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Desse modo, esta publicação é uma forma de dar evidência a uma política pú-
blica, implementada e estimulada pela Secretaria de Educação, que vem alfa-
betizando milhares de pessoas, contribuindo, significativamente, para o resgate
de um direito historicamente negado às parcelas mais excluídas da sociedade.
Este trabalho não poderia ter sido feito isoladamente, razão pela qual ele é o
resultado do esforço de todos os que lutaram e lutam pelo fortalecimento da
causa que defendemos. Todos os sujeitos do MOVA deram sua contribuição:
coordenadores pedagógicos, agentes populares, educadores, educandos, entre
outros.
MELLO, Thiago de. Faz escuro mas eu canto: porque a manhã vai
chegar. 15.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996. pp. 29-31
9 Movimento de Alfabetização
de Jovens e Adultos 32 Taxas
de Analfabetismo
MOVA Guarulhos
de Educação Popular?
13 Entidades Alfabetizadoras
antes da criação do MOVA 38 Espaços Formativos
Guarulhos
20 CONCEPÇÃO FREIRIANA
DE EDUCAÇÃO 44 10 Anos
MOVA Guarulhos
O MOVA se orgulha de ter uma educanda como a Maria Rosa de Jesus, conhecida simplesmente como Dona Rosa. Ela
tem 104 anos de idade, é uma lutadora e diz que está feliz por aprender a ler e escrever.
Dona Rosa é moradora do bairro Ponte Alta e está feliz por se dedicar àquilo que sempre almejou: estudar e se alfabetizar.
Ela se tornou um exemplo vivo para os demais educandos, mostrando que o desejo de aprender depende muito da força
de vontade de cada um. E mais: nunca é tarde para realizar um sonho.
Há quatro anos, resolveu aprender a ler e escrever. Educanda do MOVA, já sabe escrever algumas palavras, como o
próprio nome, o que muito a orgulha. Numa sala de aula que divide com cerca de 20 mulheres, com idade entre 40 e
100 anos, Dona Rosa também dá outras lições de vida. Faz atividade física — como alongamento — com muita energia
e entre suas diversões está a dança.
Natural da Bahia e há 17 anos em São Paulo, Dona Rosa revela que nunca havia estado numa sala de aula ao longo de
seus mais de 100 anos. Ela conta que resolveu aprender depois de levar o neto para escola. “A cabeça não pega tudo,
mas gosto de ficar na escola. É mais difícil ler do que escrever. Já aprendi a ler a palavra Guarulhos, quando vejo alguma
placa na rua já identifico o que aprendi”, diz com muita alegria.
Dona Rosa também recebeu em 2011 um diploma de honra ao mérito pelo seu empenho no MOVA.
Movimento de Alfabetização
de Jovens e Adultos
MOVA Guarulhos
9
O MOVA Guarulhos é regulamentado por portarias publica-
das pela Secretaria de Educação. As últimas em vigor são
as de nº 130 e 131 de 29/11/11, que caracterizam o Movimen-
to como Programa e define as funções do Agente e do
Educador Populares, as formas de ajuda de custo e dá
outras providências.
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O QUE SIGNIFICA DIZER QUE O MOVA É UM
MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO POPULAR?
Podemos compreender como movimento a ação atribuir outro adjetivo: popular. Defini-lo em ape-
organizada de um grupo de cidadãos voltada para nas uma frase é tarefa quase impossível. Pode-se
a defesa de algo que se considera justo e necessá- dizer que educação popular é aquela:
rio. Nesse sentido, a organização de moradores de
um bairro para reivindicar melhores condições de - Que impulsiona ações voltadas para a transforma-
saneamento básico pode ser considerada um mo- ção da realidade opressora;
vimento, como também o foi a luta pelas eleições O QUE É? Opressão: Ato ou efeito de oprimir, isto
diretas na década de 80 — que envolveu milhares é, de tratar o outro, ou ser tratado, como um objeto
de sujeitos de vários segmentos sociais — ou a ação que deve atender ao interesse de alguém ou de al-
de uma entidade ou aglomerado de entidades civis gum grupo dominante.
