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Em memória da Professora Teresinha Mian Alves e de todas

as pessoas que fizeram parte do MOVA Guarulhos e já não


se encontram mais entre nós, a nossa saudosa homenagem.
Apresentação
Este almanaque é uma publicação especial organizada pela Secretaria de Edu-
cação, mas é, antes de tudo, uma conquista do Movimento de Alfabetização na
cidade de Guarulhos. Trata-se do coroamento das atividades de comemoração
dos 10 anos do MOVA em 2012.

A forma de publicação escolhida foi o Almanaque porque é um gênero de tradi-


ção popular, com informações e textos diversos, de caráter multifacetado e plu-
ral, próprio para expressar e resgatar a identidade e nossa memória histórica.
Cada parte do texto é como uma parada, estação de uma viagem panorâmica
ao longo da história, que ressalta as realizações e os fatos marcantes da traje-
tória do Movimento.

Nestes 10 anos, procuramos dar continuidade ao legado de Paulo Freire


(1921-1997), cuja proposta pedagógica leva em consideração as reais neces-
sidades dos educandos, partindo de sua realidade e respeitando seu processo
de construção do conhecimento, não se reduzindo, portanto, a uma reposição
da escolaridade ou a uma educação compensatória. O MOVA tem o objetivo de
estimular o exercício da cidadania dos educandos, contribuindo para ampliar
sua leitura de mundo para que possam se inserir criticamente na realidade em
que vivem.

Desse modo, esta publicação é uma forma de dar evidência a uma política pú-
blica, implementada e estimulada pela Secretaria de Educação, que vem alfa-
betizando milhares de pessoas, contribuindo, significativamente, para o resgate
de um direito historicamente negado às parcelas mais excluídas da sociedade.

Este trabalho não poderia ter sido feito isoladamente, razão pela qual ele é o
resultado do esforço de todos os que lutaram e lutam pelo fortalecimento da
causa que defendemos. Todos os sujeitos do MOVA deram sua contribuição:
coordenadores pedagógicos, agentes populares, educadores, educandos, entre
outros.

Por isso, agradecemos a todos que, de alguma forma, contribuíram para o


lançamento deste Almanaque, mais uma ação da SE que visa melhorar a qua-
lidade social da Educação em nossa cidade. Esperamos que ele seja de grande
utilidade a todos os educadores e educandos guarulhenses e à comunidade em
geral.

Guarulhos, novembro de 2012.

Prof.ª Neide Marcondes Garcia


Secretária de Educação
Canção para os fonemas da alegria

Foto: Maurício Burim | SE


A Paulo Freire

Peço licença para algumas coisas.


Primeiramente para desfraldar
este canto de amor publicamente.

Sucede que só sei dizer amor


quando reparto o ramo azul de estrelas
que em meu peito floresce de menino.

Peço licença para soletrar,


no alfabeto do sol pernambucano
a palavra ti-jo-lo, por exemplo,

e pode ver que dentro dela vivem


paredes, aconchegos e janelas,
e descobrir que todos os fonemas

são mágicos sinais que vão se abrindo


constelação de girassóis gerando
em círculos de amor que de repente
estalam como flor no chão da casa.

Às vezes nem há casa: é só o chão.


Mas sobre o chão quem reina agora é um homem
diferente, que acaba de nascer:

porque unindo pedaços de palavras


aos poucos vai unindo argila e orvalho,
tristeza e pão, cambão e beija-flor,

e acaba por unir a própria vida


no seu peito partida e repartida
quando afinal descobre num clarão

que o mundo é seu também, que o seu trabalho


não é a pena que paga por ser homem,
mas um modo de amar — e de ajudar

o mundo a ser melhor.


Peço licença
para avisar que, ao gosto de Jesus,
este homem renascido é um homem novo:

ele atravessa os campos espalhando


a boa-nova, e chama os companheiros
a pelejar no limpo, fronte a fronte,

contra o bicho de quatrocentos anos,


mas cujo fel espesso não resiste
a quarenta horas de total ternura.

Peço licença para terminar


soletrando a canção de rebeldia
que existe nos fonemas da alegria:

canção de amor geral que eu vi crescer


nos olhos do homem que aprendeu a ler.

Santiago do Chile - primavera de 1964

MELLO, Thiago de. Faz escuro mas eu canto: porque a manhã vai
chegar. 15.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996. pp. 29-31

“Um poeta que canta o amanhecer porque sabe que a noite


não é eterna; que põe seus versos a serviço dos oprimidos e
humilhados porque sabe que a redenção deles marcará a sua
e a nossa liberdade”.
6 Linha do Tempo 29 Material Pedagógico

9 Movimento de Alfabetização
de Jovens e Adultos 32 Taxas
de Analfabetismo
MOVA Guarulhos

12 O que significa dizer que


o MOVA é um Movimento 36 Comissão MOVA

de Educação Popular?

13 Entidades Alfabetizadoras
antes da criação do MOVA 38 Espaços Formativos

Guarulhos

16 FESTIVAL MOVA 42 6ª CONFINTEA

20 CONCEPÇÃO FREIRIANA
DE EDUCAÇÃO 44 10 Anos
MOVA Guarulhos

O MOVA se orgulha de ter uma educanda como a Maria Rosa de Jesus, conhecida simplesmente como Dona Rosa. Ela
tem 104 anos de idade, é uma lutadora e diz que está feliz por aprender a ler e escrever.
Dona Rosa é moradora do bairro Ponte Alta e está feliz por se dedicar àquilo que sempre almejou: estudar e se alfabetizar.
Ela se tornou um exemplo vivo para os demais educandos, mostrando que o desejo de aprender depende muito da força
de vontade de cada um. E mais: nunca é tarde para realizar um sonho.
Há quatro anos, resolveu aprender a ler e escrever. Educanda do MOVA, já sabe escrever algumas palavras, como o
próprio nome, o que muito a orgulha. Numa sala de aula que divide com cerca de 20 mulheres, com idade entre 40 e
100 anos, Dona Rosa também dá outras lições de vida. Faz atividade física — como alongamento — com muita energia
e entre suas diversões está a dança.
Natural da Bahia e há 17 anos em São Paulo, Dona Rosa revela que nunca havia estado numa sala de aula ao longo de
seus mais de 100 anos. Ela conta que resolveu aprender depois de levar o neto para escola. “A cabeça não pega tudo,
mas gosto de ficar na escola. É mais difícil ler do que escrever. Já aprendi a ler a palavra Guarulhos, quando vejo alguma
placa na rua já identifico o que aprendi”, diz com muita alegria.
Dona Rosa também recebeu em 2011 um diploma de honra ao mérito pelo seu empenho no MOVA.
Movimento de Alfabetização
de Jovens e Adultos
MOVA Guarulhos

O Movimento de Alfabetização de Jo- em um projeto integrado dentro de


vens e Adultos (MOVA) foi fundado uma proposta mais abrangente de al-
em 13 de março de 2002, por inicia- fabetização como leitura de mundo.
tiva da Secretaria Municipal de Edu- O modelo foi adotado, com algumas
cação de Guarulhos, numa parceria variações, em vários municípios e es-
entre o poder público e a sociedade tados brasileiros.
civil organizada, por meio de entida-
O MOVA Guarulhos é uma das ações
des sem fins lucrativos.
de Educação de Jovens e Adultos
O QUE É? Entidade: sociedade ou
(EJA) no município. É um programa
associação juridicamente constitu-
ída, que faz parceria com o Poder dessa modalidade destinado àqueles
Público por meio de convênio, para que não tiveram acesso à escolariza-
realizar trabalho de alfabetização ção elementar e que ainda não foram
de jovens, adultos e idosos.
alfabetizados. Tem característica de
movimento popular e possibilitado
O MOVA tem como finalidade o aten- o acesso de jovens, adultos e idosos,
dimento de jovens e adultos que pro- em espaços de educação variados, à
curam por oportunidade de alfabe- alfabetização por meio de trabalho
tização. Foi inspirado no MOVA São voluntário de educadores popula-
Paulo, criado em 1989 na capital pau- res indicados pelas entidades sociais
lista, implementado por Paulo Freire, conveniadas ao MOVA.
então Secretário Municipal de Educa-
ção. O Movimento consistia em uma O Movimento baseia-se na concepção
parceria com entidades que já desen- de educação de Paulo Freire que mui-
volviam o trabalho voluntário de al- to contribuiu para a Educação de Jo-
fabetização de adultos, aproveitando vens e Adultos no Brasil e no mundo.
as diversas experiências e iniciativas

9
O MOVA Guarulhos é regulamentado por portarias publica-
das pela Secretaria de Educação. As últimas em vigor são
as de nº 130 e 131 de 29/11/11, que caracterizam o Movimen-
to como Programa e define as funções do Agente e do
Educador Populares, as formas de ajuda de custo e dá
outras providências.

Na Secretaria de Educação, o MOVA faz parte da Divi-


são Técnica de Políticas para a Educação Fundamental
e EJA, onde desempenha ações conjuntas com a equipe
responsável pela EJA Regular: como uma comissão para
pensar a transição de educandos do MOVA para a EJA, reuni-
ões para planejamento conjunto de diretrizes e ações, plano de
ação para superar o analfabetismo na cidade, elaboração con-
junta de testes cognitivos, entre outras.

