Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Dossie Queijo de Minas Web PDF
Dossie Queijo de Minas Web PDF
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas }
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas }
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
Por mais que se avance
na modernidade e que se
aprimorem a tecnologia e
os equipamentos, o modo
artesanal de fazer o queijo será
sempre uma forte referência
da melhor tradição mineira.
Tradição secular que está no
cotidiano do trabalhador das
fazendas, aquele que adentra
os currais nas madrugadas
frias para da ordenha extrair
o precioso líquido que outras
mãos irão transformar.
Tradição que está no gestual
próprio dos queijeiros, homens
e mulheres, e nos utensílios
(...) das belíssimas cozinhas
mineiras com seu mobiliário
rústico e seu rico inventário de
cheiros e sabores. Tradição que
está no hábito da prosa sem
pressa em redor da mesa, com
o queijo no prato, circulando
entre os comensais junto com
o bule de café.
Ângela Gutierrez
presidenta da república
Departamento de Patrimônio Imaterial Instrução Técnica do Processo de
Dilma Rousseff
COORDENAÇÃO-GERAL DE IDENTIFICAÇÃO
Registro do Modo Artesanal de Fazer
ministrA da cultura E REGISTRO Queijo de Minas, nas regiões do Serro,
Marta Suplicy Mônia Luciana Silvestrin da Serra da Canastra e Serra do Salitre/
presidentA do iphan COORDENAÇÃO-Geral DE SALVAGUARDA
Alto Paranaíba
Jurema de Sousa Machado Rívia Ryker Bandeira de Alencar SUPERVISÃO TÉCNICA
Departamento de Patrimônio Imaterial
DIRETORA DO DEPARTAMENTO DE COORDENAÇÃO DE IDENTIFICAÇÃO
PATRIMÔNIO IMATERIAL
Ana Claudia Lima e Alves
Ivana Medeiros Pacheco Cavalcante
Célia Maria Corsino Ana Lúcia de Abreu Gomes
COORDENAÇÃO DE REGISTRO
DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE Flávia de Sá Pedreira Cordenação da pesquisa
ARTICULAÇÃO E FOMENTO
Luiz Philippe Peres Torelly COORDENAÇÃO DE APOIO À SUSTENTABILIDADE Superintendência do Iphan em Minas Gerais
Alessandra Rodrigues Lima
DIRETOR DO DEPARTAMENTO PRIMEIRA ETAPA
DE PATRIMÔNIO MATERIAL Maria Augusta do Amaral Campos –
Coordenação de Conhecimentos
Andrey Rosenthal Schlee Tradicionais Associados coordenadora (Iphan)
Ana Gita de Oliveira Vânia Maria Leite Rocha – pesquisadora
DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE (Iepha/MG)
PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO
CENTRO NACIONAL DE FOLCLORE E Bruno Maciel Sena – estagiário
Marcos José Silva Rêgo CULTURA POPULAR – CNFCP Virginia Bonfante – estagiária
Cláudia Márcia Ferreira Izabel Chumbinho – fotógrafa (Iepha/MG)
Superintendente do Iphan
em Minas Gerais
ETAPA FINAL
Michele Abreu Arroyo
Simone Monteiro Silvestre Fernandes –
coordenadora (Iphan)
José Newton Coelho Meneses – coordenador da
equipe de pesquisa
Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional
Departamento de Patrimônio Imaterial –
DPI/Iphan
SEPS Quadra 713/913 Sul, Bloco D,
Edifício IPHAN, 4º andar
CEP 70.390-135 Brasília – DF
Telefone: (061) 2024-5401
E-mail: dpi@iphan.gov.br
Edição do Dossiê Interpretativo AGRADECIMENTOS
Registro do Modo Artesanal de Fazer
Associação dos Amigos do Serro – Aaser
TEXTO Associação dos Produtores Artesanais de Queijo
Queijo de Minas, nas regiões do Serro,
José Newton Coelho Meneses do Serro – Apaqs da serra da Canastra e Serra do Salitre/
Associação dos Produtores de Queijo Canastra Alto Paranaíba
PESQUISADORES – Aprocan
Cláudio Ribeiro Lima Júnior Associação dos Produtores do Queijo Canastra Processo número 01450.012192/2006-65
Cid Knipel Moreira em Medeiros – Aprocame
Cristina Leme Associação Comercial e Industrial do Serro proponente
Associação para Gestão de Projetos de Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais
EQUIPE DE DOCUMENTAÇÃO Fortalecimento das Economias Rurais e
Antônio Maurício Pereira Desenvolvimento Territorial – Agrifert dados do Processo
Cid Knipel Moreira – direção e produção Câmara Municipal do Serro Pedido de Registro aprovado na 56ª reunião do
do vídeo Centro Universitário UNA Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, em 15 de
Cristina Leme – roteiro e direção do vídeo Cooperativa dos Produtores Rurais do Serro – maio de 2008.
Ian Lara Coopserro Inscrição no Livro de Registro dos Saberes em 13 de junho
Rodolfo Cruz Cooperativa Agropecuária dos Produtores de de 2008.
Derivados de Leite do Alto Paranaíba – Cooalpa
EDIÇÃO DE TEXTO E COPIDESQUE Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Ana Claudia Lima e Alves Rural – Emater/MG
Escola de Veterinária da UFMG
REVISÃO DE TEXTO Instituto Mineiro de Agropecuária – IMA
Caroline Soudant Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e
Gilka Lemos Artístico de Minas Gerais – Iepha/MG
Movimento Slow Food – Tiradentes
projeto gráfico
Prefeituras Municipais do Serro, de Dom
Victor Burton
Joaquim, de Alvorada de Minas, de Santo
Antônio do Itambé, de Sabinópolis, de Rio
diagramacão
Vermelho, de Materlândia, de Serra Azul de
Avellar e Duarte Serviços Culturais
Minas, de Conceição do Mato Dentro e de
fotografias
Paulistas
Cid Knipel Moreira Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Serro
Cristina Leme
Fernando Piancastelli
Izabel Chumbinho
Luiz Otávio Martins Lopes
Miguel Aun
Paulo Sergio Torres Procópio
Rodolfo Cruz c a pa e PÁGIN A 2
s a l ga do q u e ij o. s e rra d o sa li t r e – mg.
f ot o: c id k nipe l , 2 006 .
PÁGIN A 4
o q u e ij o a rt e s a na l de m i n a s.
f ot o: c ris t ina l e m e , 2 0 0 6 .
PÁGIN A A O L A DO
c u ra de q u e ij os .
FOTO : f e rna ndo P ia nc a st elli , 2 0 1 1 .
sumário
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 9
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
À esqu erda
V ar an da da F azen da Sa nta
C ru z, ser ro – mg.
F OTO : lui z Otávi o
Marti n s Lo p es, 20 1 1 .
A bai xo
E n gen ho de moer cana- de -
açúcar metá li co de tração
a ni mal. F azen da Enge nho d a
S e rra. Ser ro – MG .
F o to : Izab el Chumbinho, 2004.
se diz por lá que “fazenda que de Minas Gerais para os demais é o Decreto nº 30.691, de 29 de
não tem queijo não é fazenda”. brasileiros. Não por acaso, em vários março de 1952, que estabelece o
Tradicionalmente consumidos lugares do Brasil, e especialmente Regulamento da Inspeção Industrial
por mineiros de todas as classes na região Sudeste, o queijo fresco e Sanitária de Produtos de Origem
sociais, na zona rural como nas de leite cru costuma ser chamado Animal – Riispoa. Note-se que
pequenas e grandes cidades, os de “Queijo Minas”, embora a o Regulamento não menciona
queijos artesanais de Minas, preferência dos mineiros seja o produtos feitos a partir do leite
frescos ou maturados, estão queijo curado. Fato é que a produção cru, pois foi concebido com vistas
sempre presentes na mesa de queijos artesanais e de outros ao controle sanitário da produção
cotidiana das famílias e nas festas, derivados de leite ocupa cerca de industrial de alimentos, feita em
bares, vendas, feiras e mercados. 30 mil famílias de Minas Gerais, grande escala, e não da pequena
Elemento de socialização e gera milhares de empregos diretos e produção artesanal ou da agricultura
expressão de hospitalidade, indiretos e se constitui em uma das familiar. Pelo fato da produção de
serve para acompanhar o café maiores expressões da “mineiridade”. leite e derivados não pasteurizados
ou a cachacinha nas rodas de No entanto, em maio de 2001, estarem omissos na legislação, essa
conversa e para celebrar a fartura o Ministério Público Federal, produção passaria a ser considerada
e a riqueza da culinária mineira, respondendo a denúncias de como irregular ou “clandestina”.
no acompanhamento de doces e contaminação de queijos de leite Diante dessa ameaça e do risco
compotas e como ingrediente de cru, proibiu a produção dos iminente de extinção de uma prática
inúmeras iguarias, entre as quais o queijos artesanais1. A determinação tradicional tricentenária – fazer
inigualável pão de queijo. exigia sua retirada do mercado, a queijos de leite cru –, os mineiros se
Carregadas de sentido de não ser que se enquadrassem nos mobilizaram para reagir. Produtores
pertencimento e de identidade, padrões oficiais estabelecidos pela de queijo do Serro e de outras regiões
essas práticas – fazer e comer queijo legislação sanitária em vigor2. Esse queijeiras tradicionais, organizações
– também caracterizam os nativos instrumento legal, ainda vigente, da sociedade civil, instituições do
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 15
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
e composição do solo) das regiões estudos buscando identificar e Serro – Aaser que a Secretaria de
produtoras do queijo. agrupar os municípios mineiros Cultura do Estado de Minas Gerais
Entre outras iniciativas que produtores do queijo artesanal, apresentou ao Iphan, em agosto
buscavam retirar os queijos circunscrevendo-os em regiões de 2001, o pedido de registro do
artesanais de leite cru da delimitadas de acordo com as queijo artesanal do Serro no Livro
“clandestinidade”, destaca- características técnicas, orgânicas e dos Saberes e, consequentemente,
se a aprovação da Lei Estadual de consumo do produto. seu reconhecimento como
nº 14.185, de 31 de janeiro de No entanto, logo se fizeram Patrimônio Cultural do Brasil.
2002, dispondo sobre o processo sentir os efeitos negativos da Ambas as iniciativas tratavam de
de produção do Queijo Minas aplicação da legislação sanitária, preservar o modo tradicional de
Artesanal de leite cru. Seguiram- inadequada à produção artesanal de fazer queijo, contrapondo-se à
se a essa lei inúmeros decretos e queijos, provocando a mobilização imposição de “melhores” práticas,
portarias de regulamentação do de produtores, consumidores e que desconsideravam completamente
Instituto Mineiro de Agropecuária demais interessados na cultura os conhecimentos tradicionais e
– IMA, que passou a credenciar mineira em torno da defesa e os procedimentos secularmente
produtores em conformidade com valorização dessa prática tradicional. adotados pelos produtores de queijo
as medidas sanitárias estabelecidas Nesse contexto, deve se destacar de leite cru da região do Serro.
por essa nova legislação3. o registro do queijo artesanal Embora reconhecendo a importância
A Empresa de Assistência do Serro como Patrimônio da nova legislação, criada para
Técnica e Extensão Rural – Cultural Imaterial de Minas permitir a produção e circulação
Emater/MG, por sua vez, além de Gerais, em 07 de agosto de 2002, dos queijos artesanais no território
oferecer apoio aos produtores de com base em legislação estadual mineiro (ver nota 3), o dossiê
queijo artesanal para melhoria das instituída nesse mesmo ano. que apresentava a candidatura de
condições sanitárias dos rebanhos Foi também por iniciativa registro, elaborado por Maria Coeli
e da ordenha, desenvolveu da Associação dos Amigos do Simões Pires, na época presidente
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 17
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
da Aaser, defendia com muita ênfase Iepha/MG, que acabava de proceder preferenciais de sua preservação”.
a produção artesanal de queijos de ao registro estadual do queijo do O INRC parte também, como
leite cru como expressão da cultura Serro. Assim, participaram do qualquer metodologia de
e da história secular mineira, cuja estudo a pesquisadora Vânia Rocha inventário, do levantamento
qualidade e segurança alimentar e a fotógrafa Izabel Chumbinho, preliminar de fontes documentais
vinham sendo comprovadas ambas do quadro do Iepha, e bibliográficas. Esse trabalho foi
ao longo desses tempos4. contribuindo com sua experiência realizado em Belo Horizonte, onde
Considerando a pertinência recente de estudo e documentação se encontram os principais arquivos
desses argumentos e a importância da produção dos queijos artesanais do estado, as universidades, os
do reconhecimento da produção no Serro. Também participaram centros de estudo e instituições
dos queijos artesanais do Serro da pesquisa os estagiários Virgínia de controle e apoio a atividades
para a preservação de um modo de Bonfante e Bruno Maciel agropecuárias. Nessa cidade
ser mineiro, o Iphan deu início às Sena, estudantes do Curso de também foram ouvidos integrantes
pesquisas, em meados de 2002. Turismo do Centro Universitário da Associação de Amigos do Serro,
Sob supervisão do Departamento UNA, de Belo Horizonte. memorialistas, consumidores e
de Patrimônio Imaterial – DPI, A metodologia adotada na líderes de movimentos culturais
exercida pelas técnicas Ana Claudia pesquisa foi a do Inventário ligados à gastronomia. No
Lima e Alves e Ana Lúcia de Abreu Nacional de Referências Culturais município do Serro, foram
Gomes, e sob a coordenação da – INRC/Iphan, que consiste realizadas entrevistas de campo com
Superintendência do Iphan em em identificar e documentar fazendeiros, queijeiros, dirigentes
Minas Gerais, assumida pela técnica bens culturais apreendendo os de associações e cooperativas de
Maria Augusta do Amaral Campos, significados a eles atribuídos por produtores de queijo artesanal e do
a pesquisa foi desenvolvida em seus produtores, “tratando-os sindicato de produtores rurais.
parceria com o Instituto Estadual do como intérpretes legítimos da Essas pesquisas permitiram
Patrimônio Histórico e Artístico – cultura local e como parceiros conhecer os estudos já citados,
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 18
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
sobre a produção de queijos em redefinição do objeto do registro. de vídeo; Rodolfo Cruz, fotógrafo
outras localidades de Minas Gerais A empresa Outro Consultoria e e operador de câmera.
e, especialmente, os trabalhos Projetos, ganhadora da licitação, Sob a coordenação da técnica
da Emater para delimitação e constituiu a equipe de pesquisa e Simone Monteiro Silvestre
caracterização das regiões produtoras documentação com profissionais Fernandes, da Superintendência
de queijos artesanais típicos, até devidamente qualificados para a do Iphan em Minas Gerais, a nova
então identificadas: Serro, Canastra, realização do serviço: José Newton equipe redimensionou o objeto
Alto Paranaíba e Araxá. Coelho Meneses – pesquisador do registro de modo a contemplar
Constatou-se que nessas regiões e autor de publicações sobre a totalidade do bem cultural que
se reproduzia o modo tradicional abastecimento alimentar em importava reconhecer e preservar
de fazer queijo de leite cru, com Minas Gerais no século 18 e como patrimônio cultural
pequenas diferenças em relação professor da Escola de Veterinária brasileiro: os tradicionais queijos
ao modo praticado no Serro. A da UFMG – foi especialmente artesanais de Minas, e não somente
par disso, os estudos indicavam contratado para coordenar a nova o queijo artesanal do Serro. Assim,
que essas práticas tradicionais equipe. Como pesquisadores e o registro ficou redefinido como
também constituíam referência de documentaristas, participaram o Modo Artesanal de Fazer Queijo
identidade cultural para os grupos desse trabalho: Cristina Leme, de Minas nas regiões do Serro e das
sociais das regiões identificadas. historiadora, fotógrafa, roteirista serras da Canastra e do Salitre, Alto
Considerando tudo isso, ao e diretora de vídeo; Cid Knipel Paranaíba, ou Cerrado5.
