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PARA
CERVEJEIROS
QUEM SOMOS
SACCHAROBEER
CONSULTORIA
A qualidade e segurança que a sua cerveja precisa
TÚLIO
IGLÉSIAS
CHIEF MARKETING OFFICER
(32) 9 9120-6941 Biólogo, com ênfase em microbiologia, formado pela Universidade Federal de
tulio@saccharobeer.com Viçosa (UFV). Atualmente é estudante de mestrado no Programa de Pós-
www.saccharobeer.com Graduação em Microbiologia Agrícola (UFV).
Apaixonado por viajar e amante das cervejas artesanais. Nas horas vagas, gosta de
Viçosa, Minas Gerais, Brasil.
maratonar séries e praticar yoga.
SEGURANÇA E PADRONIZAÇÃO
8 C A PÍTULO 2
A desc o ber ta
11 C A PÍTULO 3
Lev edur a c er v ejeir a
15 C A PÍTULO 4
Reutilizaç ão da lev edur a
20 C A PÍTULO 5
Lev edur as Kv eik
22 C A PÍTULO 6
Boas pr átic as de limpeza
26 C A PÍTULO 7
Fl avors da c er v eja
28 C A PÍTULO 8
Off- fl avors
31 C A PÍTULO 9
Pr inc ipais c ontaminantes
34 C A PÍTULO 10
Análise sensor ial
36 M A TERI A L EXTR A
INTRODUÇÃO
O q u e v o c ê apr ender á aq u i
Nosso conteúdo
Neste e - book, você vai aprender sobre a importância da microbiologia
na produção de cervejas, conhecerá os principais aspectos das
leveduras cervejeiras e irá entender como reaproveitá - las em suas
produções. Adicionalmente, iremos demonstrar um pouco sobre o
enorme universo de compostos que existe nessa bebida. Os
contaminantes também serão apresentados e você aprenderá a
identificá - los a partir de técnicas básicas de microbiologia e de análises
sensoriais. Por fim, adicionamos uma matéria extra sobre o perfil
sensorial que os barris de madeira oferecem às cervejas. Divirta - se!
C APÍ T ULO 2
A DESCOBERTA
Recentemente, um grupo de arqueólogos relatou que a cerveja pode ter uma origem
ainda mais antiga. Os estudos foram realizados em cavernas onde viveram os povos
conhecidos por fabricarem os pães mais antigos da humanidade, localizadas em Israel.
Nesses locais, foram encontrados vestígios de álcool que datam mais de 13 mil anos,
tornando-se os mais antigos relatos da produção de cervejas da história.
LEVEDURA
CERVEJEIRA
Levedura cervejeira
Em relação aos açúcares utilizados, a levedura possui preferência pelos mais simples. Glicose, frutose, maltose,
galactose, rafinose e maltotriose são exemplos dos açúcares que podem ser utilizados pelas leveduras cervejeiras. O
açúcar melibiose só é utilizado pela S. pastorianus, e essa é uma característica importante no processo de
identificação dessas espécies. A ordem dos açúcares consumidos é estabelecida primeiramente pela glicose,
seguido por frutose e sacarose. Posteriormente, a levedura utiliza a maltose, e, por fim, o trissacarídeo maltotriose. O
malte é composto principalmente por maltose, a qual constitui aproximadamente 50 % dos açúcares totais. Além
disso, o malte também é fonte de nitrogênio, possibilitando a síntese de proteínas para o funcionamento e
estruturação das leveduras.
Durante a produção de cerveja, a eficiência do processo fermentativo é dependente de vários fatores, como a
escolha da levedura correta, condições adequadas e taxa apropriada de leveduras. A concentração de leveduras
utilizada, ou pitching rate, é dependente do tipo de levedura (Ale ou Lager), do volume a ser produzido e da
concentração inicial de açúcares no mosto. Para cervejas Ale, o ideal é uma taxa de 0,5 a 0,75 milhões de células por
mL, enquanto para as cervejas Lager, a taxa varia entre 1 a 1,5 milhões. Para calcular, é preciso multiplicar esse valor
estimado pelo volume a ser produzido e novamente pela densidade inicial da cerveja. Por exemplo, em uma
produção de 20 litros, com densidade inicial de 1060, é preciso multiplicar 0,75 (ou 0,5) por 20000 mL e novamente
por 15 (~ 1060 em Plato). Dessa forma, tem-se que o número de células necessário é igual a 225 bilhões.
