O documento apresenta uma resenha sobre o livro "Sexo e Temperamento" da antropóloga Margaret Mead. A obra descreve três comunidades primitivas: os Arapesh, povo pacífico das montanhas; os agressivos Mundugumor, do rio; e os Tchambuli, do lago, cujos papéis de gênero variam. Mead conclui que o temperamento não é determinado biologicamente, mas sim culturalmente. A resenha analisa as contribuições do livro para a antropologia e
O documento apresenta uma resenha sobre o livro "Sexo e Temperamento" da antropóloga Margaret Mead. A obra descreve três comunidades primitivas: os Arapesh, povo pacífico das montanhas; os agressivos Mundugumor, do rio; e os Tchambuli, do lago, cujos papéis de gênero variam. Mead conclui que o temperamento não é determinado biologicamente, mas sim culturalmente. A resenha analisa as contribuições do livro para a antropologia e
O documento apresenta uma resenha sobre o livro "Sexo e Temperamento" da antropóloga Margaret Mead. A obra descreve três comunidades primitivas: os Arapesh, povo pacífico das montanhas; os agressivos Mundugumor, do rio; e os Tchambuli, do lago, cujos papéis de gênero variam. Mead conclui que o temperamento não é determinado biologicamente, mas sim culturalmente. A resenha analisa as contribuições do livro para a antropologia e
Docente: Ana Letícia de Fiori Disciplina: Teoria Antropológica I
Rio Branco - AC 2019 Resenha sobre Sexo e Temperamento de Margaret Mead
Sexo e Temperamento, obra de Margaret Mead foi publicado pela
primeira vez em 1935 e atualmente encontra-se na quarta edição. O título originalmente era “Sexo e Temperamento em Três Comunidades Primitivas” e atualmente apresenta-se somente “Sexo e Temperamento”. De início podemos observar o título que para época carregava o entendimento de sociólogos e especialistas da área, mas que hoje poderiam ser substituídas por outras palavras que não possuam significados pejorativos. Começando por “primitivo”, que em dentre alguns significados pode ser entendido como “Que age de maneira brutal, rude: comportamento primitivo” (Dicio, 2019), “Diz-se de povos que ainda se encontram em estágios menos desenvolvidos em relação às sociedades cuja organização e tecnologia são mais sofisticadas e aperfeiçoadas [...]”, “que teve pouca ou nenhuma evolução ou aperfeiçoamento; antiquado, arcaico, atrasado” “Que não teve instrução ou refinamento; bronco, grosseiro, ignorante” (Michaelis, 2015) e vários outros significados que trazem uma carga negativa para os povos que habitaram originalmente cada região. Ainda a respeito dos termos, temos a palavra “sexo” na qual hoje seria poderia ser adaptado por “gênero”. A obra é dividida em quatro grandes capítulos e um capítulo de conclusão. Cada capítulo contem as descobertas para cada grupo, sendo eles, os arapesh das montanhas, os mundugumur do rio e os tchambuli habitantes do lago, o quarto capítulo faz uma relação dos dados apresentando implicações, enquanto que na conclusão há um encerramento das ideias. Os arapesh são os primeiros a serem apresentados, na qual a autora descreve a distribuição deste povo que se estende da costa, passando por fileiras de montanhas até chegar a campos verdes. Apesar de eles terem adotado o habito de usar canoas preferem pescar em lagos, detestam os grãos de areia e constroem seus abrigos com folhas de palmeiras. A autora descreve o ritmo de vida deste povo como “pacifico e lento”, e que eles vivem em moradias grandes, com abundancia de comida e variados objetos nos povoados da costa enquanto que ao chegar aos povoados das montanhas o tamanho das moradias reduz e devido às condições de produção e de caça a comida também é mais escassa. Importante destacar que Mead descreve as populações do idioma Arapesh e já inicia mostrando as diferenças conforme a distribuição geográfica, um debate muito importante que ressalta a identidade de capa grupo e de suas lutas. Durante o texto, a autora segue apresentando as peculiaridades da vida nas montanhas e suas dificuldades que vão desde produção de comida (plantar e colher) até busca de lenha. Mead descreve o “agehu”, que é um local de comemoração e festa do povo Arapesh, afirmando ser um local sagrado e ao mesmo tempo onde crianças se divertem brincando, onde as pessoas sentam pra comer e as crianças para darem seus primeiros passos. Alguns dos objetos depositados no agehu são trazidos da costa, enquanto que estes conseguiram de vendedores de fora do povoado. Mead também afirma que para os povos da montanha o povo da costa é simbolizam “moda e despreocupação”, devido a vida como eles levam. A seguir a autora descreve o povoado do campo, e os compara fisicamente aos povos da montanha na qual se identifica