Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
'"
� artigo proçun diJ.cutir algumas quca:lÕe4 dClCllvolvidu nOl ClpíwlOlI e D de minha diuczuçio de. mc&U'ado
intitullda O, f11JbGlJ"rdoru do BrGlil
•
tre Eslado e classe trabalhadora. Com base sentaçOes sociais e da maneira como as
na formulação de uma legislação social e pessoas pobres e os indivíduos comuns or
trabalhista, fundamemada na ideologia da ganizaram a realidade social construída pe
outorga, e na valorizaçllo do trabalhador lo Esrado varguisra em suas mentes.
como socialmente necessário, elevando- o As dificuldades para conhecermos as
à condição de cidadão (Castro Gomes, idéias e vivências dos populares da época
1982), o Estado teceu sua aUIO-imagem. de Vargas foram em parte superadas pela
induzindo os trabalhadores a identificarem existência, no Arquivo Nacional, de um
no como o guardião de seus interesses ma conjunlO de cartas e de processos adminis
teriais e simbólicos. Os ecos dessa trativos, onde as pessoas comuns tiveram a
bem-sucedida poütica ainda hoje estilo pre oportunidade de se manifesrar e deixar re
sentes nas pesquisas que procmam resgatar gistradas e sistematizadas suas experiên
a memória popular do período, cujos resul ?
cias Essa corres pondência resullOu das
tados apresentam uma visão positiva de atividades da Secreraria da Presidência da
Vargas e do Estado Novo (Janotti, 1985). República, órgão diretamente vinculado ao
Nesse contexlO, este artigo procura ex presidente da República e que, nas décadas
plorar um elenco de questões difíceis. Co de 30 e 40 instituiu-se como efetivo e efi
mo a política pública implementada pelo ciente canal de comunicação entre o gover
Esrado repercutiu entre os trabalhadores e no central e as diversas camadas da
que resposta obteve? Teriam o operário, o sociedade. A secreraria era responsável por
desempregado e o trabalhador de salário lOda a correspondência endereçada a Var
mínimo reproduzido em palavras erata gas, desde a de um chefe de Eslado estran
mente aquilo que a doutrina oficial prega geiro até a dos setores marginais da
va? O apoio que os pobres manifesravam a sociedade. Dotada de um cerlO grau de au
Vargas corresponderia ao mesmo apoio que IOnomia administrativa e impondo sua legi
Vargas esperava deles? Seria correIO ara timidade perante toda a máquina esratal
mar que a população ,pobre e trabalhadora pela vinculação direta ao chefe de Eslado,
passou a interprerar sua realidade social a a secreraria atuava trocando informações
partir das novas idéias dominantes, passiva com todas as instituições esrarais, desde
mente e sem críticas? Qual, enfrm, o impac- grandes ministérios até pequenas prefeitu
10 que a política estadonovisra causou as ras. Ao receber as carras que a população
pessoas comuns daquela época? enviava a Vargas, com pedidos e reclama
Tais questões, é imporrante ressal rar, ções variados, a secreraria as encaminhava
não sugerem uma abordagem circunscrira a órgãos esratais que pudessem dar um pa
apenas às idéias dos populares, mas partem recer e uma possível solução, sem aparente
da premissa de que eles, assim como as discriminação. De posse desses dados, a
classes dominantes, também produzem secreraria enviava uma resposra ao interes
idéias, as quais circulam na soci�.dade. A sado, paurada no parece r dado por aquelas
questão também é difícil no IOcan te às fon instituições, apresenrando uma solução po
tes, pois se os fundamenlOs do projelO po sitiva ou negativa
lítico-ideológico implemenrado nos anos Sabemos que o aIO de escrever ao pre
30 podem ser estudados por meio da produ sidente da República, em si mesmo, nllo é
ção dos intelectuais engajados, pelos dis grande novidade. Contudo, a riqueza quan
cursos dos governantes, pela propaganda tirativa e qualitativa dessa correspondência,
política, literária, radiofônica e cinemalO além de permitir ao pesquisador investigar
gráfica da época, nem sempre temos à nossa o cotidiano e as condições de vida dos tra
disposição o registro das idéias, das repre- balhadores da época, possibilira sistemati-
182 ESlUDOS HISTÓRICOS· 1990/6
2M as manifestações das classes e dos gru grupos, que os expressam por meio da lin
pos sociais, desde os estratos hegemônicos guagem.
até os setores mais excluídos, cobrindo uma Mas como abordar as enunciações dis
temporalidade considerável em todo o ter cursivas produzidas individualmente? Me
ritório nacional. Ao escreverem o que pen todologicamente seria legítimo o estudo de
savam, as pessoas comuns na época de formulações ideológicas que panem de in
Vargas nos deixaram, por meio da Secreta divIduas escrevendo isoladamente? O filó
ria da Presidência da República, um valioso logo soviético Bakhtin afirma que "na
artefato cultural. Por ele, o historiador pode realidade, o ato de fala, ou, mais exatamen
compreender o componamento coletivo e a te, seu produto, a enunciaçao, não pode de
maneira como os trabalhadores receberam forma alguma ser considerado como indivi
e reagiram ao projeto político-ideológico dual no sentido estrito do termo; não JXXI!:
no Estado varguista. ser explicado a partir das condições psico
Desenvolveremos o conjunto de idéias, fisiológicas do sujeito falante. A enuncia
valores, conceitos e imagens socialmente ção é de nalureza sociar' (1986: 109).
reconhecidos e manifestados pelos traba Assim, mesmo que nos deparemos com
lhadores em sua correspondência, como enunciações produzidas individualmente, o
sendo a expressa0 da cultura popular de conjunto da correspondência apresenta to
uma época. O reconhecimento de que os da uma constância de enunciados, termos,
trabalhadores também sao portadores de jargões e homogeneidade no manuseio do
cultura possibilitou a superação do entendi vocabulário, sugerindo-nos que um mesmo
mento do folclore como o lugar do curioso espectrO cultural percorria essas enuncia
e do pitoresco; da interpretaçao de que a ções. Além disso, a leitura da correspondên
visão de mundo da classe trabalhadora for cia revela uma mesma temática: os
ma um conjunto disperso, desorgãnico e personagens apresentam um triste quadro
fragmentado de uma cultura dominante an de precária situação social e, a partir disso,
terior; ou ainda da expressa0 "espírito do pedem algo - geralmente um emprego ou
povo". Trabalhos como os de Roben Darn um aumento salarial. Uma mesma situação
ton, Carla Ginzburg, Mikhail Bakhtin, Ma social e um mesmo objetivo de superá-Ia
r i l e n a C h a ul, P e t e r B u rloe, Eugene levam os vários personagens a registrarem
4
Genovese e Edward Thompson, entre ou suas formas de pensar e interpretar a socie
trOs, procuram nao considerar a cultura po dade, o momento polftico, as manifestações
pular nem como uma repetiçao mal de poder e toda uma gama de percepções do
assimilada da cultura dominante, numa mundo com uma mesma constância. A im
postura sempre contemplativa, nem como a pressao que se tem, à medida que as Cl!fIas
oponunidãde ·de exaltar uma suposta "pu sao lidas, é a de que mudam os nomes e
reza" dos trabalhadores, sempre na defen endereços, mas a redaçao, o vocabulário e
siva diante das investidas ideológicas das a temática permanecem quase inalterados.
classes dominantes. Por cultura entende
mos todo o conjunto de atitudes, repre
sentações sociais e códigos de compona
mento que forma as crenças, idéias e valo
Cultura popular e argumentaçAo
res socialmente recophecidos por um setor,
polltlca
grupo ou classe social. Esses padrões de
componamento surgem das experiências
econômicas, sócio-políticas, ideológicas, Em 1937, de Pano Alegre, Heitor Pinto
familiares e religiosas dos indivIduas e dos Silveira escreve a Vargas afirmando que:
A CULTURA POúnCA DOS TRABAUlADORES
"( ... ) Sendo oposicionilõta desde os ban proveito da situação, barganhando a própria
cos de preparatório, dificilmeme poderia dominação. Heitor procura, na verdade, "se
- direi impossível - solicitar um cargo virar" dentro de um quadro onde as alterna
ao Sr. Governador de Eitado, e que nem tivas políticas e sociais são muito restritas.
conta mais com o valioso ajlÔio de V. Vejamos um outro texto que demonstra
Excia. como as condições imediatas de vida levam
Mas por ser oposicionista (Partido os indivíduos a construírem argumentos
Libertador) eu não me julgo impossibi próprios para contornarem a dominação.
li tado de solicitar um emprêgo ao exmo. Quando em 1938, de Diamantina, Minas
sr. Presidente da República. Gerais, Amerida de Manos Diniz escreve a
Pedir uma colocação é a coisa mais na Vargas procurando obter um benefício, dei
tural dêste mundo; agora não o era ab xa escapar por todo o texto um contra-argu
solutamente na República Velha em mento construído a panir do discurso de
sendo agente da oposição... A República dominação estatal. Amerida inicia a carta
Nova está mudando essa mentalidade e dizendo que:
graças às idéias e ideais de Getúlio Var-
gas (...)".5 "Permitta Va. Excia. que uma pobre e
humilde funcionária postal suba direta
A leitura da carta de Heitor poderia mente, à presença de Va. Excia. para
sugerir, a princípio, pura e simplesmente, a solicitar sua decisiva protecção para um
manifestação entre os trabalhadores do pro acto que é também de justiça".
jeto político estatal. Poderia sugerir, tam
bém, uma reprodução mecânica e direta Para a autora, a proteção, termo que
entre os "de baixo" daquilo que os "de anuncia algo de arbitrário, visa estabelecer
cima" diziam. Porém, é preciso perceber alguma coisa muito cara à doutrina estada
que Heitor elogia e pede. Heitor usa os novista: a justiça. Amerida vai diretamente
argumentos de dominação, formulado pe ao chefe de Estado à procura dessa justiça
los proprietários do poder, para tirar provei e legitima esta atitude dizendo:
to e conseguir o almejado emprego.
Informado das desavenças entre o presiden "Aliás, não faço senão cumprir os dese
te e o governador, trabalha e explora essas jos de Va. Excia. que já declarou que no
divergências políticas, o que demonstra que Estado Novo não existem intennediá
os trabalhadores não se achavam completa rios entre o governo e O povo".
mente alheios ao processo político ou dele
apartados. A afirmação de Vargas, num de seus
A maneira de abordar as enunciações discursos, visava legitimar a ditadura com
discursivas dos trabalhadores aqui, usando o fim dos panidos e do Congresso, sugerin
as palavras de Darnton, não é "transformar do a ligação orgânica entre chefe e povo.
em filósofo o homem comum;mas ver co Amerida trabalha com este argumento de
mo a vida comum exigia uma estratégia. dominação, recriando um contra-argumen
Operando ao nível corriqueiro, as pessoas to na cobrança desta mesma afirmação.
comuns aprendem a 'se virar' -e podem ser Após a introdução do texto, a autora
tão inteligentes, à sua maneira, quanto os inicia a exposição de seu problema:
filósofos" (1986:X1V). Heitor aceita as for
mulações dominantes, elogiando e exaltan "Sou agente postal do distrito de Buen6-
do a nova ordem política, sem dúvida. Mas, polis, município de Diamantina, Estado
quando conta a seu modo, procura tirar de Minas, E. F. C. B., ha mais de 11
'84 ESTUDOS IDSTÓRlCOS '990/6
•
rarem brechas nas regulamemaçOes autori mera introduçAo da própria carta. Antonio
tárias e de perceberem os limites impostõS. continua a escrever, indo por duas vias,
Thntemós trabalhar com essa aborda excludentes e complementares ao mesmo
gem no depoimento de Antonio Ivo Vieira tempo.
que, de Belo Horizonte, em 1939, escreveu Numa primeira, Antonio argumenta, de
a seguinte carta a Vargas: nuncia, na verdade, que sua SilllaçAo é pre
mente, aflitiva e angustiosa, já que seu
"(...) sendo eu um simples guarda de 2' ordenado é para não mUller de fome. Com
cJaSJJe da E.F.C.B. (...), contando já com o JlIlfC.!> salário, com glandes descontos em
8
quasi 20 anDOS de serviço à Estrada, com folha, nAo tem podido sustentar as quatro
a minha fe de officio limpa, sem cousa crianças, comprar-lhes roupas, calçados,
alguma que possa desabonar-me a con dar-lhes conforto e alguma instruçAo. Sobre
ducta. Tenho 4 filhos que necessitam de esta última, afirm a que, agora, até ela se
conforto e alguma instrução e eu com es paga. Aqui, Antonio nada tem de conforma
te parco ordenado de 350$000 mensais, do e o que demonstra é a revolta e o senti
nlIo estou na a1twa de dar-lhes nem si mento de injustiça.
quer a instruçAo primaria, que infeliz Na segunda via, porém, em brusco con
mente até isto agora se paga; soffro traste com a primeira, Antonio se diz humil
grandes desconios em folha de paga de servo, além de sincero e grato admirador
mento (...); nAo tenho ,podido nem ao de Vargas. Para o autor da carta, o alto
menos sustentar os meus filhos com eSJJe magistrado e chefe forte tem como qualida
parco vencimento (...); a minha situação de a energia e a justiça.
é mais que premente, é afflictiva e an Antonio procwa alcançar sua promoção
gustiosae sei que tenho já direitos adqui demonstrando a grave situação em que vi
ridos para merecer uma promoção à ve, em que denuncia, prOlesta e nega ao
classe imediata (...) nem roupa e calçado mesmo tempo que aceita, subordina-se e
para os meus 4 filhos, posso adquirir, confia. Confiando e negando, para Antonio
pois o meu ordenado mal dá para não não há contradição aparente entre o aceitar
morrermos à fome. Desde já Sr. Presi e o opor. Existe na consciência social do
dente, peço para que Deus abenç6e à V . autor, isto sim, limites que não podem ser
Excia e toda Exma. familia e V . Excia. rompidos. A denúncia tem de ser seguida de
poderá em qualquer terreno, contar com elogios e exaltações ao chefe de governo.
a mais sincera e grata admiração, do Ultrapassados esses limites, Antonio estaria
mais humilde servidor da Nação, de que . pondo em perigo a possibilidade da realiza
é V . Excia. o seu mais alto Magistrado e ção de seu objetivo e, quiçá, a sua própria
Chefe forte, energico e justiceiro. Salve! segurança individual. A propósito, poderia
Sr. Presidente Or. Getulio Vargas" ? ser diferente? Haveria possibilidade de An
tonio apenas denunciar sem nenhuma ma
o objetivo de Antonio, como vemos, é nifestaçAo de conformismo e aceitação ao
apenas um: a promoçAo. Com mais de vinte regime? Ao aceitar resistindo e resistindo
anos de serviço, tem a ficha limpa e nada ao aceitar, Antonio manifesta formas de
que lhe desabone a conduta. Formulado o percepção de mundo que encampam e ao
objetivo e a legitimação para alcançá-lo, mesmo tempo reelaboram as concepções
talvez fosse possível que Antonio colocasse dominantes em proveito próprio.
ponto final na carta, sem nada mais a dizer. As enunciaçOes discursivas dos traba
No entanto, Antonio continua. O objetivo e lhadores na época de Vargas demonstram
sua legitimação, nesse caso, nlIo passam de como eles aceitavam o discurso oficial e as
"6 ES11.J1X)S HISTÓRICOS. 199016
ma, dizem os professores, "obra de um relação que fazem entre reforma de ensino
grande Ministro é, conseqüentemenle, sa e privilégios de classe não poderia ser me
bia, mas, estabelecendo um regimen onde lhor enunciada quando falam que nas suas
ha uma interferencia directa e constanle do precárias escolas onde "não ha o lucro do
Estado, destruiu o ensino livre no qual o capitalista (... )" .
