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Procurou ajuda devido perceber alguns sintomas depressivos, delírios ou

alucinações, principalmente a noite, porém durante a entrevista foi percebido curso do


pensamento normal, coerente durante a sessão.

2.1- Queixa:
A paciente diz ser bipolar e estar com dificuldade de levantar para trabalhar, tendo
muitas faltas ficando envergonhada com a equipe de trabalho, já que a mesma passa a
maioria das noites acordada, sente-se ora agitada ou sonolenta, hostil e intolerante. Não quer
fazer higiene pessoal e se alimentar. Em outros momentos chora e tem desejo de se matar.
Traz como causa dessa crise um problema do casamento que era muito abusivo.

2.2- Anamnese:
se separou duas vezes e por ameaça do companheiro teve que voltar por medo de
ser morta pelo companheiro, agora se encontra separada e tentando manter sua decisão, mas
tem medo do quê o ex possa fazer com ela. O marido (heteroagressivo) sofria de delírio, de
ciúme e chegou a colocar pessoas para vigiá-la nos lugares que frequentava até mesmo no
ambiente de trabalho, vivia em uma relação conturbada, a mesma passava noites em claro
com medo de ser morta pelo companheiro enquanto casada.
Ela no momento faz acompanhamento com psiquiatra, mas suspende o uso dos
medicamentos por vários dias e retoma por conta própria, muitas vezes ingerindo uma
grande dosagem. Não conseguiu dá sequência ao atendimento psicológico devido não
encontrar um profissional pelo plano de saúde que a fizesse sentir segura.

2.3- História de vida atual:


Atualmente se encontra separada, mas vive com medo do companheiro matá-la,
não registra queixa (BO) por medo, relata que a proteção da Lei Maria da Penha não
funciona. Reside com a mãe que é solteira e viveu um relacionamento conturbado, moram
no mesmo endereço em casas separadas, é professora de área (Biologia) no Município.
Tendo por hipótese diagnóstica, Transtorno bipolar tipo II – depressão com
hipomania.
2.4- Objetivos:
Possibilitar o exercício de uma escuta e intervenção clínica a partir da compreensão da
relação entre terapeuta e cliente.
Sistematizar o conhecimento e prática necessária mediante ao atendimento clínico;
Desenvolver postura reflexiva e ética perante o contexto e as problemáticas
apresentadas no atendimento clínico;
Utilizar os momentos de estudos para melhor compreender o caso, e melhor propor
ajuda à paciente para buscar um novo jeito de caminhar mediante a problemática
apresentada.

3- PROCEDIMENTO
A paciente é selecionada mediante uma seleção feita pela Clínica Escola e
encaminhada ao estagiário, às sessões são de 50min, uma vez por semana mediante
agendamento e confirmação com o paciente e estagiário. As supervisões são semanalmente
com sugestões de estudos e troca de experiências, sendo utilizada a Associação livre e
interpretação.

3.1- Frequência:
 Data de início do atendimento: 05/10/2020
 Data de encerramento do atendimento: 23/11/2020
 Número de sessões realizadas: 08
 Número de faltas: 0
 Número de sessões desmarcadas: 0

3.2- Referencial teórico-filosófico:

