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editorial

Ricardo Pinto

A esposa entra no escritório do marido com a mãe ao lado e prias, a solução. Afinal, na Mediação, as próprias partes é que tomam
logo diz: a decisão, agindo o mediador como um facilitador.
- Roberto, é verdade que teu sócio aqui na empresa acaba de morrer? Na Conciliação, a atuação do terceiro é de orientar e ajudar as par-
Ainda baqueado pelo ocorrido, o marido responde: tes, inclusive fazendo sugestões de alternativas que melhor atendam
- É sim, querida. Por quê? aos interesses de todas as partes.
- Você pode colocar a mamãe no lugar dele? Finalmente, na Arbitragem, as partes, por livre e espontânea von-
Sem pestanejar, o marido arremata: tade, elegem um terceiro, o árbitro ou o Tribunal Arbitral, para que este
- Pode pedir ao coveiro, querida. Por mim, tudo bem. resolva a controvérsia de acordo com as regras estabelecidas no Manual
Quando problemas e divergências são resolvidos rapidamente, de Procedimento Arbitral das Centrais de Conciliação, Mediação e Ar-
tudo funciona melhor e há menos desgastes. Isso vale para nossa vi- bitragem. O árbitro ou Tribunal Arbitral escolhido pelas partes emitirá
da pessoal e também para as empresas, como no caso do Roberto, de uma sentença que terá a mesma força de título executivo judicial, contra
nossa história acima. Mas infelizmente isso não costuma acontecer na a qual não caberá qualquer recurso, exceto embargos de declaração.
Justiça brasileira. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgou em Um processo de mediação de conflito deve obedecer a cinco eta-
2015 que, até 2014, tramitavam 99,7 milhões de processos judiciais pas distintas:
no país, sendo que 70,8 milhões referiam-se a pendências de anos Acolhimento – trata-se do recebimento das partes envolvidas e que
anteriores. Grosso modo, é possível dizer que existia um processo estarão afetadas pela carga negativa do conflito. Nesta fase, o me-
para cada dois brasileiros e, sabendo que em cada ação há pelo menos diador trabalha para criar harmonia e confiança entre ele e as partes;
duas partes, é como se toda a população brasileira estivesse envol- Declaração de abertura – momento em que o mediador se apresenta,
vida em algum tipo de disputa judicial. Além disso, o primeiro grau informa os objetivos e procedimentos da mediação, esclarece como
de jurisdição demora quase quatro anos para encerrar um processo. funciona a sessão, define as regras de processo junto com as partes
Uma justiça lenta como a nossa pode ser injusta e desigual, mas e identifica o objeto da mediação que será inicialmente trabalhado;
desde dezembro de 2015 a sociedade brasileira passou a contar com Narrativa das partes – etapa em que cada parte expõe sua visão do
a Lei de Mediação (Lei 13.140/2015), reforçada pelo Novo Código conflito;
de Processo Civil (Lei 13.105/2016), em vigor desde março de 2016. Identificação de questões, interesses e necessidades – fase em que o
Ambas as leis tratam e incentivam a solução de conflitos e disputas mediador mapeia as posições de cada parte, identificando os inte-
diretamente entre as próprias partes, de maneira mais ágil, autônoma resses e as necessidades que foram afetados, ou seja, o motivo do
e econômica. E redundando em menor desgaste emocional de todos surgimento do conflito;
os envolvidos. Criação de opções – finalmente, as partes criam todas as alternativas
No caso das empresas, a mediação se mostra ainda mais inte- para a solução do conflito. O mediador trabalha com as partes na
ressante, porque tem o potencial de preservar as relações comerciais análise de cada opção até chegarem, de comum acordo, na escolha
depois de resolvida a controvérsia, bem como de prevenir novas e da melhor opção.
futuras controvérsias, além de otimizar os processos. Isso sem citar Embora os acordos de mediação informais ou os consubstanciados
o menor custo financeiro e a maior rapidez na solução dos conflitos. em títulos extrajudiciais possam ser contestados na esfera judicial pos-
Segundo o CNJ, há importantes diferenças entre a Mediação, a teriormente, a prática mostra que não é isso o que vem acontecendo,
Conciliação e a Arbitragem. Na Mediação, a solução de conflitos é haja vista que a solução partiu das partes e não de um terceiro.
auxiliada por um terceiro neutro e imparcial, que faz as partes con- Sua empresa já está priorizando a mediação na solução dos
versarem, refletirem, entenderem o conflito e buscarem, por elas pró- conflitos?

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índice

“A vida já é curta, mas nós a tornamos ainda mais


curta desperdiçando tempo.” Especial 6 Irrigação: o seguro da lavoura
Victor Hugo
Quais são os maiores desafios na
“Conhece as tuas pessoas. O que é que fazem bem, Fórum 14 gestão da Governança Corporativa do
o que gostam de fazer, quais são as suas forças e setor sucroenergético?
fraquezas, e o que é que eles querem e precisam
Tecnologia
de obter dos seus empregos.”
Robert Townsend agrícola
16 Manejo moderno de herbicidas

“Contratamos grandes atitudes e ensinamos-lhes


todas as funcionalidades de que necessitam.” 20 A cana energia e sua versatilidade
Herb Kelleher

“Nas empresas cuja riqueza reside no capital Tecnologia


intelectual, as redes, em vez das hierarquias, são
industrial
24 Cresce a procura por fábricas
de açúcar
o modelo organizacional correto.”
Thomas A.Stewart
Conjuntura 28 Recuperação Judicial dá fôlego para
superar a crise

Gestão 32 Não basta ser dono: tem que


participar!
edição 185
Sistema de Gestão Antissuborno ISO
Ano 16
Novembro 34 37001: uma referência prática para o
de 2016 setor sucroenergético

A voz do 38
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Considerando o clima
como um dos fatores
que mais impactaram Ao longo dos últimos dez anos, a maior drico, capacidade do solo em armazenar
a produtividade região produtora de cana do Brasil, o Cen- e disponibilizar água à cultura, ambientes
tro-Sul, tem registrado grandes variações na de produção, tratos culturais, variedades
dos canaviais do
produtividade dos seus canaviais. Para se cultivadas, época de colheita e idade dos
Centro-Sul nas ter uma ideia, enquanto na safra 2009/10 a canaviais, são alguns dos itens que podem
últimas safras, a região atingia uma média de produtividade impactar diretamente o TCH. No entan-
irrigação pode ser de 89 t/ha, tendo batido 93 t/ha no Estado to, a redução da produtividade média dos
uma importante de SP, dois anos depois, no ciclo 2011/12, canaviais da região Centro-Sul também é
os canaviais do Centro-Sul registravam uma decorrente das modificações que o siste-
ferramenta para dar queda de TCH de 23,6%, para 68 t/ha, nú- ma de produção vem sofrendo nos últimos
maior estabilidade à mero que nesta safra (2016/17) deverá fe- anos, como a rápida adoção da colheita e
produção char em 75 t/ha. Se a comparação for feita plantio mecanizados; a expansão da cultura
entre as safras 2009/10 e 2016/17, a queda para novas regiões cujo regime de precipita-
de TCH chega a 15,7%. ções submete a cultura de ciclo semi-perene
Fatores edafoclimáticos, estresse hí- a um estresse hídrico mais acentuadado e
a solos com menor capacidade de armaze-
namento de água; e o uso de variedades de
cana não adaptadas a essas novas regiões.
No entanto, parece que o grande vilão
das últimas safras foi mesmo o clima. E
isso é quase um consenso entre os especia-
listas consultados pela RPAnews para esta
reportagem. O setor tem enfrentado anos de
regimes com precipitações variáveis e com
menores volumes de chuva, o que no caso
da cana comprometeu as últimas as safras.
Até mesmo as geadas, que ocorreram em
algumas regiões produtoras, também foram
determinantes para a queda do TCH.
Apegando-se ao fator clima e conside-
rando a irregularidade das chuvas e as estia-
gens como importantes causas para a queda

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da produtividade de algumas regiões pro- 1) Estande sem falhas;
dutoras nos últimos ciclos, principalmente 2) Redução de perdas na colheita;
no Oeste e Noroeste Paulista, Goiás, Mato 3) Estratégias adequadas de plantio;
Grosso, Triângulo Mineiro e Norte e Leste 4) Caminhamento coerente de safra;
do Mato Grosso do Sul, uma das ferramen- 5) Nutrição arrojada da cana;
tas disponíveis e que já tem sido utilizada 6) Fatores redutores de produtividade agrí-
por algumas unidades como instrumento cola sob controle (pragas, mato e doen-
fundamental para manter a estabilidade da ças);
produção é a irrigação, seja ela plena, com- 7) Ciclo produtivo ótimo;
plementar ou de salvamento. 8) Irrigação econômica.
De acordo com o engenheiro Agrícola, “Usinas como a Jalles Machado e a Be-
consultor técnico e gerente de Projetos em vap utilizam irrigação de salvamento e apre-
Fertirrigação e Irrigação da HidroEng Con- sentam bons resultados. No entanto, não foi
sultoria, Osvaldo Arce de Brito, as unida- a irrigação de salvamento que resolveu o
des localizadas nestas regiões sofrem com problema da produtividade. Em 2016, algu-
um clima predominantemente mais seco Veronez: “Devemos olhar a irrigação não mas destas usinas já vêm mostrando queda
só como um seguro, mas também como
durante quase toda safra, o que apesar de na produtividade dos canaviais irrigados
uma técnica que aliada a outras práticas
colaborar com a colheita, faz com que se- culturais consegue garantir e aumentar a com salvamento. Então, reforço mais uma
ja necessário pensar na verticalização da produção sem o aumento de novas áreas, vez que esses resultados dependem também
ou seja, conseguimos a tão desejada
produção ou no aumento de área cultivada, das condições edafoclimáticas e das boas
verticalização da produção”
já que a partir do mês de maio as produti- práticas agrícolas que devem ser associa-
vidades destes canaviais tendem a cair por calização da produção reduzindo, de forma das à irrigação. As usinas até o ano passado
conta da estiagem. muito significativa, não só a incorporação estavam com bons resultados, mas agora já
“Nestes casos, a irrigação se torna uma de novas áreas como também todos os cus- indicam queda de produtividade entre 15%
ferramenta importante para melhorar os re- tos de produção da usina.” e 20%. Isso indica que só a irrigação por
sultados de produtividade nesse período. O GIFC (Grupo de Irrigação e Fertir- salvamento não é a solução e sim uma fer-
Lembramos que a cana colhida no início rigação de Cana-de-açúcar) fez um estudo ramenta a mais”, destaca Viana.
de safra, quando irrigada, também apresen- para analisar quais foram os motivos que
ta um ótimo custo-benefício. Além disso, levaram seis usinas a chegarem a produtivi- A FAVOR DA
temos que lembrar que a técnica garante dades de 100 t/ha na safra 2014/15, enquan- ESTABILIDADE
níveis de produtividades acima da média, to o restante das unidades ficou na média Melhor planejamento no uso das áreas
com a garantia de se ter uma produção anu- de 70,5 t/ha. São elas as unidades Agrova- plantadas, ao permitir menor dependência
al e um canavial com maior longevidade, le, localizada em Juazeiro, BA, Cerradinho das chuvas; estabilidade de produção; se-
pois reduz o estresse hídrico da cultura nos Bioenergia, de Chapadão do Céu, GO, Aro- gurança do capital investido na produção,
meses mais secos e potencializa os ganhos eira, que fica em Tupaciguara, MG, Buriti, minimizando o risco de veranico em perí-
relativos aos tratos culturais disponibiliza- de Buritizal, SP, Jalles Machado/Unidade odos sensíveis; maior qualidade da produ-
dos à cultura”, afirma Brito. Otávio Lage, de Goianésia, GO, e Santo ção, proporcionada pelo ciclo mais homo-
Para muitas unidades, a irrigação tem Ângelo, de Pirajuba, MG. gêneo; exploração de uma maior gama de
funcionado como um seguro para a lavou- Segundo Marco Viana, superintenden- janela produtiva, permitindo a introdução
ra, pois se bem planejada e projetada, se- te do GIFC, com exceção da Agrovale, de outras culturas com foco em rentabilida-
gundo Sérgio Antônio Veronez de Sousa, que possui toda sua área irrigada de forma de ou rotação de cultura; e ainda aumento
engenheiro agrônomo e diretor da Veronez plena, foi possível identificar que as boas na produtividade, diante da possibilidade
Projetos e Consultoria, pode garantir maior produtividades agrícolas das outras cinco de adotar melhores índices de tecnologia na
equilíbrio na produção, evitando quebras usinas pouco têm a ver com mudanças ra- produção sem a limitação do insumo água,
que sempre ocorrem quando se confia ape- dicais no sistema de produção da cana, co- são alguns dos benefícios que a irrigação
nas nas chuvas. “Devemos olhar a irrigação mo novas variedades, novos espaçamentos, pode proporcionar a culturas como a ca-
não só como um seguro, mas também como novos softwares de controle planejamento, na-de-açúcar.
uma técnica que, aliada a outras práticas novos preparos de solo etc. O que se iden- A Usina Santa Vitória Açúcar e Álcool,
culturais, consegue garantir e aumentar a tificou em comum nestas usinas é que elas localizada no Triângulo Mineiro, é uma das
produção sem o aumento de novas áreas, trabalham bem os oito pilares da alta pro- unidades que apostaram na irrigação como
ou seja, conseguimos a tão desejada verti- dutividade agrícola: ferramenta para a estabilidade da sua pro-

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de 40 mm/ha/ano de água limpa”, detalha
Teixeira.
Na safra 2015/16, a usina produziu 1,06
milhões de t de cana com uma produtivida-
de média de 92 t/ha. Este ano, a expectativa
é fechar a produção 1,25 milhões de t, com
uma produtividade média de 93 t/ha. O ge-
rente Agrícola da Vale do Paracatu, revelou
que é possível notar uma grande diferença
entre as produtividades médias de acordo
o tipo de manejo da irrigação que é reali-
zado. “Nos 53% das áreas onde fizemos a
irrigação plena, o TCH da cana bateu 101.
Nas áreas onde fizemos a irrigação por sal-
vamento ou fertirrigação, ou seja, 20%, a
produtividade chegou a 89 t/ha e a cana de
sequeiro, 27% da área, atingiu 77 t/ha.”
dução. Mesmo que ainda em processo de estabilidade da produção de nossos cana- Para Leandro Lance, gerente de De-
implementação de um projeto que inclui viais. Há cinco anos, a produtividade era senvolvimento de Mercado e Inovação da
três modalidades: fertirrigação, irrigação de 53 t/ha e em 2015, o TCH médio subiu Naandanjain, apesar da queda da produti-
complementar e de salvamento, a usina já para 79,5. Isso é resultado da interação de vidade ser fruto de vários fatores, a pos-
registrou ganhos de até 30 t/ha. diversos fatores como nutrição, manejo de sibilidade de elevar rapidamente a produ-
Alexandre Nicodemo, gerente geral da variedades, qualidade de plantio, bem como tividade sem nenhuma dúvida passa pela
Santa Vitória Açúcar e Álcool (SVAA), ex- irrigação e fertirrigação”, destaca o gerente irrigação.
plica que para cada modalidade existe um geral da SVAA. “Nenhuma tecnologia disponível atual-
potencial de ganho de produtividade. “Nas Com plantio e colheita 100% mecani- mente permite ganhos de produtividade tão
áreas onde irrigamos com pivô (irrigação zados e uma lavoura própria de 11,5 mil significativos quanto a irrigação. Enquanto
complementar), tivemos um ganho de apro- ha, dos quais em 53% se faz a irrigação algumas tecnologias altamente difundidas
ximadamente 30 t/ha, um resultado que con- plena, nos outros 20% se faz irrigação por no setor buscam incrementar de 3% a 4%,
fere com a literatura, que garante um ganho salvamento, deixando 27% em sequeiro, a a irrigação apresenta, constantemente, ga-
de 10 t/ha a cada 100 mm de água reposta do Vale do Paracatu Agroenergia, localizada nhos acima de 70% a 90%. Na região Cen-
déficit hídrico. Sobre a irrigação de salva- no Noroeste de Minas Gerais, na cidade de tro-Sul temos várias regiões extremamente
mento, ainda não temos dados estatísticos, Paracatu, deve fechar a safra 2016/17 com responsivas a irrigação, seja por apresenta-
mas já verificamos em campo melhor bro- uma produtividade média de 93 t/ha. rem déficit hídrico elevado, por apresenta-
tação, perfilhamento e vigor nas áreas irri- Segundo Bruno Teixeira, gerente Agrí- rem conflitos por terras para a produção ou
gadas contra as áreas não irrigadas. Já nas cola da Destilaria Vale do Paracatu, a estru- simplesmente pelo elevado custo de com-
áreas fertirrigadas, apesar de não termos um tura utilizada hoje para sua irrigação conta prar ou alugar essas terras”, enfatiza.
histórico longo, se compararmos as áreas com 40 pivôs centrais, dois rebocáveis e 32 Segundo Brito, só a irrigação de sal-
beneficiadas com vinhaça com áreas não carretéis. “O manejo de irrigação em cana vamento, quer seja com água limpa ou vi-
beneficiadas, verificamos um ganho varian- planta via pivô é realizado conforme a ne- nhaça mais água residuária, tem garantido
do entre 5 e 10 t/ha”, revela. cessidade. Mas, geralmente, a lâmina de um melhor stand de plantas (maior perfilha-
A SVAA está localizada em uma região água é de 60 mm por pivô/mês. Em cana mento/brotação de cana soca), além de um
onde o déficit hídrico chega a 600 mm por soca, a irrigação é realizada durante sete aumento da idade fisiológica (a cana atinge
ano. Além disso, cerca de 70% da área está meses, com 60 mm/pivô/mês, o que dá uma o início da estação chuvosa em um estado
localizada em ambiente de produção D e média de 200 mm por ciclo.” de crescimento mais avançado do que uma
E, com baixa capacidade de retenção de Já os carreteis em cana planta são uti- cana não tratada com salvamento) da ca-
água e fertilidade natural. A unidade traba- lizados para a fertirrigação. São 60 mm/ na de uma safra para outra, uma combina-
lha com sistemas de pivô central rebocável, ha, sendo duas lâminas de 30 mm, e em ção que resulta em ganhos de longevidade
alas móveis e hidro roll. “A irrigação é uma cana soca a aplicação de vinhaça diluída e produtividade em relação aos canaviais
ferramenta imprescindível para o aumento é de 30 mm/ha/ano. “Ainda utilizamos os de sequeiro.
de produtividade e principalmente para a carreteis para irrigação de salvamento com “Praticamente todas as usinas realizam

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Fase Larval Fase Adulta

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uma nova realidade. Em áreas irrigadas com
pivô central e gotejamento, o ganho de pro-
dutividade agrícola médio gravita em torno
de 15 t/ha a 30 t/ha. No entanto, em algumas
situações o ganho pode chegar a 50 t/ha”,
afirma o pesquisador.
Ele explica que, ao se irrigar uma cana
que foi recentemente plantada, a mesma pas-
sa do estado embrionário para o estado ativo
de forma mais rápida, devido a maior presen-
ça da água, acelerando assim o metabolismo
da futura planta. Dessa forma, o aproveita-
mento dos adubos e corretivos pela planta de-
ve ser significativamente maior, fazendo com
que os tratos culturais de cana planta sejam
De acordo com Lance, enquanto algumas mais eficientes. Em cana soca a utilização da Segundo Figueiredo, a expansão do
tecnologias altamente difundidas no plantio de cana na região Centro-Sul
irrigação acelera a formação das raízes novas,
setor buscam incrementar de 3% a 4% tem levado à exploração de regiões
em produtividade, a irrigação apresenta, sem que necessariamente ocorra a morte das com déficits hídricos mais acentuados,
constantemente, ganhos acima de 70% raízes mais velhas, possibilitando assim uma ampliando a necessidade de irrigação
a 90% com a finalidade de equilibrar a
rebrota mais precoce.
distribuição pluviométrica e garantir
irrigação de salvamento, porém muitas ainda Variedades irrigadas, por exemplo, apre- a umidade adequada durante todo o C

não realizam um manejo hídrico eficaz. Esse sentam aumento do sistema radicular signifi- desenvolvimento do canavial
M

manejo é fundamental para atingir o máximo cativo quando expostos à maior disponibili- junto a usinas parceiras, com a prática é
Y
potencial do sistema de irrigação. É impor- dade de água no solo, o que possibilita uma possível aumentar a produtividade da ca-
tantíssimo que os colaboradores dos setores melhor arquitetura e maior absorção de água na nas regiões de Cerrados. Dados cole- CM

de irrigação de cada usina tenham consci- pela planta. Como resultado, ao longo dos tados nos experimentos mostram que em MY