que trabalham em prol da educação ambiental, por
exemplo. Quando essas ações são realizadas fora - Que reconhece a natureza política do ato de edu-
ou à margem dos governos, fala-se em movimento car e, portanto, a cidadania crítica como foco central
social que, por sua vez, pode ou não estabele- do processo educativo;
cer relações com as ações governamentais, - Engajada com a construção de um conhe-
principalmente para captação de recur- cimento que promova a conscientiza-
sos que viabilizem a execução dos pro- ção da realidade social, em vez de re-
pósitos do movimento. produzir a opressão e a alienação;
Este é o caso do MOVA Guarulhos, - Comprometida com os interesses
um movimento social, constituí- do povo;
do a partir de uma ação de gover-
- Efetivada por meio de métodos e téc-
no e que tem trabalhado em defesa
nicas que valorizam o saber do educan-
e na promoção da alfabetização de
do e que tomam a sua cultura como ponto
jovens, adultos e idosos.
de partida da construção do conhecimento;
E por que “movimento de educação popular”? - Que se opõe às formas tradicionais ou conservado-
ras de ensinar e aprender;
Antes de adentrar no significado de “educação po-
pular”, é interessante saber que existem três tipos - Fundamentada em teorias que relacionam a cons-
básicos de educação: informal, que acontece a toda trução do conhecimento com a situação sócio-histó-
hora e em qualquer lugar, não sendo sistemática; rica dos sujeitos.
formal, que acontece em espaços institucionaliza-
A educação popular pode ser feita com homens e
dos, como escolas e universidades; e não formal,
mulheres, de todas as idades, dentro ou fora da es-
que tem sido experimentada em diversos movi-
cola, ou seja, ela pode estar presente em situações
mentos sociais, possui um grau baixo de institucio-
de educação formal ou não formal, desde a creche
nalização e se caracteriza pela busca de caminhos
até a pós-graduação.
para superação de problemas vivenciados pelos su-
jeitos que dela participam e, portanto, lança mão de
Foto: Arquivo pessoal de Patrícia Claudia da Costa
Os educandos recebem material escolar e camisetas e, após o período de alfabetização, são encaminhados para
a escola estadual mais próxima para realização de teste de classificação e, depois, matriculados na EJA da Rede
Estadual.
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Pastoral da Criança – Diocese de IBEAC
Guarulhos
Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitá-
O projeto foi desenvolvido na Diocese de Guaru- rio. Criado em São Paulo, no início dos anos 80, tem
lhos durante os anos de 2000 a 2008. Chegou a ter atuado na Educação de Jovens e Adultos e em ações
oito núcleos entre 2000 e 2006. Os grupos eram es- de defesa dos direitos humanos, em parceira com
palhados pela cidade, em diferentes bairros: Jardim instituições públicas e privadas, principalmente na
São João, Cumbica, Itapegica, Vila Fátima, Cocaia, formação de educadores populares. Em Guarulhos
Presidente Dutra, Jardim Adriana e Santa Mena. fez convênio com a Cáritas Diocesana no projeto de
alfabetização de adultos, entre 1996 e 2001.
A alfabetização acontecia nos salões das Paróquias e
Centros Comunitários. Os núcleos tinham de 8 a 20
educandos. A maioria era de mães atendidas pela
Pastoral. O tempo para alfabetizar durava de 1 a 2
anos, e o projeto tinha material próprio, baseado na
pedagogia de Paulo Freire e na Metodologia do Ver,
Julgar, Agir, Avaliar e Celebrar.
A atividade aconteceu no Parque Júlio Fracalanza e contou com, aproximadamente, 1 000 pes-
soas. Foi uma grande festa!
