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Esperança Joaquim Amisse Abujate

Isac Dinis Francisco

José António

Sofia da Piedade Agira Momade

Corrente marxista, Paradigmas emergentes na Antropologia (Pós-modernismo e


Interpretativismo) e Correntes Antropológicas e sua operacionalização em
Moçambique.

Universidade Rovuma
Extensão de Cabo Delgado
2022
1

Esperança Joaquim Amisse Abujate

Isac Dinis Francisco

José António

Sofia da Piedade Agira Momade

Corrente marxista, Paradigmas emergentes na Antropologia (Pós-modernismo


e Interpretativismo) e Correntes Antropológicas e sua operacionalização em
Moçambique.
Curso de Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos

Trabalho de carácter Avaliativo, a ser entregue


na cadeira de Antropologia Cultural, Curso de
Gestão de Recursos Humanos, 2oAno,
recomendado pelo docente da cadeira:
Docente: MA. Samuel António de Sousa

ii

Índic

e
1. Corrente Marxista...................................................................................................................4

1.2. Interesses de classe de longo e curto prazo..........................................................................5

2. Paradigmas emergentes na Antropologia (Pós-modernismo e Interpretativismo).................6


3

2.2. Conexões entre a pós-modernidade e o paradigma emergente............................................7

2.3. Paradigmas emergentes no pós-modernismo (Etnografia, racionalista, estrutural-


funcionalista, culturalista e hermenêutico).................................................................................8

3. Antropologia Interpretativismo.............................................................................................12

4. Correntes Antropológicas e sua operacionalização em Moçambique..................................13

4.1. Evolucionismo no período colonial e pós-colonial em África e em Moçambique............13

4.2. A Ruptura com a Antropologia Clássica e a Transição Socialista.....................................18

Conclusão..................................................................................................................................20

Referências Bibliográficas........................................................................................................21

Introdução
4

O trabalho em alusão aborda acerca da corrente marxista, Paradigmas emergentes na


Antropologia (Pós-modernismo e Interpretativismo) e Correntes Antropológicas e sua
operacionalização em Moçambique. A antropologia assim como as outras ciências, para o seu
surgimento ou para a sua evolução, englobam vários processos, teorias, assim como correntes
ou escolas para a sua evolução. Portanto a antropologia, sendo uma ciência muito complexa,
para a sua evolução enfrentou varias correntes ou escolas, defendidas por vários contribuintes.
Depois da emergência da Antropologia como ciência, várias discussões apareceram quanto à
sua natureza, no âmbito das demais Ciências Sociais. Contudo, um primeiro momento foi
caracterizado por um pensamento marcadamente evolucionista, que então dominava no
segundo quartel do século XIX.

O processo de produção de conhecimento antropológico decorrente das


transformações recentes das sociedades contemporâneas, deu lugar a uma crítica generalizada
dos modelos do realismo etnográfico do passado, e abriu o terreno para uma antropologia
desconstrutivista. A desconstrução dos modelos da chamada autoridade etnográfica tem sido
frequentemente sugerida por um certo criticismo literário – comentários aos dispositivos
literários inscritos e congregados na disciplina - mas também por novas e experimentais
estratégias de representatividade equacionadas como etnografias reflexivas, dialógicas ou
polifonias.

O trabalho objectiva explicar a corrente antropológica (Marxista), Identificar os


paradigmas emergentes no pós-modernismo e por outro lado explicar a operacionalização das
correntes antropológicas em Moçambique. Para a concretização dos objectivos deste trabalho
utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica. Pois o presente trabalho de pesquisa
foi de revisão de literatura. Esta pesquisa bibliográfica assentou-se também em artigos
técnicos e científicos relacionados com esta matéria.

1. Corrente Marxista
Karl Marx (1818-1883) foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da
doutrina comunista moderna, actuou como economista, filósofo, historiador, teórico político
5

e jornalista e foi o mais revolucionário pensador sociológico. Marx concebe a sociedade


dividida em duas classes: a dos capitalistas que detêm a posse dos meios de produção e o
proletariado (ou operariado), cuja única posse é sua força de trabalho a qual vendem ao
capital. Para Marx, os interesses entre o capital e o trabalho são irreconciliáveis, sendo este
debate a essência do seu pensamento, resultando na concepção de uma sociedade dividida em
classes. Assim, os meios de produção resultam nas relações de produção, formas como os
homens se organizam para executar a actividade produtiva. Tudo isso acarreta desigualdades,
dando origem à luta de classes (Copans et al, 1971).

Marx foi um defensor do comunismo, pois essa seria a fase final da sociedade humana,
alcançada somente a partir de uma revolução proletária, acreditando assim na ideia utópica de
uma sociedade igualitária ou socialista. Na década de 1960, o estruturalismo marxista tentará
explicar o pensamento selvagem a partir da dialéctica e da luta pelos meios de produção,
destacando a importância da infra-estrutura económica para a compreensão das super-
estruturas sociais, materiais e simbólicas. Assim, os tópicos mais frequentes dos trabalhos de
Godelier foram a economia, o fetichismo e a religião. (Martinez, 2000).

Marxismo estrutural era uma abordagem à filosofia marxista, com base no


estruturalismo, principalmente associado com o trabalho do filósofo francês Louis Althusser e
seus estudantes. Foi influente na França durante a década de 1960 e 1970 e também veio a
influenciar filósofos, teóricos políticos e sociólogos fora da França durante a década de 1970.
Outros defensores do marxismo estrutural foram o sociólogo Nicos Poulantzas e o
antropólogo Maurice Godelier. Muitos dos alunos de Althusser quebraram com o marxismo
estrutural na década de 1960 e 1970, Ibidem.