ência de que eles têm em suas mãos a ferra- ciclos a produtividade agroindustrial tende cana planta a irrigação permite atingir pro- CY

menta mais eficaz para elevar a produtividade a se manter estável. Além disso, em função dutividades de até 255 t/ha com a primeira CMY

dos canaviais. Sabendo desta nobre função, do maior aporte fisiológico, a cana irrigada soca de até 220 t/ha para as melhores va-
K

cabe a cada um desempenhá-la agregando ca- tende a apresentar maiores valores para ATR, riedades, índices muito superiores a média
da vez mais tecnologias”, acrescenta Lance. quando comparada com aquelas cultivadas da região Centro-Sul do País, normalmente
Paulo Alexandre Monteiro de Figueire- em sequeiro. inferior a 80 t/ha.
do, engenheiro agrônomo, pesquisador e atu- “A crescente incorporação de novas áre- Já o ATR, no sistema irrigado tem atin-
al diretor da FCAT (Faculdade de Ciências as de lavouras de cana-de-açúcar na região gido 38 t/ha na cana planta e 31 t/ha na cana
Agrárias e Tecnológicas da Unesp – Campus Centro-Sul do Brasil tem levado à exploração soca, enquanto a região Centro-Sul produz
de Dracena), explica que a irrigação da ca- de regiões com déficits hídricos mais acentu- em média 12 t/ha. Com esses níveis de pro-
na-de-açúcar, seja de natureza suplementar ados, ampliando a necessidade de irrigação dutividade da cana irrigada, os investimen-
ou plena, representa uma alternativa viável com a finalidade de equilibrar a distribuição tos em irrigação são pagos já no primeiro
à produção e à melhoria da produtividade, pluviométrica e garantir a umidade adequada ou segundo corte, segundo o pesquisador
desde que observada as necessidades hídri- durante todo o crescimento e desenvolvimen- Vinicius Bufon.
cas da cultura e os custos para a implantação, to da cana-de-açúcar. Em Goiás e Mato Gros- “A irrigação também promove a ver-
manutenção e manejo dos diferentes sistemas so do Sul, por exemplo, o uso da irrigação, ticalização da produção de palhada da ca-
de irrigação. seja de vinhaça mais resíduos ou água limpa, na, cada vez mais importante para a receita
“A irrigação, sendo considerada uma prá- é essencial para o processo de brotação ou das usinas. O sistema de produção irrigado
tica agrícola voltada para os tratos culturais rebrota”, destaca o pesquisador. produz, em média, três vezes mais palhada
de cana planta e soca, sofre grande influência que o sistema utilizado atualmente. A pro-
da caracterização e definição das potencia- MENOS ÁGUA PARA dutividade aumenta significativamente até
lidades regionais. Nesse sentido, na região MAIS CANA regimes hídricos entre 50% e 70% do aten-
Centro-Sul, assim como em outras regiões, Imagine chegar a produtividades de dimento da evapotranspiração potencial da
o papel da irrigação é reduzir o déficit hídri- mais de 200 t/ha? Segundo pesquisa em ir- cultura para a maioria das variedades ava-
co, além de ajustar o manejo da cultura para rigação realizada pela Embrapa Cerrados liadas. Isso indica que a maioria dos siste-

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Agrovale em 1975 e hoje, com irrigação plena em 100% de seus canaviais

mas de irrigação instalados nas usinas está guns produtores no Nordeste do país para cipitações pluviométricas anuais são de no
subdimensionado para atingir a máxima viabilizar a produção da cana é a irrigação máximo 500 mm, então não há cultura de
produtividade”, confirma o pesquisador. plena, caso da Agrovale, que a pratica des- produção anual que resista.”
Bufon ainda destaca que, além dos ga- de sua fundação, há 44 anos. Cid Eduardo Os principais itens analisados antes do
nhos em produtividade, o sistema de pro- Porto Filho, diretor Agrícola da Agrovale, projeto ser finalizado foram o clima (ba-
dução irrigado permite atingir eficiência afirma que a empresa contemplou a irri- lanço hídrico), o solo (classificação pe-
no uso da água maior que o do sistema gação como ponto fundamental de viabili- dológica), sistematização, mão de obra,
de sequeiro, ou seja, produzir mais cana e dade do projeto. “A Agrovale, desde a sua importação inicial de tecnologias de ir-
açúcar consumindo menos água. “Enquan- criação e plantio das primeiras canas, sem- rigação, variedades adaptadas à caatin-
to um sistema de sequeiro produz em toro pre foi 100% irrigada. Na região semiárida ga (semiárido), disponibilidade de água
de 7 kg de cana e 1,4 kg de açúcar para (caatinga baiana), onde estamos instalados, e projetos de infraestrutura para adução,
cada metro cúbico de água que consome, sem irrigação não se produz, porque as pre- condução e modelagem de gestão da água.
o sistema irrigado pode produzir até 40 kg A produtividade histórica da usina até
de cana e 3,1 kg de açúcar com a mesma A FAVOR DA 2011 era 90 t/ha. Mas nos últimos cinco
quantidade de água. O pesquisador destaca ESTABILIDADE anos a média subiu para 105 t/ha, haven-
o potencial do sistema de produção para, Melhor planejamento no uso das do áreas comerciais em gotejo subterrâ-
onde houver água disponível, poupar os áreas plantadas, ao permitir menor neo onde as produtividades já alcançaram
recursos hídricos do País, o que representa dependência das chuvas; esta- médias de 270 t/ha em cana planta. “O
um diferencial de sustentabilidade.” bilidade de produção; segurança aumento da produtividade agroindustrial
do capital investido na produção, que temos hoje deve-se inicialmente ao
KNOW-HOW minimizando o risco de verani- modelo de gestão aplicado, onde são iden-
NORDESTINO co em períodos sensíveis; maior tificados os fatores mais importantes para
O aumento da produtividade é, indu- qualidade da produção, proporcio- a geração de produção, ou seja, tecnologia
bitavelmente, o grande desafio para os nada pelo ciclo mais homogêneo; de ponta em irrigação, fertirrigação, mane-
produtores de cana-de-açúcar do Nordes- exploração de uma maior gama jos de safra, tratos culturais, nos diversos
te, onde a precipitação pluvial, em mui- de janela produtiva, permitindo a métodos utilizados, tendo como gerador
tos locais, é distribuída irregularmente no introdução de outras culturas com de referência os trabalhos de pesquisa e
decorrer do ano, resultando numa menor foco em rentabilidade ou rotação desenvolvimento internos, ampliando com
taxa de armazenamento de água no solo de cultura; e ainda aumento na assertividade técnica e econômica as no-
durante o período seco. Esse fato causa produtividade, diante da possibili- vas formas de produzir”, explica o diretor
uma redução na evapotranspiração e, con- dade de adotar melhores índices Agrícola da Agrovale.
sequentemente, no crescimento e na pro- de tecnologia na produção sem a
dutividade da cultura da cana-de-açúcar, limitação do insumo água, são al- POTENCIAL DE
sendo necessário, na maioria das vezes, o guns dos benefícios que a irrigação IRRIGAÇÃO
uso da irrigação. pode proporcionar a culturas como Segundo o estudo “Análise Territorial
A principal ferramenta utilizada por al- a cana-de-açúcar. para o Desenvolvimento da Agricultura

12
Irrigada”, elaborado pelo Ministério da pecífico contratado pela ANA acerca da bém dos sistemas de irrigação que eventu-
Integração Nacional em parceria com a irrigação de cana, que tem previsão para almente serão utilizados deverão respeitar
Escola Superior de Agricultura Luiz de conclusão em dezembro”, afirmou a ANA uma lógica econômica que precisa ser tes-
Queiroz (Esalq/USP) e o Instituto Inte- via assessoria de comunicação. tada por modelos matemáticos concisos
ramericano de Cooperação para a Agri- O GIFC acredita que o melhor uso que garantam, antes de tudo, a sustenta-
cultura (IICA), o Brasil tem potencial pa- possível da água disponível, consideran- bilidade econômica e financeira do uso da
ra expandir as terras irrigadas em até 61 do as questões ambientais e legais, pode água que venha a ser transferida de ma-
milhões de ha, o que equivale a 10 vezes direcionar o aumento de produtividade nanciais, respeitando as regras ambientais
o tamanho atual, que é de 6,1 milhões de necessária para garantir a sustentabilida- e legais. “As pessoas já estão convencidas
ha. O maior potencial de expansão está na de do setor. Mas Viana destaca que o me- que o bom manejo da água e a irrigação
região Centro-Oeste, sendo que, o Mato lhor uso da água é apenas um dos itens são saídas para o aumento da produtivida-
Grosso do Sul tem um potencial para irri- fundamentais para que as unidades atin- de. A partir de 2017 os números tendem a
gar aproximadamente 4,5 milhões de ha.  jam o máximo potencial genético da cana- sair dos 1,2 milhão de ha irrigados para 2
Os estados de São Paulo, Rio Grande -de-açúcar. “A prática do uso da nutrição milhões, como já estimou a RPA Consul-
do Sul, Minas Gerais, Bahia e Goiás con- arrojada e fatores dos redutores da pro- toria. Isso virá com a retomada do setor.
centram 68% da área irrigada no Brasil, dutividade agrícola sob controle, conside- O GIFC entende que há falta de recursos,
que atualmente é cerca de 6 milhões de ha rando que a planta não sofrerá estresse, mas não falta de convicção sobre os bene-
no total, segundo estimativas da Agência ou seja, estará sempre com a necessidade fícios da irrigação. No ano que vem tudo
Nacional de Águas (ANA). “A parte es- de água atendida, é fundamental para di- indica que as empresas vão retomar os
pecífica do setor canavieiro é de aproxi- recionarmos as nossas ações de planeja- investimentos. Temos conhecimento dos
madamente 20% desse total, mas é impor- mento técnico e operacional.” projetos da BP, Raízen, e outras grandes
tante informar que esse quantitativo pode O superintendente do GIFC adiciona usinas que estão convencidas e devem re-
mudar com a conclusão de um estudo es- ainda que a definição de lâminas e tam- tomar os investimentos nesta área.”

13
fórum

TRANSPARÊNCIA IMPROVISO, DISSIMULAÇÃO E


NAS RELAÇÕES IMATURIDADE TÉCNICA
“A Governança Corporativa ga- “Em nossa experiência com o setor, podemos afirmar que os
nha cada vez mais importância três maiores desafios na gestão da Governança Corporativa
no mercado. Um dos grandes de- hoje são: a) Maturidade técnica: enquanto a maioria dos seto-
safios não só para o setor, mas res há décadas já empregam os conceitos mais avançados de
para todas as empresas, é prover gestão, o setor sucroenergético só há poucos anos começou
uma maior transparência nas re- a se preocupar com novas metodologias e modernização de
lações. Atuar com uma equipe de processos; b) Congruência: este desafio acaba se originando
trabalho, em todos os níveis, per- do anterior, pois na governança torna-se ainda mais difícil
feitamente alinhada com os prin- praticar o que se prega. Por exemplo, o corporativo estabelece
cípios éticos e que tenha no seu uma diretriz para redução de passivo trabalhista, mas também
escopo de trabalho a análise dos estabelece metas de produção. Na prestação de contas ao cor-
impactos de suas ações na comu- porativo a unidade afirma defender e empregar ambas as dire-
nidade em que está inserida. As trizes, mas manipula as informações relacionadas ao passivo
ações precisam ser monitora- trabalhista para garantir a produção. Ou seja, diz agir de uma
das visando prevenir e identifi- forma e na prática agem de modo diferente; c) Integridade
car desvios. Afinal, uma efetiva das informações gerenciais: toda informação inserida em um
prática de governança pode pro- sistema ou em uma planilha eletrônica por uma pessoa está
porcionar o aumento do valor da sujeita a equívocos, podendo inclusive serem equívocos in-
empresa, facilitar seu acesso a tencionais. Criar métodos seguros de entrada das informações
crédito e a novos mercados, con- nos sistemas de gestão que possibilitam a tomada de decisão
tribuir para a sua perenidade e em nível corporativo é um outro desafio a ser considerado.
para uma sociedade mais justa e Em suma, o improviso, a dissimulação e a imaturidade téc-
sustentável.” nica são verdades preocupantes e muitas vezes negadas, mas
Claudinei Jose Nogueira, que devem ser tratadas antes mesmo de se falar dos conceitos
gerente de Recursos
centrais da Governança Corporativa.”
Humanos da Pedra
Agroindustrial Ricardo Bortoli, consultor da Cadenc

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TRANSPARÊNCIA MUITO O QUE EVOLUIR
“O setor sucroenergético tem evoluído “Como o setor sucroenergético ainda possui uma grande quan-
muito nos últimos anos em alguns requi- tidade de empresas cujos acionistas, em sua maioria, são de
sitos da gestão dos seus negócios, o que in- uma mesma família, o tema Governança Corporativa ainda
clui a preparação para a prática da Gover- tem muito o que evoluir. Os exemplos são vários. Há ainda
nança Corporativa. Porém, o setor ainda companhias cujo presidente (ou diretor executivo) também é o
é dominado por empresas familiares, com presidente do Conselho de Administração, tornando ineficaz o
o comando concentrado nas mãos do di- papel do próprio Conselho. Também é comum achar Conselhos
rigente maior. Já há um movimento claro de Administração de usinas que não tenham o mínimo de 20%
dessas mesmas empresas para a migração de membros independentes. Há usinas que nem Conselho Fis-
da gestão tradicional para uma mais pro- cal ainda possuem. Outra característica fácil de identificar é de
fissional, fruto das necessidades naturais usinas e grupos que nem publicam balanço anual auditado por
que o mercado vai impondo a todos os empresa de primeira linha. Em várias das companhias limita-
segmentos de tempos em tempos. Tam- das do setor não existe a obrigatoriedade de divulgar os termos
bém muitas empresas passam a buscar es- de contratos firmados entre a companhia e partes relacionadas.
sa profissionalização da sua gestão com o Finalmente, vale dizer que poucos são os estatutos ou acordos
objetivo de abertura do seu capital. Ainda de acionistas de companhias sucroenergéticas que preveem a
temos, como setor, um longo caminho a extensão para todos os acionistas das mesmas condições obtidas
percorrer, já que essa prática exige da or- pelos controladores quando da venda do controle da companhia
ganização e a transcendência em pontos (tag along). Assim, é comum encontrar usinas e grupos em crise
que ainda estão longe de estar evoluídos. O dentre seus acionistas, principalmente quando da passagem da
sistema de governança começa com boas segunda para a terceira geração. Como tivemos uma longa cri-
práticas em todos os níveis, já que ele se se de preços de açúcar e etanol recentemente, estes problemas
dedica a prestar contas ao exigente e alerta foram potencializados. Temos muito o que evoluir em termos
grupo dos stakeholders. Dentro os princí- de governança corporativa.”
pios básicos da Governança Corporativa Ricardo Pinto, sócio-diretor da RPA Consultoria
(transparência, equidade, accountability
e responsabilidade corporativa), destaco LIDERANÇAS
aqui a transparência como fator vital pa- “Entendo que evoluir em Governança Corporativa é um grande
ra o processo em questão. E acho que há desafio para a maioria das organizações, entre elas as do setor
um caminho trabalhoso pela frente quando sucroenergético. É preciso definir políticas que atendam os
pensamos no aspecto da prática da transpa- princípios legais e éticos, e que sejam aderentes às estratégias
rência. E não estou falando aqui somente traçadas para o negócio e às melhores práticas de mercado em
do que vemos, do que está explícito e sen- gestão, especialmente de pessoas. Isso é fundamental. Implan-
do tratado nos fóruns sobre este assunto, tar, divulgar de forma ampla e transparente estas políticas e se-
mas do que está também, e principalmente, gui-las com equidade é outro passo fundamental. Outras práticas
no subliminar. Como profissional que tem importantes como pesquisas periódicas de clima organizacional,
o olhar voltado para o todo, não posso dei- busca incessante das soluções para os problemas detectados e
xar de citar a insuficiência que ainda apre- canais para recebimento de denúncias, também favorecem me-
sentamos no trato das relações e parcerias, lhorias na gestão corporativa. No entanto, é pouco provável que
internas e externas. E na forma que ainda os desafios de governança sejam efetivamente superados sem o
enxergamos, operamos, tratamos e decidi- desenvolvimento de um grupo de lideranças, nos mais diversos
mos dentro do nosso negócio. Mas acho níveis hierárquicos, efetivamente preparados para seu papel de
que há muito espaço para essa conquista.” gestor. Estas pessoas devem ser exemplos em seus comporta-
Beatriz Resende, consultora mentos dentro do que está estabelecido como cultura de uma or-
especialista em Desenvolvimento
ganização que busca excelência em Governança Corporativa.”
Humano e Organizacional da Dra.
Márcia Regina Frasson, gerente de Recursos Humanos
Empresa
do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira)

15
Para a escolha dos
ativos adequados *Paulo Donadoni
para um manejo
mais moderno Dentre os vários fatores de sucesso nância do uso de diferentes modos de
no cultivo da no manejo e controle das plantas da- ação dos herbicidas são as medidas de
cana-de-açúcar, ninhas da cana, um deles certamente manejo que irão favorecer a obtenção
está relacionado com a possibilidade de resultados satisfatórios no controle,
é importante
de se usar herbicidas com diferentes a diminuição dos riscos de surgimen-
adotar ferramentas
modos de ação. Isto devido à sinergia to de resistências e consequentemente
pautadas na que estes tratamentos podem oferecer uma redução nos custos de produção,
análise de para a redução da resistência de plantas assegurando-se o potencial produtivo
infestação, tipo de daninhas aos herbicidas e também das lavouras.
solo e período de quanto ao efeito de amplo espectro No manejo moderno de herbicidas
aplicação de controle, reduzindo a possibilidade no cultivo de cana, para a escolha dos
de escapes e, consequentemente, da ativos adequados, é importante adotar
interferência das plantas daninhas. ferramentas pautadas na análise de três
O conceito de manejo das plan- cenários importantes. O primeiro de-
tas daninhas, segundo pesquisador da les é a análise de infestação de plantas
Bayer, Johann Reichenbach, em um de daninhas presentes na área a ser trata-
seus artigos recentemente publicados, da e o efeito de tratamento necessário
pode ser definido como um conjunto (pré e/ou pós-emergência das plantas
das práticas que o agricultor implemen- daninhas); o segundo seria o tipo de
ta visando o controle das plantas infes- solo (percentual de argila e matéria
tantes, reduzindo ao máximo a mato orgânica), visto que a maioria das as-
competição por água, nutrientes e luz. sociações de herbicidas indicadas pa-
Existem diferentes formas de con- ra cana leva em conta pelo menos um
trole das plantas daninhas, como, por produto com efeito pré-emergente; e
exemplo, o controle mecânico, o uso por último, e não menos importante,
de cobertura morta e as aplicações de seria a análise do período de aplicação
herbicidas. O planejamento cuidadoso do tratamento herbicida, consideran-
destes métodos de controle e a alter- do se é época seca ou úmida, e o tipo

