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ANATOMIA, EVOLUÇÃO
E INVOLUÇÃO DA MAMA

EMBRIOLOGIA
A mama é considerada uma glândula sudorípara modificada
coberta por pe le e por tecido subcutâneo, e seu desenvolvimento
inicia precocemente na vida embrionária. Entre a quinta e a
sexta semanas, desenvolve-se um espessamento ectodérmico
em forma de linha longitudinal, de cada lado, na parte ventral
do embrião, a chamada linha láctea.
Da sétima à oitava semana, a linha láctea, que se estende da
região axilar à região inguinal, regride em quase toda sua extensão,
exceto a de localização torácica. A falha nessa regressão resulta
em tecido mamário ectópico, que ocorre em 2 a 6% das mulheres.
Quando há regressão da linha láctea (Figura 1.1), inicia-se,
na área de espessamento epidérmico (local da mama definitiva),
uma proliferação celular. Essa proliferação invade o mesoderma
subjacente, formando o primórdio papilar.
Por volta da 16a semana, ocorre o crescimento de 15 a 25
Embriologia / 25 cordões maciços para dentro do tecido conjuntivo dérmico com
regressão do primórdio papilar e formação do primórdio ductal
Desenvolvimento da mama / 26 e da bolsa papilar.
Mama adulta / 27 Da 20a à 30a semana, o primórdio ductal continua proliferan-
do e sofre o processo de canalização, o qual permeabiliza os anti-
Anatomia / 28 gos cordões maciços que se exteriorizam, agora, através da bolsa
papilar.
Vascularização da mama / 29
Por volta da 30a à 32a semana, a bolsa papilar regride, forman-
A mama e o ciclo menstrual / 31 do o complexo areolopapilar, e o primórdio ductal proliferado
dá origem ao primórdio lobular.
A mama na gestação
Entre a 32a e a 40a semana, ocorre diferenciação das estru-
e na lactação / 32
turas lobulares, que podem conter colostro, há aumento no
Puerpério / 33 volume de tecido mamário em até quatro vezes e pigmentação
do complexo areolomamilar.
A mama no climatério / 33
26 ANATOMIA, EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO DA MAMA

órgãos genitais e nas mamas, ocasionando seu


desenvolvimento.
Devido à ausência de ciclos ovulatórios no
começo da puberdade, há, inicialmente, predo-
mínio dos estrógenos sobre a progesterona. Os
estrógenos promovem o crescimento longitudi-
nal e a ramificação do sistema ductal, bem co-
mo o desenvolvimento do tecido conjuntivo pe-
riductal, a vascularização e a deposição de teci-
do gorduroso e a pigmentação da aréola e da
papila. Com os ciclos ovulatórios, os níveis de
progesterona aumentam e, juntamente com os
estrogênios, promovem o desenvolvimento dos
ramos terminais do sistema ductal, formando
os alvéolos. O desenvolvimento mamário, nessa
fase, foi dividido por Tanner em cinco etapas,
conforme as características morfológicas e sua
relação com marcos importantes do desenvolvi-
mento dos caracteres sexuais secundários, co-
mo a menarca, a pubarca e o estirão puberal
(Figura 1.2).
O primeiro estágio de Tanner (M1) corres-
Figura 1.1
Linha láctea. ponde à elevação somente da papila, não se pal-
pando tecido glandular, nem havendo pigmen-
tação areolar; é também chamado de estágio
pré-puberal. No segundo estágio da classifica-
Na maioria dos neonatos, masculinos e fe- ção de Tanner (M2), ocorre o aparecimento do
mininos, ocorre secreção de colostro de 3 a 7 broto ou botão mamário (telarca), que corres-
dias pós-parto (“leite de bruxa”). Essa secreção ponde à elevação discreta da mama e da papila,
diminui em 3 a 4 semanas com a queda gradual com aumento do diâmetro areolar. Em geral, a
dos hormônios placentários. telarca, que constitui a primeira manifestação
As mamas dos neonatos masculinos e femi- da puberdade nas meninas, se dá em torno dos
ninos são idênticas, com estruturas ducto-al- 10 a 11 anos de idade, seguindo-se, dentro do
veolares rudimentares, mas com ductos pérvios. mesmo ano, o início do crescimento dos pêlos
Os ductos desembocam nos cerca de 15 a 20 pubianos (pubarca). A menarca, que correspon-
óstios localizados na papila, número correspon- de à primeira menstruação, ocorre, em média,
dente ao de lobos mamários. Durante a infân- 2 a 3 anos após a telarca.
cia, as mamas permanecem em repouso até que No terceiro estágio da classificação de Tanner
novos estímulos reiniciem seu desenvolvimento. (M3), há aumento do tecido glandular palpável
e do diâmetro e da pigmentação da aréola, man-
tendo-se os contornos da aréola e da mama. É
nessa fase que se dá o estirão puberal, sendo
DESENVOLVIMENTO DA MAMA que a menarca ocorrerá dentro de um ano. No
O desenvolvimento da mama ocorre por ocasião quarto estágio (M4), que corresponde, em mé-
da puberdade, entre os 10 e os 12 anos de idade. dia, à faixa dos 12 aos 13 anos, há aumento da
Nessa fase, acontece o amadurecimento do eixo aréola e de sua pigmentação. O complexo areo-
hipotálamo-hipófise-ovariano, com produção e lomamilar (CAM) projeta-se e separa-se do
liberação hormonal. Os hormônios agem nos contorno da mama. Essa fase é concomitante
ROTINAS EM MASTOLOGIA 27