1.1. Visão geral


O Marxismo Estrutural surgiu em oposição ao marxismo humanista que dominou
muitas universidades ocidentais durante a década de 1970. Em contraste com o marxismo
humanista, Althusser salientou que o marxismo era um ciência que examinava estruturas
objectivas e ele acreditava que o Marxismo: humanista, histórico e fenomenológico, que era
baseado nos primeiros trabalhos de Marx, foi pego em uma "ideologia humanista pre-
científica" (Rivière, 2000).

Por volta de meados da década de 1970 e ao longo da década de 1980, os teóricos


marxistas começaram a desenvolver relatos marxistas estruturalistas sobre o estado, a lei e o
crime. O marxismo estruturalista contesta a visão instrumentalista de que o Estado pode ser
6

visto como o servidor directo da classe capitalista ou dominante. Enquanto a posição


instrumentalista argumenta que as instituições do Estado estão sob o controle directo daqueles
membros da classe capitalista em posições de poder estatal, a perspectiva estruturalista
assume a posição de que as instituições do Estado devem funcionar de modo a assegurar
viabilidade contínua do capitalismo em geral. Outra maneira que os marxistas colocam é que
as instituições do Estado devem funcionar de modo a reproduzir a sociedade capitalista como
um todo. O debate Miliband-Poulantzas entre o instrumentista Ralph Miliband e o
estruturalista Nicos Poulantzas caracterizou o debate entre marxistas estruturais e
instrumentais (Rivière, 2000).

Os estruturalistas vêem o estado em um modo de produção capitalista como tendo uma


forma especificamente capitalista, não porque indivíduos particulares estejam em posições
poderosas, mas porque o Estado reproduz a lógica da estrutura capitalista em suas instituições
económicas, legais e políticas. Assim, a partir de uma perspectiva estruturalista, pode-se
argumentar que as instituições do Estado (incluindo suas instituições jurídicas) funcionam nos
interesses de longo prazo do capital e do capitalismo, e não nos interesses de curto prazo dos
membros da classe capitalista. Os estruturalistas argumentariam, assim, que o Estado e suas
instituições têm um certo grau de independência em relação às elites específicas da classe
dominante ou capitalista, ibidem.

1.2. Interesses de classe de longo e curto prazo

O Marxismo Estrutural postula que o estado funciona para servir aos interesses de
longo prazo da classe capitalista. Com base nas obras de Engels e Lenin, os marxistas
estruturais postulam a ideia de que o Estado é um mecanismo de regulação do conflito de
classes, a tensão irreconciliável entre o proletariado e a burguesia. Ao regulamentar esses
antagonismos em vez de eliminá-los - o que Lenin julgava impossível sem uma revolução
violenta o Estado serve para estabilizar o sistema capitalista como um todo e preservar sua
existência ( Vasconcellos, 2002).
Estruturalistas diferenciam entre os interesses de longo prazo e de curto prazo da
classe capitalista, a fim de descrever a necessidade do Estado para o sistema capitalista. Os
interesses de curto prazo da burguesia incluem políticas que afectam a acumulação de capital
no futuro imediato, como isenções fiscais, salários mínimos reduzidos, subsídios do governo.
Eles sustentam que quando o Estado não está beneficiando os interesses de curto prazo da
classe burguesa, está agindo em nome de seus interesses futuros.
7

Consequentemente, quando o Estado parece actuar em favor do proletariado e não da


burguesia (elevando salários mínimos, aumentando os direitos dos sindicatos de
trabalhadores, etc.), está servindo aos interesses capitalistas atendendo às demandas dos
trabalhadores apenas o suficiente para evitar uma insurreição que poderia ameaçar o sistema
como um todo. Como os interesses do proletariado e das classes capitalistas são contrários, o
Estado é necessário para regular o sistema capitalista e assegurar sua preservação, forçando os
capitalistas a concordar com as exigências dos trabalhadores, os quais, de outra forma, não
sucumbiriam, idem.

2. Paradigmas emergentes na Antropologia (Pós-modernismo e Interpretativismo)


A Antropologia Pós-moderna ou crítica surge nos anos 1980 e está preocupada com a
Pós- modernidade, rompeu com os padrões da idade moderna, e é caracterizada pelas
abundantes transformações nos âmbitos artísticos, filosóficos, científicos, económicos,
políticos, estéticos, éticos e culturais (Santos, 1986). Segundo numerosos filósofos e
sociólogos, a pós-modernidade começou a manifestar-se mais intensamente na década de
1950.
O desenvolvimento da computação, a critica da cultura ocidental realizada pela
filosofia, a explosão da bomba em Hiroxima e Nagasaki, o final da segunda guerra Mundial, a
queda do Muro de Berlim, a falência da Guerra fria, a queda do comunismo e do socialismo, o
aparecimento do grupos económicos expansionistas, a fragilização das barreiras geográficas, a
globalização, a crise do capitalismo e a critica consistente aos padrões éticos e estéticos são
apenas alguns indícios de que o mundo que moldou/ formou as gerações anteriores não é mais
o mesmo (Gonçalves, 2015 & Santos, 1986).
A sociedade pós-moderna baseia-se no individualismo, no niilismo, no vazio, no
consumismo e na ausência de valores e de sentido para a vida (Santos, 1986). De igual modo,
outros elementos também se destacam: a valorização exacerbada do momento presente, a
liquidez nos relacionamentos pessoas e no trabalho, o redimensionamento do desejo, da
sexualidade, do hedonismo e a busca pelo prazer imediato, a qualquer custo. A par de todo o
exposto, é possível inferir que o pós-modernismo e paradigma emergente são temas que
dialogam, na medida que revelam e desencadeiam incontáveis modificações, em diversos
segmentos da vida, da actividade e do pensamento humano. Entretanto, é preciso salientar que
alguns sectores não acompanharam as alterações no pensamento, no modo de ser, de agir, de
se relacional, como por exemplo, a instituição da educação, que, por vezes, tem repetido os
8

padrões modernos, mantendo-se, alheia as inovações pós-modernas e presentes no novo


paradigma, justificando, deste modo, a relevância desta pesquisa (Santos, 1986).