contratar os serviços de pesquisa Moreira, sociólogo, fotógrafo, O inventário já realizado na
e documentação para a conclusão diretor e produtor de vídeo; região do Serro foi então ampliado,
da instrução do processo, em Cláudio Ribeiro Lima Júnior, para produzir conhecimento sobre
dezembro de 2005, o Iphan historiador; Antônio Maurício as outras regiões produtoras, e o
estabeleceu que a primeira tarefa Pereira, operador de câmera; Ian trabalho de campo se estendeu às
da nova equipe deveria ser a Lara, operador de câmera e editor serras da Canastra, do Salitre e
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 19
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
Alto Paranaíba. As pesquisas feitas Produtores Rurais e do Sindicato Saberes, em 13 de junho de 2008.
reuniram e sistematizaram todo o dos Trabalhadores Rurais do A partir de então, portanto, o
conhecimento produzido nas duas Serro; da Associação Comercial e Modo Artesanal de Fazer Queijo
etapas de campo, constituindo Industrial e da Câmara Municipal de Minas foi reconhecido como
documentação suficiente para do Serro; do Departamento Patrimônio Cultural do Brasil.
entendimento do bem cultural Técnico da Emater/MG; da O registro significa um marco
em sua complexidade, incluindo Cooperativa dos Produtores no processo de preservação desse
fotografias, um vídeo documentário Derivados de Leite do Alto bem cultural, que o Iphan, através
e um dossiê descritivo, que, Paranaíba; do Instituto Estadual do Departamento de Patrimônio
juntamente com os documentos do Patrimônio Histórico e Imaterial e da Superintendência
da petição inicial, constituíram o Artístico de Minas Gerais – Iepha/ em Minas Gerais, se compromete
processo administrativo MG e do Slow Food Tiradentes. a implementar, com a participação
no 01450.012192/2006-65, Com base em todas as dos produtores, de organizações
aberto em 21 de setembro de informações reunidas no da sociedade e demais instituições
2006 pelo DPI. processo, o registro do “Modo do poder público envolvidas na
Cabe notar que a ampliação do Artesanal de Fazer Queijo de produção, circulação e consumo de
território do queijo, para efeito de Minas, nas regiões do Serro e das queijos artesanais. Esta publicação6
registro, contou com a anuência e/ serras da Canastra e do Salitre/ trata de partilhar o conhecimento
ou apoio explícito das prefeituras Alto Paranaíba, ou Cerrado” reunido na instrução do processo
municipais da região do Serro, foi aprovado na 56ª reunião de registro, buscando contribuir
da Cooperativa dos Produtores do Conselho Consultivo do para a continuidade e valorização
Rurais do Serro – Coopserro; Patrimônio Cultural, realizada dos queijos artesanais de Minas,
da Associação dos Produtores em Belo Horizonte/MG, em 15 dos seus modos tradicionais de
Artesanais de Queijo do Serro – de maio de 2008, tendo o Iphan fazer e dos modos de ser dos
Apaqs; da Aaser; do Sindicato dos feito a sua inscrição no Livro dos seus produtores. ¢
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 20
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
NOTAS
Fogão a l e nh a . S e rro – MG .
FOTO : I z a be l C h u m binh o , 2 0 0 4 .
p ro va de qu ei jo .
F OTO : ro dolfo cruz , 2006.
se transformar em patrimônios
culturais muito significativos
para seus produtores e outros
grupos sociais, como é o caso
dos queijos artesanais em vários
países da Europa. Também é o
caso do Modo Artesanal de Fazer
Queijo de Minas, cujo significado
para a identidade cultural dos
mineiros e para a formação
da nacionalidade motivou seu
registro e reconhecimento como
Patrimônio Cultural do Brasil.
No contexto da invenção da homem, gerou um alimento Ainda que não se saiba ao certo
agricultura, o surgimento do simples e nutritivo que, a origem do queijo, inúmeros
queijo está balizado pelo início depois de séculos, a partir da documentos comprovam sua
da domesticação dos animais domesticação do gado bovino, antiguidade, sendo os egípcios um
e do aproveitamento de seus produziu o queijo do leite de dos primeiros povos a produzir
produtos, de que dão conta vaca. O queijo foi, e continua e consumir queijo de leite de
vestígios arqueológicos e estudos sendo, uma importante forma de vaca. Gregos e romanos também
antropológicos das primeiras conservação do leite, funcionando conheciam e consumiam queijos,
civilizações humanas. O processo assim como instrumento de considerados alimento dos deuses
natural de coagulação do leite preservação e de abastecimento na antiga Grécia. Entre muitas
retirado de cabras e de ovelhas, das populações humanas, desde a lendas, conta-se que o queijo teria
observado e transformado pelo antiguidade até os nossos dias2. sido desenvolvido por Aristeu,
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 25
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
A permanência
dos queijos
artesanais
O q u ei jei ro mi sturand o a
c o a lhada n o tamb o r. Faz e nda
E ng en ho da Serra. Serro – M G.
F OTO: Izab el Chumb i nho, 2004.
Os queijos
artesanais em
Minas Gerais
do acervo da Biblioteca da Ajuda, grande quantidade na mesma data, o Minas Gerais acerca de preços de
em Lisboa, denominado Informações que pressupõe a prática de consumo vendas de diversos produtos listam,
sobre as Minas do Brasil, dá conta que nos de queijos curados (maturados). dentre eles, o queijo, como um
caminhos do rio das Velhas, “nas Testemunhando a produção e dos produtos “feitos na terra”. De
chamadas gerais”, bem como nas a circulação do produto, há uma acordo com uma tabela de preços
serras “do Serro Frio” há “água em ordem do conde de Valadares, de 1796, destinada ao comerciante
abundância, farinha em quantidade, datada de 1772, que exige que os Antônio José, transcrita no livro
carnes de toda espécie, frutas, Registros de Passagem (postos de Memórias do Serro antigo, de Dario
laticínios” (Zemella, 1990: 126). fiscalização) da região do Serro Silva, um queijo valia, para a venda,
Documentos anexados a Frio façam gestão de “furarem cinco vinténs, o que correspondia
inventários post-mortem de habitantes os queijos que passarem pelos a 1/32 da oitava de ouro em pó
da região do Serro informam sobre Registros (...) a fim de evitar quintado. Pode-se deduzir que
a produção e o consumo de queijos o contrabando de ouro e de tal tabela se referia a queijos
artesanais no período colonial. A diamantes”. Certamente, o queijo produzidos na região, uma vez que
viúva D. Anna Perpétua Marcelina era utilizado como instrumento não havia indicação de origem “do
da Fonseca inventariou os bens de tráfico e contrabando, para Reino”, frequentemente presente
do marido falecido no arraial do ludibriar os fiscais da coroa. À luz na caracterização desses produtos.
Tijuco, comarca do Serro Frio. Ela dessa documentação, também é John Mawe e Auguste Saint-
listou as compras para o consumo possível supor que os queijos fossem Hilaire, em relatos de suas visitas
da família, realizadas de julho de apreciados tanto frescos (como à capitania e, depois, província
1793 a outubro de 1796. Nesse produtos de confecção recente) de Minas Gerais, descreveram o
rol de mantimentos, há dúzias de quanto curados (após sofrerem o consumo de queijos e a qualidade
queijos, em treze dos quarenta processo de maturação natural). desses produtos, referindo-se a
meses que compõem a lista de Determinações das diversas eles como componentes de uma
compras7. Eram adquiridos em câmaras de vilas da capitania de sociabilidade da região, como
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 29
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
O rde nh a c om t e s t e prév i o d e C MT .
S e rro – M G.
FOTO : I z a be l C h u m binh o , 2 0 0 4 .
A B A I XO
B e z e rro mama ndo, a nt es d o
iní c io da orde nh a – e s t ím ulo d a
“ de s c ida ” do l e it e .
Fa z e nda E ng e nh o da S e r r a . S er r o – MG .
FOTO : c ris t ina l e m e , 2 0 0 4 .
P r o cesso de en fo rmage m.
F a ze n da En gen ho da Se rra.
S e r r o – MG .
F OTO: Izab el Chumb i nho, 2004.
queijo seco10. Elas não permitem costume de se consumir leite cru tempos. Na obra Feijão, angu e
que se tire o leite antes que o peito e da negligência em não produzir couve (1982), Eduardo Frieiro
seja dado ao bezerro, que mama manteiga e outros laticínios. Conclui apresenta um “ensaio sobre a
durante um ano. O leite é saboroso, que “os únicos queijos do país vêm comida dos mineiros”, baseado
mas aqui a ninguém ocorre de São Paulo e de Minas Gerais”11 nos relatos dos viajantes
extrair a nata ou fazer manteiga, (Debret, 1971: 135-233). estrangeiros do século 19,
geralmente substituída pelo Todos esses relatos e fontes já citados, como também na
toicinho. Em vão eu demonstrei documentais denotam a literatura do século 20. Entre
as vantagens do sistema europeu continuidade histórica da tradição inúmeras referências à presença
de criação” (Pohl, 1987: 287). dos queijos artesanais no cotidiano do queijo na dieta cotidiana dos
Jean Baptiste Debret, artista de produtores e consumidores mineiros, tanto nas fazendas
francês que passou 15 anos no mineiros, desde o século 18 e pelos como nas cidades, ele informa:
Brasil (1816 a 1831), produziu um séculos seguintes. A permanência
formidável registro ilustrado sobre dessa tradição até a atualidade e “O mineiro, pecuarista, mas
os usos e costumes do período, sua referência para a identidade pouco consumidor de leite, criou
intitulado Viagem pitoresca e histórica ao de tantos grupos sociais de Minas uma indústria de queijos que
Brasil. Nele, descreve Minas Gerais Gerais são, em si mesmos, elementos prosperou com o correr do tempo
como uma província “mais feliz” significativos do valor patrimonial até ao ponto de alcançar atualmente
que a de Goiás e a de Mato Grosso, do Modo de Fazer Queijo de Minas. mais de 80% do total produzido
porque, além de outras riquezas, Além da farta documentação em todo o país. (...) Nasceu
“dedica-se à criação de aves e histórica, a literatura e análises destarte a indústria de laticínios,
animais, abastece de queijo o Rio de antropológicas e sociológicas cuja produção já era apreciável em
Janeiro...”. É ainda Debret que, ao reiteram a persistência do queijo fins do século XVIII. Nas fazendas
pintar e descrever “negros vendedores na alimentação dos habitantes fabricava-se o que se chamou o
de leite” na mesma cidade, fala do de Minas Gerais, ao longo dos ‘queijo de Minas’, queijo branco,
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 31
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
discoide, muito apreciado em todo Além disso, a imagem dos cotidiana em diversas situações:
o país” (Frieiro,1982: 133). mineiros e de Minas Gerais tem “avança na lua pensando que é
No livro Receita de mineiridade: sido associada ao leite, ao queijo queijo”, “pão pão, queijo queijo”,
a cozinha e a construção da imagem do e seus subprodutos, também em “está com a faca e o queijo na mão”,
mineiro, Mônica Abdala reitera que a razão da presença de políticos “em festa de rato não sobra queijo”,
expansão do consumo de queijo em mineiros no exercício do poder “um abraço, um beijo e um pedaço
Minas foi decorrente da necessidade desde a República Velha, quando de queijo”, e assim por diante.
de aproveitamento do leite, que disputavam ou dividiam com São A metáfora alimentar, com base
teve sua produção aumentada com Paulo a liderança do país, no que em tradições culturais, abrange,
a intensificação da pecuária na ficou conhecido como “política do aliás, amplas áreas da vida social.
antiga província. Cita vários autores café com leite”. Quando Itamar Na política, na esfera sexual, na
para informar que o incentivo à Franco assumiu a Presidência religião, na literatura, e em tantos
implantação de laticínios só ocorreu da República, após a cassação de outros campos, como já foi dito.
por volta de 1889, mas o Queijo Fernando Collor de Melo, em É interessante notar que um
de Minas era exportado para várias 1992, em posse regada a cafezinho mesmo radical latino – sapere, que
regiões do Brasil desde as primeiras e pão de queijo, seu governo foi significa “ter gosto” – dá origem às
décadas do século 19. E prossegue chamado de “República do Pão palavras “saber” e “sabor”. Gosto
informando sobre a utilização de de Queijo”, dando argumento a ao saber e ao sabor ambientam o
queijos maturados – meia cura ou Mônica Abdala sobre o papel das espaço de cultura que delimita o
curados – pela culinária mineira, como comidas na construção da imagem território dos queijos tradicionais
ingredientes principais de “uma do mineiro12. típicos do Serro, da Canastra, de
ampla gama de receitas...” (Abdala, São inúmeras as anedotas, Serra do Salitre / Alto Paranaíba13,
2007: 99). Naturalmente, nesse expressões e ditados populares de Araxá, das serras do sul de
repertório de receitas, como no gosto associando os mineiros a queijos, Minas, que por sua vez identificam
popular, o pão de queijo se destaca. povoando seu imaginário e a fala o povo das suas regiões. ¢
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 32
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
Alimento vivo
em tradição
– origens,
produção e
consumo
Caix ot e s de t ra ns port e ,
e m ma de ira .
FOTO: l u iz ot á v io mart ins l ope s , 2 01 1 .
B r o a de massa de qu eijo.
S e r r a do Sa li tre – MG.
F OTO: Ci d K n i p el, 20 0 6.
benefícios sejam reconhecidos sabor, coloração, consistência e queijos artesanais, antes restritos a
e sua utilização novamente componentes nutritivos, o que o consumidores locais, especialistas e
autorizada pela legislação. converte em alimento de riqueza gourmets, ganharam mercado e fama
O pingo, fermento que dá ímpar. Esse é um dos seus valores além das suas regiões de produção.
as características específicas aos essenciais. Como o vinho, o Na mesma época, a produção
queijos artesanais, é composto azeite e o pão, tríade alimentar de industrial de queijos começou
por um grupo de bactérias valor simbólico milenar, o queijo a se diversificar, estimulando o
lactofermentativas típicas de artesanal tem valor nutritivo e consumo de outros tipos como o
cada região. Ele é obtido com simbólico que nomeia culturas e Muçarela, o Prato, o Provolone,
o soro que escorre dos queijos distingue grupos sociais. E essa o Cheddar etc. A propósito,
manufaturados durante a tarde é uma das principais razões Eduardo Frieiro informa que a
e a noite do primeiro dia de do seu reconhecimento como produção de queijos em escala
maturação. É um acervo bacteriano patrimônio cultural dos mineiros industrial teve início em 1855,
próprio do leite, condicionado e de todos os brasileiros. na serra da Mantiqueira, onde
pelo clima, tipo de solo e pastagens Esse queijo artesanal é se experimentou “a técnica
de cada região, responsável pelo produzido e comercializado holandesa de preparar queijos
padrão de consistência, cor e sabor nas várias regiões de Minas do tipo Edam e Gouda, da qual
específico dos queijos. Gerais, citadas desde o século resultou o chamado ‘queijo do
O queijo artesanal de leite cru 18 na documentação histórica Reino’, um dos melhores e mais
é um alimento vivo, em constante mencionada. No entanto, só a estimados do Brasil”16.
aperfeiçoamento pela reprodução partir da década de 1920, com a Ele também informa sobre a
desse acervo lático, dessa microflora construção de rodovias de ligação chegada e instalação dos imigrantes
bacteriana saudável: transforma- de diversos municípios mineiros a italianos no sul de Minas, trazendo
se constantemente no processo de Belo Horizonte – a nova capital e técnicas de produção “de vários tipos
maturação, aprimorando massa, crescente metrópole do estado –, os de queijos europeus, entre os quais
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 35
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
o parmesão (...)” e que “a partir de tipo Minas ultrapassou as fronteiras do Minas semicurado, o Minas duro,
1920, chegaram à mesma região os estado e hoje nomeia um produto ou curado e, ainda, o queijo de
primeiros técnicos dinamarqueses fabricado em várias partes do país. coalho. No mercado consumidor,
para montagem de modernas De todo modo, Minas Gerais há um crescimento do consumo
fábricas de queijos” (Frieiro, 1982: continua sendo responsável por de queijo frescal. A par disso,
133). Mais adiante, ao contar boa parte dos queijos – artesanais padrões de qualidade artesanal
como era a comida que se consumia e industriais – produzidos no como consistência, textura,
nos tempos iniciais de Belo Brasil. Dos 853 municípios sabor, cor vêm identificando e
Horizonte, Frieiro informa que os mineiros, quase todos produzem distinguindo queijos semicurados
imigrantes italianos “introduziram laticínios e mais de 500 produzem e curados das diferentes regiões
os queijos parmesão, cacciocavalo queijo artesanal. Em 2002, a produtoras de Minas Gerais e,
e gorgonzola, que de modo algum Emater/MG estimou a produção desse modo, criando nichos de
comprometeram a nossa preferência artesanal em 3.600 toneladas consumo específicos. Isso vale
pelo queijo-de-minas”17. mensais, envolvendo um montante para o consumo do produto em
Essas narrativas reafirmam financeiro da ordem de 10 si, como também para produtos
a importância econômica e a milhões de reais e promovendo alimentícios que têm no queijo
continuidade histórica da produção 120 mil empregos diretos e 40 a sua matéria-prima, como é
de queijos em Minas. Como visto, a mil indiretos. Na maior parte, o caso do pão de queijo, de
tradição produtiva tem a sua origem os laticínios artesanais são produção doméstica ou industrial.
na produção artesanal das fazendas estabelecimentos de pequeno Evidentemente, essa valorização
e sítios mineiros, fundamentando porte, sustentados por mão de estimula e dá sustentabilidade à
o reconhecimento nacional de obra familiar. produção dos queijos artesanais
Minas Gerais como estado produtor O Queijo tipo Minas pode se de leite cru, assim como contribui
do bom queijo. Além disso, a apresentar em quatro subtipos para a continuidade do seu
denominação tipológica do Queijo principais: o Minas frescal, o modo de fazer tradicional.
