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TEXTO DE APOIO PARA AULAS DE ANTROPOLOGIA GERAL

2º Ano de Filosofia/ISCED/ 2º Semestre

Docente: Afonso Nkuansambu1

Sumário

Nota Introdutória

1. CONCEITO E DIVISÃO DE ANTROPOLOGIA


1.1 Antropologia: Pertinência e âmbito de acção
1. 2 O Antropólogo e suas atribuições
1. 3 Definição
1.4 Objecto de estudo de Antropologia
1. 5 Paradoxo antropológico
1. 6 Divisão ou ramos de antropologia segundo Félix Keesing
1.7 Divisão de Antropologia segundo Augusto Mesquitela Lima

2. MÉTODOS E TÉCNICAS PARA PESQUISA ANTROPOLÓGICA


2.1 Princípios do método antropológico:
A. O Principio holístico:
B. Princípio histórico:
C. Princípio comparativo:
D - Princípio interdisciplinar
4.2 Técnicas do método antropológico
A. Procedimento metodológico:
B. Atitudes basilares
C. Documentação
D. Observação participante
E. Outras técnicas específicas

3. BREVE PERCUSO HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA


3.1 História da Antropologia
3.2 Períodos históricos da evolução da Antropologia
3. 2. 1 Período de formação
3. 2. 2 Período de Convergência
3. 2. 3 Período de construção
3. 2. 4 Período Crítico
3.3 O Museu Nacional de Antropologia (Angola)

1
Graduado em Pedagogia, pela Universidade Católica de Angola; -Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica
de Angola; -Pós-Graduado (Especialista) em Gestão Educacional, pela Universidade Católica de Brasília (Brasil); -
Mestre em Ciências da Educação, na especialidade de Administração e Política Educacional, pelo Programa de Pós-
Graduação, na Universidade de Desarrolo Sustentable de Asunción. Doutorando em Filosofia e Ciências da Educação.
Leitor assíduo de Xavier Murillo e Jacques Maritain

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4. DINAMISMO CULTURAL
4. 1 O conceito da cultura: etimologia
4.1.1 Definição
4.2 Cultura: Funcionamento e Mudança
4.3 Processo Cultural: Aspectos Sincrónicos
4.3.1 Processo de Endoculturação ou Enculturação
4.4 Processo Cultural: Aspectos Diacrónicos
4.4.1 Invenção e Descoberta
4.4.2 Difusão cultural
4.4.3 Processo de Aculturação
4.4.4 A Desculturação
4.4.5 A Inculturação

5. FUNDAMENTOS VALORATIVOS DA CULTURA


5.1 Preconceito cultural
5.1.1 Complexos de superioridade e de inferioridade
5.1.2 O Etnocentrismo
5.1.3 Reducionismo
5.1.4 Tendências a negar as diferenças
5.1.5 Uso de termos indevidos

Referências Bibliográfica

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Nota Introdutória

O Homem como ser social, sentiu a necessidade de conhecer-se e conhecer os outros para
poder estabelecer relações. Nesta conformidade, a Antropologia como toda e qualquer ciência tem as
suas particularidades que a torna mais complexa, desde o seu ponto de vista epistemológico ao seu
impacto na vida concreta do individuo.

Para pensar as sociedades humanas, a antropologia preocupa-se em detalhar, tanto quanto


possível, os seres humanos que as compõem e com elas se relacionam, seja nos seus aspectos físicos,
na sua relação com a natureza, seja na sua especificidade cultural, económica, politica, afectiva,
religiosa e até mística. Para o saber antropológico o conceito de cultura abarca diversas dimensões:
universo psíquico, os mitos, os costumes e rituais, suas histórias peculiares, a linguagem, valores,
crenças, leis, relações de parentesco, entre outros tópicos. A Antropologia existe desde que exista o
homem, mas como disciplina cientifica, ela é recente (século XIX).

Portanto, nesta disciplina seleccionam-se conteúdos elementares e gerais, mas profundas que
consideramos susceptíveis para um debate aberto, e de uma adequada aprendizagem pelos estudantes
da 2º do curso de Filosofia, num leque de cinco (5) pontos, divididos numa proporção de dois por
mês, cuja implicância e materialização é flexível do ponto de vista metodológico de acordo os pré-
requisitos apresentados pelo grupo-alvo; e uma bibliografia bastante actual, caprichada e sugestiva.
Assim, ajudando-lhes a resolver os seus problemas desse âmbito na vida estudantil e sócio -
profissional.

A organização dos “itens” eleitos é caracterizada pela sequência sistémica dos conteúdos
curriculares, a partir de uma simples compreensão da realidade situacional da disciplina até a análise
crítica sócio - cultural e epistemológica da dominação simbólica da ciência. Como pressuposto
didáctico foi apresentado no inicio de cada tema metas a serem alcançadas e no decurso de
abordagem, foram sugerido temas variadas para reflexão com fito de consolidar e complementar o
aprendizado em cada unidade didáctica.

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1. CONCEITO E DIVISÃO DE ANTROPOLOGIA

Finalidades:
* Reconhecer a problemática do homem e o seu vasto campo de acção.
* Delimitar a Antropologia como ciência e as suas ramificações ou divisão.
* Caracterizar o estudo de Antropologia Geral a partir do seu objecto formal.
* Familiarizar-se com os diferentes conceitos preliminares da disciplina.

1.1 Antropologia: Pertinência e âmbito de acção

Antropologia enquanto ciência que estuda o homem e as relações culturais e sociais que se
estabelecem entre indivíduos e ou grupos. Procura perceber a realidade humana analisando os
mecanismos de relacionamento humano, como por exemplo a amizade, e as formas de organização
social como o caso de família.
Dado que a realidade social se apresenta como um vasto campo de estudo, a antropologia
acaba geralmente por abordar um ramo particular ou especialidade, nomeadamente: cultural, social,
política, do simbólico, do desenvolvimento entre outros.
Dentro de cada domínio de especialização, a antropologia pode desenvolver estudos sobre
temas tão diversos como o da integração social das minorias étnicas e culturais (ex. o pequeno grupo
de Khoissan), os movimentos migratórios, o aparecimento de novos movimentos religiosos, os
fenómenos ligados á pobreza e à exclusão social, o surgimento de novos modelos familiares, a
imagem das instituições políticas junto da opinião pública e muitos outros.
Os estudos antropológicos caracterizam-se pela observação directa, quando os investigadores
contactam pessoalmente com os indivíduos que pretendem estudar e conversam com eles, mas vai
mais além utilizando a observação participante, quando se integram durante algum tempo na vida da
comunidade ou grupo em estudo.
A antropologia pode também utilizar conjuntos de perguntas sistematizadas que serão
colocadas a grupos maiores ou menores de pessoas, segundo uma amostra da população que se
pretende estudar, podendo ainda realizar entrevistas mais aprofundadas a determinados indivíduos,
assim como à análise documental que consiste na consulta de documentos e fontes de natureza
diversa (dados estatísticos, revistas, jornais, livros, etc.).
A antropologia também pesquisa e reúne o conjunto de teoria que dentro da sua área de
estudo permitem saber o tipo de informação pertinente e o modus como deve analisar e interpretar
essa informação.

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O trabalho em equipa está cada vez mais presente no desenvolvimento da actividade da
antropologia que associada a outras ciências tanto sociais como técnicas, tal como a arquitectura, a
engenharia, o direito, a história, a economia, a gestão, psicologia, sociologia, etc. fornecem
indispensáveis conhecimentos sobre a sua cultura em projectos de combate à pobreza, de
desenvolvimento, na gestão de recursos humanos e de pessoas, no reordenamento habitacional, na
gestão comunitária e ambiental, etc. O campo de estudo e de trabalho da antropologia é muito vasto e
confere aos seus profissionais e estudantes uma visão global do homem e da sociedade.

