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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL

EPI 703 – HISTÓRIA DO SISTEMA INTERESTATAL CAPITALISTA I


PROF. DANIEL BARREIROS

A disciplina tem por objetivo analisar, a partir de múltiplos ângulos, e com uma abordagem que privilegia a chamada
“História-Mundo”, as relações entre poder e riqueza na formação do Sistema Interestatal Capitalista, tendo como eixo central
o desenvolvimento e expansão das formações econômicas capitalistas, bem como o surgimento dos Estados nacionais
modernos, desde a crise da sociedade feudal europeia até o século XIX. Objetiva-se uma compreensão da dinâmica
sistêmica a partir do “jogo de escalas” entre as diferentes durações históricas (do tempo curto ao longo), com forte
ancoragem no emaranhamento entre três tipologias de fenômenos próprios da longa duração: os regimes de circulação
(comércio, crédito, migrações, informação), os regimes de produção (técnica, tecnologia, modos de produção, propriedade e
trabalho) e os regimes de coerção (tipos de Estado, formas políticas, guerra), de cuja síntese emergem padrões de
acumulação de riqueza, de conflito entre os Estados nacionais e de expansão das fronteiras do sistema interestatal de tipo
europeu. A disciplina pretende resultar, ainda, em um exercício analítico da “dialética das durações” braudeliana, de caráter
instrumental, capaz de adensar (historicizando) a compreensão dos desafios do sistema interestatal nessa primeira metade
do século XXI.

Programa

1. Espaço, escopo e duração: questões de teoria e método

A Dialética das Durações


BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 2009.
O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico à Época de Felipe II (pp. 13-16)
Posições da História em 1950 (pp. 17-35)
História e Ciências Sociais: a longa duração (pp. 41-78).

DOSSE, François. A História. São Paulo: UNESP, 2012.


Os rompimentos do tempo (pp. 145-216).

O Jogo de Escalas
McNEILL, William. “The changing shape of world history”. History and Theory, vol. 34, n. 2, 1995, pp. 8-26.

2. Transformação nos Regimes de Circulação na Europa ocidental (séculos VII-XVII)

Regimes de circulação no Mediterrâneo, sécs. III-VIII


HODGETT, Gerald. História social e econômica da Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
O comércio na Alta Idade Média (pp. 48-60).

Regimes de circulação nos mares do Norte e Mediterrâneo, sécs. IX-XV


HODGETT, Gerald. História social e econômica da Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
O renascimento do comércio e o crescimento das cidades (pp. 61-73).
A organização do comércio na Itália: bancos e crédito (pp. 74-88).
O comércio europeu medieval: sul e norte (pp. 89-105).
As áreas desenvolvidas da Europa medieval: Bizâncio e Córdova (pp. 134-145)

ABU-LUGHOD, Janet. “The shape of the world system in the thirteenth century”. Studies in Comparative International
Development, vol. 22, n. 4, 1987, pp. 2-25.

3. Transformação nos Regimes de Produção na Europa ocidental (séculos IX-XVII)


O Esgotamento do Modo de Produção Feudal por suas contradições internas
DOBB, Maurice. A evolução do capitalismo. 2ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1986.
 O declínio do feudalismo e o crescimento das cidades (pp. 25-60).

Mercado e transformação das relações de produção


SWEEZY, Paul. “Uma crítica”. In: SWEEZY, Paul (org). A transição do feudalismo para o capitalismo: um debate. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1977, pp. 33-56.

O surgimento do capital industrial


DOBB, Maurice. A evolução do capitalismo. 2ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1986.
 O surgimento do capital industrial (pp. 89-125).

O imperativo de mercado
WOOD, Ellen. A origem do capitalismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
 A origem agrária do capitalismo (pp. 75-100).

POLANYI, Karl. A grande transformação. Rio de Janeiro, Campus, 2000.


 Habitação versus progresso (pp. 51-61).
 Evolução do padrão de mercado (pp. 76-87).

4. Transformação nos Regimes de Coerção na Europa (séculos X-XVII)

ANDERSON, Perry. Linhagens do estado absolutista. São Paulo: Brasiliense, 1995.


 O Estado absolutista no Ocidente (pp. 15-41).
 Classe e Estado: problemas de periodização (pp. 42-58).
 O Absolutismo no Leste (pp. 195-220).
 Nobreza e monarquia: a variante oriental (pp. 221-235).

5. Mercantilismo e Transição

DEYON, Pierre. O mercantilismo. São Paulo: Perspectiva, 1992.


 Políticas e práticas do mercantilismo (pp. 14-45).

6. Incorporação da Periferia aos Regimes de Circulação, Produção e Coerção na Europa ocidental (séculos XVI-XIX)

POLANYI, Karl. A grande transformação. Rio de Janeiro, Campus, 2000.