MAMA ADULTA
A mama adulta está localizada na parede ante-
I. Pré-puberal rior do tórax entre a segunda e a sexta costelas
no eixo vertical e entre a borda do esterno e a
linha axilar anterior no eixo horizontal. Na por-
ção súpero-externa, o tecido mamário estende-
se cranialmente em direção à axila, formando
um prolongamento mamário chamado cauda de
Spence. A mama é composta por três estruturas:
II. Botão mamário pele, tecido subcutâneo e tecido mamário.
A pele é a estrutura de sustentação da ma-
ma, sendo semelhante a do restante do corpo.
Apresenta folículos pilosos, glândulas sudorí-
paras e sebáceas e é diferenciada em sua parte
central, onde forma o complexo areolomamilar.
A aréola está situada na altura do quarto
III. Crescimento contínuo
espaço intercostal em mamas não-pendulares
e tem, em média, de 3 a 6 cm de diâmetro. Os
tubérculos de Morgagni, localizados na periferia
da aréola, são elevações formadas pela abertura
dos ductos das glândulas de Montgomery. Essas
são glândulas sebáceas que aumentam durante
a gestação e produzem secreção para lubrificar
IV. Aréola e papila formam
e proteger a papila. A papila, ou o mamilo, é
elevação secundária uma formação cilíndrica situada no centro da
aréola, que possui de 15 a 20 óstios, nos quais
desembocam os condutos galactóforos. O com-
plexo areolomamilar possui uma fina camada
muscular, responsável pela ejeção da secreção
dos seios galactóforos e pela ereção da papila,
e uma rica rede de terminações nervosas sensi-
V. Mamas femininas
maduras; tivas.
desenvolvimento da O tecido mamário é composto por parênqui-
elevação secundária da ma e estroma. O parênquima, a glândula pro-
aréola e da papila
priamente dita, é formado pelo sistema ductal e
lobular, envolto pelo estroma, o qual é formado
por tecido gorduroso, conjuntivo, vasos e nervos.
Figura 1.2 O parênquima é dividido em 15 a 20 seg-
Estágios do desenvolvimento mamário conforme mentos ou lobos, que drenam através de ductos
a classificação de Tanner.
coletores em direção à papila. Esse conjunto
obtém configuração muito semelhante a uma
“couve-flor invertida”. Cada lobo é composto
por 20 a 40 lóbulos (unidade morfofuncional
da mama), e cada lóbulo é formado por 10 a
à menarca. O quinto estágio de Tanner (M5) é 100 alvéolos. O sistema ductal é composto por
a fase de desenvolvimento final, em que há o um ducto coletor principal, formado por vários
nivelamento do CAM ao contorno da mama, pequenos dúctulos intra e extralobulares. O
com projeção exclusiva do mamilo. ducto principal drena em direção à papila, on-
28 ANATOMIA, EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO DA MAMA

de se dilata, formando o seio galactóforo, em Entre as estruturas fasciais, duas merecem


