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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 4

2 CONCEPÇÃO INICIAL DE ESTADO E DE SOCIEDADE CIVIL .................. 5

3 GRÉCIA ANTIGA: PERÍODOS ..................................................................... 7

3.1 Período Pré-Homérico ou Micênico – entre 2000 e 1.100 a.C ............... 7

3.2 Período Homérico ou Idade das trevas – entre 1.100 e 700 a.C............ 8

3.3 Período Arcaico – entre 700 e 500 a.C .................................................. 9

3.4 Período Clássico – entre 500 e 338 a.C ............................................... 10

3.5 Período Helenístico – entre 338 e 146 a.C........................................... 11

4 NASCIMENTO DA PÓLIS GREGA ............................................................. 12

5 ROMA ANTIGA (CIVITAS ROMANA) ......................................................... 14

5.1 O social e o político .............................................................................. 15

5.2 A promoção do social ........................................................................... 18

5.3 A esfera privada ................................................................................... 22

5.4 A esfera pública .................................................................................... 22

6 CONCEITO DE SOCIEDADE ..................................................................... 25

6.1 A cooperação humana ......................................................................... 27

6.2 A sociedade civil nos jusnaturalistas .................................................... 29

6.3 A sociedade civil em Rousseau ............................................................ 30

6.4 A sociedade civil em Hegel .................................................................. 31

6.5 A sociedade civil em Marx .................................................................... 32

6.6 A sociedade civil em Gramsci .............................................................. 33

6.7 Sociedade, Comunitarismo e Liberalismo ............................................ 34

7 O ESTADO ................................................................................................. 36

7.1 Nação ................................................................................................... 38

7.2 Governo................................................................................................ 39

1
7.3 Cidadania ............................................................................................. 39

7.4 Povo ..................................................................................................... 40

7.5 Território ............................................................................................... 40

8 ESTADO, ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO ........................................ 41

8.1 Estado Absolutista ................................................................................ 42

8.2 Estado Liberal-Democrático ................................................................. 42

8.3 A crise no liberalismo ........................................................................... 45

8.4 Neoliberalismo, globalização e desemprego estrutural ........................ 47

8.5 Estado Democrático ............................................................................. 48

9 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DOS PODERES ..................................... 49

9.1 Os três poderes .................................................................................... 50

9.2 Administração pública .......................................................................... 51

10 O ESTADO DE BEM-ESTAR (WELFARE STATE) ................................. 52

10.1 Estado de Direito e Estado Social ........................................................ 54

10.2 O capitalismo organizado ..................................................................... 55

10.3 O poder legal-racional .......................................................................... 56

11 CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DO HOMEM ................... 57

11.1 Período Colonial (1500-1822): a força do passado .............................. 58

11.2 A educação no Período Colonial .......................................................... 59

11.3 Período Imperial (1822-1889)............................................................... 60

11.4 Os direitos políticos saem na frente ..................................................... 61

11.5 A escravidão no Brasil: da diáspora africana à abolição ...................... 62

11.6 A Primeira República (1889-1930) ....................................................... 63

11.7 Da Revolução de 1930 ao golpe militar de 1964 .................................. 66

11.8 O Regime Militar ................................................................................... 68

11.9 Redemocratização no Brasil: 1985 – até os dias atuais ....................... 69

12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 73

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13 SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 77

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao
da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para
que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça
a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço
virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser
direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 CONCEPÇÃO INICIAL DE ESTADO E DE SOCIEDADE CIVIL

Fonte: brasilescola. uol.com.br

A linguagem política é notoriamente ambígua. A maior parte dos termos usados


no discurso político tem significados diversos. Esta variedade depende tanto do fato de
muitos termos terem passado por longa série de mutações históricas — alguns termos
fundamentais, tais como "democracia", "aristocracia", "déspota" e "política", foram
legados por escritores gregos —, como da circunstância de não existir até hoje uma
ciência política tão rigorosa que tenha conseguido determinar e impor, de modo unívoco
e universalmente aceito, o significado dos termos habitualmente mais utilizados.
A maior parte destes termos é derivada da linguagem comum e conserva a
fluidez e a incerteza dos confins. Da mesma forma, os termos que adquiriram um
significado técnico através da elaboração daqueles que usam a linguagem política para
fins teóricos estão entrando continuamente na linguagem da luta política do dia-a-dia,
que por sua vez é combatida, em grande parte com a arma da palavra, e sofrem
variações e transposições de sentido, intencionais e não intencionais muitas vezes
relevantes.
Sendo assim, na linguagem da luta política quotidiana, palavras que são
técnicas desde a origem ou desde tempos imemoriais, como "oligarquia", "tirania",
"ditadura" e "democracia", são usadas como termos da linguagem comum e por isso

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de modo não unívoco. “““ “““ Outros vocábulos com sentido mais propriamente técnico,
como todos os “ismos” em que é rica a linguagem política — “socialismo”, “comunismo”,
“fascismo”, peronismo”, “marxismo”, “leninismo”, stalinismo”, etc.—, indicam
fenômenos históricos tão complexos e elaborações doutrinais tão controvertidas que
não deixam de ser suscetíveis das mais diferentes interpretações.
Nessa lógica, diferentemente de outras ciências que têm uma tradição mais
longa e uma autonomia reconhecida e respeitada, ganha notoriedade a ciência política,
que apesar de antiga, abrange campos como a teoria e a filosofia políticas, os sistemas
políticos, as ideologias, a economia política, a geopolítica, a geografia política, as
políticas públicas, as relações internacionais, a administração pública etc. Por esse
motivo, tanto os sociólogos, como os juristas, os economistas e os historiadores sempre
ofereceram a ela importantes contribuições.
No mais, no desenvolvimento dos estudos políticos, a relação entre Estado e
Sociedade vem sendo construída com a história da própria humanidade, no modo como
o homem estabelece sua relação com os outros homens e com o meio onde vive. Na
linguagem dos filósofos e estadistas, o conceito de sociedade e Estado tem sido
empregado ora indistintamente, ora em contraste, aparecendo então a sociedade como
círculo mais amplo e o Estado como círculo mais restrito.
Em outras palavras, a sociedade vem em primeiro lugar e o Estado, depois, ou
melhor, enquanto o Estado é formado por grupos de pessoas convivendo em sociedade
e que buscam metas em comum, a sociedade se refere a um agrupamento de seres
que convivem em estado gregário e em colaboração mútua, constituindo-se objeto geral
do estudo das antigas Ciências do Estado, que investigam sobre os diversos aspectos
relacionados ao comportamento humano ao longo do tempo e como esses
comportamentos podem influenciar a estrutura de uma sociedade.
Por conseguinte, há muito tempo os povos e os grupos sociais têm normas e
códigos que estabelecem regras que organizam cada sociedade. Entretanto, tais
normativas não costumavam tocar no assunto dos direitos humanos, da qualidade de
vida e dos quesitos necessários para garantia de uma vida plena para seus integrantes.
A questão da defesa da cidadania e da instituição de alguns direitos básicos como
pressupostos de uma vida cidadã se modificou em leis e regulamentações com a
constituição do Estado moderno.

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3 GRÉCIA ANTIGA: PERÍODOS

historiaica.wordpress.com

Ao tratar do tema Estado e sociedade, o estudo da história da Grécia Antiga se


faz necessário e está dividido em cinco períodos, caracterizado em:

3.1 Período Pré-Homérico ou Micênico – entre 2000 e 1.100 a.C

No período micênico ocorreu a ocupação do território da Grécia. Povos indo-


europeus vieram para a região, primeiro os aqueus, ou micênicos, que eram pastores
e encontraram na região bons pastos, depois os jônios e os eólios. Nessa mesma
época, desenvolvia-se a civilização cretense, numa Ilha próxima.
Os micênicos acabaram se sedentarizando e desenvolveram grandes cidades,
e com as novas atividades produtivas e tributárias que vem com essa especialização,
desenvolveram a primeira escrita que o homem “moderno” conseguiu decifrar, o Linear
B.
Essa escrita foi encontrada em placas de argila em vários pontos da região,
como Cnossos, Tebas e Micenas. Mais antiga que esta escrita, nesta região, apenas a
Linear A, que nunca foi decifrada. No final desse período houve a invasão dos Dórios,
que destruiu as cidades micênicas, provocou a dispersão dos povos da região e sua

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consequente ruralização. As pessoas que não conseguiram fugir foram escravizadas
pelos Dórios.

3.2 Período Homérico ou Idade das trevas – entre 1.100 e 700 a.C

O Período Homérico corresponde ao segundo período de desenvolvimento da


civilização grega que ocorreu após o período pré-homérico, entre os anos de 1150 a.C.
a 800 a.C. O nome dado a esta fase, está relacionado com o poeta grego Homero,
autor dos poemas épicos “A Ilíada” e a “Odisseia”. No Período Homérico, compreendido
entre XII a.C à VIII a.C, houve a criação de diversas comunidades gentílicas, que se
caracterizavam por serem unidades agrícolas pequenas, mas de autossuficiência, e
nelas todas as riquezas que eram produzidas eram feitas de forma coletiva.
A gerência do grupo era função do pater, o patriarca encarregado de organizar
ações de cunho administrativo, judiciário e religioso a serem exercidas por todos ali, no
qual, seguidamente, a população foi progredindo e se mantendo desproporcional em
relação à produção agrícola, devido à carência de terras e a falta de recursos
avançados, além das técnicas de plantio.
Com a invasão dos povos dórios nas regiões gregas, a sociedade da época
sofreu no período anterior a diáspora grega (dispersão de diversos povos), visto a
maneira violenta que eles tomaram e destruíram diversas cidades da Hélade grega.
Após esse evento, que pôs fim ao período anterior (pré-homérico), a sociedade grega
passa por uma fase de reestruturação, que tem início com o período homérico.
Assim, diversas colônias gregas são fundadas e surgem os genos, um tipo de
organização social familiar desenvolvido a partir desse período. Em outras palavras,
essa fase marcou a substituição da cultura micênica pela gentílica (dos genos). As
principais características dos genos eram: sistema fechado, autônomo e
autossuficiente (independência econômica), de forma que o trabalho coletivo era
realizado por membros da mesma família.
Eles eram comandados pelo pater, o chefe e autoridade máxima dessas
organizações que possuía autoridade política, militar e religiosa. Assim, os genos eram
sociedades patriarcais, cujos membros compartilhavam laços consanguíneos.
Nos genos, os bens eram comuns a todos os habitantes, ou seja, era baseado
numa sociedade igualitária, donde seus membros (os gens) cultivavam as terras e

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criavam animais para o sustento de todos. No entanto, esse sistema de organização
econômica e social entrou em decadência, levando a “segunda diáspora grega”.
A desestruturação das comunidades gentílicas ocorreu porque a população foi
crescendo e almejou melhores condições de vida. Assim, com o passar do tempo, o
trabalho nos genos não suportava alimentar toda a população.
Da mesma forma que ocorreu na primeira diáspora grega, ou seja, a fundação
de diversas colônias, no período homérico esse fator também é propulsionado com a
dispersão de diversos povos, dando origem a importantes cidades-Estado como
Bizâncio, Marselha, Nápoles, Siracusa, dentre outras.
Além disso, a decadência dos genos possibilitou uma fragmentação social e
econômica tendo em conta a proximidade com os chefes dessas organizações, que por
fim, levou a uma nova estrutura social dividida em: eupátridas (bem-nascidos), georgóis
(agricultores) e thetas (marginais). Surge, portanto, as classes sociais e a propriedade
privada na Grécia Antiga, pondo fim ao período homérico e dando início ao período
arcaico.

3.3 Período Arcaico – entre 700 e 500 a.C

Por sua vez, no Período Arcaico situa-se uma fase inicial de desenvolvimento da
arquitetura grega entre os séculos VIII a.C e V a.C sendo considerado um período em
que ocorreu significativo desenvolvimento cultural, social, econômico e político na
Grécia, tendo como principais características:
 Construção dos primeiros templos;
 Gestação do sistema político democrático. Muitas pólis gregas eram
governadas por reis (chamados de basileus);
 Formação e desenvolvimento da pólis (cidades-Estado da Grécia Antiga);
As cidades-Estado mais importantes do período arcaico foram: Atenas,
Esparta, Tebas e Corinto;
 Desenvolvimento da arte cerâmica com suas pinturas, retratando
aspectos culturais da Grécia Antiga;
 Intensificação do processo de colonização de várias regiões da Península
Balcânica e ilhas gregas. Formação de colônias gregas na Magna Grécia,

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após período de grande crescimento populacional na região continental
entre os séculos VIII a.C. e VII a.C;
 Surgimento do alfabeto fonético grego;
 Na Filosofia o período ficou conhecido como Pré-Socrático. Várias
escolas filosóficas se desenvolveram neste período como, por exemplo,
Escola Jônica, Escola Itálica e Escola Eleática e Escola Eclética. Os
principais filósofos do Período Arcaico foram: Tales de Mileto,
Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Xenófanes, Parmênides
de Eléia e Arquelau de Atenas;
 Surgimento dos Jogos Olímpicos em 776 a.C;
 A escultura grega teve grande influência da egípcia, principalmente nas
primeiras décadas do período arcaico;
 Foi um período de gestação da mitologia grega, com o desenvolvimento
de muitos mitos;
 Intensificação do comercio marítimo grego no Mediterrâneo.
Cada pólis, portanto, tinha sua própria organização social. Algumas, como
Atenas, admitiam a escravidão, por dívida ou guerras. Por sua vez, Esparta, tinha
poucos escravos, mas possuía os servos estatais, que pertencia ao governo espartano.
Ambas as cidades tinham uma oligarquia que os governava que também eram
os proprietários das terras cultiváveis. Também em Atenas verifica-se a figura dos
estrangeiros chamados metecos. Só era cidadão quem nascia na cidade e por isso, os
estrangeiros não podiam participar das decisões políticas da pólis.

3.4 Período Clássico – entre 500 e 338 a.C

O período clássico é uma época de grande desenvolvimento econômico, cultural,


social e político da Grécia Antiga. As pólis se fortalecem, há grande desenvolvimento
do comércio marítimo e, consequentemente, conflitos externos por poder e hegemonia,
principalmente sobre o Mediterrâneo.
Nessas disputas Atenas e Esparta ganham destaque. Nesse período ocorre a
Guerra do Peloponeso, conflito bélico principal que envolveu Esparta e Atenas
diretamente. Essa guerra não começou entre as duas potências, porém envolveu-as

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por causa dos diversos acordos econômicos e militares entre elas e outras cidades –
Atenas e a Liga de Delos; Esparta e a Liga do Peloponeso.
A guerra durou quase 30 anos, e passou por diversas fases onde por vezes
Esparta estava melhor e a Liga do Peloponeso se fortalecia com novas cidades, por
vezes o mesmo acontecia com Atenas e a Liga de Delos. Porém, por fim, Esparta vence
a guerra e domina Atenas, que era a cabeça da Liga inimiga, porém o mundo grego
está em frangalhos física e estruturalmente, e dá brechas para que Alexandre da
Macedônia domine-o.

3.5 Período Helenístico – entre 338 e 146 a.C

Após Esparta vencer Atenas e assumir o poder político dessa pólis, o mundo
grego como um todo estava enfraquecido: cidades destruídas, populações diminuídas,
produção mais fraca e incapaz de suprir todas as necessidades, comércio também
enfraquecido, pois os mares tinham passado por fases perigosas e as inimizades entre
as diversas cidades das ligas cortaram várias rotas.
Essas dificuldades não passaram despercebidas, e Alexandre, rei da
Macedônia, aproveitou esse momento e invadiu o território grego, dominando-o e
incorporando-o ao seu império, que já ia até a índia, a Oriente. Assim começa o período
Helenístico. Porém, apesar desse domínio imperial, Alexandre tinha grande apreço pela
cultura grega, por política e filosofia, o que possibilitou a difusão da cultura grega e sua
fusão com outras culturas orientais, o chamado helenismo.
Um dos principais elementos gregos que foram difundidos foi a mitologia/religião,
alguns costumes, e a filosofia; porém, politicamente, a democracia e outras formas
políticas não foram absorvidas durante o helenismo.

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4 NASCIMENTO DA PÓLIS GREGA

Fonte: porquefilosofia.com

Conforme visto, o homem é um ser histórico e vive mergulhado no tempo. Sua


ação transformadora faz com que o homem vá “tecendo” sua trajetória individual e
coletiva, ao expressar suas próprias necessidades. Para o filósofo grego Aristóteles
(384 a.C – 322 a.C), o homem é um ser político, ou seja, um ser de relações.
Todavia, os membros de uma sociedade podem ser de diferentes grupos étnicos,
podendo também pertencer a diferentes níveis ou classes sociais, sendo caracterizados
pela partilha de interesses entre os membros e a preocupação mútua direcionada a um
objetivo comum, na obediência a determinadas normas e regulamentos.
O pensamento de Aristóteles representa uma notável contribuição à filosofia
política no que diz respeito à qualificação do homem como um ser que realiza os seus
mais altos fins na relação indissociável com a comunidade (pólis) na efetivação de um
bem comum, ou melhor, as origens da ação remontam a polis grega, espaço de ação
política, através da pluralidade de opiniões.
Tal perspectiva orientou um modo quase programático de pensar a ação humana
na matriz comunitária, repercutindo no chamado “comunitarismo contemporâneo” em
contraste com o “individualismo liberal”. Este último concebe a comunidade como uma
associação composta por indivíduos que possuem suas próprias e independentes
concepções em relação a um bem comum que, eventualmente, a comunidade poderia
professar como essencial para o viver humano.

