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A nova poesia
Na segunda fase do Modernismo, com o surgimento de uma nova geração de autores, a poesia
brasileira atinge um estágio de grande amadurecimento. Os poetas abandonam o tom irreverente e
polêmico dos primeiros tempos e, com a liberdade estética conquistada, desenvolvem plenamente
suas próprias tendências, sem a preocupação de chocar os tradicionalistas.
É o período em que se afirma uma das mais importantes gerações de poetas do Brasil: Cecília
Meireles, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Augusto Frederico Schmidt,
Henriqueta Lisboa, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Dante Milano, Mario Quintana e Joaquim
Cardoso, entre outros. Além disso, poetas da fase anterior, como Mário de Andrade e Manuel
Bandeira, renovam-se e continuam a produzir. Todos esses autores contribuem para o
enriquecimento da poesia moderna, que desenvolve várias temáticas: social, religiosa, espiritualista,
amorosa.
Cecília Meireles
Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro, em 1901, e faleceu na mesma cidade, em 1964.
Depurando a linguagem musical e cadenciada do Simbolismo, transformou em poesia emoções como
a melancolia, a saudade e a inquietação provocada pela fugacidade do tempo. Por manifestar uma
resignação madura perante as angústias da vida, sua poesia, marcada por uma nota de tristeza e
desencanto, revela-se como uma das mais significativas expressões do lirismo moderno.
Dentre seus livros de poesia destacam-se: Viagem (1939); Vaga música (1942); Mar
absoluto (1945); Retrato natural (1949); Doze noturnos da Holanda (1952); O
aeronauta(1952); Romanceiro da Inconfidência (1953); Canções (1956); Metal rosicler (1960); Poemas
escritos na Índia (1962); Solombra (1963). Deixou também um livro de poesia infantil: Ou isto ou
aquilo (1964).
Leitura
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje, nem estes olhos tão vazios,
assim calmo, assim triste, assim magro nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, Eu não dei por esta mudança,
tão paradas e frias e mortas; tão simples, tão certa, tão fácil:
eu não tinha este coração – Em que espelho ficou perdida
que nem se mostra. a minha face?
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Vinicius de Moraes
Soneto de fidelidade
Quero vivê-lo em cada vão momento Eu possa me dizer do amor (que tive):
E em seu louvor hei de espalhar meu canto Que não seja imortal, posto que é chama
E rir meu riso e derramar meu pranto Mas que seja infinito enquanto dure.
Ao seu pesar ou seu contentamento.
Estoril, outubro de 1939
MORAES, Vinicius de. In: BUENO, Alexei (Org.). Vinicius de Moraes: poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998. p.
289.
Poema de Natal
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados Não há muito que dizer:
Para chorar e fazer chorar Uma canção sobre um berço
Para enterrar os nossos mortos – Um verso, talvez, de amor
Por isso temos braços longos para os adeuses Uma prece por quem se vai –
Mãos para colher o que foi dado Mas que essa hora não esqueça
Dedos para cavar a terra. E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer Pois para isso fomos feitos:
Uma estrela a se apagar na treva Para a esperança no milagre
Um caminho entre dois túmulos – Para a participação da poesia
Por isso precisamos velar Para ver a face da morte –
Falar baixo, pisar leve, ver De repente nunca mais esperaremos...
A noite dormir em silêncio.
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos, imensamente.
MORAES, Vinicius de. In: BUENO, Alexei (Org.). Vinicius de Moraes: poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998. p.
445.
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Poesia e música
Vinicius de Moraes levou para as letras de música não só o lirismo de sua linguagem poética,
como também muitos dos temas básicos de sua poesia. A meditação sobre o Tempo, por exemplo, é
um deles. É o que vemos na letra da canção “O filho que eu quero ter”, musicada por Toquinho, uma
das mais inspiradas de sua obra: a vida que vem e a vida que vai, o encontro e a despedida.
Leitura
MORAES, Vinicius de. In: BUENO, Alexei (Org.). Vinicius de Moraes: poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998. p.
761-762.
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Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira (MG), em 1902, e morreu na cidade do Rio de
Janeiro, em 1987. É considerado o melhor poeta do Modernismo e um dos grandes nomes de nossa
literatura. Foi também cronista, contista e tradutor.
Escreveu os seguintes livros de poesia: Alguma poesia; Brejo das almas; Sentimento do mundo; A
rosa do povo; Claro enigma; Viola de bolso; Fazendeiro do ar; A vida passada a limpo; Lição de
coisas; Boitempo & A falta que ama; Menino antigo (Boitempo II); As impurezas do branco; A visita;
Discurso de primavera e algumas sombras; Esquecer para lembrar (Boitempo III); A paixão medida;
Corpo; Amar se aprende amando; Poesia errante; O amor natural; Farewell.