um determinado grau de diferença entre estes grupos. Nota-se que Mead ao que sugere o título do povo da montanha, descreve os demais povoados (costa e campo) fazendo comparações tanto físicas dos integrantes do grupo, como das condições de vida que cada grupo apresenta. Seria como se ela ao descrever os povos do campo e da costa, apresentasse como referencial os povos da montanha. Mas as diferenças entre povos do campo não param nas características biológicas, as diferenças também segue no campo da vestimenta, do armamento e vários comportamentos. Os povos do campo apresentam uma relação estreita com a produção agrícola, assim como também é com a feitiçaria, na qual se acredita que tenham a feitiçaria mais forte de todas. Dentre as feitiçarias a autora destaca doença e morte, mas sendo possível afetar até mesmo o desempenho na caça. Mead encerra o capitulo afirmando sobre a sensação de liberdade deste povo mesmo eles vivendo em uma ilha. Entretanto ela reserva outros capítulos destinados a este povo, um falando mais especificamente da sua organização, outro fala do nascimento da criança arapesh e mais cinco capítulos que vão descrever as etapas de vida seguinte da criança, desde iniciação até o casamento. Por fim, em um último capitulo há uma descrição a respeito do ideal Arapesh e aquilo que eles evitam. Margaret Mead segue fazendo a descrição no próximo capítulo, destinado aos Mundugumor, comparando os mesmos com os Arapesh na qual os povos do primeiro capítulo eram pacíficos e os Mundugumor extremamente agressivos. Ressalta-se que neste capítulo Mead demonstra o afeto que teve pelo povoado a ser avisada sobre os perigos de adentrar no povoado dos Mundugumor. Entretanto como antropóloga era seu dever afastar das emoções e preconceitos, afinal os povoados eram seus objetos de estudo. Desta vez, Mead divide os Mundugumor em dois grupos: aqueles que moram próximo ao rio e aqueles que não se adaptaram e moram distante dele. Os Mundugumor saem de seus territórios para caçar e trocar objetos, mostrando assim a interação destes povos com os demais. Neste caso mais especifico eles se relacionam com os povos do pântano, no processo de troca os Mundugumor dão coco Mead descreve as estratégias de enfrentamento deste povo, na qual consiste em atacar vilas favoráveis com poucos homens para proteger e de tamanho relativamente pequeno. Em um total de cinco capítulos, bem menos se comparados aos capítulos dedicados aos Arapesh, Mead descreve os mesmos fatores do primeiro grupo falando do ritmo de vida, estrutura, juventude, casamento e dos valores que fogem a um Mundugumor. Para os Tchumbuli, a autora dedica apenas três capítulos na qual também descreve o padrão de vida, diferencia os papeis do homem e da mulher na comunidade e encerra falando dos inadaptados, que seriam exatamente aqueles que não se encaixam nas funções esperadas para aqueles indivíduos. Sendo que ela destaca a diferenças de desajustados entre homem e mulher, na qual a mulher só será percebida se possuir um papel de destaque enquanto que todo homem desajustado é facilmente notável. Os capítulos finais, um destinado à relação dos grupos e um ultima para a conclusão é onde Margaret Mead expressa melhor o entendimento sobre o papel do homem e da mulher nos diferentes povos estudados, estabelecendo que o sexo não fosse um fator determinante para os tipos de comportamentos, mas sim o grupo cultural a qual cada um pertence. Em alguns momentos Mead identificou o homem com papel mais agressivo, enquanto em outros a mulher possuía esta característica o que desfaz a ideia de determinismo por sexo biológico. É importante destacar também o debate sobre os desajustados, que seriam aqueles que não se identificam com seu papel e que estão presentes em diversos povos. Mesmo eles sendo uma minoria, existem e fazem parte de cada grupo, mostrando assim que mesmo para o padrão de cada sociedade existe uma “exceção à regra”. Por fim, é possível analisar que a obra de Mead é um importante trabalho dentro da antropologia e traz grande marcos. O primeiro grande marco a atuação feminina dentro da antropologia em trabalhos de campo, o segundo é a contribuição que este trabalho tem não só em questões de descrição dos povos, mas também do debate que ele traz a respeito do papel do homem e da mulher na sociedade que é totalmente atual e recorrente. O terceiro é a forma como ela descreve os povos respeitando a diversidade e especificidade de cada povo, mesmo que ainda possamos atualizar a obra usando termos mais adequados do que “sexo” e “primitivo”, tornando a linguagem menos ofensiva. REFERÊNCIAS
DICIO. Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2019. Disponível em: