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Dor psfqui<.

11, dor corporal:"""' dbordagimt ,mtltidiJc1j,li11ar


O 2011 Vktorfo R(gfna Béj:.1r (oeg.tní,,.1.dora)
1 • ediç!o dlt,t•I 2018
EJilora Edga.rd 8Jüch�r Ltda,

DOR PSÍQUICA, lmag<'-m da capa: Ciro Mar<:io Béj;ir Barbooa (i.n mffltóriam)

DOR CORPORAL
Uma abordagem multidisciplinar

Da<k» lnt<-rrw,donais.dC' C..ta)ogaçiCI

Organizadora Blucher l'l:.J Pu\)}iaç5o{CIP)


Ansffica lbcqoa GJt.B-8nos,

Ru:.1 J\!drúM> Al\';1rt.ng;i., IM$, .Vondiu­ Dor psiquica,. dor rorpol'.\lJ: '"™ 3botdagcm
Victoria Regina Béjar O,JS3l·93<1 -Slo Pa.ulo-SP-B,aul n.111llldiMipli1laJ flivro eldfônl<o / orgat1lU1,;âo
T('L: SS 11 )()78-$366 dt Vlc1ori.1 RtglM B';jar.- Sào P.wlo � Bluchtt.
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34 DOR, Ff$1CA Vf.RSUS OOR l•SiQtllC,\

1. Dor física versus dor psíquica 1 trata de uma quantidade de excitações impossível de lidar) que não
é possívcd ligar. Essa e.xperiênc.ia deixaria uma inscrição .sénSOrial
primária. u.ma marca traumática ou trawnatogêoica,scm tradução
Elsa Rappoport de Aisemberg
psJquka Estamos no campo do traUJna pl'ecoce, pré-psiquico, do
trauma perdido, segundo Roussillon (1991), o qual, diferentemen­
te do trauma sexual estruturante que organiza fantasias cdipica.s,
pennanece e,n estado de latência ou congeJamento e pode ser a
origem das patologias não neurótic..s. entre as quais as somatoses,
quando wn fato atual o coloca cm movimento.

Temos também que ioduir outro destino da vivência da dor:


refiro-me ao masoqu.ismo guardião da vida, descrito por Benno
Rosenberg (1991), como o investimento erótico da experiência da
dor que origina uma esp&:ic de tecido psiquico para a sobrevivên­
Neste trabalho, construir conjecturas a respeito do surgimento cia ntental.
de um fenômeno sornático devido ao ,leficit de rcprtscntaçào e de
simbolização da dor. Dessa maneira, vo1lc a pena recordar que é a repetição da ex­
periência dolorosa que conduziu Freud á mudança de 1920) em
Jnkiahnente, serão tecidas algumas considerações sobre a dor Além fÚ> principio do prazer. Em 1923. em O ego e o id, descreveu a
fisica e a dor psíquica e o trabalho será concluído com vinhetas dor corno uma experiência que, teria um destino estruturante, ilO
clínicas que ilu.�trnm minhas ideias. assinalar que, na base da pen:epção da.� sensações e enfermidades
corporois dolorosas, chega-se à representação do próprio corpo.
A <lor, física remete ao co,·po biológico, à sensotialidade, embo­
ra seja também inevitável pensar na reação mental tão particular Em t 926, em lnibiÇ'io, sintoma e fmgUS.tia, o criador da psica­
de cada pessoa diante dessa experiência. devido à sua série com­ nálise retoma ao tema da dor em sua dimensão psiquic.a Trata-se
plementar. A clor psiquiQ. pot sua ve-4 remete-nos às ideias freu­ de uma quantidade de dor que transborda o aparelho psíquico na
dianas do Projeto para ""'ª
psicologia cientifica (1895 /l977a) so­ situação de desamparo, na falta do objeto que o protcjiL No aden­
bre a vivência da dor. vivênda que dará lugar a defesas primitivas. do, parte r, do texto citado, Freud nos l'elernhra que sucessivas ex­
desinvestimento, cisão e facilitação de descarga. uma vez que se periências de satisfação vão construindo o objeto, que, por sua vez,
protege do desamparo e da angústia automática. Por isso, advém o
temor de sua perda.
Tr�balhCl apr�tt13dO oo palneJ de mesnw cll\llo dur�ote-0 O•ogres..� huen\3.­
cional de Psican.llisc da Assoei.ação lmcrn.1donal de- Pskan.'llise (JPA - lntcr�
11.aLlonal Psf<:ht1analy1ic.1I Asso<:iacion), Pr,1g.-i, 20t3,
OOk PS ÍQtJICA, OOR CORPORAL 3S 36 noll FÍSICA VF.RSVS l)l)lt 1•siQVICA