A fotografia indica dois momentos que caracterizam a passagem de uma vida sem
sol e com muitos pedregulhos antes de o educando entrar no MOVA, que se modifica
quando ele tem a oportunidade de se alfabetizar no Movimento.
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MO VA,
Eu sou Luzinete. Quando entrei no Abelina Batista Brizola nasceu em 15 de
is de um
não sabia que iria tão longe. Depo janeiro de 1932, na Bahia. Mora na Rua
oje estou no Galeão, Jardim Aeródromo, Guarulhos - SP
ano estudando fui para a EJA. H Abelina casou muito cedo, teve dez filhos
.
us quiser,
2º ano do ensino médio. E, se De nunca frequentou a escola.
e
e vem.
terminarei meus estudos no ano qu Mesmo aos 80 anos, Dona Nena, como é
co-
nhecida, deseja realizar o sonho de aprend
Que tem MO VA em todo o a ler e escrever seu nome corretamente, poi
er
Brasil? s
na sua identidade consta que é analfabeta.
Quando entrei no MO VA para persistente e diz que, mesmo com esta ida
É
de,
estudar, não sabia sequer assi- ela vai conseguir. Está no MO VA há cinco
nar meu nome. Mudei de bairro, meses e já conhece as letras do alfabeto.
.
e lá estava o MO VA junto comigo Educadora: Lindete Leite Araújo de Souza
Este sim é um amigo fiel. Entidade: Centro Social da Paróquia San
to Alberto Magno
Silva Lira
Educadora: Agnailda Moreira da
ia Santo Alberto
Entidade: Centro Social da Paróqu
Magno
20
DE EDUCAÇÃO
O QUE É? Método Paulo Freire: apesar de o pró- O QUE É? Práxis: termo utilizado desde a
prio autor ter declarado, diversas vezes, que não se antiguidade grega para significar a junção
reconhecia como o criador de um método, a manei- da ação com a reflexão. Nos dias atuais, seu
ra como organizou o processo de alfabetização de significado no campo da educação está mais
adultos, no Nordeste Brasileiro no início dos anos próximo da ideia da constante ação-reflexão-
de 1960, acabou sendo chamado de um método que ação sobre as práticas educativas. Em outros
ganhou o seu nome. Basicamente, é composto por contextos, a práxis também é entendida como
três etapas. A primeira consiste na seleção de pa- a relação entre teoria e prática, negando tanto
lavras que façam parte do universo vocabular dos o ativismo ingênuo quanto o idealismo utó-
sujeitos que serão alfabetizados — ou seja, das pa- pico. A práxis é a expressão da ação do ho-
lavras mais usadas no dia a dia da comunidade. Por mem que luta para transformar a realidade.
serem palavras bastante significativas para aquele
grupo de sujeitos, Freire as chamou de “palavras
geradoras” porque geram debate, problematiza-
O QUE É? Tema gerador: é o universo mí-
ção, conhecimento. Com cada palavra, Freire pro-
nimo temático definido com base em uma
punha a preparação de uma “ficha de descoberta”:
problematização conjunta entre educandos e
um quadro com a imagem do que a palavra repre-
educador sobre a realidade que os envolve.
senta, acompanhado da sua escrita e das famílias
Esse tema pode ser “trabalho”, “identidade”,
silábicas relacionadas a ela. A partir dessa ficha, os
“cultura”, etc. que variará conforme a reali-
educandos eram convidados a formar novas pa-
dade de cada grupo (círculo de cultura).
lavras. A formação de palavras a partir de sílabas
apresentadas em “famílias silábicas”, derivadas de
uma primeira palavra, não é um procedimento in-
ventado por Paulo Freire. Isso já existia há muito O QUE É? Objeto Cognoscível: objeto que se
tempo. As novidades por ele introduzidas foram: a pode conhecer, ou seja, a realidade que será
seleção das palavras geradoras a partir de uma pes- desvelada e apreendida criticamente pelo
quisa sobre o universo vocabular do grupo que se educando.
