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AULA 5

GESTÃO EM SAÚDE APLICADA


À HUMANIZAÇÃO

Profª Mariana Richter Reis


TEMA 1 – ATENDIMENTO PROFISSIONAL HUMANIZADO

De acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde, promover


humanização nos hospitais significa promover uma nova cultura de atendimento
em saúde que apoie as melhorias da qualidade e eficiência dos serviços
prestados.
A humanização deve ser uma diretriz transversal nas organizações de
saúde, apoiada e incentivada pela alta direção e desdobrada para todos os
prestadores de serviços. Dessa forma, a humanização favorece:

 A construção e a troca de saberes;


 O diálogo e o respeito interdisciplinar;
 O trabalho em equipe;
 A adequação às necessidades dos pacientes em consonância com as
demandas clínicas e assistenciais.

Não há dúvidas de que um atendimento humanizado é sempre lembrado e


relatado pelos pacientes e seus familiares, mesmo quando o desfecho clínico não
é o mais favorável, ou quando não se obtêm respostas favoráveis ao que o
paciente esperava. Sempre que houver atendimento humanizado e acolhedor, a
percepção do paciente com relação ao serviço será satisfatória, o que proporciona
aumento da confiança nos profissionais, e assim os pacientes respondem melhor
aos tratamentos clínicos.
Além daquelas adequações já descritas na PNH – Política Nacional de
Humanização, cabe aos gestores de saúde considerar e propiciar o seguinte:

 Garantir o Código dos Direitos do Paciente em sua organização, que deve


ser descrito com a contribuição dos pacientes e seus familiares; deve
também ser conhecido e praticado por todos os membros da equipe de
saúde;
 Possibilitar ao paciente e seu familiar o acompanhamento de decisões
clínicas e condutas tomadas;
 Promover a redução das filas e demora nos atendimentos e
encaminhamentos;
 Os profissionais de saúde devem ter voz e gestão ativa nas decisões de
trabalho.

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Para que o cuidado em saúde seja efetivo e humanizado, é necessário
ouvir o paciente, conversar com ele, e oferecer um retorno sobre suas dúvidas e
anseios, compreendendo e adequando os hábitos de vida do paciente à sua
condição atual de doença e ao tratamento proposto.
Dessa forma, pode-se perceber que o atendimento humanizado de fato
vem em primeiro lugar com relação a todas as outras questões estruturais,
financeiras e de gestão da organização. Afinal, quando o paciente é bem atendido,
essa será a melhor referência para obtenção de respostas positivas da própria
organização.

TEMA 2 – PRESENÇA SOLIDÁRIA NO CUIDADO

Uma presença solidária é aquela que traz o olhar sensível do profissional


para o paciente, um olhar que desperta no ser humano os sentimentos de
confiança, segurança e afeto naquilo que se diz e se pratica. Mesmo quando as
situações do ambiente hospitalar não são muito favoráveis às boas notícias, cabe
ao profissional encontrar e praticar maneiras solidárias e afáveis para se fazer
presente e acolher.
Sabe-se que os profissionais de saúde enfrentam longas jornadas, baixos
salários, algumas estruturas precárias e elevado grau de estresse, pela
insuficiência de profissionais para atender à demanda da população doente. Eles
podem acabar perdendo o senso ético e humanístico das atividades que estão
sendo executadas.
Cabe aqui, então, compreender o valor da solidariedade com o outro: o
respeito individual e a receptividade com o outro devem prevalecer, sem esquecer
do coletivo. Ou seja, a solidariedade do profissional de saúde para com o paciente
deve ser compreendida como ação e atitude ética, livre de julgamento e
preconceitos pelo que se vive. Deve-se garantir respeito e privacidade pelo corpo
do paciente, sua individualidade, seu espaço e suas decisões.
Quanto mais o profissional de saúde valorizar a vivência e os valores do
paciente, adequando o cuidado dentro das perspectivas de possibilidade, mais
eficazes serão suas ações de cuidado.
Sendo assim, quanto mais o profissional se dedica a ajudar as causas dos
pacientes, mais solidário se torna. Assim, os momentos vividos nessa relação
serão eternos para aqueles que os vivem.