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Assegurando a manutenção da ordem doméstica, exercia um poder totalitário
sobre a vida e a morte, ou seja, nessa esfera, o homem encontrava-se privado da mais
importante das capacidades - a ação política e só era inteiramente humana se
ultrapassasse o domínio instintivo e natural da vida privada. Entretanto, a antiga
civilização grega quando estava em processo de desenvolvimento viveu um momento
que é destacado por historiadores como um dos principais da Antiguidade: o surgimento
da “pólis”.
Ser cidadão da pólis, pertencer aos poucos que tinham liberdade e igualdade
entre si, pressupunha um espírito de luta: cada cidadão procurava demonstrar perante
os outros que era o melhor exibindo, através da palavra e da persuasão, os seus feitos
singulares, isto é, a pólis era o espaço de afirmação e reconhecimento de uma
individualidade discursiva.
A pólis, no entanto, entendida basicamente como a junção de várias Cidades-
Estado constituintes do território grego era estruturada como um organismo próprio,
possuindo forte autonomia. Logo, a passagem de uma tradição mítica e palaciana para
o regime da pólis exigia dos cidadãos uma inédita compreensão do fenômeno político,
social, religioso etc., porque a pólis transformara-se no centro cultural e administrativo
em que viviam os livres helenos e seus escravos estrangeiros.
Diante dessa realidade, a cidade grega enraizara e fortalecera a diferenciação
de classe na sociedade. Vale notar que a pólis grega substituíra o caráter fechado da
cultura consanguínea camponesa com instituições e formas públicas na vida urbana,
tais como: comércio, política, aparato administrativo e expressões culturais, cada uma
delas no seu devido lugar – feira, praça, teatro etc., tendo Acrópole como o ponto mais
alto da cidade (geralmente uma montanha, que reunia palácios e templos religiosos),
no qual, servia como refúgio para os habitantes das cidades no momento de
observação e ataques militares.
As ruínas da Acrópole de Atenas, por exemplo, que abrigam o Partenon (templo
da deusa grega Atenas) são um dos pontos turísticos mais visitados da Grécia. Com a
fundação da pólis, determinou-se a criação de uma aristocracia que seria responsável
pelo propósito político de sua população e historicamente, significou um espaço onde
se fixariam diversas formas de organização, e também foi a partir dela que políticas
foram criadas, desenvolvidas e nesse sentido, é possível dizer que a Filosofia Antiga é
um fenômeno da cultura urbana.

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5 ROMA ANTIGA (CIVITAS ROMANA)

Fonte: historialivre.com

Ao longo da História, foi perceptível um processo de interação cultural entre as


regiões que circundavam o Mediterrâneo Antigo. A cidade-estado denominada Roma,
desde o século III a.C apresentou uma dinâmica expansionista, a qual a historiografia
pontua como prática imperialista, sobre os territórios os quais ela anexou a sua zona
de poder.
O oppidum de Saguntum foi uma das sociedades que se aliaram a Roma em
troca de benefícios e com isso vivenciou uma intensa reconfiguração do seu espaço
territorial e das suas práticas culturais, por meio de um novo viés, o qual se enfoca no
período posterior ao conflito entre romanos e cartagineses, ou seja, após a Segunda
Guerra Púnica (III a.C).
A cidade ou a Civita romana pode ser pensada enquanto um laboratório
excepcional, ou seja, como um espaço no qual se vivenciava, experimentava e
concretizavam-se ideias, ações políticas, religiosas, econômicas e sociais; além do
status sócio jurídico que Saguntum adquiriu junto a Roma, um movimento de
modificação urbanística do território surgiu devido aos contatos que passaram a ser
estabelecidos entre romanos e saguntinos.

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Possivelmente tal processo de reconfiguração do espaço ocorreu para se
adaptar as necessidades romanas que foram se construindo ao longo do tempo.

Ademais ao refletirmos sobre a interação cultural, a cidade se torna um ponto


fundamental a ser analisado, por ser ali o local em que as culturas se
encontram, negociam os seus interesses e se enfrentam para conseguir
satisfazer os seus desejos (IANNI, 2000 apud CAMPOS, 2011, p. 2403).

As culturas citadinas podem apresentar dois tipos de urbanização. O primeiro


modelo seria conservador, que é fruto de uma sociedade rural. A segunda é a
heterogênea, a qual seria um produto das inovações e do constante processo de
interação social das cidades, os quais visam romper com a forma de organização da
sociedade tradicional, como ocorreu com a cidade romana ao ser implementada em
diversos pontos do Antigo Mediterrâneo, o que provavelmente ocasionou uma
transformação na estrutura anterior do local.

As civitates romanas, geralmente, possuíam no centro uma forma de praça


pública, a qual se assimilava ao forum, constituído de: uma região de culto da
religião oficial, o Capitólio; uma curiae para as assembleias dos Decuriões; e a
basilique, sede da vida judiciária. Além disso, possuíam um teatro e/ou um
anfiteatro para espetáculos e jogos; santuários para as suas diversas
divindades; as termas; os aquedutos e fontes; as construções monumentais as
quais expressavam o poder cívico (GRIMAL, 2003, apud CAMPOS, 2011, p.
2404).

Diante desse contexto, torna-se essencial discutir as relações históricas,


econômicas, políticas e sociais, tendo o Estado como expressão da razão e a
sociedade como um conjunto de indivíduos que têm necessidade de transmitir a outros
indivíduos noções de moral, valores e leis sociais que regem o comportamento de
determinado grupo de pessoas; ambos nascem por contraste com um estado primitivo
de sociedade em que o homem vivia sem outras leis senão as leis naturais.

5.1 O social e o político

Hannah Arendt salienta que existe uma relação mútua entre a ação humana e
vida em comum na comunidade ou sociedade. Este fato é um dos motivos da incorreta
tradução da expressão animal político, formulada por Aristóteles, como animal social.
Para Aristóteles, o homem é um animal político.
Todavia, os tradutores e comentadores de Aristóteles, desde Séneca até S.
Tomás de Aquino, traduziram incorretamente animal político por animal social. Esta

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substituição do político pelo social é a consequência da concepção latina da sociedade
como uma sociedade da espécie humana, na qual os homens se associam para viver
juntos em função de fins específicos, por exemplo: para dominar os outros ou para
cometer um crime.
Deste modo, existe uma diferença substancial entre a pólis dos gregos como
espaço de afirmação da política, através da liberdade e igualdade dos cidadãos, e a
sociedade dos romanos como um espaço de dominação do poder imperial sobre os
cidadãos e restantes súbditos do Império Romano. Arendt salienta as posições de
Platão e Aristóteles, para os quais o termo “social” significava apenas a vida em comum
das espécies animais, enquanto limitação da vida biológica, isto é, a sociedade era uma
característica biológica do animal humano e de outras espécies animais.
A política tanto para Platão, como para Aristóteles era a única característica
essencialmente humana. Para Arendt, o animal político de Aristóteles significava
somente a existência de uma característica matricial e única da condição humana, que
consistia na ação política dos cidadãos da pólis num espaço de liberdade e igualdade.
Mediante a política, o homem tinha a possibilidade de escapar à organização instintiva
e biológica da casa e da família.
Paralelamente à incorreta tradução de animal político como animal social, os
latinos traduziram erradamente a noção de homem como um ser vivo dotado de fala,
formulada também por Aristóteles, como animal racional. Para Arendt, Aristóteles
queria apenas indicar não a faculdade racional de fala, mas a capacidade dos cidadãos
da pólis confrontarem opiniões através do discurso.
Contrariamente, todos os que viviam fora da pólis (mulheres, crianças, escravos
e bárbaros) estavam impedidos não da faculdade de falar, mas do poder de
discursarem publicamente uns sobre os outros confrontando opiniões. Para Arendt, a
confusão entre o social e o político decorre da moderna concepção da sociedade, a
qual encara a política como um espaço de regulação da esfera privada.
O Estado nacional tende a regular a vida doméstica mediante uma "economia
nacional", "economia social" ou "administração doméstica coletiva". Atualmente, a
economia política do Estado-nação efetiva-se no controle do poder estatal sobre a
família e a administração doméstica do lar. Trata-se de um processo contraditório, pois
originariamente a economia pertencia ao domínio do chefe da família e a política à
cidadania na pólis.

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A esfera privada da família, fenômeno pré-político na Grécia Antiga, transformou-
se num "interesse coletivo" controlado pelo monopólio de um Estado soberano,
consequentemente a esfera privada e a esfera pública correlacionam-se
reciprocamente. Na época contemporânea, Marx recebeu dos modernos economistas
políticos a ideia que a política é uma função da vida social e o pensamento, o discurso
e ação são superestruturas dependentes da infraestrutura económica. Para Arendt,
esta situação anula a dualidade clássica entre esfera privada e esfera pública.
Porém, durante a Idade Média, ainda existia uma oposição, embora
enfraquecida e com uma localização diferente, entre a esfera privada do social e a
esfera pública do político. Após a queda do Império Romano, o poder religioso da Igreja
Católica fornecia um substituto para a cidadania anteriormente outorgada pelo governo
municipal. Mas por mais "profana" que se tornasse a Igreja Católica existia uma
comunidade de crentes unidos pela fé em Cristo.
O sagrado monopolizava a vida social e a vida política. Com o feudalismo,
verifica-se a absorção da esfera privada dos vilãos e dos servos da gleba pelo senhor
feudal que centraliza o poder na esfera pública do feudo (que incluía o castelo, a vila e
as propriedades dos vilãos). O senhor feudal administrava a justiça aplicando as leis na
esfera privada e na esfera pública.
Comparativamente, o chefe de família da Grécia Antiga só conhecia a lei e a
justiça na pólis. Na esfera privada da casa e da família, isto é, nas primeiras formas de
efetivação do social, o chefe da família grega podia dominar os escravos, a mulher e
as crianças sem qualquer limite judicial ou legal.
A transferência dos moldes familiares (e primeiramente sociais) da esfera
privada para a esfera pública institucional manifesta-se nas corporações profissionais
da Idade Média - os guilds, confréries e compagnons - e mesmo nas primeiras
companhias comerciais onde estava presente, desde a origem etimológica, a ideia de
uma partilha de bens materiais privados (tais como o pão e o vinho) no domínio público.
Na Idade Média, o significado da expressão "bem comum" não estava ligado à
política. Mas apenas à reciprocidade de interesses materiais e espirituais entre os
vários indivíduos. Estes só podiam conservar a sua individualidade privada quando um
deles se encarregava de garantir os interesses partilhados pela comunidade.
A existência desta situação explica-se devido a uma mentalidade cristã, que
reconhecia o bem comum extensível à vida privada e à vida pública. Deste modo,

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segundo Arendt o pensamento medieval, que concebia a política e a família
subordinados ao fim divino, foi incapaz de compreender o abismo originário entre a
esfera privada e a esfera pública.
Arendt assegura que Maquiavel foi o único autor pós-clássico que reconheceu a
separação entre a esfera privada e a esfera pública. Em “O Príncipe”, Maquiavel
defende, tal como os gregos, a coragem como uma qualidade política essencial,
procurando restaurar a identidade clássica da política através da figura do Condottieri
(mercenário), o qual passa da privacidade das circunstâncias naturais existentes em
todos os indivíduos para o domínio público do Principado.

5.2 A promoção do social

Para os gregos, não existia um conceito unívoco de social. O social situava-se


tanto na esfera privada das relações da casa e da família, como na esfera da
participação política. A filósofa política Hannah Arendt (uma das mais influentes do
século XX) assinala um fator fundamental que contribuiu para a promoção do social: a
subordinação da esfera pública aos interesses privados dos indivíduos.
Consequentemente, os meios deste processo foram: o desenvolvimento das
atividades artísticas privadas (romance a música e a poesia); a estereotipização do
comportamento no conformismo da sociedade (vontade geral, convenções sociais dos
salões, burocracia, economia, estatística, behaviorismo, cientismo, "mão invisível",
multidão numerosa, doutrinas socialistas e comunistas enquanto coação da
comunidade totalitária, sociedade de massas, promoção do labor, interesse público).
Arendt critica a estereotipização conformista dos comportamentos sociais, que
negam a espontaneidade da opinião. Esta tendência verifica-se desde o século XVIII
até à atualidade. O conformismo da sociedade adopta um duplo posicionamento: o
político constitui o receptáculo dos interesses domésticos e nas relações sociais
desaparece a pluralidade da discussão política em virtude de uma vontade geral
normalizada. Ora, para Arendt a política e a história são o campo da multiplicidade de
ações possíveis devendo o homem abolir o conformismo e exercitar uma vida ativa
pluralista.
A passagem das preocupações da esfera privada da família e da casa para o
domínio da política anulou a oposição clássica entre a pólis e o oikos. A esfera privada

18
atual teve a sua origem nos últimos períodos do Império Romano. Numa época em que
devido à desagregação do Império os cidadãos procuravam afirmar os seus direitos
privados (nomeadamente o direito de propriedade) no espaço público como resposta
aos ataques dos bárbaros.
Na modernidade, o privado opunha-se à esfera da sociabilidade e da esfera
política situando-se no domínio do individualismo. No século XVIII, Rousseau defendeu
que os sentimentos privados deveriam ser preservados da esfera comum do social. O
desenvolvimento das atividades artísticas privadas nomeadamente a música, a poesia
e o romance aprofundaram a relação entre a sociabilidade e a individualidade. Os
românticos, Rousseau e Tocqueville reagiram contra a tentativa de a sociedade nivelar
o individualismo negando a discussão crítica, pois no fundo o intimo privado e a
sociedade constituíam formas de valorização da subjetividade individual.
Na perspectiva de Rousseau, os homens agem sempre numa vontade geral que
unifica a opinião pública, mesmo que inicialmente tenham opiniões divergentes. Antes
da desintegração da família nuclear, que ocorreu principalmente a partir do século XVIII,
o chefe da família exercia um poder despótico controlando os membros da família e do
lar evitando a desunião e afirmando uma opinião única detentora do interesse comum.
O modelo de governo do chefe da família foi adoptado na esfera política pelo
poder despótico do Rei. Mas posteriormente com o liberalismo [e os ideais da
Revolução Francesa] o poder político transforma-se numa "espécie de governo de
ninguém", isto é, numa vontade geral consubstanciada no espaço público burguês dos
salões, cafés e clubes, bem como na democracia parlamentar.
Neste contexto, a burocracia assume um controlo despótico nas relações sociais
uniformizando o comportamento humano perante a administração pública. Arendt
salienta implicitamente que este "governo de ninguém" significa apenas uma vontade
geral podendo conduzir a um poder tirânico na repressão das minorias. Deste modo,
não existe ausência de governo, mas um poder desligado da pessoa do Rei e
concentrado numa vontade geral unitária. Esta última aparece efetivada inicialmente na
tentativa de democracia direta (no período da Revolução Francesa) e posteriormente
na democracia representativa. Nesta "normalização" da conduta social, Rousseau
defende a existência de convenções predefinidas nos salões da alta sociedade do
século XVIII.

19
Do mesmo modo, também na sociedade de classes do século XIX e mais
recentemente no século XX com a sociedade de massas a ação individual de afirmação
de uma racionalidade discursiva foi absorvida por uma sociedade unitária, que
uniformizou o privado e o público através da supremacia do social. Contrariamente ao
modelo grego de oposição entre o oikos e a pólis defendido por Arendt, a política
passou a preocupar-se com a esfera privada, ou seja, o social privado adquiriu um
estatuto de ação política. A economia, anteriormente ligada ao lar transformou-se em
economia política doméstica ao serviço do conformismo privado.
Arendt critica o despotismo das multidões numerosas defendendo o modelo
político da pólis grega em que a ação política era individual e estava restrita aos
cidadãos. Neste ponto, é possível colocar uma questão: Como só os cidadãos tinham
acesso à vida política não haveria o perigo de uma elite de eruditos restringirem a
liberdade de discussão dos outros indivíduos? Por conseguinte, Arendt afirma que
maior população significa maior probabilidade de o social monopolizar a totalidade da
esfera pública. Mas se aceitar a legitimidade de uma classe política restrita não existirá
a possibilidade de um totalitarismo sofisticado da minoria da classe dirigente, uma
espécie de meta-poder desligado dos problemas reais dos indivíduos?
Os economistas liberais defenderam que a base da economia seria uma
harmonia de interesses na comunidade, uma "mão invisível" que coletivamente
regularia os interesses individuais. Contrariamente, Marx afirmou que a sociedade é a
história da luta de classes e que só na esfera comunista o homem seria igual ao seu
semelhante completamente livre e sem Estado. Para Arendt, embora Marx na revolução
do proletariado recuse o conformismo, a sociedade comunista recai num novo
conformismo em que a liberdade individual é absorvida pela vontade da comunidade.
Na perspectiva de Arendt, Marx errou ao prever que somente uma revolução
poderia provocar a decadência do Estado e que a sociedade comunista significaria um
reino de liberdade. Ora para Arendt, o Estado enquanto espaço político deve resistir à
uniformização do social pelos interesses privados e o "reino de liberdade" somente
pode existir no confronto das opiniões públicas. Arendt lamenta que atualmente a
conduta social da sociedade de massas, no seu esforço de promover o político e o
privado a uma uniformização do comportamento consumista, tenha conduzido ao
conformismo do social negando a pluralidade da discussão.

