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Semelhanças e diferenças na escrita da história

da África Centro-Ocidental no século XVII:


os casos de Cadornega e Cavazzi

Ingrid Silva de Oliveira1

Resumo
Este artigo utiliza duas fontes clássicas sobre a história da África Centro-Ocidental durante o
século XVII: a Descrição histórica dos três reinos do Congo, Matamba e Angola, de Giovanni
Antonio Cavazzi, e a História geral das guerras angolanas, de Antonio de Oliveira de Cador-
nega. Buscamos realizar um trabalho comparativo entre as metodologias de pesquisa e escrita
empreendida por estes dois autores e apontar hipóteses para a circulação desses textos. Cador-
nega e Cavazzi pertenciam a lugares sociais diferentes. Enquanto um era militar, português e
cristão-novo, o outro era missionário, italiano e, ao que tudo indica, oriundo de uma família
nobre. Dessa forma, as características dos textos e seus objetivos como autores são de grande
importância para refletir sobre as semelhanças e diferenças de seus discursos. Entretanto, em
que pesem as diferenças, Cavazzi e Cadornega demonstram a intenção de registrar os feitos
das instituições às quais representavam através da criação de uma memória fundamentada em
seus próprios esforços pessoais no continente africano.
Palavras-chave: Cavazzi; Cadornega; África Centro-Ocidental

Abstract
This article uses two classical sources for the study of the West-Central Africa during the 17th
century: the Descrição histórica dos três reinos do Congo, Matamba e Angola, written by Gio-
vanni Antonio Cavazzi, and the História geral das guerras angolanas, written by Antonio de
Oliveira de Cadornega. We�������������������������������������������������������������������
demonstrate the similarities and differences in research method-
ologies and writing undertaken by these two authors and create hypotheses for the circulation
of these texts. Cadornega and Cavazzi belonged to different social places. While one was a
military, and Portuguese New Christian, the other was an Italian missionary, probably, from a
noble family. Thus, the characteristics of texts and their goals as authors are important to think
about the similarities and differences in their speeches. However, in spite of the differences,
Cavazzi and Cadornega demonstrate the intention to register the deeds of the institutions that
they represented by creating a memory based on their own personal efforts in Africa.
Keywords: Cavazzi; Cadornega; West-Central Africa

1
Graduada e licenciada em História pela UFRJ (2007). Especialista em História da África e do Negro no
Brasil pela UCAM (2009). Atualmente, é mestranda em história na UFRJ e bolsista do CNPq.

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(...) o autor de uma relação de viagem, vivida ou observada “não resulta essen-
enunciando um discurso sobre uma no- cialmente de uma exigência que lhe seja
vidade que se revelou ante o seu olhar,
exterior”, já que o autor conta o que viu
não é um fingidor que deliberadamente
“em função do que ele próprio compre-
esconde o que viu ou que o transmuta
em função de interesses, conveniências ende da realidade”.
ou convenções. O estado de desequilí- Apesar de se referir aos textos mis-
brio de determinada estrutura mental é sionários, acreditamos que as observa-
vivido interiormente por cada indivíduo ções de Almeida devem ser aplicadas a
que, no seu quotidiano concreto, procu-
qualquer análise de relatos de viagem.
ra captar, responder e organizar os da-
Iniciamos nosso artigo com essa ressal-
dos da observação, a partir dos conceitos
e noções de que dispõe e não de outras. va, pois ela norteia o nosso olhar dian-
São esses conceitos e noções, mas tam- te das fontes que serão aqui analisadas.
bém a arquitectura do sistema mental Defendemos a idéia de que os discursos
nos seus fundamentos, quanto a noções europeus do século XVII sobre a África
centrais como seja a de causalidade, es-
podem revelar outros elementos, além
paço ou de tempo, que guiam o olhar e
das características dadas aos espaços e
tornam inteligível o que se observa. Essa
operação é vivida interiormente e não sociedades africanas.
resulta essencialmente de uma exigên- Para o estudo do passado da África
cia que lhe seja exterior. Neste sentido, o Centro-Ocidental, mais especificamente
autor conta o que viu não tanto em fun- para a Angola portuguesa, existem dois
ção do que pode ou não ser compreendi-
textos primordiais. A Istorica descrizio-
do pelos seus leitores, mas sobretudo em
ne de’ tre’ Regni Congo, Matamba et An-
função do que ele próprio compreende
da realidade que observa.2 gola foi escrita pelo capuchinho italiano
Giovanni António Cavazzi de Montecuc-
A citação acima, de Carlos Almeida, colo, publicado na Itália em 16873. Ele
nos faz refletir sobre o processo de cria- esteve em Angola em dois momentos. O
ção dos autores das crônicas e relatos de primeiro período compreendeu os anos
viagem da expansão portuguesa na Áfri- de 1654 a 1667, e o segundo entre 1673
ca Centro-Ocidental. a 1676. Em ambas as ocasiões, Cavazzi
Para ele, o que determina a es- atuou como missionário na evangeliza-
trutura mental desses escritores são os ção dos povos daquelas regiões. Foi a
conceitos e noções que possuem. Esses partir dessa larga experiência no conti-
conceitos e valores participam de uma nente africano que a Sagrada Congrega-
operação mental que é própria a cada um ção da Propaganda Fide instituição papal
deles. Ou seja, o relato da experiência responsável pelas missões no ultramar

2
ALMEIDA, Carlos. A representação do africano 3
In LEITE DE FARIA, Introdução. In CAVAZZI
na literatura missionária sobre o reino do Kongo DE MONTECÚCCOLO, Pe. João António. Descri-
e Angola. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, ção Histórica dos três reinos do Congo, Matamba
dissertação de mestrado, 1997, p. 23-24. e Angola, Vol. I, p. XXII- XXIII.