1. 2 O Antropólogo e suas atribuições

A pessoa formada em Antropologia2 lhe é atribuída a categoria de Antropólogo. O


Antropólogo social, filosófico e cultural está apto a desempenhar as seguintes funções:
*Quadro superior nos vários departamentos da Administração Central e Local do Estado,
onde o conhecimento do ser Humano e do seu comportamento social seja relevante, em particular no
Ministério da Cultura, Ministério da Educação, Ministério da Administração do Território, etc.
*Conservador de Museus etnográficos ou antropológicos;
*Direcção e gestão de instituições culturais;
*Direcção cientifica e de pesquisa em museus e galerias de arte;
*Quadro superior de laboratórios de conservação e preservação do património artístico-
cultural;
*Direcção de serviços de formação e educação em instituições culturais, em particular nos
museus, galerias de arte, serviços públicos e autarquias locais;
*Direcção de serviços de animação cultural;
*Direcção de serviços de promoção turística pública e privada;
*Quadro superior nas missões diplomáticas e consulares de Angola no exterior, para gestão
das comunidades ou como adido cultural;
*Investigador nos institutos de investigação cientifica em áreas relacionadas com a
antropologia, nomeadamente:
-caracterização social e cultural das comunidades;
-Factores culturais e politicas de desenvolvimento,
-Identidades e dinâmicas sociais;
-Identificação e análise das instituições e práticas do direito costumeiro;

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A pessoa formada em Antropologia é aquela que tenha uma formação superior.

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-Avaliação do impacto das intervenções politicas e Administrativas sobre as
comunidades, etc.;
-Quadro das Autarquias e Administrações Locais;
-Docente no ensino secundário e superior.

1. 3 Definição

Antropologia é comummente definida como o estudo do homem e as relações culturais e


sociais que se estabelecem entre indivíduos e ou grupos. Assim, definida, deverá incluir algumas das
ciências naturais e todas ciências sociais; mas, por uma espécie de acordo tácito, os antropólogos
tornaram como campos principais o estudo das origens do homem, a classificação de suas variedades
e a investigação da vida dos chamados povos primitivos.
A definição mais curta de Antropologia pode ser tirada do próprio sentido etimológico do
termo: Antropologia (do grego ἄνθρωπος, transl. anthropos, "homem", e λόγος, logos,
"razão"/"pensamento"/"discurso"/"estudo") é a ciência que tem como objecto o estudo sobre o
homem e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões. Ora,
pode-se objectar que não é somente a antropologia que estuda o homem. Muitas são, realmente as
disciplinas científicas que se ocupam do homem, por exemplo, a genética, a sociologia, a Zoologia, a
Psicologia, etc.

1.4 Objecto de estudo de Antropologia

O que caracteriza a antropologia como disciplina cientifica não apenas o objecto material. Ao
contrário, o que na verdade caracteriza as disciplinas cientificas como que dando-lhes forma é o
objecto formal. Portanto, o seu objecto material é o estudo do homem e o seu objecto formal é a
Antropologia enquanto trata do homem e do seu comportamento como um todo.
Como já foi dito, inúmeras disciplinas tratam do homem e do seu comportamento. No
entanto, o que a distingue das demais ciências sociais e humanas é o objectivo que nutre de estudar o
homem como um todo. Para utilizar as palavras de Herskovits, apud Lévi-Strauss (1991, p.35), a
respeito da unidade da antropologia, diz ele:
Está no facto importantíssimo de que a antropologia, centrando sua
atenção no homem, leva em conta todos os aspectos da existência
humana, biológica e cultural, passada e presente, combinando esses
diversos materiais numa abordagem integrada do problema da
existência humana. Diversamente das disciplinas que tratam de

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aspectos mais restritos do ser humano, antropologia frisa o princípio de
que a vida não se vive por categorias mas é uma corrente contínua.

1. 5 Paradoxo antropológico

Essa nossa disciplina é com efeito, bastante paradoxal: é uma das disciplinas mais
especializadas e ao mesmo tempo é uma das mais gerais. É especializada enquanto trata apenas de
assuntos relacionados ao homem e à sua experiência; geral, no que concerne à variedade incrível de
aspectos da realidade humana que envolve temas estudados na: genética, Psicologia, Sociologia,
Biologia, Geografia, história, etc.
É devido, pois, a esse carácter geral da antropologia que ela pode ser incluída tanto, entre as
ciências naturais como entre as humanidades e as ciências sociais.
A antropologia de que se falou até agora, foi antropologia geral. Ocorre que, actualmente
nenhum ou quase nenhum estudioso de antropologia pode se dedicar ao vasto campo de antropologia
geral ou dominá-lo plenamente. O próprio tempo encarregou-se de promover a divisão dessa
disciplina. Vive-se presentemente a época das especializações tanto nas ciências como nas demais
actividades humanas.
Não nos cabe aqui discutir vantagens e desvantagens dessa divisão crescente das tarefas
humanas. Ao que tudo indica, porém, a especialização decorre da própria necessidade de maior
eficácia. Restringe-se o objecto de estudo para que sua compreensão se torne mais profunda. A
antropologia Geral, não escapou a esse procedimento de retalhamento do objecto: Homem.

1. 6 Divisão ou ramos de antropologia segundo Félix Keesing

Talvez por causa da especialização crescente é que hoje até o nome “antropologia” indica
coisa diferentes conforme o pais considerado, na Europa continental, por exemplo, o termo
“antropologia” é empregue para designar apenas o estudo físico do homem. Nos Estados Unidos, a
antropologia Cultural, divide-se habitualmente em etnologia e em etnografia: A primeira se ocupa do
estudo comparado da cultura e da investigação dos problemas teóricos que brotam da análise dos
costumes humanos, e a segunda, descrição da cultura concreta.
Como se não bastasse ainda é utilizado o termo “antropologia social” por alguns, como o caso
de Estados Unidos e Inglaterra como sinónimo da antropologia cultural ou etnologia. Toda essa
imprecisão é contributo pago pelas disciplinas científicas ainda novas. Em nossa disciplina está em
curso um processo de sistematização e reformulação.

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Decorrem disso as controvérsias a respeito da amplitude da antropologia cultural: Uns
tomam-na como parte da Sociologia, Lucy Mair, por exemplo, e outros preferem ver a antropologia
cultural como um campo bem mais amplo do que o da Sociologia. A Propósito, tratar-se-á do
problema quando se falar da relação existente entre as duas disciplinas em questão.
Félix Keesing, apresenta a seguinte divisão de antropologia que é a nossa perspectiva no estudo de
disciplina:
- Etnologia

-Etnologia - Etnografia

- Antropologia Social
-Antropologia Cultural -Linguística

-Arqueologia pré - histórica

Antropologia geral

-Antropologia Física

Considerando o esquema acima, deve-se ter em mente que ele não passa de uma divisão da
antropologia, pois, outras divisões existem. Como já foi salientado, não é fácil falar da divisão da
nossa disciplina, pois lhe falta consenso a respeito. Além dessas disciplinas antropológicas existem
disciplinas académicas denominadas: Antropologia Filosófica, Antropologia Psicológica, etc. No
entanto, para os objectivos aqui propostos, acreditam que o esquema, acima é suficiente.
Antropologia Física, estuda os aspectos biológicos do homem, misto de história natural e de
ciências natural do homem. A ela interessa não só o estudo das populações hodiernas, mas também o
estudo da evolução da espécie humana. Estuda os problemas da origem do homem, as semelhanças e
diferenças entre os povos. É de sua alçada o estudo da raça humana. Afinal, como lembram Beals e
Hoijer, para se compreender bem o homem como produto de evolução, é mister que se faça alguma
compreensão de todas formas vitais e da natureza da própria vida. Em outras palavras faz-se
necessário um conhecimento a cerca de um dinamismo vital que é comum aos homens e aos animais
dos mais simples aos mais complexos. Interessa aos estudiosos da antropologia física conhecer os
mecanismos vitais de todos, desde os processos de reprodução e de genética ao da conservação. Não

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menos importante para um estudo desse tipo é o conhecimento da Geografia. O homem é um animal
terrestre e o mundo físico é uma condição “ sine qua non” para sua sobrevivência.
O corpo humano é indubitavelmente a maravilha da criação, a maravilha das maravilhas.
Todavia, nele se descortina uma gama enorme de características que são exclusivas do homem. A
esse conjunto de características do comportamento humano se denominou “cultura” – Objecto do
outro grande ramo da antropologia.