O MOVA é um espaço de educação não formal e se caracteriza pela proximidade com a


população, organizando-se em torno de igrejas, centros comunitários, associações culturais,
etc., não sendo institucionalizado, o que marca um distanciamento dos modelos tradicionais
O MOVA SE FALA ASSIM

de educação. Sua marca principal é a


busca pela superação de problemas
vivenciados pelos sujeitos e suas
comunidades, por meio da alfabetização
Leitura: para Paulo Freire existem e da mobilização social.
basicamente dois tipos de leitura. Antes
mesmo de qualquer contato com a escrita,
todo ser humano realiza a leitura do
mundo. Esse tipo de leitura existe desde
os primórdios da humanidade quando a
escrita sequer existia. A leitura do mundo é O período de 1964 a 1985 foi marcado
simplesmente a interpretação que fazemos por um regime de exceção no Brasil.
do que está ao nosso redor: sons, paisagens, Governado pelos militares, após um
odores, acontecimentos, relações entre as Golpe de Estado em 31 de março
pessoas. Tudo o que percebemos no nosso de 1964, o país viveu uma época de
cotidiano é, portanto, algo a ser lido nesse forte autoritarismo e repressão, com
sentido de leitura de mundo. E quanto mais supressão da ordem democrática,
desenvolvemos a capacidade de ler o mundo
dos direitos civis e políticos, marcado
criticamente, mais estaremos preparados
por diversas mortes de pessoas que
para ler a palavra. Por isso, a conscientização
é um elemento tão importante no processo
se opunham ao regime. O governo
de alfabetização. A leitura da palavra exige, da época, movido pelo esforço de
além da leitura de mundo, a capacidade acelerar a industrialização do país
de reconhecer as letras, que representam como alavanca para o crescimento
fonemas e, por sua vez, formam palavras econômico, fez uma série de reformas
e textos que são propostas de sentidos. políticas, econômicas e também
Compreender os sentidos de um texto escrito educacionais, e o Mobral deve ser
é uma capacidade diretamente relacionada entendido dentro desse contexto.
com a habilidade que se tem de ler o mundo.
MOBRAL – Movimento
Brasileiro de Alfabetização

O MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfa- não é possível, numa perspectiva revolucionária,


betização) foi um projeto do Regime Militar, ler a palavra sem ler a realidade. Ler a palavra,
criado oficialmente pela lei nº 5.379, de 15 sem ler a realidade, é trabalho do MOBRAL. Esta
de dezembro de 1967. Com implantação ini- é a diferença radical entre mim e o MOBRAL”.
ciada mais precisamente em 1971, seu perío-
do de maior expansão se situa entre os anos MOBRAL em Guarulhos
de 1972 a 1976.
O MOBRAL começou a ser implantado em
O MOBRAL durou 15 anos. Foi extinto em Guarulhos a partir de 1971. O convênio era
25/11/85 pelo Presidente José Sarney e não feito entre o Ministério da Educação (MEC)
atendeu o objetivo de eliminar o analfabetis- e o Departamento de Educação e Cultura
mo no país. A recessão econômica iniciada (DEC) da Prefeitura, que funcionava na Rua
nos anos 80 também inviabilizou sua conti- Padre Celestino – Centro. As salas do MO-
nuidade. BRAL funcionavam em escolas estaduais,
igrejas, Centros Comunitários e Sociedade
Foto: Arquivo pessoal de Hélio de Sousa Reis

Na prática, o MOBRAL “esvaziou” o “Mé-


Amigos de Bairro (SAB). A maioria dos alu-
todo Paulo Freire” da sua capacidade de
nos era do sexo masculino.
intervenção política na formação da cons-
ciência crítica e na problematização da rea- O MOBRAL teve seu período de expan-
lidade. Num dos encontros que Paulo Freire são em Guarulhos entre 1971 e 1976. O
teve com o Grupo de Educação Popular da Diário Oficial do Estado de São Paulo, de
Vila Fátima (09/11/80), ele procura diferen- 14/12/1971, registra um grande evento no
ciar a sua postura e a do MOBRAL: “De Estádio Fioravante Iervolino, onde o gover-
outra maneira ainda, eu diria que o funda- nador Laudo Natel presidiu a entrega de
mental é ler a realidade, transformá-la, certificados para 3 mil alunos.
reescrevê-la. E a leitura da realidade
pode ser feita sem a leitura da palavra.
O contrário é que não pode, quer dizer,

11
O QUE SIGNIFICA DIZER QUE O MOVA É UM
MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO POPULAR?

Podemos compreender como movimento a ação atribuir outro adjetivo: popular. Defini-lo em ape-
organizada de um grupo de cidadãos voltada para nas uma frase é tarefa quase impossível. Pode-se
a defesa de algo que se considera justo e necessá- dizer que educação popular é aquela:
rio. Nesse sentido, a organização de moradores de
um bairro para reivindicar melhores condições de - Que impulsiona ações voltadas para a transforma-
saneamento básico pode ser considerada um mo- ção da realidade opressora;
vimento, como também o foi a luta pelas eleições O QUE É? Opressão: Ato ou efeito de oprimir, isto
diretas na década de 80 — que envolveu milhares é, de tratar o outro, ou ser tratado, como um objeto
de sujeitos de vários segmentos sociais — ou a ação que deve atender ao interesse de alguém ou de al-
de uma entidade ou aglomerado de entidades civis gum grupo dominante.
que trabalham em prol da educação ambiental, por
exemplo. Quando essas ações são realizadas fora - Que reconhece a natureza política do ato de edu-
ou à margem dos governos, fala-se em movimento car e, portanto, a cidadania crítica como foco central
social que, por sua vez, pode ou não estabele- do processo educativo;
cer relações com as ações governamentais, - Engajada com a construção de um conhe-
principalmente para captação de recur- cimento que promova a conscientiza-
sos que viabilizem a execução dos pro- ção da realidade social, em vez de re-
pósitos do movimento. produzir a opressão e a alienação;
Este é o caso do MOVA Guarulhos, - Comprometida com os interesses
um movimento social, constituí- do povo;
do a partir de uma ação de gover-
- Efetivada por meio de métodos e téc-
no e que tem trabalhado em defesa
nicas que valorizam o saber do educan-
e na promoção da alfabetização de
do e que tomam a sua cultura como ponto
jovens, adultos e idosos.
de partida da construção do conhecimento;
E por que “movimento de educação popular”? - Que se opõe às formas tradicionais ou conservado-
ras de ensinar e aprender;
Antes de adentrar no significado de “educação po-
pular”, é interessante saber que existem três tipos - Fundamentada em teorias que relacionam a cons-
básicos de educação: informal, que acontece a toda trução do conhecimento com a situação sócio-histó-
hora e em qualquer lugar, não sendo sistemática; rica dos sujeitos.
formal, que acontece em espaços institucionaliza-
A educação popular pode ser feita com homens e
dos, como escolas e universidades; e não formal,
mulheres, de todas as idades, dentro ou fora da es-
que tem sido experimentada em diversos movi-
cola, ou seja, ela pode estar presente em situações
mentos sociais, possui um grau baixo de institucio-
de educação formal ou não formal, desde a creche
nalização e se caracteriza pela busca de caminhos
até a pós-graduação.
para superação de problemas vivenciados pelos su-
jeitos que dela participam e, portanto, lança mão de
Foto: Arquivo pessoal de Patrícia Claudia da Costa

procedimentos metodológicos e conteúdos progra-


máticos variados de acordo com cada comunidade
para a qual esteja voltada.

Vê-se claramente que o tipo de educação realizada


pelo MOVA está na categoria de educação não for-
mal. No entanto, ainda temos necessidade de lhe

12 Núcleo na Comunidade Santa Teresa D’Ávila


ENTIDADES ALFABETIZADORAS

Fotos: Arquivo pessoal de Hélio de Sousa Reis


ANTES DA CRIAÇÃO DO MOVA
GUARULHOS

Cáritas Diocesana de Guarulhos


Incentivado e apoiado pela Irmã Mônica e pelo Padre Raimundo Irmã Mônica (Monique Laro-
com a colaboração dos grupos de jovens da paróquia Nossa Senhora che), freira canadense da Con-
de Fátima, o projeto surgiu em 1977 centrado em turmas de alfabe- gregação das Irmãs de Caridade
de Ottawa que trabalhava junto à
tização junto às favelas de Divinolândia, Vila Flórida, Bela Vista e
comunidade local.
Vila Fátima, nos barracões comunitários e em casas de membros das
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). O trabalho era feito por três
ou quatro monitores voluntários. Às vezes, contava-se com ajuda de
custo, proveniente de recursos de entidades católicas do Canadá e da
Alemanha.

O objetivo do projeto era promover o acesso à escrita aos mais po-


bres, marginalizados e aos analfabetos com mais de dezoito anos.
Inicialmente, o curso de alfabetização durava cinco meses. Depois foi
ampliado para um ano. Em 1990, com a volta da Irmã Margarida do
Canadá, o trabalho original foi retomado. Tornou-se um dos projetos Padre Raimundo (Raymond
Forget), canadense, atuou na Vila
da Cáritas Diocesana de Guarulhos e foi ampliado para todas as pa-
Fátima e nas grandes periferias
róquias da cidade. No auge do movimento, chegou a ter 76 grupos de de Guarulhos nas décadas de 60
alfabetização, atingindo aproximadamente 1 500 adultos. a 90. Formado em Ciências So-
ciais pela USP, era incentivador
de uma Igreja popular e engaja-
Irmã Margarida (Bibiane La Victoire). Freira da pela criação e fortalecimento
canadense da Congregação das Irmãs de das Comunidades Eclesiais de
Caridade de Ottawa, professora e graduada Base (CEBs). Espírito dinâmico,
em Direito Canônico (Teologia). Na época, organizou as pastorais sociais.
coordenava o Grupo de Educação Popular Coordenou a elaboração do do-
da Vila Fátima, em Guarulhos. Atuou nas cumento sobre Guarulhos para
décadas de 60 a 90 na Paróquia Nossa Senhora a criação da Diocese, enviado ao
de Fátima. Vaticano.

Igreja Universal com o projeto LER E ESCREVER


O projeto iniciou em 1994 na Igreja Universal do Rio de Janeiro. A partir de 1996 se estendeu para São Paulo
e, em seguida, para Guarulhos. O projeto também se desenvolve em todas as igrejas que tenham espaço físico
disponível. Atualmente a ação continua graças ao trabalho voluntário dos educadores.

Os educandos recebem material escolar e camisetas e, após o período de alfabetização, são encaminhados para
a escola estadual mais próxima para realização de teste de classificação e, depois, matriculados na EJA da Rede
Estadual.