Estado se reserva apenas a attribuição de A reformado ensino implemeDlada pelo
verificar, por exame, o preparo do candida Estado inlerveio diretamente no cotidiano
to. ESle regimen de liberdade é justamenle dos professores. Esses identificaram os
o unico adaptavel áquelles alumnos". efeitos devastadores que ocorreriam, argu
Ora, em primeiro lugar, se esse é o único mentaram, buscando no liberalismo a solu
regime adaptável, a reforma não é 1110 sábia ção ideal, e apontaram os privilégios de
como dizem, muito menos o ministro fez classe embutidos na reforma A ação vinda
uma grande obra. Aqui, é o momeDlO em de cima incitou uma outra, vinda de baixo.
que os limites do que é possível são perce A intervenção dos professores vem na for
bidos pelos professores. Critica-se até onde ma de uma sugesll10 que "perm ittirá a ma
é possível e o limile dessa crítica é a con nutenção do ensino livre ao lado do ensino
lestação e a negação às regras autoritárias. officializado e a subsistencia daquelles co
Enfim, aceitam para poderem avançar. Em legios, meio de vida dos pro fessores mais
segundo lugar, é a defesa que fazem do honestos e compelenles: Os alumnos que
liberalismo em seu próprio benefício. O não estudassem em collegios equiparados
inlervencionismo estatal atingiu o cotidia poderiam prestar, no fim de cada anno, nos
no desses professores, que se vêem impos gymnasios officiaes, exame das malerias da
sibilitados de ganharem a vida. A defesa do serie em que estllo matriculados". Sugerir
liberalismo, longe de expressar submissão esta solução, meio-tet111 0 entre a reforma
a um projeto hegemônico, é usada como governamental e o antigo sislema, é a ma
argumento em prol de seus próprios inleres- neira com que procuram inlervir: Sete dias
ses. depois, a carta chega às mãos do Diretor
•
o corrente anno, relativamente aos alum A leitura dos textos produzidos pelos
nos que nao estejam matriculados em irabalh'adores, sejam aqueles oriundos do
collegios equiparados, isto é, penniuir movimento operário organizado, sejam os
se que \aeS a1umnos prestem exame no dos setores não-organizados, desmente essa
Collegio Pedro lI, nesla Capital, ou nos perspectiva. A fonnaçao da Aliança Libe
11
gymnasios esladuaes, nos ESlados". rai, as eleições de 1930, o movimento polí
tico ocorrido nesse ano, a revolla paulisla
No caso dos professores paulislas, os de 1932, a constituinte de 1934, a implan
acontecimentos vindos de cima atingiram lação do Eslado Novo, bem como uma cui
direlamentesuas vidas. Longe de assistirem dadosa atençao aos discursos de Vargas, silo
pas�ivamente a eSIa invasão, que devaslafia assuntos que fluem com observaçOCs de
seuscotidianos, esses trabalhadores procu toda ordem.
raram reagir. E foi no próprio desenrolar Neste momento da análise, porém, que
dos acontecimentos, no dia-a-dia, que as remos ir além da simples conslalação de
fonnas de superação encontraram possibi que as pessoas comuns na época de Vargas
lidades de se realizarem. Percebendo os tinham conhecimento do processo político.
limites impostos pelas regras autori!árias e Mais do que apenas possuir infonnações, os
retrahalhando a simbologia do poder domi trabalhadores interprelafam esses aconteci
nante, eles criaram estratégias de vida para mentos políticos de acordo com suas expe
superar as dificuldades com que se depara riências, expectativas. necessidades e
ram. Criticando até onde era possível (e tradiçOCs, fonnulando, deste modo, uma
pennitido) e aceilando as regias autorilá história política recente do país. Evidente
rias, os professores paulislas monlafam mente, a maneira como as pessoas comuns
uma estratégia para alcançarem seus obje conlavam a trajetória política que viveram
tivos. não tinha a precisão dos historiadores polí
E, ao que parece, obtiveram sucesso. ticos. Enirelanto, é preciso lembrar que, de
acordo com Darnton, "visões de mundo não
podem ser descriw da mesma maneira que
acontecimentos políticos, mas não silo me
A Imagem popular do Estado: nos 'reais'" (1986:39). Queremos com isso
o significado da Justiça reconhecer a legitimidade da interpretaçao
que os trabalhadores fonn uIaram do pro
A tradição autorilária no pensamento cesso político, uma vez que a maneira como
político brasileiro procura deS<'on':ccer a conlafam a realidade social e política de sua
participação dos trabalhadores na vida po época nao surgiu a partir de ilusões e falsas
lítica do país. Em tennos ge�ais, as pessoas expeclativas, mas, sim, do cotidiano con
comuns nao apenas não j)IIfIi..;O;J8m, como creto de suas vidas, de seus parâmetros
em nada influem no processo político. In culturais de mundo, e encontrou lastro na
capares de intervirem no quadro político, realidade social que vivenciaram. Além dis
desqualificadas para participarem do jogo so, essa interprelação que os trabalhadores
liberal-democrático, alheias e desinteressa fizeram da história, num processo circular,
das dos grandes acontecimentos, as pessoas influenciou e sofreu influências das idéias
12
comuns SÓ reagiriam, esporndicamente, na dominantes.