16
17
de segmento da cana, plantio ou socarias. no histórico do caso. Em muitas situações aplicação sequencial, entre outros forma-
A partir da análise destes cenários é é necessário planejar o controle com uma tos e possibilidades de recomendações e
possível definir os ativos a serem prescri- ou duas aplicações, e, dependendo do tipo aplicações.
tos e, acima de tudo, a eficácia esperada de segmento (plantio ou socaria), pode- Outro aspecto importante no planeja-
em função do tamanho e do tipo da infes- -se planejar aplicações nos formatos de mento do manejo de plantas daninhas na
tação presente, levando em conta sempre pré-plantio incorporado (PPI), desseca- cultura da cana é o acompanhamento e
o conhecimento dos técnicos envolvidos ção com pré-emergentes, pós-plantio com instalação de áreas referências para ve-

18
rificar se os níveis esperados de controle e redução da lixiviação;
estão satisfatórios. Esse acompanhamento - Na palha o que rege o comportamento
é fundamental para entender o efeito das é o Kow (conceito de partição), então, é
escolhas dos ativos no manejo indicado, preciso buscar ativos herbicidas com ca-
possibilitando corrigir os erros e aumen- racterísticas que demonstrem baixo po-
tar a assertividade nas próximas recomen- tencial de adsorção;
dações. - Calibrar a dose em função do tipo de
Com as recentes mudanças na flora solo, época de aplicação durante o ano
das plantas daninhas presentes na cultu- agrícola e segmento de uso é fundamen-
ra da cana, houve um aumento do uso de tal para o sucesso do tratamento herbi-
herbicidas com efeito sobre folhas largas, cida;
aliado a ativos com controle direcionado - Observar se o herbicida possui efeito re-
para folhas estreitas. Essa sinergia propor- sidual que impede a rotação de culturas.
ciona um melhor nível de resultado sobre Isso é importante para a alocação do tra-
o amplo espectro de plantas daninhas que tamento herbicida em ciclos de cortes
Segundo Donadoni, um conceito apli-
podem estar presentes nas áreas de pro- cado com sucesso na cultura da cana mais avançados, como os que antecedem
dução agrícola das usinas e dos fornece- em relação ao manejo das plantas a reforma do canavial;
daninhas é o uso de diferentes ativos
dores de cana. herbicidas pré-emergentes - Visualizar tratamentos no pré-plantio,
Esta mudança foi provocada pela co- como PPI ou dessecação com pré-emer-
lheita da cana crua e permanência do pa- sário, acarretando em resultados bastante gente, que auxiliam na redução do ban-
lhiço e demais restos vegetais do cultivo satisfatórios, como no caso do manejo da co de sementes e consequentemente na
sob o solo. Com a possibilidade de evolu- Digitária nuda. emergência das plantas daninhas, redu-
ção, crescimento e recolhimento da palha Devido à complexidade quanto ao zindo o potencial de infestação;
para a indústria da usina, um novo mo- ritmo de colheita da safra da cana, que - Buscar herbicidas para o plantio que ofe-
mento quanto ao tipo e predominância de acontece durante todo o ano, com plantio reçam residual consistente e amplo es-
plantas daninhas deverá chegar às áreas de também em épocas distintas, o nível de pectro de controle de plantas daninhas
produção. O conhecimento e sensibilidade atenção quanto ao tipo de ativo herbicida (para folhas estreitas e folhas largas),
dos técnicos em recomendar o tratamento a ser usado é fundamental para o suces- principalmente em plantios com espa-
ideal para manejo das plantas daninhas so do manejo da mato competição, assim çamentos alternados, onde a necessidade
neste contexto será fundamental para o como para determinar sua capacidade em de residual de controle nas entrelinhas
sucesso desta operação de tratos culturais. oferecer controle e residual considerando deverá ser maior;
O técnico responsável pela recomendação aspectos do ambiente, como época de uso, - E buscar herbicidas para época seca com
do tratamento herbicida deverá conhecer tipo de infestação presente e tipo de solo. características físico-químicas compatí-
de forma ampla os efeitos de controle ofe- Dessa forma, as novas operações sobre as veis com a época de uso (baixa volatili-
recidos pelos diferentes ativos e selecionar socarias, no caso o recolhimento da palha dade, mínima fotodegradação, elevada
aqueles que melhor poderão se comportar e novos sistemas de plantio, como o MPB absorção e média/alta solubilidade).
em situações de presença ou ausência de por exemplo, indicam a necessidade de Estes conceitos de uso podem cons-
palha. novas formas de manejo para o herbici- truir uma plataforma de tratamento her-
Um conceito aplicado com sucesso na da em cana. bicida consistente, podendo auxiliar nas
cultura da cana em relação ao manejo da A seguir enumero alguns dos fatores novas demandas necessárias do manejo
interferência das plantas daninhas é o uso que devem ser levados em consideração moderno sobre a mato competição em ca-
de diferentes ativos herbicidas pré-emer- ao adotarmos o manejo moderno de her- na, levando em conta tanto a necessidade
gentes. Isto possibilitou um nível baixo de bicidas para a cultura da cana: quanto o controle efetivo (espectro e re-
resistência de plantas daninhas compara- - Foco na aplicação de pré-emergência, sidual) aliado a seletividade para a cul-
tivamente a cultura da soja, por exemplo. recomendando aplicações antecipadas; tura.
Porém, a resistência a ativos herbicidas em - No caso de chuvas excessivas, escolher
*Paulo Donadoni é gerente de Estraté-
cana foi detectada recentemente e o uso herbicidas que possuam solubilidades
gia de Marketing da Bayer para Cana-
de associações herbicidas se fez neces- mais baixas, visando elevada absorção -de-açúcar no Brasil

19
O alto teor de biomassa associado à concentração
variável de açúcares destas variedades, podem dar
maior flexibilidade ao setor diante das constantes
flutuações de preço dos seus produtos

A cana energia parece, mas não é algo complemente novo. A bus- Xavier, engenheiro agrícola do Programa Cana IAC, o desenvolvi-
ca por uma variedade com maior teor de fibra data do início da década mento iniciou efetivamente em 2013, com a importação de acessos
de 70, quando alguns programas de melhoramento de países como para a estruturação das pesquisas em cana energia.
Barbados, Índia, Cuba e Austrália tiveram êxito no desenvolvimento O programa de melhoramento que recentemente deu origem às
destas variedades. No Brasil, a cana energia também foi explorada primeiras variedades da Granbio – a Cana Vertix, lançada em março
na década de 80, mas o projeto não caminhou nos anos seguintes. A deste ano - teve início em 2012 e é realizado pelas subsidiárias da
retomada das pesquisas em cana energia aconteceu em 2002, quando companhia, a BioVertis (que tem como missão viabilizar matérias-pri-
o setor se despertou não só para a cogeração de energia, diante de mas competitivas para a indústria de biocombustíveis, bioquímicos e
um mercado mais maduro e que trazia garantia de faturamento extra, bioenergia para projetos da Granbio e terceiros) e BioCelere (Centro
como também para o desenvolvimento de outros produtos a partir da de Pesquisas em Biologia Sintética, que tem foco no melhoramento
cana, caso do etanol de segunda geração. genético de microrganismos, processamento de biomassa, desen-
A Vignis foi pioneira neste desenvolvimento, de acordo com Luis volvimento de processos de fermentação e de hidrólise enzimática).
Claudio Rubio, hoje diretor-presidente da empresa. Tudo começou José Bressiani, diretor de Tecnologia Agrícola da Granbio, conta
quando ele, um executivo do fundo de capital de risco da Votorantim, que no início do programa de melhoramento da companhia, foram
conheceu o engenheiro agrônomo Sizuo Matsuoka, que chefiava um estabelecidas parcerias com diversos institutos de pesquisa, entre eles
grupo de pesquisadores do Programa de Melhoramento Genético em o IAC e a Ridesa de Alagoas. No caso da Ridesa/UFAL (Universidade
Cana-de-açúcar da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Federal de Alagoas), o convênio foi realizado nos mesmos moldes
o que culminou na criação da CanaVialis, vendida em 2008 para a que a instituição normalmente faz com usinas.
Monsanto, que acabou descontinuando as pesquisas com cana energia “Nós investimos no programa de melhoramento deles para que
e, em 2016, fechou todo o segmento de cana-de-açúcar. desenvolvessem variedades de cana energia e pudéssemos utilizar em
A venda para a Monsanto envolveu uma transação de R$ 300 nosso plantio comercial. Já com o IAC, a parceria foi para buscarmos
milhões e obrigou os fundadores a cumprirem um contrato de dois um germoplasma básico no exterior e depois compartilharmos para os
anos de não-competição com a multinacional americana. Só depois dois programas de melhoramento (Granbio e IAC). Adicionalmente,
deste período que Rubio e Matsuoka puderam criar a Vignis. com o IAC houve também o compartilhamento técnico e de semen-
“A Vignis é uma empresa que nasceu dedicada exclusivamen- tes sexuadas dos cruzamentos realizados na estação de hibridação do
te ao desenvolvimento e produção da sua cana energia e com suas IAC, na Bahia”, explica.
próprias variedades. Dividimos o nosso mercado em dois: empresas
do setor sucroenergético e a indústria em geral, onde estão inseridas CANA ENERGIA X CANA
as de alimento, mineração, siderurgia, cimentos etc. Com base nesta CONVENCIONAL
divisão, nos contratos com o setor sucroenergético, além da biomas- Uma variedade de cana-de-açúcar considerada tradicional geral-
sa total, priorizamos o plantio de variedades que possam produzir mente tem um alto nível de açúcar, ou seja, mais de 15% de sacarose,
mais açúcar por hectare. E para isso, a Vignis tem um programa de e médio teor de fibra, que fica entre 12% e 13%. Já a cana-energia é
melhoramento genético que desenvolve vários tipos de variedades.” uma variedade desenvolvida a partir do cruzamento de espécies an-
A Ridesa (Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do cestrais e híbridos comerciais de cana-de-açúcar, com a diferença de
Setor Sucroenergético) e o IAC (Instituto Agronômico de Campi- que é mais robusta e com maior teor de fibra e potencial produtivo,
nas), iniciaram suas pesquisas em cana energia um pouco mais tar- o que faz desta variedade, ideal para fabricação de biocombustíveis
de, entre 2008 e 2009. O projeto do IAC teve início em 2009, onde e bioquímicos de segunda geração, e para geração e/ou cogeração
passou por uma fase prospecção e diagnóstico, mas, segundo Mauro de energia elétrica.

20
21
Para usinas, o interesse é geralmente pelo bagaço para cogera-
ção, mas do seu caldo se pode ainda fazer etanol. Aquelas que não
têm mais área de expansão podem, na mesma área, produzir mais do
que o dobro de cana ou dispensar as áreas mais distantes, diminuin-
do assim o seu custo de logística. Já aquelas unidades que não têm
matéria-prima suficiente, a cana energia pode rapidamente supri-la,
pois a partir de um pequeno viveiro se pode fazer grandes áreas. Isto
porque, segundo Rubio, enquanto na cana tradicional a razão de mul-
tiplicação é de 1:10 (ou 1:5 no plantio mecanizado), na cana energia
é de 1:30, às vezes até mais. Além disso, a muda brota melhor, uma
vantagem especialmente observada em condições impróprias para a
brotação (seca, frio etc).
“Para as empresas que estão surgindo para produzir etanol 2G,
a cana energia se presta muito bem para tal, além de ainda permitir
a produção de etanol 1G a partir do seu caldo. Empresas que estão
surgindo para a produção de etanol de milho estão considerando
vantajosa uma destilaria flex que produza etanol também de cana
energia, pois assim têm bagaço suficiente como fonte de energia de
que necessitam. Já as indústrias do ramo de metalurgia, cimento, etc
estão desenvolvendo projetos para uso do bagaço de cana energia
em substituição às fontes atualmente em uso, seja de outra biomassa
(eucalipto), coque ou óleo”, destaca Rubio.
Além disso, o setor historicamente apresenta instabilidade, ou
seja, tem momentos de alto e baixo em termos financeiros, seja pe-
lo preço dos produtos finais (açúcar, etanol e eletricidade), seja pela
baixa produtividade dos canaviais devido a fatores climáticos. Ou-
Segundo Geraldo Veríssimo de Souza Barbosa, professor e dou- tros fatores que tem pesado muito atualmente são os altos custos de
tor do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Ala- produção e de logística de entrega da matéria-prima na esteira. Estes
goas (Ridesa), a cana energia pode ser dividida em duas categorias: altos custos só podem ser anulados com a produtividade elevada dos
- Cana Tipo I: com médio nível de açúcar (acima de 12% de sacarose) canaviais, mas, segundo o diretor-presidente da Vignis, a cana tradi-
e alto teor de fibra (acima de 18%); cional não consegue entregar essa alta produtividade, porque o poten-
- Cana Tipo II: com baixíssimo nível de açúcar (sacarose menor que cial genético chegou ao limite e, apesar das novas variedades serem
6%) e elevado nível de fibra (acima de 28%). importantes, elas somente substituem outras que apresentam proble-
Uma das maiores vantagens destas variedades, segundo Bressiani, mas, mas não conseguem dar ganhos substanciais de produtividade.
é que elas podem ser plantadas em áreas com baixa aptidão agríco- “Isso é genético, resultado de um parâmetro básico estabeleci-
la, ou seja, com limitações hídricas e de nutrientes, o que permite a do pelo setor que é um baixo teor de fibra. Isso torna as variedades
exploração de regiões desfavorecidas e o aumento da produtividade pouco resilientes, ou seja, que não suportam estresses, como é o
por hectare. “O potencial para esta variedade é enorme, porque só caso da colheita mecanizada. Com isso, o canavial fica falhado e,
o Brasil tem 32 milhões de ha de pastagens degradadas que podem com a compactação do solo, o crescimento é reduzido. Juntando-se
ser ocupadas com cana energia, mais do que toda a área agricultável a isso com um evento climático desfavorável, é inevitável uma que-
da Europa.” da significativa de produtividade, como ocorreu nas safras de 2011
a 2013. Para romper esse círculo vicioso, só mesmo aumentando o
teor de fibra. É o que faz a cana energia que, além disso, apresenta
vigor de híbrido (razão da alta produtividade) e maior estabilidade
(resiliência) devido ao seu vigoroso sistema radicular e presença de
rizomas”, acrescenta.

DESEVOLVIMENTOS DO MERCADO
A Vignis tem oito variedades para comercialização. Cada uma
De acordo com Rubio, a
delas com suas particularidades e potenciais produtivos que variam
Vignis tem um contrato de de acordo com as regiões onde se situam as lavouras comerciais da
fornecimento de cana ener- empresa. “As canas da Vignis são de alta produtividade agrícola, com
gia para a Raízen, que na teor de fibra na faixa de 20 +- 2% e açúcar de 10 +- 2%. O foco é
próxima safra deve ser de
aproximadamente 500 mil t,
basicamente maior produção de fibra (bagaço) e açúcar por hectare,
podendo chegar a 1 milhão ou seja, em última instância, maior retorno financeiro e maior previ-
de t na safra de 2018/19. sibilidade da produção”, afirma Rubio.

22
Os resultados dos plantios veem confirmando a expectativa da
Vignis. Nas condições de cada região, a cana energia vem produzin-
do pelo menos o dobro ou as vezes o triplo que a cana tradicional
produz naquele local em termos de biomassa total. Assim, em termos
de ATR por área, a sua produção é maior. A grande vantagem é que
a sobra de bagaço é pelo menos 10 vezes maior. “Quando pensamos
no grande desafio de sustentabilidade do setor que é um melhor uso
do seu ativo de terras, ficamos muito felizes com os resultados que
temos alcançado até agora”, destaca Rubio.
A Vignis tem 10 mil ha plantados com cana energia, distribuí-
A produtividade das primeiras variedades Vertix alcançaram
dos em vários estados brasileiros como Goiás, Mato Grosso e São entre 180 e 200 t/ha, na média dos dois primeiros cortes, com 
Paulo, além disso tem alguns projetos sendo discutidos para im- teor de fibras em torno de 25% e conteúdo de açúcares entre
plementação em Tocantins, Maranhão e Rio de Janeiro. A empresa 75 e 85 kg/t de biomassa.
inclusive tem um contrato de fornecimento de cana energia para elétrica como também em modelos mistos de produção de etanol
a Raízen, que na próxima safra deve ser de aproximadamente 500 (1G e 2G) e energia.
mil t, podendo chegar a 1 milhão de t na safra de 2018/19. “Os testes iniciais foram realizados no Estado de Alagoas, mas
“Todos os nossos projetos, sejam eles no setor sucroenergético temos também plantações experimentais em cinco estados das re-
ou em outros setores da indústria, são realizados com um contrato giões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, com características de
de longo prazo. Assim, nós fornecemos o produto, ou seja, no setor clima e solo distintas. Até o momento, já validamos a utilização da
sucroenergético fornecemos cana na esteira da usina, e nos projetos cana energia para o processamento em usina de primeira geração,
com outros setores da indústria, fornecemos biomassa (bagaço), com posterior destino do caldo para fermentação e produção do
que é processada em nossas indústrias. Em todos os projetos, nós etanol e do bagaço para a queima em caldeira e produção de vapor
somos os proprietários do canavial e não licenciamos variedades”, e energia elétrica. Também já destinamos a cana energia colhida
explica Rubio. de forma integral com forrageiras para queima direta em caldei-
Geraldo Veríssimo de Souza Barbosa, professor e doutor do ra, com e sem secagem prévia. Em ambos os casos, os resultados
Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas, foram promissores e confirmam nossa recomendação de uso da
revela que a Ridesa desenvolve a cana energia Tipo I, voltada para cana energia para as usinas 1G e também para o uso direto como
atender empresas do setor sucroenergético que estão investindo na fonte de biomassa para a geração e/ou cogeração de energia, além
produção de etanol de segunda geração e no aumento da cogeração da utilização em projetos de segunda geração (biocombustíveis e
de eletricidade, e a Tipo II, procurada por empresas que desejam bioquímicos)”, conta Bressani.
produzir e fornecer biomassa para a geração de eletricidade. As A produtividade das primeiras variedades Vertix alcançaram
variedades devem ser liberadas em 2018. entre 180 e 200 t/ha, na média dos dois primeiros cortes, com  te-
“Temos clones nas diversas fases do melhoramento (seleção e or de fibras em torno de 25% e conteúdo de açúcares entre 75 e 85
experimentação). São cinco séries RB que vem sendo testadas em kg/t de biomassa. Outros experimentos que avaliaram o ataque de
vários estados nas áreas de abrangência das universidades fede- broca comum e broca gigante tiveram intensidade de infestação
rais da Ridesa. Os resultados denotam superioridade em relação significativamente inferior nas variedades Vertix quando compa-
as variedades padrões de cana-de-açúcar convencional como, por radas a variedades comerciais de cana-de-açúcar. Tais caracterís-
exemplo, maior rendimento por área, quando soma produção de ticas, de acordo com o diretor de Tecnologia Agrícola da Granbio,
açúcar mais produção de fibra, maior resistência a pragas e maior têm impacto direto no custo de produção e torna os projetos que
longevidade do canavial (maior número de colheitas).” venham a utilizá-la mais competitivos.
Como o foco do programa de melhoramento da GranBio con- No fim de março deste ano, a GranBio lançou suas primeiras
siste, desde o início, em chegar a uma variedade rica em biomas- variedades comerciais da Cana Vertix, já registradas no Ministério
sa, buscou-se nos bancos do IAC e Ridesa, espécies ancestrais da da Agricultura e em fase de comercialização no mercado. A expec-
cana-de-açúcar que originalmente são constituídas por mais fibra tativa é que a utilização das variedades se dê tanto em projetos in-
do que açúcar. Características de resposta a estresses típicos da dustriais de produção de etanol e/ou eletricidade, como também em
agricultura, como o ataque de pragas e doenças, seca e salinidade substituição a outras biomassas em indústrias intensivas em energia
também foram buscadas nos bancos de germoplasma. elétrica. Isso porque o custo de produção da cana energia é muito
O resultado disso, segundo Bressani, é uma cana que se destaca- competitivo quando comparados com outras fontes de biomassa.
se pelo potencial de produção de biomassa, alto teor de fibras e  “As expectativas são as melhores possíveis. Trata-se de uma
intermediária concentração de açúcares no caldo. Suas principais solução inédita que, por suas características, pode tornar mais
características são robustez, presença de rizomas radiculares, alta competitivos os projetos que venham a utilizá-la como matéria-
capacidade de perfilhamento e excelente brotação de soqueira. Por prima e, assim, impulsionar o setor. O alto teor de biomassa por
conta do reduzido teor de açúcares solúveis e maior conteúdo de hectare associado à concentração flexível de açúcares no colmo
fibras, as variedades Vertix também apresentam índice reduzido representa uma oportunidade importante para o setor, que terá mais
de ataque de pragas. Devido a estas características, a Cana Vertix flexibilidade para se adaptar às constantes flutuações de preço dos
pode ser utilizada tanto em projetos focados em geração de energia produtos etanol, açúcar e energia”, conclui Bressani.