Recomenda-se escolher o maior número de células por mL (0,75 para Ale e 1,5 para Lager ) para cervejas com altas
densidades iniciais. Vale lembrar que o número de leveduras por mL de cerveja Lager é maior em decorrência das
baixas temperaturas de fermentação, o que faz com que as células cresçam mais lentamente.
Quando a taxa de leveduras é escolhida de forma inadequada, a cerveja pode ficar prejudicada. A adição de taxas
reduzidas atrasa o crescimento microbiano. Além disso, os produtos da fermentação, como o álcool, demoram mais
para serem produzidos. Em contrapartida, se a taxa for mais alta que o apropriado, as leveduras podem sofrer autólise
( morte celular programada ) , processo que leva à formação de off - flavors na bebida. Em condições favoráveis durante
a fermentação, a levedura produz, além de CO 2 e álcool, diversos flavors essenciais para a formação do perfil
sensorial da cerveja. Álcoois, aldeídos, ésteres, dentre outras moléculas são produzidas e suas concentrações são
diretamente influenciadas pelas condições fermentativas, além da composição do mosto.
Utilização do oxigênio
o 2
Utilizado na síntese de ácido
graxo insaturado e ergosterol
Importante na diferenciação
da mitocôndria
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ATENUAÇÃO
ÁLCOOL
FLOCULAÇÃO
REUTILIZAÇÃO
DA LEVEDURA
E c o no m ize dinheir o na su a pr o du ç ão
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REUTILIZAÇÃO DA LEVEDURA
Esses meios de cultivo são vertidos em placas de Petri estéreis e são incubados em temperaturas específicas
(geralmente a 30 °C), tanto em condições aeróbicas quanto anaeróbicas. As colônias bacterianas geralmente
aparecem no meio de cultivo em tamanhos menores que as colônias de leveduras e demoram, em média, 24 horas
para crescer. Algumas espécies podem demorar mais tempo, principalmente leveduras contaminantes do gênero
Brettanomyces.
Em alguns casos, é de interesse do produtor identificar quais são os microrganismos contaminantes que
eventualmente foram isolados nas etapas de plaqueamento. O uso de meios seletivos fornece suposições de qual
grupo de microrganismos foi isolado, mas não permite uma identificação confiável e precisa. Nesse contexto,
técnicas moleculares são utilizadas, podendo identificar o microrganismo em nível de gênero ou até mesmo de
espécie. A identificação pode também ser feita analisando-se o perfil de ácidos graxos da membrana do
microrganismo. Essa técnica é mais eficiente, podendo diferenciar linhagens. Cabe ressaltar que testes de isolamento
e identificação são também realizados a partir da cerveja pronta, de matérias-primas e de amostragem de
equipamentos e locais da cervejaria.
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A maioria das cervejarias terceiriza esses tipos de serviços em laboratórios especializados em análises
microbiológicas de bebidas, embora existam aquelas que preferem construir e montar seu próprio laboratório na
fábrica. O investimento no controle de qualidade é essencial para o crescimento da cervejaria, visto que a fidelização
do cliente só é possível através do oferecimento de cervejas padronizadas e seguras.
Além de avaliar a pureza da levedura cervejeira, análises de viabilidade e vitalidade também são necessárias,
principalmente em grandes cervejarias. A avaliação da viabilidade celular é geralmente feita através do uso de
corantes como o azul de metileno e, nesse caso, é realizada uma análise em microscópios após a coloração. As
leveduras visualizadas na cor azul estão mortas, pois foram incapazes de metabolizar o corante utilizado. Outros
corantes e outras técnicas também podem ser utilizados com esse mesmo objetivo.
