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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
FITOTERAPIA NOS SISTEMAS
NERVOSO, CARDIOVASCULAR E
GENITURINÁRIO

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

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CURSO DE
FITOTERAPIA NOS SISTEMAS
NERVOSO, CARDIOVASCULAR E
GENITURINÁRIO

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mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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SUMÁRIO

1 PLANTAS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL


2 PLANTAS COM AÇÃO ADAPTÓGENA
3 PLANTAS ESTIMULANTES IMUNOLÓGICOS
4 PLANTAS QUE ATUAM NO SISTEMA CARDIOVASCULAR
5 PLANTAS QUE ATUAM NO TRATO URINÁRIO
6 PLANTAS COM INDICAÇÕES GINECOLÓGICAS
6.1 FITOESTRÓGENOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1 PLANTAS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

FIGURA 01 - Piper methysticum G. Forst. (kava-kava; kava; kawa-kawa)

FONTE: Disponível em: < http://www.entheology.org/>. Acesso em: 31mar. 2011.

A kava pertence à família botânica Piperaceae, e foi descoberta no século


XVIII pelos europeus que aprenderam a utilizar a bebida kava por nativos da
Polinésia, que colhiam os rizomas e mastilavam ou misturavam com água e leite de
coco para o preparo de uma bebida que provocava efeito calmante e relaxante sem
alterar a consciência. Os extratos de kava são indicados para os estados de
ansiedade nervosa, tensão e agitação.
A droga vegetal consiste do rizoma seco de sabor levemente amargo e odor
fracamente aromático; o mastigar destes rizomas promove dormência prolongada na
língua e estímulo da salivação. Dos rizomas da kava foram isoladas as cavapironas
(cavalactonas). Extratos medicinais de kava são elaborados a partir da extração do
rizoma em uma mistura de etanol-água ou em uma mistura de acetona-água, onde
se extrai aproximadamente 30% e 70% de cavapironas, respectivamente. Os
compostos cavalactonas são pouco solúveis em água, precisam ser finamente
divididos para se tornarem biodisponíveis. O primeiro produto de kava a aparecer no
mercado de drogas vegetais continha cavaína sintética. Entretanto, somente os

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produtos a base de extratos do rizoma de kava são considerados fitoterápicos
verdadeiros.
Dentre os constituintes do rizoma de kava encontram-se: cavaína (1-2%
droga bruta), di-hidrocavaína (0,6-1%), metisticina (1,2-2%) e di-hidrometisticina
(0,5-0,8%). A planta seca deve apresentar no mínimo 3,5% de cavapironas,
calculadas por cavaína. A cavaína e di-hidrocavaína são rapidamente absorvidas
pelo trato gastrintestinal.
Estudos farmacológicos indicaram que os compostos cavaína e metisticina
agem basicamente como relaxantes musculares e anticonvulsivantes; exercem forte
efeito protetor contra envenenamento por estricnina. Esses compostos ativos
reduzem a excitabilidade do sistema límbico, exercendo efeito semelhante aos
fármacos benzodiazepínicos.
As preparações de kava são uma alternativa vegetal a agentes ansiolíticos e
tranquilizantes sintéticos, particularmente os benzodiazepínicos que estão
associados ao risco de tolerância e dependência. Em relação à eficácia das
preparações de kava, são equiparáveis aos benzodiazepínicos. As doses
recomendadas de kava estão na faixa de 60-120 mg de kavapironas diariamente. A
duração do tratamento não deve exceder três meses. Nos estudos clínicos com
preparações de kava foram observados efeitos colaterais leves e reversíveis. A
maioria consistiu em problemas gastrintestinais, dor de cabeça, tontura,
descoloração amarelada transitória da pele e anexos, reações cutâneas alérgicas
(rara), acomodação visual prejudicada, dilatação da pupila e distúrbios do equilíbrio
oculomotor.

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FIGURA 02 - Valeriana officinalis L. (valeriana)

A Valeriana medicinal é uma planta intensamente utilizada para distúrbios do


sono e agitação nervosa na Alemanha. Existem 250 espécies de Valeriana
distribuídas no mundo inteiro, além das espécies medicinais oficiais, como Valeriana
edulis, V. japonica, V. indica. A parte da droga utilizada são as raízes da Valeriana
europeia (V. officinalis), usada como uma droga oficial. A droga apresenta um odor
desagradável (ácido isovalérico) e cânfora que aparece após o corte e secagem da
raiz. A planta seca é usada para o preparo de chás. Os produtos farmacêuticos são
produzidos principalmente de extratos aquosos ou hidroalcoólicos (etanol 70%,
proporção planta: extrato de 4-7:1).
A raiz seca de Valeriana possui em média 0,5 a 2% de óleo volátil, contendo
principalmente dois sesquiterpenos (0,3-0,8%), o ácido valerênico e o ácido
acetoxivalerênico, além de 1% de valepotriatos, que são ésteres de ácidos graxos
inferiores, de ácido acético, ácido isovalérico e ácido beta-acetoxiisovalérico. Os
compostos valepotriatos são instáveis em ambiente ácido ou alcalino e em altas
temperaturas, sendo administrados somente na forma de sólidos, preferencialmente
comprimidos com revestimento entérico, e não na forma de tinturas.
O efeito calmante das preparações de valeriana se justifica pela capacidade
dos compostos presentes aumentarem a secreção de GABA, neurotransmissor
importante no estresse e na ansiedade, nas regiões de sinaptossomos; efeitos sobre
os receptores de GABAA; além da interação com elementos pré-sinápticos de
neurônios GABAérgicos. Para tratamento da insônia e para estados de nervosismo a
dosagem recomendada de planta seca é de 2-3g uma ou mais vezes ao dia; o
extrato etanólico de valeriana deve ser utilizado numa dose de aproximadamente

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600 mg duas horas antes de dormir. As preparações de valeriana são
contraindicadas na gestação, lactação ou em crianças menores de três anos de
idade. Poucas reações adversas são relatadas, sendo descritas, dor de cabeça e
sonolência matinal. Os produtos de valeriana quando em conformidade com as
especificações farmacêuticas são uma alternativa de baixo risco para o tratamento
da insônia e de nervosismo, já que não há evidências de dependência. Os estudos
clínicos indicam que a raiz de valeriana atua gradualmente, não sendo eficaz para
tratamento agudo de insônia. O efeito da valeriana ajuda a promover e restaurar o
sono natural após pelo menos 2-4 semanas de uso.

