digo olhando para Mei. Ela está olhando para mim com um olhar de intensa tristeza. Ela mexe a
cabeça e olha ao longe antes de poder explicar o porquê.
O silêncio cai no acampamento depois disto. Crio cenários em minha imaginação, tentando achar o que houve para
fazer Ninube e seus seguidores desaparecer. Nada que eu pense de fato faz sentido. Estou começando a apagar quando o
grito rompe a calmaria.
Impelido em súbito despertar, vejo Mei já de pé com uma faca. Ujina parece pálido, obviamente assustado. Um
segundo grito, uma voz de mulher, vem de algum lugar das árvores.
Ujina salta, pegando sua espada, e começa a correr para as árvores.
“Não!” Grito depois dele, claramente sem pensar. Em meu cérebro sonolento, ouço o aviso de Baka para não
deixarmos ninguém sozinho. “Não podemos nos separar,” digo, apoiando-me no meu pé bom.
“É a coisa mais brilhante que você já disse,” resmunga Mei, vindo me ajudar a levantar.
“Todos nós temos que ir,” digo a Ujina que se levanta ansiosamente, pronto para correr pela noite. “Não posso explicar,
mas estou certo que qualquer um de nós que fique sozinho está em grande perigo.”
É um visível esforço para Ujina se conter. “Você consegue?” Ele pergunta.
“Eu o ajudarei,” diz Mei, posicionando-se como uma muleta. Começamos num passo lento, floresta a dentro.
Não há luz exceto as tochas que Mei e Ujina carregam consigo. A chama lança sombras agitadas ao nosso redor
transformando a floresta num labirinto de passagens entre as árvores. Estou quase correndo num pé só, o resto de meu peso
apoiado em Mei, loucamente tentando acompanhar o passo de Ujina. O jovem Isawa corre à frente, mal sendo visto todo o
tempo.
De início investimos na escuridão. Então outro grito nos vira para o leste. A voz é indubitavelmente de uma mulher e
tenho que chamar Ujina de novo para que ele não corra à nossa frente. O olhar que ele me atira é selvagem e desesperado.
“Podia ser Ninube!” Ele diz, sua voz é apertada. Mas ele diminui o bastante para o acompanharmos. Tento ver aonde
estamos indo, mas o chão sobe e desce sobre nossos pés e tenho que manter minha cabeça baixa para me proteger dos galhos
que chicoteiam por nossas faces. Ouço Mei xingar perto do meu ouvido.
“Você está bem?” É difícil pegar fôlego para perguntar.
“Bateu no meu braço,” ela cospe. “Isto é estúpido. Vamos nos matar nisso.”
“Por aqui,” grita Ujina alguns metros à nossa frente. “Pode ouvir? Alguém está gritando. É Ninube, eu tenho
certeza.” Ele corre para a esquerda quando termina de falar.
Mei e eu seguimos enquanto ela segura a tocha para tentar iluminar nosso caminho. Quase tropeçamos numa queda
súbita que se abre diante de nós, quase dois metros à frente e funda demais para vermos o fundo. Passamos por ela, por
pouco, com um pulo rápido, mas o pouso é forte e quase desmaio pela dor que causa no meu pé ferido.
“Pode continuar?” Pergunta Mei. “Talvez devamos parar e esperar aqui.”
“Não,” Cerro meus dentes contra a dor, mexo minha cabeça tentando manter Ujina à minha vista quando ele se
esquiva pelas árvores. “Ujina,” grito, “espere por nós!” Mas ele não ouve desta vez. “Vamos,” digo a Mei. “Não podemos
perdê-lo, pelo nosso bem tanto quanto dele.” Ela não questiona, só ajusta o ombro sob meu braço e me deixa ajustar nosso
novo passo.
Por um momento, temo que o perdemos, então vejo sua tocha à frente, imóvel nas sombras trêmulas. Alguns metros, e
estamos ao seu lado.
“A perdi,” ele vira um olhar desesperado quando nos aproximamos. “Pude ouvi-la gritar, soluçando bem aqui! E
agora se foi.” Sua cabeça baixa, olhos apertados, seu corpo inteiro pesa quando ele luta para pegar ar. “Não posso senti-la
em lugar algum.” Sua voz para por um momento.
Nós três ficamos em silêncio. A noite inteira fica parada. O vento parou. Mesmo o fogo para de estalar no fim de
nossas varas ardentes. A quietude não é natural. Meus ouvidos se sentem parados e quando olho para Mei, vejo a mesma
expressão enervada.
Então, à nossa direita, vem o som de uma mulher chorando fracamente. A cabeça de Ujina se levanta. Nós três nos
viramos na direção do som, e assim que o fazemos ele para. Uma leve brisa passa por nós, esfriando meu suor. E com ela,
vem todos os sons normais da noite.
“Onde está ela?” Sussurra Ujina. Quando olhamos, algo brilha na escuridão. Demora um momento para ficar claro
aos meus olhos, e outro para perceber que estou olhando para uma grande coruja preta. Suas asas se abrem pelo que deve ser
o comprimento de um cabo de naginata. Ela se senta num galho na escuridão, e em suas garras, ela segura um pingente
dourado, indo lentamente para frente e para trás, refletindo a luz do fogo.
“É de Ninube,” diz Ujina e dá outro passo em sua direção. Com uma súbita rajada de ar e movimento, o pássaro voa,
em zênite, carregando seu prêmio consigo. Quando vai, de algum lugar se ouve o som de uma mulher chorando.
“Não entendo.” Ujina está paralisado, sua mão se estende para o galho da coruja. “Aquele pássaro não estava lá.
Olhava bem para lá e não tinha sensação dele. E o pingente, eu o dei para Ninube há um ano. Ela,” sua voz falha por um
momento em suas próprias palavras. “Ela jamais o tiraria. É maho?” Ele pergunta se virando para mim.
Só posso mexer minha cabeça. “Não se parece com nada que já encontrei.”
Nós três nos viramos para o acampamento, movendo-me lentamente desta vez. Não faço ideia de aonde estamos indo
de início, mas com ajuda das tochas, somos capazes de seguirmos nossa própria trilha de galhos quebrados e grama
amassada. Parece que um exército marchou e não três pessoas meio loucas.
Faz quase duas horas antes de vermos a luz da lua refletindo a estrada à nossa frente. Caminhamos mais rapidamente,
nosso destino à vista. Então o vento muda, vindo na nossa direção da estrada e o cheiro nele é de morte. A mão de Mei se
aperta contra meu braço, e posso sentir suas unhas pressionando fundo. Saco minha katana e sei sem olhar que a faca dela
já está em suas mãos.
“O que é isso,” pergunta Ujina, cheirando o ar. “O cheiro…”
“É sangue,” respondeu Mei, sua voz baixa. “E muito.” Nos movemos cautelosamente agora.
Sei o que esperar pelo cheiro, mas ainda não estou preparado para o que está diante de nós. Quando avistamos ao
acampamento, o fedor se torna sufocante. O tecido de nossos leitos está em retalhos pela clareira. Nossas bolsas estão
rasgadas e reviradas. E os quatro pôneis que deixamos estão dilacerados no chão. O cheiro não é só de sangue, mas o forte
odor de entranhas. Os animais foram eviscerados, seus órgãos espalhados pelo chão, pendurados nos galhos das árvores
próximas e misturados aos conteúdos de nossas bolsas.
Estou vagamente ciente do gaguejar de Ujina, tentando se controlar. Mei põe minha mão numa árvore próxima.
Então, com a faca em mãos, ela se passa cautelosa pelo acampamento, então para a estrada, checando as duas direções. Ela
fica claramente à vista de todos nós durante o processo.
“O que poderia ter feito isso?” Pergunta Ujina, chegando ao meu lado.
“Não sei.” É uma meia verdade. Tenho minhas suspeitas.
“É seguro para ela ficar lá fora?” Ele pergunta, seus olhos seguindo Mei.
“Não há ninguém à vista,” Mei reporta quando volta, abrindo um caminho pelos destroços. “E não há rastro fresco
além dos nossos na estrada, ou perto do acampamento.”
“O que fazemos agora?” Pergunta Ujina olhando para a carnificina à nossa frente.
“Voltamos.” Com essas palavras, ela se vira para nossos pertences. “Acho que posso salvar um pouco disto. Algumas de
nossas roupas e comida estão só com sujeira, não no que restou dos cavalos. Mas temos que ser loucos para continuarmos.”
“Mas não podemos apenas ir.” O desespero de Ujina retornou. Ele se vira para mim, olhos brilhando. “Isto é o que
eles querem, quem quer que fez isso. Eles nos atraíram para que pudessem destruir nosso acampamento.”
“Não,” Corrijo-o o mais gentilmente possível. “Eles tentaram nos separar para que pudessem fazer isto…” Aponto
para a clareira atrás de mim, “… Com quem ficasse para trás.” Espero, esperando minhas palavras penetrarem. Mas
embora fique mais pálido, a determinação permanece em seus olhos.
“É mais uma razão para continuarmos. O que fez isso tem Ninube; eles devem ter. Não posso voltar sabendo que ela
está nas mãos de algo que possa ter feito isso.” Ele mexe sua cabeça, os olhos no chão agora. “Não. Vocês podem voltar se
quiserem. Suponho que até faça sentido. Mas vou encontrar Ninube.” Ele olha para mim de novo, e desta vez a razão em
seus olhos é tão clara que é quase dolorosa. “Eu tenho,” ele diz numa voz baixa.
Ficamos lá por um tempo, olhando para nada em particular. Então eu ando, dolorosamente, onde Mei está
empacotando quaisquer pertences que possamos encontrar que permaneça incólume.
“É uma ideia estúpida,” ela diz sem olhar para cima.
“Ele irá de qualquer jeito. E prometi a Mikara tentar mantê-lo seguro. E encontrar sua filha.” Abaixo na sujeira e
começo a reunir algumas ferramentas que se espalharam de nossas bolsas.
“Ela está morta.” A voz de Mei é muito calma. “E se não está, seria melhor se estivesse. Olhe só para isso. Bandidos
não fazem isso.”
“Sei disso. Ujina também. Isso não nos ajuda a voltar.”
“Às vezes, é a escolha mais difícil que nos mantém vivos.” Mei se levanta, e então estende uma mão para ajudar a me
colocar de pé. “As ervas estão quase intactas. Seus jarros não quebraram. Posso fazer um curativo para seu pé, e podemos
encontrar algo para você se apoiar, mas não será fácil para você sem os cavalos. Continuar pode piorar você.”
Assinto. “Farei o que puder.”

Item 48
Passamos a noite na estrada, acima de nosso último local. Guardamos o sono um do outro em turnos, e pela manhã
ninguém está de fato descansado.
“Aguente. Pode arder no começo, mas as ervas precisam aquecer para ficarem mais potentes.” Mei coloca uma ponta
da bandagem fumegante sobre o arco do meu pé, e tenho que morder minha língua para me impedir de gritar. Ela amarra
o pano rapidamente e apertado pelo resto do pé, e acima da parte do tornozelo. Então, amarrando-a, ela põe outro pano
maior no topo dela e gira a que está no lugar. “Isto deve segurar o vapor,” ela diz, apertando o último nó. “Assim que o calor
dissipar, tiraremos o pano, mas você vai precisar manter o outro para que o remédio penetre.”
“Isso realmente funciona?” Tento flexionar o pé, mas as amarras estão apertadas demais.
“Ajuda cavalos.” Mei levanta e volta à pequena fogueira onde Ujina está preparando um modesto desjejum dos restos
de nossos suprimentos. Não demora para comermos e começarmos a voltar para a estrada. Ujina me trouxe um bastão
tirado dos galhos das árvores próximas. É de uma altura conveniente e me apoio muito nele quando saímos num ritmo
dolorosamente lento. No começo da caminhada colinas a dentro, vejo Mei olhando para trás para o caminho por que
viemos. Então ela mexe a cabeça e volta para a estrada à nossa frente.
Em clara luz do dia, não é difícil encontrar os rastros do grupo de Ninube. Pegadas fundas de cascos na terra indicam
um grupo de talvez quinze, viajando montados. Muitos dos cavalos carregavam cavaleiros armadurados ou bolsas pesadas,
consistente com os que saímos da casa de Mikara. O espaçamento irregular das pegadas me diz que os cavaleiros não
estavam particularmente com pressa, mas nenhum deles se desviou de seu curso. A trilha é antiga, mas foi muito pouco
perturbada. Outras pegadas, mais a pé e frescas, parecem ser dos magistrados despachados depois.
Ao meio dia entramos nas montanhas e o solo é pouco mais do que terra sobre pedra. Acho partes de uma pegada em
intervalos ocasionais. O vento também está mais forte, soprando a terra.
“Não posso encontrar uma pista clara,” digo a Ujina sob o uivo de um vento súbito. Ele está de pé à beira de uma
rocha ao lado da trilha. Abaixo dele está uma longa e direta queda com nada além das copas das árvores bem abaixo dele.
“Acha que ele vai pular?” Mei pergunta casualmente, chegando pelo meu lado. “Brincadeira,” ela diz quando me viro
para ela. “Ele não faz esse tipo. Só é uma figura poética, ele pendurado ali procurando em altos e baixos seu amor
verdadeiro. Além do mais, talvez ele crie asas e voe em busca dela. Nunca se sabe com um Fênix.” Ela segura um pequeno
galho tirado dos arbustos próximos. Ela está pegando todas as frutinhas escuras e comendo-as, uma a uma.
“Dieta suplementar?” Pergunto, virando-me. Me deixa nervoso olhar para ele. “Como pode comer constantemente?”
“Estou estocando,” ela diz franzindo. “Você nunca sabe o que pode acontecer. Quer uma?”
Elas são surpreendentemente boas. Nem muito doce nem muito amargas. Ujina está andando em nossa direção,
abandonando seu mirante. Ele parece apreensivo. “E agora?” Pergunto, sem querer de fato saber.
“Ainda não posso encontrá-la, mas há algo mais.” Ele se retrai. “Não posso localizá-lo, mas há algo perto daqui que se
sente muito incomodado.”
“Provavelmente sou eu,” funga Mei, enrolando-se no kimono quando o vento frio sopra.
Andamos algumas centenas de pés quando avisto um galho de árvore quebrado à esquerda da trilha, o lado florestado.
Olho para as amoras distraído quando o galho chama minha atenção, e então o chão perto dele, bastante achatado. Várias
pessoas passaram por ali.
“Aqui,” chamo Mei e Ujina, ambos à minha frente de novo. “Eles deixaram a trilha aqui.”
“É Ninube?” A voz de Ujina é forte com ansiedade quando se agacha ao meu lado.
“Acho que não,” respondo suavemente, olhando para a grama com cuidado. É macia, mostrando mais das pegadas
que passaram por ali. “Os rastros estão errados para isto, e não vejo qualquer marca de casco. Acho que os magistrados
podem ter passado por aqui.”
Indo cautelosamente a diante, comigo à frente, prosseguimos às árvores. Na sombra de uma formação densa, a
temperatura cai de fria para gelada. Perdemos grande parte da luz do sol também. Apenas a fraca luz que passa pelas
copas das árvores ilumina nosso caminho. Ainda assim, os rastros que seguimos agora foram protegidos do vento pelas
mesmas árvores, mantendo-os claros. Estamos a um quarto de milha da estrada quando noto o cheiro. É fraco desta vez, o
bastante para querer acreditar que é um truque de minha memória. Mas quando ouço Mei respirar fundo, sei que ela sentiu
o cheiro também. Prosseguimos, mas mais devagar. Estamos ignorando tudo isso, por mais que a ideia seja tentadora.
Ainda assim, quando empurro os galhos, desejo estar errado. Os cavalos estavam frescos. Estes corpos, não. É difícil
dizer ao primeiro olhar, mas são corpos, ou ao menos o que restou deles. Pedaços de panos brilhantes tremulam na brisa. Os
cadáveres estão muito cortados para distinguir rostos, mas o mon em suas roupas é o bastante para identificá-los. Os dois
mais intactos estão no chão. Um está de costas, órbitas oculares vazias. Os pássaros e ratos há muito removeram seus
conteúdos. Há buracos fundos em seu tronco inferior, grandes o bastante para ver a cavidade de suas costelas. Seu mon o
marca como um Garça da casa Doji. Seu companheiro mais próximo, um Caranguejo, parece ter sido um homem imenso
quando estava de pé. Ele está sob seu estômago, o lado de sua face enterrado na terra. Parece que afundaram quando a terra
estava fofa, enlameada pelo seu próprio sangue. O chão abaixo de sua cabeça e tronco superior está manchado de um
vermelho amarronzado profundo, e o que resta de sua face está repleta de várias incisões pequenas. Elas podem ter sido feitas
depois pela fauna local, mas não estou certo.
“Fortunas tenham misericórdia.” A voz de Ujina me leva de volta ao aqui e agora. Ele se põe de pé alguns metros ao
meu lado. Ele está olhando para o corpo que costumava ser uma mulher Asahina. Seus pés estão a vários metros do chão, e
seu corpo está suspenso pelo grosso galho de árvore que emerge de seu estômago. Suas mãos pendem aos lados, dedos ainda
fechados com o choque de sua morte. Em uma mão estão os restos destruídos de um manuscrito.
“O que poderia ter feito isso?” Pergunta Ujina, sua voz rouca, seus olhos arregalados.
Só posso mexer a cabeça. Um quarto corpo está atrás da árvore onde a mulher está pendurada. Ele está agachado
numa posição quase fetal, suas mãos cobertas pelos próprios intestinos onde caíram por uma grande porção de sua barriga.
Pelas cores que ele traja, laranja brilhante e dourado, creio que possa ter sido um Leão, mas seu mon está muito destruído
para eu ter certeza.
Viro-me, procurando por Mei, e a vejo olhando o quinto magistrado. O corpo está decapitado. “O resto está aqui,” ela
diz assentindo. Teria sido fácil não ver na grama alta.
“Você acha que foi o que pegou os cavalos?” Pergunta Mei. “Os métodos parecem bem similares.” Seu tom é calmo,
mas há uma sombra em seus olhos que reflete a que sinto em meu coração.
“Odiaria pensar que há mais de uma do que quer que tenha feito isso. Você está bem?” Pergunto a Ujina. Ele parece
pálido e seus olhos abertos demais.
“Ainda posso sentir.” Sua voz mal é audível. “O que houve aqui, quase posso ver, ouvir, como um eco. Há tanto terror e
surpresa.” Ele olha para nós. “Não acho que esperavam o que aconteceu. Não acho que tiveram qualquer aviso.”
“Pode me dizer o que era?”
“É estranho,” ele murmura. Seus olhos estão longe e ele parece distraído, como se ouvisse perguntas de outra sala. “Não
é como se o lugar fosse assombrado, isso não faz sentido. Mas as árvores, o chão, até mesmo o céu guarda uma impressão do
evento. Eles não entendem. Tenho tentado ver através deles, mas nada está claro. É como se fosse algo além da compreensão
dos elementos. Algo além da natureza.” Ele mexe sua cabeça, e seus olhos se focam de novo.
“Kaagi-san.” A voz de Mei é grave. Viro-me para ela a alguns metros, olhando para baixo. Seu olhar está no chão
diante dela. Ela não olha para cima quando chego perto.
Vejo imediatamente o que chamou sua atenção. Abrigado do vento e elementos, os rastros de um grande grupo de
pessoas e cavalos estão dolorosamente claros. Ujina chega pelo meu ombro esquerdo.
“É ela, não é?” Seu tom é quieto, cheio de tensão. “Ela veio a estas matas com o que quer que tenha feito aquilo.” Ele
faz um gesto brusco na direção dos corpos.

Item 49
A trilha não é difícil de seguir. Rastreamos mais bosque a dentro, passando entre as árvores por quase meia milha.
Estamos viajando fora da estrada, ainda morro acima, mas indo mais a fundo nas árvores. Logo, o cheiro bem familiar da
morte chega a nós.
Ujina está correndo antes que eu possa detê-lo. Sigo o mais rápido que posso, Mei ao meu lado. Paramos alguns
metros à frente. Diante de nós estão os restos repulsivos do que presumo ter sido o séquito de Ninube.
Os corpos estão jogados uns sobre os outros. Há mais de uma dúzia no primeiro olhar, alguns em armadura, outros em
seda fina. Todos eles estão lá por mais de uma semana pela aparência e cheiro. Ujina salta na direção dos corpos, terror e
raiva guerreando em sua face.
Atiro-me na sua direção, agarrando seus ombros. “Ujina-san!”
“Ninube! Ninube pode estar lá!” Mei se move na direção dos cadáveres rapidamente, passando por Ujina. Logo, ela
está até os joelhos de corpos, virando um após o outro, olhando suas faces, jogando-os para o lado.
“Não há nenhuma mulher nobre.” Ela diz, virando para nós. Suas mãos estão sangrentas, manchadas com sujeira
marrom, e seu kimono está arruinado. “Só uma mulher, usando o mon Daidoji.”
Os olhos de Ujina se abrem mostrando branco demais, e sua face não tem cor. Ele olha para baixo, para os corpos, e
há um visível tremor que passa por ele. Seu amor pela garota deve ser avassalador, para deixá-lo desta maneira. “Tinha que
saber se ela estava lá,” ele diz, olhando para mim, seus olhos ainda arregalados.
“Entendo,” digo a ele, mantendo minha voz absolutamente calma. “Mei, tem certeza que ela não está aí?” Ela assente
firmemente para cima e para baixo. “Quantos estão aí?”
“Quatorze,” diz Mei, limpando suas mãos em seu obi. “Parece que todos estão aqui menos a visitante de honra. Suas
gargantas estão cortadas.”
“Isso é tudo?” Pergunto. Posso me sentir franzir.
“Percebo que é contraditório comparado aos eventos recentes, mas sim, é tudo. Uns dois bushis podem ter outras
marcas, cortes menores, mas nada além do que parece ter sido fatal.” Ela volta a olhar para os mortos, e suas mãos
inconscientemente checam para ter certeza de que suas mãos estão onde deveriam. “Não está certo, eu sei. Não faz sentido.”
“Exatamente. Eles são o que, dez bushis?” Ela assente. “Todos eles aguardam pacientemente terem suas gargantas
cortadas, um depois do outro?” Mexo minha cabeça. “Está limpo demais. Não há sinal de luta, e não há nada para indicar
que os corpos foram carregados por outras pessoas.”
“Já disse recentemente que não gosto disso?” Mei resmunga.
Ujina se senta pesadamente numa rocha próxima, olhando para os cadáveres. “As marcas de cavalo continuam. E
parece que há pelo menos três pares de pegadas humanas também. Olhe,” Instruo Mei enquanto guardo minha bolsa, “e
veja se algum deles é pequeno demais para ser o de uma mulher.”
“Definitivamente não,” ela responde depois de um momento. “Provavelmente ela está montando um dos cavalos. O
problema é que não sabemos quantos ‘companheiros’ ela pode ter. Bandidos afinal?”
“Você parece esperançosa,” Não posso evitar em sorrir contra a vontade. “Pessoalmente, não estou ansioso em
encontrar os bandidos que mataram seis bushis sem luta.”
“Sempre o pessimista,” diz Ujina. Ele está sorrindo, embora abalado e com visível esforço. “Obrigado,” ele diz, “por
sua compreensão. Temo que perdi o controle por um momento.” Ele parece nervoso, mas sua postura está ereta, e suas mãos
não estão tremendo. “É provável que eles devam ter reconhecido Ninube. Talvez tenham a mantido por um resgate.” Ele
está falando lentamente, cuidadosamente, para garantir que sua voz não o traia.
Embora seja possível que o que quer que tenha atacado o grupo de Ninube não se relacione à força desconhecida que
assassinou os magistrados e nossos cavalos, a possibilidade é ridiculamente baixa. Mas se ajuda Ujina a acreditar que sua
prometida possa estar sendo mantida em segurança, não vejo benefício em desiludi-lo. Especialmente quando sou incapaz de
tirar um sentido do que encontramos.

