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Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais Como

Instrumental Para o Desenvolvimento da Visão Espacial em


Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
Relatório Final de Iniciação Científica
Apresentado à FAPESP em Dezembro de 2006

FAUUSP
Marcos Kiyoto de Tani e Isoda
Professor Orientador Luís Antônio Jorge
Processo 05/56964-1
Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais Como Instrumental Para o Desenvolvimento da Visão Espacial em Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
Relatório Final

SUMÁRIO

1. Resumo das Etapas Anteriores: Projeto e Relatório Parcial


1.1. Projeto
1.2. Relatório Parcial

2. Resumo desta Etapa: Progressos, Alterações, Dificuldades,


Resultados Obtidos.

ANEXOS
Trabalho Monográfico
Análise das Disciplinas

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Relatório Final

1. Resumo das Etapas Anteriores: Projeto e Relatório Parcial Disciplinas a serem acompanhadas:
segunda terça quarta quinta sexta
1.1. Projeto 1ºsemestre manhã PCC 201 AUT 510
Esta pesquisa analisará a utilização dos sistemas bi e 2006 tarde
tridimensionais de representação do espaço em alguns exercícios
desenvolvidos em disciplinas da graduação da FAUUSP. A análise 2ºsemestre manhã
2006 tarde AUP 146 AUP 446 / AUP 650
será feita através de acompanhamento e documentação dos
exercícios nas disciplinas, verificando a relação entre a proposta, o
processo de desenvolvimento e o resultado obtido pelos alunos. PCC 201 – Geometria descritiva
AUT 510 – Geometria Aplicada à Produção Arquitetônica
Como auxílio teórico, será lida e fichada uma bibliografia AUP 146 – Arquitetura Projeto II
selecionada, que aborda o tema de maneiras diversas. Além disso, AUP 446 – Design do Objeto
serão levantados e analisados alguns exemplos de utilização dos AUP 650 – Arquitetura da Paisagem
sistemas de representação do espaço, tanto aplicado à concepção de
projeto quanto à leitura espacial.
Ao final da pesquisa, será elaborado um relatório, procurando
analisar criticamente os procedimentos dos exercícios
documentados, que serão apresentados aos professores
responsáveis pelas disciplinas, para que haja troca de experiências
e opiniões.
Objetivos
• Analisar os diversos sistemas de representação do espaço
segundo sua natureza – bi ou tridimensional – e suas
peculiaridades, qualidades e deficiências.
• Verificar o potencial dos diversos sistemas de representação
no ensino e desenvolvimento da visão espacial.
• Verificar como ocorre este desenvolvimento em
determinados exercícios no curso de graduação em
arquitetura e urbanismo da FAUUSP.

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1.2. Relatório Parcial análises desenvolvidos, sua produção à parte dos relatórios
Este item traz um resumo do relatório parcial, apresentado em também é um exercício de linguagem, de materialização,
junho de 2006. Foram extraídos trechos principais, buscando dialogando com a temática da pesquisa e instruindo a
elucidar as principais atividades realizadas, além das definições e análise.
revisões realizadas até o momento.
• Fichas de Disciplina padronizada para as cinco disciplinas,
uma para cada, contendo uma breve análise dos sistemas
Desenvolvimento utilizados, dos objetivos dos exercícios e da metodologia de
Foram realizadas basicamente três atividades no primeiro semestre. aplicação. Serão entregues preenchidas aos professores,
para comentário, como forma de retorno, e representarão a
As leituras, de acordo com a bibliografia já indicada no plano análise das disciplinas. Após o preenchimento e
inicial, ordenada por grupos de interesse. Além da bibliografia comentário das cinco fichas, serão comentadas em
básica, foram acrescidas algumas referências encontradas durante conjunto. São a materialização da análise proposta como
as leituras. questão fundamental da pesquisa, e se basearão
O acompanhamento das disciplinas previstas para o primeiro completamente no corpo teórico instituído no Trabalho
semestre, conforme o plano inicial. Estão sendo assistidas Monográfico.
praticamente todas as aulas, para um acompanhamento dos • Relatórios Parcial e Final obrigatórios, documentarão o
exercícios aplicados em aula e da sua realização por parte dos processo de desenvolvimento da pesquisa, as constantes
alunos. revisões e os problemas enfrentados. Não diz respeito ao
E, por fim, a organização da materialização do trabalho, tema ou aos objetos da pesquisa, mas é o espaço para fazer
procurando nortear os passos da pesquisa em direção ao seu um balanço do processo e da metodologia, que é o grande
formato final. aprendizado da primeira pesquisa. O esforço de organizar
este processo num relatório é fundamental para este
aprendizado.
Suportes da Pesquisa
Ao final da pesquisa serão apresentados, portanto, três produtos. O
• Trabalho Monográfico sobre os sistemas de representação. relatório obrigatório, o trabalho monográfico e o conjunto
Irá reunir as leituras programadas de maneira comentado de fichas de disciplina.
interseccionada, e as análises de exemplos, tanto de
arquitetura quanto de outros tipos de sistemas de
representação. Unifica todo o embasamento teórico, e Cronograma Revisado
constitui uma totalidade por si só. Vem sendo estruturado
desde já, paralelamente às leituras. Além dos conceitos e A partir das definições dos suportes finais o cronograma foi
revisado, estendendo o tempo de leituras e análises, e fazendo-os

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andar mais em paralelo, a partir da definição que todo esse 2. Resumo desta Etapa: Progressos, Alterações, Dificuldades,
processo teórico se consumará no Trabalho Monográfico (ver Resultados Obtidos.
Suportes da Pesquisa). Esse trabalho será concluído na metade do As atividades realizadas nesta segunda metade da pesquisa foram
segundo semestre, tendo como desvantagem a finalização após as exatamente as apontadas no Relatório Parcial: finalização das
primeiras disciplinas e o primeiro relatório, mas tendo como leituras, acompanhadas dos fichamentos; redação e diagramação do
vantagem mais tempo para as leituras e para a organização do Trabalho Monográfico (anexo); acompanhamentos das disciplinas
trabalho monográfico, além de evitar a coincidência com o selecionadas e elaboração das Fichas de Avaliação de Disciplinas
fechamento das disciplinas que estou cursando regularmente. correspondentes, comentadas em conjunto (anexo).
Também foi aumentado o tempo de retorno aos professores, para a
Ao final destas etapas, a elaboração deste Relatório Final, que
elaboração da ficha de disciplina. descreve as atividades realizadas de maneira bastante sucinta, pois
J F M A M J J A S O N D mais do que explicar todos os passos, apresentamos os resultados
Leituras obtidos através dos dois anexos.
Análises
Disciplinas
Retorno Conforme previsto no Relatório Parcial, o fechamento está sendo
Relatório um tanto conturbado, devido à coincidência de datas com o final
das aulas, de modo que não apenas as conversas entre bolsista e
orientador ficam comprometidas, mas também o diálogo com os
professores das disciplinas objeto da pesquisa.
Finalização
Os trabalhos foram concluídos dentro das expectativas, do ponto de
O cronograma de execução atual é o Cronograma Revisado,
vista das atividades pretendidas. Os prazos dos cronogramas foram
apresentado acima. Para a continuidade da pesquisa estão previstos
alterados, pois as partes escritas tomaram muito mais tempo do que
a elaboração do trabalho monográfico, incluindo o término das
o esperado, acabando por deixar pouco tempo para a organização
leituras, o levantamento e análise de exemplos, a redação e
das imagens e diagramação, que ficou um pouco aquém do
formatação, o acompanhamento das três disciplinas selecionadas e
desejado, não chegando a afetar o conteúdo.
o fechamento e organização das Fichas de Disciplina.
As disciplinas puderam ser devidamente acompanhadas,
Possivelmente o fechamento será um pouco conturbado, como está
documentadas e fichadas, conforme previsto no projeto. A ausência
sendo este, concomitante ao final do semestre letivo. Por isso foi
dos últimos exercícios das três disciplinas do segundo semestre era
deixado para esta etapa apenas o inevitável, as últimas Fichas de
prevista, uma vez que o prazo estipulado para a entrega do relatório
Disciplina e o Relatório Final. Todas as demais etapas são
final coincide com o fechamento do ano letivo. Para que houvesse
concluídas no Trabalho Monográfico.
tempo hábil para a elaboração das fichas e do relatório, foi