Antropologia Cultural é o nome que se dá ao outro grande ramo de antropologia geral. O


campo dessa disciplina especial é vastíssimo, pois, ela se propõe estudar a obra humana. Ora, essa
obra que se denomina cultura é “este conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte,
moral, lei, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem
enquanto membro da sociedade”.
Como se vê, dentro da cultura estão assuntos relacionados com política, religião, arte,
artesanato, economia, linguagem, práticas e teorias, crenças e razão, um mundo realmente de
aspectos mais complexos. Como se não bastasse a amplitude de assuntos a serem estudados, ainda
surgem problemas os mais variados, exemplos disso, são os seguintes temas que pertencem ao
campo da antropologia cultural: onde termina a biologia humana e se inicie a cultura? Quais as
influencias da biologia sobre a cultura e desta sobre a biologia humana? O ambiente tem a ver com a
cultura? Que dizer da influência da cultura sobre o ambiente? A cultura dos povos modernos e
civilizados difere em que da dos povos primitivos?
Observando a divisão apresentada por Keesing, é fácil distinguir dentro da antropologia
cultural três ramos bastante nítidos e tradicionais: A Etnologia, A Linguística e Arqueologia pré-
histórica.
Etnologicamente, a Etnologia (do grego ethnos = povo) significa o estudo ou a ciência do
povo. Diz Herskovits, que a etnologia “ se ocupa do estudo comparado da cultura e da investigação
dos problemas teóricos que brotam da análise dos costumes humanos”; …na Inglaterra e nos Estados
Unidos, alguns dão-lhe o nome de antropologia social.
Já a linguística trata de um aspecto restrito da cultura que é a linguagem. Ela surgiu,
inicialmente, da necessidade que tiveram os antropólogos de aprender as línguas dos povos que
estudavam. Tiveram que estudar frequentemente línguas de povos ágrafos. Assim é que passaram a
fazer o estudo comparativo dos idiomas e examinar os vocábulos, a estrutura gramatical e lógica
desses idiomas. Foi realmente importantíssimo o estudo da linguística empreendido pelos
antropólogos – trouxeram à luz inúmeras línguas ainda desconhecidas pelos filólogos.

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O terceiro ramo da antropologia cultural é a arqueologia (archaicos = antigo) pré – histórica
que também se reveste de significação para a antropologia geral. Embora este ramo seja da
antropologia cultural, é inegável a contribuição que trouxe no estudo de antropologia física. O
trabalho arqueológico supõe bons conhecimentos de geologia e geografia física. Mas, não só requer
do arqueólogo o conhecimento de várias técnicas de escavação e conservação dos utensílios, dos
artefactos e dos esqueletos descobertos. Utilizam técnicas especiais para determinar a idade dos
materiais escavados, com o Carbono 14.
Voltemos ao problema do primeiro dos ramos da antropologia cultural e teçamos-lhe alguns
comentários:
A Etnologia ali aparece dividida entre outras disciplinas especiais: Etnologia (em sentido
restrito), etnonografia e antropologia social. As três partes, pertencem ao campo da etnologia geral
ou simplesmente de antropologia cultural. A Etnografia é o mais fácil de distinguir das duas, uma,
vês que ela como indica o próprio termo, é mais dedicada a descrição dos costumes, da cultura e da
vida dos povos.
Por outro lado, é forçoso reconhecer que a antropologia social e a etnologia especial quase
que se confundem. Como já se tive a oportunidade de observar, essa variação é devida
principalmente às tradições nacionais. A etnologia estuda a cultura dos povos, dando destaque as
semelhanças e diferenças entre as culturas dos povos, analisando o desenvolvimento histórico de
uma cultura e a relação entre as culturas.
A antropologia social, por seu turno, se aproxima muito da sociologia, preocupando-se com
a instituição de generalizações sobre uma cultura, a sociedade e a personalidade em um sentido mais
universal.
Bastante sugestiva é a opinião de Levi-strauss a respeito da relação existente entre
etnografia, etnologia e antropologia. No caso da etnologia não há dúvida em sua compreensão:
“corresponde aos primeiros estágios da pesquisa: Observação e descrição, trabalho de campo”. O
autor ainda acrescenta: A etnografia engloba também os métodos e as técnicas que se relacionam
com o trabalho de campo, com a classificação, descrição e análise dos fenómenos culturais
particulares (quer se trate de armas, instrumentos, crenças ou instituições)”.
Lévi-Strauss acha que, “com relação à etnografia, a etnologia representa um primeiro passo
em direcção à síntese”. Não significa que ela olvide a observação directa, mas é essencialmente um
segundo passo da pesquisa. Admite ainda esse autor que etnologia pode tomar três direcções:
histórica, geográfica e sistemática. Em qualquer dessas direcções, o que caracteriza etnologia é o seu
carácter de sistematização. Para tanto supõe a outras informações além dos dados da primeira mão

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obtidos na pesquisa de campo. “Em todos os casos, a etnologia compreende a etnografia como o seu
passo preliminar e constitui seu prolongamento”.
O autor ainda lembra que em vários países, notadamente no continente europeu, essa
dualidade englobava toda a problemática do estudo da cultura. “Ao contrário, escreve ele, em toda
parte onde encontramos os termo antropologia social ou cultural, eles estão ligado a uma segunda e
última etapa da síntese, tomando por base as conclusões da etnografia e da etnologia”. O autor
conclui seu raciocínio, dizendo: etnografia, etnologia e antropologia não constituem três
disciplinas diferentes ou três concepções diferentes dos mesmos estudos. São de facto três etapas ou
três momentos de uma mesma pesquisa, que não poderia nunca ser exclusiva dos dois outros”.
Quanto aos termos “antropologia social” e “cultural” Lévi-strauss faz uma observação
realmente significativa: “Em muitos casos, a adopção deste ou daquele termo (notadamente para
designar uma cadeira de universidade) terá sido feito ao acaso”. O que, no entanto, se pode dizer é
que o termo antropologia cultural vigora mais entre os americanos e centra sua atenção
principalmente sobre “homo faber”. Ao passo que o termo antropologia social que, inicialmente
teria sido introduzido na Inglaterra porque fora “necessário inventar um título para distinguir uma
nova cadeira de outras” (primeira cadeira ocupada por Sir J.G.Frazer), embora tratando de aspectos
de organização social, costumes, instituições e crenças.

2.7 Divisão de Antropologia segundo Augusto Mesquitela Lima

Por tanto, queremos apresentar-vos aqui a divisão e os quadros de Augusto Mesquitela Lima
que ajudam a uma melhor compreensão da matéria:
Se Individual Antropologia Física

O Homem Ser Social Antropologia Social

Ser Cultural Antropologia Cultural

Ser Individual

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HOMEM

Ser Cultural Ser Social

HOMEM

SER INDIVIDUAL SER CULTURAL SER SOCIAL

ANTROPOLOGIA ANTROPOLOGIA ANTROPOLOGIA


FISICA CULTURAL SOCIAL

Antropometria Etnografia História


Craniometria Etnologia Etno-sociologia
Genética Linguística Politica
Paleontografia Humana Arquelogia Estética
Antroplogia Racial Pré-História Moral
Folcrore Direito
Etno-musicologia Economia

Psicologia Humana Religião


Mitologia
Arte

Demografia

Reflicta sobre as diferentes áreas de antropologia e principais autores.

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Antropologia da arte, Antropologia da ciência e tecnologia, Antropologia do ciberespaço,
Antropologia das emoções, Antropologia da guerra, Antropologia da música, Antropologia da saúde,
Antropologia da violência, Antropologia das populações afro-brasileiras, Antropologia das relações
de género, Antropologia das religiões, Antropologia das sociedades complexas, Antropologia do
esporte, Antropologia e meio ambiente, Antropologia filosófica, Antropologia económica,
Antropologia educacional, Antropologia jurídica, Antropologia política, Antropologia e psicanálise,
Antropologia rural, Antropologia teatral, Antropologia urbana, Antropologia visual, Antropologia da
alimentação, Antropologia organizacional, Antropometria, Craniometria, Genética, Paleontografia
Humana, Antropologia racial, Folclore, etno-musicologia, Arquelogia, Etno-sociologia, Estética,
moral, Mitologia.

2. MÉTODOS E TÉCNICAS PARA PESQUISA ANTROPOLÓGICA

No fim deste capitulo o aluno será capaz de:


* Caracterizar os tipos e métodos de pesquisa no estudo de antropologia.
* Distinguir as técnicas para recolha de dados na investigação de Antropologia.
* relacionar os princípios antropológicos.