Item 50
Seguindo pelo resto da trilha. O chão se inclina mais ainda, e as árvores se tornam esparsas e a terra, rochosa. Após
outra meia hora de caminhada ouvimos um cavalo. Sacamos nossas espadas, e nos aproximamos cautelosamente. À nossa
frente, uma dúzia de pôneis, como os que Doji Mikara nos deu, olha pacificamente perto da boca de uma caverna.
“Pode dizer se há batedores?” Pergunto a Ujina. “Ou quantos estão lá dentro?” Odeio perguntar, usar sua força que
não entendo direito, mas qualquer conhecimento que possa iluminar o que nos aguarda poderia ser crítico neste ponto. Pelo
que já encontramos, tenho pouco otimismo quanto a nossas chances contra as forças à frente.
Ujina respira várias vezes, e lentamente seus olhos perdem o foco. Suas pupilas dilatam, deixando pouca cor nos seus
olhos, e pelo resto do tempo em dias, as linhas em sua face relaxam. Seu corpo também relaxa, o bastante para parecer
confortável, não cansado. Começo a contar as respirações; uma, duas, três… Quando exalo pela quinquagésima sétima vez,
Ujina pisca duas vezes e respira fundo.
“Os cavalos estão bem,” ele diz, sua voz é muito calma. “Eles estão com arreios longos que permite que eles pastem. Há
água corrente, logo na entrada da caverna, fria e fresca. Eles não viram ninguém por muito tempo. Não desde que novos
cavaleiros chegaram. Eles sentem falta do cheiro de seus antigos cavaleiros. Eles sentem falta de serem penteados.” Ele mexe
a cabeça de novo. “Não sinto nada na caverna, e tudo que posso sentir é o que os cavalos encontraram. Mas os cavaleiros
entraram, e não saíram.”
“Você sente uma súbita fome por grama?” Pergunta Mei, sua face fatalmente séria.
Ujina quase ri, então cobre sua boca, para ficar em silêncio. “Foi tudo o que pude encontrar, além de um par de
esquilos que não sabia de nada útil.” Mei sorri de volta para ele.
É fascinante de fato. O humor de Ujina não é a liberação nervosa de um homem sob grande stress. É genuíno. É como
se seu exercício o deixasse renovado, relaxado. Encontrei meditações antes que podem alterar o estado da mente de um
homem, mas nada tão eficaz. Lembrando, percebo que o homem à minha frente é novamente o curioso e calmo do jardim de
Mikara, e uma grande mudança veio dele desde que estivemos na estrada.
“Ujina, quero lhe perguntar de novo. Estamos em desvantagem com o que quer que esteja lá. Devemos retornar ao
vilarejo, enviar notícia a Mikara-sama e aguardar.” Observo cautelosamente por alguma pista de que sua nova calma
mova Ujina com maior cautela.
“Você pode retornar, Kaagi-san,” ele responde. Sua voz é diferente, mas há seriedade em seus olhos. “Tenho que ir.
Não tenho escolha. Além disso, se pedirmos ajuda a qualquer um, o colocamos num risco que não entendemos.” Ele tem um
olhar sincero que não posso negar. Na verdade, pensei o mesmo.
Assinto. “Vamos lá então.”
“Esperem,” diz Mei. Ela puxa um pano de sua bolsa, um gasto pano de polir. “Deixe-me ver sua bengala.” Ela
amarra a ponta no trapo. “Isso deve abafar o som no piso de rocha,” ela diz, olhando para seu trabalho. “Não vai ajudar
nos anunciarmos batendo na porta deles.”
Checando novamente por movimento ou vida nas cavernas, nos aproximamos da entrada. A boca é da altura de um
homem alto, sua largura, o dobro disto. Entramos com atenção, pausando um pouco para nossos olhos se ajustarem ao
escuro. Um riacho estreito flui para frente de algum lugar ao fundo. Ele vira para o lado a alguns metros da entrada,
borbulhando por uma pequena abertura na rocha. Pelo som oco, deve descer dali.
“Tenho uma luz,” sussurra Ujina. Ele puxa uma estreita vara de algum lugar de seu manto e sopra suavemente na
ponta. Uma fraca luz lentamente sai da haste. Primeiro, nossa visão não melhora. Então, lentamente, nossos olhos se
ajustam, vendo mais de nossos arredores. A caverna se abre a quase o dobro do tamanho da entrada. Após a primeira curva
à esquerda, que nos leva para fora do alcance da luz do sol, a passagem começa uma lenta descida. O chão é rocha, coberta
por terra e pedras. As paredes são irregulares e levemente úmidas. Junto com um riacho principal, parece que pode haver
uma multidão de corpos de água passando pela caverna. Não é um lugar ruim de viver se você não quer ser encontrado.
Seguimos o túnel à esquerda. É difícil manter meu equilíbrio quando a inclinação se agrava. Mei lidera por quase dois
metros. Ujina está atrás e à direita. O túnel se curva para baixo e à direita, estreitando a um espaço grande para dois
homens passarem confortavelmente. O chão é menos irregular aqui, com rochas e grandes pedras espalhadas pelo chão.
Olhando para a parede à minha esquerda, vejo que muito da pedra está úmida, e fungos parecem viajar nas formações de
teia.
Sem aviso, ouço Mei xingar, e no mesmo instante, algo esbarra em mim. Sinto uma lufada de ar, e então um quase
ensurdecedor CRACK estala ao meu redor, ecoando pelo corredor.
“O que houve? O que foi?” Voz de Ujina.
“Uma armadilha,” Mei pragueja. “Nunca vi a corda, só senti a resistência contra meu tornozelo. Droga! Eles a
puseram na descida de propósito, para que acerte-a pelo impulso da descida.
Olhando para cima, posso ver claramente a placa de madeira, cheia de fincos de metal, levando à parede da caverna à
nossa direita. Ela fica no fim de um bambu, de cinco metros. Ele opera um pivô de algum tipo para que quando a corda
fosse puxada, o bambu vai para frente, passando pela caverna ao nível do peito. Se não tivesse me derrubado, teria sido
empalado entre os fincos e a parede da caverna.
“Acho que isso nos anunciou,” diz Mei, soltando-se de mim. “Desculpe. Eu deveria ter visto.”
“Não confie em sua visão. Estou feliz por seus reflexos.” Ujina se põe de pé atrás de mim, então me oferece uma mão
para me levantar.
“Continuamos?” Mei me pergunta. “Perdemos a vantagem da surpresa, se já a tivemos.”
“Não necessariamente,” respondo. “Eles não sabem se sobrevivemos à armadilha, só que a acionamos. Continuamos o
mais rápido que pudermos. Talvez possamos chegar antes do que esperem e recuperemos a vantagem.”
Com Mei liderando de novo, mantendo o olho atento ao caminho, damos várias voltas, sempre à esquerda. Após
algumas voltas, o chão desce de novo.
Quinze minutos depois de nosso encontro com a armadilha, ouvimos passos mais para dentro do túnel. A última volta
está longe demais para ser de qualquer ajuda. Alguns metros à frente, o túnel se curva para a direita. Nós três nos movemos
para a parede da direita, armas prontas. Ujina põe sua luz no chão contra a parede para que a iluminação nos permita ver
formas nesta seção da caverna. Então anda para frente. Os passos ficam mais altos, sem tentativa de furtividade. Em
momentos, três figuras correm de perto da curva. Ujina golpeia o primeiro com absoluta precisão. O corte atravessa a
clavícula do homem, quase decapitando-o. Ele roda com o impacto e cai sem gritar. Os outros dois param na rocha nua,
virando para nos ver. Uma das facas de Mei acerta o ombro do homem, outra estala nas rochas atrás dele.
Sabendo que não me moverei rápido em meu pé ferido, mantenho a posição, mantendo minhas costas na parede
quando o terceiro oponente se aproxima de mim. Encontrei Ninjas antes e nunca se pareceram com isto. Esses homens estão
vestidos de preto, mas suas roupas estão rasgadas, sua carne é suja, e eles ausentam pedaços de armas e armaduras. O
homem que me enfrenta golpeia com uma katana pelo menos meio metro longa demais para ele. O golpe é fácil de evitar,
mas tenho que apoiar meu pé ferido para manter o equilíbrio. Segura meu peso, mas a dor sobe pela perna. Meu oponente é
lento para se recuperar, preparando sua lâmina de novo e erguendo-a para outro golpe. Ajusto minha própria lâmina e
corto sua barriga, mas não fundo o suficiente para dano sério. Ele grita, um som sibilante, e cai. Quando o faz, sua face
parece contorcida por mais do que apenas dor. É difícil dizer na luz fraca, mas algo parece errado nas proporções de seu
rosto.
Uma olhada ao lado mostra Mei lutando com o homem com sua faca enfiada. Ela se moveu perto demais para ele
usar a katana. Ao invés disso, eles estão agarrados, corpos a centímetros de diferença. Mei tem uma longa faca em cada
mão, e está tentando escapar de seu oponente, manobrando por um bom golpe. O homem ainda segura sua lâmina inútil em
uma mão, enquanto com sua outra, agora uma profusão de sangue, tenta bloquear as facas de Mei. Ujina está de um lado,
procurando como ajudar, mas incapaz de dar um golpe claro.
Coloco minha espada em posição enquanto meu oponente faz outra investida. Ele vem pela minha esquerda desta vez e
me movo para bloquear, inconscientemente pondo meu pé esquerdo à frente. Sob meu peso, ele cede, e eu caio, quase
perdendo meu bloqueio. Meu oponente sorri, sentindo a fraqueza, e recua alguns passos, fora do alcance. Seu sorriso parece
grande demais para sua face e torto. Ao invés de outro golpe claro, ele começa a me bater com a espada, mantendo seu corpo
fora do alcance. Sou forçado a lutar numa defensiva improvisada. Sua incompetência o torna imprevisível, na verdade
tornando-o mais perigoso.
Xingo quando um golpe perdido corta meu braço, agarrando no tecido por um momento antes de se soltar.
Um grito agudo, cortado um gargarejo líquido, marca o fracasso do segundo ataque. Meu oponente mexe a cabeça de
repente. Se eu fosse capaz de golpear, acabaria com ele enquanto está distraído. Ao invés disso, ele gira e corre, entrando no
túnel na direção de que viemos. Ujina está pronto para segui-lo.
“Não.” Digo o mais forte que posso enquanto tento recuperar meu fôlego. “Não se separe.”
Ujina parece hesitante por um momento, então assente. Pegando minha bengala, vou na direção do corpo do segundo
bandido. “Traga a luz,” digo calmamente, curvando-me sobre o corpo inerte. Alguém me passa a vara, e a levo para perto
da face do morto.
“Pensei que tivesse sido minha imaginação,” sussurra Mei. O suor em meu corpo esfriou, e tremo no fundo da caverna.
A face do homem está distorcida. A testa é longa demais, muito alta. Seus lábios são grossos e seus olhos, pequenos,
espremidos sob bochechas estufadas. Pior de tudo, a metade esquerda é claramente mais estreita que a direita, por quase dois
centímetros. O rosto deste lado está esmagado, os lábios mais grossos e o nariz torcido, curvando-se para a direita.
Me movo ao corpo do primeiro. Ele também, parece ter sofrido deformidade. Um tom arroxeado passa pelo lado
direito de sua face, a descoloração passa em faixas. Seus olhos são líquidos com um fluido espesso e amarelado e ele fede pela
falta de um banho recente.
“Acha que eles têm algum tipo de doença?” Ujina está tentando ficar neutro, mas posso ouvir sua curiosidade.
“Nada que já encontrei,” digo mexendo minha cabeça. “Acho que podem ser bandidos afinal. Nenhum ninja que já
ouvi luta tão mal assim.”
“Que caminho seguimos agora?” Pergunta Mei, limpando suas lâminas nas roupas do homem. “Mais a fundo, ou
atrás de nosso amigo assustado?”
Pondero as possibilidades. “Vamos continuar indo. É de onde eles vieram. Você reconhece o feitio de alguma das
katanas?” Pergunto a Ujina. “Poderiam ter pertencido aos guardas de Ninube?”
“Acho que não. Há marcas nas armas e armaduras, mas não as reconheço. Além disso, estas lâminas estão cegas.” Ele
testa a katana do homem caído com o pé. “Cegas demais para estarem deste jeito há apenas uma semana. Os homens de
Mikara nunca teriam suas lâminas em tal condição.” Assinto. As observações de Ujina se comparam às minhas. É
interessante saber que sua técnica e a minha não são tão diferentes. Passando pelos corpos, prosseguimos pelo túnel.
Quanto mais a fundo viajamos, mais úmido o ar se torna. Gotas de água correm pelas paredes formando grandes
poças no chão. Deve haver um rio subterrâneo por perto. O chão enlameado dificulta o silêncio, mas é fácil dizer que
caminhos foram trilhados. Passamos por várias aberturas a outras cavernas, traçando a rota dos ‘bandidos’. Mei fica à
frente, procurando por mais fios e sinais de pessoas. Sigo, observando a trilha por sinais que possam indicar que Ninube
passou por aqui. Ujina guarda nossa retaguarda. Tendo o visto demonstrar sua competência com uma espada, me sinto
mais confortável. Caminhamos por mais uns dez ou quinze minutos quando ouço uma mulher chorando. Está vindo do lado
do túnel. Ujina olha para cima ao mesmo tempo.
“É Ninube,” ele diz, olhos brilhantes. “Conheço o som de sua voz.”
Agarro seu braço quando ele passa por mim, indo caverna a dentro. “Do jeito que a reconheceu na floresta?” Pergunto
a ele bruscamente. Ele parece pronto para protestar, mas então dúvida aparece em seus olhos.
Nós três adotamos um novo turno, Ujina anda à frente. Não protesto, já que sua katana provavelmente será mais
efetiva contra um ataque súbito do que as facas de Mei.
Esta caverna é menor do que a que estivemos, o suficiente para um homem passar de cada vez. Ela forma uma
pequena espiral para a direita, curvando-se para dentro. Seguimos o som do choro até que não há dúvidas de que vem
diretamente da próxima curva. Numa demonstração notável de disciplina, Ujina pausa, olhando para mim. Assinto e ele
corre rente a parede. Estou só um momento atrás de dele, Mei em meus calcanhares. Estamos prestes a ver Ujina por sua
espada de lado e agarrar as mãos da garota. O túnel curvo termina numa câmara redonda de quase cinco passos. Uma
esteira de palha está do outro lado com uma tigela e um copo de barro.
“Ninube, estes são Kitsuki Kaagi-san e sua eta, Mei,” diz Ujina, afastando-se da garota. “Eles vieram me ajudar a
tirá-la daqui.”
“Obrigada!” Diz Ninube, sorrindo apesar das lágrimas. Sua face e roupas estão sujas, e seu cabelo pende em mexas,
mas por baixo da sujeira ela é muito bonita e posso ver o treinamento da filha de um lorde da Garça quando ela curva sua
cabeça. “Temos que sair daqui antes dos bandidos voltarem.” Sua voz é repleta de medo. “Nunca sei quando eles virão. Às
vezes, eles trazem comida, às vezes só veem e ficam e olham para mim. Eles mataram todos os outros. E há algo monstruoso
neles. Algo errado.” Ela fala rapidamente, olhos arregalados.
Ujina a abraça rápido, e então a ajuda a se levantar. “Vamos sair deste lugar,” ele diz para mim. Então, se referindo
à garota. “Vou levá-la para casa em segurança, eu prometo.”
“Você está ferida?” Pergunto olhando-a rapidamente de cima a baixo. Ela mexe a cabeça e apesar de parecer nervosa,
parece intacta. Ela provavelmente está em melhor forma para correr em segurança do que eu no momento. Começamos a
seguir o caminho de volta no ritmo possível.
Atrás de mim ouço Ninube falar suavemente com Ujina. “Tinha medo de sair,” ela está dizendo. “Tinha medo de me
perder no caminho de volta, ou que eles fizesse algo terrível se me pegassem.” Ele murmura algo para ela num tom firme.
Até onde posso dizer, estamos só a algumas passagens até a passagem principal, onde o barulho começa. De início, não
percebo, perdendo o som no barulho de nossos pés no chão rochoso. Mas é persistente, um zumbido, vindo de algum lugar
próximo. Percebendo a fonte do som, olho par cima.
De início não há nada além do barulho. Então um sopro de ar, algo desce do teto da caverna sobre nós.
Instintivamente agarro Mei, um passo atrás de mim, e a levo para longe. Posso ver Ujina fazer o mesmo com Ninube, mas
o que quer que tenha caído, nos separou deles.
É como se a noite caísse naquele instante, mais escura que o resto da caverna. A luz de Ujina parece repelir a nova
presença. Há um calor pendendo no ar. Os corpos individuais são quase indecifráveis, grandes demais para serem insetos,
mas pairam de um modo que pássaros não fazem. Mei grita em dor, e um momento depois, sinto uma forte e pungente
sensação em meu braço esquerdo, então outra em meu pescoço. Ninube está gritando, ouço Ujina rugir.
“Volte!” Grito para Ujina, carregando Mei passagem abaixo comigo, rumo ao primeiro túnel. O grito de Ninube é
agudo, ecoando pelas cavernas.
“Não!” A voz de Ujina é desesperada e de repente, o ar congela, como a calma morte no centro de uma violenta
tempestade. Não posso mais ouvir o enxame. O ar está pesado demais. Olhando pela passagem para Ujina posso ver seus
braços estendidos por Ninube, na direção da escuridão. Seu olhar está focando em algo nas suas profundezas. O tempo
parece parar e sinto uma calma intensa. Então, como um vidro se partindo, as peças da escuridão parecem se romper. O
equilíbrio da calmaria se desfaz. A escuridão flui por Ninube, e Ujina está perdido nas trevas. Gritos abafados saem dele um
após o outro. Ninube cai para frente, longe da massa barulhenta.
Olhando para Ujina, tenho a impressão de um bater de asas e pontas agudas como ferroadas ou bicos. “Abaixe-se,”
Mei grita para a aterrorizada Ninube. De repente uma erupção de grossa e oleosa fumaça enche a passagem. Incapaz de
respirar, volto para o túnel principal, segurando Ninube com meu braço. A fumaça não nos segue, ficando onde está.
Amarro a gola de meu kimono na minha face inferior e começo a ir em direção ao túnel. A fraca luz de Ujina agora
desapareceu inteiramente e tudo está tão escuro quanto piche.
“Pegue uma luz!” Voz de Mei, tossindo, ecoa meus pensamentos. Ela está de volta ao túnel central. Demora longos
segundos de batidas de pederneiras antes de conseguir uma faísca.
Luz, brilhante demais para nossos olhos ajustados à escuridão, enche a área e por um momento, fico cego como estava
nas trevas. Consigo rasgar um pedaço de tecido de meu manto e o ponho para queimar no chão de pedra. Piscando,
tentando focar, o mundo em grave contraste de brilho e escuro. Ujina jaz imóvel. Mei se ajoelha ao seu lado, uma mão
escondendo os olhos da luz. Ninube se senta com suas costas contra a parede, mãos fechadas sobre a boca. Sabendo que o
pano queimará rápido e não durará muito, procuro em minha bolsa, puxando uma pequena tocha. Ela hesita, mas pega
fogo. Carregando a luz, me inclino sobre Ujina e penso que talvez teria sido melhor não fazê-lo. Sua face está coberta de
sangue, longas fatias de carne arrancada pendem para revelar o brilho de músculos e o fraco brilho de ossos por baixo. A
maior parte do dano está à direita de sua face, o lado de seu corpo que sofreu o ataque. O cheiro de sangue é forte.
“Ele ainda está respirando,” diz Mei calmamente. “Mas não sei porque.” Ela se inclina para trás, e sem sua sombra
sobre ele, posso ver o braço direito de Ujina. A maior parte do músculo e carne foram arrancados. Só osso e parte do tendão
permanece com pedaços de tecido macio pendendo solto. “Ele possivelmente não pode viver até chegarmos no vilarejo mais
próximo,” diz Mei, mantendo sua voz baixa.
“Não podemos deixá-lo. Pode parar o sangramento?” Mesmo que o mantivéssemos vivo, não estou em condições de
carregá-lo, e Mei não é forte o bastante. Ela puxa mais das ataduras que usou em meu pé. “O que houve?” Pergunto,
mantendo um olho em Ninube onde ela se senta contra a parede.
“Foi um palpite,” responde Mei, amarrando a primeira bandagem ao redor da carne abaixo do ombro de Ujina.
“Peguei isto do Ninja que encontramos na árvore. Pensei que pudesse ser útil. Então, justo agora, pensei que muitos pássaros
e insetos não gostam de fumaça, então valeu a tentativa.” Não me incomodo em discutir que ela não deveria ter guardado o
dispositivo de mim. Parece sem sentido.
Mei amarra a bandagem sobre os restos do braço, colocando os ossos e pedaços de músculos juntos. Ela amarra onde
sua mão deveria estar. Muitos de seus dedos estão ausentes. Então, com uma olhada para a garota no canto, ela começa a
amarrar a bandagem em sua cabeça, cobrindo o lado direito inteiro. “Aqui, levante a cabeça dele,” ela instrui. “Como você
quer fazer isso?”
“Estive pensando. Você acha que podemos pegar um dos cavalos de lá de fora?”
“Não. Mesmo se um de nós chegar lá e voltar sem encontrar mais problemas, não conseguiria convencer o cavalo de
que seria uma boa ideia. Eles têm mais juízo que nós.” Ela se senta sobre os calcanhares. “Podemos tentar improvisar uma
maca para arrastá-lo. Talvez a esteira em que Ninube estava dormindo.”
“Ninube…” a voz de Ujina é quase fraca demais para ouvir.
Um soluço partido sai da garota atrás de mim.
“Ela está bem,” digo, curvando-me. Sua respiração é fraca contra meu rosto, mas contínua.
“Você a salvou,” Mei acrescenta. Sua face parece contida e suas mãos agarram em sua lapela. “Fique deitado. Você
ficará bem. Só tomou uma duas picadas sérias.”
Estou feliz por ela ter dito isso. Mei é uma mentirosa muito melhor do que eu. Ponho minha mão levemente em seu
peito, sobre seu coração. A batida é como a respiração. Bem longe da de um homem saudável, mas nada perto do que
deveria vir de alguém com seus ferimentos. “Como se sente?” Pergunto com hesitação.
“Fraco, zonzo. Meu lado direito dói.” Ele geme com essas palavras, mas sua voz é mais forte que era a um momento.
“Quão ferido estou? Meu braço… Arde. Qual o problema comigo?” Olho para Mei, feliz por ele não poder ver minha
face claramente na luz fraca.
“O que quer que aquelas coisas eram, tinham ferrões. Seu braço foi ferido por eles, mas deve ficar bem. Fiz curativos
para mantê-lo livre de infecções. Há algumas feridas profundas no lado de sua face.” Ela pausa, e então pergunta, “Pode se
sentar?” Ela põe uma mão debaixo de seus ombros.
É incrível, mas com uma respiração funda, ele o faz. Então, quando me sento em maravilha, ele junta seus pés e,
abalado, se ergue. Mei o guia, movendo-se para se colocar debaixo de ombro para ajudá-lo a se levantar. “Pode andar?”
Ela pergunta. “Precisamos sair daqui, levar Ninube à segurança.”
Ele fecha os olhos e toda a dor lentamente some de sua face. Ele se levanta um pouco mais, e seus ombros relaxam.
Mei, ficando perto de mim agora, sussurra no meu ouvido. “É a magia. Está fazendo-o tirar força de algum lugar, de todo
lugar, para se sustentar. Temos que impedi-lo de perceber quão seriamente ferido ele está, ao menos até sairmos daqui.”
“É incrível,” digo. E é mesmo. Alguém suportar o que ele sofreu e ser capaz de se levantar e falar é demais para mim.
A coincidência entre nossos resultados compartilhados em observação e nossas habilidades passa por mim de novo.
Ujina abre os olhos e há uma muito profunda calma neles. Olho em seus olhos e vejo, claro como o dia, que ele entende
exatamente o quão ferido ele está. De algum modo, eles está guardando a percepção disto para si. “Posso andar,” ele diz
numa voz estranhamente firme.
Ninube se move da parede, pondo sua cabeça contra seu peito sadio. “Pensei que o perderia,” ela murmura. Ele
acaricia seu cabelo, então gentilmente a afasta para frente.
Começamos a subida rumo à boca da caverna. Parece demorar mais desta vez. Perdi meu apoio, então tenho que
contar com Mei. O caminho de volta parece mais íngreme do que quando descemos. Ujina se move lentamente. Cada
segundo que demora parece trazer um som estranho à minha audição cansada. Se mais bandidos nos atacarem agora, não
importa o quão incompetentes, será nosso fim.
Sussurro para Mei, “Se algo mais der errado, você terá que pegar a garota e sair daqui. Corra o mais rápido que
puder e não pare até chegar ao castelo Mikara.”
Ela olha para mim bem seriamente e não tenho ideia no que ela está pensando quando seus olhos batem nos meus.
“Fique de olho em mim,” ela diz. “Não vou parar até chegar em Otosan Uchi.”

Perco o rastro pelo qual viemos. Ouço minha própria respiração e o bater do meu coração alto demais para ouvir
qualquer outra coisa. Em minha boca posso sentir o gosto amargo da bile, e meu kimono cola em minha pele, encharcado
pelo próprio suor. Meu pé pulsa junto com meu coração como se ambos fossem explodir pela força do sangue. Mei segura
nossa única tocha em sua mão esquerda. O calor do fogo arde contra minha face, fazendo mais linhas de suor em meus olhos
e pescoço abaixo, tornando-me meio cego.
Não vejo aviso antes da voz à nossa frente. “Um longo caminho para vir por nada.” É a voz de um homem, grossa e
funda. Mei recupera o fôlego meu lado, parando bruscamente. Ergo minha mão direita para limpar o suor dos meus olhos
e pisco com força. A alguns metros à nossa frente está o que presumo ser o líder dos bandidos. Ele é magro porém alto.
Cabelo desgrenhado cobre a face que é longa e fechada. Suas roupas são rasgadas e sujas. Um trapo rasgado sobre sua
cabeça impede que atrapalhem sua visão. Junto do lado esquerdo de sua face está um fluido desenho da testa ao queixo. De
início o tomo por uma tatuagem como as que os Togashi têm. Então, a luz treme de novo, e percebo que é uma marca. Ele
não carrega armas que possa ver em suas mãos ou em seu corpo.
O cabo de minha katana escorrega sobre minha palma coberta de suor e começo a sacá-la: “Saia de nosso caminho.
Agora,” digo o mais firmemente possível, me soltando de Mei.
Ele ri, e o som é como muitos cães ferozes, fazendo um calafrio passar por mim. Ele caminha para frente e quando o
faz, sua face muda, o queixo fica maior, as bochechas mais largas, não é natural. O suor em meu corpo de repente esfria. Ele
me olha diretamente nos olhos enquanto se aproxima de mim e neles posso ver a escuridão que fica atrás das estrelas. “Você
faz ideia de quão antigo eu sou?” Sua voz é como o tinir de aço contra aço, tão aguda que dói. Pisco e percebo que já passou
por mim e está quase em Ninube e Ujina.
Tento me mover para frente, mas o som ecoante de sua voz enche meus ouvidos e de repente não consigo me lembrar de
como andar. Ujina caminha para a frente de Ninube, sacando sua katana com a mão esquerda, segurando-a
desajeitadamente. “Não vou deixá-la que a levem de novo,” sua voz é mais firme que sua mão.
O homem alto sorri. Só posso ver metade de sua face. De início, penso que meus olhos estão me pregando peças como
meus ouvidos, então percebo que sua já distorcida face está de fato mudando diante de mim. Quando observo, sua face toma
o aspecto de Ujina. “Isto é familiar?” Ele pergunta, falando ao Fênix. “Não será mais.”
Só posso ver o lado esquerdo de sua face, e ele não parece mudar. Mas a expressão de Ujina muda. Sua mandíbula se
abre com horror e sei sem olhar o que a coisa o está mostrando. “Vê?” diz a voz, como um enxame de abelhas. “É inútil vocês
virem, inútil tentar voltar à sua vida com ela.” Sua voz muda de novo e é pior ainda porque é a de Ujina. “Posso ser você
melhor do que você pode agora.” Ele se vira de volta para mim, sorrindo com a face inteira e saudável de Ujina. Atrás dele,
a lâmina do Ujina verdadeiro desliza pelo chão com um estalo e o homem cai de joelhos. A criatura se vira para a trêmula
Ninube e oferece sua mão a ela.
Então um segundo ruído vem de algum lugar perto dele. A voz de Mei pragueja, ao meu lado, de dentro do túnel. E
sua segunda faca o atinge na garganta. Ele fica de pé lá, perfeitamente parado, o cabo na frente de seu pescoço, a lâmina
atrás, sua mão ainda estendida. Ao invés de sangue, uma grossa fumaça preta sobe no ar de sua ferida. Então, sem aviso, ele
enrijece, braços caindo e corpo rígido como uma tábua. Enquanto observamos, seu corpo se ergue lentamente, cerca de dois
metros do chão, ainda em pé. Então, ele treme como uma criança sacudindo um brinquedo, e cai no chão como uma
marionete que perdeu seus fios.
“Vamos,” diz Mei, segurando o cotovelo de Ninube e vindo na minha direção. “Já passou da hora de sairmos daqui.”
Ela agarra Ujina pelo braço sadio, levando-o para cima. “Tarde demais para pararmos agora, meu lorde. Temos que
levar sua dama para casa.”
“Ela não vai me querer agora.” Sua voz é fraca de novo, como quando acordou no início, seus pés derrapam.
“Se for verdade, você deveria tê-la deixado aqui,” diz Mei, sua voz é dura. Ele caminha para frente. Ninube toma o
lugar de Mei como meu apoio e retornamos algumas esquinas pasmos antes da luz encher meus olhos e percebermos que
chegamos à entrada.
Os cavalos olham assustados de seus capins quando emergimos. O ar da manhã, fresco e frio, enche meus pulmões e
quero gritar pelo seu prazer. Desabo numa rocha baixa e inclino minha cabeça em direção ao céu. Está cheio de nuvens e o
amanhecer brilha no horizonte. Olho para baixo. A visão diante de mim é quase tão surreal quanto o que se passou na
caverna. Mei está acariciando suavemente um dos cavalos e, enquanto observo, ele desce obedientemente de joelhos e aguarda
pacientemente, enquanto ela põe o quase inconsciente Ujina em suas costas. Então, com uma palavra, ele cuidadosamente se
levanta.
Ninube se aproxima de outro cavalo e ele foge dela. Ela se estende, de repente, e agarra sua crina. Minha visão está
borrada, e acho que vejo ela travar olhos com o cavalo. Então a cabeça da besta se abaixa e aguarda obedientemente
enquanto ela sobe nele.
Me levanto, sabendo que a tolice que é ficarmos ali mais do que já ficamos, e me chego a outro cavalo. Ele olha para
mim, mas não me faz favor algum. Com uma respiração funda e com um salto de meu pé saudável, eu subo. Por pouco.
Mei escolhe uma montaria e corta as amarras do repouso, mantendo-as em suas mãos junto com a de Ujina. Ao meu
olhar questionador, ela mexe a cabeça. “Eles morrerão se os deixarmos.” Ela parece bem sincera. Então, “Além do mais, se
ficarmos com fome no caminho, podemos comer um.”

Item 51
É um longo caminho de volta até o vilarejo Garça. Ficamos lá por um dia, o curandeiro do vilarejo cuida de Ujina o
melhor que pode. Aviso é enviado ao castelo Mikara e uma guarda completa viaja para nos escoltar pelo resto do caminho
de volta ao castelo. Lá, passamos alguns dias fazendo pouco mais do que comer e dormir. Ninube passa quase todo seu tempo
no quarto de Ujina, mas sai assim que outra pessoa entra.
Doji Mikara e sua esposa estão tão felizes em ter sua filha de volta que não parecem notar, mas nos dias seguintes a
nosso retorno, crio suspeitas sobre nossa dama resgatada. Os servos parecem nervosos em sua presença, muito semelhantes ao
cavalo de fora da caverna. Eu a sigo de longe, observando suas atividades diárias. Isto me dá algo para fazer enquanto
espero meu pé terminar de curar. Ela ainda passa longas horas com Ujina. Ela vai às refeições com seus pais e é o retrato da
filha obediente com eles. O resto do tempo ela passa em seu quarto.
Após vários dias disto, esbarrei em uma das servas no corredor. A mulher está nervosa, deixando cair a trouxa de
roupas que ela carrega.
“Como está sua senhora?” Pergunto, bloqueando seu caminho e ignorando suas desculpas murmuradas.
“Ela está bem.” Sua voz é baixa e ela mantém a cabeça baixa enquanto junta as roupas. Quando o faz, noto manchas
negras num dos kimonos de seda. Reconheço os padrões como os de Ninube. Tirando o pano da serva protestante, eu o abro
por inteiro. A sujeira é grossa e há marcas de terra e grama no resto. Deixo a mulher levar o lençol de mim e apressar seus
afazeres.
Nesta noite, sigo Ninube quando ela deixa seus quartos depois da meia noite. Ela sai para o jardim central, e lá, dança
com temível abandono. Seus mantos giram ao seu redor, batendo na grama. Só posso olhar em terror quando as sombras
das árvores ao seu redor, a própria escuridão da noite parece viva movendo-se com ela em seus giros enlouquecidos.
Na manhã seguinte vou ver Ujina, antes de Ninube chegar. Ele sorri fracamente quando me vê. O lado esquerdo de
sua face está se curando, mas o direito continua em bandagens, em grande parte por gentileza. Não vai melhorar muito
mais do que já está, bem como seu braço não crescerá de novo, e ele sabe disso.
“Como você está?” Pergunto, chegando-me ao leito.
“Melhor.” Ele dá um riso calmo. Seu espírito parece notavelmente bem para um homem que suportou tanto. “Ninube
e eu viajaremos para a casa de minha família no fim do mês.”
“Ujina.” Procuro pelas palavras certas. “Preciso lhe falar sobre Ninube. Você notou que ela voltou diferente, diferente
da garota que conhecia?”
Meu espírito se alegra quando ele assente. “Acho que ela está mais forte.” Seu sorriso é quase sereno. “Ela passou por
tudo aquilo muito bem.”
“Ujina, e se ela não tiver?” Me odeio por isso, mas digo a ele o que testemunhei. Não posso deixá-lo continuar sem
saber. Mas quando terminei, ele só mexe a cabeça.
“O que você está dizendo?” Ele parece com raiva, mas também com medo. “Ela está bem, perfeitamente bem. Se você
acha o contrário, está errado.” Ele parece repentinamente exausto. “Ela será minha esposa e desafiarei qualquer homem que
questione sua honra.” Ele cai de volta na cama, sua face fechada num espasmo de dor.
Não há nada que possa fazer além de dizer palavras doces e me desculpar. Na manhã seguinte, Mei e eu saímos para
deixar o castelo Mikara. Não posso ver Ujina prosseguir em seu casamento, e não posso provar meus medos para ele ou sua
família. O séquito nos deseja bem ao partirmos, uma despedida de herói. Ninube sorri ocultamente atrás de seu leque e há
um gosto amargo em minha boca.
Esta cena pode ir a várias direções diferentes,
dependendo do seu grupo. Se tiverem uma reputa-
ção (como Kaagi), eles podem ser abordados de
maneira idêntica à apresentada no diário. O castelo
Mikara está a vários dias de Otosan Uchi, e ele
não quer esperar.
Mikara tem um pequeno séquito de bushis
A filha de Doji Mikara é raptada por Ninjas a Daidoji ao seu comando, e Daidoji Sanju, karo de
caminho de seu casamento e cabe aos personagens Mikara, foi procurar os personagens. Quando são
(junto com um jovem e idealista Isawa Ujina) abordados pelos homens de Mikara, todos são
trazê-la de volta. Um rapto e resgate de rotina? polidos, mas uma rolagem de Consciência (NA 10)
Dificilmente. Eles estão prestes a descobrir mais revela que todos eles têm tempestades se formando
sobre a Escuridão Viva do que qualquer um já nos estômagos. Algo está errado nas terras da Gar-
sabe. Por hora seus personagens já devem ter uma ça, e esses Daidoji não são peritos o bastante para TERRA: 2
dose de ceticismo sobre Ninjas por seus encontros esconder isto. ÁGUA: 3
prévios, e talvez uma boa dose de confusão tam- Daidoji Sanju leva os personagens ao palácio FOGO: 3 Agilidade 4
bém. do senhor da Garça, cercado por seus melhores AR: 4 Consciência 5
Bom. soldados e conselheiros, manuscritos e mapas da VAZIO: 4
A aventura começa bem cedo. Os personagens área. Qualquer personagem com uma rolagem de Escola/Nível: Cortesão
recebem o pedido de resgatar uma princesa rapta- Consciência NA 15 saberá que algo está errado — Bayushi 4
da. Eles recebem a companhia e as perícias do Honra: 3,7
esses homens não sabem as coisas básicas sobre Glória: 4,9
Noviço do Vazio, e embora persigam Ninjas Goju, guerra, grupos de resgate ou possível sabotagem. Status: 4,3
eles são assombrados por fenômenos que podem Os conselheiros tagarelam, os soldados pedem Vantagens: Aliados
invocar alguns deja vu. Neste momento, eles de- mobilização, e Mikara ouve a todos com cansaço. (Clã Leão), Bênção de
vem reconhecer com o que estão lidando, mas não Doji Mikara, primo de Doji Satsume, é um lorde Benten, Ler Lábios, Voz
saber exatamente o que é. Este poder tem algo a poderoso, embora esteja velho e cansado. Seus Desvantagens: Má Re-
ver com os Ninjas, isto é certo, mas ainda não homens o obedecem com honra e lealdade nascidas putação (Honesto), Coração
souberam como lidar com isso. da verdadeira compaixão, e sua reputação como Mole, Azar (3 Pontos)
Esta aventura pode ser jogada numa só noite ou um homem honesto se estende pelo Império. Perícias: Corte 4, Eti-
pode ser estendida numas duas seções, dependendo queta 3, Investigação 3, Lei
Quando os PdJs adentram a sala, personagens 2, Sinceridade 4, Sedução 3,
de quão profundamente você invoca a atmosfera da com rolagens bem sucedidas de Percepção (NA 15) Veneno 2
caçada. A aventura inteira é de três cenas. A pri- notarão que Mikara está bebendo chá com sua mão
meira envolve os personagens recebendo o pedido esquerda. Sua direita está coçando. Muito calma-
de recuperar a garota. A segunda é a caçada em si. mente, ele lhes conta sua preocupação: sua filha foi
A cena final envolve raptores deformados em sua raptada. Ela está prometida ao futuro Mestre do
toca cavernosa. Vazio do Clã Fênix, um admirável par que trará
Os Goju, servos Ninjas da Sombra desde seu grande prosperidade para Garça e Fênix. A menos
nascimento, são fanáticos distorcidos e deteriora- que haja um Escorpião no grupo, ele confessará
dos que não pararão por nada para obedecer a que está certo de que Escorpiões — e seus aliados
Sombra. Como Goju, eles só têm uma responsabi- sombrios — estão por trás do rapto, tentando sabo-
lidade, um desejo: servir ao melhor que puderem, tar o casamento. Personagens que façam um teste
até a morte ou Libertação (absorção à Escuridão disputado de Consciência (NA 30, desta vez) serão
Viva). É o que são “criados” para fazer. capazes de dizer que o daimyo da Garça não está
tão certo assim desta história.
Se os personagens o perguntarem porque não
envia outra pessoa, ele responderá que enviou… E
não se ouviu deles por dias. Ele já perdeu seis
magistrados nos bosques; seis leais magistrados
Imperiais, nisto. Qualquer um com a Perícia Corte Magistrado sobrevivente do grupo que concordou
percebe que ao pedir aos personagens, Mikara está procurar por Lady Ninube. No último minuto, ele
intimando que seus próprios homens não são bons recuou, atestando doença. A única razão para Baka
o suficiente para o trabalho. A sutil mensagem ter sobrevivido foi porque ele nunca saiu.
pode ter repercussões pelo resto da aventura, se Questionar a palavra de Baka é questionar a pa-
você escolher usá-las. lavra do daimyo do Escorpião, e até mesmo a do
próprio Imperador. Baka não é apenas um Escor-
O Noviço pião, mas um Magistrado de Esmeralda. Quando é
Quando termina de contar os detalhes, ele ofe- apresentado aos personagens — se pedirem para
rece ao grupo um lugar para passarem a noite, vê-lo — ele evita toda pergunta direta.
esperando que aceitem seu pedido por ajuda. Pela Baka sabe um pouco sobre a Escuridão Viva,
manhã, ele diz, o grupo pode escolher falar aos mas só viu a superfície. Ele acredita que é um
dois cavalheiros que sabem mais sobre o “rapto” Elemento, como Fogo, Terra ou Água, mas tam-
— Isawa Ujina, prometido de Doji Ninube, e bém acredita ser um elemento falso. Ele acredita
Bayushi Baka, um magistrado viajante. que é uma corrupção sutil das Terras Sombrias,
O Noviço do Vazio, Isawa Ujina, pode ser en- uma arma de Fu Leng. Ele sabe que ataca samurais
contrado nos jardins do Palácio Ukara. Ele é um quando estão sozinhos, e ele também suspeita que
quito e solene homem, preparando-se para tomar o seu próprio Clã tem uma barganha com ela.
lugar de seu Mestre como
TERRA: 1 Vontade 2 representante no Conselho
ÁGUA: 2 Elemental (um evento que
FOGO: 3 ocorre dois anos no futuro.
AR: 5 Consciência 6 Vide Caminho da Fênix
VAZIO: 6
para maiores detalhes). Por
Escola/Nível: Ishiken
Isawa 4 trás de seus olhos há um
Honra: 7,6 poder que os personagens
Glória: 3,0 só podem respeitar sem
Status: 4,0 entender. Sua voz é profun-
Vantagens: Ishiken-do da como pedras do rio e
Desvantagens: Amor distante como o nascer do
Verdadeiro, Fraqueza (Vi- sol.
gor) Ujina insiste que os per-
Perícias: Caligrafia (Ci-
sonagens permitam que ele
fra) 2, Conhecimento: Histó-
ria 2, Meditação 4, Teologia os acompanhe pela jornada.
(Shintao, Mitos e Lendas) 3, Obviamente, suas perícias
Conhecimento: Terras Som- serão úteis, e os que presu-
brias 2 mem que suas emoções
possam interferir no resgate
da garota também presu-
mem que dizer a um dos
mais poderosos shugenjas
de Rokugan que ele não é
objetivo o bastante para
impedir que o amor fique
no caminho de salvar um
casamento político é um
grave insulto. Se os perso-
nagens sugerirem isto,
deixe as consequências
ocorrerem.