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— solicitou que o capuchinho escreves- escrita de seus discursos, algo que pode
se sobre o avanço da fé católica naquele ser identificado numa cuidadosa leitura
território. dessas fontes e atentando para as indi-
O outro texto é a História geral das cações contidas em seus próprios textos.
guerras angolanas, escrita pelo militar Para isso, realizamos a leitura de ambas
português Antonio de Oliveira de Cador- as obras e identificamos os procedimen-
nega, que permaneceu como manuscrito tos que cada um dos autores empregou.
até o ano de 19404. Partindo de Portugal Após a realização dessa identificação, foi
como soldado, chegou a Luanda no ano possível realizar um trabalho compara-
de 1639 e permaneceu no continente tivo entre essas duas fontes e perceber
africano até o fim de sua vida, por volta as semelhanças e diferenças em seus
de 1690. Apesar de ter vivido por mais métodos. É interessante observar que os
de 50 anos em Angola, seu texto não foi textos foram escritos, praticamente, no
fruto de nenhuma solicitação — como mesmo momento, ainda que com inten-
o discurso de Cavazzi — e sim uma ini- cionalidades diferentes.
ciativa própria, que dedicou ao monarca Para não nos determos na apresen-
português. tação e comparação das fontes, procu-
Os textos supracitados são fontes raremos refletir sobre as condições de
primordiais para a compreensão das so- produção do discurso que, nestes casos,
ciedades africanas daquela região. Tais têm contextos e destinatários diferentes.
informações não se restringem aos sé- Logo, inicialmente realizaremos uma
culos nos quais os autores viveram, elas breve introdução biográfica e contextual
se estendem até o século XV. No caso de desses autores para, então, apresentar-
Cavazzi, existem referências às primei- mos a análise comparativa referentes aos
ras missões católicas no Congo, e, em seus métodos. Além disso, apontaremos
Cadornega, há descrições dos feitos dos hipóteses para a circulação desses textos.
primeiros conquistadores portugueses,
ambos os acontecimentos pertencentes A vida de Cavazzi e sua obra
ao final do século XV. Nesse caso, é per- Descrição histórica
tinente indagar como esses autores que
viveram em Angola na segunda metade Galeotto Cavazzi nasceu em Mon-
do século XVII obtiveram informações tecuccolo, ducado de Módena, na Itália,
sobre tempos tão remotos e bem anterio- no ano de 1621. Foi frade capuchinho
res às suas presenças naquela região? e atuou em algumas regiões da África
Acreditamos que essa resposta Centro-Ocidental. Apesar de seu texto se
pode ser esboçada ao observarmos os propor a contar uma história dos reinos
métodos que tais cronistas utilizaram na do Congo, Matamba e Angola, sabemos
que Cavazzi não esteve, necessariamen-
4
Ibid., p. XLII te, em todas essas regiões.

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As informações sobre seus pais são toda a vida, seguindo seus votos profes-
muito poucas, no entanto, Leite de Fa- sados. Ainda segundo Leite de Faria, a
ria, ao analisar o assento do batismo de Ordem oferecia duas formas de ativida-
Cavazzi no ano de 1621, diz que seu pa- de: a primeira, reservada aos que se mos-
drinho foi o conde Maximiliano Monte- travam mais aplicados intelectualmente,
cuccoli. Tal conde era o grande senhor da era a nomeação para serem pregadores,
região e pai do renomado general italia- após estudos intensivos de filosofia e te-
no Raimundo Montecuccoli, que atuou ologia; a segunda era a ordenação, sem
contra os Turcos na defesa do Império direito a realizar pregações7. Cavazzi foi
Austríaco5. destinado ao segundo grupo
Em Bolonha, no ano de 1639, Ca- Por volta de 1645, era notória a ação
vazzi se tornou capuchinho no Conven- dos feitos capuchinhos na Missão do
to de Cesena, quando mudou seu nome Congo, principalmente após a publicação
de Galeotto para Giovanni Antonio. Na do texto do padre João Francisco Roma-
Ordem dos Capuchinhos, mudava-se o no chamado a Breve Relatione del svc-
primeiro nome e o sobrenome da famí- cesso della Missione de Frati Minori Ca-
lia era suprimido. Seu nome passou a ser puccini al Regno del Congo (em 1648),
Giovanni Antonio de Montecuccolo, em que trazia informações sobre o conti-
referência ao seu local de origem. Segun- nente africano e as atividades religiosas
do Leite de Faria, o capuchinho não quis implementadas pelos padres capuchos.
deixar de fora o nome de sua família, ao Como essa obra teve grande divulgação
realizar o livro, por isso, foi estampado o nos conventos capuchinhos da Itália e al-
sobrenome Cavazzi em sua obra . 6
guns dos principais membros dessa pri-
O fato de ter sido apadrinhado por meira missão eram originários de Bolo-
um nobre e sua preocupação em deixar nha, Cavazzi também se sentiu motivado
seu nome de família registrado em sua a partir para o continente africano.
obra, nos faz acreditar que Cavazzi tinha Em 1649, aos 27 anos, Cavazzi pe-
uma ascendência nobre. O fato de ter se- diu para ser enviado ao Congo. Leite de
guido a vida eclesiástica também nos pa- Faria salienta que o procurador-geral
rece um indicativo desse fato. dos Capuchinhos, para quem a Sagrada
Em 1643, quatro anos após ingres- Congregação da Propaganda Fide pediu
sar na Ordem, proferiu seus votos reli- o parecer, respondeu, após consultar o
giosos definitivos e, como de costume, provincial de Bolonha, que o “suplicante
os capuchinhos da instituição decidiram era de boa vontade, mas de pouquíssima
qual seria o tipo de atuação desses novos inteligência”8. Cavazzi foi aceito apenas
religiosos, função essa que realizaria por na missão enviada em 1653. Esses mis-

5
Ibid., p. XLII 7
Ibid., p. XLV
6
Ibid., p. XLIII 8
Ibid., p. XLVI

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sionários saíram de Genova e chegaram a Esteve em Muxima, em Massangano,
Cádis, na Espanha, em fevereiro de 1654, em Cambambe, em Maupungo, capital
do reino do Dongo, onde se deteve mais
onde se juntaram a outros capuchinhos.
de um ano, de meados de 1655 a fins de
Em 11 de novembro de 1654, chegaram
setembro de 1656, na Ambaca, em Haco,
a Luanda. no Libolo, (...), em Matamba, aonde che-
Todavia, um fato os impediu de gou por vez primeira em fins de 1658 e
aportar. Como trazia capuchinhos que aonde várias vezes voltou, tendo aí as-
não tinham passados por Lisboa, as au- sistido à morte de rainha Jinga, em fins
de 1663, e finalmente em Ganguela (...).
toridades administrativas portuguesas
Em meados de 1664, retirou-se doente
em Luanda questionaram a sua chegada,
para Luanda, donde fez, entre 1664 e
uma vez que estava proibida a presença 1666, uma rápida viagem ao Sonho, no
de barcos estrangeiros nas possessões Congo, e onde continuou até embarcar
portuguesas sem a licença da coroa, que para a Europa.10
era paga em Lisboa. O capitão da em-
barcação que trazia os capuchinhos, o Cavazzi prosseguiu seu trabalho
genovês João Baptista Pluma, alegava apostólico até que, em janeiro de 1667, o
que tinha saído diretamente de Genova prefeito das missões do Congo e de Ma-
e não tinha parado em Lisboa devido à tamba veio a falecer. Ele, então, foi nome-
presença de navios inimigos. Então, o ado como vice-prefeito interino daquela
governador de Angola, Luís Martins de missão. Quando o capuchinho Filipe de
Sousa Chicorro, estabeleceu um processo Sena chegou do Congo, Cavazzi entregou-
sobre essas afirmações do capitão e ouviu lhe o cargo provisório e embarcou em se-
os capuchinhos, sob juramento . 9 tembro de 1667 com destino à Europa.
Autorizado o desembarque, Cavazzi Antes de chegar ao seu destino, Ca-
e os demais capuchinhos se dirigiram ao vazzi desembarcou na América portu-
Hospício de Santo Antonio, em Luanda, guesa, onde ficou hospedado na casa dos
onde foram recebidos pelo prefeito da capuchinhos franceses em Pernambuco.
missão dos capuchinhos na região. De Apenas em outubro de 1668, conseguiu
acordo com Leite de Faria, não havia es- embarcar para a Europa, quando seguiu
paço para abrigar a todos e seis desses para Lisboa. Em Portugal, teve uma au-
doze capuchinhos recém-chegados, den- diência com o então príncipe regente, D.
tre eles Cavazzi, foram encaminhados Pedro, a quem entregou uma carta do rei
para Massangano, vila mais ao interior. do Congo, D. Álvaro III.
Ainda em 1654 foi autorizado pela Pro-
paganda Fide uma missão capuchinha 10
Para uma análise específica dos aspectos da natu-
em Matamba, à qual Cavazzi foi incorpo- reza africana no texto de Cavazzi Cf. ALMEIDA,
Carlos. A natureza africana na obra de Giovanni
rado posteriormente: Antonio Cavazzi – um discurso sobre o homem.
Disponível em: www.instituto-camoes.pt/cvc/
eaar/coloquio/comunicacoes/carlos_almeide.
9
Ibid., p. XLIII pdf. Acesso em 29 de ago. 2008.