FIGURA 03 - Passiflora incarnata L. (maracujá)

O maracujá é uma videira trepadeira constituída de partes aéreas foliformes


secas, flores e frutos jovens, nativa da região da América do Norte. As folhas de
maracujá são empregadas como sedativo, embora os responsáveis por essa
atividade não sejam conhecidos com clareza. Diversas espécies são conhecidas em
todo o Brasil, sendo Passiflora edulis S. e Passiflora alata C. as mais cultivadas. Nas
farmacopeias da Europa encontra-se descrita a Passiflora incarnata L. Os
constituintes principais da passiflora são flavonoides (até 2,5%) sendo o majoritário
di-C-hetersídeos de flavonas, cumarina, ácidos fenólicos, fitosteróis, heterosídeos
cianogênicos (0,05% de maltol) e umbeliferona, além de 0,03% alcaloides indólicos,
harmana, harmol, harmina e derivados di-hidrogenados.
Estudos em animais mostraram que os extratos de maracujá reduzem a
atividade espontânea de locomoção em camundongos e prolongam seu sono

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quando administrados por via oral e intraperitonial. Um extrato aquoso de Passiflora
edulis produziu efeito sedativo hipnótico em indivíduos humanos, e também
hepatotoxicidade e pancreatotoxicidade. Além da tradicional utilização do maracujá
pela sua ação sedativa e ansiolítica, também possui atividade antiespasmódica.

FIGURA 04 - Humulus lupulus L. (lúpulo)

O lúpulo é tradicionalmente utilizado na medicina tradicional por sua ação


diurética, tônica e aromática, atualmente destaca-se sua utilização como calmante.
O efeito fadigante e indutor do sono do lúpulo foram observados em colhedores da
planta que se cansava com facilidade, após contato com a resina de lúpulo por
inalação do óleo volátil da planta ou do contato oral com a resina quando levada as
mãos à boca.
A parte da droga são os estróbios de lúpulo que são as flores femininas da
planta cultivada, esses apresentam sabor amargo, pela presença de humulona e
lupulona. Esses constituintes formam a resina de lúpulus e ocorrem em 15-30% nos
estróbilos, além desses há 1% de óleo volátil e até 4% de taninos. Somente na erva
fresca são encontradas essas substâncias na concentração integral, já que durante
o armazenamento os constituintes sofrem decomposição sendo instáveis por seis
meses.
Os estróbilos de lúpulos são indicados para o desconforto devido à agitação
ou distúrbios de ansiedade e distúrbios do sono. A dose recomendada de 0,5 g da
droga seca ou seu equivalente em produtos a base do extrato, administrados uma a
várias vezes ao dia.

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FIGURA 05 - Melissa officinalis L. (melissa, erva-cidreira, salva-do-brasil)

As folhas secas da planta de melissa são cultivadas comercialmente,


coletadas no início ou durante o período da floração. Apresentam odor agradável e
contêm 4% de ácido rosemarínico e 0,05% de óleo volátil. Seus principais
constituintes são citronelal, geranial e neral, que juntos constituem 50-70% do óleo.
O óleo de melissa é obtido a partir de destilação por arraste a vapor das folhas
frescas ou secas. As preparações de melissa são indicadas para insônia nervosa e
problemas gastrintestinais funcionais em uma dose única de 1,5-4,5 g da droga
seca.

FIGURA 06 - Lavanda angustifolia L. (alfazema, lavanda)

A lavanda é nativa da região mediterrânea. A droga vegetal consiste de


flores secas de lavanda colhidas pouco antes de se abrirem. As flores contêm
menos 1,5% de óleo volátil, com acetato de linalina, cânfora, beta-cimeno e cineol

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(eucalipto) e 12% de taninos. O óleo volátil é obtido por destilação por arraste a
vapor.
Os estudos farmacológicos do óleo de lavanda mostraram efeito sedativo e
relaxante, aumento do tempo de sono e com menos agitação durante o sono;
aumento do tempo de tomada de decisão e pouco ou nenhum efeito sobre a função
motora. A alta lipossolubilidade dos constituintes do óleo de lavanda sugere que a
lavanda possa atuar diretamente no sistema nervoso central após a administração
sistêmica.
O óleo de lavanda é recomendado 1-2 colheres de chá de droga seca por
xícara de chá para uso interno, ou 100 g de flores secas em dois litros de água para
uso externo utilizado na forma de banhos. Em altas doses provoca excitação. Deve
ser evitado em gestantes por ser um estimulante uterino.