Outra prática importante consiste em avaliar a integridade da cultura de leveduras. Ao longo dos processos
fermentativos, as leveduras podem sofrer mutações (alterações na sequência de DNA) em seu material genético,
principalmente das mitocôndrias, o que pode ser muito prejudicial ao processo fermentativo. Essas mutações podem
alterar a capacidade respiratória das leveduras, causando grande impacto na fermentação. Os prejuízos podem ser
descritos como baixa atenuação do mosto, alteração no perfil de floculação e na composição dos flavors. A
identificação dessas mutações pode ser feita através de técnicas moleculares ou métodos indiretos de avaliação do
processo fermentativo, como por exemplo, a avaliação da capacidade de acidificação.
P ara realizar o controle microbiológico dos processos na cervejaria, recomenda-se a contratação de serviços
laboratoriais. Tais serviços permitem o controle periódico de todos os processos e produtos, objetivando identificar
falhas, contaminações e erros de padronização. Dessa forma, evita-se que produtos impróprios cheguem até o
cliente e que a marca corra o risco de perder a confiabilidade no mercado. No entanto, é possível estabelecer
algumas análises rotineiras e simplificadas na própria cervejaria. Com condições apropriadas para elaborar os
meios de cultura, é possível realizar o rastreamento de microrganismos contaminantes na fábrica. Para isso, é
preciso utilizar os meios citados anteriormente, e realizar o plaqueamento de amostras coletadas tanto de cervejas
quanto de ambientes da cervejaria. A coleta pode ser feita com swabs estéreis e as amostras de cerveja podem ser
retiradas assepticamente do tanque de fermentação. Para o plaqueamento, recomenda-se a utilização de um bico
de Bunsen para evitar contaminações oriundas do ambiente. O plaqueamento pode ser feito por meio de estrias
compostas ou por Pour Plate (técnica para obter colônias isoladas). Posteriormente, as placas devem ser mantidas
em temperatura ambiente por 24 horas para o isolamento de microrganismos aeróbios. Já em relação aos
microrganismos anaeróbios, recomenda-se o uso de jarras de anaerobiose, as quais permitem a expulsão do
oxigênio.
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O bico de Bunsen
evita que
contaminações
ocorram em torno da
chama.
Comprar placas
de plástico estéreis é
uma opção quando
não é possível
esterilizar as
de vidro.
C APÍ T ULO 5
LEVEDURAS
KVEIK
K V E I K
D A N O R U E G A P A R A
O M U N D O
pertencentes à espécie Saccharomyces cerevisiae. Vale ressaltar que já foram analisados inóculos com apenas uma
única linhagem. Tais microrganismos formam, portanto, um grupo distinto de leveduras do tipo Ale, o qual sofreu uma
domesticação paralela às linhagens comerciais.
A partir desse processo separado de domesticação, as kveik se tornaram interessantes para a produção de
cervejas, uma vez que possuem diversas vantagens em relação às leveduras cervejeiras comuns. O modo como a
cerveja foi produzida ao longo dos anos interferiu nas características identificadas nesse grupo de microrganismo.
Como exemplo, é possível identificar uma domesticação positiva para a produção de compostos aromáticos bem
como para a tolerância ao estresse.
As leveduras Kveik podem, no geral, suportar até 16 de álcool, fato importante que permite a produção de
%
cervejas com alto teor alcoólico. Vale relembrar que, geralmente, o álcool é toxico para as leveduras, interferindo na
estrutura e função das membranas e impactando o dobramento de proteínas. Ademais, essas leveduras são termo
tolerantes, possibilitando a realização da fermentação sem controle rígido de temperatura, visto que elas podem
fermentar em 30 C sem a produção indesejada de ésteres.
°
O tempo de fermentação das cervejas produzidas com Kveik é reduzido e essas leveduras podem ser adicionadas
ao mosto com altíssimas densidades. Além disso, essas linhagens são capazes de fermentar maltotriose, podendo
gerar cervejas mais atenuadas e com perfil mais limpo possuem bom perfil floculante podem ser armazenadas secas
; ;
e são consideradas POF não produzem off-flavors fenólicos, como aromas de cravo . Nesse contexto, as leveduras
- ( )
Kveik podem gerar cervejas com perfil limpo, com alto teor alcoólico, com aromas frutados, cítricos, florais ou até
mesmo neutras, dependendo do perfil do inóculo utilizado. A variedade é grande, portanto, essas leveduras oferecem
uma ampla gama de utilidades na indústria cervejeira.
