Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
-1-
Introdução
Para que uma negociação seja um sucesso, é fundamental que negociadores tenham comportamentos e
pensamentos focados no atingimento desse intuito. Afinal, quando isso não acontece, os prejuízos desse fracasso
tendem a ser sentidos por toda a organização, de forma que o negociador, em muitas circunstâncias, pode ficar
se perguntando: “por que fiz isso?”.
Para evitar a chance de fracasso, muitos especialistas recomendam que as negociações sejam precedidas de um
cuidadoso planejamento, com vistas a garantir que elas tenham mais sucesso pela previsão e pelo planejamento
de como ocorrerão.
É sobre essa temática que nos debruçaremos neste capítulo. Aqui, entenderemos quais são as diferentes
habilidades demandadas aos negociadores, a sua aplicação em papéis a serem assumidos em uma negociação e,
por fim, as ações relacionadas ao estilo de cada negociador em uma negociação (lembrando sempre que o
negociador deve, a todo momento, ajustar comportamentos e ações ao contexto vivenciado).
Além disso, entenderemos como uma negociação é planejada, como seus objetivos são estabelecidos e de que
forma ela é avaliada. Também analisaremos a questão ética envolvida em negociações (afinal, compensa ou não
agir de forma oportunista em uma negociação?). Além de tudo, avaliaremos os resultados de uma negociação –
resultados nos quais ambas as partes saem satisfeitas (ganha-ganha), apenas uma sai satisfeita (ganha-perde) e
o pior dos resultados possíveis, no qual ninguém sai satisfeito (perde-perde).
Vamos lá?
• habilidade técnica: conhecimento técnico do assunto em questão, por exemplo: um negociador enviado
-2-
• habilidade técnica: conhecimento técnico do assunto em questão, por exemplo: um negociador enviado
para negociações que tratem sobre aspectos estruturais de um edifício deve, obviamente, entender
profundamente dos aspectos técnicos relacionados à construção de um edifício;
• habilidade humana: o negociador selecionado para conduzir uma negociação tem a capacidade de
ouvir e entender o que a outra parte deseja, sabendo se comunicar de forma bem-sucedida, sinalizando
de forma positiva essa compreensão. Por exemplo: uma professora de jardim de infância deve ter
conhecimento sobre as formas preferenciais de conversar com crianças pequenas, para dirimir eventuais
conflitos que possam surgir entre os pequenos, sabendo ouvir suas queixas e adotando decisões justas e
eficazes na solução de conflitos;
• habilidade conceitual: o negociador compreende não só o que é a sua organização, mas também como
funciona e quais os motivos que a levaram negociar com outras partes. Além desse profundo
conhecimento dos motivos que o levaram a estar lá, o negociador portador desta habilidade deve
conhecer bem o mercado onde atua, seus concorrentes e as características principais de sua contraparte.
Trata-se de uma habilidade rara e desejada, fazendo com que o negociador faça uso de alternativas
negociais criativas, consiga elaborar diagnósticos precisos de cenários e situações, além de conseguir
estruturar soluções que englobem de forma positiva soluções para os conflitos discutidos, sendo o
objetivo final de incontáveis programas de formação de líderes e negociadores.
VOCÊ SABIA?
Donald Trump, presidente eleito norte-americano, durante vários anos se dedicou à redação
de livros sobre negociação e à mídia (como o seu famoso programa O aprendiz e o concurso
Miss Universo). Apesar dessas credenciais, o famoso presidente não é conhecido por fazer uso
de habilidades técnicas, humanas ou conceituais – nem mesmo de desenvolver negociações
satisfatórias a todos os envolvidos. Para seus críticos, o principal problema relacionado à sua
forma de agir é acreditar saber de tudo, sem conhecer realmente muitos fatos relevantes para
a tomada de decisão.
Tais habilidades, segundo Acuff (1993), são construídas pelo negociador ao longo do tempo e quando ele estuda
se expõe a diferentes perfis de públicos e negociações, tendo, com isso, um processo efetivo de aprendizado e
evolução no tema.
símbolos da organização – eles a representam fisicamente. Mais ou menos como o finado Steve Jobs
-3-
símbolos da organização – eles a representam fisicamente. Mais ou menos como o finado Steve Jobs
representava o dinamismo da empresa Apple em apresentações;
líderes – exercem influência sobre as pessoas e situações com as quais têm contato;
ligação – têm como responsabilidade estabelecer redes de comunicação e relações entre seus colegas,
superiores, subordinados e o meio externo à organização.
