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TEXTOS PARA LEITURA COMPLEMENTAR

TEXTO Nº 10 SOBRE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS


TEMA: INTELIGÊNCIA ( EMOCIONAL E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS)

O conceito de inteligência e sua importância para a psiquiatria

Guilherme Rubino de Az evedo Focchi *


Cláudia Inês Scheuer **
Nota: Este trabalho foi reproduzido na íntegra o qual foi publicado pela Revista de
Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência.

A inteligência, por certo, é função ps íquica complexa; talvez por isso parece não have r
conceito de inteligência universalmente aceito ( Toledo, 1995 ). Liungmann ( 1972 ) observa
que o conceito de inteligência é manipulado conforme a conveniência; Mackintosh ( 1987 ) e
Howe ( 1988 ) põem em dúvida o valor científico de um conceito abrangen te de inteligência no
estudo das habilidades mentais. Para Eysenck ( 1988 ), a inteligência é como " gravidade " ou
" inércia ", variando com o tempo e com a cultura. Howard ( 1993 ) considera -a como um ou
vários conceitos imbricados, traz endo informação e sob um rótulo - " inteligência " -,
importando apenas se o conceito é útil ou não.
Aqui, far-se-á uma brev e revisão e discussão sobre alguns conceitos de inteligência e sua
importância para a psiquiatria.
Stern ( 1914 ) conceitua a inteligência como a c apacidade do indivíduo para adaptar -se
convenientemente a si tuações novas; Binet e Simon ( 1916 ) conceituam a inteligência como
um conjunto de process os de pensamento que constituem a adaptação mental; para Wells (
1917 ), a inteligência é a capacidade de combinar normas de conduta para poder atuar mel hor
em situações novas; para Thorndike ( 1921 ), a inteligência é a faculdade de produzir reações
satisfatórias do ponto de vista de verdade e realidade.
Em comum, esses autores vêem a inteligência como a ca pacidade de agir e adaptar -se diante
de situações novas ( As sumpção, 1994 ). Entretanto, talvez não seja necessário que o
indivíduo inteligente produza reações satisfatórias em termos de verdade e realidade, pois, se
assim fosse, pacientes psicóticos, que vivem uma realidade própria e nem sempre reagem "
satisfatoriamente ", teri am a inteligência comprometida, o que em geral não ocorre ( Alonso -
Fernandez, 1978 ).
Stoddard ( 1943 ) concei tua a inteligência como a capacidade de realizar atividades
caracterizadas como di fíceis, complexas e abstratas, econômicas e adaptáveis a um objetivo,
de valor social e carentes de modelos, mantendo -se em circunstâncias que requerem
concentração de energias e resistênci a diante das forças afetivas.
A realização de atividad es concretas , simples e fáceis também provavelmente forneceria
dados a respeito da inteligência, na medida em que o indivíduo mais inteligente por certo
realizaria com maior des treza e rapidez essas atividades.
Para Goddard ( 1945 ), a inteligênci a é o gr au de eficácia que a experiência tem para
solucionar problemas presentes e prevenir os futuros.
Porém, é provável que a experiência não seja o único elemento para a solução de problemas .
Por exemplo, a capacidade que o indivíduo tem para " improvisar ", i ndependentemente da
experiência adquiri da, s eria outro elemento importante para a solução de questões com que o
indivíduo se defronta.
Segundo Wechsler ( 1958 ), a inteligência é a capacidade agregada ou global para agir
intencionalmente, pensar racionalm ente e lidar de modo eficaz com o meio ambiente. Por sua
vez, Hayes ( 1962, in Bailey, 1976 ) avalia a inteligência como formulação de fatores e
habilidades aprendi das.
É provável que a inteli gência não dependa exclusivamente do aprendizado; talvez ocorra o
inverso - o indivíduo inteligente aprenderia mais, e mais rápido.
Para Jaspers ( 1979 ), a inteligência é o conjunto de todas as capacidades e instrumentos
que, em quaisquer realiz ações, são utilizáveis para uma adaptação às tarefas vitais, podendo
aplicar-se para determi nado fim. Outros autores conceituam a inteligência como um sistema
de relações cognitivas c om múltiplos níveis de significado, vinculado a fatores sociais,
culturais e biológicos ( Piaget, 1983; Vigotsky, 1991; La Taille e cols., 1992; Toledo, 1995). A
inteligência pode também ser vista como manifestação intencional, representada tanto pela
linguagem como pelos atos, ressal tada em situações -problema da vida do sujeito e
influenciada por outras funções psíquicas, como a afetividade ( Assu mpção & Sprovieri, 1991).
Seria uma função integrativa ( Schanck & Jona, 1993; Wadsworth, 1993; Toledo, 1995 ).
Talvez chamar a inteligência de função integrativa deva -se, antes de mais nada, à dificuldade
de conceituá -la , classifi cando -a, c onseqüentemen te, como rendimento psíquico.
Logo, se função adaptativa, integrativa, essencialmente prática, determinada
multifatorialmente, intencional ou relacionada ao restante do psiquismo, possivelmente o
conceito de inteligência ainda será alvo de muitas discussõ es.
A partir do que foi expos to, a importância do conceito de inteligência para a psiquiatria pode
ser abordada de diferentes formas.
