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Editora dl Univanldad* da Sijiado Confio

a noção
de cultura nas
c n c a s socas
Coordenação Editorial
Irmã JacintaTurolo Garcia

Assessoria Administrativa
Irmã Teresa Ana Sofiatti

Assessoria Comercial Denys Cuche


Irmã Áurea de Almeida Nascimento

Coordenação da Coleção Verbum


Luiz Eugênio Véscio

Tradução
Viviane Ribeiro

VERBUM
Gênese Social da Palavra e da
Idéia de Cultura

As palavras"têm"~uma história e, de certa


maneira também, as palavras fazem a história. Se
isto é verdadeiro para todas as palavras, é parti-
cularmente verificável no caso do termo "cultu-
ra". O "peso das palavras", para retomar uma ex-
pressão da mídia, é grandemente influenciado
por esta relação com a história, a história que as
fez e a história para a qual elas contribuem.
S^-'

í As palavras aparecem para responder a al-


fíumas interrogações, a certos problemas que se
Y colocam em períodos históricos determinados
C_Ê em contextos sociais e políticos específicos.
Nomear é ao mesmo tempo colocar o problema
e, de certa maneira, já resolvê-lo.
A invenção da noção de cultura é em si
mesma reveladora de um aspecto fundamental
da cultura no seio da qual pôde ser feita esta in-
venção e que chamaremos, por falta de um ter-
mo mais adequado, a cultura ocidental. Inversa-
mente, é significativo que a palavra "cultura"não
tenha equivalente,na maior parte das línguas
orais das sociedades quedos etnólogos estudam
habitualmentejlsto não implica, evidentemente
(ainda que esta evidência não seja universalmen-
te compartilhada!) que estas sociedades não te-
nham cultura, mas que elas não se colocam a
questão de saber se têm ou não uma cultura e - que permitirá em seguida a invenção do con-
ajnclâ menos de clêhnir suã^áaria cultura,^ ceito - sejjroduziu na língua francesa do século
Por esta razão, se quisermos compreender das Luzes, antes de se difundir por empréstimo
o sentido atual do conceito de cultura e seu uso lingüístico em outras línguas vizinhas (inglês,
nas ciências sociais, é indispensável que se re- alemão).
constitua sua gênese social, sua genealogia. Isto Se o século XVIII pode ser considerado
é, trata-se de examinar como foi formada a pala- como o período de formação do sentido moder-
vra, e em seguida, o conceito científico que dela i
no dajgalavra, cm 1700. no entanto, "culturã"já
depende, logo, localizar sua origem e sua evolu- é uma palavra antiga no vocabulário francês. \
ção semântica. Não se trata de se entregar aqui a jo latim cultura que ^
uma análise lingüística, mas de evidenciar os la- dispensado ao campo ou ao ^agp^cla aparece
ços que existem entre a história da palavra "cul- nos fins do século XIII para designar uma parcc-
tura" e a história das idéias. A evolução de uma la_dg_terra cultivada (sobre este ponto e os se-
palavra deve-se, de fato, a inúmeros fatores que guintes, ver Bénéton, [1975]).
não são todos de ordem lingüística. Sua herança No começo do século XVI, ela não signifi-
semântica cria uma certa dependência em rela- ca mais um estado (da coisa cultivada), mas uma
ção ao passado nos seus usos contemporâneos. ação, ou seja o fato de cultivar a terra. Somente
Do itinerário da palavra "cultura" tomare- no meio do século XVI se forma o_ sentido fígu-
mos apenas os aspectos que esclareçam a for- :-radg e_"cultura" pode designar então a cultura
mação do conceito tal como é utilizado nas de uma faculdade, isto é, o fato de trabalhar para
ciências sociais. A palavra foi, e continua a ser, ..desenvolvê-la., Mas este sentido figurado será
aplicada a realidades tão diversas (cultura da ter- pouco conhecido até a metade do século XVII,