André Green (2003), seguindo Freud, enfatiza as diferenças Luto e desamparo


entre a dor pela perda do objeto e a angústia gerada pelo desampa­
ro que essa perda produz. O desamparo an,al pefa perda do objeto produz uma regressão
a situações equivalentes ou que evocam o desamparo original.

Dor física e dor psíquica Se a perda do objeto é a perda de uma parte de si mesmc� por
tratar•sc de uin objeto que contribuiu com a cstruluroção do su­
n importante assinalar que, quando lidamos com pessoas com jeito, devido à imporcância do processo do luco, o rnesmo adqui­
traumas ou Jutos importantes, observamos que co.."itumam coexis• re neste contexto dimensão traumática, já que produz excesso de
tir, CJn diferentes graus. tanto a dor psíquica quanto a dor corporal. quantidade de emo,;ões não ligadas, de<:orrentcs da descruição ou
dependendo das singularidades. Conforme opinião da autora, a da perda de parte das representações do objeto que estrucuravam
dor corporal é coerente com a ideia da origem corporal das ex• o psiquismo. Isso conduzirá a estado equivalente ao desamparo
citações endossomãticas, que, em seguida, podem ser ttaduzidas inicial, não somente a dor pela perda do objeto, mas também a
no aparelho psíquico eomo pulsões. São derivadas da percepção angústia pela perda da proteção que se obti11ha ou que se supunha
intero e exteroceptiva da relação com o objeto. obter na presença do objeto.

Ao nos recordarmos do modelo de apa.relho psíquico que Isso envolve a necessidade de um outro, de um semelhante que
Freud desenhou cm 1933, na Conferêncin 31, onde :,ssinala que o de fato sustente. como ocorreu nos primórdios. A meu ver, o pro•
id está aberto ao soma e que é proporcionalmente mais importante cesso do luto progride quando a representação do objeto pode se
e maior que o ego e que, portanto, deveríamos modificar mental• reinstalar, analogamente, ao mecar1ismo original da construção do
mente.seu c;Squema original Se forem anesccntadas a isso as ideias objeto, com Jcmbranças positivas do objeto perdido ou ause.nte e,
que enuncia em Moisés, em J 939, quando descreve que além do além disso, com a representação de novos objetos que, em parte,
inconsciente reprimido há um in . consciente propriamente dito ou suprern o mesmo papel
genuino <Jue jamais foi consciente:. torna•se. cnlão, possível pensar
que essas marcas stnsorinis que nunca tiveram tradução psiqui•
ca encontram.se no inconsciente propriamente dito ou genuíno.
Sobre a psicanálise contemporânea
Assim, a partir de uma situação dolorosa ou lraumática atual. tais
marcas serão investidas, o que torna incvitávd, entre outros, a di·
Gostaria de recordar aqui algumas formulações minhas a res­
mensão flsica da dor no luto.
peito da construção do psiquismo (Aisemberg, l 994; Aisemberg
ll importaote se referir aqui a outros desti11os, já que é pos­ et ai., 2000, 2001, 2003, 2004, 2005, 2007, 20118, 2010, 2013). Uma
sivd fazer, além do curto·circuito ao .soma, também ao ato ou à delas é sobr� a existência de dois inconscientes. como assinalei
alucinação. anteriormente: um inconsciente repriinjdo e um inconsciente
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propriamente dito ou genuíno. O primeiro corresponde ao fun. A seguir, essas ideias serão ilustradas com material clinico.
cionamento psiconeu.rótico. que deriva da experiência de satisfa•
çâo e seus twatarcs, enquanto o segw1do deriva da viví·ncia de;- dor.
Trata-se, neste último caso. do funcionamento oão neurótico. Inês