2.1. A experiencia em John Dewey

Dewey,. É considerado um dos principais representantes do pragmatismo, doutrina


segundo a qual as ideias são instrumentos de acção, e somente fazem sentido quando
produzem efeitos práticos e reais (Dewes apud Westbrook, 2010). Para o autor, o tipo de
educação denominado de “escola clássica/tradicional’ demostrava-se insuficiente frente as
inúmeras transformações históricas, sociais e económicas ocorridas entre nos Seculos XIX e
XX (Souza e Martineli, 2009).

Dewey argumenta que toda aprendizagem de ser integrada a vida, isto é, adquirida em
experiencia real de vida. O conhecimento so tem sentido se ele é capaz de dar sentido do
sujeito. Por isso, a aprendizagem não pode ser desvinculada da vida e das relações humanas
(Dewes apud Westbrook, 2010).

2.2. Conexões entre a pós-modernidade e o paradigma emergente


A pós-modernidade baseia-se no individualismo, niilismo, ausência de valores e
sentidos de vida, prazeres imediatos, bem como na descrença da razão, indagações constantes
acerca de tudo o que está posto, pluralismo ético e teórico, e proliferação de novos projectos e
paradigmas (Azevedo, 1993). Paradigma refere-se ao modelo ou a padrões compartilhados
que permitem a explicação de certos aspectos de realidade, sendo mais do que uma teoria e
implicando em uma estrutura que gera novas teorias . (Kuhn, 1994). No século XIX, o modelo
utilizado para explicar a realidade era o Paradigma Tradicional, cujos princípios são:
objectividade, estabilidade e simplicidade (Santos, 2008).

No inicio do século XX, questionamentos a respeito do Paradigma Tradicional da


ciência começaram a seguir, no próprio domínio linguístico da ciência, com contribuições dos
físicos Max Plank, Einstein, Niel Bohr, Boltzman, Heisenberg. Mais 8 recentemente,
acrescentaram-se as contribuições de outros cientistas, tais como o químico russo Ilya
Prigogine, o físico e Ciberneticista austríaco Heinz von Foerster, o bio-físico francês Henri
Atlan, os biólogos chilenos Humberto Maturana, Francisco Varela ( Vasconcellos, 2002),
entre outros.

Em plena pós-modernidade, vem ganhando destaque um modelo com a finalidade de


abarcar as descobertas recentes e que se dispõe a explicar outros aspectos da realidade: o
Paradigma Emergente, Este novo modelo, basicamente, altera a primazia da objectividade,
9

estabilidade e simplicidade para complexidade, intersubjectividade e imprevisibilidade,


Ibidem.

Especificamente em relação a totalidade e a integralidade, para o Paradigma


Emergente torna-se fundamental considerar e os conhecimentos enquanto possibilidade e
universalidade. Isso significa que: o conhecimento pós-moderno, sendo total, não é
determinístico (Capra, 1996). Alem de tais pilares (complexidade, intersubjectividade e
imprevisibilidade), Santos (2008) defende que “todo o conhecimento científico visa
constituir-se em senso comum”. Tal pensamento opõe-se a ideia predominante na sociedade
moderna na qual o conhecimento estava concentrado nas mãos da elite, sendo marcado por
restrições.

Em linhas gerais, o Paradigma Emergente é um modelo ou forma de interpretar oo


mundo com novos olhares, a partir de uma construção de tudo o que está posto. O homem
passa a ser visto como complexo, objectivo e imprevisível, ao contrário do que pregava o
paradigma tradicional, que valorizava a objectividade, estabilidade e simplicidade. Desta
forma, nota-se uma relação de sintonia entre pós-modernidade e Paradigma Emergente, uma
vez que ambos acenam para novas formas de explicar, interpretar o mundo e tudo o que está
posto. Isto é, tanto na pós-modernidade quanto no Paradigma Emergente há uma fluidez e
uma identificação nos conceitos, nos modos de ser, pensar e explicar a realidade.