pretende alfabetizar; a problematização da realida-
de a partir do debate sobre as palavras geradoras;
o reconhecimento da alfabetização como um meio O QUE É? Ser mais: vocação que toda mulher
de conscientização, não possuindo um fim em si e todo homem têm de serem mais humanos.
mesmo, e, consequentemente, superando o modelo Dizer que podemos “ser mais” significa que a
mecânico de alfabetização baseado exclusivamente Educação pode nos (trans)formar como seres
na memória, substituindo-o por um ato de criação mais conscientes do nosso papel na história,
de conhecimentos. seres mais justos, mais livres, mais humani-
zados.
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PAULO FREIRE
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Empresa de Reciclagem RFR - Jd. Cumbica Casa da Educadora Miriam - Bom Clima
Sede da Entidade Conveniada Núcleo Batuíra - Cumbica CEU Ottawa-Uirapuru - Jd. Ottawa
Escola Estadual - Jd. Santa Lídia Salão Santo Arcângelo Tadini - Cidade Seródio
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias - Pimentas
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No subsolo do prédio espelhado do Centro
Municipal de Educação Adamastor, existe
uma biblioteca especializada com a finalidade
de dar suporte para estudos e pesquisas na
área educacional por meio da consulta local
e empréstimo para educadores, formadores e
estudantes que trabalham, residem ou estudam no
Município de Guarulhos. Trata-se da Biblioteca do
Professor Lev Seminovitch Vygotsky, que tem esse
nome para homenagear um dos mais importantes teóricos da
educação do século XX. Lá você poderá encontrar, além dos livros
do próprio Vygotsky e sua equipe, um grande acervo composto
por 8 990 livros tombados, revistas educacionais, dissertações de
mestrado, teses de doutorado, TCCs, jornais, CDs, DVDs e acervo em
Braille.
A biblioteca tem seu espaço aberto para que todos os cidadãos
tenham acesso à leitura, ou ao estudo em outras áreas, bem como
acesso à internet, porém o empréstimo de materiais é restrito a
professores e estudantes.
A biblioteca oferece ainda o “Espaço dos Grandes Educadores”, para
homenagear um educador e convidar os visitantes a conhecer um
pouco mais sobre estes mestres. No mural já passou Lev Vygotsky,
Célestin Freinet, Anísio Teixeira, Maria Montessori e outros.
Para se associar, basta ser professor das Redes Municipal, Estadual,
Federal ou Particular de Ensino, conveniadas ou estudante da
área da educação e comparecer com RG, holerite e comprovante
de residência. No caso de estudante, é necessário trazer uma
declaração ou boleto do mês que comprove sua permanência na
Instituição. A cada empréstimo você poderá retirar até dois livros e
dois outros materiais (apostila, revista, gibi, CD ou fita) com o prazo
de devolução de quatorze dias, podendo renovar por mais quatorze.
O usuário que, durante um ano, entregar os materiais dentro do
prazo passará à categoria de usuário VIP, podendo retirar até três
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livros. A Biblioteca foi inaugurada no dia 15 de outubro de 2004, com o
expediente das 8h às 22h, e fica localizada na Av. Monteiro Lobato, 743 -
Macedo.
2. “Nossa origem”;
4. “Nosso bairro”.
As “revistas” do MOVA abordaram os mais
variados temas, passando por meio ambiente,
saúde, preconceito linguístico até a temática
racial, fortalecendo a consciência política de
todos. Apesar de pouca divulgação, o nosso
material pedagógico foi utilizado por outros
educadores, principalmente por professores
da Rede Estadual.
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Para saber mais...