ra, cultura microbiana, cultura física...) e com obtendo pouco reconhecimento acadêmico e
tantos sentidos diferentes que é quase impossí- não figurando na maior parte dos dicionários
vel rctraçar-^aqui sua história completa. da época.
Até o século XVIILa evolução do conte-
Evolução da palavra na língua francesa údo semântico da palavra se deve principalmen-
da Idade Mgjlia^ aoseculo X1X_ te,^ movimento natural da língua e não ao mo-
vjmentQ das idéias, taue procede, por um lado
É legítimo analisarmos particularmente o a cultura como estado à cul-
exemplo francês do uso de "cultura", pois pare- tura como ação), por outro lado
ce que a evolução semântica decisiva da palavra Cda cultura da terra à cultura do espírito'), imi-
tando nisso seu modelt Cultura, consa- jque concebem a cultura como um Caráter distin-
grado pelo latim clásgiçpjlQ-gentido figurado^ 1 tiro da espécieihumana. A_cultura, para eles, é a
O termo "cultura" no sentido figurado J soma dos saberes acumulados e transmitidos
meça a se imporjiojéculo XVIII. Ele faz sua en- | pela humanidade, considerada como totalidade,
trada com-este sentido no Dicionário da Acade- ão, longo de sua história.
mia Frahcesa (edição de 1718) e é então quase Nojréculo XVHI." cultura" é sempre empre-
sempre seguido de um complemento: fala-se da gada no singular, o que reflete o universalismo e
"cultura das artes" , da "cultura das letras" , da "cul- o humanismo dos filósofos: a cultura é própria
tura das ciências", como se fosse preciso que a do Homem (com maiúscula), além de toda_dis-
coisa cultivada estivesse explicitada. tinção de povos ou de classes. "CultunTse ins-
A palavra faz parte do vocabulário dajm- creve então plenamente na ideologia do Ilumi-
gua doL-Duminismo^ sern^ser, no entanto, muito nismo: aj)a^waéa^s^aad^àsjdéias de progres-
utUJzada_Rglos fílósofos^A Enciclopédia, que re- so, de evolução, de educação, de razão que estão
serva um longo artigo para a "cultura das terras", no centro_doj?ensamento da érjoça. gg_Q_movi-
não dedica nenhum artigo específico ao sentido mento Uurainista nasceu na Inglaterra, ele j?n-
figurado de "cultura". Entretanto, ela não o igno- controu sua língua e seu vocabulário^ na Francai,
ra, pois o utiliza em outros artigos ("Educação", ele terá uma grande repercussão em toda a Eu-
"Espírito", "Letras", "Filosofia", "Ciências") . ropa Ocidental, sobretudo nas grandes metró-
Progressivamente, "cultura" se libera de poles como Amsterdam, Berlim, Milão, Madri,
jeus complementos e acaba por ser empregada Lisboa e até São Petersburgo.A idéia de cultura
só. para designar a "formação ", a. " educação " do participa do otimismo do momento, baseado na
^espírito. fòepois, em um movimento inverso ao confiança no futuro perfeito do ser humano. O^
observado anteriormente; pjagsa-se de "cultura" progrejSj^aacc^ajnstmcãG.isto ê. da cultura,
_ como ação (ação dejnstruir) a"cultura" comc^es- cada vezm^s_abrangente.
tadojestado do espírito^ cultivado ggbjnstru- "£ü!íjjra^_jgstá então muito gróxima de
cão^estado do indivíduo "que tem cultura^ Este uma palavra que vai ter um grande sucesso (até
uso é consagrado, no fim do século, pelo Dici- maior que o de "cultura") no vocabuláríojran-
onário da Academia (edição de 1798) que estig- cês do século XVIII: "civilização"4As duas pala-
matiza "um vras pertencem ao mesmo campo semântico^rei
nhando com esta expressão a oposição concei- fletem osjTiesmas cgn^epcõgsjiindamentaisj Às
tuai entre "natureza" e "cultura.". Esta oposição é vezes associadas, elas não são, no entanto, equi-
rfundamental para ojsjjensadores do Iluminismo" valentes. "Cultura" evoca príncipalmcntejjs pró