2.3. Paradigmas emergentes no pós-modernismo (Etnografia, racionalista, estrutural-


funcionalista, culturalista e hermenêutico)

Na década de 80, o debate teórico na Antropologia ganhou novas dimensões. Muitas


críticas a todas as escolas surgiram, questionando o método e as concepções antropológicas.
No geral, este debate privilegiou algumas ideias: a primeira delas é que a realidade é sempre
interpretada, ou seja, vista sob uma perspectiva subjectiva do autor, portanto a antropologia
seria uma interpretação de interpretações (Santos, 2008). Esse novo paradigma da
Antropologia apresenta quatro características básicas para sua compreensão: privilegia a
discussão acerca do discurso antropológico, mediado pelos recursos retóricos presentes no
modelo das etnografias; politiza a relação observador-observado na pesquisa antropológica,
questionando a utilização do "poder" do etnógrafo sobre o "nativo"; critica os paradigmas
teóricos da “autoridade etnográfica” do antropólogo e por último, a etnografia passa a ser
desenvolvida como uma representação polifônica da polissemia cultural, (uma negociação
com diálogos, uma expressão das trocas entre uma multiplicidade de vozes, onde fique
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evidente o outro no texto etnográfico e seu relacionamento com o antropólogo, além da


própria voz deste último)

Já sob a óptica de Roberto Cardoso de Oliveira, nota-se que a matriz disciplinar da


antropologia é constituída por quatro paradigmas básicos, historicamente demonstráveis: o
racionalista (e estruturalista em sua acepção levi-straussiana), gerado no interior da tradição
intelectualista europeia continental através da Escola Francesa de Sociologia; o estrutural-
funcionalista , cuja origem se deu na tradição empirista igualmente europeia, porém insular,
através da Escola Britânica de Antropologia Social; o culturalista, também abrigado na
tradição empirista anglo-saxónica, mas surgido na Escola Histórico-Cultural Norte-americana
e o hermenêutico, vinculado à tradição intelectualista europeia continental, reavivado,
entretanto, pelo movimento interpretativista norte-americano, em tentativa de recuperação
tardia de uma perspectiva filosófica do século XIX (Santos, 2008).

 Etnografia

A etnografia é um método de estudo utilizado pelos antropólogos com o intuito de descrever


os costumes e as tradições de um grupo humano. Este estudo ajuda a conhecer a identidade de
uma comunidade humana que se desenvolve num âmbito sociocultural concreto. A etnografia
implica a observação participante do antropólogo durante um período de tempo em que esteja
em contacto directo com o grupo a estudar. O trabalho pode ser complementado com
entrevistas para recolher mais informações e descobrir dados que sejam inacessíveis a simples
vista para uma pessoa que não pertencer à cultura visada, idem.

 Racionalista

O racionalismo é uma teoria filosófica que dá a prioridade à razão, como faculdade de


conhecimento relativamente aos sentidos. O racionalismo pode ser dividido em diferentes
vertentes: a vertente metafísica, que encontra um caráter racional na realidade e indica que o
mundo está ordenado de forma lógica e sujeito a leis; a
vertente epistemológica ou gnosiológica, que contempla a razão como fonte de todo o
conhecimento verdadeiro, sendo independente da experiência; e a vertente ética, que acentua
a relevância da racionalidade, respetivamente, à ação moral (Domingues, 2004).

 Estrutural-funcionalista
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Entretanto, vale ressaltar que funcionalismo e estrutural-funcionalismo da antropologia são


teorias distintas da abordagem sociológica, principalmente pela abordagem holística além do
fenômeno “sociedade” da antropologia. É bom distinguir o estrutural-funcionalismo da
antropologia com a teoria homônima da sociologia.

 Culturalista

O termo Culturalismo designa uma corrente antropológica americana desenvolvida a partir


dos anos 30 do séc. XX, influenciada pela psicologia e pela psicanálise e centrada no estudo
dos comportamentos humanos apreendidos como manifestação da cultura de uma sociedade.
Os principais conceitos do culturalismo são os de padrão de cultura (pattern) e de
personalidade de base. Os adeptos do culturalismo defendem que as formas e orientações
culturais são relativas inclusive em áreas consideradas como mais naturais como a educação
na primeira infância, as relações entre sexos, entre outras. Defendem também que a
individualidade biológica é inteiramente moldada pela cultura (Domingues, 2004).

 Hermenêutico

A hermenêutica pode ser compreendida como o processo de decifração de um conteúdo e de


um significado manifestos para um significado latente ou escondido  (Palmer, 1986). O termo
hermenêutico (hermeneutikem alemão; herméneutique em francês; hermeneutica em latim),
no entanto, remetia-se originalmente aos campos humanísticos, cujo significado, âmbito e
clarificação fundamental em seu desenvolvimento adquiriu novas perspectivas a partir do
Século XVII (Domingues, 2004).

A interpretação realizada pelos pós-modernos, está baseada sobre uma outra cultura
entendida como diferente e estranha a do antropólogo, mas com possibilidades de
compreensão e tradução recíprocas, através da conversação respeitosa e não etnocêntrica, do
diálogo que se caracteriza como uma actividade, não somente científica, mas de
confraternização e solidariedade humana, ou seja, pesquisador e sujeitos pesquisados
vivenciam, durante o trabalho de campo, uma espécie de jogos de interacções e de negociação
de interesses, onde informações são trocadas assim como afectividades, angústias, tensões,
frustrações entre outras subjectividades.

Segundo alguns pós-modernos, na antropologia realista ou modernista, a construção de


uma etnografia segue três quesitos fundamentais: espaço, tempo e perspectiva ou voz. Além
disso, percebe-se também entre os pós-modernos, uma categorização de três requisitos que
dão conta das estratégias para estabelecer a presença analítica do etnógrafo na produção de
12

seu texto: ´´...o diálogo adequado de conceitos analíticos (onde se privilegiam autobiografias,
que melhor permitem avaliar as experiências históricas "carregadas na memória e que
determinam a forma de movimentos sociais contemporâneos"), a bifocalidade e a justaposição
crítica das possibilidades``(Mello, 2005).

