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O FINGIMENTO ARTISTICO

Na perspetiva pessoana, o poeta é um fingidor, no sentido em que o ato de


escrever não é um ato direto e imediato.
A dor, as emoções que são descritas no poema não foram sentidas pelo poeta no
momento em questão, foram conceções intelectuais feitas através da análise da
situação vivida. Ou seja, a poesia resulta da memória, da recordação e da sua
reprodução racional, coerente e inteligente. Por isso, Fernando Pessoa afirma que
o poeta finge todos os sentimentos que transpõe para o papel porque, no
momento em que escreve, ele já não está a sentir o que sentiu no instante a que
se refere na poesia.
É possível, então distinguir 3 dores: a dor sentida pelo poeta no momento em que
acontece algo, a dor fingida pelo poeta quando se recorda do momento em que
sofreu a dor sentida e a reproduz como texto, e a dor lida pelo leitor quando
analisa o poema e interioriza as palavras do poeta.
É importante frisar que «fingimento» se utiliza num sentido de representar, é uma
tentativa de transfigurar o que se sente naquilo que se escreve, utilizando
paralelamente a imaginação e a intelectualidade. Fingir é inventar, criando
conceitos que exprimam as emoções o melhor possível.
Ao poeta cabe-lhe «sentir com a imaginação», ou seja, transformar a vivência real
numa obra de arte, usufruindo da imaginação e do pensamento. As emoções são
despersonalizadas e a sinceridade espontânea dá lugar à sinceridade intelectual.
No âmbito desta temática foram analisados dois poemas "Autopsicografia" e
"Isto".
No primeiro poema, o sujeito poético fala da teoria do fingimento poético, pois
um poema não traduz aquilo que o poeta sente no momento da escrita, mas sim
aquilo que o poeta imagina a partir da recordação do que anteriormente sentiu. O
poeta é, assim, um fingidor que escreve uma emoção fingida, pensada, por isso
fruto da razão, da imaginação e não da emoção sentida pelo coração (considerando-
o até um fator de distração).
Os leitores não sentem nem a dor/emoção vivida realmente pelo poeta, nem a
dor/emoção por ele fingida no poema, sentido apenas uma terceira dor/emoção,
ou seja, que na sua inteligência é provocado pelo poema. Assim, a poesia, segundo
Fernando Pessoa, é a intelectualização da emoção.
O MODERNISMO
O "Modernismo" trata-se de um movimento artístico em que a literatura surge
associada às artes plásticas sendo por elas influenciada, empreendido pela geração
de Fernando Pessoa,
Este movimento surge no início do século XX, a traduzir a inquietude de uma época
em crise e com grande agitação social. O movimento, em Portugal, surgiu com
uma poesia alucinada, provocadora, irritante, com o intuito maior de
desestabilizar a ordem política, social e económica reinante na época.
O ponto alto de início desse movimento deu-se, em 1915, com a publicação da
revista Orpheu (um dos meios de difusão do modernismo). Contudo, apenas
saíram dois números, sendo o seu objetivo irritar o burguês da época e
escandalizar.
A DOR DE PENSAR
Fernando Pessoa vive em constante conflito interior. Tendo consciência de que é
um homem racional demais, ele deseja arduamente pensar menos, ser mais
inconsciente, aproveitar a vida sem questionar. Mas, como na realidade tem uma
necessidade permanente de se questionar, de pensar, de intelectualizar toda e
qualquer situação, ele sente-se frustrado.
Pessoa inveja o gato porque o gato é feliz na sua ingenuidade, respondendo
simplesmente a instintos. Pessoa inveja uma ceifeira simples porque ela canta só
porque lhe apetece, alegremente.
Como nunca conseguirá ter estas reações de abstração para com o pensamento, o
que ele deseja é ser inconsciente tendo consciência disso, no entanto, uma vez que
é inconcebível conciliar esta dicotomia e de fruir instintivamente a vida, a dor de
pensar é maior.
SONHO E REALIDADE
"Não sei se é sonho, se realidade,”
O sujeito poético neste poema, numa primeira fase procurou colocar a hipótese
de poder alcançar a felicidade através do sonho, numa segunda fase mostra o
desalento provocado pela consciência da impossibilidade de alcançar a felicidade
no sonho. Finalmente conclui que não é no sonho que se alcança a felicidade, mas
sim no íntimo de cada um.
“Ali” – mostra a distância que o eu lírico tem de si próprio
A NOSTALGIA DE INFÂNCIA
Em que consiste a nostalgia da infância na poesia ortónima?
O sujeito refugia-se inúmeras vezes numa infância mítica, símbolo da inocência,
de uma idade em que ainda não pensa e que lhe permite experienciar a felicidade
inicial.