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gressos individuais, "civilização", osprogressos "Civilização" é tão ligada a esta concepção pro-
coletivos. Como sua homóloga "cultura c pelas gressista da história que os que se mostram cé-
mesmas razões, "civilização" é um conceito uni- •tícos^com relação a ela, como Rousseau ou
tário .e só é usado então no singular. Ela sejibc- Voltaire, evitarão utilizar este termo por serem
rajapidamente, junto aos filósofos reformistas, jmnoritâriÕs^fe não estarem em condições de im-
de seu sentido original recente (a palavra apare- por uma outra concepção mais relativista.
ce somente no século XVlII)^quedes^gna^^afl.- OJJSQ de "cultura"c de "civilizaçâo"no sé-
namento^dos costumes, e sjgnjflãrpara elesjx culcOCVIII marca
processo nova concepção(^sga^cralizâ3ãida
cia" e da irracionalidade. preconizando esta nova 3í>fía-(daJiistQriaj-se-libera._dajeologia (da histó-
acepção de "civilização", os pensadores burgue- ria). As idéias otimistas de progresso, inscritas
ses reformadores, utilizando-se de sua influência nas noções de "cultura" e "civilização" podem ser
política, impõem seu conceito de governo da consideradas como uma forma deCsucedâneo* de
sociedade quê, segundo eles, deve se apoiar na esperança religiosa. A partir de então, o homem
razão e nos conhecimentos. está colocado no centro da reflexão e no centro
A civilização é então definida_çQrnp um do universo. Aparece a idéia da possi5iir3ãgê~ae
processo de melhoria das, instituições, dajegis- jjma^ciencia do homem"; a expressão é empre-
"Jação, da educação. A civilização é ummovimen- gada pela primeira vez por Diderot ern^l755 (no
to longe de j^star_acabadp^q.ue_e.preciso apoiar artigo "Enciclopédia" da Encyclopédié). E, em
e que afeta a socidade comojum todo, começan>
* ___ -^ * ~ - " " - •—n---— __ i^l "^
1 787, Alexandre de Chavannes cria o termo "et-
do pelo Estado, que deve se liberaf_dc tudo o nologia" ,
j]ue é áínclâ" irracional em seu funcionamentOj ^estuda a "história dos progressos dos povos cm
Finalmente, a civilização r>odc c deve se esten- direção à
der a todos os povos que compõem a humani-
dade. Se alguns povos estão mais avançados-que O debate francoaleniíio sobre a cultura
Doutros neste movimento, se alguns (a França ou a imtíteseVcultura" - "civilização"
particularmente) estão tão avançados que já po- (século XIX - início do século XX)
dem ser considerados como "civilizados", todos
os povos, mesmo os mais "selvagens", têm voca- Kulturno sentido figurado aparece na lín-
ção para entrar no mesmo movimento de civili- gua alemã no século XVIII e parece ser a trans-
zação, e os mais avançados têm o dever de aju- posiçãoexãta da palavra francesa.;O prestígio
dar os mais atrasados a diminuir esta defasagem. da língua francesa - o uso do francês é então a