fonna de revolw, rnaDÜeslaçOes de rua e Assim, nos anos subseqüentes a 1930,
protestos localizados. Sua participaçao se toda uma história é conlada e repetida sis
re sumiria a uma ação esponlânea, regida tematicamente pelos trabalhadores, onde o
exclusivamente pela fome. presente é exalt.ldo, o passad o repudiado e
A a.n..TIJRA POLtnCA DOS TRABALHADORES 18'
o futuro idealizado. Na cana escrita por pouco, quando as leis ainda nada nos garan
15
José de Alencar Pereira, da cidade de São tiam (... )". E o de Annindo de Siqueira
Paulo, esta/:> presentes algumas descriçOes Horta, de Aracaju, contando que "tenho
do período anterior a 1930, conhecido na sido victima de preteriçOes por não ter lo
época como República Velha. José inicia a grado proteção, nem pleitel- a entre os po
,,16
carta dizendo que foi funcionário postal liticos de outróra A prática polltica do
durante dez anos, "tendo sempre se esfor regime anterior ao de Vargas é encarada
çado por bem cumprir os deveres de seu como efetiva de dominação social e políti
cargo". Apesar disso, o ambiente na repar ca. Caso flagrante da capacidade de avalia
tição antes da chegada de Vargas ao poder ção desse quadro é o depoimento de José
era de uma "subserviencia aviltante", domi AnlOnio B. Filho, da cidade de São Paulo:
nado por grupos pollticos "que outra causa
não faziam se não incensar seus superiores "Peço venia vir, novamente a presença
e OS detenlOres do poder". Por não concor de V. Excia. como pequeno servidor, da
dar com essas práticas, "viu-se logo o re Republica Nova, pedindo o amparo e a
querente rodeado de má vontade de seus valiosa, interferencia na minhajusla pre
chefes, num ambiente de ódios e persegui lenção, que é a minha promoção, ao
ções". Diz aindaJosé que "raros os funccio cargo de Porteiro, da Delegacia Fiscal
narios que, no regime decahido, tinham em São Paulo. Quando servente na mes
noção clara e consciente dos deveres de ma Delegacia era perseguido, marquei
seus cargos", por um lado, e "raros os supe passos sem nunca ter sido promovido,
riores que sabiam manter a serenidade e pois tinha o meu obscuro, nome na Lista
Justiça em relação aos subordinados", por do ex-Partido Republicano Paulista, por
outro. Perseguido por não concordar com pertencer e cooperar como fiscal do
esse ambiente, José alega que seus supe PARTIDO DEMOCRATlCO, em di
riores criaram inúmeros incidentes até de versos pleilO eleilOraI.
miti-Io do cargo. José tennina sua carta com Não só votei nos candidalOs da ALIAN
a seguinte avaliação: ÇA LIBE RAL como cooperei para vic
toria esmagadora CANDIDATOS
"Deminir-se um pae de familia, com dez NACIONAL, e sempre reagi toda
annos de serviços publicos, levados a ameaça remoção �ue constituia a AR
effeilO com sacrifício e honestidade, era, MA do ex-P. R.P." 7
para os senhores chefes de então, mate
ria comesinha e de importancia nulla: Perseguições políticas, listas negras, pis
Só é glande a Patria onde aJustiça im tolOes, leis sem garantias de cumprimento,
pera e o que o requerente pede não é apadrinhamenlOs e remoções pullirivas não
13
senão REPARAÇÃO EJUSTlÇA". escapavam aos olhos de nossos persona
gens. Esses depoimentos dão sinais de que
Parecido é O caso de Joaquim Cyrillo da os trabalhadores não estavam tão alheios
Silva Ramos, de Caruaru, Pernambuco, aos acontecimenlOs pollticos, bem como de
afmnando que o "Estado Novo, felicissima sua capacidade de perceberem a prática
idéa, que veio por tenno a maldita politica, política como efetivo exercício da domina
sempre acompanhada de um sequilO de ino ção.
14
minaveis explorações e perseguições". É
•
"com O advento do Estado Novo, acabou se - desse processo estaria na anomalia da orga
o protocolo pragmatico que não permitia o nização corporativista, que resistiria à
governo identificar-se com o povo (... ). Ho Constituição liberal de 1946, na eleição de
je os humildes brasileiros como eu sentem Vargas em 1950 e no crescimento do PI'B
se encorajados em pedir- lhe diretamente, (Castro Gomes, 1 988:22- 23).
2� -
algo em seu benefício (... )". Além disso, Ao questionar essa interpretação, Ange-
no telegrama de Francisco Azevedo, de la de Castro Gomes parte do pressuposto de
Santa Rita, Bahia, o Estado Novo é definido que a formação de uma classe trabalhadora
como "grande obra de Salvação do Bra não deve ser abordada apenas como um
28
sil", enq uanlo para Antonio R. Duarte, do fenômeno da história econôm ica, mas tam
Rio de Janeiro, "o Estado Novo (...) que em bém da hislÓria política e cultural. Por essa
boa hora V. Excia. inaugurou no Brasil li abordagem, explicar a adesllo da classe tra
vrando o seu povo do jugo agonizante dos balhadora ao Estado varguista apenas pelos
29
politicos falidos,', pois, no entender de cálculos utilitários de benefícios provindos
Djalma A. Freitas, de Alegre, Espírito San do Estado, numa simples troca da obediên
to, (j "Estado Novo quer o contato direto cia política pela legislação social , não basta
3°
com o povo". para dar conta da relação entre Estado e
Como abordar esse sentimento de justi classe trabalhadora.
