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Afranio Coutinho Formacao Da Literatura1
Afranio Coutinho Formacao Da Literatura1
da história da literatura
Prof. Dr. Flávio Leal
Nas décadas de 1960 e 1970, Afrânio Coutinho realizou diversas viagens para o
exterior, como professor visitante em grandes universidades dos Estados Unidos, da
Alemanha e da França, também com o intuito de ampliar os estudos literários
brasileiros, nas universidades estrangeiras visitadas, promovendo a leitura e difusão
dos estudos críticos e historiográficos sobre a Literatura Brasileira.
Afrânio Coutinho, após estudar nas universidades dos Estados Unidos da América,
é tomado como difusor, principalmente, na academia e cenário brasileiros, do New
Criticism norte-americano, método analítico que privilegiaria o estético e literário no
estudo da obra artística. Como afirma Afrânio Coutinho, na sua Introdução, a
concepção estética da crítica determina o reconhecimento da supremacia da obra.
Assim, a crítica deveria partir do pressuposto de que o estético existe na obra,
recusando-se a percebê-lo tão-somente no autor ou no meio, pondo em segundo plano
os métodos extrínsecos de abordagem da literatura, tais como os aspectos “históricos,
sociológicos, biográficos, eruditos”, compreendidos e úteis, apenas quando auxiliam
no entendimento e nos esclarecimentos sobre o “monumento literário” estético.
Como Afrânio Coutinho obteve, em seus anos e viagens ao exterior, acesso a estas
idéias e debates teóricos contemporâneos sobre o New Criticism, seus textos tentam
privilegiar a análise formal da manifestação estética, por isso tomado como um
grande difusor no Brasil dos vieses de análise desta corrente. Sempre coerente com os
seus posicionamentos teóricos, Coutinho inflamou alguns críticos, na tradição
brasileira, pois o Professor Wilson Martins, por exemplo, em A crítica literária no
Brasil, ataca ferozmente a possível contradição no arcabouço estético-literário de
Coutinho, como um “vulgarizador de doutrinas alheias”, em sua história da literatura.
Portanto, o crítico Wilson Martins vocifera:
(...) doutrinando sem cessar sobre o que a crítica deve ser, Afrânio
Coutinho jamais demonstrou, pela prática dos seus princípios, o que ela
pode ser. Em teoria, tratava-se de substituir a abordagem historiográfica
(ou “historicista”, como ele prefere dizer em terminologia depreciativa)
pela análise técnica do texto, mas é coisa que nem ele, nem os seus
discípulos realmente fizeram. A obra máxima em que a doutrina deveria
ter encontrado comprovação foi... uma história literária, na qual a
abordagem “historicista” é inevitável e natural, embora dissimulada, no
caso, pelo vocabulário supostamente estético ou “estilístico” (outra
palavra prestigiosa, empregada, aliás, a contra-senso e, ao que parece,
posteriormente abandonada). [18]
Afrânio Coutinho ressalta nas páginas iniciais de seu primeiro prefácio que “a
crítica estética não implica o afastamento ou isolamento de outros conhecimentos
necessários à situação da obra literária e à compreensão de suas relações no tempo e
no espaço. São conhecimentos secundários, subsidiários, auxiliares, mas que não se
podem omitir”[24]. Coutinho nunca pretendeu recusar os aspectos históricos, sociais
e temporais na sua obra, porém somente tentou dar-lhes uma percepção e funções
secundárias, em relação à autonomia e análise estética da obra literária, pois, segundo
o Professor Coutinho, “Por um fato estético-literário é mais adequado um método
estético-literário, inspirado em teoria estético-literária.” [25]
Nesta posição ufanista e romântica, Coutinho afirma que o europeu, tomado pelo
“espírito nativista”, havendo nele constantemente uma “tendência nacionalizante e
diferenciadora, surgida com o primeiro homem que aqui assentou pé”, já perseguia
“firme no desenvolvimento de um país novo”, expressando-se numa linguagem que
demonstra o sentimento nativista e de brasilidade, em unidades tipológicas, estilos
literários, em uma linguagem própria.
