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Ludwig von Mises

Ação Humana
Um Tratado de Economia
Disponível em http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=44 - Pag
315 a 317.

O Mercado
As características da economia de mercado

A economia de mercado é o sistema social baseado na divisão do


trabalho e na propriedade privada dos meios de produção. Todos
agem por conta própria; mas as ações de cada um procuram
satisfazer tanto as suas próprias necessidades como também as
necessidades de outras pessoas. Ao agir, todos servem seus
concidadãos. Por outro lado, todos são por eles servidos. Cada um
é ao mesmo tempo um meio e um fim; um fim último em si mesmo e
um meio para que outras pessoas possam atingir seus próprios fins.

Este sistema é guiado pelo mercado. O mercado orienta as


atividades dos indivíduos por caminhos que possibilitam melhor
servir as necessidades de seus semelhantes. Não há, no
funcionamento do mercado, nem compulsão nem coerção. O
estado, o aparato social de coerção e compulsão, não interfere nas
atividades dos cidadãos, as quais são dirigidas pelo mercado. O
estado utiliza o seu poder exclusivamente com o propósito de evitar
que as pessoas empreendam ações lesivas à preservação e ao
funcionamento regular da economia de mercado. Protege a vida, a
saúde e a propriedade do indivíduo contra a agressão violenta ou
fraudulenta por parte de malfeitores internos e de inimigos externos.
Assim, o estado cria e preserva o ambiente onde a economia de
mercado pode funcionar em segurança. O slogan marxista
“produção anárquica” retrata corretamente essa estrutura social
como um sistema econômico que não é dirigido por um ditador, um
tzar da produção que pode atribuir a cada um uma tarefa e obrigá-lo
a obedecer a esse comando. Todos os homens são livres; ninguém
tem de se submeter a um déspota. O indivíduo, por vontade própria,
se integra num sistema de cooperação. O mercado o orienta e lhe
indica a melhor maneira de promover o seu próprio bem estar, bem
como o das demais pessoas. O mercado comanda tudo; por si só
coloca em ordem todo o sistema social, dando-lhe sentido e
significado.
O mercado não é um local, uma coisa, uma entidade coletiva. O
mercado é um processo, impulsionado pela interação das ações
dos vários indivíduos que cooperam sob o regime da divisão do
trabalho. As forças que determinam a – sempre variável – situação
do mercado são os julgamentos de valor dos indivíduos e suas
ações baseadas nesses julgamentos de valor. A situação do
mercado num determinado momento é a estrutura de preços; isto é,
o conjunto de relações de troca estabelecido pela interação
daqueles que estão desejosos de vender com aqueles que estão
desejosos de comprar. Não há nada, em relação ao mercado, que
não seja humano, que seja místico. O processo de mercado resulta
exclusivamente das ações humanas. Todo fenômeno de mercado
pode ser rastreado até as escolhas específicas feitas pelos
membros da sociedade de mercado.

O processo de mercado é o ajustamento das ações individuais dos


vários membros da sociedade aos requisitos da cooperação mútua.
Os preços de mercado informam aos produtores o que produzir,
como produzir e em que quantidade. O mercado é o ponto focal
para onde convergem e de onde se irradiam as atividades dos
indivíduos.

A economia de mercado deve ser estritamente diferenciada do


segundo sistema imaginável – embora não realizável – de
cooperação social sob um regime de divisão de trabalho: o sistema
de propriedade governamental ou social dos meios de produção.
Esse segundo sistema é comumente chamado de socialismo,
comunismo, economia planificada ou capitalismo de estado. A
economia de mercado, ou capitalismo, como é comumente
chamada, e a economia socialista são mutuamente excludentes.
Não há mistura possível ou imaginável dos dois sistemas; não há
algo que se possa chamar de economia mista, um sistema que
seria parcialmente socialista. A produção ou é dirigida pelo
mercado, ou o é por decretos de um tzar da produção, ou de um
comitê de tzares da produção.
Se, numa sociedade baseada na propriedade privada dos meios de
produção, alguns desses meios são possuídos e operados por um
ente público – ou seja, pelo governo ou uma de suas agências —,
isto não significa um sistema misto que combine socialismo e
capitalismo. O fato de o estado ou de municipalidades possuírem e
operarem algum tipo de instalação industrial não altera as
características essenciais da economia de mercado. Essas
empresas públicas estão sujeitas à soberania do mercado. Têm de
se ajustar – como compradoras de matérias-primas, equipamento e
mão de obra, e como vendedoras de bens e serviços – à mecânica
da economia de mercado. Estão sujeitas às leis do mercado e,
portanto, dependem dos consumidores que lhes podem dar ou
negar preferência. Precisam empenhar-se para obter lucros ou, pelo
menos, para evitar prejuízos. O governo pode cobrir o déficit de
suas empresas recorrendo a fundos públicos. Mas isto também não
elimina nem diminui a supremacia do mercado; apenas desloca o
déficit para outro setor: os meios para cobrir as perdas serão
arrecadados através da cobrança de impostos. Mas as
consequências que esta taxação produzirá no mercado e na
estrutura econômica serão sempre as previstas pelas leis do
mercado. É o funcionamento do mercado, e não a arrecadação de
impostos pelo governo, que decide sobre quem incidirão os
impostos e como eles afetarão a produção e o consumo. Portanto, é
o mercado, e não uma repartição do governo, que determina o
funcionamento dessas empresas públicas.

Nada que seja de alguma forma, relacionado com o funcionamento


do mercado pode, no sentido praxeológico1 ou econômico do
termo, ser chamado de socialismo. A noção de socialismo, tal como
é concebida e definida por todos os socialistas, implica na ausência
de um mercado para os fatores de produção e na ausência de
preços para esses fatores. A “socialização” de instalações
industriais, comerciais e agrícolas – isto é, a transferência de sua
propriedade de privada para pública – é um método de conduzir
pouco a pouco ao socialismo.

É um passo na direção do socialismo, mas não é em si mesmo o


socialismo. (Marx e os marxistas ortodoxos negaram claramente a
possibilidade dessa aproximação gradual para o socialismo.
Segundo suas doutrinas, a evolução do capitalismo atingirá
inevitavelmente um estágio no qual, de um só golpe, ele se
transformaria em socialismo).

As empresas públicas operadas pelo governo e a economia da


Rússia Soviética, pelo simples fato de comprarem e venderem em
mercados, estão conectadas ao sistema capitalista. Dão
testemunho dessa conexão ao utilizarem a moeda em seus
cálculos. Assim, fazem uso dos métodos intelectuais do sistema
capitalista que fanaticamente condenam.
Isto porque o cálculo econômico é a base intelectual da economia
de mercado. Os objetivos perseguidos pela ação em qualquer
sistema baseado na divisão do trabalho não podem ser alcançados
sem o cálculo econômico. A economia de mercado calcula em
termos de preços em moeda. Ser capaz de efetuar tal cálculo foi
determinante na sua evolução e condiciona seu funcionamento nos
dias de hoje. A economia de mercado é uma realidade porque é
capaz de calcular.
Questões:
1. Descreva o significado de
a. Divisão do trabalho.
b. Meios de produção.
2. Segundo Mises, qual a função do estado diante dos
mercados?
3. Comete a frase: “o mercado comanda tudo”.
4. Como os preços organizam os mercados.
5. “A economia de mercado é uma realidade porque é capaz de
calcular”. Comete essa afirmação.

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