A psicanálise por definição é um procedimento para investigação de processos


mentais praticamente inacessíveis de outra forma, especialmente vividas ou transmitidas
através das vivências internas e profundas como pensamentos sentimentos, emoções, fantasias
e sonhos, os chistes e o ato falho. A psicanálise é um método de prática e não só teoria teve
inicio através da idéia de tratamento de transtornos mentais, moldado pela teoria psicanalítica.
Fundada por Sigmund Freud (1856-1939), enfatiza processos mentais inconscientes e é
algumas vezes descrita como a “psicologia profunda”. É comum a confusão entre psicanálise
e psicologia, porém são coisas bastante distintas, é possível que um psicólogo seja
psicanalista, da mesma maneira que um psicanalista pode não ser um psicólogo.
A teoria formulada por Sigmund Freud no início do século XX é ampla e
complexa. O autor começa seus estudos ainda no fim do século XIX, mas publica sua
primeira obra considerada psicanalítica “A interpretação dos sonhos”, em 1900. Assim, o
desenvolvimento de tal teoria se relaciona ao próprio contexto de início de século XX, em que
ocorreram diversas transformações em todo o mundo ao tentar entender o sofrimento psíquico
de pacientes diagnosticadas com histeria, Freud acaba por perceber e construir diversos
conceitos ligados à constituição do psiquismo humano (FREUD, 19 96a).
A psicanálise se baseia na idéia de que o indivíduo sofre a partir de uma instância
psíquica chamada inconsciente, que esse inconsciente no indivíduo ascende a consciência
através de fenômenos chamado sintomas, ou nessa situação em parte um quadro maior
chamado informações do inconsciente. Então a psicanálise se interessa pelo inconsciente, pois
entende que é esse sistema mental inconsciente, reestrutura o quadro psicopatológico do ser
humano (MOURA, 2008).
Na época os médicos não respeitavam as doenças nervosas, pois as mesmas
continham aspectos psíquicos, pois não eram considerados científicos, mas apenas o que era
mensurável ou passível de algum tipo de comprovação material. "Eles não sabiam o que fazer
do fator psíquico e não podiam entendê-lo. Deixando assim o tudo que envolvia a psique com
os filósofos e místicos da época. Freud então se dedicou às investigações do psiquismo com
forte influência da biologia, devido a sua formação médica. (FREUD, 1996b, p. 215).
Moura (2008) aponta que a Psicanálise considerava tudo de ordem mental como
sendo consciente ou inconsciente. O inconsciente é ambivalente, pois o tempo não é linear e
contrários coexistem, como o não e o sim. Dessa maneira, o sujeito pode amar e odiar ou
querer e não querer ao mesmo tempo, seguindo uma linha dialética.
Colich (2005) aponta que Freud buscou edificar uma ciência explanatória que
fosse capaz de provar seus achados, encontrando seus fatores e agentes causais, organizados
em forma de leis e princípios gerais. Isso teve uma forte influência na decisão do modelo de
inconsciente construído por Freud, estabelecendo a centralidade dos conceitos de pulsão
(formulação teórica para tentar expressar a transformação de estímulos em elementos
psíquicos) e recalque. “Decorre daí formulações sobre “investimento”, “representação”,
“resistência”, “defesas”, fases do desenvolvimento da libido”, “a teoria inicial sobre
ansiedade”, a “transferência” como revivência de uma memória passada, e a “realidade
psíquica”.
Ele desenvolve duas teorias do aparelho psíquico. Na primeira teoria do aparelho
psíquico ou primeira tópica freudiana, se divide o psiquismo em inconsciente, pré-consciente
e consciente. O inconsciente, para Freud, era uma instancia psíquica em que o paciente sabe,
mas não sabe que sabe. O inconsciente não segue uma lógica linear, mas atemporal e
dialético, onde contrários coexistem. O inconsciente é estruturado como linguagem e é a fonte
de energia do psiquismo humano. O pré-consciente seria responsável por armazenar as
informações que não estão na consciência naquele exato momento, mas podem ser acessadas
sempre que necessário. Há um fluxo constante entre as três instâncias (MOURA, 2008).
Estar consciente é, em primeiro lugar, um termo puramente descritivo, que
repousa na percepção do caráter mais imediato e certo. A experiência
demonstra que um elemento psíquico (uma ideia, por exemplo) não é, via de
regra, consciente por um período de tempo prolongado. Pelo contrário, um
estado de consciência é, caracteristicamente, muito transitório; uma idéia que
é consciente agora não o é mais um momento depois, embora assim possa
tornar-se novamente, em certas condições que são facilmente ocasionadas.
(FREUD, 1996b, p.27 e 28).
Ainda diante do primeiro momento, Freud desenvolve outro conceito importante,
nomeado como, a libido. A libido é a energia erótica que possibilita a vida. Utilizar-se desta
energia para fins socialmente aceitos (arte, religião, estudo, etc..) resulta em sublimação. É
também a libido quem une os homens para fins reprodutivos. Posteriormente ele desenvolve a
segunda teoria do aparelho psíquico ou segunda tópica ao perceber que o psiquismo era mais
complexo do que a divisão em inconsciente, consciente e pré-consciente. Neste segundo
momento ele divide a estrutura psíquica em id, ego e superego. O id é a fonte de energia
pulsional (libido). Ele é inconsciente e regido pelo Princípio do Prazer. O ego faz a mediação
entre os desejos. (FREUD, 1997a).
Carloni (2011) afirma que a psicanálise promove a consciência de padrões de
emoções e comportamentos inconscientes, desadaptativos e habitualmente recorrentes. Isso
permite que aspectos anteriormente inconscientes do self se integrem e promovam um ótimo
funcionamento da mente, cura e expressão criativa. psicanálise é um exemplo de terapia
global. Essas têm como objetivo ajudar os clientes a produzir uma mudança importante em
toda a sua perspectiva de vida.
Isso se baseia na suposição de que a atual perspectiva desadaptativa está ligada a
fatores de personalidade profundamente arraigados. As terapias globais contrastam com
abordagens que se concentram principalmente na redução de sintomas, como abordagens
cognitivas e comportamentais, as chamadas terapias baseadas em problemas (CARLONI,
2011).
A psicoterapia é um recurso importante no tratamento da bipolaridade, uma vez
que oferece suporte para o paciente superar as dificuldades impostas pelas características da
doença, ajuda a prevenir a recorrência das crises e, especialmente, promove a adesão ao
tratamento medicamentoso que, como ocorre na maioria das doenças crônicas, deve ser
mantido por toda a vida. ( TUNG, 2007).
Por fim, Carloni (2011) ainda afirma que o tratamento na psicanálise envolve, em
encorajar o cliente a lembrar-se dessa experiência inicial e a desvendar as fixações que
surgiram em torno dela. Um cuidado especial é tomado com a transferência quando se
trabalha com clientes deprimidos, devido à sua grande necessidade de depender dos outros. O
objetivo é que os clientes se tornem menos dependentes e desenvolvam uma maneira mais
funcional de compreender e aceitar a perda, rejeição ou mudança em suas vidas.