Por que razão o sujeito se refugia na infância?


O sujeito refugia-se na infância para experimentar a felicidade da inocência que a
inconsciência possibilita. A infância surge como um paraíso perdido que contrasta
com a infelicidade vivida no presente pelo sujeito.

Os poemas em que surge uma reflexão sobre a nostalgia da infância são realidade
ou ficção?
Quando lemos um poema ou qualquer outra obra, entramos sempre num universo
mais ou menos ficcionado. Não se pode esquecer que, aquando da apresentação
do seu fazer poético, o sujeito referiu que o “poeta é um fingidor”.

A infância evocada pelo poeta apresenta traços autobiográficos?


A infância evocada pelo poeta nos seus poemas é ficcionada, não apresentando
traços de caráter biográfico. A infância na poesia pessoana é um símbolo fruto,
mais uma vez, da intelectualização do poeta. Assim, a infância é um símbolo de
inocência, de pureza, de sonho, de uma felicidade longínqua.

Em que poemas encontramos uma reflexão sobre a infância perdida?


Nos poemas “Quando as crianças brincam” e “Olha-me rindo uma criança”
encontramos uma reflexão que denota a nostalgia da infância

Para atenuar a dor de pensar, Pessoa revive a infância, utilizando o fingimento


artístico. No entanto, Fernando Pessoa não fala da infância dele, fala da infância
em geral, como sinónimo de felicidade, calma, tranquilidade. A criança deixa-lhe
saudades e ele sente-se cada vez mais longe dela, mais velho. No fim, quando
regressa do devaneio, choca com o presente e ainda se sente pior, com a dor mais
agravada pela saudade.
Quando as crianças brincam
E eu as oiço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar.

E toda aquela infância


Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,


E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no me coração.

O poema fala da infância. O sujeito poético remete-nos para a alegria que rodeia
as crianças durante as suas constantes brincadeiras. Ele próprio, ao observar
tamanha simplicidade e magia, se deixa invadir por sentimentos agradáveis
“Qualquer coisa em minha alma/Começa a se alegrar”.
No entanto, esta alegria que o sujeito lírico sente, fá-lo lembrar-se da sua própria
infância que, por ter sido tão apagada de alegrias e brincadeiras, passa por nunca
ter existido, algo que ele frisa bem: “E toda aquela infância/ que não tive...”
Com nostalgia, o eu poético termina afirmando que já que ele não sabe bem o que
chamar à sua infância pobre em afeto, se não se reconhece no próprio passado,
nem sabe quem virá a ser no futuro – tudo o que ele pode fazer é imaginar –,
então, resta-lhe sentir a alegria e a felicidade que lhe invadem o coração quando,
no presente, observa as crianças contentes.
Quando era criança
Vivi, sem saber,
Só para hoje ter
Aquela lembrança.

E hoje sinto
Aquilo que fui.
Minha vida flui,
Feita do que minto.

Mas nesta prisão,


Livro único, leio
O sorriso alheio
De quem fui então.