FIGURA 07 - Hypericum perforatum L. (erva-de-São-João, hipérico, St. John’s


wort)

O hipérico é uma planta herbácea e pertence ao gênero Hypericum que


ocorre em todo o mundo e inclui 378 espécies. O crescimento se dá de forma
selvagem, sendo predominante na Europa, Ásia, América do Norte e América do
Sul, mostrando preferência em locais ensolarados e secos.
Atualmente, o hipérico utilizado como planta medicinal é cultivado de forma
controlada no período em que as flores começam a se abrir. O material coletado
deve ser seco rapidamente devendo a temperatura não exceder de 30-40 ºC. Os
produtos farmacêuticos à base de hipérico são extratos alcoólicos com proporção de

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droga na faixa de 4:1 a 7:1. A extração dos ativos deve ser realizada no escuro e,
principalmente em metanol aquoso 20-40%. Os constituintes específicos da espécie
associados à atividade antidepressiva são hipericina, pseudo-hipericina, proto-
hipericina, protopseudo-hipericina e ciclopseudo-hipericina, pertencentes ao grupo
das naftodiantronas, presentes em 0,1% na droga seca e 0,2-0,3% no extrato. As
partes reprodutivas (sementes imaturas e flores) do hipérico possuem um conteúdo
de 1 a 4% de hiperforina e adiperforina. O derivado floroglucinol de hipericina são
mais importantes para ação antidepressiva que as hipericinas. Os extratos em etanol
ou metanol comercializados apresentam aproximadamente 2 a 6% de hipericina. A
hipericina é instável e susceptível a oxidação, na planta viva esse processo é
evitado pela presença de antioxidantes, como os flavonoides presentes no hipérico
(rutina e hiperosídeo) e em formulações a fim de melhorar a estabilidade adicionam-
se antioxidantes, como o ácido acórbico. Além dos constituintes já citados, o hipérico
possui derivados de xantona, biflavonas (amentoflavona), procianidinas e óleo
volátil.
O óleo volátil do hipérico (1%) é obtido da maceração das flores frescas por
destilação por arraste a vapor; é considerado um medicamento fitoterápico
tradicional utilizado em queimaduras e feridas.
Os estudos farmacológicos indicam que o extrato de hipérico é capaz de
exercer efeito inibitório relativamente forte sobre a recaptação de
neurotransmissores como a noradrenalina, serotonina e dopamina, proporcionando
um efeito antidepressivo. Dessa forma, o extrato de hipérico é indicado na faixa de
500-900 mg/dia para o tratamento de depressão transitória, de leve a
moderadamente grave, perturbações psicossomáticas, ansiedade e/ou agitação
nervosa. Observa-se clinicamente uma melhora do paciente deprimido após várias
semanas da administração do hipérico.
O tratamento com o extrato de hipérico provoca fotossensibilização devido à
presença de hipericinas, essa reação é incomum nas doses terapêuticas
recomendadas. Tal efeito é pronunciado quando o hipérico é associado com outro
fármaco causador de fotossensibilidade. Outros efeitos raros são distúrbios
gastrintestinais, reações cutâneas alérgicas, fadiga e agitação. A falta de
experimentos em mulheres grávidas e amamentando, contraindica o uso de hipérico
na gestação e lactação.

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Algumas interações medicamentosas têm sido relatadas com o hipérico
administrado simultaneamente com fármacos anticoagulantes, como cumarinas; o
fármaco ciclosporina e o antirretroviral indinavir por sua capacidade de diminuir a
atividade de tais fármacos.
O produto fitoterápico comercializado na forma de extrato de hipérico em
comprimidos revestidos contendo 300 mg de extrato bruto padronizado para um total
de 90 mg de hipericina como princípio ativo.

2 PLANTAS COM AÇÃO ADAPTOGÊNICA

As espécies vegetais conhecidas como adaptógenos são caracterizadas por


aumentar a resistência do organismo a pressões físicas, químicas e biológicas, são
utilizadas na medicina holística. Durante a vida todo ser humano enfrenta períodos
de aumento de demanda física e psicológica. Dentro dos limites aceitáveis, esse
estresse não é prejudicial à saúde. O grau de tolerância a esses estresses varia de
indivíduo para indivíduo, assim como a faixa etária. Indivíduos com idade acima dos
30 anos têm menor tolerância ao estresse, e podem apresentar distúrbios
secundários prejudiciais à sua saúde que podem surgir como resultado desse
estresse crítico, como estômago irritável, úlcera gástrica, cólon irritável e hipertensão
arterial. Estudos revelaram a influência de hormônios no controle da adaptação a
doenças. Experimentos apontaram que o aumento da secreção do hormônio
cortisona está relacionado com o aumento de estímulos estressantes.

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FIGURA 08 - Ginkgo biloba L. (ginkgo, ginco)

O ginkgo é uma planta decídua, com flores masculinas e femininas que


ocorrem em árvores diferentes e não florescem antes dos 20-30 anos de idade.
Pertence à família Ginkgoaceae, sendo o ginkgo a única espécie desta família.
As sementes de ginkgo são tradicionalmente descritas na China e em outras
partes da Ásia oriental há 2000 anos. Extratos de folhas de ginkgo têm sido
utilizados na medicina chinesa em curativos de feridas e na asma brônquica.
O extrato de ginkgo é produzido a partir de folhas verdes secas da árvore
cultivada na China, Japão, Coreia do Norte, Coreia do Sul e de plantações na
Europa coletadas no início do mês de maio, logo após o aparecimento de uma nova
folhagem. Depois do processo de secagem, são compactadas em grandes fardos,
que ajudam a mantê-las secas e evitam a fermentação devido à umidade.
A produção de extrato de ginkgo é realizada de modo padrão usando-se
solventes polares para obtê-los a partir de folhas moídas. Determina-se que o
extrato tenha uma proporção de erva/extrato na faixa de 50:1 em média, obtidos de
uma mistura de água e acetona, depois purificadas sem adição de constituintes
concentrados ou isolados.
Os principais constituintes químicos encontrados nas folhas de ginkgo são
22-27% de glicosídeos flavonoides (quercetina, canferol, isoramnetina), 5-7% de
lactonas de terpeno (2,8-3,4% de ginkgolídios A, B e C e 2,6-3,2% de bilobalídio).
Além desses, outros constituintes estão presentes nos extratos incluindo ácido