• Papel informacional: trata da função de o negociador obter informações do meio organizacional para o
meio externo e vice-versa. Nesta função, negociadores são vistos como:
monitores – controlam informações e situações ocorridas do lado interno e externo da organização, filtrando tais
dados e utilizando em momentos que julgar adequado;
disseminadores – disseminarão informações relevantes internamente;
porta-vozes – transmitirão seus interesses com públicos externos.
• Papel decisional: envolve a análise detalhada das situações, a avaliação de riscos envolvidos em
situações e, por fim, a tomada de decisão. Neste papel, os negociadores são também:
empreendedores – por iniciarem e planejarem mudanças que venham a ser benéficas para a sua organização,
eles podem empreender novas ideias e acordos;
pacificadores – buscarão solucionar conflitos e outras externalidades que possam vir a prejudicar os acordos
estabelecidos em negociações;
gestores de recursos – deverão, ao longo da negociação, gerir o tempo e os recursos disponíveis para que a
negociação tenha sucesso, além de estar atento à utilização destes recursos pelas demais partes envolvidas no
conflito;
negociadores – por fim, Mintzberg (2014) descreve a importância de eles agirem de fato como negociadores, ao
estabelecerem diálogo com atores conflitantes em um processo complexo (como sindicatos e associações de
clientes).
Para fecharmos o conceito de papéis e habilidades, reveremos alguns pontos: negociadores, para serem de fato
eficientes e eficazes, precisam deter habilidades técnicas, humanas e conceituais, para que possam compreender
a complexidade das situações nas quais se veem envolvidos em negociações. Assim, quanto mais complexa é a
negociação, maior também é a necessidade de a organização contar com negociadores que possuam as três
habilidades listadas por Katz (1986).
Além de habilidoso, o negociador deve se atentar aos diferentes papéis que assumirá em uma negociação –
essencialmente, por ser ele o representante da empresa que o enviou. Por isso, é esperadíssimo que este líder,
possuindo habilidades técnicas, humanas e conceituais, tenha também ciência de que exercerá papéis
informacionais, interpessoais e decisionais em uma negociação. Por isso, é importante que o profissional tenha
ciência do quanto a sua conduta e competência serão avaliadas em uma negociação.
-4-
2.1.3 Negociação e seus estilos na prática
Além de ser habilidoso e dotado de consciência quanto aos papéis que assumirá em uma negociação, o
profissional deve se atentar a um estilo de consulta a ser assumido em uma negociação. Este estilo negocial é
adotado quando o profissional constatar algumas características específicas presentes na negociação em si ou na
sua contraparte, fazendo com que seu estilo se ajuste à situação.
Constata-se, então, a relevância de o negociador ser dotado de habilidades de autocontrole e motivação, sabendo
ajustar comportamentos e sentimentos para a negociação a ser estabelecida.
Casse (1995 apud MARTINELLI; ALMEIDA, 1998) identificou quatro diferentes estilos a serem assumidos por
profissionais em negociações: efetivo, analítico, relativo e intuitivo. O quadro a seguir lista as características
deles.
-5-
Quadro 1 - Demonstração de possíveis estilos negociais em diferentes tipos de negociações estabelecidos.
Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de MARTINELLI; ALMEIDA, 1998.
E em quais situações tais estilos são mais apropriados? É o que veremos a seguir.
-6-
Figura 1 - Ilustração de como estilos negociais inadequados podem dificultar o atingimento de acordos em
negociações.
Fonte: Birgit Reitz-Hofmann, Shutterstock, 2018.
Mas será que existe um único estilo de negociação que seja apropriado para todos os possíveis conflitos?
A resposta é: não. Chiavenato (1999) afirma não existir “um único jeito melhor” de se comportar ou obter
resultados. Para o autor, diversos estilos de negociação podem ser adotados, dependendo das circunstâncias nas
quais os fatos estão sendo sucedidos. Tendo essa constatação em vista, o quadro a seguir relaciona diferentes
estilos negociais a diversas situações de conflito.
-7-
Quadro 2 - Demonstração de possíveis estilos negociais em diferentes tipos de conflitos.
Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de MARTINELLI; ALMEIDA, 1998; LEWICKI; SAUNDERS; BARRY, 2014.
Cabe destacarmos que os itens citados no quadro anterior dão como exemplos negociações internas. Suas
recomendações podem, também, serem estendidas para fatores externos, envolvendo, inclusive, terceiros neste
processo.
-8-
2.2 Objetivos das partes em negociações
Ao se constatar a existência de algum ponto a ser negociável, as partes tendem a estruturar formas de negociar a
situação. Existem, porém, circunstâncias diversas que podem levar a organização a, por pressa, não saber
exatamente o que pretende em uma negociação. Por essa falta de objetivos, os resultados obtidos em uma
negociação podem não ser os que são, de fato, necessitados pela empresa.