O Escorpião
Também no castelo está
Bayushi Baka, o último
Baka não compartilha sua informação livre- encorajá-los a segui-la? Você não é um junshin.
mente. Ele faz uma rolagem de Consciên- Você tem sangue Escorpião neste seu coração
cia/Sinceridade contra os personagens (uma rola- Fênix.” Então ele falará com Ujina a sós e dará a
gem Disputada, se assim escolherem, ou uma sim- ele o único conselho que pode: fique em casa e
ples de NA 15), para determinar sua integridade e tente esquecê-la. Ujina ignora o Escorpião, é claro.
lealdade para com os outros. Se os personagens se Ele é um homem apaixonado, e não está propenso
provarem terem lealdade, ele compartilha o que a escutar qualquer um sobre questões do coração
sabe, mas só aos personagens que entenderem as — especialmente um Escorpião.
consequências de trair a confiança. Ele os avisa a
não ficarem fora da visão um do outro, não vaga-
rem a sós. Ele só dirá a outros Escorpiões sobre usa
preocupação por seu Clã, porém. Baka acredita em
manter suas preocupações “em família”.
Personagens que tratem Baka com desrespeito A Parte Dois começa com os personagens dei-
xando a segurança do Palácio Ukara. O lorde da TERRA: 2
têm uma reação completamente diferente. Baka ÁGUA: 3
não aprecia os que cospem no mon de seu Clã. Ele Garça lhes forneceu bons cavalos (rokuganis),
FOGO: 2 Agilidade 4
guardará seus conselhos para si e fará o seu melhor provisões, um mapa da área e seus melhores votos. AR: 2
para confundir os personagens. Então, na primeira A busca dos personagens eventualmente os le- VAZIO: 0
oportunidade, ele busca o Noviço do Vazio na vará à caverna descrita no diário de Kaagi, mas a Escola/Nível: Nenhum
frente dos personagens, e sorri. “Você sabe, não jornada até lá lhe fornece uma oportunidade de Honra: 0
é?” ele diz. “Você sabe o que a levou. E você vai usar as experiência de Kaagi como uma prepara- Glória: 0
ção. Esta parte da aventura é uma hora ideal para Status: 0
por seus personagens na disposição Vantagens e Desvanta-
mental certa para seu confronto com a gens: Vide a diante.
Escuridão Viva. Perícias: Atléticos 4,
Defesa 4, Kenjutsu (Ninjato)
Você pode usar os encontros de 3, Veneno 2, Furtividade 4,
Kaagi, alguns deles, ou nenhum deles Ninjutsu 2
(inventando os seus próprios) para defi- Ferimentos: 12: -1, 24:
nir o clima, mas a intenção é abalar a Morto
confiança dos personagens. Desde o
começo da campanha, brincamos com Esses Goju, a “família”
suas expectativas; nesta noite, expandi- secreta da Escuridão Viva,
remos isso ainda mais. A primeira aven- ganharam certas habilidades
tura lhes apresentou um Ninja, mas e poderes (vide tabela, p.
XXX). Eles não sabem
também lhes deu um gosto da Escuridão muito de seu “mestre” e não
Viva. Na segunda aventura, eles encon- podem revelar nada, se
traram um “fantasma” e uma “bruxa” interrogados — a Escuridão
que pareciam com o que encontraram na simplesmente se dissipará
primeira aventura. Desta vez, mesmo numa estridente, agonizada
que todos lhes digam que estão lidando e sangrenta massa.
com Ninjas, eles sentirão que estão
lidando com algo mais, algo familiar. Isso é o que significa ser um
Quando usar os encontros abaixo, Goju.
use o mesmo tom de voz, a mesma lin-
guagem, os mesmos gestos que fez
quando encontraram a criança fantas-
magórica da primeira aventura e a “bru-
xa” da segunda. Isso lhes dará uma pista
de que a coisa que enfrentam aqui é a
mesma coisa que já enfrentaram antes.
Suas expectativas serão: “Isso não é
Ninja, é algo mais”.
É claro, eles estão apenas meio certos, mas é Os personagens podem passar a noite no vilare-
exatamente o que queremos que pensem. jo, mas seus sonhos são assombrados com visões
de suas experiências anteriores com a Escuridão
Viva. Um dos personagens pode sonhar que está
correndo, pulando e caindo numa floresta escura.
Esses encontros podem ser usados em quase Ele grita por seus amigos — que estão três passos à
qualquer ordem, embora a ordem de Kaagi pareça frente dele — e eles se viram para ele… Mas eles
ser a mais coerente. Sinta-se livre para colocar não têm face. E de algum modo, ele pode dizer que
mais, especialmente os que se adequem a seus estão sorrindo.
personagens. Lembre-se, a Escuridão quer se reve- Os personagens que têm o sonho devem ser os
lar aos personagens. Quanto mais íntimos se torna- com menor Vazio, o personagem com menor Hon-
rem dela, mais domínio ela tem sobre eles. Use os ra ou o personagem que tenha sido o menos confi-
encontros abaixo, modifique-os para se adequarem ável dos outros personagens. Lembre-se quem teve
a seus personagens. Quanto mais pessoal é a Escu- o sonho, pois será importante na noite seguinte.
ridão Viva, mais aterrorizante ela pode ser.
Acampando à Noite
Tropeçando em Lendas Urbanas Mais cedo ou mais tarde, os personagens vão
Em sua jornada, os personagens passam por um querer parar para descansar. Eles podem escolher
pequeno vilarejo, cheio de rumores de Ninjas. Os dormir durante o dia, pensando que tal antecipação
Kuoni olhou novamente aldeões estão convencidos de que os viram, vesti- os livrará de pesadelos futuros.
pelo acampamento. Seus dos de preto, movendo-se pelas sombras como se Deixe-os pensar isto. Eles ainda têm pesadelos
companheiros dormiam em fossem suas aliadas. Eles usam as tradicionais durante o dia, e viajarão pela floresta à noite —
seus leitos, a fogueira lança- descrições de Ninjas, mas quando perguntados por não exatamente o curso mais seguro de ação.
va sombras dançantes por detalhes, é aí que suas histórias soam estranhas. Durante sua jornada, o personagem que teve o
suas faces quietas. Kuoni Eles dizem aos personagens que os “Ninjas” eram pesadelo tropeçará, cairá e torcerá o tornozelo. Se
saiu pela floresta. feras deformadas, com dedos e faces retorcidos. você puder realizar isto sem rolagem de dados, isto
Ele emergiu numa peque- Qualquer Escorpião no grupo riria em voz alta. é perfeito. Se não, faça-o com uma rolagem de
na clareira onde a luz fraca
Eles também dizem aos personagens que os Reflexos ou Agilidade. Ou faça todos rolarem, e
da lua brilhava nos restos do
oratório abandonado. Kuoni Ninjas saíram numa direção definida (norte), e até escolha quem tiver o resultado mais baixo. De
já tentara dominar as artes lhes mostrarão a estrada. Quaisquer personagens qualquer maneira, alguém vai cair e torcer o torno-
da feitiçaria como seu irmão capazes de rastrear cavalos em fuga serão capazes zelo, mesmo que seja Ujina. Se a rolagem ainda for
e seu pai e seu avô antes de seguir os rastros; não se precisa rolar (eles fo- alta o suficiente, faça um PdJ acordar de uma cor-
dele, mas nunca pareceu dar ram orientados, afinal). Mas olhar para os rastros rida em sonho com uma grave dor em seu tornoze-
em nada. Mas nesta noite, lhes dá uma sensação estranha na espinha. Os ras- lo. Isto dá uma razão sobrenatural para o ferimento,
ele ouviu a voz de seu an- tros que os cavalos deixam não são… Naturais. uma pílula mais branda para muitos jogadores.
cestral, Hatsume, falar com Personagens Caranguejos — ou alguém com Mais à noite, as assombrações começam.
ele. “Volte esta noite e lhe
Conhecimento Terras Sombrias — reconhecerá Mais uma vez, use as mesmas palavras e lin-
darei a herança que deveria
ter sido sua.”
uma leve impressão de algo lembrando a Mácula guagem corporal para descrever as assombrações.
das Terras Sombrias… Mas não é exatamente isto Os personagens saberão que já lidaram com isso
que está errado. Permita que seus personagens antes, e, se for bom, podem até mesmo não asso-
acreditem nisto de início (as estranhas marcas de ciá-la aos Ninjas. Eles podem crer que este é um
cascos, retorcidas e circulares, ou dentadas e serri- incidente isolado, um momento de seus passados
lhadas, certamente parecem ser as marcas dos cor- que retornou para assombrá-los.
céis de Fu Leng). Os cavalos foram Maculados, As assombrações que a Escuridão usa devem
mas pela Escuridão Viva, não pelos poderes cor- ser adaptadas aos seus personagens. O objetivo é
ruptores das Terras Sombrias. Uma rolagem alta o dividi-los, fazê-los vagar pela floresta individual-
bastante de Conhecimento Terras Sombrias (NA 30 mente, para que a Escuridão possa olhar melhor
ou mais) dirá ao personagem que isto não é Mácula para eles. É claro, ela usa Ninube para atrair Ujina,
das Terras Sombrias (ela alarga os casos de manei- mas a Escuridão usa assombrações igualmente
ra peculiar, e estas marcas não conferem), mas não atraentes para seus personagens.
lhes ofereça a rolagem. Faça-os concluírem sozi- Mostre a eles seus Amores Perdidos, presos pe-
nhos. Isto lhes fará confiarem na primeira impres- la Escuridão como fantasmas presos em espelhos
são. sombrios. Mostre-os pais ressentidos, implorando
perdão, apenas se os personagens os seguirem.
Mostre-lhes esposas e filhos, chorando por sua rolar Percepção/Caça contra NA 20) que significa
ajuda enquanto suas faces derretem. Mostre-os que alguém se perdeu. Se alguém o fizer, leve-o
personagens de investigações anteriores, sussur- para outra sala e peça para se sentarem e só volta-
rando ofertas de verdade, apenas se os personagens rem quando chamá-los. Você também pode sugerir
os seguirem. Provoque-os com tudo à disposição. que o jogador aja estranhamente ao retornar. Isto
Force-os a fazerem rolagens de Honra. Atinja-os cabe ao seu critério. Afinal, muitos samurais estão
onde suas armaduras não protegem. A Escuridão mais do que dispostos a matar um companheiro
não sabe o significado de misericórdia você tam- que de repente parece suspeito. Você conhece seus
bém não deve saber. jogadores. Você sabe como eles responderão. Que-
Cedo ou tarde, você fará um deles (mesmo que remos que eles pensem sobre nosso amigo desapa-
seja Ujina) perseguirem sombras. Assim que con- recido, não matá-lo.
seguir fazer um correr da fraca luz da fogueira, o Separe-os por um bom e longo tempo (claro,
resto provavelmente seguirá. O propósito de dar a “um bom e longo tempo” depende completamente
alguém um tornozelo torcido é ajudá-lo a dividir da paciência de seus jogadores). Então, quando
seu grupo de aventureiros. Queremos que alguns sentir que seu desconforto está se transformando Kuoni se aproximou de
deles se percam, e ao menos um deles se isole. em impaciência, fale para o jogador retornar. Ele Hatsum e se curvou até
Nem todos têm a Perícia Caça (mas todos devem agirá um pouco estranho (diga-o dizer: “Não sabia embaixo.
“Você é meu servo, Kuo-
ni?” A voz era funda e seca
como vento espalhando
folhas secas. “Me será leal e
me obedecerá em todas as
coisas?”
“Serei, Hatsume-sama,”
Respondeu Kuoni, cheio de
alegria.
Kuoni estendeu sua mão
esquerda para Hatsume e
sentiu um toque como o de
um duro e fino dedo. Ele
traçou linhas em sua palma,
um padrão que ele não
reconhecia. Então, como um
ferro em brasa, as linhas
pareceram penetrar em sua
pele, e algo fluiu sobre sua
mão, envolvendo-a como
uma luva.
Contendo um grito, Kuoni
olhou para cima para ver a
face de Hatsume escorrendo
como cera derretida, dei-
xando uma concha branca.
Ele soltou o grito, e o som
ecoou pelas árvores. Foi o
último som que Kuoni ouviu
quando a consciência o
deixou num súbito de terror
e dor.
aonde estava. Me lembro de falar com meu pai…”) isso era inteligente e maligno e fez isso a um grupo
o que deve tirar o equilíbrio dos personagens. ago- de magistrados. Um grupo de capazes, inteligentes
ra eles têm um problema interno e um externo. Em e armados magistrados.
outras palavras, as coisas ficaram um pouco mais Se isso não os fizerem pensar que estão em sé-
complicadas. rios apuros, nada irá.
Quando os personagens finalmente voltarem ao O segundo grupo de cadáveres está um pouco
acampamento, eles encontrarão o lugar todo revi- do lado da estrada, empilhado num arbusto peque-
rado. Pacotes rasgados, comida atirada ao fogo e no. Todos e cada um deles têm um corte em suas
cavalos dilacerados. No diário de Kaagi, ninguém gargantas, quase exatamente no mesmo lugar. As
ficou para trás para proteger o acampamento. Se faces dos yojimbos são calmas. Um deles está até
alguém o fizer, aqui vão algumas sugestões. sorrindo. Eles morreram há uns dois dias, mas os
Ele pode ser encontrado dormindo no meio do corpos só começaram a apodrecer recentemente.
Kuoni acordou com a fra-
acampamento arruinado, coberto por sangue, carne Alguém com conhecimento forense (magistrados
ca luz do amanhecer. Levan- e entranhas de cavalo, mas isto pode ser um pouco Kitsuki, shugenjas Kuni e Asako) reconhecerão
tando-se , ele sentiu uma dor nojento para o seu gosto. Ou você pode deixá-lo isto como estranho. Um Caranguejo pode fazer
intensa na mão esquerda. em choque, encolhido, sussurrando besteiras sobre uma rolagem de Conhecimento: Terras Sombrias
Uma onda de náusea o seu avô (“Nunca me amou… Nunca me amou…”). contra NA 15 para saber que corpos se decompõem
percorreu, e houve vários O incidente inteiro deve ser o suficiente para mais rápido nas Terras Sombrias, não mais deva-
minutos antes que pudesse convencer seus personagens que estão contra algo gar. Os personagens ficarão felizes em perceber
abrir os olhos. da Investigação Dois (e Investigação Um, se junta- que a garota não está entre os corpos.
De início, nada pareceu rem as peças). Não é apenas um bando de caras Os personagens podem não notar os rastros que
estranho, mas enquanto ele
vestidos em pijamas pretos. É algo inteiramente os levam da vista em direção às pequenas monta-
olhava, a pele parecia se
mexer, levantando-se como diferente, e mais perigoso. nhas ao oeste. Se fizerem Percepção/Caça contra
se o padrão que estava NA 15, eles serão capazes de segui-los à toca das
traçado em sua mão estives- Encontrando Velhos Amigos criaturas que fizeram isto. Se não, eles passarão
se tentando sair da superfí- Encontrar os dois grupos de corpos mortos é longas três horas antes de encontrar os rastros.
cie. As linhas se mexiam, e um meio repulsivo mas eficiente de mostrar aos É hora de entrar no lado pessoal dos Goju.
então sumiam. Kuoni sentiu personagens que estão lidando com algo que não é
uma profunda sensação de inteiramente sobrenatural. O primeiro grupo que
vergonha pelo seu pacto, encontram é a companhia de magistrados que Baka
mas quando a culpa revirava
seu estômago, ele podia
arranjou no último momento. O segundo são os
sentir um estranho poder guarda-costas da garota da Garça.
nele. Os magistrados foram retalhados. Literalmente.
Emergindo na clareira on- Órgãos internos estão espalhados de um galho a
de ele e seus companheiros outro como cordões de festa. Um magistrado foi O confronto final com os “Ninjas” que seques-
acamparam, ele viu que partido ao meio, seu tronco está num lado da cla- traram Ninube ocorre numa pequena caverna do
ainda dormiam. Quando reira e suas pernas no outro. Suas entranhas estão outro lado da floresta. As colinas baixas sobressa-
seus companheiros acorda- no meio do caminho. Uma cabeça de um magistra- em às árvores, dando uma impressão do que está lá
ram, nada parecia estranho. do foi completamente torcida e batida contra uma dentro.
Kuoni se sentia muito for- Infiltrar-se nas cavernas não é tarefa fácil. Os
te agora, muito confiante.
árvore, seus ligamentos saíram de seus braços e se
amarraram aos membros, como uma marionete Goju têm um lugar cheio de armadilhas que mata-
Certamente ele seria mais rão qualquer samurai apressado (ou Bravo) num
útil para eles do que era distorcida.
Em adição à brutalidade da cena, os persona- instante. Além disso, o lugar está cercado de som-
ontem. E com o tempo,
quando ele entendesse o que gens devem reconhecer os magistrados. Eles não os bras profundas, território primordial para ninjas
ocorreu, ele contaria a eles. reconhecem pessoalmente (embora isto possa maculados pelas sombras. Nem tanto para samurais
Um dia, eles entenderiam… acrescentar um toque muito sinistro, e se possível, espantados. As cavernas são separadas em Áreas.
deve ser o caso), mas eles os reconhecem num Cada Área contém uma breve descrição, quaisquer
nível pessoal. Iguale os magistrados por clã aos perigos espreitando nas sombras, e quaisquer saí-
personagens. Se o grupo tem dois Garças, um Ca- das disponíveis — incluindo as escondidas.
ranguejo e um Dragão, então é o que eram os ma-
gistrados: dois Garças, um Caranguejo e um Dra- Área Um
gão. A entrada das cavernas é mais larga do que alta.
Nenhum goblin, troll ou ogro teria sido tão de- A entrada em si tem apenas três metros de altura,
liberado ou diligente com a carnificina. O que fez mas seis de largura. A caverna em si tem seis me-
tros de altura e doze metros de largura. Seu interior nais). O personagem em queda deve manter seus
é escuro e úmido. Uma fraca luz passa pela entra- dados mais altos. Se a rolagem do personagem que
da. A caverna desce levemente a partir da entrada. segura for maior que a do que cai, ele o segura. Se
As paredes da caverna estão molhadas e um fio de falhar, ele não o segura e observa seu aliado escor-
água desce da parede norte. Musgo cresce nas regar até o lodo.
paredes e uma abertura no norte se aprofunda para Shugenjas espertos usarão Comunicar com o
dentro das montanhas. Não há sinais de luta. lodo (Terra ou Água), mas terão uma surpresa. Os
elementos nesta caverna foram corrompidos, tor-
Área Dois nando-os menos amigáveis do que deveriam ser. O
A caverna que leva pela entrada principal tem shugenja será capaz de se Comunicar, mas a um
quatro metros de largura, o bastante para dois ho- preço. Ele tem que sacrificar um Ponto de Vazio a
mens andarem juntos. Ela desce intensamente, cada rodada, e os espíritos são beligerantes, ofensi-
forçando personagens com Reflexos menores do vos e pouco prestativos. Todos os efeitos de Co-
que 3 fazerem regulares Rolagens Simples de NA municar de qualquer outra forma são normais, mas
10 para não escorregarem, caírem e rolar descida apenas se o shugenja está disposto (e capaz) de
abaixo. sacrificar os Pontos de Vazio. Durante e após o
Após virar ao oeste, e então leste de novo, os feitiço Comunicar, o shugenja ouve milhares de TERRA: 3
personagens encontram uma armadilha boca de vozes gritando para ele. As mensagens serão mistu- ÁGUA: 3 Força 4
urso. Está a cerca de dez minutos após a curva ao radas. Algumas gritam para ele liberar a Escuridão, FOGO: 4
AR: 2 Reflexos 4
leste e requer uma rolagem bem sucedida de Per- enquanto outras o impelem a investir e abraçá-la.
VAZIO: 0
cepção (mais perícia Investigação, se alguém a Comunicando-se, o shugenja se expôs comple- Honra: 0
tiver) contra NA 25 para encontrar o fio que ativa a tamente à Sombra. Ele está usando Comunicar, o Glória: 0
armadilha. que o torna um com o elemento alvo que, no caso, Status: 0
Se os personagens falharem em ver o fio, a ar- é a própria Escuridão. O shugenja está em terrível Sombra: 3
madilha entra em ação, causando 6k3 Ferimentos perigo, e pode sentir isto. Apenas seu Vazio o Desvantagens: Nenhu-
em qualquer um e todos em seu caminho (os pri- protege de ser devorado. Deste momento em dian- ma
meiros três grupos de personagens — seis para ser te, se o personagem gastar seu último Ponto de Perícias: Atléticos 5,
exato). Personagens podem tentar esquivar, mas Vazio enquanto estiver na completa escuridão, ela Defesa 5, Explosivos 4,
Caça 3, Venenos 2, Furtivi-
têm que gastar um Ponto de Vazio. Se o fize-
dade 5, Kenjutsu (Ninja-to)
rem, eles podem rolar Reflexos/Defesa contra 4, Shuriken 4
NA 25. Se falharem, eles sofrem o dano total. Ferimentos: 32: Morto
Se tiverem sucesso, eles esquivam a armadilha.
O corredor após a armadilha é outra curva Este oponente está à beira de
para o norte. Ele continua a descer, mas a incli- ser totalmente consumido
nação é mais severa. Personagens devem rolar pela Escuridão. Ele possui 3
Reflexos contra NA 15 para não escorregar. pontos de Sombra, permi-
tindo-o grande furtividade,
rapidez e o poder de sofrer
Área Três
metade do dano de armas
Esta é outra armadilha, mas não artificial. O que não sejam feitas de
chão é escorregadio aqui, ainda mais perigoso cristal.
do que antes. Personagens devem fazer rolagens
de Reflexos contra NA 25 ou escorregar e cair
pela descida. O ângulo é perigoso, com quase
45° de inclinação. O corredor termina num poço
cheio de musgo grosso. Personagens que caiam
no poço sufocam em questão de momentos, e
morrerão de asfixia num número de rodadas
igual ao seu Vigor.
Personagens que caiam podem ser pegos por
outros personagens, mas apenas com uma rola-
gem Disputada bem sucedida de Reflexos con-
tra a Força do personagem em queda (que re-
presenta seu tamanho relativo; personagens com
a Vantagem Grande rolam dois dados adicio-
estará lá, pronta para ele (vide o capítulo final para O corredor leva a uma sala escura. Personagens
maiores detalhes sobre os efeitos colaterais da notam que qualquer luz artificial começa a sumir
Escuridão Enganosa). quanto mais entram na caverna, deixando-os com
apenas sombras densas e fracas impressões de
Área Cinco movimento.
No meio do corredor, todos os personagens fa- A sala tem cinco figuras nela, todas curvadas
zem uma Rolagem Simples de Percepção contra numa pequena e trêmula bola, escondendo suas
NA 15, os que conseguirem, ouvem o choro de faces da luz que os personagens têm consigo. Essas
algum lugar das cavernas. Eles também ouvem figuras foram abraçadas pela Escuridão, mas suas
passos fugindo deles, indo na direção do choro. transformações ainda não estão completas. Suas
Isawa Ujina reconhece a voz de Ninube e corre- faces estão distorcidas, seus corpos borbulham e se
TERRA: 1 rá para ela. Os personagens podem tentar contê-lo contorcem, mesmo quando os personagens os ob-
ÁGUA: 2 (rolagens Disputadas de Força), mas ele grita o servam. Felizmente, os personagens só podem
FOGO: 2
nome dela, dizendo que está a caminho. distinguir sugestões de formas pelas suas fracas
AR: 3
VAZIO: 0
Os que acham que podem conter o Noviço do fontes de luz. Se chegarem mais perto, as figuras
Escola/Nível: Cortesã Do- Vazio da Fênix podem tentar. Ele não está pensan- gemem e se encolhem, e o grupo deve rolar Vonta-
ji 2 do neste momento, só reagindo. Segurá-lo é pro- de contra NA 10. Os que falharem fugirão da ca-
Honra: 0 blemático, e se feito impropriamente, perigoso. verna. Mesmo personagens que passarem na rola-
Glória: 6,4 Ujina usará todos os poderes à sua disposição para gem sentirão que algo está errado com a caverna,
Status: 1,2 encontrar sua Ninube perdida, mesmo que isso algo que seria melhor deixar para lá.
Vantagens: Bênção de signifique usá-los contra seus aliados. As figuras não lutarão se atacadas, e sangram
Benten, Voz Assim que os personagens estão correndo atrás uma substância preta grossa. Se atacadas, elas
Desvantagens: Nenhuma
de Ujina, eles estarão no ponto certo para serem entrarão nas sombras e desaparecerão. Personagens
Perícias: Corte (Manipu-
lação) 4, Sinceridade 3,
atingidos pelos Ninjas. Os lacaios Goju caem do ouvirão passos da entrada da caverna, mas os per-
Etiqueta 4, Heráldica 4, teto sobre os personagens, fazendo o que puderem sonagens não encontrarão qualquer fonte nas som-
Oratória 4, Cerimônia do para separá-los de Ujina. Afinal, o alvo primário bras.
Chá 4 desta expedição é isolá-lo. Os personagens dos
jogadores são secundários. Área Sete
Sozinha e com medo, Ninu- Após um tortuoso e estreito corredor que os
be foi presa fácil para a Área Seis personagens devem atravessar em fila, as paredes
Escuridão Viva. Ela a con- se abrem a uma pequena câmara iluminada por
sumiu rapidamente. A garo-
uma só vela. Uma esteira de palha, uma tigela e
ta conhecida como Doji
Ninube agora é Goju Ninu-
uma Ninube esfomeada estão lá. Se Ujina escapou
be, uma extensão da Sombra dos personagens, ele está lá também, confortando
possuindo todos os poderes sua futura noiva.
descritos no Capítulo 5. Os personagens podem ficar o quanto quise-
Porém, ela não usará estas rem na caverna, mas assim que decidem ir, a nu-
habilidades abertamente. Se vem que Kaagi descreve no diário os atinge, e
atacada, ela conta com Ujina com força. É um enxame de abelhas possuído pela
para protegê-la, e ele o fará Escuridão, e quando cai, ela divide o grupo ao
de bom grado, apesar de
meio. Enquanto estão no enxame, todos os perso-
qualquer evidência apresen-
tada contra ela.
nagens sofrem um dado de Ferimentos (não re-
Apenas se Ujina for morto, role 10) a cada rodada. Ele dura três turnos até
Ninube se revelará, usando Ujina atrair as abelhas ao seu braço. Ele pede aos
seus plenos poderes como personagens para atearem fogo em seu braço en-
nova Goju, serva da Escuri- quanto ele tem as abelhas em um só lugar. Se
dão Viva. hesitarem (por dois turnos), Ujina perderá o con-
trole do enxame, e ele atacará os personagens de
novo.
Se os personagens atearem fogo em seu braço,
isto desconecta as abelhas da Escuridão. Elas se
dispersam em uma rodada, deixando Ujina inca-
pacitado. Os personagens terão que carregar o
Noviço do Vazio para fora da caverna.
morto, a Escuridão o descarta como um brinquedo
Retorno à Área Um velho, e seu corpo se desfaz em tentáculos oleosos
Quando os personagens se aproximam da saída e fumaça. Em minutos, não restará nada dele.
das cavernas, eles encontram um obstáculo final,
Goju Sanado. Ele provoca os PdJs assim como faz
com o grupo de Kaagi. Ele também usará suas
faces uma de cada, criando um Efeito de Medo 3. Assim que os personagens estão fora da caver-
Qualquer PdJ que falhe em superar o medo não na com Ninube e Ujina, eles estão livres para cor-
pode atacar a criatura. rerem para correrem de volta às terras da Garça,
O líder Ninja (pois Sanado está perdendo seu levando seu prêmio.
nome, sua identidade, tornando-se cada vez mais Eles recebem agradecimentos sinceros de Mi-
um lacaio da Escuridão) sofre dano normalmente kara (na forma de um Favor Maior), bem como um
quando atingido, mas seus ferimentos não afetam total de 6 Pontos de Experiência (3 pela abordagem
seus Atributos ou Perícias. Ele tem apenas um e 3 pela expedição à caverna).
nível de Ferimentos: Morto.
Quando atingido, uma gosma esfumaçada preta
vaza de seus ferimentos ao invés de sangue. Se for
Na Estrada do Castelo Mikara
(Item 54)
Na estrada fora do castelo Mikara, tento organizar meus pensamentos. A evidência é muita para ser coincidência.
Não duvido mais do que experimentei no vilarejo Hida. Houve um poder que enlouqueceu Hida Dasan. Ele vestia a face de
sua esposa quando falou comigo, mas no fim não era a coisa que queimou com a casa de Dasan.
A mesma força levou Ninube às cavernas nas colinas entre as terras da Garça e da Fênix. E a substituiu ou se tornou
ela quando chegamos. Nunca em todos os meus estudos das Terras Sombrias encontrei algo capaz de assumir a face, voz e
maneiras de outra pessoa tão bem que nem os mais próximos notariam.
Não havia o que pudesse fazer para convencer Ujina. Acredito que se tivesse expressado meus temor aos pais, sua
hospitalidade se tornaria hostilidade. Seu desejo pelo retorno seguro de sua filha os cegou tão certamente quanto a devoção de
Ujina. Tudo que poderia vir disso seria um duelo entre dois homens que não tinham razão para lutar. E eu convenceria
poucas pessoas caindo morto no chão. Mei sabe. Conversamos sobre isso algumas vezes antes de irmos, e notei o cuidado
especial que ela teve em ficar longe da garota da Garça quando partimos.
Não sei se estou mais perturbado pela noção de que esta nova ameaça ser tão dominante que já a encontrei duas vezes
nestes meses, ou a ideia de que fui guiado a ela. De fato, temo de ser como as estradas aos castelos do Dragão, e eu, tendo
aprendido a vê-las uma vez, as verei em todas as suas formas.

Item 55
Lady Sol ainda está considerando sua descida diária. Acampamos fora da estrada no caminho de volta ao castelo
Kitsuki. Não sei aonde ir em seguida ou o que fazer, logo, decidi descansar e consultar as mentes em que confio, embora não
saiba o que pensarão de minhas últimas aventuras. Mei foi se banhar num rio. Quando ela retornar, farei o mesmo. O frio
da manhã me faz relutar em andar. Meu pé está curado, mas ainda dói com o frio.
Estou amarrando-o de novo ao fogo baixo quando ouço as folhas atrás de mim farfalharem uma contra a outra como
se as árvores dessem um suave suspiro. Me viro congelado, minha mão em minha katana. A visão diante de mim não faz
sentido de início. Uma figura está entre as árvores. Sei que é um homem, mas de algum modo, meus olhos não querem ficar
sobre ele. Ele está vestido todo de branco dos joelhos aos antebraços. Seu cabelo está coberto por uma faixa solta e a metade
inferior de sua face está escondida por outra. Sua presença aqui parece tão improvável, e o ímpeto de não olhar para ele é tão
forte, que creio de início que voltei a dormir.
Mas quando me levanto cuidadosamente, mantendo meu olho sobre ele, meu pé dói com força e sei que não é um
sonho. O homem caminha para frente devagar. Quando está a duas espadas de distância, ele aponta com sua mão direita
para meu cinto. “Isto é meu.” Sua voz é tranquila, calma e parece deslizar sobre as palavras, assim como minha visão quer
passar sobre ele. Tento me lembrar constantemente de não desviar o olhar. Com minha mão esquerda, alcanço meu cinto,
tateando por um momento. Ele assente quando minha mão chega ao objeto cilíndrico que encontrei na câmara de Akodo
Maouri.
“Quem é você?” Pergunto, podendo ouvir a descrença na minha própria voz. “Você estava no Castelo Ichime? Foi
você quem matou Nari?”
Ele assente. “Posso descansar?” Ele pergunta, apontando um lugar perto da fogueira. “Estive aguardando um longo
tempo por uma oportunidade de falar com você.”
Assinto e nós dois nos sentamos. A qualidade irreal de toda a cena passar por mim por um momento e quase rio alto.
“Meu nome,” ele diz, “é Hiroru. E você e eu temos muito em comum.” Ele vê minha dúvida, mas continua. “Nós dois somos
caçadores de sombras, Kaagi-san.” Minha mão se firma no cabo de minha katana com suas palavras. Ele
deliberadamente se sentou mais longe do que nossas espadas alcançariam, mas não confio nele mais do que isso.
“Estive no Castelo Ichime, pela mesma razão que você. Maouri morreu antes de sua hora e o que eu sabia a respeito me
fez suspeitar da mão dos ninjas. Você só os encontrou mais rapidamente que eu.” Ele sorri com a última frase, embora eu
não veja humor.
“Você estava no quarto de Maouri na manhã que o vasculhei?” Minha mente está se recuperando, olhando para cada
detalhe em minha memória. Me vejo indo à janela aberta, olhando para fora e para baixo, até o longo caminho até o
pântano. “Olhei para fora,” digo, pensando em voz alta, “mas nunca para cima.”
“Muito bom,” diz Hiroru. “Você entrou quando não esperava ninguém. Tive que sair rapidamente e cometi deslizes.”
Ele aponta novamente para o dispositivo em meu cinto.
“Você matou Nari, e sua trilha me levou até os Hida.” Ele assente de novo.
“Depois de você ter exposto e o ferido, ele não foi difícil de eliminar. E sim, eu o levei aos Hida. Depois do que vi,
esperava que visse algo lá que outros não veriam.”
“Algo me viu, eu creio.” Suprimo um estremecer com a lembrança.
“Sim. Eles já o conheciam. Você chamou seu interesse em Ichime, mas creio que eles já o conheciam até mesmo antes
disso. Você deve tê-los encontrado em algum lugar antes e não percebeu.” É mais fácil vê-lo agora. O estranho efeito
deslizante passou, logo agora ele é apenas um homem vestido em pano branco, estranhamente deslocado na primeira luz da
manhã.
“O que são eles?” Pergunto, voltando a ouvir.
“Já te expliquei uma vez, não lembra?” Ele sorri ironicamente. “Eu era o velho que você foi gentil em alimentar. E em
troca, lhe contei uma história.” Sei que é verdade quando ele diz. Todas as pequenas inconsistências começaram a se montar e
imagino se qualquer parte de minhas viagens foi por acaso.
“Eles são sombras que ganharam vida própria,” ele continua. “O máximo que posso dizer, é que descendem de algo
mais… Uma coisa que nunca recebeu um nome pelo Sol e Lua. E por causa disso, eles não possuem forma alguma.” Não
há sorriso em sua face agora. Só um interesse cansado. “Estou seguindo-os há muito tempo, tentando caçá-los, do jeito que
fui treinado. Acho que o Escorpião, ou ao menos os Shosuro, sabem deles. Ninjas. Os que são homens por baixo das roupas,
são treinados para emular as sombras e isso os leva a um grau de parentesco.”
“Treinado?” Ele ignora a pergunta, então faço outra. “O que eles querem, essas sombras?” Minha própria voz é grave
também, e fico todo frio.
O que ele diz a seguir é tão alarmante que nem entendo de início. “Acho,” ele diz após uma pausa considerativa, “que
quando roubam o nome de alguém, ele se torna amorfo como eles. Se tomarem nomes suficientes, eles poderão desfazer tudo
o que Lorde Lua e Lady Sol teceram. Eu os observei, os segui por um longo tempo. Há poucos de nós, como eu e sua
companheira, que têm um tipo de resistência natural a eles. Por qualquer razão, eles não podem nos tomar tão facilmente
quanto fazem com outros. Os observei em Ichime, mas sua amiga os resistiu.”
“Eles estavam em Ichime?” Ainda me sinto paralisado. “O assassino que você seguiu, era um deles?”
Hiroru mexe sua cabeça. “Não ele. O garoto, o jovem Sokoi. Eles substituíram o real Sokoi há um ano quando ele teve
seu suposto acidente no lago. Ele foi o único que pude observar de início. Mas então você encontrou o real assassino, e as
Sombras acharam você. Eles perderam o interesse no que poderiam ganhar pelo garoto, então o abandonaram. Isto me
deixou livre para seguir o assassino.”
Meu raciocínio parece borrado, como se eu tentasse ver através de um nevoeiro. “Eles o personificaram? Ou o
possuíram? Não entendo no que uma jovem criança poderia ser útil para eles.”
“Não é incomum,” diz Hiroru, pegando a grama diante dele. Ele parece um homem completamente em paz. Ou ele
confia em mim ou acha que não represento ameaça para ele. A segunda possibilidade me deixa desconfortável. “Ninguém
presta muita atenção em crianças ou no que elas ouvem. Muito do que as Sombras fazem, eu não entendo. Mas sei que
aproveitam o valor do conhecimento. E assim eles se põem em posição de aprender mais sobre os caminhos dos homens. Eles
se chamam ‘Goju’, ao menos os que ainda têm identidade própria. Eles não são políticos, mas aprenderam os erros que O
Escuro cometeu. Creio que estão se espalhando como uma praga numa árvore. Eventualmente, infestarão tanto do mundo
que os espaços intermediários ruirão.”
“É mais fácil tirar o nome de um homem fraco do que de um forte. Eles desmoralizam, gastam a vontade de um
homem. Quanto mais o perturbam, mais fácil é. E assim eles atacam as fontes da confiança de um homem, sua segurança.”
“Tenho que ir agora,” diz Hiroru, repentinamente se pondo de pé num movimento fluido. “Sua amiga está voltando, e
é melhor que ela não saiba de mim.” Ele me olha seriamente. “Você tem que mandara garota embora. Eles querem usá-la
contra você, mas se não conseguirem isto, eles a machucarão, a matarão para fazê-lo fraco.” Ele se estende e pega sua arma
em meu cinto. Noto isto como se notaria o tom de uma conversa num mercado lotado, nem aqui nem lá.
“Mande-a embora,” ele repete. “E então pegue esta estrada para oeste. Você encontrará um grupo de Unicórnios.
Eles poderão te dizer mais. Boa sorte.” E se vai. No silêncio que deixa para trás, ouço os passos de Mei se aproximando.