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marca distintiva das classes superiores na Ale- abandonar as artes e a literatura e consagrar a
manha - e a influência do pensamento Iluminis- maior parte de seu tempo ao cerimonial da cor-
ta são muito grandes na época e explicam este te, preocupados demais em imitar as maneiras
empréstimo lingüístico. "civilizadas" da corte francesa. Duas palavras
No entanto, Kultur vai evoluir muito rapi- vão lhes pmTiitirLrlffinir esta-ftj^-^ão"cIÕTjnteis
damente em um sentido mais restritivo que sua sistemas de valores: tudo o que é autêntico e
homóloga francesa e vai obter, desde a segunda que Contribui "pãrao enriquecimento intelec-
metade do século XVIII, um sucesso de público tual e espiritual será considerado como vindo
que "cultura" não teria ainda, já que "civilização" dã~cültUfa; ao contrário, OTjue é somente ãpa"-
era a preferida no vocabulário dos pensadores TéncJa"brilhante, leviandade, refinamento super-
franceses. Conforme explica Norbert Elias ficial, pertence a civilização* A cultura se opõe
[19391, este sucesso c deyjdQ_à_adQcão do ter- então ã civilização corno a profundidade se
mo pela burgucsiaintelectual alemã e ao uso opõe à superfícialidade. Para a intelligentsia
la faz delc^nasua oposição à aristocracia burguesa alemã, a nobreza da corte, se ela é ci-
^dacorte^De'iato, contrariamente à situação fran- vilizada, tem singularmente uma grande falta de
cesa, burguesia e aristocracia não têm laços es- cultura. Como o povo simples também não tem
treitos na Alemanha. A nobreza é relativamente esta cultura, a intelligentsia se considera de cer-
isolada em relação às classes médias, as cortes ta maneira investida da missão de desenvolver e
principescas são muito fechadas, a burguesia é fazer irradiar a cultura alemã.
afastada, em certa medida, da qualquer ação po- Por esta tomada de consciência, a ênfase
lítica. Esta distância social alimenta um certo da antítese cultura"^- "civilizacãõ^se desfocar
ressentimento, sobretudo entre muitos intelec- pouco a pouco da oposição social paraaoposf-
tuais que, na segunda metade do século, vão ção nacional [Elias, 1939]^Diversos fatos con-
opor os valores chamados "espirituais", ba- vergentes vão permitir este deslocamento. De
seados na ciência, na arte, na filosofia e também um lado, reforça-se a convicção dos laços estrei-
na religião, aos valores "corteses" da aristocracia. tos que unem os costumes civilizados das cor-
A seus olhos, somente os primeiros são valores tes alemãs à vida de corte francesa, e isto será
autênticos, profundos; os outros são superficiais denunciado como urna forma de alienação. Por
e desprovidos de sinceridade. outro lado, aparece cada vez mais a vontade de
Estes intelectuais, freqüentemente saídos reabilitar a língua alemã (a vanguarda intelec-
do meio universitário, criticam os príncipes que tual se expressa somente nesta língua) e de de-