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hidroxicinurênico, ácido chiquímico, ácido protocatechuíco, ácido vanílico e ácido p-
hidroxibenzoico.
Após a administração oral da solução ou comprimido do extrato padronizado
de gingko Eb761 as lactonas terpênicas ginkgolídeo A, ginkgolídeo B e bilobalídeo
apresentaram, em humanos, uma biodisponibilidade absoluta de 98-100%, 93% e
72%, respectivamente. Acredita-se que todos os componentes do extrato contribuam
para o efeito terapêutico de alguma forma.
As ações farmacológicas do extrato de ginkgo estudadas são:
 Aumento da tolerância à hipoxia, principalmente no tecido cerebral;
 Inibição do edema cerebral pós-traumático ou induzido por toxina;
 Redução do edema e lesões da retina;
 Melhora a memória e a capacidade de aprendizado;
 Auxilia na compensação de distúrbios de equilíbrio, atuando na
microcirculação;
 Melhora as propriedades reológicas do sangue;
 Remoção de radicais livres tóxicos derivados do oxigênio;
 Inibição do fator de ativação plaquetária (PAF) exercendo efeito
neuroprotetor.
A dose diária do extrato de ginkgo é de 120-240 mg de extrato seco,
administrado em 2 ou 3 doses separadas, é indicado para o tratamento sintomático
de deficit decorrentes de doenças cerebrais orgânicas (falha de memória,
dificuldades de concentração, depressão, vertigem, zumbido e dor de cabeça),
síndromes de demência, doença arterial oclusiva e na vertigem ou zumbido de
origem vascular ou complexa. O extrato de ginkgo não se mostra tóxico nas doses
terapêuticas. Os efeitos colaterais são bastante raros e consiste de desarranjo
gástrico leve, dor de cabeça ou reações alérgicas cutâneas. Não há relatos de
interações medicamentosas.
A terapêutica com o ginkgo é uma alternativa para o tratamento da demência
que se faz atualmente com fármacos sintéticos com inúmeros efeitos indesejáveis,
como a tacrina, piracetam e mesilatos ergoloides, fato que não ocorre com o extrato
de ginkgo, de baixa incidência de efeitos colaterais.

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FIGURA 09 - Panax ginseng C.A. Mey (ginseng)

A espécie Panax ginseng é a fonte da raiz da ginseng asiática, nativa da


Coreia e da China, pertence à família botânica Araliaceae e cresce em regiões de
altitudes de aproximadamente 1000 metros. Atualmente, a planta é cultivada na
Coreia, China e Sibéria oriental, levando seis anos para se desenvolver. Caracteriza-
se pela raiz carnosa amarela clara geralmente ramificada, de odor aromático e sabor
amargo-doce. Os pós e extratos de ginseng são elaborados a partir das raízes secas
que apresentam 2-3% de saponinas glicosídicas. Além de 30 ginsenosídios
quimicamente conhecidos foram encontrados 0,05% de óleo volátil (sesquiterpenos).
Estudos farmacológicos em animais com os extratos de ginseng e os
ginsenosídios demonstraram:
 Efeito estimulante do sistema nervoso central;
 Efeito protetor contra vários perigos (ex. radiação ionizante, infecções e
toxinas);
 Proteção contra estresses físicos e psicológicos exaustivos;
 Efeitos no metabolismo de lipídios e carboidratos, na síntese de RNA e
proteínas;
 Efeito estimulante do sistema imunológico.

Em estudos clínicos em humanos, indicaram o que o tratamento com extrato


de ginseng em doses de 200-600 mg/dia durante 60-120 dias proporcionaram aos
indivíduos melhora da performance intelectual, física, melhora do humor, melhora de
parâmetros metabólicos; e que durante o tratamento os indivíduos não
apresentaram quaisquer efeitos colaterais. Apesar dos efeitos observados, o estudo

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do uso de extrato de ginseng não foi considerado por não apresentar as
conformidades dos padrões científicos atuais. Entretanto, as preparações a base de
ginseng são utilizadas na medicina como tônico contra fadiga e fraqueza, na
dificuldade de concentração e como apoio na convalescência. A dose diária
recomendada é de 1-2 g da droga vegetal ou 200-600 mg/dia do extrato. É limitada a
duração da terapia até três meses, devido à possibilidade do aparecimento de
efeitos semelhantes aos dos hormônios, como mastalgia, hemorragia vaginal e ação
estrogênica. Dentre os efeitos adversos incluem efeitos no sistema cardiovascular,
como edema e hipertensão; no sistema nervoso central, como insônia, agitação,
nervosismo e redução da concentração; diarreia matinal e erupção cutânea.

FIGURA 10 - Centella asiatica L. (centela, kotu cola)

A centela da família botânica Apiaceae consiste nas folhas de uma planta


delgada e rasteira que cresce nas áreas tropicais pantanosas, como Índia e Sri
Lanka. A composição das folhas de centela inclui compostos como ácidos
triterpênicos pentacíclicos, como o asiático e o madecássio e seus glicosídios
asiatícosideos e madecassosídeo. A planta tem uma famosa reputação como agente
promotor de longevidade e como fortalecedor e revitalizante (adaptógeno) do
organismo, tais efeitos cientificamente ainda não foram comprovados.
Alguns estudos farmacológicos e clínicos mostraram que preparações de
centela realmente exercem um efeito benéfico no tropismo dos tecidos conectivos e

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favorece a cicatrização de feridas. Tais estudos não justificaram o efeito adaptógeno
dessa planta. As preparações estão disponíveis em comprimidos e cápsulas para
uso interno e cremes e pomadas para aplicação tópica. A dose habitual de centela é
de 600 mg três vezes ao dia.