2.1 Princípios do método antropológico:

A. O Principio holístico: (principio integral, global, relacional). Holismo = do grego: total,


completo.
Antropologia examina qualquer temática na óptica da globalidade humana. Olha para a
humanidade como um todo. Por isso, é considerada como a ciência coordenadora do ser humano. Em
quanto as outras ciências estudam o homem desde o ponto de vista particular, antropologia olha mais
longe da compreensão de um só ponto de vista. Todo os aspectos têm de ser posto em relação entre si
e vistos em uma única orgânica.
Portanto, podemos dizer o seguinte:
1-todas e cada uma das características do homem interessam à antropologia;
2-interessam os elementos comuns e as diferenças do ser humano;
3-interessam o ser humano de todo o tempo e lugar.
4-conteúdo da pesquisa antropológica é o grupo humano e não o indivíduo;
5-coordenar e integrar as diversas visões cientificas do que significa o ser humano.

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Sistemas Culturais

Sistemas Psicológicos Sistemas Sociais

SER HUMANO

Sistemas Biológicos sistemas Físicos

B. Princípio histórico:
a) Sincrónico (todo o que aconteceu num determinado tempo)
b) Diacrónico (todo o que aconteceu sucessivamente, antes e depois).

Com este princípio a antropologia visa colectar o máximo das informações sobre os contactos
entre os povos. Os povos caminham, pelo que as culturas têm um ontem, um hoje e um amanhã.
No século passado aplicaram-se à antropologia as teorias da evolução, pensado que todos os
povos em toda a parte passavam através das mesmas etapas.
A história conjuntural hoje é abandonada. E a evolução unilinear se pode demonstrar falsa
simplesmente com os conhecimentos antropológicos actuais. As populações da terra não são simples
arquivos de um passado mais ou menos remoto, mas agentes vivos de processos dinâmicos
extremamente complexos.
OS funcionalistas acham que é possível estudar uma população sem conhecimento da sua
história, dos seus contactos culturas anteriores. Nós rejeitamos tal interpretação.

C. Princípio comparativo:

A metodologia antropológica é essencialmente comparativa. Alguns autores chegam a


afirmar que é este o único método verdadeiramente antropológico: o método comparativo. Só através
da comparação de formas particulares de cultura se torna possível apurar e esclarecer os conceitos
fundamentais de uma cultura.
Ao estudar uma sociedade automaticamente faremos uma comparação entre a cultura que
estamos a estudar e as outras culturas que já conhecemos, a começar pela nossa própria cultura.
Mas este método é mais alguma coisa. Estuda-se as semelhanças, as diferenças e as várias
sociedades entre elas. E é necessário estudar mais outros aspectos que passam contribuir a um

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melhor conhecimento da sociedade em questão. A tendência moderna é para as comparações
limitadas regionalmente.

a- Traços culturais internos (com o


contexto)
Cultura a estudar Em comparação com b- Com toda a cultura
c- Com culturas limítrofes
d- Com a cultura do investigador

D - Princípio interdisciplinar

O método antropológico é necessariamente interdisciplinar, no sentido de que serve-se de


todas técnicas de pesquisa elaboradas por outras disciplinas. Além disso é necessário ter em conta o
estado geral actual de outros ramos do saber, o que é que as outras ciências nos dizem sobre o
homem, especialmente as ciências humanas: sociologia, psicologia, biologia, filosofia, etc.
Também devemos considerar um a outro aspecto que é o seguinte: o antropólogo sozinho
(individualmente), não está em condições de aprofundar todos os aspectos particulares de uma
cultura determinada. É necessário o trabalho coordenado de vários estudiosos de diferentes ramos do
saber.

4.2 Técnicas do método antropológico

A. Procedimento metodológico:

Podemos afirmar que a regra básica do procedimento metodológico deve ser a ética científica, a
honestidade, em fim. É desnecessário dizer que a credibilidade científica repousa no rigor
metodológico apenas em parte. De nada adiantaria este rigor, caso viesse a faltar honestidade por
parte da comunidade científica.

B. Atitudes basilares:

 Manter-se livre (intelectualmente)

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 Modéstia necessária
 Escolha livre
 Criar confiança ambiental
 Conhecimento mínimo da língua
 “Fazer o ponto” sobre o andamento do trabalho

C. Documentação

 Conhecimento amplo actualizado da problemática de base


 Literatura específica: a pesquisa começa nas bibliotecas, nas livrarias e termina no campo,
isto significa conhecimento da literatura existente sobre o assunto
 Preparação imediata
 Preparar os instrumentos úteis (diário de campo).

D. Observação participante

O antropólogo se entrega no grupo, participando das actividades e das manifestações do


mesmo. Neste contexto o pesquisador procura pôr-se no lugar dos seus pesquisados, isto é, a partir
dos seus valores nativos. Para tal fim, precisa de estar isento de qualquer preconceito etnocêntrico. O
antropólogo deve-se integrar na vida do grupo. E a comparticipação deve ser consciente e sistemática
tanto quanto as circunstâncias permitirem, nas actividades comuns de um grupo de pessoas
envolvendo-se, nos seus interesses, sentimentos e emoções.

Portanto, exige uma dedicação exclusiva (vive, alimenta-se, usa e passa amá-los),
permanência prolongada, partilha e relacionamento constante. O antropólogo observa com todo o seu
ser e com todos seus sentidos. O longo período que passa no lugar lhe permite alegrar-se com o
povo. Neste método não há lugar para o dogmatismo.

E. Outras técnicas específicas:

 Registo de dados
 Técnicas de observação

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. - Entrevistas: é um elemento muito importante que exige arte, sensibilidade e clareza de
objectivos.

 Entrevista livre * Organizada


* Não organizada
 Entrevista fechada (respostas alternativas e exclusivas)
 Entrevista repetida
- Questionário
- Diário de pesquisas
- Recolher objectos
- Gravações, fotografias, filmes
- A língua: conhecimento mínimo
- O intérprete: cuidados e reservas
- O informador (os): cuidados e reservas (nunca um só, pois nesse caso a sua
informação com muita probabilidade poderá ser seguramente falsa, ou então aceite mas, com
muitos pontos interrogativos.

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3. BREVE PERCUSO HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA

No fim deste “item” o estudante será capaz de:


* Desenvolver o saber sobre o percurso histórico de antropologia.
* Classificar os períodos históricos da evolução da Antropologia: Carlos Darwim e
teoria da evolução.
* Ordenar os autores, teorias e respectivos contributos nos diferentes períodos da
formação de antropologia como ciência.

3.1 História da Antropologia

Os estudos de antropologia nunca constituíram monopólio de qualquer nação ou povo. E o


seu desenvolvimento nunca foi regular, pelo que qualquer divisão da história da antropologia é
arbitrária. Mesmo assim é importante adoptar uma determinada divisão na exposição histórica desta
disciplina em ordem a sua compreensão, que permita um mínimo de sistematização e nos facilite a
localização das abordagens teóricas e dos estudiosos. A antropologia é uma ciência social surgida no
século XVIII. Porém, foi somente no século XIX que se organizou como disciplina científica.

Estudo antropológico: Esta ciência estuda, principalmente, os costumes, crenças,


hábitos e aspectos físicos dos diferentes povos que habitaram e habitam o planeta. Portanto, os
antropólogos estudam a diversidade cultural dos povos. Como cultura, podemos entender todo
tipo de manifestação social. Modos, hábitos, comportamentos, folclore, rituais, crenças, mitos e
outros aspectos são fontes de pesquisa para os antropólogos.
A estrutura física e a evolução da espécie humana também fazem parte dos temas analisados
pela Antropologia. Os antropólogos utilizam, como fontes de pesquisa, os livros, imagens,
objectos, depoimentos entre outras. Porém, as observações, através da vivência entre os povos
ou comunidades estudadas, são comuns e fornecem muitas informações úteis ao antropólogo.

3.2 Períodos históricos da evolução da Antropologia


3. 2. 1 Período de formação

Seguimos o esquema de T. K. Penniman. Este período da história da antropologia, começa


com a própria cultura da humanidade. A antropologia, como o resto de todas as demais ciências não
têm data exacta de nascimento. Trata-se de um processo lento, que implica acumulação e
reformulação de conhecimentos.