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necessário concluir as Fichas de Disciplina um mês antes do extremamente importante para o desenvolvimento das análises
encerramento das aulas. Mesmo assim, foi possível identificar as contidas neste estudo.
características de cada disciplina, e o enfoque dado às questões de
representação em cada uma delas.
É interessante perceber a metalinguagem à qual esta pesquisa está
sujeita: ela estuda a representação de espaços através de diversas
O Trabalho Monográfico, enquanto produto, resultou um pouco linguagens, onde apenas através da constante expressão é possível
desconexo, tanto em sua linha condutora quanto em relação à um desenvolvimento de idéias. O mesmo ocorreu com o conteúdo
Análise das Disciplinas, objeto final da pesquisa, de modo que sua desta pesquisa durante as diversas materializações: os relatórios, as
leitura não embasa diretamente a análise posterior, e muito menos fichas de leitura, as fichas disciplina, cada materialização é um
se faz obrigatória àqueles que pretender ler a Análise das momento de reafirmar e lapidar o tema, as questões. Mesmo os
Disciplinas. Porém o processo de elaboração desta primeira etapa, diálogos, as conversas menos compromissadas com professores e
mais teórica, foi importante para direcionar as leituras, colegas, servem de impulso para o desenvolvimento da crítica. Ao
organizando-as sob temas e relacionando-as. Estas leituras expressar uma idéia, não a transmitimos apenas aos demais, mas
embasaram tanto o trabalho monográfico quanto a análise das também a nós mesmo.
disciplinas.
O Trabalho Monográfico foi também muito importante para uma
reafirmação do tema, um esclarecimento quanto aos seus objetivos
e o seu recorte, de modo que ao descrever mais detalhadamente os
limites, foi-se definindo o escopo deste estudo. E este processo de
definição ocorre tanto para os que lêem quanto para quem redige.
Ou seja, o Trabalho Monográfico foi mais importante para a
pesquisa enquanto processo do que enquanto produto.
Além da redação destes produtos, enunciados no item Suportes da
Pesquisa do Relatório Parcial, foi muito importante também para a
definição clara do escopo desta pesquisa o diálogo constante não
apenas com o professor orientador, principal interlocutor, mas com
outros professores, tanto das disciplinas acompanhadas quanto de
outras que estudem temas afins. Também foi constante o diálogo
com colegas da escola, cuja visão crítica sobre o curso contribuiu
para impulsionar as análises. De um modo geral, o diálogo, foi

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Assinam:

Luis Antônio Jorge


Orientador

Marcos Kiyoto de Tani e Isoda


Bolsista

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ANEXOS

Trabalho Monográfico

Análise das Disciplinas

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Trabalho Monográfico
Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais como Instrumental
Para o Desenvolvimento da Visão Espacial
Anexo do Relatório Final de Iniciação Científica
Apresentado à FAPESP em Dezembro de 2006

FAUUSP
Marcos Kiyoto de Tani e Isoda
Professor Orientador Luís Antônio Jorge
Processo 05/56964-1
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Marcos Kiyoto de Tani e Isoda
Profº Orientador Luis Antônio Jorge

SUMÁRIO

Introdução 2. Os Sistemas de Representação


2.1. Bidimensionais
1. Conceituação 2.1.1. Desenho
1.1. Representação 2.1.2. Projeções Ortogonais
1.1.1. Linguagem 2.1.3. Perspectivas
1.1.2. Sistemas de Representação 2.1.4. Croqui
1.1.3. Instrumento 2.1.5. CAD
1.1.4. Sistemas de Representação como Instrumento 2.2. Tridimensionais
1.2. Visão Espacial 2.2.1. Modelos Físicos
1.2.1. Espaço 2.2.2. Modelos Eletrônicos
1.2.2. Percepção 2.3. Alternativas
1.2.3. Primazia da Visão 2.3.1. Imagens Estéreo
1.2.4. Fisiologia e Percepção Visual 2.3.2. Vídeo, Animação e Quadrinhos
1.2.5. Desenvolvimento-Aprendizado 2.3.3. Planificações
1.2.6. Desenvolvimento da Visão Espacial 2.3.4. Modelos Eletrônicos em Meio Eletrônico

3. Conclusão / Encerramento

4. Bibliografia

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Introdução A segunda parte trata dos sistemas de representação, e está dividido em


três grandes grupos. Além da definição conceitual dos sistemas, serão
Este trabalho é parte da pesquisa de iniciação científica Sistemas de
analisados diversos exemplos de uso.
Representação Bi e Tridimensionais Como Instrumental Para o
Desenvolvimento da Visão Espacial em Alguns Exemplos do Curso de O primeiro trata dos sistemas bidimensionais. Inicia-se com uma
Graduação da FAUUSP, e compõe o corpo teórico que subsidiará a reflexão sobre o processo de tradução do espaço no plano, e de suas
análise posterior das disciplinas, objeto de estudo. implicações. Em seguida, vem a definição de desenho, representação
plana por excelência. Então serão analisados os diversos tipos de
desenhos e projeções planas utilizados em arquitetura.
Ele se inicia com a conceituação do tema, esclarecendo os termos
Em seguida vêm as representações tridimensionais, cuja representação
presentes no título do trabalho. Esta conceituação, além de procurar
é significativamente diferente das projeções planas. Serão então
evitar a dubiedade de termos, também é uma afirmação do tema desta
analisados os modelos tridimensionais físicos e digitais.
pesquisa, daquilo que ela se propõe e principalmente do que não se
propõe a estudar. O terceiro grupo é uma série de métodos de representação que fogem
do cotidiano da arquitetura, artes e design, campo abrangido até o
O principal destes termos é a Representação, objeto primeiro deste
momento, no intento de buscar novas possibilidades, principalmente
estudo. Será inicialmente desenvolvida a noção de representação que
didáticas, de utilização destes sistemas.
permeia todo o trabalho, para em seguida ser confrontada com algumas
correntes teóricas que tratam de linguagem e comunicação. A partir Por fim, uma conclusão, buscando amarrar todos os conceitos
desta definição, será possível analisar os sistemas de representação desenvolvidos e apontar para a parte final da pesquisa, a análise das
visuais, bi e tridimensionais, as abstrações inerentes a eles e os seus disciplinas.
potenciais como instrumento.
Em seguida vêm a Visão Espacial, objetivo que se busca a partir da
utilização do instrumental já enunciado. Inicia-se com a definição de
espaço tridimensional, e a primazia da visão como sentido organizador
da nossa percepção do mundo sensível. Em seguida serão analisados os
diversos elementos que nos conferem a percepção do espaço real, para
serem comparados às representações do espaço, posteriormente. Então
será verificado, um tanto sucintamente, a relação entre a percepção
espacial da realidade, a utilização dos sistemas de representação do
espaço e o potencial cognitivo e didático no desenvolvimento da visão
espacial.

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1. Conceituação

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1. Conceituação
Representar é trazer à presença, tornar presente. Mas apenas
Como forma de esclarecer o escopo deste estudo, o tema será
parcialmente, nunca em sua condição integral. A representação elucida
destrinchado e cada termo será discutido, objetivando não apenas
à mente uma totalidade trazendo aos sentidos apenas uma parcialidade,
esclarecer o que será estudado, mas também o que não será estudado.
pois, se fosse completa, deixaria de ser uma representação, e seria o
Este estudo partiu de conceitos bastante empíricos, devido ao seu representado presente. É condição da representação nunca ser aquilo
caráter de iniciação. Ao longo dos estudos foram sendo descobertas as que representa em sua totalidade; é sua eterna condição nunca ser
áreas de estudo com a qual se relaciona, confirmando e completa, sempre buscando assim parecer.
complementando idéias, e ampliando os horizontes da pesquisa.
Assim sendo, um desenho pode ser uma representação de um objeto,
Por não partir de nenhuma corrente específica, abarcamos diversas assim como um modelo tridimensional, uma foto, ou uma descrição
correntes de diversos assuntos, às vezes até contrárias, sem se filiar a verbal, um som, ou qualquer coisa que para um certo alguém faça
nenhuma delas. Este caráter livre foi mantido, devido ao caráter de referência ao representado, sem sê-lo.
estudo inicial.

Toda representação isola algumas características do representado, que


1.1. Representação variam de acordo com a intenção comunicativa, com o estilo pessoal do
Representar autor, mas principalmente com a natureza do suporte da representação.
1 ser a imagem ou a reprodução de; trazer à memória; figurar como Quanto mais semelhante o suporte da representação for do suporte do
símbolo; aparecer numa outra forma representado, mais próxima será a relação entre eles. E quanto mais
6 substituir, estar no lugar de; fazer as vezes de
9 expor verbalmente ou por escrito; observar, fazer sentir
distante, maior o grau de abstração necessário, tanto para produzir
11 apresentar-se, oferecer-se ao espírito quanto para ler a representação.
O processo de produção da representação implica escolhas de acordo
Representação com o que pretende transmitir. Essas escolhas determinam o suporte da
3.1 Rubrica: filosofia. representação, quais características serão explicitadas e quais serão
operação pela qual a mente tem presente em si mesma a imagem, a omitidas. Cada linguagem restringe um campo de possibilidades de
idéia ou o conceito que correspondem a um objeto que se encontra
representação.
fora da consciência
9 reprodução por meio da escultura, da pintura, da gravura Para representar um ser humano, uma escultura pode ser muito útil se a
20 Rubrica: psicologia.
imagem intencionalmente chamada à consciência e mais ou menos
intenção é passar seu aspecto visual, espacial e volumétrico. Mas um
completa de um objeto qualquer ou de um acontecimento rato pode ser mais adequado se o que se procura é uma representação
anteriormente percebido biológica para testar um medicamento, não interessando a semelhança

(Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001)


