Você está na página 1de 4

Literatura Portuguesa do Século XIX

Características do Romantismo
Os primeiros anos do Romantismo português coincidem com as lutas civis entre
liberais e conservadores/absolutistas. A renúncia de D. Pedro ao trono brasileiro e a
sua luta pelo trono de Portugal ao lado dos liberais, veio intensificar esses conflitos. O
romantismo português participa das caraterísticas do romantismo europeu.
O culto do diferente explica a literatura confessional, em que o “eu” liricamente se
exibe na singularidade dos sentimentos e da imaginação, como explica ainda o
nacionalismo estético, a valorização do que distingue uma cultura regional de todas as
outras, logo o apreço do tradicional e do popular.

O romantismo determina o gosto de evocar a Idade Média - algo distante no tempo,


época da livre expansão dos impulsos, com o prestígio do ideal cavalheiresco -, e o
gosto pelo exótico. O espiritualismo cristão é também algo dominante, focando-se na
metafisica do pecado, da penitencia e do resgate, da mistura com o fatalismo
enraizado na mente popular e na literatura. Na temática da poesia e da ficção, a par do
amor platónico, aspiração à mulher anjo, abundam os sentimentos fortes e
carregados.

O romantismo constitui, por outro lado, uma tomada de consciência, a conquista de


um senso histórico e de um senso critico novo aplicado aos fenómenos da cultura. A
literatura vai trazer uma forte ligação entre ficção e história. Os textos românticos são,
acima de tudo, doutrinários e não apenas uma forma de passatempo para os
burgueses.

O romantismo português foi chefiado por patriotas como Garrett e Herculano que
interpretavam a literatura como tarefa cívica e meio de ação pedagógica. Esses autores
patriotas, confiantes nas virtudes da liberdade, propunham contribuir decisivamente
para um renascimento da pátria e para um espírito iluminístico de racionalização da
ordem social e difusão de conhecimentos uteis para a sociedade. Na literatura, as
principais características do romantismo são:

 Oposição ao modelo clássico;


 Estrutura do texto em prosa, longo;
 Desenvolvimento de um núcleo central;
 Narrativa ampla refletindo uma sequência de tempo;
 O indivíduo passa a ser o centro das atenções;
 Surgimento de um público consumidor;
 Uso de versos livres e versos brancos;
 Exaltação do nacionalismo, da natureza e da pátria;
 Idealização da sociedade, do amor e da mulher;
 Criação de um herói nacional;
 Sentimentalismo e supervalorização das emoções pessoais;
 Subjetivismo e egocentrismo;
 Saudades da infância;
 Fuga da realidade.
Literatura Portuguesa do Século XIX

Entre as marcas principais do Romantismo estão o sentimentalismo, a supervalorização


das emoções pessoais, o subjetivismo e o egocentrismo/individualismo. É dessa maneira
que os poetas se colocavam como o centro do universo.
 Culto do eu: num tempo marcado por revoluções constantes, quer a nível político
quer a nível económico, torna-se compreensível eu uma das caraterísticas mais
importantes do Romantismo seja a recusa do racionalismo e da harmonia. O
individuo centra-se nas suas sensações subjetivas, deixa que os sentimentos o
dominem e procura paisagens dramáticas em consonância com o seu estado de
espírito instável. O herói romântico experimenta assim uma insatisfação inexplicável.
 Exaltação da liberdade: o romantismo exprimiu na arte o desejo de liberdade social e
política enquanto na prática se envolvia nas lutas políticas e sociais da sua época.
Várias figuras nacionais e estrangeiras combateram, na arte e na vida, pela liberdade
dos povos.
Os românticos pregam o nacionalismo, incentivam a exaltação da natureza pátria, o
retorno ao passado histórico e na criação do herói nacional. Na literatura europeia, os
heróis nacionais são belos e valentes cavaleiros medievais.
A natureza também é exaltada no Romantismo. Esta é vista como uma extensão da
pátria ou refúgio à vida agitada dos centros urbanos do século XIX. A exaltação à
natureza ganha contornos de prolongamento do escritor e do seu estado emocional.
No início, todos os movimentos em oposição ao clássico eram considerados
românticos. Dessa maneira, os modelos da Antiguidade Clássica foram substituídos
pelos da Idade Média quando surgiu a burguesia.
A arte, que antes era de caráter nobre e erudita, passa a valorizar o folclórico e o
nacional. Extrapola as barreiras impostas pela Corte e começa a ganhar a atenção do
povo. A arte romântica, ao romper as muralhas da Corte e ao ganhar as ruas, liberta-se
das exigências dos nobres que pagavam a sua produção e passa a ter um público
anónimo. É o surgimento do público consumidor.
Na prosa, o aspeto formal do Classicismo é deixado de lado. O mesmo ocorre com a
poesia, com os versos livres, sem métrica e sem estrofe. A poesia também é
caracterizada pelo verso branco, sem rima.
A representação dos heróis vai também ser mudada, se o herói clássico tinha que ser
nobre e corajoso, o herói romântico mantém estas caraterísticas, mas passa a ser um
herói palpável e não fictício. Os românticos querem heróis que existam e com os quais
os leitores se possam identificar e seguir o seu exemplo/modelo, em vez de um herói
que é um semideus e imaginável.
O importante da literatura no romantismo é que esta deleite, distraia. Dê praze4r e
que passe uma mensagem útil ao leitor e à sociedade.
Literatura Portuguesa do Século XIX