Por isso, como destaca Cohen (2000), sem objetivos claros e estabelecidos, o negociador não tem um “norte”:
não consegue saber de quais informações precisa, quais as formas de lidar com diferentes perfis de negociação
envolvidos, não consegue estabelecer métodos de abordagem, não tem ciência do que pode e o que não pode
ceder... Enfim, a ausência de objetivos é uma grande temeridade para o sucesso de qualquer negociação. E,
nessas situações, cabe ao negociador buscar mais tempo para conseguir se organizar e elaborar melhor as
necessidades e os objetivos a serem perseguidos em uma organização.
E de onde vêm os objetivos?
Luecke; Watkins (2003, p. 85) destacam alguns fatores-chave para a elaboração de objetivos negociais:
Segundo os autores, cada um dos tópicos listados deve ser observado pelo negociador, em conjunto com seus
superiores. Luecke; Watkins (2003) destacam, ainda, a importância de a gestão estar atenta à negociação, dando
autonomia ao negociador que a representa, dentro de alguns limites pré-acordados.
-9-
Figura 2 - Processo de planejamento de ações em uma negociação.
Fonte: Elaborada pela autora, adaptado de LEWICKI; HIAM; OLANDER, 1996; LEWICKI; SAUNDERS; BARRY,
2014; MARTINELLI; ALMEIDA, 1997; 1998; DONALDSON, 1999; VASQUES, 2014.
• Sobre a preparação: na verdade, trata-se da principal fase do planejamento para a negociação. Weeks
(1992) constata que a preparação é um elemento crucial à negociação, por possibilitar a antecipação de
toda circunstância que possa vir a ocorrer e prejudicar um possível acordo. Aqui são estabelecidos os
objetivos a serem atingidos em uma negociação (e se existe mesmo a necessidade de se negociar com
outros agentes). Definidos os objetivos e as possíveis contrapartes, o negociador deve procurar
informações sobre a outra parte envolvida: atividades exercidas, resultados de ações passadas, estilos de
negociação, utilização do poder, impacto das ações da outra parte com outros agentes em uma negociação
etc. Nesta hora, como constata Mello (2003), o negociador deve fazer uso de toda informação possível
para compor um cenário mental do seu oponente, identificando potenciais oportunidades de negociação
e possibilidades de acordos que beneficiem a ambas as partes. É nesta etapa que são também realizados
convites para a realização da negociação – os quais, geralmente, vêm da parte demandante e devem vir
acompanhados de possíveis sugestões de data e local de realização da negociação. Vale destacar que a
flexibilidade, abertura e cordialidade são fundamentais para o estabelecimento de uma primeira
impressão positiva com a outra parte.
• Sobre a realização: Thompson (2009) destaca a importância de os negociadores procurarem, no início
da negociação, estabelecer uma conversa cordial e franca, com o intuito de “quebrar o gelo” de qualquer
situação inconveniente que possa ter surgido anteriormente, além de aumentar a chance de existir
empatia entre as partes envolvidas no processo. É por esse motivo que Lewicki; Saunders e Barry (2014)
sugerem que, caso exista conflito direto entre as partes envolvidas no processo, que uma terceira pessoa
seja envolvida: para que as negociações não comecem já tensas. Após a troca de formalidades iniciais, é
esperado que as partes apresentem os seus pontos de vista sobre a solução para o problema apresentado.
Nesse sentido, tanto as partes podem, de imediato, apresentar as suas opiniões quanto “tatear” o terreno,
estando atentos aos objetivos declarados e não declarados de sua contraparte, realizando ajustes quanto
às suas próprias ações (BAZERMAN; NEALE, 1998). Essa maior ou menor abertura depende do tipo de
- 10 -
às suas próprias ações (BAZERMAN; NEALE, 1998). Essa maior ou menor abertura depende do tipo de
negociação, da existência de precedentes que possam influenciar o estilo do negociador e da
característica pessoal dos envolvidos. Após essa explanação, os negociadores se certificarão, de diferentes
formas, que entenderam a proposta da contraparte, avaliando as alternativas dispostas e chegando,
enfim, a um possível acordo. Cohen (2000) destaca que a variável “tempo” pode ser utilizada contra e a
favor do negociador – por isso, o negociador nunca deve manifestar sinais de pressa para fechar o acordo,
evitando assim ser vítima de acordos insuficientes para suas necessidades. O autor destaca que o
negociador pode solicitar mais tempo para refletir sobre os resultados da negociação, tanto pela própria
necessidade de reflexão quanto pela relativa falta de autonomia a qual o negociador pode estar exposto
(por exemplo, a sua contraparte, ainda a ser apresentada, depender da autorização de algum superior).