Em primeiro lugar, há transtornos psiquiátricos em que a inteligência é primariamente
comprometida - as defici ências men tais e as demências ( Alonso - Fernandez, 1978 ). Nas
deficiências mentais, há déficit de inteligência adquirido precocemente, ao passo que nas
demências há comprometimento da inteligência em indivíduos que tinham, previamente, essa
função normal ( Alonso - Fernandez, 1978 ). A inteligência pode estar secundariamente
comprometida em outros transtornos de personalidade, transtornos do humor e epilepsias
(Alonso - Fernandez, 1978 ). Nesses casos, outras funções psíquicas seriam primariamente
atingidas ( Alons o - Fernandez, 1978 ).
O desenvolvimento do c onceito de inteligência talvez pudesse levar ao fomento de métodos
diagnósticos e estratégi as terapêuticas em psiquiatria, incluindo as farmacoterapias, já
tentadas em grande número e sem sucesso real ( Assumpç ão, 1994 ).
Em segundo lugar, a partir do conceito de inteligência como função integrativa e determinada
multifatorialmente, é possível imaginar, talvez em futuro próximo, a partir do que se sabe da
inteligência do indivíduo, prever seu desenvolvimento e até mesmo sua vulnerabilidade para a
doença mental.
Por fim, se a inteligênci a for considerada como função adaptativa, é possível imaginá -la como
valioso instrumento que o paciente psiquiátrico poderia usar a seu favor, no sentido de ter
maior consciência de sua morbidade, adaptar -se melhor à doença e ao meio em que vive e
reagir melhor a estressores externos. Dessa forma, um paciente deprimido conseguiria, por
menor que fosse sua dis posição para o trabalho, encontrar novos meios de manter seu
rendimento. Um paciente esquizofrênico " resistiria " melhor a suas alucinações imperativas,
um ansioso, a suas obsessões, e assim por diante.
Essas são possivelmente apenas al gumas aplicações do conceito de inteligência à psiquiatri a,
dentre muitas outras que porven tura surjam paralelamente à discussão do que é inteligência.
* Psiquiatra pela FMUSP. Médico Colaborador do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de
Medicina da Universi dade de São Paulo.
** Fonoaudióloga. Doutora em lingüística. Orientadora do Programa de Pós-Graduação em
Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Orientadora da
Disciplina de Fisiopatologia Experimental da FMUSP. Docente da Disciplina de Fonoaudiologia
da FMUSP.
FONTE: http://www.psiquiatriageral.com.br/normal/inteligencia.htm
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Entrevista com Daniel Goleman


(CEDIDO PELA EDITORA OBJETIVA)
Daniel Goleman, Ph.D., é o presidente do Emotional Intelligence Services (empresa de consultoria), em Sudbury,
Massachusetts. Ao longo de 12 anos, escreveu sobre psicologia e ciências do cérebro para The New York Times. Editor
da revista Psychology Today por nove anos, lecionou em Harvard (onde recebeu seu doutorado). Além de Inteligência
Emocional, publicado pelo Brasil pela Editora Objetiva, entre seus livros anteriores estão Vital Lies, Simple Truths
(Mentiras Vitais, Verdades Simples), The Meditative Mind (A Mente Meditativa) e, como co-autor, The Creative Spirit (O
Espírito Criativo).
O conceito está transformando a área de consultoria comportamental no meio empresarial, mas as opiniões divergem.
Alguns afirmam que a tese sobre a Inteligência Emocional revoluciona o comportamento pessoal, social e profissional.
Outros acreditam que não passa de mais um modismo, assim como foi a Reengenharia. Há, ainda, aqueles que
garantem que o psicólogo, PhD pela Universidade de Harvard, Daniel Goleman não publicou nenhuma novidade e
simplesmente resumiu nas 375 páginas de seu best-seller experiências aplicadas há algumas décadas.
O fato é que o livro "Inteligência Emocional", lançado no Brasil pela Editora Objetiva, provocou amplas discussões e
está reunindo muitos discípulos. O conceito de que QI não garante sucesso, não é hereditário e que o autocontrole
sobre as emoções faz a diferença entre crescer ou estagnar na vida vem de encontro às incertezas pelas quais passa o
profissional deste fim de milênio. A velocidade das transformações está provocando uma verdadeira convulsão de
dúvidas e atitudes nem sempre bem sucedidas. Nesta entrevista, Goleman explica o que, afinal, é inteligência
emocional, sua importância na vida das pessoas e das empresas e como desenvolvê-la de forma a maximizar todo o
potencial latente ao ser humano.
SER HUMANO - O lançamento do livro "Inteligência Emocional" provoca polêmica e grandes discussões em todo o
mundo. No caso específico de Recursos Humanos, a sua tese tem inspirado a tantos consultores a elaborar programas
de qualidade emocional dentro das empresas. Como o senhor vê esse tipo de abordagem e que benefícios ela pode
trazer ao ambiente de trabalho?
DANIEL GOLEMAN - Fiquei orgulhoso em ver a repercussão do meu livro no Brasil no qual procurei enfocar a
comunidade por meio dos níveis de inteligência emocional em uma empresa. Há meios para se desenvolver o QE dos
funcionários: fotos e publicações motivam a performance gradativa nos termos de promover qualificações, treinar
pessoal, improvisar nas áreas em que atuam e possam fortalecer suas atitudes. Talvez o mais importante seja
direcionar tais ações para os altos líderes das empresas desenvolverem seu QE. Dessa forma, as pessoas notarão que
essas qualidades são valiosas para a cultura das organizações. Promover altos níveis de qualidade por meio da
inteligência emocional é mais do que necessário em dias de instabilidade e para formação de hierarquias horizontais e
equipes de trabalho.