Assim sendo, percebe-se que a Antropologia interpretativa desempenhou um papel


fundamental no desenvolvimento do paradigma hermenêutico. Essa nova matriz disciplinar
apresenta-se como características: uma moderação na autoridade do autor (com a eliminação
de qualquer dose de autoritarismo); uma maior atenção na elaboração da escrita (com a
obrigatória tematização do processo de textualização das observações etnográficas); a
preocupação com o momento histórico do próprio encontro etnográfico (com a consequente
apreensão da historicidade em que se vêem envolvidos sujeito cognoscente e objecto
cognoscível) e também, uma compreensão sobre os limites da razão científica, ou da
cientificidade, da própria disciplina (o que não quer dizer que tal signifique abrir mão da
razão e de suas possibilidades de explicação).

Para Martinez (2004), a compreensão hermenêutica implica sempre o processo de


"fusão de horizontes", já que não existe o horizonte do presente em si mesmo - ele só se
coloca no encontro com o "outro". E esta "fusão de horizontes" tem conotação dupla. Em
primeiro lugar, refere-se, na relação eu/outro, ao fato de que o pesquisador não abdica de seu
horizonte, ao se abrir para a compreensão do horizonte do "outro". Em segundo, embora com
excepcional importância no que diz respeito à postura hermenêutica, envolve, para o
pesquisador, o "situar-se" no interior de uma cultura científica, alargando as possibilidades de
compreensão através da análise crítica das diversas perspectivas existentes no interior da
ciência em questão, tanto quanto exige uma atitude auto-reflexiva.

Assim, a moderna Hermenêutica propõe novos parâmetros para a reflexão sobre as


condições da pesquisa social e do conhecimento por ela produzido, contestando a autoridade
do pesquisador e sugerindo o esclarecimento do contexto do encontro etnográfico. Devemos,
portanto, reconhecer que a ´´tensão enriquecedora`` trazida pela Hermenêutica dialéctica se
faz sentir, hoje, não apenas na Antropologia ou nas Ciências Sociais, mas nos próprios rumos
da Ciência contemporânea, marcados por uma necessidade profunda de repensar questões
aparentemente resolvidas há muito tempo em perspectivas antinómicas (Santos, 2008).
13

3. Antropologia Interpretativismo
A Antropologia Hermaneutica ou Interpretativa dos anos 60 irá estabelecer a cultura
como uma hierarquia de significados, a partir de leitura que os nativos fazem de uma própria
cultura. Seu maior representante é Clifford Geertz e seu livro “ Interpretador das Culturas”,
publicado em 1973.Abordagem interpretativa mediante a descrição densa (thick description)
– consideração do contexto e das interpretações sociais – em um processo hermenêutico.
Para Geertz a separação das actividades do antropólogo entre etnografia (coletar dados) e
etnologia (interpretar dados) não fazia sentido: ao registar dados em um trabalho de campo,
o antropólogo escolhe quais fatos e como são interpretados (Mello, 2005).

Hermenêutica: o uso do círculo hermenêutico entre um evento, seu contexto e suas


interpretações fariam do antropólogo mais um crítico literário que um cientista para Geertz.
Como mencionado, para ele a antropologia não seria uma ciência experimental ou
normativa, mas uma “ciência interpretativa que persegue o significado da ação simbólica.”
Na abordagem simbólica-interpretativa há três níveis que funcionam como fases
operacionais:

 Interpretar a significação posicional de um símbolo em sua forma externa observável


em relação a outros símbolos. Com isso seria possível…

 Interpretar o ato ou fato dentro do sistema de símbolos, estabelecendo seu


significado operacional, por leigos e especialistas dentro dessa comunidade de
símbolos, para no fim…

 Descrever uma significação simbólica, dentro de um contexto percebido pelo


antropólogo.

Como em um texto, o ciclo indutivo entre esses diferentes níveis e fontes para interpretação
de símbolos e ritos particulares de uma cultura local.
14

4. Correntes Antropológicas e sua operacionalização em Moçambique


4.1. Evolucionismo no período colonial e pós-colonial em África e em Moçambique
A antropologia da era colonial é dominada pela corrente evolucionista. Ela se
restringia ao estudo das sociedades “primitivas” e à busca de explicações científicas sobre as
origens. O método empregue pelos etnólogos foi basicamente comparativo. Aqui, os usos e
costumes dos povos eram comparados às Civilizações clássicas. Na Antropologia
evolucionista, o termo “primitivo” é usado na sua acepção pejorativa para designar todas as
sociedades iletradas (ágrafas). A antropologia colonial é influenciada pela aventura da
exploração e pela luta contra a escravatura. Duas intenções bastante antagónicas (Martinez,
2004).

 A primeira foi suportada pela expansão árabe (trocas mercantis) e pela expansão
imperialista europeia, pela sede da dominação do outro;
 Segundo, verifica-se uma grande movimentação de grupos étnicos motivados por
razões diversas. O cristianismo, promovendo valores de humanismo, luta contra a
escravatura.

Desde o início da expansão europeia os invasores tiveram tendência de tratar todos os


novos povos descobertos, do Sul da África e das Américas, como seres pouco humanos, uma
doutrina conveniente que implicava que eram objectos legítimos para a escravatura,
exploração e extermínio. O projecto colonial é um projecto de implantação, de instalação dos
descobridores em terras exóticas. Os povos primitivos passam de exóticos a vizinhos. A
realidade passa a ser outra. Duas culturas se encontram. Criam- se segregações à base de
grupos étnicos e culturais.

