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Meu chefe vivia falando do meu corpo e das roupas que eu escolhia. Se usava um
vestido ou saia, dizia que eu estava 'toda sexy'. Outro dia, quando apareci de batom
vermelho, chegou a dizer que eu estava 'parecendo uma ninfeta'. Algumas vezes, passava
a mãe no meu cabelo, no meu ombro, e falava alto na agência para todos ouvirem que
'tinha sorte o homem que me pegasse'. Nunca tive coragem de ir até o RH porque ele era o
chefe, e tive medo de me queimar na área, mas pedi demissão depois de três meses
passando por isso.' - A. N.
"Meu superior pegou o número do meu celular e vivia mandando mensagens aos
finais de semana, à noite, de madrugada me chamando para sair e dizendo que estava
com saudades. Durante as férias, inclusive. Eu sempre esquivei, recusei, mas ele nunca
desistiu. Sempre comentava das minhas roupas, me chamava de 'morena bonita', falava
como gostava das minhas pernas e insistia em me abraçar na frente de todos, me
deixando desconfortável e constrangida. Nunca denunciei porque ele é um importante
profissional da área jurídica, então acho que só iria ficar ruim pra mim. Continuei
aguentando a situação por mais de um ano até sair de lá' - M. F.
"Ficar sozinha com o meu chefe no escritório virou rotina. Fui pra uma reunião em
outra cidade com ele. Pegamos o carro e fomos para Santos de manhã. Depois de um dia
todo com o cliente, subimos para São Paulo e o assunto no carro não estava me deixando
confortável. Ele começou a falar mal da mulher e, quando finalmente consegui trocar de
assunto, ele falava da época que ele era jovem e ia para baladas. Bebia e fumava, transava
com as meninas chapado de maconha e outras experiências que não me deixava ficar
confortável com ele no carro. Assim que chegamos próximo a minha rua, eu achei que
estava tudo bem, mas ele voltou a tocar no assunto da mulher… disse que o casamento
não ia bem e que eu o estava provocando. Um absurdo! Assim que ele parou em frente de
casa, insistiu para irmos num bar e eu disse que queria ir para casa imediatamente. E
quando saí meio desesperada do carro ele disse que era para eu sair correndo mesmo….
disse que eu deveria sair correndo do carro dele porque ele tinha um monstrinho interno
que nao podia ser acordado e que se eu nao saísse imediatamente do carro dele ia dar
errado. Só me lembro de sair correndo, literalmente, do carro dele e ir para casa chorar.
Não consegui dormir aquela noite, porque foi muito chata a situação. (...) Os dias seguiram
bem mal. Um dia, fui comer uma banana e ele simplesmente virou pra mim e disse que não
conseguia se concentrar mais no que estava falando. Ou quando uma menina que
trabalhou comigo estava tomando sorvete e ele soltou outro comentário nojento. Fiquei
seis meses lá. Comecei a procurar emprego e prometi que nunca mais iria trabalhar numa
agência de novo'. - K. M.
Crime no Brasil desde 2001, o assédio sexual é caraterizado por contato físico e
verbal de cunho sexual além de chantagens e oferecimento de favores. Além de tornar o
ambiente de trabalho hostil e desagradável para a vítima, a prática também pode acarretar
problemas de autoestima, confiança e até mesmo o desenvolvimento de problemas
mentais como a ansiedade.
Assédio sexual e moral no ambiente de trabalho são crimes e podem render pena de
até dois anos de prisão, além de uma indenização à vítima. Os limites entre uma cantada e
um ato de assédio são delicados e merecem atenção. O presidente da Comissão de
Direitos Sociais da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Nilton da Silva, disse que
mulheres constituem a maioria das vítimas quando se trata de assédio sexual. É
considerado crime, de acordo com o artigo 216 A do Código Penal, quando a pessoa se
aproveita do cargo exercido para retirar vantagem sexual de um subordinado. “É quando o
chefe ameaça, por exemplo, demitir o funcionário que negar fazer sexo. Ele está usando do
poder que possui para fazer com que a vítima ceda ao ato para uma realização pessoal
dele. Isso é crime. É caso de polícia. Não existe o querer da vítima no ato, ela apenas cede
para não perder o emprego. É quando o líder oferece aumento em troca da transa, por
exemplo”.
- “A vítima de um assédio pode, antes de tudo, tentar conversar com o próprio assediador.
Expor que aquilo que ele está fazendo é ruim. Caso não resolva, tentar avisar a área de
recursos humanos da empresa. Se também não for resolvido, é preciso um boletim de
ocorrência e depois uma ação na Justiça. O importante é não se calar e não aceitar esse
tipo de situação”.
Se a vítima perder o emprego por ter denunciado ou negado qualquer ato sexual, a
legislação também prevê que a empresa recontrate o trabalhador, caso seja comprovado
que o motivo da demissão se tratou de um assédio. Os especialistas recomendam que a
vítima registre e tenha cópias das denúncias feitas, assim como, se possível, provas das
situações de constrangimento em si.
As provas do assédio sexual, na maioria das vezes, são difíceis de serem obtidas,
uma vez que a prática do citado ato é realizada apenas entre duas pessoas, ou seja, o
agente (assediador) e a vítima (assediada), assim como é o entendimento do Tribunal
Regional do Trabalho da 1ª Região: “A prova da ocorrência de assédio sexual no ambiente
de trabalho é na maioria das vezes impossível de ser produzida, até pelas peculiaridades
que envolvem a conduta do agente ofensor, que cria ou forja situações de privacidade com
sua vítima, aproveitando-se de sua posição de comando e da ausência de terceiros, não
deixando rastros de seu comportamento, exceto quando quer exibir um ilusório e patético
titulo de conquistador”.