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Orientação de leitura – Manual pp.

147,148

1. Para caracterizar Pedro da Maia, o narrador utiliza sobretudo o processo de


caracterização directa: “Ficara pequenino e nervoso como Maria Eduarda, tendo
pouco da força dos Maias…”
Ao longo do texto, há momentos em que o narrador caracteriza a personagem de
forma indirecta. Podemos apresentar o seguinte exemplo: “Ao fim de um ano de
distúrbios no Marrare, de façanhas nas esperas de toiros, de cavalos esfalfados, de
pateadas em S. Carlos…”. Aqui o narrador refere de forma indirecta que Pedro
tinha uma vida de boémia e alguma inclinação para provocar confusões e
desordens.
2. Pedro não apoia nem rejeita um projecto em que é o principal visado, porque é
um ser apático e passivo, traço que lhe advém do carácter herdado da sua mãe e
estimulado pela forma como foi educado. Ao longo da vida, Pedro não
desenvolveu a capacidade de optar e de decidir, resignando-se às decisões dos
outros.
3. A fraqueza de Pedro manifesta-se logo na infância, quando não ousa desobedecer
ao padre Vasques, embora não gostasse dele. Também quando aceita de forma
passiva a decisão da mãe de não o deixar ir para Coimbra.
O excesso de sentimentalismo está presente ao longo de toda a narração: a
melancolia na infância (“e esse abatimento contínuo de todo o seu ser resolvia-se
a espaços em crises de melancolia negra, que o traziam dias e dias mudo, murcho,
amarelo…”); a sua loucura aquando da morte da mãe (“…Pedro teve na sua dor os
arrebatamentos de uma loucura.”); a vida dissipada e os excessos depois da morte
da mãe (“Esta dor exagerada e mórbida cessou por fim; e sucedeu-lhe quase sem
transição, um período de vida dissipada... Mas essa exuberância ansiosa que se
desencadeara tão subitamente, tão tumultuosamente, na sua natureza
desequilibrada, gastou-se depressa também.”); as crises de melancolia posteriores
e o excesso religioso(“ começaram a reaparecer as crises de melancolia nervosa…
Nesse período tornava-se também devoto”); o amor por Maria Monforte (“ Pedro
da Maia amava! Era um amor à Romeu, vindo de repente numa troca de olhares
fatal e deslumbradora”).
4. Expressões do texto em que se revele expressivamente o desequilíbrio
temperamental de Pedro: “Esta dor exagerada e mórbida”; “vida dissipada e
turbulenta”; estroinice banal”; “romantismo torpe”; “exuberância ansiosa”;
antigas crises de melancolia nervosa”…
5. Neste contexto, Pedro é referido como “menino”, pois ele continua a ser frágil e
passivo, excessivamente protegido pela mãe, como se ainda fosse uma criança.

Outras actividades
2. Pedro da Maia é o retrato de um sentimental. Muito do desinteresse e apatia que
revela pelo que o rodeia, advém-lhe deste traço de carácter herdado dos Runa e
estimulado pela forma como foi educado. Exageradamente protegido pela mãe, criado
num ambiente de saudosismo e beatério, aprendendo conceitos que não entendia e
portanto só o enfadavam, sem contacto com outras crianças ou mesmo com o mundo
exterior, Pedro não teve oportunidade de se confrontar com outras formas de vida,
outras maneiras de estar e não desenvolveu a capacidade de escolher, de decidir, de
se impor. A excessiva ligação à mãe preenchia-lhe a vida. Não é de estranhar,
portanto, a reacção exagerada que teve à sua morte e a alternância súbita e
injustificada de comportamentos que teve na sequência dessa perda. Um sentimental
numa busca infrutífera de encontrar um sentido para a vida.
Encontrou-o subitamente numa desconhecida. E não é por acaso que um
indivíduo que nunca impôs a sua vontade, que sempre teve comportamentos
indiciadores de fraqueza, de moleza de carácter enfrentou com firmeza a maledicência
social e sobretudo a rejeição do pai. O amor sobrepunha-se a tudo. Por amor aceitou
com passividade os caprichos da mulher, nomeadamente as recepções que lhe
desagravam, ou a corte que os homens lhe faziam e o deixavam enciumado.
O suicídio surge como a consequência natural do “falhanço” no campo sentimental.
Abandonado, traído pela mulher que amava, Pedro não encontra sentido para a vida.
A construção desta personagem parece obedecer a uma tese, em conformidade com
os cânones naturalistas: os traços de carácter herdados, a educação que, em vez de
contrariar esses traços, os exacerbou, e o meio foram a causa da autodestruição de
Pedro da Maia.

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