SER HUMANO – Existe uma maneira de explicar, em poucas linhas, o que é inteligência emocional e qual a sua
diferença com a inteligência dita racional?
GOLEMAN – A inteligência emocional caracteriza a maneira como as pessoas lidam com suas emoções e com as das
pessoas ao seu redor. Isto implica autoconsciência, motivação, persistência, empatia e entendimento e características
sociais como persuasão, cooperação, negociações e liderança. Esta é uma maneira alternativa de ser esperto, não em
termos de QI, mas em termos de qualidades humanas do coração.
SER HUMANO – Os altos investimentos dirigidos às pesquisas genéticas para a formação de um super-homem,
baseada nos melhores genes paternos, estão sendo desperdiçados, já que o senhor afirma que a inteligência não é
hereditária?
GOLEMAN – Inteligência emocional não é genética: estas habilidades são aprendidas mais do que inseridas. De certa
forma, podemos dizer que possuímos duas mentes, consequentemente, dois tipos diferentes de inteligência: racional e
emocional. Nossa performance na vida é determinada não apenas pelo QI, mas principalmente pela inteligência
emocional. Na verdade, o intelecto não pode dar o melhor de si sem a inteligência emocional – ambos são parceiros
integrais na vida mental. Quando esses parceiros interagem bem, a inteligência emocional aumenta – e também a
capacidade intelectual. Isso derruba o mito de que devemos sobrepor a razão à emoção, mas ao contrário, devemos
buscar um equilíbrio entre ambas.
SER HUMANO – Que aspectos envolvem a busca desse equilíbrio?
GOLEMAN – Conseguir esse objetivo implica, primeiro, entender com exatidão o que significa usar inteligentemente a
emoção. A formação acadêmica não oferece praticamente nenhum preparo para as tempestades ou oportunidades que
a vida impõe. Apesar de um alto QI não ser garantia de prosperidade, prestígio ou felicidade, nossas escolas e cultura
concentram-se na capacidade acadêmica, ignorando o desenvolvimento da inteligência emocional. As emoções são um
campo com o qual podemos lidar, da mesma forma como matemática ou física, com maior ou menor talento, e exige
seu conjunto exclusivo de aptidões. Essas aptidões são decisivas para a compreensão do porquê um indivíduo
prospera na vida, enquanto outro, de igual capacidade intelectual, não passa da estaca zero.
SER HUMANO – De que maneira uma pessoa pode desenvolver a sua inteligência emocional para melhorar o seu
desempenho em todas as áreas de sua vida?
GOLEMAN – A inteligência emocional pode ser alcançada por meio de treino e esforço, mas isso requer persistência.
As pessoas têm de identificar exatamente o que querem alcançar – sendo um melhor ouvinte ou controlando seu
temperamento nervoso. Então deve se tornar diligente a ponto de identificar mais situações nas quais costuma cair em
velhos hábitos e associá-las a uma reação produtiva. Ao realizar esse tipo de exercício analítico firmamente por
algumas semanas ou meses, a pessoa poderá substituir os hábitos que deseja eliminar por outros que acabam se
tornando automáticos.
SER HUMANO – E, especificamente, de que forma a inteligência emocional atua no desempenho profissional?
GOLEMAN – Para performances profissionais, a competência da inteligência emocional deve ser utilizada desde o
início da carreira. Muitos indícios atestam que as pessoas emocionalmente competentes – que conhecem e lidam bem
com os próprios sentimentos e com o de outras pessoas – levam vantagem em qualquer campo da vida, assimilando as
regras tácitas que governam o sucesso na política organizacional. As pessoas com prática emocional bem desenvolvida
têm mais probabilidade de sentirem-se satisfeitas e serem eficientes, dominando os hábitos mentais que formentam sua
produtividade. As que não conseguem exercer controle sobre a vida emocional travam batalhas internas que sabotam
sua capacidade de se concentrar no trabalho e pensar com clareza.
SER HUMANO – Um gestor de Recursos Humanos, que lida diretamente com pessoas, pode utilizar-se da sua própria
inteligência emocional para desenvolver outros indivíduos?
GOLEMAN – Ao contrário dos testes conhecidos de QI, não há ainda nenhum questionário eficiente que produza uma
contagem de inteligência emocional e talvez jamais venha a haver. Por isso, os profissionais de Recursos Humanos
devem usar sua própria inteligência emocional para realizar bem seus trabalhos.
SER HUMANO – A valorização da inteligência emocional, enquanto diferencial competitivo, pode ser um contraponto à
febre da Reengenharia que assolou a maioria das empresas no mundo?
GOLEMAN – Em termos de Reengenharia, que devastou moralmente algumas empresas como a AT&T americana,
desenvolver a inteligência emocional a partir dos destroços é mais importante do que reconstruir a confiança, lealdade e
harmonia dentro do ambiente de trabalho.
SER HUMANO – De que maneira a inteligência emocional pode auxiliar na formação de equipes sinérgicas?