governam os diferentes Estados alemães, por finir, no domínio do espírito, o que é especifica-
mente alemão. Como a unidade nacional alemã certeza, ela é a expressão de uma consciência
não estava ainda realizada e não parecia possível nacional que se questiona sobre o caráter espe-
então no plano político, a intelligentsia que cífico do povo alemão que não conseguiu ainda
tem uma idéia cada vez mais forte de "missão na- sua unificação política. Diante do poder dos Es-
cional", vai procurar esta unidade no plano da tados vizinhos, a França e a Inglaterra em parti-
cultura. cular, a "nação"alemã, enfraquecida pelas divi-
A ascensão progressiva desta camada so- sões políticas, esfacelada em múltiplos principa-
cial anteriormente sem influência que conse- dos, procura afirmar sua existência glorificando
guiu fazer-se reconhecer como porta-voz da sua cultura.
consciência nacional alemã transforma então os Estaca razão pela qual a noção alemã de
dados e a escala do problema da antítese "cultu- Kultur^yaLtender, cada yezmais, a partir do"gé-
ra" - "civilização". Na Alemanha, às vésperas da culo XIX, para a delimitação e a consolidação
Revolução Francesa, o lei das diferenças nacionajs^rata-se então de uma
sua conotação aristocrática alemã e passa a evo- noção particularista que_s_e opõe à noção fran-
car a França e "de uma mãheira~geral, as potên- cesa universalista de "civilização", que é a ex-
cias ocidentais .Da mesma maneira, a "cultura", pressão de uma nação cuja unidade nacional
de marca distintiva da burguesia intelectual ale- aparece como conquistada há muito tempo.
mã no século XVIII, vai jscr" convertida, no sécu- Já em 1774, mas de maneira ainda relativa-
lo XIX, ejfrTinarca distintiva da nação alemã intei- mente isolada, Johann Gottfried Herder, em um
"rãTNps texto polêmico fundamental, em nome do "gê-
^-<j traços s carãcterístSõT da classe intelêc-
tual, que manifestavam sua cultura, como a sin- nio nacional" de cada povo(yolksgeisf), tomava
ceridade, a profundidade, a espiritualidade, vão pãTtidó pelã~dÍversKlãdc dê~culturas, riqueza dlT
ser a partir de então considerados como especi- humãniSãde e contra o universalismo uniformi-
ficamente alemães. ^zante do Iluminismotque ele considerava empo-
Atrás desta evolução se esconde, segundo brecedor. Diante do que ele via como um impe-
Elias, um mesmo mecanismÕ^ícõloglco~Kgado rialismo intelectual da filosofia
a um sentimento de inferioridade ffiinHalilelmh Tninismo, Herder pretendia devolver a cada
de cultura é criada pela classe média que duvi- povo seu orgulho, começando pelo povo ale-
dajiela mesma, que se sente maisTm menos aff- mão. Para Herder, na realidade, çada,GQvo, atra-
jada_do pòdèr^_das honras e que procura para yès de sua cultuia.própria, tem um destino^espe-
jsi_umaoutra^rrnT3è~lSglHmíarãdie social'.-^Êsten- cífico ajgalizar. Pois cada cultura exprime à sua
dida à "nação" alemã, ela participa da mesma in- maneira um aspecto da humanidade .^ua coh-

