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RESENHA CRÍTICA

VIANA D’ÁVILA, Ana Luiza; PACÍFICO SILVA, Hudson; SCHEFFER, Mário. Economia
e Saúde: as interações entre produção de mercadorias e de conhecimento e saúde. São Paulo:
USP, 2011.

Os autores Hudson Pacífico, economista e mestre em Economia Social, Ana Luiza


d’Ávila, professora e doutora do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP, e Mário
Scheffer, comunicador social e doutorando também pelo Departamento de Medicina Preventiva
da FMUSP, buscam, por meio do artigo em questão, chamar a atenção para a área da Economia
da Saúde (ECOS) e as abordagens que envolvem a sua análise. Como bem esclarecido no texto,
trata-se de um ramo no qual relaciona-se a capacidade da ciência econômica de minimizar os
custos e otimizar os fatores produtivos com as atividades do setor da saúde pública, a fim de
pensar em melhores aplicações dos recursos disponíveis para incrementar não apenas o estado
de saúde coletivo e individual, como também o desenvolvimento econômico da nação.

O artigo apresenta uma breve introdução que proporciona ao leitor uma fácil
compreensão acerca dos princípios, objetivos e entraves da disciplina “Economia e Saúde”. Em
seguida, dá sequência a uma análise explicativa do campo de especialização da Economia da
Saúde, ao longo do primeiro item do texto, e da Saúde como direito e mercadoria, além da sua
influência no crescimento econômico, no segundo item.

Em relação ao primeiro item do texto, há uma preocupação, por parte dos autores, em
tornar claro o mecanismo de cada um dos elementos econômicos que compõem o mercado na
área da saúde. De forma bastante didática e ilustrativa, aborda-se, no primeiro subitem, o artigo
pioneiro do economista Kenneth Arrow para sustentar a ideia de que a pauta da oferta e
demanda do mercado de saúde se difere dos demais mercados tradicionais. Em outros setores
da economia, a oferta e a demanda variam de acordo com determinados fatores (como preço e
quantidade) para prever e alcançar um ponto de equilíbrio. Contudo, pensando no mercado de
atenção à saúde, percebe-se que essas taxas apresentam diferenças significativas, tendo em vista
que a demanda individual por serviços de saúde baseia-se em situações de enfermo e é, portanto,
imprevisível. O mesmo ocorre com a taxa de oferta do setor, pois a função do médico iguala a
atividade de produção e venda do serviço. Outro fator incomum do mercado em questão,
levantado pelos autores, é a ausência de mobilidade da força de trabalho – tornando evidente a
distância desse mercado dos demais puramente competitivos.

No segundo subitem da primeira parte, os autores tratam do funcionamento do mercado


de saúde e da regulação, presente na teoria econômica, necessária para impedir as falhas
frequentes entre os principais agentes que atuam nesse mercado. São abordados inúmeros
problemas que justificam a importância da atuação do Estado nesse mecanismo para assegurar
à população um adequado funcionamento da assistência médica. Dentre eles, menciona-se a
seleção de risco e a seleção adversa entre os usuários e as operadoras de planos de saúde. Essas
falhas provocam, no geral, um aumento dos custos das operadoras e das mensalidades cobradas
prejudicial para o pleno andamento do mercado.

Já no próximo subitem, é discutida a macroeconomia da saúde na qual analisa-se todas


as questões econômicas globais que afetam os sistemas de saúde no seu conjunto, sendo essas
o PIB, a inflação, dentre outras. Acerca desses sistemas mencionados, os autores definem, no
quarto subitem, as três formas distintas de acesso aos serviços em pauta: pelo sistema nacional
de saúde, pelo sistema baseado em um modelo de seguro social e pelo sistema de saúde privado.
É possível haver um misto destes, como é o caso brasileiro. A maneira pela qual é feita o
financiamento dos serviços depende de qual mecanismo está sendo adotado. Porém,
normalmente, o fluxo de capital nesse setor é feito, de forma resumida, a partir dos impostos e
mensalidades pagos ao Governo e operadoras de planos de saúde, e do pagamento em forma de
remuneração para os prestadores de serviços.

Os autores finalizam a primeira sessão do texto com a importância das avaliações


econômicas na otimização da função utilidade e dos recursos das atividades do mundo médico
para evitar que seja necessário alocar mais capital no âmbito da saúde em detrimento de outras
áreas da sociedade. Nesse sentido, as avaliações no setor devem ser feitas a partir de uma análise
comparativa entre diversas alternativas de ação em termos de custos e benefícios.

Dentro da segunda parte do artigo, é feita uma abordagem da disciplina “Economia e


Saúde” pautada em uma visão mais integrada entre o social, o político e o econômico. A
princípio, propõe-se uma percepção da saúde não apenas como um direito de cidadania, como
também uma mercadoria que influencia diretamente no desenvolvimento econômico. É
apontado, pelos autores, três dimensões socioeconômicas associadas à política de saúde: a
dimensão da saúde como proteção social e componente do sistema de bem-estar geral, a
dimensão industrial inserida no complexo mercado de saúde e a dimensão política que viabiliza
e mobiliza os recursos dessas instituições. Nessa área, são classificados como movimentações
marcantes do início do século XX, no subitem seguinte, a desmercantilização do acesso à saúde
pela concepção desta última como uma responsabilidade coletiva e a mercantilização da oferta
dos serviços devido a ampliação das relações capitalistas. Esses eventos asseguraram a
universalização do acesso à área por meio de sistemas nacionais financiados pelos impostos
públicos e, em sentido oposto, a expansão da lógica de mercadoria no que diz respeito à
assistência médica sustentada pela consequente consolidação do financiamento próprio do setor
privado.

Como resultado da acumulação de capital decorrente dos eventos anteriormente


mencionados, destaca-se, no terceiro subitem da segunda parte, a formação de um complexo
industrial da saúde e a sua importância para fomentar a autonomia do país com relação à
produção dos bens de cunho médico. Para retratar isso, é levantado, pelos autores, um estudo
feito do Núcleo de Economia Industrial da UNICAMP, no qual considera as indústrias de
biotecnologia, de mecânica e os setores prestadores de serviços como os três grupos
fundamentais que compõem essas atividades produtivas na saúde.

E, finalmente, no último subitem dessa sessão, manifesta-se a demasiada relevância da


atuação efetiva de um conjunto de políticas sociais na área da educação, saúde e previdência,
com o intuito de assegurar uma maior integração do setor com o tão desejado desenvolvimento
nacional. A fim de corroborar essa tese, é enunciada uma das visões abordadas pelo Amartya
Sen, ganhador do prêmio Nobel de Economia, acerca da combinação essencial entre as
liberdades individuais, o desenvolvimento e a igualdade social para possibilitar melhores
condições de vida à população e uma sociedade mais democrática.

De forma geral, o texto resenhado aborda uma temática extremamente importante por
tratar de duas áreas primordiais da vida humana (a economia e a saúde) que, juntas, podem
promover uma melhor qualidade de vida para nação. Além disso, o artigo possui uma leitura
dinâmica e fácil por utilizar termos econômicos de forma bem detalhada e explicada, os quais
permitem que um leigo no assunto compreenda perfeitamente cada raciocínio levantado.
Embora aparente ser de maior interesse para economistas ou profissionais da área de saúde bem
informados economicamente, o trabalho acadêmico em pauta pode ser de grande valia para
qualquer um que deseje conhecer mais sobre o papel e a necessidade da aplicação desse ramo
nas instituições brasileiras.

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