Afonso Nkuansambu Página 18


Poderíamos chama-lo “pré-história da antropologia”. Abrange toda a reflexão do homem
sobre si e sobre o universo. Em todos os povos sempre esteve presente a reflexão sobre a origem, a
realidade e o destino do homem e do seu grupo social. É o que Paul Mercier chama de “
antropologia espontânea”.
Neste sentido é que se pode afirmar que as manifestações culturais do homem através dos
tempos apresentam-se como contribuições efectivas à constituição da antropologia: gravuras,
esculturas, desenhos, ferramentas, etc.
Contribuição importante dada pelos povos assírios, babilónios, egípcios, fenícios, hindus,
sumérios, e outros.
A contribuição greco-romana é enorme para a formação da antropologia: catalizou boa parte
da contribuição anterior. Dessa tradição muito foi salvo. Nomes eminentes como: Heródoto, Platão,
Aristóteles, Hipócrates e tantos outros podem ser apontados como expoentes que muito
contribuíram para os estudos antropológicos modernos, para alguns, Heródoto (480- ou 425-499
a.C.) é considerado o verdadeiro pai da antropologia: viajou por muitos países, era grande
observador e a sua preocupação era conhecer os povos que encontrava, a sua origem, as suas
actividades e o seu destino. Os seus escritos são dignos de menção, especialmente o seu livro
história.
Entre os Romanos, lembramos os nomes Lucrécio, César, Tácito, Galeno, Marco Aurélio e
outros. Trata-se de uma contribuição tão enorme e evidente que dispensa de maiores considerações.
A idade Média: época de formação e reformulação de povos e de pensamentos. Foi esta época
que preparou o caminho ao renascimento. A sobra das catedrais e mosteiros surgiu a Universidade,
conservaram-se os escritos traduziram-se, transcreveram-se, foram estudados.
Nomes como o de Santo Agostinho de Hipona (Norte de África), Avicena, Averrois, Bacon.
Este último, foi um dos primeiros a se bater pelo uso do método experimental.
Não estamos a proceder a um inventário completo das contribuições havidas ao longo da
historia…, apenas procuramos ilustrar com alguns exemplos o carácter cumulativo do conhecimento
humano e, em especial, no domínio dos estudos antropológicos.
Noutras áreas, lembramos autores antiquíssimos como o chinês Chuang Tse e o árabe
Ibn khaldun, filósofo social do século XIV.
O que se denomina TEMPOS MODERNOS, no domínio do conhecimento, significou uma
mudança sensível e um crescente antropocentrismo. Foi época do Iluminismo, o culto à razão.
Ficaram de lado os estudos cosmológicos e partiu-se para uma concentração na realidade humana.
O método experimental e a indução foram cada vez mais cultivados. Começou a
especialização do conhecimento. Para a antropologia, os factos mais significativos foram: o

Afonso Nkuansambu Página 19


desenvolvimento da antropologia cultural, a sistematização da antropologia física, o surgimento da
pré-história e da arqueologia.
O desenvolvimento da antropologia cultural deveu-se principalmente às grandes descobertas
marítimas. Muitos foram os relatórios e cartas que se ocuparam em descrever as novas terras e suas
gentes. Exemplos: colectâneas de relatórios enviadas pelos missionários aos seus superiores, escritos
de viajantes, comerciantes, políticos e outros: incansáveis viajantes e dirigentes observadores, que
discorreram sobre o tema de sempre: afinidades e diferenças entre os homens e seus mundos sociais
e culturais.
Alguns marcos importantes. O século XVIII foi todo ele impregnado de uma fome insaciável
de conhecimento. Organizaram-se missões científicas com o objectivo principal de colher
informações e fazer observações. Eram naturalistas, geógrafos e humanistas que se punham em
campo. É a fase das expedições organizadas mais sistematicamente, que levarão pouco a pouco à
verdadeira pesquisa científica.
No Nordeste da Ásia, por A. Bering; as viagens do capitão Cook (Oceania); no interior de
África, depois da organização da African Association (Grã-Bretanha, 1788).
A publicação de L´instruction génerale aux voyageurs (uma espécie de orientação para a
recolha de dados etnográficos), pela Sociedade Etnológica de Paris, é mais um passo significativo na
história da antropologia.
Também a antropologia, física fez sua bagagem de conhecimentos. O fundador da
antropologia física, Johann Blumenbach (1752-1842): dividiu a espécie humana em cinco raças e
explicava as diferenças raciais como consequência das influências ambientais sobre uma forma
ancestral única e comum a todos os homens.
O período de formação da antropologia também marca o surgimento de outras disciplinas
antropológicas. É o processo da especialização. Assim surgem as disciplinas da pré-historia da
arqueologia.

3. 2. 2 Período de Convergência

È o período de construção à volta de uma unidade, o conceito de evolução. A primeira parte


deste período vai desde a metade do século XIX até quase ao fim do mesmo.
Este conceito – a evolução – dá à Antropologia o seu primeiro impulso e uma certa unidade.
Mesmo assim, alguns autores recusaram o evolucionismo, surgindo discussões apaixonadas perante
o tema da evolução da humanidade.

Afonso Nkuansambu Página 20


As várias formulações sobre a sociedade e a cultura convergem para três objectivos comuns:
origens, idade e mudança (segundo F. BARBACHANO, as ciências Sociais na América Latina, São
Paulo, 1965).
Outro facto significativo foi o aparecimento de várias revistas e numerosas associações
científicas. Alguns nomes deste período: Darwin, Tylor, Herbet Spencer, Comte, Paul Broca, Ritter,
Lepaly, Quetelet e muitos outros.

3. 2. 3 Período de construção

O número de associações que são criadas, então, cresce vertiginosamente. As sociedades ou


associações de antropologia surgem em toda a parte. Em 1864, a de GÖttingen; no mesmo ano, a de
Cracóvia, em 1865, a de Madrid e a de Nova Iorque; em 1866, a de Manchester, em 1869 a de
Berlim; em 1870 a de Viena; e a de Estocolmo, em 173. Não foram apenas essas, outras mais
surgiram.
O que distingue este período é o facto de em 1859 haver a obra clássica sobre a evolução
biológica, a Origem das Espécies, de Charles Darwin. Neste período é que o evolucionismo alcança
o seu apogeu como teoria. É neste contexto onde nasce a moderna antropologia. O seu fundador,
Edward Tylor, é evolucionista e seus seguidores também. Esta orientação teórica marca todo o
restante do século e ainda consegue tomar um certo alento no segundo quarto do século actual.
No seu livro Cultura Primitiva, publicado em 1871, Edward Tylor procura, utilizando o
método comparativo, mostrar a evolução pela qual passou a religião através dos tempos. Outra obra
significativa é A Sociedade Primitiva, publicada em 1877 de Lewis Morgan, em que o autor
procurou estabelecer o caminho seguido pela organização familiar através dos vários estágios de
desenvolvimento.
Tylor é o mais importante de todos os estudiosos deste período. Foi ele que definiu o termo
cultura e apresentou-a como objecto da antropologia, estudou o fenómeno religioso, e dedicou-se a
todo objecto da antropologia dando-lhe uma sistematização tanto no seu objecto como no seu
método. Lewis Morgan também merece realce. É dele o clássico esquema da evolução cultural
(selvageria, Barbárie e civilização); igualmente muito importante é o nome de Frazer, que também
se dedicou ao estudo de fenómeno religioso. Outros estudiosos ligados a este período da história da
antropologia são: Bastian, com a sua teoria das ideias elementares; Bachofen jurista suíço, que
estudou a mitologia clássica defendeu uma evolução na organização social que, segundo ele logo
após o regime de promiscuidade teoria existido o matriarcado, uma espécie de ginocracia; Summer

Afonso Nkuansambu Página 21


Maine, também jurista, via na família patriarcal a unidade básica da organização social; Mclennan
desenvolveu a noção de paralelismo e procurou interpretar vários costumes primitivos.
A principal crítica que se fez ao evolucionismo foi a quase ausência de pesquisa do campo.
Isso enfraquecia consideravelmente o seu vigor metodológico e científico.
Além da crítica anterior, queremos aqui sublinhar o seguinte: o evolucionismo unilinear dos
evolucionistas cultural supõe um processo dinâmico de evolução de formas culturais inferiores e
formas culturais superiores, dentro de uma tribo ou sistema, sem considerar a difusão de itens sócio-
culturais provindos de povos contíguos.

