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ANATOMIA, EVOLUÇÃO
E INVOLUÇÃO DA MAMA
EMBRIOLOGIA
A mama é considerada uma glândula sudorípara modificada
coberta por pe le e por tecido subcutâneo, e seu desenvolvimento
inicia precocemente na vida embrionária. Entre a quinta e a
sexta semanas, desenvolve-se um espessamento ectodérmico
em forma de linha longitudinal, de cada lado, na parte ventral
do embrião, a chamada linha láctea.
Da sétima à oitava semana, a linha láctea, que se estende da
região axilar à região inguinal, regride em quase toda sua extensão,
exceto a de localização torácica. A falha nessa regressão resulta
em tecido mamário ectópico, que ocorre em 2 a 6% das mulheres.
Quando há regressão da linha láctea (Figura 1.1), inicia-se,
na área de espessamento epidérmico (local da mama definitiva),
uma proliferação celular. Essa proliferação invade o mesoderma
subjacente, formando o primórdio papilar.
Por volta da 16a semana, ocorre o crescimento de 15 a 25
Embriologia / 25 cordões maciços para dentro do tecido conjuntivo dérmico com
regressão do primórdio papilar e formação do primórdio ductal
Desenvolvimento da mama / 26 e da bolsa papilar.
Mama adulta / 27 Da 20a à 30a semana, o primórdio ductal continua proliferan-
do e sofre o processo de canalização, o qual permeabiliza os anti-
Anatomia / 28 gos cordões maciços que se exteriorizam, agora, através da bolsa
papilar.
Vascularização da mama / 29
Por volta da 30a à 32a semana, a bolsa papilar regride, forman-
A mama e o ciclo menstrual / 31 do o complexo areolopapilar, e o primórdio ductal proliferado
dá origem ao primórdio lobular.
A mama na gestação
Entre a 32a e a 40a semana, ocorre diferenciação das estru-
e na lactação / 32
turas lobulares, que podem conter colostro, há aumento no
Puerpério / 33 volume de tecido mamário em até quatro vezes e pigmentação
do complexo areolomamilar.
A mama no climatério / 33
26 ANATOMIA, EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO DA MAMA
MAMA ADULTA
A mama adulta está localizada na parede ante-
I. Pré-puberal rior do tórax entre a segunda e a sexta costelas
no eixo vertical e entre a borda do esterno e a
linha axilar anterior no eixo horizontal. Na por-
ção súpero-externa, o tecido mamário estende-
se cranialmente em direção à axila, formando
um prolongamento mamário chamado cauda de
Spence. A mama é composta por três estruturas:
II. Botão mamário pele, tecido subcutâneo e tecido mamário.
A pele é a estrutura de sustentação da ma-
ma, sendo semelhante a do restante do corpo.
Apresenta folículos pilosos, glândulas sudorí-
paras e sebáceas e é diferenciada em sua parte
central, onde forma o complexo areolomamilar.
A aréola está situada na altura do quarto
III. Crescimento contínuo
espaço intercostal em mamas não-pendulares
e tem, em média, de 3 a 6 cm de diâmetro. Os
tubérculos de Morgagni, localizados na periferia
da aréola, são elevações formadas pela abertura
dos ductos das glândulas de Montgomery. Essas
são glândulas sebáceas que aumentam durante
a gestação e produzem secreção para lubrificar
IV. Aréola e papila formam
e proteger a papila. A papila, ou o mamilo, é
elevação secundária uma formação cilíndrica situada no centro da
aréola, que possui de 15 a 20 óstios, nos quais
desembocam os condutos galactóforos. O com-
plexo areolomamilar possui uma fina camada
muscular, responsável pela ejeção da secreção
dos seios galactóforos e pela ereção da papila,
e uma rica rede de terminações nervosas sensi-
V. Mamas femininas
maduras; tivas.
desenvolvimento da O tecido mamário é composto por parênqui-
elevação secundária da ma e estroma. O parênquima, a glândula pro-
aréola e da papila
priamente dita, é formado pelo sistema ductal e
lobular, envolto pelo estroma, o qual é formado
por tecido gorduroso, conjuntivo, vasos e nervos.
Figura 1.2 O parênquima é dividido em 15 a 20 seg-
Estágios do desenvolvimento mamário conforme mentos ou lobos, que drenam através de ductos
a classificação de Tanner.
coletores em direção à papila. Esse conjunto
obtém configuração muito semelhante a uma
“couve-flor invertida”. Cada lobo é composto
por 20 a 40 lóbulos (unidade morfofuncional
da mama), e cada lóbulo é formado por 10 a
à menarca. O quinto estágio de Tanner (M5) é 100 alvéolos. O sistema ductal é composto por
a fase de desenvolvimento final, em que há o um ducto coletor principal, formado por vários
nivelamento do CAM ao contorno da mama, pequenos dúctulos intra e extralobulares. O
com projeção exclusiva do mamilo. ducto principal drena em direção à papila, on-
28 ANATOMIA, EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO DA MAMA
Clavícula
Pele
Ácinos
Costelas
Seio lactífero
Glândulas areolares
Aponeurose
Ductos lactíferos
Músculos peitorais
Dúctulo
Figura 1.3
Estrutura da mama.