número de 10 a 20, e desembocando nos respec- destaque: a fáscia superficial e a fáscia do mús-
tivos óstios da papila (Figura 1.3). culo grande peitoral. A fáscia superficial divide-
se em dois folhetos, anterior e posterior, e enve-
lopa toda a mama. As trabéculas fasciais que
cruzam o parênquima mamário e unem as duas
ANATOMIA fáscias constituem os ligamentos de Cooper.
O tecido glandular está envolto e entremeado Esses ligamentos, por estarem unidos à fáscia
por tecido adiposo. Este é geralmente mais fino e, conseqüentemente, à derme, são os responsá-
nos quadrantes superiores da mama e mais es- veis pela retração de pele quando estão compro-
pesso nos inferiores, sendo importante no mo- metidos por tumor ou fibrose peritumoral. O
mento da cirurgia, quando se deve realizar um folheto posterior da fáscia superficial recobre a
retalho cutâneo mais fino na parte superior da parte posterior da mama e está em contato dire-
mama, evitando que permaneçam ductos junto to com a fáscia do músculo peitoral. Essa fáscia,
à pele. que envolve o músculo peitoral e insere-se na

Clavícula
Pele

Cápsula superficial da fáscia

Tecido adiposo e ligamentos suspensores

Tecido celular subcutâneo


Músculos intercostais

Ácinos
Costelas

Seio lactífero

Glândulas areolares
Aponeurose

Óstio do ducto lactífero

Ductos lactíferos
Músculos peitorais
Dúctulo

Tecido conjuntivo e adiposo


Espaço retromamário
(lâmina de Chassaignac)

Cápsula profunda da fáscia

Figura 1.3
Estrutura da mama.
ROTINAS EM MASTOLOGIA 29

clavícula, no deltóide e na borda medial do es- disseminação de células tumorais pelo organis-
terno, tem grande importância, pois deve ser mo, a disseminação hematogênica.
ressecada nas cirurgias por câncer. As principais vias de disseminação são a veia
axilar, a veia mamária interna e as intercostais,
que drenam a área mamária, estabelecendo
conexão com a circulação sistêmica.
VASCULARIZAÇÃO DA MAMA

Drenagem linfática
Irrigação arterial A drenagem linfática é feita por plexos superfi-
A irrigação arterial da mama deriva, principal- ciais e profundos. O plexo subepitelial da mama
mente, da artéria torácica interna (também comunica-se com o plexo subdérmico e com o
chamada mamária interna) e da artéria torácica plexo subareolar de Sapey (que drena a aréola
lateral (mamária externa) (Figura 1.4). e o mamilo). Esse sistema superficial é avalvu-
A torácica interna é ramo da artéria subclá- lado e seu fluxo direciona-se ao plexo profundo
via, a qual emite ramos perfurantes que emer- da mama (intraparenquimatoso e subcutâneo
gem do primeiro ao sexto espaços intercostais profundo). Do plexo profundo, ocorre a drena-
e irriga aproximadamente 60% da mama, prin- gem da linfa preferentemente para a axila (95%
cipalmente sua parte medial e central. A mamá- da drenagem) – e para a cadeia da mamária in-
ria interna também emite ramos mediastínicos terna, responsável por pequena parte da drena-
e esternais entre outros, e, na altura do sexto gem, principalmente da parte medial da mama.
espaço intercostal, divide-se na artéria muscu-
lofrênica e na epigástrica superior. A artéria epi-
gástrica superior corre junto ao músculo reto Linfonodos axilares
abdominal e, na cirurgia de reconstrução ma- Os linfonodos axilares são divididos em grupos:
mária com retalho miocutâneo abdominal
(TRAM), ela é a responsável pela nutrição do l GRUPO APICAL OU SUBCLAVICULAR – encon-
retalho. trado medialmente ao músculo pequeno
A artéria torácica lateral, ramo da axilar, é peitoral, no ápice axilar.
responsável por aproximadamente 30% da irri-
gação da mama, principalmente em sua parte l GRUPO DA VEIA AXILAR – localizado ao longo
súpero-externa. da veia axilar entre o músculo pequeno
As artérias intercostais posteriores, ramos peitoral e o limite lateral da axila.
da subclávia (os dois primeiros) e da aorta (do
3o ao 11o ramos), cruzam o músculo peitoral e l GRUPO INTERPEITORAL OU DE ROTTER – locali-
irrigam a face profunda da mama, indo anas- zado entre os músculos peitorais.
tomosar-se com as artérias intercostais anterio-
res (ramos da torácica interna). l GRUPO SUBESCAPULAR – localizado na pa-
Outras artérias que também irrigam a ma- rede posterior da axila, sobre o músculo
ma, mas de menor importância, são as artérias subescapular.
toracoacromial, toracodorsal e subescapular.
l GRUPO CENTRAL – localizado na gordura do
centro da axila (é o mais facilmente pal-
Drenagem venosa pado no exame físico).
Todos os ramos arteriais citados anteriormente
possuem um correspondente venoso responsá- l GRUPO DA MAMÁRIA EXTERNA – localizado
vel pela drenagem sangüínea da mama. Cabe junto à parede interna da axila, acompa-
aqui ressaltar a importância da rede venosa na nhando o trajeto da mamária externa.
30 ANATOMIA, EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO DA MAMA