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 36
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
queijeiros) com os queijos desde a de Minas e citam a origem ou qualquer outra forma de
sua origem, a fazenda, até a mesa de sua preferência. Todavia, recomendação e propaganda. A
do consumidor, no espaço urbano frequentemente confundem queijo marca é um dos últimos critérios
da metrópole. Estudo amostral Canastra com queijos artesanais de adotados pelos consumidores
realizado por alunos do curso de outra procedência, como do Serro, de queijo (7%) e o dado mais
Medicina Veterinária da UFMG19 Alto Paranaíba ou Araxá – o que intrigante é que o último critério
em junho de 2003, no Mercado denota a necessidade de campanhas de escolha é a tradição, com apenas
Central, ouviu 50 consumidores distintivas sobre as características 2%. Esses constituem indicadores
e permitiu uma primeira tipológicas de cada queijo. a serem considerados para ações
aproximação, bastante parcial, Quantos aos critérios de escolha de valorização e salvaguarda dos
das preferências e exigências dos queijos, a pesquisa trouxe queijos artesanais de Minas.
relativas aos queijos artesanais dados muito interessantes: a maior Por outro lado, a fidelidade
em Belo Horizonte. De início, a parcela dos consumidores (37%) e a preocupação com a origem
pesquisa permitiu apreender que disse que escolhe queijos pela são questões presentes para
a informação sobre a fazenda/sítio qualidade. Embora este seja um os comerciantes das bancas de
de origem do produto e a higiene dado muito subjetivo, já que não laticínios do Mercado Central.
de sua produção são fatores se sabe como os consumidores Eles têm nessa atividade uma opção
importantes na escolha do queijo: identificam a qualidade de um geralmente associada à tradição
26% dos consumidores exigem essa queijo artesanal, isso representa de comércio que herdaram do
informação no ato de compra e uma perspectiva promissora de pai, na qual buscam atender
são fiéis a uma determinada banca, mercado para os produtores. bem a um consumidor que é
por confiarem nessa informação. Em segundo lugar vem o preço conservador em seu consumo
Dos consumidores que (26%), depois, a apresentação de queijo artesanal, ou seja, um
responderam ao questionário, (14%) e o conhecimento prévio consumidor que exige qualidade e
34% adquirem Queijo Artesanal (11%), isto é, indicação de amigos boa procedência do produto. ¢
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 39
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
NOTAS
1. Sobre o significado dessas Artesanal de Fazer Queijo de Minas muito embora existam, desde
palavras – culinária e gastronomia (Belo Horizonte, 2001: 3). os anos de 1980, correntes
–, o sociólogo e crítico interpretativas mais aderidas à
gastronômico Carlos Alberto 3. Ver Dossiê Interpretativo, p. realidade documental do período.
Dória faz a seguinte distinção: 15, do processo de registro do Modo Autores como Zemella (1951)
“A culinária diz respeito aos Artesanal de Fazer Queijo de Minas. e outros historiadores locais,
procedimentos (dos rituais aos como Souza (1999), dão base
técnicos e tecnológicos) que visam 4. Instrumento aplicado na a interpretações centradas na
adequar a natureza à alimentação proteção de produtos rurais, decadência aurífera e na falta de
humana. Ela é matéria básica da entre os quais o queijo artesanal, condições materiais e culturais
gastronomia, que é o conjunto regulamentado por leis específicas para uma economia mais diversa.
de saberes sobre a construção do a partir de 1919 (Pires, apud Reis, Para novas visões, fiéis a leituras
prazer ao comer. A primeira é 2001: 54). Significa o controle, documentais mais críticas, ver:
uma disciplina prática, com seus pelos próprios produtores, Meneses, 2000; Fragoso, 1992;
métodos, técnicas e gestual; a da produção, padronização, Libby, 1988, 1989 e 1993;
segunda está organizada no plano reconhecimento e registro Linhares, 1979, 1983 e 1990;
do discurso, como ocupação do do produto, para a segurança Chaves, 1999; Andrade, 1994.
espírito” (Dória, 2006: 16-17, do consumidor.
conforme bibliografia). 7. Inventário 14/
5. Fast food é expressão de língua Biblioteca António Torres/1o
2. Segundo Maria Coeli Simões inglesa que significa comida rápida. Of./maço 52, 1793.
Pires, no texto “Queijo do Serro
– Patrimônio Cultural do Brasil”, 6. É relativamente vasta a 8. Saint-Hilaire, em Viagem pelas
que integra a documentação do bibliografia que se refere aos Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais
processo de registro do Modo ciclos da economia colonial, (1990: 218). Grifo nosso.
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 40
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
Sal ga do Qu e ij o e m
f ormas de pl á s t ic o.
FOTO : l u iz ot á v io mart in s
l ope s , 2 01 1 .
15. Produtores das regiões de fato se tornou muito popular 19. Conforme pesquisa
do Serro, da Canastra e de Serra nas décadas seguintes, tratou de realizada em 11 de junho de
do Salitre, que participaram do promover a associação com os 2003, por alunos da disciplina
inventário para instrução do antigos queijos do Reino, que Planificação em Saúde Animal,
processo de registro, relataram eram importados de Portugal, do Departamento de Medicina
que antiquários inescrupulosos, e, em muitos lugares do Brasil Veterinária Preventiva.
alegando a obrigatoriedade da Lei nº colonial, até o desenvolvimento Participaram da pesquisa alunos
14.185/2002, têm oferecido trocar pleno da agropecuária, eram os que então se formavam em
as bancas de ardósia pelas bancas de únicos queijos conhecidos. Medicina Veterinária: Douglas
madeira. Eles pagam uma pechincha Teixeira Moraes, Wender Paulo
pelas obras de construção das novas 17. (Frieiro, 1982: B. Ferreira, Joaquim E. S.
bancas e levam as de madeira para 181). Grifo nosso. Amado, Felipe Cóser Chow,
vender nos grandes centros, por Fernando Ferreira Pinheiro,
bom preço de mercado. Associações 18. O mercado é um Flávia S. Figueiredo, Luciana
e cooperativas de produtores, tradicional espaço de feira e de N. Junqueira, Márcia Helena
como também outras organizações comércio de hortifrutigranjeiros, de P. Matos, Rodrigo E.
de apoio, estão mobilizadas para laticínios, carnes e artesanato, Leonel, Wagner Lima Araújo.
alertar os produtores contra fundado em 1929 e localizado Professores orientadores: José
essas atitudes de má-fé. Mas, o no centro de Belo Horizonte. Ailton da Silva, Antônio Maria
isolamento e a desinformação dos Funcionando também como Claret Torres, Celina Maria
pequenos produtores os tornam um centro de referência da Módena, Élvio Carlos Moreira,
vulneráveis a esses golpes. diversidade cultural mineira, o Pedro Lúcio Lithg Pereira.
Mercado Central recebe cerca de
16. Vale notar que esse nome 15 mil visitantes por dia, entre
para um novo tipo de queijo, que consumidores e turistas.
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 42
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
Fazenda mineira,
território dos
queijos artesanais
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 43
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
À Esqu erda
V i sta aér ea da F azenda
San ta Cru z. Ser ro – M G.
F OTO: LUi z otávi o martins
lo p es, 20 1 1 .
A bai xo
Casa-sede da F azend a Enge nho
d a Serra. Ser ro – M G.
F OTO: Izab el Chumbinho, 2004.
Pãe s de q u e ij o.
S e rra do Sal it re – M G
FOTO : C id K nipe l , 2 006 .
Culinária e
sociabilidade
a cultura das Minas convida à pelo zelo e valor que lhe é atribuído fogão a lenha, ali ao lado, a cozinha
intimidade, à conversa franca. no cotidiano dos mineiros. Servir mineira estimula a prosa, os
A culinária que nasce a partir um bom café é acompanhá-lo com “causos” regados por um cafezinho
do queijo artesanal é tão complexa um pãozinho de queijo feito com coado na hora, um bom queijo,
e rica quanto o próprio modo de muito queijo ralado, ao ponto ou pão de queijo recém-assado e
fazê-lo. Do cotidiano da fazenda ao de deixá-lo repleto de pontos quitandas que, muitas vezes, levam
ambiente domiciliar do consumidor queimados pela ação do calor na queijo em suas receitas. Se não for
urbano, o queijo frequenta a massa de queijo. Há iguarias que acompanhado de café, o queijo
cozinha e a mesa dos mineiros exigem queijo fresco – como a pode vir associado aos saborosos
desde a farofa de rala (feita com o jacuba citada – e outros que o doces de frutas, ou como tira-gosto
subproduto da grosagem e muitos exigem com diferentes graus de de uma cachacinha.
ovos, como convém à cozinha maturação, como o próprio pão Desde os primeiros tempos
influenciada pelos portugueses) de queijo, feito com queijo bem da colonização, essa culinária se
até o pão de queijo, passando curado, ralado. aprimora e se transforma, seja nas
pelas broas de fubá com queijo, As Minas Gerais, em sua cozinhas das fazendas e nas casas das
cuscuz de mandioca com queijo culinária, também são muitas, cidades, ou movendo-se em viagens,
e não deixando de lado algumas como se costuma dizer e cantar em ou nos pousos, ranchos, vendas e
beberagens energéticas como a prosa e verso a multiplicidade da hospedarias, de acordo com a escolha
jacuba (café ralo e fraco ou água cultura mineira. O sabor e o saber ou as possibilidades de alimentação
doce, com pedacinhos de queijo e de sua cozinha não dispensam a dos viajantes. Adaptações e trocas
farinha de milho). boa mesa, presentes no lombo de de receitas percorrem os tempos
O pão de queijo sintetiza essa porco, no tutu de feijão e na couve da história mineira e o queijo da
gama de quitandas e formas de refogada, na galinha ensopada terra, fresco ou curado, vai sendo
se alimentar com o queijo. Ele com angu e quiabo, nos queijos, incorporado a pratos doces e
transforma-se em símbolo de Minas nos doces em calda. Aquecida pelo salgados, a quitandas e quitutes. ¢
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 47
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
M a t u raçã o do Qu e ij o.
S e rra da Cana s t ra /
M e de iros – M G.
FOTO : R odol f o C ru z , 2 0 0 6 .
Modos de fazer,
modos de ser
P r e nsag em do Qu ei jo .
S e r r o – MG .
F OTO: Izab el Chumb i nho, 2004.
número formidável de exigências todo o esforço não consiga superar sem comprometer seu sabor e
e pré-requisitos, distantes da a proibição legal da venda dos expressão cultural. Afinal, trata-
realidade dos pequenos produtores. queijos artesanais de Minas além se de um patrimônio cultural que
Exigências como forro de das fronteiras do estado. Apesar não é apenas dos mineiros, mas de
PVC nas queijarias, substituição disso, os produtores têm investido todos os brasileiros.
das bancas de madeira, prazo no controle sanitário dos rebanhos Voltando ao modo de fazer, a
de maturação de 60 dias, testes e na melhoria das instalações dos pesquisa procurou identificar quem
periódicos de brucelose e currais e das queijarias, a despeito faz o queijo na fazenda mineira.
tuberculose do rebanho, além de dos cuidados que sempre tiveram Afora as exigências comuns de
inúmeras outras, representam com esses ambientes, como se ser higiênico, cuidadoso, sereno,
custos financeiros impraticáveis acabou de contar. tranquilo, há distinções regionais.
para a maioria dos produtores. Outras iniciativas em defesa dos No Serro, fazer queijo é atividade
Além do mais, as “melhores queijos artesanais de leite cru estão masculina, quase exclusiva. Nas
práticas” pretendidas por essa dirigidas para o desenvolvimento outras duas regiões estudadas – Serra
legislação desconsideram um saber de estudos científicos capazes da Canastra e Serra do Salitre/Alto
fazer tradicional que, ao longo de identificar a composição Paranaíba –, a mulher desempenha
de séculos, primou pela higiene, microbiológica dos queijos e sua quase todas as etapas de produção,
qualidade e credibilidade. evolução durante o processo de sendo que, em alguns municípios, a
Há que se reconhecer, todavia, maturação, de modo a atestar a boa maioria da mão de obra empregada
o esforço das associações e qualidade e a segurança sanitária na feitura do queijo é feminina. Na
cooperativas de produtores para desses produtos (ver nota 5). maior parte dessas situações ela é a
se adaptarem às exigências da O desafio é associar as práticas esposa do fazendeiro e divide com ele
legislação, com aprimoramento tradicionais de produção dos a responsabilidade pela produção do
das condições de produção dos queijos artesanais com as exigências queijo. Na opinião desses homens/
queijos de leite cru – ainda que sanitárias de segurança alimentar, maridos, a mulher é mais cuidadosa,
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 50
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
mais higiênica e mais dedicada na mesmo reconhecendo as qualidades observando os produtores, com o
produção dos queijos artesanais. do outro produtor e até indicando apoio das pesquisas científicas da
Não se ouviram muitas quem está fazendo um queijo “de dar Universidade Federal de Viçosa,
justificativas para a exclusividade gosto”, como é expressão corriqueira já citada. Consequentemente, o
masculina nas queijarias do Serro. entre eles. O modo de fazer segue processo de maturação e o sabor
É costume enraizado na tradição procedimentos bem assentados na dos queijos também podem estar
de que o espaço rústico é para o tradição, atualizada pela utilização sofrendo alterações indesejáveis.
trabalho do homem e o espaço de materiais contemporâneos, mais O processo de feitura do Queijo
doméstico é para o exercício fáceis para usar e limpar, de acordo as Artesanal de Minas utiliza leite cru,
feminino. Seja homem ou mulher normas da vigilância sanitária. retirado na própria fazenda, ao
o responsável pela produção de As formas de madeira não qual se adiciona coalho, pingo e sal,
queijos, importa saber que essa é são mais usadas há muitos anos, conforme as etapas a seguir, comuns
uma atividade cotidiana das substituídas por formas plásticas, às regiões produtoras mineiras.
fazendas, exercida durante 364 de fácil higienização. As bancas Antes, porém, cabe reiterar que o
dias por ano – pois apenas na queijeiras de madeira ainda diferencial, e elemento fundamental
Sexta-feira Santa não se faz queijo, resistem em algumas propriedades, nesse tradicional processo de
como é costume e tradição. mas, como já foi dito, a maioria produção, é o uso do pingo.
Nesse dia, o leite é distribuído dos produtores hoje usa bancas De fato, o pingo é o “DNA” do
às pessoas da vizinhança e de ardósia. Vale lembrar que essas Queijo Artesanal de Minas. Nele
destinado ao doce de leite ou às inovações parecem ter alterado está condensado o ecossistema de
quitandas da cozinha da fazenda. a composição do pingo, que cada região: as peculiaridades do
Com pequenas diferenças, precisa interagir com a madeira substrato geológico, do relevo,
tratadas como “segredos bem para desenvolver plenamente da água, do clima, das pastagens
guardados”, cada fazenda busca dar sua capacidade de fermentação naturais. É ele que faz um queijo
uma especificidade ao seu produto, e cura dos queijos, como têm do Serro se diferenciar de um
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 51
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
Ruralidade e
identidade
A ba ix o
São R oq u e de M ina s – M G.