GOLEMAN – O que faz uma equipe ser sincronizada é a harmonia entre os próprios membros. Tarefas como escutar,
cooperar, negociar e trabalhar positivamente são cruciais para alcançar sinergia. A inteligência emocional enfatiza a
contribuição dos melhores talentos de cada membro da equipe para alcançar os resultados esperados.
SER HUMANO – Quais as diferenças comportamentais básicas entre um indivíduo que tem alto QI e outro de elevado
QE?
GOLEMAN – Pessoas com QI alto, mas modesto ou baixo QE, tendem a ser altamente efetivas em domínios racionais,
mas em suas próprias vidas e na vida social são insensíveis, arrogantes e inaptos em seus relacionamentos. Pessoas
com alto QE, mas QI regular, tendem a ser leais e confiáveis, com integridade e empatia, persistentes, conscientes e
queridas pelas pessoas. O melhor seria ter QE e QI altos. Jack Block, psicólogo na Universidade da Califórnia, fez uma
comparação de dois tipos teóricos puros: pessoas de alto QI e pessoas de altas aptidões emocionais. As diferenças são
bastante reveladoras e os perfis diferem ligeiramente para homens e mulheres.
SER HUMANO – Qual o perfil de um homem com alto QI e um com alto QE?
GOLEMAN – O homem de alto QI é ambicioso e produtivo, previsível, inibido e pouco à vontade com a sua
sexualidade, ou seja, emocionalmente frio. Em contraste, os homens de alta inteligência emocional são socialmente
equilibrados, comunicativos e animados, não alimentam receios ou preocupações. Têm uma notável capacidade de
assumir responsabilidades e ter uma visão ética; são solidários e atenciosos em seus relacionamentos.
SER HUMANO – Quais as características de mulheres com QI elevado e inteligência emocional altamente
desenvolvida?
GOLEMAN – As mulheres de alto QI são fluentes na expressão de suas idéias, valorizam o intelecto e o senso estético,
mas tendem a ser introspectivas, inclinadas à ansiedade e à culpa, e raramente têm explosões de raiva. São
comedidas nesse aspecto. As mulheres emocionalmente inteligentes, ao contrário, sentem-se positivas em relação a si
mesmas. Como os homens, são comunicativas e gregárias; adaptam-se bem à tensão. Sentem-se suficientemente à
vontade consigo mesmas para serem espontâneas e raramente sentem ansiedade ou culpa. É óbvio que esses perfis
são extremos, pois todos os indivíduos possuem QI e inteligência emocional em graus variados.
SER HUMANO – Como essas diferenças influem nas ações de um líder, por exemplo?
GOLEMAN – A chave para a liderança está nos domínios da QE, não do QI. Liderança requer habilidades para
persuadir e inspirar, enfatizar e articular sentimentos.
SER HUMANO – Sem querer buscar fórmulas prontas, uma empresa que procura um profissional com perfil competitivo
e voltado para o sucesso, como exige o mercado atual, deve observar quais características ao fazer a seleção?
GOLEMAN – Em seleções de profissionais que serão altamente exigidos em seus cargos e funções, as pessoas
responsáveis devem, antes de tudo, ter a certeza de que os selecionadores possuem esperado nível de QE para lidar
com a complexidade da função. A partir daí, é possível reconhecer aspectos bem desenvolvidos da inteligência
emocional.
SER HUMANO – Quais são esses aspectos?
GOLEMAN – Esses aspectos integram a definição básica de inteligência emocional, expandindo aptidões em cinco
domínios principais. O primeiro é conhecer as próprias aptidões, isto é, ter autoconsciência para reconhecer um
sentimento quando ele ocorre. A capacidade de controlar os sentimentos a cada momento é crucial para o
discernimento emocional e a autocompreensão. Consequentemente, o segundo aspecto é saber lidar com esses
sentimentos e desenvolver a capacidade de confortar-se, livrar-se da ansiedade, da tristeza ou da irritabilidade. A partir
de então, é necessário saber motivar-se, colocar as emoções a serviço de uma meta. Outro ponto imprescindível é
reconhecer as emoções dos outros. As pessoas empáticas estão mais sintonizadas com os sutís sinais sociais, com os
indicativos de que os outros precisam ou o que querem. A arte de relacionar-se passa, em grande parte, pela aptidão
em lidar com as emoções dos outros. É essa aptidão que reforça a popularidade, a liderança e a eficiência interpessoal.
SER HUMANO – Inteligência emocional e intelectual podem ser desenvolvidas simultaneamente?
GOLEMAN – O QI e a inteligência emocional não são capacidades opostas, mas distintas. Todos os seres humanos
compatibilizam perspicácia intelectual e emocional. Pessoas de alto QI e baixa inteligência emocional, e vice-versa, são
relativamente raras. Na verdade, há uma ligeira correlação entre intelecto e aspectos da inteligência emocional. Embora
essa correlação seja bastante pequena para deixar claro que se tratam de duas capacidades bastante independentes.
SER HUMANO – Os próximos dez anos parecem reservar transformações mais velozes e profundas do que as
ocorridas nos últimos trinta anos, tanto nas áreas sociais, econômicas e administrativas, quanto nas culturais,
comportamentais e científicas. O senhor acredita que o reconhecimento da inteligência emocional faz parte dessas
revoluções ou ele será responsável por tais mudanças?
GOLEMAN – O conceito de inteligência emocional descreve as competências das pessoas que precisam lidar e se
adaptar às extraordinárias mudanças que ocorrerão nas próximas décadas.