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TEMA 3 – INTERDISCIPLINARIDADE NO CUIDADO HUMANIZADO

O modelo de ensino na área da saúde vem se transformando


gradativamente ao longo dos tempos. Ou seja, a participação ativa dos
profissionais, não somente médico e enfermeiro, vem contribuindo para a
construção de um atendimento mais completo e interdisciplinar. Vamos relembrar
o significado de interdisciplinaridade e as diferenças com a multidisciplinaridade:

 Interdisciplinaridade. Exige a superação do pensamento simplista dos


processos de saúde e doença, focados na unicidade da resposta de causa
e ação. Assume as diferenças, com criatividade e promovendo interrelação
entre os agentes prestadores do cuidado.
 Multidisciplinaridade. Significa a justaposição de diferentes campos de
saber para a realização de determinado trabalho, sem que as disciplinas
envolvidas se transformem ou sejam enriquecidas por outras; também não
há coordenação do trabalho em equipe.

O foco central dos tratamentos em saúde ainda é as doenças; com esse


aspecto em vista, a interação multidisciplinar tem como premissa olhar pelo
indivíduo, e assim cada disciplina do cuidado tem voz ativa, sempre partindo da
centralidade do paciente e de suas necessidades. Estas podem ser clínicas ou
não, sendo importante a atuação de profissionais como psicólogos, nutricionistas,
fisioterapeutas, teólogos, entre outros.
Compreende-se, então, nesta nova abordagem do cuidado em saúde, que
o foco não deve estar única e exclusivamente na doença e em seus tratamentos,
mas sim, pensando na resposta do paciente a esse novo contexto de vida em que
ele se encontra, seus medos e angústias, com uma ampla compreensão sobre o
cuidado e novas condições de vida e prognósticos.
Percebe-se, então, que é impossível a qualquer profissional, por mais
capacitado que seja, dar conta dessa complexidade de cuidado isoladamente; é
necessária a coparticipação e a corresponsabilidade do trabalho interdisciplinar,
a partir da construção de múltiplos saberes para a efetivação do cuidado em
saúde. Isso requer reflexão e esforço coletivo dos profissionais envolvidos, na
perspectiva de romper com o conhecimento fragmentado pelas especializações
disciplinares.
O cuidado interdisciplinar deve ser implementado no cotidiano das
organizações, mesmo quando elas não dispõem de todas as disciplinas e áreas
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preconizadas para o atendimento integral à necessidade do paciente. Instituições
que apresentam em seu quadro funcional médicos, enfermeiros e técnicos de
enfermagem podem implementar visitas à beira leito, em equipe, para que cada
profissional contribua com seu olhar e suas intervenções, de maneira a propiciar
o atendimento de forma integrada e completa.
Quando a instituição dispuser de outros profissionais em sua equipe clínica,
como fisioterapeutas, farmacêuticos, fonoaudiólogos, nutricionistas, terapeutas
ocupacionais, entre outros, eles devem participar ativamente do cuidado prestado,
sempre que houver necessidade por parte do paciente, e não quando
estabelecerem as questões administrativo-financeiras. Dessa forma, a prioridade
é a necessidade do paciente, e por conta disso as intervenções são ajustadas de
acordo com o momento vívido, e quando os resultados clínico-psico-sociais forem
atingidos.
Assim, para cada paciente atendido na instituição, as necessidades clínicas
devem ser percebidas e as intervenções aplicadas em tempo de urgência,
considerando o valor do cuidado.