23
O déficit da commodity no mercado mundial tem aquecido os investimentos na
produção brasileira. Hoje uma fábrica pode levar até 15 meses para ficar pronta,
já o retorno financeiro pode vir em apenas um ano

O déficit de açúcar do mercado mun- mil t. A participação em massa das destila- Com um processamento de 1,3 milhão
dial que no início era apenas uma expecta- rias neste primeiro ciclo de investimentos de t de cana, a unidade de Ubarana deverá
tiva distante, hoje é uma realidade. Países após a crise é explicada, em parte, porque elevar essa capacidade inicialmente para
como a Índia, por exemplo, que até 2025 elas não dependiam do açúcar quando seus 1,6 milhão de t, permitindo maior flexi-
deverá superar a China e se tornar o país preços estavam deprimidos. Além disso, bilidade sobre a destinação da matéria-
com maior população do mundo, não têm, grande parte delas não têm muitas dívidas -prima para a produção do biocombustí-
atualmente, condições de fabricar a de- em dólar e por isso não sofreram com a vel ou de açúcar. Contando com a unidade
manda de açúcar necessária para abastecer alta recente. da Tietê no município de Paraíso, SP, que
a sua população. O mercado acredita que Algumas usinas também têm iniciado produz etanol e açúcar, a companhia tem
haverá falta deste produto para o consumo negociações com outras empresas do setor uma capacidade de processar 3,7 milhões
global, no mínimo, até a safra 2017/18. O para tentar financiar as suas expansões, de t de cana por safra. Com a limitação
último relatório da OIA (Organização In- como é o caso da Tietê Agroindustrial que atual em Ubarana, porém, a Tietê destina
ternacional do Açúcar) estimou que nesta deverá construir uma fábrica de açúcar em atualmente 75% a 80% de seu caldo de
safra 2016/17, o déficit global possa che- sua usina de Ubarana, SP, voltada apenas cana para a produção do biocombustível,
gar a 7,05 milhões de t. à produção de etanol. Dario Gaeta, dire- com pouca margem para alteração neste
De olho nas potencialidades deste tor presidente da Tietê, afirmou em en- mix. “Com a fábrica de açúcar, vamos ter
mercado, as usinas e destilarias brasileiras trevista que a companhia deverá receber um mix mais próximo de 50% para cada”,
começaram a correr atrás de investimentos um aporte de R$ 40 a R$ 50 milhões para afirmou Gaeta.
que vão desde o aumento da capacidade começar a produzir açúcar já na próxima A mesma estratégia de parceria foi a
de produção da indústria até, em alguns temporada. O investimento ainda está sen- solução encontrada pela destilaria Alcoes-
casos, na construção de novas fábricas. do negociado com duas companhias bra- te, do Grupo Arakaki, que está concluindo
Quem tem liderado esses movimentos são sileiras que comercializam o produto. “É uma negociação com uma grande trading
as destilarias, que foram as menos afeta- um orçamento base. Já tivemos aprovação internacional, que deverá financiar um
das pela crise enfrentada pelo setor nos do conselho de administração e estamos aporte de R$ 20 milhões para a construção
últimos anos. Elas veem o atual momento atrás do financiamento”, afirmou Gaeta ao de uma fábrica de açúcar com capacidade
como uma oportunidade para alavancar Valor Econômico. A companhia pretende para produzir entre 80 e 100 mil t a cada
os negócios. Na avaliação da consultoria fechar um acordo no qual o parceiro te- safra. Pelos termos sob os quais o acordo
FGAgro, já há decisões de investimento no nha em contrapartida um compromisso da está sendo costurado, a trading pagará um
setor que podem levar a um aumento do Tietê de entrega do açúcar a ser produzido preço mínimo para garantir a margem da
potencial de produção de açúcar em 500 na fábrica. companhia. A expectativa é que o inves-

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INVESTIMENTOS PLANEJADOS E EM ANDAMENTO estar bom, as condições de financiamentos
EM FÁBRICAS DE AÇÚCAR também estão mais atrativas.
Em determinados lugares, segundo Ter-
cio Dalla Vecchia, diretor da Reunion En-
genharia, está tão interessante produzir esta
matéria-prima que é vantajoso reduzir ou,
em alguns casos, deixar de produzir etanol
para se dedicar totalmente ao açúcar. “Qual-
quer investimento feito se paga em um ano,
um ano e meio. É altamente vantajoso. É a
oportunidade que o pessoal tem de fazer re-
almente um investimento com altíssima taxa
de retorno. Nós estamos com vários projetos
em andamento, que vão desde a ampliação
de produção de açúcar, até destilarias autô-
nomas, que estão implantando a fábrica de
açúcar do lado. E isso é altamente econômi-
timento seja pago em uma safra. produção de 15 mil a 20 mil sacas por dia co”, completa.
Um projeto já em andamento ocorre na para a Bioenergética Aroeira, localizada em
destilaria Bioenergética Aroeira, localizada Tupaciguara, MG”, conta. FÁBRICAS: MODERNAS
no município de Tupaciguara, MG. A uni- Danilo Manfrin, da Sucrana, revela que OU TRADICIONAIS?
dade recebeu um aporte de R$ 50 milhões, há vários clientes elaborando projetos para Com a expectativa de uma crescente de-
dos quais 30% saíram do caixa da empresa, aumentar a produção de açúcar para a próxi- manda do mercado mundial pela commodity
enquanto os outros 70% foram financiados ma safra. “A maioria são projetos de expan- brasileira até 2020, os investimentos para
pelo BNDES (Banco de Nacional do Desen- sões, mas também existem alguns projetos aumentar sua produção deverão ser inten-
volvimento). de novas fábricas de açúcar”. Este aumen- sificados nos próximos anos. Mas quais são
Este movimento foi também bastante to no interesse pela produção do adoçante os equipamentos e modelos de fábricas mais
percebido durante a Fenasucro&Agroca- acontece porque além do preço do açúcar procurados pelas usinas? Teremos fábricas
na 2016, realizada no final de agosto. “Na mais modernas ou modelos mais antigos?
Dalla Vecchia: “Qualquer investimento
semana antecedente, durante e na semana feito se paga em um ano, um ano e meio. A diferença entre as novas e as tradicionais
posterior à feira, houve um aumento signi- É altamente vantajoso. É a oportunidade fábricas de açúcar, segundo alguns especia-
ficativo na solicitação de orçamentos para que o pessoal tem de fazer realmente listas, aparece na junção entre um layout bem
um investimento com altíssima taxa de
equipamentos voltados para a produção de retorno ” elaborado e equipamentos mais eficientes,
açúcar. Há vários projetos de novas fábri- que as instalações mais recentes apresentam.
cas de açúcar a partir de destilarias autôno- “As fábricas modernas apresentam uma
mas em andamento, além de substituições estrutura mais adequada à operação, com
de equipamentos mais antigos ou aumento equipamentos mais eficientes, balanço tér-
de capacidade”, revela Egon Scheiber, ge- mico com qualidade e alto nível de instru-
rente Comercial da Mausa Equipamentos mentação. A automatização dos processos,
Industriais. por exemplo, permite mais eficiência e re-
Segundo Ronaldo Justo Santoro, dire- dução da mão de obra operacional, ocasio-
tor de operações da Sermasa, os efeitos dos nando ganhos de produtividade e rendimento
problemas climáticos da safra 2015/16, so- industrial. Nestas novas fábricas há também
mados à falta de investimento e aumento na uma variedade maior de produtos como o
demanda de açúcar deverão aumentar o dé- açúcar VHP, açúcar branco de alta qualidade,
ficit global da commodity na safra 2016/17, cogeração e na região Centro-Oeste, há ain-
crescendo também a procura por equipa- da a produção do etanol de milho”, explica
mentos para fábricas de açúcar. “A Sermasa Manoel de Almeida, diretor da Piracicaba
notou o aumento da procura, especialmente Engenharia Sucroalcooleira.
porque recentemente vendemos uma fábri- Na visão Carlos Gregório, da BMA, a
ca de açúcar completa, com capacidade de princípio, as empresas não estão procurando

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novas tecnologias e sim tecnologias eficien-
tes. “O pessoal está procurando tecnologia.
Por quê? Porque justamente o que nos in-
teressa não é ter o melhor equipamento e
sim o melhor rendimento. Eventualmente, os
preços não são aqueles que nós esperamos
para mais ou para menos, mas, o resultado é
extremamente positivo. Na carência de ener-
gia que nós temos, buscamos equipamentos
mais eficientes energeticamente, por exem-
plo. Cada vez mais eles [clientes] percebem
que com eficiência e qualidade certamente
terão melhores resultados. ”
Segundo Dalla Vecchia, a fabricação de
açúcar segue um processo muito tradicional, De olho nas potencialidades do mercado de açúcar, usinas e destilarias brasileiras
começaram a correr atrás de investimentos que vão desde o aumento da
onde já se faz açúcar de boa qualidade. En-
capacidade de produção da indústria até a construção de novas fábricas
tão, o que pode ser feito para melhorar o pro-
cesso é trabalhar com cozedores contínuos. energia térmica, além da quantidade de equi- ra ficar pronta. Já uma destilaria que deseja
No entanto, ele explica que essa prática não pamentos instalados e disponibilidade para anexar uma nova fábrica levaria de 12 a 15
é nem mais barata, nem mais cara do que o a expansão. meses. Segundo o diretor de operações da
sistema convencional. “Acredito que tudo Algumas tecnologias, segundo Manfrin, Sermasa, os equipamentos que vem sendo
isso vai depender do custo, porque o pro- são primordiais para uma boa produção de mais cotados são os para tratamento do caldo
duto final é bom em qualquer uma das duas açúcar. A utilização de cozimento com boa e os para melhorias e expansões na produção
situações. Particularmente, quando a gente relação área/volume, o resfriamento de água de vapor, mas todos com o propósito de in-
vai produzir açúcar branco, prefiro os coze- com utilização de condensadores barométri- crementar a produção da commodity.
dores tradicionais descontínuos, que propor- cos que possuem menor consumo de água O diretor da Piracicaba Engenharia ex-
cionam um controle melhor no crescimento e torres de resfriamento que contêm meno- plica que “a tendência é que as novas fábricas
do cristal do que a tecnologia de cozedor res perdas arraste/evaporação do que spray produzam uma quantidade maior de açúcar
contínuo. Agora, se você vai fazer VHP pa- pond, são fatores que fazem a diferença na que as antigas e ao mesmo tempo instalem
ra exportação, o cozedor contínuo vai muito fabricação do açúcar. “A separação de méis a cogeração para venda de energia elétrica.
bem”, conclui. para aumentar a recuperação, centrífugas Caldeiras de alta pressão, turbo-gerador de
Dalla Vecchia acredita que as tecnolo- com alta tecnologia para diminuir recircu- grande capacidade fazem toda a diferença.
gias que se dizem mais modernas não são lação de mel e a automação máxima possível Pequenas moendas devem ser substituídas
viáveis economicamente se comparadas com também são tecnologias que devem receber por maiores, além de centrífugas de açúcar
as tradicionais. Segundo ele, o mais impor- uma atenção especial”, acrescenta. e outros equipamentos”, opina.
tante é ter um projeto bem elaborado, que Já Arnaud Fraissignes, diretor presidente Como as condições financeiras das atuais
vise uma redução do consumo de vapor, re- da Fives Lille, conta que atualmente um dos usinas hoje estão restritas, uma das opções é
dução no consumo de água e que tenha o ob- grandes focos das unidades é em compactar utilizar equipamentos de usinas desativadas,
jetivo de produzir um açúcar de melhor qua- a produção, utilizando cada vez menos mão que estão em boas condições para as am-
lidade através dos equipamentos. Ele explica de obra humana. “Estamos propondo uma pliações e mesmo em novas fábricas. “São
que atualmente os processos novos e antigos fábrica compacta e automatizada, que depen- equipamentos que estão sendo modernizados
não são muito diferentes uns dos outros. “O de de menos pessoas para operá-la. Um dos e otimizados. Alguns projetos têm utiliza-
processo em si não muda muito. O que muda equipamentos que propormos é um cozedor do equipamentos novos, mas a preocupação
é a forma de ver o processo e como intera- contínuo totalmente automatizado. Já temos continua sendo o custo das implantações.
gir com ele. Este é o diferencial”, completa. fábricas com pouquíssimas pessoas por turno Sempre que se procura por fábricas mais
Manfrin explica que a escolha por uma funcionando no Brasil e acredito que essa é modernas, as principais diferenças entre as
fábrica moderna ou uma fábrica convencio- a tendência e o modelo do futuro para as in- antigas e as novas é o layout, a melhor distri-
nal depende de caso a caso. A procura sem- dústrias sucroenergéticas brasileiras”. buição dos equipamentos e a automatização,
pre será por fábricas mais modernas, porém, Atualmente, desde o projeto até o início o que resulta em redução de custo operacio-
as expansões dependem de vários fatores, do funcionamento, uma de fábrica de açúcar nal e maior eficiência”, finaliza o diretor da
como o tipo de açúcar, disponibilidade de montada do zero leva de 18 a 24 meses pa- Piracicaba Engenharia Sucroalcooleira.

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Empresas e usinas voltadas à cadeia sucroenergética e ao
agronegócio encontram na recuperação judicial um meio
de ultrapassar a crise sem fechar as portas

A crise econômica que atinge as em- número que representa 23% do total de 350 sucroenergéticas foram prejudicadas sensivel-
presas brasileiras nos mais diversos setores usinas do Brasil. mente pela falta de políticas públicas de in-
fizeram com que o número de pedidos por A recuperação judicial é um instrumento centivo ao setor nos últimos anos. “Foram pri-
recuperação judicial nos últimos dois anos previsto na Lei 11.101/2005 que tem como vilegiados os investimentos em combustíveis
crescesse 88% em todo o Brasil. O agrone- objetivo viabilizar a superação da crise eco- fósseis e o uso da Petrobras como instrumento
gócio, um dos principais pilares econômicos nômico-financeira, além de permitir soluções de política monetária e isso prejudicou direta-
do país, começa a enxergar a recuperação flexíveis para reestruturação do endividamen- mente a competitividade do etanol. Não pode-
judicial como forma de superar os duros im- to e reorganização das atividades da empresa, mos esquecer também que as usinas têm um
pactos deixados pela crise. A alta do dólar, possibilitando a manutenção de todos os be- ciclo operacional longo e oneroso, que começa
que fez disparar o preço dos insumos e se- nefícios gerados pela atividade empresarial, com o custeio dos canaviais e termina apenas
mentes, assim como o alto endividamento e como a geração de empregos, o recolhimento com a comercialização do etanol e do açúcar.
as questões climáticas, que destruíram safras de tributos e preservação das oportunidades Seria preciso ter fontes de financiamento muito
inteiras no biênio 2014/15, são os principais de negócios para clientes e fornecedores. grandes para prover capital de giro necessário
fatores que agravaram a situação pela qual De acordo com Pedro Magalhães Neto, para atravessar todo esse período e, infelizmen-
muitas empresas enfrentam. sócio da EXM Partners, a recuperação judi- te, não há crédito e linhas de financiamento
Apesar de esperar por uma significativa cial é uma ferramenta jurídica direcionada às para esse fim. Essas circunstâncias, em resu-
retomada a partir deste ano, o setor sucro- empresas que passam por uma crise aguda, mo, que ocasionaram as dezenas de pedidos
energético, que desde 2008 enfrenta seve- mas que ainda são economicamente viáveis. de recuperação judicial de usinas, além do fe-
ras dificuldades financeiras, teve em 2015 o “Ela tem como objetivo auxiliar o empresário chamento de muitas outras.”
maior número de usinas entrando em recu- e a sociedade empresária a ganhar um respiro
peração judicial em um único ano. Para se para realizar a readequação do negócio e su- QUANDO PEDIR?
ter uma ideia, foram 13 no total, somando perar uma crise econômico-financeira de mo- Quando se fala que uma empresa precisa
juntas uma dívida bancária perto da casa dos do a permitir que a manutenção da atividade passar por recuperação judicial, muitos imagi-
R$ 8 bilhões. Nos seis anos anteriores, a mé- empresarial continue gerando os benefícios nam que o negócio já está fadado à falência.
dia anual era de 11 usinas. Um fato que des- econômicos e sociais, como por exemplo, Mas é o contrário. Segundo Neto, a recupera-
pertou atenção foi que as unidades de médio geração de empregos, circulação de bens, fo- ção judicial é direcionada à empresa que ainda
e grande porte começaram a fazer parte da mento da economia na área de sua influência é economicamente viável, ou seja, produz um
maior parcela de usinas em recuperação ju- e geração de tributos ao Estado.” serviço ou produto que tem seu mercado con-
dicial. Se contarmos desde 2008, o País teve Para o advogado Ricardo Dosso, sócio sumidor. No entanto, o erro que muitas em-
79 usinas entrando em recuperação judicial, do escritório Dossos Advogados, as usinas presas cometem é deixar para pedir a recupe-

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29
EMPRESAS QUE ENCONTRAM-SE EM RECUPERAÇÃO

Hoje a recuperação
judicial é o único
instrumento disponível
que permite a blindagem
da empresa por pelo
menos 180 dias,
durante os quais ela
terá tranquilidade
financeira e operacional
para reorganizar seus
negócios.