Item 56
Noite passada eu tive outro sonho. Estou dormindo em nosso acampamento de duas noites atrás. Acordo e me viro
para Sokoi. Ele está na escuridão ao lado da estrada, ainda pingando água estagnada do lago de suas roupas e cabelo. O
fedor do musgo quase me vence quando ele anda para frente, passando por mim, e continuando até ficar em frente a
Meilekki, ainda dormindo na fogueira fraca. Enquanto observo, o calor do fogo faz sair vapor do garoto ensopado. Mas
quando o vapor sobe, ele fica preto, como a fumaça que saiu da garganta ferida do bandido. O garoto se vira para me
encarar e sua face mudou. O semblante está quase sumido, como se sua face fosse uma pedra no fundo do leito de um rio,
desgastada pelo tempo e erosão.
“O que é você?” Pergunto, minha voz no sonho é estranha aos meus ouvidos. Tento me mover, mas não posso.
“Você já sabe mais do que gostaria,” risos da voz da esposa de Hida Dasan. “Que bem este conhecimento te trouxe?”
O garoto se vira e se dobra sobre Mei. Tento gritar um aviso mas não posso. Em minha memória eu a ouço dizer:
“Estava conversando com Sokoi. Não me lembro sobre o que.”
Acordo gelado e suado sob o sol forte demais para ser confortável e não quente o bastante para fazer qualquer bem. O
leito de Mei está vazio e demora um momento para eu ver o sinal que ela deixou; três varetas unidas em seu cobertor. Uma
quarta me mostra o caminho que ela fez para pegar mais lenha. Demora um pouco para ela retornar.
Nos servimos com chá quente como desjejum, mas meu apetite se foi. Observo Mei se sentar, e respiro fundo antes de
falar. “Acho que devemos seguir estradas opostas daqui.” O silêncio dura tanto que começo a duvidar que disse algo.
“Esta é uma ideia estúpida,” Mei finalmente diz, seus dedos nunca cessando de trabalhar. “Quando você se tornou tão
suicida? Ou a cegueira de Ujina é contagiosa?”
“Me ouça, Mei.” Tento manter meu tom razoável mas autoritário. “É importante que os Kitsuki saibam o que está lá
fora. Se nós dois procurarmos por isso, não há meio de garantir que nós dois não vamos desaparecer, e ninguém mais sabe.”
Ela ainda não olha para cima, mas mexe a cabeça devagar, olhos ainda no trabalho.
“Seu povo é notório por sua falta de fé em testemunho. Que evidência eu levo? E quem sou eu para que me ouçam?
Sua serva eta? O que quer que estejamos seguindo tem sido cuidadoso para não deixar evidência que possamos carregar. Só
as visões que você vê e as coisas que você ouve. Que bem seus colegas investigadores trarão?” Sua voz está crescendo agora, a
raiva é clara em sua face.
Olhando para a poeira à minha frente, dou a ela a única resposta que temos. “Temos que tentar. O que quer que esteja
lá fora, não é das Terras Sombrias, ou nada que conheçamos. Temos que dar a eles uma chance de se preparar. Além disso,
qualquer coisa que você diga a eles, eles escreverão e registrarão, acreditando ou não. Ao menos eles terão isto quando
precisarem.” Sei o quão fraco é este raciocínio, e não quero encarar os olhos dela quando o digo. “Pergunte por Kitsuki
Yasu, meu professor. Conte tudo a ele.”
“Você nunca saberia se eu o seguisse,” ela responde com uma voz perfeitamente racional.
“Saberei quando me der sua palavra de que vai voltar.”
“Para deixar você se matar?” Uma pausa… “Eu nem sei o caminho até o castelo Kitsuki.”
Então eu sei que venci. Ela está apertando a palha. Mei nunca deixou uma coisa racional impedi-la de fazer qualquer
coisa. “Te direi o caminho. Você ficará bem. Agora me prometa que irá.”
Seus olhos parecem muito escuros contra a palidez de sua face. Sua boca se aperta quando ela diz: “Eu prometo ir.”
Por um longo tempo ficamos no fogo, sem falar. Então, ao mesmo tempo, nós dois nos movemos, começando o familiar
ritual de levantar acampamento.
Quando terminamos, levo Mei pela estrada e aponto pelas árvores. “Vê aquele riacho estreito, fluindo atrás da sombra
da grande árvore?” Ela aperta os olhos em confusão, e então pisca várias vezes, inclinando-se para frente. Eu sei que ela viu.
“É quase invisível pelo modo que as sombras ficam.” Sua voz é baixa, como alguém que não quer contar um segredo.
Assinto. “Siga-o pela floresta e pelas colinas. Enquanto você seguir as trilhas das coisas vivas aqui, você encontrará seu
caminho ao Castelo Kitsuki.”
Ela põe a bolsa nos ombros e se vira para me olhar de novo. “Fique seguro,” ela diz calmamente, não para mim e mais
para o ar ao meu redor, como uma prece. Então ela se estica e toca as pontas de seus dedos no meu queixo, olhando direto nos
meus olhos. Sinto como se o mundo afundasse abaixo de mim, e vejo minha última vista familiar. Então ela se vira e segue
pela floresta, por onde o pequeno riacho corre, e começa a ir embora. Por duas batidas do coração eu a observo, então me
viro e sigo a estrada, sabendo que em outras duas, toda a disciplina do mundo não me impedirá de segui-la. De ir para casa.
Item 57
Passei todo este dia caminhando na direção recomendada pelo misterioso Hiroru. Estou andando bem apesar do
ferimento, mas o caminho parece mais longo sem Mei. Espero que ela consiga avisar meus amigos Kitsuki do que está
havendo. Mesmo que não acreditem na palavra dela para começar, e suspeito que não vão, eles indubitavelmente registrarão
o que ela tem a dizer. Espero obter mais evidência sólida do que já vi, algo para corroborar o testemunho de Mei e o meu.
Na pior das hipóteses, se eu não retornar, suas palavras serão registradas para que quaisquer aparições futuras dessas
‘Sombras’ tenham algo pelo qual serem referenciadas. Com o tempo, suspeito de relatos incidentais serão unidos para
formar um registro devido dessas coisas. Espero que haja tempo suficiente.
A tarde começou a sumir. O vento se torna mais forte e mais frio. O cheiro forte do pinho enche meu nariz. Agora,
Mei deve ter alcançado o castelo e estar quente e confortável por nós dois. Ressinto fazer tanto tempo desde que não volto
para casa.
O sol está começando a sumir dos céus quando ouço o som de cavalos e vozes de homens à frente. O terreno aqui nas
colinas é rochoso, dificultando ver mais do que alguns metros à frente da trilha. Tento me mover mais rapidamente e logo
posso ver os Unicórnios de quem Hiroru me disse para esperar. O grupo parece ser de vinte, maioria homens, embora possa
ver claramente três mulheres. Um grande grupo de cavalos está sem selas por perto, perfeitamente obedientes. Estou
surpreso em ver a única tenda de pé repentinamente cair quando duas das mulheres começam a empacotá-la.
Aparentemente, elas estão desmontando o acampamento, não o levantando, apesar do crepúsculo. Uma multidão se reuniu
próxima aos cavalos, e vários dos homens já montaram.
Começo a descer a trilha, procurando uma figura de autoridade central. Sigo apenas alguns metros quando sou
golpeado por trás. O ar sai de mim quando caio no chão. Algo grande me espeta por trás nas costas, e sinto gosto da poeira
em minha boca. Um par de pés de botas aparece em minha vista. Não posso girar minha cabeça mais do que alguns
centímetros.
“Quem é você?” O sotaque é claramente Unicórnio. O gume em minhas costelas fica mais forte.
“Meu nome é Kitsuki Kaagi e sou um Magistrado do Campeão de Esmeralda. Você não tem razão para me deter.”
É difícil manter a dignidade com minha cara no chão, mas eu tento.
“Uari,” uma voz grita sobre a minha cabeça. “Aqui.” O peso nas minhas costas não diminui, mas ouço passos rápidos
vindo da área povoada. As vozes ficaram em silêncio por lá. Pés menores se aproximam de meus olhos e o peso nas minhas
costas se ajusta para que eu possa virar minha cabeça. O homem que falou é jovem, talvez dezoito anos. Ele está vestido nos
trajes de um bushi e sua espada está sacada. Além dele há uma garota, provavelmente uns dois anos mais nova. Seu porte é
pequeno e termina numa face larga. Em uma mão, ela segura uma tocha acesa. Na outra, ela tem um pingente de cristal
quase do tamanho do punho de uma criança. Ele é cortado rudemente, mas a luz da tocha lança prismas brilhantes.
Ela se inclina para frente, o pingente se aproxima de minha face. Fico cego pela cascata de cor e brilho.
“Ele é um homem,” pronuncia a garota. Sua voz é estranhamente melódica.
“Levantem-no,” diz o bushi, assentindo sua cabeça lentamente.
A pressão em minhas costas muda, e então desaparece. O bushi me oferece sua mão. Me ponho de pé com pouca
dificuldade, tropeçando um pouco quando ponho meu peso em meu pé ferido. O jovem samurai se curva bem baixo.
“Minhas desculpas, Kaagi-san. Não quis ofender. É que tivemos uma longa jornada e não o conhecia.” Ele se curva de
novo. “Sou Shinjo Renari.”
Seus olhos têm uma qualidade direta porém velada que me faz pensar que o que ele disse era verdade, mas não
inteiramente. Ele tem um semblante anguloso e uma boca larga. Seus olhos são um pouco fechados, como os da garota.
Acho que podem ser parentes. Virando-me, vejo a força que me atingiu por trás. Um bushi muito grande está a poucos
metros de mim. Seus ombros são quase tão largos quanto um cavalo, e ele é duas cabeças mais alto que eu. Olhando para ele,
estou surpreso por eu não ter quebrado sobre seu peso. Ele deve ter se contido.
Viro-me para Renari. “Quem lidera vocês?” Pergunto. “Vocês têm um daimyo aqui?” Uma leve sombra passa por
sua face e ele olha em direção ao sol poente.
“Temos,” ele responde, um pouco de tensão em sua voz. “Mas estamos preparando para partir e estamos com muita
pressa. É importante, o que você tem a dizer?”
Interessante. Ele parece nervoso ao questionar minha autoridade, mas ainda mais nervoso quando olha ao sol se pondo.
“Não vou tirar muito de seu tempo,” garanto a ele. “Mas é importante.”
“Então venha.” Ele se vira sem mais cerimônias e vai para o grupo com um passo rápido. Os outros Unicórnios param
o que estão fazendo quando chego. O sigo até um velho magro sentado numa pilha de sacos.
Ele olha para cima e percebo que não é um homem mas uma velha. Ela veste roupas simples, práticas para a viagem,
e me lembro de Mei por um momento. Amarrações e encantos estão tecidos nos fios de seu longo cabelo branco. Seus olhos
são fundos e escuros e olham direto para mim sem importância pela cortesia.
“Oba-sama, este é Kitsuki Kaagi-san, um homem que nos alcançou e deseja falar com você.” As palavras de Renari
são tão rápidas, que quase não consigo entendê-las.
A velha mulher me olha de cima a baixo. “Veja os outros,” ela diz a Renari sobre seu ombro. “Garanta que tudo esteja
preparado.” Então ela olha de volta para mim. “Estamos ansiosos em viajar logo. O que você tem para mim?”
Respiro fundo, sentindo que estou prestes a entrar num caminho totalmente novo. “Um homem me disse para vir aqui,
Oba-sama,” digo, afastando-me de Renari. “Ele me deu isto e me disse para mostrá-lo a você.” Retiro o cristal
cuidadosamente das dobras de meu cinto e o ergo.
Surpresa faz seus olhos brilharem por um momento. “Está aqui para nos acompanhar, então?” Ela pergunta,
sobrancelhas inquisidoramente erguidas. “Como disse, estamos em grande pressa. Nos apressaria pelos postos, suspeito, tê-lo
conosco. Somos muito ruins em manusear os documentos que querem e isto nos trouxe problemas.” Seu sotaque é mais forte
que o de Renari. Às vezes com tons muito velhos. Muito provavelmente ela aprendeu a falar com sua avó, que pode ter sido
velha o bastante para se lembrar dos desertos.
“Posso facilitar sua passagem,” digo, assentindo. “Como favor a mim, me dirá mais a respeito?” Levanto um pouco o
cristal, “e a razão para sua pressa enquanto viajamos?”
“Não enquanto viajamos,” ela mexe a cabeça. “Não haverá tempo. Mas amanhã quando acamparmos, tentarei
explicar. Deem-lhe um cavalo,” ela diz a Renari, que acabara de retornar. “Ele virá junto.” Ela nem sequer reconhece a
expressão confusa em minha face. “Deem-lhe o corcel de Tempu. Ele é rápido, mas gentil.” Ela diz por fim a mim com um
sorriso reconfortante.
Renari me leva a um grande garanhão cinza e me ajuda a montar. Quero perguntar onde está Tempu e porque ele
não precisa de seu cavalo, mas contenho minha língua. Em momentos, um duro comando é berrado. Então começamos a
nos mover. Felizmente o cavalo parece saber aonde vamos, entrando num passo com outros corcéis.
O passo é ambicioso mas firme. Cavalgo perto do fim do grupo. Atrás de mim estão a garota que suspeito ser irmã de
Renari, o bushi grande e outro guerreiro que não reconheço. Renari cavalga para frente e para trás com regularidade,
garantindo que ninguém está atrapalhando.
Cavalgamos por uma quantia interminável de tempo. Esteve escuro por horas quando fazemos a primeira parada,
parando ao lado de um pequeno riacho borbulhante. Levanto lentamente, cansado por noites recentes de perturbação
combinadas ao movimento do cavalo. Um grande grupo de cavaleiros ficou na frente do centro frontal do bando. Tento
olhar esses cavaleiros agora e encontrá-los à minha frente, cuidando de seus animais. Três dos homens continuam montados,
ficando muito próximos. Não posso dizer muito sobre eles a esta distância e no escuro.
A parada é breve e antes de eu ter esticado as juntas de meu corpo já é hora de remontar e continuar. Olho para os
lados. Esperava uma conversa com a garota quando paramos, mas ela não estava em lugar algum. Agora que estamos na
estrada de novo, é como a velha previu. Estamos viajando rápido demais para iniciar uma conversa.
A lua atingiu sua altura máxima e minha cabeça começou a divagar quando sou lançado à prontidão por um
chamado alto de Renari. Quando olho para cima, ele está galopando em direção à retaguarda do grupo, apontando para
trás de nós. Um fluido fluxo de sílabas sai de sua boca e os cavalos se movem mais rápido. O meu acelera sem encorajamento
meu.
De início, requer toda a minha concentração me manter equilibrado. Assim que me sinto mais confiante, tento girar
meu corpo na sela. De início tudo o que posso ver é a escuridão da noite. Então, lentamente, consigo distinguir uma nuvem
baixa talvez a uma milha ou mais atrás de nós. Minha mente sonolenta demora um pouco mais para reconhecer que são
cavaleiros atrás de nós. Deve ser disso que eles estavam tentando se afastar.
Por um momento mantemos nosso passo. Todos continuam, mais ou menos em formação. É tudo o que posso fazer no
novo e acelerado ritmo. O tempo é vago para mim agora, e não tenho certeza do que cavalgamos até ouvir outro grito, este de
trás de mim. Olhando para trás, vejo o terceiro guerreiro. Ele está apontando para os cavaleiros de trás e Renari está logo
atrás dele. Posso ver que vários dos outros cavaleiros se separaram e estão cavalgando em nossa direção num ritmo muito
mais rápido, ganhando por muito.
Mais uma vez, Renari grita e outro Unicórnio responde ao grito. É um som alto e agudo, como um pássaro, e os
cavalos correm ainda mais rápido. Seguro a crina de meu cavalo, segurando firme com as duas mãos e abaixo minha cabeça
para me proteger da poeira e vento dos meus olhos. Confio que o corcel encontrará seu próprio caminho. Ele não precisou de
minha ajuda até agora. A cavalgada é pior com meus olhos fechados. Todo momento tenho certeza de bateremos numa
árvore ou serei lançado.
Gradualmente, percebo uma mudança no som dos cascos dos cavalos. Minha própria montaria e as atrás de mim
mantiveram um padrão até agora. Mas o ritmo mudou, se tornou mais apressado, como mar batendo nas rochas.
Abraçando-me, viro minha cabeça o máximo que ouso, tentando ver atrás de mim. Os cavaleiros negros nos
alcançaram. Não posso dizer quantos, talvez quatro ou cinco. É difícil dizer com o nervosismo. Eles acenam entre os cavalos
dos quatro Unicórnios atrás de mim. Quando seguro com a minha vida no pescoço de minha montaria, vejo Renari e outros
bushis segurarem seus arreios. Eles retalham os atacantes com suas katanas. A garota e o homem grande sacaram outras
armas, e estão golpeando com força.
Tenho que me virar para frente de novo por temer perder o equilíbrio. O movimento me deixa zonzo. Quando recupero
meu equilíbrio, me viro de novo. A garota e o homem grande guardaram suas armas e estão um pouco mais próximos de
mim. O outro bushi está mais atrás e parece que os outros quatro estranhos o cercaram. Eles cavalgam perigosamente para a
frente dele, forçando-o a desacelerar.
Um solavanco repentino me tira o equilíbrio por um momento interminável, creio que já estou caindo. Então percebo
que ainda tenho uma mão na crina do cavalo, e minha outra perna parcialmente sobre a sela. Com toda a minha força, me
puxo para cima, abraçando o pescoço do animal. Ouço um assobio agudo e um grande som de impacto atrás de mim. O
samurai caiu. Seu cavalo caiu e jaz berrando ao chão, provavelmente com uma perna quebrada. O homem parece aleijado
também, arrastando-se com sua espada, a ponta plantada no solo. Ele puxa uma perna como se estivesse inutilizada e os
cavaleiros se aproximam dele, ele os golpeia com sua wakizashi com sua mão livre. Posso vê-lo gritar com eles, mas não ouço
o que ele diz.
A aparência do samurai é horrível, mas não é isso que gela meu estômago. Quando o bushi fez o último corte, uma das
figuras se virou e, claro como a luz da lua, pude ver sua face, tão distorcida quanto as dos bandidos na caverna.
Horas parecem durar dias. Desaceleramos o passo eventualmente, e uma eternidade depois paramos para repousar
nossos cavalos. Meu corpo está muito cansado para se mover e portanto continuo montado, observando os Unicórnios
desmontarem. Ninguém fala. Nós cavalgamos. Quando a primeira luz da manhã começa a raiar no céu, o sol espalha
escarlate como uma lenta mancha. Quando a última escuridão sumiu, mas a longa névoa da manhã ainda é forte, alguém
dá um chamado para parar e desmontar.
Me esforçando muito, passo uma perna pelas costas do cavalo e desço. Minhas pernas cedem abaixo de mim e tenho
que me segurar ao cavalo para me impedir de cair. Lentamente a sensação começa a voltar a mim. Após os primeiros
formigamentos do tato retornarem às minhas pernas a dor chega e tudo o que posso fazer é me escorar numa rocha próxima
e me abaixar com dignidade. Não que alguém esteja olhando. Ao meu redor um acampamento surgiu em minutos. Tendas
saltaram como se já estivessem empacotadas assim. Algumas fogueiras foram iniciadas e algumas já têm panelas sobre elas.
Pessoas estão acariciando seus cavalos e colocando-os para pastar na grama baixa daqui.
Continuo a me sentar desajeitadamente, estou vagamente ciente de alguém atrás de mim. A garota que se parece com
Renari desce. “Como você está se sentindo?” Ela pergunta, coçando sua cabeça de um lado e olhando para minha face de
perto. A garota não tem senso de propriedade. Ela me lembra Mei e sinto uma pequena fisgada. Faz um longo tempo
desde que estou inteiramente sozinho.
Percebo que ela ainda está esperando uma resposta. “Não estou acostumado a cavalgar.” É um eufemismo, mas
qualquer outra explicação custaria mais palavras do que tenho energia.
A garota sorri. “Cuidarei de Keo. O cavalo,” ela adiciona. “E acharei algo quente para comer.” Então ela some. Me
sento olhando para o cavalo, Keo. Ele olha para mim apenas com um leve interesse. Suspeito que ele esteja esperando o
desjejum. Mais alguns minutos se passam antes de Keo casualmente andar em minha direção, baixar sua cabeça até o
focinho repousar em meu peito e, com uma bufada, me empurrar. Quase caio de costas na rocha, mal me contendo.
Atrás de mim ouço riso. Minha jovem amiga de maus modos retornou. Ela me passa uma tigela de algo grosso e
quente quando me levanto. Então ela tira uma escova de uma bolsa sob seu ombro e começa a escovar o cavalo.
À medida que a comida se assenta começo a me sentir um pouco melhor. Parte da tontura diminui, e começo a ficar
curioso de novo. Por um tempo penso que posso estar cansado e com frio demais para ficar propriamente curioso de novo. “O
que são eles, os cavaleiros que nos seguiram noite passada?” Me pergunto.
A garota se vira, soltando sua bolsa. Ela revira sua sacola e tira uma maçã com a qual ela alimenta Keo. “É por causa
deles que corremos,” ela diz. “Também é por causa deles que acampamos de dia e cavalgamos à noite. Eles são mais rápidos
à noite, e nunca os vemos sob a luz do dia. Mas se cavalgarmos todo um dia, eles ainda estariam perto de nós ao anoitecer.
Então descansamos o quanto podemos.”
“Como isso é possível?” Pergunto abaixando minha tigela. “Quem são eles?”
“Não foi isso que você perguntou antes,” ela me lembra. “Você perguntou ‘o que são eles’. Mas, de fato, não posso
responder nenhuma das perguntas. Durma um pouco,” ela diz, interrompendo minha próxima pergunta. “Então vá ver
Oba-sama. Pergunte a ela. Eu provavelmente só inventaria respostas.” Ela começa a ir embora, mas então volta. “Meu
nome é Hotaiko,” ela diz sorrindo. Então volta para se juntar ao resto do acampamento. Por mais que eu queira discutir,
posso sentir a exaustão aumentando em mim. Encontro cobertores amarrados na sela de Keo e os ponho em bom uso.

Item 58
Acordo aquecido. Parece haver algumas horas antes da noite começar. Solto-me das cobertas em que dormi e me sento
devagar. O mundo titubeia um pouco de início. Ao meu redor, muitos Unicórnios ainda dormem. Muitos deles levantaram
pequenas coberturas para bloquear o sol. Outros estão se movendo, cuidando dos cavalos ou cozinhando sobre fogueiras.
Olhando em volta, vejo uma dupla de grandes tendas próxima ao centro do acampamento, incluindo aquela onde encontrei
‘Oba-sama’ noite passada. Levantando-me, vou em direção a ela.
Quando ando pelo acampamento posso sentir os olhos dos Unicórnios me seguindo. Alguns deles sussurram, mas muito
baixo para eu distinguir palavras. Duas mulheres em uma das fogueiras riem, e repentinamente tomo ciência de como devo
parecer, bagunçado, com cabelo e roupas sujas, e ainda me recuperando meu pé e da longa cavalgada. Minha face
esquenta.
Mas então chego à tenda da velha mulher, e tento limpar minha cabeça de distrações. É difícil, em grande parte
porque a sujeira me faz coçar. Quando me aproximo da entrada, sou atingido pelo cheiro de algo suave e um pouco familiar.
Meu nariz coça e reconheço que há incenso queimando na tenda, a leve fumaça se esvai do interior. “Oba-sama,” chamo
calmamente. “É Kaagi. Você disse que conversaríamos hoje.”
“Sim, eu disse,” responde a voz acentuada. Há uma qualidade melódica em sua fala. “Por favor, entre.”
Abaixo minha cabeça e passo pela abertura. O interior da tenda é esparso, uma esteira e alguns pacotes, um aberto
com roupas saindo dele. A velha se senta num fardo de cobertas grossas. Diante dela um pequeno pote de metal emite
fumaça fragrante. O cheiro é forte aqui e me lembro repentinamente da razão dele ser familiar. Mei usava o aroma antes,
quando circunstâncias diziam que devíamos usar nossas melhores aparências numa corte ou outra.
“Devíamos começar do começo,” ela diz, olhando para mim da mesma maneira direta que a garota, Hotaiko. “Por
que você veio se juntar a nós?”
Estou perdido. Por algum razão, eu esperava, queria, que essa mulher deixasse tudo claro para mim. Ao invés disso, ela
começa com uma pergunta. Isso me lembra os Togashi. “Alguém me disse para vir até vocês,” digo lentamente,
considerando minhas palavras. “Ele disse que vocês entenderiam o que não entenderia. Ele disse que vocês teriam as respostas
que tenho procurado.”
“E ele te deu o cristal?” Ela pergunta. “Mas ele não disse o que fazer com ele.” Ela assente. “Que perguntas você quer
responder? O que o fez procurar?”
Me sento perto dela, pensando. O mais precisamente que posso, digo a ela o que encontrei no vilarejo Caranguejo.
Conto de minhas suspeitas da mulher queimada por maho pode não ter sido a mulher que falou comigo, apesar da grande
semelhança. E então, com pouco de precaução, descrevo minhas experiências sobre a garota Ninube, e minhas suspeitas
sobre sua natureza. É perigoso, eu sei, falar assim, especialmente daqueles em posição de poder. O fato de eu continuar indica
o quanto estou desesperado. Finalmente, relato meu encontro com o elusivo Hiroru.
Ela assente quando o descrevo. “Não o encontrei,” ela diz. “Mas sei dele. E sei da Escuridão. Acho que ele o enviou
para beneficiar a nós dois. E posso te contar um pouco sobre o que você viu. E você pode nos ajudar pelos postos. Veja,” ela
olha para mim bem seriamente, “Veja, temos um deles conosco, e eles o querem de volta.”
Tenho que lutar para me manter sentado onde estou e minha katana ainda embainhada. Parte de minhas sensações
devem ser visíveis, pois ela sorri gentilmente. “O amarramos, de modos que mesmo sua raça não pode soltar. O enganamos
uma vez e ele nunca escapou.”
Outra imagem surge em minha mente. Vejo o samurai amarrado claramente, sozinho enquanto os últimos de seus
companheiros cavalgavam para longe. “Por que aquele homem foi deixado para trás?” Pergunto sem pensar.
A velha não parece ofendida. “Era um plano da Escuridão. Eles pegam um homem, e eles o montam até ele não poder
lutar. Foi o modo deles de tentar nos desacelerar.” Ela pega uma vareta e lentamente remexe as cinzas. “É por isso que não
podemos voltar. Se voltarmos, o resto do grupo teria se aproximado e teríamos perdido nossa investida. Estamos levando-o
para nossa terra agora para que nossos shugenjas possam examiná-lo e aprender.” Ela pausa então, e parece terrivelmente
triste por um momento.
“Vou contar minha história como você contou a sua — diretamente,” ela me diz. “Anos atrás meu povo foi ao deserto.
Eles encontraram várias coisas, maravilhosas e aterrorizantes, às vezes ao mesmo tempo. Mas foi quando estavam
cavalando de volta a Rokugan que eles encontraram a Escuridão.”
“Minha Oba-sama me deu a história que sua mãe contou. Após muitos dias de jornada em terras desconhecidas, eles
encontraram um homem. Ele veio a eles no crepúsculo, quando estavam começando a acampar e eles se maravilharam em
ver que ele se parecia com eles. Após vidas de estrangeiros, eles finalmente encontraram um semelhante. Eles se encheram de
alegria, e o saudaram. Eles o perguntaram de onde ele vinha, e quão longe esta terra era.”
“O estrangeiro foi cortês, mesmo que seus costumes fossem estranhos. Ele não comeu de sua carne e não se sentou perto
das fogueiras. Ele deu seu nome como Togashi Ginave. E disse que estava viajando em prol da curiosidade. E ele disse que a
terra que ansiavam estava muito próxima. Meu povo celebrou sua quase volta para casa, e o estranho celebrou com eles.
Mas na manhã, três homens estavam mortos. Um deles foi o estrangeiro.”
“Os corpos não tinham marca neles para explicar a morte, e confusão irrompeu. Eles pensavam que o homem podia ter
sido amaldiçoado. Outros diziam que ele estava doente, ou que seus dois sangues causavam doença juntos. Mas cabeças frias
ganharam o dia. Eles queimaram os mortos e continuaram sua jornada. Alguns dias depois, um dos homens foi à garota
que planejava se casar e a trouxe um presente: um colar feito de cristais cortados, como estes.” A velha mulher passa a mão
enrugada pelo seu longo cabelo e posso ver a pálida luz do brilho de pedras polidas tecidas em suas madeixas. “Os cristais, em
nossas histórias, são as lágrimas de Mãe Sol, não maculadas pelo sangue da Lua. Eles possuem a luz de Amaterasu. Talvez
seja por isso que isto os fira.”
“Quando o guerreiro pôs o colar em seu pescoço, a luz do cristal brilhou pelo corpo dela. Vendo seu ardil revelado, a
escuridão abandonou sua falsa forma. Enquanto o homem horrorizado observava, sua amada se desfez em fumaça,
sumindo no ar da noite. Repensando sobre o que vira, o homem pensou estar louco de início. Mas sua família protestou e
passeou pelo acampamento com o colar de cristal do filho, erguendo-o diante de todos que encontravam. Eles perceberam
que mais três desapareceram, gritando, quando confrontados, todos homens e mulheres que eles conheciam bem. E
encontraram um vazio, um corpo que a luz atravessava mas não podia desaparecer. Diziam que era uma jovem menina,
talvez quinze anos. Os anciões ordenaram que cortassem sua garganta e seu corpo fosse queimado, e assim foi feito.”
A velha se estica e busca uma bolsa de água próxima. Ela se demora em beber, e quando demora ela olha para mim de
novo. “Desnecessário dizer, eles estavam ressabiados quando finalmente chegaram a Rokugan. Mas as primeiras pessoas
que encontraram ouviam suas histórias e não mostravam sinais de entendimento. E, felizmente, elas não sumiam pelas
lágrimas de Lady Sol. Eventualmente meu povo veio a crer que o que eles encontraram não existia em Rokugan, que era
um demônio enviado para enganá-los, para fazê-los temer e mantê-los afastados de casa. Ou talvez o estranho tivesse sido
um hospedeiro, e que todos tinham sido destruídos. Eles creram que nisto por quase uma geração, antes de encontrarem com
eles de novo.”
“Alguns de nós viram, Kaagi-san, o que você viu. A Escuridão Enganosa é astuta e normalmente faz sua morada
naqueles com poder. Ela só se mostra àqueles que nada podem fazer. É por isso que nosso prisioneiro é importante o bastante
para deixar os nossos para trás. O levaremos de volta a nosso daimyo. Se pudermos convencê-lo, seu testemunho pode fazer o
resto.”
Estou paralisado demais para encontrar palavras. Saber que não estou sozinho no que vi alivia um vasto peso. Mas
saber que a ameaça é real faz a loucura parecer uma opção preferível. “Como vocês o prendem?” Pergunto, finalmente.
Cada pergunta leva a centenas de outras.
“Alguns deles se dissipam. Outros vazam de seus corpos e deixam a carne para trás quando ela cessa de ser útil.” No
olho de minha mente, vejo o líder dos bandidos, caindo no chão como uma veste despida. “O cristal permite que você veja por
usa enganação. Também os cega. Alguns deles pelo menos.” Ela mexe a cabeça. “Não sabemos o bastante sobre eles para
saber o que funciona ou porque. Mas este nós conseguimos prender em encantos de cristal.”
“Sua ajuda aqui é apreciada, Kaagi-san. Se você nos ajudar a passar para as fronteiras do Unicórnio, podemos viajar
o resto do caminho facilmente.”
“Farei tudo o que puder para ajudar,” digo a ela, me levantando lentamente. “Obrigado, Oba-sama, por
compartilhar sua história. Mas me diga mais uma coisa. Hotaiko e o bushi, Renari, eles são irmão e irmã?”
“O suficiente,” ela diz com um sorriso. “Hotaiko é minha bisneta, Renari é meu sobrinho. Todos os outros me chamam
de Eniki.” Sinto minha face esquentando de novo, e ela ri. “Mas você pode me chamar de Oba-sama.”
Sinto-me tolo quando caminho até onde Keo espera pacientemente. Mas não me sinto mal sobre isso.