13
Pastoral da Criança – Diocese de IBEAC
Guarulhos
Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitá-
O projeto foi desenvolvido na Diocese de Guaru- rio. Criado em São Paulo, no início dos anos 80, tem
lhos durante os anos de 2000 a 2008. Chegou a ter atuado na Educação de Jovens e Adultos e em ações
oito núcleos entre 2000 e 2006. Os grupos eram es- de defesa dos direitos humanos, em parceira com
palhados pela cidade, em diferentes bairros: Jardim instituições públicas e privadas, principalmente na
São João, Cumbica, Itapegica, Vila Fátima, Cocaia, formação de educadores populares. Em Guarulhos
Presidente Dutra, Jardim Adriana e Santa Mena. fez convênio com a Cáritas Diocesana no projeto de
alfabetização de adultos, entre 1996 e 2001.
A alfabetização acontecia nos salões das Paróquias e
Centros Comunitários. Os núcleos tinham de 8 a 20
educandos. A maioria era de mães atendidas pela
Pastoral. O tempo para alfabetizar durava de 1 a 2
anos, e o projeto tinha material próprio, baseado na
pedagogia de Paulo Freire e na Metodologia do Ver,
Julgar, Agir, Avaliar e Celebrar.

O principal objetivo era ensinar especialmente


mães, jovens e líderes das comunidades a aprender
a ler e escrever, mas também refletir sobre a realida- História de Vida - Dona Rosa na visão de uma
de local e promover ações concretas de saúde, nutri- Educadora
ção, educação e vida comunitária, colaborando, as-
Maria Rosa de Jesus, 104 anos, viúva, mãe de
sim, na transformação da realidade e na libertação
da população analfabeta.
sete filhos, dos quais quatro já são falecidos,
nasceu em Soledade, município de Igaporã - BA.
Sempre trabalhou na roça, vida dura e difícil para
Espaço Cultural Florestan Fernandes criar seus filhos. Sem sorte no casamento, teve de
fazer uma dura escolha: entregar uma de suas filhas
Localizado próximo da Praça dos Estudantes, o es-
(Eunice) para ser criada por outra família.
paço, até encerrar suas atividades, esteve voltado ao
desenvolvimento de diversas práticas de educação
Dona Maria Rosa sempre teve o desejo de ler e
não formal na cidade, onde se desenvolviam ativi- escrever. Este sonho foi realizado pela Eunice, que
dades de capoeira, artes, cursinho pré-vestibular, a levou ao Programa MOVA, dando início a uma
danças, entre outras. A organização atendeu a salas nova fase em sua vida.
do MOVA até o final do ano de 2005. Hoje Dona Rosa é uma mulher realizada, pois já
consegue ler e escrever. E, por estar tão contente,
trouxe seu filho Arnaldo para o MOVA, onde é
CCECAS seu companheiro de sala. O Centro Municipal
A ONG Conselho Comunitário de Educação, Cultu- de Educação Adamastor é o seu segundo lar. É
ra e Ação Social (CCECAS) está localizada na cida- muito ativa. Além de fazer suas atividades físicas
de e, atualmente, possui 8 núcleos de alfabetização no bairro em que reside, frequenta os Bailes da
no âmbito do Projeto Educar para Mudar, Alfabeti- Terceira Idade no próprio Adamastor, onde é
zação e Pós-Alfabetização (1ª a 4ª série) em parce-
ria com o Governo Estadual. A organização existe
conhecida e fez muitas amizades.
desde 1999.
Eu, como Educadora do MOVA, me sinto muito
feliz por fazer parte da vida de Dona Maria Rosa,
e ela da minha.
Educadora: Espedita Ferreira dos Santos Batistucci

14 Entidade: Associação Comunitária Desportiva do Parque


Uirapuru - ACDPU
A Equipe MOVA é formada por coordenadores
pedagógicos, na Secretaria de Educação,
e é responsável por planejar e executar as
diversas ações do Movimento, como:

• Formação Inicial a cada ano para todos


os educadores e agentes populares
recém-chegados ao Programa;

• Formação Permanente quinzenal ao longo


do ano para acompanhamento, orientação,
planejamento e reflexão sobre a prática pedagógica
dos educadores;

• Formação de agentes populares, quinzenal, com o objetivo de promover o planejamento, a


dinamização e a organização de ações de acompanhamento aos núcleos de alfabetização
nas regiões em que estão situados;

• Encontro Integrado, semestral e de caráter consultivo e deliberativo, no qual os sujeitos


do MOVA buscam agir conjuntamente para garantir unidade nas ações em prol do
Movimento.

O QUE É? Coordenador Pedagó-


gico: Mediador no processo de
integração das/entre as entidades
Fotos: Arquivo MOVA / SE

conveniadas e responsável pela


construção e desenvolvimento da
proposta pedagógica que norteia a
atuação de todos os educadores e
agentes populares. Suas principais
atribuições são: planejar e executar
as ações formativas do Programa,
além de acompanhar e monitorar
o funcionamento dos núcleos de
formação. Atua na Secretaria de
1ª Formação Inicial na EPG Crispiniano Soares (2002)
Educação e é, antes de tudo, um
mediador da construção do conhe-
cimento. Ele é um sujeito que cons-
trói com os educadores e agentes
populares formas de ação capazes
de fortalecer o Movimento, além de
contribuir para a formação político-
pedagógica dos sujeitos que fazem
o MOVA no dia a dia dos núcleos,
procurando desenvolver uma refle-
xão que possa questionar o senso co-
mum, tendo em vista patamares cada
vez maiores de conscientização, no
sentido que apontava Paulo Freire.

Formação Inicial no CME Adamastor


15
FESTIVAL MOVA
Em 2003, o MOVA Guarulhos, sentindo a necessidade de criar marcas que representassem o
Movimento na cidade e fora dela, organizou um festival no dia 19 de outubro do mesmo ano
para a escolha de símbolos, como hino, logotipo e slogan que expressassem sua identidade em
eventos como fóruns e encontros.

O Festival envolveu todos os sujeitos do MOVA, comunidade e familiares, além de artistas


locais, em uma construção coletiva e democrática. Um dos objetivos do evento foi tornar a
escolha dos símbolos um momento pedagógico de afirmação da identidade do Movimento.

A atividade aconteceu no Parque Júlio Fracalanza e contou com, aproximadamente, 1 000 pes-
soas. Foi uma grande festa!

A fotografia indica dois momentos que caracterizam a passagem de uma vida sem
sol e com muitos pedregulhos antes de o educando entrar no MOVA, que se modifica
quando ele tem a oportunidade de se alfabetizar no Movimento.

16 Frase vencedora: Se envolva, venha para o MOVA


HINO
MOVA GUARULHOS
Autor: José Genaro de Carvalho
Igreja Batista Peniel

Quando criança não deu pra estudar


Pois logo cedo eu fui trabalhar
Pra ajudar os meus pais, criar meus irmãos
E assim não vi o tempo passar

Mas, eu confesso, não era feliz


Era uma planta que não tinha raiz
Mas eu sabia que um dia iria encontrar
Alguma forma da forma da gente
pra me ensinar

Depois do MOVA minha vida mudou


Eu só amava e hoje escrevo amor

E se você quer mudar pra ser mais feliz


Venha pro MOVA, mude o nosso país

Mas o destino eu posso mudar


E o segredo é só estudar
Pois a história do mundo a gente que faz
Dos animais aos animais racionais

Eu só queria dizer que o MOVA surgiu


Pra descobrir você
Pro nosso Brasil

17
MO VA,
Eu sou Luzinete. Quando entrei no Abelina Batista Brizola nasceu em 15 de
is de um
não sabia que iria tão longe. Depo janeiro de 1932, na Bahia. Mora na Rua
oje estou no Galeão, Jardim Aeródromo, Guarulhos - SP
ano estudando fui para a EJA. H Abelina casou muito cedo, teve dez filhos
.
us quiser,
2º ano do ensino médio. E, se De nunca frequentou a escola.
e
e vem.
terminarei meus estudos no ano qu Mesmo aos 80 anos, Dona Nena, como é
co-
nhecida, deseja realizar o sonho de aprend
Que tem MO VA em todo o a ler e escrever seu nome corretamente, poi
er
Brasil? s
na sua identidade consta que é analfabeta.
Quando entrei no MO VA para persistente e diz que, mesmo com esta ida
É
de,
estudar, não sabia sequer assi- ela vai conseguir. Está no MO VA há cinco
nar meu nome. Mudei de bairro, meses e já conhece as letras do alfabeto.
.
e lá estava o MO VA junto comigo Educadora: Lindete Leite Araújo de Souza
Este sim é um amigo fiel. Entidade: Centro Social da Paróquia San
to Alberto Magno
Silva Lira
Educadora: Agnailda Moreira da
ia Santo Alberto
Entidade: Centro Social da Paróqu
Magno

Sala de Alfabetização Família Sousa

Meu nome é Luís Gilber to de Araújo (Giba). Sou ar te-educador e educador


do MOVA desde julho de 2007.
Cheguei aqui numa missão de honra e muita dor, e é com muito carinho e
saudade que quero aqui relatar quem começou essa caminhada.
A Sala de Alfabetização “Família Sousa” foi uma homenagem da Capela
Sagrada Família à minha querida cunhada Maria do Carmo do Nascimento
eé Sousa e sua família que, no dia 25 de julho de 2007, sofreram um trágico
na verdad
O MO VA desejos acidente na Rodovia Fernão Dias.
is t u r a de nomes,
m .O Eles voltavam de férias da Bahia onde visitavam pela primeira vez tios e
uma
a s e r e m realizados
e sonhos aber ler tias. Nesse acidente, das cinco pessoas que estavam no carro, apenas uma
é u m sonho de s de sobreviveu e se chama Hélder, que sofre as consequências de perder toda
MO V A
t a m b é m o lugar on
e migos.
e escrever, v e r dadeiros a
sua família.
a m o s Maria do Carmo era educadora desde a criação do MOVA, muito amada pelos
encontr da Moreir
a da
: Agnail educandos e pessoas ligadas ao Movimento. Durante toda sua vida, teve
Educadora ira
Silva L como lema: O trabalho, a honra e a honestidade.
Dedicou toda sua vida ao bem-estar dos seus e do próximo.
Aprendi a amar o MOVA da mesma forma que ela amou. Aprendi a respei-
tar o MOVA assim como ela respeitou.
E vou continuar no Mova juntamente com minha esposa Ivanilde, fazendo o
que é de melhor para a comunidade.
Já faz cinco anos que eles se foram e cinco anos que aqui estou. Apesar
da dor sem fim, tenho orgulho de fazer par te dessa família! Viva o MOVA!
Saudades de seus familiares e amigos.