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Em fevereiro de 1669 embarcou tância que aquele conhecimento reunido
para a Itália, chegando a Genova em representou11. Após a publicação do ori-
abril, de onde partiu para Roma. Lá, teve ginal de 1687, foi lançada uma segunda
o acesso ao Arquivo da Propaganda Fide publicação em italiano, datada de 1690,
e ao Arquivo Geral dos capuchinhos, com redução de informações e, conse-
onde consultou várias cartas e relações qüente, menor tamanho. Também foram
de missionários de Angola, enviados produzidas traduções e resumos em ale-
para os superiores da congregação. En- mão e francês.
tre os anos de 1669 e 1672, se dedicou às A edição portuguesa da obra (1965),
pesquisas, baseado na sua experiência na qual baseamos a nossa análise, é com-
pessoal e em textos oficiais trocados den- posta por 7 livros em 2 grandes volumes.
tro da sua Ordem. A descrição da natureza africana (descri-
Em 1672, a Propaganda Fide orga- ção detalhada das árvores, frutas, ervas
nizava outra ida de missionários capu- e flores e os diversos tipos de animais),
chinhos para serem enviados ao Congo seus aspectos climáticos, tais como as
e Cavazzi foi nomeado o prefeito des- estações do ano, e as características da
sa missão. Em 1673 passou por Lisboa, agricultura compreendem a maior par-
onde o núncio lhe entregou uma carta do te do primeiro volume da obra12. No
papa para o rei do Congo, na qual Cle- segundo volume, Cavazzi relata, mais
mente X recomendava o novo prefeito detalhadamente, suas contribuições e a
dos capuchinhos. Exercia essa atividade dos demais capuchinhos no processo de
quando, em 1676, foi atingido por uma evangelização, tratando ainda de casos
forte doença e retornou a Europa, onde de conversões e resistências nas socieda-
faleceu em 18 de julho de 1678, aos 57 des do Congo, Matamba e Angola.
anos. É importante destacar que no século
A Istorica descrizione de’ tre’ Regni XVII, essas regiões africanas eram partes
Congo, Matamba et Angola, título origi- do império português no ultramar. Na-
nal da obra em italiano, teria sido escrita quele momento, Portugal passava por
no intervalo de suas atividades na África profundas transformações políticas que
(1667-1673), baseada no grande material causaram grandes tensões. Em 1640, as
que o capuchinho teria acumulado du- coroas ibéricas romperam sua unidade
rante os treze anos iniciais da missão. A - permaneceram unidas por 60 anos - e
obra foi editada pela primeira vez em Bo- uma das conseqüências da quebra dessa
lonha, em 1687, quase uma década após
a morte de Cavazzi. De acordo com Leite 11
BOXER, Charles R. O império marítimo portu-
de Faria, a Istorica descrizione teve uma guês 1415-1825. São Paulo: Companhia das Le-
tras, 2002, p. 244.
rápida difusão. As traduções para vários 12
ALENCASTRO, Luis Felipe de. O trato dos viven-
outros idiomas indicam, também, uma tes: formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos
XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras,
grande receptividade da obra e a impor- 2000, p. 277.

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aliança foi a excomunhão da coroa por- de missionação, retirando do jugo do pa-
tuguesa pelo papado. Filipe IV, rei da droado português e do Patronato espa-
Espanha, permaneceu com o domínio de nhol as decisões relativas à propagação
várias regiões da Itália e também subju- da fé católica15.
gava o papa, impedindo que a Santa Sé A essas medidas de controle, a
reconhecesse o governo português – D. coroa portuguesa reagiu alegando que
João IV, por exemplo, não teve sua acla- nunca havia proibido a atuação de mis-
mação reconhecida pela Santa Sé13. sionários estrangeiros nas missões do
Até aquele momento o padroado padroado, desde que o fizessem auto-
português – combinação de direitos e rizados pelo rei português e permane-
deveres concedidos pelo papado à coroa cessem submetidos à sua administra-
portuguesa – era o grande responsável ção. Mesmo assim, o papado escolhia
pelas missões católicas. Considerada missionários não submetidos ao go-
como a patrona das missões eclesiásticas verno português e Cavazzi era um de-
católicas em diversos lugares do mun- les. Segundo Célia Cristina Tavares, as
do, a coroa tinha amplo poder sobre os intervenções da Propaganda Fide esti-
postos, cargos e benefícios eclesiásticos mularam sérios atritos e conflitos en-
nessas missões. Significa dizer que ne- tre a Santa Sé e a coroa portuguesa em
nhum bispo podia ser nomeado sem a um contexto extremamente delicado,
permissão do rei português, assim como marcado pelo não reconhecimento da
nenhuma missão podia atuar sem sua independência portuguesa por parte do
autorização. Muitas vezes as ordens do papado - o que só ocorreria em 166916.
rei português eram enviadas diretamen- É importante salientar que o perío-
te aos religiosos nas missões, passando do da atuação de Cavazzi na África com-
por cima da autoridade dos membros ca- preendeu, justamente, a época de maior
tólicos de Roma14. conflito entre os interesses do padroado
Por sua vez, o papado também pas- português e do papado com relação aos
sava por mudanças significativas em sua controles das missões no ultramar17.
atuação missionária. Em 1622, o papa Submetido à Sagrada Congregação da
Gregório XV criou a Sagrada Congrega- Propaganda Fide, Cavazzi escreveu am-
ção de Propaganda Fide, buscando um plamente sobre a missão dos capuchi-
maior controle sobre as missões religio- nhos nos reinos do Congo, Matamba e
sas, em detrimento do poder do padro- Angola.
ado. A intenção era diminuir a interfe-
rência das coroas ibéricas no trabalho 15
HEINTZE, Beatrix. Angola nos séculos XVI e
XVII: estudos sobre fontes, métodos e história.
Luanda: Kilombelombe, 2007, p. 135-136.
13
TAVARES, Célia Cristina da Silva. Jesuítas e in- 16
TAVARES, Célia Cristina da Silva. Jesuítas e in-
quisidores em Goa: a cristandade insular (1540- quisidores em Goa: a cristandade insular (1540-
1682). Lisboa: Roma Editora, 2004. p. 206. 1682). Lisboa: Roma Editora, 2004, p. 206.
14
ALENCASTRO, Luis Felipe de, op. cit., p. 261. 17
ALENCASTRO, Luis Felipe de, op. cit., p. 261.