C APÍ T ULO 6
BOAS PRÁTICAS
DE LIMPEZA
Na produção de cervejas, diversos equipamentos são utilizados e precisam, constantemente, serem higienizados.
Neste momento, é importante ressaltar as diferenças entre alguns termos, conforme demonstrado na tabela a seguir:
Termo Significado
Eliminar resíduos orgânicos e
Limpeza minerais, dentre outras sujeiras
geralmente vistas a olho nu.
Reduzir a carga microbiana até que
Sanitização se obtenha níveis seguros que não
causem contaminações.
Termo utilizado para eliminação
Desinfecção de microrganismos patogênicos
em superfícies e objetos.
Morte de todos os organismos
Esterilização vivos e vírus. (inclusive de
estruturas de resistência, como os
endósporos).
Como vai sua leitura até agora? Em caso de dúvidas, envie-nos uma mensagem.
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Dicas:
- Faça sempre o controle do processo verificando se todas as etapas foram bem sucedidas. A melhor forma de
ocorreu durante a produção e o que era esperado (exemplos: temperaturas, pesos, volumes, tempo, etc). Se algo der
errado, volte nessas anotações e verifique os parâmetros que ficaram diferentes para que possam ser alterados até
que o processo funcione corretamente.
- Não economize tempo na higienização. Essa é a etapa mais importante para produzir cervejas com qualidade e
segurança.
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Produto Função
Produto Utilização
F L A V O R S
DA CERVEJA
Os flavors da cerveja
A cerveja é produzida a partir de diversas matérias-
primas e processos, por isso, o perfil sensorial gerado é
bastante complexo. Adicionalmente, essa bebida é
quimicamente instável, ou seja, ao longo do tempo,
diversas reações químicas podem ocorrer,
modificando constantemente o perfil sensorial, mesmo
depois de envasada.
As matérias-primas desempenham um papel
importante no sabor da cerveja. A cevada, por
exemplo, é responsável pelo sabor doce, além de
diversos outros flavors, resultantes dos processos
envolvendo o malte. O lúpulo, por sua vez, também
possui importante função no gosto e aroma da cerveja.
A grande variedade dessa planta no mercado oferece
uma ampla gama de sabores, como os frutados, florais
e cítricos. Vale ainda lembrar das especiarias que são
adicionadas em alguns estilos e que também
influenciam nas características sensoriais da bebida.
Além disso, o processo fermentativo desempenha
um papel fundamental na origem dos flavors. O
resultado final, além de fornecer álcool e CO2 , garante
uma variedade enorme de compostos que alteram o
perfil sensorial da cerveja. Tais compostos são
produzidos em concentrações distintas, dependendo
da cepa utilizada e das condições fermentativas, como
temperatura e tempo. Cada composto tem uma
concentração específica na qual é possível de ser
percebido, denominada de limiar de concentração ou
threshold. Vale ressaltar que muitos compostos que
são considerados bons em um estilo, podem ser
inapropriados em outros. Quando isso ocorre, eles são
denominados de off-flavors.
Durante a fermentação, é preciso ter o controle total
do processo, para garantir que os compostos
adequados serão produzidos. Tal controle está
relacionado com a composição correta do mosto,
tempo e temperatura adequados de fermentação e
maturação, além da escolha adequada da cepa de
levedura.
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O F F - F L A V O R S
off-flavors
O ff-flavors são compostos indesejáveis que alteram o gosto e o aroma da cerveja e, muitas vezes, são causados
por microrganismos contaminantes. Outros fatores também podem ser responsáveis pela geração desses
compostos, como exemplos, a oxidação da cerveja e a própria levedura cervejeira, quando cultivada em condições
impróprias. Vale ressaltar que nem sempre uma cerveja que desenvolve off-flavors (dependendo da concentração)
está imprópria para o consumo, podendo apenas estar fora do padrão ou do estilo. No entanto, isso representa um
grande problema para sua comercialização.