3. 2. 4 Período Crítico
Este período que tem início em 1900 e se arrasta até hoje é sem dúvida o período mais
fecundo da antropologia.
Foram criticados os cânones iniciais desta disciplina. Novas abordagens foram propostas.
Houve grande avanço nas ciências paralelas, os meios de comunicação progrediram grandemente,
contribuindo para a divulgação das ideias.
Deu-se uma reformulação da antropologia cultural. A realidade sócio-cultural toma novos
rumos é analisada por olhos diversos. Os povos, antes apenas objecto de estudo, começam eles
próprios a cultivar também os estudos de antropologia. A antropologia libertou-se do servilismo ao
colonialismo.
Dá-se uma série de novas circunstâncias que enriquecem a antropologia: a orientação
psicológica, o estudo da linguística, o incremento notável do estudo e pesquisa de campo:
Malinowski foi certamente o maior e o mais metódico pesquisador de campo. Este mesmo estudioso,
com a sua teoria do funcionalismo apresenta uma visão nova, abrindo uma nova clareza nos estudos
antropológicos, apesar da critica que se lhe pode fazer.
Outros nomes: Emile Durkheim, Radcliffe-Brown, Levi-Strauss, e tantos outros. Abre-se um
novo campo para a antropologia: os estudos de antropologia urbana. Não menos importantes deverão
ser os estudos sobre a cultura popular, o folclore, a cultura de massas, o carnaval, e outros
semelhantes

3.3 O Museu Nacional de Antropologia (Angola)

O Museu Nacional de Antropologia localiza-se no bairro dos Coqueiros, na cidade de


Luanda, em Angola. Fundado em Novembro de 1976, o Museu Nacional de Antropologia foi a
primeira instituição museológica criada após a independência de Angola ocorrida um ano antes.

Afonso Nkuansambu Página 22


Esta instituição de carácter científico, cultural e educativo está vocacionada para recolha,
investigação, conservação, valorização e divulgação do património cultural angolano. O Museu
Nacional de Antropologia é composto por 14 salas distribuídas por dois andares que abrigam peças
tradicionais, designadamente utensílios agrícolas, de caça e pesca, fundição do ferro, instrumentos
musicais, jóias, peças de panos feitos de casca de árvore e fotografias dos povos khoisan. Quem
gosta de música tem oportunidade de conhecer os diversos instrumentos tradicionais e de ouvir uma
demonstração do uso da marimba. A grande atracção do museu é a sala das máscaras que apresenta
os símbolos dos rituais dos povos bantu. Para além do seu núcleo permanente, o museu recebe
também diversas exposições temporárias.

Além do Museu Nacional de antropologia, como é trivial o nosso pais é rico nessa dimensão,
podemos mencionar outras riquezas culturais: Kulumbimbi; Porto padrão; Simulambuco.

4. DINAMISMO CULTURAL

No fim deste ponto será capaz de:


* Definir a cultura nas diferentes perspectivas de autores.
* Caracterizar os elementos da mudança cultural.
* Identificar as consequências da desculturação na construção da identidade cultural.
* Desenvolver o espírito de Educação inter-cultural e multicultural.

«Mostra-me a tua cultura


e dir-te-ei quem és tu»
4. 1 O conceito da cultura: etimologia

Do latim colere (colo – is – ere – colui – coltum) que significa cultivar e cuidar. Expressa a
relação activa e estável a um lugar:
Agrícola = cultivador da terra,
Incola = morador
Colonus = quem cultiva,

Afonso Nkuansambu Página 23


Colónia = o local cultivado

1º Colere terram, é o primeiro sentido de cultura: Agricultura = cuidar a terra


2º Colere deos loci: cultus deorum = cuidar os deuses da terra.
3º Cultivar o espírito.

Na França, o uso da palavra civilisation, no contexto do Iluminismo.


Na Alemanha, o termo é: kultur: função regulativa, conteúdo ideológico.
Desde a segunda metade do século passado, desenvolver das ciências positivas.

4.1.1 Definição.

Ao longo da história da antropologia, ela recebeu várias definições, seleccionou-se as mais


plausíveis para o presente estudo, como a de Edward TYLOR, o pai da antropologia moderna, a
define que: a Cultura é o complexo unitário que inclui o conhecimento, a crença, a arte, a moral, as
leis e todas as outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade
(Tylor, 1871). Esta definição ficou clássica na antropologia e continua ainda a ser tomada como base
de discussão. A tarefa específica da antropologia cultural é estudar e descobrir a dinâmica interna
pela qual a cultura surge e as formas exteriores em que se estrutura.
Também pode-se assinalar outras definições como a de George de NAPOLI (antropólogo
americano, professor na U. Gregoriana de Roma): “conjunto de significados e valores partilhados e
aceites por uma comunidade”.
Tem-se uma outra definição que seria: “a maneira de viver de um grupo humano, valores e
comportamentos”.

Explicação:
É a cultura que distingue o homem dos outros animais: por mais perfeito que os animais
façam o ninho… A diferença está na consciência cultural e histórica que está presente no acto
humano.
A cultura, é uma tarefa social e não um assunto individual. É um conjunto de experiências
vividas pelo homem através da história.
Ela é adquirida pelo homem através de um processo de aprendizagem =
socialização/enculturação (distinguir de outras noções tais como inculturação, aculturação,
transculturação, adaptação, …).

Afonso Nkuansambu Página 24


A cultura, pertence à comunidade ao grupo social de que o indivíduo é membro, pelo que ela
não depende do ambiente, do local geográfico e até do clima.

Ela condiciona em grande parte o sentimento, o comportamento e a forma de ver do homem à


medida que se adapta ao seu mundo.
A cultura é algo que transcende o indivíduo, porque nenhum individuo pode viver todos os
elementos de uma determinada cultura, e por que o individuo vive a cultura e os seus elementos
como algo que ele próprio não inventa, algo de que ele não é dono.
Para reflectir- “O que somos não é fruto do que queremos, mas é fruto do que os outros
querem que sejamos”.

4.2 Cultura: Funcionamento e Mudança

Como se referiu no intróito deste capítulo, que se pretende apresentar a pertinência da cultura,
englobar todo processo cultural, tendo como objectivo principal mostrar que as culturas estão sempre
em mudança. Mesmo aquelas culturas que ilusoriamente parecem estabilizadas e inertes, também
estão em permanente movimento. A intenção aqui é traçar as linhas gerais do comportamento das
culturas.
Destarte, toda cultura, pode ser considerada entre dois extremos: um estado de estabilidade e
outro de mudança: analogia com o desenvolvimento do corpo humano. Daí nasce um movimento
repetitivo que corresponde aos simples funcionamento, por um lado, e por outro, o funcionamento se
transforma, o que vale dizer, que a própria unidade mudou de forma se a estrutura social, o sistema
social, a organização social mudou…).

Interessa saber como a estabilidade institucional é mantida. Estudar-se-á a cultura institucionalizada


com o processo correspondente, isto é, a endoculturação ou enculturação. O aspecto sincrónico3 da
cultura (Enculturação ou endoculturação e etnocentrismo). Na segunda parte tratar-se-á o aspecto
diacrónico4 da cultura, a mudança cultural, com os processos que lhe são próprios: descoberta,
invenção, difusão, aculturação, desculturação e inculturação.

3
O aspecto Sincrónico diz respeito aos processos culturais regulares, universais. Outrossim, interessa saber como a
estabilidade institucional é mantida. Dentro deste aspecto, estuda-se os temas: A cultura Institucionalizada e a
Endoculturação. Cf. L.G. DE MELO. Op. Cit., p.83
4
Nesse aspecto já não interessará o funcionamento da cultura em si, mas a sua modificação, a mudança cultural, com os
processos que lhe são próprios: descoberta, invenção, difusão, aculturação, desculturação e inculturação que será dada
por duas forças endógenas e/ou exógenas. Ibidem.

Afonso Nkuansambu Página 25


4.3 Processo Cultural: Aspectos Sincrónicos

Os estudiosos (sociólogos e antropólogos), ao tentarem explicar o porquê da estabilidade


sócio-cultural das populações concluíam, que as populações são dirigidas por uma normatividade
garantida pelas sanções sociais.

Quer-se afirmar que as normais sociais (usos, costumes e leis) são impostas aos membros da
sociedade. Ora, se aceitar a distinção feita por Fichter entre”pessoa” e “padrão” (norma), entre
“grupos” e “instituições”, entre “sociedade” e “cultura”, e considerar a teoria durkheimiana do
controle social concluiria se que a função da cultura é por excelência, o controle social.