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visual. Em cada exemplo o que se representa são algumas das muitas


qualidades do ser humano. Existem diversas correntes teóricas que estudam a linguagem. As duas
principais são a Lingüística e a Semiótica. A maioria dos estudos sobre
linguagem é voltada para a linguagem verbal, e as comparações entre o
A representação tratada neste estudo é a gráfica e a espacial, e o
verbal e o gráfico serão freqüentes.
representado, o espaço. Isso posto, podemos comprovar o conceito que
acabamos de expor: fica evidente desde já que representar
espacialmente o espaço é muito mais direto do que representar A linguagem, por princípio, serve à comunicação. “O outro, como
graficamente, bidimensionalmente. É o que chamamos aqui de natureza sujeito, só pode emergir no plano corporal”2. Assim sendo, a linguagem
bidimensional, plana, e natureza tridimensional, espacial. Essa será a
é a materialização de algo que está no subjetivo, visando externar essa
primeira distinção feita entre os sistemas de representação, pois como já idéia para outrem.
dissemos, ela implica mecanismos completamente distintos de
produção e de leitura. Porém a linguagem não é mera tradução de idéias presentes na mente.
Diferente do que se pensava na filosofia tradicional, onde a linguagem
seria a corporificação imperfeita de idéias, o ato de materialização de
1.1.1. Linguagem uma idéia numa linguagem é a própria aquisição de significado. “A
Para Peirce, representar é “estar no lugar de, ou seja, estar em relação linguagem não veste idéias – encarna significações” 3.
tal com o outro que, para certos propósitos, algum espírito o trará como Esse ideal de que a linguagem “veste” idéias vem da filosofia clássica,
se fosse aquele outro” 1 . Freqüentemente veremos a representação exacerbada pelo racionalismo cartesiano, onde o mundo sensível seria o
tomando o lugar do seu objeto, de modo que chegue a ser tomado como lugar do erro, da imprecisão. As palavras sempre seriam insuficientes
o próprio, mesmo havendo a consciência de não sê-lo. A representação para exprimir todas as idéias existentes na mente, plano ideal, “como se
tem um caráter de simulação. pudéssemos raciocinar de modo desencarnado, num estado de sobrevôo
positivista”4.
Essa representação aqui entendida opera como uma linguagem, na
medida em que é um meio de significar algo para um receptor, que
pode ser inclusive o próprio produtor da representação. Ao se expressar,
ao materializar seus pensamentos numa representação (excitados pela
2
sensação direta do objeto ou indiretamente pela memória), o emissor CHAUÍ, Marilena de Souza – “Introdução” in: MERLEAU-PONTY, Maurice –
Textos Selecionados. Nova Cultural, São Paulo. 1989. Coleção Os Pensadores.
produz uma organização sensível que acaba informando inclusive a si
3
próprio. CHAUÍ, op. Cit.
4
SCHENK, Leandro Rodolfo – Os Croquis na Concepção do Espaço Arquitetônico:
1
PEIRCE, Charles Sanders – “Classificação dos Signos” in: Semiótica e Filosofia. Um estudo a partir de quatro arquitetos brasileiros. Dissertação de Mestrado
São Paulo, Cultrix / Edusp. 1975. apresentada à FAUUSP. São Paulo, 2004.

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As correntes aqui estudadas, ainda que contrárias em diversos aspectos, uma significação está adquirida, e disponível daí por diante, quando
convergem no princípio de que o mundo sensível é onde ocorre a consegui fazê-la habitar num aparelho de palavra que não lhe estava
aquisição de significado. inicialmente destinado”7
Esse ato de estruturar significados é base para o desenvolvimento-
Segundo Merleau-Ponty, o fenômeno linguagem (verbal) ocorre aprendizado, que será discutido mais à frente.
quando, através da organização de palavras pré-existentes, compomos O estudo da fenomenologia da linguagem de Merleau-Ponty deriva da
uma estrutura onde o significado pretendido ultrapassa o significante, e Lingüística de Sausurre, mas sem a dicotomia tão marcada entre
uma mensagem inédita, própria, é transmitida. É “a ancoragem da significante e significado. Merleau-Ponty abre muito mais espaço para
significação inédita nas significações já disponíveis”5. o sujeito, que principalmente em sua fenomenologia da percepção (que
será debatida mais adiante) têm papel fundamental.
Partindo do princípio que a aquisição de significado ocorre no
momento em que uma idéia é estruturada em uma linguagem, Merleau-
Ponty nos diz mais: Enquanto na lingüística o significante é aquele que visa trazer o
“[a linguagem] executa a mediação entre minha intenção ainda muda e significado, na semiótica é o signo (também denominado
as palavras, de tal sorte que minhas palavras surpreendam a mim representamem) quem busca elucidar o objeto, mediado pelo
mesmo e me ensinam meu pensamento”. “Esse ato de expressão(...) não interpretante. O interpretante é um outro signo, que aproxima o signo
é para nós, sujeitos falantes, uma operação segunda a que recorreríamos do objeto, e depende diretamente do repertório do sujeito. Daqui
apenas para comunicar a outrem nossos pensamentos, mas é a tomada concluímos que a percepção ocorre na existência de um sujeito. Caso
de posse das significações por nós, sua aquisição”. “Para o sujeito contrário, há apenas o potencial de leitura do significado.
falante, exprimir é tomar consciência; não exprime somente para os O sujeito, ao ler o signo, substitui aquele signo por um outro,
outros, exprime para que ele próprio saiba o que visa.”6. denominado interpretante. Este interpretante pode ser um signo mais
Ou seja, a linguagem é necessária não apenas para comunicar a outros, desenvolvido, que se aproxima mais do objeto ao qual o primeiro signo
mas também para esclarecer a nós mesmos nossas idéias, através das se refere, ou pode ser um signo que se refere a um outro objeto. Por
linguagens, da aquisição de significados. exemplo, um pictograma de uma maçã pode ser interpretado,
substituído, pela imagem de uma maçã real, ou pela palavra maçã; ou
“Digo que sei uma idéia, quando se institui em mim o poder de
pode ser substituído por uma idéia completamente distinta, como uma
organizar à sua volta discursos que têm sentido coerente (...). Digo que
fábrica de computadores (desde que essas idéias já existam no
repertório do sujeito-leitor do signo). Isso significa que o mesmo signo
5
MERLEAU-PONTY, Maurice – “Sobre a Fenomenologia da Linguagem”, in:
Textos Selecionados. Nova Cultural, São Paulo. 1989. Coleção Os Pensadores.
6 7
MERLEAU-PONTY, op. Cit. MERLEAU-PONTY, op. Cit.

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pode ter diversas leituras, variando principalmente de acordo com o pode desconhecer que a representação está minada, contaminada,
repertório do sujeito. assume as características de seu suporte”10
A semiótica parte da análise direta da materialidade, onde tudo é signo,
e mesmo os objetos a que eles podem estar se referindo também são
1.1.2. Sistemas de Representação
signos. Toda a comunicação se dá no plano material, através de signos.
São denominados sistemas os conjuntos de elementos coordenados que
Todo o pensamento se estrutura através de linguagens, e a capacidade visam representar um objeto, com um determinado suporte, técnica e
de se expressar através de uma determinada linguagem depende da materiais, e frutos de abstrações que permita gerar estruturas que
familiaridade com a mesma. Herdeira deste princípio, a Teoria da possam ser tomadas como representação.
Informação considera a linguagem, o meio, como fundamental no
processo da comunicação. Sua potencialidade contamina a mensagem a As técnicas de produção da imagem – desenho, pintura, modelo
ponto de McLuhan afirma que “o meio é a mensagem”8. tridimensional em papel, madeira – por si só não são a representação.
Elas existem em função de uma abstração, que faz com que sejam a
Influenciados por essas teorias, explica-nos Chico Homem de Melo:
representação de algo: um modelo em escala reduzida, uma projeção
“Nossas idéias não surgem dentro da cabeça por meio de geração ortogonal de um objeto tridimensional, etc. E essa abstração só pode
espontânea, mas surgem da relação entre essa cabeça e uma linguagem existir dentro de uma determinada materialidade, pois trata-se de uma
com a qual ela aprendeu a interagir.”; “não há pensamento sem linguagem.
linguagem”9.
Uma mesma abstração pode aceitar diferentes suportes, assim como um
mesmo suporte pode materializar mais de um tipo de abstração, dentro
Ambas correntes convergem para a idéia de que o significado se da separação primeira de natureza bi ou tridimensional, como foi dito.
estrutura simultaneamente à expressão material, e que a sua Um desenho à lápis sobre papel pode suportar tanto uma projeção
materialidade tem implicações na expressão. Isso é ter consciência de ortogonal quanto uma perspectiva cônica; e ambos podem ser
Linguagem. realizados em outras técnicas, como caneta, giz, sobre diversos tipos de
papel, etc.
“Consciência de linguagem é, antes de mais nada, o reconhecimento de
que conteúdo e forma estão fundidos numa coisa só. Assim, não se À este conjunto de abstração e suporte denominamos sistema. Sabemos
que a linguagem contamina o conteúdo, e qualquer alteração em algum
dos elementos – abstração, material, técnica – pode modificar o
8
McLUHAN, Herbert Marshall – Os Meios de Comunicação como Extensões do conteúdo. Por isso é considerado sistema, uma inter-relação entre
Homem. São Paulo, Cultrix, 1969. diversos elementos.
9
MELO, Chico Homem de – “ “Impressões digitais”, in: Os Desafios do Designer &
10
Outros textos sobre design gráfico. São Paulo, Edições Rosari, 2003. (Coleção ALONSO, Carlos Egídio – Percepção Tridimensional, Representação
TextosDesign) Bidimensional. São Paulo, Doutorado FAUUSP, 1994.