18 Educador: Luís Gilber to de Araújo


Entidade: Associação Caritativa da Paróquia Nossa Senhora de Fátima
Roza de Macedo T ito nasceu em
26 de agosto de 1925, no Estado
de Pernambuco. Mora na Rua São
Paulo Potengi - Jardim Cristina,
Guarulhos/SP.
Filha de lavradores, Roza nunca
pôde estudar. Casou-se aos 23
teve oito filhos. Estudou sozinh anos,
a na roça e entrou para o MOVA
em 2010. Lia muito pouco. Hoje
Souza

desenvolve a leitura muito bem,


escrita precisa ser melhorada. e a
Foto: Lindete Leite Araújo de

Aos 86 anos, Roza faz par te


de um grupo de idosos, onde já
par ticipou de concurso de Miss
Terceira Idade e dança. Faz
ginástica na Prefeitura. Seu pri
ncipal hobby é escrever poesia
orações. Gosta de costurar. s e

Roza ganhou duas medalhas de


ouro par ticipando de caminhada
De tudo que faz, acha que o ma s.
is impor tante é estar na escola
(MOVA). Dona Roza é um exemp
lo para a sala.
Educadora: Lindete Leite Araújo
de Souza
Entidade: Centro Social da Paróqu
ia Santo Alber to Magno

O Melhor Trabalho da Minha Vi


da
“Você aprende que realmente pode
suportar... que realmente é forte, e
mais longe depois de pensar que nã que pode ir muito
o se pode mais. E que realmente a
que você tem valor diante da vida” vida tem valor e
(William Shakespeare)
Minha experiência no MOVA está
sendo de grande valia, tanto profiss
soal. Acredito muito nessa magnífic ional como pes-
a iniciativa porque vai além de um
da graduação. Não há dinheiro que sonho, a conquista
pague os momentos compartilhados,
dos laços de solidariedade e a satisfa o desenvolvimento
ção de um trabalho em equipe realiza
do com êxito.
Fazer parte desse projeto é muito gra
tificante. Percebi o quanto vale a pen
projetos sociais, a importância de faz a participar de
er a diferença e não ser apenas ma
é preciso muita perseverança, dar o is um. Para isso,
melhor de si, acreditar no futuro do
valer o próprio trabalho com todo próximo, fazer
o comprometimento possível.
O MOVA está se tornando parte
de minha vida. E, por este motivo,
melhor trabalho de minha vida. considero como o
Educadora: Patrícia Ribeiro dos San
tos
Entidade: Associação Comunitária Des
portiva do Parque Uirapuru- ACDP
U 19
CONCEPÇÃO FREIRIANA
A concepção freiriana se baseia na obra e na prática ca. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que
do educador Paulo Freire (1921-1997), um pensa- crescem juntos e em que os “argumentos de autoridade”
dor importante não só para a educação de jovens já não valem. Em que, para ser-se, funcionalmente, au-
e adultos, mas para a educação de modo geral. Sua toridade, se necessita de estar sendo com as liberdades e
concepção ficou conhecida como “Método Paulo não contra elas.
Freire”, que consistia em um conjunto de práticas
Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco nin-
realizadas pelos próprios sujeitos alfabetizandos
guém se educa a si mesmo: os homens se educam em
com vistas à libertação, em uma práxis que não dis-
comunhão mediatizados pelo mundo. Mediados pelos
socia oralidade, leitura e escrita, mas as inscreve em
objetos cognoscíveis que, na prática “bancária”, são
uma perspectiva de diálogo que dá origem a um
possuídos pelo educador que os descreve ou os deposita
tema gerador, ampliando o universo do educando.
nos educandos passivos.
Como horizonte pedagógico, sua concepção nasce
O conteúdo de seu trabalho é direcionado por uma
em oposição à visão bancária de educação, na qual
visão de mundo emancipadora e tem em vista a
o educando é depositário dos conteúdos que o edu-
transformação das relações de opressão que asso-
cador lhe impõe, desconsiderando sua realidade,
lam a vida do trabalhador. Por essa razão é que não
experiências, práticas e saberes. Em conhecida pas-
se deve pensar a proposta de Paulo Freire somente
sagem de sua reflexão, no livro Pedagogia do Opri-
como um “método”, mas, de maneira mais adequa-
mido (17ª edição, 1987), Paulo Freire escreve: Desta
da, trata-se de uma filosofia (porque desenvolve
maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o
uma elaboração crítica de pensamento sobre o mun-
que, enquanto educa, é educado, em diálogo com
do), de uma antropologia (porque desenvolve uma
o educando que, ao ser educado, também edu-
concepção de homem e de sujeito da transforma-
ção) e de uma teoria do conhecimento (porque de-
senvolve um conjunto de práticas de alfabetização
coerente com uma nova visão de desenvolvimento
humano, ligada à busca do “ser mais ”).
Sua concepção de educação, portanto, re-
quer uma escolha política em favor de
quem e contra quem estamos educan-
do. Ela requer uma opção de classe,
uma consciência da necessidade de
vincular a prática a uma práxis, porque
não há neutralidade no que se refere à
educação. Nesse sentido, Paulo Freire, com
profunda afirmação de sua opção política, dedica
o livro Pedagogia do Oprimido “aos esfarrapados do
mundo e aos que nele se descobrem e, assim des-
cobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com
eles lutam”. A educação, por isso, é uma luta contra
toda forma de opressão, buscando, em oposição,
criar uma prática da liberdade com base em uma
pedagogia da autonomia. Essa é a concepção frei-
riana de educação.

20
DE EDUCAÇÃO
O QUE É? Método Paulo Freire: apesar de o pró- O QUE É? Práxis: termo utilizado desde a
prio autor ter declarado, diversas vezes, que não se antiguidade grega para significar a junção
reconhecia como o criador de um método, a manei- da ação com a reflexão. Nos dias atuais, seu
ra como organizou o processo de alfabetização de significado no campo da educação está mais
adultos, no Nordeste Brasileiro no início dos anos próximo da ideia da constante ação-reflexão-
de 1960, acabou sendo chamado de um método que ação sobre as práticas educativas. Em outros
ganhou o seu nome. Basicamente, é composto por contextos, a práxis também é entendida como
três etapas. A primeira consiste na seleção de pa- a relação entre teoria e prática, negando tanto
lavras que façam parte do universo vocabular dos o ativismo ingênuo quanto o idealismo utó-
sujeitos que serão alfabetizados — ou seja, das pa- pico. A práxis é a expressão da ação do ho-
lavras mais usadas no dia a dia da comunidade. Por mem que luta para transformar a realidade.
serem palavras bastante significativas para aquele
grupo de sujeitos, Freire as chamou de “palavras
geradoras” porque geram debate, problematiza-
O QUE É? Tema gerador: é o universo mí-
ção, conhecimento. Com cada palavra, Freire pro-
nimo temático definido com base em uma
punha a preparação de uma “ficha de descoberta”:
problematização conjunta entre educandos e
um quadro com a imagem do que a palavra repre-
educador sobre a realidade que os envolve.
senta, acompanhado da sua escrita e das famílias
Esse tema pode ser “trabalho”, “identidade”,
silábicas relacionadas a ela. A partir dessa ficha, os
“cultura”, etc. que variará conforme a reali-
educandos eram convidados a formar novas pa-
dade de cada grupo (círculo de cultura).
lavras. A formação de palavras a partir de sílabas
apresentadas em “famílias silábicas”, derivadas de
uma primeira palavra, não é um procedimento in-
ventado por Paulo Freire. Isso já existia há muito O QUE É? Objeto Cognoscível: objeto que se
tempo. As novidades por ele introduzidas foram: a pode conhecer, ou seja, a realidade que será
seleção das palavras geradoras a partir de uma pes- desvelada e apreendida criticamente pelo
quisa sobre o universo vocabular do grupo que se educando.
pretende alfabetizar; a problematização da realida-
de a partir do debate sobre as palavras geradoras;
o reconhecimento da alfabetização como um meio O QUE É? Ser mais: vocação que toda mulher
de conscientização, não possuindo um fim em si e todo homem têm de serem mais humanos.
mesmo, e, consequentemente, superando o modelo Dizer que podemos “ser mais” significa que a
mecânico de alfabetização baseado exclusivamente Educação pode nos (trans)formar como seres
na memória, substituindo-o por um ato de criação mais conscientes do nosso papel na história,
de conhecimentos. seres mais justos, mais livres, mais humani-
zados.

Para saber mais...


Caso tenha interesse em ler mais sobre Paulo Freire e sua concepção de edu-
cação, visite a Biblioteca do Professor Lev Vygotsky – Av. Monteiro Lobato,
734, subsolo. Várias obras do autor podem ser encontradas, como Pedagogia
do Oprimido, A Importância do Ato de Ler e Pedagogia da Autonomia.

21
PAULO FREIRE

Foto: Arquivo pessoal de Hélio de Sousa Reis


Encontro do Grupo de Educadores da Vila Fátima no
apartamento de Paulo Freire em São Paulo (1980)

A necessidade de continuar as re-


flexões do educador pernambuca-
no levou à criação do Instituto Pau-
lo Freire, uma associação sem fins
lucrativos criada em 1991 em São
Paulo. A iniciativa criou uma Rede
que, atualmente, integra pessoas e
instituições em mais de 90 países,
com a finalidade de não deixar
Núcleo de Alfabetização no Barracão Comunitário - Favela
que o legado do educador se per- da Vila Flórida em Guarulhos (1979)
ca. Além dessa iniciativa, a obra de
Paulo Freire continua viva e moti-
vando muitas pessoas no ideal de
construir uma sociedade melhor
pela educação, seja nos movimen-
tos sociais, nos grupos de pesqui-
sas de universidades e institutos e
em muitos outros espaços de atua-
ção social.
História do MOVA:
Meu primeiro aluno com necessidade especial

No primeiro ano em que dei aula no Mova, tive um aluno


chamado Carlos. Lembro que quando chegava a hora do
lanche, ele ia me ajudar a organizar a mesa. Depois eu lavava
a louça e ele fazia questão de secar. Os demais guardavam.