• Sobre os resultados: após a realização da negociação, é de se esperar que os objetivos tenham sido
atingidos e, com isso, que as necessidades da organização tenham sido supridas. Afinal, como destaca
Iamin (2016), quando os objetivos da organização são adequadamente estabelecidos e atingidos, a
necessidade da organização é, por ora, suspensa. Além da avaliação dos resultados obtidos, Martinelli;
Almeida (1998) destacam a importância de se revisar todo o processo de negociação, avaliando eventuais
falhas e tomando medidas para que sejam corrigidas. Garbelini (2016) destaca também a importância de
avaliar se a negociação foi benéfica, afinal, para as partes envolvidas na negociação. Robbins; Judge;
Sobral (2014) destacam que, quando a negociação apresenta frutos positivos para todas as partes
envolvidas, existem mais chances de haver relações continuadas positivas entre os envolvidos.
Por isso, especialmente quando o conflito é intensificado, existe a possibilidade de a negociação ser realizada por
intermédio de terceiros que não possuem autonomia para a tomada de decisão. Nesses casos, é comum que
propostas de solução de conflitos sejam estabelecidas e submetidas ao órgão superior, que tem autonomia e
poder de decisão.
Essa situação não é, porém, corriqueira. Como destaca Vasques (2014), em muitas negociações, o negociador tem
autonomia para tomar decisões que serão implementadas pelas partes.
- 11 -
- 12 -
- 13 -
Quadro 3 - Orientações de condutas a serem adotadas em negociações.
Fonte: Elaborado pela autora adaptado de MARTINELLI; ALMEIDA, 1997.
Para evitar a tomada de decisão apressada e impensada, Martinelli; Almeida (1997) propõem uma série de
orientações que visam facilitar o processo de tomada de decisão do negociador. Pudemos acompanhar
detalhadamente essas orientações no quadro acima.
- 14 -
2.3.1 Princípios e parâmetros da ética nas negociações
Lewicki; Saunders; Barry (2014) descrevem a ética em uma negociação como sendo um processo de atingimento
de objetivos mútuos baseados em preceitos éticos. Sobral (2009) constata que a negociação é uma das áreas
mais interessantes em se avaliar a conduta ética das pessoas. Segundo o autor, negociações são motivadas por
interesses divergentes e, durante o processo negocial, as partes podem se sentir tentadas a adotar um
comportamento defensivo e furtivo.
Alguns autores, como Peppett (2002), chegam a destacar que uma negociação honesta, na verdade, não é uma
negociação. Para o autor, enganos e mentiras fazem parte de processos de troca. Assim como White (1980)
descreve, a negociação trata de esconder sua verdadeira posição, induzindo a outra parte a convergir em termos
do que o negociador originalmente pretendia.
Outros autores, mais idealistas, propõem que a conduta de negociadores deve ser ilibada, precisamente porque
são os representantes de suas empresas – e que, portanto, ações antiéticas “queimariam” não só o negociador,
mas também a empresa a qual representam. Nyeges (1987) descreve que a negociação deve ser sempre
brutalmente honesta. O autor, assim como outras referências já bastante estabelecidas na área (como LEWICKI;
SAUNDERS; BARRY, 2014; FISHER; URY; PATTON, 2005), não deixam de observar que um dos principais
motivos pelos quais a negociação deve sempre se basear em parâmetros éticos é o fato de que a percepção de
uma conduta antiética “mina” qualquer possibilidade de relacionamento futuro entre as partes. Para Sobral
(2009), o benefício obtido no curto prazo é definitivamente solapado por consequências futuras causadas por
um comportamento dito antiético.
CASO
Até onde a ética se sobrepõe ao lucro? Essa é uma das mais importantes e controversas
questões de negócios no mundo atual: se, por um lado, negociadores experientes procuram
ouvir as partes envolvidas nas questões e tentam, na medida do possível, atender a todas as
necessidades envolvidas, o que fazer quando a contraparte não possui poder nenhum? No bojo
dessa discussão, o mundo vem acompanhando diversos relatos de grandes marcas varejistas
que, com o passar dos anos, a despeito de sua grande lucratividade e conhecimento de marca
por parte do consumidor, aumentam margens de lucro mediante a contratação de empresas
terceirizadas que, por sua vez, subcontratam trabalhadores em países subdesenvolvidos, em
condições análogas à escravidão. As acusações realizadas atingem um grande número de
empresas, como diversas varejistas de fast fashion atuantes no Brasil (O ESTADO DE SÃO
PAULO, 2017; CARVALHO, 2014; LOCATELLI, 2017). Quando questionadas, várias dessas
empresas relatam “seguir padrões de contratação vigentes no mercado”, procurando se isentar
da responsabilidade sobre as subcontratações realizadas por suas empresas terceirizadas
contratadas. A questão a ser levantada para reflexão é: até onde o negociador deve ir em suas
negociações? Quais são os parâmetros éticos que devem ser seguidos em um mundo tão
sedento por margens e lucros maiores?