3.3- Intervenção Terapêutica, Técnicas e Instrumentos Utilizados:

Associação livre de ideias


Freud 1982, começa a criar o método da associação livre a partir de uma
intervenção com uma de suas pacientes, a senhora Emmy Von N, em 1982. Essa paciente
pediu diretamente a Freud que ele parasse de intervir em seu discurso, e que a deixasse falar
livremente.
Apesar de o nome ser associação livre não é livre de todos os lados, é uma via
unilateral onde somente o paciente verbaliza nesse intuito e o analista exerce seu trabalho
analisando o paciente a todo instante, como descrito no Estudo Autobiografia de Freud
(1925).

Interpretação
“A interpretação define uma maneira de tratar um elemento singular do material,
tal como uma associação ou um lapso. Mas é uma construção que fazemos quando expomos
ao sujeito um fragmento de sua pré-história...” (Freud, 1937/1985, p. 273).
Segundo a concepção freudiana, a interpretação visa essa liberação do sentido latente que
estaria presente na fala do paciente durante a sessão analítica, explicitando o conflito
defensivo ligado ao desejo inconsciente. Este modelo é teorizado na Interpretação do
sonho (Freud, 1900/2004). Em seguida, o modelo é expandido para as diversas formações do
inconsciente (os atos falhos, os lapsos, os esquecimentos, os chistes, o cômico, etc.).
Enfim, as palavras do analista são elementos constituintes da situação analítica e
poderíamos considerar muitas vezes que a interpretação ideal só se fará quando os processos
inconscientes já tiverem perdido sua imperiosa necessidade. A interpretação seria então como
formulou Diatkine: “A conclusão desse trabalho a dois que é a perlaboração, muito mais do
que o veículo de uma verdade que acabaria por ser convincente” (Diatkine, 1994, p. 82).

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