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Edward Schillebececkx

Algumas reflexões acerca da interpretação da escatologia

1. Seria completamente inadequado procurar entender e assimilar hoje a mensagem


escatológica da Bíblia sem um conhecimento crítico do que a teologia dela fez nos
muitos séculos do seu passado com uma perspectiva mental em contínua mudança.

Examinar as diferença de perspectiva que se sucederam na tradição da igreja, que conta já dois
mil anos, é, portanto, uma exigência hermenêutica na interpretação da confissão Cristã dos
eschata.

O antigo testamento é, deste modo, considerado como a fonte básica para a explicação da
vida e morte de um povo que se tornou consciente de ser o povo de Deus, exatamente como o
novo testamento se tornou na fonte básica literária para a explicação da vida e morte de Jesus.

Embora, pois, o problema da interpretação seja já dos fatos da Bíblia, tornou-se hoje mais
agudo do que nunca, e isto ou duas razões principais:

Primeiro lugar, já não pertencemos à mesmo Cultura, já não temos a mesma mentalidade nem
a mesma perspectiva sobre o homem e o mundo, como as que prevaleciam no tempo em que
foram formuladas as interpretações originais e seguintes do acontecimento Cristo. A distância
no tempo torna o nosso problema muito mais difícil. As culturas semítica e helenística tinham
pelo menos em comum o fato de serem ambas parte da《antiguidade》. Todavia, é possível
uma tradução moderna, porque a antiga autocompreensão do homem é um dos elementos
que modelaram a nossa autocompreensão moderna. O pluralismo nunca é radical. Conquanto
não haja identidade, há sempre canais de comunicação entre as várias interpretações.

Segundo lugar, nós pertencemos a uma época que reconhece as exigências da crítica textual e
histórica, uma época que considera imoral que nos submetamos incondicionalmente a
qualquer coisa sem justificação racional alguma: toda a gente, incluindo a de boa vontade,
rejeita a priori uma espécie de fé cega, que não tenha nenhuma base inteligível humana e
autêntica. Mesmo com a nossa obediência incondicional da fé, já não podemos fugir à
necessidade de tornar inteligíveis e de alguma forma compreensíveis os dogmas escatológicos.
Hoje, a fé exige simplesmente que o crente passa pela prova dura de uma nova interpretação
da sua fé, se desejar ser fiel à mensagem do Evangelho.

A nossa crença escatológica se formou na interpretação da história bíblica, um dos pontos-


chave na atual autocompreensão do homem.

2. A identificação mais ou menos explícita da história com o passado, que dominou a


redação da história desde o princípio da sua fase moderna, vai agora dando lugar a
uma visão que considera a história mais como acontecimentos que se vão realizando,
acontecimentos em vias de chegar, e, portanto, como fatos em que nós próprios
desempenhamos um papel ativo. O 《futuro》é de importância primária naquilo a que
nós chamamos《historia》. E, assim, o conceito do 《Futuro terreno do homem》 começa
a exercer uma espécie de polaridade no pensamento e conhecimento homem ao
passo que no passado pelo menos no ocidente a dimensão cultural da história Era
quase unicamente considerada como uma questão de finis últimos o fim último do
homem depois e para além desta vida terrena.

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