Grande parte dos aromas indesejáveis vindos da levedura cervejeira são formados na primeira fermentação, e, por
isso, a denominação de cerveja verde. Esses problemas são, geralmente, resolvidos na segunda fermentação ou
maturação da bebida. O diacetil é o off-flavor mais conhecido da cerveja e consiste em um exemplo de composto
produzido pela própria levedura cervejeira, durante a síntese de aminoácidos. Esse composto pode ser reabsorvido
pela levedura no período de maturação, principalmente quando a temperatura é aumentada, processo denominado
de descanso do diacetil.
Acetaldeído, que também pode ser considerado um off-flavor, pode novamente ser um produto da própria
fermentação, visto que é um composto intermediário na formação do álcool. Sua presença na cerveja pronta pode
ser resultado de uma fermentação incompleta, pouca aeração do mosto ou taxa elevada de leveduras. Esse
problema pode ser resolvido com período adequado de maturação. Tanto o diacetil, quanto o acetaldeído podem,
também, ser resultantes de contaminações microbiológicas.
A exposição da cerveja à luz também causa sérios danos ao perfil sensorial da cerveja, visto que gera, a partir do
lúpulo, o composto 3-metil-2-buteno-1-tiol, remetendo ao cheiro de gambá. Para evitar esse off-flavor, recomenda-se
utilizar garrafas escuras. Outro composto bastante importante no processo de produção de cervejas é o dimetil
sulfeto (DMS), que fornece à cerveja um aroma de milho ou vegetais cozidos. A sua presença pode ter diversas
origens, inclusive de contaminações microbianas. A secagem do malte verde e a própria levedura cervejeira também
podem ser responsáveis pela produção de DMS. O problema pode ser resolvido a partir de medidas de sanitização
eficientes, fervura do mosto por tempo adequado, resfriamento rápido e taxas de leveduras suficientes.
Em relação às cervejas azedas, a culpa é, geralmente, das contaminações microbianas, causadas tanto por
bactérias, quanto por leveduras selvagens. Lactobacillus e Pediococcus, como exemplos, são bactérias do ácido
lático que deixam a cerveja com sabor de iogurte devido a produção de ácido lático. Acetobacter e Gluconobacter
também são exemplos de bactérias que azedam a cerveja. Esses gêneros são pertencentes ao grupo das bactérias
do ácido acético, e podem produzir compostos que fazem com que a cerveja fique com sabor de vinagre. Leveduras
selvagens também podem gerar off-flavors, além de competir com a levedura cervejeira, prejudicando a fermentação.
Brettanomyces, por exemplo, pode azedar a cerveja através da produção excessiva de ácido acético. Cabe ressaltar
que as leveduras selvagens podem também gerar cervejas extremamente atenuadas.
Os problemas causados por off-flavors podem também ter origem na água utilizada na cervejaria. Sabe-se que a
presença de contaminações nessa matéria-prima pode levar ao surgimento de geosmina, composto que fornece
aroma de terra molhada e que pode prejudicar as características sensoriais da cerveja. A diversidade de off-flavors e
flavors é enorme e o conhecimento da origem desses compostos pode ajudar a corrigir falhas no processo, além de
melhorar o perfil sensorial das cervejas. Saiba mais sobre os principais compostos a partir da lista descrita no próximo
tópico.