Um dia, quando foi em uma sessão com a psicóloga, ele


mostrou seu caderno do Mova, cheio de orgulho. E nas
bordas do caderno estava escrito meu primeiro nome: ANA.
Fiquei muito feliz. Para ele eu estava fazendo a diferença. Logo
após, ele arrumou serviço na Bauducco, onde trabalha até hoje.
Ainda estuda no MOVA com outra educadora, pois eu precisei
mudar de bairro.

MOVA, mudando vidas, fazendo a diferença para um mundo


melhor.

Educadora: Ana Cláudia de Lima Correia Carpinteiro


Entidade: Casa de Cultura Água e Vida

Há dez anos, logo quando surgiu o Programa


MOVA, eu, Ana Carpinteiro, educadora, fazia
faxina para comprar material didático para os
alunos. MOVA, minha paixão!

23
Empresa de Reciclagem RFR - Jd. Cumbica Casa da Educadora Miriam - Bom Clima

Sede da Entidade Conveniada Núcleo Batuíra - Cumbica CEU Ottawa-Uirapuru - Jd. Ottawa

Escola Estadual - Jd. Santa Lídia Salão Santo Arcângelo Tadini - Cidade Seródio
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias - Pimentas

Fotos: Maurício Burim / SE

Prédio da Previdência Social - Vila


Augusta

25
No subsolo do prédio espelhado do Centro
Municipal de Educação Adamastor, existe
uma biblioteca especializada com a finalidade
de dar suporte para estudos e pesquisas na
área educacional por meio da consulta local
e empréstimo para educadores, formadores e
estudantes que trabalham, residem ou estudam no
Município de Guarulhos. Trata-se da Biblioteca do
Professor Lev Seminovitch Vygotsky, que tem esse
nome para homenagear um dos mais importantes teóricos da
educação do século XX. Lá você poderá encontrar, além dos livros
do próprio Vygotsky e sua equipe, um grande acervo composto
por 8 990 livros tombados, revistas educacionais, dissertações de
mestrado, teses de doutorado, TCCs, jornais, CDs, DVDs e acervo em
Braille.
A biblioteca tem seu espaço aberto para que todos os cidadãos
tenham acesso à leitura, ou ao estudo em outras áreas, bem como
acesso à internet, porém o empréstimo de materiais é restrito a
professores e estudantes.
A biblioteca oferece ainda o “Espaço dos Grandes Educadores”, para
homenagear um educador e convidar os visitantes a conhecer um
pouco mais sobre estes mestres. No mural já passou Lev Vygotsky,
Célestin Freinet, Anísio Teixeira, Maria Montessori e outros.
Para se associar, basta ser professor das Redes Municipal, Estadual,
Federal ou Particular de Ensino, conveniadas ou estudante da
área da educação e comparecer com RG, holerite e comprovante
de residência. No caso de estudante, é necessário trazer uma
declaração ou boleto do mês que comprove sua permanência na
Instituição. A cada empréstimo você poderá retirar até dois livros e
dois outros materiais (apostila, revista, gibi, CD ou fita) com o prazo
de devolução de quatorze dias, podendo renovar por mais quatorze.
O usuário que, durante um ano, entregar os materiais dentro do
prazo passará à categoria de usuário VIP, podendo retirar até três

26
livros. A Biblioteca foi inaugurada no dia 15 de outubro de 2004, com o
expediente das 8h às 22h, e fica localizada na Av. Monteiro Lobato, 743 -
Macedo.

Existe também, no Adamastor, a Biblioteca do Aluno, inaugurada em 15


de maio de 2004, que atualmente tem um acervo de 20 mil livros e revistas
diversas. Lá o associado poderá encontrar obras de referência, literatura,
etc., além de ter acesso à internet. A Biblioteca é um centro de leitura e
conta com espaço para estudo. Qualquer
morador da cidade pode se associar,
basta comparecer com RG e comprovante
de endereço (ou de vínculo no município). Lembre
te
A maioria
dos materi
O horário de funcionamento é de terça a na seção P ais indicad
os
ara sa
sexta-feira, das 10h às 20h, e sábado, das estão disp
ber ma
is...
oníveis na
10h às 14h. Professor o B iblioteca d
u do Aluno o
e boas leitu . A s s o cie-se
ras!

Fotos: Maurício Burim / SE


Biblioteca do Aluno

Biblioteca do Professor - Lev Seminovitch Vygotsky


NO MOVA SE FALA ASSIM
SUJEITOS DO MOVA:
EDUCADOR E EDUCANDO
O educador é uma pessoa que assume o papel Quando o “aluno” é chamado de “educando”,
de mediador da construção do conhecimento. a valorização da experiência educativa vivida
No caso do MOVA Guarulhos, educador é pelo sujeito do seu próprio aprendizado se
quem atua como alfabetizador em um núcleo sobrepõe à tradicional percepção do estudante
conveniado. Sua ação consiste em proporcionar como alguém que nada sabe e está na aula para
situações nas quais a turma possa ampliar os livrar-se das trevas da ignorância.
seus conhecimentos sobre a leitura e a escrita,
além da conscientização. O agente popular é uma pessoa indicada
pela entidade conveniada com o
Já o educando é uma pessoa que está vivendo Movimento, responsável pela mediação e o
um processo educativo na condição daquele que acompanhamento das atividades e ações dos
aprende. O termo “educando” está adequado educadores e das educadoras, promovendo a
à opção política de reconhecer o participante articulação entre os sujeitos do coletivo MOVA e
do MOVA Guarulhos como alguém que está também com a Comunidade.
envolvido num processo de aprendizagem.
Foto: Maurício Burim / SE

Empresa de Reciclagem FRF - Jd. Cumbica (2012)


Material Pedagógico
A produção de material didático pela Coordenação O primeiro material pedagógico (revista) foi pro-
Pedagógica nestes 10 anos do MOVA Guarulhos é duzido em 2004, como ação inicial de um processo
muito rica, diversificada e criativa, partindo de um que se consolidaria nos próximos anos. No início
processo de escuta, de diálogo entre coordenação, de 2005, decidiu-se fazer um Encontro de Planeja-
educadores, agentes populares e educandos. mento Colaborativo no auditório das Faculdades
Torricelli. Foi um marco e um avanço para o MOVA.
Desde o início do MOVA, a Coordenação sentiu ne-
Mais de 220 educadores (divididos em 2 turmas)
cessidade de produzir material adequado para alfa-
participaram do encontro em sábados alternados.
betização de adultos, dentro da concepção freiriana.
A princípio, quase não se encontrava livro didático
apropriado para a EJA, e a isso se somava a resis- O QUE É? Planejamento Colaborativo: metodolo-
tência e a dificuldade dos educadores de colocar em gia utilizada para a produção coletiva das revistas.
prática a proposta freiriana. Vários deles recorriam Como parte desse processo, a Equipe MOVA cha-
a velhas cartilhas de alfabetização de crianças. mou todos os educadores para apontarem temas
de interesse dos educandos. Era com base nessas
O material era chamado de “revista”, uma coletâ-
discussões que, então, elaboraram-se todos os ma-
nea de textos elaborados e organizados pela Equi-
teriais. Assim, todos participaram tanto do planeja-
pe. As “revistas” apresentavam diversas propostas
mento das revistas, quanto de sua elaboração.
de atividades, para serem desenvolvidas com os
educandos segundo a teoria da psicogênese da lín-
gua escrita, de Emília Ferreiro, e serviam de subsí-
dio, de apoio para a prática nos núcleos.
Em subgrupos, fizeram um estudo do perfil dos
educandos, abordando os mais variados aspectos,
principalmente os seus anseios, os seus sonhos. A
partir daí, foram levantados os temas, posterior-
mente ordenados e sistematizados dentro das Datas
Comemorativas, com novo enfoque crítico, de acor-
do com a realidade dos educandos. Por exemplo, a
Nascida em 1936, é uma pes- partir do Dia do Trabalho, surgiram os temas: pro-
quisadora argentina que se fissão, emprego, desemprego, preconceito, autoesti-
ma e solidariedade; Dia da Ecologia, os temas: meio
doutorou na Universidade de ambiente, enchentes, moradia, água, reciclagem,
Genebra, Suíça, e atualmente saneamento básico...
Emília Fer Um dos materiais mais interessantes foi elaborado
é professora titular do Cen- reiro em 2007. Partiu de um processo de escuta dos edu-
tro de Investigação e Estudos cadores e dos educandos. No início desse ano, a pri-
meira tarefa dos educadores na Formação Perma-
Avançados do Instituto Politécnico Nacional
, da Cidade do nente foi responder a três questões (em subgrupos):
México. Ela é uma continuadora das pesquisas
de Jean Pia- 1. Quem é o nosso educando?
get sobre o construtivismo. Em parceria com
a pedagoga es- 2. Como ele aprende?
panhola Ana Teberosky, suas pesquisas resul
taram na teoria 3. Por que ele está no núcleo de alfabetização?
da psicogênese da língua escrita, que significa
o conjunto dos
processos mentais envolvidos no desenvolvime
nto do código
linguístico. Daí surgem as fases de aquisição
da escrita que,
de maneira resumida, se organizam em pré-
silábico-alfabética e alfabética.
silábica, silábica, 29
Em seguida, levaram a terceira questão para a
sala, fazendo a pergunta aos educandos: “Por
que você está no núcleo de alfabetização?”. No
encontro seguinte, os educadores tabularam as
respostas dos educandos, e a Equipe MOVA
organizou todas as contribuições trazidas.
Diante de todas essas informações, formulou-
-se um eixo temático que contemplasse a maior
gama possível de entrecruzamento das razões
declaradas.
Foi possível perceber que os desejos e sonhos
dos educandos do MOVA Guarulhos, relacio-
nados ao aprendizado da leitura e da escrita,
giram em torno das questões de identidade,
raízes e cultura. A partir deste abrangente
tema, levantamos quatro subtemas (quatro
“revistas”):

1. “Meu nome, minha história, nossa história”;

2. “Nossa origem”;

3. “Nossa cidade: ontem e hoje”;

4. “Nosso bairro”.
As “revistas” do MOVA abordaram os mais
variados temas, passando por meio ambiente,
saúde, preconceito linguístico até a temática
racial, fortalecendo a consciência política de
todos. Apesar de pouca divulgação, o nosso
material pedagógico foi utilizado por outros
educadores, principalmente por professores
da Rede Estadual.