Quando as em°'.ões dolorosas invadem o psiquismo em 11104 luês ê uma paciente que tinha aproximadamente 35 anos de
mentos especiais, como é o caso de luto e;-/ou trauma, é gerada uma idadt! quando me pr'OCllrou para consulta. Apresentava ataques de
quantidade excedente de excitações que 1 ra11sborda e costuma pro 4

p�nico, :1ngúslia generalizada e hipocondria. Seu médico gineco­


duzir, como me.acionei antes, curtos-circuitos ao soma, ao ato ou logista recomendou que me procurasse. A princípio, optamos por
à alucinação. produto dos investimentos das marcas sensoriais pri 4

um tratamento face a face du;.lS vezes por semana. porque foi o que
milivas, não investidas, não 1ra11sfotm.:ida.sem es1tutun1 psiquica. aceitou, foi o enquadre posslvcl.
Essas expressões do funcionamento não neurótico, que coe­
xistem com o funcionamento psiconeurótico) podem ser objeto Imediatamente, emergiu a causa atual de sua angústia: a morte
da psicanáUse contemporânea, m:is exigem o trabalho da contra­ de um de seu..� filhos, Pedro; era o terceiro menino, tinha 6 anos de
transferência e a proposta de hipóteses com o objetivo de tentor idade. Faleceu de um cánçer linfático depois de uma longa batalha
construir representações, dar sentido ao que ainda não tem> ofere 4
para salvá•lo.
cer ligações e produzir tecido psiquico onde falta. lnês era casada, tinha outros dois filhos mais velhos e, logo após
Como foi assinalado pela <lutora crn trabalhos anteriores, vale a morte de Pedro, teve outro filho do sexo masculino. Vh•fa com
a pena relembrar que o objetivo na clinica é a instalação da tram;. medo de que ela mesma ou algum de seus filhos viessem a morrer
ferência) o funcionamento dessa regra fundamental que permite a de câncer.
busca ou o desenvolvimento dos derivados do lnconscicntc.
Apesnr de pequena e não muito alta, pesava somente 38 quilos
Minha experiência com pacientes com predomínio de 1."Stru4 e se alimentava ma1 oa época da consulta. Er1ca111ü1hei•a a uma
turas não neuróticas que iniciam uma psicoterapia psicanalítka médica clínica para tratar da anorexi�
me ensinou que deve haver certa flexibilidade ou criatividade no
enquadre. sem deixar de levar em conta a matriz aliva - dcnomi 4
Alêm disso, somatizava. Desenvolveu cistos benignos suce-ssi•
nação criada por André Green (2()()3), ao se referir ao enquadre vos nos ovário, mama e tireoide. Submetia•se a estudos explorató•
interno ou ao pensamento analítico do psicanalista. Dessa manei 4
rios que culminavam em tratamentos médicos exitosos.
r�1, muitas vezes torna-se possivcl a instalação da transforência e
o desenvolvimento de urn tratamento analítico mais dã..,;:sit:01 de Enquanto isso, temia que o filho caçula, nascido após o fale·
onde emergem transfer<lncia, sonhos, Édipo, sexualidade infantil cirnento de Pedro. desenvolvesse a mesma enfermidade do irmão.
e o rdato de uma violência que não csl'á suprimida. como ooorria Ern dado momento. er11,rou ern um quase delírio CO!l'1partilhl-ldO
quando se encontrava no soma. com a pediatra, que con6nnava essa hipótese. Aceitou minha
lJOk YS(QUICA, OOR t�ORf>OkAL 39 410 OOR FiSICA VF.RStJS DOR PSiQIJICA