ça que se disseminou entre os trabalhadores Sem negar essa lógica material no pacto
ao explicarem o regime surgido após 1930? estabelecido entre Estado e classe trabalha
Esse sentido de justiça poderia ser analisa dora, a autora sustenta que houve uma com
do com o argumento, ainda muito em voga, binação com a lógica simbólica embutida
de que não passava da manifestação da no discurso estatal, cujo discurso trabalhis
ideologia populista, dirigido pela demago ta resgatou a auto-imagem e os valores
:/l
gia, sob os auspícios do atemalismo. Não construídos e defendidos pelos próprios tra
o vemos dessa maneira. 1 balhadores na Primeira República, deu-lhes
•
identidade operária durante a Primeira Re Para Angela de Caslro Gomes, "o Esta-
pública, levada a cabo pelos próprios traba do não era visto apenas como produtor de
lhadores, sofreu uma quebra com a bens materiais mas como produtor de um
,
da reciprocidade, sendo que era esta segun ordem: mercado de trabalho muito restrito,
da dimensllo que funcionava como instru falta de oportunidades, insegurança nos
mento i n tegrador de todo o pacto" empregos, baixos salários, alta do custo de
(1988: 195). vida. famílias numerosas, etc. Ter um em
Quando os traballladores delineavam as prego que assegurasse ao menos a alimen
formas do Estado VlIIgIta Iis , projetando a tação da farnflia. eis o objetivo primeiro do
imagem da justiça, procuravam reconhecer trabalhador.
as atividades práticas e teóricas desenvolvi É nesle quadro que o Estado varguista se
das por esse Estado, mas, e ao mesmo lem impOe, assumindo a responsabilidade de
po, procuravam avançar. Se o Estado minorar essas dificuldades, reconhecendo
pós-30 se apresentava como o de todo o os traballladores como parceiros legítimos
povo, amparando e prolegendo os trabalha no cenário poHtico e produzindo uma legis
dores, acima dos inleresses de c.1asse, refe laça0 que lhes proporcionasse ganhos efe
rir-se a essa justiça era cobrar o motivo de tivos. Dianle de tamanhas dificuldades, os
existir desse mesmo Estado. Dizer que o trabalhadores nllO ficaram indiferentes ao
Estado varguista estava pautado na justiça discurso e aos ganhos maleriais produzidos
nao era apenas submeter-se politicamenle. pelo novo Estado. O fato de as pessoas
Era um recurso para cobrar a justiça que comuns escreve.em a Vargas relatando suas
os "de cima" diziam estar sendo praticada. dificuldades, elogiando O presidente e pe
E por essa concepçao que lemos a Carla de dindo algum beneficio era o reconhecimen
•
"se os benefícios produzidos pelo Estado Os lIabalhadores nos anos 30/40 podem
sob a forma de leis estavam lendo aplicaçao ler aceitado o projeto político esL3tal, con
e estavam sendo reconhecidos pela classe sentido na implemenLação de formas auto
trabalhadora. ela nao deixava de resistir ritárias de poder, e mesmo ler depositado
politicamenle" (1988: 194). sua confiança naquilo que os "de cima"
diziam. Entretanto, a aceitaçao de delermi
nadas formas de poder nllo impedia os tra
ConslderaçOes finais balhadores de identificarem se\lS
problemas de classe, apontarem as soluçoes
As dificuldades que os traballladores en que convinham a seus interesses e lutarem
frentavam nos anos 30 e 40 eram de toda por elas. Dentro dos padroes políticos e
A CULTURA POL1nCA DOS TRABAUlADORES 193
culturais da época, as pessoas comuns da em proveito próprio, trabalhando por �uas
vam novos e diferentes significados aos demandas. O discurso dominante chegou e
códigos, normas e valores autoritários e, de ficou, mas de uma cena maneira: instru
acordo com suas experiências, procuravam mentalizado.
redirecioná-Ios em seu próprio benefício, �ist.as de cima, porém, as enunciações
ao mesmo tempo que omitiam as regras dos trabalhadores podem sugerir apenas um
excludentes e autoritárias. Ao fazerem a conformismo generalizado. Mas confor
leituia do discurso hegemônico dessa for mismo e passividade muitas vezes estao nos
ma, abriam brechas no aparelho político olhos de quem os vê. O fato de escreverem
autoritário e procuravam saídas alternativas ao presidente da República já demonstra
num quadro político e social onde essas que eles não estavam passivos ou resigna
mesmas alternativas eram bastante escas dos. O apoio e a confiança que depositavam
sas. em Vargas, aqui, são entendidos como acei
A análise por este prisma não implica tação a um estado de coisas que fugia a seu
subestimar a eficiência do discurso varguis controle. Aceitavam, pois naquele momen
ta, minimizando sua repercussão entre os to não havia alternativas e, além disso, seu
trabalhadores. Ao contrário, as manifesta intuito não era apenas o de exaltar gratuita
ções de apoio destes últimos à política pú mente Vargas, mas, sim, dar um passo à
blica implementada pelo Estado demons frente, avançar, conseguir um emprego, um
tram que o discurso varguista não apenas aumento salarial ou melhorar de vida. A
foi eficiente, como obteve, inclusive, certo aceitação do regime, enfun, não implicava
sucesso. Queremos enfatizar, porém, que o necessariamente resignação ou conformis
apoio manifestado pela população não era mo.
exatamente o que o governo almejava.