O poema aborda o tema da nostalgia da infância. O sujeito poético, na infância,


não tinha, como qualquer outra criança, consciência da realidade – “Vivi, sem
saber,”. No entanto, agora tem-na. E mesmo que teime em relembrar esses
tempos, ele sabe que nunca irão regressar, ele agora pensa. Por isso, é “Só para
hoje ter/ Aquela lembrança.”
É visível que o eu poético sabe que apenas agora, que pensa, consegue perceber
e sentir o que foi e o que viveu na infância: “E hoje sinto/ Aquilo que fui”. Mas, no
entanto, a vida dele, neste presente, passa-se numa mentira “Minha vida
flui,/Feita do que minto.” Ele não mente, efetivamente, mas acha que não está a
viver realmente, o que acaba por tornar a sua vida numa constante dúvida e
conflito existencial.
Por fim, ele conclui simplesmente… Como não pode fugir da vida que tem, da
mentira que supostamente vive (“Mas nesta prisão”), então restam-lhe
unicamente as memórias dos tempos que já passaram (“Livro único, leio”) e que,
apesar de felizes, já não lhe pertencem porque ele já não é assim (“O sorriso
alheio/De quem fui então”).
ABDICAÇÃO

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços Abdicação" é um poema que aborda o tema
E chama-me teu filho… Eu sou um rei a noite e a solidão. Aqui, a noite é simbólica
Que voluntariamente abandonei de um estado de solidão que Pessoa bem
O meu trono de sonhos e cansaços. conhecia – era a sua realidade quotidiana.
Tão triste e simultaneamente calmo é o
Minha espada, pesada a braços lassos,
poema... isto porque a tristeza que Pessoa
Em mãos viris e calmas entreguei;
sente, é uma tristeza de abandono, de
E meu ceptro e coroa, — eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços. quem deixa de resistir: eis o porquê do
título do poema “abdicação”. Quem abdica,
Minha cota de malha, tão inútil fá-lo por desistir voluntariamente e
Minhas esporas, de um tinir tão fútil, conscientemente, não por ser forçado.
Deixei-as pela fria escadaria. Pessoa abdica da vida para que a noite
(morte) o aceite – para ser plenamente
Despi a realeza, corpo e alma, nada na noite (morte), já que foi nada no dia
E regressei à noite antiga e calma (vida). Pelo menos, que seja plenamente
Como a paisagem ao morrer do dia. nada.
O poema está todo envolto num desejo do poeta: “morrer”. Esta ideia revela-se na apóstrofe
inicial “Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços / E chama-me teu filho…” e na seleção de
vocábulos e expressões de conotação negativa, como “abandonei” (os seus “sonhos e
cansaços”), “pedaços” (os seus pertences destruídos), “fria escadaria” (sentimento de frio que
provém da pedra das escadas, que simboliza, por sua vez, o mesmo frio e a mesma pedra das
lápides tumulares, dos cemitérios), “noite” (momento das 24 horas que simboliza a escuridão
e a morte) e “morrer”.

Pessoa decide metaforizar a sua vida na de um rei (“Eu sou um rei”) de histórias e aventuras
populares, caraterizada pelos objetos cuja representação vocabular pertence ao campo lexical
da realeza – “espada”, “cetro”, “coroa”, “cota de malha”, “esporas” – e que ele abandonou
por querer despedir-se da vida.

É possível dividir o poema em três partes lógicas: a primeira, correspondente ao primeiro


verso e a metade do segundo da primeira quadra (“Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
/ E chama-me teu filho…”), na qual ele pede a sua morte; a segunda, que abrange os restantes
versos da primeira estrofe e os da 2.ª e 3.ª, em que o poeta apresenta o abandono dos seus
sonhos, cansaços e tudo o que de terreno lhe pertencia; e a terceira parte, que inclui a última
estrofe, na qual ele exprime a síntese de todas as suas atitudes de abandono, com a sequência
textual totalizante “Despi toda a realeza” de exterior e de interior (“corpo e alma”) e com a
comparação tal “Como a paisagem ao morrer do dia”, “regressei à noite antiga e calma” (antes
de ser rei, antes de viver, antes de nascer).