Para saber mais...


Muitos dos materiais produzidos pelo
MOVA podem ser encontrados na Bi-
blioteca do Professor Lev Seminovitch
Vygotsky.

30
31
32
Para saber mais...
No site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é possível encontrar uma série de informações
sobre a educação no Brasil. Lá podem ser encontradas as sínteses de indicadores sociais do censo e da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), não só da área da educação, mas também das condições de vida
da população brasileira. Vale a pena também navegar no portal do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA), vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
www.ibge.gov.br, www.censo2010.ibge.gov.br e www.ipea.gov.br
Educandos do MOVA participam do Prêmio Akoni
de Promoção da Igualdade Racial. O Prêmio é uma
iniciativa da Secretaria de Educação, realizada pelo
Grupo de Trabalho de Promoção da Igualdade Racial
(GTPIR), com o objetivo de identificar, valorizar e di-
vulgar as produções dos educandos e educandas da
Rede Municipal relacionadas à temática. Já acontece-
ram três edições: 2008, 2009 e 2011, que contemplaram
as seguintes categorias: em 2008 e 2009, desenho, slo-
gan e fotografia; em 2011, desenho, história em quadri-
nhos e slogan.

Minha sala ganhou o primeiro lugar no Prêmio Ako-


ni 2011 com a frase do educando José Amaro: “A COR
DA PELE NÃO PODE DETERMINAR O FUTURO
DE ALGUÉM”. No Brasil, como em muitos lugares
do mundo, há preconceito e discriminação em todos
os aspectos. É importante abordarmos esse tema. Eu
conscientizo meu pequeno grupo e acredito que pode-
mos fazer a diferença.
Educadora: Ana Cláudia de Lima Correia Carpinteiro
Entidade: Casa de Cultura Água e Vida

2009 - Categoria: Fotografia


O prêmio foi um notebook para o educando e um kit
de livros para a educadora.

2011 - Categoria: Slogan


1º lugar
Slogan: “A cor da pele não pode determinar o futuro
de alguém”
Educando: José Amaro de Souza
Educadora: Ana Cláudia de Lima Correia Carpinteiro
Entidade: Casa de Cultura Água e Vida
1º lugar
Educanda: Edna Tereza Camilo 2º lugar
Educadora: Regiane Neves da Silva
Entidade: Oxigênio
Slogan: “Escravizaram um povo e condenaram uma
raça”
Educanda: Ana Karina Silva de Lima
Educadora: Lucimar Aparecida de Souza Magalhães
Entidade: Associação Caritativa da Paróquia Nossa Se-
nhora de Fátima

3º lugar
Slogan: “Não insista, não seja racista”
Educanda: Maria de Lourdes Barros
Educadora: Ivanilde Rocha do Nascimento Araújo
Entidade: Associação Caritativa da Paróquia Nossa Se-
nhora de Fátima
2º lugar
Educando: Gregório Feitoza
Educadora: Verônica Lopes dos Santos
Entidade: Paróquia Santo Alberto Magno
35
COMISSÃO Mova
A “Comissão MOVA” é um grupo de educadores e consulta feita aos educadores durante os encontros
agentes populares, independente e não atrelado à de formação continuada.
administração e sem representante da coordenação
As principais conquistas das novas Portarias foram:
pedagógica, que se mobiliza em busca de melhorias
redução do número mínimo de 15 para 10 educan-
das condições de atuação do Movimento perante
dos em sala de aula para manutenção do convênio;
a Secretaria Municipal de Educação e as entidades
e reajuste do valor de R$ 450,00 para R$ 550,00 da
conveniadas.
ajuda de custo mensal do educador.
Ao longo da história do MOVA Guarulhos, pelo
Dando continuidade ao seu trabalho, que visa co-
menos três grupos distintos já se reuniram com a
nhecer e problematizar os limites de atuação do
intenção de constituir tal Comissão. Alguns inte-
MOVA, a mais atual discussão é a da possibilidade
grantes permaneceram desde a primeira formação
de transformação das Portarias em Lei Municipal ,
do grupo, perseguindo os mesmos propósitos. Os
assunto debatido em fórum municipal e no dia a dia
integrantes atuais desempenham o papel de agen-
do Movimento.
tes multiplicadores de informações e de ações que
fortaleçam o Movimento. A Comissão é composta Muito também se discute sobre a necessidade de
por uma diretoria com mandato de dois anos de du- preparo político e pedagógico dos educadores e
ração cada um, com a participação de educadores e agentes populares. Necessidade que tem levado a
agentes populares. Comissão a participar de encontros de formação
política na Escola Nacional Florestan Fernandes, em
Uma das ações mais importantes da Comissão foi a Guararema/SP, desde 2009. Fruto dos aprendizados
participação em um grupo de trabalho que discutiu nesses encontros, o próprio Movimento organizou
a formulação das Portarias 130/11 e 131/11, que tra- em Guarulhos seu Primeiro Encontro de Formação
tam dos direitos e deveres dos sujeitos que fazem Política, em outubro de 2011, com a participação de
parte do Movimento. A discussão da nova regula- educadores, agentes populares, representantes de
mentação do convênio foi resultado de uma ampla várias entidades conveniadas e do Poder Público.

Foto: Arquivo pessoal de Patrícia Claudia da Costa


Comissão do MOVA (2009)
O QUE É? Convênio: contrato de prestação de ser- O QUE É? Lei: Norma jurídica criada pelo
viços, parceria entre o Poder Público e entidades so- Poder Legislativo e que gera a garantia de
ciais conveniadas. No caso específico do MOVA, a cumprimento do que ela prevê. Por exemplo,
finalidade é o atendimento de jovens, adultos e ido- antes de 2003 as pessoas com mais de 65 anos
sos que procuram oportunidade de alfabetização. não tinham direito a viajar gratuitamente de
um estado da federação a outro. A partir da
Lei 10.741/03, conhecida como Estatuto do
O QUE É? Portaria: Documento emitido por auto- Idoso, o sistema de transporte coletivo inte-
ridade administrativa contendo ordens, instruções restadual passa a ser obrigado a dispor de
sobre a aplicação de leis, recomendações, normas duas vagas por veículo reservadas para os
de execução de serviços e outros atos que são de idosos com renda igual ou inferior a dois
responsabilidade do Poder Executivo. O termo tem salários mínimos. Muitas outras conquis-
origem na linguagem antiga, quando o administra- tas tiveram os idosos com essa lei, que tem
dor enviava “um mandado por escrito para o por- abrangência nacional. Existem também leis
teiro executar” (Dicionário Houaiss). estaduais e municipais.

Para saber mais...


Todas as portarias que regulamentam o MOVA estão disponíveis no
site da Prefeitura de Guarulhos [www.guarulhos.sp.gov.br], no Diário
Oficial do Município.
Portaria nº 4/2002 - de 22 de abril de 2002; Portaria nº 22/2005 - de 19 de de-
zembro de 2005; Portaria nº 42/2007 - de 7 de dezembro de 2007; Portaria nº
52/2009 - de 4 de dezembro de 2009; Portarias nº 130 e 131/2011 - de 29 de
novembro de 2011 (Cf. Errata de 7 de dezembro de 2011 - SE, p. 17).

Os educandos do MOVA são certificados ao final de seu período de alfabetização


no Movimento. A iniciativa começou em 2009 com a publicação da Portaria 52/2009,
Art. 5º, § 2°, que dispõe: “O Certificado de Conclusão do MOVA será expedido após
avaliação aplicada pela Secretaria de Educação, e os alunos encaminhados para
submeter-se a prova serão indicados pela instituição responsável, ao final de cada
ano letivo”. Foram certificados 144 formandos em 2010 e 195 em 2011. A intenção é
certificar os educandos como alfabetizados a fim de prosseguirem os estudos.
Foto: Maurício Burim / SE