Veia axilar

Pequeno
peitoral
(músculo)

Feixe toracodorsal
Artéria e veia torácica lateral
Músculo grande dorsal
Nervo torácico longo
Músculo serrátil anterior

Músculo abdominal
oblíquo externo

Figura 1.4
Anatomia cirúrgica da mama.

Normalmente é neste grupo que se iden- l NÍVEL 3: superiormente à borda do múscu-


tifica o linfonodo sentinela. lo pequeno peitoral.

Os linfonodos axilares também podem ser A disseminação linfática do carcinoma


divididos em três níveis, conforme a classifica- geralmente é ascendente, atingindo primeiro o
ção de Berg: nível 1 e, por fim, o nível 3 (grupo subclavicular).

l NÍVEL 1: inferiormente à borda lateral do


músculo pequeno peitoral. Linfonodos da torácica interna
Localizam-se nos espaços intercostais da região
l NÍVEL 2: atrás do músculo pequeno peito-
paraesternal, na gordura extrapleural próxima
ral.
aos vasos mamários internos. Responsáveis por
ROTINAS EM MASTOLOGIA 31

aproximadamente 3% da drenagem linfática da rebordo faz o limite lateral na dissecção do cavo


mama, sua exploração cirúrgica não é realizada axilar, sendo importante sua identificação na
como regra devido à morbidade e à pouca apli- cirurgia da axila, juntamente com o seu feixe
cação clínica. Alguns protocolos de pesquisa vasculonervoso que corre na parte interna da
têm avaliado cirurgicamente o linfonodo senti- borda lateral do músculo. O músculo grande
nela da mamária interna quando este destaca- dorsal tem importante utilidade nas reconstru-
se na linfocintilografia pré-operatória. ções mamárias. Pode-se utilizá-lo como retalho
cutaneomuscular para recobrir próteses de sili-
cone ou mesmo isoladamente, para reparar
Musculatura e inervação mastectomias ou grandes quadrantectomias.
Os músculos importantes na região da mama Os músculos retos abdominais também são ou-
são o pequeno e o grande peitoral, o serrátil tra opção muito utilizada nas reconstruções
anterior e o grande dorsal. mamárias com retalhos miocutâneos.
O músculo grande peitoral está em contato A superfície cutânea da mama é inervada
com a maior parte da face profunda da mama. pelos nervos intercostais. O segundo e o terceiro
Suas fibras partem da clavícula, do esterno e intercostais emitem um ramo perfurante lateral
das cartilagens costais, convergindo em direção que cruza a axila paralelamente à veia axilar,
à axila e inserindo-se no canal bicipital do úme- dirigindo-se para o braço, chamado nervo in-
ro. Inervado pelo nervo do grande peitoral e o tercostobraquial (Figura 1.5). Ele inerva a face
ramo do plexo braquial, age na flexão e na interna do braço e, quando seccionado durante
adução do úmero. Essas funções estão debi- a dissecção axilar, causa parestesia da região.
litadas na cirurgia radical da mama (cirurgia
de Halsted).
O músculo pequeno peitoral está sob o gran-
de peitoral e insere-se no processo coracóide A MAMA E O CICLO MENSTRUAL
da escápula. Inervado pelo nervo do pequeno As mudanças cíclicas dos níveis de hormônios
peitoral, age auxiliando os movimentos de rota- sexuais durante o ciclo menstrual têm grande
ção do ombro. Na mastectomia radical modifi- repercussão na mama. Assim como a resposta
cada de Pattey, ele é ressecado, facilitando o endometrial à variação hormonal, o ciclo ma-
acesso ao ápice axilar. mário pode ser dividido em fases: proliferativa,
O serrátil anterior origina-se lateralmente secretora e involutiva.
nos oito primeiros arcos costais, inserindo-se Na fase folicular do ciclo, ocorre a prolifera-
na borda medial da escápula. Inervado pelo ner- ção do epitélio mamário sob a ação de estróge-
vo torácico longo ou nervo de Bell, sua função nos principalmente. Após a ovulação, na fase
é tracionar para baixo e estabilizar a escápula luteal, a progesterona, produzida pelo corpo lú-
na parede torácica. Esse nervo é ramo do plexo teo, promove a dilatação dos ductos e a diferen-
braquial, cruza os vasos axilares e corre junto à ciação das células alvéolo-ductais em secreto-
parede torácica. Quando acontece a secção aci- ras, e, juntamente com os estrógenos, promove
dental do nervo de Bell na cirurgia, ocorre atro- outro pico de atividade proliferativa.
fia muscular com perda da força do ombro e Nos 3 a 4 dias pré-menstruais, a mama tem
desestabilização da escápula, conhecida como o seu fluxo sangüíneo aumentado, com acúmu-
escápula alada. lo de secreção intraductal e edema interlobular,
O músculo grande dorsal origina-se nos pro- responsáveis pelo aumento e pelo desconforto
cessos espinhosos das últimas vértebras toráci- mamário característicos dessa etapa. Com o
cas, das vértebras lombares, do sacro e da crista início da menstruação, há uma queda dos níveis
ilíaca, inserindo-se no úmero. Inervado pelo hormonais e uma regressão de todo o processo
nervo toracodorsal, ramo do plexo braquial, seu instalado. Assim, a mama apresenta seu menor
32 ANATOMIA, EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO DA MAMA