O vocábulo “realeza” é um nome abstrato que, além de significar um estatuto de vida visível
e superior, comporta todos os objetos atrás citados ou, metaforicamente, todos os objetos
que o tornavam “real” (vivo).
LIBERDADE

(Falta uma citação de Séneca) No poema, o sujeito poético faz a apologia


Ai que prazer da liberdade e da inutilidade da leitura e do
Não cumprir um dever, estudo, recorrendo a diversos exemplos
Ter um livro para ler para ilustrar a sua ideia. Assim sendo, alega
E não o fazer! que a natureza mantém os seus próprios
Ler é maçada, ciclos, independentemente da literatura, do
Estudar é nada. estudo e do pensamento humano.
O sol doira
Sem literatura. Defende, também, que os livros são apenas
papéis pintados com tinta e que estudar
O rio corre, bem ou mal, não permitirá a compreensão de todas as
Sem edição original. questões. Por esse motivo, afirma que, de
E a brisa, essa, tão inútil ser o estudo, mais vale esperar por
De tão naturalmente matinal, D. Sebastião, mesmo que o rei jamais
Como tem tempo não tem pressa... regresse.

Livros são papéis pintados com tinta. Também as crianças, que são inocentes e
Estudar é uma coisa em que está indistinta não pensam, mas são o melhor do mundo,
A distinção entre nada e coisa nenhuma. se sobrepõem a qualquer arte, virtude ou
técnica, que exigem esforço, estudo,
Quanto é melhor, quanto há bruma, concentração.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não! Finalmente, a maior prova da inutilidade do
Grande é a poesia, a bondade e as saber é Jesus Cristo, que, mesmo sem
danças... leitura e sem ciência, se tornou uma figura
Mas o melhor do mundo são as crianças, de referência pela sua sabedoria, fundando
Flores, música, o luar, e o sol, que peca uma religião.
Só quando, em vez de criar, seca.
Fernando Pessoa ortónimo valoriza o
O mais do que isto pensamento e a razão, o que não invalida
É Jesus Cristo, que, devido ao vício de pensar que o
Que não sabia nada de finanças impede de sentir simplesmente, se sinta
Nem consta que tivesse biblioteca... dominado pela dor de pensar.

Neste sentido, o poema “Liberdade”


exprime a profunda lucidez do poeta que,
ironicamente, analisa o estudo e o esforço,
relativizando-os, numa tentativa de
racionalização.
ENTRE O SONO E O SONHO

Entre o sono e o sonho, O poema trata do tema: a incapacidade prática


Entre mim e o que em mim de atingir na vida real o que se imagina poderá
É o quem eu me suponho, ser a vida ideal.
Corre um rio sem fim. Passa neste poema a ideia de fragmentação e
de divisão. São estes dois fortes alicerces, a
Passou por outras margens, fonte da angústia do poeta quando analisa a
Diversas mais além, sua própria vida. Se por um lado a sua
Naquelas várias viagens personalidade é marcada por um forte
Que todo o rio tem. idealismo, um forte "sonhar", ela é também
dominada por uma fraca capacidade de
Chegou onde hoje habito concretizar esse sonhar em realidade. Ou, por
A casa que hoje sou. outro lado, é o "sonhar" demasiado intenso
Passa, se eu me medito; sequer para poder ser concretizado - é
Se desperto, passou. demasiado inalcançável.

E quem me sinto e morre A fragmentação, por outro lado, "a casa que
No que me liga a mim hoje sou", é um prédio solitário com
Dorme onde o rio corre — demasiadas divisões, onde habita a alma de um
Esse rio sem fim. poeta sem esperança de dar a volta a uma vida
demasiada cruel.

1ª estrofe: Entre o "sono" (a vida) e o "sonho" (a vida ideal, sonhada), entre o "mim" (agora) e o "em
mim" (o futuro desejado, suposto), "corre um rio sem fim". Esse "rio sem fim" é uma divisória, uma
barreira, que divida o hoje do futuro sonhado e é impossível de atravessar.