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A classificação dos diversos sistemas aqui estudados, que serão instrumento e ao processo produtivo, é ter consciência da linguagem em
descritos na parte 2. Os Sistemas de Representação, foi em função que se está operando.
principalmente de sua natureza – bi ou tridimensional – e da abstração
que a gerou – projeção ortogonal, projeção cilíndrica, modelo em escala
reduzida, etc. Esta classificação aqui utilizada é um tanto arbitrária, 1.1.4. Sistemas de Representação como Instrumento
pois se formou empiricamente. Nos termos presentes nesta pesquisa, os instrumentos são os sistemas
de representação, e a finalidade é o desenvolvimento da visão espacial.
1.1.3. Instrumento Para esclarecer esta questão da linguagem do instrumento, vale registrar
um axioma formulado durante esta pesquisa: Não existe desenho
Instrumento é algo que possibilita ou potencializa uma operação. Esta é instrumentado sem instrumento. Parece óbvio a princípio, até tolo, mas
a definição básica deste termo, que é chave para esta pesquisa. ganha complexidade na análise dos diversos sistemas.
O instrumento tem como função possibilitar uma determinada ação que Por exemplo, não é possível fazer um desenho sem um lápis, ou algum
seria praticamente impossível se realizar sem ele, como por exemplo outro instrumento que faça marcas num plano. Ou seja, desenho à lápis
uma serra que corta a madeira; ou potencializar uma ação possível sem é instrumentado. “É engraçado tanta gente acreditar que o lápis é
ele, como uma pá que cava a terra. ‘neutro’, uma espécie rara de condutor sem atrito, capaz de levar
Existem diversos tipos de instrumentos, alguns mais específicos que mensagens do cérebro até o papel perfeitamente protegidas de qualquer
outros. Por exemplo, uma serra elétrica possui capacidade de corte turbulência. Esquecem o longo, longuíssimo aprendizado que tornou o
muito maior que uma manual. Com este instrumento mais potente, é lápis essa extensão aparentemente natural do cérebro, aprendizado feito
possível aumentar a produtividade e a precisão, porém ela demanda um de idas e vindas, de grandes conquistas e de derrotas amargas”11.
custo de partida (e não me refiro apenas ao custo monetário) maior que Assim como não é possível fazer um desenho técnico instrumentado
sua precedente. A escolha de determinado instrumento de acordo com a
sem uma régua ou escalímetro. O uso destes instrumentos, ainda que
finalidade reflete nos resultados, e o bom resultado vem da correta
simples, requer algum treino. Mas para um estudante do primeiro ano
eleição dos diversos instrumentos ao longo do processo.
do curso de arquitetura as dificuldades impostas pelo instrumento são
Todo instrumento também produz ruídos de natureza informacional no suficientes para mudar o foco da atenção do objeto que se está
processo de produção e no produto final. Uma serra deixa marcas na representando para a operação do instrumento.
direção de seu movimento, um ruído no produto final, que serão
Esse problema se agrava no uso de programas CAD (computer aided
diferentes se for uma serra manual ou uma serra elétrica circular. E o
design), onde a precisão do desenho é extremamente potencializada,
seu manuseio também é diverso, tornando-se um ruído no processo. O
indivíduo, ao cortar uma madeira, pode ter dificuldade em manusear a 11
MELO, Chico Homem de – “ “Impressões digitais”, in: Os Desafios do Designer &
serra, ou de utilizar a serra de disco, alterando o resultado. Ter Outros textos sobre design gráfico. São Paulo, Edições Rosari, 2003. (Coleção
consciência de que esses ruídos existem, e que são inerentes ao TextosDesign)

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assim como as dificuldades operativas do instrumento. E, retomando não é possível uma correta compreensão do espaço e uma correta
nosso axioma, não há desenhos CAD sem o uso do instrumento CAD, e intervenção neste espaço, conseqüentemente.
todas as suas implicações. Denominamos visão espacial esta capacidade de raciocinar,
trabalhando com a idéia de que a visão e o raciocínio estão imbricados.
Como veremos, a percepção se dá através dos sentidos e do pensamento
Como foi dito, toda expressão se estrutura em torno de uma linguagem,
sobre estas sensações, e a visão é o sentido que de alguma maneira
de suportes específicos, baseados em suas potencialidades e limitações.
unifica e sintetiza nossa percepção, sobretudo no que diz respeito à
Cada instrumento possui suas especificidades, e o objetivo é utilizar, de
percepção espacial. Por isso costumamos dizer “olhe essa música”,
cada instrumento, sua máxima potencialidade, e reconhecer suas
“veja se o tempero está bom”, e raramente “cheire este pôr-do-sol”,
limitações. De onde decorre que um resultado ótimo num processo vem
“ouça esta pintura”, como nos esclarece Marilena Chauí12, sobre esta
de uma correta correlação de diversos instrumentos que se apóiam
primazia da visão. E por isso não parece incorreto denominar visão o
mutuamente.
que na realidade é a percepção e o raciocínio espacial.
Um instrumento bem direcionado, com objetivos claros, pode
potencializar muito. Um instrumento mal direcionado não só pode ser
subutilizado, como pode atrapalhar o processo. 1.2.1. Espaço
Assim sendo, consideramos aqui os sistemas de representação como Inicialmente entendido como espaço geométrico, euclidiano (depois
instrumental, como um conjunto de instrumentos, que tem como cartesiano, ordenado pelos eixos de coordenadas), matemático, a noção
objetivo o desenvolvimento da visão espacial, próximo item desta de espaço aqui trabalhada se ampliou no sentido do espaço
Conceituação. Por princípio, nenhum destes sistemas de representação psicofisiológico.
abarcará o objeto por completo. Através do uso conjunto de diversos
Este espaço geométrico-matemático é definido por possuir três
sistemas é possível uma aproximação mais completa ao objeto.
dimensões, em oposição às representações planas, que possuem apenas
duas dimensões. A partir desta caracterização é feita a primeira
distinção entre os sistemas de representação, bidimensionais e
1.2. Visão Espacial
tridimensionais.
A visão espacial é a capacidade de raciocinar estruturas espaciais,
organizações tridimensionais. A capacidade de visualizar o espaço é a Apesar dessa definição de espaço como tridimensional ter perdurado
capacidade de compreender, de raciocinar, e possivelmente interferir até os dias de hoje, não é absoluta. Aristóteles formulou as 6 dimensões,
neste espaço, modificá-lo, qualificá-lo. frente, atrás, acima, abaixo, à direita e à esquerda, em relação ao
indivíduo que se movimenta no espaço. A principal diferença deste
O objetivo deste estudo é entender como o uso do instrumental
enunciado permite o desenvolvimento desta visualização, sem a qual 12
CHAUÍ, Marilena de Souza – “Janela da Alma, Espelho do Mundo”, in: NOVAES,
Adauto (org.) – O Olhar. São Paulo, Cia das Letras, 1995.

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princípio para o anterior é a inclusão do sujeito na mensuração do O espaço estudado aqui é este mesmo ambiente, onde se desenrolam as
espaço, sujeito que se encontra imerso neste espaço, e não à parte dele. atividades humanas, onde podemos erigir edifícios e habitá-los. Porém,
o foco da discussão está na capacidade de representá-lo através de
Também Euclides sabia que este espaço não era tão rígido
diversas linguagens, de entender e criticar este espaço, e de projetá-lo,
matematicamente, e que a nossa percepção se dava esfericamente, a
de imaginar uma nova configuração para ele. O objetivo é debater o uso
partir do observador, o que impossibilitava a projeção de espaços em
do instrumental que possibilita esta análise. Não discutiremos a
planos13.
qualidade dos espaços, mas como instrumentalizar para possibilitar essa
Estas idéias foram descartadas principalmente no Renascimento, que discussão, o que nos coloca num passo anterior. Principalmente por que
postulou o espaço matemático através da perspectiva linear (e não entram parâmetros que não apenas a compreensão daquele espaço, mas
angular como previa Euclides), janela através da qual supostamente se toda a dinâmica social, econômica e cultural da população envolvida,
veria a representação verossímil da realidade. Verossimilhança etc.
conseguida pela exatidão geométrica, racional portanto.
Toda a interpretação geométrico-matemática do espaço abstrai a
fisiologia do olho na percepção visual, transformando-o num ponto ou 1.2.2. Percepção
num observador distante, no infinito. A inclusão dos aspectos Percepção é a aquisição de informação através dos sentidos. Tudo o que
psicofisiológicos quebra a rigidez matemática da projeção plana, e traz chega aos nossos sentidos pode ser percebido, ainda que nem tudo que
diversos parâmetros para compreensão da tensão entre representação e chegue aos nossos sentidos seja percebido. Mais que isso: só
realidade, foco deste trabalho, principalmente aspectos da percepção percebemos o que nos chega aos sentidos. Tudo aquilo que não sou eu é
(como veremos a seguir em 1.2.2 Percepção). Além da diferença externo a mim, e só posso acessá-lo através do mundo sensível.
matemática bi-tridimensional, entram em cena a fisiologia do olho, as Através da percepção no tempo e no espaço, somos capazes de criar em
operações intelectuais da percepção, o modo como compreendemos e nossa mente uma imagem unitária (que vem de imaginário, que se
utilizamos as linguagens, etc. forma na mente) que seja produto daquelas primeiras. Assim sendo,
através da percepção, somos capazes de acessar uma imagem que a
princípio não estava contida no mundo sensível. O resultado do
O Urbanismo, a Geografia, a Sociologia e outras ciências afins
conjunto de percepções vale mais que a soma das percepções isoladas.
diferenciam espaço de lugar, espaço de território, entre outras
denominações, tomando como um dos principais parâmetros a
qualificação que recebe o espaço, e o uso que dele se faz. A percepção é a compreensão de parte do que nos chega aos sentidos.
Por uma questão de economia de energia, não percebemos tudo o que
nos chega aos sentidos, mas apenas ao que direcionamos nossa atenção,
13
Tanto a teoria de Aristóteles quanto de Euclides estão descritas em: PANOFSKY, ao que focamos. Por isso somos capazes de olhar e não ver nada, sobre
Erwin – A Perspectiva como Forma Simbólica. Lisboa, Edições 70. 1993. tudo quando nosso foco está em outra sensação, como um som, ou em

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outra operação, como um pensamento. É isso que chamamos foco da suas bordas, que contrastam com o entorno, mas tendemos a
atenção. homogeneizar o seu preenchimento. Funciona como uma economia de
esforço perceptivo. Daqui decorrem também diversos tipos de ilusões
A analogia com o foco visual é bastante elucidativa. Ao focar um
de ótica, como manchas inexistentes, relevos e movimentos,
determinado elemento, acaba-se muitas vezes desfocando outras
ambigüidades figura-fundo, etc.
presentes no mesmo campo visual, de modo que possam se tornar
ininteligíveis. É possível inclusive um desfoque completo, onde nada se
apreende. O foco é a atenção daquele sujeito em algum elemento
daquele campo percebido.