No site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é possível encontrar uma série de informações
sobre a educação no Brasil. Lá podem ser encontradas as sínteses de indicadores sociais do censo e da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), não só da área da educação, mas também das condições de vida
da população brasileira. Vale a pena também navegar no portal do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA), vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
www.ibge.gov.br, www.censo2010.ibge.gov.br e www.ipea.gov.br
Educandos do MOVA participam do Prêmio Akoni
de Promoção da Igualdade Racial. O Prêmio é uma
iniciativa da Secretaria de Educação, realizada pelo
Grupo de Trabalho de Promoção da Igualdade Racial
(GTPIR), com o objetivo de identificar, valorizar e di-
vulgar as produções dos educandos e educandas da
Rede Municipal relacionadas à temática. Já acontece-
ram três edições: 2008, 2009 e 2011, que contemplaram
as seguintes categorias: em 2008 e 2009, desenho, slo-
gan e fotografia; em 2011, desenho, história em quadri-
nhos e slogan.
3º lugar
Slogan: “Não insista, não seja racista”
Educanda: Maria de Lourdes Barros
Educadora: Ivanilde Rocha do Nascimento Araújo
Entidade: Associação Caritativa da Paróquia Nossa Se-
nhora de Fátima
2º lugar
Educando: Gregório Feitoza
Educadora: Verônica Lopes dos Santos
Entidade: Paróquia Santo Alberto Magno
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COMISSÃO Mova
A “Comissão MOVA” é um grupo de educadores e consulta feita aos educadores durante os encontros
agentes populares, independente e não atrelado à de formação continuada.
administração e sem representante da coordenação
As principais conquistas das novas Portarias foram:
pedagógica, que se mobiliza em busca de melhorias
redução do número mínimo de 15 para 10 educan-
das condições de atuação do Movimento perante
dos em sala de aula para manutenção do convênio;
a Secretaria Municipal de Educação e as entidades
e reajuste do valor de R$ 450,00 para R$ 550,00 da
conveniadas.
ajuda de custo mensal do educador.
Ao longo da história do MOVA Guarulhos, pelo
Dando continuidade ao seu trabalho, que visa co-
menos três grupos distintos já se reuniram com a
nhecer e problematizar os limites de atuação do
intenção de constituir tal Comissão. Alguns inte-
MOVA, a mais atual discussão é a da possibilidade
grantes permaneceram desde a primeira formação
de transformação das Portarias em Lei Municipal ,
do grupo, perseguindo os mesmos propósitos. Os
assunto debatido em fórum municipal e no dia a dia
integrantes atuais desempenham o papel de agen-
do Movimento.
tes multiplicadores de informações e de ações que
fortaleçam o Movimento. A Comissão é composta Muito também se discute sobre a necessidade de
por uma diretoria com mandato de dois anos de du- preparo político e pedagógico dos educadores e
ração cada um, com a participação de educadores e agentes populares. Necessidade que tem levado a
agentes populares. Comissão a participar de encontros de formação
política na Escola Nacional Florestan Fernandes, em
Uma das ações mais importantes da Comissão foi a Guararema/SP, desde 2009. Fruto dos aprendizados
participação em um grupo de trabalho que discutiu nesses encontros, o próprio Movimento organizou
a formulação das Portarias 130/11 e 131/11, que tra- em Guarulhos seu Primeiro Encontro de Formação
tam dos direitos e deveres dos sujeitos que fazem Política, em outubro de 2011, com a participação de
parte do Movimento. A discussão da nova regula- educadores, agentes populares, representantes de
mentação do convênio foi resultado de uma ampla várias entidades conveniadas e do Poder Público.
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1ª Cerimônia de Certificação dos educandos do MOVA
ESPAÇOS FORMATIVOS
Para que as ações pedagógicas consigam atingir A metodologia de trabalho para a Formação Inicial
o Movimento de forma eficaz e abrangente, os es- é orientada pela articulação do conhecimento teóri-
paços formativos foram segmentados de forma di- co sobre como se aprende, com atividades práticas
versificada, onde os sujeitos que compõem o Mova com base nos conteúdos discutidos coletivamente.
sejam contemplados. Descrevemos abaixo estes es- A avaliação é realizada ao longo de todo o curso por
paços: meio da realização de atividades individuais e em
grupo, complementadas por uma avaliação geral
no final.