A poesia de Drummond revela um longo processo de investigação da realidade humana, e suas
linhas básicas já estão presentes nos primeiros livros: visão crítica da sociedade, frequentemente
expressa por meio do humor e da ironia, e certo desencanto com relação à vida, revelando um
pessimismo em que o homem se encontra frente a frente com o vazio e o nada.
Houve também uma fase de poesia participante, em que ele reconhecia a necessidade de se
integrar em seu tempo, um tempo de destruição e morte. Pouco a pouco, porém, a participação social
por meio da poesia foi sendo substituída por uma visão cada vez mais desolada, em que a esperança
no novo tempo cede lugar a uma resignação madura diante da falta de solidariedade e de justiça.
Os laços familiares do poeta e a força do passado onde se originou seu modo de ser e de encarar a
realidade manifestam-se nos poemas em que trata do pai, da vida antiga em Itabira, do passado
projetando-se no presente. E, ao longo desse percurso, uma de suas características básicas: a
constante reflexão sobre a linguagem poética, sobre o “reino das palavras”.
Leitura
ANDRADE, Carlos Drummond de. In: TELES, Gilberto Mendonça (Fix. textos e notas). Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
2002. p. 73. Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond – www.carlosdrummond.com.br.
Carta
Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias. A falta que me fazes não é tanto
Eu mesmo envelheci: Olha, em relevo, à hora de dormir, quando dizias
estes sinais em mim, não das carícias “Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.
(tão leves) que fazias no meu rosto: É quando, ao despertar, revejo a um canto
são golpes, são espinhos, são lembranças a noite acumulada de meus dias,
da vida a teu menino, que ao sol-posto e sinto que estou vivo, e que não sonho.
perde a sabedoria das crianças.
ANDRADE, Carlos Drummond de. In: TELES, Gilberto Mendonça (Fix. textos e notas). Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
2002. p. 490. Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond – www.carlosdrummond.com.br.
ANDRADE, Carlos Drummond de. In: TELES, Gilberto Mendonça (Fix. textos e notas). Poesia
completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. p. 1.277. Carlos Drummond de Andrade © Graña
Drummond – www.carlosdrummond.com.br.
Mãos dadas
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Diálogo com a pintura
Carlos Drummond de Andrade escreveu vários poemas curtos sobre quadros famosos da história
da arte. Podemos ler esses textos como uma espécie de diálogo entre a poesia e a pintura. É uma
experiência estética interessante que pode nos estimular a tentar perceber como nasceu a leitura que
o poeta fez do quadro. Será que o leríamos da mesma maneira? Vejamos então um desses poemas e o
quadro a que ele se refere.
Alucinação de mesas
que se comportam como fantasmas
reunidos
solitários
glaciais.
Mario Quintana
A obra do gaúcho Mario Quintana (1906-1994) é uma das grandes contribuições para o
enriquecimento da poesia brasileira. Numa linguagem despojada, enxuta, de grande poder de
comunicação e quase sempre marcada pelo humor ou por uma fina ironia, tratou dos temas
fundamentais da experiência humana: a fragilidade do amor, a solidão, a fugacidade do tempo, a
nostalgia da infância. Do conjunto de seus livros, destacam-se A rua dos
cataventos; Canções; Espelho mágico; O aprendiz de feiticeiro; Esconderijos do tempo. Cultivou
também, de forma original, poemas em prosa em Na volta da esquina; Sapato florido; Caderno H.
Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E
agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não
transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo,
nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas,
fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto.
Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.
QUINTANA, Mario. IstoÉ, 14 nov. 1984. (Fragmento). Disponível em: <http://www.estado.rs.gov.br/marioquintana>. Acesso em: 2 set.
2011.
Leitura
Bilhete
QUINTANA, Mario. In: CARVALHAL, Tania Franco (Org.). Poesia completa. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 2008. p. 474.
Poeminho do contra
QUINTANA, Mario. In: CARVALHAL, Tania Franco (Org.). Poesia completa. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 2008. p. 257.
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Poesia popular: Patativa do Assaré
A chamada “poesia popular”, aquela que raramente está presente nas academias ou revistas
literárias, é, no entanto, uma parte importante da tradição poética brasileira. São poetas que falam de
um outro Brasil, do Brasil sertanejo. Usam a linguagem do povo para falar da vida no sertão, do
amor pela terra, dos problemas sociais.
Um dos nomes mais representativos dessa poesia é Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido
como Patativa do Assaré. Ele nasceu na cidade de Assaré, no Ceará, em 1908, e lá morreu em 2002.
Trabalhador da roça, teve apenas instrução elementar, mas se tornou um inspirado compositor,
cantor e poeta. Seu apelido, Patativa, aliás, é o nome de um pássaro de bonito canto. Publicou vários
livros, dos quais se destacam Ispinho e fulô e Cante lá que eu canto cá. Produziu poemas tanto em
linguagem culta como em linguagem “matuta”, como ele costumava dizer de seus textos que
reproduziam a fala nordestina.
Leitura
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