Componentes básicos, segundo Daniel Goleman e baseados em estudos de especialistas norte-americanos:
 Autoconsciência : observar-se e reconhecer os próprios sentimentos; formar um vocabulário para os sentimentos;
saber a relação entre pensamentos, sentimentos e reações.
 Tomada de decisão pessoal : examinar suas ações e conhecer as consequências delas; saber se uma decisão está
sendo governada por pensamento ou sentimento.
 Lidar com sentimentos : monitorar a "conversa consigo mesmo" para surpreender mensagens negativas como
repreensões internas; compreender o que está por trás de um sentimento; encontrar meios de lidar com medos e
ansiedades, ira e tristeza.
 Lidar com tensão : aprender o valor de exercícios e métodos de relaxamento.
 Empatia : compreender os sentimentos e preocupações dos outros e adotar a perspectiva deles; reconhecer as
diferenças no modo como as pessoas se sentem em relação a fatos e comportamentos.
 Comunicações : falar efetivamente de sentimentos; tornar-se um bom ouvinte e perguntador; distinguir entre o que
alguém faz ou diz e suas próprias reações ou julgamento a respeito; enviar mensagens do "Eu" em vez de culpar.
 Auto-revelação : valorizar a franqueza e construir confiança num relacionamento; saber quando é seguro arriscar-se
a falar de seus sentimentos.
 Intuição : identificar padrões em sua vida e reações emocionais; reconhecer padrões semelhantes nos outros.
 Auto-aceitação : sentir orgulho e ver-se numa luz positiva; reconhecer suas forças e fraquezas; ser capaz de rir de si
mesmo.
 Responsabilidade pessoal : assumir responsabilidade; reconhecer as consequências de suas decisões e ações;
aceitar seus sentimentos e estados de espírito; ir até o fim nos compromissos.
 Assertividade : declarar suas preocupações e sentimentos sem ira nem passividade.
 Dinâmica de grupo : cooperação; saber quando e como conduzir e ser conduzido.
 Solução de conflitos : saber lutar limpo com outras pessoas; adotar o modelo vencer/vencer para negociar acordos.

FONTE: http://www.abrae.com.br/entrevistas/entr_gol.htm (ACESSADO EM 21/08/2006)


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A Teoria das Inteligências Múltiplas e suas implicações para Educação
Autora: Maria Clara S. Salgado Gama ©
Doutora em Educação Especial pela Universidade de Colúmbia, Nova Iorque
No início do século XX, as autoridades francesas solicitaram a Alfredo Binet que criasse um instrumento pelo qual se
pudesse prever quais as crianças que teriam sucesso nos liceus parisenses. O instrumento criado por Binet testava a
habilidade das crianças nas áreas verbal e lógica, já que os currículos acadêmicos dos liceus enfatizavam, sobretudo o
desenvolvimento da linguagem e da matemática. Este instrumento deu origem ao primeiro teste de inteligência,
desenvolvido por Terman, na Universidade de Standford, na Califórnia: o Standford-Binet Intelligence Scale.
Subseqüentes testes de inteligência e a comunidade de psicometria tiveram enorme influência, durante este século,
sobre a idéia que se tem de inteligência, embora o próprio Binet (Binet & Simon, 1905 Apud Kornhaber & Gardner,
1989) tenha declarado que um único número, derivado da performance de uma criança em um teste, não poderia
retratar uma questão tão complexa quanto a inteligência humana. Neste artigo, pretendo apresentar uma visão de
inteligência que aprecia os processos mentais e o potencial humano a partir do desempenho das pessoas em diferentes
campos do saber.
As pesquisas mais recentes em desenvolvimento cognitivo e neuropsicologia sugerem que as habilidades cognitivas
são bem mais diferenciadas e mais espcíficas do que se acreditava (Gardner, I985). Neurologistas têm documentado
que o sistema nervoso humano não é um órgão com propósito único nem tão pouco é infinitamente plástico. Acredita-
se, hoje, que o sistema nervoso seja altamente diferenciado e que diferentes centros neurais processem diferentes
tipos de informação ( Gardner, 1987).
Howard Gardner, psicólogo da Universidade de Hervard, baseou-se nestas pesquisas para questionar a tradicional
visão da inteligência, uma visão que enfatiza as habilidades lingüística e lógico-matemética. Segundo Gardner, todos os
indivíduos normais são capazes de uma atuação em pelo menos sete diferentes e, até certo ponto, independentes
áreas intelectuais. Ele sugere que não existem habilidades gerais, duvida da possibilidade de se medir a inteligência
através de testes de papel e lápis e dá grande importância a diferentes atuações valorizadas em culturas diversas.
Finalmente, ele define inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos
em um ou mais ambientes culturais.