 Sociedades e Sistemas Econômicos (pp. 62-75).

CARDOSO, Ciro Flamarion. “De volta às fontes originais: o conceito de Modo de Produção Asiático em Marx e Engels”. In:
CARDOSO, Ciro et al. Modo de Produção Asiático: nova visita a um velho conceito. Rio de Janeiro, Campus, 1990, pp. 1-17.

CARDOSO, Ciro Flamarion. “Balanço final”. In: CARDOSO, Ciro et al. Modo de Produção Asiático: nova visita a um velho
conceito. Rio de Janeiro, Campus, 1990, pp. 121-133.

GODELIER, Maurice. “Conceito de formação econômica e social: o exemplo dos incas”. In: SANTIAGO, Theo (org). América
colonial: ensaios. Rio de Janeiro, Palas, 1975, pp. 11-20.

GODELIER, Maurice. “Nova reflexão sobre o exemplo dos incas”. In: SANTIAGO, Theo (org). América colonial: ensaios. Rio
de Janeiro, Palas, 1975, pp. 21-33.

WALLERSTEIN, Immanuel. “Rise and future demise of the World Capitalist System: concepts of comparative analysis”.
Comparative Studies in Society and History, vol. 16, n. 4, 1974, pp. 387-415.

WALLERSTEIN, Immanuel. “From Feudalism to Capitalism: transition or transitions?”. Social Forces, vol. 55, n. 2, 1976, pp.
273-283.
CARDOSO, Ciro Flamarion. “O modo de produção escravista colonial na América”. In: SANTIAGO, Theo (org). América
colonial: ensaios. Rio de Janeiro, Palas, 1975, pp. 89-143.

FRANK, Andre Gunder. Acumulação dependente e subdesenvolvimento. São Paulo, Brasiliense, 1980.
 Questões introdutórias (pp. 34-46).
 Acumulação mundial de capital, padrões de comércio e modos de produção 1500-1770 (pp. 34-46).
 O imperialismo e a transformação dos modos de produção na Ásia, África e América Latina (pp. 176-209).

MAGDOFF, Harry. Imperialismo: da era colonial ao presente. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.
 A expansão europeia desde 1763 (pp. 21-66).

7. Transformação Industrial nos Regimes de Produção na Europa ocidental (século XIX)

HOBSBAWM, Eric. Da revolução industrial inglesa ao imperialismo. Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1983.
 A origem da revolução industrial (pp. 33-52)
 A revolução industrial, 1780-1840 (pp. 53-73)
 Industrialização: a segunda fase, 1840-1895 (pp. 101-123)

POLANYI, Karl. A grande transformação. Rio de Janeiro, Campus, 2000.


 O mercado autorregulável e as mercadorias fictícias (pp. 89-98).

8. Modernização dos Regimes de Coerção na Europa (séculos XVII-XIX)

MOORE Jr., Barrington. Origens sociais da ditadura e da democracia: senhores e camponeses na criação do mundo
moderno. São Paulo, Martins Fontes, 1983.
 A via democrática para a sociedade moderna (pp. 407-426)
 A revolução vinda de cima e o fascismo (pp. 427-446)
 A Inglaterra e as contribuições da violência para a evolução (pp. 11-46)

9. Modernização dos Regimes de Coerção na América (séculos XIX-XX)

MOORE Jr., Barrington. Origens sociais da ditadura e da democracia: senhores e camponeses na criação do mundo
moderno. São Paulo, Martins Fontes, 1983.
 A guerra civil americana: a última revolução capitalista (pp. 115-158)

GRACIARENA, Jorge. O poder e as classes sociais no desenvolvimento da América Latina. São Paulo, Mestre Jou, 1971.
 As estruturas de poder e a política de desenvolvimento (pp. 15-42)

10. Transformação financeira no Regime de Circulação com centro na Europa (século XIX)

ASHWORTH, William. A short history of the international economy since 1850. Londres: Longman, 1962.
 The emergence of an international economy before 1914 (pp. 182-213)

EICHENGREEN, Barry. A globalização do capital: uma história do sistema monetário internacional. São Paulo, 34, 2000, pp.
29-74.
 O padrão ouro (pp. 29-74)

POLANYI, Karl. A grande transformação. Rio de Janeiro, Campus, 2000.