Sobral (2009) descreve que, para que negociações éticas sejam conduzidas, é preciso considerar dois fatores:
• valores humanos: são fundamentais na organização de sistemas de crenças. Eles servem como
parâmetros relativamente universais daquilo que é correto. Por exemplo: a ação de matar é considerada
antiética por boa parte dos sistemas morais vigentes atualmente;
• ideologias éticas: baseada na avaliação pessoal que cada indivíduo elabora acerca do que é considerado
- 15 -
• ideologias éticas: baseada na avaliação pessoal que cada indivíduo elabora acerca do que é considerado
ético e antiético. Por exemplo: enquanto que para algumas pessoas o roubo motivado pela fome é motivo
de encarceramento do indivíduo, para outros a pena é considerada excessiva e inadequada.
Tendo todos estes fatores em vista, cabe considerarmos aqui, como reflexão, o seguinte fato: sim, negociadores
podem agir de forma pouco ética em suas negociações. Essa ação pode ser baseada em fatores relacionados a
valores considerados universais e em fatores pessoais. De toda forma, diversos estudos sinalizam que ações
antiéticas, ainda que aparentemente vantajosas no curto prazo, não o são no longo prazo, acarretando prejuízos
à imagem do executor da ação.
Assim, este é o ponto de vista que defendemos neste material de estudo: a adoção de atitude antiética não
compensa.
- 16 -
VOCÊ SABIA?
O que é eficiência? O que é eficácia? Chiavenato (2003) descreve a eficiência como o ato de
realizar ações ou atingir objetivos de forma correta (ou seja, fazendo menos uso de recursos,
considerar a relação custo-benefício etc.). A eficácia, por sua vez, define a ação de o sujeito
conseguir atingir objetivos e ser capaz de manter o foco.
Para nossos estudos, consideraremos os resultados efetivos (ou seja, a soma dos conceitos de eficiência e
eficácia), por entendermos que:
• o negociador: fazendo uso do planejamento, consegue mensurar as variáveis da negociação (tempo,
poder e informação), utilizando-as em benefício da negociação;
• os resultados: devem apresentar os saldos positivos e duradouros, fortalecendo as relações entre as
partes.
Mas como, exatamente, aconteceria tal situação, ainda se considerando o fato de que, mesmo com todos os
cuidados, não existem garantias reais de que o negociador atingirá todos os objetivos aos quais se propôs?
É isso que analisaremos nos próximos itens.
Fisher; Ury; Patton (2005) descrevem que, em muitas situações, mesmo com todos os preparativos e cuidados
relacionados ao sucesso da negociação, existe o risco de os seus objetivos não serem plenamente cumpridos –
não se obtendo, assim, a efetividade esperada.
Tendo esta situação em vista, os autores recomendam a criação de alternativas a um acordo. Essa alternativa é
muito válida quando o negociador constata que as situações em uma negociação estão fugindo muito do
inicialmente proposto ou quando existe algum impasse. Essa situação é denominada de BATNA (Best Alternative
to a Negotiated Agreement). Para nossos estudos, utilizaremos a versão traduzida deste termo, sendo então
denominada MAANA (Melhor Alternativa à Negociação de um Acordo), a qual Fisher; Ury; Patton (2005)
recomendam que os negociadores, ao planejarem a situação negocial, tenham em vista uma via alternativa – ou
seja, o que é possível se obter, mesmo em situações adversas. Essa via alternativa define também até onde o
negociador pode ir em uma negociação.
Definir o MAANA ajuda o negociador, segundo Pinkley; Neale; Bennett (1994), a se proteger em uma negociação.
De acordo com esses autores, no afã de conseguir um acordo e o fim da negociação, o negociador pode agir de
forma impensada, aceitando um acordo que não está de acordo com seus objetivos mínimos. Com isso, o
negociador pode ser prejudicado. Além disso, como destacam Fisher; Ury; Patton (2005), é crucial que o
negociador tente descobrir qual é o MAANA da outra parte, para tentar entender os reais motivadores por trás
das ações de sua contraparte.
