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DELEGAÇÃO DE PEMBA
Culturalismo
DELEGAÇÃO DE PEMBA
Culturalismo
Período Pós-Laboral
Dr. Fernando Alegre
Chama-se culturalismo à postura da vertente da psicologia e das ciências sociais em geral que
destaca o papel da cultura na explicação dos fenómenos psicológicos individuais e dos
fenómenos colectivos. No campo da psicologia, o culturalismo atribui à cultura o papel
determinante no desenvolvimento do carácter e da personalidade, enquanto que nas ciências
sociais em geral o culturalismo se traduz no destaque do papel da cultura na organização das
condutas e dos fenómenos colectivos.
O Culturalismo busca recuperar a história como fonte real e viva do Direito, ultrapassando a
ancestral oposição entre natureza e positividade, entre os apelos de Antígona e as decisões de
Creonte, e sobretudo compreendendo o Direito como momento privilegiado da realidade
cultural, a um tempo pensada e a outro vivida, imaginada e experienciada.
Analisar o culturalismo;
1.3. Metodologias
O presente estudo segue uma metodologia qualitativa. Neste caso, as metodologias usadas na
pesquisa deste trabalho são as seguintes: Pesquisa bibliográfica; Pesquisa documental e
Revistas.
O trabalho encontra-se estruturado da seguinte maneira: elementos pré-textuais, capa, folha
de rosto, índice. Elementos textuais, introdução, análise e discussão da problemática,
conclusão e finalmente os elementos pós-textuais, referências bibliográficas.
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2. Culturalismo
2.1. Definição
Chama-se culturalismo à postura da vertente da psicologia e das ciências sociais em geral que
destaca o papel da cultura na explicação dos fenómenos psicológicos individuais e dos
fenómenos colectivos. No campo da psicologia, o culturalismo atribui à cultura o papel
determinante no desenvolvimento do carácter e da personalidade, enquanto que nas ciências
sociais em geral o culturalismo se traduz no destaque do papel da cultura na organização das
condutas e dos fenómenos colectivos.
É um ponto de vista que encarreira pelo determinismo cultural entendendo que todas as
realidades estudadas são explicáveis através da análise de factores culturais, isto é, através da
rede de significados que constitui a cultura. O mesmo será dizer que o conjunto composto,
entre outros, por instituições, códigos de conduta, sistemas de crenças, arte, religião, rituais,
costumes, normas, valores e linguagem (isto é, a cultura) é a causa preexistente dos
fenómenos psicológicos individuais e dos fenómenos coletivos.
O Culturalismo busca recuperar a história como fonte real e viva do Direito, ultrapassando a
ancestral oposição entre natureza e positividade, entre os apelos de Antígona e as decisões de
Creonte, e sobretudo compreendendo o Direito como momento privilegiado da realidade
cultural, a um tempo pensada e a outro vivida, imaginada e experienciada.
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O Culturalismo leva, no entanto, evidente vantagem em relação ao Positivismo e ao
Naturalismo, uma vez que realiza a suprassunção de ambos (o termo é hegeliano, e faz
menção à especificidade dos movimentos da dialética especulativa, que ao mesmo tempo
nega, conserva e eleva).
3. Evolução Histórica
O culturalismo é uma corrente que emerge do neokantismo por divergir da feição que veio a
assumir através da obra de Cohen e da chamada Escola de Marburgo (Natorp, Cassirer etc.).
Trata-se de movimento muito complexo e que teve vida relativamente longa na Alemanha,
onde se mantém atuante apesar das tragédias vivenciadas pelo país neste século, espraiando-
se para outros países, entre os quais o Brasil.
A Alemanha envolveu-se na primeira guerra mundial e dela saiu derrotada em 1918. Seguiu-
se um longo ciclo de instabilidade representada pela República de Weimar, que, não obstante,
registrou notável florescimento cultural, sobretudo na literatura. A ascensão do nazismo ao
poder em 1933 virtualmente destroçou os principais centros culturais, com a emigração em
massa de professores e pesquisadores.
Terminada a segunda guerra, o país teve que se reconstruir, com o agravante de que a cortina
do totalitarismo desabou sobre parcela significativa de seu território, inclusive metade de
Berlim, na qual justamente se encontrava a sua tradicional Universidade. Nessa vasta região,
o marxismo tornou-se a filosofia e a religião oficiais.