FORMAÇÃO INICIAL (FI)
O objetivo geral desta ação é formar educadores po-
FORMAÇÃO PERMANENTE (FP)
pulares (alfabetizadores e agentes populares) para a
atuação na alfabetização de jovens, adultos e idosos Voltada a educadores, a Formação Permanente
na cidade de Guarulhos. visa ao aprofundamento pedagógico, efetivando o
princípio da educação ao longo da vida. A Forma-
Ela acontece uma vez por ano, geralmente no final
ção tem uma periodicidade quinzenal, em núcleos
de janeiro ou no início de fevereiro, atendendo aos
espalhados por bairros da cidade, proporcionando
educadores iniciantes do ano corrente e os demais
o melhor atendimento aos educadores. Atualmen-
que começaram o trabalho no ano anterior, poste-
te, há em atividade 10 turmas de formação, distri-
riormente à FI.
buídas nas regiões do Taboão, São João, Presidente
Durante a Formação Inicial, a intenção é sensibili- Dutra, Bairro dos Pimentas e Centro; nos seguintes
zar os participantes para uma ação educativa que espaços: Centro Social da Paróquia Santa Cruz do
envolva os sujeitos jovens, adultos e idosos na cons- Taboão, Centro Social da Paróquia Santo Alberto
trução da leitura e da escrita dentro das suas neces- Magno, Salão da Paróquia Santa Cruz do Presiden-
sidades. Para isso, se faz necessária a construção de te Dutra, CEU Pimentas, Centro de Integração da
alguns conhecimentos básicos e comuns aos educa- Cidadania (CIC) e Centro Municipal de Educação
dores, como: Adamastor.
• Discutir os principais fatos que compõem a his- Nesses momentos, o educador se qualifica para de-
tória da Educação de Jovens e Adultos no Brasil; senvolver o seu trabalho dentro da concepção frei-
• Refletir sobre as particularidades dos proces- riana de educação. Os temas desenvolvidos nas for-
sos de conhecimento vividos pelos sujeitos do mações vão ao encontro das necessidades de cada
MOVA; núcleo, das comunidades, com o intuito de colabo-
rar com a formação de um cidadão crítico e atuante
• Orientar os envolvidos sobre as políticas para a
na construção de uma nova sociedade, mais justa,
diversidade étnico-racial, de gênero, de orienta-
igualitária e fraterna.
ção sexual, etc.;
• Introduzir a Concepção Freiriana de Educação;
ENCONTRO INTEGRADO
• Compreender como o conhecimento da escrita
se constrói: a psicogênese da língua escrita e a A iniciativa surgiu da necessidade de envolver num
contribuição da sociolinguística; trabalho coletivo os representantes de Entidades
Conveniadas, coordenadores pedagógicos, educa-
• Refletir sobre os conteúdos matemáticos presen- dores e agentes populares para, juntos, garantirmos
tes na proposta do MOVA e como ensiná-los; a efetivação do Programa MOVA.
• Desenvolver noções de planejamento, registro O objetivo é discutir os avanços e os desafios vivi-
e avaliação. dos pelos sujeitos. Também se discute o fortaleci-
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mento do Movimento em sua base, onde cada nú- os novos desafios criaram a possibilidade de que os
cleo de alfabetização acontece, considerando que encontros se tornassem semestrais ou anuais.
ler e escrever não são fins, mas meios para chegar-
A periodicidade depende das demandas aponta-
mos à transformação social tão sonhada, mas ainda
das pela Secretaria Municipal de Educação ou pela
utópica em nossos dias.
base do Movimento, e sempre que é necessário os
O Encontor Integrado acontece semestralmente e parceiros se reúnem para dialogar e deliberar sobre
tem caráter consultivo e deliberativo. Nele se discu- importantes decisões que influenciam diretamente
te como os sujeitos têm atuado no Programa MOVA, o cotidiano da prática alfabetizadora, tais como a
no sentido de pensar coletivamente em encaminha- organização dos núcleos, a regulamentação jurídica
mentos que melhorem a atuação e participação de da parceria e a participação em eventos regionais
todos nas formações oferecidas pela Secretaria Mu- e nacionais. Também é um espaço de formação pe-
nicipal de Educação, assim como nas convocações dagógica no qual vários pesquisadores já contribuí-
realizadas pelas entidades sociais. ram para o debate, por meio de palestras e diálogos.