Item 59
O acampamento está desperto quando termino de conversar com Eniki. Hotaiko se aproxima quando estou guardando
as cobertas em que dormi. Ela traz comida e chá que aceito prontamente. Em pouco tempo, os cavaleiros estão montando.
Pouco menos de uma hora antes do pôr do sol, saímos de novo. A cavalgada é ambiciosa, mas não tão forte quanto na noite
passada. O movimento do corpo de Keo parece quase natural, e o cheiro de cavalo é familiar agora.
A formação do grupo faz sentido. Bushis ficam ao longo do canto externo do grupo. Um pequeno número de figuras
sem armadura cavalga por dentro, a maioria mulheres, mas um casal de jovens também. Eles acordaram antes dos outros.
Eles desmontam o acampamento e preparam a comida. No centro cavalgam as três figuras que vi na noite passada, ainda
próximas. A do centro está longe demais para distinguir detalhes, mas cavalga rapidamente, suspeito que esteja amarrado, o
prisioneiro. Do outro lado, guardas totalmente armadurados cavalgam bem perto. De novo, estou perto da retaguarda do
grupo mas não no limite externo. Renari cavalga para a frente e traseira das linhas de novo, mantendo o ritmo.
O resto da luz diminui lentamente, tingindo a paisagem de laranja. As nuvens são finas, e o calor do dia se esvai com o
sol. Aprendi com a noite passada, e deixei uma das cobertas solta quando as amarrei na bolsa de Keo. Quando o vento
esfria, a solto e me enrolo para bloquear o vento. Já cavalguei antes, mas nunca vi a terra passar tão rapidamente. Entendo
agora as coisas que ouvi sobre corcéis do Unicórnio. Eles realmente são notáveis, andando tanto sem se cansar. O solo em que
estamos viajando ainda é plano e firme, mas à frente ao longe, posso ver baixas colinas subindo de novo. Deixo minha mente
vagar. Em quase outra hora, chegaremos ao posto de vigia que fica entre as terras do Dragão e do Unicórnio. Não temo em
conseguir atravessar o grupo. Como Magistrado Imperial, os guardas não questionam minha autoridade. Ao invés disso, o
que passa pela minha mente são as palavras da velha mulher. Tento reconciliar as coisas que ela descreveu com as coisas que
vi.
A ‘Escuridão Enganosa’ ela chamou, e isto soa tão preciso quanto qualquer coisa em que posso pensar. Ouvi histórias
sobre Ninjas que tomam a forma de homens e mulheres familiarizados para se aproximar de seus alvos. Sempre pensei que
tais histórias fossem tolice, criadas por guardas irresponsáveis e servos supersticiosos. Mas agora me vejo imaginando. Penso
em todas as investigações que fiz, todas as histórias que dispensei como contos de fogueira. E imagino, quantas outras vezes eu
fiquei próximo desta coisa, dividi um quarto ou um chá com ela. Pensar sobre isso me deixa frio. Se Hiroru estiver correto,
provavelmente já os encontrei antes. Imagino se os encontrarei de novo. Sinto uma ferroada na palma de minha mão direita
e percebo que ela está apertada em torno do cristal que Hiroru me deu. Posso sentir um fino fio de sangue.
Keo trota devagar e olha para cima. Chegamos ao posto mais cedo do que eu esperava. Ou, pela posição da lua, talvez
eu passei mais tempo em meus pensamentos do que eu planejava. Renari está cavalgando até mim da dianteira do grupo.
Guio Keo para encontrar com ele e o cavalo obedece consideravelmente. Renari e eu vamos à frente do grupo, onde os
sentinelas esperam. “Aqui está ele.” Renari diz brutamente, apontando para mim. Vejo um dos guardas se assustar em me
ver à luz de sua tocha, errática no vento.
“Meu senhor,” ele diz, se aproximando. Sua voz parece duvidosa. Deixo a coberta cair e me endireito, entregando meus
documentos para o homem olhar na escuridão. “Meu senhor,” ele diz de novo, desta vez com respeito e postura em sua voz.
Ele entrega os documentos com uma profunda reverência. “Todas estas pessoas estão com você, senhor?” Seu olhar aborda o
grupo.
“Estão,” respondo. “E estamos com pressa para chegar a nosso destino.”
Ele assente bruscamente e recua, acenando para seu companheiro, a vários metros de distância. Os dois se movem para
fora do caminho, dando aos cavalos bastante espaço para passar. “Há algo de que precisa, senhor?” Ele pergunta.
“Não. Tenho tudo o que desejo. Sua vigilância será parabenizada,” digo a ele, assentindo levemente. Então olho para
Renari e ele dá um comando para os cavalos voltarem a se mover.
O guarda some atrás de nós. Logo estaremos nas colinas, seguindo uma trilha estreita que passa por elas. Renari está
atrás de mim agora, atrás do grupo. A passagem é estreita demais para cavalgar para dianteira e traseira. Quando olho
para trás, ele sorri para mim. Acho que, tendo me provado ao menos moderadamente útil, minha presença mais aceitável
para ele agora.

Quando o ataque vem, é completamente sem aviso. Ouço um barulho pesado atrás de mim e quando me viro para ver o
que é, um dos samurais dois cavalos à frente de mim cai sob uma forma escura. Em questão de momentos mais de uma dúzia
de figuras pingam das rochas. Mesmo que não possa ver suas faces, reconheço os movimentos dos bandidos da caverna.
Saco minha katana e preparo para golpear o primeiro inimigo que entrar no alcance. É esquisito posicionar a espada
em local apertado e montado. O samurai à minha esquerda, um homem que não conheço, xinga e giro para vê-lo lutar com
um dos bandidos. O samurai levanta sua espada para bloquear a lâmina do bandido e, ao mesmo tempo, vejo seu braço
esquerdo cair. O bandido cai no chão com um engasgo e o samurai se volta para mim, uma katana limpa numa mão e uma
faca ensanguentada na outra. Ele me oferece o cabo da faca.
“Pegue esta, eu tenho outra.” Pego a faca sem hesitação. Quando o samurai se vira, sacudo a coisa com força para que
o sangue não a faça cair. À frente e traseira da fila, pequenas lutas estão irrompendo. Como os da caverna, esses bandidos
não são particularmente adeptos, mas há muitos deles. Eles saltam do precipício alguns por vez, lutando com quem puderem.
Parece uma estratégia tola até que ouço o primeiro cavalo gritar. Os corpos caídos dos bandidos estão enchendo o chão da
estreita passagem. Logo será impossível que os cavalos passem por eles. Os atacantes continuam se jogando como piso.
Olhando em volta desesperadamente, vejo o olho de Renari. Ele ainda está atrás de mim, na retaguarda do grupo, na luta
mais densa. Ele já despachou vários bandidos.
“Eles nos bloquearão!” Grito, esperando que minha voz entregue o recado. Ele olha por um momento, então vejo a
percepção nascer. Ele assente e com um golpe forte em mais um bandido, ele dá um grito forte e ecoante. De início nada
ocorre. Então lentamente, a dianteira da fila começa a se mover, forçando-a a esmagar os corpos. Bem lentamente, resto da
fila começa a seguir.
Assim que me viro para um melhor assento, sinto o corte de aço contra minha perna esquerda. Sem pensar, me viro,
perfurando com a faca do samurai. Ela afunda num ombro, do homem que lá está e sua cabeça aparece. Por um longo
momento não posso respirar. Minha mente grita que o que vejo não pode ser real, meus olhos se arregalam, travados numa
face tão familiar quanto a minha. A figura diante de meu joelho é meu irmão — não como ele deve ser, um homem em seus
vinte e poucos anos, mas como um garoto de quatorze. A faca cai de minha mão aberta e eu me estico para pegá-la. Meus
dedos coçam o tecido de sua camisa, Keo investe para frente. Quase perco o equilíbrio, mas não posso me desviar da figura
pequena. Vejo-o cair contra a parede, olhando para mim. Então o cavalo de Renari passa entre nós e o perco de vista nos
corpos e na escuridão.
Nos movemos cada vez mais rápido, saindo da passagem cheia de cadáveres ao terreno mais aberto. Assim que meu
cavalo passa pela pilha mais densa de cadáveres, um grito gélido ecoa ao nosso redor. Como o uivo de uma matilha de cães
selvagens, o chiado é imitado por cada um dos outros bandidos. Eles perfilam o precipício sobre nós, fazendo a silhueta das
colinas ganhar vida contra o cálido brilho da lua. Meus nervos ficam no limite e estou certo de que as rochas nos esmagarão
numa investida trovejante. Então repentinamente o ar ao meu redor fica parado. O som é substituído por uma firmeza,
muita pressão no ar, e a única coisa que posso ouvir é Eniki cantar. Sua voz é velha porém firme. Assim que a pressão se
torna insuportável, ela dá lugar a uma acelerada e tenho que segurar o pescoço de Keo com os dois braços. Repentinamente
nos movemos com uma velocidade que tenho certeza de não ser natural. O vento passa por mim como um furacão e tudo o
que posso fazer é segurar firme. Estou caindo para frente, de uma altura infinita. Não faço ideia do quanto cavalgamos
assim, mas quando o mundo retorna, os primeiros raios de luz passam pelas nuvens.
Item 60
Estamos em terra aberta. A grama é alta e verde e se curva na fria brisa da manhã. Cavaleiros estão dispersos no
campo como se a força que nos trouxe tão longe e tão rapidamente nos agitasse. Cavalguei com shugenjas antes, mas em
nenhuma dessas ocasiões chegou sequer perto disso. De início, nada se move. Então, na direção do centro desta reunião
dispersa, alguém dá um grito assustado. Viro-me a tempo de ver Eniki sangrar pelo nariz e cair no chão. Imediatamente,
outros cavaleiros correm até ela, bloqueando a visão. Renari passa por mim, Hotaiko logo atrás dele.
Sem certeza do que fazer, olho. Muitos dos cavaleiros estão desmontando lentamente, conversando. Enquanto observo,
alguns começam as preparações para arrumar o acampamento. Aproveitando a deixa, desço lentamente, não confiando
totalmente nas minhas pernas. Não há nada mais para eu fazer. Pelo formato da terra, posso intuir que estamos em terras
do Unicórnio, mas não sei onde. Desamarro minhas cobertas e me sento calmamente, tentando reunir meus pensamentos. O
sol se levanta e o dia começa a se aquecer. Uma mulher me traz comida, mas não é Hotaiko.
Na manhã clara, me canso de meus pensamentos e investigo o resto do acampamento. No centro, a tenda de Eniki foi
montada. Quando me aproximo, posso ouvir o som de vozes lá dentro. Hesito na entrada, incerto do que fazer. Então a
cobertura se abre e Renari emerge.
“Ela está morrendo.” Sua voz é pesada. “Ela usou o que lhe restava de vida noite passada para nos levar até aqui. Está
quase acabado agora.” Ele aponta para eu segui-lo e ele anda. “Hotaiko está com ela. Quando ela morrer, Hotaiko
assumirá seu cajado e deveres.”
Nós dois achamos um lugar quieto para esperar. O sol alcança seu zênite antes da tenda tremular e Hotaiko emergir.
Como Renari disse, ela empunha o cajado de Eniki. Ela se levanta na frente da tenda enquanto os Unicórnios se reúnem
diante dela. Renari e eu nos unimos a eles. Hotaiko ergue sua voz e é calma e forte. O vento nos certo e sinto um distante
calor. Então a tenda arde em chamas ardentes. Ficamos lá até o fogo ter se consumido e apenas cinzas restarem. Então,
pouco a pouco, o grupo dispersa.
“Aonde vamos agora?” Pergunto a Renari quando ele se afasta.
“A Shiro Iuchi. Os shugenjas podem ser capazes de aprender algo do que levamos a eles.” Ele se vira para mim.
“Obrigado por sua ajuda. Você será bem-vindo a Shiro Iuchi quando chegarmos. Espero que fique e desfrute de nossa
hospitalidade.”
Olho em direção à grande tenda restante, a que esconde o prisioneiro. O pensamento de relaxar num castelo onde esta
coisa reside por perto, mesmo presa, me deixa arrepiado. “Muito obrigado por sua oferta, Renari-san. Pensarei um pouco a
respeito.”
Após o caos da noite, espero dormir rápido. Mas quando me deito, sinto a sonolência como água quente num banho. E
então nada.

Item 61
Em meu sonho estou em meu quarto no castelo Kitsuki, o único que ocupei quando garoto. Está escuro e estou deitado
bem parado, fingindo dormir. O vento sopra suavemente pela janela perto do pé de meu leito. Quando olho, alguém está
subindo pela janela. Tenho medo, esperando que os monstros cheguem. Mas quando a figura está longe o suficiente para
distinguir os detalhes, posso ver que é Iyekao, meu irmão. Por alguma razão, isto me assusta ainda mais.
“Kaagi.” Sua voz é suave mas familiar e sinto uma grande dor, todos esses anos depois. “Nunca deveria ter seguido o
caminho que segui,” ele diz, sentando-se na beirada de meu leito. “Achei que deveria ter feito algo pelo que a Garça fez a nós.
Ninguém da Fênix me ajudaria. Acho que estavam com medo.” Ele olha para o chão enquanto fala, sem olhar nos meus
olhos. “Pensei que eu poderia ajudar, corrigir isso.” Ele vira para me encarar e a face ainda é a do garoto de quatorze anos
de que me lembro, mas seus olhos estão muito mais velhos agora. “Não queria que você se envolvesse. Mas agora preciso de
você. É irônico, mas preciso que me ajude a sair de algo pior ainda.”
Sua face é enrugada, desesperada. “Por favor, me ajude. Não sei mais como encontrar meu caminho de volta. É como
se eu tivesse me perdido por anos.”
“Venha até mim no templo próximo ao Rio Vagalume. Te encontrarei lá. Rápido, Kaagi, não sei quanto tempo eu
tenho.” Então ele se levanta e sai pela janela. Deito-me sozinho no escuro por um tempo, e então me sento na cama. O sol
penetra o claro céu da tarde.
Sinto-me zonzo, minha cabeça balança por levantar rápido demais. Então ouço sons de tosse ao meu lado. Viro-me
para encontrar Renari, a poucos metros de distância, ainda envolto em seus cobertores. Seus olhos estão fechados e sua
respiração é pesada, engasgada. Me estendo e, pegando em seus ombros, mexo-o com força, mas não há resposta. “Socorro!
Algo está errado!” Grito, lutando com Renari, tentando tirar seus dedos de sua própria garganta. Ele é mais forte do que
eu, e não posso impedi-lo. Ele começa a se debater violentamente. Eu o solto, mas ele entra em convulsão, seu corpo se sacude
como uma boneca de pano. Então, quando outros chegam, ele se torna abrupta e absolutamente parado.
Hotaiko abre seu caminho, a multidão se afasta dela. Nós dois nos ajoelhamos sobre o corpo por longos minutos antes
de falarmos. Renari não respirou desde sua última convulsão. Hotaiko dispensa os outros, e então se vira para mim. “O que
houve?” Ela pergunta. Há lágrimas caindo de sua face, mas sua voz é firme.
“Acordei e ele estava se movendo, como se lutasse com alguém. Mas não havia ninguém lá.” Sento-me em meus
calcanhares, olhando para o corpo. “Ele estava engasgando como se sua garganta e peito estivessem sufocados. Mas não
podia ver nada…” Paro no meio da frase, olhando para a face de Renari.
“O que foi?” Pergunta Hotaiko, seguindo meu olhar. Não tenho que responder. Ela pode ver tão claramente quanto
eu, e está claro na face dela que ela entende. No pescoço de Renari há lesões roxas como se fossem os dedos de um homem.
Presumi de início que fossem de sua própria mão, mas olhando para elas agora, percebo que estavam erradas. Renari tinha
sua mão direita em sua garganta. Mas as lesões são claras. A impressão tem os dedos na direção certa da mão direita, mas o
polegar está abaixo da palma. Tudo no mundo parece dizer que a mão que matou Renari estava pressionado pelo lado de
dentro de sua garganta.
“O que isso significa?” Tenho que me esforçar para tirar meu olhar daquelas marcas. Olho para Hotaiko quando ela
não responde.
“Ele estava segurando seu peito?” Ela pergunta. Quando assinto ela parece triste. “Preciso ver,” ela diz olhando para
cima e encarando meus olhos daquela maneira muito direta. “Você me ajudará?”
Prendo a respiração, e no olho de minha mente lembro-me de Mei olhando para um corpo e dizendo: “Você sabe que
nem sempre posso estar perto para fazer isso.” Cerrando os dentes, puxo o cobertor sobre Renari. Trabalhando juntos,
Hotaiko e eu cuidadosamente removemos a armadura leve que Renari preferia. Respirando fundo, uso uma tanto para
levantar sua camisa até seu pescoço. Longas e finas marcas correm verticalmente por seu peito. Sangue vaza por cada uma
das linhas, mas pele na superfície não está cortada.
“Oba-sama disse que pensou que eles pudessem fazer isso, mas esperávamos que ela estivesse errada.” Hotaiko está
chorando de novo, mas seu olhar ainda é claro. “Não posso arriscar permitir que isso ocorra com qualquer outra pessoa,” ela
diz, se levantando. “Vou mover o acampamento antes que a Escuridão se aproxime mais. Posso usar um feitiço como o que
Oba-sama usou para nos mover rapidamente. É uma versão menor, mas ainda estaremos em Shiro Iuchi antes da meia
noite.” Ela olha para mim como se tentasse ler meu rosto. “Obrigada por sua ajuda,” ela diz. “Assim que chegarmos à
cidade…” Suas palavras cessam quando ela parece encontrar o que estava procurando em minha expressão. “Você não
planeja encerrar a jornada conosco.”
“Não há mais postos de guarda entre aqui e seu destino. Tenho que ir e encontrar alguém importante para mim.”
Quando ainda falo percebo o quão errado tudo isto é.
O olhar cético que Hotaiko me dá só reflete o meu. “Sei que a chamamos de Escuridão Enganosa por uma razão.” Ela
mexe a cabeça. “Tome cuidado, Kaagi-san. Leve provisões, o que precisar. E obrigado de novo por sua ajuda.” Ela olha em
direção ao corpo de Renari quando ela diz isso. Então ela caminha ao centro do acampamento, dando ordens no caminho,
preparando para viajar de novo. “Acordem todos,” ouço-a gritar.
Movendo-me devagar, reúno minhas cobertas. Retorno aonde Keo aguarda pacientemente. Ele bate no meu ombro
quando reúno o resto de meus pertences, arrumando minha bagagem. Dou um adeus ao cavalo. Então paro numa das
fogueiras ainda acesas para minha última refeição de comida quente e rumo para o ‘templo perto do Rio Vagalume’. É um
lugar abandonado, de acordo com a mulher que me orienta, apenas a algumas horas de caminhada.
Rumo na direção, esperando chegar antes de escurecer de novo.
portante, pois dá a primeira e única explicação que
provavelmente receberão. Deve-se adicionar um
clima de perigo, e lembrar os personagens de que a
Escuridão não se esqueceu deles.
Tente jogar este cenário neles no meio de outra
aventura. Com suas mentes em capturar um ronin
renegado ou levar a filha de seu senhor a seu futuro
noivo, a última coisa no mundo que esperarão é a
Escuridão. Esta também é a última coisa para que
estarão preparados.
Este encontro realmente tem três propósitos: O
primeiro é deixar os jogadores descobrirem que o
Unicórnio está ciente da Escuridão, o segundo é
apresentar o poder do cristal, e o último é lembrá-
los quão mortal a Escuridão pode ser. Ele se divide
em cinco partes: O Unicórnio; A Primeira Noite; O
Primeiro Dia; A Segunda Noite e o Segundo Dia.
Se quiser, você pode condensar essas cinco noi-
Muitas das vezes, o trajeto até aqui é ignorado tes numa só noite. Tudo que você precisa é tornar a
A aventura descrita neste
pelo Mestre. Afinal, os jogadores têm pressa em Primeira e a Segunda Noite numa só noite, com capítulo pode ser convertida
entrar na aventura, e não querem que nada fique no todos os eventos acumulados em oito horas. Isto para uso em diversas cam-
caminho. Esta seção é menos sobre uma investiga- põe as coisas num ritmo muito mais acelerado, panhas diferentes, de vários
ção da Escuridão Enganosa e mais um encontro tornando a aventura inteira num só galope. modos. Se os PdJs são Uni-
com ela. É uma cena de perseguição rigorosa que Antes de usar este encontro, é importante voltar córnios, eles podem ter
e ler a história de novo. Torne-se íntimo com sua encontrado este bando via-
pode ocorrer em algumas horas ou em alguns dias.
linguagem e descrições, mas não use os verbalis- jante antes.
Além disso, você não tem que deixá-la de lado Outros exemplos de uma
após usá-la; você pode usá-la em seus jogadores mos das cenas. Traduza-os à linguagem do seu
‘perseguição’ incluem uma
mais de uma vez, permitindo-os experimentar o próprio grupo. Estas são cenas de perseguição,
tentativa desesperada de se
implacável terror expresso no diário de Kaagi. afinal, e quanto mais familiarizado você estiver esconder num palácio aban-
Como tudo neste livro, este encontro é destina- com o material, mais rápido e mais claramente donado (como Morikage
do a mostrar a você como usar a Escuridão para você pode usar as cenas. Idealmente, você não Toshi, uma fortaleza da
arrepiar os kimonos de seus PdJs. A primeira in- deve ler o livro para fazer uma cena de persegui- Escuridão), ou uma investi-
vestigação foi um mistério de assassinato com um ção. Quanto mais referências você tiver que fazer, da dos lacaios da Escuridão
mais o ritmo da cena sofre. Faça uma folha de na área de um pacífico
fundo assustador. A segunda investigação foi uma
notas para as palavras e frases que você quer usar. vilarejo. Se os personagens
clássica casa assombrada, com gemidos e batidas. estão carregando crianças ou
O terceiro foi uma sanguinolência sinistra que Pratique algumas vezes antes de seus jogadores
camponeses, fugindo de
mostrou aos personagens exatamente o que a Escu- aparecerem para pegar o clima. Quanto mais prepa-
suas casas em terror, quão
ridão é capaz de fazer a eles. Com isto em mente, rado estiver, mais rápidas e nervosas as cenas se- rapidamente eles podem
eles devem ser capazes de visualizar o que aconte- rão. correr?
ceria com eles se perecerem durante essas cenas de Garanta que seus jogadores tenham a sensação
perseguição. Se estão tendo dificuldades em lem- de que há um perseguidor implacável, e de que ele
brar, sinta-se livre para lembrá-los dos magistrados não pode ser evitado, despistado ou enfrentado.
que encontraram há poucas semanas, ou descreva Combater a Escuridão é mais do que sacar uma
vividamente o Unicórnio que ficou para trás. Isto espada e golpear um bandido. A Escuridão entra
deve fazê-los se mover. em sua mente… E pior. Ela entra em sal alma. Se
um personagem parar para lutar, certifique-se que o
bandido que escolheram matar tenha a face de sua
esposa. Ou irmã.
Ou seu daimyo.

Como dissemos acima, este episódio é menos


uma investigação e mais um encontro. Porém, isto
não significa que seja menos integral à busca de
Kaagi — ou aos outros PdJs. De fato, é mais im-
nios restantes são camponeses que preparam a
comida, cuidam dos cavalos e arrumam e levantam
o acampamento.
Os Unicórnios estão visivelmente abalados —
Se os PdJs são magistrados, é inteiramente pos- não é necessária uma rolagem de Consciência — e
sível apresentar a aventura com o pedido de um olhando constantemente para os lados. Os PdJs
daimyo para buscar um grupo de Unicórnios nô- também podem notar que nunca se separam em
mades que tem vagado por suas províncias. Por grupos menores do que três, ou se aventuram para
esses Unicórnios estarem obviamente armados para longe de seu acampamento.
a guerra, e parecerem apenas cavalgar à noite, Quando capturam os personagens, eles os sujei-
qualquer daimyo sensível presumirá que são ban- tam ao mesmo teste que Kaagi fez: um olhar no
didos ou invasores. Além disso, Eniki e Renari não cristal brilhante. Especificamente, os Unicórnios
estão familiarizados com documentos de viagens, é iluminam o cristal no alvo. Se a luz iluminar a pele
possível que eles tenham sido parados num posto do personagem, ele não está imaculado. Por outro
de guarda, e tiveram passagem recusada — se os lado, se a luz atravessá-lo, ele foi tocado pela
personagens não se apressarem, haverá sangue Sombra.
inocente derramado, pelo Unicórnio ou por seus Se qualquer um dos personagens foi maculado
perseguidores. pela Sombra (como pelas marcas sombrias Shosu-
Quando os personagens encontrarem os Uni- ro, ou um pacto com a Escuridão Viva de outra
córnios, eles respondem exatamente assim como aventura), isto será revelado pelo teste Unicórnio.
fizeram com Kaagi. Eles não correrão riscos. Eles Neste ponto, o personagem terá muito o que expli-
sabem que a Escuridão pode imitar a humanidade, car — e o Unicórnio pode muito bem levá-los em
mas também sabem que cristal pode revelar a real custódia, também, prendendo-o com a mesma
natureza da Escuridão.
Kaagi está sozinho, mas seus perso-
nagens podem não estar. Lembre-se,
Unicórnios são caçadores, especialistas
em isolar algo que queiram e prendê-lo.
A menos que seus personagens tenham
um caçador talentoso com eles, eles
serão superados. Se os personagens
tiverem um lenhador experiente com
eles, uma rolagem de Inteligência/Caça
contra NA 15 permite que notem que o
grupo está sendo perseguido e colocado
numa posição a ser emboscado.
Os Unicórnios não estão interessa-
dos em matar os personagens. Eles
estão interessados em isolar e capturá-
los para que possam determinar se são
humanos ou Sombra. Assim que tenham
determinado que os personagens são o
que parecem, os Unicórnios ficarão
desconfiados, mas amigáveis.
Há vinte Unicórnios. A líder é Shin-
jo Eniki, uma velha shugenja e matri-
arca do grupo. Sua jovem neta, Notaiko,
também é uma shugenja. Há também
vinte bushis de nível de escola variável,
incluindo Shinjo Renari, sobrinho de
Eniki. Embora a velha possa ter nível
social superior a Renari, não há dúvida
de quem está em cargo do potencial de
combate deste grupo. Os seis Unicór-
diligência com que guardam seu atual “prisionei- jogador — quando você descreve estas coisas.
ro”. Então, bem calmamente, peça-o para se virar e
Se os personagens se provarem limpos ao Uni- ajudar o Unicórnio. Se ele disser “Não”, faça seu
córnio, eles serão interrogados. Embora Eniki este- personagem encontrar os olhos desesperados do
ja em grande pressa, ela não tem intenção de desa- Unicórnio, assim que ele sai de vista.
fiar o Imperador (se os PdJs forem magistrados) ou Então diga a ele que ele verá esta face mil ve-
criar novos inimigos (se não forem), e assim man- zes antes de morrer. Ele a verá em todo pesadelo,
da Renari e Notaiko falar com eles. Se possível, toda vez que fechar seus olhos e tentar se lembrar
eles encorajam os PdJs a deixá-los sozinhos, espe- de qualquer coisa, ele verá a face do Unicórnio,
rando salvar suas vidas. Porém, se forem interro- retorcida em dor e terror, implorando por ajuda.
gados, eles serão diretos e não mentirão — e a Se ele disser sim, tire o jogador da sala. Quando
história que têm para contar deve ser bem interes- ele voltar (no próximo ataque contra o Unicórnio),
sante para qualquer PdJ. ele estará no lado perseguidor.
Qualquer PdJ que deseje pode ser capaz de se- Você pode fazer isto repetidamente, a Escuri-
gui-los ou até mesmo se juntar a eles em sua louca dão reclama uma nova vítima a cada vez. Não
A Escuridão Enganosa. A
jornada pelo território Unicórnio. Os filhos de apenas há muitos Unicórnios, mas a Escuridão Sombra. A Loucura Negra.
Shinjo os encorajam a segui-los e — dependendo provavelmente usará ilusões e truques de sombra Ninja. A Escuridão Viva.
do humor e atitude de seus personagens — podem para influenciar os pensamentos dos personagens, Pesadelos Andantes. Mandí-
até mesmo insistir. Afinal, qualquer que for devo- forçando-os a verem o que realmente temem do bula da Insanidade. O Ini-
rado pela Sombra só a fortalecerá. mesmo modo que forçou Hida Dasan a crer que migo. A Palavra. O Nada
seus homens na unidade do Caranguejo estavam Profundo.
A Primeira Noite infectados com a Mácula das Terras Sombrias. A A Sombra tem vários nomes
A parte mais importante desta cena é quando Escuridão é particularmente boa em encorajar no folclore rokugani, e
qualquer um que fale dela
um dos Unicórnios fica para trás e é engolido pela insanidade, não importa o quão cuidadosamente ela
pode usar um termo novo.
Escuridão. Leia o texto de novo e escolha as pala- se esconda. Estes Unicórnios, lembran-
vras e frases que o marcam, isto fica em sua me- Sempre que reclamar uma nova vítima, ela o do-se do nome que seus
mória. Então, pense sobre cada um de seus perso- faz de modo mais sinistro. A primeira vez pode ser antepassados deram a ela há
nagens. Quem ficaria mais traumatizado em ver um os cavaleiros fantasmas (como no diário de Kaagi), muito tempo, se referem a
forte bushi próximo a eles ser arrancado de seu a segunda vez pode ser os tentáculos pretos. A ela como a “Escuridão
cavalo por uma nuvem preta de Escuridão Viva, e terceira e quarta vez ficam por sua conta, mas todas Enganosa” embora Kaagi
ver este bushi ser levado, gritando por socorro? eles devem ser únicas e aterrorizantes. E se seus consistentemente a chame
Há muitos meios de usar esta cena, alterando-a personagens não estiverem amedrontados o sufici- apenas de Sombra. Ela não
tem um nome próprio, e
pela fraqueza de cada personagem. Um deles é ente, faça a Escuridão comer os seus cavalos e ver
nenhum ser mortal pode dar-
notoriamente ambicioso? Talvez o bushi que caiu quem volta para ajudá-los. lhe um. De fato, ela se tor-
de seu cavalo tenha uma mochila que se rasgue nou tão forte que mesmo o
derrubando kokus dourados. Seu cortesão é orgu- Sol e a Lua podem ser inca-
lhoso de sua Bênção de Benten? Talvez a pessoa pazes de nomeá-la se tentas-
do lado deles comece a ter a face derretida — o A cena mais importante no primeiro dia (além sem. A entidade anônima
rosto escorre como cera enquanto grita, enquanto a do descanso da cavalgada da última noite) é a reve- que Kaagi (e seus PdJs)
escuridão o engole por trás. Você pode usar isto lação de Eniki. É muito importante que ela diga aos estão investigando revela
várias vezes, alterando apenas um pouco em cada personagens a história sobre o deserto e a escuri- sua maior força.
vez, para atingir personagens de modos diferentes. dão. Também é importante que descubram o mito
Ela não é coisa alguma
Aqui está outro meio de usar a mesma cena exata das lágrimas de Lady Sol, sobre o cristal e seu
afinal.
com apenas algumas mudanças para dar um novo aparente poder sobre a Escuridão (se você escolher
clima. usar a aventura num evento de uma só noite, No-
Encontre um personagem, e faça-o ser o cara taiko pode contar-lhes a história após a morte de
que cavalga do lado do Unicórnio a ser devorado. Oba-sama pela manhã).
Faça-o sentir o frio gélido dos tendões negros con- Mais uma vez, leia o texto em voz alta e apren-
tra sua própria pele enquanto vê o pescoço do Uni- da a história. Você não tem que contá-la na voz
córnio girar para trás quando ele é puxado de seu dela, mas garanta que destaque a parte importante:
cavalo. Descreva em detalhes o som de seus ossos a história da velha mulher do casamento de cristal
quebrando quando ele cai no chão. Grite os xinga- pode ou não ser apócrifa, mas certamente funciona.
mentos de quando ele é arrastado à escuridão atrás Segurar o cristal em frente a alguém e deixar a luz
dele. Entre na face do jogador — sim a face do brilhar é de fato um teste válido para a Escuridão
fizerem, lembre-os das faces daqueles que foram
capturados na noite passada. Então, um dos Uni-
córnios lhes mostra a face do bandido infectado, e
faça-os saber que este será seu destino se eles se
separarem agora.
É uma escolha. Não bem uma escolha, mas
ainda assim, uma escolha. Deixe-os decidir por
vontade própria.