É possível constatar o carácter institucional, padronizado, repetitivo e relativamente fixo da


cultura. Pode-se constatá-lo nos usos, costumes e leis de um determinado grupo; o mesmo acontece
na linguagem e na simbologia. Tem-se assim modos consagrados de agir e de dizer as coisas. A
própria comunicação exige um padrão bastante fixo de símbolos de modo a permitir a compreensão
das mensagens.

4.3.1 Processo de Endoculturação ou Enculturação

O termo Endoculturação foi utilizado pela primeira vez por Herskovits para designar o
processo de ajustamento de respostas individuais aos padrões da cultura de uma sociedade. Ele
afirma em seu livro: “Os aspectos da experiência de aprendizagem que distinguem o homem das
outras criaturas, e por meio dos quais, inicialmente, e mais tarde, na vida consegue ser competente
em sua cultura, pode chamar-se “endoculturação” (enculturation). Constitui essencialmente um
processo de consciente ou inconsciente condicionamento que se efectua dentro dos limites
sancionados por determinado aspecto de costume. Por esse processo não só se consegue toda
adaptação à vida social, como também todas aquelas satisfações, que embora fazendo naturalmente
parte da experiência social, derivam mais da expressão individual que da associação com outros no
grupo”5.
O processo de enculturação começa após o nascimento da criança. Como sabemos, a cultura
não é transmitida biologicamente e sim, através de uma série de processos culturais, entre os quais a

5
Martinez, op.cit., p.51

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endoculturação. Este processo começa com o nascimento do indivíduo, acompanha-o ao longo das
várias fases da vida e estende-se até à morte.
Com este autor pode-se afirmar que a cultura não é transmitida biologicamente mas sim,
através de uma série de processos entre os quais, a endoculturação.

100% 100%
Factores biológicos

50% 50%

0% Factores culturais 0%
50%

Pelo gráfico podemos dizer também com Titiev o seguinte: «a criança ao nascer tem um
comportamento 100% biológico. Mas logo ao nascer passa receber o impacto da cultura e é
levada a assimilar comportamentos padronizados que observa à sua volta»6. Desta maneira, ela
adquirirá hábitos e costumes, disciplinará seus movimento biológicos e sofrerá uma mudança
gradual que transformará seu comportamento de 100% biológico ao ponto máximo de 100%
cultural.

Deste modo, o processo de endoculturação num indivíduo apresenta variações e


intensidade diversas. Assim, na infância ele se reveste de muita importância (nela ocorrem as
primeiras experiências e contactos com a cultura). Pois, é com a endoculturação que um
indivíduo vai modelando sua personalidade. Na idade adulta; o processo torna-se mais
consciente, pelo que pode dar-se a aceitação ou a repulsa.

4.4 Processo Cultural: Aspectos Diacrónicos

Na tradição antropológica poucos são os estudos sobre a mudança cultural, pois até há
pouco tempo os estudos antropológicos limitavam-se ao estudo de culturas isoladas.

6
Idem, p.86

Afonso Nkuansambu Página 27


Ultimamente estão a aumentar os estudos sobre a mudança cultural desde o ponto de vista
antropológico.

Hoje, não há povos isolados. A Tecnologia moderna está presente em qualquer parte do
mundo e com os seus potentes meios de comunicação social põem em contacto directo os
vários povos da terra. Não fácil explicar a mudança cultural. Ora, quando se trata da
dinamicidade das culturas, é realçar da não existência dos povos e culturas isoladas. Pois, todas
as culturas estão em permanente diálogo, em maior ou em menor proporção, através de dois
factores estruturais da mudança social que são forças endógenas e forças exógenas. Forças
endógenas: que são engendradas pelo próprio funcionamento de uma cultura e Forças
exógenas: Intervêm do exterior do sistema social. Por exemplo: o caso das influencias do meio
físico, do clima e igualmente dos fenómenos e dos conhecimentos de difusão das técnicas e dos
conhecimentos, estudados pelos antropólogos

4.4.1 Invenção e Descoberta

Se formos perguntados: qual é o fenómeno que promove a mudança e a transformação da


cultura? Sem dúvida é a invenção e descoberta. Elas constituem os pontos de partida para todo
o estudo do crescimento e das modificações culturais. Observamos que é mais fácil falar de
invenção e descoberta no campo da tecnologia.

Leslie afirma que as invenções não constituem apenas em engenhos mecânicos, pois,
pode-se falar legitimamente na invenção de uma ideia. Deste modo, se analisarmos bem, toda
cultura e todos os seus valores um dia foram inventados ou descobertos pelo homem. (Ex.: o
fogo ou roda, quem os descobriu?).

Características comuns entre os termos invenção e descoberta:

a) Ambos termos associam a ideia de novidade;


b) Nos dois casos se trata de elementos originais dentro das linhas de uma determinada
sociedade e respectiva cultura.

Definição:

Afonso Nkuansambu Página 28


Liton estabelece a distinção entre os dois termos. Assim, ele define cada uma delas
afirmando: a Descoberta - é todo acréscimo de conhecimentos e é sempre ocasional; enquanto
que a Invenção é toda nova aplicação de conhecimento e sempre é intencional.

Portanto, a invenção e descoberta diz respeito aos conhecimentos e aplicações de


conhecimentos dentro da mesma cultura. Esta interpenetração de cultura tem um outro nome a
difusão; ponto que vamos desenvolver a seguir:

4.4.2 Difusão cultural

Todo o género humano, afirma Herskovits, toma por empréstimo mais elementos de
cultura que os iniciais, pelo que o fenómeno da difusão da cultura é um facto incontestável.
Liton, o faz ver claramente ao afirmar que não existe cultura alguma que tenha mais de 10% de
valores próprios originários. Analisemos, por exemplo, o que fazemos desde que nos
levantamos de manhã até a noite em que nos vamos deitar: gestos, atitudes, hábitos, maneiras
de vestir e de comer, ocupações tempo livre7.

Trata-se de um processo universal onde observamos trocas e permutas, propagação de


elementos de uma determinada cultura para outra. Para que isto aconteça é necessário que haja
contactos entre os povos. A difusão dos valores culturais não ocorre mecanicamente, não se
trata de um processo homogéneo e rectilíneo. São muitos e vários os factores que concorrem
para que se dê a difusão de valores culturais.

A importância da difusão, segundo Fras Boas, foi tão firmemente estabelecida pela
investigação … que não podemos negar sua existência no desenvolvimento de qualquer tipo
cultural local.

Se queremos definir a Difusão cultural, podemos dizer que é um processo universal da


cultura que consiste na propagação de elementos de uma dada cultura para outras culturas. Por
isso, Liton a define como: transmissão de elementos culturais de uma sociedade para outra. E
Herkovits como transmissão cultural consumada.

A Difusão contribui inegavelmente para o progresso dos povos e o crescimento cultural


da humanidade em dois sentidos:

7
LITON, R. O homem: Uma Introdução à Antropologia, p.330. queremos também dizer que todo este “item” seguiremos
os apontamentos de Matinez e assim não passaremos a citar.

Afonso Nkuansambu Página 29


-Estimulando o crescimento da cultura como um todo;

-Enriquecendo o conteúdo das culturas particulares.

Com este processo não foi necessário que cada sociedade aperfeiçoasse por si própria
cada passo na dinâmica do próprio desenvolvimento cultural.

4.4.3 Processo de Aculturação

È o estudo ou processo da transmissão cultural em marcha. Deste modo, deve-se ter em


conta que, no caso, não se deve confundir aculturação com endoculturação. Enquanto este
último, ocorre a nível do indivíduo, o outro dá-se a nível de grupo. Assim, para Herkovits, a
aculturação é a transmissão cultural em marcha. Enquanto para Titiev é o processo de mistura
de cultura.

Pois, o termo aculturação não implica nunca que as culturas que entram em contacto se
devam distinguir entre elas como sendo alguma delas superior ás outras. Por conseguinte, as
situações em que se dá a aculturação são:

-Obrigatoriedade ou voluntariedade da aceitação dos elementos culturais de um povo por um


outro;

- Quando se dá a igualdade social e politica entre os povos em contacto;

-Quando se dá domínio de u povo sobre outro; podem acontecer três situações

*Domínio politico, mas não social;


*Domínio politico e social;
*Reconhecer-se a superioridade social de um grupo sem que exista domínio politico.