Notas:
[2] Obras: Daniel Rops e a ânsia do sentido novo da existência, ensaio (1935); O
humanismo, ideal de vida, ensaio (1938); L'Exemple du métissage, in
L'Homme de couleur, ensaio (1939); A filosofia de Machado de Assis, crítica
(1940); Aspectos da literatura barroca, história literária (1951); O ensino da
literatura, discurso de posse na cátedra de Literatura do Colégio Pedro II
(1952); Correntes cruzadas, crítica (1953); Da crítica e da nova crítica (1957);
Euclides, Capistrano e Araripe, crítica (1959); Introdução à literatura no
Brasil, história literária (1959); A crítica (1959); Machado de Assis na
literatura brasileira, crítica (1960); Conceito de literatura brasileira, ensaio
(1960); No hospital das letras, polêmica (1963); A polêmica Alencar-Nabuco,
história literária (1965); Crítica e poética, ensaio (1968); A tradição
afortunada, história literária (1968); Crítica & críticos (1969); Caminhos do
Pensamento Crítico, ensaios (1972); Notas de teoria literária, didática (1976);
Universidade, instituição crítica, ensaio (1977); Evolução da crítica literária
brasileira, história literária (1977); O erotismo na literatura: o caso Rubem
Fonseca, crítica (1979); Tristão de Athayde, o crítico, crítica (1980); O
processo da descolonização literária, história literária (1983); As formas da
literatura brasileira, ensaio (1984); Reformulação do currículo de Letras,
educação (1984); Impertinências, artigos e ensaios (1990); Do Barroco,
ensaios (1994). Ainda, em sua trajetória acadêmica, Professor Afrânio
Coutinho publicou inúmeros artigos, prefácios e estudos críticos, no Brasil e
no exterior.
Obras Organizadas: Memórias de um sargento de milícias, de Manuel
Antônio de Almeida (s.d.); Os retirantes, de José do Patrocínio (s.d.);
Cabocla, de Ribeiro Couto (1957); A literatura no Brasil, 4 vols. (1955-59), 6
vols. (1968-71 e 1986); Obra completa de Jorge de Lima (1959); Obra
completa de Machado de Assis, 3 vols. (1959); Brasil e brasileiros de hoje,
biografias (1961); Romances completos de Afrânio Peixoto (1962); Obra
completa de Carlos Drummond de Andrade (1964); Estudos literários de
Alceu Amoroso Lima (1966); Obra completa de Euclides da Cunha, 2 vols.
(1966); Obra poética de Vinicius de Morais (1968); Obra crítica de Araripe
Júnior, 5 vols. (1958-1966); Cruz e Sousa (1975); Obras de Raul Pompéia, 10
vols. 1981-1985; Enciclopédia de Literatura Brasileira, 2 vols. (1990). Para a
coleção Fortuna Crítica, organizou os volumes Carlos Drummond de Andrade
(1977); Graciliano Ramos (1977); Cassiano Ricardo (1979); Manuel
Bandeira (1980). Além de colaboração em jornais, desde 1934, escreveu
inúmeros artigos para diversas revistas especializadas reconhecidas nacionais
e internacionais.
[5] A primeira edição da obra de 1955, publicada pelo Editorial Sul Americana
S.A, traz, em sua contracapa, o seguinte planejamento: Vol. I: Introdução,
Barroco, Neoclassicismo, Arcadismo, Romantismo. Vol. II: Realismo,
Naturalismo, Parnasianismo, Vol. III: Simbolismo, Modernismo e Tendências
Contemporâneas.
[6] http://www.ceac.ufrj.br/
[12] Nota referencial: “Croce identifica a poesia - e a arte em geral - com a forma
da atividade teorética que é a intuição, conhecimento do individual, das
coisas singulares, produtora de imagens - em suma, forma de conhecimento
oposta ao conhecimento lógico. A intuição é concomitantemente expressão,
pois a intuição distingue-se da sensação, do fluxo sensorial, enquanto forma,
e esta forma constitui a expressão. Intuir é exprimir. A poesia, como toda a
arte, revela-se portanto como intuição-expressão: conhecimento e
representação do individual, elaboração alógica, e por conseguinte irrepetível,
de determinados conteúdos. A obra poética, conseqüentemente, é una e
indivisível, porque “cada expressão é uma expressão única”. AGUIAR E
SILVA, Vitor Manuel de. Teoria da literatura. São Paulo: Martins Fontes,
1976. p. 219-220.
[18] MARTINS, Wilson. A crítica literária no Brasil, Vol. II; 3ª ed. atual. RJ:
Francisco Alves, 2002. p. 62.
[34] O prefácio da terceira edição, em 1986, ocupa meia página, contendo três
breves parágrafos, apenas para informar que a Era Modernismo havia
chegado ao seu término por volta de 1960 e as novas perspectivas insinuavam
um período já denominado de Pós-modernismo;
[46] Idem. Introdução à literatura no Brasil. RJ: Livraria São José, 1964. p. 113.