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ABORDAGENS BIOLÓGICAS NA EXPLICAÇÃO DO

COMPORTAMENTO DESVIANTE
AULA 4
COMPORTAMENTO DESVIANTE
OLGA CUNHA
PORQUE É QUE OS SUJEITOS COMETEM CRIMES?

 Fatores biológicos como causa do crime


 Porque são fracos
 Porque são diabólicos
 Por múltiplos e complexos fatores
PORQUE É QUE OS SUJEITOS COMETEM CRIMES?

 O nível biológico
 Explicação securizante de casos pontuais
 Crença popular ‘a criminoso já nasce assim’
TEORIAS BIOLÓGICAS

 Crime como forma de doenças causada por fatores patológicos específicos a certas
classes de indivíduos
 Mau vs doente
 Como podemos culpar alguém por ser doente?
TEORIAS BIOLÓGICAS

 O criminoso é radicalmente diferente do não criminoso


 Alguns indivíduos nascem criminosos
 A punição não é aplicável
CARÁTER E APARÊNCIA FÍSICA

 Inferências acerca do comportamento a partir da sua aparência


 Gregos e Romanos antigos acreditavam na fisionomia
 ‘Não confies em homens sem barba nem em mulheres com barba’
CONTEXTO DE APARECIMENTO DAS ABORDAGENS
BIOLÓGICAS…
 “Que espécie de criaturas são os seres humanos?”

 Respostas dadas pelas ciências objetivas - biologia


COMTE (1798-1857) E A FILOSOFIA POSITIVISTA

 “Não temos conhecimento de nada a não ser dos fenómenos; e o nosso


conhecimento dos fenómenos é relativo e não absoluto”

 Objetivos do positivismo
 Generalização da concetualização científica dos fenómenos
 Sistematização da arte da vida social
COMTE

 Desenvolvimento e conhecimento humano


 Teológico
 Metafísico
 Positivo

 Conhecimento relativo, fluído e dinâmico


CARACTERÍSTICAS DO POSITIVISMO (COMTE)

 Determinismo

 Criminosos diferentes dos não criminosos

 Patologia
DARWIN E O EVOLUCIONISMO

 Continuidade entre as espécies

 Alguns indivíduos diferem em termos de traços hereditários


DARWIN

 Determinismo biológico

 Degeneração
 Em 1827 foram publicadas em França as primeiras estatísticas modernas sobre a criminalidade

 Estatística Moral: Guerry e Quetelet


 Quetelet
 Estatísticas oficiais na contabilização dos crimes
 Cifras negras
 Regularidades
QUETELET (1933)

 As duas variantes que mais se correlacionam com a criminalidade são a idade e o


género

 Fator oportunidade na prática de atos criminosos


QUETELET (1830) E OUTROS

 Leis térmicas
 Crimes contra as pessoas – climas quentes,Verão
 Crimes contra a propriedade – climas frios, Inverno
 Crimes sexuais - Primavera
SAÚDE DO DELINQUENTE

 Morrison (1895) e Burt (1944)


 Condição débil
 Deficiências físicas 1.25 vezes mais frequentes

 Mannheim (1950-1950)
 ‘Uma condição física débil exerce por si própria uma certa influência na delinquência juvenil,
sobretudo quando as condições em casa são deficientes
HEALY (1936) E MCCORDS (1959)

 A remoção dos defeitos físicos não leva necessariamente ao termo da conduta


delinquente
BIO-ANTROPOLOGIA

 Biotipologias
 Hipócrates e Galeno
 Crença de que o aspeto físico é revelador do caráter
 O delinquente é diferente do homem normal e já nasce assim
BIO-ANTROPOLOGIA

 “Quero ter junto a mim homens dos gordos, lisos de cabeça e dos que à noite usam
dormir bem. Aquele Cássio, de ar magro e faminto, pensa demais: tais homens são
perigosos” (personagens de Shakespeare)

 “a pessoa gorda, diz um juiz, não escreve cartas anónimas… são os magros que se
sentam às secretárias, como são os dedos ossudos que mergulham as canetas no
vitríolo e constroem bombas para que os inocentes carteiros as distribuam”

Times, 11/10/1935
BIO-ANTROPOLOGIA

 Kretchmer (anos 20)


 Pícnico:
 Físico: estatura mediana, cabeça e abdómen volumoso, tecido adiposo abundante em especial na zona da barriga,
membros e ombros delgados
 Temperamento ciclotímico: sociável, amável mas explosivo

 Atlético
 Físico: ombros largos, tórax volumoso, musculatura desenvolvida
 Temperamento viscoso ou ixotímico: sossegado, circunspecto, comedido, formal, mente lenta

 Leptossómico
 Físico: tronco e membros esbeltos, delgados, ombros estreitos e caídos, musculatura débil
 Temperamento esquizóide ou esquizotímico: tímido, nervoso, hipersensível
BIO-ANTROPOLOGIA