Outro fator perceptivo (que deve em parte à economia de energia) é a


percepção por contraste, por diferença, pois contraste é amplitude de
diferença. A percepção depende das referências. Uma nota musical é
aguda por que existe uma mais grave; um tom é claro por que há um
outro mais escuro.
Digo em parte por economia de energia por que determinadas
sensações acrescentam muito pouca informação, e tendem a ser
simplificadas, ou até ignoradas. Um exemplo corriqueiro são os ruídos
de aparelhos eletrônicos ligados, que emitem um som de freqüência Um quadrado preto é lido pela forma de suas bordas e pela cor de
constante e de pouca variação na intensidade. Perceptível, mas sua superfície. À esquerda, a imagem. À direita, como a
interpretamos, pelas bordas. Por isso o desenho apenas por linhas
facilmente ignorável. Ao desligar o aparelho percebemos o quanto o
se justifica como representação da realidade. Os contornos não
som estava presente. existem, mas nós os identificamos.
É fácil perceber esse fenômeno no momento em que tentamos nos
locomover num cômodo cuja luz está apagada. Caso não haja luz Destes princípios temos um primeiro fenômeno de grande interesse
alguma, vemos apenas o preto, ou seja, não há contraste algum. O que para a representação gráfica: a percepção visual opera por bordas, ou
não significa que os objetos não estejam presentes, apenas deixamos de seja, por limites de contraste. Ao vermos um quadrado preto, vemos o
vê-los. Caso haja uma luz indireta de algum outro cômodo, portanto limite entre um quadrado preto e seu fundo branco. A informação da
pouco contraste, conseguimos identificar alguns objetos, mas com cor é geral: o quadrado é todo ele preto, e o fundo todo branco. A borda
dificuldade, o que costuma resultar em tropeços e outros acidentes. é que possui uma forma específica, ela possui a geometria de um
Este mesmo fenômeno ocorre nas figuras planas. Uma superfície plana quadrado.
constante tende a ser simplificada pela nossa percepção. Percebemos

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Este fenômeno da percepção por bordas justifica o poder do desenho,


representação plana por excelência. Ainda que haja diversos tipos de
desenho (que serão melhor descritos em 2.1.1. Desenho), o modo mais
corrente é o traço como contorno. Grafando linhas simples, fecham-se
formas, e delimitam-se regiões. Ou seja, representa-se apenas as bordas
da figura, linha inexistente, apenas o limite entre o que é a figura e o
que não é. O modo como opera o desenho nada mais é que uma síntese
do modo como opera a percepção visual das formas.

Para Merleau-Ponty, a percepção ocorre num sistema sujeito-ambiente,


onde não existe a percepção unitária e completa de cada objeto como
postulava o racionalismo cartesiano, mas apenas a percepção do
conjunto, onde cada elemento influencia os demais, e a partir de um
ponto de vista específico. Esta percepção se dá no tempo, e a cada nova
visada, a cada movimento dos objetos ou do sujeito, ela vai se
complementando. O sujeito está imerso no ambiente, e nunca tem a
percepção total, mas vai formando-a aos poucos ao longo do tempo. E,
principalmente, vai formando a imagem internamente, individualmente,
a partir de percepções sempre parciais.
Essa forma de percepção explicita a importância do contexto em
questão. Não percebemos cada elemento individualmente, mas sempre
o conjunto, numa influência mútua e constante. “Os objetos deixam de
estar no espaço – considerado em termos geométricos como pretendia a
vida cartesiana – e têm alcance de influência perante os corpos. Corpos
e objetos ao se modificarem mutuamente passam a consubstanciar o
espaço”14.
A percepção opera sempre contextualizada, a ponto de suas linhas
paralelas serem lidas como côncavas devido às outras linhas
14
radiais.
SCHENK, Leandro Rodolfo – Os Croquis na Concepção do Espaço Arquitetônico:
Um estudo a partir de quatro arquitetos brasileiros. Dissertação de Mestrado
apresentada à FAUUSP. São Paulo, 2004.

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A organização destas imagens é sistêmica, contextual, trabalha sempre dotamos de figuras, da potência do reconhecimento16. Isso significa que
com o todo, e não com as partes individuais. Ao contrário do que o contexto cultural em questão, a faixa etária, as condições sociais e o
postulavam os racionalistas, a percepção não opera pela apreensão repertório de cada indivíduo fazem parte do ato perceptivo. A presença
individual e total de cada objeto existente num contexto, mas opera destas imagens é muito forte, e ajuda a organizar o campo perceptivo.
sempre no contexto. A apreensão do sentido se dá sempre num sistema, “Um objeto conhecido pode ‘dimensionar’ o espaço”17. Ao olhar para
onde todos os elementos presentes influenciam de alguma maneira a as coisas, buscamos organizá-las segundo nosso repertório: vemos
leitura dos demais. Esta percepção contextual é explicada por livros, que são casos particulares da imagem de livro que possuímos;
fenômenos como ilusões de ótica, onde linhas paralelas aparentam estar vemos árvores, como um objeto, e não como um agrupamento de caule,
em ângulo, etc. Do mesmo modo somos levados a enganos perceptivos, raiz, galhos e folhas, ainda que conheçamos os componentes
como observar um objeto à distância e reconhecer um cachorro, e ao tê- individualmente. Cada vez que ouvimos uma expressão como “bom
lo próximo de si perceber que se tratava de uma pedra. À primeira vista dia”, não entendemos cada palavra, mas a expressão como um todo.
foi criada a imagem do cachorro, que permanece até que a aproximação, Expressões operam como uma imagem única.
portanto a possibilidade de uma visada mais precisa, trouxesse a Mais ainda: uma frase pode operar como uma imagem unitária, como
imagem da pedra, que passa a substituir a imagem anterior um todo. Uma frase bem recebida passa a ter um sentido como um todo,
definitivamente.
de modo que somos capazes de reproduzir seu sentido, ainda que não
Também daqui tiramos outra conclusão: a percepção se dá no tempo, nos lembremos das palavras exatas. E o mesmo ocorre com o oposto.
através de visadas sucessivas. A imagem mental é composta não só Quando não apreendemos o sentido total da frase, quando não
pelo conjunto de objetos que compõe um sistema perceptivo, mas acessamos o seu significado, não somos capazes de reproduzir seu
também pelo conjunto de percepções sucessivas ao longo do tempo. sentido, ainda que sejamos capazes de recordar as suas palavras,
“Na percepção, nunca poderemos ver, de uma só vez, as seis faces de separadamente. Esse esforço de compreender o significado, de criar no
um cubo, pois ‘perceber um cubo’ significa, justamente, nunca vê-lo de intelecto a imagem mental que não existe a priori, é o ato da percepção.
uma só vez por inteiro. Ao contrário, quando o geômetra pensa o cubo, “Nenhuma idéia me é dada na transparência e todo o esforço para
ele o pensa como figura de seis lados e, para seu pensamento, as seis fechar a mão sobre o pensamento que habita a palavra deixa apenas um
faces estão todas presentes simultaneamente.” “Perceber é diferente de punhado de material verbal entre nossos dedos”18.
pensar”15.
A percepção opera pela busca de imagens mentais, referências pré- 16
existentes no nosso imaginário. Estas referências são adquiridas do CÔRTE-REAL, E. – O Triunfo da Virtude – as origens do desenho arquitetônico.
Lisboa, Livros Horizonte, 2001
mundo à nossa volta, que configuramos constantemente, isto é, 17
ALONSO, Carlos Egídio – Percepção Tridimensional, Representação
Bidimensional. São Paulo, Doutorado FAUUSP, 1994.
18
15 MERLEAU-PONTY, Maurice – “Sobre a Fenomenologia da Linguagem”, in:
CHAUÍ, Marilena de Souza – “Capítulo 2: A Percepção” in: Convite à Filosofia. Textos Selecionados. Nova Cultural, São Paulo. 1989. Coleção Os Pensadores.
São Paulo, Ática. 1996