TEMA 4 – PARTICIPAÇÃO DO PACIENTE NAS DECISÕES DE HUMANIZAÇÃO

O profissional de saúde deve ampliar seu olhar e suas ações para o envolvimento
da comunidade, no sentido de obter ações efetivas de cuidado em saúde, com
boas decisões tomadas por gestores e por profissionais de assistência. O
distanciamento entre o profissional e o paciente pode ser o ponto inicial que
desencadeia a desumanização do cuidado, além da valorização de regras e
rotinas impostas na prestação dos cuidados.
Sendo assim, cabe aos profissionais de saúde encontrar novas maneiras
de se relacionar com a comunidade, para garantir o compartilhamento de decisões
clínicas, estruturais e outras que possam impactar no cuidado em saúde, evitando
assim o atendimento em massa, por números, códigos ou diagnósticos. Afinal, é
preciso compreender que cada indivíduo é único, demandando respostas
individualizadas no cuidado em saúde.
O cuidado oferecido ao paciente, do ponto de vista da humanização,
precisa ser compreendido como dever de cada pessoa e não exclusivamente de
uma classe profissional. É preciso considerar o paciente como ser humano,
reconhecendo seus valores, crenças, desejos e perspectivas. Portanto, é
necessário um cuidado integral centrado no paciente.

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Segundo o Institute of Medicine (2001), o cuidado centrado no paciente tem
como premissas:

 Compaixão, empatia e capacidade de resposta;


 Coordenação e integração;
 Informação, comunicação e educação;
 Conforto físico;
 Suporte emocional, alívio do medo e ansiedade;
 Envolvimento de família e amigos.

Logo, a metodologia de trabalho do cuidado centrado no paciente


estabelece como diretrizes:

 Respeito pelos valores e preferências dos pacientes;


 Coordenação e integração dos cuidados – informação, educação e
comunicação;
 Conforto físico;
 Apoio emocional e alívio do medo e da ansiedade;
 Envolvimento da família e amigos;
 Continuidade e acesso aos cuidados.

Todas as ações visam o envolvimento do paciente, de seus familiares e


dos profissionais no cuidado prestado, compreendendo que as intervenções de
saúde vão muito além do tratamento clínico.
Os resultados dos requisitos e diretrizes de cuidado centrados no paciente
aparece nos relatos dos próprios pacientes e seus familiares, com relação aos
cuidados prestados nos hospitais pelo mundo, quando o próprio paciente pede,
ao ser cuidado, que isso não seja feito somente “por ele”, mas “com ele”.
Alguns modelos de Cuidado Centrado no Paciente vêm mudando a
realidade cotidiana dos hospitais, pois para alguns ainda parece distante a
participação do paciente e de seus familiares nas decisões de tratamento. Veja a
seguir como alguns serviços têm ilustrado este modelo à beira leito, para favorecer
o entendimento e a participação de todos envolvidos.

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Figura 1 – Modelo visual para trabalhar o envolvimento do paciente em seu
tratamento

TRATAMENTOS CLÍNICOS:
EXAMES,
PROCEDIMENTOS E
MEDICAÇÕES

ALIMENTAÇÃO
O QUE PRECISO HIGIENE
PARA IR DE ALTA? PACIENTE
META DO DIA ATIVIDADES
MOTORAS

NECESSIDADES SOCIAIS
FAMILIARES
EMOCIONAIS

O modelo propõe que todas as atividades prioritárias do dia, ou do próximo


período, devam ser compartilhadas com o paciente e compreendidas por ele, para
que ele seja capaz de intervir, de se esclarecer e de contribuir com o tratamento.
Podemos inserir no modelo outras questões de cunho clínico e emocional, sempre
que o momento e o perfil da instituição possibilitarem.
Percebe-se então que novas práticas de cuidado humanizado vêm sendo
implementadas a partir da criação da PNH em 2003, sempre com as mesmas
premissas e ponderações: envolver os profissionais na prestação dos cuidados, e
acima de tudo envolver os pacientes e seus familiares no centro desses cuidados,
valorizando sua autonomia e protagonismo.