O Unicórnio começa sua cavalgada uma hora


antes do pôr do sol. Cerca de duas horas antes do
nascer do sol, eles passam pelo último sinal de
civilização antes do território Unicórnio. Eles têm
um prisioneiro com eles, mas infelizmente, não
têm os documentos para passar pelo posto. Alguns
personagens podem ter licenças para deixá-los
passar pelo portal, o que também lhes poupará
tempo.
TERRA 4
Os personagens também podem fazer rolagens
ÁGUA 2
FOGO 3
sociais (Corte, Ardil, etc.) para passar pelos postos,
AR 2 Reflexos 3 mas se não mostrarem sinal de progresso, Renari
VAZIO 2 sacará sua espada e dará ordem aos arqueiros para
Escola/Nível: Bushi lançar suas flechas e abrirem caminho pelo posto.
Shinjo 2 Viva. Os personagens devem também aprender Ele tem guardas vivos à frente dele e a Escuridão
Honra: 7,0 quão rápida (quase instantânea) a infecção pode se Enganosa atrás dele. Quanto mais gastar tempo
Status: 2,1 aqui, mais terreno a Escuridão ganha sobre eles.
espalhar e quão astuta a Escuridão Enganosa é. Ela
Glória: 2,9 A emboscada ocorre quase duas horas após
Vantagens: Irrepreensí- abordou o Unicórnio como uma amiga, saiu de sua
forma o mais rápido possível e infectou muitos deixarem o posto. O terreno se tornou rochoso
vel
Perícias: Kyujutsu 3, outros em igual rapidez — e sem ser pega. Ela não (difícil para os cavalos correrem) e o cânion é
Defesa 3, Caça 4, Kenjutsu é como a Mácula das Terras Sombrias; é um inimi- estreito (apenas dois passam por vez). Personagens
3, Conhecimento: História 3, go inteligente, maligno e — mais importante — com a Perícia Batalha reconhecerão isto como um
Conhecimento: Escuridão 1, sutil. terreno primordial para uma emboscada.
Alabardas (Naginata) 3, Desde aquele primeiro encontro, o Unicórnio A emboscada ocorre quando tudo está escuro e
Cerimônia do Chá 2, Jiu- tem estado atento por ela. Quase todos eles sabem silencioso e a ajuda mais próxima está a duas horas
jutsu 1 de distância. A passagem tem quase dois quilôme-
da Escuridão de uma maneira ou outra, e quase
todos eles praticam o ritual de erguer um cristal tros de comprimento. Cheia de giros e voltas pelo
para um viajante para testá-los contra a Escuridão. caminho. As paredes têm de dezoito a trinta metros
Muitos daimyos do Unicórnio até mesmo chegam a de altura com rochas soltas ao longo do topo.
dar cristais de presente a diplomatas, se for o caso. Quando os Unicórnios chegam ao meio, os bandi-
Um pequeno detalhe que queremos que reco- dos-Sombra caem sobre o grupo. O propósito deles
nheça: os Unicórnios não a chamam de ‘Escuridão é criar confusão e uma pilha de corpos para pren-
Viva’, como os outros. Eles a chamam de ‘Escuri- der os cavalos do Unicórnio. A emboscada se des-
dão Enganosa’. Uma nota menor, mas importante. tina a parar a caravana e atrapalhar ainda mais seu
A velha revela um detalhe a mais para Kaagi movimento. Assim que Kaagi ouve o primeiro
neste momento: seu prisioneiro infectado. O ho- cavalo gritar, tropeçando em um dos corpos dos
mem foi totalmente corrompido pela Escuridão, e bandidos, ele percebe isto. Seus personagens po-
eles o amarraram em correntes e cristais para im- dem ser tão espertos quanto, mas se não forem, o
pedi-lo de escapar. Ele é a razão para os Unicór- que tiver maior nível de Percepção + Batalha nota
nios se moverem tão rápido, e é por ele que a Escu- primeiro.
ridão os está perseguindo. Personagens podem Personagens que usem uma arma mais longa
desejar deixar o Unicórnio à própria sorte, mas se o que uma katana perdem um dado nas rolagens de
ataque pelo espaço apertado. Personagens sem a
perícia Cavalaria que não saiam de seus cavalos ção de seu feitiço, ela não morrerá na manhã pelo
perdem dois dados em suas rolagens de ataque. seu esforço. Se nenhum dos personagens for um
Assim que Renari percebe que estão sendo cerca- shugenja, ou se simplesmente não puderem ajudá-
dos, ele ordena seus homens a investirem à frente, la, ela falece na primeira luz da manhã quando o
ignorando os corpos. Os cavalos são treinados para feitiço cessa. A cena é emotiva (Unicórnio não
o combate, logo podem ser encorajados a passarem entendem porque outros rokuganis são tão fecha-
pelo cânion cheio de cadáveres. dos com suas emoções). Os Unicórnios se reúnem
Lembra do jogador que disse “sim” no item an- ao redor da tenda da velha mulher; Notaiko fica
terior? Traga-o para a sala agora. Ele está de pé ao com ela até o fim. Então, Notaiko emerge e canta
lado de um dos PdJs, no estreito retorcido. Encora- quietamente enquanto outros Unicórnios observam.
je-o a persuadir o outro PdJ a se unir a ele, fugir (à Usando a tenda de Eniki como pira, Notaiko invo-
Escuridão, claro, embora não tenha que mencionar ca um feitiço que engole o tecido em chamas.
isto). Ele diz que a Escuridão os deixará ir, se cor- Quando começa a queimar, eles choram aberta e
rerem agora. Claro, ele está mentindo, mesmo que felizmente. Sua líder se foi para outro lugar, um
o jogador não saiba. Se isto não funcionar, faça-o lugar melhor.
dizer (numa voz bem diferente) que o Inimigo A segunda tragédia não pode ser evitada. Os
trocará sua vida pela vida do Prisioneiro (o homem personagens estarão próximos o bastante para se-
que o Unicórnio tem) e que o PdJ só tem uma noite rem acordados pelo som de engasgo. Alguns po-
para decidir… A vida de seu amigo, ou a perda de dem reconhecer a voz de Renari. Se os persona-
um simples prisioneiro, um homem que não signi- gens correrem em sua tenda, eles o encontrarão Na literatura fantástica de
fica nada para o PdJ. Claro, a Escuridão é fiel à sua agarrando a própria garganta e peito, seus olhos todo o globo, há sempre
palavra. Se o prisioneiro for libertado, ela devolve- esbugalhados em dor. Não há nada o que fazer para aquele último feitiço que é
rá o PdJ “capturado”, corrompido pela Sombra, e salvá-lo. Tudo que podem fazer é observar enquan- tão poderoso, que tira a vida
também ganhou uma vantagem sobre o PdJ que fez to ele morre, tremendo e em espasmos. Ele expira do invocador. O feitiço de
o pacto. Eficiente, não? em momentos, olhos fitando o teto da tenda. Eniki não é nada mais do
que qualquer feitiço que os
A última parte importante desta cena é o feitiço Um exame do corpo (se alguém estiver presente
personagens podem conhe-
de Eniki. Se qualquer um dos personagens tiver um para fazê-lo) revelará que sua garganta e peito cer, mas ela está disposta a
feitiço de aceleração eles podem ajudar a invoca- estão fechados pelo sangramento interno, como se dar sua vida para potenciali-
ção de Eniki. Eniki está invocando uma variação algo de dentro estivesse lutando para sair. A suges- zar a energia do feitiço para
do Unicórnio para o feitiço Cavalgar Pela Noite, tão é temível: algo rastejou pelo seu corpo durante tirar seus compatriotas do
que moverá os personagens milhas em direção às a noite e o matou por dentro. estreito e tirá-los do perigo.
terras do Unicórnio, superando a Escuridão. Ajudar As marcas deixadas no corpo parecem ser digi- Em geral, se um personagem
Eniki (transformando o feitiço num ritual) requer tais, mãos que pressionaram contra a garganta e está disposto a tirar sua
uma rolagem bem sucedida de Nível de Escola + peito, e marcas contra a região do peito que pare- própria vida para invocar
um feitiço com sucesso, não
Ar contra NA 20 ou 30 se não tiverem a Perícia cem ser marcas da mão de um grande homem.
há necessidade de rolar
Cavalaria. Se ninguém ajudar Eniki, o esforço de dados. O feitiço automati-
invocar o feitiço mata a velha mulher pela manhã. camente funciona com um
Se a ajudarem, ela sobrevive à experiência (embora número de Aumentos igual
Eniki e qualquer ajudante imediatamente sofre Se tiverem sucesso, os personagens ganharam ao dobro do Vazio do perso-
metade de seus Níveis de Ferimentos em dano), e um grande favor do Unicórnio. Embora os filhos nagem.
os personagens ganham um grande favor de uma de Shinjo não sejam tão “respeitáveis” pelos outros
poderosa e influente shugenja do Unicórnio. clãs, eles reconhecem a importância de um favor.
Eles também estão dispostos a deixar um favor
durar muito mais do que qualquer outro clã. Numa
geração, se o filho de Kaagi vier aos filhos de No-
Assim que os personagens tenham evitado com taiko, eles se lembrarão, e retornarão o favor.
sucesso o segundo ataque da Escuridão Enganosa, Todo personagem recebe um Ponto de Experi-
eles provavelmente estarão dormindo em solo ência por sobreviver às terras do Unicórnio. Os
Unicórnio. Eles ganharam o respeito e gratidão do personagens ganham Pontos de Experiência de
clã, e fizeram aliados. Infelizmente, duas tragédias bônus por passarem pelo posto sem lutar e ajudar a
estão prestes a ocorrer. invocar o feitiço Chamado Pelo Vento (num total
A primeira pode ter sido evitada na noite ante- de 3).
rior. Se os personagens ajudaram Eniki na invoca-
Item 61
Fiquei preguiçoso passando tempo demais a cavalo. Após poucas horas de caminhada estou cansado o
bastante para querer me sentar e passar a noite. A ideia é tentadora, mas minha curiosidade simplesmente
não permite. Tenho viajado para o leste desde que deixei o Unicórnio. Caminhei por menos de meia hora antes
de ouvir o barulho de sua partida. Desde então, não vi ninguém. A grama é alta, misturada com flores
selvagens que nunca vi em lugar algum, coisas púrpuras com pequenos bulbos. Quando o sol começa a se por,
cruzei a ponte sobre o Rio Vagalume e me vejo me aproximando das baixas colinas que a mulher do Unicórnio
descreveu. Não demora muito para que eu encontre a trilha que ela me mandou procurar. A trilha é o que
restou de uma velha estrada que ia ao templo. Aparentemente, era um lugar popular para culto há uns
vinte anos, mas caiu em desuso.
A estrada manteve sua forma, mesmo após todo este tempo. A terra batida impediu que ela sumisse, mas a
vegetação local começou um sério ataque, tornando o caminho muito mais estreito do que já foi. O céu se
tornou mais escuro que o normal a esta hora do dia, devido a baixas nuvens cinzas. A esta distância, ouço o
ribombar de trovão, e ando mais rápido.
Altas rochas saem da colina em lugares íngremes e em algumas áreas posso ver onde a grama se espreme na
poeira e rasas ravinas se formaram, presumidamente pelas tempestades. Está quase inteiramente escuro
quando vejo o telhado do templo. Quando o faço, as primeiras gotas de chuva começam a cair, pesada e forte.
Corro alguns metros ao abrigo do velho edifício.
O teto começou a vazar em vários lugares, mais notavelmente do buraco próximo à parede sul. O edifício é
feito de blocos de pedra, vagamente quadrados com a área central rebaixada dois passos abaixo do resto. No meio
da sala há um baixo poço que presumo ser usado para fogueiras. Cinza e madeira velha permanecem lá. Nos
dois lados da entrada estão pequenos e estilizados leões de pedra, delicadamente esculpidos mas gastos e velhos. O
vento sibila fortemente pelas rachaduras das paredes e o ocasional buraco. O templo antigo está vazio.
Após ficar lá por vários minutos, decido ser o mais produtivo possível. Reúno madeira do lado leste do prédio.
O vento sopra do oeste, logo a madeira está seca. A ponho dentro do poço e começo a fazer fogo. Não demora muito,
me vejo mais feliz no calor embora a luz lance sombras nas paredes.
Pela primeira vez desde esta tarde, me permito pensar no que fiz. Mei riria até não conseguir mais se
soubesse que vim aqui por algo como um sonho, especialmente quando um homem a metros de mim percebeu que
seu sono era fatal. Mas a ideia de que Iyekao ainda possa estar vivo, que possa estar preso, prisioneiro das coisas
que me assombraram recentemente é demais para deixar passar. E para ser honesto, tenho que admitir que
minha própria curiosidade bem como lealdade familiar me trouxeram aqui.
Uma sombra se move na escuridão em torno do fogo. Solto o pedaço de madeira em minha mão e tenho
minha katana sacada antes de sequer registrar a figura de pé do outro lado da fogueira. É um homem, da
minha altura e quase mesmo físico. Estamos perfeitamente parados. O reflexo da fogueira dança ao longo de
minha katana nua. A figura dá um passo À frente. Não protesto porque a fogueira ainda está entre nós, e o
movimento o aproxima da luz.
Vejo-me olhando para uma face estranhamente familiar — uma há muito perdida para mim. Iyekao,
sólida como a espada em minha mão. Ele passou anos, não é mais o garoto de que me lembro, mas o semblante é
inconfundível. Sua face é mais larga que a minha, o cabelo escuro, mais curto. Sua boca é larga com lábios
finos que lembro de chamar por nomes tolos na infância. Seus olhos são estreitos e seu nariz é largo. Seu cabelo
está puxado para trás, revelando uma longa testa e sobrancelhas pesadas. Ele está sorrindo.
“Irmão.”
A palavra pende no ar entre nós como a fumaça saindo da fogueira. Ele ergue suas mãos, mostrando que
estão vazias. “Senti sua falta.” Ele dá outro passo em direção à fogueira. Quando não me movo ou falo ele se
retrai. “Você se tornou um homem.” Ele se baixa ao chão, repousando confortavelmente em seus joelhos.
Começo a me sentir tolo apesar de minha apreensão. Me sento também, a katana no solo diante de mim.
“Como você pode estar aqui?” Pergunto, e minha voz soa surpreendentemente normal aos meus ouvidos. “E
depois de todos esses anos, por quê?”
“Veio com paciência, irmão? Lhe direi tudo isto se você se sentar e escutar,” Ao meu assentir ele continua.
Sinto como se a metade ausente de minha vida voltasse ao lugar.
“Quando nossa família foi morta, você só tinha oito anos. Ainda uma criança. Eu tinha quatorze. Em
menos de um ano teria meu gempukku e seria um homem. Quando descobri o que houve, fui ao líder de minha
escola e pedi para ir caçar a Garça e buscar vingança. Ele proibiu. Quando pude fingir calma, pedi permissão
para ir à corte do Imperador e pedir por justiça. De novo, ele recusou. Olhando para trás agora, percebo que ele
deveria saber que as duas estradas me levariam ao mesmo destino: minha morte. Era jovem, e não podia
aceitar que nada pudesse corrigir as coisas. Então empacotei minhas coisas e, na calada da noite, saí do castelo
e fugi.”
“Estava determinado a encontrar um meio de fazer nossos inimigos pagarem, e votei que não o veria de
novo até que o fizesse sabendo que nossa família tinha sido vingada e que você não seria parte disso. Por um
longo tempo eu procurei. Eventualmente, percebi que não há meios regulares de atingir meu objetivo. Não era
treinado ou talentoso para desafiar seu campeão. Não tinha as perícias mágicas para atrair o desastre sobre
eles. Logo, comecei a buscar por algo mais. Quando éramos crianças costumávamos assustar uns aos outros com
histórias de monstros, de assassinos nas trevas que iam e vinham como fumaça, levando o terror na noite.
Pensei que poderia ser como eles, então fazer nossos inimigos lamentar por terem ousado nos atacar. Honra e
bushidô eram palavras vazias para mim. Faria qualquer coisa para ganhar o poder de corrigir as coisas.”
Seus olhos são levados por uma tristeza distante. “É fácil esquecer quão longa é uma vida quando você
não a viveu. Comecei a procurar monstros. Segui qualquer conto que ouvi de Ninjas vindo na noite. De
acontecimentos estranhos. Irônico, não? Você tem feito mais ou menos o mesmo.” Pensei nisso também, mas
ouvi-lo dizer me arrepia.
“Eventualmente, encontrei o que estava procurando, mais ou menos. Um velho pescador me disse que todo
homem eventualmente encontra o que merece, mas raro é o homem que encontra o que realmente quer. É uma
das coisas menos confortantes que ouvi. Persegui minha sombra por tanto tempo que ela finalmente me
alcançou. Os detalhes não são importantes, mas cheguei num acampamento, como uma escola. Me disseram
que se eu queria aprender, os Mestres de lá me ensinariam tudo o que havia para saber sobre a escuridão.
Descobri que os Ninjas nas histórias eram apenas as mais meras sombras. Eles disseram que no fim de meu
treinamento, saberia tudo, que todos os homens me temeriam, e ninguém me feriria de novo.”
“Os prédios da escola eram todos de um só andar, no chão de um vale entre três grandes montanhas. No
quarto lado, um forte rio corria sem ponte. Em todo o tempo em que estive lá, nunca vi um barco. Havia três
prédios para os alunos dormirem, alguns outros onde tínhamos aulas. Outro prédio do outro lado do
acampamento era onde os mestres moravam, eu presumo. Mas nunca vi ninguém entrar ou sair de lá. Tudo era
feito de madeira preta, como as árvores que cresciam no vale. Mas nunca as vi em nenhum outro lugar.”
“Não sei por quanto tempo estive lá. Era difícil ter noção do tempo. Dormíamos durante o dia e nossas
aulas começavam em todo crepúsculo. As únicas luzes eram velas. Cada um de nós tinha uma, uma curta
vela e um pequeno suporte redondo para ela. Quando uma queimava inteiramente, uma nova estava no
lugar na noite seguinte quando acordávamos. Havia nove de nós no prédio onde morei. Três chegaram quase ao
mesmo tempo e nos tornamos amigos. Ninguém nos disse explicitamente para não sair ao sol, mas havia a
impressão de que os Mestres não ficariam felizes. Ninguém queria arriscar a desaprovação dos Mestres.”
“Quando íamos às aulas, éramos seis por vez em um dos prédios menores. Os Mestres chegavam, vestidos em
mantos pretos que cobriam suas faces. Eles nunca carregavam velas. Não havia manuscritos ou rotas para
nossas aulas. Elas eram mais como séries de meditações. Os Mestres falavam extensamente numa língua que
não entendíamos, um estranho dialeto do rokugani. Memorizávamos o que os Mestres diziam e repetíamos.
Mesmo quando falávamos em grupo, os Mestres sempre sabiam quando um de nós errava uma sílaba. Nenhum
de nós tinha permissão de ir até conseguir dizer as palavras em uníssono.”
“Assim que cheguei, pensava muito em você, Kaagi. Pensava em quão orgulhoso você ficaria quando
retornasse após ter acertados as coisas. Mas o tempo passava e me via pensando cada vez menos em meu passado.
Era mais difícil me lembrar da face de meus colegas da escola da Fênix. Então era difícil me lembrar da voz de
meu pai. Finalmente, a única coisa de que me lembrava claramente era você. Sonhava que podia vê-lo
enquanto dormia, esgueirando-me por sua janela e contando sobre aonde eu fui.”
O trovão ribomba lá fora enquanto ele diz isso e sinto meus ossos arrepiarem, lembrando de meus pesadelos
infantis. Em meus sonhos monstros vinham pela minha janela. Tenho que forçar minha mão para ficar
parado e não pegar minha katana. Como se não notasse, Iyekao continua.
“Não sei quanto tempo fiquei lá antes de começar a ver as mudanças. Pareciam meses, mas podem ter sido
semanas, ou anos. Sem a luz do dia, o tempo escorre por si só. Uma vez, quando o céu estava tão negro como a
meia-noite, e uma tempestade pior do que a cai lá fora, acordei para ver meus amigos diante de mim. Pude ver
que algo estava errado, mas de início não sabia o que era. Então eu percebi. Suas faces mudaram desde que os
conheci. Não apenas sua expressão. Quando me deitei, percebi com puro horror que as características que os
tornavam distintos, as coisas que os marcavam como ‘eles próprios’, estavam sumindo. Eles ainda tinham
olhos, narizes, bocas, mas podiam pertencer a qualquer um. Suas faces eram como pedras que ficaram tanto
tempo no rio que suas faces afiadas começavam a amolecer.
“Não ousei me mover. Um deles falou. Ele me perguntou se eu queria jogar dados. Eu não conseguia falar,
logo mexi minha cabeça em não, e eles foram embora. Não consegui dormir depois, mas podia ouvi-los brincando
alguns metros dali. No dia seguinte, procurei freneticamente por qualquer coisa que mostrasse um reflexo.
Nunca notei antes, mas não havia espelhos, metal polido ou qualquer coisa reflexiva no complexo. Não podia
ver meu próprio rosto. Mesmo o rio se movia rápido de mais. No dormitório escuro, passei minhas mãos sobre meu
rosto, tentando sentir o que mudou.”
“Nunca fiquei tão aterrorizado em minha vida. Comecei a procurar por um meio de sair do complexo, mas
não conseguia. Não conseguia me lembrar nem mesmo de como cheguei lá. Bem como grande parte do resto do
meu passado, parecia um sonho distante. Foi então que garotos de meu dormitório começaram a se mudar. Uma
dupla de cada vez, eles iam para outros dormitórios. Nas noites em que iam, não havia aulas e éramos
instruídos a ficarmos dentro. Alguns novos garotos chegavam. Não tinha nada o que dizer a eles. Eles não
podiam me ajudar. Finalmente meus dois amigos começavam a juntar suas coisas. Eles se mudariam naquela
noite.”
“Esperei até terem ido por talvez uma hora, então saí atrás deles. Os garotos mais novos nunca me
notaram. Já não precisava mais de minha vela para enxergar. Uma vez do lado de fora, senti cheiro de
fumaça, acre e empoeirado ao mesmo tempo, vindo do outro lado do complexo, perto do prédio dos Mestres. Segui o
cheiro e olhei pelo canto do último prédio, eu pude ver uma fogueira. Era feita de madeira preta e queimava
num tom de vermelho escuro, não como esta.” Ele aponta para a fogueira que crepita entre nós.
“Tudo ao seu redor lançava sombras, mas não podia ver as figuras que as lançavam. Era como se as
sombras fossem dançarinas, se esticando impossivelmente longas e se viram em ângulos não naturais.
Enquanto observava, meus amigos apareceram num lado da fogueira. Incapaz de me mover ou respirar, os vi
andarem para frente, através das sombras dançarias em prontidão e as chamas ardentes. Não pude fazer nada
além de me apertar contra o edifício e olhar. Um ruído baixo começou, como o vento uivando por um campo de
bambus, e mais duas sombras apareceram do outro lado das chamas.”
“Então eu gritei, gritei até que não tivesse mais fôlego em mim. Então eu corri. Corri pelo complexo, pelos
dormitórios e, sem segunda hesitação, pelo rio caudaloso do outro lado. Pensei que me afogaria, mas não me
afoguei. Pensei que eu sabia demais para morrer como outros homens. Ao invés disso, saí do rio milhas dali.
Tenho fugido deles desde então.”
Sento-me parado de frente para Iyekao. Não há nada para eu dizer e minha língua parece grossa em
minha boca. Iyekao se senta com sua cabeça e ombros caídos. Ele parece muito cansado. Tento organizar
minhas ideias. “Irmão,” digo lentamente, não acreditando em minha voz. “Eu os vi. Eu acredito em sua
história. Venha comigo, de volta ao castelo Kitsuki. Encontraremos um meio de escondê-lo, de ajudá-lo.” Me
levanto e estendo minha mão para ele, que ainda olha para baixo.
“Sua oferta é generosa, mas acho que não entende com o que realmente está lidando.” Ele olha para cima
então, e fora das sombras trêmulas da fogueira olha uma face tão lisa quanto uma tábua. A boca que não
está realmente lá diz: “Senti sua falta, Kaagi.”
Meu braço é mais rápido que meus pensamentos congelados. A katana que nem percebo empunhar reluz e
atravessa meu irmão sombrio num golpe limpo, cortando fundo em seu peito. Seu corpo cai num jorro de
fumaça e não espero para ver se ele se levantará de novo.
Sinto a chuva em minha face antes de notar que corri para fora. A água me golpeia, fria e real, e desço a
colina numa velocidade urgente. Grama e mato batem em minhas pernas e galhos em minha face e peito, e
tenho que guardar a katana depois da segunda vez em que perco meu equilíbrio e quase caio nela. O
relâmpago ilumina e percebo no breve segundo de luz que perdi a trilha. Continuo correndo. Eventualmente,
chegarei ao fim sob meus pés ou sob minhas costas, mas não posso desacelerar.
Enquanto rolo, vejo faces em toda sombra. Sokoi olha para mim, ainda gotejando, mas agora sorrindo. A
esposa de Dasan ri quando trombo por ela e meus pés derrapam. Rolo para baixo quando um galho sibila por
mim como a espada de Hida Kurusu e lá está ele sorrindo bem à minha frente. Me atiro para o lado e me ponho
de pé. O Iyekao de quatorze anos olha para mim desesperadamente a alguns metros.
“Não me deixe sozinho!” ele implora, e eu corro. Os bandidos com suas faces deformadas saem da escuridão
comigo, agarrando minhas roupas.
Tropeço mais uma vez, rolando para frente. Escorrego pela lama, preso em uma das ravinas inundadas.
Vejo Mei, sua face cheia de tristeza e preocupação por mim, chamando meu nome. Sua mão passa pela gola de
meu kimono, mas não a agarra. Então perco o rastro de tudo quando a água gelada me envolve. Caí no rio na
base da colina, e não posso chegar à margem. O rio corre, me puxando até que tudo se perca num jato de trevas.
Item 62
Me encontro numa sala de teto baixo. O lugar cheira a peixe. Luto para me levantar, mas há cobertores
espessos em volta de mim, mantendo meus braços ao meu lado. “Há alguém aí?” Chamo, e quase
instantaneamente uma mulher de meia idade aparece no canto. Ela grita um nome sobre seu ombro, então
vem em minha direção. A luz do sol passa pela janela aberta do outro lado da sala.
“Você está bem?” Ela pergunta mantendo os olhos polidamente baixos. Ela afrouxa as cobertas. Só então
um homem chega pelo canto. Suas roupas são bem feitas mas simples.
“Sou Ashiki, chefe de Shiro Kishi Mura. Você está em minha casa, Sama, e esteve por vários dias. Você foi
encontrado na margem do Lago Margem Branca e tem sofrido de febre desde então.” A mulher, sua esposa, eu
presumo, me oferece água. É fria e fresca e bebo em goles fartos. “Por favor, fique o quanto desejar, senhor,”
continua Ashiki. “Há algum lugar para onde devo enviar uma mensagem?”
“Não, obrigado,” digo a ele. Sento-me lentamente, minha cabeça nada e dói ao mesmo tempo. “Estou indo
para casa.” E estou mesmo. Ashiki me fornece bastante comida e chá para minha viagem. Ele também me dá
roupas novas. Não sei de onde ele pode tê-las tirado. A qualidade é boa. Muitas de minhas posses estão ensopadas
ao máximo, mas meu diário está intacto, embora a caixa esteja intensamente encharcada e eu precise
afrouxá-la lentamente. As páginas interiores não foram seriamente danificadas.

Item 63
Por vários dias, estive na estrada, viajando para o castelo Kitsuki. Parei por um dia num vilarejo
próximo à fronteira entre as terras do Dragão e do Unicórnio. Mais alguns dias de caminhada e devo estar em
casa. Estive atualizando meu diário enquanto viajo. Só após ler o que escrevi que me lembro dos detalhes do
encontro com a coisa que se parecia com Iyekao. Minha viagem montanha a baixo ainda é vaga, como um
sonho ruim. O pior é ver Mei no fim de tudo. Foi um truque das sombras fazê-la aparecer? Hiroru estava
errado? Eles a tomaram no castelo Ichime? Ela sequer alcançou os Kitsuki? Meus pensamentos se seguem em
minha cabeça e sei que não terei paz até chegar em casa e ouvir a voz dela de novo.
Feliz por estar tão perto do fim de minha jornada, saio num passeio pelo mercado. É bom estar à luz do sol
de novo, e com pessoas. Tenho sido acometido por sonhos estranhos em minhas viagens. Suspeito que a febre
ainda persiste. Em meu sono, me vejo no complexo que Iyekao descreveu. Recito as palavras dos mestres sombrios
e caminho pelos prédios feitos de madeira negra e oleosa.
Quase esbarro numa mulher carregando um cesto cheio de panos. Me desvio quando ela passa,
reverenciando suas desculpas. Percebo que não prestei atenção aonde estava indo. Olhando em volta para
pegar meus pertences, vejo uma figura familiar passar pela esquina do outro quarteirão. A cabeça se vira e
Iyekao sorri para mim, assente e então volta para trás de um muro.

De início não posso fazer nada além de tentar respirar. Então, sem olhar para trás, corro até minha
pousada, pego minhas coisas e deixo o vilarejo o mais rápido possível.

Item 64
Dois dias se passaram desde que vi Iyekao no mercado. Tenho andado desde então, parando apenas quando
tenho que dormir. Os sonhos pioraram. Cada vez que fecho meus olhos vejo a fogueira. E cada vez, estou mais
perto dela. Na noite passada, enquanto eu dormia, fiquei tão perto dela que podia sentir as chamas. As
sombras se lançavam sobre mim, empurrando-me para frente.

Item 65
Estou a um dia do castelo Kitsuki, e sei que isto é o mais próximo que poderei chegar. Sei o que meus sonhos
são. Não são pesadelos, e não são remanescentes da febre. Eles estão me iniciando enquanto durmo. Era Iyekao
em meus pesadelos quando criança, não meu irmão Iyekao, mas o monstro que ele estava se tornando. Ele pode
tê-los atraído para mim, não sei, mas de algum modo chamei atenção deles e pareço não despistá-la.
Percebi isto ontem. Estava andando ao longo da estrada quando uma mulher camponesa veio por outra
direção. Quando ela se aproximou eu sorri e dei uma saudação polida. Ela começou a responder, mas então ela
olhou para mim. Ela parou numa palavra e num passo. Seus olhos se arregalaram e sua mão foi à face,
passando por ela lentamente como se certificando de que tudo estava como deveria. Minha própria mão subiu,
movendo-se por minha boca, nariz, queixo e um suor frio saiu de meu corpo. Corri por ela enquanto ele estava
paralisada, olhando para mim. Quando cheguei a alguma distância entre nós, atirei minha bolsa ao chão,
jogando coisas para fora dela. Finalmente, encontrei o pequeno espelho de metal que mantinha para me
barbear.

Olhando nele pude ver as mudanças. A face era a de um homem, mas não era minha. Poderia ser a de
qualquer outro.
Poderia ser a de todos.

Acho que sei como eles agem agora. Estive aprendendo pelo meu sono. Depois de todo este tempo perseguindo
sombras, elas me pegaram, e agora não posso escapar. Elas estão pegando tudo o que eu sou, pedaço por pedaço.
Elas o tomam e o fazem parte delas mesmas. Em troca, me torno uma parte delas. Me tornarei indistinto até
que não tenha identidade própria, nem nome, nem face. Então serei um com elas, capaz de tomar qualquer
forma, pois não terei nenhuma. Elas poderiam fazê-lo mais rápido e fácil, como fizeram com Sokoi. Elas
tomaram o que quiseram da mente fraca daquela criança, e então a atiraram no lago e tomaram sua forma.
Sei disso porque elas me disseram. Mas é melhor se elas tiverem tempo. Se elas tiverem tempo para tomá-lo
adequadamente, elas podem sugar tudo de você.

Há um garoto viajando em direção ao castelo, carregando arroz. Ele está esperando agora, enquanto
termino este último item. Então o entregarei o diário e o resto do meu dinheiro, e ele o levará ao Castelo
Kitsuki. Eles têm que saber o que aconteceu, que a ameaça existe.
A Sombra não quer que eu faça isso. Já posso sentir sua influência. Mas agora posso enganá-los. O estado
de meditação que uso para escrever meus diários bloqueia sua visão por um momento. Se eu tomar muito
cuidado, ainda posso esconder coisas deles…

Boa sorte para vocês, meus colegas Kitsuki.


