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INTRODUÇÃO

Há muito se percebe que a educação no Brasil vem apresentando


transformações significativas, observando aspectos qualitativos relativos não
apenas à educação infantil, mas também às instâncias que se seguem.

O Plano Nacional de Educação (PNE),

Apresentado pelo (MEC), Ministério da Educação, determina diretrizes, metas


e estratégias para a política educacional até 2024.

Dentre as referidas metas, destacam as que objetivam garantir o direito à


educação básica com qualidade, à universalização do ensino obrigatório e à
ampliação das oportunidades educacionais.

(BRASIL, 2008, p. 13).

Neste contexto de mudanças, nós, os professores cegos, na Rede Regular de


Ensino, e que também somos alfabetizadores de crianças que em sua maioria
não possuem deficiência visual, desenvolvemos estratégias peculiares para o
exercício funcional da profissão.

Estratégias que busca assegurar aos alunos a apropriação do sistema


alfabético-ortográfico e condições possibilitadoras do uso da língua nas
práticas sociais de leitura e escrita.”

(BRASIL, 2008).

Relato de experiência

Por ser uma professora com deficiência visual, minha prática pedagógica é
pautada em diversas vivências, em diferentes contextos.

Para tanto, trago à reflexão, uma relação dicotômica entre a inclusão e o


processo ensino-aprendizagem, que se fundem, a fim de favorecer o bom
desempenho dos alunos com e sem deficiência.
Relações interpessoais

Em meu primeiro contato com a turma que irei lecionar durante o ano, é de
esclarecer que sou uma pessoa com deficiência visual e por isso algumas
coisas que são feitas com as professoras que enxergam, não poderão ser
feitas comigo.

Levantar o dedinho quando quiser falar, me dar tchau quando me encontrar


pelos espaços da escola, é exemplos das coisas que não funcionarão comigo.

Essa última, preso sempre por evitar que aconteça, pois entendo que suas
consequências para a criança ou adolescente: não ser correspondido em sua
demonstração afetiva, poderá causar danos muitas vezes irreparáveis.

(KLEIN 1996), diz que o sustento para a etapa inicial do processo de


aprendizagem se dá por meio do vínculo afetivo construído entre a criança e o
adulto.

Em uma das turmas que leciono turma do segundo ano do primeiro ciclo, algo
interessante aconteceu abordando esse aspecto afetivo:

Ao encerrarmos a primeira etapa do primeiro trimestre, assumi a referida turma


do segundo ano. Os meninos não me davam a mão para seguirmos da fila de
entrada até a sala de aula.

Percebi também que devido ao baixo rendimento escolar, os alunos se


agrediam multuamente com palavras bastante agressivas. Propus então um
piquenique na pracinha, que fica bem enfrente ao portão de entrada da escola.

Assim os alunos começaram a diminuir os xingamentos. Enquanto isso, na sala


de aula, encorajei os alunos a lerem os enunciados das questões pedagógicas
e premiei um aluno que mesmo com toda dificuldade se esforçou para chegar
até o final da leitura.

Contudo, percebia um distanciamento afetivo entre os alunos e eu.

Fiz então uma roda de conversa com eles, aproveitando a ideia de diversidade:
proposta encontrada no livro didático.

Contei para eles minha experiência pessoal como estudante.

Disse a eles que eu não enxergava do quadro para copiar no caderno e que
precisava mesmo na idade deles, que algum colega me ditasse do quadro para
que eu pudesse copiar.
Disse ainda, que mesmo alguém ditando, eu copiava, mas depois não
conseguia ler o que escrevia e que fazia minhas provas oralmente com a
própria professora ou alguma coordenadora.

Assim, os alunos se envolveram mais nas tarefas dentro e fora da sala de aula.
Passaram a disputar o primeiro lugar na fila para me guiar pelo caminho até a
sala de aula. Hoje são mais cooperativos entre si e comigo também.

Aspectos pedagógicos

A arte de alfabetizar é uma tarefa que demanda habilidades e


competências do profissional, uma vez que transmitirá ao aluno não
apenas o que é repassado na esfera acadêmica , conforme apresentam os
autores que se segue

Tardif, Lessard e Lahaye (1991), reforçam a questão do saber


docente, quando definiram um saber plural, constituído de vários
saberes originários da formação profissional, disciplinas, currículos e
experiências advindas da prática pedagógica pessoal.

Nesse aspecto, Retomo um olhar reflexivo acerca do reforço escolar,


prática que exerço há aproximadamente 15 anos.

A fim de buscar alcançar o envolvimento dos alunos, com perfil para o


reforço escolar, é de passar segurança aos alunos; visto que a professora
é deficiente visual.

Dizer a eles, os alunos, que todos conseguem aprender, deixa uma lacuna
quando: você não possui uma deficiência, não está entre o público
marginalizado pela sociedade e etc.

Assim falo para eles do meu sonho de ser professora, mesmo sendo
cega. A regeição que sofri de colegas e até de professores que não
acreditavam em mim.

Então insisti e hoje sou professora como eu queria ser. Não foi fácil, mas
estava disposta a tentar.

Peço então que os alunos tentem me ajudar para que eu possa ajudá-los.
Trabalhada a confiança, a motivação e minha vontade de ajudar,
associada a necessidade de ajuda, parto para a prática pedagógica.

Ao entregar uma folha de atividade, digo que preciso de ajuda para ler o
que está escrito. Então, aquele que domina um pouquinho mais da
codificação e decodificação do sistema alfabético, se esforça para “me
ajudar”. Os demais começam também perdendo a introversão inicial.

Outra estratégia que utilizo e que demonstra resultados positivos, diz


respeito aos erros que podem aparecer quando escrevo no quadro.

Digo às crianças ou adolescentes que por eu não conseguir ler os livros,


escrevo muito errado. Então será necessário que eles prestem atenção
para descobrir um erro que cometi, para que os colegas não copiem
errado.

Então, os alunos concentram para ler o que escrevo, se atentam nos


erros ortográficos das palavras,em cuidar dos colegas, para que não
necessitem desmanchar o que escreveram para copiar novamente .

É evidente que escrevo algumas palavras ortograficamente errada para


que eles não se frustrem.

Acho muito interessante quando nos encontramos nos corredores da


escola: eles perguntam sempre assim:

“Nara...

Hoje tem Nara??!!!”

Deste modo, Zabalza (1994) fala em interações presididas pelo afeto,


que contemplem a possibilidade de realizar as modificações oportunas;
onde convivam a exigência de trabalhar e a responsabilidade de
realizar as modificações oportunas; onde convivam a exigência de
trabalhar e a responsabilidade de realizar o trabalho autonomamente, a
interação e o companheirismo, a solidariedade e o esforço; que
gerem sentimentos de segurança e contribuam para formar no aluno
uma percepção positiva e ajustada de si mesmo.

Referências

BRASIL. Presidência da República, Observatório da Equidade.


As desigualdades na escolarização no Brasil

. Brasília: Observatório da Equidade, Relatório de

Observação n° 4,

2010.

______.

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