37
1ª Cerimônia de Certificação dos educandos do MOVA
ESPAÇOS FORMATIVOS

Para que as ações pedagógicas consigam atingir A metodologia de trabalho para a Formação Inicial
o Movimento de forma eficaz e abrangente, os es- é orientada pela articulação do conhecimento teóri-
paços formativos foram segmentados de forma di- co sobre como se aprende, com atividades práticas
versificada, onde os sujeitos que compõem o Mova com base nos conteúdos discutidos coletivamente.
sejam contemplados. Descrevemos abaixo estes es- A avaliação é realizada ao longo de todo o curso por
paços: meio da realização de atividades individuais e em
grupo, complementadas por uma avaliação geral
no final.
FORMAÇÃO INICIAL (FI)
O objetivo geral desta ação é formar educadores po-
FORMAÇÃO PERMANENTE (FP)
pulares (alfabetizadores e agentes populares) para a
atuação na alfabetização de jovens, adultos e idosos Voltada a educadores, a Formação Permanente
na cidade de Guarulhos. visa ao aprofundamento pedagógico, efetivando o
princípio da educação ao longo da vida. A Forma-
Ela acontece uma vez por ano, geralmente no final
ção tem uma periodicidade quinzenal, em núcleos
de janeiro ou no início de fevereiro, atendendo aos
espalhados por bairros da cidade, proporcionando
educadores iniciantes do ano corrente e os demais
o melhor atendimento aos educadores. Atualmen-
que começaram o trabalho no ano anterior, poste-
te, há em atividade 10 turmas de formação, distri-
riormente à FI.
buídas nas regiões do Taboão, São João, Presidente
Durante a Formação Inicial, a intenção é sensibili- Dutra, Bairro dos Pimentas e Centro; nos seguintes
zar os participantes para uma ação educativa que espaços: Centro Social da Paróquia Santa Cruz do
envolva os sujeitos jovens, adultos e idosos na cons- Taboão, Centro Social da Paróquia Santo Alberto
trução da leitura e da escrita dentro das suas neces- Magno, Salão da Paróquia Santa Cruz do Presiden-
sidades. Para isso, se faz necessária a construção de te Dutra, CEU Pimentas, Centro de Integração da
alguns conhecimentos básicos e comuns aos educa- Cidadania (CIC) e Centro Municipal de Educação
dores, como: Adamastor.
• Discutir os principais fatos que compõem a his- Nesses momentos, o educador se qualifica para de-
tória da Educação de Jovens e Adultos no Brasil; senvolver o seu trabalho dentro da concepção frei-
• Refletir sobre as particularidades dos proces- riana de educação. Os temas desenvolvidos nas for-
sos de conhecimento vividos pelos sujeitos do mações vão ao encontro das necessidades de cada
MOVA; núcleo, das comunidades, com o intuito de colabo-
rar com a formação de um cidadão crítico e atuante
• Orientar os envolvidos sobre as políticas para a
na construção de uma nova sociedade, mais justa,
diversidade étnico-racial, de gênero, de orienta-
igualitária e fraterna.
ção sexual, etc.;
• Introduzir a Concepção Freiriana de Educação;
ENCONTRO INTEGRADO
• Compreender como o conhecimento da escrita
se constrói: a psicogênese da língua escrita e a A iniciativa surgiu da necessidade de envolver num
contribuição da sociolinguística; trabalho coletivo os representantes de Entidades
Conveniadas, coordenadores pedagógicos, educa-
• Refletir sobre os conteúdos matemáticos presen- dores e agentes populares para, juntos, garantirmos
tes na proposta do MOVA e como ensiná-los; a efetivação do Programa MOVA.
• Desenvolver noções de planejamento, registro O objetivo é discutir os avanços e os desafios vivi-
e avaliação. dos pelos sujeitos. Também se discute o fortaleci-

38
mento do Movimento em sua base, onde cada nú- os novos desafios criaram a possibilidade de que os
cleo de alfabetização acontece, considerando que encontros se tornassem semestrais ou anuais.
ler e escrever não são fins, mas meios para chegar-
A periodicidade depende das demandas aponta-
mos à transformação social tão sonhada, mas ainda
das pela Secretaria Municipal de Educação ou pela
utópica em nossos dias.
base do Movimento, e sempre que é necessário os
O Encontor Integrado acontece semestralmente e parceiros se reúnem para dialogar e deliberar sobre
tem caráter consultivo e deliberativo. Nele se discu- importantes decisões que influenciam diretamente
te como os sujeitos têm atuado no Programa MOVA, o cotidiano da prática alfabetizadora, tais como a
no sentido de pensar coletivamente em encaminha- organização dos núcleos, a regulamentação jurídica
mentos que melhorem a atuação e participação de da parceria e a participação em eventos regionais
todos nas formações oferecidas pela Secretaria Mu- e nacionais. Também é um espaço de formação pe-
nicipal de Educação, assim como nas convocações dagógica no qual vários pesquisadores já contribuí-
realizadas pelas entidades sociais. ram para o debate, por meio de palestras e diálogos.

FÓRUM MOVA GUARULHOS

Foto: Arquivo pessoal de Patrícia Claudia da Costa


O Fórum MOVA é um espaço formativo que já teve
diversas formas de organização, mas sempre man-
tendo o mesmo objetivo: discutir os desafios vividos
pelo Movimento, na busca de encaminhamentos
que tornem cada vez mais efetiva a parceria entre o
poder público e a sociedade civil para a superação
do analfabetismo na cidade. Nos primeiros anos de
funcionamento, o Fórum acontecia ao menos qua-
tro vezes ao ano, pois muitas eram as demandas a
serem discutidas para consolidação do MOVA. Aos
poucos, as dificuldades iniciais foram resolvidas e
O MOVA SE FALA ASSIM

Fórum MOVA (2002)

“Educação ao longo da vida” é um conceito


que tem se popularizado neste início de século da escolaridade. O MOVA por si só garante a
e que traduz algo que Paulo Freire gostava de apropriação de diversos conteúdos que desenvolvem
destacar em suas falas e textos: o potencial que conhecimentos, capacidades, habilidades,
o ser humano tem de aprender sempre, como ser competências e valores fundamentais para o
inacabado que é. O MOVA tem desempenhado um exercício da cidadania e que contribuem, assim, para
importante papel na promoção da educação ao uma vivência de educação plena.
longo da vida. A ação do Movimento possibilita o
acesso de jovens, adultos e idosos a um espaço de Núcleos do MOVA: turmas de educandos, salas
interação social no qual a alfabetização é um meio de alfabetização que funcionam nas entidades
de reunir pessoas para aprender coletivamente. O conveniadas, mantendo a proposta do Círculo de
MOVA oferece oportunidade para a construção de Cultura criada por Paulo Freire. Na figura do círculo,
muitos aprendizados significativos e abre caminhos todos se olham e se veem. Não há professor, mas
para a escolarização formal à medida que desperta um mediador, um educador popular. Faz-se a leitura
a autoconfiança necessária daqueles que se lançam do mundo pelo diálogo, em que todos se ensinam e
ao desafio de aprimorar a formação pela elevação aprendem.

39
O Núcleo Batuíra Repente da
está no MOVA
desde 31 de julho Educação
de 2002, e, nestes
10 anos, já alfabetizou Para falar de educação: pare, pense e analise
juntamente com o É importante ter estudo com todas as diretrizes
Programa centenas de educandos, muitos dos Neste país tão grande, ainda existe analfabeto
quais deram continuidade aos seus estudos, Se não fosse prioridade a educação de nossos netos.
tanto na Rede Municipal quanto na Rede
Estadual. Filhos de toda nação aprendem a ler e escrever
Um desses educandos, Ricardo Pereira, atuou É tanta satisfação que não se dá pra esconder
no Programa MOVA como educador do Sem o MOVA para educar o mundo é um transtorno
Núcleo Batuíra. O desemprego gera fome e a fome o abandono.

Educadora: Rafaela Aparecida Batista


Priorizar a educação é resolver essas tristezas
Entidade: Núcleo Batuíra
Ver um idoso sorrir ao ler um belo poema
A arte e a cultura também são muito importantes
Vamos todos educadores ajudar neste instante.
Casei aos 12 anos. Com isso, parei de estudar e
passei a cuidar de casa e dos meus filhos. Mas Fazer da educação prioridade importante
sempre tive o sonho de concluir os estudos Pergunte ao seu coração e responda neste instante
e fazer uma faculdade. E essa oportunidade
Se a educação não é importante? Pare e pense,
aconteceu quando, com muito sofrimento,
governante.
perdi minha mãe que teve câncer e fiquei com
Se não é prioridade me mostre toda a verdade.
depressão. Nessa fase conheci o Djalma, um
educador do MOVA, que me incentivou a
Mas afirmo o meu pensamento e a esse assunto
estudar. No início, fiquei muito relutante, pois
confirmo
não queria sair de casa para nada. Mas acabei
Nesta cidade bonita só existe um desafio:
aceitando o convite, o que me fez muito bem.
Dar importância à juventude, à educação e ao
O incentivo do meu marido, dos filhos e do
educador Djalma foi muito importante. idoso,
Priorizando a educação para todo nosso povo.
Em 2011, consegui concluir os estudos e, no
próximo ano, quero cursar Química. Hoje
Dar importância, eu repito, para uma boa formação
sou uma Agente Popular do MOVA, pois
Sem crianças nos faróis, perdidas e sem futuro,
quero ajudar os outros, assim como um dia fui
Buscando ser um humano inteligente e seguro
ajudada.
Priorizar educação para do Brasil ter orgulho.
Agente Popular: Sandra Regina B. Dantas
Entidade: Associação Movimento de Ação e Inclusão Autor: Luís Gilberto de Araújo
Social - MAIS Entidade: Associação Caritativa da Paróquia Nossa Senhora
de Fátima

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Sílvia Alexandre de Souza nasceu em Guarulhos, tem 40 anos e já nasceu com paralisia cerebral parcial. Quem
cuida dela é sua tia. Sempre houve um descaso em relação aos estudos, pois sua própria mãe não acreditava no

Foto: Arquivo pessoal de Danielle Gonçalves Rabello


seu potencial. Hoje é minha educanda no MOVA e desenvolve outras atividades como desenho, pintura em tela e
participa de algumas oficinas na Associação pelos Direitos da Pessoa Deficiente (ADPD).
Francisco Afonso Correa de Lima e Silva nasceu em Rio Branco, Estado do Acre, tem 50 anos e já nasceu com
paralisia cerebral parcial. Mora em Guarulhos e sua mãe cuida dele. Não frequentou a escola desde criança, pois
as condições de acessibilidade eram precárias. Hoje, com auxílio de transporte solidário, tem conseguido chegar
até a sala do MOVA e em outros lugares educacionais como a ADPD, lembrando que ele não fica só nisso e está
fazendo um curso de desenho e pintura em tela.
Há uma coincidência muito grande entre esses dois, pois são duas deficiências iguais
e fazem cursos juntos na ADPD e estudam no MOVA. É impressionante olhar para
eles e ver a alegria de viver a vida. Depois que adaptei alguns lápis e
tesouras, facilitou muito a escrita das letras em formato bastão e os
recortes de jornais.
Educadora: Danielle Gonçalves Rabello
Entidade: Associação Amigos de Bairro do Jd. das Andorinhas - Lavras

A história de um Em 18 de junho de 1950, na cidade de Nova Luz (Bahia),


nasce Valdelino Rodrigues dos Santos, filho de mãe solteira
homem do e mulher de muita coragem.