sugestão de procurar outro profissional e) por sorte, isso a ajudou a Dormia melhor. sonhava, iniciou atividades sublimatórias
se desfazer dessa certeza. como estudos universitários, entre outras. Vohou a ter prazer por
seu corpo: passou a vestir-se de forma atraente, a fazer aulas de
Inês não conseguia aceitar a morte de seu filho Pedro. Em dança, as.�im como a ter pl'ater nas viagens com a familia.
todos os filhos. mas especialmente no caçu.Ja) via o objeto doen­
te moribundo, o objeto morto-vivo, como dizia Willy Baranger Enquanto isso, ainda se preocupava - entre o que era real e
(1961-62/1969, 20-04). Levava para sessão, a meu pedido, fotos hipocondríaco - com seus filhos e seus pais. Esses últimos lhe ge•
da criança internada para a quimioterapia na clínica oncológica. ravam co1npl'eensível a11siedc\de. já que também ndoeceram com
Pôde chorar e, ao conversar cornigo a respeito disso, iniciar o luto. câncer.
que estava detido em um presente traumático. Bastante magra,
Inês era a viva presença de Pedro. Identíficava .. se com o filho en• Ao longo do tratam<."nto, lnês desenvolveu uma tri.lnsfcrênda
fermo e, assim, o mantinha vivo, não podia enterrá-lo. Sab<:rnos positiva e idealizada, mas havia um limite nessa relação objetal.
que o luto pela morte de um filho é o mais difícil de ser processa­ Como profissional, cu era um objeto que a acalmava e a protegia e
do para urna mulher. que a ajudava a processar sofrimentos. As resistências ao trntamcn­
to surgiram quando iniciamos o tema sexualidade, tanto a atual
Esse trabalho de lut<>, que ocorreu ao longo de vários anos. le­ com seu marido, quanlo a scx:ualidadc.! infanlil ern relação a seus
vou a uma melhoria em seu estado clínico: ela começou a se ali­ pais, que, apesar de separados, ainda compartilhavam os eventos
mentar de maneira satisfatória e chegou a 40, 42 quilos. embora familiartts) ou a relação com a mãe, correta, porém fria t> distante.
sempre manti\'esse o mínimo. Após sete anos de trabaUio, pouco a pouto Inês abandonou o tra­
tamento, mas de vez em quando marcava consulta comigo e rne
Ao mergulhar em seu histórico familiar, descobri que lnês era visitava, suponho que para mantermos contato, o que, a meu ver,
ti terceira filha de qua1ro irmãos e que. por coincidência. sua avó
envolve uma dimensão mágica de nosso vínculo.
materna também teve quatro filhos. Sua mãe era a segunda; a ter­
ceira e a quarta morreram em decorrência de doenças infecciosas
na infância.
Algumas reflexões
Fii conjecturas a respeito disso. Formulei que havia sido criada
por uma mãe que temia que morresse, como havia acontecido com A meu ver, esse 1in'litc da sexualidade é semelhante ao que en­
suas irmãs. Com isso. Inês reconheceu que tinha medo da morte contra.mos em somáticos graves, como em superadaptados. Em­
desde que era pequena. bora tenham um lodipo ern seu interior, esses pacientes têm um
defici1 do prazer erótico com o corpo e com o objeto, que re,ne­
A partir dessa etapa, houve melhora no nível de ansiedades te à relação precoce, quando se constrói a sexualidade e o pra1.er,
hipocondríacas e em seu estado fisico e, dessa forma, Inês chegou apoiado na experiência de satisfaçlo com o objeto d;1 necessidade.
.i pesar entre 43 e 45 quilos graças no acompanhamento médico.
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,,
A partir da clínica. esses pacientes têm um ''leito de rocha ou Assinalei a dissociação entre seu discurso e suas dores corpo�
uma "cicatriz" difkil de modificar e constituem. sem dúvida. um rois quase diárias. Como esse quadro não se modificava depois de
desalio para futuras explorações analíticas. vários meses, com base cm minhas preocupações contratransfo­
rendais, fiz uma intervenção "selvagent: prognostiquei-lhe o risco
de uma doença grave no corpo se não se conscientizasse de sua
Uma peculiarpatologia do luto dor psíquica.