Quando os trabalhadores explicavam
suareaJidade social, apresentavam uma for
ma peculiar e própria de captar o discurso Notas
autoritário, decodificá-lo e reinterpretá-Io a
seu modo. Se os trabalhadores assumiram o 1 . Processo n' 28.419, FSPR, Série Movi·
discurso estadonovista, e daí sua eficácia, mentaçio de Pessoal, Subsérie Geral, lata 140,
não se tratava de simples reprodução. Lon 1937.
caracterizando-se esses indivlduos como ção, Sio Paulo, Companhia das Letras, 1987;
M. BAKHTIN, A cullura popular "" Idade Mi·
meros reprodutores do pensamento domi-
•
dia e no RenascimenJ.o - o conJmo de François
nante. E ceno que as pessoas comuns ti-
Rabelais, São Paulo, Hucitec/EdilOra Universi
nham informaçOes dos acontecimentos dade de Brasília, 1987; M. CHAut. Co,yornu:s.
políticos e da doutrina estatal, utilizando-as mo e rt!SLrlência - aspectos da cultura populQl'
quando contavam sua realidade social; mas, 110 Brasil, São Paulo, Brasiliense, 1987; P.
quando O faziam, usavam tais informaçOes BURKE, Cul'ura popular "" Idade Moder"",
, 1 94 ESruoos HISTÓRICOS 1990/6 -
São Paulo, Companhia das Letras, 1989; E. GE zá-lo como instrumento de dominação" (Jornal
NOVESE, A terra prometida - o mundo que os do Brasil, 1 8 de junho de 1983, Suplemento
escravos criaram, Rio de Janeiro, Paz e Idéias, 10).
1988; E. THOMPSON, Tradición, revuelta y 13. Processo nO 65.683, FSPR, Sétie Movi
conciencia de classe - estudios sobre la crisis de
•
mentação de Pessoal, Subsérie Geral, lata 60,
la sociedad preindustrial, B arcelona, Grijalbo, 1935.
1979. 1 4. Processo nO 29.903, FSPR, Série Movi
5. Processo nO 3 1 .583, FSPR, Série Movi mentação de Pessoal, Subsétie Geral, lata 1 59,
mentação de Pessoal, Subsétie Geral, lata 140, 1939.
1937. 15. Processo nO 2.803, FSPR, Série Movi-
•
6. Processo nO 7 .823, FSPR, Série Movimen mentação de Pessoal, Subsétie Geral, lata 247,
tação de Pessoal, Subsérie Geral, lata 145, 1930. 1940.
7. Processo nO 4.040, FSPR, Série Movimen 1 6. Processo nO 437, FSPR, Série Movi
tação de Pessoal, Subsérie Geral, lata 159, 1939. mentação de Pessoal, Subsérie Geral, lata 54,
8. É inleressanle observar como os trabalha 193 1 .
•
dores nesta época reclamavam dos descontos 1 7 . Processo nO 298, FSPR, Série Movimen
nos seus salários para os institutos de previdên tação de Pessoal, Subsérie Geral, lata 54, 193 1 .
cia social. Não poucas vezes, ao declararem 1 8. Processo nO 24.434, FSPR, Série Movi
quanto ganhavam, faziam questão de comparar mentação de Pessoal, Subsérie Geral, lata 56,
o salário bruto com o líquido, chamando a aten 1933.
ção para os descontos. 19. Processo nO 42.425, FSPR, Sétie Movi
9. Isso é o que nos revela a pesquisa desen mentação de Pessoal, Subsétie Geral, lata 137,
volvida por Maria de Lourdes M. Janoni acerca 1934.
da memória popular referente ao Estado Novo, 20. Processo nO 7 .613 , FSPR, Sétie Movi
a partir de uma metodologia em história oral. mentação de Pessoal, Subsétie Geral, lata 60,
Uma das conclu�es de sua pesquisa diz respei 1935. ,
to à consciência que os trabalhadores tinham da 2 1 . Processo nO 5.653, FSPR, Série Ministé
repressão policial do período, comparando -a, in rios, Subsérie Educação e Saúde Pública, lata
clusive, com a do regime militar pós-64 (cf. Ma 189, 1939.
ria de Lourdes Janoni (coord.), Memória e Esta 22. Processo 'nJI 3.656, FSPR, Série Movi
do Novo. Pesquisadores: alunos de História do mentação de Pessoal, Subsérie Geral, lata 60,
Brasil Independente lI, Diurno, 1983 - FFLCH/ 1935.