FOTO : c id k nipe l , 2 006 .
À dire it a
Pas t o va nde rl ino.
S e rra do Sal it re – M G.
FOTO : C ris t ina L e m e , 2 006 .
de tuberculose dos trabalhadores/ e análises microbiológicas afinal todos querem ter o prazer
queijeiros; nota fiscal de vacinação discriminados, que devem ser de ser reconhecidos por fazer
do rebanho contra raiva; cópia realizados periodicamente. Essas o melhor queijo.
do cartão de controle sanitário; exigências explicam porque, após Esses eventos têm sido realizados
atestado de vacinação contra 11 anos da criação dessa legislação e patrocinados por associações
brucelose; atestado negativo de teste sanitária, apenas 228 dos 9.000 e cooperativas de produtores e
contra brucelose e tuberculose; produtores artesanais de queijos prefeituras municipais das regiões
análise microbiológica e físico- de leite cru estão cadastrados em queijeiras, entre os quais o do
química da água e do queijo; Minas Gerais. Serro é um dos mais tradicionais.
planta baixa da propriedade, Apesar de tudo, com ganhos Em 2007, o governo de Minas
especialmente do curral e da e prejuízos nesse processo de começou a fazer o Concurso
queijaria; formulário do “Termo mudanças, os mineiros continuam Estadual do Melhor Queijo
de Compromisso” preenchido; fazendo seus queijos artesanais do do Ano, realizado juntamente
modelo do rótulo do queijo. modo tradicional, com orgulho e com a SuperAgro, grande feira
Como se vê, são exigências gosto. Do mesmo modo, e exposição agropecuária. O
relativamente complexas, eles continuam sendo consumidos Concurso tem gerado disputas
especialmente para gente do nas pequenas e grandes cidades, acirradas pelo alto nível dos queijos
campo, distante da linguagem no cotidiano, nas festas, nas feiras. concorrentes, o que enche de
da burocracia governamental. Além de espaços de encontro orgulho os primeiros classificados.
A par disso, o custo desse e reafirmação de sentidos de No processo de mobilização
credenciamento tem sido estimado identidade e pertencimento, as dos produtores pela salvaguarda
em cerca de R$25.000,00, Festas, Salões e Concursos de dos queijos artesanais de Minas e
quantia inacessível para a grande Queijos têm sido as ações de do seu tradicional modo de fazer,
maioria. Como, também, são valorização mais importantes para outra iniciativa que se destaca
inacessíveis os custos dos testes os queijeiros e produtores, pois é a viagem de intercâmbio que
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 58
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
Os territórios
do Queijo
Artesanal
de Minas
pa is age m da s e rra da c a n a st r a ,
na s c e nt e do rio s ã o f r a n ci sco – MG .
FOTO : c id k nipe l , 2 006 .
As diferentes características
de cada uma dessas serras deram
origem a queijos com sabores,
consistências e aparências
específicas, a partir de um modo
de fazer e de uma tradição secular
que os portugueses trouxeram e
adaptaram nas Minas Gerais. Nas
palavras de Dorvalino Campos
Júnior, proprietário da fazenda
Cedro e produtor de Queijo
do Serro, na feitura dos queijos
artesanais de leite cru há “uma
a gente a fazer queijo”. Pode- levavam o produto pelas serras parceria silenciosa entre homem,
se interpretar esse “convite” e rios da região. Os problemas terra, rocha, rios, capim, vaca,
como uma associação de fatores de transporte e de conservação clima, história e bactérias”10.
inicialmente desfavoráveis – as exigiam um queijo bem curado. O conceito de território
limitações impostas pelo relevo Nessa conjunção de circunstâncias, adotado no processo de pesquisa
acidentado – a outros elementos a produção do queijo artesanal dos queijos artesanais, como já foi
que favorecem a criação de prosperou e se expandiu por dito, ultrapassa a ideia de espaço
gado leiteiro: solo, altitude, aquelas serras, chegando ao físico ou geográfico para entendê-
clima adequado, pastagens século 19 sem grandes alterações lo como um contexto cultural,
naturais de boa qualidade. em seu processo de fabricação, isto é, uma rede de relações
Durante o século 18, os queijos como informam a documentação sociais e culturais construídas no
eram vendidos por tropeiros, que histórica e a literatura citadas. espaço e no tempo, articulando
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 60
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
moinh o d’ á g u a . S e rro – M G.
FOTO: I z a be l C h u m binh o, 2 004.
e do Salitre / Alto Paranaíba, de Paranaíba foram mantidos para a de cada um dos territórios
acordo com as referências culturais microrregião do Cerrado. culturais identificados, deve-se
apreendidas dos produtores Por outra parte, cabe notar que observar que sua característica mais
tradicionais e demais participantes a pesquisa de instrução do registro marcante e significativa é a de ser
do processo de pesquisa. O nome do Modo Artesanal de Fazer uma grande produção coletiva,
Cerrado foi acrescentado depois, Queijo de Minas não alcançou realizada em pequena escala12.
para contemplar o entendimento a região de Araxá11, produtora De fato, essas regiões congregam
de técnicos envolvidos com o tradicional de queijos artesanais, cerca de 9 mil proprietários rurais,
fomento agropecuário na região, também identificada pelo IMA, que produzem em conjunto cerca
denominação necessária, segundo em junho de 2003, e constituída de 61.000 kg diários de queijos
eles, para incluir um maior dos seguintes municípios: Araxá, artesanais, o que resulta em
número de pequenos produtores Campos Altos, Conquista, Ibiá, produção média diária de 7 kg de
artesanais que também davam Pratinha, Pedrinópolis, Perdizes, queijo por produtor (lembrando
continuidade à tradição dos Sacramento, Santa Juliana, Tapira que cada queijo costuma pesar
queijos de leite cru. (Portaria nº 594). entre 1,0 e 1,2 kg e que são
Tal entendimento acabou Todos os dados citados adiante, necessários 10 litros de leite para
prevalecendo sobre a abordagem referentes à produção pecuária, produzir 1 kg de queijo). Grandes
patrimonial, pois o IMA alterou ao meio físico e pastagens produtores dessa região produzem
a denominação da microrregião para as três regiões adiante cerca de 50 kg de queijo por dia.
de Alto Paranaíba para Cerrado, caracterizadas – Serro, Canastra E todos, especialmente a grande
em outubro de 2007 (Portaria e Salitre/Alto Paranaíba –, foram maioria de pequenos produtores,
nº 874). Destaca-se que essa produzidos entre 2002 e 2003 e valorizam sua produção de queijos
alteração restringiu-se apenas ao disponibilizados pela Emater/MG artesanais de leite cru como forma
nome, pois que os municípios que e IMA. Antes, porém, de analisar de sobrevivência econômica de
integravam a microrregião do Alto os dados físicos e socioeconômicos suas famílias e como meio de
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 62
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
Bahia
Distrito
manutenção do seu modo de vida, Federal
no processo de ocupação do seu casos, são agricultores familiares 2002, entre essas propriedades,
território por portugueses e luso- que diversificam seus produtos e 6.491 são de produtores de
brasileiros de outras áreas da têm na pecuária leiteira e no queijo queijos artesanais, com produção
América Portuguesa. artesanal a principal fonte de anual de 15.271 toneladas. E a
A despeito do número de renda. O Queijo Minas Artesanal produção média de queijos por
municípios e da extensão espacial do Alto Paranaíba, de forma produtor é de 6,44 kg, igual à das
do território cultural de Alto distinta dos queijos artesanais do outras regiões identificadas.
Paranaíba, há certa unidade em Serro e da Canastra, tem 80% de Mais uma vez se observa o fato
suas características naturais, sua produção comercializada nos marcante: a grande produção
socioculturais e econômicas. mercados de outros estados, como realizada em pequena escala.
A tradição da produção artesanal São Paulo, Distrito Federal e Goiás. Juntam-se milhares de produtores
do queijo na região também O rebanho predominante com sua pequena produção de
remonta ao século 18. na região do Alto Paranaíba queijos artesanais ajudando a
Esses municípios, no século 19, é formado, também, por fazer do estado de Minas uma
fizeram parte da grande região animais mestiços e conta com referência nacional na produção
administrativa da comarca de aproximadamente um milhão de de laticínios, ainda que aí se some
Paracatu. A construção da estrada cabeças, distribuídas em 20.115 a produção de escala industrial.
de ferro na região, em 1916, propriedades rurais, em média A região do Alto Paranaíba
possibilitou a comercialização do de 52 cabeças por propriedade, tem um clima classificado como
queijo artesanal e a expansão da portanto, uma produção tropical de altitude, típico do
produção para a região de Serra tipicamente de agricultores de cerrado, com temperatura média
do Salitre / Alto Paranaíba. pequena propriedade, na maioria anual em torno de 22°C, com
Cerca de 28% da população de economia familiar. Segundo a média mínima de 16,4ºC e a
da região do Alto Paranaíba estão os estudos da Emater, que média máxima de 27,6°C, com
no meio rural e, na maioria dos levantaram todos esses dados em chuvas distribuídas entre os meses
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 71
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
“ Ral a ” do Qu e ij o.
FOTO : f e rna ndo
pia nc a s t e l l i, 2 01 0.
NOTAS pa is age m na t u ra l .
S e rra da Cana s t ra – M G.
FOTO : C id K nipe l , 2 006 .
q u a rt o de q u e ij o.
FOTO : f e rna ndo pia nc a s t elli , 2 0 1 1 .
recomendações de
salvaguarda
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 79
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
F o rma de Q u ei jo sobre
b an ca de madei r a.
F OTO : p au lo sergi o torre s
p ro cóp i o, 20 1 1 .
a ba ix o
GA DO SEP A R A DO P A R A ORDENHA .
Fa z e nda E ng e nh o da S e rr a .
S e rro – M G.
FOTO : I z a be l C h u m binh o, 2 0 0 4 .
À dire it a
H ig ie niz açã o da ba nc a do Q uei j o .
Fa z e nda E ng e nh o da S e rr a .
S e rro – M G.
FOTO : I z a be l C h u m binh o, 2 0 0 4 .
A d i çã o do p i n go ao le ite .
F a ze n da En gen ho da Se rra.
S e r r o – MG .
F o t o : Izab el Chumb i nho, 2004.
fontes
bibliográficas
ABDALA, Mônica Chaves. das Minas Gerais setecentistas. São GINZBURG, Carlo. O queijo e os
Receita de mineiridade: a cozinha e Paulo: Annablume, 1999. vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro
a construção da imagem do mineiro. perseguido pela Inquisição. Tradução:
Uberlândia: Edufu, 2007. DEBRET, Jean-Baptiste. Viagem Maria Betânia Amoroso. São Paulo:
Pitoresca e Histórica ao Brasil. São Companhia das Letras, 1987.
ANDRADE, Francisco Eduardo Paulo: Melhoramentos, 1971.
de. A enxada complexa: roceiros IPHAN – Instituto do Patrimônio
e fazendeiros em Minas Gerais na FONSECA, Maria Cecília Histórico e Artístico Nacional.
primeira metade do século XVIII. Belo Londres. “Referências Culturais: Inventário Nacional de Referências Culturais
Horizonte: Fafich/UFMG, 1994. base para novas políticas de – INRC. Manual de Aplicação.
(Dissertação de Mestrado) patrimônio”. In: O Registro do Brasília: Iphan, 2000.
Patrimônio Imaterial: Dossiê final das
BAIROCH, Paul.“Agricultura: Modo atividades da Comissão e do Grupo de _______ O Registro do Patrimônio Imaterial:
de produção, Desenvolvimento, Trabalho Patrimônio Imaterial. Brasília: Dossiê final das atividadesda Comissão e do Grupo
Subdesenvolvimento”. In: Enciclopédia MinC/Iphan; Funarte, 2003. de Trabalho Patrimônio Imaterial. Brasília:
Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional - MinC/Iphan; Funarte, 2003 (2ª ed.)
Casa da Moeda, 1986, p. 226-255, FRAGOSO, João Luís R. Homens de
vol. 7. grossa aventura. Acumulação e hierarquia LARAIA, Roque de Barros. Cultura.
na praça mercantil do Rio de Janeiro Um conceito antropológico. 11ª Ed. Rio de
CAMPOS, Helena Guimarães (1790-1830). Rio de Janeiro: Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996.
& FARIA, Ricardo de Moura. Arquivo Nacional, 1992.
História de Minas Gerais. Belo LIBBY, Douglas Cole.
Horizonte: Editora Lê, 2005. FRIEIRO, Eduardo. Feijão, angu e “Novas considerações sobre a
couve. Ensaio sobre a comida dos protoindustrialização mineira
CHAVES, Cláudia M. G. mineiros. Belo Horizonte: Livraria dos séculos XVIII e XIX”. In:
Perfeitos Negociantes. Mercadores Itatiaia; Editora/USP, 1982. Revista do Departamento de História.
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 85
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
A dição do c oa l h o a o “ p i n g o ”
e m ba nc a . Fa z e nda E ng e n h o d a
S e rra . S e rro – M G.
Fot o: I z a be l C h u m binh o , 2 0 0 4 .
Belo Horizonte: Fafich/UFMG, T. História da Agricultura Brasileira: da Serra da Canastra. Belo Horizonte:
n. 9, 1989, p. 149-160. combates e controvérsias. São Faculdade de Farmácia/UFMG,
Paulo: Brasiliense, 1981. 1998. (Dissertação de Mestrado).
______. “Sociedade e cultura
escravista como obstáculos ao MAWE, John. Viagem SAINT-HILAIRE, Auguste.
desenvolvimento econômico: notas ao interior do Brasil. Belo Viagens às nascentes do rio São Francisco.
sobre o Brasil oitocentista”. In: Horizonte: Itatiaia, 1978. Belo Horizonte: Itatiaia, 1990.
Estudos Econômicos, 23 (3). São Paulo:
IPE/USP, 1993. MENESES, José Newton C. SILVA, Dario A. Memória
O Continente rústico. Abastecimento do Serro Antigo. Serro:
______. Transformação e Trabalho em uma alimentar nas Minas Gerais Typografia Serrana, 1928.
sociedade escravista – Minas Gerais no século setecentistas. Diamantina: Maria
XIX. São Paulo: Brasiliense, 1988. Fumaça Editora, 2000. STILLE, Alexander. A destruição
do passado. Como o desenvolvimento
LINHARES, Maria Yedda L. MONTANARI, Massimo. Comida pode ameaçar a História da Humanidade.
História do Abastecimento: uma problemática como Cultura. Tradução: Letícia São Paulo: Arx, 2005.
em questão (1530-1918). Brasília: Martins de Andrade. São Paulo:
Binagri, 1979. Editora Senac São Paulo, 2008. WIED-NEUWIED, Maximiliano.
Viagem ao Brasil. 1815-1817. São
______. “Subsistência e sistemas POHL, John Emanuel. Paulo: Melhoramentos, 1969.
agrários na colônia: uma discussão”. Viagem ao interior do Brasil. Belo
In: Estudos Econômicos, 13 (número Horizonte: Itatiaia, 1987. ZERON, Carlos Alberto (org.).
especial). São Paulo: IPE/USP, 1983. Equipamentos, usos e costumes da casa brasileira
REIS, Adriana Rubim. Caracterização – Alimentação. Coordenação geral:
LINHARES, Maria Yedda L. físico-química e identificação dos elementos Marlene Milan Acayaba. São Paulo:
& SILVA, Francisco Carlos metálicos dos Queijos Minas do Serro e Minas Museu da Casa Brasileira, 2000.