Só espero que isto os ajude a se protegerem.
em que se alimentou. Quando homens viajavam em
campinas abertas e enfrentavam cada amanhecer
com a única preocupação de buscar sustento e
lugar seguro para dormir, a Escuridão fazia o
mesmo. Quando homens criaram vilas e começa-
ram a cultivar seus campos e domesticar animais, a
Escuridão aprendeu contentamento. Eventualmen-
te, os vilarejos do homem se tornaram cidades, e
ele criou exércitos para defendê-las e tirar terras de
outros homens. Desta era, a Escuridão aprendeu
ambição e o valor do poder.
A fome da Escuridão se tornou específica. Co-
mo um cão, ela fareja poder como se fosse sangue. Os PdJs encontram um
Isto não significa que a Escuridão Viva quer devo- magistrado chamado Shiba
rar todo daimyo e karo em Rokugan. O poder real Tosuko, que muitos deles
nem sempre repousa nestas posições de autoridade. conhecem por reputação.
Ela golpeia um de cada vez, seletivamente esco- Eles são enviados a ajudar
Tosuko com uma negocia-
lhendo alvos que não têm valor aparente e próprio. ção muito delicada entre
Como um jogo de Go, uma pedra colocada no Caranguejo e Unicórnio.
começo do jogo pode ganhar o dia. Sem que ninguém saiba,
Quando Mãe Sol e Pai Lua deram nomes a to- Alguns especularam se a Escuridão busca a Tosuko foi substituído pela
das coisas que possuíam, algo, um pequeno pedaço chave para a magia rokugani, pois é onde o real Escuridão. Um dos PdJs
de nada, não quis um nome. poder está. Já que nunca foi adequadamente nome- conhece Shiba Tosuko de
ada, a Escuridão permanece fora da ordem natural, seu passado (antigo roman-
- Agonias Celestiais, de Goju ce, colegas de infância ou
e não tem conexão real a ela. Vozes temerosas
sussurraram que ela está criando exércitos de legi- companheiros de escola de
A Escuridão Viva é literalmente tão antiga bushi). As duas famílias
quanto o mundo. Na verdade, ela é o último rema- ões anônimas para marchar e escravizar a humani-
conhecem Tosuko e permiti-
nescente de matéria que deu forma ao universo e dade. Outros ainda temem que a Escuridão busque rão que apenas ele realize a
definição e repetição a tudo. roubar tantos nomes que eventualmente desfará o negociação.
Pela Escuridão Viva jamais ter tido um nome, ato da criação realizada por Lady Sol e Pai Lua, A Escuridão tentará re-
ela nunca se ligou a uma forma. Em sua forma retornando tudo ao estado primal onde só a própria mover os PdJs ou abandonar
mais pura, a Escuridão mudou pouco no passar dos Escuridão existia. Shiba Tosuko antes que os
Evidências podem ser encontradas para apoiar PdJs descubram a troca.
milênios. É uma entidade única. Está ciente. E Porém, se houver implica-
mais recentemente, está com fome. A Escuridão toda e qualquer destas teses. Pessoas em altas posi-
ções foram possuídas, bem como pessoas aparen- ções de maho, artimanhas ou
não tem forma própria, mas em algum ponto do ardis nas negociações, as
tempo, talvez por acidente, se tornou uma entidade temente inúteis. Há muitos poucos em Rokugan duas famílias (Hida e Iuchi)
consciente e formada. Não importa mais se o pri- que sequer estão cientes da existência da Escuri- irão à guerra, possivelmente
meiro consumido foi um homem ou animal. A dão. E desses, menos ainda têm qualquer entendi- levando seus clãs com elas.
escuridão descobriu que o que comia, ela poderia mento real do que ela está fazendo. Se a Escuridão Embora Tosuko tenha sido
se tornar, sem perder sua “vazies”. E por ser, ela tem um objetivo definido, ninguém foi capaz de substituído por um Goju, o
poderia agir. determinar o que pode ser. Pode até ser que nem dever real do Goju é afastar
seja possível para qualquer que não tenha vivido os clãs da guerra — por
A Escuridão Viva mudou pouco no esquema qualquer meio. Revelar a
das coisas, mas mudou bastante. Ela absorve tudo o mais de uma vida compreender as maquinações de
uma entidade com incontáveis anos e vidas passa- ilusão vale as vidas que
que ela destrói, mantendo e guardando as memó- serão destruídas se Tosuko
rias e mentes, as vitórias e vícios de suas presas. As das.
se perder?
personalidades individuais de suas vítimas não
afetam o todo. Similar a jogar uma moeda no ocea-
no, o impacto é pequeno demais para ser notado
por qualquer um além da moeda e seu dono. Mas
com o tempo, a natureza consistente básica de sua
presa tocou a Escuridão.
Num sentido muito real, a presa ensinou ao ca-
çador. A natureza da Escuridão mudou com as eras
enfrentar a força negra de Fu Leng, apenas Shosuro
retornou. Muitos rokuganis sabem a história de
Sem surpresa alguma, os que têm mais conhe- como Shosuro viveu o bastante para passar as
cimento da entidade anônima é o Escorpião. Espe- escrituras negras antes de sucumbir aos seus feri-
cificamente, os da família Shosuro que conhecem a mentos. Mas há aqueles entre o Clã Escorpião que
Sombra mais a fundo do que aquela em que cami- contam um final diferente. Eles sussurram que
nham. Cadetes ninjas Shosuro de primeiro ano são Shosuro retornou mudada, e que o dia em que
chamados para uma revisão especial no fim de Shosuro nunca mais foi vista foi o dia em que
cada ano. Eles ficam em fila, ombro a ombro, sem Soshi apareceu com suas marcas sombrias.
se tocar. Eles o fazem ao crepúsculo. Enquanto os
alunos esperam, seus professores ficam diante
deles, cobertos por mantos, do mesmo cinza que a
poeira. Com eles fica outra figura, vestida com o
mesmo manto porém aparen-
temente mais escuro, como se
a luz do dia se recusasse a
tocá-lo. Este estranho caminha
pela fila e, estendendo uma
longa e escura mão, toca cada
TERRA 4 recruta de cada vez.
ÁGUA 4 Para alguns, o toque é leve
FOGO 3 Inteligência 4
AR 3
como uma pena, como se uma
VAZIO 0 leve brisa passasse por eles.
Escola/Nível: Nenhuma Outros experimentam um
Honra: 0 arrepio profundo como gelo
Status: - em sua pele onde os dedos
Glória: 0 tocaram. Em raras ocasiões,
alguns enlouquecem na hora,
Perícias: Defesa 4, Eti- com espasmos e convulsões
queta 3, Jiujutsu 3, Kenjutsu no chão. Seus colegas dizem
3, Conhecimento: Terras
Sombrias 2, Sinceridade 3,
que suas faces se distorcem e
Sedução 5 seus membros se contorcem
como se seus corpos não mais
Tipicamente, uma mani- se reconciliassem com suas
festação Sombria em um próprias formas. As famílias
sonho tomará a forma do desses alunos recebem polidas
que for mais eficaz — um cartas explicando que seus
monstro temível, um amigo, filhos não sobreviveram ao
um amante, ou um daimyo processo de treinamento. Mas
ou outra figura de autorida-
de.
sempre um ou dois alunos não
retornam para os exercícios no
dia seguinte. Seus colegas são
informados que foram embora
para ensino especializado. Os
pais desses alunos também
recebem uma carta dizendo
que seus filhos não retornarão
para casa.
A verdade é que a Escuri-
dão ainda se lembra de sua
velha barganha com Shosuro.
Quando os primeiros Trovões
foram às Terras Sombrias para
Escorpião consegue sempre fazer uma barganha
perfeita. Em seu desespero, Shosuro subestimou
Após a morte muito pública de Shosuro no pa- sua habilidade de controlar sua sombra.
lácio do Imperador, seu corpo foi levado de volta Ela retornou como planejara, e entregou as es-
às terras do Escorpião. Suas roupas e máscaras crituras negras, mas também carregava algo mais.
foram queimadas numa cerimônia muito privada, Na bolsa com os escritos, ela carregava um item
atendida apenas por Bayushi, alguns de seus conse- que a Escuridão cobiçava, uma mão feita de uma
lheiros mais próximos, e um jovem shugenja que escuridão tão profunda que parecia a própria som-
não havia aparecido antes na corte de Bayushi. bra. Dada a ela pela Escuridão, a Mão de Obsidia-
Porém, não houve testemunhas da cremação do na continha não apenas a carne de um Deus, mas
corpo real de Shosuro. um pedaço da alma da Sombra.
Quando a ferida Shosuro estava lutando na lon- Após sua cena em Otosan Uchi, Shosuro ence-
ga viagem para fora das Terras Sombrias, ela per- nou seu próprio fim, a maneira perfeita de manter
cebeu que não chegaria às terras do Império. Mas seus segredos dentro do Clã Escorpião. Bayushi,
Shosuro notara há vários dias uma estranha presen- seu aliado mais confiável, fez seu “corpo” ser le-
ça que observou a batalha inteira contra Fu Leng, e vado a terras do Escorpião onde Shosuro assumiu a
identidade de Soshi, um shugenja capaz de um O irmão de Kaagi é um
nunca se fez conhecida. Sentindo-a por perto, e
exemplo clássico de absor-
sabendo que as escrituras negras deviam chegar a novo tipo de magia. A magia da Escuridão. As
ção pela Sombra. Determi-
Rokugan, Shosuro invocou sua presença. marcas que Shosuro/Soshi dava a seus aliados, seus nado a ganhar a força para
A Escuridão Viva seguiu Shosuro e os outros servos e seus filhos são retiradas da própria subs- ferir seus inimigos, a qual-
Trovões desde que entraram nas Terras Sombrias. tância da sombra no corpo e espírito de Soshi. Das quer custo, Iyekao foi a
Quer tenha sido atraída por uma força previamente almas em que toca, uma em quinze é tomada pela escolha perfeita para a Escu-
desconhecida a ela, ou se sabia de seu destino, a Escuridão… E nunca retorna. Estas almas anôni- ridão. Sua obsessão o dese-
lenda não diz. Dizem que Shosuro falou que ela mas foram o preço da barganha de Shosuro por mil quilibrou. O fato de ele
observou enquanto lutaram e derrotaram Fu Leng. anos. procurar por poder o tornou
Soshi, agora estabelecida em sua identidade ainda mais vulnerável.
Quando a última Trovão começou a voltar para
O que Iyekao não enten-
onde veio, ela a seguiu. A Escuridão desejou tama- como novo shugenja chefe de Bayushi, ajudou seu
dia era que ele tinha o poder
nho poder, tão dolorosamente perto. Mas podia senhor na construção do castelo Bayushi. Mas foi para fazer o que desejava,
sentir que mesmo no momento da morte e da maior aí que o plano começou a falhar. ele não pertenceria mais a
dor, ainda era pequena demais para possuí-lo. Soshi pretendia manter a Escuridão subjugada ele próprio o bastante para
Quando Shosuro clamou pela Escuridão para por sua própria vontade, usando-a como ela sempre lembrar o que queria fazer.
vir, ela foi até ela de bom grado. Embora Shosuro usou os outros. Mas Soshi foi se tornando cada vez Não há como saber ao certo
não reconhecesse o que encontrou, ela sabia que mais longe de sua antiga vida. Ele começou a sus- quanto, se houver, do indi-
era sua única esperança de escapar. Ela falou sem peitar se a própria ideia de tomar uma nova identi- víduo que restou após este
dade foi dele, e não da Escuridão. Nesta nova iden- processo. A Escuridão pode
palavras, e ofereceu força — em troca de servidão.
apelar à simpatia do peão
“Darei-lhe o que você não pode pegar,” ofere- tidade, tudo era menos certo, e terreno era tudo o
sempre que quiser. Mas a
ceu Shosuro. “Mas será nos meus termos ou nada que a Escuridão precisava. De repente, todas as semelhança carrega parte do
feito”. identidades de Soshi começaram a se misturar, caráter original, ou é apenas
E assim a Escuridão se deu a Shosuro, e ela se cada uma tentando se libertar enquanto a Escuridão uma ilusão causada pela
entregou, e juntas, elas voltaram a Rokugan. Sho- oferecia a cada uma sua própria chance no poder. imitação íntima?
suro sabia do perigo que carregava, mas também O controle que Soshi havia dominado começou a
havia visto a carnificina causada pelo Kami Malig- ruir enquanto o infeliz Bayushi observava inerte. (Continua)
no. Se era uma escolha entre o retorno de Fu Leng, Ouvidos atentos podiam ouvir vozes vindo das
ou a lenta invasão da Sombra, ela preferiu a Escu- câmaras de Soshi no meio da noite. A voz de
ridão. Bayushi fazia perguntas, às vezes estranhas, outras
Ela não tinha noção da imensidão de sua deci- vezes bizarramente simples. Ele perguntava a natu-
são. Embora a Escuridão Anônima parecesse pe- reza da sombra, e como alguém podia andar no
quena e fraca, ela não podia ter concebido a força nada. Então ele perguntava a estação predileta de
em que ela se tornaria ao longo dos anos, e por Soshi, soando como se seu coração se quebrasse.
milhares de almas anônimas. Às vezes era a voz de Soshi que respondia, mas
Shosuro depositou sua confiança na habilidade outras vezes, poderia ser uma dúzia de outras vo-
de Rokugan de encontrar algum meio, com o tem- zes, homens e mulheres. E, ocasionalmente, o
po, de enfrentar a Escuridão. Mas nem mesmo o ouvinte podia crer que era a voz da falecida Shosu-
ro que respondia.
Ainda assim,
Shosuro continuou
com sua farsa. Ele
aparecia na corte
regularmente ao
lado de Bayushi, e
apresentou Shinobi,
magia sombria, ao
Escorpião. Mas
Bayushi nunca foi o
mesmo, parecendo
sempre um pouco
Já é ruim se o irmão de triste, um pouco
Kaagi estiver morto há distraído.
muito tempo e sua imagem
só aparecer para provocar
seu irmão. Quão pior pode
ser se ele reter suas memó- A história da fa-
rias, um fantasma de si mília perdida de
mesmo, mas for incapaz de
fazer outra coisa além do
Goju é desconhecida
que a Escuridão ordenar? ao Império, e mes-
Outra vítima desta téc- mo os Ikoma não
nica é Ninube. Na terceira podem narrar o
aventura, Ninube tinha conto. A obra singu-
pouca ambição para ceder lar de Goju sobre a
voluntariamente às Trevas, Escuridão, as Ago-
mas seu medo foi seu fim. nias Celestiais,
Aterrorizada pelo pensa- nunca foi comparti-
mento racional, seu próprio
pânico criou uma passagem
lhada com os Clãs.
para a própria coisa que ela O Escorpião não
temia. A Escuridão teve tem registro dela
várias semanas para tomar a entre seus segredos,
garota. as bibliotecas Ikoma
Por toda a informação não sabem dela, e
que os Kitsuki têm dos mesmo os registros do Imperador não contêm uma guem. Enquanto Shosuro tinha o seu Bayushi, os
servos Sombrios virem do cópia do Texto Negro. Goju não tinham tal imortal lealdade, nada para
diário de Kaagi, eles come- Pouco se sabe dos Goju, salvo pelas pequenas impedi-los de se virarem completamente à Escuri-
çaram a chamar todos os
menções ao mortal com este nome, no começo do dão Enganosa.
distorcidos ou servos feiti-
ceiros da Escuridão por mundo (mesmo Hiroru não sabia quase nada deles, Sua magia não é maho, nem o caminho dos
“Goju”, e todo ninja que como visto no diário de Kaagi). Quando os kamis Kamis (os lacaios da Sombra são incapazes de
pratica a mudança de forma escolheram seus Grandes Clãs, Goju fugiu em usarem ambos). É o real Shinobi, a arte de torcer a
ou imitação é conhecido por terror, esperando escapar da influência dos kamis. realidade dando forma ao amorfo, e remover a
“Ninube”. Embora esta Talvez tenha sido a fraqueza de Goju que atraiu a forma para criar matéria. Não há membros da famí-
informação não seja precisa Escuridão a ele, ou talvez ela tenha reconhecido o lia Goju que não sejam corrompidos pela Sombra,
(Ninube se tornou um Goju), medo de Goju como o seu próprio. É certo que os e eles permanecem leais à sua aliada negra por
a convenção se tornou câ- Goju não são uma “família”, ao menos, não mais. todas as suas encarnações. Eles não esperam nada
non.
Embora possam ter descendido do Goju original, além de serem tomados pela Escuridão (e assim
eles certamente não são mais simplesmente com- receberem uma forma de imortalidade) quando
postos por parentes. Ao invés disso, os Goju inclu- serviram ao seu uso. Esta estranha mutação do
em seus descendentes, bem como os transformados bushidô serve bem à Escuridão, e ela usa seus
pela Escuridão que desesperadamente buscam lacaios impiedosamente.
manter seu nome. Feiticeiros da sombra, eles são Os Goju permitem que a Sombra os possua
tudo o que os Shosuro desejam ser, mas não conse- como convir a ela, e use de seus poderes enquanto
a Sombra permitir que eles existam. Em troca, a
Sombra ensinou aos Goju seus profundos segredos o que eles sabiam. Esta é a primeira das três formas
e mais poderosos horrores. Eles são mestres do de Possessão.
shinobi, mas servos da Sombra maior. Os bandidos
que Kaagi encontrou na Perseguição Unicórnio são
muito provavelmente liderados pelos Goju, bushis
fanáticos completamente dispostos a morrer para A melhor arma da Escuridão é sua própria natu-
libertar seu companheiro. reza, sendo irrestrita a uma só forma. Ela pode
Todo verdadeiro Goju tem Vazio 0, represen- parecer com qualquer pessoa ou coisa, tornar-se
tando sua separação do Sol e da Lua, e o roubo de sólida em qualquer forma que escolher, familiar ou
sua mais íntima identidade pela Escuridão. bestial. Ou não tomar forma alguma, livre para
mover-se por substâncias sólidas. Em sua natural
não forma, armas normais não podem feri-la, em-
bora se estiver assumindo uma forma material e
É importante notar que nem todo ninja é parte não quiser ceder o ardil, ela pode fingir ferimento.
da Escuridão Viva. Nem toda instalação de treino Jade e magias convencionais também são inefica-
Shosuro é um lar dela. Mas há locais que viram zes. Apesar de sua semelhança às sombras, e sua
alguns jovens treinarem uma forma mais estranha imitação, a natureza da Escuridão não é afetada por
de furtividade que as das escolas Shosuro. luz normal. Quando o Unicórnio re-
tornou das Areias Ardentes,
A Escuridão Viva dá alguma de sua substância Porém, luz refletida pelas facetas de cristal bri- eles encontraram a Escuri-
à família Shosuro; além da criação de suas Marcas lha por qualquer representação ou manifestação da dão pela primeira vez (vide
Sombrias, tiradas da deformidade da Escuridão em Escuridão Viva, e fere seus lacaios físicos. a Quarta Investigação). Eles
si. Marcas sombrias são uma forma diluída que a A Escuridão está numa posição única de poder determinaram que suas
Escuridão usa quando cria lacaios. Embora os extremo combinado com limitações estritas. Por próprias magias e encantos
Shosuro digam que a “tinta” seja feita das folhas de existir fora da ordem natural das coisas, ela só pode não a afetavam, mas o cris-
uma planta venenosa, a verdade é que eles não afetar diretamente os que a convidam para si. po- tal sim. Especificamente, a
sabem do que as “marcas” são criadas. As folhas rém, ao longo dos anos, ela aprendeu a criar e por luz do sol, ou da chama,
das plantas que usam para marcar a pele funcio- isto, ela sabe centenas de meios para trabalhar por refratada pelas facetas do
cristal, revelariam a Escuri-
nam, mas se lavam facilmente. Quando as marcas estas aberturas. A Escuridão tentará encontrar um dão pelo que ela é.
são aplicadas, durante as cerimônias tejina, a kage ponto fraco, um lugar onde podem ganhar um As outras propriedades
yakiin é aplicada, primeiro com a planta, e então… gancho até sua presa final. Assim que o fizer, ela são as seguintes:
com a Escuridão. está livre para tentar usar seus poderes. Quanto A Escuridão não pode
Pela arte da kage-yakiin, ou kage-dô, usar ape- maior a força da Escuridão, mais fácil se torna para passar por Cristal como faz
nas uma fração das Trevas, demora mais para o ela afetar o indivíduo no futuro. com outros objetos sólidos.
indivíduo marcado ser afetado. Requer duas mar- Porém, se a Escuridão não puder ganhar mais Nunca se registrou, mas
cas sombrias para obter um ponto de Sombra. As- vantagem sobre sua presa pretendida, então ela teoricamente uma explosão
sim que isto ocorre, o indivíduo em questão tem a pode afetá-la apenas por seus lacaios, homens e de luz grande o suficiente
poderia efetivamente desfa-
atenção da Escuridão Viva, e cada marca subse- mulheres que a permitiram entrar, e assim cederam zer uma manifestação som-
quente equivale a mais um ponto de Sombra. seu controle. Os Goju são armas perfeitas para a bria se a maioria de sua
Um mensageiro da Escuridão vem todo ano e Escuridão em casos assim. massa for afetada.
escolhe alguns alunos Shosuro para serem seus
braços e pernas, seus olhos e ouvidos. Estes alunos (Continua)
terminam o treinamento em estalagens isoladas. Os
prédios, todos de um andar, são feitos de madeira
preta oleosa, diferente de qualquer outra encontra-
da em Rokugan. Os alunos moram em dormitórios, A Escuridão procura por coisas que são dese-
dormindo ao dia e assistindo aulas à noite. Seus quilibradas nas pessoas. A melhor defesa é uma
mestres, todos idênticos em aparência, os ensinam passiva. Ter um alto nível de Vazio ajuda muito em
a se tornarem um com a sombra. À medida que os proteger uma pessoa da Escuridão. Personagens
alunos aprendem sobre a Escuridão, aprende com com qualidades obsessivas são mais suscetíveis.
eles também, para que no fim de seu “treinamento” Além disso, deixar desejo ou ambição nublar seu
eles possam se tornar parte da Escuridão. Ela pode julgamento, e aceitar presentes das Trevas, dá
usar suas formas à vontade, vestir suas faces, saber terreno livre para ela entrar.
Outra ferramenta da Escuridão é o medo. O
medo que a faz se esconder do Sol e da Lua é a
única sensação legítima que ela já experimentou. O alvo da Possessão gradualmente percebe que
Tudo mais tem sido uma imitação dos sentimentos não se lembra de certas coisas sobre suas vidas: sua
e sensações que ela testemunhou naqueles à sua cor favorita, o nome de sua irmã, que joelho ele
volta. Mas ela entende o medo, e associa o medo machucou quando criança. Externamente, ele se
ao poder já que o terror do Sol e da Lua ainda a torna cada vez menos ele próprio. Seu semblante
mantém escondida. Ao longo dos anos a Escuridão perde sua distinção até que não haja nada que o
se tornou especialista em invocar um profundo diferencie de qualquer outra face. Eventualmente,
senso de horror que torna suas vítimas mais vulne- mesmo essas características somem, deixando uma
ráveis. concha física lisa como pedra de rio. Quando isto
ocorre, a Escuridão roubou completamente sua
Há três métodos pelos quais a Escuridão cresce. identidade, tomando-a como sua.
Cada um com prós e contras. E qualquer um deles Após isto ter terminado, a Escuridão pode usar
podem ser praticados sobre homem ou animal. qualquer conhecimento ou habilidade que a vítima
possuía (isto não inclui habilidades místicas: estan-
do fora das leis da natureza, a Escuridão Viva é
incapaz de manusear as forças elementais puras
Este é o mais demorado, mas também o mais que constituem a magia rokugani). Ela também
proveitoso meio. Absorção é um processo íntimo pode vestir a forma que escolher. Quando a Som-
no qual a Escuridão atrai a vítima um pedaço de bra o faz, a forma é, em todo aspecto, sólida. Ela
Luz projetada desta ma- cada vez, lentamente roubando tudo que a torna ela pode ser tocada, farejada, etc. Mas pode ser dis-
neira em servos físicos da própria como indivíduo. Às vezes este processo é pensada sempre que conveniente. Rokugan está
Escuridão os fere. Eles voluntário (como com os cadetes Shosuro), embora cheia de histórias de ninjas metamorfos, uma cria-
sofrem 1 dado de Ferimen- a vítima normalmente não entenda a enormidade tura capaz de usar qualquer forma de sua escolha e
tos para cada rodada em que do que está ocorrendo. A Escuridão atrai a vítima, desaparecer como fumaça. Na atualidade, não há
forem sujeitos à luz. dando-lhe habilidades especiais ou erodindo suas
Até onde pode-se dizer,
limite ao número destes seres porque não são enti-
barreiras, emocional e mentalmente. dades separadas afinal, mas extensões da Escuridão
a luz refletida pelo cristal
facetado ganha uma com-
plexidade maior que a Escu-
ridão pode combater. Ela
pode iludir o olho, mas não
pode compensar tantas
variáveis, como um cama-
leão tentando se combinar a
um padrão que sempre
muda.
Outra teoria é que a Es-
curidão confunde a luz pelo
olho de Lorde Lua vindo
repentinamente a focar-se
sobre ela, um destino que
ela teme mais que tudo.
Viva. afetado de maneira alguma deste modo por este
A melhor defesa contra este tipo de ataque é processo de cópia. Porém, se a Escuridão pretende
passiva. Quanto maior o nível de Vazio, mais difí- manter a forma por qualquer quantidade de tempo
cil é para a Escuridão afetá-los. Quando Kaagi e não quer chance de interferência, ela pode sumir
encontra Mei no jardim durante a primeira aventu- com o original, destruindo o corpo ou deixando-o
ra ela expressa confusão sobre onde estava e o que em algum lugar onde não será encontrado.
esteve fazendo. Isto é típico para alguém que a Embora este método seja mais fácil e quase não
Escuridão tentou penetrar. Personagens que passem requerer tempo, a Escuridão não recebe qualquer
muito tempo sozinhos na presença da Escuridão benefício da absorção. Ela não pode usar as memó-
experimentarão confusão similar. Mesmo que seu rias e habilidades da vítima, e a cópia é mais pobre,
Vazio seja alto o suficiente para prevenir sua pos- já que a Escuridão só tem o que observou para
sessão, suas mentes serão confundidas como se usar. Conhecidos íntimos podem notar algo estra- TERRA 3
acordassem de um sono profundo. nho. A cor dos olhos pode não ser exata. A cópia ÁGUA 3 Força 4
pode ser canhota ao invés de destra. E não terá o FOGO 2
conhecimento da vítima. Porém, se o doppelgänger AR 1 Reflexos 3
está lidando apenas com aqueles que não conhe- VAZIO 0
A Escuridão também pode imitar qualquer for- cem o original, a fachada pode durar muito bem. Perícias Prováveis:
ma que escolher. O indivíduo sendo copiado não é Este é o caso do jo- Kyujutsu, Batalha, Defesa,
Etiqueta, Jiujutsu, Conheci-
vem Sokoi na primeira
mento: História, Iaijutsu,
investigação. O Sokoi Kenjutsu
real de fato se afogou no
lago do jardim vários Os dois “tipos” de Goju
anos antes de a história se diferem apenas em histó-
começar. A Escuridão, rico e perícias — um Goju
vendo que ele poderia que tenha nascido de sua
ser útil no futuro, tomou feitiçaria familiar será criado
sua forma e sumiu com entre os servos da Escuridão
(os que estão perdendo sua
o corpo.
identidade), enquanto servos
Mas o fez sem ter corrompidos e convertidos
tempo para uma total manterão suas perícias e
absorção. Afinal, a única anéis que possuíam durante
que provavelmente nota- sua existência prévia, antes
ria a sutil diferença era a de sua personalidade e
mãe do garoto, cuja distinção serem removidas
visão estava fraca e que (como Ninube).
tende a ignorar detalhes Todo Goju tem Vazio 0,
refletindo sua perda de
perturbadores ao invés
identidade. De início, eles
de persegui-los. Quando têm nomes como rokuganis
a Sombra termina, ela normais, mas quando tudo
simplesmente some, cede à Escuridão, eles se
permitindo que o corpo perdem, e possuem apenas
real de Sokoi (mantido seus nomes pessoais, even-
todo este tempo debaixo tualmente sua profissão
de água) ressurgisse, (como Espião, Raptor ou
assim evitando suspeitas Ladrão).
sobre seu paradeiro.