ração judicial quando já há pouco o que fazer das obrigações assumidas”, explica Dosso. PLANO DE
e negociar. Hoje, a recuperação é o único instru- RECUPERAÇÃO
Os sinais para que uma empresa comece mento disponível que permite a blindagem É no plano de recuperação que a empresa
a pensar em um possível pedido de recupera- da empresa por pelo menos 180 dias, duran- apresenta os meios pormenorizados, ou seja,
ção judicial podem variar conforme o perfil e te os quais ela terá tranquilidade financeira e os detalhes de como pretende superar sua crise.
a localização da empresa. “De forma genéri- operacional para reorganizar seus negócios. Nele, devem constar a demonstração da viabi-
ca, é importante que o empresário verifique se Dosso explica que a recuperação também faz lidade econômica do negócio e também laudos
há, por exemplo, redução no volume de venda, com que a empresa seja protagonista da ne- de avaliação dos ativos da empresa, elaborado
perda da margem de lucro, se a capacidade de gociação com os credores, o que não ocorre por profissionais habilitados. “No plano, tam-
geração de caixa é igual ou inferior ao custo quando as tratativas são feitas individualmen- bém será apresentada a maneira com que a em-
de endividamento. Em caso positivo, podemos te. “A força da empresa em recuperação para presa pretende pagar seus credores, incluindo
afirmar que acendeu o sinal amarelo e é dialogar com os credores é muito maior do descontos, prazos e outras condições de paga-
necessário realinhar o negócio. Neste caso, o que se não estivesse nessa condição, e o re- mento compatíveis com sua geração de caixa”,
mais indicado é buscar o apoio de especialistas sultado disso tem sido a redução substancial explica Dosso.
em reestruturação de empresas e recuperação das dívidas e a possibilidade de pagamento Neto salienta que além do objetivo maior
judicial. Não importa o tamanho da empresa, com carência e em prazos alongados. ” do plano, que é traçar as diretrizes e obrigações
ela pode ser reestruturada e superar a crise. Além de opinião parecida com a do só- que orientarão a empresa a superar a crise, ne-
Desde 2005, existem previsões específicas cio do escritório Dossos Advogados, Neto gociando as dívidas com seus credores, o que
direcionadas para as micro e pequenas empre- salienta que o pedido de recuperação judicial inclui novos prazos e formatos, é fundamental
sas”, explica o sócio da EXM Partners. também tem um lado ruim. “Como desvan- que a empresa solicitadora apresente detalhes
Atualmente, existem vários fatores que po- tagem, acredito que podemos atribuir o fator que façam com que seus parceiros voltem a
dem acarretar em um pedido de recuperação ju- desgaste. Quando uma empresa faz o reque- acreditar na empresa. “É essencial que tam-
dicial por parte das usinas. “Esses fatores favo- rimento para entrar em recuperação, há um bém conste no plano o incentivo para que os
ráveis a solicitação podem variar e decorrer de desgaste, não só dos executivos, mas também credores voltem a apostar na devedora, através
condições externas, oriundas de políticas gover- com relação a imagem da empresa. Isso cos- de novo dinheiro ou com abertura de crédito”,
namentais, câmbio, fatores climáticos, retração tuma acontecer por certo tempo, perante seus acrescenta.
de mercado etc. E também de fatores internos, principais fornecedores. ” A recuperação judicial começa com a apre-
como obsolência de produtos e serviços que Em caso de empresas com ações na bolsa, sentação do pedido ao Poder Judiciário no lo-
afetam a competitividade da empresa, gestão com o pedido de recuperação, as negociações cal do principal estabelecimento da empresa.
ineficaz, elevado endividamento, que ocasio- das ações são suspensas. A comercialização Preenchidos os requisitos legais, é deferido o
na despesas financeiras insustentáveis, enfim, volta a ocorrer normalmente, mas seus pa- processamento da recuperação e, neste ato, é
fatores que comprometem as finanças de curto peis são excluídos dos índices de ações, que nomeado o administrador judicial e são sus-
e médio prazo da empresa e que, consequen- são um importante indicador do mercado de pensas todas as execuções movidas contra a
temente, impossibilitam o pagamento pontual ações. empresa, justamente para dar fôlego financeiro

30
ao negócio e para que existam condições para êxito. “Em outras situações, no entanto, a pres-
elaborar as estratégias de reestruturação. COMO A EMPRESA são dos credores e a não obtenção de acordos
“Em 60 dias deve ser apresentado o pla- ENTRA EM compatíveis com sua capacidade de pagamen-
no de recuperação, e nos 120 dias seguintes, RECUPERAÇÃO to fazem com que a recuperação judicial seja o
havendo objeção de qualquer credor ao plano, JUDICIAL? meio adequado e necessário para enfrentamento
será realizada a assembleia de credores para O pedido de recuperação do problema. Ainda há certa resistência de em-
judicial deve ser feito na
analisá-lo e votá-lo. Neste período, a empresa presas à recuperação judicial, mas creio que o
Justiça. A partir do pedido,
deverá dialogar com seus credores e convencê- a empresa tem seis meses adequado esclarecimento sobre todos os seus
-los a apoiá-la, o que inclui a continuidade no para tentar um acordo com aspectos e consequências faz com que deva ser
fornecimento de produtos e serviços, abertura credores sobre um plano considerada uma alternativa eficaz e realmente
de novas linhas de crédito e outras formas de de recuperação que definirá poderosa”.
colaboração. A efetiva colaboração de credores como sairá da crise financeira. Neto conta que a grande diferença entre
é incentivada pela legislação, que lhe possibilita Assim que entra com o pedido as duas ações, a de pedir ou não a recupera-
de recuperação judicial, a
o pagamento dos créditos em condições mais ção, é que com a solicitação, há uma possibi-
empresa precisa apresentar
favoráveis do que aquelas previstas para os de- um processo para o juiz, lidade de que as partes envolvidas renegociem
mais credores”, explica Dosso. que analisa a documentação não apenas o simples parcelamento de dívida,
A recuperação judicial é encerrada 24 me- e, se esta estiver completa, mas principalmente ajustes operacionais que
ses após a decisão judicial que homologa a dá o despacho que autoriza possibilitarão à empresa retomar a sua ativida-
aprovação do plano, desde que este esteja sendo a recuperação. Após o de e seu desempenho financeiro. Os cenários
regularmente cumprido pela empresa. Até esse despacho, a empresa tem 60 que identificam o melhor momento para pedir
dias para apresentar o plano
momento as atividades da empresa continuam a recuperação judicial podem variar, uma vez
de recuperação à Justiça
sendo fiscalizadas pelo administrador judicial. (caso contrário, o juiz decreta que cada caso tem suas particularidades. Uma
A não aprovação do plano ou seu descum- a falência). companhia, por exemplo, pode não estar ina-
primento podem acarretar a convolação da re- dimplente, mas já ter conhecimento que não
cuperação judicial em falência. Dada a gra- “Achávamos que pedir por recuperação conseguirá rolar suas dívidas por não ter mais
vidade da decretação da falência, é comum e judicial não era o melhor caminho. Acreditá- garantias para prestar.
recomendável que seja dada à empresa oportu- vamos que o melhor era conversar com cada A Dedini, empresa de bens de capital que
nidade para modificação do plano e apresenta- um de nossos credores, mostrar boa vonta- fornece usinas sucroenergéticas completas, com
ção de novas condições que possibilitem a pre- de, mostrar a eles qual era a real situação da duas sedes, uma em Piracicaba e outra atual-
servação de suas atividades. Genericamente, o empresa, tentar colocar as quanto usinas em mente parada, na cidade de Sertãozinho, SP, é
melhor momento é aquele quando os primeiros operação e, aos pouquinhos, ir adquirindo cré- uma das empresas que entrou em recuperação
sinais de crise já se fazem presentes - como a ditos outra vez. Foi um processo de conversar, judicial recentemente. A Dedini apresentou em
redução da margem de lucro, a queda no volu- quase que corpo a corpo, com cada um deles. seu plano de recuperação judicial como paga-
me de venda, a capacidade de caixa inferior ao Explicamos que a única chance deles poderem mento dos débitos dos ex-trabalhadores, além
endividamento - porém ainda não destruiu os receber aquilo que tinham a receber era se a de R$ 15,8 milhões, a venda da Dedini Refra-
fundamentos econômicos do empreendimento, gente voltasse a operar. Era só trabalhando tário, a Codistil Nordeste, o pagamento de R$
mantendo o negócio economicamente viável. que poderíamos pagar as dívidas”, conta o 480 mil mensais, como também 50% sobre o
Os maiores casos de sucesso têm como carac- presidente do GVO, Joamir Alves. licenciamento de marcas e patentes.
terística empresas que utilizaram o instrumen- Para ele, o segredo de todo o processo foi A empresa enviou comunicado, via asses-
to de forma preventiva, e não apenas de forma manter as informações em aberto e ser hones- soria de imprensa, informando que os R$ 15,8
corretiva. to, tentando cumprir o que foi negociado. “Eu milhões referentes à venda do estacionamento
não tive problema de mostrar a cara e dizer do Shopping Piracicaba já estão depositados na
NEGOCIAÇÃO que eu acreditava que íamos moer. Eu acredi- conta do processo de recuperação judicial, para
Mesmo a recuperação judicial parecendo tava porque nós tínhamos muita cana própria. que sejam direcionados aos ex-funcionários. No
um bom meio de sair da crise e conseguir re- Isso ajudou o processo de restruturação. A final de setembro, a Dedini conseguiu a aprova-
construir a empresa economicamente, algumas família e as usinas tinham patrimônio. Além ção dos credores para o plano de recuperação
usinas optam por não fazer o pedido, tentando, disso, a família estava envolvida no processo que viabilizará a sua retomada. A proposta bá-
assim, renegociar suas contas diretamente com e se dispôs a atualizar o patrimônio para per- sica do plano é pagar integralmente, já no pri-
seus credores e fornecedores. O caso mais fa- mitir a recuperação. É uma combinação de meiro ano, os créditos trabalhistas, de R$ 36,56
moso dos últimos anos é o do GVO (Grupo crença do executivo, funcionário e o próprio milhões. Também no primeiro ano, e com valor
Virgolino de Oliveira), uma das maiores com- empenho da família em colocar as contas da integral, seriam pagas as rescisões trabalhistas
panhias sucroalcooleiras do país, que mesmo usina em dia.” extraconcursais, estimadas em cerca de R$ 20
com uma dívida estimada em US$ 735 milhões, Dosso explica que é natural que usinas e milhões. Pelo plano, também serão liquidados
abriu mão de um processo de recuperação judi- quaisquer outras empresas tentem reestruturar 50% do valor devido aos demais credores em
cial e partiu para a negociação individual com seu passivo sem a necessidade da recuperação 11 anos.
cada credor. judicial, e muitas vezes essa negociação tem (Colaboração de Alisson Henrique)

31
Sabemos que essa posição por si só daria
o direito a vocês de não ter que olhar para
nada que não fosse do seu interesse ou foco
primário. Mas, como dono, precisam olhar
para todos os cenários pelos quais estão
lutando e não só o externo

*Beatriz Resende

Se teve uma pessoa que ao longo da carreira aprendeu a entender a posição Sim, eu entendi claramente que, ao con-
dos donos e/ou a alta direção nas organizações, fui eu. Parece uma colocação trário do que eu sonhei um dia - que donos
singular e com um viés de obviedade, mas na verdade posso dizer, fazendo a de empresas poderiam ser enfeitiçados por
mea-culpa para representar alguns profissionais de RH da minha geração que um discurso competente da nossa parte ou
sempre carregaram o peso de não terem conseguido penetrar na alma, na visão que bastava o profissionalismo e boa von-
e no foco dos empresários e dirigentes, mostrando a importância das ações e tade no dia a dia para que o posicionamen-
práticas voltadas para a valorização das pessoas no negócio, que essa foi uma to desse grupo mudasse completamente -,
grande evolução. Com certeza isso já mudou muito desde meu início de car- perfis empreendedores e responsáveis por
reira na área e hoje somos aceitos naturalmente, em alguns ambientes, como milhares de desafios, e pessoas destinadas
área e profissionais que adquiriram o direito ou foram aceitos a tomar uma a carregar grande dose de risco nas ações
posição estratégica no melhor lugar do negócio: aquele que todo mundo quer que se prestavam a conduzir, talvez não ti-
estar, ao lado de quem tem realmente o poder de fazer, de mudar as coisas, de vessem mesmo o foco principal para aquilo
evoluir, de ousar. que sempre quisemos. Na verdade, acho que
Pois bem: ficamos mais perto do dono, das primeiras posições da empresa, como toda posição unilateral de defesa de
mas isso não quer dizer que as coisas se tornaram mais fáceis para nós. Acho ideias, ideais e sonhos que qualquer profis-
que agora teremos que provar mais ainda a importância da nossa gestão para são ou ideologia tenham, nós de RH também
continuar sendo aceitos, usufruindo desse destaque que nos foi concedido. O achamos, por muito tempo, que esse público
de área estratégica. E temos muito a fazer diante disso. era insensível por não olhar para nosso esco-

32
po da forma que acreditávamos ser vital. E brigamos internamente, mas
principalmente com nós mesmos, diante dessa dura e cruel realidade. E
essa visão equivocada fomentou um grande processo de vitimização con-
tinuada na nossa classe.
Digo equivocada sim, porque na verdade, e da forma que pretendí-
amos tratar o assunto, sempre nos colocamos numa posição de menos
valia em relação ao todo. Isso mais por nós do que qualquer outro algoz
invisível ou inalcançável.
Dito isso, e confesso um pouco aliviada pela presente sensação de
maturidade que toma conta de mim (e só quem viveu esse RH que cito,
temperado com minhas características, em particular, sabe do que estou
falando), passarei a refletir sobre a responsabilidade real desse mesmo
grupo que, de um lado, desobriguei de algumas missões quase que im-
possíveis, mas que de outro chamarei à realidade, esta sim, bem possível
e necessária.
Sim, confirmo minha visão de que o empresário, o patrão, o principal Dedico esse texto a todos os empresários
que já têm conseguido estar mais próxi-
dirigente de um negócio, não precisam se interessar especialmente pela mos do propósito discorrido aqui, e que,
área de RH e suas ações/programas, da forma que sempre sonhamos que com todo mérito devido, têm conquistado
resultados fantásticos no seu negócio
eles estivessem: juntos e comprometidos com a causa. Isso não quer dizer
que eles não devam ser humanos, valorizar e patrocinar boas práticas e ou foco primário. Mas, como dono, precisam
exigirem que quem os representa abaixo ande na linha, dentro do que se olhar para os cenários pelos quais estão lu-
entende como papel profissional, ético e maduro, com a missão de conver- tando, e não só o externo. Posso dizer que o
gir esforços para o sucesso maior do negócio, esta sim a sua maior causa, interno não fica nada atrás em termos de de-
aquela que arrebanha milhares de pessoas envolvidas e ligadas. Isso por safios e preocupações.
si só já é uma grande responsabilidade. Seja dono: participe! Arregimente pessoas
O fato de empresários e dirigentes do maior escalão não vibrarem que demonstrem propósito e fibra. Aprendam
com as nossas descobertas e constatações sobre pessoas e a forma de a olhar para quem realmente está do lado.
atingi-las, não quer dizer que eles não acreditem que resultados venham Não deixem o seu império na mão de quem
desse público bem estimulado e valorizado. Só que não são atraídos por não o merece. Não deixem seus órgãos mais
fazer isso eles mesmos. É uma questão de perfil e de prioridade. Mas eles preciosos e vitais na mão de quem não está
podem delegar essa atuação e achar um tempo para acompanhar e vali- disposto a ser exemplo.
dar se a empresa está caminhando bem nesse sentido. O que não pode Não basta ter: tem que manter vivo! Não
acontecer, como vejo muito, é simplesmente, por tamanho desinteresse, delegue isso inteiramente a ninguém. Busque
sobrecarga de agenda, foco em alguns pontos do negócio somente e olho parceiros e interessados, mas faça a sua par-
fechado para muitas questões que até chegam, mas de relevância menor te, aquela que ninguém pode fazer por você!
perto de outras providências ou pela subestimação do assunto ou da sua Dedico esse texto a todos os empresários
interferência nele, é deixar que o corpo e alma de suas empresas fiquem que já têm conseguido estar mais próximos
à mercê de cenários que talvez, vocês, dirigentes-primeiros, não tenham do propósito discorrido aqui, e que, com to-
nem conhecimento. Nem tudo está bem como parece. E não estou falando do mérito devido, têm conquistado resultados
do cenário econômico-financeiro. fantásticos no seu negócio. Sou privilegiada
Cobrais mais, estimados heróis da luta pela sobrevivência do negó- de conhecer e trabalhar com alguns deles e
cio, do ser que habita a sua empresa: que tem você/vocês como cabeça, espero ainda conhecer muitos outros e aju-
contando com um corpo (colaboradores) e membros sólidos (gestores e dá-los nessa caminhada! Faz parte da missão
líderes) na consecução dos seus objetivos e missões. que deleguei a mim!
* Beatriz Resende é consultora especia-
Não basta ser dono: sabemos que essa posição por si só daria o direi-
lista em Desenvolvimento Humano e Or-
to a vocês de não ter que olhar para nada que não fosse do seu interesse ganizacional da Dra.Empresa

33
Nesse cenário
*Jair Rosa Claudio
mundial onde a
transparência,
tanto nos A preocupação em combater práticas Act 1977), ou simplesmente FCPA, na Lei
negócios públicos de suborno e corrupção não é só das em- Sarbanes-Oxley de 2002, mais recente e
como privados, presas brasileiras ou que atuam no Brasil, também norte-americana, conhecida como
passa a ser nem é decorrente exclusivamente da re- Sarbox ou simplesmente SOX, ou ainda na
cada vez mais percussão dos episódios recentes de cor- Lei do Suborno (Bribery Act 2010) estabe-
uma demanda rupção no país. A organização não gover- lecida pelo Parlamento Britânico em 2010
da sociedade namental “Transparência Internacional” e em vigor desde julho de 2011, o Brasil
para permitir a publicou recentemente o índice da corrup- cria, em 2013, a Lei nº 12.846/2013, alcu-
sobrevivência ção no mundo em 2015, pelo qual, em um nhada de Lei Anticorrupção, que visa pre-
das organizações universo de 168 países, o Brasil, Bósnia ver a responsabilização objetiva, no âm-
e instituições, a e Herzegovina, Burkina Faso, Índia, Tai- bito civil e administrativo, de empresas
ISO mais uma lândia, Tunísia e Zâmbia ocupam, juntos, que praticam atos lesivos contra a admi-
vez se mobiliza a posição 76 numa escala decrescente en- nistração pública nacional ou estrangeira.
para estabelecer tre os países mais corruptos. Vale destacar Em um cenário de profusão de leis e
um padrão que, por essa avaliação, a Dinamarca seria regulamentos nacionais que visam evitar
internacional que o país menos corrupto em todo o planeta, as práticas de suborno e corrupção, a ISO
possa auxiliar enquanto a Coreia do Norte e a Somália, (Organização Internacional para Norma-
organizações a ocupariam juntas a triste posição de países tização) se mobilizou em 2012 para cria-
incorporarem, mais corruptos em todo o mundo. ção de uma referência internacional para
de forma prática,
Inspirada em outros países, como na gestão de compliance, ou seja, de con-
uma nova
Lei Federal dos EUA de Combate a Práti- formidade legal. Atendendo proposta da
função em suas
cas de Corrupção no Exterior, promulga- Austrália, que já detinha um importante
governanças
da em 1977 (Foreign Corrupt Practices programa nacional de compliance, a ISO

