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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região

Ação Anulatória de Cláusulas Convencionais


0000601-07.2020.5.10.0000

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 14/08/2020


Valor da causa: $10,000.00

Partes:
AUTOR: Ministério Público do Trabalho
RÉU: SINDICATO DE HOTEIS, RESTAURANTES, BARES E SIMILARES DE BRASILIA
RÉU: SINDICATO DE EMP NO COM HOT REST BARES LANCHONETES PIZZARIAS CHUR
BOITES COZINHAS IND EMP FORNEC DE REFEICOES - ECT
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 10ª REGIÃO
Gabinete Desembargador Alexandre Nery de Oliveira
AACC 0000601-07.2020.5.10.0000
AUTOR: Ministério Público do Trabalho
RÉU: SINDICATO DE HOTEIS, RESTAURANTES, BARES E SIMILARES DE
BRASILIA, SINDICATO DE EMP NO COM HOT REST BARES LANCHONETES
PIZZARIAS CHUR BOITES COZINHAS IND EMP FORNEC DE REFEICOES -
ECT

DECISÃO

(PEDIDO LIMINAR - DEFERIMENTO)

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO ajuizou ação anulatória de cláusula


convencional em face do SINDICATO DE HOTÉIS, RESTAURANTES, BARES E SIMILARES
DE BRASÍLIA – SINDHOBAR e SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMÉRCIO
HOTELEIRO, RESTAURANTES, BARES, LANCHONETES E SIMILARES DO DISTRITO
FEDERAL - SECHOSC, devidamente qualificados, onde postula a declaração de nulidade do
termo aditivo à CCT 2020/2022 convencionado entre os Sindicatos supramencionados, por vício
formal insanável, diante da ofensa ao art. 612/CLT, ou mesmo em razão da previsão de redução
de direitos rescisórios trabalhistas em decorrência da Pandemia da COVID-19 (supressão do
aviso prévio e redução da multa de 40% do FGTS). Pugna pela concessão de liminar em tutela
de urgência. Deu à causa o valor de R$ 10.000,00.

R e l a t a d o s .

D e c i d o :

A discussão envolve os termos aditivos à CCT 2020/2022 firmados pelas


entidades sindicais Rés, buscando o pedido inicial, em sede liminar, por invocada nulidade formal
ou material, a imediata suspensão do primeiro Termo Aditivo, ou ao menos dos parágrafos 2º a
4º da respectiva Cláusula 1ª, com perda consequente da eficácia do segundo Termo Aditivo.

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A CCT-2020/2022 foi firmada em março/2020, enquanto o primeiro Termo
Aditivo, em 07/04/2020, e o segundo Termo Aditivo, em 10/08/2020.

Inicialmente, observo que a MP 927/2020, de 22/03/2020, teve vigência


encerrada em 19/07/2020, conforme Ato Declaratório 92/2020, de 30/07/2020, do Presidente do
C o n g r e s s o N a c i o n a l .

A MP 936/2020, de 01/04/2020, por sua vez, resultou convertida na Lei nº 14.020


/ 2 0 2 0 .

P o r p a r t e s .

A MP 927/2020, enquanto vigorou, estipulou condições que, conquanto inseridas


no Termo Aditivo à CCT/2020 firmado pelas entidades Rés, sucumbe como justificativa à adoção
da norma coletiva referida.

A MP 936/2020, por sua vez convertida na Lei nº 14.020/2020.

A inicial do Ministério Público invoca a nulidade formal total do primeiro Termo


Aditivo, sob manto de irregularidade formal à luz do artigo 612 da CLT, inclusive considerando
que quando da pactuação em 07/04/2020 já vigorava o artigo 17, II, da MP 936/2020 que
asseverou a possibilidade de uso de meios eletrônicos para o atendimento aos requisitos
alusivos à convocação, deliberação, decisão, formalização e publicidade de convenção ou de
acordo coletivo de trabalho, enquanto no caso teria sido adotada fórmula de aprovação apenas
pelos dirigentes sindicais signatários.