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O Núcleo Batuíra Repente da
está no MOVA
desde 31 de julho Educação
de 2002, e, nestes
10 anos, já alfabetizou Para falar de educação: pare, pense e analise
juntamente com o É importante ter estudo com todas as diretrizes
Programa centenas de educandos, muitos dos Neste país tão grande, ainda existe analfabeto
quais deram continuidade aos seus estudos, Se não fosse prioridade a educação de nossos netos.
tanto na Rede Municipal quanto na Rede
Estadual. Filhos de toda nação aprendem a ler e escrever
Um desses educandos, Ricardo Pereira, atuou É tanta satisfação que não se dá pra esconder
no Programa MOVA como educador do Sem o MOVA para educar o mundo é um transtorno
Núcleo Batuíra. O desemprego gera fome e a fome o abandono.
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Sílvia Alexandre de Souza nasceu em Guarulhos, tem 40 anos e já nasceu com paralisia cerebral parcial. Quem
cuida dela é sua tia. Sempre houve um descaso em relação aos estudos, pois sua própria mãe não acreditava no
MOVA
Vem para São Paulo aos 18 anos, homem humilde, trabalha-
dor, negro, analfabeto e solitário. Foi em fevereiro de 2008
que chegou ao MOVA.
Era um educando que nunca faltou na sala de aula. Chegava
cedo, estava na fase pré-silábica, se sentava na primeira carteira, brincava com todos e seu sorriso era
verdadeiro e prazeroso. Ele falava que tirava terra, cavava poços e morava sozinho.
Em março de 2011, ele começou a buscar ajuda médica, pois o vício do cigarro debilitou sua saúde. Até
doente vinha na sala, e no dia 03/03/2011 foi sua última aula na Sala de Alfabetização Família Sousa.
Ele já não fumava, mas nesse dia brincamos com ele:
— Cuidado, Boneco, tu vai parar na Vila Rio (cemitério)!
Ele ria e falava:
— Sai fora! (Fazendo gesto com a mão de que isso iria demorar. Demos um abraço e ele se foi).
E foi mesmo. No dia 04/03/2011, sofreu uma parada respiratória e morreu na Policlínica do Jardim Pa-
raíso. Nós só ficamos sabendo do fato no dia 07/03/2011.
Um grande amigo, que faz muita falta na sala. Sua carteira se encontra vazia. Mas, como todos, temos
nossa hora de partir e ele partiu.
Valdelino Rodrigues dos Santos, você faz parte dessa história!
Descanse em paz! Amigos e educandos da Sala de Alfabetiza-
ção Família Sousa.
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Abaixo segue trecho do texto aprovado no continuum que vai da aprendizagem formal
evento, intitulado Marco de Ação de Belém, para a não formal e para a informal. A aprendi-
que institui, em seu preâmbulo, a educação ao zagem e educação de jovens e adultos atendem
longo da vida como um princípio central: as necessidades de aprendizagem dos jovens,
dos adultos e dos idosos. A aprendizagem e
educação de jovens e adultos abrangem um
Conceito de Educação ao Longo da Vida: vasto leque de conteúdos — aspectos gerais,
“
questões vocacionais, alfabetização da famí-
RUMO À APRENDIZAGEM AO LONGO DA lia e educação da família, cidadania e muitas
VIDA outras áreas — com prioridades estabelecidas
de acordo com as necessidades específicas de
(...)
cada país.