flavors e
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off-flavors
Acetato de isoamila Banana/éster/frutado
Hexanoato de etila Maçã/éster/frutado
Acetaldeído Maçã verde/solvente
Fenólico Cravo/especiarias
Caprílico Sabão/cera
Caramelo Toffee/algodão doce
Papel Cartão/oxidado
Isovalérico Queijo/suor/pútrido
Butírico Vômito de criança
Geraniol Flores/rosas/frutado
Vanilina Doce
Diacetil Manteiga
Sulfeto de hidrogênio Ovo podre/enxofre
Metálico Metálico/férrico/sangue
Grão Mato verde/barro
Mercaptana Esgoto/gás de cozinha
Sulfítico Poluição/irritação
Lightstruck Gambá/esgoto
DMS Milho cozido
Guaiacol Fumaça/Bacon
Acético Vinagre
Clorofenol Medicinal/enxaguante bucal
Catty Urina de gato
Mofado Adega úmida/rolha/bolor
Lático Azedo /ácido/iogurte
Ácido Limão
Alcalino Oleoso/escorregadio
Plástico Produtos químicos
2-fenil-etanol Rosas/floral
Acetato de etila Esmalte/éster
Álcoois superiores Quente/picante
Amêndoas Amêndoas/marzipã
Terroso Solo úmido/recém-aerado
Baunilha Creme/sorvete
Butirato de etila Abacaxi/frutas tropicais/manga
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PRINCIPAIS
CONTAMINANTES
r pais P inci
contaminantes
A cerveja é considerada um ambiente de difícil crescimento para a maioria dos microrganismos. Fatores como
alta concentração de álcool, baixo teor de oxigênio, baixo pH e o lúpulo fazem com que os problemas com
contaminações em cerveja sejam extremamente menores que em outras bebidas e alimentos. No entanto, apesar de
todas essas condições, algumas espécies se adaptaram, conseguindo crescer e causar diversos problemas nessa
bebida. Espécies de bactérias aeróbias e anaeróbias e leveduras selvagens são exemplos de microrganismos que
podem existir na cerveja.
As bactérias do ácido lático representam os principais microrganismos causadores de contaminação na indústria
cervejeira, podendo aumentar a turbidez da bebida e gerar off-flavors. Lactobacillus e Pediococcus são gêneros
pertencentes a esse grupo de bactérias e são comumente identificados em cervejas contaminadas. Essas bactérias
são resistentes aos compostos antimicrobianos do lúpulo e são capazes de resistir até mesmo à fervura do mosto.
Vale ressaltar que essas mesmas bactérias podem ser utilizadas propositalmente em alguns estilos. Quando não
desejados, esses microrganismos causam sérios problemas à cerveja, prejudicando intensamente sua qualidade e
padronização. Geralmente, tais microrganismos são encontrados no ambiente da cervejaria e até mesmo na matéria-
prima, como por exemplo, na cevada. Bactérias do ácido acético também podem contaminar as cervejas, produzindo
ácido acético e diversos outros compostos causadores de off-flavors. Esses microrganismos são aeróbicos e podem
estar presentes na bebida pronta e envasada.
Lactobacillus Pediococcus
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A barreira estabelecida pela concentração de álcool dificulta o crescimento de espécies bacterianas patogênicas,
como por exemplo, as linhagens do gênero Salmonella. No entanto, testes para certificar sua ausência são
importantes no controle de qualidade da cervejaria. Além das bactérias, espécies de leveduras também podem
contaminar a cerveja. Todas as espécies de leveduras, exceto a levedura cervejeira, são chamadas de selvagens.
Esses microrganismos podem causar off-flavors na cerveja, competir com a levedura cervejeira e até gerar cervejas
extremamente atenuadas. A maioria pertence ao gênero Saccharomyces, mas outros, como Candida, Pichia e
Brettanomyces também podem ocorrer.
Todas essas contaminações podem ocorrer em diversos pontos do processo de produção, desde o
armazenamento da matéria-prima até o envase da cerveja. Aconselha-se que o produtor tenha total controle do
processo, anotando todas as condições estabelecidas e trabalhando com assepsia. As anotações auxiliam o
cervejeiro a encontrar, com maior facilidade, onde estão localizadas as falhas no processo, caso elas apareçam. Além
dessas recomendações, o controle microbiológico na cervejaria é de extrema importância. As práticas básicas de
microbiologia, como o plaqueamento e contagem de colônias, ajudam a ter controle do que está ocorrendo,
evitando que cervejas contaminadas cheguem aos clientes.
Plaqueamento
Plaqueamento da amostra
de cerveja em placa de Petri.