De acordo com Martinez (2004) a expressão mais alta deste fenómeno se encontra no
Apartheid Sul-africano. Os nativos serão expropriados e desterritorizados. Fomenta- se
racismo, tribalismo de toda a sorte. O projecto colonial pretendia, substituir as culturas
primitivas pela Civilização. Os principais temas de interesse estão virados para as origens. Em
África, por exemplo, os primeiros missionários protestantes suíços eram naturalistas.
Difundindo o Evangelho, os missionários europeus se confrontam com algumas realidades
imorais: o canibalismo, a venda de escravos e o despeito da integridade humana.

Funcionalismo
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Acrescidos a estes temas, podemos mencionar interesse pela magia e pela religião
africana, designada por animista pelos evolucionistas. A escola funcionalista inglesa
desenvolveu estudos científicos sobre a organização sociopolítica dos povos africanos. Para
civilizar os “selvagens”, foi concedida autorização especial às missões católicas como
“instrumento da civilização e influência nacional”. Desde cedo, as missões católicas
cumpriram este dever fielmente, usando as línguas ocidentais como instrumento desta obra.
As missões protestantes, de seu lado, usam igualmente o método de alfabetização para a
consecução deste objectivo. O ler e o escrever foram usados como instrumento para a
transformação da sociedade. Foi usada a língua vernácula. (Harries, 2007).

A Bíblia foi empregue como livro. Com estes, a Bíblia é traduzida em outras línguas
locais. O povo aprende a ler e a escrever em sua língua nativa. Dicionários e gramáticas em
línguas locais são escritos. Mesmo assim, a alfabetização criou em terras africanas duas
classes distintas. Em 1927, funda- se em Londres, o International Institute of African
Languages and Cultures. Este instituto passa a ser chamado em 1947, International African
Institute.

Participaram antropólogos e africanistas de diversas as correntes para a fundação deste


instituto, pois os seus objectivos não eram políticos, mas puramente etnológicos. As diversas
publicações deste Instituto foram determinantes para o conhecimento científico das culturas
dos povos de África. Coloca- se o questionamento de porque é que as sociedades e as culturas
das sociedades não e europeias são diferentes destas? Com este questionamento Alexandre de
Chavannes e outros procuram conhecer mais ainda as sociedades ditas primitivas, surgindo
assim os termos como etnologia e etnografia. Foi durante a primeira metade do século XIX,
que exploradores embrenharamse no continente africano para melhor conhecer as culturas das
sociedades indígenas (Assane, 2019).

As descobertas feitas pelos militares, missionários e comerciantes entre outros nessa


época fizeram com que a burguesia eufórica planejasse a partilha de África. Nos princípios do
séc. XX o objecto de estudo da antropologia é globalizado, isto é, não só se estudam as
sociedades e culturas das ditas sociedades primitivas, mas também, as culturas e povos dos
países industrializados. Em África com a ocupação efectiva os administradores coloniais
deparam- se com uma situação nova, aquilo que Levi- Strauss designou de «negação dos
africanos do primitivo», como objecto por excelência da antropologia (Assane, 2019).
16

De acordo com Bernardi (1974), Bernardo, essa negação manifesta- se em aspectos


como: a fusão das tribos formando complexos sócio-culturais e políticos, nomeadamente
reinos, impérios e outras comunidades políticas. Esta situação pós em crise o objecto de
estudo da antropologia. Outras situações que contribuem para o descrédito deste objecto são:
O surgimento do 1º movimento nacionalista, A introdução do sistema monetário ocidental nas
trocas comerciais, Movimento de libertação religiosa, Introdução do sistema de educação
ocidental (Assane, 2019).

Por conseguinte, o desaparecimento do objecto de estudo da antropologia colocase a


seguinte questão: Qual é o futuro da antropologia cultural em África como ciência?
Kabengele Munanga antropólogo africano e africanista, analisando ideologicamente o
colonialismo, a independência e o neo- colonialismo na sua obra ` ` Antropologia em África
após as independências´ ´ , ele constata os seguintes aspectos:

 No historial – que a antropologia em áfrica inicia no séc. XV e que o objecto de


antropologia é o primitivo- o selvagem- o arcaico - o exótico, etc. com o
evolucionismo Morgan considerando as sociedades africanas a praticar a
promiscuidade e a poligamia e os acidentais a monogamia.
 b) No funcionalismo – Kabengele constata que Malinonski apela ao conhecimento das
instituições dos autóctones para melhor administrá- los no contexto da governação
indirecta (colónias britânicas).
 c) Enquanto Levy Bbruhl considera os africanos como povos que se organizam à volta
dos seus toéns e envolvidos na mitologia e Von Gennep, considera os africanos
praticando a arte primitiva e os europeus a Verdadeira arte, analisando assim a
antropologia cultural e biologicamente.

De acordo com estas situações Kabengele apela a recuperação dos africanos e da cultura
africana. Segundo ele, temos que resgatarmo- nos a nós mesmos e nossa autoestima. Práticas
etnográficas em Moçambique no período colonial e pós-colónia A política de assimilação
adoptada pelo colonialismo português, tornou de certa forma desnecessária a utilização
prática da antropologia nas tarefas administrativas. Os objectivos da colonização consistiam
na substituição dos valores culturais, políticos e económicos das populações locais e sua
integração na nação portuguesa. Os esforços feitos para criar uma pesquisa exclusivamente
antropológica em Moçambique tornaram- se inúteis; as investigações que pudessem ser
realizadas destinavam- se a fornecer às autoridades coloniais os meios capazes de reforçar a
ocupação e aumentar a reserva da força de trabalho.
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Os princípios do século XVI e XVII numerosos documentos portugueses contendo


várias indicações de carácter antropológico sobre Moçambique, hoje constitui fonte
importante para a reconstrução da história. Esses documentos possuem informações acerca
das populações locais, seus usos e costumes, dando conselhos sobre o comportamento a
adoptar no trato com estes mesmas populações bem como com políticos e religiosos. Nos
finais do século XIX encontramos relatórios de descrições etnográficas feitas por militares e
governantes, tais como Mouzinho de Albuquerque, António Enes, Massano de Amorim, etc.,
durante o período de ocupação efectiva, e nas campanhas de pacificação (primeiro seminário
interdisciplinar de antropologia, Maputo, 1987).