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1.2.3. Primazia da Visão maior quantidade de informações que chega à nós. “Alguns chegam à
exatidão do número: oitenta por cento dos estímulos seriam visuais” 20.
Nossa percepção do mundo se dá através dos sentidos. Cada um dos
cinco sentidos abarca uma gama de estímulos sensíveis. Aqui Os olhos situam-se na parte frontal do rosto, portanto olhar é voltar à
interessam os que colaboram na percepção espacial. face, é ato intencional, o que para Husserl é a definição da essência dos
atos humanos 21 . Mais ainda, ao olhar apreendemos as distâncias, e
Como já foi dito, costumamos dizer “veja esta música”, sem nos dar
nossa relação com os objetos. Medimos o espaço através do nosso
conta da sinestesia. A visão possui a capacidade de congregar os
alcance corporal. “Tudo o que eu vejo por princípio está a meu alcance,
demais sentidos. Através de imagens somos capazes de evocar o tato, o
pelo menos ao alcance do meu olhar, assinalado no mapa do ‘eu
paladar, desde que esta relação já exista na mente.
posso’”22. Por isso Merleau-Ponty afirma que “ver é ter à distância”23.
Filósofos do iluminismo discutiram longamente sobre como a visão
percebe um circulo sombreado como sendo uma esfera sólida.
Relacionam de diversas maneiras a experiência do mundo vivido, a 1.2.4. Fisiologia e Percepção Visual
visão e o tato, propondo a abstração de cada um destes sentidos através Percebemos do que foi exposto até agora que a percepção visual vai
de hipóteses, como um cego que adquirisse visão, ou uma estátua que muito além da projeção na retina da luz refletida pelos objetos. Esta
apenas enxergasse, mas não pudesse tocar. Também foram operação mecânica, que chegou a ser equiparada à perspectiva cônica,
acrescentados a este debate relatórios médicos, como de um garoto que
não leva em conta todos os processos mentais envolvidos na percepção.
aos treze anos de idade foi operado de catarata, sendo até então
A recepção da luz na retina é um processo passivo, mas a percepção das
praticamente cego. Percebeu-se que a relação entre tato e visão não
figuras ali existentes e a formação das imagens na mente é um processo
havia sido realizada pelo menino, que não conseguia associar as
ativo.
imagens inéditas às coisas já conhecidas por ele através do tato. Não
podia emitir qualquer juízo sobre as distâncias; não sabia distinguir um Sabemos que a percepção se dá de maneira sistêmica, onde todos os
gato de um cachorro visualmente, apesar de fazê-lo pelo tato; não elementos presentes se inter-relacionam. Ou seja, percebemos sempre
conseguia entender pinturas, pois mal sabia reconhecer as formas das os objetos contextualizados.
coisas reais, menos ainda sua representação num plano. 19 Se a percepção sempre se dá contextualizada, o campo visual em
A visão opera como uma síntese dos demais sentidos, desde que estes questão é um elemento fundamental. No caso da visão, o campo de
tenham sido estimulados em conjunto, fato que não ocorreu no exemplo
citado. 20
BOSI, Alfredo – “Fenomenologia do Olhar”, in: NOVAES, Adauto (org.) – O
Admitimos a primazia da visão neste estudo a partir de um Olhar. São Paulo, Cia das Letras, 1995.
21
desenvolvimento equilibrado. O fato é que a visão é responsável pela BOSI, Alfredo. Op. Cit.
22
MERLEAU-PONTY, Maurice – “O Olho e o Espírito”, in: Textos Selecionados.
19
BAXANDALL, Michael – Sombras e Luzes. São Paulo, Edusp, 1997. (texto e arte Nova Cultural, São Paulo. 1989. Coleção Os Pensadores.
23
15). Há um capítulo dedicado à este debate no Iluminismo. MERLEAU-PONTY, Maurice. Op. Cit.

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visão é infinito, pois podemos nos movimentar e amplia-la. Mas se


estivermos tratando de desenho ou fotografia, temos um campo finito,
enquadrado, e cuja seleção deve ser criteriosa, apesar de diversas vezes
ficar por conta do acaso.

A mente busca reconhecer imagens mentais, conhecer novamente


figuras já armazenadas na memória. Aos poucos, vamos formando
imagens das coisas percebidas, e somos capazes de compreende-las
individualmente, mas para isso é necessário percebe-las
contextualizadas. Muitas vezes é necessária uma seqüência de visadas
de diferentes pontos de vista para apreender a totalidade de um objeto.
“O cérebro é o verdadeiro órgão da visão”24, conclui Carlos Alonso,
após longa análise dos processos fisiológicos e mentais envolvidos na
percepção espacial. “Não há visão sem pensamento. Mas não basta
pensar para ver”25.
Mas a relação não é apenas operacional, ela é também física: “Sabe-se
que a relação do olho com o cérebro é íntima, estrutural. Sistema
nervoso central e órgãos visuais externos estão ligados pelos nervos
óticos, de tal sorte que a estrutura celular da retina nada mais é que uma
expansão diferenciada da estrutura celular do cérebro. O anatomista
norte-americano Stephen Poliak chegou a admitir a hipótese
revolucionária de que o tecido cerebral resultou de uma evolução dos Um simples círculo é lido como um objeto bidimensional,
olhos”26. pertencente ao plano do papel.

24
ALONSO, Carlos Egídio – Percepção Tridimensional, Representação
Bidimensional. São Paulo, Doutorado FAUUSP, 1994.
25
MERLEAU-PONTY, Maurice. Op. Cit.
26
BOSI, Alfredo. Op. Cit.

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Um círculo sombreado é lido como tridimensional, como uma


esfera. A bidimensionalidade do papel é superada pela
espacialidade, desde que o observador já tenha se defrontado com Um círculo não sombreado, mas acrescido de outros traços,
uma esfera real. consegue se tornar uma bola, objeto tridimensional, apenas pela
força da imagem mental. A ponto de uma criança de 7 anos
exclamar: “até a pessoa mais burra do mundo sabe que isso é uma
bola de futebol!”.

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Fisiologicamente a visão possui uma operação simples. A luz entra pela


pupila e é projetada na retina, tendo o foco ajustado pelo cristalino. Não
difere muito do funcionamento de uma máquina fotográfica, o que
levou muitos a afirmarem que a visão seria um processo mecânico, ou a
comparar com a perspectiva cônica. Uma das primeiras diferenças é o
fato da superfície da retina ser côncava, o que ameniza as distorções
periféricas.
É importante lembrar que, mesmo sendo o olho côncavo, a visão ainda
se dá pela projeção da luz numa superfície. “A terceira dimensão do
espaço deve, também, ser uma construção realizada pelo cérebro pois
ela não existe como tal na retina” 27 . Ou seja, de alguma maneira o
tridimensional é transformado em bidimensional pelos olhos, que
através de diversos recursos reconstrói na mente a tridimensionalidade.
O processo de projeção da imagem na retina pode sim ser comparado à
processos mecânicos, porém a percepção não se resume a isso.
Uma das primeiras diferenças percebidas é a binocularidade. Vemos
com dois olhos, a partir da relação entre duas vistas com uma leve
disparidade, devido à distância entre eles.
Atualmente existem diversas maneiras de se conseguir a estereoscopia,
simulação da profundidade através de um par de figuras com
disparidade de pontos de vista. Deve-se apenas garantir que cada figura
chegue a um olho, e há diversas maneiras de faze-lo, e que elas sejam
sobrepostas e interpretadas como sendo a mesma. Ou seja, a
binocularidade pode ser simulada mecanicamente (elas serão melhor
debatidas em 2.3.1 Imagens Estéreo). Mas não apenas ela é quem dá a
profundidade.

Disparidade retiniana na visão estereoscópica, binocular. Cada olho


tem uma visão de um ponto de vista levemente diferente. (fonte:
ALONSO – Percepção tridimensional, representação bidimensional).
27
ALONSO, Carlos Egídio. Op. Cit.

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Já ouvimos diversas vezes que a binocularidade é que permite a visão


em profundidade, e ao experimentar fechar um olho, não nos sentimos
diante de um plano. “A profundidade pode ser percebida com um olho
só por que acionamos outras chaves que não a disparidade [retiniana]”28.
O olho não é estático. Ele pode realizar dois movimentos. Vale lembrar
que todo movimento implica tempo, diacronismo.
O primeiro, mais evidente, é sua movimentação no espaço. A cabeça
pode girar em torno do pescoço, e o corpo pode se movimentar ao
longo do espaço. Faz parte da atividade do sujeito que frui o espaço,
que está imerso nele, e que possui as seis dimensões de Aristóteles29 Seqüência de fotos com variação apenas no foco. As imagens
para se deslocar. Como já dissemos, a percepção não se dá estáticas possuem foco estático, enquanto a visão tem foco
estaticamente, mas em visadas sucessivas. dinâmico, de modo que geralmente não atentamos para as zonas
desfocadas.
O outro movimento da visão é a varredura na imagem, o movimento
sutil dos olhos que percorre o campo visual. O olho vai focando cada Além disso, toda imagem que chega aos nossos olhos é na realidade luz
objeto individualmente, pois como sabemos é impossível focar todo o refletida nos objetos. Ou seja, vemos apenas luz. Mas como dissemos
campo simultaneamente. Porém a imagem que formamos na mente é de anteriormente, não vemos homogeneidades, vemos contraste. O que
um campo nítido. Não percebemos as zonas desfocadas, diferente da vemos é a luz e a ausência de luz.
fotografia, onde o foco é estático, e o desfoque é registrado. As sombras são zonas de deficiência luminosa, que contrastam com
O foco é à indefinição dos raios de luz devido ao diâmetro do orifício zonas iluminadas, formando imagens que podem ser percebidas. O
de projeção. Quanto maior o orifício, menos zona de foco. Podemos exemplo do cômodo escuro citado é um caso de total deficiência de luz.
comparar esse processo na pupila com o obturador de uma máquina Não significa que os objetos tenham deixado de estar presentes, mas
fotográfica. A única possibilidade de foco total é na projeção a partir de sim que a falta de luminosidade nos impede de perceber visualmente
um ponto geometricamente ideal. Assim é a perspectiva linear. As sua presença.
máquinas perspécticas de Brunelleschi obrigavam o observado a fechar Os matizes nada mais são que variações no tipo de luz refletida por
um dos olhos ao situar o observador num orifício. Não há desfoco, não uma superfície. A presença deles é muito importante pois aumenta a
há movimento, não há binocularidade. variedade de contrastes possíveis num campo visual, portanto em maior
facilidade de reconhecimento de figuras. Figuras em preto e branco só
podem variar em intensidade; figuras coloridas podem variar em
28
ALONSO, Carlos Egídio. Op. Cit. intensidade e matiz.
29
Ver 1.2.1. Espaço; Ver PANOFSKY, Erwin – A Perspectiva como Forma
Simbólica. Lisboa, Edições 70. 1993