FIGURA 11 - Uncaria tomentosa e U. guianensis D.C. (unha de gato)

A unha de gato consiste de duas espécies o gênero Uncaria da família


Rubiaceae, a Uncaria tomentosa e a Uncaria guianensis, nativas da América do Sul
tropical. Tais espécies são amplamente recolhidas na Amazônia para o mercado
europeu e americano. São bastante utilizadas como remédios populares para uma
variedade de condições por nativos dessas regiões, sendo considerada uma planta
adaptógena por evidências que apontam efeito imunomodulador, anti-inflamatório,
antimutagênico e antitumoral. Entretanto, tais atividades não foram provadas
cientificamente.
As propriedades relatadas pelas espécies de Uncaria estão relacionadas à
presença de alcaloides, como os alcaloides pentacíclicos de oxindole pteropodina,
isopteropodina e isomitrafilina – responsáveis pela atividade imunoestimulante. Os
alcaloides do tipo tetracíclicos de oxindole, como rincofilina e isorincofilina também
estão presentes e antagonizam os efeitos dos alcaloides pentacíclicos. Produtos
eficazes a base de unha de gato não devem conter mais de 0,02% de alcaloides
tetracíclicos de oxindole a fim de não comprometer a atividade.

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Antioxidantes Vegetais – Semente de Uva, Chá-verde e Casca de Pinheiro

Os produtos vegetais com antioxidantes auxiliam na resistência do


organismo a várias patologias, principalmente as relacionadas ao envelhecimento,
sendo consideradas agentes adaptógenos. As principais fontes de agentes
antioxidantes são: extrato de semente de uva (Vitis vinifera L.) padronizado para
conter 8-85% de procianidinas; folhas de chá-verde (Camellia sinensis L.) que
contêm até 30% de procianidinas quando não processadas, geralmente são
concentradas e descafeinadas para produzir um extrato com 60-97% de
procianidinas; extrato da casca do pinho marítimo (Pinus pinaster Mill.) concentrado
com aproximadamente 85% de protocianidinas.
Os compostos protocianidinas apresentam extrema potência antioxidante,
removendo radicais livres e inibindo a peroxidação lipídica. Além de se mostrarem
capazes de inibir a colagenase, elastase, hialuronidase e beta-glucuronidase,
enzimas envolvidas na degradação dos principais elementos da matriz
extravascular. Dessa forma, as protocianidinas auxiliam na manutenção da
permeabilidade capilar normal. A associação entre protocianidinas e ácido ascórbico
exerce efeito sinérgico, sendo eficazes na cicatrização de feridas e na eliminação de
colesterol. Estudos revelaram que os polifenóis encontrados nas folhas de chá
verde, como o galato de (-)-epigalocatequina possuem atividade antitumoral. As
atividades desses compostos contribuem para a proteção contra neoplasias e
aterosclerose, normalmente relacionadas ao processo de envelhecimento.
As protocianidinas estão disponíveis na forma de cápsulas ou comprimidos,
contendo os extratos em 80-97% de polifenóis. Recomenda-se uma dose de 100-
500 mg/dia no início do tratamento e uma dose de manutenção de 50-100 mg/dia.
Uma xícara de chá-verde possui entre 300-400 mg de polifenóis.

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3 PLANTAS ESTIMULANTES IMUNOLÓGICOS

Os estimulantes imunológicos são espécies de plantas que atuam ativando


os mecanismos não específicos de defesa do organismo contra os patógenos virais,
fúngicos e bacterianos.

FIGURA 12 - Echinaceae spp. (equinácea)

A equinácea engloba nove espécies em diversas variedades. São nativas do


leste da América do Norte, sendo usadas pelos habitantes como cicatrizante de
feridas e remédios para os mais variados males. As espécies utilizadas em
preparações como imunoestimulantes são a equinácea branca (Echinaceae pallida
L.), sendo as raízes preparadas em extratos alcoólicos e a equinácea púrpura
(Echinaceae purpurea L.) usada na forma de sucos das partes aéreas, e cultivada
para fins medicinais.
As raízes de equinácea branca apresentam equinolona, equinaceína e
equinacosídeo, além de polissacarídeos solúveis em água como principais
constituintes, os quais exercem a atividade imunoestimulante. A composição do
suco de equinácea purpúrea ainda não está totalmente definida, mas são
encontrados polissacarídeos solúveis em água e alcamidas. Tais preparações
estimulam a função fagocitária, e os polissacarídeos de equinácea estimulam a
liberação de interleucina-1, fator de necrose tumoral e interferon. Resultados de

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estudos clínicos apontaram que as preparações de equinácea encurtaram a duração
de resfriado comum de dez dias para sete.
Os extratos alcoólicos da raiz de equinácea branca e o suco extraído das
partes aéreas de equinácea púrpura são indicados para o tratamento de suporte de
infecções recorrentes do trato respiratório superior e trato urinário inferior.
Recomenda-se que sua utilização não ultrapasse de mais de oito semanas. A dose
recomendada de extrato de raiz (1:5 de tintura com 50% de etanol) é de 900 mg de
dose vegetal diariamente; e para o suco a dose recomendada é de 6-9 mg/dia. A
equinácea é contraindicada em indivíduos com doenças sistêmicas, como
tuberculose, leucose, esclerose múltipla, distúrbios do colágeno e outras doenças
autoimunes, por apresentar um potencial de estímulo de processos autoimunes.

FIGURA 13 - Viscum album L. (visco europeu)

O visco europeu é um arbusto que apresenta em sua composição lectinas,


capazes de estimular os linfócitos T e induzir a atividade citotóxica de macrófagos.
Além de estudos indicarem eficácia do visco em pacientes com tumor.
O extrato de visco preparado a partir das folhas, galhos e frutos frescos são
indicados na terapia de doenças inflamatórias degenerativas das articulações, sendo
recomendada a utilização de injeções cutâneas ou intra-articulares nas doses de 2,5
g/kg de peso corporal. Os efeitos adversos incluem calafrios, febre alta, dor de
cabeça, dor no peito, hipotensão ortostática e reações alérgicas. É contraindicada
em indivíduos hipersensíveis a proteínas e na tuberculose.