4.4.4 A Desculturação

A desculturação é o aspecto negativo da dinâmica cultural:

-substração }

Do património cultural

-destruição }

Afonso Nkuansambu Página 30


Bernardi, define a desculturação como sendo a destruição do património cultural. Podemos
assinalar as seguintes causas:

*Internas: perda de energia da própria cultura (reduz a força dos indivíduos e da comunidade e
vai eliminando a vitalidade dos traços culturais que, se não houver um processo regenerador,
caem em desuso e desaparecem);

*Externas: Crises originadas por contactos culturais.

As crises têm efeitos contrastantes segundo a natureza dos encontros (pacifica, violeta,
livre, opressiva ou de qualquer outra forma). Pode-se afirmar que uma novidade que surge em
qualquer sector da vida (económica, politico, religioso ou técnico) traz consigo inevitavelmente
uma quebra da identidade cultural original.

Portanto, a desculturação acontece de maneira perceptível e imperceptível, lenta ao


médio e longo prazo, afectando apenas a um ou outro traço cultural. Desta maneira subtil vai
mudando o estilo da vida de uma comunidade. Na prática observamos o que já deixou de
pertencer á cultura viva e actual de um povo. Ex.: o uso do batuque ontem e hoje.

Presencia-se actualmente vários fenómenos que acontecem de maneira traumática, tais


fenómenos disseminam lágrimas e sangue: episódios de genocídio, extermínio trágico de
pessoas, a promiscuidade, o viver na diplomacia: pai que namora a sua filha, avô com a neta,
cunhado com a cunhada, patrão com a empregada; ataques físicas com armas brancas e de
fogo; consumo exagerado de bebidas alcoólicas; violações de menores e de mulheres;
abandono de recém-nascidos e de idosos; roubo de mão armada fora do normal;
relacionamentos e casamentos homossexuais; a impaciência; o espírito excessivo pelo
materialismo e imediatismo; crise profissional e educacional; etc.

4.4.5 A Inculturação

É um processo pelo qual a cultura exógena se encarna e se acultura por meio dos
elementos da cultura endógena. Ex.: O ensino da Bíblia a partir das línguas nacionais, para
mais e melhor compreensão do Evangelho.

Reflectir sobre: “O nome e a identidade cultural”.

Afonso Nkuansambu Página 31


Reflectir sobre: “Crise e o processo de regeneração dos valores morais, cívicos e culturais
em Angola”.

5. FUNDAMENTOS VALORATIVOS DA CULTURA

No fim deste texto você será capaz de:


* compreender um conjunto de conceitos que devem ser evitados no estudo de Antropologia Geral e na
relação inter-cultural.
* Modificar o enquadramento e aplicação dos conceitos axiológicos de antropologia.
* Mencionar as consequências letais de preconceitos no mundo em geral e em Angola em particular.
* Reconhecer a cultura como valor vital de um povo.

5.1 Preconceito cultural


5.1.1 Complexos de superioridade e de inferioridade
Na antropologia devemos evitar toda forma de complexo de superioridade e de inferioridade,
intimamente ligados a estes complexos qualquer forma de racismo (ideológico, Politico, Económico,
Religioso, Social, Cultural).
Embora os povos possam ser divididos em diferentes cores da pele ou grupos étnicos
principais baseados nas características físicas, podemos afirmar que não há cores puras e com muitas
probabilidades, isto é, um superior ao outro no sentido real da sua essência.
Também podemos afirmar que apesar de todas as teorias existentes e originadas nos tempos
passados não há provas indiscutíveis das diferentes significativas em capacidade ou inteligência entre
os principais grupos raciais do mundo.
Não se descobriram seres biologicamente humanos que não tinham sido afectados pela
experiência de vida e condições de ambiente. Todas as diferenças significativas no comportamento
entre as populações humanas (inclusive manifestação de atitudes, inteligência e outras características
psicológicas), são compreensíveis como padrões culturais aprendidos e não como características
herdadas biologicamente.

5.1.2 O Etnocentrismo

Etnocentrismo é a atitude dos grupos humanos de super valorizar seus próprios valores, sua
própria cultura. Este fenómeno manifesta-se de várias formas. Se nota quando as pessoas
ridicularizam costumes e hábitos de povos alienígenas.

Afonso Nkuansambu Página 32


Deste modo, o etnocentrismo denota um certo orgulho pela superioridade e credibilidade do
próprio homem e a sua cultura. Este fenómeno está muito mais presente nas culturas isoladas e
tradicionais, justamente por falta de cosmovisão e mundividência.
Aspecto paradoxal
Portanto, o nacionalismo é uma manifestação do etnocentrismo. O gosto e o cultivo pelas
manifestações populares e regionais podem ser sinal de manifestação do etnocentrismo. Também se
pode afirmar o seguinte: Nenhum povo que não acredita em si e em suas potencialidades é capaz de
grandes realizações. Logo, um grupo humano que não cultiva o etnocentrismo possivelmente não
possui cultura própria.

5.1.3 Reducionismo

Noção: Entendemos aqui por reducionismo a identificação do denominador comum mais


baixo de uma cultura usando-o seguidamente para explicar a mesma cultura. Trata-se de uma
explicação simplista de fenómenos culturais complexos, que não tem na devida conta o conjunto da
realidade em que estão mergulhadas as culturas.
Consequências negativas: Uma tal abordagem reduz a longa história e o património humano
de um povo a alguns traços negativos, que logicamente nunca faltam nas sociedades. Ignora-se
praticamente a realidade cultural no seu conjunto e na sua profundidade, ficando apenas uma
imagem desfigurada e falsa da mesma.
Causa: Não se pode reduzir uma cultura a um dos seus traços culturais mais negativos,
esquecendo deliberadamente, por cego etnocentrismo ou por ignorância, toda a sua complexidade.
Também não podemos basear-nos em experiências isoladas, em dados fora do seu contexto cultural
ou em factos anedóticos que facilmente criam uma imagem falsa do povo em questão.
Em Suma: de cada cultura é necessário ter um conhecimento adequado que compreenda
tanto os elementos positivos como os negativos. Outrossim, cada cultura é uma cultura, cada
realidade é uma realidade e cada povo é um povo.

5.1.4 Tendências a negar as diferenças

Uma outra atitude negativa, que tem o seu fundamento no etnocentrismo, é a tendência de
negar as diferenças culturais que encontramos. Nega-se todo valor a tudo que se apresenta
culturalmente diferente à própria cultura.

Afonso Nkuansambu Página 33


Os problemas humanos mais profundos são essencialmente semelhantes em todas as
sociedades: A luta pela subsistência, a procura de alimentação, o domínio do meio ambiente, a defesa
dos animais e das inclemências do tempo, o combate contra as doenças, a transmissão de vida, as
relações de amizade, os laços familiares, as interrogações sobre as questões fundamentais da
existência e outras mais.
Perante tal complexo de necessidade para cultura responde com respostas lógicas e
satisfatórias, mas extremamente diferente perante os mesmos problemas, às sociedades agem de tal
maneira que evidenciam as suas diferenças: Perante problemas fundamentalmente iguais, as soluções
são diferentes.

5.1.5 Uso de termos indevidos

Devemos evitar termos indevidos ou superados pelo estado actual das ciências: Povos pré-
lógicos; ilógicos, homem primitivo, homem civilizado, mentalidade pré-lógica, religião primitiva,
animismo, grandes religiões, religião, magia, matriarcado, sociedades arcaicas, etc…
Todo sistema cultura humano é lógico e coerente dentro de seus próprios termos, segundo as
suposições e conhecimentos básicos da disposição da comunidade.
Em base aos estudos antropológicos, podemos afirmar hoje que não há povos de mentalidade
pré-lógica, isto é, povos com capacidades “infantil” de tirar conclusões adequadas das experiências.
As diferenças de reflexão entre o assim chamado “homem primitivo” e o “homem moderno”
parecem estar nas suposições fundamentais sobre o mundo e as coisas que neles existem,
condicionada pelas diferenças de informação que cada um tem. Exemplo:
O homem moderno sabe que o sol … etc
O homem primitivo tem apenas os seus olhos…
O homem moderno conhece cientificamente as doenças
O homem primitivo, nunca viu um vírus…

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Afonso Nkuansambu Página 35

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