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Perante tal aspecto, percebemos a par o posto de capitão – provavelmente
escrita da Descrição histórica dos três nomeado em 1649 – e, posteriormente,
reinos do Congo, Matamba e Angola assumiu funções na administração pú-
como um discurso de divulgação da Sa- blica. Após um período sediado em Mas-
grada Congregação da Propaganda Fide. sangano, no ano de 1671 transferiu-se
Um objetivo do texto, senão seu maior para Luanda, onde foi nomeado vereador
objetivo, era demonstrar a capacidade da da câmara inúmeras vezes e teria dado
ordem na conversão dos pagãos, ao mes- início à escrita de seu texto principal,
mo tempo em que criava uma memória História Geral das Guerras Angolanas.
da obra missionária capuchinha naquele Essa breve introdução biográfi-
território e respondia às críticas do pa- ca explica a necessidade do militar em
droado português. “provar” sua lealdade à monarquia lusa.
Como cristão-novo e buscando compor
A vida de Cadornega e sua obra a nobreza das áreas em que os portu-
História geral das guerras gueses estavam presentes, Cadornega
angolanas estabeleceu a metodologia da escrita de
seu texto. Por isso, tece elogios às ações
Antonio de Oliveira de Cadorne- portuguesas baseado em sua memória,
ga nasceu em Vila Viçosa, Portugal, por no depoimento de outros companheiros
volta de 1610. Viveu um grande drama – igualmente empenhados em nome da
familiar quando sua mãe e irmã foram monarquia lusa - e de arquivos aos quais
processadas pela inquisição, acusadas de teve acesso em Angola.
praticar ritos religiosos judaicos. Antes Além de escrever um texto funda-
desse processo, e devido a essa provável mental para a memória das ações por-
ascendência judaica, Cadornega e seu tuguesas na região de Angola, Cadorne-
irmão, Manuel, partiram para a África ga viveu nesses territórios no momento
na esperança de não serem perseguidos mais complicado no que se refere à im-
pela inquisição. Partiram para lá contra a plantação do domínio português. As dis-
vontade de seu pai, que tentara a vida em putas de poder entre reinos africanos, a
Buenos Aires, mas voltara empobrecido presença holandesa e a ameaça de outras
para Portugal . 18
nações nas áreas de influência portugue-
Cadornega e seu irmão partiram sa foram fatores que colocaram à prova
para Angola com o novo governador Pe- as disposições dos colonos em serem le-
dro César de Meneses. Chegou a Luanda ais e prestarem seus serviços em favor da
no ano de 1639, quando foi nomeado sol- monarquia.
dado. Seguiu na carreira militar até ocu- O principal tema tratado na obra é
indicado no próprio título, História ge-
18
HEINTZE, Beatrix. Angola nos séculos XVI e ral das guerras angolanas. Cadornega
XVII: estudos sobre fontes, métodos e história.
Luanda: Kilombelombe, 2007, p. 135-136 relata os diversos conflitos e dificuldades

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enfrentadas pelos portugueses, passan- propõe Ronald Raminelli, que o contexto
do pelas “rebeldias” de chefes africanos da Restauração e as guerras contra Cas-
e pela invasão holandesa em Luanda tela foram determinantes para que não
no ano de 1641. Essa invasão batava é houvesse condições para tal19. Obvia-
ressaltada, e Cadornega enfatiza a vitó- mente, a coroa portuguesa tinha preo-
ria portuguesa, após 7 anos de batalha, cupação em levantar informações sobre
obtida através dos grandes esforços dos seus territórios ultramarinos, porém, os
portugueses e aliados que ali viviam. textos compilados por seus súditos ti-
Principalmente, daqueles que viviam em nham como maior intenção divulgar as
Massangano. informações ao rei, e não necessariamen-
Todavia, Cadornega não se detém te obter publicação20.
na descrição das guerras que assolavam
a Angola portuguesa, mas também traz Semelhanças e diferenças entre os
relatos de particularidades do território, autores
e de seus habitantes, além de abordar ou-
tros acontecimentos relativos à presença É primordial salientar que Cador-
da administração portuguesa e a atuação nega e Cavazzi pertenciam a lugares so-
missionária de religiosos, como jesuítas ciais diferentes. Enquanto um era mili-
e capuchinhos. tar, português e cristão-novo, o outro era
Nossa análise não está baseada no missionário, italiano e, ao que tudo indi-
manuscrito, e sim na edição de 1972, ca, oriundo de uma família nobre - ain-
fac-símile da primeira edição da obra, da que seja impossível apontar se uma
realizada em Lisboa datada de 1940. nobreza fidalga. Dessa forma, as carac-
Ela foi publicada em três volumes: os terísticas do texto e seus objetivos como
dois primeiros descrevem as campanhas autores são de grande importância para
portuguesas naquela região até 1680 e o refletir sobre as semelhanças e diferen-
terceiro trata mais de aspectos geográfi- ças de seus discursos.
cos e etnográficos da Angola portuguesa. A História geral das guerras angola-
O próprio Cadornega, no início do pri- nas destaca os diversos conflitos e dificul-
meiro volume da obra, afirma que seu dades enfrentadas pelos portugueses para
texto tem a intenção de não deixar “cair se estabelecerem em Angola. Os temas
no esquecimento a história da conquista destacados por Cadornega são as oposi-
portuguesa em Angola”. Nesse sentido,
podemos dizer que o autor escreve com 19
Cf. RAMINELLI, Ronald. Viagens ultramarinas:
monarcas, vassalos e governo a distância. São
o propósito de criar uma memória da ex-
Paulo: Alameda, 2008, p. 27.
pansão portuguesa naquele território. 20
Ronald Raminelli salienta o quanto as compila-
ções de informações de territórios coloniais por-
Como mencionamos anteriormen- tugueses eram também formas de obter mercês.
te, seu texto só veio a ser publicado no sé- Dessa maneira, o rei reconhecia essas informa-
ções como serviços prestados em seu nome. Cf.
culo XX. Tendemos a acreditar, tal como RAMINELLI, Ronald, op. cit., 2008.