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4 PLANTAS QUE ATUAM NO SISTEMA CARDIOVASCULAR

Os fitoterápicos têm um papel significativo no tratamento de formas leves de


falência cardíaca e insuficiência coronária, na prevenção e tratamento da
aterosclerose e de suas consequências e no tratamento sintomático de insuficiência
venosa crônica. Entretanto, poucas espécies vegetais têm comprovação científica da
sua eficácia e segurança para a utilização clínica dessas patologias.

FIGURA 14 - Crataegus (cratego)

As espécies de cratego têm eficácia reconhecida nas doenças cardíacas e


nos distúrbios circulatórios. As plantas medicinais utilizadas na produção de
medicamentos são as espécies Crataegus monogyna e Crataegus oxyacantha,
sendo utilizadas suas folhas e flores de aroma desagradável. As partes da droga são
utilizadas na forma de extratos hidroalcoólicos em uma proporção de planta/extrato
5-7:1. Os constituintes químicos presentes nas folhas e flores de cratego são
principalmente flavonoides, protocianidinas, catequinas, triterpenoides, ácidos
carboxílicos aromáticos, derivados nitrogenados e purinos. Para verificação da

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qualidade dos extratos os princípios ativos são calculados a partir do flavonoide
hiperosídio (1% na droga vegetal) e da protocianidina epicatequina (1-3%).
O extrato de cratego estabiliza o ritmo cardíaco sendo indicado para o
desempenho cardíaco decaído com insuficiência cardíaca. A dose diária
recomendada é de 160-900 mg do extrato bruto de cratego com 4-20 mg de
flavonoides e 30-160 mg de protocianidinas. As preparações de cratego são
administradas oralmente e sua utilização por mais de seis semanas. Ainda não são
conhecidas as contraindicações, riscos ou interações medicamentosas. Os efeitos
adversos do tratamento com o extrato de cratego incluem problemas gastrintestinais,
palpitações, vertigem, dor de cabeça e rubor.
O tratamento com o extrato cratego quando comparado com a digoxina, um
glicosídio cardioativo utilizado na insuficiência cardíaca, mostra uma segurança
maior por apresentar menor risco em caso de erro de dosagem; possui uma faixa
terapêutica grande; não apresenta perigo quanto à função renal como observado
com a gigoxina; e a sua utilização com diuréticos ou laxantes há uma tolerância
maior do que com a associação com a digoxina.

4.1 PLANTAS COM DIGITALOIDES

Os digitaloides são glicosídios cardiotônicos que exercem ação semelhante


à digoxina e que não são isolados nas espécies de Digitalis. Esses compostos
incluem a convalotoxina, cimarina, oleandrina, G- e K-estrefantina e proscilaridina.
As espécies com digitaloides podem conter mais de um glicosídio cardioativo. Todos
esses compostos são positivamente inotrópicos, negativamente cronotrópicos e
dromotrópicos. Diferem dos digitálicos quanto à farmacocinética, a sua taxa de
absorção é menor e do maior risco de intoxicação com os digitaloides.
A cimarina é isolada das partes aéreas secas da planta olhos-de-diabo
(Adonis vernalis L.) colhido no período de floração. A droga vegetal em pó possui
0,25% de uma complexa mistura de vinte glicosídios cardioativos, sendo
semelhantes à estrofantina-K.

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Na convalária ou lírio-do-vale (Convallaria majalis) no período da floração é
possível isolar na droga vegetal 0,2-0,3% de glicosídeos cardioativos, sendo os
principais a convalotoxina e convalotoxol. Essa droga vegetal é indicada para
insuficiência cardíaca leve e problemas cardíacos relacionados à idade.
A espécie vegetal conhecida como cebola marítima ou pó de cila (Urginea
maritima) possui 0,15-2% de glicosídeos cardioativos quando coletados após
período da floração. O cilareno A e a proscilaridina são os principais glicosídeos
sendo indicados para a insuficiência cardíaca leve.

FIGURA 15 - Allium sativum L. (alho)

O alho é uma planta tradicional na medicina popular e na culinária. Um valor


especial tem sido dado ao alho na prevenção da aterosclerose, por suas ações
vasodilatadoras, reológicas e redutoras de lipídios, por meio da inibição da síntese
de colesterol. Os constituintes presentes no alho são agrupados em compostos que
contêm enxofre e compostos que não o contêm. Os efeitos medicinais refletem a
presença de compostos de enxofre (0,35% de enxofre total), como os derivados dos
sulfóxidos de S-cisteína e -glutamil-S-alilcisteínas e a enzima aliinase, que degrada
a aliina. Os compostos que não contêm enxofre, compreendem a aliinase e outras
enzimas.
As preparações de pó do bulbo do alho são indicadas como adjunto a
medias alimentares em pacientes com perfil lipídico elevado e na prevenção de
alterações vasculares relacionadas à idade. A dose recomendada é de 600-900
mg/dia que equivale a 4 gramas de dente de alho fresco. Os efeitos colaterais das
preparações de alho são desconforto gastrintestinal, náusea, reações alérgicas
cutâneas, dermatite de contato, episódios esporádicos de conjuntivite alérgica, rinite

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ou broncoespasmos e reações hipotensivas. O cheiro de alho no hálito e na pele é
pouco tolerado pelos indivíduos que utilizam a preparação do alho.