20
De fato, na sociedade de massas o homem garante a sua sobrevivência no
despotismo de uma única opinião desprovida da discussão racional pela ação política
da palavra e da persuasão. Para Arendt, esta situação pode conduzir ao totalitarismo,
à destruição da política e da própria humanidade.
A sociedade de massas é guiada pela atividade do labor. Na sociedade massas,
o animal laborans adquiriu o estatuto de “assalariado” (ou em termos marxistas
“proletário”), que procura a subsistência da sua vida e da sua família pelo mero
consumo e interessa-se pelo trabalho material naturalmente admitido longe de qualquer
produção técnica, ação política ou vida contemplativa. Deste modo, a promoção social
pelo labor conduziu o espaço público da política a um processo de afirmação da
sobrevivência biológica, cujos condicionalismos da vida orgânica transformaram-se em
interesse social e político.
Nessa lógica, a divisão do trabalho, enquanto multiplicidade da manipulação foi
o modo de efetivação da vida orgânica do animal laborans, isto é, o trabalho adquiriu
excelência (uma virtude classicamente ligada à esfera política) tal como se verifica nas
teorias marxistas e leninistas que valorizam a condição laboral do proletariado e
consequentemente a sua produção material, como matriz do interesse coletivo.
Ora, para Arendt a excelência apenas pode existir na ação política através do
confronto de opiniões. Assim, a promoção do social incorporou a excelência na esfera
privada do labor. Com a promoção do labor, a coisa pública libertou o trabalho da
sobrevivência biológica e incorporou-o na praxis política. Os fatores que favoreceram a
promoção do labor a interesse da sociedade e da esfera pública foram, sobretudo, os
seguintes:
 A desagregação entre as capacidades técnicas do trabalho e o
desenvolvimento humanístico (o animal laborans é incapaz de reconhecer
o valor humanístico da política como meio de excelência e autopromove
o valor do trabalho como meio de sobrevivência biológica capaz de atingir
a esfera pública) e;
 A subordinação do labor às explicações das ciências físicas e
consequentemente a separação entre ciências físicas e ciências sociais.

21
5.3 A esfera privada

É a esfera da casa (oikos), da família e daquilo que é próprio (idion) ao homem.


Baseia-se em relações de parentesco como a phratria (irmandade) e a phyle (amizade).
Trata-se de um reino de violência em que só o chefe da família exercia o poder
despótico sobre os seus subordinados (a sua mulher, filhos e escravos). Não existia
qualquer discussão livre e racional.
Os homens viviam juntos subordinados por necessidades e carências biológicas
(por exemplo: alimentação, alojamento, segurança face aos inimigos). A necessidade
motivava toda a atividade no lar: o chefe da família proporcionava os alimentos e a
segurança em face de ameaças internas (por exemplo: revoltas de escravos) e externas
(outros senhores que quisessem destruir uma dada casa e família), a mulher era
propriedade do chefe da família e competia-lhe procriar e cuidar dos filhos, os escravos
ajudavam o chefe da família nas atividades domésticas.
Na esfera privada, existia a mais pura desigualdade: o chefe da família
comandava e os outros membros da família eram comandados. Assim, o chefe da
família não era limitado por qualquer lei ou justiça. A esfera privada da família,
fenômeno pré-político na Grécia Antiga, transformou-se num "interesse coletivo"
controlado pelo monopólio de um Estado soberano, consequentemente a esfera
privada e a esfera pública correlacionam-se reciprocamente. Na época contemporânea,
Marx recebeu dos modernos economistas políticos a ideia que a política é uma função
da vida social e o pensamento, o discurso e ação são superestruturas dependentes da
infraestrutura econômica.

5.4 A esfera pública

É a esfera do comum (koinon) na vida política da pólis. Baseia-se no uso da


palavra e da persuasão através da arte da Política e da Retórica. Para Aristóteles, a
esfera pública era o domínio da vida política, que se exercia através da ação (praxis) e
do discurso (lexis). Os cidadãos exerciam a sua vida política participando nos assuntos
da pólis. Vencer as necessidades da vida privada constituía a condição para aceder à

22
vida pública. Só o homem que tivesse resolvido todos os assuntos da casa e da família
teria disponibilidade para participar num reino de liberdade e igualdade sem qualquer
coação. Todos são iguais (não há desigualdade de comandar e de ser comandado) e
todos são livres em expressar as suas opiniões. O poder da palavra através da
persuasão (a prática da retórica) substitui a força e a violência da esfera privada. Os
cidadãos livres e iguais da esfera pública da polis opõem-se, assim, às relações de
dominação e de propriedade sobre os subordinados do oikos.
Deixar o lar e a família manifestava a mais importante virtude política - a
coragem. No oikos, o homem defendia a sua sobrevivência biológica. Na pólis, o
homem tinha de ter coragem para arriscar a própria vida libertando-se do servilismo do
amor à vida. A vida boa, que Aristóteles identificava com a ação política, significava a
libertação do homem, face às esferas do animal laborans e do homo faber efetivando-
se através da virtude da coragem e da eudaimonia (vida boa). Ter coragem era a
condição para aceder à vida política afirmando uma individualidade discursiva e
contrariando a mera socialização imposta pelas limitações da vida biológica privada.
O termo "público" remete para dois fenómenos distintos embora correlacionados.
Em primeiro lugar "público" centra-se na ideia de acessibilidade: tudo o que vem a
público está acessível a todos: pode ser visto e ouvido por todos. Quando divulgamos
um pensamento ou um sentimento através de uma estória, bem como quando
divulgamos experiências artísticas individuais o privado torna-se de acesso público. A
garantia deste fenómeno depende de uma condição essencial: os outros têm de
partilhar a realidade do mundo e de nós mesmos. No entanto, para Arendt há
sentimentos que não podem ser inteiramente divulgados aos outros no espaço público:
a dor física e o amor.
O encantamento por "pequenas coisas" pode parecer insignificante, mas
constitui o sentimento de um povo em que o bom senso pelos pequenos objetos
contraria o processo de industrialização. Em segundo lugar, o termo "público" centra-
se na ideia de comum. A realidade do mundo tem um bem comum ou interesse comum
do artefato e dos negócios humanos, na medida em que é partilhado por indivíduos que
se relacionam entre si. Com a sociedade de massas, o homem perdeu a capacidade
de viver em comum limitando-se ao mero consumo.
Arendt assinala que a filosofia cristã do vínculo da caridade tematizado por S.
Agostinho a partir da mensagem de Cristo, é o único princípio capaz de unir as pessoas

23
criando um mundo extraterreno que aceita o amor ao próximo como forma de evitar a
condenação do mundo.
Para Arendt, as comunidades cristãs foram incapazes de criar uma esfera
política própria. Contudo, nas ordens monásticas a esfera pública manifestava-se na
adopção comum de regulamentos [por exemplo: a regra de S. Bento que proibiam a
excelência e o orgulho defendendo a humildade da ação evangélica]. A negação da
política como fenómeno terreno que não durará eternamente está subjacente à
concepção cristã do mundo.
Para os cristãos, a queda do Império Romano foi a constatação de que toda a
política desligada da submissão à omnipotência cristã é efémera. A recusa cristã do
mundo terreno produziu na atualidade um efeito inverso: verifica-se a intensificação do
materialismo e a consequente formação de uma sociedade das massas consumistas
desligadas do espírito da comunhão.
Arendt defende, contra o consumo da sociedade de massas, uma comunhão dos
interesses individuais pela política, que transcenda o espaço intergeracional e se afirme
de forma estrutural como fenómeno meta-mortal. Neste sentido, Arendt ultrapassa a
salvação da alma como bem comum dos cristãos salientando a função fundamental da
ação humana (política) que sobrevive à história quando se manifesta como presença
no espaço público.
Na Antiguidade, os homens ingressavam na vida pública através da ação política
para alcançarem notoriedade e, assim, escaparem ao anonimato da vida natural da
esfera privada. Esta garantia de notoriedade da esfera política conduzia à intenção de
ser lembrado para além da morte. A laicização da esfera pública (e consequente perda
da preocupação metafísica) é um indício significativo do desaparecimento da esfera
pública clássica. De fato, apesar da separação entre a tradição no domínio da religião
e a política no domínio do interesse público, tanto a polis grega, como a res publica dos
romanos eram herdeiras de uma concepção metafísica, que consagrava a imortalidade
da ação como a maior prova de valor político.
Arendt salienta a opinião de Adam Smith segundo a qual a admiração pública
que se efetiva na vaidade consumista e a posterior recompensa monetária são
intermutáveis possuindo a mesma natureza: ambos são processos subjetivos que
tendem a tornar objetiva a esfera pública através de formação de status. Esta
objetividade do status manifesta-se no poder do dinheiro como satisfação das

24
necessidades individuais prontamente transformadas em assunto público. Mas, para
Arendt nunca a sociedade de massas empenhada no mero consumo e na subjetividade
dos interesses privados, bem como a esfera privada da família e da casa poderá
substituir a pluralidade de opiniões na esfera pública da política.
A esfera pública do comum não resulta da igualdade da natureza humana, mas
fundamentalmente de um objeto comum - a política - que interessa a todos os indivíduos
ainda que sob perspectivas diferentes. Assim se compreende a pluralidade de opiniões
no espaço político.
Quando o interesse comum da política se transforma no interesse único privado
do regime tirânico e da sociedade de massas surge a destruição da comunhão na
esfera pública criando-se as condições para o aparecimento do totalitarismo.
Especificamente, a sociedade massas destrói a esfera privada e a esfera pública:
impede a pluralidade de opiniões num espaço público comum; exclui os homens da
casa e da família enquanto refúgios perante o mundo.

6 CONCEITO DE SOCIEDADE

Fonte: mises.org.br

A sociedade é a consequência do comportamento propositado e consciente. Isso


não significa que os indivíduos tenham firmado contratos por meio dos quais teria sido
formada a sociedade. As ações que deram origem à cooperação social, e que
diariamente se renovam, visavam apenas à cooperação e à ajuda mútua, a fim de

25
atingir objetivos específicos e individuais. Esse complexo de relações mútuas criadas
por tais ações concertadas é o que se denomina sociedade.
Sociedade é divisão de trabalho e combinação de esforços. Por meio da
colaboração e da divisão do trabalho, o homem substitui uma existência isolada —
ainda que apenas imaginável — pela existência conjunta. Por ser um animal que age,
o homem torna-se um animal social.
No quadro da cooperação social podem emergir, entre os membros da
sociedade, sentimentos de simpatia e amizade e uma sensação de comunidade. Esses
sentimentos são a fonte, para o homem, das mais agradáveis e sublimes experiências.
Entretanto, esses sentimentos são fruto da cooperação social e só vicejam no seu
quadro; não precederam o estabelecimento de relações sociais e não são as sementes
de onde estas germinam.
Os fatos fundamentais que fizeram existir a cooperação, a sociedade e a
civilização, e que transformaram o animal homem em um ser humano, é o fato de que
o trabalho efetuado se valendo da divisão do trabalho é mais produtivo que o trabalho
solitário, e o fato de que a razão humana é capaz de perceber esta verdade.
Não fosse por isso, os homens permaneceriam sempre inimigos mortais uns dos
outros, rivais irreconciliáveis nos seus esforços para assegurar uma parte dos escassos
recursos que a natureza fornece como meio de subsistência. Cada homem seria
forçado a ver todos os outros como seus inimigos; seu intenso desejo de satisfazer
seus próprios apetites o conduziria a um conflito implacável com seus vizinhos, no qual,
nenhum sentimento de simpatia poderia florescer em tais condições.
Alguns sociólogos têm afirmado que o fato subjetivo original e elementar na
sociedade é uma "consciência da espécie". Outros sustentam que não haveria
sistemas sociais se não houvesse um "senso de comunidade ou de propriedade
comum". Em um mundo hipotético, no qual a divisão do trabalho não aumentasse a
produtividade, não haveria sociedade ou qualquer sentimento de benevolência e de
boa vontade.
O princípio da divisão do trabalho é um dos grandes princípios básicos da
transformação cósmica e da mudança evolucionária. Logo, os biologistas tinham razão
em tomar emprestado da filosofia social o conceito de divisão do trabalho e em adaptá-
lo a seu campo de investigação. Existe divisão do trabalho entre as várias partes de
qualquer organismo vivo. Mais ainda: existem, no reino animal, colônias integradas por

26
seres que colaboram entre si; tais entidades, formadas, por exemplo, por formigas ou
abelhas, costumam ser chamadas, metaforicamente, de "sociedades animais". Mas o
traço característico da sociedade humana é a cooperação propositada: a sociedade é
fruto da ação humana, isto é, apresenta um esforço consciente para a realização de
fins.
Nenhum elemento desse gênero está presente, ao que se saiba, nos processos
que resultaram no surgimento dos sistemas estruturais e funcionais de plantas e de
corpos animais ou no funcionamento das sociedades de formigas, abelhas e vespas. A
sociedade humana é um fenômeno intelectual e espiritual. É a consequência da
utilização deliberada de uma lei universal que rege a evolução cósmica: a maior
produtividade gerada pela divisão do trabalho. Como em todos os casos de ação, o
reconhecimento das leis da natureza é colocado a serviço dos esforços do homem
desejoso de melhorar suas condições de vida.

6.1 A cooperação humana

Conforme visto, na busca de sua identidade social, o homem se agrupa


formando uma comunidade, que, por sua vez, constitui-se num conjunto de
comunidades, configurando-se numa sociedade. Logo, a necessidade de viver em
grupo é justificada pelo fato de que em sua trajetória, o indivíduo interage com grupos
distintos em cada etapa da vida, desde o núcleo familiar até o relacionamento com
grupos profissionais, sociais, etc.
Por esse ângulo, a sociedade em si não existe a não ser por meio das ações dos
indivíduos:

“O individual e o social se completam e confundem entre si. Por isso, é legítimo


afirmar que todo indivíduo é um grupo da mesma maneira como todo grupo
pode comportar-se como uma individualidade” (ZIMERMAN et al, 1997, apud
CASTRO, 2016, p. 185).

A cooperação humana é diferente das atividades que ocorreram sob as


condições pré-humanas no reino animal e daquelas que ocorriam entre pessoas ou
grupos isolados durante as eras primitivas. A faculdade humana específica que
distingue o homem do animal é a cooperação. Os homens cooperam. Isso significa
que, em suas atividades, eles preveem que as atividades incorridas por outras pessoas

27
irão produzir certas coisas que possibilitarão os resultados que eles objetivam com seu
próprio trabalho.
O mercado é uma situação, ou um conjunto de situações em que há trocas. Um
ditado em latim, há mais de 2.000 anos, já apresentava a melhor descrição do mercado:
do ut des — (dou algo para que assim você também dê. Eu contribuo com algo de modo
que você contribua com algo mais). Com base nisso desenvolveu-se a sociedade
humana, o mercado, a cooperação pacífica entre os indivíduos. E cooperação social
significa divisão do trabalho.
Os vários membros, os vários indivíduos de uma sociedade não vivem suas
próprias vidas sem qualquer ligação ou conexão com outros indivíduos. Graças à
divisão do trabalho, os sujeitos constantemente estão associados a terceiros:
trabalhando para eles e recebendo e consumindo o que eles produziram. Como
resultado, existe uma economia baseada nas trocas e que consiste totalmente na
cooperação entre vários indivíduos. Todo mundo produz, não apenas para si próprio,
mas para outras pessoas também, na expectativa de que essas outras pessoas irão
produzir para ele. Esse sistema requer atos de troca.
A cooperação significa que as pessoas estão trocando serviços e bens, sendo
estes últimos os produtos dos serviços. São essas trocas que criam o mercado. O
mercado representa precisamente a liberdade de as pessoas produzirem, consumirem
e determinarem o que deve ser produzido, em qual quantidade, com qual qualidade e
para quem esses produtos devem ir. Um sistema livre sem um mercado é impossível.
O mercado é a representação prática desse sistema livre.
Tem-se aquela ideia de que as instituições criadas pelo homem são (1) o
mercado, que é a livre troca entre indivíduos, e (2) o governo, uma instituição que, na
mente de muitas pessoas, é algo superior ao mercado e poderia existir na ausência do
mercado. A verdade é que o governo — que representa necessariamente o recurso à
violência, pois não passa de um poder policial com seu correspondente aparato de
compulsão e coerção — não pode produzir nada. Tudo que é produzido de bom é
produzido somente pelas atividades desempenhadas por indivíduos, e é disponibilizado
no mercado com o intuito de se receber algo benéfico em troca.
É importante lembrar que tudo o que é feito, tudo que o homem já fez, tudo que
a sociedade já fez, é o resultado da cooperação e dos acordos voluntários. A
cooperação social entre os homens — e isso significa o mercado — é o que cria a

28
civilização. E foi essa cooperação que permitiu todas as melhorias ocorridas nas
condições humanas, melhorias essas que podem ser usufruídas hoje.

6.2 A sociedade civil nos jusnaturalistas

A expressão “sociedade civil” teve, no curso do pensamento político dos últimos


séculos, vários significados sucessivos; o último, o mais corrente na linguagem política
de hoje, é profundamente diferente do primeiro e, em certo sentido, é-lhe até oposto.
Em sua acepção original, corrente na doutrina política tradicional e, em particular, na
doutrina jusnaturalista.
O Jusnaturalismo é uma doutrina segundo a qual existe e pode ser conhecido
um "direito natural" (ius naturale), ou seja, um sistema de normas de conduta
intersubjetiva diverso do sistema constituído pelas normas fixadas pelo Estado (direito
positivo). Este direito natural tem validade em si, é anterior e superior ao direito positivo
e, em caso de conflito, é ele que deve prevalecer.
Por isso, é uma doutrina antitética à do "positivismo jurídico", segundo a qual só
há um direito, o estabelecido pelo Estado, cuja validade independe de qualquer
referência a valores éticos. Às vezes o termo é reservado, por antonomásia, a doutrinas
que possuem algumas características específicas comuns, de que se falará a seguir, e
que defenderam as mesmas teses nos séculos XVII e XVIII: tanto que se gerou a
opinião errônea de que a doutrina do direito natural teve a sua origem apenas nesse
período. Ainda assim, sociedade civil (societas civilis) contrapõe-se a "sociedade
natural" (societas naturalis), sendo sinônimo de "sociedade política" (em
correspondência, respectivamente, com a derivação de "civitas" e de "pólis") e,
portanto, de "Estado".