O que emetgju, eu passaut, como se não tivesse importância, se


Con'I base nesse título) referiwme) em 1994, aos casos clínicos
referiu a um Rrande nódulo em uma das mamas havia dois anos.
nos quais a tramitação som�lica do luto dominava a cena. Trata-se
de pacientes com grandes ,lefii'its de processamento das emoções, Para continuar o tratamento., sugeri que Joana marcasse uma
especialmente da dor. Geralmente, remetem a uma identificação consulta com um mastologista. Ern um câncer de mama. Passou
corn pais que não conseguem processar lutos. O conceito de te• por uma cirurgin e recebeu tratamento com cobalto, utiliudo na
lescopagem d<' Haydee l'aimbcrg (2005) trata disso. Urn exemplo época. Além disso, propus·lhe um tratamento psicanalitico. divã
paradigmático desse funcionamento foi o caso de Joana, q□e de.-... três vezes por semana, que ela seguiu por cinco anos. Depois da
creverci a seguir. alta médica. ta.mbém se deu alta da análise.
No decorrer da cura, enfrentou seus lutos nilo process.1dos
Joana pela doença e morte do pai e devido às dificuldades de sua infân•
eia Hgadas a carências maternas. Sua mãe era uma mulher infantil,
Joana era uma mulher de 34 a1'IOS de idade, divorciada, mãe de deprimida e pouoo continente, que invertia os papéis com ela. Seu
uma filha e. ela mesma) filha única.. Era psicóloga, porém tinha sé· pai fora imigrante sem história e, mediante telescopagem. recons ..
rios problemas oo exercido da profissão e dificuldade para manter truímos os lutos não processados por ele. Joana viajou ao país de
um parceiro estável. origem do pai para recuperar o histórico familiar, urna história
muito dolorosa e violenta da qual o pai havia fugido e tratado de
Não desejava 111i1iZ<lr'O divã mas fazei' 1era1>ia foce a face. como apagar da memória.
a que realizava em sua cUnica. Com isso. inichlmos as cnrrevistas
Essa cl�identificação permiliu que as emoções, como a dor psí­
de acordo com sua demanda.
quica e a violência. não ficas,,;em suprimida.�, mas que circulassem
Joana rclt1lava fatos rnuilo dolorosos de$ua "ida com um sorri• e pudessem ser elaboradas, o que deu lugar o mudança psíquica.
so no rosto: contmHne da doença e da deterioração física e mental A mcm \'Cr, os lraumas e os lutos atuais rcs.sig.nificaram os traumas
do pai, de sua morte em circunstâncias muito sofrid,,s, além de primitivos tran.,mitido.s inconscientemente pelo pai. Na pô��aná­
seus problemas com o parceiro e de seus mal•estares físicos cada Jise. dei anos depois, Joana escreveu um livro de grande impacto
vez mais intensos, dolorosos e diferentes. estético e emocional. no qual descreveu toda e-.s.sa experiência.
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Para concluir Aisemberg, E. R. de et ai. (2007). Repetíción, transferencia y


somatosis. Revista de Psiroa11rllisis, LXIV, 2.
Na psicanálise conteniporâllea, não somente temos de desco­
Aisemberg, E. R. de et al. (2008). Toe shadow of herilage
brir as representações reprimidas e os afetos sufocados do conflito
in contemporary psycho<1nalysis. êuropea11 Psycl,oanalytical
edfpico. mas também temos de nos ocupar da dimensão não neuró•
Federation Bulletin, 62, 93-103.
tica que implica. às vezes. corno 110s casos descritos, criar no campo
analítico. wn espaço interno�e.xterno que dê lugar à transformação Aisembcrg, E. R. de et ai. (2010). Psychosomatic conditions
da dor ílsica em dor psíquica para que adquira simbolização. in contemporary psychoanalysis. ln M. Aisenstein, & E. R. de
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