Por este motivo, Martinelli (2002) descreve que o negociador deve exercer o treino de uma escuta ativa: a
pessoa precisa estar atenta ao que o seu oponente fala e aos sinais não verbais que possam confirmar ou não o
que é dito. Além disso, como destaca Watkins (2007), o negociador deve refletir um tempo sobre o que foi dito e
percebido, elaborando perguntas confirmatórias de suas impressões, destacando a relevância de perguntar
novamente, caso exista algum posicionamento não adequadamente explicado, nebuloso ou incompreendido.
Sabendo de seus limites e conhecendo os limites do oponente, o negociador tem menos chances de obter um
fracasso.
Existem situações, porém, em que o negociador pode estar sendo pressionado a tomar uma decisão, ainda que
- 17 -
Existem situações, porém, em que o negociador pode estar sendo pressionado a tomar uma decisão, ainda que
ela não seja a melhor possível. Nesses casos, a retirada é uma opção válida. Mills (1993) destaca que, em
situações nas quais a negociação não atingiu o MAANA, o negociador deve se retirar, visto que as consequências
de uma retirada seriam potencialmente menos danosas que a continuidade em uma negociação em que benefício
algum seria atingido.
Outra alternativa proposta por Ury (1993) é de “quebrar” os objetivos em outros objetivos parciais, de forma a
fazer com que existam novas negociações e, com isso, mais chances de se obter acordos mais vantajosos para as
partes.
Enfim, como relatado, existem situações nas quais o resultado não ocorre como o esperado. Mas quais são os
possíveis resultados a serem obtidos em uma negociação?
Veremos esse assunto a seguir.
- 18 -
- 19 -
- 20 -
Quadro 4 - Descrição dos três possíveis resultados a serem obtidos em uma negociação.
Fonte: Elaborado pela autora, 2018.
Estudar e analisar comportamentos em uma negociação com o objetivo proposto pelas partes possibilita a
construção de possibilidades de relacionamento comercial positivo entre os envolvidos. Por isso, dentre as três
alternativas de resultados, o negociador deve objetivar a possibilidade ganha-ganha.
VOCÊ SABIA?
Desde 1997, a fabricante de tênis esportivos Mizuno tem parceria com a empresa Alpargatas.
Em função da imensamente bem-sucedida parceria, ela foi renovada até 2030 (BARBOSA,
2014). Trata-se, aqui, de uma negociação de sucesso, continuada em virtude dos resultados do
tipo ganha-ganha que são apresentados.
Evidentemente, não é uma posição tão simples de se ser atingida – porém, quando o é, tende a apresentar
resultados muito mais duradouros, no curto e no longo prazo.
Após o término da negociação, é estabelecido algum tipo de acordo, que deve ser formalizado entre as partes.
Ury (1993) destaca que esse acordo deve ser razoável e estar dentro das reais possibilidades de ação de cada
uma das partes envolvidas, devendo ser formalizado justamente para se minimizar os riscos das partes
- 21 -
uma das partes envolvidas, devendo ser formalizado justamente para se minimizar os riscos das partes
envolvidas no acordo. Por isso, alguns cuidados são sugeridos pelo autor, tais como:
• caso o negociador tenha alguma dúvida quanto à capacidade de execução do acordo, deve estabelecer
cláusulas contratuais que estipulem pagamentos posteriores à entrega do resultado proposto;
• podem ser estabelecidas multas e outras sanções em caso de quebra dos critérios estabelecidos no
acordo.
VOCÊ O CONHECE?
Importante figura histórica brasileira, o Barão do Rio Branco (1845-1912) foi de fundamental
importância no reconhecimento do Brasil como Nação pelos demais países do mundo à época
de sua declaração da independência (FRAZÃO, 2018). Nomeado cônsul-geral do Brasil pela
primeira vez em 1876, atuou ativamente na questão do reconhecimento do nosso país como
uma Nação independente. Sua ação como negociador foi destaque na história brasileira, por
conseguir estabelecer acordos vantajosos a todas as partes envolvidas.
É importante destacar que os negociadores, ao estabelecerem o acordo e a sua respectiva formalização, deixam
claro que não são ataques pessoais ou de dúvidas quanto à confiabilidade da outra parte, mas sim procedimentos
normais estabelecidos após negociações, como garantias a ambas as partes, e lembretes do que foi, de fato,
acordado. Além disso, como destaca Maemura (2009), o acordo formalizado deve destacar quais serão as formas
pelas quais conflitos serão resolvidos (por exemplo, execução de penalidades previstas, vias judiciais de solução
de conflitos ou extrajudiciais).