[...] o homem [...] vive amarrado ao poder econômico de tal forma que só vale
como braço que produz, sem tempo para o social, o afetivo, o cultural, para
nada. Transmite-se, ainda, desde criança, toda uma visão social exatamente
contrária do social, como se o relacional, o afetivo fosse o determinante de sua
sorte (ARROYO, 1988, apud FERREIRA, 2011, p.82).

Conforme o modelo jusnaturalístico da origem do Estado, que se repete, com


sensíveis variações, mas sem alterações substanciais da dicotomia fundamental
"Estado de natureza-Estado civil", de Hobbes, que é seu criador, até Kant e seus

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seguidores, o Estado ou sociedade civil nasce por contraste com um estado primitivo
da humanidade em que o homem vivia sem outras leis senão as naturais.
Nasce, portanto, com a instituição de um poder comum que só é capaz de garantir
aos indivíduos associados alguns bens fundamentais como a paz, a liberdade, a
propriedade, a segurança, que, no Estado natural, são ameaçados seguidamente pela
explosão de conflitos, cuja solução é confiada exclusivamente à autotutela.
Ao passo que “sociedade civil” e “cidadania” remetem de algum modo, uma para
a outra, sendo difícil dizer qual precede ou qual pressupõe a outra. Em todo caso, pode
dizer-se que a sociedade civil – isto é, a organização de redes e grupos autónomos de
defesa de valores e interesses distintos ou concorrentes entre si, e, sobretudo distintos
das esferas de interesse do Estado e das igrejas – constitui a materialização efetiva do
exercício da cidadania.
No sentido de sociedade política ou Estado, a expressão “sociedade civil” é
comumente usada por teólogos, canonistas e, em geral, por escritores de direito
eclesiástico e história religiosa, para distinguir a esfera do temporal da esfera do
espiritual, a esfera das relações sobre que se estende o poder político, da esfera de
relações sobre que se estende o poder religioso. Na linguagem da doutrina cristã
referente às relações entre Igreja e Estado, o problema destas relações é apresentado
e ilustrado como problema das relações entre a sociedade civil e a sociedade religiosa.

6.3 A sociedade civil em Rousseau

Uma segunda acepção deriva do fato de que através da identificação do Estado


de natureza e do Estado selvagem, a sociedade civil não se contrapõe mais somente
à sociedade natural, abstrata e idealmente considerada, mas também à sociedade dos
povos primitivos.
É importante a distinção entre as duas acepções — "sociedade civil" como
"sociedade política" e "sociedade civil" como "sociedade civilizada" — porque, enquanto
na maior parte dos escritores dos séculos XVII e XVIII, os dois significados se
sobrepõem, no sentido de que o Estado se contrapõe conjuntamente ao Estado de
natureza e ao Estado selvagem, passando "civil" a significar, ao mesmo tempo,
"político" e "civilizado", em Rousseau os dois significados são nitidamente distintos.

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Quando descreve, na segunda parte do Discurso sobre a origem da
desigualdade, a passagem do Estado de natureza ao da "société civile" ("o primeiro
que, após haver cercado um terreno, pensou em dizer isto é meu e achou os outros tão
ingênuos que acreditaram, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil"), usa a
expressão sociedade civil, não no sentido de sociedade política, mas no sentido
exclusivo de "sociedade civilizada" (onde, de resto, "civilização" tem, como se sabe,
uma conotação negativa).
Esta sociedade civil descrita por Rousseau é tão pouco identificável com a
sociedade política ou Estado que, em certas passagens, é apresentada como um
estado em que "as usurpações dos ricos, o banditismo dos pobres e as paixões
desenfreadas de todos" geram um estado de "guerra permanente" que faz pensar no
Estado de natureza de Hobbes. Por outras palavras, enquanto para Hobbes (e
igualmente para Locke) a sociedade civil é a sociedade política e ao mesmo tempo a
sociedade civilizada (civilizada na medida em que é política), a sociedade civil de
Rousseau é a sociedade civilizada, mas não necessariamente ainda a sociedade
política, que surgirá do contrato social e será uma superação da sociedade civil. A
sociedade civil de Rousseau é do ponto de vista hobbesiano, uma sociedade natural.

6.4 A sociedade civil em Hegel

A terceira acepção é aquela que Hegel tomou célebre na sua obra Lineamentos
de filosofia do direito. No sistema hegeliano, o espírito objetivo (que segue ao espírito
subjetivo e precede o espírito absoluto) é distinto nos três momentos do direito abstrato,
da moralidade e da eticidade.
A eticidade, por sua vez, é distinta nos três momentos da família, da sociedade
civil e do Estado. Como se vê, a sociedade civil, nesta sistematização geral das
matérias tradicionalmente ligadas à filosofia prática, não coincide mais com o Estado,
mas constitui um dos seus momentos preliminares. A sociedade civil não é mais a
família, que é uma sociedade natural e a forma primordial da eticidade, mas também
não é ainda o Estado, que a forma mais ampla de eticidade e, como tal, resume em si
e supera, negando-as e sublimando-as às formas precedentes da sociabilidade
humana.

31
A sociedade civil coloca-se entre a forma primitiva e a forma definitiva do espírito
objetivo e representa, para Hegel, o momento no qual a unidade familiar, através do
surgimento de relações econômicas antagônicas, produzidas pela urgência que o
homem tem em satisfazer as próprias necessidades mediante o trabalho, se dissolve
nas classes sociais (sistema das necessidades).
A luta de classes acha uma primeira mediação na solução pacífica dos conflitos
através da instauração da lei e da sua aplicação (administração da justiça). É então,
enfim, que os interesses comuns encontram uma primeira regulamentação meramente
externa na atividade da administração pública e na constituição das corporações
profissionais (polícia e corporação). Para fazer compreender que a sociedade civil
possui algumas características do Estado, mas não é ainda Estado, Hegel define-a
como "Estado externo" ou "Estado do intelecto". O que falta à Sociedade civil para ser
um Estado é a característica da organicidade.

6.5 A sociedade civil em Marx

Não é improvável que, ao sujeitar esta terceira maneira de entender a sociedade


civil à crítica das teorias jusnaturalistas, especialmente à teoria de Locke, para o qual o
Estado, não sendo outra coisa senão uma associação de proprietários, não pode ser
considerada um Estado no sentido pleno da palavra à maneira de Hegel, se haja
interposto uma terceira significação de "civil" que, em sua forma alemã, "bürgerlich",
significa também "burguês". Na realidade, algumas páginas que Hegel dedicou à
Sociedade civil, especialmente as que descrevem o sistema das necessidades, onde,
entre outras considerações, achamos o reconhecimento da importância e da novidade
da economia política, "ciência que faz honra ao pensamento", constituem
representação fiel das relações econômicas entre indivíduos em conflito entre si,
características da imagem que a sociedade burguesa tem de si mesma.
Foi com Marx que se deu a passagem do significado de sociedade civil, nas
várias acepções até aqui mostradas, ao significado de "sociedade burguesa". Quando
Marx, na Questão hebraica, descreve o processo através do qual a Sociedade civil se
emancipa do Estado, que impede seu livre desenvolvimento, e se cinde em indivíduos
independentes que se proclamam libertos e iguais perante o Estado, e quando critica
os pretensos direitos naturais, universais e abstratamente humanos, como direitos que

32
nascem da própria sociedade civil, deixa claro que, por sociedade civil, devemos
entender "sociedade burguesa".
O homem, membro da sociedade burguesa, é agora a base, o pressuposto do
Estado político. “Ele é reconhecido como tal pelo Estado nos direitos do homem”. O
que importa relevar é que, na medida em que Marx faz da sociedade civil o espaço
onde têm lugar as relações econômicas, as relações que caracterizam a estrutura de
cada sociedade, ou "a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e
política", a expressão sociedade civil, significava, conforme a etimologia, a sociedade
política e o Estado, passa a significar (e significará cada vez mais de agora em diante
por influência do pensamento marxista) a sociedade pré-estatal;
Portanto, tem a mesma função conceptual que tinha, para os escritores
jusnaturalistas, o Estado de natureza ou a sociedade natural, que era exatamente a
sociedade das relações naturais ou econômicas entre os indivíduos, de cuja
insuficiência nascia a necessidade de evoluir para uma fase superior de agregação (de
civilização) que seria a sociedade política ou Estado.

6.6 A sociedade civil em Gramsci

Gramsci também distingue repetidamente sociedade civil e Estado. Esta distinção


é um dos motivos condutores da análise histórica e política que ele faz, em Cadernos
do cárcere, da sociedade burguesa e da evolução da sociedade burguesa para a
sociedade socialista. Esta distinção, porém, apesar da identidade da terminologia, não
coincide com aquela de Marx.
A expressão “sociedade civil” adquire assim, na obra mais madura de Gramsci,
um quinto significado. Ele afirma: "Podem-se por enquanto fixar dois grandes planos
superestruturais, o que se pode chamar da Sociedade civil, ou seja, do conjunto de
organismos vulgarmente denominados privados, e o da sociedade política ou Estado,
que correspondem à função de hegemonia que o grupo dominante exerce em toda a
sociedade, e ao do domínio direto ou de comando que se expressa no Estado ou no
Governo jurídico".
Em suma, Gramsci serviu-se da expressão Sociedade civil, não para contrapor a
estrutura à superestrutura, mas para distinguir melhor do que o haviam feito os

33
marxistas precedentes, no âmbito da superestrutura, o momento da direção cultural do
momento do domínio político.

6.7 Sociedade, Comunitarismo e Liberalismo

Em oposição a este modo de ver a sociedade, e nela os valores ético-políticos


que orientam a ação dos indivíduos, o comunitarismo propõe uma filosofia baseada no
pertencimento social e, ao ressaltar valores comunais próximos ao ideal da virtude
cívica, sob o lema de que o bem deve ser correlato ao justo, pretende destacar a
conformação social do sujeito engajado e imerso nas diversas configurações do viver
comum. O comunitarismo aspira, assim, não só a corrigir os desvios da filosofia liberal
na obliteração dos valores sociais, como também reavaliar a acusação antimodernista
do comunitarismo de Aristóteles.
No que diz respeito ao primeiro aspecto, a tese aristotélica da radical
sociabilidade do ser humano atesta a insuficiência de uma vida isolada: aquele que vive
sem cidade ou é um ser degradado (um animal) ou está acima da humanidade (um
deus), "comparável ao homem ignominiosamente tratado por Homero como 'sem
família, sem lei sem lar".
No Livro IX da "Ética a Nicômaco", o filósofo, ao analisar a virtude ética da
amizade, observa que a felicidade está atrelada à convivência humana, ao fato do viver
junto com os outros em relações de compartilhamento social, uma vez que "não menos
estranho seria fazer do homem feliz um solitário, pois ninguém escolheria a posse do
mundo inteiro sob a condição de viver só, já que o homem é um ser político e está em
sua natureza o viver em sociedade".
Dentro da psicologia moderna, os interacionistas Piaget e Wallon e o
sociointeracionista Vygotsky têm um trabalho brilhante a respeito da condição social
humana e do papel das relações sociais no desenvolvimento dos indivíduos e da
sociedade e, utilizando-se de diferentes matrizes epistemológicas, esses três
estudiosos defendem que a relevância do meio social para a espécie humana, e de
cada sujeito para o seu meio em um processo recíproco de trocas, envolvem aspectos
cognitivos e socioafetivos que são fundamentais para a construção individual dos
sujeitos e das sociedades.

34
Ao introduzir novas determinações na esfera do ser social e da política, “a
dinâmica do desenvolvimento histórico-ontológico tornou necessária à
superação dialética de uma concepção ‘restrita’ do Estado, na medida em que
o próprio Estado se ampliou objetivamente [...]” (COUTINHO, 1996, apud
KOLODY, 2011, p. 38).

Existem duas teorias que procuram dar conta do conceito de Sociedade: a teoria
organicista, cujas origens podem ser encontradas desde a filosofia grega, que entende
que o homem é um ser eminentemente social e por isso não pode viver fora da
sociedade, entendendo o indivíduo como uma parte “orgânica” da sociedade; e a teoria
mecanicista, que entende o homem como um ser primário que vale por si mesmo e do
qual todos os ordenamentos sociais emanam como derivações secundárias.
Para os primeiros, a Sociedade é definida como “o conjunto das relações
mediante as quais vários indivíduos vivem e atuam solidariamente em ordem a formar
uma entidade nova e superior”. Já os mecanicistas entendem a Sociedade como um
grupo derivado de indivíduos que buscam objetivos em comum, mas que,
individualmente, seriam impossíveis de serem alcançados.
Os mecanicistas criticam essa visão “biologizante” da sociedade, pois, segundo
eles, na sociedade ocorrem fenômenos que não acham equivalente no corpo humano:
as migrações, a mobilidade social e o suicídio, por exemplo. Além disso, dizem: as
partes do organismo não vivem por si mesmas, sendo impossível imaginá-las fora do
ser que a integram e nem podemos admiti-las noutra posição que não seja aquela que
a natureza lhes determinou, bem diferente do que pode suceder com os indivíduos na
sociedade.
Em que momento, dessa evolução da sociedade, a ideia de Constituição surgiu?
Ela está associada à renovação ou ao restabelecimento do pacto social, ocorrido no
início da Idade Moderna (Renascimento) em oposição à decadente ordem feudal e
também aos excessos do absolutismo monárquico. Trata-se de um pacto, um acordo
estabelecido entre os diversos segmentos de uma sociedade para a definição das
regras fundamentais da convivência social em determinado território.

35
7 O ESTADO

Fonte: www.ibccoaching.com.br

Todo regime político, com sua respectiva ordem constitucional, fornecerá uma
resposta própria a cada uma dessas questões, de acordo com as possibilidades do
momento histórico. O Estado se vincula a uma forma organizacional cujo significado é
de natureza política, e apesar de ser um conceito amplo, existe considerável
discordância sobre a sua caracterização.
Ao longo da história o Estado foi adquirindo características e elementos bem
diferentes, mas, de forma geral, é possível entender o Estado como um poder central
(estatal) que possui plenos poderes sobre seu território. Ao longo da História foram
identificados alguns “modelos estatais” bem distintos entre si, sendo eles: o Estado
Absolutista, o Estado Liberal-Democrático, o Estado Totalitário e o Estado de Bem-
Estar Social.
O Estado se utiliza de ferramentas de arrecadação e transferência para, em tese,
retirar daqueles que possuem mais e repassar aos que possuem menos, possuindo um
monopólio de poder ao qual ele “retira” determinados bens de um indivíduo “A” e realiza
o repasse de forma igualitária aos usuários “B”, “C” e “D”. Um bom exemplo disto é a
cobrança de Imposto de Renda (IR), o qual tributa os cidadãos brasileiros de acordo
com o montante de bens declarados (e adquiridos) e realiza a aplicação da cobrança

36
dos impostos em benfeitorias públicas. Assim sendo, o Estado se apropria de um bem
privado (valores monetários de um indivíduo), tornando-o um bem público (os valores
monetários individuais tornam-se do Estado) e por fim o aplica em fim público (saúde,
educação, segurança e etc.).
Em tal caso, para a garantia da sociedade, o Estado reúne objetivos de caráter
fundamental, que são efetivados por um conjunto de políticas de Estado e de Governo.
Assim, no contexto político, o Estado é produto da sociedade, mas não se confunde
com ela, porque a sociedade vem primeiro, o Estado vem depois, ou melhor, o Estado
é uma ordem política da sociedade.
Nesse ponto de vista, o pensador Nicolau Maquiavel foi famoso da época do
Renascimento. Filho de pais pobres, Maquiavel desde cedo se interessou pelos
estudos, tornando-se um importante historiador, diplomata, poeta, músico, filósofo e
político italiano. Viveu durante o governo de Lourenço de Médici. Sua educação, porém,
foi fraca quando comparada com a de outros humanistas, devido aos poucos recursos
de sua família.
Sua obra mais importante foi escrita em 1513. Em O Príncipe, Maquiavel
aconselha os governantes sobre como governar e manter o poder absoluto, mesmo
que seja necessário utilizar forças militares para alcançar tal objetivo; sugerindo, no
entanto, a famosa expressão: “os fins justificam os meios”, transmitindo a ideia de que
não importa o que o governante faça em seus domínios, tudo é válido para manter-se
como autoridade.
Em outras palavras, os governantes precisam estar acima da ética e moral
dominante para realizar seus planos. Todavia, essa expressão não se encontra no
texto, foi apenas uma interpretação tradicional do pensamento maquiavélico. Esta obra
tentava resgatar o sentimento patriota do povo italiano, e foi escrita no contexto que
tinha como ideal a unificação italiana, ficando evidente, nesse ponto, a originalidade do
pensamento político de Maquiavel.
O termo “maquiavélico”, por exemplo, acabou surgindo para fazer referência aos
atos imorais, desleais ou violentos que as pessoas utilizam para obter vantagem. No
entanto, o próprio Maquiavel defendia a ética na política, o que faz o sentido pejorativo
desse termo ser, de certa forma, uma definição injusta dos ideais de Nicolau. Sua
maneira de impor as ideias era diferente do estilo dos cientistas naturais da época.