A teoria
A Teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner (1985) é uma alternativa para o conceito de inteligência como
uma capacidade inata, geral e única, que permite aos indivíduos uma performance, maior ou menor, em qualquer área
de atuação. Sua insatisfação com a idéia de QI e com visões unitárias de inteligência, que focalizam sobretudo as
habilidades importantes para o sucesso escolar, levou Gardner a redefinir inteligência à luz das origens biológicas da
habilidade para resolver problemas. Através da avaliação das atuações de diferentes profissionais em diversas culturas,
e do repertório de habilidades dos seres humanos na busca de soluções, culturalmente apropriadas, para os seus
problemas, Gardner trabalhou no sentido inverso ao desenvolvimento, retroagindo para eventualmente chegar às
inteligências que deram origem a tais realizações. Na sua pesquisa, Gardner estudou também:
( a) o desenvolvimento de diferentes habilidades em crianças normais e crianças superdotadas; (b) adultos com lesões
cerebrais e como estes não perdem a intensidade de sua produção intelectual, mas sim uma ou algumas habilidades,
sem que outras habilidades sejam sequer atingidas; (c ) populações ditas excepcionais, tais como idiot-savants e
autistas, e como os primeiros podem dispor de apenas uma competência, sendo bastante incapazes nas demais
funções cerebrais, enquanto as crianças autistas apresentam ausências nas suas habilidades intelectuais; (d) como se
deu o desenvolvimento cognitivo através dos milênios.
Psicólogo construtivista muito influenciado por Piaget, Gardner distingue-se de seu colega de Genebra na medida em
que Piaget acreditava que todos os aspectos da simbolização partem de uma mesma função semiótica, enquanto que
ele acredita que processos psicológicos independentes são empregados quando o indivíduo lida com símbolos
lingüisticos, numéricos gestuais ou outros. Segundo Gardner uma criança pode ter um desempenho precoce em uma
área (o que Piaget chamaria de pensamento formal) e estar na média ou mesmo abaixo da média em outra (o
equivalente, por exemplo, ao estágio sensório-motor). Gardner descreve o desenvolvimento cognitivo como uma
capacidade cada vez maior de entender e expressar significado em vários sistemas simbólicos utilizados num contexto
cultural, e sugere que não há uma ligação necessária entre a capacidade ou estágio de desenvolvimento em uma área
de desempenho e capacidades ou estágios em outras áreas ou domínios (Malkus e col., 1988). Num plano de análise
psicológico, afirma Gardner (1982), cada área ou domínio tem seu sistema simbólico próprio; num plano sociológico de
estudo, cada domínio se caracteriza pelo desenvolvimento de competências valorizadas em culturas específicas.
Gardner sugere, ainda, que as habilidades humanas não são organizadas de forma horizontal; ele propõe que se pense
nessas habilidades como organizadas verticalmente, e que, ao invés de haver uma faculdade mental geral, como a
memória, talvez existam formas independentes de percepção, memória e aprendizado, em cada área ou domínio, com
possíveis semelhanças entre as áreas, mas não necessariamente uma relação direta.
As inteligências múltiplas
Gardner identificou as inteligências lingúística, lógico-matemática, espacial, musical, cinestésica, interpessoal e
intrapessoal. Postula que essas competências intelectuais são relativamente independentes, têm sua origem e limites
genéticos próprios e substratos neuroanatômicos específicos e dispõem de processos cognitivos próprios. Segundo ele,
os seres humanos dispõem de graus variados de cada uma das inteligências e maneiras diferentes com que elas se
combinam e organizam e se utilizam dessas capacidades intelectuais para resolver problemas e criar produtos. Gardner
ressalta que, embora estas inteligências sejam, até certo ponto, independentes uma das outras, elas raramente
funcionam isoladamente. Embora algumas ocupações exemplifiquem uma inteligência, na maioria dos casos as
ocupações ilustram bem a necessidade de uma combinação de inteligências. Por exemplo, um cirurgião necessita da
acuidade da inteligência espacial combinada com a destreza da cinestésica.
Inteligência lingüística - Os componentes centrais da inteligência lingüistica são uma sensibilidade para os sons, ritmos
e significados das palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções da linguagem. É a habilidade para
usar a linguagem para convencer, agradar, estimular ou transmitir idéias. Gardner indica que é a habilidade exibida na
sua maior intensidade pelos poetas. Em crianças, esta habilidade se manifesta através da capacidade para contar
histórias originais ou para relatar, com precisão, experiências vividas.
Inteligência musical - Esta inteligência se manifesta através de uma habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma
peça musical. Inclui discriminação de sons, habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas
e timbre, e habilidade para produzir e/ou reproduzir música. A criança pequena com habilidade musical especial
percebe desde cedo diferentes sons no seu ambiente e, freqüentemente, canta para si mesma.
Inteligência lógico-matemática - Os componentes centrais desta inteligência são descritos por Gardner como uma
sensibilidade para padrões, ordem e sistematização. É a habilidade para explorar relações, categorias e padrões,
através da manipulação de objetos ou símbolos, e para experimentar de forma controlada; é a habilidade para lidar com
séries de raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê-los. É a inteligência característica de matemáticos e
cientistas Gardner, porém, explica que, embora o talento cientifico e o talento matemático possam estar presentes num
mesmo indivíduo, os motivos que movem as ações dos cientistas e dos matemáticos não são os mesmos. Enquanto os
matemáticos desejam criar um mundo abstrato consistente, os cientistas pretendem explicar a natureza. A criança com
especial aptidão nesta inteligência demonstra facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e para criar notações
práticas de seu raciocínio.
Inteligência espacial - Gardner descreve a inteligência espacial como a capacidade para perceber o mundo visual e
espacial de forma precisa. É a habilidade para manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções
iniciais, criar tensão, equilíbrio e composição, numa representação visual ou espacial. É a inteligência dos artistas
plásticos, dos engenheiros e dos arquitetos. Em crianças pequenas, o potencial especial nessa inteligência é percebido
através da habilidade para quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes visuais.