7. O papel da aprendizagem ao longo da vida
é fundamental para resolver questões globais 9. Estamos convencidos e inspirados pelo pa-
e desafios educacionais. A aprendizagem ao pel fundamental da aprendizagem ao longo
longo da vida, do ‘berço à sepultura’, é uma fi- da vida na abordagem das questões e desafios
losofia, um marco conceitual e um princípio or- globais e educacionais. Além disso, estamos
ganizador de todas as formas de educação, ba- convictos de que a aprendizagem e educação
seado em valores inclusivos, emancipatórios, de jovens e adultos preparam as pessoas com
humanistas e democráticos, sendo abrangente os conhecimentos, capacidades, habilidades,
e parte integrante da visão de uma sociedade competências e valores necessários para que
do conhecimento. Reafirmamos os quatro pi- exerçam e ampliem seus direitos e assumam
lares da aprendizagem, tal como recomenda- o controle de seus destinos. A aprendizagem e
do pela Comissão Internacional sobre Educa- educação de jovens e adultos são também im-
ção para o Século XXI, quais sejam, aprender perativas para o alcance da equidade e da in-
a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e clusão social, para a redução da pobreza e para
aprender a conviver com os outros. a construção de sociedades justas, tolerantes,
”
sustentáveis e baseadas no conhecimento.
8. Reconhecemos que a aprendizagem e educa-
ção de jovens e adultos representam um com-
ponente significativo do processo de apren-
dizagem ao longo da vida, envolvendo um
Em 2012 o MOVA Guarulhos completou 10 anos de sua trajetória. Com o objetivo
de socializar e potencializar as práticas desenvolvidas ao longo destes anos pelos
educadores, educandos e demais agentes, a Secretaria Municipal de Educação pro-
moveu, nos dias 31 de março e 2 e 3 de abril, atividades em comemoração ao mo-
mento, com o tema “contribuindo para a emancipação humana, garantindo direitos
e realizando sonhos”.
A Cerimônia de Abertura contou com o show “Nas Asas da Leitura” do cantor, com-
positor, ator e escritor Costa Senna. O evento, denominado “Talentos do MOVA”,
reuniu cerca de 500 pessoas que prestigiaram as apresentações culturais dos edu-
cadores, agentes populares e educandos, além de saborearem a culinária oferecida
pelas entidades conveniadas. As práticas desenvolvidas no Movimento estavam
brilhantemente expostas pelas atividades realizadas nos núcleos de formação, o
que possibilitou a socialização do trabalho pedagógico. O público também pôde
assistir ao vídeo de retrospectiva dos 10 anos do MOVA com depoimentos e fotos
de todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram nesta trajetória.
Como momento formativo, no segundo dia das atividades de comemoração, refle-
timos sobre os sentidos do Movimento na cidade com base no tema dos 10 anos.
Inicialmente, tivemos a apresentação do quadro cênico “A casca de banana”, com a
educadora Maria Francisca e seus educandos, como também a declamação de poe-
sia em homenagem ao MOVA, com os educadores Adenilson dos Santos e Miriam
Ribeiro.
Em seguida, recebemos as palestrantes Patrícia Claudia da Costa e Vera Barreto,
importantes educadoras comprometidas com o avanço da educação popular no
Brasil. As falas serviram como uma oportunidade para todos os sujeitos do MOVA
afirmarem sua identidade no Movimento e perceberem sua importância na cons-
trução da cidadania via alfabetização.
Como encerramento das comemorações, houve a realização da formatura com uma
cerimônia de certificação para os 195 educandos alfabetizados em 2011. Foi um
momento de muita emoção para todos, pois se tratava da conclusão de mais um
ciclo na vida dessas pessoas. A alegria e o espírito de festa tomaram conta de todos
Fotos: Maurício Burim e Vanda Martins / SE
44
Os Estatutos do Homem
[...]
Artigo III
Prefeito
Sebastião Almeida
Vice-Prefeito
Carlos Derman