37
7.1 Nação

Nação e Estado são duas realidades distintas e inconfundíveis. A Nação é uma


realidade sociológica, essencialmente de ordem subjetiva; o Estado, uma realidade
jurídica, conceito necessariamente objetivo. Todavia, a Nação tem seu conceito ligado
à identidade, à cultura e aos aspectos históricos, através do agrupamento ou
organização de uma sociedade que partilha dos mesmos costumes, características,
idioma, cultura e que já possuem uma determinada tradição histórica.
O “Estado-nação”, também denominado Estado nacional ou país, é uma unidade
político-territorial; não deve, portanto, ser confundido com o Estado, porque este é um
de seus componentes ao lado da nação ou da sociedade civil e do território. Nação e
sociedade civil são as duas formas através das quais as sociedades modernas se
organizam para controlar o Estado e realizar seus objetivos políticos. Raramente são
colocadas lado a lado, e o entendimento a respeito de seu conceito é sempre confuso.
Neste trabalho, apresentarei minha visão sobre esses quatro conceitos, e procurarei
mostrar, de forma sumária, como eles se relacionam, e como se materializam em
formas históricas de sociedade e de Estado.
Essas noções passaram a ser tema clássico nas discussões filosóficas e
políticas no ocidente. Ambos nascem por contraste com um estado primitivo de
sociedade em que o homem vivia sem outras leis senão as leis naturais. Nasce,
portanto com instituição de um poder comum que só é capaz de garantir aos indivíduos
associados alguns bens fundamentais, como a paz, a liberdade, a propriedade a
segurança.
Dessa forma, há os que perguntam: que relações esses órgãos mantêm entre
si? Ou, que relações o Estado mantém com a sociedade? E, ainda: o Estado é apenas
um aparelho repressivo ou também pode ter funções protetoras? Em vista da
complexidade do conceito de Estado, torna‐se absolutamente necessário evitar tratá‐lo
parcialmente ou com estereótipos, como o que sugere que ele sempre está voltado
para o bem comum ou que existe para servir a uma única classe (a burguesia, por
exemplo); ou ainda que ele seja o mais frio de todos os monstros, como dizia Nietzsche.

38
7.2 Governo

Historicamente, Governo e Estado distinguiram‐se um do outro, ao mesmo


tempo em que o Estado se diferenciou da Sociedade ao fortalecer seu domínio sobre
esta por meio de aparatos burocráticos, legais e ideológicos, conformando o Estado
absolutista monárquico e, nessa relação de dominação, também se tornou clara a
distinção – até então inexistente – entre uma instância de caráter universal, identificada
como pública (coberta pela lei e usualmente associada ao Estado), e outra particular,
tida como privada, na qual as pessoas teriam, individualmente, liberdades civis
protegidas (de constituir família, de firmar contratos, de fazer testamentos, de ir e vir,
de pensamento e de fé).
Consequentemente, o governo pode ser compreendido como apenas uma das
instituições que compõem o Estado, com a função de administrá-lo. Os governos são
transitórios e apresentam diferentes formas, que variam de um lugar para outro,
enquanto os Estados são permanentes (ao menos enquanto durar o atual sistema
capitalista).

7.3 Cidadania

Ainda que a promoção da cidadania esteja presente em vários artigos da Carta


Magna, é notório o desconhecimento dos direitos e deveres por parte da população.
Diariamente, por exemplo, a mídia estampa práticas de corrupção associadas à “coisa
pública”, comportamento advindo de alguns traços culturais que acabaram por
conformar nossa identidade, revelando a necessidade de maior transparência e de
participação popular no processo decisório e de controle social.
Existem vários conceitos que definem o conceito de cidadania. O pedagogo e
filósofo Moacir Gadotti (1998), por exemplo, ressalta o aspecto ético do termo, ao defini-
lo como a “consciência de direitos e deveres no exercício da democracia”. Os direitos
para a cidadania envolvem:
•Direitos políticos: referentes à participação do cidadão no governo da
sociedade, como a capacidade de se organizar em partidos, de votar e de ser votado.

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Esses direitos têm como instituição principal os partidos e um parlamento livre e
representativo. Eles conferem legitimidade à organização política da sociedade. Sua
base é a ideia de autogoverno;
•Direitos sociais: garantem a participação na riqueza coletiva. Neles incluem-
se os direitos à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à aposentadoria.
As noções de cidadania e de sociedade civil procuram evidenciar de que forma
elas evoluíram historicamente uma em relação à outra.

7.4 Povo

Conforme visto, o Estado pode ser entendido como uma instituição que tem por
objetivo organizar a vontade do povo politicamente constituído, dentro de um território
definido, tendo como uma de suas características o exercício do poder coercitivo sobre
os membros da sociedade.
A organização político-jurídica de uma coletividade objetiva o bem comum,
conforme os aspectos essenciais para a existência de um Estado. O povo, portanto, é
o conjunto de cidadãos que instituem e ao mesmo tempo se subordinam ao poder
soberano, possuindo direitos iguais perante a lei, ou melhor, é o elemento principal e
sem ele não haveria a necessidade de criar uma sociedade.
Diz respeito a todos que habitam o território, englobando todas as pessoas,
mesmo que elas estejam temporariamente no território ou que não tenham qualquer
vínculo com o Estado. Mas há uma diferença entre as referências de população, povo
e cidadão, isto é, a “população” refere-se a brasileiros e a estrangeiros (em território
nacional), o “povo” se caracteriza pelos natos e naturalizados, e os “cidadãos” são os
nacionais que possuem direitos políticos.

7.5 Território

O Estado é a instituição oficial que administra o território de um país, enquanto


o estado é uma das partes do país, o mesmo que uma província. Logo, o “território” é
a área delimitada da superfície da terra, que contém a nação, onde o Estado exerce a
sua soberania, ou seja, o lugar onde há aplicação do ordenamento jurídico, a base física
em que está fixado o elemento humano. É nele que o governo pode exercer a sua

40
organização e validar suas normas jurídicas, constituindo-se do solo, subsolo, águas
territoriais, ilhas, rios, lagos, portos, mar e espaço aéreo.
A definição mais aceita sobre território, entre os geógrafos, é o espaço
geográfico apropriado por relações de poder, ou seja, quando uma pessoa ou uma
organização exerce um domínio ou um poder sobre uma determinada área, ela passa
a ser o seu território. O território político, por exemplo, é o espaço administrado pelo
Estado, ou seja, as organizações públicas que administram o país, as unidades
federativas e os municípios. O território brasileiro é o espaço administrado pelo governo
brasileiro, é onde o país exerce o seu domínio e suas relações de poder, ou seja, a sua
soberania.
Conquanto, a unidade administrativa chamada “Estado” não existe sem território
e é formado pelo conjunto de instituições públicas que representam, organizam e
atendem (ao menos em tese) os anseios da população que habita o seu território. Entre
essas instituições, pode-se citar o governo, as escolas, as prisões, os hospitais
públicos, o exército, dentre outras. O Estado para alguns é compreendido como uma
organização com poder de legislar e tributar, para outros é também o sistema
constitucional-legal, e para outros ainda, confunde-se com o Estado-nação.

8 ESTADO, ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO

Fonte: contratempo.info

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O Estado é uma organização destinada a manter, pela aplicação do Direito, as
condições universais de ordem social, ou seja, a instituição fundamental das
sociedades capazes de produzir permanentemente excedente econômico, estando
presente em todos os lugares em que os sujeitos estão; já que é órgão que regula não
apenas o cotidiano, mas também as atividades econômicas.
O Direito está relacionado ao conjunto das condições existenciais da sociedade,
que ao Estado cumpre assegurar. No entanto, para o estudo do fenômeno estatal, tanto
quanto para a iniciação na ciência jurídica, o primeiro problema a ser enfrentado é o
das relações entre Estado e Direito.

8.1 Estado Absolutista

Como o próprio nome sugere, no Estado Absolutista, o monarca é dotado de


poderes absolutos. Estas monarquias foram se constituindo historicamente por toda a
Europa, desde Portugal, Espanha (com a unificação dos reinos de Aragão e Castela
em 1476), França (a partir do reinado de Felipe IV 1285-1314) e a Inglaterra (com a
monarquia dos Tudor). Com o Estado Absolutista se forma a noção central do Estado
Moderno que é o conceito de “soberania”, teorizada por filósofos como Jean Bodin,
Thomas Hobbes, Rousseau, entre outros: “a soberania implica a ideia de que o Estado
é o poder central de uma determinada sociedade sob a qual nenhum outro poder pode
elevar-se”.
A primeira limitação serve, antes de tudo, para manter as distâncias da
experiência oriental e eslava do despotismo cesaropapista. A segunda serve para
diferenciar a organização "absolutista" do poder do sistema político feudal anterior e da
antiga. A terceira, finalmente, serve para lembrar os contornos concretos que o
Absolutismo assumiu como "forma" histórica de Poder.

8.2 Estado Liberal-Democrático

Durante a modernidade, filósofos e pensadores políticos concentraram boa parte


de suas reflexões sobre o Estado de tal modo que podemos dizer que a história da
política moderna e a história do Estado se confundem. Prova disso, são as teorias

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contratualistas que procuram dar conta da reflexão sobre a origem do Estado e como
este surgiu.
Além das teorias do liberalismo político/econômico e do socialismo/comunismo
onde o Estado representa um dos principais pontos de divergência entre estas duas
correntes de pensamento. De forma geral, alguns autores defendem a ideia de que o
Estado representa o bem comum e os interesses gerais da sociedade. Contudo, esta
ideia foi amplamente criticada pela teoria marxista, segundo o qual, “o Estado é um
instrumento de domínio de uma classe social sobre a outra”.
Para Marx, que em certo sentido concorda com Rousseau, o Estado surge como
uma forma de apropriação da classe dominante, que primeiro conquista o poder político
através do Estado para apresentar seu interesse como sendo o interesse geral da
sociedade. Ora, é exatamente por isso que Rousseau afirma, em uma de suas
passagens mais célebres, que o primeiro homem que cercou um lote de terra e disse,
“isto é, meu”, provocou um dos maiores males para a sociedade, pois o Estado surge
a partir de um contrato social, não para garantir o direito de todos, mas o direito
daqueles que detém a propriedade privada.
Por isso o filósofo genebrino afirma que este primeiro contrato não foi legítimo,
pois apenas assegurou o direito dos “ricos”: dos que passaram a ter bens e posses. Da
mesma forma, Marx afirma em sua Ideologia Alemã que o Estado adquiriu uma
existência particular como uma forma de organização para que os burgueses
garantissem sua propriedade e seus interesses.
Refletindo sobre a compreensão moderna de Estado (e de modo mais específico
os "Estados nacionais"), Habermas define juridicamente como sendo: “do ponto de vista
objetivo, refere-se a um poder estatal soberano, tanto interna quanto externamente;
quanto ao espaço, refere-se a uma área claramente delimitada, o território do Estado;
e socialmente refere-se ao conjunto de seus integrantes, o povo do Estado”. Estas
teorias, e ainda outras, envolvem basicamente o processo de formação e consolidação
do Estado tal como conhecemos hoje.
A construção do Estado Liberal-Democrático envolveu – além de estar marcada
pela construção dos direitos civis e políticos – a submissão das monarquias nacionais
absolutistas ao poder do Parlamento e a regulação daquela através de Constituições,
ou seja, o Parlamento passou a controlar o rei através da Constituição. Essa luta contra
o absolutismo dos monarcas pode ser facilmente percebida através de pelo menos três

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grandes movimentos históricos: a Revolução gloriosa (a luta entre a coroa inglesa, o
parlamento e a burguesia ocorrida na Inglaterra no século XVII), a Revolução
americana (a independência das 13 colônias que se intitularam “Estado Unidos” em
1776) e a Revolução francesa (com a deposição do Rei Luís XVI e a inauguração da
“república francesa”).
O que estas três Revoluções têm em comum e que nos ajudam a entender o
surgimento do Estado Liberal-Democrático é o fato de que todas proclamaram algum
tipo de direitos para os cidadãos: a primeira proclamou a Bill of rights, a Lei dos Direitos
dos Cidadãos (1689), que garantia a proteção de todo indivíduo diante do governo; a
segunda organizou o Estado a partir da Declaração da Independência que garantia os
direitos dos indivíduos e submeteu o poder da federação à Constituição de 1787; e a
terceira redigiu a Declaração dos direitos do homem e do cidadão (1789) além da
Constituição de 1791 que submetia o poder do rei ao poder do parlamento.
Em todas estas revoluções, o poder do monarca foi sendo limitado pela lei
visando preservar a liberdade e garantir os direitos individuais. Essa garantia das
liberdades individuais é o que dá origem ao conceito de um Estado Liberal. Além disso,
com a garantia dos direitos individuais (civis e políticos), podemos dizer que foi a
construção do Estado Liberal-Democrático que deu origem ao que é conhecido hoje
como o “Estado democrático de direito”.
Apesar de todos estes movimentos, no sentido de proteger as liberdades
individuais e garantir plenos direitos aos cidadãos, isto não impediu o século XX de ver
surgir regimes totalitários que exacerba a noção de soberania e submete os indivíduos
e a própria sociedade ao poder do Estado: são os Estados Totalitários, como o fascismo
(na Itália, com Benito Mussolini), o nazismo (ou o nacional-socialismo na Alemanha,
com Adolf Hitler) e o stalinismo (na Rússia, com Josef Stálin).
Mussolini chegou ao poder em 1922, quando foi nomeado primeiro-ministro e
defendia a prioridade do Estado diante do indivíduo. “A palavra ‘fascismo’ vem do
italiano ‘fascio’ e quer dizer um feixe amarrado por cordas. Esta imagem resume bem
a ideologia do fascismo. Nesta visão, o Estado funciona como a amarra que mantém a
unidade do feixe” (SELL, 2006, p. 127). Sobre o Fascismo, Norberto Bobbio escreveu
uma obra intitulada Dal fascismo alla democrazia (Do fascismo à democracia),
traduzida para o português, que aprofunda o debate em torno do regime fascista: sua
origem, os acontecimentos que conduziram à gênese e à afirmação do fascismo, sua

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ideologia, a difusão da resistência contra o regime, sua queda e a instauração da
democracia constitucional, além de alguns personagens ligados ao regime.
Em 1932 Hitler chegou ao poder como líder do “Partido Nacional Socialista dos
Trabalhadores Alemães” e, como no fascismo, acreditava que o Estado precede o
indivíduo e tinha também um componente racial, defendendo a ideia da superioridade
da raça ariana diante de outras raças. Antes do fascismo e do nazismo, a Rússia viveu
no começo do século também um período marcado por revoluções, culminando em
1917 com a Revolução Russa que deu origem a União Soviética, mas foi só em 1924
que Stalin chegou ao poder e nele permaneceu até 1953, liderando um processo
acelerado de industrialização, expropriação das propriedades camponesas utilizando-
se do poder estatal.
Apesar das diferenças históricas, os estudiosos identificam nos movimentos e
regimes totalitários algumas semelhanças estruturais que configuram suas
características básicas. Entre elas é possível citar: 1) existência de um partido único de
massa, fortemente hierarquizado; 2) ideologia autoritária, voltada para o culto do
Estado, da força e da figura do poder político; 3) mobilização das massas através do
uso de instrumentos de propaganda; 4) repressão e perseguição política a todas as
formas de oposição política; 5) direção estatal e centralizada da economia.