A preocupação em substituir as autoridades tradicionais por novas estrutura que


sirvam os interesses da administração. Fomenta-se estudos das línguas locais e cria-se a
Escola colonial em Lisboa em 1906, onde além da língua estudava-se todos os ramos da
ciência colonial. Com a subida ao poder de Salazar e a instituição do chamado nacionalismo
económico assiste-se a uma certa preocupação pelo estudo das estruturas políticas locais,
pelos usos e costume das populações, nomeadamente sistema de parentesco e casamentos, uso
e propriedade de terra, etc.. José Napoleão de Vasconcelos diz-nos: A obra da civilização que
nos propomos levar a efeito nas nossas províncias ultramarinas não poderá de modo nenhum
completar-se sem o estudo pormenorizado da sua etnografia, da sua linguística e da
antropologia (…) é ao administrador que incumbe a missão de recolher tais matérias e
apetrechá- los com conhecimento convenientes.

Rita Ferreira na sua «nota sobre o conceito de tribo» refere: abstraindo das
implicações futuras da política nacional de integração e de assimilação, os agregados
tradicionais indígenas devem considerar-se como formando os alicerces em que assenta o
edifício administrativo moçambicano. Essa organização tribal é não só de carácter altamente
utilitário para a administração, como, nas presentes circunstâncias, não é possível dispensá-la
sem graves consequências (…). A certa altura o reforço da autoridade dos chefes tribais
tornou-se uma necessidade para que os mesmos controlassem o fluxo monetário proveniente
da venda dos produtos agrícolas e do trabalho migratório, bem como a mobilização da força
de trabalho e a recolha de impostos.

Depois de 1960 e como consequência das mudanças surgidas nas colónias início das
lutas de libertação o discurso antropológico toma novas formas. Era necessário fazer bons
inquéritos e pesquisas apropriadas, publicar boas monografias para que a administração
dispusesse dos melhores instrumentos para lutar contra as acções políticas dos nacionalistas.
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Exceptuando os trabalhos de Jorge Dias sobre os Macondes (por razões militares) e de Maria
Leonor Correia de Matos mais recentemente, não encontramos em Moçambique, trabalhos
académicos no domínio da antropologia. Em contrapartida, os missionários portugueses para
o bom desempenho das suas funções tiveram de se interessar pelo conhecimento das línguas,
tendências, usos e costumes dos povos, conhecer o mais profundamente a sua psicologia.

Em suma, a essência das correntes antropológicas descritas acima, e analisando com a


história de Moçambique, em termos culturais, verifica- se que as teorias possuem aspectos
relacionados coma realidade da história e atualidade na sua operacionalização. Sob o ponto de
vista das correntes do pensamento antropológico, tendo em destaque a escola evolucionista
que fundamenta- se com o princípio enunciado por Charles Darwin de que o mundo vivo é o
resultado de uma longa acumulação de mutações e evoluções de espécies. A que se reparar
segundo a historia que antigamente os registos históricos eram feitos em pedras usando de
técnicas como a pirogravura, os Moçambicanos tinham própria cultura e crenças baseadas nos
ancestrais e antepassados, mas com a chegada dos colonos em africa, os Moçambicanos e os
africanos em geral, culturalmente sofreram uma transformação, fortificado pela presença da
igreja católica e da escolarização portuguesa, demarcouse assim uma mudança cultural, com a
modernização acompanhada da fase científica. Substanciando- se assim as demais escolas
antropológicas de difusão, estruturação e função (Assane, 2019).

Emerge uma visão da luta armada idealizada que a vê como uma experiência que
enfrentou e ultrapassou, sem grandes problemas, todos os conflitos. O estudo das diversas
formas de opressão far-se-ia através do processo de libertação com o objectivo da eliminação
das formas de «opressão do homem pelo homem». Há um esforço constante de estudar a luta
armada porque só através dela se poderá constituir uma tradição de pesquisa e de luta
enraizada nas realidades moçambicanas. A FRELIMO preconiza a defesa da posição de que a
génese da teoria social não se processa apenas nas salas de aula, no estudo dos textos, mas
também numa prática e numa luta social (Assane et al., 2019).

Mas mais marcante é a teorização a partir da prática visando a mudança social onde o
marxismo detém um lugar de eleição. Assim se referia o Presidente Samora Machel a um
jornalista em Março de 1980: «No nosso país, o marxismo é produto da luta de libertação
nacional. Nós não proclamamos o marxismo depois da independência. A própria guerra
transformou-se, no seu processo de desenvolvimento, numa guerra revolucionária popular.
Foi isto que permitiu à Frente de Libertação transformar-se num partido marxista-leninista.»
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O estudo formal do marxismo e a sua utilização constante como instrumento e método


para analisar as condições da realidade social e imposta ao cientista social. Esta imposição
ideológica condicionará o desenvolvimento da pesquisa e de aplicação de um quadro
conceptual mais consentâneo com a realidade interna.