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 86
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
Anexo 1
pessoas
entrevistadas
durante a
pesquisa
Anexo 2
GLOSSÁRIO
Anexo 3
Receita: Coalho
Fa z e nda Sant a C ru z ,
s e rro – mg .
fazenda
I - o processamento será
iniciado até noventa minutos
após o começo da ordenha;
II - a fabricação se fará com
Lei No 14.185, leite que não tenha sofrido
Anexo 4 de 31 de tratamento térmico;
Legislação janeiro de III - serão utilizados como
2002 ingredientes culturas láticas naturais
como pingo, soro fermentado ou
soro-fermento, coalho e sal;
IV - O processo de
fabricação se desenvolverá com a
observância das seguintes fases:
Dispõe sobre o processo filtração;
de produção do Queijo Minas adição de fermento
Artesanal e dá outras providências. natural e coalho;
coagulação;
O POVO DO ESTADO corte e coalhada;
DE MINAS GERAIS, por seus mexedura;
representantes, decretou e eu, em dessoragem;
seu nome, sanciono a seguinte Lei: enformagem;
prensagem manual;
Art. 1º - É considerado salga seca;
Queijo Minas Artesanal o queijo maturação.
confeccionado, conforme a tradição
histórica e cultural da região do Art. 3º - A qualidade do
estado onde for produzido, a Queijo Minas Artesanal e sua
partir do leite integral de vaca adequação para o consumo serão
fresco e cru, retirado e beneficiado asseguradas por meio de:
na propriedade de origem, que
apresente consistência firme, cor I - fabricação com leite
e sabor próprios, massa uniforme, proveniente de rebanho sadio,
isenta de corantes e conservantes, que não apresente sinais clínicos
com ou sem olhaduras mecânicas. de doenças infectocontagiosas e
cujos testes oficiais de zoonoses,
Art. 2º - Na fabricação do Queijo tais como brucelose e tuberculose,
Minas Artesanal serão adotados apresentem resultados negativos,
os seguintes procedimentos: de acordo com as normas do
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 91
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
III - por queijarias artesanais Extrato seco total: mínimo 11,5%; cadastrados no IMA, conforme o
os estabelecimentos situados em Índice crioscópico: de -0,550º disposto no artigo 13.
propriedade rural, destinados H a -0,530ºH (-0,530ºC a - II - ser fabricado sem a
exclusivamente à produção do 0,512ºC); utilização de técnicas industriais,
Queijo Minas Artesanal. As Livre de resíduos de antibióticos, como ultrafiltração do leite,
queijarias artesanais só poderão agrotóxicos e quimioterápicos. prensagem mecânica, emprego
funcionar para a manipulação de leite concentrado ou em
de leite da própria fazenda. Parágrafo único - Os padrões pó e proteínas láticas, enzimas
IV - por leite cru próprio microbiológicos citados no inciso coagulantes de origem fúngica
para fabricação de Queijo Minas IV deverão ser atingidos até 2004, ou microbiana, utilização de leite
Artesanal o leite obtido de um prevendo-se os seguintes prazos sem lactose, ou qualquer outro
rebanho sadio e que, no momento e metas para os produtores se componente normal do leite e
de sua utilização artesanal, atenda adequarem às exigências: quaisquer outras técnicas industriais
os seguintes padrões: que venham a ser desenvolvidas.
1-Em 2002: III – utilização do leite
1- Microbiológicos: Flora microbiana total - £ produzido somente na
a) Flora microbiana total 350.000 ufc/ml; propriedade cujo rebanho leiteiro
< £ 100.000 ufc/ml; Células somáticas - £ 465.000 atenda a todas as especificações
b) Células somáticas unidades/ml; previstas neste Regulamento,
< £ 400.000 unidades/ml; 2-Em 2003: sendo, portanto, proibida a
c) Staphylococcus aureus 100 Flora microbiana total - £ compra de leite ou coalhada.
ufc/ml; 200.000 ufc/ml;
d) Escherichia coli 100 ufc/ml; Células somáticas - £ 420.000 Art. 5º - Na fabricação do
e) Salmonella - ausência 25 ml; unidades/ml; Queijo Minas Artesanal serão
f) Streptococcus ß-hemolíticos 3- Em 2004: observadas as seguintes fases:
(Lancefield A, B, C, G e L)- a)Flora microbiana total - £
ausência/0,1 ml. 100.000 ufc/ml; I - Filtração: é a coagem
2- Físico-químicos: b)Células somáticas - £ do leite, logo após a ordenha,
Caracteres organolépticos 400.000 unidades /ml. objetivando a retirada das partículas
normais; macroscópicas. O filtro ou coador
Teor de gordura: mínimo de 3%; Art. 4º - Somente será deve ficar na “boca” do latão e deve
Acidez em graus Dornic: de 15 permitida a produção do Queijo ser constituído de tela de metal,
a 20ºD; Minas Artesanal sob as seguintes aço inox ou alumínio, nylon ou
Densidade a 15ºC: de 1.028 a condições: plástico atóxico. É importante que
1.033; a malha seja de 10-16 meshes e
Lactose: mínimo de 4,3%; I - ser fabricado na que seja higienizado e seco antes
Extrato seco desengordurado: propriedade rural cujo do uso. Durante esta fase pode ser
mínimo 8,5%; proprietário e propriedade sejam necessária a utilização de mais de
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 95
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
um filtro, pois este deve ser trocado um percolador telado higiênico e canastra, família dos Dasipodídeos,
sempre que estiver sujo. O leite moldar em formas higienizadas. Esses táxon: (Priodontes giganteus).
deverá ser coado novamente no utensílios serão especificados em
momento de entrar na queijaria, portaria baixada pelo IMA. Art. 6º - O leite deverá passar,
no tanque de recepção, só que o VIII - Prensagem manual: fase imediatamente antes de sua
filtro será de 60-90 meshes. que objetiva aproximar bem os grãos utilização, pelas seguintes avaliações
II - Adição de fermento natural para o queijo ficar liso. Prensar de qualidade:
e coalho: visam a produção da manualmente usando luvas plásticas
massa para o queijo. Deve-se descartáveis estéreis ou usando as I - Mensalmente, pelo
utilizar coalho em pó ou líquido próprias tampas das formas. WMT: teste para o controle e
de quimosina de bezerro e soro IX - Salga seca: fase importante monitoramento da qualidade do
fermentado, soro fermento natural que dá sabor ao queijo. Salgar leite do rebanho. O resultado
salgado ou pingo. de ambos os lados usando sal do teste deve apresentar valor
III - Coagulação: é o tempo marinho destinado ao consumo correspondente ao teor de
necessário para atuação do coalho humano. Cuidados especiais com o células somáticas estabelecido no
no leite. sal utilizado, que pode carrear parágrafo único do artigo 3º deste
IV - Corte da coalhada: objetiva contaminantes ao produto acabado. Regulamento, a partir de:
a separação do soro. Deve-se cortar Deve-se colher o pingo num a) 2002: máximo de 12 mm, que
a coalhada até obter grãos do volume mínimo de 4 litros/100 corresponde na tabela a contagens
tamanho característico do processo litros de leite. de células somáticas inferiores a
de fabricação de cada microrregião. X - Maturação: fase com duração 465.000 células/ml;
V - Mexedura: também visa a específica para cada microrregião b) 2003: máximo de 11 mm, que
separação do soro. A decantação e objetiva o desenvolvimento corresponde na tabela a contagens
lenta ou a flutuação dos grãos do sabor, a desidratação e a de células somáticas inferiores a
indica falha no processamento e, estabilização do produto para 420.000 células/ml;
portanto, deve-se eliminar a massa atingir a consistência desejada. c) 2004: máximo de 10 mm,
com o problema, pois o queijo se que corresponde na tabela a
tornaria impróprio para consumo. §1º - O processamento será contagens de células somáticas
VI - Dessoragem: fase em que iniciado até noventa minutos após o inferiores a 400.000 células/ml.
o excesso de soro é retirado. A começo da ordenha. II - Teste do alizarol: será
quantidade de soro a ser retirada é §2º - O processamento considerado próprio o leite que
característica de cada microrregião, será detalhado em portarias apresentar resultado de coloração
devendo ser regulamentada por baixadas pelo IMA, obedecidas as róseo-salmão sem grumos.
portaria a ser publicada pelo IMA. características de fabricação de cada
VII - Enformagem: nesta microrregião. Parágrafo único - Todo leite
fase a massa é colocada nas formas fora destes padrões deverá ser
redondas para ganhar sua forma §3º - É proibido o preparo do utilizado para outros fins. Para
característica. Colher a massa usando coalho a partir do estômago do tatu garantir a segurança nesses testes, os
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 96
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
produtores deverão passar por um e qualquer outra substância tóxica sob fiscalização direta da unidade
treinamento para se capacitarem. devem ser mantidos em local local do IMA.
Esse treinamento deverá ser oferecido fechado, em ambiente separado da
por instituições, conforme inciso queijaria ou quarto de queijo, de §6º - O Governo deverá criar
V, do art. 12, deste Regulamento. modo a não contaminar os produtos uma linha de crédito específica
alimentícios, suas matérias-primas e para reposição dos animais abatidos
Art. 7º - É proibida a prática da seus manipuladores. conforme o §3º e §5º deste artigo.
requeija, ou seja, o reprocessamento
de queijos com defeitos visando o §1º - O IMA, através de Art. 9º - O leite utilizado
consumo humano. portaria, baixará as normas na fabricação do Queijo Minas
técnicas disciplinando o controle Artesanal deverá ainda ser obtido:
Capítulo II - Do Controle sanitário do rebanho.
Sanitário do Rebanho I - de vacas que se apresentem
§2º - Animais reagentes clinicamente sãs e em bom estado
Art. 8º - Para assegurar a positivos aos testes de diagnóstico de nutrição;
qualidade do Queijo Minas para brucelose e tuberculose II - de vacas que não estejam no
Artesanal e sua adequação para o serão marcados a ferro candente período final de gestação ou na fase
consumo humano, o produtor no lado direito da cara com um colostral;
deverá adotar as seguintes práticas “P”, contido num círculo de oito III - de vacas que não
visando o controle sanitário centímetros de diâmetro. apresentem quaisquer sintomas
do rebanho: de doenças no aparelho genital
§3º - Animais reagentes positivos ou lesões no úbere e tetas, febre,
I - vacinação contra febre para brucelose e tuberculose deverão infecções generalizadas, enterites
aftosa; ser isolados de todo o rebanho e com diarreia;
II - vacinação contra brucelose; sacrificados e destruídos no prazo IV - de vacas que não tenham
III - teste de diagnóstico para máximo de 30 (trinta) dias após o sido tratadas com substâncias
brucelose; diagnóstico, em estabelecimento sob nocivas à saúde do homem
IV - teste de diagnóstico para inspeção oficial indicado pelo IMA. pela transmissão através do
tuberculose; leite, salvo quando houver o
V - controle dos animais contra §4º - Animais reagentes respeito ao período de carência
mamite; positivos devem ser imediatamente desses produtos.
VI - controle de parasitas e afastados da produção leiteira.
outras manifestações patológicas, Capítulo III - Da Higiene
que comprometam a saúde do §5º - Na impossibilidade de
rebanho ou a qualidade do leite; sacrifício em estabelecimento Art. 10 - O IMA certificará
VII - controle de insetos, sob inspeção oficial, os animais as condições higiênico-sanitárias
roedores e qualquer outra praga. Os serão sacrificados e destruídos necessárias para fabricação
raticidas, inseticidas, desinfetantes no estabelecimento de criação, do Queijo Minas Artesanal,
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 97
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
§1º - Para as novas queijarias §4º - Terminado o prazo de fique demonstrada eficiência
será dado um prazo de 30 360 (trezentos e sessenta) dias de inativação microbiológica
(trinta ) dias, após o início da para cadastramento, os produtores equivalente à obtida com a condição
fabricação do primeiro lote de que não solicitaram seu cadastro definida no item III.
queijos, para que apresentem deverão requerer o registro de seu
os resultados das análises estabelecimento, como laticínio, §2º - As nascentes serão
microbiológicas do produto; ao Serviço de Inspeção Estadual, e protegidas do acesso de animais e
observar as normas vigentes. livres de contaminação por água de
§2º - Os incisos X e XI seguirão enxurrada e outros agentes.
modelo próprio fornecido pelo IMA. Capítulo V - Da Água Utilizada
na Produção do Queijo §3º - O reservatório a que
§3º- Os parâmetros e padrões se refere o inciso II deste artigo
para o exame referido no inciso VIII será tampado e construído em
são os seguintes: Art. 15 - A água utilizada
na produção do Queijo Minas fibra, cimento ou outro material
Artesanal será potável e poderá sanitariamente aprovado.
1- Físico-químicos:
a) umidade expressa em base seca: provir de nascente, cisterna
revestida e protegida do meio §4º - A queijaria artesanal
até 54%;
exterior ou de poço artesiano, disporá de água para a limpeza e a
b) amido: negativo;
observadas as seguintes condições: higienização de suas instalações na
c) fosfatase: positiva.
proporção de cinco litros para cada
I - ser canalizada desde a fonte litro de leite processado.
2- Microbiológicos:
a) Coliforme/g a 30ºC: n= 5, c=2, até o depósito ou caixa d’água da
m= 5 x 103, M= 1 x 104; queijaria ou do quarto de queijo; Art. 16 - A água utilizada
b) Coliforme/g a 45ºC: n= 5, c=2, II - ser filtrada antes de sua na produção do Queijo Minas
m= 1 x 103, M= 5 x 103; chegada ao reservatório; Artesanal será submetida a análise
c) Estafilococos coagulase positiva: III - ser clorada com cloradores físico-química e bacteriológica.
n=5, c=2, m= 1 x 102, M= 1 x 103; de passagem ou outros sanitariamente
d) Salmonella sp/25 gr: n=5, c=0, m=0; recomendáveis, a uma concentração §1º - A análise será feita em
e) Listeria sp/25 gr: n=5, c=0, m=0. de 2 ppm (duas partes por milhão) a laboratório credenciado pelo IMA.
3 ppm (três partes por milhão).
3 - Os parâmetros físico- §2º - A água deverá ser
químicos do Queijo Minas §1º - Além da cloração, o analisada visando avaliar os
Artesanal serão definidos em tratamento da água com a utilização seguintes aspectos: cor, odor,
portarias específicas, baixadas de outro agente desinfetante dureza, cloretos, turbidez, pH,
pelo IMA de acordo com ou outra condição do processo cloro residual, matéria orgânica,
as características do queijo de desinfecção poderá ser nitrogênio amoniacal, nitrito,
de cada microrregião. autorizado pelo IMA, desde que nitrato, coliformes totais,
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 99
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
coliformes fecais, numa frequência de cerca, do acesso de animais e eliminação no ambiente, sem
a ser definida pelo técnico do IMA, pessoas estranhas à produção; tratamento adequado.
conforme avaliação da propriedade III - construção em alvenaria,
e do produto acabado. segundo normas técnicas a serem Art. 18 - A queijaria artesanal
estabelecidas em portaria pelo IMA. terá os seguintes ambientes:
§3º - A critério do IMA,
poderão ser solicitadas análises Parágrafo único - A queijaria I - área para recepção e
complementares visando confirmar artesanal, ou quarto de queijo, armazenagem do leite;
a ausência de substâncias poderá ser instalada junto ao II - área de fabricação;
químicas que representem estábulo e local de ordenha, III - área de maturação;
riscos à saúde (pesticidas e respeitadas as seguintes condições: IV - área de embalagem e
metais pesados e agrotóxicos). expedição.
1 - inexistência de comunicação
§4º - Os padrões de potabilidade direta entre o estábulo e a queijaria, Capítulo VII - Dos
referentes às análises constantes com local adequado para higienização Equipamentos
deste artigo são os seguintes: pessoal e troca de roupa de qualquer
1- Coliformes totais: ausência pessoa que entrar na queijaria; Art. 19 - As características
em 100 ml; 2 - revestimento do piso técnicas dos equipamentos
2- Escherichia coli ou coliformes do estábulo com cimento ou necessários à fabricação do
termotolerantes: ausência em 100 ml; calçamento, com declive não Queijo Minas Artesanal, bem
3- Os padrões físico-químicos inferior a 2% (dois por cento); como os critérios de higienização
da água serão os mesmos citados na 3 - existência de valetas, no das instalações, equipamentos e
Portaria do Ministério da Saúde nº estábulo, sem cantos vivos e de fabricantes, serão definidos em
1.469, de 29 de dezembro de 2000. largura, profundidade e inclinação portarias pelo IMA.
suficientes para permitir fácil
Capítulo VI - Das Instalações da escoamento das águas e de resíduos Capítulo VIII - Do Transporte
Queijaria Artesanal orgânicos; e da Comercialização
4 - existência de torneira
Art. 17- Na instalação da independente para higienização do Art. 20 - Somente poderá
queijaria artesanal serão cumpridas estábulo e dos animais, ser comercializado o Queijo
as seguintes exigências: com abastecimento de água de Minas Artesanal do produtor
boa qualidade em volume suficiente cadastrado que tenha atendido
I - localização distante de para atender os trabalhos diários todas as exigências contidas neste
pocilga, galinheiro e qualquer de higienização dos animais, Regulamento e em portarias
outra fonte produtora de mau equipamentos e instalações. expedidas pelo IMA.
cheiro que possa comprometer a 5 - O descarte do soro poderá
qualidade do leite ou queijo; ser destinando à alimentação Art. 21 - São obrigatórias, para
II - impedimento, por meio animal, sendo proibida sua comercialização, informações sobre
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 100
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
novamente 60 a 90 dias após o 120 dias entre os exames, até obter seu leite destinado à alimentação
parto, obedecendo a um intervalo um resultado negativo. humana após a completa eliminação
mínimo de 60 dias entre os testes. fisiológica dos resíduos.
