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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE- UFAC

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS - CFCH


ABI – CIÊNCIAS SOCIAIS

N2

Discente: Francisco Roni Souza Zumba


Docente: Ana Letícia de Fiori
Disciplina: Teoria Antropológica I

Rio Branco - AC
2019
Resenha sobre Sexo e Temperamento de Margaret Mead

Sexo e Temperamento, obra de Margaret Mead foi publicado pela


primeira vez em 1935 e atualmente encontra-se na quarta edição. O título
originalmente era “Sexo e Temperamento em Três Comunidades Primitivas” e
atualmente apresenta-se somente “Sexo e Temperamento”.
De início podemos observar o título que para época carregava o
entendimento de sociólogos e especialistas da área, mas que hoje poderiam
ser substituídas por outras palavras que não possuam significados pejorativos.
Começando por “primitivo”, que em dentre alguns significados pode ser
entendido como “Que age de maneira brutal, rude: comportamento primitivo”
(Dicio, 2019), “Diz-se de povos que ainda se encontram em estágios menos
desenvolvidos em relação às sociedades cuja organização e tecnologia são
mais sofisticadas e aperfeiçoadas [...]”, “que teve pouca ou nenhuma evolução
ou aperfeiçoamento; antiquado, arcaico, atrasado” “Que não teve instrução ou
refinamento; bronco, grosseiro, ignorante” (Michaelis, 2015) e vários outros
significados que trazem uma carga negativa para os povos que habitaram
originalmente cada região. Ainda a respeito dos termos, temos a palavra “sexo”
na qual hoje seria poderia ser adaptado por “gênero”.
A obra é dividida em quatro grandes capítulos e um capítulo de
conclusão. Cada capítulo contem as descobertas para cada grupo, sendo eles,
os arapesh das montanhas, os mundugumur do rio e os tchambuli habitantes
do lago, o quarto capítulo faz uma relação dos dados apresentando
implicações, enquanto que na conclusão há um encerramento das ideias.
Os arapesh são os primeiros a serem apresentados, na qual a autora
descreve a distribuição deste povo que se estende da costa, passando por
fileiras de montanhas até chegar a campos verdes. Apesar de eles terem
adotado o habito de usar canoas preferem pescar em lagos, detestam os grãos
de areia e constroem seus abrigos com folhas de palmeiras.
A autora descreve o ritmo de vida deste povo como “pacifico e lento”, e
que eles vivem em moradias grandes, com abundancia de comida e variados
objetos nos povoados da costa enquanto que ao chegar aos povoados das
montanhas o tamanho das moradias reduz e devido às condições de produção
e de caça a comida também é mais escassa. Importante destacar que Mead
descreve as populações do idioma Arapesh e já inicia mostrando as diferenças
conforme a distribuição geográfica, um debate muito importante que ressalta a
identidade de capa grupo e de suas lutas. Durante o texto, a autora segue
apresentando as peculiaridades da vida nas montanhas e suas dificuldades
que vão desde produção de comida (plantar e colher) até busca de lenha.
Mead descreve o “agehu”, que é um local de comemoração e festa do
povo Arapesh, afirmando ser um local sagrado e ao mesmo tempo onde
crianças se divertem brincando, onde as pessoas sentam pra comer e as
crianças para darem seus primeiros passos. Alguns dos objetos depositados no
agehu são trazidos da costa, enquanto que estes conseguiram de vendedores
de fora do povoado. Mead também afirma que para os povos da montanha o
povo da costa é simbolizam “moda e despreocupação”, devido a vida como
eles levam.
A seguir a autora descreve o povoado do campo, e os compara
fisicamente aos povos da montanha na qual se identifica um determinado grau
de diferença entre estes grupos. Nota-se que Mead ao que sugere o título do
povo da montanha, descreve os demais povoados (costa e campo) fazendo
comparações tanto físicas dos integrantes do grupo, como das condições de
vida que cada grupo apresenta. Seria como se ela ao descrever os povos do
campo e da costa, apresentasse como referencial os povos da montanha. Mas
as diferenças entre povos do campo não param nas características biológicas,
as diferenças também segue no campo da vestimenta, do armamento e vários
comportamentos.
Os povos do campo apresentam uma relação estreita com a produção
agrícola, assim como também é com a feitiçaria, na qual se acredita que