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Sabemos que as sombras possuem grande papel na percepção de


volumes. Existem basicamente três tipos de sombra: sombreado, auto
sombra e sombra projetada. A primeira, o sombreado, é a variação na
quantidade de luz recebida pela inclinação do plano iluminado. É
especialmente útil na percepção de superfícies curvas, onde a gradação
da luz corresponde à curvatura da superfície. A segunda, auto sombra, é
a obstrução da iluminação no objeto pela própria geometria do objeto,
geralmente faces opostas à fonte luminosa. A terceira, sombra projetada,
é a sombra “lançada” pelo objeto numa outra superfície.30
Nem sempre é possível diferenciar os tipos de sombra, uma vez que
eles ocorrem simultaneamente, e muitas vezes se misturam. É
importante apenas perceber que a sombra traz uma quantidade de
informação sobre o objeto, sobre sua forma. Além disso, traz também
informações sobre o seu entorno, uma vez que depende da existência de
uma ou mais fontes luminosas, e no caso da sombra projetada da
existência de superfícies que suportem o objeto, como um piso ou uma
parede. Ou seja, a presença de sombras já indica a existência de um
sistema perceptivo. “A percepção da sombra (...) poderia ser
considerada como uma atividade sistemática no sentido de que qualquer
uma das sombras precisa ser estabelecida dentro de um padrão mais
amplo para ter um significado mais forte: uma sombra solitária,
descoordenada, não causada pode ser apenas uma mancha escura”31.
A partir da percepção de sombras temos a percepção das texturas. A
repetição de sinais semelhantes, preferencialmente de pequenas
dimensões, pode criar uma textura. Ao observar um muro chapiscado,
não veremos cada sombra de cada relevo individualmente, mas apenas
Esquema das sombras projetadas, ou sombras waltzianas, devido
a textura, o conjunto de regiões iluminadas e sombreadas que dá a
ao estudo realizado por David Waltz, de onde Baxandall extraiu sensação de “áspero” (relação com uma imagem tátil). O mesmo
estas imagens. Junto das auto-sombras, fazem referência à fonte
luminosa, mas a principal informação que trazem é sobre a forma 30
BAXANDALL, Michael – Sombras e Luzes. São Paulo, Edusp, 1997. (texto e arte
da superfície onde são lançadas. (fonte: BAXANDALL – Sombras e 15).
Luzes) 31
BAXANDALL, Michael. Op. Cit.

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fenômeno pode ser dar em diversas escalas, de acordo com a dimensão diante de uma figura tridimensional e sua representação bidimensional
dos sinais e a distância do observador. Um bairro inteiro pode ser lido serão discutidas em 2.1 Bidimensionais32.
como uma textura numa foto aérea.
As texturas podem também dar informações sobre a profundidade, se Podemos sintetizar todos os aspectos visuais da percepção espacial
trabalhadas de acordo com a perspectiva. Uma simples gradação de através do espelho. Uma figura refletida num espelho plano possui
linhas pode dar a idéia de profundidade, pois trabalha de acordo com a todas as qualidades visuais de uma figura real (ignorando-se o fato de
perspectiva, de que falaremos adiante. estar espelhada). A sua perspectiva é correta; é possível ter uma visão
Todas essas informações, sombra, textura, são complementares à forma binocular, pois cada olho terá sua projeção levemente diferente; ela será
do objeto. Esta é apreendida, como já dissemos, pelas bordas, pelos devidamente sombreada e texturizada; é possível se movimentar diante
contrastes de luminosidade. Uma variação abrupta de iluminação da figura, inclusive alterar o foco; ela encontra-se devidamente
costuma ser interpretada como uma borda, de modo que somos capazes contextualizada. Porém, não possui materialidade, não é tátil, é apenas
de ler não apenas as bordas dos objetos, mas as bordas das sombras uma imagem visual intangível. O espelho funciona como uma janela
lançadas. A interpretação de bordas vai se compondo num sistema de que olha para a realidade.
formas que, se não é idêntico ao da perspectiva linear, é similar. As
formas se projetam na retina a partir de um ponto de vista, que se
aproxima da construção da perspectiva cônica, e em caso de grandes 1.2.5. Desenvolvimento-Aprendizado
distância, da perspectiva paralela. A variação de tamanho, posição e o Procuramos aqui, com o instrumental enunciado, desenvolver o
escorço que as formas sofrem depende da perspectiva, do ponto de vista raciocínio e a visão espacial. E para tal é necessário entender como
do observado em relação ao que se observa. opera o aprendizado e o desenvolvimento das faculdades mentais. É
Assim sendo, apesar de termos comprovado que a perspectiva linear claro que esse tema compete a outras áreas, principalmente à pedagogia
não é uma reprodução do aparelho visual, não podemos negar sua e à psicologia, e sua abordagem aqui se dará de maneira bastante rasa e
validade como simulação de um dos mecanismos deste aparelho, o da intuitiva, não se valendo de muitas fontes dessas áreas, devido às
percepção das formas. limitações desta pesquisa. Assim sendo, será esboçada aqui uma breve
fundamentação do aprendizado e do desenvolvimento.
Vale lembrar que estes três últimos aspectos, forma, sombra e textura,
podem ser representados de maneira estática, diferente daqueles citados Como já foi dito, estuda-se a linguagem gráfica e seu desenvolvimento,
no início, dependentes do movimento. Podem portanto ser plasmados e para isso serão feitos alguns paralelos com a linguagem verbal, da
numa representação plana. As relações entre o que é captado pelo olho qual há maior quantidade de estudos.

32
Para um estudo mais completo sobre o assunto, conferir: ALONSO, Carlos Egídio –
Percepção Tridimensional, Representação Bidimensional. São Paulo, Doutorado
FAUUSP, 1994.

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O método tradicional coloca o professor na posição de palestrante, onde


os alunos apenas ouvem. É a forma como se dá o ensino básico, com
Em primeiro lugar, tendo em vista todo o processo de linguagem e
conteúdo mais verbal e teórico. Aqui o aluno é um receptor,
significação já descrito, temos que o aprendizado e o desenvolvimento
aparentemente passivo.
é um processo interno e individual. Cada sujeito tem seu próprio
desenvolvimento interno, condicionado pelas suas afinidades, pelo seu As disciplinas de caráter prático já exigem uma atividade do aluno, uma
repertório e experiência. Características particulares que fazem com que vez que é necessário fazer com que o aluno aprenda não apenas os
cada sujeito tenha um desenvolvimento particular. O uso de uma conceitos, mas também a operação de execução. Nitidamente o aluno é
linguagem depende do repertório de cada sujeito, tanto daquele que se ativo aqui, e o professor muito mais um orientador.
expressa quanto daqueles que recebem e decodificam a mensagem.
Como já foi dito, uma mesma mensagem pode ser decodificada de
maneira diferente dependendo do receptor. Essa variação pode se dar Mesmo a partir desta distinção, é possível afirmar que em ambos os
por diversos motivos, como sua atenção, seu repertório, e pela própria casos o aluno é um sujeito ativo, e nunca passivo. Para apreender o que
incompletude de toda representação. E a compreensão de linguagens o professor diz, o ouvinte processa o som e converte as palavras em
por parte de um sujeito se desenvolve. O significado de uma palavra idéias. Mesmo que não esteja manifestando, está agindo subjetivamente.
para um determinado sujeito vai evoluindo ao longo do tempo. Uma Caso contrário, estará apenas ouvindo os sons emitidos pelo professor
mesma mensagem pode ser interpretada de maneira diferente não “palestrante”, passivamente, sem nada apreender do que é dito.
apenas por diferentes sujeitos, mas também por um mesmo sujeito em Não necessariamente tudo o que chega aos sentidos é interpretado pela
diferentes estágios de desenvolvimento. mente. Várias pessoas olhando um mesmo campo visual não
Para que haja comunicação, é necessária uma base comum de apreendem as mesmas coisas, mesmo que fisicamente sejam os mesmos
conhecimento, que na linguagem verbal inclui a língua utilizada, o estímulos que chegam até eles. É necessária a atenção do sujeito a um
vocabulário, o conhecimento sobre o assunto tratado, etc. Para o foco determinado para haver percepção (trazendo novamente a analogia
desenvolvimento ocorre o mesmo. É necessário um mínimo domínio da do foco: ressaltar um elemento, e conseqüentemente abrir mão de
linguagem utilizada, e de preferência um mínimo de conhecimento do outros).
aluno sobre o assunto a ser tratado.
Pela experiência cotidiana sabemos que se durante uma aula ou palestra
O aprendizado se dá, tradicionalmente, através da relação professor- o ouvinte realizar anotações, consegue organizar e fixar melhor os
aluno, onde um transmite conhecimento ao outro. E o modo como se conceitos. Isso se deve ao fato de, durante a audição, não buscar apenas
estrutura esta relação e os métodos de ensino podem ser diversos, e são a compreensão das palavras e das frases, mas de reorganizá-las e
temas ainda hoje de muita discussão e controvérsia. materializá-las em outra frase, de sua autoria. Ou seja, através de uma
tradução intralingüística, dentro da mesma linguagem, aumentou-se a
atividade do sujeito, aumentou-se sua atenção aos sentidos.