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ções de chefes africanos, como a rainha um verdadeiro mosaico de informações
Jinga, e a invasão holandesa em Luanda. recolhidas.
O autor escreveu pautado na autoridade de Como mencionam acontecimentos
ter vivido naquelas regiões. anteriores à sua presença no continente
Já a Descrição histórica dos três africano, podemos dizer que os dois au-
reinos do Congo, Matamba e Angola, tores estão preocupados na criação de
de Cavazzi, trata-se de uma narrativa de uma memória que legitimasse as suas
propaganda das ações capuchinhas. Ape- presenças e as de suas instituições – os
sar de o missionário contemplar infor- capuchinhos, no caso de Cavazzi, e a mo-
mações fundamentais para a compreen- narquia portuguesa, no caso de Cador-
são das sociedades daquelas regiões, não nega. No que tange ao aspecto religioso,
traz tantos dados sobre a administração Cadornega ressalta as missões jesuítas,
portuguesa. No texto, são salientados os ao contrário de Cavazzi. Tal fato indica
métodos de evangelização daqueles po- que o texto do missionário pode ser en-
vos, as situações das missões religiosas tendido também como uma tentativa de
e, sobretudo, os costumes caracterizados fortalecimento da Ordem dos capuchi-
como “pagãos” e “bárbaros” daqueles nhos dentro da Igreja Católica, visto que
africanos, exatamente para justificar a existiam vários outros grupos atuando
necessidade da missionação. nos territórios africanos21.
Como já mencionamos, Cavazzi vi- Na introdução do primeiro volume
veu em Angola e esteve nas regiões de da História Geral das Guerras Ango-
Muxima, Massangano, Cambambe, Em- lanas, da edição de 1972, José Mathias
baca, Ganguela e Matamba. Apesar disto, Delgado considera que as informações
não esteve, necessariamente, em todas escritas por Cadornega não têm precisão
as regiões que descreveu. Nesse caso, fez de data. Segundo ele, na fuga de Luan-
uso de relatos de amigos missionários, da em 1641, durante a tomada da cidade
militares europeus e as tradições orais pelos holandeses, os portugueses teriam
dos africanos. Sabe-se que em Luanda,
por exemplo, o autor teve contato com 21
É importante lembrar que esse texto foi escrito
num momento de Contra-reforma. Michael Mul-
o padre João Maria de Pavia, que lhe let atenta para a limitação do tema ao considerar
informou sobre São Salvador e Soyo (ou as ações da Igreja católica como meras respostas
às críticas protestantes. Ao pensar essas ações
Sonho). O padre António de Serravezza, como um processo de “longa duração”, percebe-
por sua vez, teria lhe contado sobre Cas- se uma reforma ainda mais ampla da Igreja, na
qual pode-se considerar aspectos de fins da Ida-
sanje e Bamba. Além disso, o capuchinho de Média até os séculos XVII e XVIII. Cf. MUL-
LETT, Michael. A Contra-Reforma e a Reforma
também consultou cartas e relações en-
Católica nos Princípios da Idade Moderna Euro-
viadas pelos missionários aos seus supe- péia. Lisboa: Gradiva, 1985. Apesar disso, existiu
um momento em que os grupos religiosos foram
riores, no Hospício de Santo Antônio, em enviados em maior quantidade ao ultramar e
Luanda. Logo, é possível destacar que a precisavam divulgar seus feitos ao papado ou à
monarquia portuguesa, período em que esses mis-
Descrição histórica se configura como sionários escreveram massivamente.

426 Cad. Pesq. Cdhis, Uberlândia, v.23, n.2, jul./dez. 2010


levado os livros da câmara, mas tais do- antigo Ngola aquiluamgi, dizem algu-
cumentos se perderam22. mas antigoalhas ou negros noticiosos
procedera de um ferreiro que este gentio
Por isso, podemos afirmar que a
chama sua lingoa gangollas, e he couza
grande fonte de informações do autor foi
que se não pode muito duvidar porque
sua própria memória. Em menor parte, entre este gentio he officio muito esti-
Cadornega utilizou livros de história e re- mado, e com elle se adquire muitos es-
latos de pessoas com as quais teve contato cravos [...]24
na região, além de alguns documentos que Há alguém que diz que esta Rainha
Jinga se veyo a bautizar a Loanda sen-
teve acesso no Senado da Câmara de Mas-
do ainda Infanta [...] e como isto he tão
sangano. Nas passagens a seguir, podem-
distante algumas trezentas legoas pello
se notar declarações do autor sobre o uso sertão
de algumas dessas fontes: dentro o não fizemos affirmativamente,
porque o não vimos, e o relatamos por
[...] em Portugal e em Africa, conta sua informação de negociantes Pombeiros,
emprezas [de Portugal] o Doutor Pedro que de lá tem vindo [...]25
de Maris em a recopilação das Cronicas
dos Senhores Reys de Portugal João de Na primeira passagem, o autor
Barros e Diogo de Couto e nas decadas identifica as crônicas específicas que leu.
que escreverão dos prosperos e adver-
Na segunda citação é possível perceber o
sos successos que em tempo do Gover-
uso de alguma tradição africana ouvida
nadores e Visreys da India houve em
seus Governos naquelle estado e agora pelo autor e a qual reafirma a credibili-
novamente recopilado e emendado com dade da informação, através da preocu-
tanta elagancia e erudição por Manoel pação em destacar que é “algo em que
de Faria e Souza, onde se dá mais cla- se pode confiar”. Na terceira, dá menos
ras noticias pello que o discurso tempo
credibilidade ao acontecimento relata-
mostrou. E agora escrevendo o General
do, pois não teria visto, e sim ouvido de
das Frotas do Brasil, e Governador que
foi de Pernambuco Francisco de Brito “negociantes pombeiros”. Além dessas
Freire as guerras Brasilicas com tanta referências, Cadornega também faz refe-
bizarria e elegancia de verdade, só dos rências a textos de Sêneca e a poemas de
Reinos de Angola e suas Conquistas Camões26.
onde havia tanto que escrever, onde não
Analisando a obra de Cadorne-
houve menos successos prosperose ad-
ga, Beatrix Heintze salienta que, para
versos, despois que foi descuberto e se
começou a Conquistar até o presente, os acontecimentos a partir de 1639, há
sem haver quem tomasse esta empresa maiores detalhes, pois o autor passou a
a sua conta [...]23 estar na região e testemunhar diversos
[...] este Rey de Angola chamado pello

24
Idem, p. 25.
22
In DELGADO, José Mathias. Prólogo do anota- 25
CADORNEGA, op. cit., Vol. II, 1972, p. 430.
dor. In CADORNEGA, op. cit., Vol. I, 1972, p. IX 26
Citação de Camões Cf. CADORNEGA, op. cit., Vol.
- X. I, 1972, p. 41; Citação de Sêneca Cf. CADORNE-
23
CADORNEGA, op. cit., Vol. I, 1972, p. 9 GA, op. cit., Vol. I, 1972, p. 04.