tenham a feitiçaria mais forte de todas. Dentre as feitiçarias a autora destaca
doença e morte, mas sendo possível afetar até mesmo o desempenho na caça.
Mead encerra o capitulo afirmando sobre a sensação de liberdade deste povo
mesmo eles vivendo em uma ilha. Entretanto ela reserva outros capítulos
destinados a este povo, um falando mais especificamente da sua organização,
outro fala do nascimento da criança arapesh e mais cinco capítulos que vão
descrever as etapas de vida seguinte da criança, desde iniciação até o
casamento. Por fim, em um último capitulo há uma descrição a respeito do
ideal Arapesh e aquilo que eles evitam.
Margaret Mead segue fazendo a descrição no próximo capítulo,
destinado aos Mundugumor, comparando os mesmos com os Arapesh na qual
os povos do primeiro capítulo eram pacíficos e os Mundugumor extremamente
agressivos. Ressalta-se que neste capítulo Mead demonstra o afeto que teve
pelo povoado a ser avisada sobre os perigos de adentrar no povoado dos
Mundugumor. Entretanto como antropóloga era seu dever afastar das emoções
e preconceitos, afinal os povoados eram seus objetos de estudo.
Desta vez, Mead divide os Mundugumor em dois grupos: aqueles que
moram próximo ao rio e aqueles que não se adaptaram e moram distante dele.
Os Mundugumor saem de seus territórios para caçar e trocar objetos,
mostrando assim a interação destes povos com os demais. Neste caso mais
especifico eles se relacionam com os povos do pântano, no processo de troca
os Mundugumor dão coco Mead descreve as estratégias de enfrentamento
deste povo, na qual consiste em atacar vilas favoráveis com poucos homens
para proteger e de tamanho relativamente pequeno.
Em um total de cinco capítulos, bem menos se comparados aos
capítulos dedicados aos Arapesh, Mead descreve os mesmos fatores do
primeiro grupo falando do ritmo de vida, estrutura, juventude, casamento e dos
valores que fogem a um Mundugumor. Para os Tchumbuli, a autora dedica
apenas três capítulos na qual também descreve o padrão de vida, diferencia os
papeis do homem e da mulher na comunidade e encerra falando dos
inadaptados, que seriam exatamente aqueles que não se encaixam nas
funções esperadas para aqueles indivíduos. Sendo que ela destaca a
diferenças de desajustados entre homem e mulher, na qual a mulher só será
percebida se possuir um papel de destaque enquanto que todo homem
desajustado é facilmente notável.
Os capítulos finais, um destinado à relação dos grupos e um ultima para
a conclusão é onde Margaret Mead expressa melhor o entendimento sobre o
papel do homem e da mulher nos diferentes povos estudados, estabelecendo
que o sexo não fosse um fator determinante para os tipos de comportamentos,
mas sim o grupo cultural a qual cada um pertence. Em alguns momentos Mead
identificou o homem com papel mais agressivo, enquanto em outros a mulher
possuía esta característica o que desfaz a ideia de determinismo por sexo
biológico. É importante destacar também o debate sobre os desajustados, que
seriam aqueles que não se identificam com seu papel e que estão presentes
em diversos povos. Mesmo eles sendo uma minoria, existem e fazem parte de
cada grupo, mostrando assim que mesmo para o padrão de cada sociedade
existe uma “exceção à regra”.
Por fim, é possível analisar que a obra de Mead é um importante
trabalho dentro da antropologia e traz grande marcos. O primeiro grande marco
a atuação feminina dentro da antropologia em trabalhos de campo, o segundo
é a contribuição que este trabalho tem não só em questões de descrição dos
povos, mas também do debate que ele traz a respeito do papel do homem e da
mulher na sociedade que é totalmente atual e recorrente. O terceiro é a forma
como ela descreve os povos respeitando a diversidade e especificidade de
cada povo, mesmo que ainda possamos atualizar a obra usando termos mais
adequados do que “sexo” e “primitivo”, tornando a linguagem menos ofensiva.
REFERÊNCIAS

DICIO. Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2019. Disponível em:


https://www.dicio.com.br/indole/. Acesso em: 01 dez. 2019.

MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Dicionário on-line.


Editora Melhoramentos, 2015. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/
moderno-portugues/creditos/ Acesso em: 01 dez. 2019.

MEAD, Margaret. Sexo e temperamento. São Paulo: Perspectiva, 4. ed., 2000.

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