Figura 1.5
Inervação da axila: intercosto-
braquial, toracodorsal e longo
torácico.

volume do quinto ao sétimo dias do ciclo. O de secreção, evidenciado pela presença de co-
ciclo mamário reinicia com o aumento dos ní- lostro nos alvéolos. O colostro já pode ser se-
veis de estrogênios em nova fase folicular. cretado pela mama no segundo trimestre. O au-
mento da mama, a partir da 20a semana, resulta
da dilatação dos alvéolos com secreção e hiper-
trofia do tecido conjuntivo e gorduroso. Ocor-
A MAMA NA GESTAÇÃO rendo interrupção da gestação, a partir da 16a
E NA LACTAÇÃO semana, a lactação pode ocorrer.
A mama, durante a gestação, é submetida à in- No terceiro trimestre, intensificam-se os fe-
tensa ação hormonal dos mesmos hormônios que nômenos secretórios, com acúmulo de lipopro-
a formaram estruturalmente e que agora a de- teínas e ácidos graxos. O fluxo sangüíneo au-
senvolvem para sua função mais nobre, a ama- menta em até duas vezes, há edema extracelu-
mentação. Além de estrogênios, progesterona e lar e maior volume mamário. Os tubérculos de
prolactina, há aumento nos níveis de HCG (go- Montgomery estão mais proeminentes na peri-
nadotrofina coriônica), HPL (hormônio lactogê- feria da aréola, e as veias superficiais da mama,
nico placentário), hormônios tireoidianos e in- o plexo vascular de Haller, estão bastante dilata-
sulina, os quais atuam juntos com o objetivo de das e visíveis.
desenvolvimento e de maturação plenos da mama. A prolactina aumenta gradualmente duran-
Logo na terceira e quarta semanas de gesta- te a gestação e, no terceiro trimestre, apresenta
ção, se inicia a proliferação e o crescimento de níveis até cinco vezes maiores do que os pré-
dúctulos, bem como a formação lobular, sob efei- gravídicos. A prolactina auxilia os estrogênios
to estrogênico. Entre a quinta e a oitava semanas, e a progesterona no desenvolvimento e na dife-
já se evidencia aumento significativo das mamas, renciação ducto-alveolar e estimula a secreção
com dilatação de veias superficiais e aumento dos ácinos. Durante a gestação, os altos níveis
da pigmentação do complexo areolomamilar. de estrógenos e de progesterona diminuem o
Durante o segundo trimestre, continua a número de receptores de prolactina, bloqueando
proliferação ducto-alveolar e se inicia o processo seu efeito nos alvéolos e inibindo a produção de
ROTINAS EM MASTOLOGIA 33