- 22 -
Figura 3 - Quando as negociações atingem bons resultados, a tendência é que ambas as partes saiam do acordo
satisfeitas e com mais predisposição a agirem de formas positivas em negociações futuras.
Fonte: ASDF_MEDIA, Shutterstock, 2018.
Após a assinatura dos termos, o negociador, de forma isolada ou com outros membros da sua equipe, precisa
considerar os resultados na negociação à luz dos objetivos iniciais e quanto aos recursos empregados no
processo, realizando, então, uma análise realista e mais ampliada do que foi, de fato, acordado.
Uma negociação sem essa avaliação posterior, segundo Ury (1993), pode ser esquecida ou não e devidamente
creditada pela equipe, não gerando registro de memória – sendo, portanto, mais facilmente esquecida. Uma das
formas de a empresa como um todo aprender com tais situações é justamente manter em mente o que foi obtido
com o acordo e como este foi obtido, buscando repassar este conhecimento aos demais membros da empresa,
visando a preparação de todos para eventuais futuras negociações.
Síntese
Estudamos assuntos fundamentais à compreensão do que é necessário para que uma negociação obtenha
sucesso. Analisamos, incialmente, que características comportamentais (habilidades, papéis e estilos) os
negociadores precisam considerar antes de ingressarem em uma negociação. Esperamos que você tenha
aprendido com esses temas e consiga utilizá-los com sucesso em seu cotidiano.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• compreender como é importante estabelecer um objetivo prévio (o MAANA), para ter mais clareza
quanto ao que, de fato, é pretendido em uma negociação;
• analisar como funcionam as questões éticas na negociação (e, especialmente, analisar que não compensa
- 23 -
• analisar como funcionam as questões éticas na negociação (e, especialmente, analisar que não compensa
agir de forma oportunista em uma negociação);
• conhecer alguns parâmetros de sucesso em negociações e seus possíveis resultados.
Bibliografia
ACUFF, F. L. How to negotiate anything with anyone anywhere around the world. New York: American
Management Association, 1993.
ANDRADE, R. O. B.; ROVIGATI, D. A.; MACEDO, M. Á. Princípios de negociação. São Paulo: Atlas, 2004.
BARBOSA, D. Alpargatas e Mizuno renovam parceria por mais 26 anos. Revista Exame, São Paulo, 17/01/2014.
Disponível em: <https://exame.abril.com.br/negocios/alpargatas-e-mizuno-renovam-parceria-por-mais-26-
anos>. Acesso em: 10/6/2018.
BAZERMAN, M. H.; NEALE, M. A. Negociando racionalmente. São Paulo: Atlas, 1998.
CARVALHO, J. Como a Nike está lutando contra o uso de mão de obra escrava. Revista Exame, São Paulo, 22/04
/2014. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/negocios/como-a-nike-esta-lutando-contra-o-uso-de-mao-
de-obra-escrava>. Acesso em: 09/06/2018.
CASSE, P. The one hour negotiator. Oxford: Butterworth-Heinemann, 1995.
CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 5. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
______. Introdução à teoria geral da administração. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil, 2003.
DONALDSON, M. Técnicas de negociação: o jeito divertido de aprender. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
O ESTADO DE SÃO PAULO. Zara pode entrar na 'lista suja' de trabalho escravo. Jornal O Estado de São Paulo,
São Paulo, 14/11/2017. Disponível em: <https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,zara-pode-entrar-na-
lista-suja-de-trabalho-escravo,70002084547>. Acesso em: 10/06/2018.
FISHER, R.; URY, W.; PATTON, B. Como chegar ao sim: negociação de acordos sem concessões. São Paulo:
Imago, 2005.
FRAZÃO, D. Barão do Rio Branco: diplomata brasileiro. eBiografia, s/l, s/d. Disponível em: <https://www.
ebiografia.com/barao_riobranco>. Acesso em: 11/06/ 2018.
GARBELINI, V. M. P. Negociação & Conflitos. Curitiba: Intersaberes, 2016.
IAMIN, G. P. Negociação: conceitos fundamentais e negócios internacionais. Curitiba: Intersaberes, 2016.
ISAACSON, W. Steve Jobs: a biografia. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2001.
KATZ, R. As habilidades do executivo. Coleção Harvard de Administração. São Paulo: Nova Cultural, 1986.
LEWICKI, R. J.; HIAM, A.; OLANDER, K. W. Think before you speak: a complete guide to strategic negotiation.
New York: Wiley, 1996.
LEWICKI, R. J.; SAUNDERS, D. M.; BARRY, B. Fundamentos de negociação. São Paulo: AMGH, 2014.