§1º - O produtor cadastrado
Art. 9º - O teste cervical deverá realizar, anualmente, testes Parágrafo único - O período de
simples é o teste oficial de rotina do rebanho para diagnóstico de carência dos produtos utilizados
adotado, de acordo com as tuberculose e encaminhar ao no tratamento dos animais deve ser
seguintes condições e critérios: IMA cópia do exame assinado por observado e as recomendações do
médico-veterinário cadastrado. médico-veterinário rigorosamente
I - ser realizado com inoculação seguidas, para garantir a ausência
intradérmica de tuberculina PPD §2º - Os critérios para realização de resíduos no leite e a segurança
bovina, na dosagem de 0,1 ml e interpretação de resultados serão do consumidor.
na região cervical ou na região os adotados no Regulamento
escapular de bovinos, devendo Técnico do Programa Nacional Capítulo IV - Da Identificação
a inoculação ser efetuada de um de Controle da Erradicação de dos Bovinos e Bubalinos
mesmo lado de todos os animais do Brucelose e Tuberculose.
estabelecimento de criação; Art. 14 - Todo rebanho deverá ser
II - ser realizado por médico- Art. 11 - Todos os animais em
identificado individualmente com
veterinário cadastrado no IMA; lactação deverão ser submetidos,
brincos quando do levantamento
III - o médico-veterinário diariamente, ao teste de caneca
sanitário de brucelose e tuberculose.
para ser cadastrado no IMA deverá telada ou de fundo escuro, visando
ter participado de treinamento o diagnóstico da mamite.
Parágrafo único - Os brincos
aprovado pelo Regulamento Técnico Parágrafo único - Os animais utilizados deverão ter quatorze
do Programa Nacional; que apresentarem reação positiva dígitos com código de barra, cujos
IV - ser realizado com seringa deverão ser afastados da linha de números serão fornecidos pelo
própria, de alta precisão e com ordenha, para tratamento. IMA para que não haja repetição.
dosador para aplicação de 0,1ml para
a tuberculinização; Art. 12 - Nos casos que Art. 15 - Esta Portaria em vigor na
V - os animais reagentes positivos julgar necessário, o IMA poderá data de sua publicação.
deverão ser abatidos em frigoríficos recomendar a adoção do teste do
com inspeção ou sacrificados e CMT para dirimir dúvidas. Registre-se, publique-se e
incinerados, devendo os restos ser cumpra-se.
enterrados na respectiva propriedade. Capítulo III - Do Tratamento
dos Animais Belo Horizonte, 14 de junho de
Art. 10 - Para ser cadastrado, 2002.
o produtor deverá realizar teste Art. 13 - Nos casos de aplicações
do rebanho para diagnóstico de de medicamentos, os animais Célio Gomes Floriani
tuberculose, num intervalo de 90 a tratados somente poderão ter Diretor-Geral
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 104
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
estar separadas dos locais de V - coadores ou filtros de aço Art. 14 - Os utensílios deverão
manipulação de alimentos e inox ou plástico de alta resistência, estar em perfeito acabamento,
da sala de ordenha, não sendo com espaçamento de 10 a 15 com superfícies lisas e planas,
permitido o acesso direto e “meshes” para a primeira coagem sem cantos vivos, frestas, juntas,
comunicação das instalações com ainda na sala de ordenha, e de poros e soldas salientes.
estes locais. 60 a 90 “meshes” para a segunda
coagem no tanque de recepção, Art. 15 - O cumprimento
Capítulo II - Dos sendo proibido o uso de panos nas destas normas não exclui outras
Equipamentos duas coagens; exigências por parte das entidades
VI - pás e lixeiras, verticais fiscalizadoras.
Art. 12 - A queijaria deverá
e horizontais, em aço inox ou
dispor dos seguintes materiais e Art. 16º- Esta Portaria entra em
polietileno;
equipamentos: vigor na data de sua publicação.
VII - as formas do queijo
I - tanque de recepção em aço deverão ter formato cilíndrico e Registre-se, publique-se e
inox ou outro material aprovado tamanho de acordo com a tradição cumpra-se.
pelo IMA; regional para a produção do
II - tanque de coagulação em aço Queijo Minas Artesanal, e serem de Belo Horizonte, 14 de junho de
inox ou outro material aprovado plástico, aço inox ou outro material 2002.
pelo IMA; aprovado pelo IMA;
III - tanque com torneira VIII - as prateleiras para Célio Gomes Floriani
de água corrente, conjugado à maturação dos queijos poderão Diretor-Geral
bancada fixa, ou mesa de aço inox, ser constituídas de madeira,
ou outro material impermeável de plástico ou outro material
fácil higienização, cuja finalidade aprovado pelo IMA;
é a limpeza de utensílios. A
superfície da bancada deverá ser IX - mesas em aço inox ou
plana e lisa, sem cantos vivos, outro material aprovado pelo IMA,
frestas e soldas salientes, sendo resistentes à higienização.
proibido o uso de madeira ou
outro material poroso; Art. 13 - O material dos
IV - tanque, cubas ou utensílios e equipamentos,
recipientes de plástico ou fibra empregados na fabricação
de vidro, contendo soluções do queijo, deverá permitir
desinfetantes aprovadas pelas fácil higienização, não sendo
entidades competentes, para autorizada a utilização de objetos
guarda, repouso e desinfecção de como latas de óleo, cuias,
material leve; cabaças e outros similares.
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 107
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
Art. 4º - Entende-se por somente poderá ser utilizada I - não deverão provir de áreas
armazenamento de alimentos o se obtida na propriedade de onde a presença de substâncias
conjunto de tarefas e requisitos origem, apresentando todas as potencialmente nocivas (não)
para a correta conservação dos características físico-químicas possa provocar sua contaminação,
produtos finais. e microbiológicas exigidas na nem processadas em níveis que
legislação pertinente. representem risco à saúde;
Art.5º - Entende-se por II - não deverão ser produzidos
boas práticas de elaboração os Art. 10 - Entende-se por leites em área onde a água utilizada
procedimentos necessários para a Queijo Minas Artesanal o nos diversos processos produtivos
obtenção de alimentos saudáveis. produto elaborado, conforme possa constituir risco à saúde do
a tradição histórica e cultural consumidor;
Art. 6º - Entende-se por da região do estado onde for III - as medidas de controle,
limpeza a eliminação de sujidades, produzido, a partir do leite que compreendem o tratamento
terra, restos de alimentos, pó ou cru, hígido, integral, recém- com agentes químicos, biológicos
outros contaminadores. ordenhado, retirado e beneficiado ou físicos, deverão ser aplicadas
na propriedade de origem e somente sob a supervisão direta
Art. 7º - Entende-se por que, ao final, apresente todas as de pessoal que conheça os
contaminação a presença de características físico-químicas, perigos que representam para
substâncias ou agentes estranhos de microbiológicas, sensoriais e de a saúde, em conformidade
origem biológica, química ou física, textura dos queijos artesanais. com as recomendações do
nocivos ou não à saúde humana. Ministério da Saúde.
Capítulo II - Dos Princípios
Art. 8º - Entende-se por Gerais Higiênico-Sanitários para a §2º - Ficam estabelecidos
desinfecção a redução do número Manipulação das Matérias-Primas princípios gerais de colheita,
de microrganismos nas instalações e dos Queijos Minas Artesanais produção, extração e rotina de
e nos utensílios a um nível que trabalho, conforme a seguir:
impeça a contaminação do Art. 11 - Esta Portaria estabelece
alimento que se elabora. princípios gerais para a recepção I - os métodos para esses
de matérias-primas, destinadas procedimentos deverão ser
Art. 9º - Entende-se por à produção de Queijo Minas higiênicos, sem constituir perigo
queijaria de Queijo Minas Artesanal manipulado e elaborado, para a saúde e sem provocar
Artesanal o estabelecimento que assegurem qualidade para contaminação dos produtos;
situado em fazenda leiteira onde evitar riscos à saúde humana. II - os recipientes que são
o queijo deverá ser fabricado, reutilizados deverão ser de
maturado e rotulado. §1º - Ficam estabelecidos material que permita a limpeza
princípios gerais sobre a área de e a desinfecção completas e
Parágrafo único - A matéria- procedência das matérias-primas, aqueles que foram usados com
prima em questão, o leite cru, conforme a seguir: produtos tóxicos não deverão ser
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 109
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
reutilizados para alimentos ou Capítulo III - Da Higiene na §1º - O descarte dos primeiros
ingredientes alimentares; Obtenção da Matéria-Prima jatos de cada teta deverá ser feito
sobre um recipiente adequado, de
III - deverão ser tomadas Art. 12 - As instalações, fundo escuro, de forma a eliminar
precauções para evitar as utensílios e equipamentos do o leite residual e auxiliar no
contaminações químicas, físicas, estábulo deverão ser submetidos a controle de mamite.
microbiológicas ou por quaisquer limpeza e desinfecção adequadas,
outras substâncias. antes e depois da ordenha. §2º - Imediatamente após a
ordenha, os animais deverão ser
§3º - O Queijo Minas Artesanal Art. 13 - Os trabalhadores do submetidos a desinfecção das tetas,
deverá ser armazenado em estábulo e da queijaria deverão com solução de iodóforo a 20-
condições que garantam a proteção apresentar atestado de saúde, 30 mg/l ou outro desinfetante
contra contaminação e reduzam ao renovado anualmente e sempre que de atividade igual ou superior e
mínimo os danos e deteriorações. se fizer necessário. que não apresente risco de dano à
sua integridade e de acordo com
§4º - Os meios para transportar Art. 14 - As pessoas que indicação técnica.
os produtos finais dos locais de trabalham no estábulo serão
produção ou armazenamento obrigadas a usar roupas adequadas, §3º - As vacas com mamite
deverão ser adequados para a gorro e botas de borracha. deverão ser ordenhadas por último
finalidade a que se destinam e e seu leite não poderá ser destinado
construídos de materiais que Parágrafo único - Para à elaboração do Queijo Minas
permitam a limpeza e desinfecção o ordenhador, além dos Artesanal.
fáceis e completas. equipamentos citados no artigo
15, é obrigatório o uso de avental §4º - O leite selecionado para
§5º - A manipulação deverá plástico durante a ordenha. a produção do Queijo Minas
ser controlada de forma a impedir Artesanal deverá ser coado logo
a contaminação dos materiais e Art. 15 - Deverá ser feita limpeza após a ordenha, em coador
cuidados especiais deverão ser rigorosa do local de ordenha apropriado, não sendo permitido o
tomados para evitar a putrefação. antes, durante e após a uso de panos.
permanência dos animais.
§6º - Os queijos deverão ser §5º - É obrigatória a lavagem
submetidos ao resfriamento em Art. 16 - Antes de iniciar a das mãos do ordenhador em água
caixas isotérmicas, devidamente ordenha, os animais deverão ter corrente, seguida de imersão
embalados, bem acondicionados as tetas lavadas com água corrente, em solução de iodóforo 20-30
e envolvidos por substância em abundância, seguindo- mg/l, ou outro desinfetante,
refrigerante, sem nenhum contato se sua secagem completa com antes do início da ordenha
direto com o produto. papel-toalha descartável. e sempre que necessário.
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 110
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
§6º - Em caso de uso de balde, §1º - Qualquer alteração no §5º - O mesmo procedimento
este deverá ter abertura lateral, sem estado de saúde dos animais, capaz deverá ser observado quando da
costuras ou soldas que dificultem de modificar a qualidade sanitária utilização de antiparasitários ou
sua limpeza e higienização. do leite, constatada durante ou qualquer outro produto passível de
após a ordenha, implicará na eliminação pelo leite.
§7º - Somente nos casos de condenação imediata desse leite e
elevada prevalência de mamite, do conjunto a ele misturado. §6º - Fica proibido o
causada por microrganismos do fornecimento de alimentos,
ambiente e através de adequada §2º - As fêmeas em tais adicionados ou não de
orientação técnica de médico- condições deverão ser afastadas do medicamentos, às vacas em lactação,
veterinário, poderá ser indicada a rebanho, em caráter provisório sempre que possam prejudicar a
desinfecção das tetas dos animais, ou definitivo, de acordo com a qualidade do leite destinado ao
pelo menos trinta minutos antes gravidade da doença. consumo humano.
da ordenha, desde que através
de técnica e de emprego de §3º - Os animais afastados da Art. 18 - Todo utensílio
desinfetantes adequados. produção somente poderão voltar utilizado após o término da
a ter seu leite aproveitado após ordenha deverá ser cuidadosamente
Art. 17 - É obrigatório o exame exames e liberação procedidos por limpo e desinfetado.
clínico dos animais por médico- médico-veterinário habilitado.
veterinário habilitado, não se Capítulo IV - Da Higiene
permitindo o aproveitamento do §4º - A utilização de leite para na Fabricação do Queijo Minas
leite de fêmeas que: consumo humano, proveniente Artesanal
de vacas que foram submetidas a
a) não se apresentem tratamento com antibióticos, ou Art. 19 - O Queijo Minas
clinicamente sãs e em bom estado quimioterapia, ou outras substâncias Artesanal deverá ser produzido a
de nutrição; autorizadas pela legislação vigente partir de leite cru, apresentando
b) estejam no período final de e que possam ser nocivas à saúde resultados compatíveis com os
gestação ou em fase colostral; humana, ficará condicionada exigidos pelo Decreto nº 42.645,
c) sejam reagentes positivas às à liberação do médico- de 05 de junho de 2002.
provas de brucelose e tuberculose; veterinário, que deverá observar as
d) sejam suspeitas ou recomendações e precauções de uso Art. 20 - Os ingredientes
acometidas de outras doenças do produto constantes da rotulagem, necessários para a fabricação do
infectocontagiosas; de modo a assegurar que os níveis queijo deverão ser acondicionados
e) apresentem-se febris, de resíduos estejam dentro em depósito próprio para essa
com mamite clínica, diarreia, dos limites máximos admissíveis finalidade e anexo à queijaria.
corrimento vaginal, lesões no (LRM), estabelecidos por
úbere e tetas ou qualquer outra organismos científicos reconhecidos Parágrafo único - Na queijaria,
manifestação patológica. internacionalmente. poderá ser estocada somente a
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 111
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
quantidade de ingrediente de queijarias forem contíguas ao curral setores e outros meios eficazes, bem
uso diário, que deverá atender as onde se efetua a ordenha ou trato como definição do fluxo de pessoas
especificações técnicas pertinentes dos animais, deverá haver um local e alimentos, de forma a evitar as
ao seu uso. apropriado para higiene pessoal e operações suscetíveis de causar
troca de roupas. contaminação cruzada.