FIGURA 16 - Aesculus hippocastanum L. (castanha-da-índia)

A castanha-da-índia introduzida na Europa no século XVI foi utilizada na


medicina popular na França, desde 1800. A utilização desta espécie para fins
medicinais se dá pela pré-secagem das sementes totalmente maduras,
posteriormente são misturadas em água e álcool para preparação dos extratos
secos, onde é possível encontrar um conteúdo de 16-20% de glicosídeos
triterpênicos, calculados em escina.
A escina é o principal constituinte ativo presente nas sementes da castanha-
da-índia, trata-se de uma saponina triterpênica. Estudos farmacológicos com
extratos da castanha-da-índia e escina apontaram sua eficácia na redução de
edemas nas pernas e na melhora de problemas tipicamente associados com
insuficiência venosa crônica e espasmos musculares. O extrato de castanha-da-
índia padronizado é recomendado na dose de 250-300 mg duas vezes ao dia;
devido a presença de saponinas triterpênicas, o extrato pode causar desconforto
estomacal e dessaranjo, sendo a utilização de formulações de liberação prolongada
uma alternativa. Apesar de bem tolerado, o extrato de castanha-da-índia pode
ocasionar coceira, náusea e desconforto estomacal.

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5 PLANTAS QUE ATUAM NO TRATO URINÁRIO

As drogas vegetais indicadas na urologia têm por objetivo tratar as doenças


inflamatórias do trato urinário e a hiperplasia prostática benigna. Uma das indicações
são pedra nos rins e outras litíases. A maioria das doenças inflamatórias do trato
urinário é principalmente tratada com chás para os rins e para a bexiga e, muitas
vezes, são misturas de várias plantas medicinais. Acredita-se que a maior parte dos
efeitos dos chás seja derivada da ingestão de líquidos, apesar dos constituintes
terem ação diurética. O aumento da saída de líquidos favorece a remoção de
bactérias ascendentes, cristais e outros agentes inflamatórios do trato urinário,
protegendo assim o epitélio lesado.

FIGURA 17 - Arctostaphylos uva-ursi L. (uva ursi)

A uva ursi é uma planta rastejante das zonas florestais frias e temperadas do
hemisfério norte. A parte da planta utilizada como droga vegetal são as folhas secas
que apresentam sabor amargo adstringente e são inodoras.
Os constituintes principais encontrados nas folhas são os heterosídeos
fenólicos, como a arbutina (5-12%), agliconas livre de hidroquinona (0,2-0,5%),

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taninos (10-20%) e flavonoides. O alto teor de taninos nas folhas de uva ursi faz com
que a sua utilização não ultrapasse de 2-3 semanas. A arbutina exibe atividade
antimicrobiana, assim como seu produto de hidrólise, a hidroquinona. Tal espécie é
indicada nas doenças inflamatórias do trato urinário na dose de 3 g de planta seca
ou 400-800 mg de derivados hidroquinona, administrados até quatro vezes ao dia.
Recomenda-se que a uva ursi não seja utilizada por gestantes, durante a lactação e
em crianças menores de 12 anos e que sua administração não ultrapasse mais de
cinco vezes ao ano devido a falta de estudos clínicos.

FIGURA 18 - Phyllanthus niruri L. (quebra-pedra)

A quebra-pedra é uma planta herbácea pequena de folhas miúdas e ovais


de simples cultivo, seu crescimento é favorecido em solos argilosos e arenosos. As
folhas de quebra-pedra são utilizadas na forma de chá para tratamento de cálculos
renais.
Diversos estudos tentam explicar a ação da quebra-pedra, sabe-se que a
espécie facilita na expulsão dos cristais de oxalato de cálcio por meio do
relaxamento do trato urinário, e diferente do nome popular não funciona quebrando
os cristais. Dentre os constituintes químicos encontrados na droga vegetal incluem
flavonoides (quercetina, rutina), cinaol, linalol, ligninas e mucilagem. As preparações
de quebra-pedra são contraindicadas em crianças, gestantes e lactantes. Não se
recomenda seu uso prolongado e em altas doses por provocar desmineralização do
organismo.

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FIGURA 19 - Serenoa repens S. (saw palmetto, sabal)

Os frutos maduros de sabal, uma pequena palmeira, são indicados para


hiperplasia prostática benigna e dificuldades de micção. As preparações comerciais
contêm apenas extratos lipofílicos, obtidos da planta em pó por extração com
hexano. Os principais constituintes do extrato de sabal são ácidos graxos saturados
e insaturados na forma livre e esteroides vegetais livres ou conjugados.
Estudos apontam que o extrato de sabal exibe uma atividade inibitória da
enzima 5--redutase decorrente da presença de ácidos graxos livres, como o ácido
linoleico. Outras atividades, como ação anti-inflamatória e antioxidante são
observadas. Preparações de extrato de sabal são recomendadas na dose diária de
1-2 g da droga bruta ou 320 mg de um extrato feito com solventes lipofílicos. Os
efeitos colaterais são raros, entretanto, há relatos de distúrbios gastrintestinais. As
contraindicações do extrato de sabal ainda não são conhecidas.

6 PLANTAS COM INDICAÇÕES GINECOLÓGICAS

Os fitoterápicos têm sido indicados para o tratamento de irregularidades


menstruais, tensão pré-menstrual (TPM), dismenorreia e problemas da menopausa.
Na tensão pré-menstrual, as mulheres apresentam inúmeros sintomas antes do
início do sangramento menstrual, como inchaço congestivo, tensão e dor nas

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mamas, desconforto abdominal, inchaço e constipação, edema nos tornozelos, nas
regiões dos olhos e nas mãos, além de sintomas comportamentais, como alteração
de humor e sensação de inquietude. Na menopausa que acontecem por volta dos 50
anos e período em que ocorre redução da função ovariana, os principais sintomas
são fogachos (“ondas de calor”), nervosismo, irritabilidade, insônia e depressão. O
tratamento se faz primariamente por reposição hormonal, o que traz inúmeros
efeitos indesejáveis sendo necessárias terapias alternativas, como a utilização de
fitoterápicos.