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cria naquele ano um comitê coordenado uma demanda da sociedade para permitir com leis, normas e padrões aplicáveis, a
por esse país com a missão de desenvol- a sobrevivência das organizações e insti- ISO 37001 certamente poderá auxiliar as
ver um padrão internacional de gestão de tuições, a ISO mais uma vez se mobiliza organizações empresariais tanto na imple-
conformidade legal. para estabelecer um padrão internacional mentação da Gestão Antissuborno, como
Em 2014 este comitê publica a ver- que possa auxiliar organizações de qual- também na melhoria de controles já exis-
são preliminar da Norma ISO 19600 de quer natureza e porte a incorporarem, de tentes, dando maior garantia aos gesto-
Gerenciamento de Conformidade Legal forma prática, uma nova função em suas res, proprietários, agentes financiadores,
(ISO 19600 – Standard for Compliance governanças: a gestão formal de práticas clientes e demais parceiros, e ainda no for-
Management – Draft), que fornece orien- anticorrupção sem meias palavras. Foi as- necimento de provas a promotores e tribu-
tações para que uma organização possa se sim criado em 2013 o Comitê Técnico 278 nais em casos de inquéritos e ações judi-
estruturar com uma ferramenta de geren- da ISO, secretariado pela BSI - Instituição ciais, mostrando que a organização adota
ciamento específica, que garanta o cum- Britânica de Normas BSI (British Stan- as melhores e mais razoáveis medidas de
primento de leis, padrões e normas estabe- dards Institution), para criação da norma prevenção de corrupção.
lecidas, que lhe sejam aplicáveis, ou que ISO 37001 de Gestão de Práticas Antis-
sejam por ela subscritos voluntariamente. suborno. O novo padrão a ser estabeleci- QUAIS MEDIDAS SÃO
Trata-se, contudo, de uma norma de dire- do deveria ainda permitir uma verificação REQUERIDAS DAS
trizes (guideline) que não se presta, em dessas práticas por terceira parte indepen- ORGANIZAÇÕES QUE
princípio, para fins de certificação de uma dente com credibilidade internacional que QUEIRAM ADOTAR O
terceira parte independente. possa emitir uma certificação de “empresa MODELO DE GESTÃO
A conformidade com as legislações isenta de prática de suborno”. DA NORMA ISO 37001?
nacionais, contudo, não têm conseguido A exemplo dos demais modelos de
evitar a crescente repercussão, não só no O QUE É A NORMA ISO gestão da ISO, amplamente conhecidos,
Brasil, dos casos de corrupção envolvendo 37001 E PARA QUE a ISO 37001 exige da organização que se-
grandes corporações empresariais. Assim, SERVE? ja estabelecida inicialmente uma política
é natural que mesmo a grande maioria das A Norma ISO 37001 está sendo ela- antissuborno e que seja nomeado pela alta
empresas do setor sucroenergético, e ou- borada para ajudar pequenas, médias e administração um responsável para super-
tros que atuam dentro da lei, e que sem- grandes organizações dos setores públi- visionar o seu cumprimento. Devem ser
pre rejeitaram as práticas de corrupção ou co, privado e do terceiro setor a imple- fornecidos treinamentos a todos os níveis
suborno para alavancarem seus negócios, mentarem um sistema de gerenciamento organizacionais, realizadas avaliações de
passem a se preocupar em demonstrar que lhes possibilite prevenir práticas de risco de suborno e implantado um siste-
que não fazem parte “disto que aí está”. suborno bem como detectá-las e tratá-las ma auditorias em todos os projetos e em
O modelo gerencial proposto pela Norma corretivamente, antes de ocorrerem. É uma contratos de parcerias, bem como imple-
ISO 19600, antes mesmo de se consolidar, ferramenta flexível, que pode ser adaptada mentados procedimentos de controle das
mostra-se insuficiente para ajudar as orga- de acordo com o tamanho, natureza da or- atividades financeiras e comerciais e ainda
nizações a demonstrarem que são idôneas ganização e em função do grau de risco de procedimentos de comunicação e investi-
para todas as partes interessadas em seus corrupção ativa ou passiva que enfrenta. gação de não conformidades eventualmen-
desempenhos. Assim como para a mulher te detectadas.
de Cesar não bastava apenas parecer ho- QUE BENEFÍCIOS A ISO
nesta, para as organizações empresariais, 37001 TRAZ PARA UMA A ISO 37001 NÃO IRIA
já não basta mais atuarem dentro dos pa- ORGANIZAÇÃO? IMPOR MAIS UMA
drões legais nacionais, por mais rígidos Assim como nenhuma lei ou outra fer- BUROCRACIA PESADA
que sejam. É preciso também que estas ramenta existente consegue eliminar com- E POUCO ÚTIL AS
empresas demonstrem idoneidade, inde- pletamente o risco de corrupção, o padrão EMPRESAS DO SETOR
pendente do contexto geográfico e políti- ISO 37001 também por si só não poderá SUCROENERGÉTICO?
co onde atuam. garantir a eliminação total dessa pernicio- Os requisitos da norma são suficiente-
Nesse cenário mundial onde a trans- sa prática nas organizações empresariais. mente flexíveis para possibilitar que sejam
parência, tanto nos negócios públicos co- No entanto, além de contribuir para o apri- implementados de forma racional e pro-
mo privados, passa a ser cada vez mais moramento da gestão global e compliance porcional ao tamanho da organização, à

35
complexidade de suas atividades, à natu- da organização. Será também requeri-
reza e aos reais fatores de risco de subor- da a inserção de práticas antissuborno
no que está exposta. As normas de gestão nos procedimentos de controles opera-
ISO são intencionalmente concebidas com cionais, onde apropriado, com ênfase
a preocupação de decodificar, para peque- nas operações financeiras e não finan-
nas e médias empresas, as sofisticadas fer- ceiras, como comercial e suprimentos.
ramentas gerenciais de melhoria contínua Os controles operacionais antissuborno
oriundas dos setores militar e aeroespacial devem ser extensivos a todas as orga-
e adaptadas, já em décadas passadas, pela nizações controladas e às associadas se
indústria automobilística. pertinente. Das organizações associadas
será requerido compromisso formal de
A EMPRESA QUE aderência à política antissuborno da or-
ADOTAR A ISO 37001 ganização
PODERÁ OBTER UMA Segundo o Claudio, além de contribuir
para o aprimoramento da gestão glo-
Entre os requisitos mandatórios da
CERTIFICAÇÃO POR bal e compliance, a ISO 37001 poderá norma de Gestão Antissuborno incluem-
UM ORGANISMO auxiliar as organizações tanto na im- -se a obrigatoriedade de realização de
plementação da gestão antissuborno,
INDEPENDENTE? como também na melhoria de contro- due diligence nas transações relaciona-
Aguarda-se ainda para esse 2º semes- les já existentes das a associações, fusões, aquisições ou
tre de 2016 a publicação da versão da nor- têmico baseado nos conceitos de melhoria parcerias; o estabelecimento de critérios
ma ISO 37001 certificável por organismos continua (planejar, desenvolver, checar e claros para recebimento e oferta de brin-
independentes de terceira parte, denomi- agir - PDCA). O sistema de gestão de- des, gratificações, hospitalidade, doações
nada Norma Internacional ISO 37001- Sis- verá incluir monitoramento dos controles e benefícios similares; e de procedimen-
temas de Gestão Antissuborno (Interna- operacionais antissuborno estabelecidos, tos para relato e investigação de práticas
tional Standard ISO 37001 - Anti-bribery auditorias internas, tratamento das não- suspeitas de suborno.
Management Systems). A Norma Interna- -conformidades identificadas, verificação Para as empresas do setor sucroe-
cional está sendo elaborada por um comi- periódica da conformidade com os requi- nergético que já operam um sistema de
tê constituído por representantes de mais sitos legais antissuborno e anticorrupção, gestão ISO (ISO 9001, ISO 14001, ISO
de 40 países membros ou observadores e e análise crítica periódica dos resultados 26000, ISO 31000) e/ou OHSAS (OH-
de sete instituições independentes ligadas pela alta administração a fim de estabe- SAS 18001), a implementação de um Sis-
à temática anticorrupção ou aos sistemas lecer novas metas de melhoria contínua. tema de Gestão Antissuborno certificável
normativos. A organização deverá estabelecer um com base na Norma ISO 37001 poderá
Por fim, vale adiantar que a versão processo de avaliação dos riscos de subor- se dar de forma facilitada e natural sem
preliminar da norma internacional ISO no e uma política antissuborno com a qual traumas ou grande perturbação na rotina
37001 (Draft International Standard a liderança deverá demonstrar expressa- operacional. Para as usinas que ainda não
DIS) já disponível, sinaliza que os ele- mente seu compromisso. Um guardião adotaram um modelo sistêmico de gestão
mentos-chave a serem requeridos de uma responsável por manter a política antissu- baseado nos princípios de melhoria contí-
organização que pretenda operar em con- borno deverá ser designado formalmente nua, a adoção do modelo ISO 37001 po-
formidade com esse padrão internacional na estrutura organizacional. Um processo derá ser a oportunidade para integrarem o
certificável serão, inicialmente, a demons- contínuo de definição de metas de redução rol de mais de 1,6 milhão de organizações
tração do conhecimento que a organização do risco de suborno, de planejamento e de em todo mundo que operam sistemas ISO
possui de suas próprias práticas e das ne- implementação das ações definidas para certificados por terceiras partes, confor-
cessidades e expectativas das partes inte- atingi-las também precisará ser mantido. me demonstra a mais recente estatística,
ressadas (stakeholders) e a definição dos A norma ISO 37001 deverá ainda enfa- de 2014, da Organização Internacional
limites da abrangência do Sistema de Ges- tizar a necessidade da inserção da política para Normatização.
*Jair Rosa Claudio é mestre em En-
tão Antissuborno pretendido. antissuborno nos processos de comuni-
genharia Sanitária e Ambiental,
Essencialmente, a versão DIS da nor- cação com partes interessadas e de cons- consultor em Sistemas de Gestão
ma ISO 37001 requer a existência ou im- cientização e treinamento dos empregados com base nos padrões ISO e sócio-
-diretor da PLANT Sustentabilidade
plementação de um modelo de gestão sis- diretos e de terceiros atuando em nome e Meio Ambiente

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FORNECEDORES DE CANA EM PLENA CRISE, COAF/
COBRAM DÍVIDAS DE USINAS AFCP FORTALECE
O presidente da Associação dos Plantadores de Cana de Alagoas (Asplana), COOPERATIVISMO
Edgar Filho, recebeu, no início de outubro, fornecedores de cana-de-açúcar de RURAL EM PE
Alagoas para discutir a situação da dívida das usinas, que segundo reclamam Apesar da grave crise econômica ainda em
os representantes do setor canavieiro, estão moendo sem fazer o devido paga- curso, a Cooperativa do Agronegócio da Asso-
mento aos produtores. A reunião aconteceu na sede da Asplana, em Maceió. ciação dos Fornecedores de Cana de Pernambu-
De acordo com Edgar Filho, as usinas do estado devem aproximadamente co (Coaf/AFCP) não para de crescer. Tanto que
R$250 milhões aos cerca de oito mil fornecedores de cana de Alagoas. “E tem acaba de ampliar suas instalações no Recife,
produtores que não recebem das usinas já há três safras. Na última safra tem triplicar postos de trabalho e elevar o fatura-
usina que moeu e não pagou um real aos fornecedores.” Ainda de acordo com mento. Embora a previsão anual fosse de fatu-
ele, a única saída apontada pelas usinas foi a liberação de um financiamento, rar R$ 8 milhões, a cooperativa já atingiu nos
junto a um banco internacional. últimos 12 meses o montante de R$ 11 milhões.
A falta de alternativas apontada pelas usinas foi justificada pelo período O segredo do desempenho está no método que a
de seca e momento de crise que o país está passando. No entanto, o repasse Cooperativa aplica em favor dos seus agriculto-
desse financiamento estaria se arrastando desde o mês de dezembro de 2015. res cooperativados. Ela aposta na diversificação
“A situação de dificuldade do fornecedor tem se arrastado há três anos. Então, do portfólio de produtos agropecuários comer-
quando saiu a notícia de que esse financiamento viria para as usinas e elas cializados com preços abaixo dos praticados no
se comprometeram junto ao governador a utilizar esse dinheiro para pagar mercado, já que atua para reduzir os custos de
os seus fornecedores de cana, gerou-se uma esperança para a classe. No en- produção da cana e de pastagens, estratégicos
tanto, desde dezembro o dinheiro não saiu para as usinas e elas não pagaram para entidade.
os fornecedores de cana. Temos um ano de esperanças frustradas e de uma Além de comercializar fertilizantes e herbi-
situação que está cada dia mais grave”, explicou. cidas para cana e pastagens a preços diferencia-
Os pequenos produtores têm amargado os principais reflexos da falta de dos do mercado, bem como ferramentas, utensí-
pagamento e relatam estar vivendo uma situação crítica. “A situação passou lios e várias linhas de pastagens, a Coaf passou
de calamidade no campo, porque você não tinha como renovar seu canavial, a comercializar também peças para tratores de
para calamidade dentro da própria casa, com os fornecedores sem conseguir todas as marcas e ainda implementos agrícolas
pagar nem as contas, principalmente pelo fato de 90% da classe ser forma- a partir de outubro. A Cooperativa, que fica na
da por pequenos fornecedores, que sobrevivem com um salário mínimo por Av. Mascarenhas de Moraes, no bairro da Imbi-
mês”, afirmou o presidente da Asplana. ribeira no Recife, já realizou cadastro com vá-
rias distribuidores locais dessas peças e também
FORNECEDOR DE CANA RECEBE está buscando firmar parcerias com as indústrias
REUNIÃO TÉCNICA DO CTC do segmento.
No último dia 6 de outubro, em Ituverava, SP, o CTC realizou mais um “A nossa intenção é trazer também a indús-
Dia de Campo voltado para fornecedores de cana-de-açúcar. O evento contou tria de peças de tratores para perto do produtor
com cerca de 25 clientes e palestras técnicas sobre as variedades mais adap- de cana e com preços mais baixos que os prati-
tadas à região, como as da série 9000, por exemplo, além de demonstrações cados no mercado”, explica o gerente Comercial
em campo sobre manejos como: adubação, sistematização e conservação do da Cooperativa, Hermano Interaminense.
solos. “Este é um público que sempre foi muito importante para o CTC e Peças de tratores são uma demanda cotidiana
queremos cada vez mais reforçar esse relacionamento mostrando a eles que dos agricultores, já que o uso destas máquinas
é possível se sobressair em produtividade quando se investe em tecnologia”, é essencial para a produção da cana-de-açúcar
explica Luis Gustavo Dollevedo, diretor Comercial do CTC. e o gasto com peças é um dos fatores que mais
encarecem os custos de produção. Desta forma,
como a Coaf tem como missão baixar tais custos
dos seus cooperativados, a direção da entidade
decidiu inserir estes produtos em seu portfólio.
“Desde 2010, quando foi criada, a Coaf/AFCP
se destaca pelo valor diferenciado dos produtos
comercializados para os seus cooperativados.
E isso ocorre justamente porque esta é a sua
finalidade: baixar custos de produção da cana e
agora também de outros setores agropecuários”,
diz o responsável por sua criação, Alexandre
Andrade Lima, presidente da AFCP e da Coaf.

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NOVA ARALCO LANÇA No aplicativo, os colaboradores conseguem
APLICATIVO PARA visualizar holerite, vagas disponíveis, evolução
COLABORADORES E de carreira, folha de ponto e acompanhar o de-
FORNECEDORES sempenho diário, semanal e mensal. Já os forne-
DE CANA cedores de cana, têm à disposição informações
O Grupo Nova Aralco, formado pelas usi- referentes à entrada de cana, relatórios de
nas Alcoazul, Aralco, Figueira e Generalco, lan- produção, extratos de contrato e fornecedor,
ça ferramenta digital para aprimorar a disponi- entre outras. Para acessar, os usuários preci-
bilidade das informações aos colaboradores e sam estar cadastrados previamente no sistema
fornecedores de cana. Numa iniciativa de ino- interno da empresa para depois usufruir dos
vação aberta, foi desenvolvido o aplicativo CS benefícios da ferramenta.
ERP, formatado em parceria com a empresa de A Aralco priorizou a necessidade de
Tecnologia Compusoftware e alunos do curso apresentar um sistema online, totalmente
de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da integrado ao seu banco de dados, que ofe-
Fatec, de Araçatuba, SP. rece modernidade, funcionalidade e efici-
A ferramenta de comunicação foi pensa- ência na gestão dos negócios e informações
da pela equipe de Recursos Humanos da Nova de seus públicos. De acordo com Jennifer
Aralco com objetivo de oferecer, na palma da Leal, assistente de Recursos Humanos da
mão do colaborador, informações de seu in- Nova Aralco, é uma ferramenta de rápida
teresse como plano de carreira, holerite, de- implantação, baixo custo e praticidade in-
sempenho etc. Durante a execução do projeto, comparável. “Além disso, a nova ferramenta
outras ideias surgiram e ampliaram o escopo viabiliza aos nossos usuários, todas as infor-
do projeto para o relacionamento com forne- mações referentes aos interesses deles aqui
cedores de cana. dentro”, disse a idealizadora do projeto.

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SVAA FAZ CAMPANHA DE
Por dentro da Usina

CONSCIENTIZAÇÃO NO TRÂNSITO
De 19 a 23 de setembro, a Santa Vitória Açúcar e Álcool (SVAA) realizou a campanha da Semana
do Trânsito com o tema “Seja um bom exemplo no trânsito”. Durante esse período foram distribuídos
brindes e materiais explicativos com dicas para um trânsito mais seguro. A campanha abrangeu o pú-
blico interno da SVAA e as comunidades de Santa Vitória, Ipiaçu e Gurinhatã, MG.
O objetivo da ação é sensibilizar os condutores sobre a direção segura e conscientizá-los de seu
papel como influenciadores de futuros motoristas. Além da responsabilidade de manter o tráfego de
veículos seguro, evitando acidentes, o motorista é exemplo para seus filhos e demais crianças e ado-
lescentes, que em breve exercerão o mesmo papel.
Todos os anos, durante o mesmo período, a SVAA realiza ações em prol de mais segurança no
trânsito. Em 2016 não foi diferente. Escolas da rede pública e privada de ensino de Santa Vitória, Gu-
rinhatã e Ipiaçu receberam uma equipe da empresa para divulgação da campanha. Alunos de diversas
faixas etárias participaram com o intuito de estender os ensinamentos recebidos aos pais e familiares.

ALCOESTE PROMOVE RAÍZEN FAZ PARCERIA COM STARTUP


PROJETO DE PARA ANTECIPAR PROJEÇÃO DE
REFLORESTAMENTO SAFRA DE CANA
A Destilaria Alcoeste, localizada em Fernandópolis, A Raízen fechou uma parceria com a startup brasileira de inteligência arti-
SP, promove desde 2006 o Projeto Vida Ribeirão Santa ficial Space Time Analytics para o uso de uma tecnologia que deverá permitir
Rita, que tem como objetivo preservar a mata ciliar des- fazer a previsão, com até um ano de antecedência, da capacidade de produção
se importante rio para a região. A 9ª edição do projeto, da safra de cana-de-açúcar em todas as suas 24 unidades. A Raízen afirmou
realizada na última semana de setembro, contou com a em nota que o modelo é inédito no país não só pelo formato, mas também pela
participação de mais de 200 crianças de sete escolas do escala de produção.
município, que juntas plantaram cerca de 2 mil mudas de A previsão é que o novo sistema comece a operar nos próximos meses.
árvores nativas. Segundo a Raízen, a parceria, firmada após um ano de trabalho em conjunto,
O diretor-presidente da Destilaria Alcoeste, Luiz Antônio permitirá análise de dados agronômicos e meteorológicos, obtidos por meio de
Arakaki, afirmou sobre a importância de cuidar dessa drones e de satélites em tempo real, visando melhorar os processos de plane-
área e preservar a nascente do rio, além de ter a empresa jamento e de gestão de riscos. A plataforma, em sua primeira versão, permitirá
engajada em projetos ambientais. “A nossa intenção é que o gerenciamento de riscos em toda a cadeia, desde o plantio até a operação
isso se repita ao longo dos anos. Quem dera chegarmos comercial.
à 100ª edição”, estima Arakaki. Até o final do ano, serão A primeira solução da parceria estratégica, A-RowTM, automatizou a iden-
mais de 10 mil mudas, completando 90 mil mudas pelo tificação de 100% das linhas de plantio da Raízen, mapeando as falhas de plan-
projeto. Após o plantio, a equipe de reflorestamento do tio com melhor assertividade e em uma velocidade 20 vezes maior do que as
grupo fornece todos os tratos culturais para as mudas. tecnologias convencionais.
Além deste programa, o Grupo Arakaki desenvolve
outras ações de preservação e tem cerca de 70 ha de áreas CORURIPE É UMA DAS MELHORES
reflorestadas. EMPRESAS PARA SE TRABALHAR
A Usina Coruripe entrou, pela primeira vez, na lista das 150 melhores em-
SÃO MARTINHO AMPLIARÁ presas para se trabalhar no Brasil. O ranking foi produzido pela Revista Você
MOAGEM DE CANA E S/A. A premiação, considerada uma das mais importantes de clima organiza-
PRODUÇÃO DE AÇÚCAR cional do Brasil, foi realizada na cidade de São Paulo.
A São Martinho informou que seu Conselho de Ad- Para Jucelino Sousa, presidente da Coruripe, estar inserido entre as melhores
ministração aprovou planos de ampliar a moagem de cana é motivo de muito orgulho. “Esse resultado é uma comprovação de que mesmo
e a produção de açúcar na safra 2017/18. A Usina Santa em tempos de austeridade e de muitas adversidades, quando temos um time que
Cruz, SP, vai elevar a capacidade de moagem para 5,6 pratica os valores e trabalha com muita união, dedicação, comprometimento e
milhões de t em 2017, ante 5,2 milhões de t neste ano e segurança em todos os processos, é possível vencermos os desafios mantendo
vai aumentar a capacidade de produção de açúcar para sempre um ótimo ambiente de trabalho”, afirmou Sousa.
434 mil t na próxima temporada, ante 353 mil t na atual No ranking da categoria agronegócio, em primeiro lugar ficou a Monsan-
safra, reduzindo a produção de etanol para 185 milhões to, seguido pela Bunge Brasil, Mosaic Fertilizantes, Usina Coruripe, Moinho
de l, ante 200 milhões de l. Globo e Agro Amazônia Produtos Agropecuários.