8.3 A crise no liberalismo

O liberalismo é uma doutrina político-econômica e sistema doutrinário que se


caracteriza pela sua atitude de abertura e tolerância a vários níveis. De acordo com
essa doutrina, o interesse geral requer o respeito pela liberdade cívica, econômica e da
consciência dos cidadãos. O liberalismo surgiu na época do iluminismo contra a
tendência absolutista e indica que a razão humana e o direito inalienável à ação e
realização própria, livre e sem limites, são o melhor caminho para a satisfação dos
desejos e necessidades da humanidade. Este otimismo da razão exigia não só a
liberdade de pensamento, mas também a liberdade política e econômica.
O liberalismo acreditava no progresso da humanidade a partir da livre
concorrência das forças sociais e era contrário às acusações das autoridades
(religiosas ou estatais) sobre a conduta do indivíduo, tanto no campo ideológico como
no campo material, devido à sua desconfiança básica sobre todo o tipo de obrigação

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(individual e coletiva). Na sua origem, o liberalismo defendia não só as liberdades
individuais, mas também as dos povos, e chegou mesmo a colaborar com os novos
movimentos de libertação nacional surgidos durante o século XIX, tanto na Europa
como nos territórios ultramarinos (sobretudo na América Latina).
No âmbito político, o liberalismo deu os seus primeiros passos com a revolução
francesa e americana; os direitos humanos constituíram seguidamente o seu primeiro
ato de fé político. O liberalismo foi a ideologia política da burguesia (liberal), a qual,
amparada por essa ideologia, conseguiu conquistar uma posição predominante durante
o século XIX e até a I Guerra Mundial, altura em que se tornou a força política dominante
em quase todo o mundo ocidental.
O princípio da liberdade na vida econômica, proclamado pelo liberalismo, se
desenvolveu primeiramente em condições de grandes desigualdades sociais (como
consequência da falhada libertação do campesinato na Europa, guerras napoleônicas
e do rápido crescimento demográfico), e posteriormente teve uma forte reação através
das doutrinas socialistas e comunistas, cujos movimentos se tornaram opositores do
liberalismo bem mais fortes do que as correntes conservadoras e tradicionais.
O fracasso do liberalismo face aos grandes problemas políticos e sociais que,
depois da I Guerra Mundial, surgiram na Europa central teve como consequência que
a Alemanha, Itália e outros países mergulhassem em crises profundas e prolongadas,
que contribuiu para o florescimento de sistemas totalitários (fascismo, nacional-
socialismo, falangismo, etc.). Posteriormente à II Guerra Mundial e em face de outros
movimentos de tendência democrata-cristã ou socialdemocrata, o liberalismo ressurgiu,
pretendendo constituir de novo uma opção no campo político e econômico.
Em diferentes locais do globo, a doutrina liberal deparou-se com problemas
estruturais diferentes, cuja solução influenciou cada forma específica de liberalismo e
levou à formação de diversas formas de pensar – todas liberais, todas compartilhando
a mesma essência liberal –, mas ao mesmo tempo diferentes em muitos aspectos
relevantes. Assim, até hoje o termo “liberal” tem significados diferentes conforme o país
em que é pronunciado.
O termo “liberalismo” padece de um alto grau de polissemia, pois sua formação
e maturação como doutrina econômica e ideologia social se desenvolveram ao longo
dos séculos XVII a XX. A crise econômica de 1929, com a quebra da Bolsa de Nova
York, seguida de uma profunda recessão mundial, demonstrou a fragilidade do regime

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econômico liberal de mercado. De fato, o descontrole econômico provocado pelo
regime de plena liberdade de mercado desencadeou graves prejuízos sociais e fortes
perturbações políticas que criaram as condições materiais para o surgimento ou
fortalecimento de regimes totalitários (o nazismo e o fascismo).
A crise levou governantes de diversos países e diferentes orientações políticas
à convicção de que somente a forte intervenção estatal poderia atenuar o desemprego
e minorar as disparidades de renda. O economista britânico John Maynard Keynes
(1883-1946) foi o grande teórico que advogou uma maior presença do Estado nas
economias de mercado. Keynes atribuiu ao Estado o direito e o dever de conceder
benefícios sociais que garantam à população um padrão mínimo de vida como a criação
do salário-mínimo, do salário-desemprego, a redução da jornada de trabalho e
assistência médica gratuita. O keynesianismo ficou conhecido como Estado de Bem-
Estar Social.

8.4 Neoliberalismo, globalização e desemprego estrutural

A partir da crise mundial do petróleo de 1973, seguida pela onda inflacionária


globalizada que surpreendeu os países cujo Estado de Bem-Estar Social já fora
consolidado, o liberalismo, gradativamente, voltou à cena, devidamente adaptado à
realidade política, econômica e social de um mundo crescentemente globalizado.
Nessa nova aplicação, recebeu o nome de neoliberalismo. Exemplos de governos que
adotaram o neoliberalismo foram os de Margaret Thatcher (1925-2013), na Inglaterra
(1979-1990), e de Ronald Reagan (1911-2004), nos Estados Unidos (1981-1989).
Apesar disso, os setores estratégicos dessas economias ainda continuam sob
significativo protecionismo.
No Brasil, a política neoliberal adotou as medidas preconizadas no Consenso de
Washington (1989), da abertura comercial indiscriminada, da desregulamentação dos
mercados financeiros com as privatizações e com as novas formas de relações de
trabalho. Os efeitos da intensa globalização financeira e do neoliberalismo começaram
a chamar a atenção da opinião pública mundial quando a recessão econômica abateu
alguns espaços da economia americana.
Nossa época é caracterizada por uma técnica de altíssima precisão científica, o
que favorece um elevado grau de intencionalidade no seu uso. Os atores hegemônicos

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se apropriam dessa técnica para aumentarem seu poder. Como a técnica se tornou
planetária, os atores também se tornaram planetários. Dessa forma, a globalização é
uma forma de casamento da técnica com a política, agora exercida pelos atores
hegemônicos (grandes transnacionais), e não mais pelos Estados. A técnica
hegemônica é a base de dois outros fenômenos também inéditos, que são a informação
e o dinheiro globalizados, que tornaram as fronteiras permeáveis, resultando na
diminuição do poder interno das nações.
As principais características da globalização são a homogeneização dos centros
urbanos, a expansão das corporações para regiões fora de seus núcleos geopolíticos,
a revolução tecnológica nas comunicações e na eletrônica, a reorganização geopolítica
do mundo em blocos comerciais (não mais ideológicos) e a hibridização entre culturas
populares locais e uma cultura de massa universal.

8.5 Estado Democrático

O termo “Estado Democrático de Direito”, conquanto venha sendo largamente


utilizado em nossos dias, é pouco compreendido e de difícil conceituação em face das
múltiplas facetas que ele encerra. No Estado contemporâneo, em virtude da
maximização do papel do poder público, que se encontra presente em praticamente
todas as áreas das relações humanas, a expressão “Estado Democrático de Direito”
ganha uma extensão quase que ilimitada, mas, consequente e paradoxalmente, perde
muito em compreensão.
O fato de esse termo ter sido incluído em nosso atual texto constitucional, no seu
primeiro artigo, adjetivando a República Federativa do Brasil, torna obrigatório a sua
compreensão, com todas as consequências que dela podem e devem advir. Não
obstante, esse status constitucional não torna essa tarefa mais fácil: ao contrário,
aumenta a responsabilidade do intérprete constitucional, especialmente em razão das
implicações, das mais diversas naturezas, que possam se originar do entendimento –
e sua consequente aplicação – do que venha a ser “O Estado Democrático de Direito”.
A fluidez do termo ora em exame está diretamente relacionada aos diferentes
tipos de Estados hoje existentes, variações essas que influenciam e dificultam uma
generalização a esse respeito. E, além disso, impor-lhe uma definição única,
indisputável, seria desconsiderar a existência de inúmeras formulações teóricas e

48
constatações empíricas do que sejam “democracia” e “direito”, conceitos ligados ao
primeiro termo e que também correm como líquido. Entretanto, sem embargo das
vicissitudes que se apresentam o estudo do “Estado Democrático de Direito” permite
uma abordagem histórica, pela qual se pode entender a sua evolução no tempo e em
face dos fatos que o influenciaram que certamente serve de caminho para a sua melhor
compreensão, isto é, além disso, a análise de princípios que com ele se relacionam e
o dirigem ajudará a explicar os laços que enfeixam o referido conceito.

9 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DOS PODERES

Fonte: pleno.news

O poder é caracterizado pela soberania perante um território delimitado. Para o


Jurista Miguel Reale, a soberania é o “[…] poder que tem uma nação de organizar-se
juridicamente e de fazer valer dentro de seu território a universalidade de suas decisões
nos limites e dos fins éticos de convivência”. No entanto, “poder” e “política” estão
associados. Para o sociólogo alemão Max Weber o poder é toda a ocasião que permite
a imposição de uma vontade no âmbito de uma relação social, mesmo que para tanto
sejam enfrentadas resistências.
Desse modo o poder é exercido tanto por organizações e governos, como em
pequenos grupos sociais ou relações intimas. Nesse contexto, para que o poder político
se consolide ele precisa se manifestar por autoridade, coerção ou influência. Enquanto
sistema normativo com poder coercitivo o Estado é a ordem jurídica e o sistema político;

49
enquanto organização é o aparelho ou administração pública que garante o sistema
constitucional-legal.
Nesse sentido, as discussões sobre a sociedade civil foram travadas desde sua
gênese junto ao conceito de Estado, isto é, uma relação que vem sendo construída com
a história da própria humanidade. Todavia, a concepção de Estado e sociedade civil se
configurou a partir do conhecimento construído no bojo do iluminismo, na medida em
que a razão foi possibilitando questionar os dogmas fundados na imobilidade social e
no poder enquanto algo que decorria da divindade. Estes inauguraram um campo de
reflexão que possibilitou transformações drásticas nas relações sociais no mundo
moderno.

9.1 Os três poderes

O Estado, com “E” maiúsculo, é formado pela união de Três Poderes de


diferentes áreas: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Essa estrutura foi criada há
muito tempo pelo pensador francês chamado de Montesquieu e passou assim a
caracterizar a República, tal como é no Brasil. A organização do poder político no Brasil
se baseia no conceito de separação dos poderes. Conceito desenvolvido pelo filósofo
francês Montesquieu no século XVIII em que o poder é dividido por três para que não
fique concentrado na mão de um só indivíduo como em uma Monarquia.
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 1º, dispõe que o Brasil é uma
República Federativa, constituída pela união indissolúvel dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e que esses entes têm autonomia política, administrativa e
financeira para cuidar dos interesses dos cidadãos. Para atender às finalidades
constitucionais, o Estado brasileiro exerce três funções básicas: legislativa, executiva e
judiciária. Desse modo, a teoria afirma que os três poderes devem atuar de forma
autônoma e independente, harmônica e ética.
 Poder judiciário: cuida da questão da justiça. O poder irá cuidar do
cumprimento das leis, das normas e de todas as questões jurídicas na
sociedade, ou seja, é o intérprete do real sentido das leis. É exercido pelo
Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, Tribunais
Regionais Federais e Juízes Federais, Tribunais e Juízes do Trabalho,

50
Tribunais e Juízes Eleitorais, Tribunais e Juízes Militares, Tribunais e
Juízes dos Estados e do Distrito Federal.
 Poder executivo: será o responsável por administrar o governo, como
fazem o presidente, o governador e o prefeito, isto é, sua missão é
proceder à execução das leis. É exercido pelo presidente da República,
auxiliado pelos ministros de Estado; além dos governadores e secretários
nos estados e prefeitos nos municípios;
 Poder legislativo: Poder Legislativo será o responsável por criar as leis
que regem uma sociedade, como fazem vereadores, deputados e
senadores. Cabe ao Congresso Nacional dispor sobre todas as matérias
de competência da União. Inclui-se ainda ao Legislativo em nível estadual
(Assembleias Legislativas ou Distritais) e municipal (Câmara e
Vereadores);

9.2 Administração pública

A Administração Pública desenvolve as atividades estatais visando o bem


comum. De acordo com a lei, compreende o conjunto de órgãos, funções e agentes
públicos, com a finalidade de desenvolver as atividades do Estado, visando à
consecução dos interesses coletivos. A Administração Pública é constituída da seguinte
maneira:
 Administração Pública Direta: entidades estatais, como a presidência
da República, as Secretarias Estaduais e Municipais;
 Administração Indireta: Autarquias, Fundações Públicas, Empresas
Públicas e Sociedades de Economia Mista.
A Constituição estabelece, no artigo 37, que as atividades desenvolvidas pela
Administração Pública devem obedecer aos seguintes princípios:
 Legalidade: obediência à lei;
 Impessoalidade: inexistência de preferências, privilégios ou
diferenciações não previstas em lei;
 Moralidade: princípios éticos de justiça, equidade e probidade;
 Publicidade: visibilidade e transparência das ações públicas;

51
 Eficiência: desempenho satisfatório das atividades, a fim de alcançar os
melhores resultados na prestação dos serviços públicos.
Nessa perspectiva, a análise da evolução do Estado de Direito para o Estado
Democrático de Direito é de suma importância para entender o sentido que se deve
empregar hodiernamente para o termo que dá nome ao presente escrito, que passará
pelo estudo dos fatores históricos que influenciaram a formação do conceito em
questão, tanto com relação à evolução do Direito como à transformação do Estado
Liberal em Estado Social.

10 O ESTADO DE BEM-ESTAR (WELFARE STATE)

Fonte: paraibageral.com.br

O Estado do Bem-estar também é conhecido por sua denominação em inglês,


“Welfare State”. Os termos servem basicamente para designar o Estado assistencial
que garante padrões mínimos de educação, saúde, habitação, renda e seguridade
social a todos os cidadãos.
Antecedentes
Em diferentes épocas e períodos históricos, é possível identificar vários tipos de
políticas assistenciais promovidas por inúmeros Estados. No transcurso do século
dezoito, por exemplo, países como Áustria, Rússia, Prússia e Espanha colocaram em
prática uma série de importantes políticas assistenciais. Porém, esses países
desenvolveram ações desse tipo nos marcos da estrutura de poder não democrático.

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Os países supracitados apresentavam ainda uma estrutura social tradicional
baseada na reconhecida divisão entre súditos e governantes. As políticas assistenciais
desenvolvidas por esses países se situavam no campo da justiça material, ou seja,
eram consideradas pelos súditos como dádivas.
Origens
O Estado do Bem-estar, tal como foi definido, surgiu após a Segunda Guerra
Mundial. Seu desenvolvimento está intimamente relacionado ao processo de
industrialização e os problemas sociais gerados a partir dele. A Grã-Bretanha foi o país
que se destacou na construção do Estado de Bem-estar com a aprovação, em 1942,
de uma série de providências nas áreas da saúde e escolarização. Nas décadas
seguintes, outros países seguiriam essa direção.
Ocorreu também uma vertiginosa ampliação dos serviços assistenciais públicos,
abarcando as áreas de renda, habitação e previdência social, entre outras.
Paralelamente à prestação de serviços sociais, o Estado do Bem-estar passou a intervir
fortemente na área econômica, de modo a regulamentar praticamente todas as
atividades produtivas a fim de assegurar a geração de riquezas materiais junto com a
diminuição das desigualdades sociais.
Nesse interim, o chamado “Welfare State” – surgiu nos países demo-liberais
após a crise de 1929 e a Segunda Guerra Mundial. Na América, com o processo de
emancipação política das Colônias, ocorrido no século XIX, a elaboração de
Constituições autônomas tornou-se ação necessária, fixando as regras básicas da
sociabilidade dos novos países.
O Constitucionalismo na América foi baseado nos fundamentos jurídicos
observados na Europa, no mesmo período. No entanto, algumas adaptações foram
realizadas para contemplar as exigências sociais e a destruição das bases políticas
coloniais, visando a construção de novos elementos nacionais. Daí a esperança de que
a humanidade possa adquirir, em futuro não tão distante, a igualdade de direitos e
dignidade para todos. Afinal, se a democracia é uma construção histórica, o que impede
de fazê-la mais justa e universal a cada dia?

53
10.1 Estado de Direito e Estado Social

Uma definição de Estado contemporâneo envolve numerosos problemas,


derivados principalmente da dificuldade de analisar exaustivamente as múltiplas
relações que se criaram entre o Estado e o complexo social e de captar, depois, os
seus efeitos sobre a racionalidade interna do sistema político. Uma abordagem que se
revela particularmente útil na investigação referente aos problemas subjacentes ao
desenvolvimento do Estado contemporâneo é a da análise da difícil coexistência das
formas do Estado de direito com os conteúdos do Estado social.
Os direitos fundamentais representam a tradicional tutela das liberdades
burguesas: liberdade pessoal, política e econômica. Constituem um dique contra a
intervenção do Estado. Pelo contrário, os direitos sociais representam direitos de
participação no poder político e na distribuição da riqueza social produzida, ou seja, a
forma do Estado oscila, assim, entre a liberdade e a participação.
Além disso, enquanto os direitos fundamentais representam a garantia do status
quo, os direitos sociais, pelo contrário, são a priori imprevisíveis, mas hão de ser sempre
atendidos onde emerjam do contexto social. Daí que a integração entre Estado de
direito e Estado social não possa dar-se a nível constitucional, mas só a nível legislativo
e administrativo. Se os direitos fundamentais são a garantia de uma sociedade
burguesa separada do Estado, os direitos sociais, pelo contrário, representam a via por
onde a sociedade entra no Estado, modificando sua estrutura formal.

O Estado de Direito é aquele em que os homens são governados pelo poder


da lei e não pelo poder de outros homens. A lei é a proposição jurídica que trata
igualmente todos que estejam na mesma situação. A vontade da lei se impõe
tanto aos particulares como aos agentes do Estado como pessoa de direitos e
obrigações. (NOGUEIRA, 1989 apud BRASIL, 2009, p. 28).

A mudança fundamental consistiu, a partir da segunda metade do século XIX, na


gradual integração do Estado político com a sociedade civil, que acabou por alterar a
forma jurídica do Estado, os processos de legitimação e a estrutura da administração.
No Estado de direito obrigatoriamente todos os direitos fundamentais do homem devem
ser protegidos pelo Estado: tanto os direitos políticos, como os sociais e os econômicos.
O Direito, através da legislação, vai definir o que pode ou não pode ser feito, tanto em

54
relação aos governantes como em relação aos cidadãos. No Estado de direito uma
decisão não pode ser contrária à legislação, ou seja, a lei não pode ser violada.
A estrutura do Estado de direito pode ser, assim, sistematizada como:
1) Estrutura formal do sistema jurídico, garantia das liberdades fundamentais
com a aplicação da lei geral-abstrata por parte de juízes independentes.
2) Estrutura material do sistema jurídico: liberdade de concorrência no mercado,
reconhecida no comércio aos sujeitos da propriedade.
3) Estrutura social do sistema jurídico: a questão social e as políticas reformistas
de integração da classe trabalhadora.
4) Estrutura política do sistema jurídico: separação e distribuição do poder. As
mudanças ocorridas na estrutura material e na estrutura social do sistema jurídico foram
origem das transformações a nível formal e político.