Art. 21 - Os dessoradores devem
ser apropriados, sendo vedado o Parágrafo único - O controle §4º - Essas instalações deverão
uso de panos. de inundações deverá ser ser projetadas de maneira que
feito com o objetivo de evitar seu fluxo de operações possa ser
Art. 22 - Os queijos fabricados contaminação de alimentos e realizado em condições higiênicas,
devem ser provisoriamente riscos à saúde. desde a chegada da matéria-prima,
estocados na queijaria, enquanto durante o processo de produção,
aguardarem o seu destino ao varejo, Art. 25 - Para aprovação das até a obtenção do produto final.
recomendando-se o uso de telas plantas, as instalações deverão ter
§5º - Nas áreas de manipulação
removíveis e higienizáveis para sua construção sólida e sanitariamente
de alimentos, os pisos deverão
proteção nas estantes. adequadas, atendendo à Portaria
ser de material resistente ao
nº 518, de 14 de junho de 2002,
trânsito, impermeáveis, laváveis e
Parágrafo único - A queijaria baixada pelo IMA.
antiderrapantes, sem frestas e fáceis
deverá ser submetida a rigorosa
de limpar ou desinfetar; os líquidos
limpeza antes, durante e após a §1º - Deverá ser levada em conta
deverão escorrer até os ralos
fabricação do queijo. a existência de espaço suficiente
sifonados, impedindo a formação
para atender, de maneira
de poças e refluxo de água.
Art. 23 - As prateleiras para adequada, a toda as operações.
maturação poderão ser de fibra §6º - As paredes deverão ser
de vidro, plástico ou de qualquer §2º - As instalações revestidas de tintas laváveis, de cores
outro material aprovado pelo IMA, deverão ser de tal maneira que claras, lisas, sem frestas e fáceis de
desde que facilmente higienizáveis. permitam a limpeza adequada e limpar e desinfetar, pintadas até
a devida inspeção e ter telas e/ uma altura mínima de dois metros;
Capítulo V - Das Condições ou dispositivos que impeçam a o contato entre as paredes e o piso
Higiênico-Sanitárias dos entrada e o alojamento de insetos, deverá ser abaulado para facilitar a
Estabelecimentos Produtores de roedores e/ou pragas, e também limpeza.
Queijo Minas Artesanal a entrada de contaminadores do
meio, tais como fumaça, pó, vapor §7º - O teto deverá ser
Art. 24 - As queijarias deverão e outros. constituído e/ou acabado de
se situar em zonas isentas de odores modo que se impeça o acúmulo
indesejáveis, fumaça, pó e outros §3º - As instalações das queijarias de sujeira e se reduza ao mínimo a
contaminadores e não deverão deverão ser projetadas de forma condensação e a formação de mofo,
estar expostas a inundações; se as a permitir a separação por áreas, e fácil de limpar.
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 112
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
§8º - As janelas e outras §13 - Os insumos, matérias- §3º - O gelo não deverá conter
aberturas deverão ser construídas primas e produtos terminados nenhuma substância que possa ser
de maneira a evitar o acúmulo deverão estar localizados perigosa para a saúde ou contaminar
de sujeira e as que se comunicam sobre estrados e afastados das o alimento, obedecendo ao padrão
com o exterior deverão ser paredes, para permitir a correta de água potável.
providas de telas ou similar, higienização do local.
com proteção antipragas; essas Art. 27 - Os estabelecimentos
proteções deverão ser de fácil §14 - O emprego de materiais deverão dispor de um sistema
limpeza e boa conservação. na estrutura física das instalações eficaz de eliminação de efluentes
que não possam ser higienizados ou e águas residuais que deverá
§9º - As portas deverão ser desinfetados adequadamente não ser mantido em bom estado de
de material impermeável e de será permitido. funcionamento; todos os tubos de
fácil limpeza. escoamento, incluído o sistema de
Art. 26 - As instalações esgoto, deverão ser tecnicamente
deverão dispor de abundante dimensionados para suportar
§10 - As escadas e estruturas
abastecimento de água potável, com cargas máximas e construídos de
auxiliares, como plataformas,
pressão adequada, temperatura modo a evitar a contaminação do
escadas de mão e rampas deverão
conveniente, adequado sistema de abastecimento de água potável.
estar localizadas e construídas de
distribuição e proteção eficiente
modo a não se constituírem em
contra contaminação. Parágrafo único - O soro
fontes de contaminação.
obtido da elaboração do
§1º - No caso de necessidade queijo poderá ser utilizado na
§11 - Nos locais de manipulação de armazenamento d’água, dever- alimentação animal e, quando
de alimentos, todas as estruturas se-á dispor ainda de instalações isso não for possível, tratado
e acessórios elevados deverão ser apropriadas e nas condições convenientemente antes de
instalados de maneira a evitar a indicadas anteriormente; é despejado na rede de esgoto, na
contaminação direta ou indireta imprescindível um controle forma preconizada pelos órgãos de
dos alimentos, da matéria-prima frequente da potabilidade da água, fiscalização ambiental.
e do material de embalagem por numa periodicidade a ser definida
gotejamento ou condensação. pelo IMA. Art. 28 - Deverão estar
disponíveis instalações adequadas e
§12 - As instalações sanitárias §2º - O IMA poderá admitir convenientemente localizadas para
do pessoal envolvido na fabricação variação das especificações lavagem e secagem das mãos.
do Queijo Minas Artesanal químicas e físico-químicas quando
deverão estar separadas dos locais a composição da água do local a §1º - Nos casos em que
de manipulação de alimentos e fizer necessário e desde que não se sejam manipuladas substâncias
não deverão ter acesso direto nem comprometa a sanidade do produto contaminadoras ou quando as
comunicação com esses locais. e a saúde pública. tarefas requeiram uma desinfecção
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 113
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
adicional à lavagem, deverão §1º - As fontes de luz artificial, o ingresso de pragas e evitar a
estar disponíveis, também, que estejam suspensas ou contaminação das matérias-primas,
mecanismos para desinfecção das colocadas diretamente no teto do alimento, da água potável, do
mãos, dispondo de água potável e que se localizem sobre a área equipamento e da queijaria ou vias
e de elementos adequados para de manipulação de alimentos, de acesso aos locais.
sua limpeza, tais como sabonete deverão ser do tipo adequado e
líquido, detergente e desinfetante. estar protegidas em caso de quebras §1º - O local de armazenamento
acidentais das lâmpadas. do lixo deverá estar distante da
§2º - Não será permitido usar queijaria e a coleta deverá ser feita
toalhas de tecido e, para uso das de §2º - A iluminação não poderá de forma a evitar proliferação de
papel, deverá haver um controle alterar as cores normais do ambiente insetos e roedores.
higiênico-sanitário, dispositivosde de fabricação do queijo.
distribuição e lixeiras, cuja §2º - No caso de devolução de
abertura seja por dispositivo §3º - As instalações elétricas produtos, deverão ser colocados em
acionado pelos pés. poderão ser embutidas ou externas setor separado até que se determine
e, neste caso, estar perfeitamente seu destino.
§3º - As instalações deverão revestidas por tubulações isolantes,
estar providas de tubulações presas às paredes e tetos, não sendo Art. 33 - Todos os utensílios
devidamente sifonadas, para permitida fiação elétrica solta sobre utilizados nos locais de manipulação
conduzir as águas residuais até o a zona de manipulação de alimento. que possam entrar em contato com os
local de desaguamento. alimentos deverão ser confeccionados
§4º - O IMA poderá de material que não transmita
Art. 29 - A queijaria deverá autorizar outra forma de substâncias tóxicas, odores e sabores;
dispor de instalações adequadas instalação ou modificação das não seja absorvente; anticorrosivo e
para a limpeza e desinfecção instalações aqui descritas. capaz de resistir a repetidas operações
dos utensílios e equipamentos de limpeza e desinfecção.
de trabalho, construídas com Art. 31 - O estabelecimento
materiais resistentes à corrosão, deverá dispor de ventilação adequada, §1º - As superfícies deverão
que possam ser limpas facilmente de forma a evitar o calor excessivo, ser não porosas, lisas e estar
e providas de meios convenientes a condensação de vapor e acúmulo isentas de rugosidade, frestas e
para abastecimento de água potável de poeira e a entrada de agentes outras imperfeições que possam
em quantidade suficiente. contaminadores e insetos. comprometer a higiene dos alimentos
ou ser fonte de contaminação.
Art. 30 - Os estabelecimentos Art. 32 - O estabelecimento
deverão ter iluminação natural ou deverá dispor de meios para §2º - É proibido o uso de madeira
artificial que possibilite a realização armazenamento de lixos e materiais e de outros materiais que não possam
dos trabalhos e não comprometa a não comestíveis antes da sua ser limpos e desinfetados e que sejam
higiene dos alimentos. eliminação, de modo a impedir passíveis de corrosão por contato.
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 114
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
§2º - Após a aplicação dos qualquer área de manipulação ou obrigatoriedade e a forma correta
praguicidas dever-se-á limpar operação com alimentos. de lavar as mãos e ser realizado
cuidadosamente os equipamentos controle adequado para garantir o
e utensílios contaminados, §1º - As pessoas que mantêm cumprimento deste requisito.
eliminando-se os resíduos. contato com alimentos deverão
submeter-se a exames médicos e §2º - É obrigatória a lavagem
§3º - Os praguicidas solventes laboratoriais antes do início de das mãos do manipulador
e outras substâncias tóxicas, que sua atividade e periodicamente, de queijo em água corrente,
representam risco para a saúde, sempre que houver indicação seguida de imersão em solução
deverão ser rotulados, com por razões clínicas ou desinfetante, recomendando-se o
epidemiológicas. uso de solução de iodóforo a 20-
informações sobre sua toxidade e
30 mg/l e secagem, antes de iniciar
emprego, armazenados em áreas
a fabricação.
externas à queijaria, separados §2º - É proibida a
em armários fechados com chave, manipulação de alimentos,
Art. 43 - Toda pessoa que
destinados exclusivamente a esse ou superfícies que entrem em
trabalhe em área de manipulação
fim; e só deverão ser distribuídos contato com eles, por qualquer
de alimentos deverá usar roupa
ou manipulados por pessoal pessoa que apresente feridas nas
protetora branca, botas brancas de
autorizado e capacitado. mãos e nos braços, mesmo com
cano alto e touca protetora laváveis,
uso de luvas protetoras, até que
exceto se descartáveis.
Capítulo VII - Da Higiene determinação médica ateste a
Pessoal e do Requisito Sanitário inexistência de risco. §1º - Durante a manipulação
de matérias-primas e alimentos
Art. 40 - O proprietário da Art. 42 - Toda pessoa deverão ser retirados todos os
queijaria artesanal deverá tomar que trabalhe numa área de objetos de adorno pessoal.
providências para que todas as manipulação de alimentos deverá,
pessoas que manipulem alimentos enquanto em serviço, lavar as §2º - É vedado o uso de barbas,
recebam instrução adequada sobre mãos com agente de limpeza bigodes, unhas grandes e esmaltes
matéria higiênico-sanitária e autorizado e água corrente e o depósito de roupas e objetos
pessoal, com o objetivo de evitar a potável antes do início dos pessoais na queijaria.
contaminação dos alimentos. trabalhos, imediatamente após
o uso das instalações sanitárias, §3º - É proibido todo ato que
Art. 41 - A suspeita de que o após a manipulação de material possa originar contaminação de
manipulador apresenta problema contaminado e todas as vezes que alimentos, como comer, fumar,
de saúde que possa resultar na se julgar necessário. cuspir, tossir ou práticas anti-
contaminação dos alimentos, ou higiênicas. Deverão ser observados
de que seja portador são, será §1º - Deverão ser colocados atos higiênicos por todos que
impeditiva de seu ingresso em avisos que indiquem a trabalharem no estábulo.
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 116
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
§4º - O emprego de luvas na fabricação, somente deverão ser cuidadosamente limpos com
manipulação de alimentos deverá utilizadas matérias-primas ou solução detergente, acompanhando
obedecer às perfeitas condições de insumos em boas condições. a orientação de uso do fabricante,
higiene e seu uso não eximirá o seguido de higienização
manipulador da obrigação de lavar §2º - As matérias-primas e os com solução desinfetante,
as mãos cuidadosamente. ingredientes armazenados nas áreas recomendando-se solução de
do estabelecimento deverão ser hipoclorito de sódio com 100 a
§5º - Os visitantes deverão mantidos em condições que evitem 200 mg/l de cloro livre, com trinta
cumprir as disposições de higiene sua deterioração, protejam contra a minutos de exposição.
recomendadas na presente norma. contaminação e reduzam os danos
ao mínimo possível. §3º - Todas as operações do
Art. 44 - A responsabilidade processo de elaboração, incluindo
do cumprimento dos Art. 46 - Deverão ser tomadas o acondicionamento, deverão
requisitos da higiene do medidas eficazes para evitar ser realizadas sem demoras
estabelecimento deve recair sobre a contaminação do material inúteis e em condições que
o proprietário da queijaria. alimentar, por contato direto excluam toda a possibilidade de
ou indireto com material contaminação, deterioração e
Capítulo VIII - Dos Requisitos contaminado, que se encontre nas proliferação de microrganismos
de Higiene na Produção fases iniciais de elaboração. patogênicos e deteriorantes.
9 - Carta-Compromisso do
Produtor. Reabre o prazo para o
Modelo fornecido pelo IMA. cadastramento de que trata o § 1º
do art. 3º da Lei nº 14.185, de 31
10 - Laudo Técnico Sanitário de janeiro de 2002, que dispõe
das Queijarias. sobre o processo de produção
Deve ser preenchido e do Queijo Minas Artesanal e dá
assinado por médico-veterinário, outras providências.
não necessariamente credenciado
pelo IMA. O POVO DE MINAS GERAIS,
por seus representantes, decretou
11 - Certificado de participação e eu, em seu nome, sanciono a
em curso de boas práticas para seguinte Lei:
fabricação de queijo, ministrado pela
Emater-MG. No certificado, deverá Art. 1º - Fica reaberto, por
constar o número de horas aula. trinta e seis meses contados da data
da publicação desta Lei, o prazo
12 - Planilha para rastreamento para o cadastramento do produtor
do Queijo Minas Artesanal. do Queijo Minas Artesanal no
Modelo a ser fornecido pelo Instituto Mineiro de Agropecuária
Escritório do IMA onde for feito o – IMA, estabelecido no § 1º do
cadastramento. art. 3º da Lei nº 14.185, de 31 de
janeiro de 2002.
de canaletas sem cantos vivos e de 2.3.2.4. Ter manjedouras de deve ser de telha comum,
2 m de largura, profundidade e fácil higienização, sem cantos amianto, alumínio ou similares.
inclinação suficientes, de modo a vivos, impermeabilizadas com 2.3.3. Local de ordenha
permitirem fácil escoamento das material adequado, possuindo 2.3.3.1. A ordenha deve
águas e de resíduos orgânicos. sistema de rápido escoamento ser executada no próprio
2.3.1.2. Os currais devem para as águas de limpeza. As estábulo (recomendando-se
estar devidamente cercados com manjedouras do tipo individual uma dependência de ordenha),
tubos de ferro galvanizado, devem dispor de sistema próprio em local ventilado, limpo e
correntes, réguas de madeira, para escoamento das águas; seco, distante de pocilgas,
ou outro material adequado, e 2.3.2.5. Possuir abastecimento galinheiros, esterqueiras e fossas
possuir mangueiras com água para de água de boa qualidade e realizada com todas as medidas
higienização, recomendando-se em volume suficiente para de higiene, constando, além
seu uso sob pressão. atender aos trabalhos diários de todas as especificações do
2.3.2. Estábulo: A queijaria de higienização dos animais, próprio estábulo, as seguintes
deve dispor de um estábulo com equipamentos e instalações. observações:
as seguintes especificações gerais: Todas as dependências do 2.3.3.2. Manipulação do leite
2.3.2.1. Ter sistema de estábulo devem possuir em espaço definido, contíguo
contenção de fácil limpeza e mangueiras com água, ao quarto de queijo, facilitando
higienização; preferentemente sob pressão; a passagem do leite através de
2.3.2.2. Ter piso impermeável, 2.3.2.6. Possuir rede de tubulação mencionada no item
revestido de cimento áspero ou esgoto para o escoamento de 2.3.4.11. Nesse local deve ser
outro material adequado, com águas servidas e dos resíduos realizado o transvase do leite do
declive, provido de canaletas orgânicos, canalizados a balde para os latões de leite. Deve,
sem cantos vivos e de largura, uma distância tal que não ainda, dispor de local dotado
profundidade e inclinação venham constituir-se em fonte de torneira com água corrente,
suficientes, de modo a permitirem produtora de mau cheiro. As proibindo-se o uso de água
fácil escoamento das águas e de áreas adjacentes devem ser “parada” para higienização;
resíduos orgânicos; drenadas e possuir escoamento 2.3.3.3. Se o estábulo for usado
2.3.2.3. Ser delimitado por para as águas pluviais; para ordenha manual, deve ser
tubos de ferro galvanizado, 2.3.2.7. Ter pé-direito respeitado um espaço compatível
correntes ou outro material adequado à execução dos entre os animais já contidos, para
adequado como substituto trabalhos. O madeiramento facilitar os trabalhos e viabilizar a
de muros e paredes, que, do telhado deve ser de bom higiene da ordenha.