A guerra fria levou a que a própria Alemanha Ocidental não escapasse da circunstância de
movimentos filosóficos exclusivamente a serviço de objetivos políticos, como é o caso típico
da chamada Escola de Frankfurt, em torno da qual montou-se em todo o Ocidente máquina de
propaganda que não se explica nem se justifica por razões de ordem filosófica.
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Embora todo esse conjunto de fatos desfavoráveis haja levado, no último pósguerra, a um
certo isolamento da filosofia alemã voltada para as suas próprias tradições, a influência de
Kant manteve-se inalterada, como esperamos demonstrar no curso da exposição.
De todos os modos, a Escola Culturalista marca uma grande presença, desde a década de
noventa do século passado, experimentando pelo menos três grandes ciclos, perfeitamente
caracterizados, nos quais sobressaem distintas personalidades. Ao último desses ciclos acha-
se associado o nome de Nicolai Hartmann, falecido em 1950.
3.1. O primeiro ciclo e seu desfecho
Entende que se trata de uma divisão epistemológica e metodológica. Os dois tipos de ciências
têm uma base comum desde que ambas constituem criações culturais.
Barreto (1990), afirmava que a cultura correspondia ao sistema de forças erigidas para
humanizar a luta pela vida. Esta tinha lugar tanto na escala animal como no meio humano.
Contudo, se o homem organizou-se em sociedade como uma forma de sobrevivência, mesmo
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esse impulso inicial nada tem a ver com o que se pudesse invocar de equiparável entre os
animais.
A vida social, que é a verdadeira vida do homem, se constitui de formas conscientes de
eliminação das anomalias. Se tais formas pudessem igualmente ser chamadas de seleção,
caberia falar de “uma seleção jurídica, a que se pode adicionar a religiosa, moral, intelectual e
estética, todas as quais constituem um processo geral de depuramento, o grande processo da
cultura humana. E, destarte, a sociedade, que é o domínio de tais seleções, pode bem se
definir: um sistema de forças que lutam contra a própria luta pela vida”.
Nada, porém, mais desponderado. Ser natural não livra de ser ilógico, falso e inconveniente.
As coisas que são naturalmente regulares, isto é, que estão de acordo com as leis da natureza,
tornam-se pela maior parte outras tantas irregularidades sociais; e como o processo geral da
cultura, inclusive o processo do direito, consiste na eliminação destas últimas, daí o
antagonismo entre a seleção artística e as leis da sociedade natural.
Maudsley disse uma vez que o ladrão é como o poeta: – nasce, não se faz. Subscrevo esta
opinião, mas pondo-a em harmonia com a minha doutrina. Sim, senhor, a existência de
ladrões é um produto da natureza; que eles, porém, não existam, é um esforço, um produto da
cultural social, sob a forma ética e jurídica.
Do mesmo modo, é um resultado natural da luta pela vida que haja grandes e pequenos, fortes
e fracos, ricos e pobres, em atitude hostil uns aos outros; o trabalho cultural consiste na
harmonização dessas divergências, medindo a todos por uma só bitola.
A sociedade é pois um sistema de regras e normas que não se limitam ao mundo da ação mas
chegam até os domínios do pensamento. Tais normas e regras comportam uma hierarquia: “O
direito é o fio vermelho, e a moral o fio de ouro, que atravessa todo o tecido das relações
sociais”.
Pode-se concluir que Tobias Barreto não só propugnou pela abordagem da cultura de um
ponto de vista filosófico, como a considerou numa relação superadora da natureza – e
portanto dialética –, ainda que não o formulasse com clareza. Adquirem este caráter, contudo,
uma das seguintes descobertas de Tobias Barreto:
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O processo geral da cultura consiste em gastar e desbastar o homem da natureza, adaptando-
se à sociedade. Mas a sociedade não se constitui num todo homogêneo “porquanto dentro da
humanidade, diferenciam-se as raças dentro da mesma raça... os povos, dentro do mesmo
povo... as classes, terminando sempre a luta, que acompanha essas diferenças, pelo
predomínio de um dos contendores, que se encarrega do trabalho cultural e imprime-lhe o seu
caráter”. Dessa forma pode-se falar “de uma cultura militar, de uma cultura religiosa ou
sacerdotal, de uma industrial,... mas não ainda de uma cultura moral, que seria sinônima de
cultura humana.