Papel de Almeida Garrett no Romantismo português


O Romantismo, em Portugal, teve como alicerce a publicação do poema “Camões”, da
autoria de Almeida Garrett, em 1825, numa situação de exílio, em Inglaterra,
provocada pelos conflitos resultantes da Revolução Francesa e pelos princípios liberais
que Garrett defendia. Então, devido ao clima político muito conturbado, este
movimento estético teve um maior relevo após 1836, altura em que o combate entre
liberais e absolutistas se desvanece.
Como consequência do triunfo liberal, a classe burguesa instaurou-se com maior poder
em Portugal, acontecimento que promoveu o romantismo, pois a burguesia opunha-se
à aristocracia. Como a fidalguia era própria da cultura clássica a burguesia tornou-se o
público do romantismo. Garrett, através destas circunstâncias, parece ter
compreendido a necessidade de existir um novo género de relações entre o escritor
romântico e o novo público, isto é, os espectadores do escritor passam a ser o povo e
burguesia, e a sua obra a maneira de chegar até este.
De acordo com Garrett, o novo público desejava assuntos sentimentais e assuntos que
focassem a recuperação de tradições e de divagações nacionais, que haviam sido
postos de lado pela cultura clássica, ou seja, temas que compunham a fisionomia do
romantismo. Segundo Garrett, a função do escritor é comunicar ao povo o valor dos
ideais e a verdade objetiva, através das sua obras e com a ajuda de temas substanciais,
patrióticos e emotivos, assim se caracterizava o movimento romântico.
Quando estava exilado em Paris (1825), publica o poema Camões, Almeida Garrett
demonstra toda sua capacidade inovadora diante da arte. Adota uma postura
romântica no prefácio, mas dilui-a no restante texto, ao eleger como herói um Camões
dividido entre dois amores: o que sente pela mulher, que lhe é recusada, e o que
dedica à pátria. Garrett serve-se do herói lusitano para defender, durante o exílio, os
ideais liberais que almejava ver instaurados em Portugal. Com Camões, Garrett
ergueria um símbolo nacional, exaltando o sentimento patriótico. Nesta obra, o autor
disserta sobre a necessidade de a nação recuperar o seu símbolo para se afirmar
A escrita de Camões não seria a única tentativa de Garrett exaltar o sentimento
nacional na sua literatura. Anos mais tarde, publicou o Romanceiro, que significava
uma nova valorização do nacional, sendo o que faltava para que Portugal tivesse uma
literatura nacional. No prefácio desta obra, cujo primeiro volume foi publicado em
1843, o autor afirma que, para se ser nacional, é necessário ser-se romântico e
popular, afirmando ainda que pretende suprir uma grande falta na literatura
portuguesa com o trabalho que apresenta na coleção. Tenciona criar um “livro
popular” e “popularizar o estudo da nossa literatura primitiva”. Por esse motivo,
Garrett cumpre, neste livro, um papel pioneiro, tendo anotado, corrigido e
colecionado os romances populares, cumprindo o seu intento de reunir os
documentos necessários para criar a história da poesia popular portuguesa. A ideia do
Romanceiro era a valorização da literatura portuguesa oral e tradicional.
Literatura Portuguesa do Século XIX

Almeida Garrett renovou o teatro português, tendo como testemunha a obra


dramática “Frei Luís de Sousa”. A obra é um exemplo do patriotismo característico do
romantismo. Esse patriotismo significa sacrificar-se, como faz Manuel de Sousa
Coutinho ao incendiar o seu palácio para que este não seja invadido pelos espanhóis. A
obra surge como um exemplo moral para os cidadãos portugueses e é um exemplo
máximo de tragédia.
A obra Adozinda é introduzida como obra pioneira do romance oral e do projeto
romanceiro, que valoriza a lírica oral. O título da obra vem destacar uma personagem
principal, algo que é novidade para a época em que a obra é publicada. Garrett ao
tocar na importância da tradição da oralidade, como é o caso desta obra, vai mostrar
uma cultura bastante diferente daquela que era preservada pelas classes mais altas.,
notando-se a introdução de cânones que até então tinham sido proibidos. Nesta obra
o conceito religioso não foge à dimensão trágica.
Almeida Garrett refere em Viagens na Minha Terra o patriotismo do romantismo
visível no título da obra, são viagens dentro da nação do autor. Estas viagens para além
de serem físicas, vão ser também viagens mentais e espirituais. Não é só uma viagem à
descoberta do “outro”, mas é também uma viagem à descoberta do próprio “eu”.
Garrett utiliza o efeito da realidade utilizando marcas como a passagem por locais que
realmente existem e fazem parte da sua nação. A viagem entre Lisboa e Santarém vai
mostrar a mensagem útil que o autor quer passar, na medida em que vai descrever a
situação em que Portugal se encontra. A Personagem de Carlos é o protótipo do
romântico uma vez que é “um moderno que sofre de duplicidade amorosa e acaba por
se emburguesar, passando de alma sensível a barão”.
Através da sua literatura Garrett usou o passado para legitimar a nação, criando um
registo da sua literatura e, portanto, da sua cultura. Ao mesmo tempo, deu um
primeiro passo para que o mito da pátria deixasse de ser um herói dos romanos ou
uma figura divina dos gregos, sendo-o, pelo contrário, o poeta d'Os Lusíadas,
permitindo ao Romantismo dar a sua lição de nacionalismo em Portugal.
Colecionando e retocando a literatura popular portuguesa, o autor forjava uma
tradição literária ao mesmo tempo que erigia princípios nacionalistas. Esses princípios
seriam, aliás, das ideias mais identificadoras do sentimento romântico.
Garrett compreendeu luminosamente o movimento romântico como expressão de um
novo tipo de relações entre o escritor e o publico. A literatura de outrora destinava-se
aos salões, a literatura do romantismo destinava-se ao povo, ou seja, às grandes
massas. Foi através da publicação de jornais de caris patriótico e literário, da
renovação do teatro em Portugal e da publicação de inúmeros romances que Garrett
mobilizou o desenvolvimento do romantismo em Portugal.

Você também pode gostar