MOVA
Vem para São Paulo aos 18 anos, homem humilde, trabalha-
dor, negro, analfabeto e solitário. Foi em fevereiro de 2008
que chegou ao MOVA.
Era um educando que nunca faltou na sala de aula. Chegava
cedo, estava na fase pré-silábica, se sentava na primeira carteira, brincava com todos e seu sorriso era
verdadeiro e prazeroso. Ele falava que tirava terra, cavava poços e morava sozinho.
Em março de 2011, ele começou a buscar ajuda médica, pois o vício do cigarro debilitou sua saúde. Até
doente vinha na sala, e no dia 03/03/2011 foi sua última aula na Sala de Alfabetização Família Sousa.
Ele já não fumava, mas nesse dia brincamos com ele:
— Cuidado, Boneco, tu vai parar na Vila Rio (cemitério)!
Ele ria e falava:
— Sai fora! (Fazendo gesto com a mão de que isso iria demorar. Demos um abraço e ele se foi).
E foi mesmo. No dia 04/03/2011, sofreu uma parada respiratória e morreu na Policlínica do Jardim Pa-
raíso. Nós só ficamos sabendo do fato no dia 07/03/2011.
Um grande amigo, que faz muita falta na sala. Sua carteira se encontra vazia. Mas, como todos, temos
nossa hora de partir e ele partiu.
Valdelino Rodrigues dos Santos, você faz parte dessa história!
Descanse em paz! Amigos e educandos da Sala de Alfabetiza-
ção Família Sousa.

Educador: Luís Gilberto de Araújo


Entidade: Associação Caritativa da Paróquia Nossa Senhora de Fátima
6ª CONFINTEA
O MOVA Guarulhos, nos últimos anos, vem O QUE É? CONFINTEA: Conferência Inter-
participando dos mais importantes eventos e nacional de Educação de Adultos. Organizada
encontros que discutem as políticas e as inicia- pela UNESCO, a cada 12 anos, é o evento mun-
tivas de educação de Jovens e Adultos no país. dialmente mais importante na área. Sua sex-
O Movimento vem se fortalecendo como uma ta edição, em 2009, foi a primeira realizada no
das maiores iniciativas de alfabetização de Hemisfério Sul e aconteceu na cidade de Belém
do Pará, reunindo cerca de 1 500 participantes
adultos no Estado de São Paulo, de modo que
de 156 Estados-Membros da UNESCO, além de
sua participação nos encontros só o fortifica na
organizações internacionais e da sociedade civil.
conquista de seus objetivos. Além da participa- Teve como principal objetivo discutir o poder da
ção em fóruns regionais e estaduais, o MOVA educação e da aprendizagem de adultos para ga-
Guarulhos também esteve presente na VI Con- rantir um futuro viável para todos. O documen-
ferência Internacional de Educação de Adultos to final da VI CONFINTEA tem sido chamado
(CONFINTEA). de Marco de Belém. Ele é uma espécie de carta
de compromissos, assinada pelos países partici-
pantes, com princípios e metas de organização
da Educação de Adultos para os próximos anos,
assim como a Declaração de Hamburgo (do-
cumento final da V CONFINTEA, realizada na
Alemanha em 1997) era o compromisso mundial
em torno da EJA quando o MOVA Guarulhos foi
criado, em 2002.

Para saber mais...


O texto pode ser acessado pelo link:
http://www.unesco.org/fileadmin/
MULTIMEDIA/INSTITUTES/UIL/
confintea/pdf/working_documents/
Belem%20Framework_Final_ptg.pdf

42
Abaixo segue trecho do texto aprovado no continuum que vai da aprendizagem formal
evento, intitulado Marco de Ação de Belém, para a não formal e para a informal. A aprendi-
que institui, em seu preâmbulo, a educação ao zagem e educação de jovens e adultos atendem
longo da vida como um princípio central: as necessidades de aprendizagem dos jovens,
dos adultos e dos idosos. A aprendizagem e
educação de jovens e adultos abrangem um
Conceito de Educação ao Longo da Vida: vasto leque de conteúdos — aspectos gerais,


questões vocacionais, alfabetização da famí-
RUMO À APRENDIZAGEM AO LONGO DA lia e educação da família, cidadania e muitas
VIDA outras áreas — com prioridades estabelecidas
de acordo com as necessidades específicas de
(...)
cada país.
7. O papel da aprendizagem ao longo da vida
é fundamental para resolver questões globais 9. Estamos convencidos e inspirados pelo pa-
e desafios educacionais. A aprendizagem ao pel fundamental da aprendizagem ao longo
longo da vida, do ‘berço à sepultura’, é uma fi- da vida na abordagem das questões e desafios
losofia, um marco conceitual e um princípio or- globais e educacionais. Além disso, estamos
ganizador de todas as formas de educação, ba- convictos de que a aprendizagem e educação
seado em valores inclusivos, emancipatórios, de jovens e adultos preparam as pessoas com
humanistas e democráticos, sendo abrangente os conhecimentos, capacidades, habilidades,
e parte integrante da visão de uma sociedade competências e valores necessários para que
do conhecimento. Reafirmamos os quatro pi- exerçam e ampliem seus direitos e assumam
lares da aprendizagem, tal como recomenda- o controle de seus destinos. A aprendizagem e
do pela Comissão Internacional sobre Educa- educação de jovens e adultos são também im-
ção para o Século XXI, quais sejam, aprender perativas para o alcance da equidade e da in-
a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e clusão social, para a redução da pobreza e para
aprender a conviver com os outros. a construção de sociedades justas, tolerantes,


sustentáveis e baseadas no conhecimento.
8. Reconhecemos que a aprendizagem e educa-
ção de jovens e adultos representam um com-
ponente significativo do processo de apren-
dizagem ao longo da vida, envolvendo um
Em 2012 o MOVA Guarulhos completou 10 anos de sua trajetória. Com o objetivo
de socializar e potencializar as práticas desenvolvidas ao longo destes anos pelos
educadores, educandos e demais agentes, a Secretaria Municipal de Educação pro-
moveu, nos dias 31 de março e 2 e 3 de abril, atividades em comemoração ao mo-
mento, com o tema “contribuindo para a emancipação humana, garantindo direitos
e realizando sonhos”.
A Cerimônia de Abertura contou com o show “Nas Asas da Leitura” do cantor, com-
positor, ator e escritor Costa Senna. O evento, denominado “Talentos do MOVA”,
reuniu cerca de 500 pessoas que prestigiaram as apresentações culturais dos edu-
cadores, agentes populares e educandos, além de saborearem a culinária oferecida
pelas entidades conveniadas. As práticas desenvolvidas no Movimento estavam
brilhantemente expostas pelas atividades realizadas nos núcleos de formação, o
que possibilitou a socialização do trabalho pedagógico. O público também pôde
assistir ao vídeo de retrospectiva dos 10 anos do MOVA com depoimentos e fotos
de todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram nesta trajetória.
Como momento formativo, no segundo dia das atividades de comemoração, refle-
timos sobre os sentidos do Movimento na cidade com base no tema dos 10 anos.
Inicialmente, tivemos a apresentação do quadro cênico “A casca de banana”, com a
educadora Maria Francisca e seus educandos, como também a declamação de poe-
sia em homenagem ao MOVA, com os educadores Adenilson dos Santos e Miriam
Ribeiro.
Em seguida, recebemos as palestrantes Patrícia Claudia da Costa e Vera Barreto,
importantes educadoras comprometidas com o avanço da educação popular no
Brasil. As falas serviram como uma oportunidade para todos os sujeitos do MOVA
afirmarem sua identidade no Movimento e perceberem sua importância na cons-
trução da cidadania via alfabetização.
Como encerramento das comemorações, houve a realização da formatura com uma
cerimônia de certificação para os 195 educandos alfabetizados em 2011. Foi um
momento de muita emoção para todos, pois se tratava da conclusão de mais um
ciclo na vida dessas pessoas. A alegria e o espírito de festa tomaram conta de todos
Fotos: Maurício Burim e Vanda Martins / SE

com a apresentação do Corpo Musical da Guarda Civil de Guarulhos. No final, os


educandos foram homenageados com a exibição de um vídeo contendo as histórias
de vida e de luta de muitos deles.
Registramos, mais uma vez, nossa gratidão
a todos que participaram e contribuíram na
criação e expansão do MOVA Guarulhos.

44
Os Estatutos do Homem
[...]
Artigo III

Fica decretado que, a partir deste instante,


haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança [...]

Thiago de Mello (Santiago do Chile, abril de 1964)


EXPEDIENTE

Prefeito
Sebastião Almeida

Vice-Prefeito
Carlos Derman

Secretária Municipal de Educação


Prof.ª Neide Marcondes Garcia

Secretário Adjunto de Educação


Prof. Fernando Ferro Brandão

Gestora do Departamento de Ensino Escolar


Sueli Santos da Costa

Gestora do Departamento de Orientações Educacionais e Pedagógicas


Sandra Soria

Gestor do Departamento de Controle da Execução Orçamentária da Educação


Josmar Nunes de Souza

Gestor do Departamento de Alimentação e Suprimentos da Educação


Marcelo Colonato

Gestor do Departamento de Manutenção de Próprios da Educação


Luiz Fernando Sapun

Gestora do Departamento de Planejamento e Informática na Educação


Cintia Aparecida Casagrande

Gestora do Departamento de Serviços Gerais da Educação


Margarete Elisabeth Shwafati

Coordenação Divisão Técnica de Políticas para


Tiago Rufino Fernandes Educação Fundamental e EJA
Miriam Augusto
Assessoria
Patrícia Claudia da Costa
MOVA Guarulhos (Elaboração)
Revisão Francisca Bueno dos Santos, Francisca Inácia de
Hélio de Sousa Reis Alencar Carvalho Barros, Hélio de Sousa Reis,
Jorge Rodrigo Nascimento Spínola, Maria Eliana
Patrícia Claudia da Costa Cesário de Araújo Paulo, Rita Andrade, Roseclei
Tiago Rufino Fernandes Neves da Silva e Valéria de Campos Balbino.

DIVISÃO TÉCNICA DE PUBLICAÇÕES EDUCACIONAIS


José Augusto Lisboa, Claudia Elaine Silva, Maurício Burim Perejão, Eduardo Calabria Martins,
Maristela Barbosa Miranda, Camila Lima dos Santos, Carla Maio e Yve Pinheiro de Azevedo Oliveira.

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