Cad. Pesq. Cdhis, Uberlândia, v.23, n.2, jul./dez. 2010 427


fatos. Ainda segundo Heintze, Cadornega bilitar sua pesquisa. Dentre eles, estavam
tinha uma grande preocupação em não a “[..] copia dos Decretos de Litígio da
aborrecer o leitor, desculpando-se quan- Sagrada Congregação com as faculdades,
do estava sendo muito prolixo relatando e instruções dadas ao R. P. Ludovico Ce-
um mesmo acontecimento. A autora evi- sare Augustino, Capuchinho, no ano de
dencia que o estilo do texto caracteriza- 1618, das duas bulas papais do Papa Pau-
se por frases extensas, mal estruturadas lo V e de Urbano VIII, escrita ao Rei do
e nem sempre compreensíveis, o que faz Congo [...]”30.
com que sua leitura seja muito difícil . 27
Dessa maneira fica comprovada a
A preocupação em entediar o leitor consulta realizada pelo capuchinho nos
também existe no caso de Cavazzi e é documentos oficiais que pertenciam ao
possível de perceber em algumas passa- arquivo da Propaganda Fide. Eles ser-
gens como “Não julgo necessário falar de viram para que o autor compreendesse
muitas outras, distintamente conhecidas melhor o início da atividade capuchinha
pelos Muxicongos, para não tornar essa nas regiões africanas – daí o interesse
narração muito enfadonha e por ter de- nas bulas papais escritas ao rei do Congo
senvolvido bastante a descrição das mais – e escrever sobre os momentos anterio-
prejudiciais.”28 ou “Para evitar o enfado res à sua atuação no continente.
da prolixidade, descreverei só uns quan- A intenção era criar um relato das
tos peixes mais singulares, escolhidos ações capuchinhas. Cavazzi revela, em
entre muitos que povoam as águas destas carta destinada ao Cardeal-prefeito da
regiões.”29 Ou seja, há uma seleção das Propaganda, que foi encarregado pelo
coisas que são mais importantes e mere- Secretário, em nome do Cardeal-prefei-
cem ser detalhadas e aquelas que devem to, de que “[...] deve dar-lhe, por escrito,
ser apenas indicadas. não apenas do atual estado das Missões,
Ainda sobre o texto de Cavazzi, mas ainda do passado, e dos progressos
alguns documentos nos indicam a pes- da nossa Santa Fé naquelas parte [...]”31.
quisa realizada pelo capuchinho para a Ou seja, estava incumbido de escrever
realização do texto. Em carta enviada ao
secretário da Propaganda Fide, datada 30
“[...]copia delli Decreti di contesta Sacra Congre-
de 21 de janeiro de 1669, Cavazzi men- gatione con le facoltadi, et instrutioni date al R. P.
Ludovico Cesare Augustino, Capuccino, nel anno
ciona que está escrevendo a “descrittio- 1618, delle due bolle di Papa Paulo V e d’Vrbano
ne” que lhe foi imposta. Nessa época, Ca- VIII, scritte al Rè del Congo [...]”. APF., SRC, An-
gola, vol. I, fl. 160 In BRASIO, Antonio. Monu-
vazzi estava de volta à Itália, após 13 anos menta Missionaria Africana. 1982, Vol. XIII, 2ª
série, p. 106-107.
de missão no continente africano, e havia 31
“[...] douesse dargli, per scritto, non solo del stato
solicitado vários documentos para possi- presente delle Missioni, mà ancora del passato, e
de progressi della nostra Santa Fede in quelli par-
ti [...]”. Carta do padre António de Montecuccolo
27
HEINTZE, Beatrix, op.cit., pp. 145-146. ao Cardeal-prefeito da Propaganda - 6 de junho de
28
CAVAZZI, op. cit., Vol. I, 1965, p. 69. 1671. APF., SRC, Angola, vol. I, fl. 180 In BRASIO,
29
Idem, p.69. Antonio. op. cit., p. 134.

428 Cad. Pesq. Cdhis, Uberlândia, v.23, n.2, jul./dez. 2010


sobre o passado e o presente daquelas um texto que contasse os sucessos portu-
missões, bem como dos progressos al- gueses em Angola.
cançados. Em outra carta, Cavazzi co- Outra diferença, e essa é uma das
munica que seu trabalho já estava pronto mais evidentes, entre Cadornega e Cava-
e pede licença para ir apresentá-lo em zzi é a linguagem utilizada. Enquanto o
Roma. Tal licença não foi a única coisa texto do missionário é repleto de referên-
que Cavazzi solicitou à Propaganda Fide cias ao que caracteriza como a “barbárie”
por estar prestando o serviço de escrever dos africanos e da presença demoníaca
sobre as missões na África. Ele solicitou em seus costumes, o do militar é mais
também ajuda – apesar de não especi- carregado em detalhes da geografia e
ficar de que tipo de ajuda se tratava – e meios utilizados pelos portugueses nas
licença de algumas atividades religiosas conquistas. Justamente por ter as ações
cotidianas, devido à fragilidade de sua portuguesas como centro de seu discur-
saúde naquele momento32. so, a crônica de Cadornega detalha mais
O capuchinho teria terminado de o território e o relacionamento entre por-
escrever a Descrição histórica em 1671 tugueses e os “sobas” africanos do que o
(conforme a data da carta em que ele texto de Cavazzi.
comunica que a finalizou), mas ela só O tema dos “sobas” (ou sovas), por
foi publicada em 1687, ou seja, 16 anos exemplo, aparece muito mais em Cador-
depois. Em carta de 28 de setembro de nega do que no texto do capuchinho. En-
1670, Cavazzi relata ao secretário da Pro- quanto o missionário trata dos sobas, em
paganda Fide que não estava poupando maior parte, quando se refere à adminis-
esforços em conseguir as informações tração “impura” – para utilizar o termo
acerca da atividade capuchinha e que, do capuchinho - dos africanos, o militar
por isso, a obra estava ficando muito faz referência a esses chefes para expli-
grande33. car os limites geográficos dos reinos,
Em contrapartida, desconhecemos explicando que os domínios dos “mani”
documentação que possa ter solicitado ou “reis” africanos iam muito além da
que Cadornega escrevesse sobre as re- Mbanza (capital) e eram assegurados pe-
giões africanas. Pelo contrário, em seu los seus “sobas vassalos”.
próprio texto ele evidencia que decidiu O texto de Cavazzi, principalmente
escrever por iniciativa própria, pois exis- no que tange às descrições da flora e fau-
tiam vários relatos sobre os aconteci- na africanas, compila uma série de dicas
mentos de Goa e do Brasil, mas faltava de como tratar as doenças mais comuns
e quais os animais mais perigosos. É,
32
APF., SRC, Angola, I, fl. 161 In BRASIO, Antonio. praticamente, um manual para futuros
op. cit., p. 108-109.
33
Carta do padre António de Montecuccolo ao se-
missionários, pois além dessas suges-
cretário da propaganda – 28 de setembro de 1670. tões, enfatiza o comportamento que eles
APF., SRC, Angola, vol. I, fl. 179 In BRASIO, An-
tonio. op. cit., p. 122-123. deveriam ter diante da inconstância dos