LOCATELLI, P. Trabalho escravo na Animale: R$ 698 na loja, R$ 5 para o costureiro. Repórter Brasil, São Paulo,
19/12/2017. Disponível em: <http://reporterbrasil.org.br/2017/12/trabalho-escravo-na-animale-r-698-na-
loja-r5-para-o-costureiro>. Acesso em: 08/06/2018.
LUECKE, R.; WATKINS, M. Negotiation – authoritative answers in your fingertips. Boston: Harvard Business
School Press, 2003.
MCLEAN, B.; ELKIND, P.; GIBNEY, A. Enron: os mais espertos da sala. Direção: Alex Gibney. Produção: Alex
Gibney, Jason Kliot, Alison Ellwood, Susan Motamed. Estados Unidos: Magnolia Pictures, 2006.
MAEMURA, M. M. D. Análise de conflitos e soluções adotadas por franquias do setor alimentício: um estudo
multicaso. 2009. 221 f. Dissertação (Mestrado em Administração de Organizações), Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2009. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/96/96132/tde-27072009-152139/pt-br.php>. Acesso em: 18/05
/2018.
MARTINELLI, D. P. Negociação empresarial: enfoque sistêmico e visão estratégica. Barueri: Manole, 2002.
MARTINELLI, D. P.; ALMEIDA, A. P. Negociação: como transformar confronto em cooperação. São Paulo: Atlas,
- 24 -
MARTINELLI, D. P. Negociação empresarial: enfoque sistêmico e visão estratégica. Barueri: Manole, 2002.
MARTINELLI, D. P.; ALMEIDA, A. P. Negociação: como transformar confronto em cooperação. São Paulo: Atlas,
1997.
______. Negociação e solução de conflitos: do impasse ao ganha-ganha através do melhor estilo. São Paulo: Atlas,
1998.
MELLO, J. C. M. F. Negociação baseada em estratégia. São Paulo: Atlas, 2003.
MILLS, H. A. Negociação: a arte de vencer. São Paulo: Makron Books, 1993.
MINTZBERG, H. Managing essencial: a essência do premiado managing, para gerentes com pouco tempo. Porto
Alegre: Bookman, 2014.
MONAHAN, W. Rede de mentiras. Direção e produção: Ridley Scott. Estados Unidos: Warner Bros.
Entertainment, 2008.
NYERGES, J. Ten commandments for a negotiator. Negotiation Journal, v. 3, n. 1, p. 21-18, jan. 1987.
PEPPETT, S. R. Can saints negotiate? A brief introduction to the problems of perfect ethics in bargaining.
Harvard Negotiation Law Review, Cambridge, n. 7, p. 83-96, 2002.
PINKLEY, R. L.; NEALE, M. A.; BENNETT, R. J. The impact of alternatives to settlement in dyadic negotiation.
Organizational behavior and human decision processes, v. 57, n. 1, p. 97-116, 1994.
PITCHER, P. The drama of leadership. New York: John Wiley and sons, 1997.
ROBBINS, S. P.; JUDGE, T. A.; SOBRAL, F. Comportamento organizacional: teoria e prática no contexto
brasileiro. 14. ed. São Paulo: Pearson, 2014.
SHELL, G. R. Negociar é preciso: estratégias de negociação para pessoas de bom senso. São Paulo: Negócio,
2001.
SILVA, R. F.; BOAVENTURA, L. H. Chega de perder dinheiro em negociações: mandamentos para negociações
bem-sucedidas. São Paulo: Hedge, 2011.
SOBRAL, F. J. B. A. O julgamento moral de dilemas éticos em negociação. Revista de Administração Mackenzie
(RAM), Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, v. 10, n. 5, p. 4-27, set./out. 2009. Disponível em: <
http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/RAM/article/view/718/1278>. Acesso em: 04/07/2018.
SPARKS, D. B. A dinâmica da negociação efetiva: como ser bem-sucedido através de uma abordagem ganha
/ganha. São Paulo: Nobel, 1995.
THOMPSON, L. O negociador. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.
URY, W. Getting past no: negotiating your way from confrontation to cooperation. Bantam, 1993.
VASQUES, E. F. Técnicas de negociação e apresentação. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014.
WATKINS, M. (org.) Harvard business essentials: negociação. Trad. Cristiana de Assis Terra. 4. ed. Rio de
Janeiro: Record, 2007.
WEEKS, D. The eight steps to conflict resolution: preserving relationships at work, at home, and in
community. Los Angeles: J. P. Tacher, 1992.
WHITE, J. J. Machiavelli and the bar: ethical limitations on lying in negotiation. American Bar Foundation
Research Journal, v. 5, n. 4, p. 926-938, outono 1980.
- 25 -