Contagem
ANÁLISE
SENSORIAL
sensorial
U ma forma de avaliar a qualidade da cerveja é a realização de análises
sensoriais. Existem diferentes métodos para realização dessas
avaliações, de forma que uma boa análise estatística possa ser feita com
os resultados. Esses testes são desenvolvidos com o objetivo de
melhoria do produto, confirmação da padronização e identificação de
falhas. Os provadores conseguem identificar diferenças entre lotes, off-
flavors e classificar as cervejas de acordo com categoriais pré-
estabelecidas. Como exemplos dessas categorias, pode-se avaliar qual
cerveja é mais amarga, qual é mais encorpada, qual possui um
determinado flavor, entre outras características.
Durante a avaliação, os provadores devem-se atentar a todas as
características da bebida, desde a sua aparência, sensação na boca,
gosto, aroma, até o retrogosto. Cabe ressaltar que o sabor final da bebida
é a soma dos gostos que sentimos na boca somados aos aromas que
percebemos com a olfação. Na boca, sentimos os cinco gostos básicos:
salgado, doce, azedo, amargo e umami. Já no nariz, podemos sentir mais
de 10 milhões de aromas diferentes, através das inúmeras células do
sistema olfativo.
Existem técnicas e estratégias que permitem otimizar o processo de
degustação. O uso de taças ISO é uma forma adequada de realizar a
análise sensorial, visto que essas possuem formato adequado para
liberação correta dos aromas. Além disso, para determinados flavors, é
recomendado que se agite a taça antes de sentir o aroma, de forma que
compostos voláteis se concentrem antes de serem levados até o nariz. Uma outra técnica bastante utilizada é o
mecanismo de engolir a cerveja e logo após, expirar o ar, fazendo com que os aromas voltem até a parte traseira do bulbo
olfativo. Essa técnica é denominada retronasal e auxilia na identificação dos aromas presentes na cerveja.
A percepção sensorial varia entre os indivíduos, ou seja, cada
pessoa identifica os sabores de uma forma e isso significa que, para
realização de uma boa análise sensorial, é necessário muito
treinamento para o autoconhecimento. Além disso, não é possível
reconhecer um sabor que nunca foi sentido antes. Dessa forma, é
preciso experimentação e repetição, para que a pessoa possa adquirir
memória sensorial e com isso, identificar a maior gama possível de
sabores na cerveja.
Por fim, além do sabor sentido pela soma dos gostos e aromas, é
possível classificar as cervejas quanto às sensações que elas trazem à
boca. Isso é feito através do contato da cerveja com células sensoriais
presentes na cavidade bucal, a partir do sistema tátil. Essas sensações
permitem avaliar fatores que variam desde o aquecimento da boca
( causado por exemplo, pelo álcool ) até o corpo da cerveja. Essas
MATURAÇÃO EM
BARRIS DE
MADEIRA
Maturação em
barris de
madeira
A madeira era utilizada principalmente para realizar o transporte de bebidas, como o vinho. Na Idade Média, a
sua utilização para o envelhecimento se popularizou, principalmente, na produção de cervejas ácidas, como as
Lambics. Recentemente, o hábito de envelhecer cervejas em barris tem sido retomado e com isso, aumentaram-se
os estudos relacionados à influência que a madeira desempenha no perfil sensorial da cerveja.
Existem inúmeras madeiras adequadas para a produção de barris, embora o carvalho seja o grupo de árvores
principalmente utilizado. Dentro desse grupo, existe uma grande diversidade, e cada espécie fornece características
únicas para a bebida. Árvores brasileiras também são bastante conhecidas por proporcionarem boas características
sensoriais à cerveja, por exemplo a Amburana. Eucalipto, Cumaru, Bálsamo e Castanheira são outros exemplos de
madeiras que podem compor os barris. Dessa forma, é possível notar que a variedade de impressões que a madeira
pode oferecer à cerveja é enorme. Outros fatores, além do tipo de madeira, também interferem no perfil sensorial
formado, como a temperatura e umidade de armazenamento, tempo de contato com a cerveja e a carga microbiana
presente em cada barril.