X,
f"-.
T

cepção de cultura caracterizada pela desconti- Estas conquistas do espírito não devem ser
nmdade^que não cxcluíaT^oentantõ, iimjTpõs^ confundidas com as realizações técnicas, ligadas
sível__c_omunicação_entre-Qsw£ovos, era baseada ao progresso industrial e emanadas de um raci-
em Uma outra filosofia da história (título de onalismo sem alma. De maneira cada vez mais
seu livro de 1774). dife_rent_e,da_filpsofía. do Ilu- marcada ao longo do século XIX, os autores ro-
minismoyigpr isso,Herder pode ser considerà3õ7 mânticos alemães opõem a cultura, expressão
comj ustiça, prccursõTdõ conceito relatívistai de da alma profunda de um povo, à civilização de-
"cultura"; "Foi Herder quem nos abriu os olhos finida a partir de então pelo progresso material
sobre as culturas" [Dumont, 1986,p. 134]. ligado ao desenvolvimento econômico e técni-
Depois da derrota na batalha de lena, em co. Esta idéia essencialista e particularista da
1806, e a ocupação das tropas de Napoleão, a cultura está em perfeita adequação com o con-
consciência alemã vai conhecer uma renovação ceito étnico-racial de nação - comunidade de in-
do nacionalismo que se expressará através de divíduos de mesma origem - que se desenvolve
uma acentuação da jnterpretação particularista- no mesmo momento na Alemanha e que servirá
da cjuitucLalerfla.jp esforço para definir o "cará- de fundamento à constituição do Estado-nação
ter alemão"se intensifica. Não_é_somente a origi- alemão [Dumont, 1991].
nalidade, na_singularidade absoluta, da cultura -—~ Na França, a evolução da palavra no sécu-
alemã que é afirmada, mas também sua supe-
_ L*___ __ „ '—'— . - . _*_
lo XDÍ e um pouco diferente. Um certo interes-
rioridadex Desta afirmação, certos ideólogos se nos círculos cultos pela filosofia e as letras
concluem que existe uma missão específica do alemãsÃêm pleno desenvolvimento contfíEüíli
povo alemão com relação à humanidade. talvez para ampliar a acepção da palavra france-
A idéia alemã de cultura evolui então pou- sa. "Cultura" se enriqueceu com uma dimensão
co no século XEK sob a influência do nacionalis- colejtivacnã^ej;eferiajnais^somente aocíesen-
mo. Ela se liga cada vez mais ao conceito de "na- jTOtvimgnto intelectual do ^indivíduo. Passou a
_ção". A cultura vem da alma, do gênio de um designar também um conjunto decaracteres
povo. A nação cultural precede e chama a nação próprios de um'ã~cl>mumdade, mas em um sen-
política. A-^eultura. aparece como unLcontunto tidoj»ej*almente vasto e impreciso. Encontra-se
de^conquistas Artísticas, intelectuais e morais expressões como "cultura francesa" (ou alemã)
que^ constituem o patrimônio" de uma .nação, ou "cultura da humanidade". ^Cultura" está mui-
considerado coriífi^dquirido definitivamente e to próxima da palavra "civilização' e às vezes é
fundador de sua unmacle. "X substituível por ela. ' " ~" --'
O conceito francês continua
-B«HSa335S™S?' -———~
marcado pela
---—a., i .^ franceses replicam pretendendo ser os cam-
idéia d e d f e dogênero humano,, Entre os explica' ò ^ "
séculos XVin e XIX na França, há a cpntinuida- clínio, no iníciõ^dõséculo XX, na França, do uso
de do pensamento universalista.iA cultura, no de "cultura" na sua acepção coletiva, pois a ide-
sentido coletivo, é antes de tudo a "cultura da ologia nacionalista francesa deveria se diferen-
humanidade". Apesar da influência alemã, a ciar claramente, até em seu vocabulário, de sua
idéia de unidade suplantada consciência_da_di- rival alemã. No entanto, o conflito das palavras
versidade: além das diferenças que sepodeobT se prolongará até depois do fim do conflito das
" ™ ^-""""""
jiervar entr^cultura alemã" e "cultura francesa^, armas, revelando uma oposição ideológica pro-
^há a unidade da "cultura humana".Em uma céle- funda que não se pode reduzir a uma simples
bre conferência ]pro1runciã!3ãnnãsorbonne em propaganda de guerra.
1882, O que é uma nação?, Ernest Renan afir- O debate íranco-alemão do século XVIII
mava sua convicção: "Antes da cultura francesa, ao século XX é /arquetípicoNdas duas concep-
da cultura alemã, da cultura italiana, existe a cul- ções de cultura, uma^parfJtTtfarista, a outra uni-
tura humana." versalista^que estão na base das duas maneiras
Os particularismos culturais são minimiza- de definir o conceito de cultura nas ciências so-
dos. Oslntelectuais nãp^^m^nr^cõncepção ciais contemporâneas.
defuma cultura nacional antes de tudo, assim
como recusam a
enjr£^cujtura[^eji^ ___ __
tá francj^^da-cultura-acompanha a concepção
,jelejtiva^de_naçãqí surgida na Revolução: perten-
cem à nação francesa, explicará Renan, todos os
que se reconhecem nela, quaisquer que sejam
suas origens.
No sécuÍQ_-XX,AJivalÍdade dos nacionalis-
_mos francês^e alemão^e^seujenfrentament^Bru^
talna gi^rlfS^delpl^^-S vão exacerbar o de-
^
bate ideológico £ntre as duas~íõlíÕêpcoêT^è
,_., ^._~n!-C'"~-í^»~ ... ,^ ^ f
* _

"cultura. As_i*--—~
palavras tornam-se^slògãns_utili?ados
—t—-— ~—*
como armas. Aos alemães, que dizem defender a
cultura (no sentido em que eles a entendem), os

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