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ENGENHEIROS CAPACITAM CANA EM PEDAÇOS FAZ
PROFISSIONAIS DE USINAS SUCESSO NO MERCADO
E MOSTRAM TÉCNICAS PARA Pensando na alimentação mais saudável e com o intuito
AUMENTAR A EFICIÊNCIA de levar a mesa dos brasileiros um produto mais natural e que
DAS PLANTAS contribua com uma alimentação mais equilibrada, a empresa
De Lavoisier à equação da felicidade. Estas foram algu- Energia da Terra criou a CanaBacana, uma cana-de-açúcar
mas das equações utilizadas no treinamento sobre ‘Balanço de embalada em pedaços para consumo direto.
Massa e Energia’ para calcular o balanço de massa e energia no Nos sabores limão e abacaxi, além da opção natural, os
processo industrial, assim como o balanço de pol, fibra, pureza, produtos são produzidos artesanalmente e sem nenhuma adi-
brix, valores da vazão do caldo misto, do bagaço, evaporação, ção de conservantes artificiais. A CanaBacana ganhou até uma
cozimento, fermentação, destilação, entre outros. O curso, mi- versão da Turma da Mônica, com embalagens especiais e vol-
nistrado pelos engenheiros e diretores da Reunion Engenharia, tadas para o lanche das crianças.
Tercio Dalla Vecchia e Jorge Luiz Scaff, aconteceu na última Segundo Mônica Sousa, executiva da Mauricio de Sousa
semana de setembro, em Ribeirão Preto, SP. Produções, trazer a cana-de-açúcar para o portfólio de produtos
Os profissionais deram dicas interessantes para serem apli- da empresa é uma oportunidade para aproximar ainda mais os
cadas na resolução das equações e fechamento dos balanços de fãs da Turminha de hábitos populares e naturais. “Chupar ca-
massa e energia e ensinaram mecanismos de como aumentar a na é um hábito que se perdeu nas grandes cidades e que essa
eficiência industrial em todos os processos envolvidos na planta nova opção torna possível retomar e apresentar às crianças”,
sucroenergética. Durante três dias, o curso contemplou aulas teó- afirma a executiva.
ricas e práticas sobre os conceitos básicos de operações unitárias Segundo o sócio-executivo da empresa Cana Bacana, Er-
e termodinâmicas aplicados nas usinas e qual o entendimento nest Petty, levar ao varejo pedaços de cana-de-açúcar 100%
das relações entre a quantidade de matéria e energia de cada natural prontos para consumo é um sonho se realizando. “Te-
corrente de processo. Participaram do curso colaboradores das mos muito orgulho em lançar nosso produto em parceria com
empresas BP Biocombustíveis (Itumbiara, Tropical e Ituiutaba), a Mauricio de Sousa Produções. Acreditamos que o ineditismo
São Martinho, IACO Agrícola, Usina Batatais, Bunge (Santa e a inovação sejam as marcas dessa iniciativa. ”
Juliana), Cerradinho Bioenergia, Biosev, Clealco e Usina Lins.
CURSO ENSINA COMO
AUMENTAR O APROVEITAMENTO
MANEJO INTEGRADO É O FOCO DA BIOMASSA NOS PROCESSOS
DA BAYER NO CONGRESSO DE INDUSTRIAIS
PLANTAS DANINHAS 2016 Dá para aproveitar mais e melhor a palha e o bagaço da ca-
 Diversidade é o futuro. Esta é a nova frente da Bayer para na-de-açúcar nos processos industriais, como na geração de
tratar do manejo integrado de plantas daninhas. A campanha vapor, por exemplo? Dá sim, mas para isso é necessário aplicar
teve início durante o XXX Congresso Brasileiro da Ciência as boas práticas de operação e manutenção dessa nova biomas-
das Plantas Daninhas, que aconteceu em Curitiba, PR. Além da sa. Foi justamente esse o assunto abordado na 4ª Aula/Palestra
iniciativa, foram apresentados também o novo herbicida pré- do Curso Industrial da UniUDOP deste ano. 
-emergente Alion, desenvolvido especificamente pensando na O evento foi realizado na primeira semana de outubro,
cultura da cana-de-açúcar. A nova tecnologia atua diretamente no em Araçatuba, SP. O engenheiro mecânico, Marco Antonio
solo, inibindo a germinação e emergência de plantas daninhas, Silva abriu as discussões com o tema “Aumento do potencial
porém, com um número reduzido de aplicações. corrosivo nas partes frias das caldeiras com a utilização da
Em paralelo aos eventos, a empresa teve um espaço re- Nova Biomassa”. O objetivo foi evidenciar a combinação do
servado para a iniciativa Diversidade é o Futuro, que contou teor de enxofre contido na Nova Biomassa (bagaço mais pa-
com a palestra da líder global desta frente Christine Brunel- lha), com a umidade volumétrica produzida na combustão da
-Ligneau, além da participação das áreas de Digital Farming, mesma, a fim de se aumentar o potencial corrosivo nas partes
Stewardship e do Centro de Expertise de Agricultura Tropical frias da caldeira.
(CEAT), responsável por soluções tecnológicas voltadas aos Já o especialista Carlos Eduardo de Abreu mostrou aos
sistemas produtivos tropicais. “O manejo integrado de plantas participantes do Curso Industrial, a importância de implemen-
daninhas prevê iniciativas por meio de sementes tratadas, pro- tar tecnologias novas para se obter a melhor performance da
dutos de proteção de cultivos desenvolvidos com alta tecnologia caldeira com a queima da nova biomassa. Ele ministrou o 2º
e serviços customizados para a prevenção da lavoura, além de painel com o tema: “Desenvolvimento tecnológico nos pro-
promover as melhores práticas de manejo no dia a dia do agri- jetos de caldeiras para a utilização da Nova Biomassa”.  Para
cultor. Isso mostra que prevenir é melhor do que tratar”, afirmou encerrar foi realizada a Aula/Palestra com o gerente industrial
Mário Lussari, gerente de portfólio de herbicidas e reguladores da Usina Atena, Gerson Luis Forti, que falou sobre a Separa-
de cescimento da Bayer. ção de Impurezas com baixo custo.

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atualidades jurídicas

DIREITO CIVIL EMPREGADO QUE APRESENTOU


PLANO DE RECUPERAÇÃO VALE CONVERSAS DE SKYPE OBTIDAS
PARA TODOS OS CREDORES ILICITAMENTE NÃO CONSEGUE
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que o plano de INDENIZAÇÃO POR ASSÉDIO MORAL
recuperação judicial aprovado em assembleia geral de credores, em Um trabalhador procurou a Justiça do Trabalho pedindo que a
que se deliberou pela supressão das garantias reais e fidejussórias, empregadora fosse condenada ao pagamento de indenização por
produz efeitos plenos para todos os credores, e não apenas para os assédio moral alegando que, em determinado momento, os colegas
que votaram favoravelmente à sua aprovação. teriam passado a tratá-lo com indiferença e atribuído apelidos ofen-
Em primeira e em segunda instância, o argumento de um grupo sivos. Para provar o alegado, apresentou o conteúdo de conversas
de credores de que o plano aprovado pela assembleia deveria ter extraídas do Skype de uma funcionária da empresa, com registros
efeitos somente para quem o aprovou, no que se refere à supressão de apelidos ultrajantes.
das garantias de pagamento dadas inicialmente pelas empresas, foi O pedido foi indeferido e na sentença a julgadora observou que
aceito em primeira e segunda instância No entanto, para o relator o próprio empregado reconheceu, em depoimento, que gostava de
do recurso, o plano aprovado na assembleia vale para todos, uma trabalhar para a ré e que os supostos apelidos não eram dirigidos
vez que é inviável restringir os efeitos de determinadas cláusulas a ele de forma presencial e direta. A pretensão do reclamante era
apenas a quem foi favorável ao plano. Ainda, o texto aprovado na provar as alegações por meio de conversas retiradas do Skype,
assembleia deixou claro que a supressão das garantias foi uma for- mas a julgadora rejeitou essa possibilidade. A atitude foi repudia-
ma encontrada para que as empresas tivessem condições de exer- da pela juíza por entender que ele teria agido de forma reprovável
cer suas atividades comerciais normalmente, podendo cumprir o ao acessar as conversas particulares da sua colega de trabalho no
plano de recuperação e, assim, quitar as dívidas com os credores. aplicativo Skype, violando, assim, a privacidade de uma colega de
Por fim, em relação ao questionamento levantado quanto à trabalho, já que confessou que o acesso se dava por meio de senha.
validade da interferência do Poder Judiciário em um plano de re- O trabalhador recorreu da decisão, mas o TRT manteve a sen-
cuperação aprovado de forma autônoma por assembleia de credo- tença. Os julgadores de 2º Grau consideraram que as conversas
res, o relator destacou que, embora a restrição feita pelo TJMT à obtidas ilicitamente pelo reclamante não poderiam servir para
supressão de garantias tenha sido considerada indevida, isso não comprovação dos fatos alegados, nos termos do artigo 5º, LVI, da
significa que o Judiciário não possa apreciar planos de recuperação Constituição Federal.
aprovados em assembleias de credores e suas respectivas cláusulas.
DIREITO AGRÁRIO
DIREITO DO TRABALHO ARRENDADOR DEVE NOTIFICAR
PERMANÊNCIA EM ÁREA DE O ARRENDATÁRIO PARA
RISCO POR DEZ MINUTOS ENCERRAMENTO DO CONTRATO
DIÁRIOS NÃO DÁ ADICIONAL DE O Superior Tribunal de Justiça (STJ), em decisão unânime,
PERICULOSIDADE julgou improcedente pedido de imissão contra dois arrendatários
A 9ª Câmara do Tribunal Regional do Trabalho negou pro- que, de acordo com as herdeiras, permaneciam no imóvel por tem-
vimento ao recurso de um motorista de caminhão de lixo que po superior ao estabelecido em contrato. As autoras afirmaram que
insistiu no pedido de adicional de periculosidade, por permane- a mãe delas havia firmado contrato de arrendamento rural com os
cer próximo a inflamáveis durante o abastecimento do veículo réus pelo prazo de oito anos, mas que os arrendatários permanece-
em que trabalhava. Segundo ele, “a própria perita reconheceu a ram na posse do imóvel de forma indevida, mesmo após o término
permanência em área de risco durante o abastecimento do veí- do período de arrendamento. Em decisão de primeira instância, foi
culo, realizado, diariamente, por cerca de dez minutos”. determinada a saída dos arrendatários, o que foi confirmado pelo
De acordo com a perícia, o reclamante permanecia em área Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL).
de risco durante o abastecimento do veículo utilizado por ele, Em sede de recurso, os arrendatários alegaram que o contra-
porém, tal fato ocorria de forma eventual, visto que, de acordo to fora renovado de forma verbal com a mãe das autoras antes de
com informações do próprio reclamante, o veículo era abastecido seu falecimento e que a prorrogação havia sido presenciada por
uma vez por dia, sendo gastos dez minutos nesse abastecimento. terceiros. Alegaram ainda que, conforme o Estatuto da Terra, o
A mesma perícia acrescentou que, pelo fato de essa exposição arrendador deve expedir, em até seis meses antes do vencimento
ser “eventual”, o reclamante não tem direito ao adicional de do contrato, notificação com as propostas de novo arrendamento
periculosidade. recebidas de terceiros, garantindo-se preferência ao arrendatário no
Para o relator do acórdão, ficou comprovado pela perícia caso de igualdade entre as ofertas. Em caso da falta de notificação,
que o abastecimento do veículo era realizado por frentista. Além o contrato é considerado automaticamente renovado. O relator do
disso, “a permanência do empregado em área de risco por tempo recurso no STJ confirmou que os procedimentos de renovação em
extremamente reduzido – cerca de 10 minutos diários – atrai a contratos de arrendamento mercantil devem seguir as disposições
incidência da ressalva contida na parte final da Súmula 364 do do parágrafo 3º do artigo 92 do Estatuto da Terra, que exigem que
Tribunal Superior do Trabalho (TST), segundo a qual o empre- o arrendador notifique o arrendatário, sob pena de prorrogação au-
gado não faz jus ao adicional de periculosidade”. tomática do contrato.

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A história da produção de cerveja no Brasil começa por volta do século XIX,
ou seja, há pouco menos de 200 anos. Apesar de estarmos atrás de alguns países
como a Alemanha, Bélgica e Irlanda, onde a produção de cerveja é tradição há
quase10 mil anos, estamos chegando lá. E bem rápido. Hoje somos o terceiro
São chamadas de cervejas artesanais
aquelas produzidas quase que de forma
maior produtor do mundo. São 50 fábricas, entre grandes e microcervejarias,
caseira. Várias microcervejarias, mesmo
que são responsáveis pela produção de 14,1 bilhões de l de cerveja por ano, se- utilizando equipamentos modernos
gundo os últimos dados da CervBrasil (Associação Brasileira da Indústria da e engarrafando suas produções,
Cerveja) de 2016. são consideradas como artesanais
Um dos motivos pela demora na popularização desta bebida em nosso país pelo simples fato do cuidado que se
foi Portugal, que na época em que ainda colonizava o Brasil, dava preferência têm em sua produção, indo desde
a importação do vinho português ao invés de incentivar a produção da cerveja. os ingredientes básicos da cerveja,
Influenciados por isso, o vinho e a cachaça acabaram se tornando as bebidas passando pela receita de preparo
preferidas dos brasileiros até o final do século XIX. Isso mudou a partir de 1836, e chegando até aos conservantes
quando a primeira indústria cervejeira abriu suas portas no Rio de Janeiro. Na finais, que devem ser naturais e não
época, a bebida foi anunciada da seguinte forma: “Na rua Matacavalos, número
químicos. Já outras microcervejarias ou
cervejarias caseiras, levam o significado
90, e rua Direita, número 86, da Cervejaria Brasileira vende-se cerveja, bebida
ao pé da letra e utilizam equipamentos
acolhida favoravelmente e muito procurada. Esta saudável bebida reúne a ba- pequenos, que cabem em qualquer
rateza, um sabor agradável e à propriedade de conservar-se por muito tempo”. cozinha. Normalmente, elas não
Daí em diante a evolução foi rápida. Prova disto é que em pouco tempo possuem engarrafadoras e guardam
chegamos a um mercado maduro e que continua em expansão. Temos grandes suas produções em garrafas de cerveja
marcas comerciais, presença cada vez maior de cervejas especiais e também uma comum e rolhas.
boa gama de cervejas artesanais. Hoje, mesmo com apenas quatro fabricantes de Com a popularização das cervejas
cerveja sendo responsáveis por 96% do mercado nacional, as cervejarias menores artesanais, surgiram muitos concursos
ou artesanais vêm apresentando crescimento anual entre 30% e 40%, conquistando com a intenção de premiar as melhores
cada vez mais uma fatia importante do consumidor brasileiro. criações. Entre os campeonatos mais
Com uma infinita variedade de maltes, cevadas, trigos e outros ingredientes,
importantes do mundo, podemos
destacar o European Beer Star, realizado
as mais diferenciadas do mercado atraem os mais diferentes paladares. Notas de
na Alemanha, a World Beer Cup, nos
jasmin, wasabi, chocolate e frutas são alguns dos aromas adicionados a estas no- Estados Unidos, World Beer Awards,
vas receitas. São estes pequenos detalhes e cuidados que fazem da cerveja a nova realizado no Reino Unido, e a South
“paixão nacional”. Pensando nisso, a RPAnews traz para você os dez rótulos na- Beer Cup, que acontece na América do
cionais mais premiados da atualidade de acordo com o ranking da BeerArt, que Sul. No Brasil, um dos mais conhecidos
foi produzido através do resultado de um cruzamento de medalhas concedidas é o Festival Brasileiro de Cerveja, que
nos principais concursos cervejeiros realizados em 2016. Neste ranking geral acontece anualmente na cidade
estão as grandes e as pequenas cervejarias. de Blumenau, SC.