ROTINAS EM MASTOLOGIA 29
clavícula, no deltóide e na borda medial do es- disseminação de células tumorais pelo organis-
terno, tem grande importância, pois deve ser mo, a disseminação hematogênica.
ressecada nas cirurgias por câncer. As principais vias de disseminação são a veia
axilar, a veia mamária interna e as intercostais,
que drenam a área mamária, estabelecendo
conexão com a circulação sistêmica.
VASCULARIZAÇÃO DA MAMA
Drenagem linfática
Irrigação arterial A drenagem linfática é feita por plexos superfi-
A irrigação arterial da mama deriva, principal- ciais e profundos. O plexo subepitelial da mama
mente, da artéria torácica interna (também comunica-se com o plexo subdérmico e com o
chamada mamária interna) e da artéria torácica plexo subareolar de Sapey (que drena a aréola
lateral (mamária externa) (Figura 1.4). e o mamilo). Esse sistema superficial é avalvu-
A torácica interna é ramo da artéria subclá- lado e seu fluxo direciona-se ao plexo profundo
via, a qual emite ramos perfurantes que emer- da mama (intraparenquimatoso e subcutâneo
gem do primeiro ao sexto espaços intercostais profundo). Do plexo profundo, ocorre a drena-
e irriga aproximadamente 60% da mama, prin- gem da linfa preferentemente para a axila (95%
cipalmente sua parte medial e central. A mamá- da drenagem) – e para a cadeia da mamária in-
ria interna também emite ramos mediastínicos terna, responsável por pequena parte da drena-
e esternais entre outros, e, na altura do sexto gem, principalmente da parte medial da mama.
espaço intercostal, divide-se na artéria muscu-
lofrênica e na epigástrica superior. A artéria epi-
gástrica superior corre junto ao músculo reto Linfonodos axilares
abdominal e, na cirurgia de reconstrução ma- Os linfonodos axilares são divididos em grupos:
mária com retalho miocutâneo abdominal
(TRAM), ela é a responsável pela nutrição do l GRUPO APICAL OU SUBCLAVICULAR – encon-
retalho. trado medialmente ao músculo pequeno
A artéria torácica lateral, ramo da axilar, é peitoral, no ápice axilar.
responsável por aproximadamente 30% da irri-
gação da mama, principalmente em sua parte l GRUPO DA VEIA AXILAR – localizado ao longo
súpero-externa. da veia axilar entre o músculo pequeno
As artérias intercostais posteriores, ramos peitoral e o limite lateral da axila.
da subclávia (os dois primeiros) e da aorta (do
3o ao 11o ramos), cruzam o músculo peitoral e l GRUPO INTERPEITORAL OU DE ROTTER – locali-
irrigam a face profunda da mama, indo anas- zado entre os músculos peitorais.
tomosar-se com as artérias intercostais anterio-
res (ramos da torácica interna). l GRUPO SUBESCAPULAR – localizado na pa-
Outras artérias que também irrigam a ma- rede posterior da axila, sobre o músculo
ma, mas de menor importância, são as artérias subescapular.
toracoacromial, toracodorsal e subescapular.
l GRUPO CENTRAL – localizado na gordura do
centro da axila (é o mais facilmente pal-
Drenagem venosa pado no exame físico).
Todos os ramos arteriais citados anteriormente
possuem um correspondente venoso responsá- l GRUPO DA MAMÁRIA EXTERNA – localizado
vel pela drenagem sangüínea da mama. Cabe junto à parede interna da axila, acompa-
aqui ressaltar a importância da rede venosa na nhando o trajeto da mamária externa.
30 ANATOMIA, EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO DA MAMA
Veia axilar
Pequeno
peitoral
(músculo)
Feixe toracodorsal
Artéria e veia torácica lateral
Músculo grande dorsal
Nervo torácico longo
Músculo serrátil anterior
Músculo abdominal
oblíquo externo
Figura 1.4
Anatomia cirúrgica da mama.
Figura 1.5
Inervação da axila: intercosto-
braquial, toracodorsal e longo
torácico.
volume do quinto ao sétimo dias do ciclo. O de secreção, evidenciado pela presença de co-
ciclo mamário reinicia com o aumento dos ní- lostro nos alvéolos. O colostro já pode ser se-
veis de estrogênios em nova fase folicular. cretado pela mama no segundo trimestre. O au-
mento da mama, a partir da 20a semana, resulta
da dilatação dos alvéolos com secreção e hiper-
trofia do tecido conjuntivo e gorduroso. Ocor-
A MAMA NA GESTAÇÃO rendo interrupção da gestação, a partir da 16a
E NA LACTAÇÃO semana, a lactação pode ocorrer.