quando existentes, devem ser acabamento e apresentar-se em 2.3.4. Quarto de queijo ou
impermeabilizados com material estado de limpeza compatível com local de fabricação
de fácil higienização até a altura o padrão de higiene e das boas 2.3.4.1. A queijaria deve
mínima de 1,20 m; práticas de produção. A cobertura dispor de um quarto de queijo
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 122
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
para fabricação de queijos ser previsto o uso de mola, para vidro, para guarda, repouso e
Minas típicos a serem maturados mantê-la sempre fechada; desinfecção do material leve
(Serro, Araxá ou Canastra), 2.3.4.10. As janelas e/ou (formas etc.) em soluções
recomendando-se que seja basculantes devem ser providos desinfetantes aprovadas pelos
separado do estábulo e com as de telas contra insetos. Não órgãos competentes;
seguintes especificações: devem ser instaladas janelas 2.3.5. Instalações sanitárias
2.3.4.2. Possuir local para no quarto de queijo, com 2.3.5.1. Completas (lavatório,
guarda e higiene dos utensílios e abertura para o estábulo; vaso sanitário e chuveiro),
equipamentos, sem contato direto 2.3.4.11. A passagem de leite dotadas de fossa séptica. O
com o piso; do estábulo para o quarto de acesso a essas instalações deve ser
2.3.4.3. Possuir dimensão queijo deve ser realizada através de indireto em relação ao estábulo e
física compatível com os trabalhos tubulação de material atóxico, de ao quarto de queijo.
a realizar, apresentando áreas de fácil higienização e não oxidável, 2.3.6. Boxes dos bezerros
iluminação e ventilação suficientes; que deve permanecer vedado 2.3.6.1. Quando existentes,
2.3.4.4. Possuir laje ou forro, quando fora de utilização; devem ser destinados apenas à
nesse último caso com vedação 2.3.4.12. Deve ser previsto contenção durante a ordenha.
adequada, resistente à umidade um gabinete sanitário para se O bezerreiro (criação) pode ser
e com facilidade para a sua ter acesso ao quarto de queijo, localizado em área contígua ao
higienização. Não se admite o uso constituído de lavatório para as estábulo, desde que isolado por
de forro de madeira; mãos e lava-botas; parede e com acesso indireto,
2.3.4.5. Piso impermeabilizado 2.3.4.13. O quarto de queijo observados os cuidados técnicos e
e com declive adequado; deve possuir tanque conjugado higiênico-sanitários compatíveis
2.3.4.6. Paredes a bancada fixa de louça, aço com a produção do leite.
impermeabilizadas revestidas até inoxidável, ou outro material 2.3.7. Instalações
altura não inferior a 2,00 m com impermeável de fácil higienização, complementares
azulejos, cerâmica ou similares; com torneira com água corrente, 2.3.7.1. Essas instalações, caso
2.3.4.7. As portas e janelas com a finalidade de higienização existentes, devem ficar afastadas
de madeira e/ou metálicas de material leve; do local de ordenha e fabrico de
devem ser pintadas com tintas 2.3.4.14. Deve possuir, queijo e a uma distância que não
impermeabilizantes para facilitar a também, uma bancada cause interferência na qualidade do
sua higienização; conjugada a tanque de alvenaria leite e/ou do queijo.
2.3.4.8. As portas do tipo ”vai impermeabilizado com azulejos, 2.3.7.2. Fica proibida a guarda
e vem”, quando existentes e desde aço inoxidável ou outro material de medicamentos, produtos
que vazadas, devem ser providas de impermeável, para lavagem de tóxicos (carrapaticidas, herbicidas
telas à prova de insetos; utensílios de maior porte; etc.), assim como sacos de ração
2.3.4.9. Em qualquer tipo 2.3.4.15. Deve possuir, ainda, para qualquer fim no interior
de porta a ser utilizada, deve tanque de plástico ou fibra de do quarto de queijo, sendo
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 123
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
que, para tal finalidade, deve 2.3.10.1. A natureza do material recomendações técnicas contidas
ser construída dependência empregado na fabricação do queijo em normas e regulamentos
separada do quarto de queijo. deve permitir fácil higienização sanitários em vigor.
2.3.8. Abastecimento de água (plástico, aço inoxidável, alumínio
2.3.8.1. A água utilizada ou outro adequado), não se 4. Higiene da produção
no quarto de queijo e no local admitindo o uso de madeira.
de ordenha deve ser clorada e Sob nenhum pretexto podem ser
respeitar as demais características 4.1. Manutenção das
utilizados objetos tais como latas de
de potabilidade. instalações e equipamentos do
óleo, cuias, cabaças etc.
2.3.9. Esgoto do quarto estábulo em condições higiênico-
2.3.10.2. Atenção especial
de queijo sanitárias adequadas.
deve ser dispensada ao perfeito
2.3.9.1. A rede de esgotos acabamento dos utensílios, 4.2. Os trabalhadores do
para o escoamento das águas exigindo-se que as suas superfícies estábulo devem apresentar
servidas do quarto de queijo sejam lisas e planas, sem cantos atestado de saúde, renovado
deve ser canalizada e destinada a vivos, frestas, juntas, poros e anualmente ou quando
sumidouro sanitário. soldas salientes. necessário.
2.3.9.2. O soro obtido 2.3.10.3. As bancas de 4.3. Uso obrigatório de roupas
do fabrico do queijo deve queijo devem ser construídas adequadas, gorro e botas de
ser destinado também a esse em estrutura metálica ou em borracha para todos os elementos
sumidouro, facultando- alvenaria revestida com azulejos que trabalham no estábulo. Para
se o seu uso na alimentação ou cerâmica impermeável. o ordenhador, recomenda-se o
animal, desde que transportado 2.3.10.4. A superfície das uso de avental plástico.
imediatamente em vasilhame bancas deve ser lisa e plana, sem 4.4. Divisão dos trabalhos
próprio para o seu destino cantos vivos, frestas e soldas no estábulo, de maneira que
ou armazenado em tanques salientes, recomendando-se, o ordenhador se restrinja a
próprios fechados e distantes, para o seu acabamento, o uso de sua função, cabendo a outros
para evitar que se transformem aço inoxidável, ou aplicação de as operações de contenção
em fontes de mau cheiro. revestimento plástico, fibra de dos animais, lavagem e
2.3.9.3. Não deve ser vidro, pedra ardósia, granito ou higienização do úbere.
utilizada canalização direta para porcelanato impermeável. 4.5. Manutenção rigorosa
o transporte do soro destinado da limpeza do local de ordenha
à alimentação animal, pelas 3. Sanidade do rebanho antes, durante e após a
dificuldades de limpeza e permanência dos animais.
possibilidade de proliferação de 3.1. A sanidade do gado 4.6. Antes de iniciar-se a
insetos e roedores. leiteiro deve ser atestada por ordenha, os animais devem ter as
2.3.10. Utensílios e médico-veterinário, que, para tetas lavadas com água corrente
equipamentos tal, deve adotar rigorosamente as em abundância, seguindo-se
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 124
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
sua secagem preferentemente 4.10. Uso de balde de abertura ter leite aproveitado após exames
com papel toalha descartável lateral, sem costuras ou soldas que e liberação procedidos por
ou com panos específicos para dificultem sua limpeza médico-veterinário.
essa finalidade, umedecidos e higienização. 4.14. A utilização, para
em solução desinfetante e 4.11. Descarte dos primeiros consumo humano, de leite
torcidos. Os panos devem ser jatos de cada teta sobre um proveniente de vacas que foram
sistematicamente lavados e em recipiente adequado de fundo submetidas a tratamento com
seguida imersos por no mínimo escuro, para eliminar o leite antibióticos ou quimioterápicos
30 (trinta) minutos em solução mais contaminado e controlar de uso autorizado pela legislação
desinfetante, que deve ser renovada o aparecimento de mamite. As fica condicionada a liberação
após cada período de ordenha. vacas com mamite devem ser pelo técnico responsável pela
4.7. Os animais devem ser ordenhadas por último e seu queijaria, quando médico-
submetidos à desinfecção das tetas leite não pode ser destinado ao veterinário, que, para isso, deve
com solução de iodóforo a 20- consumo humano. observar as recomendações e
30 mg/l ou outro desinfetante 4.12. É obrigatório o exame precauções de uso do produto
de atividade igual ou superior e clínico dos animais por médico- constantes da rotulagem,
que não apresente risco de dano à veterinário, não se permitindo o de modo a assegurar que os
integridade das tetas e de acordo aproveitamento do leite de níveis de resíduos estejam
com indicação técnica idônea, fêmeas que: dentro dos limites máximos
após a sua ordenha. 4.12.1. Não se apresentem de resíduos (LRM) admissíveis
4.8. Somente nos casos de clinicamente sãs e em bom estado estabelecidos por organismos
elevada prevalência de mamite de nutrição; científicos reconhecidos
causada por microrganismos do 4.12.2. Estejam no período internacionalmente. O
ambiente, e através de adequada final de gestação ou em fase mesmo procedimento deve ser
orientação técnica de médico- colostral; observado quando da utilização
veterinário, pode ser indicada a 4.12.3. Sejam reagentes de antiparasitários ou outro
desinfecção das tetas dos animais positivas às provas de brucelose e qualquer produto passível de
pelo menos 30 (trinta) minutos tuberculose; eliminação pelo leite.
antes da ordenha, desde que 4.12.4. Sejam suspeitas ou 4.15. Qualquer alteração no
através de técnica e de emprego de acometidas de outras doenças estado de saúde dos animais,
desinfetantes adequados. infectocontagiosas. capaz de modificar a qualidade
4.9. É obrigatória a lavagem 4.12.5. Se apresentem febris, sanitária do leite, constatada
das mãos do ordenhador, em água com mamite clínica, diarreia, durante ou após a ordenha, deve
corrente, seguida de imersão em corrimento vaginal ou qualquer implicar condenação imediata
solução de iodóforo 20-30 mg/l, outra manifestação patológica. desse leite e do conjunto a ele
ou outro desinfetante, ao longo 4.13. Os animais afastados da misturado. As fêmeas em tais
do período de ordenha. produção somente podem voltar a condições devem ser afastadas do
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 125
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
PRIMEIRA SA LG A.
F AZEND A ENG ENHO DA SERRA.
SERRO – MG .
F OTO : CRISTINA LEME, 2006.
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 128
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
Casa- se de da Fa z e nda E ng e nh o
da Se rra . S e rro – M G.
FOTO: I z a be l C h u m binh o, 2 004.
Anexo 5
Lista de Siglas
Anexo 6
parecer do
relator
C oage m do l e it e e m c oa d o r
de pl á s t ic o e t e c ido. Fa zen d a
E ng e nh o da S e rra . S e rr o – MG .
Fot o: I z a be l C h u m binh o , 2 0 0 4 .
equipe de pesquisadores liderada de altitude, e abrigam nascentes Produzido a partir do leite cru,
pelo professor José Newton Coelho de rios, como o São Francisco, do coalho e do pingo, segundo
Meneses, que instrui os autos do Jequitinhonha e Paranaíba, tradição secular trazida pelos
processo que me coube examinar. em Minas Gerais. portugueses, o Queijo Artesanal
“Modos de fazer tradicionais Estas características, por sua vez, de Minas Gerais tem sua fatura
sinalizam ao homem moderno envolvendo altitude, tipo de solo, atestada por documentos que
sentimentos de orgulho pelos forragens naturais, garantem as datam do início do século XVIII.
saberes construídos em seu passado”. especificidades deste tipo de “Queijo Um deles, datado de 1772, reflete
O Queijo Artesanal de Minas, Artesanal de Minas Gerais”. a preocupação do Conde de
objeto deste parecer, representa uma O desenvolvimento da pecuária Valadares com a possibilidade do
tradição persistente e em dinâmica na região mineradora e a produção uso dos queijos para transporte
transformação que tem relação do queijo artesanal associam-se à ilegal de ouro e diamante, exigindo,
estreita com Portugal, especialmente chegada dos portugueses a Minas portanto, que fossem furados pelos
com a região da Serra da Estrela. Gerais e à descoberta do ouro e agentes da coroa quando passassem
Esta serra, região central de das pedras. Ao se embrenharem pelos postos de fiscalização.
Portugal, apresenta significativa pelos grotões mineiros à cata das Os queijos eram vendidos por
similaridade de características pepitas reluzentes, os colonizadores tropeiros e o transporte exigia
geográficas, clima, relevo e não só abriram frestas e rasgos um produto bem “curado”, que
vegetação com as Serras da em nossa geografia como também não desmanchasse ao longo da
Canastra, Salitre e Espinhaço. inseriram novos hábitos, costumes viagem. A fatura do queijo artesanal
O homem das gerais, como e modos de ser. Assim se molda a prosperou e chegou ao século XIX
o da Serra da Estrela, precisou cultura de um povo, no confronto atestada também por documentos
adaptar-se ao micro-clima bastante direto com o ambiente e os agentes e relatos de viajantes europeus.
peculiar dessas regiões que estão a transformadores. Assim é a história Percebe-se aqui um processo
aproximadamente 1.200 metros da cultura do queijo em Minas. de continuidade histórica.
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 132
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
M aturaçã o do Qu e ij o.
Se rra da Cana s t ra /M e de iros – M G.
FOTO: R odol f o C ru z , 2 006 .
Em torno do Queijo Artesanal belíssimas cozinhas mineiras com seu comportamento ao longo dos
de Minas Gerais se desenvolveram seu mobiliário rústico e seu rico séculos e seu papel na formação
hábitos, costumes, manifestações inventário de cheiros e sabores. da sociedade contemporânea.
culturais e relações sócio- Tradição que está no hábito da Por tudo isso, sou favorável ao
econômicas. E uma insuperável arte prosa sem pressa ao redor da mesa, registro do modo artesanal de fazer
do “saber fazer” do homem simples com o queijo no prato, circulando queijo de Minas nas regiões do
do interior, uma das melhores entre os comensais junto com Serro, da Serra da Canastra e da
expressões da alma mineira. o bule de café. Serra do Salitre / Alto Paranaíba,
Por mais que se avance na Esse precioso legado tem imenso como Patrimônio Imaterial
modernidade e que se aprimorem valor na diversidade cultural Brasileiro, nos termos do decreto
a tecnologia e os equipamentos, brasileira, com uma identidade 3.551/2000, e posterior inscrição
o modo artesanal de fazer o consolidada que se fortalecerá no Livro de Registro dos Saberes.
queijo será sempre uma forte com o reconhecimento do
referência da melhor tradição Instituto do Patrimônio Histórico Belo Horizonte, 15
mineira. Tradição secular que e Artístico Nacional - IPHAN. de maio de 2008.
está no cotidiano do trabalhador Sob o manto dessa proteção,
das fazendas, aquele que adentra ampliam-se as possibilidades Angela Gutierrez
os currais nas madrugadas frias de pesquisa dos rituais, modos Conselheira do Conselho
para da ordenha extrair o precioso e tradições que gravitam em Consultivo do IPHAN
líquido que outras mãos irão torno deste que é um dos mais
transformar. Tradição que está originais e saborosos produtos
no gestual próprio dos queijeiros, de Minas Gerais. O estudo
homens ou mulheres, e nos aprofundado desses temas é capaz
utensílios de grande plasticidade de iluminar muitos dos elementos
que evocam também o cenário das constitutivos da nação brasileira,
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 136
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
Anexo 7
certidão de
registro
dossiê iphan 11 { Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas } 137
Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre / Alto Paranaíba
M aturaçã o do Qu e ij o e m
e sta nt e . S e rra da Cana s t ra /
M e d e iros – M G.
FOTO: R odol f o C ru z , 2 006 .
na Publicação (CIP)
I SBN : 9 7 8 - 8 5 - 7 3 3 4 - 2 4 4 - 4
CDD 637.3