Ao longo do período em que a cerveja fica armazenada, inúmeros processos químicos e microbiológicos ocorrem,
portanto, a cerveja precisa suportar todas essas modificações. Para isso, o mais recomendado é utilizar cervejas com
teor alcoólico alto, pH baixo e com alta concentração de fenóis, que são compostos antimicrobianos. Todavia, existem
várias cervejarias se arriscando e produzindo cervejas com qualidade utilizando estilos bastante delicados.
Como alternativa aos barris, têm-se os dadinhos de madeira e extratos. No entanto, os processos não são iguais, visto
que a cerveja armazenada no barril se expõe a muitas reações adicionais e, por isso, o processo é muito mais
complexo. Durante esse armazenamento, o que não acontece com o uso de dadinhos, ocorre a entrada de oxigênio
em pequenas concentrações, resultando em alterações importantes no sabor da cerveja. O oxigênio pode estar
presente em maiores ou menores quantidades e isso depende não somente do tipo de madeira, mas também da
quantidade de cerveja presente dentro do barril. Devido a evaporação da cerveja ou preenchimento incompleto,
camadas vazias são geradas dentro do barril, e nesses locais, o oxigênio pode se acumular, interferindo mais
intensamente nas propriedades da cerveja. Portanto, se a intenção não é a oxigenação da bebida, recomenda-se que
Saccharobeer 38
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adquirir características da madeira, enquanto os pequenos podem alterar drasticamente a bebida, devido a maior
relação superfície-volume.
Além da oxigenação, que modifica a composição da cerveja, outro fator importante é a extração alcoólica que
ocorre a partir de desidratação. Esse processo pode ser controlado pela escolha da cerveja a ser envelhecida.
Cervejas com teores mais altos de álcool irão realizar uma extração dos compostos da madeira de forma mais
intensa. Ao contrário, a extração ocorre de forma mais lenta, por isso, a influência da madeira é mais branda. O
processo de evaporação da bebida também interfere no perfil sensorial. Tal evento depende de fatores ambientais,
como umidade, e do tipo de madeira escolhido.Todos os fatores citados devem ser analisados e a escolha de cada
condição depende de como o produtor deseja finalizar sua bebida, iniciando pela escolha correta do tipo de barril a
ser utilizado.
A madeira é composta principalmente por celulose, hemicelulose e lignina, e a partir desses componentes,
compostos aromáticos podem ser extraídos e passados para a cerveja. Algumas madeiras possuem maior
intensidade no perfil de compostos aromáticos, outras são mais delicadas. A amburana, por exemplo, é bastante
intensa e, por isso, o período de contato da cerveja com o barril deve ser avaliado para não gerar cervejas muito
carregadas. Além disso, é aconselhável realizar a mistura de cervejas envelhecidas com cervejas jovens para suavizar
os sabores intensos gerados.
Como a composição da madeira é totalmente diferente, testes devem ser feitos para avaliar qual a melhor se
encaixa no perfil sensorial desejado. O carvalho americano, por exemplo, tende a ser mais aromatizado e doce,
enquanto o carvalho francês é mais suave e possui aromas condimentados e de pimenta.
Além da árvore, a própria confecção dos barris interfere no resultado sensorial. A tosta, por exemplo, pode ser feita
de inúmeras maneiras e, cada uma dessas, pode alterar o que o barril tem a oferecer para a cerveja. Dessa forma,
conclui-se que o processo de envelhecimento de cervejas em barris é extremamente complexo, fato que é
intensificado pelo grande repertório de matérias-primas utilizadas na produção de cervejas, que podem influenciar
em todas as reações que ocorrem dentro do barril. Portanto, é preciso entender sobre a madeira e avaliar as infinitas
possibilidades de sabores e aromas que podem ser gerados na cerveja envelhecida.
Veja mais sobre as análises que avaliam a qualidade e padronização da sua cerveja.
Ebook Microbiologia para Cervejeiros
Material gratuito - Saccharobeer
maio 2020
Editorial
Tatiane siqueira Editor
tatiane@saccharobeer.com
Túlio iglesias Editor adjunto
tulio@saccharobeer.com
Texto
Tatiane Siqueira
Contribuidora
Michelle Fernandes Almeida
www.saccharobeer.com
contato@saccharobeer.com