2ª estrofe: O rio, parece ter, por outro lado vida própria, tem a sua própria vontade e a sua própria
experiência. O rio é o "Destino". É afinal o destino que se opõe a Pessoa, que o faz sofrer no caminho
que é atualmente o seu. Pessoa escolhe a imagem de um rio, porque como um rio, o destino é uma
sucessão de eventos, um curso de eventos, contínuo, sem fim.

3ª estrofe: O rio chegou à vida atual de Pessoa. A casa simboliza o seu "eu todo", a totalidade de
quem ele é. Mas o destino é ilusório - se Pessoa medita sobre ele, ele passa e impede-o de o enfrentar.
Mas se Pessoa desperta do seu pensamento, o Destino já passou, e não é possível regressar a ele.
Esta impossibilidade marca de maneira decisiva a mente de qualquer pensador - que tenta lutar
contra os obstáculos da vida. Se pensa sobre eles, vê que não pode ultrapassar, mas se os ignora, eles
passam por ele sem que ele dê sequer por isso. Qualquer das realidades é infrutífera e angustiante.

4ª estrofe: Pessoa conclui o poema. Reflete sobre o seu estado atual, o seu "eu presente", o seu que
não se supunha. E esse eu "dorme onde o rio corre". Ou seja, ele está dominado pelo Destino, está
dentro do rio destino, imerso nele e preso nos seus movimentos de água. Para terminar a sensação
de perda e prisão, Pessoa acrescenta à descrição dizendo que é um "rio sem fim". Um rio eterno, que
prende e controla, que domina e limita - eis a descrição final do Destino e de como este domina os
homens e as suas vidas, impedindo afinal que eles sejam como se supõem, como se ousam sonhar.

Mas a ousadia é demasiada e a força diminuta. O homem falha no seu sonho e tem de se dar por
vencido pelo destino, nas horas finais da sua vida amargurada.
BÓIAM LEVES, DESATENTOS

Bóiam leves, desatentos, O poema é um exemplo perfeito para ilustrar


Meus pensamentos de mágoa um tema muito querido a Pessoa, que o
Como, no sono dos ventos, aproximou também por intermédio de
As algas, cabelos lentos Bernardo Soares, o autor tardio do Livro do
Do corpo morto das águas. Desassossego - o tédio de existir. Este tédio
está muito perto de ser a náusea, o sentimento
Bóiam como folhas mortas de nojo de ser que Sartre sente ao caminhar
À tona de águas paradas. pelo nevoeiro na noite da cidade, vendo as
São coisas vestindo nadas, sombras indistintas dos prédios e dos outros
Pós remoinhando nas portas homens. Afinal é uma aproximação a um tema
Das casas abandonadas. absurdo - a análise da vida humana e do seu
significado.
Sono de ser, sem remédio,
Vestígio do que não foi, 1ª estrofe: Pessoa inicia estabelecendo um
Leve mágoa, breve tédio, cenário morto, parado no tempo, em que ação
Não sei se pára, se flui; e o rebuliço do mundo se confrontam com o
Não sei se existe ou se dói. absurdo de pensar. Os pensamentos são a
realização que existe um mundo que não é
feito só de pensamentos.

2ª estrofe: Os pensamentos são inconsequentes, irreais, absurdos, porque querem intervir no mundo
e afinal não passam de devaneios sonhadores, sem força, sem consistência de realidade. Pelo menos
sem consistência aparente, perante a avassaladora força do mundo exterior, que os esmaga e
suprime.

3ª estrofe: É o próprio Pessoa que nos esclarece na conclusão. Os pensamentos são "Sono de ser,
sem remédio / Leve mágoa, breve tédio,". Apenas um estado contemplativo, que "Não sei se existe
ou se dói." Afinal é essa a verdade sobre as suas ideias, a sua consciência de ser diferente dos outros
homens - é o que o diferencia e o torna mais nobre, é também um distanciamento.

Mais do que um estado depressivo, o poema passa uma ideia de nobre aceitação do destino absurdo
do homem, perante uma realidade que o assola como um fantasma e o torna sem carne, um monstro
sem escape perante a sua prisão-mundo."

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