A mama, durante a gestação, é submetida à in- No terceiro trimestre, intensificam-se os fe-
tensa ação hormonal dos mesmos hormônios que nômenos secretórios, com acúmulo de lipopro-
a formaram estruturalmente e que agora a de- teínas e ácidos graxos. O fluxo sangüíneo au-
senvolvem para sua função mais nobre, a ama- menta em até duas vezes, há edema extracelu-
mentação. Além de estrogênios, progesterona e lar e maior volume mamário. Os tubérculos de
prolactina, há aumento nos níveis de HCG (go- Montgomery estão mais proeminentes na peri-
nadotrofina coriônica), HPL (hormônio lactogê- feria da aréola, e as veias superficiais da mama,
nico placentário), hormônios tireoidianos e in- o plexo vascular de Haller, estão bastante dilata-
sulina, os quais atuam juntos com o objetivo de das e visíveis.
desenvolvimento e de maturação plenos da mama. A prolactina aumenta gradualmente duran-
Logo na terceira e quarta semanas de gesta- te a gestação e, no terceiro trimestre, apresenta
ção, se inicia a proliferação e o crescimento de níveis até cinco vezes maiores do que os pré-
dúctulos, bem como a formação lobular, sob efei- gravídicos. A prolactina auxilia os estrogênios
to estrogênico. Entre a quinta e a oitava semanas, e a progesterona no desenvolvimento e na dife-
já se evidencia aumento significativo das mamas, renciação ducto-alveolar e estimula a secreção
com dilatação de veias superficiais e aumento dos ácinos. Durante a gestação, os altos níveis
da pigmentação do complexo areolomamilar. de estrógenos e de progesterona diminuem o
Durante o segundo trimestre, continua a número de receptores de prolactina, bloqueando
proliferação ducto-alveolar e se inicia o processo seu efeito nos alvéolos e inibindo a produção de
ROTINAS EM MASTOLOGIA 33
leite. O HPL é semelhante à prolactina, mas tem manas, período de níveis elevados de prolacti-
maior atuação no desenvolvimento da mama do na. Para a continuidade do processo, é funda-
que na lactogênese, bloqueando os receptores mental a sucção. Ela estimula fibras sensoriais
da prolactina na gestação. Assim, há apenas a do complexo areolomamilar que, via hipotála-
produção de colostro durante a gestação, com- mo-hipófise, mantêm os níveis de prolactina e
posto por epitélio descamado e transudato. de ocitocina necessários para a produção e a
ejeção do leite.
PUERPÉRIO
Após o parto, ocorre queda súbita nos níveis A MAMA NO CLIMATÉRIO
de estrógenos, progesterona e HPL, permitindo O climatério é definido como a fase de transição
a ação da prolactina nos receptores celulares entre o período reprodutivo e o não-reprodutivo
gradativamente livres. A prolactina estimula a na vida de uma mulher. A menopausa é um
síntese de RNA para produção de proteínas do marco dentro dessa fase de transição, havendo
leite e aumenta a atividade de enzimas neces- a cessação permanente da menstruação. A ida-
sárias para a síntese de lactose e outros com- de média da menopausa é de 50 anos, sendo
ponentes específicos do leite. Inicialmente, chamada de precoce quando se estabelece antes
ocorre a secreção de colostro, mais espesso e dos 40 anos e, de tardia, após os 55 anos.
amarelado, que se torna fluido e seroso, rico A partir dos 30 a 35 anos, a mama começa a
em lactoglobulinas. No segundo ou no terceiro sofrer, em grau e velocidade variáveis para cada
dia, as mamas tornam-se maiores e ingurgita- mulher, o processo fisiológico da lipossubsti-
das, devido ao acúmulo de secreções e à estase tuição. Inverte-se, progressivamente, a propor-
linfática. Nesse período, se dá o início da secre- ção parênquima/gordura até que, na senectude,
ção de leite transicional (colostro e leite) na pri- há adiposidade quase total. O lóbulo mamário
meira semana, adquirindo características defi- entra em involução crescente, o revestimento
nitivas mais tardiamente. cutâneo torna-se flácido, havendo a natural
Independentemente da sucção mamilar, o ptose das mamas. Esses fenômenos involutivos
leite é secretado durante as duas primeiras se- do lóbulo são tipicamente representados pelo
Importante
As estruturas citadas a seguir compõem os limites na dissecção da axila e formam um triângulo cuja
base (veia axilar) está voltada para cima:
aparecimento dos micro e macrocistos, que cos- res; a fibrose estromal; a dilatação dos ductos
tumam regredir espontaneamente na pós-me- ou ectasia ductal, que pode vir a infectar-se; e
nopausa. Esses cistos, além da ansiedade gera- as hiperplasias ductal e lobular simples, cujo
da pela formação de uma área nodular, podem grau máximo são as hiperplasias atípicas, lesões
ocasionar mastalgia de significado clínico. Ou- pré-malignas. Também são mais comuns no cli-
tras alterações aparecem nessa fase: a involu- matério o papiloma intraductal, a necrose gor-
ção ductal, que determina retrações mamila- durosa e o tumor filodes.