 Sheldon (1940)
 Endomorfos
 Extroversão, amabilidade, gosto pelas comodidades materiais, prazer pela comida

 Mesomorfos
 Movimentos firmes e enérgicos, gosto pela aventura e pelo exercício físico, ansia de poder, agressividade
competitiva, pouca compaixão-> crime

 Ectomorfos
 Introversão, timidez, hiperexcitabilidade, concentração, atenção e rapidez de reações
BIO-ANTROPOLOGIA

 Fisionomia
 Lavater (1741-1801)
 Correspondência entre o homem interno e externo, as superfícies visíveis e os conteúdos invisíveis
 Divisão da face em 3 áreas
 Boca e queixo: vida animal
 Nariz e bochechas: vida moral
 Testa e sobrancelhas: vida intelectual
BIO-ANTROPOLOGIA

 Frenologia (séc. XVIII e XIX)


 Gall (1758-1828)
 Relação entre a configuração do crânio e o comportamento
 O comportamento criminal é causado por anomalias cerebrais
 Propensões inferiores poderiam ser superadas pela influência de sentimentos mais elevados – noção de não
inevitabilidade
FRENOLOGIA

 Ciência que estuda a relação entre o caráter da pessoa e a morfologia do crânio

 As competência intelectuais e os traços de personalidade relacionam-se com


morfologia do cérebro – saliências na cabeça
FRENOLOGIA

 A Frenologia foi fundada por Franz Joseph Gall (1758–1828)


 Importantes avanços ao nível da anatomia cerebral

 Gall foi um dos primeiros a considerar o cérebro a ‘casa de todas as emoções’


FRANZ GALL
FRENOLOGIA

 Dois erros de Gall


 Morfologia do crânio é similar à do cérebro
 Metodologia acrítica
BIO-ANTROPOLOGIA

 Estudo do criminoso e não o crime em geral

 Busca das causas do crime nos estigmas individuais do delinquente


BIO-ANTROPOLOGIA: DEGENERESCÊNCIA/DOENÇA

 Crime e doença mental


 Mania sem delírio: Pinel
 Insanidade moral
 Rush
 Pritchard
BIO-ANTROPOLOGIA: DEGENERESCÊNCIA/DOENÇA

 Crime e degenerescência
 Morel
ANTROPOLOGIA CRIMINAL

 Lombroso (1835-1909)
 Antropologia criminal
 Estudo científico dos traços físicos e psicológicos dos criminosos
 Conhecimentos médicos + ideias da fisionomia e da frenologia
 Perspetiva evolucionista darwiniana
CESARE LOMBROSO
CESARE LOMBROSO

 Pai da criminologia moderna


 Pensamento racional-científico e experimentação
 Determinadas doenças contribuem para deficiências físicas e mentais que podem resultar em violência e
homicídio
 Medições sistemáticas de cerca de 3000 soldados por forma a documentar as diferenças físicas entre os
habitantes de diferentes regiões de Itália
 Tatuagens
ANTROPOMETRIA
CESARE LOMBROSO

 Criminoso nato
 1872 – autópsia Giuseppe Villella
 Anomalia estrutura craniana

 1976 – “L’uomo delinquente”


 Atavismo
 Estigmas anatómicos
 Recapitulação

 1878
 Significado das tatuagens, calão, prostituição
 Os criminosos representam um tipo físico peculiar, distinto dos indivíduos não criminosos
 Criminosos representam uma forma degenerativa que se manifesta em características físicas indicativas de formas
primitivas de evolução
 Criminoso atávico
 4 tipos de criminoso
 Criminoso nato
 Características atávicas

 Criminosos insanos
 Idiotas, imbecis, paranoicos, epiléticos e alcoólicos

 Criminoso ocasional ou criminalóide


 Oportunidade + traços inatos que os predispõem para o crime

 Criminoso passional
 Raiva, amor ou honra
O CRIMINOSO NATO
ESTIGMAS E CARACTERÍSTICAS DO CRIMINOSO

 Assimetria craniana, testa baixa ou inclinada para trás, orelhas em forma de asa, arcadas superciliares salientes,
maxilares proeminentes (prognatismo), face longa e larga apesar do crânio pequeno, cabelos e pelos abundantes
mas barba escassa, rosto pálido, estrabismo, braços compridos, sobrancelhas cerradas….
 Pelo menos 5 destes estigmas
 Insensibilidade, física e psíquica, profundo embotamento da receptividade à dor (analgesia); extraordinária
resistência aos golpes e ferimentos graves ou mortais
 Mancinismo ou a ambidextria
 Distúrbios dos sentidos e o mau funcionamento dos reflexos vasomotores, com ausência de enrubescimento da
face.
 Insensibilidade moral, vaidade, indolência, crueldade, calão, tatuagens
SOBRE O CRIMINOSO NATO…

 Representa 35% dos criminosos


 Uma anomalia única isolada marca um ofensor como constitucionalmente imperfeito e por isso potencialmente
perigosos
TATUAGENS

