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ÍNDICE:
Primeiro Capítulo:
Da infância de Bernard Aucouturier à sua nomeação no Centro de Tours (França)
Durante os primeiros anos de vida, Bernard foi livre para descobrir a natureza, a floresta e os
campos. Seus pais não o obrigavam a ir à Escola. Este período de vida marcou profundamente
sua história pessoal e profissional. Sua infância deixou muitas lembranças, particularmente o
período de 1940/45, época em que ocorreu a independência de sua cidade pelas tropas
americanas.
Chega um período negro de dois anos no serviço militar que incluiu uma experiência difícil vivida
na guerra da Argélia. Bernard se recusa a usar armas. O medo e as imagens horríveis da guerra
o levam a trabalhar pelas crianças argelinas: cria duas escolas e um abrigo para cuidar das
famílias. Este período foi decisivo em seu engajamento no respeito às pessoas e às culturas.
Em 1961, Bernard é nomeado professor de um Liceu em Lyon. Ele não aprecia o trabalho
voltado para o ensino de esportes, entretanto se interessa pela reeducação de crianças surdas.
Em 1962, ele muda de via profissional e se torna professor do Centro de Reeducação Física de
Tours, que acolhe crianças que apresentam distúrbios morfológicos e funcionais, como também,
crianças que apresentam graves distúrbios de comportamento.
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A partir deste período começa uma nova experiência que o permitirá construir progressivamente
a Prática Psicomotora Aucouturier no campo educativo e terapêutico.
Segundo Capítulo:
Esta nova experiência no Centro de Reeducação Física da cidade de Tours (centro que mudará
duas vezes de nome: em 1970, Centro de Educação Física Especializada e em 1985, Centro de
Prática Psicomotora) teve orientações diferentes: uma primeira destinada às crianças que
apresentavam deficiências morfológicas e respiratórias, baseada numa ginástica corretiva que
tinha como objetivo ensinar a aquisição da posição de pé normalizada. Porém, rapidamente,
Bernard se distancia deste dogma corretivo, utilizando como princípio o respeito à morfologia de
cada criança.
Para Bernard, a morfologia é ao mesmo tempo ligada a fatores hereditários e a fatores tônico-
emocionais dependentes de um estado afetivo latente, particular de cada criança. Bernard
empenha-se em respeitar a personalidade de cada criança, através de sua maneira postural de
ser. A morfologia estática ou dinâmica tornava-se, assim, um parâmetro de comportamento,
como também, uma expressão de si.
A prática proposta tinha um olhar individual à criança e consistia em deixá-las livres para
descobrir sua própria atitude, sentindo-se bem e buscando as sensações internas de equilíbrio,
de relaxamento tônico, de simetria corporal, dando bastante importância à exploração de sua
própria morfologia em relação a uma ou várias crianças do grupo. Nada era imposto e cada
criança escolhia o que a convinha para seu bem estar postural e pessoal. Foi uma revolução,
mas Bernard teve a oportunidade de poder contar com outros professores de educação física
especializada, também engajados na revisão das questões da reeducação postural.
Esta experiência pedagógica específica com crianças de 5 a 10 anos confirmava, pelo prazer
das crianças, um bem estar em seus corpos e em suas atitudes posturais e psíquicas, provando
que:
- O esquema corporal se estruturava em um nível não consciente pela variedade de experiências
sensoriomotoras e tônico-emocionais vividas na relação com os outros.
- O tônus dos músculos da vida de relação e do equilíbrio não era dependente somente de uma
maturação neuromotora, mas também de uma relação afetiva compartilhada e do prazer de estar
em pé diante dos outros.
Uma outra experiência pedagógica vivida por Bernard, foi com crianças de turmas de
aperfeiçoamento, turmas especiais da escola elementar que acolhiam crianças que não podiam
seguir um ciclo normal de aprendizagem escolar, em função de dificuldades de adaptação
diversas.
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as crianças eram colocadas em situações livres utilizando o movimento, o espaço, o ritmo, a voz,
a linguagem e os materiais. Os objetivos destas sessões eram a expressão não verbal, a
comunicação, e a criação individual ou coletiva. A pedagogia era flexível e deixava um grande
espaço às iniciativas de cada criança e isto dava a Bernard a ocasião de descobrir outras
crianças. Vários professores confessavam estarem descobrindo as crianças de sua turma,
durantes estas sessões. É verdade que as crianças desabrochavam, que seu prazer era
evidente durante as sessões e que o interesse pelas atividades escolares e o prazer de aprender
eram despertados.
