Pessoa sente-se vazio, um incompreendido, incapaz de estabelecer relações
com o outro, com quem não se identifica minimamente. Neste sentido, aconselha-nos a cercar “de grandes muros quem te sonhas”, com vista a proteger a nossa interioridade do olhar dos outros. É de destacar que as temáticas primordiais da poesia do ortónimo são a solidão interior, a incapacidade de amar e a interrogação filosófica incessante acerca do mistério da vida, que o conduzem a um estado de melancolia, cansaço, desalento e profunda angústia e tédio existenciais. Em suma, uma vez que se apercebe que é diferente do comum dos mortais, sente-se marginalizados e desintegrado, incapaz de viver a vida e de se relacionar com os outros, fatores que agravam ainda mais a sua solidão.
PERCEÇÃO DO TEMPO
Pessoa sente-se angustiado perante a efemeridade da vida e a inevitabilidade
da morte, aceitando o seu destino numa atitude de resignação e desistência, não lhe restando qualquer esperança de um dia concretizar os seus sonhos e ser feliz. Neste sentido, refugia-se no passado, procurando superar a angústia existencial através da evocação da infância, guardada na memória enquanto período de felicidade máxima, em relação ao qual há sempre o desejo de regresso impossível. É de destacar que a nostalgia da infância funciona como uma forma de evasão ao sofrimento. Contudo, é uma estratégia efémera, é certo, porque o presente e a realidade acabam por se impor ao “eu”. Em suma, a consciência do sentido da brevidade da vida e da passagem dos dias condicionam o percurso existencial do ortónimo, dominado pela melancolia, o desalento e uma profunda angústia.
. PERCEÇÃO SENSORIAL E TRANSFIGURAÇÃO DO REAL
DOR DE PENSAR
Assumindo-se como um ser racional, Pessoa sente-se como enclausurado
numa cela pois sabe que não consegue deixar de pensar. A verdade é que se sente mal por ser assim, pois logo que sente, automaticamente intelectualiza essa emoção e, através disso, tudo fica distante, confuso e negro. O ortónimo defende a apreensão da realidade através da razão, porque acredita que esta é o nosso guia e que se Deus quisesse que nós não a usássemos, “Ter-me-ia outro criado”. Em suma, para atingirem a plenitude ou o equilíbrio desejado, afunda-se no tédio e o sonho acaba por surgir como uma dimensão idealizada.