Mas estaria a Antropologia e outras ciências sociais em condições de facultar os


instrumentos para estudo de certas dimensões do passado ainda que numa perspectiva
marxista? A partir da independência (e cremos que, mesmo, antes) os quadros políticos e
intelectuais do Partido desconfiam da Antropologia. Para o discurso antropológico tal como se
constitui historicamente, a racionalidade das culturas do Terceiro Mundo, racionalidade
construída por uma interpretação instrumental, e de algum modo fictícia e passiva, correlação
teórica da passividade e da não responsabilidade do indígena no regime colonial. O facto de a
Antropologia tertido necessidade desta visão objectivante e redutora leva-os a pôr em causa
esta disciplina assim como este tipo de visão; por vezes, menos por causa das suas teses, do
que pelo seu estatuto etnocêntrico (Santos, 2008).

Não vendo no colonialismo mais do que a aculturação ou a mudança social, a


Antropologia e acusada de justificar o colonialismo, vista que oculta o aspecto político da
realidade colonial - a suposta modernização baseada na dominação. A violência e esquecida
ou justificada em nome do processo de modernização. Em consequência disso e por razões
explicitamente políticas e ideológicas, a desconfiança estende-se também à Sociologia.

4.2. A Ruptura com a Antropologia Clássica e a Transição Socialista

Perante uma dinâmica que exige atenção e intervenção permanentes, que nos são
impostas seja premência de realização de projectos de desenvolvimento, surge a necessidade
da continuação da intenção antropológica. Mas como combinar a intenção antropológica com
a recusa da Antropologia clássica? Esta será assinalada por uma ruptura. Ruptura flmpirica:
tomada em consideração a história concreta das populações africanas - da monografia da
aldeia passa-se para o estudo dos grupos sociais nacionais; ruptura teórica: explicação
materialista da história, um estudo contínuo da realidade social nas suas condições
específicas, concretas em termos de tempo e de espaço.

Segundo Mello (2005), no contexto de Moçambique, a investigação social,


desenvolvida de forma mais sistemática no Centro de Estudos Africanos (CEA) da
Universidade Eduardo Mondlane em finais dos anos 1970, jogou um papel imediato e activo
no processo de transformação socialista. A estratégia da transição socialista, baseada numa
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aliança de classe de operários e camponeses definida pela FRELIMO, afectou em duas frentes
a investigação: primeiro, na escolha dos temas e matérias de investigação, segundo, na
unidade da investigação com o ensino e aplicação dessa investigação.

Esta elaboração conduz à explicação das estruturas sociais tradicionais em termos


marxistas dos modos de produção. Algumas pesquisas bem como as suas reflexões teóricas
ilustram esta tendência. Numa investigação realizada sabre regime de trabalho forçado nas
plantações no centro do país, Carlos Serra afirma: «A introdução de formas de acumulação de
capital ligadas quer ao mussoco quer à produção de plantação, fez-se, na Zambézia, com a
preservação/negação dos modos de produção pré-capitalistas.»

Moçambique é caracterizado por um mosaico cultural e linguístico e outras


especificidades que necessitam de um novo enfoque e carecem de uma reconceptualização e
de uma contestação de certas ortodoxias e paradigmas científicos. O conceito de relações
sociais de género tem estado a ganhar, na prática das reflexões da Sociologia e da
Antropologia, estatuto de paradigma, ao informar sabre as relações sociais entre homens e
mulheres. Neste sentido, esta postura teórica anuncia uma profunda mudança na delimitação
do objecto. Se, até há pouco, o objecto de estudo era a construção social e subordinada do
feminino, hoje, remodelado, é a construção das relações sociais entre homens e mulheres, isto
é, as relações de género (Assane, 2019).

Este enfoque dinâmico significa uma alteração na era dos estudos sabre a mulher -
mulher e educação, mulher e politica, mulher e família -, descortinando novas horizontes. Não
basta indicar o lugar onde estão as mulheres, o que fazem, ou que não fazem. É preciso
apreender o cerne das relações sociais que são também constitutivas das relações de género e
vice-versa.
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Conclusão

Depois duma leitura profunda do trabalho é de salientar que o Marxismo Estrutural


surgiu em oposição ao marxismo humanista que dominou muitas universidades ocidentais
durante a década de 1970. Em contraste com o marxismo humanista, Althusser salientou que
o marxismo era um ciência que examinava estruturas objectivas e ele acreditava que o
Marxismo: humanista, histórico e fenomenológico, que era baseado nos primeiros trabalhos
de Marx, foi pego em uma "ideologia humanista pre-científica". Os estruturalistas vêem o
estado em um modo de produção capitalista como tendo uma forma especificamente
capitalista, não porque indivíduos particulares estejam em posições poderosas, mas porque o
Estado reproduz a lógica da estrutura capitalista em suas instituições económicas, legais e
políticas.
Após a emergência da Antropologia como ciência desenvolveram-se diversas
correntes que, de certa forma, espelharam as várias concepções do que devia estudar esse
ramo do conhecimento humano. Assim, seguiram-se várias posições como a dos
evolucionistas, dos difusionistas, dos funcionalistas e dos estruturalistas. Apesar das
divergências nos procedimentos metodológicos e conceptuais, pelo menos todas essas
correntes centraram-se no estudo do Homem como um ser cultural. As correntes da
antropologia, vieram, em virtude, responder certas questões referentes a diversas
manifestações e personalidades, variando de povo para povo.
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