Sucessivamente, o Ministério Público invoca haver, quando menos, nulidade


material do contido na Cláusula 1ª, §§ 2º a 4º do referido primeiro Termo Aditivo à CCT 2020
/2022 quando afastou (1) a multa do artigo 479 da CLT, (2) reduziu a indenização compensatória
por demissão imotivada correspondente à metade do valor do FGTS (assim 20% invés de 40%
do valor do saldo fundiário devido) e (3) considerou não ser devido pagamento de aviso prévio
i n d e n i z a d o .

Por fim, considerando o aspecto decorrente, busca a perda de eficácia do


segundo termo aditivo à CCT 2020/2022, ou quando menos do considerando que indicaria

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atuação proativa do procurador do trabalho referido.

O artigo 30 da MP 927/2020 asseverava que “Os acordos e as convenções


coletivos vencidos ou vincendos, no prazo de cento e oitenta dias, contado da data de entrada
em vigor desta Medida Provisória, poderão ser prorrogados, a critério do empregador, pelo prazo
de noventa dias, após o termo final deste prazo.” Nesse efeito, o que se permitia não era a
prorrogação indistinta das normas coletivas, mas sua consideração de prorrogação a critério dos
próprios empregadores, como cláusulas aderidas “pro tempore” aos contratos individuais de
trabalho. Nada, assim, a considerar-se em relação à prorrogação indistinta para toda a categoria,
mas apenas no âmbito das relações individuais de trabalho e a critério, repita-se, dos próprios
e m p r e g a d o r e s .

Ademais, a questão contida na adoção do primeiro Termo Aditivo à CCT 2020


/2022 não envolveu prorrogação de efeitos, mas estipulação de novos normativos.

Nesse sentido, já encontrou a adoção do referido Termo Aditivo o regramento


contido no artigo 17, II, da MP 936/2020, inclusive por anterior à própria subscrição do aditivo
d e s c r i t o , v e r b i s :

“Art. 17. Durante o estado de calamidade pública de que trata o art. 1º desta Lei:

(...)

II - poderão ser utilizados meios eletrônicos para atendimento aos requisitos formais
previstos no Título VI da CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943,
inclusive para convocação, deliberação, decisão, formalização e publicidade de convenção
coletiva ou acordo coletivo de trabalho;

(...)”

A manifestação do sindicato patronal, então em sede de inquérito civil instaurado


pelo MPT, já evidencia que não houve uso de meios eletrônicos para a convocação e
deliberação das categorias, situando-se o Termo Aditivo em confessada atuação restrita de seus
dirigentes, fora, assim, das exigências legais, que não foram revogadas pela legislação
excepcional do período de pandemia.

Tenho, nesse efeito, como configurado o fumus boni iuris e o periculum in mora
para a concessão da tutela provisória requerida pelo Parquet, eis que inequivocamente a

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persistência do primeiro Termo Aditivo resulta efeitos por norma firmada fora de padrões
estabelecidos, com risco à segurança jurídica para toda a categoria envolvida.

Concluindo, em exame inaudita altera pars, e sem prejuízo de posterior reexame


quando apresentadas as defesas, DEFIRO O PEDIDO LIMINAR para imediatamente suspender
a validade e eficácia do primeiro Termo Aditivo à CCT-2020/2022 firmada pelos Sindicatos Réus,
consequentemente assim restado suspensa igualmente a eficácia do segundo Termo Aditivo, até
final decisão no processo decorrente da presente ação anulatória de normas coletivas, nos
termos da fundamentação.

Intime-se o Autor.

Citem-se os Réus, cientificando-os, ainda, do deferimento do pedido liminar,


para, querendo, contestar, no prazo de 15 (quinze) dias, os pedidos formulados pelo Autor, assim
devendo acompanhar o instrumento de citação, além da contrafé da exordial, também o inteiro
t e o r d e s t a d e c i s ã o .

Brasília-DF, 17 de agosto de 2020.

ALEXANDRE NERY DE OLIVEIRA


Desembargador do Trabalho

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https://pje.trt10.jus.br/pjekz/validacao/20081712570707900000009582107?instancia=2
Número do processo: 0000601-07.2020.5.10.0000
Número do documento: 20081712570707900000009582107

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