TEMA 5 – HUMANIZAÇÃO E O CUIDADO COM OS IDOSOS

É nítido que estamos vivendo em um mundo de envelhecidos. Por conta da


cura de muitas doenças, vacinas e oportunidades de prevenção, os indivíduos têm
conseguido atingir idades avançadas. São necessárias, assim, abordagens de
cuidado humanizado, que proporcionem dignidade ao paciente idoso.
Ocorre que por vezes a impossibilidade de acesso do idoso aos programas
de saúde, sua condição física, social e financeira, o tornam mais vulnerável e
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frágil, para além da própria idade avançada. Isso tudo acaba sendo somado a
situações extremas de abandono, à dificuldade de continuidade de tratamentos, à
desnutrição, a condições de higiene precárias e à violência.
Sendo assim, como os profissionais de saúde podem melhorar e humanizar
o cuidado prestado aos idosos? Deve-se preparar profissionais de saúde que
possam prestar atendimento de cuidado humano, ético, solidário e digno aos
idosos. Precisamos de profissionais que apresentem respostas técnicas
oportunas à condição de vida da população atendida, utilizando a tecnologia ao
favor do cuidado em saúde.
O idoso deve ter seus direitos assegurados pela sociedade civil, e acima
de tudo, pela área da saúde, promovendo autonomia e cidadania na participação
em comunidade, com dignidade e bem-estar.
Apesar das inúmeras legislações de proteção ao idoso assegurarem sua
dignidade e autonomia, ainda persistem casos de extrema falta de cuidados, falta
de acesso a tratamentos adequados, longas esperas por atendimento, falta de
medicamentos e falta de profissionais capacitados para atendimento humano.
A interação de esforços para que o idoso receba o cuidado em saúde de
que necessita é responsabilidade ser de todos integrantes da sociedade,
começando pelo próprio paciente, que deve ser estimulado a participar de
atividades da sua comunidade, grupos sociais e ações coletivas. Ele deverá ser
tão ativo quanto sua lucidez e condição física o permitirem.
Deve haver envolvimento da família e de amigos próximos, que não devem
isolá-lo das questões do mundo atual, sempre valorizando sua essência e
experiência de vida.
Por fim, os profissionais de saúde, em toda esfera interdisciplinar, devem
garantir que o idoso tenha acesso aos cuidados de saúde e a medicamentos. A
assistência deve ser centrada nas suas necessidades, que nem sempre serão
clínicas, mas por vezes emocionais, sociais e de apoio, considerando o abandono
e o medo da solidão.
Sendo assim, o respeito e a dignidade, tão falados até aqui, tornam-se
pressupostos fundamentais e indispensáveis para que haja justiça social com os
idosos, para que exerçam sua velhice com cidadania e de forma saudável, diante
de sua condição física e temporal.
O paciente idoso deve ser envolvido em seu tratamento; para tanto, os
profissionais devem abordar o plano de cuidados em todas as suas possibilidades

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– escrita, falada e desenhada, em tom e linguagem compreensíveis para o idoso,
o que garante que ele possa participar do processo ativamente.
A exclusão do idoso faz com que suas perspectivas de vida não sejam as
melhores. Enquanto profissionais de saúde, deve-se assumir a responsabilidade
com o idoso, na busca por respostas e estratégias para ações de atenção
interdisciplinar, compreendendo a situação de sensibilidade em que eles se
encontram. Deve-se buscar sempre a humanização e o respeito pela história de
vida e por seus conhecimentos.

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REFERÊNCIAS

BACKES, D. S.; LUNARDI, W. D. F; LUNARDI, V. L. Humanização hospitalar:


percepção dos pacientes. Acta Scientiarum, Maringá, v. 27, n. 2, 2005.

BERTACHINI, L.; PESSINI, L. Humanização e Cuidados Paliativos. 5. ed. São


Paulo: Loyola, 2011.

IBES – Instituto Brasileiro para Excelência em Saúde. 8 Princípios do Cuidado


Centrado no Paciente. Disponível em: <http://www.ibes.med.br/8-principios-do-
cuidado-centrado-no-paciente-segundo-o-institute-of-medicine/>. Acesso em: 13
dez. 2018.

INSTITUTE OF MEDICINE. Crossing the Quality Chasm: A New Health System


fo the 21st Century. Washington, 2001. Disponível em:
<https://www.nap.edu/catalog/10027/crossing-the-quality-chasm-a-new-health-
system-for-the>. Acesso em: 13 dez. 2018.

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