Encorajado pelos resultados desta ajuda oferecida a estas crianças, Bernard começa a trabalhar
regularmente com crianças da creche e da escola maternal. Numa sala apropriada, com um
material simples, onde se podia trepar, saltar, cair, rolar, se balançar e utilizar blocos de espuma
para construir, destruir e tecidos para se fantasiar, as crianças viviam o prazer da liberdade do
movimento e da brincadeira. A pedagogia consistia em acompanhá-las, assegurando-as material
e afetivamente.
A partir daí, Bernard decide ajudar crianças deficientes a se comunicar. Seu desejo de ajudá-las
a sair do isolamento era forte. Porém, seu engajamento na terapia psicomotora foi
verdadeiramente consolidado a partir da decisão de ajudar de 1970 a 1973 uma criança enferma
motora cerebral sem linguagem: o menino Bruno¹.
Terceiro Capítulo:
O trabalho desenvolvido em Tours - Segunda Parte
A terapia psicomotora de Bruno marcou a escolha profissional de Bernard, que optou por um tipo
de ajuda onde a criança era o ator principal e na qual o terapeuta devia se ajustar, sem querer
corrigir qualquer aspecto de seu comportamento. A essência da terapia era a de encontrar a
criança num nível de comunicação não verbal, origem de toda a evolução futura. Assim, Bruno
se abriu à comunicação e à linguagem (através de palavras-frases). Bruno se abriu à vida!
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Os quinze primeiros anos de experiência educativa e terapêutica no Centro de Tours foram
determinantes para a escolha de suas opções filosóficas, psicológicas e práticas. Nesse período,
Bernard se convence de que a evolução afetiva e cognitiva da criança se baseia: na liberdade de
movimento e de expressão, dentro de um enquadre de segurança; no acolhimento a todas as
emoções - das mais alegres as mais dolorosas -; na busca permanente do prazer da
comunicação, considerando todos os signos verbais e não verbais; e na criação de propostas
que possam ser recebidas tônica e emocionalmente pela criança.
Paralelo a isso, em 1967, Bernard cria, juntamente com André Lapierre e Pierre Vayer, a
Sociedade Francesa de Educação e Reeducação Psicomotora, na qual Bernard era o secretário
geral e André Lapierre o presidente. O primeiro colóquio internacional desta Sociedade
aconteceu em Tours, em 1969, onde se encontraram centenas de profissionais interessados
numa abordagem mais relacional, tanto no campo da educação, quanto da terapia. A partir daí,
algumas pessoas começam a ir ao Centro de Tours para observar e discutir com Bernard sobre
a Prática Psicomotora, que ia progressivamente se construindo. Em 1980, Bernard abandona a
S.F.E.R.P.M., o que corresponde a sua ruptura profissional com André Lapierre.
Bernard reconhece que a construção desta prática só foi possível graças à excelente condição
material e espacial adquirida no Centro de Tours, assim como, à liberdade institucional que o
Ministério da Educação o deu durante todos os anos de trabalho.
O Centro de Tours, ao longo dos últimos quinze anos de atividades, que terminaram em 1996,
com a aposentadoria de Bernard, foi um lugar rico de trocas para muitos psicomotricistas
franceses e sobretudo estrangeiros; um lugar de referência em PPA que compreendia a
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Psicomotricidade a partir do prazer do movimento, da expressão livre, da brincadeira, da criação,
da interação e da comunicação.
A publicação de alguns livros escritos com outros colaboradores, entre eles, A. Lapierre, I.
Darrault, J. L. Empinet e G. Mendel, balizaram este percurso².
Hoje a ASEFOP, que tem Bernard como presidente-fundador e 35 formadores, conta com várias
escolas pelo mundo, assim distribuídas: Alemanha (Bonn), Argentina (Buenos Aires), Bélgica
(Bruxelas), Espanha (Barcelona, Bergara, Madri), Itália (Bassano, Bolonha, Milão, Nápoles e
Turim) e Portugal (Lisboa e Portimao).
Além dos cursos de formação oferecidos nas Escolas da ASEFOP, existem hoje, cursos
regulares de formação em PPA, nas seguintes cidades: Munique e Brême (Alemanha), Cidade
do México e Morélia (México), Rio de Janeiro (Brasil), Jonquere (Quebec), Lima (Peru) e São
Domingo (República Dominicana).
Assim, ao longo destes muitos anos de trabalho árduo, pesquisas e descobertas sobre o
desenvolvimento infantil, Bernard Aucouturier tornou-se inegavelmente uma referência no campo
da Psicomotricidade, construindo um arcabouço teórico-prático coerente e eficaz, que torna a
PPA uma prática viva e dinâmica, que se enrique e se aprofunda permanentemente.
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²Livros publicados no Brasil:
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