leite. O HPL é semelhante à prolactina, mas tem manas, período de níveis elevados de prolacti-
maior atuação no desenvolvimento da mama do na. Para a continuidade do processo, é funda-
que na lactogênese, bloqueando os receptores mental a sucção. Ela estimula fibras sensoriais
da prolactina na gestação. Assim, há apenas a do complexo areolomamilar que, via hipotála-
produção de colostro durante a gestação, com- mo-hipófise, mantêm os níveis de prolactina e
posto por epitélio descamado e transudato. de ocitocina necessários para a produção e a
ejeção do leite.

PUERPÉRIO
Após o parto, ocorre queda súbita nos níveis A MAMA NO CLIMATÉRIO
de estrógenos, progesterona e HPL, permitindo O climatério é definido como a fase de transição
a ação da prolactina nos receptores celulares entre o período reprodutivo e o não-reprodutivo
gradativamente livres. A prolactina estimula a na vida de uma mulher. A menopausa é um
síntese de RNA para produção de proteínas do marco dentro dessa fase de transição, havendo
leite e aumenta a atividade de enzimas neces- a cessação permanente da menstruação. A ida-
sárias para a síntese de lactose e outros com- de média da menopausa é de 50 anos, sendo
ponentes específicos do leite. Inicialmente, chamada de precoce quando se estabelece antes
ocorre a secreção de colostro, mais espesso e dos 40 anos e, de tardia, após os 55 anos.
amarelado, que se torna fluido e seroso, rico A partir dos 30 a 35 anos, a mama começa a
em lactoglobulinas. No segundo ou no terceiro sofrer, em grau e velocidade variáveis para cada
dia, as mamas tornam-se maiores e ingurgita- mulher, o processo fisiológico da lipossubsti-
das, devido ao acúmulo de secreções e à estase tuição. Inverte-se, progressivamente, a propor-
linfática. Nesse período, se dá o início da secre- ção parênquima/gordura até que, na senectude,
ção de leite transicional (colostro e leite) na pri- há adiposidade quase total. O lóbulo mamário
meira semana, adquirindo características defi- entra em involução crescente, o revestimento
nitivas mais tardiamente. cutâneo torna-se flácido, havendo a natural
Independentemente da sucção mamilar, o ptose das mamas. Esses fenômenos involutivos
leite é secretado durante as duas primeiras se- do lóbulo são tipicamente representados pelo

Importante
As estruturas citadas a seguir compõem os limites na dissecção da axila e formam um triângulo cuja
base (veia axilar) está voltada para cima:

• limite lateral: borda do músculo grande dorsal e seu feixe vasculonervoso;


• limite profundo: fossa subescapular, coberta pelo músculo subescapular;
• limite medial: gradeado costal, onde corre o nervo de Bell, em sentido caudal;
• limite cranial: veia axilar.
São importantes a identificação e a preservação de estruturas como o nervo de Bell, que inerva o
músculo serrátil anterior e estabiliza a escápula. A lesão desse nervo provoca a conhecida escápula
alada. O nervo intercostobraquial cruza o conteúdo axilar paralelamente à veia axilar e, quando
seccionado, causa parestesia da face interna do braço. O feixe vasculonervoso do músculo grande
dorsal deve ser preservado quando se pretende realizar reconstrução com esse músculo.
34 ANATOMIA, EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO DA MAMA

aparecimento dos micro e macrocistos, que cos- res; a fibrose estromal; a dilatação dos ductos
tumam regredir espontaneamente na pós-me- ou ectasia ductal, que pode vir a infectar-se; e
nopausa. Esses cistos, além da ansiedade gera- as hiperplasias ductal e lobular simples, cujo
da pela formação de uma área nodular, podem grau máximo são as hiperplasias atípicas, lesões
ocasionar mastalgia de significado clínico. Ou- pré-malignas. Também são mais comuns no cli-
tras alterações aparecem nessa fase: a involu- matério o papiloma intraductal, a necrose gor-
ção ductal, que determina retrações mamila- durosa e o tumor filodes.

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