Inteligência cinestésica - Esta inteligência se refere à habilidade para resolver problemas ou criar produtos através do
uso de parte ou de todo o corpo. É a habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou
plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com destreza. A criança especialmente
dotada na inteligência cinestésica se move com graça e expressão a partir de estímulos musicais ou verbais demonstra
uma grande habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada.
Inteligência interpessoal - Esta inteligência pode ser descrita como uma habilidade pare entender e responder
adequadamente a humores, temperamentos motivações e desejos de outras pessoas. Ela é melhor apreciada na
observação de psicoterapeutas, professores, políticos e vendedores bem sucedidos. Na sua forma mais primitiva, a
inteligência interpessoal se manifesta em crianças pequenas como a habilidade para distinguir pessoas, e na sua forma
mais avançada, como a habilidade para perceber intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente
a partir dessa percepção. Crianças especialmente dotadas demonstram muito cedo uma habilidade para liderar outras
crianças, uma vez que são extremamente sensíveis às necessidades e sentimentos de outros.
Inteligência intrapessoal - Esta inteligência é o correlativo interno da inteligência interpessoal, isto é, a habilidade para
ter acesso aos próprios sentimentos, sonhos e idéias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de problemas
pessoais. É o reconhecimento de habilidades, necessidades, desejos e inteligências próprios, a capacidade para
formular uma imagem precisa de si próprio e a habilidade para usar essa imagem para funcionar de forma efetiva.
Como esta inteligência é a mais pessoal de todas, ela só é observável através dos sistemas simbólicos das outras
inteligências, ou seja, através de manifestações lingüisticas, musicais ou cinestésicas.
O desenvolvimento das inteligências
Na sua teoria, Gardner propõe que todos os indivíduos, em princípio, têm a habilidade de questionar e procurar
respostas usando todas as inteligências. Todos os indivíduos possuem, como parte de sua bagagem genética, certas
habilidades básicas em todas as inteligências. A linha de desenvolvimento de cada inteligência, no entanto, será
determinada tanto por fatores genéticos e neurobiológicos quanto por condições ambientais. Ele propõe, ainda, que
cada uma destas inteligências tem sua forma própria de pensamento, ou de processamento de informações, além de
seu sitema simbólico. Estes sistemas simbólicos estabelecem o contato entre os aspectos básicos da cognição e a
variedade de papéis e funções culturais.
A noção de cultura é básica para a Teoria das Inteligências Múltiplas. Com a sua definição de inteligência como a
habilidade para resolver problemas ou criar produtos que são significativos em um ou mais ambientes culturais, Gardner
sugere que alguns talentos só se desenvolvem porque são valorizados pelo ambiente. Ele afirma que cada cultura
valoriza certos talentos, que devem ser dominados por uma quantidade de indivíduos e, depois, passados para a
geração seguinte.
Segundo Gardner, cada domínio, ou inteligência, pode ser visto em termos de uma seqüência de estágios: enquanto
todos os indivíduos normais possuem os estágios mais básicos em todas as inteligências, os estágios mais sofisticados
dependem de maior trabalho ou aprendizado.
A seqüência de estágios se inicia com o que Gardner chama de habilidade de padrão cru. O aparecimento da
competência simbólica é visto em bebês quando eles começam a perceber o mundo ao seu redor. Nesta fase, os bebês
apresentam capacidade de processar diferentes informações. Eles já possuem, no entanto, o potencial para
desenvolver sistemas de símbolos, ou simbólicos.
O segundo estágio, de simbolizações básicas, ocorre aproximadamente dos dois aos cinco anos de idade. Neste
estágio as inteligências se revelam através dos sistemas simbólicos. Aqui, a criança demonstra sua habilidade em cada
inteligência através da compreensão e uso de símbolos: a música através de sons, a linguagem através de conversas
ou histórias, a inteligência espacial através de desenhos etc.
No estágio seguinte, a criança, depois de ter adquirido alguma competência no uso das simbolizacões básicas,
prossegue para adquirir níveis mais altos de destreza em domínios valorizados em sua cultura. À medida que as
crianças progridem na sua compreensão dos sistemas simbólicos, elas aprendem os sistemas que Gardner chama de
sistemas de segunda ordem, ou seja, a grafia dos sistemas (a escrita, os símbolos matemáticos, a música escrita etc.).
Nesta fase, os vários aspectos da cultura têm impacto considerável sobre o desenvolvimento da criança, uma vez que
ela aprimorará os sistemas simbólicos que demonstrem ter maior eficácia no desempenho de atividades valorizadas
pelo grupo cultural. Assim, uma cultura que valoriza a música terá um maior número de pessoas que atingirão uma
produção musical de alto nível.
Finalmente, durante a adolescência e a idade adulta, as inteligências se revelam através de ocupações vocacionais ou
não-vocacionais. Nesta fase, o indivíduo adota um campo específico e focalizado, e se realiza em papéis que são
significativos em sua cultura.
Teoria das inteligências múltiplas e a educação
As implicações da teoria de Gardner para a educação são claras quando se analisa a importância dada às diversas
formas de pensamento, aos estágios de desenvolvimento das várias inteligências e à relação existente entre estes
estágios, a aquisição de conhecimento e a cultura.