A
SP. Comunicação apresentada no X111 Simpósio 23. Çomo afuma Angela de Castro Gomes,
Nacional de História da Associação Nacional "a Revolução de 1930 não pode ser considerada
,
dos Professores Universitários de História, Curi como o marco de origem na forlllulação de uma
tiba, 1985). política social no Brasil e nem mesmo o momen
10. Decreto nO 19.890, de 1 8 de abril de 1 93 1 , to simbólico a partir do qual se teria inaugurado
que dispunha sobre a organização do ensino se o intervencionismo do Estado na regulamenta
cundário. ção do mercado de trabalho" ( 1 979:213-4).
1 1 . Processo nO 73, FSPR, Série Ministérios, 24. Processo nO 1 56, FSPR, Série Movi
Subsérie Educação e Saúde Pública, lata 30, mentação de Pessoal, Subsérie Geral, lata 54,
193 1 -34. 1 93 1 .
12. No dizer de Emilia Viotti da Costa, "hoje 25. Processo nO 975, FSPR, Série Movimen
já se tomou lugar-comum dizer que o discurso tação'<ie Pessoal, Subsérie Geral, lata 54, 193 1 .
dos oprimidos é diferente do discurso dos opres 26. Processo nO 19.032, FSPR, Série Movi
so.res. É preciso lembrar, no entanto, que esses mentação de Pessoal, Subsérie Gerd, lata 146,
discursos não correm paralelos, sem jamais se 1938.
tocarem. Os oprimidos freqUentemente se apro 27. Processo nO 1 8 . 1 00, FS PR, Série Movi
priam de conceitos utilizados. O inverso também mentação de Pessoal, Subsérie Geral, lata 1 46,
é verdadeiro: as camadas dominantes têm atra 1938.
vés da história buscado inspiração no discurso 28. Processo nO 9.533, FSPR, Série Ministé
dos dominados, ou se apropriado dele para utili- rios, Subsétie Trabalho, lata 202, 1939.
A CULTURA POLrnCA DOS TRABAUJADORES 195
29. Processo nO 1 8 .05 1, FSPR, Série Movi CASTRO GOMES, Ângela. 1979. Burguesia e
mentação de Pessoal, Subsérie Geral, lata 146, trabalho. PoUtica e legislação social no Bra
1938. siI 19J7 1937. Rio de Janeiro, Campus.
-
30. Processo nO 2 . 1 83, FSPR, Série Movi ----: ' OUVEIRA, Lúcia Lippi e VELLOSO, .
mentação de Pessoal, Subsérie Geral, lata 247, Mônica Pimenta. 1982. Estado Novo: ideo
1940. logia e poder. Rio de Janeiro, Zahar.
3 1 . Em O populismo na poUlica brasileira _
.1988. A invenção do trabalhismo. Rio de
(Rio de Janeiro, Paz e Tala 1980, p. 62), Weffort Janeiro, IuperjNérúce.
afirma que "o populismo foi, sem dúvida, mani CHAm, Marilena. 1987. Conformismo e resis
tência. Aspectos da cultura popular no
pulação de massas mas a manipulação nunca foi
Brasil. 2. ed. São Paulo, Brasiliense.
absoluta. Se o fosse, estaríamos obrigados a
DARNfON, Robalo 1986. O grande massacre
aceitar a visão liberal elitista que, ali úlúma
de gatos e outros episódios da história cul
instância, vê no populismo uma espécie de aber
tural francesa. Rio de Janeiro, Graal.
ração da história alimentada pela allocionalida
GENOVESE, Eugene. 1988. A terra prometida.
de das massas e pela falta de princípios dos
O mundo que os escravos criaram. Rio de
líderes". Conceber as manifestações dos traba
Janeiro, Paz e Tella. v. 1 .
lhadores a partir da relação dual "màssas atrasa
GINZBURG, Carlo. 1987. 0 queijo e os vermes.
das" versus "líder esperto", mediados pelo
O cotidiano e as idéias de um moleiro perse
paternalismo e pela manipulação, é um reducio g u i do pela Inq uisição. S ão Paulo ,
nismo que encobre a própria concepção políúca .
Companhia das Letras.
do analista. GUZZO DECCA, Maria A. 1987. A vida fora
32. Processo nO 3 1 .972, FSPR, Série Movi das fábricas. Cotidiano operário em São
mentação de Pessoal, Subsérie Geral, lata 1 40, Paulo 1920:1934. Rio de Janeiro, Paz e Ter
1937. ra.
JANO·'T"TT'lI1, Maria de Lourdes (coord.). "Memó.
ria e Estado Novo". Em SIMPÓSIO NACIO
NAL DE HISTÓRIA DA ASSOCIAÇÃO
B ibliografia NACIONAL DOS PROFESSORES UNI
VERSITÁRIOS DE HISTÓRIA, 1 3 . Curiú
ba, 1985. Anais, Curiúba, s. ed., 1985.
MUNAKATA, Kazumi. 1984. A legislação tra
BARDIN, I.8l1rence. 1979. Análise de conteúdo.
•
versidade de BrasOia.
BOSI, Ecléa. 1986. Cultura de massa e cultura
Jorge Luiz FaIeira é mestre em história pela
popular. Leituras operárias. 6. ed. Petrópo Universidade Federal Fluminense, onde, desde
lis, Vozes. 1985, é professor de história da América. É autor,
B URKE, Peter. 1989 . Cultura popular na Idade ainda, do livro Incas e astecas - culturas pré
Moderna. São Paulo, Companhia das Letras. colombianav (São Paulo, Áúca. 1988).