3.3. Cultura e História
Desde meados do séc. XX, o Culturalismo representa o núcleo dos esforços nacionais, como
dito, na busca por superação das limitações impostas pelo modo positivista de encarar o
conhecimento jurídico (quer em matiz normativista, quer em matiz realista). Isso se dá tanto
por ser o Culturalismo a corrente de pensamento jurídico que maior estabilidade obteve - em
termos de continuidade dos estudos, de número e distribuição geográfica de seus
componentes e da propagação e notoriedade das idéias ali discutidas - quanto por ser a
corrente que melhor realiza, no Brasil, o projecto de suprassunção dialética tanto do
positivismo formalista, imperante no Direito, quanto do jusrealismo, ao tempo em que
igualmente ultrapassa os moralismos vagos e imprecisos do legado jusnaturalista.
Lima Vaz (1973), adverte que o Culturalismo transborda os limites da reflexão jurídica para
ocupar posto junto às grandes correntes da Filosofia brasileira15, o que é justificável, como
lembra Antonio Severino, já que:
Reforçam-se os elos do Direito com a Cultura, e assim igualmente com os saberes das
Humanidades. Abrem-se perspectivas interdisciplinares, alargam-se horizontes de
especulação. Uma refilosofização do Direito, pensando na Filosofia como saber de totalidade,
nos leva a uma rica reaproximação com as demais Humanidades, recuperando a noção do
Direito como parte das Kulturwissenschaften — que nos permita falar em um campo comum
de Recht- Staats- und Kulturwissenschaften. (Ciências da Cultura, do Estado e do Direito).
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“Se necessitássemos de uma rubrica doutrinal para rotular o mais actual movimento intelectual, que
resumisse todas as tendências justeoréticas do Brasil de hoje, não vacilaríamos em escolher o
culturalismo como tal rubrica, nela condensadas todas as tentativas de superação do positivismo do
século XIX, incluindo ali todas as vertentes justeoréticas derivadas, desde o idealismo neokantiano à
filosofia da existência. [...] Não se pode negar que em torno da obra de Miguel Reale se reúne um
grupo de pensadores culturalistas das mais variadas tendências”.
A corrente culturalista recebe essa denominação por considerar que a cultura configura uma
esfera especial de objectos, os quais passam a ser inquiridos no âmbito metafísico, ou
segundo Miguel Reale, sob o aspecto ontognoseológico.
Deste modo, o culturalismo aborda o homem em sua realidade circundante, uma vez que nela
esta inserido, e segundo uma teoria dos objectos. Assim, segundo o culturalismo jurídico o
Direito pertence ao reino da Cultura e não da Natureza. Ele está no mundo criado pelo
homem, integrado na cultura, a qual lhe dá sentido. Por tal motivo, o seu conhecimento
depende de metodologia própria, diversa da aplicada às ciências físico-naturais, interessadas
em explicar os fenômenos por suas causas, uma vez que as ciências culturais objetivam
compreendê-lo por seus sentidos e valores.
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Conclusão
De acordo com os objectivos alcançdos, concluiu-se que todo o exposto, afirma-se que o
Culturalismo jurídico nasce como uma forma de contestação ao positivismo, propondo que o
homem deixe de ser visto sob o prisma do determinismo e passe a figurar como parte
integrante do mundo cultural.
Contudo, culturalismo é uma corrente de pensamento com preocupações essencialmente
voltadas para o fenômeno jurídico. Por entendê-lo como muito mais amplo do que a mera
realidade dos factos ou a normatividade formal, acaba transcendendo o interesse meramente
jurídico e alçando condição de produzir uma reflexão totalizante sobre o homem.
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Referências Bibliográficas
Barreto, T. (1990). Estudos de filosofia. (Ed. de Luiz Antonio Barreto), Rio de Janeiro:
Lima, V. (1973). O Pensamento Filosófico no Brasil de Hoje. In: FRANÇA, Leonel. Noções
de História da Filosofia. 21. ed. Rio de Janeiro: Agir.
Machado, N. & Antonio, L. (1969). História das Idéias Jurídicas no Brasil. São Paulo:
Grijalbo, EdUSP.
Martins, C. (1985). Culturalismo e experiência no novo Código Civil, in Revista dos
Tribunais – 819, São Paulo: Revista dos Tribunais.
Reale, M. (2000). Cinco Temas do Culturalismo, São Paulo: Saraiva. Record/INL.
Saldanha, N. (1986). Historicismo e Culturalismo. Recife, Rio de Janeiro: FUNDARPE,
Tempo Brasileiro.
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