Cad. Pesq. Cdhis, Uberlândia, v.23, n.2, jul./dez. 2010 429


africanos na fé cristã. Isso é comprovado Apesar de não sabermos se Cavazzi
através de passagens como “Esses pretos foi, de fato, o autor das imagens, certa-
praticam diversas superstições, e eu gos- mente teve grande influência nas suas
taria de não ter que as narrar, pois são elaborações, uma vez que supervisionou
ridículas; se o faço, é apenas para instruir e descreveu com detalhes sobre como as
os missionários, para que possam tirar os queria. A imagem era fundamental para
Pretos dos seus enganos.” e “Entre tan-
34
a inteligibilidade daqueles novos lugares.
tos feiticeiros, um há que não mereceria Segundo Carlos Almeida essa preocupa-
ser lembrando, se esta omissão não pre- ção esteve presente desde os primeiros
judicasse o conhecimento necessário que passos da missão dos capuchinhos e a
eu, por meio deste escrito, pretendo dar presença de pintores entre os religiosos
aos missionários.”35 enviados para o Congo é referida logo na
Em resumo, podemos dizer que segunda missão:
além de realizar uma história das mis-
sões capuchinhas Cavazzi aconselha os Com efeito, entre os membros da segun-
da expedição de missionários que che-
futuros missionários de sua Ordem a
garia ao porto de Mpinda (...) em 1648,
como agir naquele território e na con-
conta-se um irmão leigo, aragonês, de
versão dos africanos. Já Cadornega está nome Felix de Villar. É ele mesmo que
preocupado em construir uma memória refere, em carta que escreve aos Carde-
das ações portuguesas na região e se de- ais da Propaganda Fide, em Janeiro de
tém mais em aspectos da administração 1650, pedindo autorização para regres-
sar por se encontrar doente, que ‘yo he
do território angolano e das alianças e
pintado para todas las missiones y aun
conflitos com os chefes africanos.
sobran quadros y no ay mas que pintar,
Uma semelhança entre os textos de porque se an acabado los materiales’.38
Cavazzi e Cadornega são as imagens que
compõem as obras. Para aquelas da Histó- A circulação dos textos
ria Geral, Beatrix Heintze elaborou refle-
xões interessantes. Segundo ela, o militar Além de abordar as semelhanças e
foi incentivado a fazer aguarelas36 por um diferenças de lugares sociais dos autores
jovem pintor que foi para Angola já em e suas metodologias de escrita, é interes-
1680. Dessa maneira suas imagens foram sante pensar também as singularidades
criadas tardiamente e feitas de memória da circulação desses textos.
e, por isso, Heintze defende que seu valor Para o caso da Descrição histórica,
como fonte etnográfica é menor do que as as várias traduções e resumos podem
imagens contidas da Descrição histórica37.
38
ALMEIDA, Carlos. A natureza africana na obra
de Giovanni Antonio Cavazzi – um discurso
34
CAVAZZI, op. cit., Vol. I, 1965, p. 113. sobre o homem. Disponível em: www.instituto-
35
Idem, p. 201. camoes.pt/cvc/eaar/coloquio/comunicacoes/car-
36
São pinturas feitas com tintas diluídas em água. los_almeide.pdf . Acesso em 29 de ago. 2008, p.
37
HEINTZE, Beatrix. op. cit., p. 156. 03.

430 Cad. Pesq. Cdhis, Uberlândia, v.23, n.2, jul./dez. 2010


servir de indicadores. Após a publicação Nesse sentido, é possível acrescen-
do original italiano de Cavazzi, em 1687, tar aos motivos de Leite de Faria – e
seguiu-se outra datada de 1690, com re- fazer referência novamente - que o con-
dução de informações e, conseqüente, texto da Restauração e as guerras contra
menor tamanho. Traduções e resumos Castela foram determinantes para que
em alemão e francês também foram rea- não houvesse condições para essa publi-
lizados. Todavia, a tradução para a língua cação41. Obviamente, a coroa portuguesa
portuguesa surgiu apenas em 1965, mais tinha preocupação em levantar informa-
de 250 anos após a primeira edição. Tal ções sobre seus territórios ultramarinos,
tradução foi realizada a pedido de enti- porém, os textos compilados por seus
dades representativas do campo cultural súditos tinham como maior intenção
e administrativo de Luanda e feita pelos divulgar as informações ao rei, e não ne-
capuchinhos que chegaram ali em 1948. cessariamente obter publicação, como é
Na introdução crítica da edição o caso de Cadornega42.
portuguesa da obra, Leite de Faria ex- Segundo Leite de Faria, no próprio
plica essa tardia tradução39. Como os ano de 1687, o Giornale de’ Letterati, de
portugueses estavam naquela região há Parma, realçou a utilidade científica e
muito tempo, já possuíam todas aquelas prática da obra de Cavazzi, assim como
informações, o que implicaria na pouca o fez a Acta eruditorum, de Leipzig, no
utilidade desse livro, ao contrário daque- mesmo ano. Em 1688, na Holanda, a
les que não estavam presentes ali, como Bibliothèque Universelle et historique o
franceses e alemães. Mesmo sendo uma classificou como um livro interessante43.
hipótese plausível, esse argumento não Em 1694 foi realizada uma tradução
basta. Considerando que na época da pu- da obra para o alemão, lançada em Mu-
blicação do livro (1687) a missão capu- nique, sem o nome do autor e, em 1691, a
chinha atuou naquela região com autori- Istorica Descrizione foi resumida em 80
zação da coroa portuguesa, e que existia páginas pelo conde Aurélio degli Anzi.
receio e ameaça de ataques de outros Em 1732, o dominicano Jean Baptiste
europeus naquelas regiões, é difícil acei- Labat publicou uma tradução francesa,
tar o desinteresse português em saber as organizada em 5 volumes e com diversas
informações que estavam sendo divulga- modificações. Em 1828 foi realizada ou-
das sobre seu território no ultramar40.
Tal boato decorria do fato de Pamplona já ter sido
general de Castela e próximo ao rei Filipe IV. Cf.
39
LEITE DE FARIA, op. cit., p.XXII. ALENCASTRO, Luis Felipe de, op. cit., p. 261.
40
Luiz Felipe de Alencastro compreende essas ações 41
Cf. RAMINELLI, Ronald, op. cit., p. 27.
de vigilância portuguesa como uma “paranóia lu- 42
Ronald Raminelli salienta o quanto as compila-
sitana”. O desembarque de uma missão capuchi- ções de informações de territórios coloniais por-
nha em Angola, por exemplo, foi vista como uma tugueses eram também formas de obter mercês.
ameaça, já que havia boatos de que o chefe da Dessa maneira, o rei reconhecia essas informa-
missão, frei Francisco de Pamplona, comandaria ções como serviços prestados em seu nome. Cf.
uma invasão em Luanda com um exército de 11 RAMINELLI, Ronald. op. cit., 2008.
mil espanhóis a fim de expulsar os portugueses. 43
LEITE DE FARIA, op. cit., v. I, 1965, p. XII.