A teoria de Gardner apresenta alternativas para algumas práticas educacionais atuais, oferecendo uma base para:
( a) o desenvolvimento de avaliações que sejam adequadas às diversas habilidades humanas (Gardner & Hatch, 1989;
Blythe Gardner, 1 990) (b) uma educação centrada na criança c com currículos específicos para cada área do saber
(Konhaber & Gardner, 1989); Blythe & Gardner, 1390) (c) um ambiente educacional mais amplo e variado, e que
dependa menos do desenvolvimento exclusivo da linguagem e da lógica (Walters & Gardner, 1985; Blythe & Gardner,
1990)
Quanto à avaliação, Gardner faz uma distinção entre avaliação e testagem. A avaliação, segundo ele, favorece
métodos de levantamento de informações durante atividades do dia-a-dia, enquanto que testagens geralmente
acontecem fora do ambiente conhecido do indivíduo sendo testado. Segundo Gardner, é importante que se tire o maior
proveito das habilidades individuais, auxiliando os estudantes a desenvolver suas capacidades intelectuais, e, para
tanto, ao invés de usar a avaliação apenas como uma maneira de classificar, aprovar ou reprovar os alunos, esta deve
ser usada para informar o aluno sobre a sua capacidade e informar o professor sobre o quanto está sendo aprendido.
Gardner sugere que a avaliação deve fazer jus à inteligência, isto é, deve dar crédito ao conteúdo da inteligência em
teste. Se cada inteligência tem um certo número de processos específicos, esses processos têm que ser medidos com
instrumento que permitam ver a inteligência em questão em funcionamento. Para Gardner, a avaliação deve ser ainda
ecologicamente válida, isto é, ela deve ser feita em ambientes conhecidos e deve utilizar materiais conhecidos das
crianças sendo avaliadas. Este autor também enfatiza a necessidade de avaliar as diferentes inteligências em termos
de suas manifestações culturais e ocupações adultas específicas. Assim, a habilidade verbal, mesmo na pré-escola, ao
invés de ser medida através de testes de vocabulário, definições ou semelhanças, deve ser avaliada em manifestações
tais como a habilidade para contar histórias ou relatar acontecimentos. Ao invés de tentar avaliar a habilidade espacial
isoladamente, deve-se observar as crianças durante uma atividade de desenho ou enquanto montam ou desmontam
objetos. Finalmente, ele propõe a avaliação, ao invés de ser um produto do processo educativo, seja parte do processo
educativo, e do currículo, informando a todo momento de que maneira o currículo deve se desenvolver.
No que se refere à educação centrada na criança, Gardner levanta dois pontos importantes que sugerem a
necessidade da individualização. O primeiro diz respeito ao fato de que, se os indivíduos têm perfis cognitivos tão
diferentes uns dos outros, as escolas deveriam, ao invés de oferecer uma educação padronizada, tentar garantir que
cada um recebesse a educação que favorecesse o seu potencial individual. O segundo ponto levantado por Gardner é
igualmente importante: enquanto na Idade Média um indivíduo podia pretender tomar posse de todo o saber universal,
hoje em dia essa tarefa é totalmente impossível, sendo mesmo bastante difícil o domínio de um só campo do saber.
Assim, se há a necessidade de se limitar a ênfase e a variedade de conteúdos, que essa limitação seja da escolha de
cada um, favorecendo o perfil intelectual individual.
Quanto ao ambiente educacional, Gardner chama a atenção pare o fato de que, embora as escolas declarem que
preparam seus alunos pare a vida, a vida certamente não se limita apenas a raciocínios verbais e lógicos. Ele propõe
que as escolas favoreçam o conhecimento de diversas disciplinas básicas; que encoragem seus alunos a utilizar esse
conhecimento para resolver problemas e efetuar tarefas que estejam relacionadas com a vida na comunidade a que
pertencem; e que favoreçam o desenvolvimento de combinações intelectuais individuais, a partir da avaliação regular
do potencial de cada um.
Referências Bibliográficas
1. Blythe, T.; Gardner, H. A school for all intelligences. Educational Leadership, v.47, n.7, p.33-7, 1990.
2. Gardner, H.; Giftedness: speculation from a biological perspective. In: Feldman, D.H. Developmental approaches to
giftedness and creativity. São Francisco, 1982. p.47-60.
3. Gardner, H.Frames of mind. New York, Basic Books Inc., 1985.
4. Gardner, H. The mind's new science. New York, Basic Books Inc., 1987.
5. Gardner. H.;Hatcb, T. Multiple intelligences go to school: educational implications of the theory of Multiple
Intelligences. Educational Researcher, v.18, n.8. p.4-10, 1989.
6. Kornhaber, M.L.; Gardner, H. Critical thinking across multiple intelligences. Trabalho apresentado durante a
Conferência "The Curriculum Redefined. Paris, 1989.
7. Malkus, U.C.; Feldman, D.H.; Gardner, H. Dimensions of mind in early childhood. In: Pelegrini, A. (ed.)The
psychological bases for early education Chichester, Wilev. 1988, p.25-38.
8. Walter,J.M.; Gardner, H. The theory of multiple intelligences: some issues and answers. In: Stemberg, RJ.; Wagner,
R.K. (ed.) Pratical intelligence: nature and origins of competence in the every world.. Cambridge. Cambridge University
Press, p.163-82

FONTE: http://www.homemdemello.com.br/psicologia/intelmult.html

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