 Cem anos de paz (pp. 17-35)
 Autorregulação imperfeita (pp. 237-245)
 Forças de ruptura (246-258)
Primeira Unidade

1) Expor as temporalidades de Braudel e as questões teóricas na dialética da duração


2) Informar que curso será centrado em fenômenos de longa e média duração e que, portanto, não é “história” num sentido
completo, porque vai ficar faltando o curto prazo
3) Dinâmica das durações como “problema quântico” (média e longa duração são ondas, meramente probabilísticas; curta
duração é a partícula, que aparece aleatoriamente no espectro da onda, mas somente num lugar; ondas interferem umas nas
outras, gerando probabilidades de onde a partícula estará quando for medida; partícula, ou acontecimento, ocorre naquele
espectro de possibilidades da onda, mas sua posição não pode ser determinada previamente por qualquer informação que
exista na onda; só probabilidades estão presentes.
4) Expor a big history e os problemas de uma história realmente total; a fractalidade dos fenômenos, que une a longuíssima e
a curtíssima duração. A termodinâmica como fenômeno físico que, fractalmente, parece iluminar outras dinâmicas, de modo
que a fractalidade é uma propriedade de todos esses fenômenos, termodinâmicos ou não.
5) Expor o problema do Poder a partir das ideias do Fiori. Expansividade, poder global, coisas do tipo. Buscar os links que o
Fiori já fez com a questão da entropia e da segunda lei da termodinâmica.
6) Mas, por que poder? Fiori assume o poder como variável independente e tudo mais deriva de sua dinâmica, mas não
indaga porque, afinal de contas, a dinâmica do poder precisa existir.
7) Poder enquanto um problema fractal de complexidade e termodinâmica: quanto mais complexas as unidades, mais
necessidade de influxos de energia livre; quanto menor é o gradiente de energia (quanto melhor distribuído for) menos
energia livre, menos trabalho, e maior é a entropia (e a fragmentação e o retorno a sistemas cada vez mais simples).
Cognição humana enquanto problema semifractal (porque tem relação de origem): cognição social, disputa por status e
poder, etologia, prosocialidade e esgotamento da prosocialidade; complexos herdados na estrutura inconsciente e em
interação com a mente transdominial e metarrepresentacional. O poder em esfera internacional (econômico, político, militar)
em seu nível mais elementar (o da agência humana, que efetivamente é a matriz do fenômeno) é exercido por meio de ações
racionais e conscientes em profunda interação com estruturas arquetípicas do inconsciente coletivo, herdadas do passado
evolucionário. Logo, as justificativas racionais e as motivações mais imediatas para as decisões humanas podem ser muitas,
mas inevitavelmente são construídas a partir de “modelos de verossimilhança” projetados do inconsciente coletivo sobre a
mente metarepresentacional, que tornam certos cursos de ação ou certos estados de coisas mais compreensíveis em nível
afetivo e intuitivo do que outros.
1.2020

1. Espaço, escopo e duração: questões de teoria e método

MAZLISH, Bruce. "Comparing Global History to World History". Journal of Interdisciplinary History, vol. 28, n. 3, 1998, pp.
385-395.

IRIYE, Akira. "The Rise of Global and Transnational History". Journal of Transnational American Studies, vol. 5, n. 1, 2013,
pp. 1-20.

DOBB, Maurice. A Evolução do Capitalismo. São Paulo: Nova Cultural, 1986.


Os começos da burguesia (pp. 60-88).

ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. Rio de Janeiro/São Paulo:
Contraponto/UNESP, 1996.
A ascensão do capital (pp. 87-129).

TILLY, Charles. Coerção, Capital e Estados Europeus, 990-1992. São Paulo: EDUSP, 1996.
Como a guerra fez os Estados, e vice-versa (pp. 123-156).
O sistema europeu de estado (pp. 237-272).

HECKSCHER, Eli. La Epoca Mercantilista: historia de la organización y las ideas económicas desde el final de Edad Media
hasta la Sociedade Liberal. México D. F.: Fondo de Cultura Económica, 1943.
La esencia del sistema de poder (pp. 459-475)
Métodos de la política de poder (pp. 476-498)

ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. Rio de Janeiro/São Paulo:
Contraponto/UNESP, 1996.
A ascensão do capital (pp. 130-162)

NOVAIS, Fernando. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial, 1777-1808. São Paulo, Hucitec, 1981.
A crise do antigo sistema colonial (pp. 57-116).

ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. Rio de Janeiro/São Paulo:
Contraponto/UNESP, 1996.
Indústria, imperialismo e a “interminável” acumulação de capital (pp. 163-246)

MOORE Jr., Barrington. Origens Sociais da Ditadura e da Democracia: senhores e camponeses na criação do mundo
moderno. São Paulo, Martins Fontes, 1983.
Evolução e revolução na França (47-111)

CENTENO, Miguel. Blood and Debt: war and the nation-state in Latin America. State College, University of Pennsylvania
Press, 2002.
Making War (pp. 33-100)
Making the State (pp. 101-166)

GERMANI, Gino. Sociologia da modernização: estudos teórico, metodológicos e aplicados a América Latina. São Paulo,
Mestre Jou, 1974.

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