Cad. Pesq. Cdhis, Uberlândia, v.23, n.2, jul./dez. 2010 431


tra tradução para o francês feita por C. A. sentada como alguém “do mal”:
Walckenar e, em 1863, surgiu um resu-
mo em alemão feito por H. Külb44. Preside o neto da rainha Jinga
À corja vil, aduladora, insana
Sobre a influência de Cavazzi, e con-
[...]
siderando a repercussão das traduções e
Lembrou-se no Brasil bruxa insolente
resumos da sua obra, Alencastro identifi- De armar ao pobre mundo estranha peta
ca alguns autores que o teriam lido, como Procura um mono, que infernal careta
Marquês de Sade e Hegel. Segundo ele, a Lhe faz de longe, e lhe arreganha o dente
narração que o capuchinho realizou so- [...]
Conserva-lhe as feições na face preta;
bre a rainha Jinga permeou alguns dos
Corta-lhe a cauda, veste-o de roupeta
textos desses célebres autores, para ilus-
E os guinchos lhe converte em voz de
trar temas filosóficos e morais. O escritor gente.
francês Marquês de Sade (1740-1814) Deixa-lhe os calos, deixa-lhe a catinga;
acreditava na correlação positiva entre Eis entre os Lusos o animal sem rabo
crueldade e sensualidade e tomou Jinga Prole se aclama da rainha Jinga46.

como exemplo para expor a diferença


entre crueldade irracional e a crueldade Alencastro recorda também a descri-

erótica, em sua peça La philosophie dans ção de Jinga nas congadas brasileiras e na

Le boudoir (1795). Dessa maneira, Sade cultura popular negra nos Estados Unidos.

considera Jinga como detentora de uma Nas congadas, cantadas até os dias de hoje,

“crueldade erótica”, somente “conheci- a rainha é celebrada como uma grande

da dos seres extremamente delicados”. guerreira, mas, por vezes, como um ele-

Já o filósofo alemão Hegel (1770-1831), mento demoníaco. Nos Estados Unidos,

em suas aulas sobre a Razão na história muitas meninas negras costumam ser bati-

(1822-1823), menciona o “horroroso” zadas com o nome Jinga, além de citações

reino de Jinga e as “leis terríveis” que feitas à rainha em músicas47.

vigoravam nesse “Estado feminino” para Diferente do texto de Cavazzi, o de

tirar conclusões sobre os costumes dos Cadornega foi conservado como manus-

africanos e dos negros em geral45. crito até 1940. Por isso, é de grande va-

Alencastro menciona também um lia fazer uso as reflexões do historiador

soneto do português Manuel Maria Bar- Fernando Bouza sobre o papel desse tipo

bosa du Bocage (1765-1805), produzido de texto nas sociedades ibéricas durante

em 1792, no qual Jinga também é citada o século XVII. Segundo Bouza, a circula-

e salienta que, na maior parte dos casos, ção de livros impressos era muito grande,

os aspectos negativos se sobrepõem aos principalmente com fins propagandís-

positivos, sendo a rainha sempre repre- ticos da nova dinastia, após a restaura-
ção portuguesa. Todavia, enfatiza que os

44
Ibid, p. XVI-XXII. 46
Idem, p. 280-281.
45
ALENCASTRO, Luis Felipe de, op. cit., p. 280. 47
Idem, p. 281-282.

432 Cad. Pesq. Cdhis, Uberlândia, v.23, n.2, jul./dez. 2010


manuscritos também eram “populares” Viçosa na Academia das Sciências.
e que seu uso permaneceu mesmo após Como fica dito, o autógrafo dos tomos I
e III das Guerras angolanas está na Aca-
o contínuo crescimento das impressões.
demia das Sciências, tendo o frontespí-
Bouza ressalta também a utilidade polí-
cio do I e os frontespícios de cada uma
tica que os manuscritos ainda possuíam, das 4 partes figuras e ornatos a aguarela;
fato que estimulou a criação de arquivos este último tem também outras pinturas
que os nobres muitas vezes colocavam à de costumes, animais e frutos.49
disposição dos cronistas48.
José Mathias Delgado teceu consi- Delgado se refere também à existên-
derações importantes sobre a circulação cia de duas cópias do manuscrito dos 3 to-
do manuscrito de Cadornega. No final mos, muito perfeitas e com excelente cali-
do ano de 1683, o texto já estava em Lis- grafia: uma pertence à Biblioteca Nacional
boa e em 1741 partes do manuscrito es- de Paris e outra está na livraria privativa
tavam na livraria do Conde de Ericeira, da Academia das Sciências. Além dessas,
D. Luis de Menezes. Depois, foram para Delgado menciona uma cópia do primeiro
a livraria do convento de Nossa Senhora e segundo tomo existente na Biblioteca de
de Jesus, atual Academia das Sciências. Évora, mas que não seria um exemplar fiel.
No catálogo dessa livraria, realizado em Acreditando na popularidade dos
1826 pelos religiosos do convento, está manuscritos, podemos dizer que o texto
registrado que existia apenas o primeiro de Cadornega, assim como o de Cavazzi,
e o terceiro tomo. Delgado faz referên- também pode ter encontrado diversos
cia à Diogo Barbosa Machado que teria leitores apesar de não ter sido publica-
afirmado que Cadornega escreveu textos do imediatamente. Como Cadornega
além da História geral, como: também trata da rainha Jinga, é possível
ainda a hipótese de que os autores que
- a História de todas as cousas que su- mencionamos – Hegel, Bocage e Sade –
cederam em Angola no tempo dos go- tenham lido não necessariamente o texto
vernadores que governaram depois da
de Cavazzi, mas sim o de Cadornega.
guerra até D. João de Lencastro. Folio;
tomos 4
- Compêndio da expugnação do Reyno Fontes e bibliografia
de Benguela e das terras adjacentes. Fo-
lio. Fontes
- Descripção da muito populosa e sem-
pre leal villa Viçosa. Folio. Acabada em
BRÁSIO, Antonio. Monumenta Missio-
1683. Foi dedicada ao Conde da Ericeira,
nária Africana. Lisboa: Agência Geral do
D. Luiz de Menezes.
Destes manuscritos existe só o de vila Ultramar, 1982, Vol. XIII, 2ª série.

48
BOUZA, Fernando. Corre manuscrito: uma histo-
ria cultural del siglo de oro. Madrid: Marcial Pons, 49
In DELGADO, op. cit., p. XV-XVII.
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Submetido em: 13 de Julho de 2010


Aprovado em: 8 de Setembro, 2010

Cad. Pesq. Cdhis, Uberlândia, v.23, n.2, jul./dez. 2010 435

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