10.2 O capitalismo organizado

Pelos fins do século XIX e início do século XX, ocorreram transformações


profundas na estrutura material do Estado de direito, havendo sido radicalmente
alterada a forma da livre concorrência de mercado. “Organisierter Kapitalismus” é o
predicado que exprime esta importante mudança. Na Alemanha, por exemplo, este
momento de transformação se verificou depois dos anos 70, sendo favorecido por
algumas tendências:
a) a introdução de tecnologia avançada; a preferência dada às grandes empresas;
a formação planificada de “capital humano”''; a afirmação de um nacionalismo
econômico como ideologia de desenvolvimento;
b) a legislação liberal dos anos 70 — o novo direito industrial, bancário, comercial,
acionário e da Bolsa —, que criou para tal desenvolvimento um quadro institucional
considerado vantajoso pelos representantes dos bancos e das empresas. A forma da
propriedade também mudou, tornando-se disponível através das ações da Bolsa.
Ao mesmo tempo, a anarquia da produção encontrou um primeiro paliativo na
forma de planejamento econômico privado. Pôde-se assim assistir à formação de
grandes concentrações, que contaram com o apoio dos bancos, mesmo que não se
fundissem com eles. A tendência estava já esboçada: as formas separadas do capital

55
industrial, comercial e bancário se uniram na forma do capital financeiro, que foi a
realidade histórica em que se revelou o capitalismo organizado.
A relação Estado-economia foi, pois, modificada com a constituição do capital
financeiro e não pode consistir mais, como ao longo de todo o século XVIII, na
estranheza da política ao intercâmbio do mercado. O paradigma mudou: a política
econômica do Estado interfere agora diretamente, não só através de medidas
protecionistas em relação ao capital monopólico, mas também das manobras
monetárias do Banco Central e, pouco a pouco, mediante a criação de condições infra
estruturais favoráveis à valorização do capital industrial. De um ponto de vista teórico,
isto implica a passagem da economia política à análise e crítica da política econômica
do Estado.
A diversa estrutura material altera, pois, a lógica da política estatal, já que, a um
Estado que antes contribuiu, durante todo o século XVIII, para a criação da forma-
mercado, não só das mercadorias, mas também do trabalho, do dinheiro e da terra e
depois se limitou a garantir formalmente, desde fora, a estrutura da livre-troca, sucede
agora um Estado que intervém ativamente dentro do processo de valorização
capitalista.

10.3 O poder legal-racional

A uma sociedade estruturada com base nos automatismos do mercado


corresponde certo tipo de poder, que Weber define como legal-racional, e certo modo
de transmissão dos comandos concretos. À vista disso, “poder” é a possibilidade de
contar com a obediência a ordens específicas por parte de um determinado grupo de
pessoas.
Todo poder carece do aparelho administrativo para a execução das suas
determinações. O que legitima o poder não é tanto, ou não é só, uma motivação afetiva
ou racional relativa ao valor: a esta se junta a crença na sua legitimidade.
O poder do Estado de direito é racional quando, escreve Weber, "se apoia na
crença da legalidade dos ordenamentos estatuídos e do direito daqueles que foram
chamados a exercer o poder". Assim, a fé na legitimidade se resolve em fé na
legalidade, e a legitimação da administração que transmite o comando político é uma
legitimação legal. Contudo, nas sociedades ocidentais, a partir do século XVI, as

56
discussões filosóficas e políticas sobre o papel do Estado e da sociedade civil
contribuíram no estabelecimento de novas configurações nas relações entre Estado e
sociedade, configurando assim um Estado Moderno.

11 CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DO HOMEM

Fonte: new.safernet.org.br

A ideia de Constituição ganhou força associada às concepções do lluminismo no


século XVIII. Essa cosmovisão fundamenta-se nos conceitos de Indivíduo, Razão,
Natureza, Felicidade e Progresso. Concebe o homem como indivíduo que não se
confunde com a coletividade nem se funde nesta. Esse indivíduo é eminentemente
racional, determina sua vontade por uma razão que não aceita senão o que lhe pode
ser demonstrado. Razão que, portanto, rejeita os preconceitos, os dogmas, os
fundamentalismos, ou seja, tudo aquilo que não pode ser explicado objetivamente.

Nesta perspectiva, se pressupunha a garantia da representação popular, bem


como a publicização das decisões no âmbito do Estado, estabelecendo um
novo conceito de lei através de uma Constituição escrita. É com o desenho
moderno de Estado que se estabelece a distinção entre Estado e Sociedade
Civil, “[...] muito embora Estado seja a expressão da sociedade civil”
(SIQUEIRA, 2005, apud KOLODY, 2011, p. 35).

Segundo Rousseau, esse indivíduo vive em um mundo governado, em última


instância, por uma natureza boa e previdente. Dessa natureza resultam leis (naturais)
que conduzem à melhor das situações possíveis, desde que não maculadas pela ação

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dos homens. Essa cosmovisão é fonte do liberalismo político e econômico, que
prevalece com as revoluções dos séculos XVIII e XIX. Os filósofos iluministas vão
alterar os rumos do pensamento não só político como também econômico,
transformando o capitalismo mercantilista no capitalismo liberal, com fundamento
nessa concepção da prevalência da Razão, em que é aceito somente o que pode ser
demonstrado.
Dessa maneira, é possível destacar o Iluminismo: conceito que sintetiza diversas
tradições filosóficas, correntes intelectuais e atitudes religiosas. Os pensadores
iluministas tinham como ideal a extensão dos princípios do conhecimento crítico a todos
os campos do mundo humano. Supunham poder contribuir para o progresso da
humanidade e para a superação dos resíduos de tirania e superstição que creditavam
ao legado da Idade Média. A maior parte dos iluministas associava ainda o ideal de
conhecimento crítico à tarefa do melhoramento do Estado e da sociedade.
A mudança começa com uma “escola econômica” chamada “Fisiocrata”. A
Fisiocracia é uma escola de pensamento econômico, fundamentada na liberdade,
defendida por economistas, chamados de “fisiocratas”, no contexto do Iluminismo da
segunda metade do século XVIII. O termo “fisiocracia” tem origem no grego,
significando “governo da natureza”. A Fisiocracia, por meio de Adam Smith, forneceu a
base para o desenvolvimento do Liberalismo Econômico, no qual, sua principal obra
destaca-se como “A riqueza das nações”.

11.1 Período Colonial (1500-1822): a força do passado

O período da colonização portuguesa em território nacional é marcado,


fortemente, pela dominação de tribos, pela escravidão e pelo extermínio indígena. A
estratégia de tomada de posse do território brasileiro pelos portugueses, espanhóis e
holandeses, além de outros, enfrentou forte resistência por parte dos índios. Esse
choque foi responsável por milhares de mortes nas populações tradicionais, dizimadas
por doenças e conflitos, tendo como consequência a extinção de várias etnias
indígenas. No ano de 1500, a população estimada de nativos era de quatro milhões e
em 1823 de apenas um milhão.
A conquista teve conotação comercial e a colonização foi um empreendimento
do governo colonial aliado a particulares. A atividade que melhor se prestou à finalidade

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lucrativa foi o cultivo da cana-de-açúcar, mercadoria com crescente valorização no
mercado europeu e que exigia grandes capitais e significativa mão de obra. Outro
produto tropical, o tabaco, juntou-se, depois, à cana-de-açúcar. Consolidou-se, assim,
uma característica que marcou durante séculos a economia e a sociedade brasileiras:
o latifúndio monocultor e exportador de base escravista negra.
Outra atividade econômica existente desde o início da colonização foi a pecuária,
que se desenvolveu no interior do país como atividade subsidiária da grande
propriedade agrícola e que também colaborou para a interiorização do País.
No final do século XVII e metade do XVIII, a mineração, sobretudo de aluvião,
transformou-se na principal atividade econômica da Colônia e teve papel decisivo na
expansão territorial da Colônia e contribuiu para a transferência da capital para o Rio
de Janeiro, em 1793.
Entre escravizados e escravizadores, existia uma população legalmente livre,
para a qual faltavam as condições para o exercício dos direitos civis, sobretudo a
educação. Ela dependia dos grandes proprietários para morar, trabalhar e defender-se
contra o arbítrio do governo e de outros proprietários. Esses eram potentados que
absorviam parte das funções do Estado, sobretudo as funções judiciárias. Em suas
mãos, a justiça, principal garantia dos direitos civis, tornava-se simplesmente
instrumento de poder pessoal. O poder do governo terminava na porteira das grandes
fazendas.

11.2 A educação no Período Colonial

Nos primeiros séculos (XVI-XVIII) da história do Brasil, a educação esteve sob a


responsabilidade da ordem dos jesuítas, inexistindo ações de fomento à construção de
escolas públicas ou mesmo da disseminação do ensino. Após a expulsão dos jesuítas
do território brasileiro, em 1759, o governo do Marquês de Pombal (1699-1782) assumiu
parte da responsabilidade pela educação.
Para ilustrar tal cenário, vale indicar que o primeiro censo populacional realizado
no Brasil foi realizado no ano de 1872, meio século após a independência, e informou
que apenas 16% da população brasileira era alfabetizada.
Com relação ao Ensino Superior, as primeiras faculdades só foram organizadas
após a vinda da família real portuguesa em 1808, quando o Brasil se transformou em

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sede do Império Ultramarino Português. A primeira universidade brasileira, no entanto,
só surgiu bem mais tarde, quando, em 1933, foi criada a Universidade de São Paulo, a
partir de uma missão educacional que contou com a colaboração de vários intelectuais
franceses.
A história colonial brasileira foi marcada por momentos de reivindicação popular,
como é o caso das rebeliões nativistas, que ocorreram em fins do século XVII.
O Período Colonial chegou ao fim com a maioria da população ainda excluída
do acesso aos direitos civis e políticos, inexistindo um sentido de reconhecimento pleno
à cidadania e à identidade nacional. As revoltas acabaram por gerar, sem dúvida,
sentidos identitários regionais, localizados e com necessidades específicas às
províncias, verificando-se a ausência de laços mais amplos e comunicações entre os
anseios das localidades e do próprio Brasil, entendido como entidade autônoma e
soberana.

11.3 Período Imperial (1822-1889)

O processo que gerou a emancipação política do Brasil caracteriza-se por


intensa negociação entre as elites regionais e a Coroa portuguesa, representada por
D. Pedro I (1798- 1834). Neste sentido, foi o único país americano a optar pelo regime
monárquico. Alguns historiadores afirmam que essa opção se deu pelo fato de o poder
simbólico e centralizador da Coroa permitir a manutenção da unidade territorial da
antiga colônia, evitando conflitos e a fragmentação territorial, como ocorreu nas antigas
colônias espanholas, das quais derivaram vários países republicanos.
Com a intermediação da Inglaterra, Portugal aceitou a independência do Brasil
mediante o pagamento de uma indenização de dois milhões de libras esterlinas. Nesse
contexto, a dependência política e econômica do Brasil em relação a Portugal foi
substituída pela dependência financeira para com a Inglaterra.
À época da independência, a conjuntura política brasileira apontava em direções
opostas: a direção americana, republicana; e, a direção europeia, monárquica. Do lado
americano, havia o exemplo admirado dos Estados Unidos; do lado europeu, havia a
tradição colonial portuguesa, as pressões da Santa Aliança e, sobretudo, a influência
mediadora da Inglaterra.

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Foi esta última que facilitou a solução conciliadora e forneceu o modelo de
monarquia constitucional, complementado pelas ideias do liberalismo francês pós-
revolucionário.

11.4 Os direitos políticos saem na frente

A Constituição de 1824 regulou os direitos políticos e definiu quem teria direito


de votar e ser votado. As eleições eram indiretas. Nas assembleias provinciais (eleições
primárias) os eleitores escolhiam os votantes na proporção de um para cada 100
domicílios.
As condições para o voto eram:
 Homens com 25 anos ou mais que tivessem renda mínima de 100 mil réis;
 O limite caía para 21 anos no caso dos chefes de família, oficiais, bacharéis,
clérigos, servidores públicos;
 Os libertos;
 As mulheres não votavam;
 As pessoas escravizadas não eram consideradas cidadãs, portanto não
votavam;
 Das eleições secundárias só podiam participar cidadãos com patrimônio e renda
de, no mínimo, 200 mil réis. Estes elegiam os deputados e senadores (renda de
400 mil réis);
 Os senadores eram eleitos em lista tríplice, da qual o imperador escolhia o
candidato de sua preferência;
 Os senadores conquistavam cargos de caráter vitalício; os deputados tinham
mandato de quatro anos;
 Nos municípios, os vereadores e juízes de paz eram eleitos pelos votantes em
único turno;
 Os presidentes de província eram nomeados pelo governo central.
Essa legislação permaneceu quase sem alteração até 1881, quando foi
revogado o sistema indireto, no entanto, com retrocesso, pois suprimiu o voto dos
analfabetos. Aqui residiu a grande limitação à cidadania, pois somente 15% da
população era alfabetizada – ou 20%, se considerarmos apenas a população
masculina.

61
11.5 A escravidão no Brasil: da diáspora africana à abolição

Nossa herança colonial não nos legou direitos civis plenos de qualidade e de
acesso. O nosso país herdou a escravidão, que negava a condição humana dos
escravizados; as grandes propriedades rurais, fechadas à ação da lei; e, um Estado
comprometido com o poder privado.
A Inglaterra exigiu, como parte do preço do reconhecimento da independência,
a assinatura de um tratado que incluía a proibição do tráfico de escravos. O tratado foi
ratificado em 1827. Em obediência às suas exigências, foi votada, em 1831, uma lei
que considerava o tráfico como pirataria, mas a lei não teve efeito prático: foi desse
episódio histórico que surgiu a expressão popular: “lei para inglês ver”. Tal fato não
deve ser entendido como uma ação humanitária da Inglaterra, pois foi um dos países
que mais lucrou com o tráfico de pessoas escravizadas.
A seguir outras considerações a respeito da escravidão no território brasileiro:
 A abolição da escravatura só começou a ser discutida no Parlamento em 1884;
 O Brasil era o último país de tradição cristã e ocidental a libertar os escravos;
 A Lei Áurea (1888) e a falsa liberdade para os negros no Brasil: o abandono dos
negros e o surgimento de cortiços e favelas;
 Aos libertos não foram dadas nem escolas, nem terras, nem empregos. Passada
a euforia da libertação, muitos ex-escravos regressaram a suas fazendas ou a
fazendas vizinhas, para retomar o trabalho por baixos salários;
 A perversa política de “branqueamento”;
 Onde havia dinamismo econômico (provocado pela expansão do café, como em
São Paulo), os novos empregos, tanto na agricultura como na indústria, foram
ocupados pelos milhares de imigrantes, sobretudo italianos, que o governo atraía
para o país. Lá, os libertos foram expulsos ou relegados aos trabalhos mais
pesados e mal pagos;
 Por fim, tais consequências foram duradouras em maior parte para a população
negra.

62
11.6 A Primeira República (1889-1930)

A proclamação da República, em 1889, não alterou significativamente o quadro


das forças políticas e sociais brasileiras e não houve participação popular no processo.
A Constituição republicana de 1891 eliminou apenas a exigência de renda de 200 mil
réis, antes necessária para os que podiam votar. A principal barreira ao voto – a
exclusão dos analfabetos – foi mantida. Continuavam também a não votar as mulheres,
os mendigos, os soldados, os membros das ordens religiosas.
Inspirada na Constituição dos Estados Unidos, a Constituição de 1891
estabeleceu:
 O sistema federativo;
 A autonomia dos estados para legislar conforme seus próprios interesses, desde
que obedecessem à Lei Maior;
 O sistema presidencialista; a separação entre a igreja católica e o Estado; e
 A divisão dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
A descentralização do poder aos estados facilitou a formação de alianças
oligárquicas em níveis federal, estadual e municipal, estratégia conhecida como Política
de Favores. E, assim, a Primeira República também ficou conhecida como República
dos Coronéis como eram chamados os chefes políticos locais, geralmente um grande
proprietário, um dono de latifúndio, um fazendeiro ou um senhor de engenho próspero.
O coronelismo era a aliança desses chefes políticos locais com os governadores
dos estados e, desses, com o presidente da República. Quando o Estado dava o apoio
político ao governador, havia a troca de indicação de autoridades, tais como delegado
de polícia, juiz, coletor de impostos, agente do correio e professora primária.
A Câmara Federal reconhecia como deputados os que apoiassem o governador
e o presidente da República. Consideravam os demais pretendentes aos cargos como
não dotados de legitimidade política.
Pode-se concluir, então, que até 1930 não havia povo organizado politicamente
nem sentido nacional consolidado. A participação na política nacional, inclusive nos
grandes acontecimentos, era limitada a pequenos grupos. A maioria do povo tinha com
o governo uma relação de distância, de suspeita, quando não de aberto antagonismo.

63
Quando o povo agia politicamente, em geral o fazia como reação ao que considerava
arbítrio das autoridades.
Apesar das práticas que deturpavam o exercício do voto e das leis que
restringiam o direito a ele, não houve, no Brasil, grandes movimentos populares
exigindo maior participação eleitoral. A exceção foi o movimento pelo sufrágio feminino,
depois da revolução de 1930, sendo o voto feminino introduzido em 1932. Apesar dessa
conquista, nossa sociedade continuou fundada no patriarcalismo e marcada por
representações e práticas preconceituosas em relação à mulher.
Mesmo no plano jurídico, as restrições aos direitos da mulher ainda levaram
décadas para serem revogadas. Com efeito, as mulheres continuaram com os seus
direitos civis bastante limitados, pois o homem permanecia como cabeça do casal.
Somente com o advento da Constituição de 1988 é que ocorreu a plena equiparação
dos direitos civis, com a extinção da figura “do cabeça” do casal, nos termos do art.
226, § 5º da Constituição, in verbis: “Os direitos e deveres referentes à sociedade
conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher” (BRASIL, 1988).
Outro marco importante na defesa dos direitos da mulher foi a edição da Lei no
11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, que criou mecanismos para coibir
a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da
Constituição Federal.
A lei altera o Código Penal brasileiro e possibilita que agressores de mulheres,
no âmbito doméstico ou familiar, sejam presos em flagrante ou tenham sua prisão
preventiva decretada. Esses agressores não poderão mais ser punidos com penas
alternativas; a legislação também aumenta o tempo máximo de detenção previsto, de
um para três anos. A nova lei ainda prevê medidas que vão desde a saída do agressor
do domicílio à proibição de sua aproximação da mulher agredida e dos filhos.
Uma das principais características da Primeira República foi a política de
imigração fomentada pelo governo central desde o final do século XIX. Entre 1884 e
1920, cerca de três milhões de imigrantes desembarcaram em terras brasileiras. A
maioria deles veio proveniente da Europa (italianos, alemães, espanhóis, poloneses e
outros) e da Ásia (japoneses, chineses, libaneses, sírios, entre outros). A missão
delegada aos imigrantes foi a substituição da mão de obra escrava no campo e nas
cidades. Além do aspecto ideológico, havia a tentativa do governo de embranquecer a
população brasileira.