A Escuridão também
possui lacaios físicos.
Ela divide habilidades
especiais com alvos
voluntários, em troca
pelo serviço do alvo. Porém, a natureza amorfa da Na segunda aventura, a Escuridão usa a forma
Escuridão é eventualmente incompatível com for- do corrompido Hida Dasan para enfrentar os PdJs
mas materiais. Efeitos colaterais físicos resultam em combate enquanto dormem. Ela usa o medo
apenas num breve tempo neste tipo de relaciona- rokugani dos mortos, tentando fazer o máximo de
mento. Muito semelhante aos cadetes Shosuro que dano que puder causar à psique dos personagens
eram incapazes de tolerar o toque da Escuridão, enquanto dormem.
estes alvos começam a mudar. Seu rosto não some, Na quarta aventura, Shinjo Renari morre quan-
mas param de se adequar, dando às faces uma do a Escuridão o ataca num sonho. Se uma mani-
qualidade assimétrica, deformada. Os corpos res- festação da Escuridão atacar “fisicamente” alguém
pondem parecido; uma perna cresce mais que a em seus sonhos, e conseguir “matá-lo” lá, o perso-
outra, ou os dedos de uma mão não mais se dobram nagem deve fazer uma rolagem de Vazio contra
na mesma direção. Estes lacaios são extensões da NA 5 (o jogador deve fazer esta rolagem sem saber
A Escuridão Viva visa Escuridão Viva, e como tal, suas formas são sujei- que NA está tentando atingir — isto dá mais sus-
encontrar indivíduos que já
estão suscetíveis a suas
tas à sua vontade. Inicialmente, a Escuridão pode pense, e aumenta a sensação de risco). Se falhar,
maquinações mais comple- exercer suficiente controle sobre a foram do lacaio eles genuinamente morrerão, deixando marcas
xas. Ela encontra pessoas para impedi-lo de degenerar-se demais. Eventual- como as encontradas em Renari — digitais, hema-
que sejam desequilibradas, mente manter a integridade da extensão requer tomas, garras de dentro. A Escuridão raramente
cujos espíritos são fracos muita atenção da Escuridão. Quando isto ocorre, tenta isso, pois é óbvio, perturbador e ineficaz — o
por suas experiências passa- ela retira seu apoio inteiramente, deixando o lacaio objetivo final da Sombra não é matar, mas absor-
das ou personalidades volá- ao seu destino sem mais possuir coesão para funci- ver. Qualquer coisa menos é um desperdício de
teis. onar. Estas criaturas não duram normalmente mais esforço.
Várias Desvantagens em do que algumas horas ou dias antes de espirar hor- Um exemplo mais terrível e insidioso do uso de
L5A RPG refletem “pai-
xões” que a Sombra usa para
rivelmente, seus membros e órgãos internos retor- sonhos pela Escuridão vem no fim do item final do
ganhar a alma de um perso- cidos e rearranjados. diário de Kaagi. O magistrado Kitsuki, treinado
nagem. Um personagem Os bandidos da Sombra (Goju) nas terceira e toda a sua vida em extrema disciplina mental e
com estas Desvantagens está quarta investigações são exemplos de Corrupção. emocional se vê nos rituais de iniciação da Escuri-
mais propenso a ter a Som- Em troca de suas lealdades, a Escuridão os move dão em seu sono, quando suas defesas estão remo-
bra interferindo em sua vida, em velocidades incríveis, usando sua influência vidas, e sua mente está funcionando num estado
e estas fraquezas são alveja- para torná-los brevemente menos substanciais. Isto primitivo.
das e exploradas pela Escu- permite que eles ataquem e desapareçam em ritmos Assim como Ujina está vulnerável pelo seu re-
ridão em qualquer oportuni- incríveis. A Escuridão também lhes deu poderes lacionamento com Ninube, o irmão de Kaagi se
dade. Como Mestre, você
deve alvejar estes persona-
fantásticos de furtividade, funções corpóreas avan- torna uma vulnerabilidade familiar. Ao manter um
gens com persistência ex- çadas como audição e visão excepcionais, e até elo emocional com alguém que já pertence à Escu-
cepcional… Afinal, é por mesmo habilidades shinobi limitadas quando esti- ridão, você se abre para o ataque. Quando a Escu-
isso que eles ganharam verem preparados e provarem suas lealdades. Mui- ridão toma a forma de alguém querido a você, você
pontos gratuitos. tos dos bandidos quase viveram mais que sua utili- deve fazer sua rolagem de resistência de Vazio a
dade, e estão se movendo aos últimos estágios de NA +5.
Compulsão coesão.
Coração Vingativo
Fobia
Má Saúde Quando a Escuridão dá poder a um servo, ela
Maldição dos Kamis
A Escuridão aprendeu que humanos são mais põe parte de sua substância no lacaio. O corpo do
Mente Fraca
Momoku suscetíveis à sugestão enquanto dormem. Não é receptor luta para conter a escuridão e manter sua
Obcecado uma tática incomum visitar suas vítimas em sonho, forma, mas isto só pode ser mantido por um perío-
oferecendo-lhes presentes que poderiam nunca do limitado de tempo.
aceitar no mundo desperto, ou levá-los a pesadelos A Escuridão usa técnicas similares às de um
tão extremos que ficam emocionalmente perturba- ataque. Um servo totalmente corrompido (6 pontos
dos após acordarem. de Sombra) pode liberar um jorro sólido de seu
Quaisquer rolagens de Vazio feitas para resisti- próprio material num alvo, uma vez por dia. Uma
rem à Sombra aumentam em NA +10 enquanto se criatura física atingida por este ataque experimenta
está dormindo. Além disso, se o sonhador sofrer num instante o que demora semanas, meses ou até
efeitos de medo enquanto sob ataque da Escuridão mesmo anos para um indivíduo corrompido supor-
em seu sono, eles serão incapazes de usarem Vazio tar.
no dia seguinte, dando à Escuridão uma vantagem.
Um servo da Escuridão Viva que crie raios de A Escuridão Viva também pode criar um bol-
sombra rola 5k5 contra o NA de Acerto de seu alvo são de treva, a ausência da luz, tirando o nome de
escolhido. Se o raio atingir, seu oponente deve coisas que o observador afetado vê. Este é um
rolar seu Vazio contra a rolagem de ataque da processo temporário, dura apenas alguns momen-
Sombra. Se não conseguir atingir o número, ele tos. A Escuridão está apenas pegando o nome em-
recebe 3k3 Ferimentos quando o raio de sombra prestado brevemente, mas ao fazê-lo cria um vácuo
entra no corpo, explodindo a fúria bruta do nada. isolado, um pequeno espaço de nada. O efeito
Raios de sombra adicionais continuam a feri-los, pretendido é perturbar o alvo, provocando outra
até que se vejam literalmente disformes onde estão, abertura pela qual se insinuar.
semblante e membros jogados fora de lugar até que
fisicamente quebrem em nada.
Um alvo de um raio de sombra que resista com
sucesso aos efeitos danosos do ataque ainda serão Há rumores de mais uma manifestação da Escu-
injetados com a Escuridão. A Sombra sempre sabe- ridão Viva. A mãe de Isawa Kaede, Ninube, foi
rá onde o personagem está, e o personagem será uma manifestação da Escuridão, mas seu pai era
Matsu Hiroru usa um gi
afetado por pesadelos, manifestações e outros ata- um homem humano. O pai de Kaede, o Mestre do feito de puro cristal. É um
ques da Escuridão, à medida que ela tenta comple- Vazio, lhe deu um nome no seu nascimento, e item antigo, tido como sido
tar a conversão. Eles sentirão mãos ocasionais parece ter banido a Sombra dela, deixando-a intei- feito no tempo anterior aos
dentro de seus corpos, tentando sair, e sua visão ramente humana. Mas este incidente abre prece- Kamis. O item, tecido por
nublará e mudará de vez em quando. Na prática, dentes para a possibilidade de ocorrências simila- Lady Doji para seu sobri-
eles nunca se livrarão da Escuridão Viva, e ela res. Como ainda não há entendimento do que uma nho, o filho de Hantei,
nunca os permitirá se livrar de sua influência. Seu criança meio humana meio Sombra poderia ser dizem ter sido feito com o
capaz. Talvez Kaede, filha de uma Goju (Doji cabelo de Lady Sol, que ela
corpo começará um lento rompimento, resultando
usou para enxugar suas
numa sutil mudança de características, e o surgi- Ninube, mãe da recente linhagem de shinobi) e um
lágrimas enquanto chorava
mento de incomuns marcas ou dedos ou membros mortal, saberá com o tempo. por seus filhos perdidos. Ele
levemente encurtados (ou alongados). é mencionado no folclore e
Pelos raios de sombra não serem físicos, eles lendas como um item sagra-
não podem ser removidos com medicina ou perí- do, abençoado pelo Sol.
cias cirúrgicas, mesmo se um membro inteiro for Além de evitar a Escuridão Viva, manter um al- Ele aumenta o NA de
amputado. Não há sinal físico da infestação além to nível de Vazio, e tentar manter-se livre de tenta- Acerto do usuário por 15.
do leve “retorcer” do corpo, e absolutamente não ção, há bem pouco que um jogador possa fazer Além disso, se o usuário
contra uma manifestação direta. A única defesa que gastar um ponto de Vazio,
há sinal de Mácula das Terras Sombrias.
foi descoberta até agora veio das Areias Ardentes ele pode se ajustar, como
Apenas uma total manifestação da verdadeira um camaleão, para igualar-
Escuridão pode realizar raios de sombra. Lacaios, com o Unicórnio.
se ao seu cenário perfeita-
criaturas com menos de 6 pontos de Sombra, não Quando seus filhos foram devorados, Lady Sol mente contanto que o usuá-
têm a capacidade. chorou, e suas lágrimas caíram na terra. Quando rio não se mova mais rápido
Hantei cortou o estômago da Lua, gotas de seu que um passo lento.
sangue caíram e se misturaram com as lágrimas, Se alguém sabe que o
criando os homens. Porém, nem todas as lágrimas usuário está lá, pode-se
de Lady Sol se misturaram ao sangue de Lorde tentar localizá-lo com uma
Lua. As que caíram no solo e ficaram sozinhas rolagem simples de Percep-
A Escuridão não pode criar novas ideias, mas lentamente se endureceram, até que se tornassem ção contra NA 30, mas não
pode imitar qualquer coisa que já tenha observado, pedras brilhantes e claras… Cristal. Estes restos do se pode re-rolar 10 nesta
tentativa.
e desde que o mundo foi criado, ela teve muito Sol ainda têm bastante semelhança à sua dona para
tempo. Na terceira investigação, a escuridão se afetar a Escuridão. Eles ainda possuem um frag-
mostra como uma coruja com a voz de Ninube. mento de sua Real Visão. É por isto que a luz refra-
Depois, ela ataca Ujina como um enxame de cria- tada por um cristal pode ver através da Escuridão.
turas voadoras e com ferrões que o devoram parci- Também é por isso que a Escuridão Viva não pode
almente. passar pelo cristal. A substância é mais antiga que
Nos dois casos, ela está reproduzindo criaturas a Escuridão.
que já viu, mas alterando-as levemente para se Personagens podem não ser capazes de usar isto
adequar. O enxame é similar a qualquer massa de como uma arma muito potente contra a Escuridão.
insetos voadores, mas age como uma extensão do Mas podem comprá-la com o tempo, ou protege-
ser inteiro da Escuridão. rem-se de algumas manifestações menores. Mesmo
em pequenas doses, ajuda determinar se alguém é
parte da Escuridão Viva.
Na quarta investigação, os Unicórnios o usam
como um teste para ver se Kaagi é real ou não. Se a
luz atingir uma criatura corrompida pela escuridão, É crítico lembrar que ter um PdJ absorvido pela
ela causa 3k2 Ferimentos. Lacaios físicos e os não Sombra é equivalente a matar o personagem (você,
totalmente convertidos também podem ser comba- o Mestre, toma controle do personagem e usa-o
tidos e destruídos por meios convencionais. Alguns como um lacaio da Escuridão). Portanto, os mes-
ataques serão mais eficazes do que outros depen- mos cuidados e considerações que se aplicam a
dendo de quais habilidades a Escuridão lhes con- matar o PdJ precisam ser aplicadas aqui também.
cedeu. Quando você está usando a Escuridão em seu jogo,
Há várias coisas que o Mestre deve considerar os personagens devem se sentir como se estives-
ao usar a Escuridão Viva em seu jogo. Ela é mais sem ameaçados de maneira muito real. Deve haver
poderosa que os personagens. Ela não é um inimi- consequências para suas ações e suas inações.
go justo. Não é algo que possa ser enganado e Porém, antes de um personagem ser devorado, eles
Matsu Hiroru usa um gi devem entrar em contato por conta própria com
feito de puro cristal. É um derrotado de uma vez por todas. A Escuridão é
uma força primitiva. Os PdJs não podem impedir estas coisas.
item antigo, tido como sido
feito no tempo anterior aos que tufões ocorram. Tudo que podem fazer é su- A Escuridão é um inimigo íntimo. Por usar
Kamis. O item, tecido por portar qualquer tempestade. muitos de seus poderes num indivíduo, o persona-
Lady Doji para seu sobri- Em suma, os PdJs não podem derrotar comple- gem precisa recebê-la como uma oportunidade.
nho, o filho de Hantei, tamente a Escuridão enquanto entidade, logo não Faça iscas para seus jogadores. Dê-lhes a chance
dizem ter sido feito com o os ponha numa posição em que tenham que fazê- de abrir sua própria porta ao inimigo. Se o fizerem,
cabelo de Lady Sol, que ela
lo. A Escuridão é um inimigo caprichoso. Seus regularmente, então as chances da Escuridão ga-
usou para enxugar suas nhar terreno aumentam.
lágrimas enquanto chorava motivos são vagos e seus métodos, obscuros. A
exposição dos personagens deve portanto ser limi- Há vários meios de tentar seus personagens de
por seus filhos perdidos. Ele maneiras sutis. Na terceira investigação, muitas das
é mencionado no folclore e tada em lidar com incidentes específicos.
lendas como um item sagra-
coisas realmente estranhas ferem Ujina diretamen-
do, abençoado pelo Sol. te. Isto ocorre porque ele já tem um ponto fraco
Ele aumenta o NA de que permite uma abertura à Escuridão. No caso de
Acerto do usuário por 15. Ujina, a fraqueza é sua afeição por Ninube, que já
Além disso, se o usuário se tornou uma serva.
gastar um ponto de Vazio,
ele pode se ajustar, como
um camaleão, para igualar-
se ao seu cenário perfeita-
mente contanto que o usuá-
rio não se mova mais rápido
que um passo lento.
Se alguém sabe que o
usuário está lá, pode-se
tentar localizá-lo com uma
rolagem simples de Percep-
ção contra NA 30, mas não
se pode re-rolar 10 nesta
tentativa.
Presumamos que seus jogadores encontrem a Então, decida por uma estratégia para tentá-los em
Escuridão e ela escolha tentar possuí-los. O joga- dar uma entrada para a Escuridão.
dor deve fazer uma rolagem de resistência, usando Costure os pontos fracos da introdução dos per-
seu Vazio contra NA 20, modificado pelas circuns- sonagens, já que é assim que a Escuridão começa-
tâncias do “ataque”: usar a face de um amado, ou o ria. Um exemplo simples poderia ser abordar um
personagem ter restos de um raio de sombra dentro PdJ conhecido por sua ambição e sua falta de resis-
dele, aumenta o NA em 5. Outras circunstâncias tência moral e oferecer-lhes a oportunidade de
podem aumentar este número ainda mais, com o juntar-se imediatamente. Em troca de juras de
Mestre determinar. Cada vez que o personagem aliança a um novo mestre, eles receberão poderes
falhar, a Escuridão ganha um ponto de influência de furtividade aumentada, etc. Quanto da natureza
TERRA: 2
com o personagem. Quando estes pontos de in- de seu novo mestre você revela a eles cabe a você. ÁGUA: 3
fluência se tornarem maior que o anel de Vazio do Esta é uma grande oportunidade de trabalhar as FOGO: 2 Agilidade 3
personagem, ele se torna completamente absorvido Desvantagens e históricos de seus personagens AR: 4
pela Escuridão e não pode mais ser jogado como também, as coisas que realmente tornam seus per- VAZIO: 2
PdJ. Toda vez que seu jogador aceitar uma dádiva sonagens únicos. Ofereça a seus personagens coi- Escola/Nível: Bushi
da Escuridão, um poder, um favor, uma influência, sas que eles queiram, mas com fios ligados. Matsu 3
etc., o NA é permanentemente aumentado por mais Há uma velha história chamada “A Garra do Honra: 1,2
5. Macaco”. Nela, uma família recebe um item mági- Glória: 6,1
Status: -
Lembre-se, mesmo se os personagens não esti- co que lhes permitem três desejos. De início, eles Vantagens: Chantagem
verem dispostos a deixar a Escuridão entrar, ou se hesitam em usá-la, mas eventualmente sua cobiça (Vários), Astuto, Rápido
forem fortes o suficiente para evitar o contágio, os supera, e eles desejam uma larga soma de di- Desvantagens: Má Re-
eles ainda podem ser afetados por servos físicos. nheiro. Eles ganham o dinheiro, mas ele vem na putação
forma de um seguro quando o filho mais velho é Perícias: Kyujutsu 3,
morto num acidente de trabalho. A mãe depois Atléticos 2, Defesa 2, Eti-
deseja que o filho viva de novo, e ele retorna como queta 1, Jiujutsu (Kaze-dô,
um fantasma. O último dos desejos é usado para Mizu-dô) 3, Caça 3, Iaijutsu
enviá-lo de volta. Este é um conto de fadas e serve 1, Kenjutsu 2, Trancas 1,
É provável que eventualmente um de seus PdJs Conhecimento: Kolat 2,
para passar uma lição de moral oposta a uma intei- Conhecimento: Ninja (Escu-
possa ser corrompido pela Escuridão. Caso isto ramente pragmática.
ocorra inadvertidamente ou deliberadamente de sua ridão) 2, Ninjutsu 3, Vene-
O jogador dentro de todos nós nos diz: por que nos 1, Sinceridade 3, Furti-
parte, isto leva novas questões a você como Mes- não usar o último desejo para desfazer tudo o que vidade 3
tre. foi feito, ou desejar que o filho volte como era
antes da morte? Mas a essência da história é o que Matsu Hiroru, filho da
importa aqui, a ideia de que nenhum bem pode vir daimyo Matsu (Matsu Yu-
destas coisas. A Escuridão Viva trabalha num naki e seu marido, Uniri) e
Em qualquer boa seção de RPG, os persona- irmão de Matsu Tsuko, é um
princípio similar. Ela é grande e velha demais para
gens têm ao menos algum controle sobre seus jovem que acabou de passar
ser facilmente compreendida, e associação próxima
destinos. As coisas que devem fazer devem afetar o pelo seu gempukku. Ele é o
destruirá a frágil substância do homem. aluno predileto de Akodo
final, mesmo que os resultados não sejam necessa-
Ofereça a seus personagens o que eles querem. Kage, e serve como assisten-
riamente os esperados. É importante que ao fim da
Ponha a mesa diante deles e deixe-os olhar para ela te ao Guardião do Salão dos
seção de jogo, seus jogadores sejam capazes de
por um bom tempo. Deixe-os pensar a respeito. Por Ancestrais do Leão (uma
olhar para trás e dizer: “Posso ver que o que eu fiz
exemplo, um personagem pegou a Desvantagem posição que, como primeiro
no começo afetou o fim do jogo”. filho do daimyo Matsu, ele
Segredo Sombrio. Dê a ele a oportunidade de se
Isto é especialmente verdadeiro quando as coi- está destinado a herdar).
livrar dele. Ou talvez eles tenham o azar de estar
sas que ocorrem diretamente afetam o personagem
sob Maldição de Benten. A Escuridão pode dar-lhe
do jogador. Para o fim de infectar os PdJs com a (Continua)
a ilusão de beleza e carisma. Ele pode se livrar do
Escuridão Viva, é de máxima importância que eles
fantasma que os assombra. Pode aplacar sua sede
ao menos tenham alguma escolha na questão. An-
por sakê. Pode oferecer-lhes a cabeça de seu Ini-
tes de apresentar a Escuridão em seu jogo existen-
migo Jurado na proverbial bandeja. Pode trazer de
te, use um pouco do tempo, e desenvolva um plano
volta seu amor perdido. E tudo parece fácil demais.
de ataque para cada um de seus jogadores. Leve em
Pode haver um custo, mas como poderíamos com-
consideração a personalidade do personagem: uma
parar a satisfação do seu objetivo de vida ao seu
predisposição pelo poder, uma obsessão por vin-
alcance, ou o seu sentimental desejo em suas
gança, etc. Estas coisas atrairiam a Escuridão.
mãos?
Treinado em vários esti-
los marciais, furtividade e
outras artes sinistras pelo
seu mestre, Hiroru serve aos
interesses dos misteriosos
Kolats. Ele sabe muito da
Escuridão através deles, pois
os Kolats têm seus próprios
interesses ameaçados pela
Sombra. Desde o seu gem-
pukku, ele tem sido enviado
para usar seus talentos con-
tra os Goju e outros servos
da Escuridão Viva.

Hiroru ainda é um ho-


mem jovem, idealista e
completamente dedicado ao
seu sensei. Ele crê que está
fazendo bem para Rokugan.
Kage o convenceu comple-
tamente de seu propósito, e
o instruiu que quaisquer atos
desonráveis que seja forçado
a cometer pode ser explica-
do como seu dever de direito
para com o Leão, e por ele,
ao próprio Imperador.
Hiroru perdeu seu gosto
pela honra quando criança,
quando testemunhou as
mortes da esposa e filha do
Campeão da Fênix. Desde
então, ele só tem vivido para
servir a Kage (e por ele, os
Kolats). Se esta força de
propósito for tirada dele, ele
pode muito bem enlouque-
cer.
À medida que um PdJ acumula mais e mais
Pontos de Sombra , eles provavelmente realizarão
Há inconfundíveis benefícios para PdJs que se muitos atos fora do personagem. Seu rosto começa
envolverem com a Escuridão. Infelizmente, eles a sumir, e outros membros do grupo podem come-
são relativamente curtos. Vide a mecânica para çar a notar a mudança. Outros personagem pode
possessão gradual. Ainda assim, no ínterim, os rolar seu Ar contra NA 40 – (5 x o número de
PdJs terão acesso a habilidades inteiramente novas. Pontos de Sombra do personagem afetado) para ver
Infelizmente de novo, a força do benefício é dire- se notam algo seriamente ausente.
tamente ligada à progressão de sua dissolução. Para
cada rolagem falha contra a Escuridão, os persona-
gens recebem mais um ponto de Sombra e mais
uma habilidade. Há um elo direto entre estes novos
poderes e a quantidade de Escuridão real existente
no PdJ. Aqui estão algumas dicas para decidir o melhor
meio de usar a Escuridão Viva em seu jogo. Como
já dito, a Escuridão é uma entidade vasta. Tentar
destruí-la seria como tentar marchar e matar o
Sempre que um PdJ se tornar contaminado eles Dragão do Fogo. Assim, evite jogos onde o objeti-
são Marcados pela Escuridão. Esta Marca é similar vo é se livrar dela. Aqui estão alguns objetivos que
a uma Marca Sombria, mas existe no interior da podem ser mais razoáveis:
pele do personagem. Ela se torna visível, chegando  Eles podem encontrar conhecimento revelan-
à superfície sempre que um indivíduo usa ativa- do parte ou toda a natureza da Escuridão. Eles
mente um poder da Escuridão. A Marca se torna fazem disso sua missão para buscar prova de sua Os personagens dos jo-
mais visível cada vez que obtêm outro Ponto de existência e revelá-la ao resto de Rokugan num gadores são abordados por
Sombra também. Eventualmente, ela se tornará um esforço de avisá-los. um estranho encapuzado que
sinal óbvio e permanentemente visível. O formato  Um ou mais personagens podem estar infec- diz que ele pode dizer-lhes a
normalmente parece na forma de linhas retorcidas, tados com a Escuridão e à procura de qualquer verdade sobre a Escuridão
similar a correntes ou gotas de sangue, mas não outro traço de Sombra na esperança de encontrar Viva… Se eles realmente
tem substância — os elos parecem tridimensionais, um meio de reverter o processo. Embora não haja quiserem saber. A figura é
Kaagi. Cabe a você se esta é
mas são planos contra a pele, enquanto o sangue cura, pode ser possível retardar o processo por um
uma oportunidade para
parece jorrar da pele, mas não deixa rastro e não tempo. O mais perto que alguém já chegou disso é divulgar informação que
mancha a roupa. A Marca sempre parece ter subs- Isawa Ujina, o Mestre do Vazio (vide a Seção seus jogadores ainda não
tância, mas assim que tocada ou investigada, ela Quem é Quem no Caminho da Fênix para saber o tenham, ou se você quer isto
não é mais do que uma macha sobre a pele do PdJ. fim da história de Ujina). Após ter sido atingido seja um truque para corrom-
por um raio de pura substância Sombria, muitos per os PdJs como Kaagi foi
teriam sucumbido imediatamente. Mas a afinidade corrompido.
de Ujina pelo Vazio e sua imensa vontade o permi-
Assim que a Escuridão tem terreno no persona- tiram existir por anos com o espinho corruptor
gem, ela começa a exercer influência também. A ainda dentro dele. Isto distorceu seu corpo obsce-
força desta influência aumenta à medida que o PdJ namente, mas ainda não o tomou. Ele foi incapaz
acumula pontos de Sombra. Sempre que servir à de removê-lo.
história, a Escuridão pode tentar exercer influência Outra opção é não revelar a total natureza da
sobre os PdJs afetados. Quando você decidir que a Escuridão aos seus jogadores, mas fazê-la aparecer
Escuridão está dominando os eventos, use as se- em vários pontos, combinada com seus jogos mais
guintes mecânicas para determinar o sucesso e regulares. Deste modo os jogadores podem identi-
falha do processo. ficar que algo está estranho, mas são incapazes de
A Escuridão rola um dado para cada Ponto de especificar os detalhes precisos.
Sombra que o personagem possuir. Se a ação fizer
jus à personalidade do PdJ, o NA é igual à Vontade
do personagem x 2. Se for algo estranho ao perso-
nagem, o NA é igual à Vontade do personagem x
5. Se for inteiramente contra a natureza do perso-
nagem (como atacar outro membro do grupo), o
NA é igual à Vontade do personagem x 10.
Anos após o diário de Kitsuki Kagi ter sido re-
cuperado por Kitsuki Yasu, a obra completa conti-
nua não lida. Yasu eventualmente recebeu permis-
são para um de seus yojimbos revisar a obra. O
yojimbo, o filho de Yasu, Jusai, leu o bastante para
perceber que qualquer um que continuasse se con-
taminaria pela Escuridão assim como Kaagi. Kit-
suki Jusai absorveu o bastante da obra para desco-
brir a utilidade do cristal, e antes de sucumbir à
Escuridão, um quarto foi construído nos confins do Abaixo está uma descrição de personagem de
castelo Mirumoto (o local mais facilmente defen- Kitsuki Kaagi, para uso como PdM em aventuras
sável) com as paredes e teto construídos inteira- posteriores, ambas envolvendo a Sombra e com
mente da única substância que tinham para manter menos dificuldades sobrenaturais. Três descrições
Uma mulher aborda os este novo inimigo afastado. O yojimbo de Yasu
personagens e lhes pede de sua companheira, Meilekki, são dadas, para que
entrou na sala, levando o livro com ele continuou a a que você achar mais apropriada possa ser sua
para por favor ajudarem-na
ler suas páginas e relatar suas descobertas até que assistente. Lembre-se, a Escuridão é astuta — Mei
a encontrar seu irmão desa-
parecido. Ela dá a eles uma ficasse aparente que suas palavras não eram mais pode ser qualquer uma, todas ou nenhuma delas.
lista de relatos de lugares dele. Cabe a você.
onde ele foi visto, mas diz À medida que os dias se passavam, o honrado
que ele está possuído por yojimbo se tornou menos e menos substancial ao
uma loucura que o impede olho humano. Nas semanas seguintes ele não podia
de encontrar o caminho de mais ser visto, sua voz ecoava pelos corredores,
casa. Ela pede aos PdJs a TERRA: 3
implorando para ser salvo, rindo loucamente, e por ÁGUA: 2 Percepção 4
ajudarem-na a encontrá-lo, vezes só berrando — longos e intermináveis berros
mas avisa que assim que o FOGO: 3 Inteligência 4
que nunca paravam para respirar. AR: 3 Consciência 5
fizerem, eles devem deixá-
los sozinhos. Eles não de- Desde esta época, mais dois Kitsuki, homens VAZIO: 4
vem abordá-lo ou interceptá- velhos que tinham alguns anos restantes para servir Nível/Escola: Magistrado Kitsuki 4
lo sob qualquer circunstân- ao Clã, se voluntariaram para ir à sala e continuar a Honra: 6,2
cia. obra de Yasu. Seus destinos foram o mesmo, mas Glória: 6,4
A mulher, é claro, é cada um ganhou mais noção sobre a natureza do Status: 4,2
Mei. E seu “irmão” que ela inimigo menos conhecido de Rokugan. Ninguém
está procurando é Kaagi. Vantagens: Mente Rápida, Grande Destino,
entrou na sala em meses após os últimos gemidos Laço Kármico (irmão), Ler Lábios
Dependendo da versão de serem ouvidos, mas as paredes continuaram a ra-
Mei que você escolheu das Desvantagens: Obcecado, Coração Mole
char e escurecer à medida que a corrupção interna Perícias: Atléticos 2, Corte 4, Defesa 3, Eti-
opções de PdM, ela pode ser
uma representante da Escu- persiste. queta 4, Falsificação 4, Jogos 2, Heráldica 4, Me-
ridão, enviada a ele para Nesta sala, num pedestal feito de cristal, o diá- dicina (Herbalismo) 3, História 4, Caça 3, Investi-
consumi-lo de uma vez. Ou rio de Kaagi espera pelo próximo leitor. gação 5, Kenjutsu 3, Facas 2, Lei 5, Meditação
ela pode estar desesperada- (Recuperação de Vazio) 5, Conhecimento: Ninja 3,
mente tentando encontrá-lo
Venenos 4, Teologia (Shintao) 3, Prestidigitação 3,
para tentar trazê-lo de volta
a si. Furtividade 2

TERRA: 3
ÁGUA: 2 Percepção 3
FOGO: 2 Agilidade 4
AR: 3 Consciência 4
VAZIO: 3
Nível/Escola: Dama Guerreira Utaku 3
Honra: 0,0 Quando ele a manda ir embora, ela o segue,
Glória: 0,6 ainda esperando afastá-lo do perigo. Ela não ousa
Status: 0,0 se revelar quando ele encontra o Unicórnio por
Vantagens: Sorte (3), Bênção de Benten medo de que a reconheçam. E pouco depois disso,
Desvantagens: Ovelha Negra, Segredo Som- ela se afasta e Kaagi fica por conta própria. Incapaz
brio, Pequena, Desvantagem Social de reencontrar sua trilha, ela começa a jornada de
Perícias: Atuação 4, Tratar Animais 4, Atléti- volta ao Castelo Kitsuki. Na estrada, ela encontra
cos 3, Batalha 1, Criação: Forja 3, Defesa 4, Eti- um camponês carregando o diário de Kaagi. Ela
queta 4, Jiujutsu 3, Medicina (Herbalismo) 1, Ca- suborna o garoto para lhe dar os papéis e lê o sufi-
valaria 5, Kyujutsu 3, Investigação 2, Kenjutsu 2, ciente para entender o que acometeu Kaagi. Devol-
Facas 1, Conhecimento: Escuridão Viva 1, Sinceri- vendo o diário para o castelo Kitsuki, ela pega a
dade 4, Furtividade 4 estrada para continuar sua busca por ele.

Criada ouvindo histórias de coragem e valor


das Damas Guerreiras, Otaku Meilekki viveu em
antecipação de seu décimo terceiro aniversário TERRA: 3 Os personagens dos jo-
quando ela seria totalmente iniciada e faria um laço ÁGUA: 2 Percepção 3 gadores recebem o pedido
com seu próprio corcel. Meilekki se destacou em FOGO: 2 Agilidade 4 de um daimyo do Escorpião
seu treinamento, e quando tinha dezesseis anos, ela AR: 3 Consciência 4 para caçar um de seus pró-
estava no topo da classe, tendo alcançado a segun- VAZIO: 4 prios homens, um assassino
da técnica de sua escola. Nível/Escola: Atriz Shosuro 4 Shosuro. O daimyo não
No verão do décimo sexto de Meilekki, um in- Honra: 0,0 revelará isto, mas o assassi-
no é na verdade um Ninja
cêndio irrompeu perto de seu vilarejo. Já que o Glória: 0,5 que adquiriu quatro Pontos
incêndio era a ainda algumas minhas, Meilekki e Status: 0,0 de Sombra. Ele não é um
outras damas guerreiras cavalgaram e tentaram Vantagens: Sorte (3), Bênção de Benten dos que a Escuridão pegou
detê-lo. Empunhando foices, elas cortaram a grama Desvantagens: Segredo Sombrio, Pequena para treinamento, mas está
e as recolheram para limpar a trilha do fogo. Suas Perícias: Atuação 5, Defesa 5, Etiqueta 4, Fal- sendo lentamente corrompi-
companheiras gritaram para Meilekki ficar fora do sificação 5, Investigação 2, Trancas 4, Medicina 3, do ao nada. Suas Marcas
fogo, e trabalhar numa distância segura, mas a Meditação 3, Venenos 5, Sedução 5, Furtividade 4, Sombrias iniciais o abriram
garota teimosa continuou a cortar a grama perto do Prestidigitação 4, Sinceridade 4, Facas 5 à Escuridão e ela está se
fogo, certa de que este era o tipo de bravura de que Perícias de Geisha: Atuação 5, Etiqueta (Con- movendo.
Ele está à beira de ceder
as lendas eram feitas. versação) 4, Dança 4, Etiqueta 4, Música 3, Sedu- ao controle da Sombra. Seu
As Damas Guerreiras tiveram sucesso. Mas ção 4, Sinceridade 4, Cerimônia do Chá 3 próprio povo sabe disso e
quando as amazonas deram um alto brado, Mei Perícias de Serva: Tratar Animais (Cavalo) 4, pretende se livrar dele antes
sentiu seu cavalo titubear e cair, derrubando-a no Comércio 4, Etiqueta 4, Heráldica 2, Medicina de perder sua autonomia e se
chão duro. Lutando, Mei se arrastou até onde seu (Herbalismo) 4, Cerimônia do Chá 3 tornar um perigo para eles.
cavalo estava agonizando no chão. Seus lados Temendo a morte, e aterrori-
pesavam e suas narinas ardiam, mas ele havia res- A amiga e companheira que Kaagi conhece zado por sucumbir à escuri-
pirado fumaça demais. Enquanto Mei olhava inu- como Meilkekki é na verdade Shosuro Sashen, dão, ele decidiu fugir. Os
tilmente, as respirações ficavam cada vez mais uma talentosa e formidável atriz. Desde cedo, Kaa- jogadores têm que encontrá-
lo enquanto ele ainda tem
lentas e curtas até que o animal finalmente morreu. gi chamou atenção do alto escalão da família Es- uma forma corpórea para
Com o coração rompido, Mei empacotou suas corpião. Ao invés desta suspeita fazê-lo sumir lutar.
bolsas. Ela só levou o que era prático, não levando totalmente, eles decidiram controlar suas descober-
lembranças. Desde este tempo, ela fez estranhos tas, transformando sua busca pela verdade numa
trabalhos, não falando de sua herança bushi. Ela vê ferramenta de sua própria ilusão. Sashen, em seu
em Kaagi parte do idealismo de que ela escapou, e disfarce treinado como uma polivalente campone-
tenta quando pode protegê-lo de suas noções. sa, entrou na vida de Kitsuki com facilidade. Qui-
Mei lembra dos contos da Escuridão Enganosa eta, prestativa e amigável, ela agora viaja com ele,
de sua infância, mas nunca lhes deu muito crédito. relatando suas descobertas à sua casa, e, quando
Ela tenta afastar Kaagi de sua busca pela Escuri- necessário, redirecionando os resultados das inves-
dão, mas ela não o deixará. Os laços de lealdade tigações de Kaagi.
que ela cortou de seu cavalo lentamente se ligaram Sashen também tem planos. Sashen é alta o su-
em Kaagi. ficiente no meio dos Shosuro para saber mais do
que meros rumores sobre a Escuridão; o que ela como fingir ser alguém de melhor posição ou de
sabe a convenceu de que a secular barganha entre profissão diferente, bem como alguns segredos
as Sombras e Shosuro veio a um alto preço. mais íntimos do ofício.
Ela está ajudando Kaagi em busca da verdade Eventualmente, Mei levou as perícias que
na esperança de que seus incomuns métodos pos- aprendeu para outra casa, em outro vilarejo. Desta
sam lançar alguma luz na antiga Escuridão. Após vez ela trabalhava como uma real geisha. Não
ela “o deixar” para voltar ao castelo Kitsuki, ela na demorou para que ela ficasse incomodada de novo,
verdade o segue, se escondendo com sucesso entre e quando um de seu patronos, um belo e vão lorde
os Unicórnios. Quando ele se separa deles, ela o da Garça, mostrou mais do que um interesse passi-
segue até o Templo, mas espera do lado de fora até vo nela, ela o convenceu a comprar seu contrato.
que ela o vê fugir na tempestade. Ela o oferece sua Foi viajando com seu senhor que ela encontrou
mão, mas ele continua correndo, e ela o perde no Kaagi durante uma visita ao castelo Kitsuki. Inco-
rio. modada novamente, Mei usou suas perícias de
Ela o encontra de novo em sua rota para casa, manipulação para fazer o lorde da Garça crer que o
mas o segue à distância, percebendo que a Escuri- favor dos Kitsuki valia mais do que a companhia
dão o infectou. Disfarçada de um garoto camponês, de Meilekki. Deste ponto em diante, ela viajaria
Há um rumor de que os ela toma seu diário, e em sua identidade como Mei como companheira do magistrado.
Togashi podem ter um meio ela o leva de volta ao castelo Kitsuki, na esperança Kaagi ainda não está certo sobre o passado de
de remover marcas sombri- de que eles descubram o bastante para ser uma Mei. Ele sabe que suas perícias e poderes de obser-
as, e possivelmente exorci- ameaça real à Escuridão. vação complementam os seus, e que sua conversa
zar a Escuridão Viva de uma torna a viagem mais agradável. Infelizmente para
pessoa inteiramente. Perso- Kaagi e Mei, sua curiosidade finalmente é sua
nagens de jogadores afligi- ruína no meio da investigação de Kaagi no castelo
dos com Pontos Sombrios Ichime. Enquanto se sentava no jardim com Sokoi,
TERRA: 3
podem querer investigar este
ÁGUA: 2 Percepção 3 Mei é afligida pela Escuridão Viva. Prometendo
rumor.
Eles podem realizar uma FOGO: 3 Inteligência 4 locais interessantes para ver e pessoas fascinantes
jornada para encontrar o AR: 3 Consciência 4 para conhecer, a Escuridão ganhou seu primeiro
elusivo castelo Togashi, ou VAZIO: 2 terreno sobre Mei. Deste ponto em diante, ela tem
seguir pistas sobre um mon- Nível/Escola: Nenhuma um ponto de Sombra e a furtividade aumentada que
ge andarilho, que possui a Honra: 0,0 vem com ele. Isto também é o que lhe dá a estranha
habilidade. Glória: Nenhuma (Eta) imunidade que ela demonstra ao veneno no fim da
Não há realmente meio Status: 0,0 primeira investigação.
de remover uma mácula da Durante a segunda investigação, Mei recebe a
Vantagens: Sorte (3), Bênção de Benten
Escuridão Viva, mas isto
Desvantagens: Pequena, Desvantagem Social segunda Marca (um segundo Ponto de Sombra).
não significa que os jogado-
res não podem continuar Perícias: Atuação 4, Tratar Animais (Cavalo) Ela agora pode se mover com a rapidez da Sombra.
procurando. A verdade é que 4, Comércio 4, Defesa 3, Etiqueta 4, Heráldica 2, Na terceira investigação, Mei se afasta de seu
o rumor é confuso. Ele Medicina (Herbalismo) 5, Caça 3, Investigação 3, companheiro durante a noite e usa sua rapidez para
deriva dos Togashi terem Facas 3, Sinceridade 4, Cerimônia do Chá 3, Tran- ir à frente na caverna. Lá, ela barganha pela vida de
sido capazes de remover cas 3, Falsificação 2, Jogos 2 Kaagi (a Escuridão concorda, já que tem outros
tatuagens corrompidas, não Sombra: 3 planos para ele de qualquer modo) e ela ganha a
Marcas Sombrias. terceira Marca, insubstancialidade.
Meilekki nasceu filha de um mercador de chá. Hiroru sente a Escuridão crescente em Mei, e
Quando seu pai desagradou seu senhor e foi execu- assim convence Kaagi a mandá-la embora antes de
tado, Meilekki se viu limpando uma casa de continuar sua jornada. Mas por hora, é tarde de-
geishas. Uma casa de geishas do Escorpião. Com mais. Assim que Kaagi se vai, não há mais neces-
só treze anos, e inquisitiva ao extremo, Mei presta- sidade de fingir. A Escuridão absorve Mei comple-
va total atenção às mulheres que servia. Muitas tamente, usando seu conhecimento e visão em sua
delas achavam a garota encantadora e ela se mos- vantagem nos últimos seguimentos da história.
trou valiosa fazendo favores extras para elas — Usando a face de Mei, ela entrega o diário de Kaa-
ajudar com o cabelo, fazer compras, entregar men- gi ao castelo Kitsuki para que a contaminação
sagens, etc. Em troca, as mulheres a ensinaram possa continuar.
alguns truques simples: como parecer sincera,

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