 Importância das tatuagens para Lombroso


 A maior parte dos criminosos natos tinham tatuagens
 Natureza obscena das suas representações e mensagens
 Tatuagens enquanto evidências de insensibilidade à dor física e imoralidade
MULHER CRIMINOSA

 Os registros oficiais, segundo os quais as mulheres tinham taxas de criminalidade mais baixas do que os homens,
podem ser enganosos
 As mulheres são menos evoluídas
MULHER CRIMINOSA

 The Female Offender (1897)


 Em coautoria com William Ferrero
 A seleção natural é a razão da existência de uma maior percentagem de criminosos natos homens
 Os homens têm uma menor propensão a reproduzirem-se com mulheres fisicamente deformados
 As mulheres têm menos probabilidade de transmitir os seus genes
 Os traços degenerativos nas mulheres têm uma menor probabilidade de sobreviver no tempo do que tais traços no
homem
DESENVOLVIMENTOS DA TEORIA

 1879
 Diferenciação dos criminosos segundo tipos/anomalias
 Causas são alargadas para além do biológico, incluem clima, área geográfica, consumos
 Prostituição como forma de desvio prototípica das mulheres

 Ferri (causas sociais), Garofalo (causas psicológicas)


DESENVOLVIMENTOS DA TEORIA

 Ferri
 Inter-relação entre fatores sociais, económicos e políticos
 Criminalidade explicada pelo estudo dos efeitos interativos entre os fatores físicos, fatores individuais e fatores sociais
 Controlo do crime
 Indivíduos devem ser legalmente responsáveis pelas suas ações
DESENVOLVIMENTOS DA TEORIA

 Ferri
 5 classes de criminosos
 Criminoso nato ou instintivo
 Criminoso insano
 Criminoso passional
 Criminoso ocasional
 Criminoso habitual
 Criminoso involuntário
DESENVOLVIMENTOS DA TEORIA

 Garofalo
 Darwinismo social
 Sociedade enquanto “corpo natural” e crime enquanto ofensas contra a lei da natureza
 Ação criminal enquanto crime contra a natureza
DESENVOLVIMENTOS DA TEORIA

 Garofolo
 Por vezes as anomalias e características físicas estão presentes outras vezes não estão presentes
 Ausência de sentimentos altruístas
 Anormalidades psíquicas e anormalidades que podem ser transmitidas hereditariamente
DESENVOLVIMENTOS DA TEORIA

 Garofolo
 4 classes de criminosos com base em deficiências nos sentimentos básicos de integridade e compaixão
 Homicidas
 Criminosos menores
 Criminosos cínicos ou sexuais
 Outros criminosos libertinos
DESENVOLVIMENTOS DA TEORIA

 Garofolo
 Ações dos verdadeiros criminosos revelam uma inabilidade para viver de acordo com os sentimentos humanos básicos
 Eliminação: Pena de morte
 Exclusão: Prisão perpétua ou degredo
DESENVOLVIMENTOS DA TEORIA

 Henri Maudsley (1835-1918)


 Do verdadeiro ladrão como do verdadeiro poeta poder-se-á dizer na verdade que já nasceu assim e que não foi feito
 Insanidade moral e doença mental no crime
DESENVOLVIMENTOS DA TEORIA

 Dallemagne
 ‘Os estigmas biológicos e sociológicos da criminalidade’ (1903)
 Características físicas estudadas por Lombroso e funções fisiológicas e sensações
 Estigmas psicológicos
 Estigmas sociológicos
 Visão multifatorial dos estigmas
XYY: SÍNDROME DO SUPER-MACHO

 Alguns homens recebem um cromossoma Y extra


 O cromossoma Y cria uma forte compulsão, pelo que o portador de XYY encontra-se num elevado risco de
cometer crimes violentos
 Ligação entre o comportamento agressivo e violento e cromossoma XYY (Sandberg et al., 1961)
 Estudos reportam que 1% a 3% da população prisional são XYY enquanto que na população em geral a
percentagem é inferior a 1%
 Reduzido suporte empírico e âmbito restrito
XYY: SÍNDROME DO SUPER-MACHO

 Patricia Jacobs (1965) analisou 198 prisioneiros Escoceses ao nível das anormalidades cromossómicas
 12 membros do grupo são XYY (apenas 3.5% da população prisional)
 Sarbin & Miller (1970)
 Abolição das investigações biológicas nas causas dos crimes considerando-as imorais e cientificamente não éticas
 Estudo do crime deve restringir-se às causas sociais, económicas e políticas
 Mednick et al. (1984)
 Crianças adotadas mais influenciadas para o crime se os seus pais biológicos tiverem um comportamento criminoso
 Ausência de evidência científica
CRÍTICAS

 Hereditariedade de traços como causas


 Explicação de uma pequena parte dos crimes
 Pensamento conservador
 Criminoso recluso vs não criminoso, não recluso
 Crime como inferioridade
 Papel do meio
 Regime político totalitário

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