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9 - ALINHAMENTO HORIZONTAL E VERTICAL


Autor: PROF. DR. JOSÉ LEOMAR FERNANDES JR (Notas de Aulas – EESC/USP)

9.1 – INTRODUÇÃO

As curvas horizontais e verticais são elementos de projeto praticamente permanentes ao


longo do tempo e que requerem, portanto, estudos prévios minuciosos. É extremamente
difícil e cara a correção de deficiências de projeto geométrico após a construção da rodovia,
em razão de interferências de obras de arte e construções executadas às suas margens e do
elevado valor de desapropriações. Durante as análises de projeto devem ser considerados
não somente o custo inicial mas também os custos ao longo da vida em serviço da rodovia,
representados por atrasos e acidentes. As curvas horizontais e verticais não devem ser
projetadas de forma independente. Elas são complementares e, portanto, uma má
combinação pode ofuscar os pontos positivos e ressaltar os aspectos negativos de cada
projeto. Qualidade do projeto individual das curvas horizontais e verticais e da sua
combinação aumenta a segurança, favorece o tráfego a velocidade uniforme e melhora a
aparência (percepção por parte do usuário), quase sempre sem custos adicionais.

9.2 - ELEMENTOS DE CONTROLE

A harmonização das curvas horizontais com as curvas verticais favorece as principais


características que uma rodovia deve proporcionar aos usuários: economia, segurança e
conforto. A velocidade de projeto é considerada desde a escolha do traçado, mas à medida
em que o detalhamento do projeto geométrico avança sua importância também aumenta,
pois atua como ponto de equilíbrio dos elementos de projeto. A velocidade de projeto
determina os valores limites de muitos elementos, tais como a curvatura (ou raio mínimo) e
a distância de visibilidade, e também afeta muitos outros, como a largura das faixas e a
rampa máxima. Uma boa combinação das curvas horizontais com as verticais pode ser
conseguida seguindo-se as considerações gerais:

a) equilíbrio dos raios das curvas horizontais com as rampas: retas ou curvas com grandes
raios e rampas excessivas ou longos trechos em rampa, assim como curvas com raios
pequenos e rampas suaves não representam boa decisão de projeto. Um projeto que
oferece maior segurança, maior capacidade, uniformidade de operação e aparência
agradável fica entre os dois extremos apresentados;
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b) curva horizontal com pequeno raio deve ser evitada no topo ou perto do topo de uma
curva vertical, pois o motorista é incapaz de perceber a mudança no trajeto,
especialmente à noite, quando as luzes dos faróis seguem em linha reta. O perigo deste
tipo de arranjo pode ser evitado se a curva horizontal for mais longa do que a curva
vertical ou utilizando-se valores para os parâmetros mais importantes bem acima dos
mínimos requeridos pela velocidade de projeto;

c) curva horizontal com pequeno raio não deve ser introduzida perto de ponto baixo de
uma curva vertical com rampas acentuadas. Ocorre percepção distorcida da curva
horizontal que, associada à elevada velocidade dos veículos, particularmente dos
caminhões, pode resultar em erros e acidentes, particularmente à noite;

d) em rodovias com pista simples, em virtude da necessidade de pontos de ultrapassagem


em número e freqüência suficientes, podem ser necessários longos trechos em
tangente, ainda que com o comprometimento da harmonia entre curvas horizontais e
verticais;

e) em rodovias com pistas duplas, variação da largura do canteiro central e o uso de perfis
e traçados independentes resultam em vantagens operacionais;

f) traçado não deve fugir de belas vistas, naturais ou criadas pelo homem, como rios,
formações rochosas, parques e grandes obras de engenharia.

9.3 - COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE PLANTA E PERFIL

A harmonização do traçado em planta com o perfil deve começar nas etapas preliminares do
projeto, com base principalmente em análises gráficas, não sendo necessário o cálculo de
muitos elementos. Os elementos de controle, função da velocidade de projeto, tais como
raio mínimo para as curvas horizontais, rampa máxima, distância de visibilidade e
superlargura, devem ser verificados graficamente.

Podem ser consideradas diferentes velocidades de projeto caso ocorram mudanças


significativas nas características que governam o projeto geométrico, como topografia,
geotecnia e ocupação e uso do solo. Mas todas essas decisões devem ser tomadas antes
dos cálculos e da elaboração das plantas para o projeto executivo.

A compatibilização das curvas horizontais e verticais pode ser feita, por um engenheiro
experiente, apenas com base nos estudos preliminares de traçado e perfil. Podem ser
utilizados métodos complementares, tais como modelos físicos (maquetes) ou perspectivas
de trechos onde os efeitos de certas combinações de curvas horizontais com curvas
verticais são duvidosos.
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Para ajudar profissionais com pouca experiência em projeto geométrico de rodovias,


apresentam-se a seguir alguns exemplos do que se deve e do que não se deve fazer:

A. Trechos em Tangente: pequenas depressões localizadas em rampas longas, resultantes


de excesso de cuidado para equilibrar os volumes de corte e aterro, devem ser evitadas.

Trecho em Tangente
Planta
preferido

Perfil

B. Trechos em Curva: lombadas curtas devem ser evitadas.

Planta

preferido

Perfil

C. Visualização à Distância de Lombadas: possível quando não há obstáculo lateralmente à


estrada.

Linha de Visibilidade Planta

Preferido
Perfil

D. Tangente Curta entre Curvas Horizontais, no Topo de uma Curva Vertical Convexa:
dificulta a percepção da segunda curva.

Planta

Perfil
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E. Curva Horizontal Começando no Ponto Baixo de Curva Vertical Côncava com Longas
Rampas: cria aparência de curva circular com raio mínimo.

Planta

Perfil

F. Efeito Deslocado: o início da curva horizontal é escondido por uma curva vertical
convexa, enquanto a continuação da curva é visível para o motorista.

Perspectiva
Planta

Linha de Visão
Perfil

G. Coincidência das Curvas Horizontais e Verticais: resulta em boa aparência.

Planta

Perfil

H. Oposição das Curvas Horizontais e Verticais: resulta em boa aparência.

Planta

Perfil

I. Curvas com Grande Raio: desejáveis particularmente quando o ângulo central é


pequeno.

J. Coincidência dos Vértices das Curvas Horizontais e Verticais: cria um efeito de curvas em
"S" tri-dimensionais
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K. Coincidência dos Vértices, mas com uma Curva Horizontal a Menos: o efeito da tangente
é suavizado pela curva vertical intermediária.

Planta
Topo
Perfil
ou
Baixada Perfil

L. Fraca Coordenação entre Curvas Horizontais e Verticais: quando os vértices coincidem


com os pontos de inflexão, a superelevação ocorre em rampas e os pontos de máximo e
mínimo ocorrem em seções em tangente.

M. Balanceamento do Traçado em Planta: devem ser evitadas longas tangentes seguidas


por curvas curtas.

Tangente Longa
Curvas Curtas

N. Exemplo de Boa Compatibilização entre Curvas Verticais e Verticais.

Planta
Visibilidade

Visibilidade Perfil

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