64
No aspecto trabalhista, a atuação governamental era pouco precisa e ineficiente.
Em 1926, quando a Constituição passou por sua primeira reforma, o governo federal
se debruçou, pela primeira vez, sobre a organização das questões trabalhistas no
Brasil. Durante a Primeira República, a presença do governo nas relações entre patrões
e empregados se dava por meios certamente tortuosos, com a interferência da polícia.
Com relação ao sindicalismo, o reconhecimento dos sindicatos rurais, em 1903,
precedeu aos urbanos, em 1907. O fato se explica pela presença de trabalhadores
estrangeiros na cafeicultura. Vale lembrar que alguns estrangeiros, especialmente
anarquistas, que lutavam pelas causas operárias nos centros urbanos, foram expulsos
do País nesse período.
A fermentação oposicionista, constituída por operários e alguns membros da
classe média, começou a ganhar força na década de 1920. Em 1922 e 1924, houve a
revolta de jovens oficiais descontentes com a situação política do País no Rio de Janeiro
e em São Paulo, respectivamente, conhecido como movimento tenentista, que
pretendia recuperar o poder perdido pelos militares no governo republicano, uma vez
que as oligarquias passaram a exercer maior influência.
Em São Paulo, eles controlaram a capital por alguns dias, abandonaram a
cidade, juntaram-se a outros militares rebeldes do Sul do País e formaram a coluna que
percorreu milhares de quilômetros sob a perseguição dos soldados legalistas,
concluindo a marcha na Bolívia em 1927, sem ter sido derrotada. A coluna ganhou o
nome de seu principal líder, o capitão do Exército, Luís Carlos Prestes (1898-1990),
“Coluna Prestes”.
As manifestações também se fizeram valer no campo cultural e intelectual,
culminando com a Semana de Arte Moderna organizada no ano de 1922, em São
Paulo. A década de 1920 terminou presenciando uma das poucas campanhas eleitorais
da Primeira República com forte competição entre os postulantes ao cargo de
presidente. O candidato oficial à presidência, Júlio Prestes, paulista como o presidente
que estava no poder, representava a continuidade administrativa.
O candidato da oposição, Getúlio Vargas (1882-1954), à frente da Aliança
Liberal, introduziu temas novos em sua plataforma política, como mudanças no sistema
eleitoral, adoção do voto secreto, representação política proporcional, combate às
fraudes eleitorais; e reformas nas políticas sociais – jornada de trabalho de oito horas,
férias, salário mínimo, proteção ao trabalho das mulheres e dos menores de idade.

65
A Aliança Liberal ameaçava, ainda, o poder político vigente, por ter colocado as
duas principais forças políticas da República, os estados de São Paulo e Minas Gerais,
em campos opostos. Ambos se alternavam na presidência, era a denominada política
do café com leite. Em 1930, o acordo foi violado, quando São Paulo insistiu em manter
um candidato paulista. Rompido o acordo, os conflitos latentes dentro e fora das
oligarquias encontraram campo fértil para se manifestarem.
A elite política mineira, frustrada em suas ambições, aliou-se à elite gaúcha,
representada por Getúlio Vargas, insatisfeita com o domínio constante de paulistas no
poder central. As duas juntaram-se a políticos paraibanos para comporem seu
programa de governo. A chapa encabeçada por Júlio Prestes declarou-se vencedora
em uma eleição eivada de vícios e acusações de fraude. Os acontecimentos pareciam
se encaminhar para a retomada da pax oligarquica, quando o governador da Paraíba,
João Pessoa, foi morto por um adversário político local. O assassinato foi o pretexto
para os elementos mais radicais da Aliança Liberal retomar a luta e, desta vez, com
propósito abertamente revolucionário.
Tais acontecimentos acabaram por decretar o fim da Primeira República (1889-
1930), preparando o terreno para a tomada de posse do presidente Getúlio Vargas, que
assumiu o poder após a Revolução de 1930.

11.7 Da Revolução de 1930 ao golpe militar de 1964

Em três de outubro de 1930, o presidente da República, Washington Luís (1869-


1957), foi deposto por um movimento armado e dirigido por civis e militares de três
estados da federação: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. O episódio passou
para a história como “A Revolução de 1930”, embora tenha havido e haja, ainda, muita
discussão quanto ao emprego da palavra “revolução” para descrever o que aconteceu
– é indiscutível que foi o fato político mais marcante do País desde a independência em
1822.
Outros acontecimentos importantes nesse período foram:
 1930 – A crise da política do café com leite. Houve a ruptura institucional e as
transformações da Era Vargas: de país agrícola e população rural a um país
urbano e industrial;
 Os movimentos sociais e a agitação política na Era Vargas;

66
 A Revolução constitucionalista de 1932;
 A Constituição de 1934: voto feminino e voto secreto;
 O Estado Novo (1937-1945) e a Constituição de 1937 – retrocesso político e
avanços sociais;
 Constituição Federal de 1946 – trouxe o restabelecimento dos direitos civis e
políticos.
A eleição de Vargas a presidente pelo voto popular, em 1950, representou um
grande desapontamento aos adversários, que tentaram utilizar meios legais e
manobras políticas para impedir a posse. Seu segundo governo foi marcado pelo
populismo.
O populismo era um fenômeno urbano e refletia o Brasil que surgia ainda
inseguro, porém distinto do Brasil rural da Primeira República, dominante na vida social
e política até 1930. A outorga dos direitos sociais fazia com que eles não fossem vistos
como independentes da ação do governo, mas como um favor, em troca do qual se
deviam gratidão e lealdade. A cidadania que daí resultava era passiva e receptora, e
não ativa e reivindicadora.
Na política nacionalista, destacou-se a luta pelo monopólio estatal da exploração
e de refino do petróleo, corporificada na criação da Petrobras, em 1953. Essa política
provocou a reação dos conservadores. Vocalizando essa reação, parcela dos
comandantes militares passou a exigir a renúncia do presidente.
Diante desse quadro social e político tão complexo, Vargas suicidou-se no dia
vinte e quatro de agosto de 1954, no Palácio do Catete, deixando uma carta-testamento
de forte conteúdo nacionalista e populista. Dez anos mais tarde, esse mesmo comando
militar conservador e golpista, com apoio de setores políticos alinhados com o
imperialismo americano, precipitou o movimento armado de 1o de abril de 1964,
inaugurando o longo ocaso da democracia que durou 21 anos e cujas sequelas
deixaram marcas profundas na sociedade brasileira, que perduram até os nossos dias.
O próximo presidente foi Juscelino Kubitschek (1902-1976), cujo governo foi
marcado pela construção da nova capital federal, Brasília, e por significativos índices
de desenvolvimento econômico – acompanhado, no entanto, pelo aumento da inflação.
Seu sucessor, Jânio Quadros (1917-1992), foi eleito, em 1960, com 48,3% dos votos.
O governo de Jânio Quadros foi curto: tomou posse em janeiro de 1961 e
renunciou em agosto do mesmo ano, alegando impossibilidade de governar. Há

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versões de que seu objetivo era dar um golpe e tornar-se ditador. Todavia, como a
renúncia foi imediatamente aceita pelo Congresso, o suposto plano golpista
desmoronou. Em decorrência, instalou-se uma crise política, pois os ministros militares
declararam não aceitar a posse de João Goulart (1919-1976), vice-presidente.
Renovou-se a disputa que dividia políticos e militares desde o governo Vargas.
A posse de Goulart ocorreu depois de uma forte reação por parte dos estudantes,
trabalhadores e do III Exército, denominada Cadeia da Legalidade, tendo à frente
Leonel Brizola (1922-2004), governador do Rio Grande do Sul. Essa reação levou a um
acordo liderado por Tancredo Neves (1910-1985), deputado federal por Minas Gerais,
resultando na assinatura do Ato Adicional, que instituiu o parlamentarismo no Brasil.
De 1961 até o início de 1964, outros fatos importantíssimos marcaram a nossa
história. Como a tensão crescia, os militares se aproveitaram para intervir, mediante a
tomada do poder em 31 de março de 1964, implantando o regime militar. Tal fato iniciou,
na história do País, a denominada “Ditadura Militar”, período de restrição aos direitos
civis.

11.8 O Regime Militar

No início dos anos de 1960, o anúncio de uma nova ordem social e econômica
na América Latina era premente. Enquanto a burguesia levantava bandeiras
nacionalistas (como a grande via de superação do subdesenvolvimento), os
movimentos sociais empenhavam-se em instituir o Estado de Bem-Estar Social e a
democracia participativa. Enquanto a elite brasileira propugnava a inserção do Brasil
no mercado financeiro do capital internacional, como forma de alcançar o crescimento
econômico, os movimentos sociais condicionavam o nosso desenvolvimento à ruptura
progressiva com o sistema capitalista, pavimentando a via para o socialismo.
O conflito entre projetos produziu uma saudável efervescência de ideias e
propulsionou a intelectualidade brasileira aos debates públicos. No entanto, essa arena
democrática foi interrompida pelo golpe militar de 1964, que limitou as liberdades
constitucionais e levou às prisões intelectuais professores, universitários,
trabalhadores, camponeses, padres e freiras para serem torturados, assassinados ou
expulsos do País.

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Este período é marcado por fortes restrições aos direitos civis e políticos e
praticamente nenhum avanço em relação aos direitos sociais. Podemos dividi-lo em
três fases.
Primeira fase (1964 a 1968): corresponde ao governo do general Castelo Branco
(1897- 1967) e ao primeiro ano do general Costa e Silva (1899-1969). No último ano,
1968, a economia retomou os altos índices de crescimento da década de 1950.
Segunda fase (1968 a 1974): compreende os anos mais sombrios da história do
País relativo aos direitos civis e políticos. Foi o domínio dos militares tidos como mais
conservadores, simbolizados pelo general Garrastazu Médici (1905-1985).
Paradoxalmente foi o período de maior crescimento econômico, conhecido como o
“milagre brasileiro”.
Terceira fase (1974 a 1985): inicia com a posse do general Ernesto Geisel (1907-
1996), continuando com o general João Batista de Oliveira Figueiredo (1918-1999), a
partir de 1979; e, termina, em 1985, com a eleição indireta à presidência da República
de Tancredo Neves, então senador por Minas Gerais. Esse período é marcado pelas
crises do petróleo (1973 e 1979), menor crescimento econômico, elevação da dívida
pública e da inflação. Cresceu a oposição da sociedade ao regime que, após forte
campanha de rua pelas eleições diretas, negociou com seus opositores uma transição
mediante escolha do presidente por via indireta (colégio eleitoral).

11.9 Redemocratização no Brasil: 1985 – até os dias atuais

O primeiro passo importante para a formação do aparelho estatal no Brasil se deu


com a vinda da família real para o Brasil, em 1806. A vinda da família real trouxe uma
série de mudanças para o Brasil inclusive com a formação de órgãos e departamentos
governamentais.
Em 1822, com a proclamação da independência e em 1889 com a proclamação
da República temos dois momentos históricos importantes de consolidação do Estado
no Brasil: o primeiro correspondendo a uma espécie de Estado “absolutista” (a
monarquia como forma de governo aliado a uma espécie de parlamentarismo) e após
a proclamação da República nós temos o que poderíamos chamar da gênese do Estado
Liberal-Republicano no Brasil (forma de governo republicano aliado ao

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presidencialismo), que vai perdurar até 1930, com a origem do que podemos chamar
de Estado Nacional-desenvolvimentista.
“O período histórico do desenvolvimentismo tem como marca fundamental a
intervenção ativa do Estado na promoção da industrialização, ou seja, do
desenvolvimento nacional”. Entre 1930 até a década de 80, podemos dizer que o
Estado brasileiro adotou como princípio fundamental de sua política a combinação de
crescimento econômico com a promoção da industrialização e a mudança estrutural do
sistema produtivo (de um Brasil agrário exportador para um Brasil industrial e urbano).
É nesse período que são criadas as empresas estatais como a Vale do Rio Doce
(minério) e a Petrobrás (combustível), onde o Estado passou a tomar o controle de
algumas indústrias de base como forma de acelerar o desenvolvimento econômico.
A partir da década de 80, com o aumento crescente da inflação (em 1988 a
inflação chegou próxima dos 2.000%) e também o aumento da dívida externa (resultado
dos grandes empréstimos tomados pelos governos militares para financiar o
desenvolvimento industrial), o Estado brasileiro entrou em um processo de crise e uma
série de medidas foram tomadas (planos econômicos) com o objetivo de buscar a
estabilidade financeira da economia brasileira. Este foi desde então o grande desafio
dos governos a partir da década de 80: construir um novo modelo de Estado e retomar
o crescimento econômico.
Com a morte inesperada de Tancredo Neves, antes mesmo de sua posse, a
retomada do regime democrático, em 1985, fez-se de maneira razoavelmente ordenada
e sem grandes alterações ou mesmo retrocessos. José Sarney (1930-), vice-presidente
em exercício da presidência durante a enfermidade de Tancredo Neves,
automaticamente tornou-se presidente.
A Constituinte de 1988 redigiu e aprovou a Constituição de características
liberais e democráticas, merecendo, por isso, o nome de Constituição Cidadã.
Em 1989, houve a primeira eleição direta para presidente da República desde
1960, sendo eleito Fernando Collor de Mello (1949-) que, embora vinculado à elite
política tradicional do País, se apresentou nos veículos de comunicação como solução
para os problemas brasileiros.
Agredida e ofendida pelos atos de corrupção praticados na gestão Collor, a
população (que fora às ruas, oito anos antes, por eleições diretas) repetiu a jornada
pelo impedimento do primeiro presidente eleito por voto direto. O Congresso cassou o

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presidente dois anos e meio depois da posse. Substituiu-o, o vice-presidente à época,
Itamar Franco (1930-2011).
Em 1994, foi eleito, em primeiro turno, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso
(1931-). Em seu governo, o Plano Real – concebido quando ele era Ministro da Fazenda
na gestão do presidente Itamar Franco – conseguiu reduzir sensivelmente a inflação.
O plano econômico teve como esteio o câmbio supervalorizado, a abertura comercial e
a elevação substancial das taxas de juros, que trouxeram, como resultado, a redução
da atividade econômica e a elevação significativa do desemprego e da dívida pública.
Um dos marcos de sua gestão foi a edição da Lei de Responsabilidade Fiscal,
que estabelece normas destinadas a assegurar o equilíbrio das contas públicas,
evitando que os governantes deixem dívidas muito elevadas que comprometam a
administração de seus sucessores.
Na área social foram criados os primeiros programas sociais de transferência
direta de renda condicionada ao cumprimento de metas pelas famílias beneficiadas,
tais como: bolsa-escola, vale-gás e bolsa-alimentação.
Também foi implantado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) (atual Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação
– Fundeb), que modificou a estrutura de financiamento do Ensino Fundamental no País
e estabeleceu que seus recursos devessem ser aplicados exclusivamente na
manutenção e no desenvolvimento do Ensino Fundamental público e na valorização de
seu magistério.
Nas eleições de 2002, venceu o ex-líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva (1945),
sendo reeleito em 2006. Lula manteve a política econômica de controle da inflação,
iniciada com o Plano Real. São marcos desse período:
 A antecipação do pagamento das dívidas ao FMI;
 A diminuição do ciclo de privatizações;
 O estímulo ao microcrédito e às linhas de financiamento para aposentados e
trabalhadores de baixa renda;
 A ampliação de investimentos na agricultura familiar;
 O crescimento do mercado interno;
 A redução do índice de desemprego e,
 A elevação do valor do salário-mínimo.

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Seu governo também foi marcado por uma forte crise política envolvendo
importantes lideranças partidárias conhecidas como “escândalo do mensalão”.
Outro projeto do governo de Lula é a criação do Programa Bolsa Família,
caracterizado pela ampliação e integração dos programas sociais já existentes, com o
objetivo de promover a segurança alimentar e nutricional, contribuindo para a redução
da extrema pobreza e para a conquista da cidadania pela parcela da população mais
vulnerável.
Na área de educação, destacam-se a criação do Fundeb, que é uma ampliação
do Fundef e o Programa Universidade para Todos (Prouni), que tem como finalidade a
concessão de bolsas de estudo integrais e parciais a estudantes de cursos de
graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação
superior. A adoção do sistema de cotas do Governo Federal, também chamado de ação
afirmativa, é uma forma de assegurar vagas para determinados grupos sociais
historicamente excluídos, criado para dar acesso a negros, índios, deficientes e
estudantes de escola pública em universidades.

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