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AS 10 CERVEJAS MAIS
PREMIADAS DE 2016
BAMBERG ALTBIER
Estilo: German-style Altbier BIER HOFF PILSNER
Cervejaria: Bamberg (Votorantim, SP) Estilo: Bohemian-style Pilsener
Teor alcoólico: 5% Cervejaria: Bier Hoff (Curitiba, PR)
Características: notas de frutas vermelhas, floral e Teor alcoólico: 5%
caramelo. Coloração marrom avermelhada cristalina, Características: carrega um rico aroma
com espuma persistente. Presença de um frutado floral, mantendo o equilíbrio entre o sabor
sutil, toffee e caramelo, amargor marcante do lúpulo, herbáceo, o seco do lúpulo e a doçura da
final seco. cevada.
Último prêmio: medalha de ouro na etapa Brasil Último prêmio: medalha de ouro e melhor
World Beer Awards 2016 cerveja brasileira na Copa Cervezas de
América 2016
GUANABARA WOOD AGED / ITHACA
Estilo: Wood and Barrel Aged BIERLAND BOCK
Cervejaria: Colorado (Ribeirão Preto, SP) Estilo: Traditional German-style Bock
Teor alcoólico: 10,5% Cervejaria: Bierland (Blumenau, SC)
Características: é a Colorado Ithaca produzida para Teor alcoólico: 7%
o mercado norte-americano, com a diferença que é Características: apresenta cor marrom
envelhecida em barris de Amburana. Feita com uma avermelhada, resultado de um blend de
mistura de maltes importados, lúpulo e rapadura cinco tipos de malte de cevada. Dois tipos de
queimada. lúpulo são utilizados. Nuances de caramelo,
Último prêmio: medalha de ouro na International chocolate e leve torrefação.
Beer Challenge 2016 Último prêmio: medalha de ouro no Festival
Brasileiro da Cerveja de 2016
HAUSEN DUNKEL
Estilo: German-style Schwarzbier BAMBERG MAIBAUM
Cervejaria: Hausen Bier (Araras, SP) Estilo: German-style Heller Bock/Maibock
Teor alcoólico: 4,7% Cervejaria: Bamberg (Votorantim, SP)
Características: encorpada, de coloração escura (é Teor alcoólico: 6,5%
uma schwarzbier) e levemente lupulada, com espuma Características: encorpada, apresenta
densa e final seco. Os maltes torrados especiais coloração laranja, cristalina, espuma com
remetem a caramelo, chocolate e café. boa formação e boa persistência.
Último prêmio: medalha de ouro & melhor lager do Último prêmio: medalha de ouro na
mundo no World Beer Awards 2016 International Beer Challenge 2016

EISENBAHN WEIZENBOCK
Estilo: South German-style Weizenbock URWALD EXPORT
Cervejaria: Eisenbahn (Blumenau, SC)/Grupo Brasil Estilo: German Dortmunder/Export
Kirin Cervejaria: Urwald (São Vendelino, RS)
Teor alcoólico: 8% Teor alcoólico: 5%
Características: é uma mescla dos estilos Weizen e Características: Cerveja de coloração
Bock. Usa seis tipos de malte. É escura, feita de trigo dourado intenso, sabor refrescante e
e não filtrada. Com aroma frutado e de especiarias, equilibrado entre o malte e o lúpulo.
tem baixo amargor e corpo alto. Apresenta notas de Último prêmio: medalha de ouro na South
torrefação, banana e cravo. Beer Cup 2016
Último prêmio: medalha de ouro e melhor do mundo
na sua categoria no World Beer Awards 2016
BLUMENAU FRIDA BLOND
ALE
WÄLS PETROLEUM Estilo: Belgian-style Blonde Ale
Estilo: American-style Imperial Stout Cervejaria: Cerveja Blumenau (Blumenau,
Cervejaria: Wäls (Belo Horizonte, MG) SC)
Teor alcoólico: 12% Teor alcoólico: 7%
Características: produzida com diversos tipos de Características: de cor amarela profundo,
grãos escuros, corpo aveludado, licoroso e denso. essa blond-ale tem em seu aroma notas
Aromas complexos de chocolate belga, café, toffee frutadas e condimentadas, que faz lembrar o
e caramelo. Maturada com cacau extra bruto/torrado cravo. O sabor inicial é adocicado e maltado,
belga. e ao final um leve amargor com um final seco.
Último prêmio: medalha de ouro na International Último prêmio: medalha de ouro na South
Beer Challenge 2016 Beer Cup 2016

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Paulo “Amor pela terra”. Essa frase define bem o “A Disimag era uma distribuidora de máqui-

Roberto executivo deste mês, um dos produtores de ca-


na mais conhecidos do setor canavieiro. Betão,
nas e implementos agrícolas da marca Massey
Ferguson. Entrei para gerenciar a revenda da ci-

Artioli como é mais chamado pelos colegas, Paulo Ro-


berto Artioli, construiu, junto com outras duas
dade de Bauru, SP, onde atendia oito municípios.
Mesmo assim, me mantive sempre em contato
famílias produtoras de cana, a Tecnocana, uma com o campo. Com esta gestão adquiri experiên-
Naturalidade das principais empresas produtoras e fornecedo- cia e maturidade para, em 1990, gerir as fazendas
Macatuba, SP ras de cana-de-açúcar do Grupo Zilor. de minha família, que já tinha como cultura prin-
Sua paixão pelo agronegócio começou bem cipal a cana-de-açúcar. Tocávamos as lavouras de
Formação cedo. Ele conta que os pais, Elpídeo e Mariza, cana desde o plantio até a colheita, fornecendo
Engenheiro logo perceberam sua forte ligação com a terra, o produto para a Usina São José, do grupo Zilo
agrônomo transmitida pela convivência com os avós, pro- Lorenzeti, em Macatuba, assim como tínhamos
pela Fundação dutores de café. “Lembro-me que na fazenda uma estrutura de prestação de serviços de corte,
Pinhalense de costumava brincar e aprender a fazer as mudas carregamento e transporte, que também atendia
Ensino de café nos viveiros. Com isso meu amor pela parentes e vizinhos produtores. Como já éramos
terra só cresceu!” fornecedores tradicionais do grupo acabei sen-
Após concluir o ensino primário em sua ci- do convidado para uma nova parceria agrícola”,
Cargo
dade natal, Macatuba, SP, Betão viajava com revela Betão.
Produtor rural minha mãe todos os dias para Lençóis Paulista, O Grupo Zilo Lorenzeti ofereceu uma área de
SP, onde começou a estudar na mesma escola 3.490 ha, onde Betão e a família fariam o plantio
Hobbies onde sua mãe trabalhava. “Completando o gi- e o fornecimento de cana à unidade. Na época foi
Estar com a família, násio, fiz os dois primeiros anos do colegial em um enorme desafio, segundo ele, pois as regiões
os amigos e praticar São Paulo, no colégio Objetivo, e o terceiro ano dos municípios de Borebi e Agudos, SP, possuem
esportes náuticos e cursinho preparatório para vestibular conclui ambientes de produção muito restritivos, como
na cidade de Piracicaba, SP.” solos arenosos. Acostumado com ambientes de
Filosofia de vida Após dedicar-se aos estudos, Betão passou solos argilosos e preocupado com a distância e
“Amar o próximo e em Engenharia Agronômica na Universidade o tamanho da área oferecida, Betão então propôs
fazer tudo com amor Federal Rural do Rio de Janeiro (ENA), na mo- ao grupo dividir as terras com outras duas famí-
dalidade Mecanização Agrícola, mas acabou lias, também fornecedores tradicionais do Zilor.
e competência. ”
transferindo seu curso para Espírito Santo do Pi- “O grupo aceitou a proposta da divisão das
nhal, SP, onde estudou na Fundação Pinhalense terras e analisamos as estruturas. Foi aí que de-
de Ensino e formou-se na modalidade Fitotec- cidimos fazer uma sociedade. Em 2000 nascia a
nia. Ao terminar a graduação, seu pai sugeriu Tecnocana, uma empresa composta pela fusão de
que ele fosse trabalhar como gerente na empresa três famílias e que, além de fornecer cana para
Disimag, a qual era acionista. a usina, também prestava serviços de corte, car-

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Ao lado da esposa, Izabel, em uma de suas viagens Ao lado da esposa e da enteada, suas companheiras de
viagem

regamento e transporte para os sócios em suas terras particulares. para a melhor brotação da socaria.
Desde então, a Tecnocana cresceu progressivamente com muito “A partir deste ano nas áreas de renovações, além do amendoim
esforço e dedicação e acabou conquistando a confiança da Zilor, e clotalária, que já costumávamos cultivar, vamos iniciar o plantio
que nos ofereceu mais terras para trabalharmos em parceria. Ou- de soja em aproximadamente 700 ha. Com a rotação desta cultura
tras empresas foram convidadas para trabalhar dentro do mesmo vamos obter maior controle das pragas, que aumentaram com o fim
modelo de parceria com o Grupo Zilor, e, em 2008, com o ‘boom’ da queima da cana (o vazio sanitário da cana). Além da matéria orgâ-
da cana-de-açúcar, vieram as expansões de áreas. Foi quando nos nica deixada pela soja, o valor do produto no mercado está promissor
ofereceram mais terras”, acrescenta. para os próximos anos, nos proporcionando ganho financeiro. Todo
Hoje a Tecnocana possui uma área de aproximadamente 12.740 o custo destes investimentos em novas tecnologias de mudanças aos
ha, localizados nos municípios de Macatuba, Lençóis Paulista, Agu- poucos está nos trazendo benefícios, ou seja, estamos baixando nos-
dos e Borebi, entregando cana para a Usina São José (Macatuba) e a so custo de produção conforme aumentamos a produção”, destaca.
Usina Barra Grande (Lençóis Paulista). A parte agrícola das Usinas Apesar de estar colhendo bons frutos agora, Betão afirma que
São José e Barra Grande hoje é totalmente delegada às 26 empresas não foi nada fácil ultrapassar as dificuldades dos últimos quatro anos,
parceiras. Nesta safra 2016/17 a Tecnocana entregará cerca de 800 proporcionadas pela falta de incentivo do governo e aos altos inves-
mil t de cana-de açúcar para o grupo. timentos realizados pela empresa em novas tecnologias. No entanto,
este ano, com os preços melhores e as boas perspectivas para o mer-
EM BUSCA DA CANA DE cado de açúcar, mais a esperança de mudanças governamentais, ele
TRÊS DÍGITOS acredita na retomada do setor. “Ainda assim teremos que enfrentar a
Com o fim das queimadas, o setor sucroenergético enfrentou os quebra de produtividade causada pelo clima neste ano. Teremos que
grandes desafios impostos pela mecanização. A Tecnocana, assim ser cautelosos, pois a sequela das dívidas causadas pelo alto inves-
como muitas outras empresas do setor, precisou correr atrás de novas timento e pelo não apoio governamental levarão anos para se equi-
tecnologias, sem deixar de lado a busca pela maior produtividade. librarem”, adiciona.
Segundo Betão, este período envolveu grandes investimentos e a
organização de novos modelos de trabalho para que fosse possível PECUÁRIA DE CORTE
atingir os objetivos da empresa. Visando diversificar suas atividades a Tecnocana, com sede tam-
Com isso, a Tecnocana investiu em agricultura de precisão com bém em Mato Grosso Sul, investe na pecuária de corte há dez anos,
a incorporação do piloto automático nas máquinas envolvidas nos na modalidade de cria, onde comercializa os bezerros machos, utili-
processos de plantio e colheita, e sistemas de aplicação em taxa zando as fêmeas para reposição de matrizes e também para engorda
variável nos implementos de corretivos e adubos; preparo do solo e abate. Segundo Betão, a empresa faz uma pecuária de corte dife-
profundo, a fim de melhorar o enraizamento e mudança nos traça- renciada, pois se preocupa muito com a genética e a alimentação de
dos, que foram também melhorados para melhor rendimento das seus animais. “Comercializamos os bezerros machos com média de
colhedoras (em alguns lotes foram realizadas as sistematizações); idade de oito meses e peso aproximado de 300 kg na desmama, pro-
resgate da sanidade das mudas, utilizando na maioria dos viveiros porcionando aos compradores maior retorno na hora do abate precoce,
as mudas pré-brotadas; mudança no espaçamento de 1,10 m para trazendo maior lucratividade.”
0,90 x 1,50 m, que proporcionou um melhor rendimento das má- Segundo Betão, a empresa está muito otimista com os investi-
quinas, melhor controle de trafego, respeitando as linhas de cana mentos que vem fazendo neste segmento, pois a exportação da carne
e acabando com a compactação na linha de cana; nutrição de solo bovina está cada vez mais sólida com a liberação das barreiras sa-
com a utilização de adubos organominerais, que ajudam a melho- nitárias dos países. No entanto, o produtor destaca a importância da
rar a matéria orgânica do solo, que é baixa; e recolhimento e en- conscientização a respeito das normas de exportação, pois os países
fardamento de palha, realizado em algumas áreas para a produção importadores com certeza vão cobrar não só a sanidade dos rebanhos
de energia, e recolhimento parcial da palha, que também contribui como também um melhor meio ambiente dos criadouros.

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Há 10 anos, a Tecnocana abriu uma sede no Mato Grosso do Betão comemorando o aniversário da enteada, Izadora, junto
Sul para desenvolver a pecuária de corte, uma outra paixão da esposa Izabel
de Betão

“Como um apaixonado pela agropecuária, sou otimista em rela- “Amo estar com minha família, amigos e ser útil a quem preci-
ção ao crescimento e desenvolvimento do setor. Mesmo com toda a sa. Procuro fazer tudo com amor e competência. Profissionalmente,
crise que enfrentamos, o agronegócio se manteve firme, sendo a única gosto de inovar e enfrentar desafios, dando sempre o meu melhor.
balança comercial positiva. O mundo vê nosso país como o celeiro Meu sonho é ver o mundo mais humanizado e justo, onde as pessoas
mundial da alimentação e esperam sempre melhores resultados de trabalhem em prol da humanidade e não somente visando interesses
nossas produções. O clima brasileiro nos proporciona 12 meses agri- pessoais e materiais. O maior aprendizado que tive no âmbito profis-
cultáveis, ou seja, possuímos extensão territorial, clima, solo, tecno- sional nos últimos anos foi obter mais conhecimento, seja participando
logia e mão de obra, que nos leva a ser um país diferenciado e capaz de seminários, congressos ou mesmo no relacionamento com pessoas
de oferecer alimentos de qualidade superior, sustentando realmente competentes do agronegócio. No âmbito pessoal tenho amadurecido
grande parte da alimentação mundial”, destaca. e compreendido melhor as necessidades das pessoas”, conclui.

VIAJANTE
Com uma vida muito agitada e cheia de viagens, Betão tenta
manter uma rotina mais ou menos normal. Ele reside em Bauru com
a esposa e enteada, mas se desloca todos os dias para a Tecnocana
de Macatuba.
Como gosta muito de se reciclar e repassar o conhecimento que
adquire em sua vida profissional com os demais, ele participa de mui-
tos congressos, encontros e seminários nacionais e internacionais, tan-
to do setor agrícola quanto pecuário. Uma vez ao mês ele vai ao Mato
Grosso do Sul administrar a sede que cuida da pecuária, setor pelo o
qual Betão tem se encantado cada vez mais. “Fiquei tão encantado
que motivei meus sócios a fazer o investimento“, revela. Para se ter
uma ideia, ele nos concedeu a entrevista e alguns dias depois estava
voando para o Texas, nos Estados Unidos, onde foi visitar diversos
centros de pesquisa e produção de gado de corte. “A tecnologia nor-
te-americana me atrai para viagens de lazer, mas principalmente de
negócios. Vou sempre que posso para conhecer as novas tendências.
Aprecio muito o futuro.”
Além de viajar a negócios, Betão conta que adora planejar via-
gens com a família, com os quais já visitou a maioria dos países da
Europa, América do Sul, América do Norte e Central. “Apesar de já
ter conhecido tantos lugares, sempre que posso volto aos EUA, Itália e
Argentina, onde eu e minha família vamos com frequência para curtir
a gastronomia e a cultura destes lugares. Minha outra paixão são os
esportes náuticos. Amo navegar quando tenho tempo.”
Quem conhece o Betão pessoalmente logo percebe que ele é uma
pessoa bastante generosa e competente. Talvez seja porque ele siga à
risca a sua filosofia de vida: amar ao próximo e fazer tudo com muito
amor e competência.

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CTNBIO VAI ANALISAR PEDIDO DE pais elos que a compõem: fornecedores de cana e representantes das
LIBERAÇÃO DE CANA TRANSGÊNICA usinas. A Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) reali- foi instalada em 26 de maio de 2003 pelo então Ministro da Agricul-
zou, em outubro, uma audiência pública com a presença da sociedade tura Roberto Rodrigues, tendo como missão atuar como foro consulti-
civil para subsidiar a análise do primeiro pedido de liberação comercial vo na identificação de oportunidades ao desenvolvimento das cadeias
de cana-de-açúcar geneticamente modificada. O processo é uma deman- produtivas, articulando agentes públicos e privados, definindo ações
da do CTC (Centro de Tecnologia Canavieiro), que desenvolveu uma prioritárias de interesse comum, visando a atuação sistêmica e integrada
variedade da planta resistente à broca. dos diferentes segmentos produtivos.
O CTC protocolou em 27 de dezembro de 2015 o pedido de libe-
ração comercial que desencadeou a audiência pública. O processo em PRODUÇÃO DE AÇÚCAR DA
torno da cana-de-açúcar resistente à broca aguarda deliberação das sub- TAILÂNDIA EM 2016/17 DEVE
comissões setoriais ambiental, animal, vegetal e de saúde humana da CAIR 3,2% POR SECA
CTNBio. Segundo o presidente da CTNBio, Edivaldo Velini, em duas A produção de cana-de-açúcar da Tailândia no ano-safra 2016/17
décadas de existência, a comissão elaborou relatórios acerca de 74 pleitos deverá cair 3,2% devido a uma ampla seca registrada no país, o que irá
de Liberação Planejada no Meio Ambiente (LPMA) de cana-de-açúcar reduzir também a produção de açúcar refinado. A Tailândia, segundo
transgênica. “Tivemos um fluxo maior até 2010, seguido de uma breve maior exportador de açúcar do mundo, passou pela maior seca em mais
interrupção e uma retomada desses trabalhos a partir de 2014”, disse de duas décadas devido ao fenômeno climático El Niño, que impactou
Velini, acrescentando que processos de pelo menos sete empresas, além a produtividade de diversos cultivos ao levar um calor escaldante a
da CTC, já foram analisados. todo o Sudeste Asiático.
A Tailândia espera colher 91 milhões de t de cana em 2016/17,
UNICA FÓRUM 2016 TERÁ APOIO DO abaixo dos 94,05 milhões de t em 2015/16, disse o secretário-geral do
GOVERNO DOS EUA Conselho de Cana e Açúcar, Somsak Jantararoungtong. “Isso deve se
O USDA, sigla em inglês para Departamento de Agricultura dos traduzir em entre 9,3 milhões e 9,4 milhões de t de açúcar refinado no
Estados Unidos, será um dos apoiadores oficiais do Unica Fórum 2016, próximo ano, ante entre 9,6 milhões e 9,7 milhões neste ano”, disse
que acontece no dia 28 de novembro deste ano, em São Paulo. Promo- Somsak. A produção de cana da Tailândia tem caído desde que o país
vido pela Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar), o inédito semi- colheu 105,96 milhões de t em 2014/15. A queda nos níveis de produ-
nário vai reunir autoridades governamentais, renomados especialistas, ção do país e da Índia contribuiu para previsões de um maior déficit
empresários e executivos do setor sucroenergético para debater o papel no mercado global de açúcar neste ano, o que levou os preços interna-
dos produtos e energias renováveis que vem da cana-de-açúcar e milho cionais da commodity.
na matriz energética.
Responsável pelo desenvolvimento e execução de políticas que im- GOIÁS DEVERÁ TER QUEBRA
pactam o mercado americano e global de etanol e outras commodities, DE 13% NA SAFRA
o USDA mantém 93 escritórios, cobrindo 171 países. Três desses escri- A safrav2016/17 em Goiás, segundo maior produtor de cana do
tórios estão no Brasil. “Como maiores produtores de etanol, os EUA e País, deverá ter quebra de 13%, segundo avaliações do Sifaeg e do Si-
o Brasil têm um papel importante no mercado mundial. Nós do USDA façúcar, sindicatos que representam o setor produtivo local. O Estado
estamos animados em participar deste importante fórum e agradecidos foi um dos mais afetados pelas adversidades climáticas neste ano, em
em apoiar a Unica neste evento”, afirma Chanda Berk, presidente do especial a estiagem. Em outras localidades do País, como São Paulo e
consulado geral dos Estados Unidos no Brasil. Paraná, a redução de produção será da ordem de 4%. A temporada em
Goiás registrará a chamada “morte súbita”, fenômeno no qual, por falta
ANDRÉ ROCHA É O NOVO PRESIDENTE de chuvas, a cana para de se desenvolver e tem de ser colhida preco-
DA CÂMARA SETORIAL DO cemente, tendo como consequência perda de rendimento na indústria.
AÇÚCAR E DO ÁLCOOL O presidente-executivo do Sifaeg/Sifaçúcar e também do Fórum
Em eleição ocorrida na primeira semana de outubro, durante reu- Nacional Sucroenergético, André Rocha, afirmou que, além dos impac-
nião em Brasília, DF, a Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool, órgão tos do clima desfavorável, o Estado terá, como reflexo da crise, mais
ligado ao Ministério da Agricultura, definiu seu novo presidente para usinas entrando em recuperação judicial. O número subiu de cinco, no
o biênio 2017/18. O presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, início do ano, para dez empresas nesta condição. Em 2015, até o fim da
André Rocha, deve tomar posse como presidente na Câmara ainda em primeira quinzena de outubro, duas usinas haviam parado a moagem.
2016. Ele substitui Ismael Perina Júnior, que presidiu a Câmara nos úl- Nesta safra, já são 12 unidades que encerraram a produção. No total,
timos dois anos. 60% das usinas terão encerrado a safra até o fim deste mês. A expectati-
Pelas regras adotadas pelos membros da Câmara Setorial, a presi- va é de que o ciclo praticamente se encerre em novembro. Apenas duas
dência é alternada, a cada dois anos, por representantes dos dois princi- das 36 unidades em operação em Goiás vão produzir em dezembro.

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