FIGURA 20 - Vitex agnus-castus L. (vitex, pimenta dos monges, árvore da


castidade)

A vitex é uma planta nativa da região do mediterrâneo e seus frutos maduros


e secos são utilizados como droga vegetal. Esses frutos apresentam odor aromático
e sabor levemente ácido e picante, lembrando pimenta. O nome popular pimenta
dos monges deriva da sua utilização da bebida das sementes pelos monges que
apresentavam redução do desejo sexual e assim se mantinham castos. A espécie
apresenta 0,5% de óleo volátil e glicosídios iridoides agnosídio e aucubina. Os
diterpenos bicíclicos foram identificados e associados à atividade biológica dessa
espécie.

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Estudos farmacológicos apontaram que mulheres utilizando o extrato de
vitex a 4 mg/dia apresentaram redução do nível de prolactina, associada com o
sintoma de mastalgia durante a TPM e outros desconfortos. Nenhum estudo foi
realizado em relação à segurança e toxicologia desse extrato. Não foram relatados
efeitos colaterais a utilização do extrato de vitex e ocorrência de tolerância.

FIGURA 21 - Cimicifuga racemosa L. (erva-de-são-cristovão, cimicífuga,


culebra negra)

A cimicífuga é uma planta herbácea nativa da América do Norte. A parte da


planta utilizada são os rizomas e raízes secas que são inodoras e de sabor ácido e
amargo. Os glicosídios triterpênicos, como acteína e cimifugosídio são os principais
constituintes e responsáveis pela atividade biológica. Além desses, foi isolado um
isoflavonoide formononetina – atividade hormonal.
A investigação dos efeitos endócrinos do extrato de cimicífuga a 40 mg/dia
revelou que sua ação se dá na pituritária, reduzindo o nível de hormônio luteinizante
e regulando a função hormonal. A fração lipofílica do extrato onde se concentra o
princípio ativo hormonal foi capaz de agir, modulando seletivamente os receptores
de estrógeno no sistema nervoso central e no tecido ósseo. Esse fato justifica a
indicação do extrato de cimicífuga na prevenção e tratamento de osteoporose pós-
menopausa. Os efeitos colaterais são leves e incluem problemas gastrintestinais,

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dor de cabeça, tontura e ganho de peso. Não são indicados durante a gestação e na
lactação. A duração do tratamento não deve ultrapassar três meses.

6.1 FITOESTRÓGENOS

Os fitoestrógenos têm assumido um papel importante na terapia da


deficiência hormonal, principalmente na menopausa, moderando os sintomas desse
quadro e se mostrando mais bem toleráveis do que o tratamento com reposição
hormonal. Inúmeras plantas produzem isoflavonas com propriedades semelhantes
ao estrógeno, como a soja (Glycine max L.) e o trevo vermelho (Trifolium pratense
L.) que possuem isoflavonas em quantidades apreciáveis. Essas isoflavonas
(daidzeína, genisteína e gliciteína) possuem baixa afinidade pelos receptores de
estrógeno, exercendo pouco ou nenhum efeito hormonal, tendo em vista que os
hormônios estrógeno e progestinas endógenos são predominantes.
Estudos com mulheres no período da menopausa utilizando extrato de soja
mostraram que a frequência de fogachos foi significativamente reduzida. Naquelas
mulheres hipercolesterolêmicas as isoflavonas da soja foram capazes de reduzir os
níveis de colesterol total (8%) e LDL (10%).
Outras pesquisas indicam que a utilização de fitoestrógenos é um benefício
na prevenção do câncer de próstata, já que indivíduos que apresentam alta
concentração de isoflavonas e lignanas no plasma e no fluido prostático têm menor
incidência a esse tipo de câncer.
O extrato de trevo-vermelho está disponível na forma de comprimidos na
dose de 500 mg com um conteúdo de 40 mg de isoflavona. Essas preparações de
extrato de soja são vendidas como suplemento alimentar em que alguns
fornecedores disponibilizam na forma de comprimidos e de cápsulas, contendo 40%
de isoflavonas. Ainda não há estudos de segurança e toxicidade desses extratos.

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Outras espécies com indicações ginecológicas

Espécie Indicação Dose Recomendações


Infusão e tinturas das
Evitar uso prolongado
Lycopus spp. partes aéreas da planta
(aumento da tireoide) e a
(lycopus) são utilizadas em 0,2 a 2 g/dia
retirada abrupta
sangramentos
Potentilla anserina Problemas Irritação estomacal como
4-6 g/dia
(potentila) dismenorreicos leves efeito adverso
Capsella bursa- Cautela uso prolongado
Sangramento
pastoris 10-15 g/dia devido desconhecimento
ginecológico leve
(bolsa-de-pastor) do ativo hemostático

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução


RDC nº. 210, de 04 de agosto de 2003. Determina a todos os estabelecimentos
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______. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 48


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______. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 48


de 16 de março de 2004. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. D.
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16 de março de 2004. Dispõe sobre a Lista de referências bibliográficas para
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16 de março de 2004. Dispõe sobre a Lista de registro simplificado de fitoterápicos.
D. O. U. Brasília, 18 mar. 2004.

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16 de março de 2004. Dispõe sobre o Guia para os estudos de toxicidade de
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______. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RE nº 91 de
16 de março de 2004. Dispõe sobre o Guia para realização de alterações,
inclusões, notificações e cancelamento pós-registro de fitoterápicos. D. O. U.
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Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PN- PIC) no Sistema
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