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Por outro lado, numa aula prática dificilmente um aluno sairá sem ter só existe uma materialização dos conceitos numa organização sensível,
apreendido nada, uma vez que a atividade faz parte dela, diferente da como também uma maior clareza deles por parte do autor.
aula “palestra” onde é possível a passividade completa. A diferença é Podemos dizer que, ao redigir o texto, o sujeito desenvolveu um
que neste caso trata-se de um aprendizado mais operativo, a atividade conhecimento que já possuía. E também desenvolveu a habilidade de
prática é o próprio objetivo do ensino. No outro caso busca-se um encadear as palavras, operação necessária e inerente ao processo.
ensino mais conceitual, e a atividade prática, a anotação, vêm como
forma de estimular a atividade mental.
Deste modo, a materialização se mostra um eficiente método de
organização e revisão de um conhecimento presente na mente. Ao se
Através do exercício, das atividades, é que se aprimoram as expressar, o sujeito é obrigado a realizar a ponte entre seu mundo
capacidades. Quanto mais desenvolvidas, mais apto está o sujeito a interior, subjetivo, e o mundo sensível, realizando uma materialização
interpretar novos estímulos postos a ele. Um escritor possui facilidade que permite o acesso de outros sujeitos, ao mesmo tempo em que
para compreender textos, um pintor possui olho atento ao mundo desenvolve seu conhecimento. Uma maior familiaridade com os
visível, um músico é sensível a estímulos sonoros em geral. Este conceitos e com o suporte da materialização resulta num melhor
desenvolvimento se dá através da leitura de estímulos externos, com a resultado, e vice-versa.
atividade mental, e da produção de novas organizações sensíveis, da
expressão externa da interioridade do sujeito. A atividade do sujeito mostra-se assim um parâmetro bastante eficiente
para a compreensão do aprendizado e desenvolvimento das faculdades
A capacidade de expressão do sujeito demonstra a afinidade que ele mentais.
possui com um assunto. Ao se expressar, precisa organizar o
conhecimento relacionado que possui interiormente numa determinada
materialização. Deste modo desenvolve suas idéias, podendo inclusive 1.2.6. Desenvolvimento da Visão Espacial
efetuar relações ou atingir conclusões inesperadas.
A partir destes princípios, procuramos entender como aplicar os
Para escrever um texto, é necessário ter as idéias em mente. É possível diversos sistemas de representação na busca pelo desenvolvimento da
já ter todo o conteúdo do texto sem ter escrito. A sua materialização, o visão espacial.
processo de seleção e organização das palavras, exige uma prática no
manejo do verbal, que não se confunde com os conceitos que se Cada sistema de representação é uma linguagem, com um potencial
pretende transmitir. Ao longo da execução o embate entre as palavras e cognitivo e comunicativo distinto. Percebemos que, ao comunicar algo
as idéias exige uma constante revisão dos conceitos, todos eles já a alguém, somos obrigados a estruturar a linguagem em torno do nosso
presentes desde o início. É um processo diacrônico muito claro para o discurso (seja ele verbal, visual, sonoro, etc.), e que esse esforço
autor, ainda que apareça plasmado num objeto único e sincrônico para comunicativo nos obriga a uma organização das nossas idéias, que
os demais sujeitos, leitores do produto final. Ao final do processo, não antes se encontravam esparsas. Também que, ao estruturar a linguagem
para significar o que pretendemos, materializamos numa representação,

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que passa a estar disponível então. Inclusive para o próprio atenção ao mundo visual. A expressão do mundo visual através de uma
comunicador, que passa a dispor deste novo “aparelho significante”. É linguagem de representação “nos obriga a transitar entre essa percepção
a aquisição de significados. habitual [pragmática] e uma percepção atenta, e é esse estado de
atenção que pode provocar o desenvolvimento do conhecimento e,
Sabemos também que esse processo de estruturação dos significados
conseqüentemente, uma nova percepção” 34.
não é simples, podendo ser inclusive penoso. Nossos pensamentos só se
estruturam através de uma linguagem. Se não possuímos o domínio da O produto da expressão traz plasmado todo o processo, numa
linguagem em questão, ou se não temos a definição da linguagem a ser organização material sincrônica. O processo não é recuperável, a não
utilizada, os pensamentos ficam abstratos. No momento de estruturá-lo ser pelo próprio produtor (sendo o produto final apenas um suporte da
numa linguagem, ele não “caberá” nela, ou seja, não pode ser memória do processo de produção). Uma representação gráfica, como
materializado adequadamente e não significará o que deveria. um desenho por exemplo, é a materialização sincrônica de um processo
diacrônico de percepção, seleção e combinação de alguns aspectos
É freqüente perceber neste sentido a decepção de desenhistas iniciantes
numa linguagem específica. Como dissemos, este processo é individual
com a distância entre o produto realizado e a idéia que tinha em mente
e interno para cada sujeito, podendo ser expresso em parte verbalmente,
de seu desenho. Não percebem a importância da produção deste
textualmente.
desenho que, mesmo errado, está desenvolvendo neste sujeito a
capacidade de se expressar nesta linguagem, “aprendizado feito de idas O produto interessa enquanto linguagem comunicativa, enquanto
e vindas, de grandes conquistas e de derrotas amargas”33. expressão de algo para alguém externo. Porém, esta comunicação
depende da capacidade do sujeito que se expressa em tornar claras as
O ato de estruturação de uma linguagem, de expressão do sujeito, é
sempre um processo diacrônico, que se desenvolve no tempo. Essa idéias através de uma linguagem. Do ponto de vista do
desenvolvimento individual do sujeito, interessa menos o produto
estruturação das linguagens ocorre num processo constante de seleção,
desenho, e mais o processo pela qual passou seu produtor, a sua
do que deve ser comunicado, e de que modo deve ser combinado.
realização. Para a análise do desenvolvimento e do aprendizado,
Este processo pode ser penoso, feito de idas e vindas, mas é um dos interessa o processo de estruturação da linguagem.
momentos mais ricos da estruturação das linguagens, da aquisição dos
significados.
Além disso, ao se expressar através de uma linguagem, o sujeito aguça
sua percepção na busca por uma melhor expressão. No caso das
linguagens visuais, aquele que se expressa visualmente passa a ter mais

33
MELO, Chico Homem de – “ “Impressões digitais”, in: Os Desafios do Designer &
Outros textos sobre design gráfico. São Paulo, Edições Rosari, 2003. (Coleção 34
ALONSO, Carlos Egídio – Percepção Tridimensional, Representação
TextosDesign) Bidimensional. São Paulo, Doutorado FAUUSP, 1994.

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2. Os Sistemas de Representação

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2. Os Sistemas de Representação 2.1. Bidimensionais


Nesta segunda parte do trabalho examinaremos o caráter dos principais A representação bidimensional de uma estrutura tridimensional traz em
sistemas de representação utilizados na leitura espacial. Serão sua própria natureza uma redução: a perda de uma dimensão. Sabemos
comentadas a natureza e as potencialidades de cada sistema, além da que toda representação sempre é incompleta em relação àquilo que é
análise de exemplos de uso. representado. Aquele que produz a representação deve selecionar quais
aspectos quer representar, e conseqüentemente quais quer abrir mão,
Os sistemas estão divididos em três grupos: Bidimensionais,
como ocorre em qualquer processo de estruturação de linguagem. No
Tridimensionais e Alternativas. O primeiro grupo abarca as
caso da transposição do tri para bidimensional, além da seleção de
representações que se estruturam no plano, basicamente os desenhos. O
informação por parte do emissor, há também a perda obrigatória de
segundo grupo trata de representações volumétricas, espaciais. O
uma dimensão, inerente à natureza do suporte bidimensional.
terceiro, abarca representações baseadas em suportes ou sistemas
Considerando os elementos explicitados em 1.2.4 Fisiologia e
menos convencionais.
Percepção Visual, podemos avaliar algumas das implicações desta
Como linha condutora, temos a aplicação didática de cada sistema, o transposição.
potencial como instrumento do desenvolvimento da visão espacial,
Concomitantemente à redução de uma dimensão, temos a perda da
baseado na visualização que cada sistema traz, nas abstrações inerentes
a cada um, e nos processos de produção. binocularidade, ou disparidade retiniana. A imagem tridimensional
pode ser vista por dois ângulos levemente diferentes, variando de
acordo com a distancia, e a imagem plana possui uma distância única.
Fisiologicamente a imagem percebida será diferente. Essa deficiência
pode ser parcialmente sanada através de alguns recursos, que estão
expostos em 2.3.1 Imagens Estéreo.
Também se perde a capacidade de foco, pois este também é relacionado
com a distância, com a profundidade. Os olhos percorrem todo o campo
visual, de modo que não percebemos os elementos desfocados, apenas
os focados. No caso de desenhos, não há focos, as linhas são limites
ideais. No caso de fotografias, há foco, mas não variação de foco. A
A representação bidimensional possui características muito diversas
fotografia tem um foco fixo, definido. Isso por que estas representações
do espaço tridimensional. As ambigüidades e indefinições neste são estáticas, diferente da visão, que é dinâmica.
processo de tradução podem tanto gerar problemas como servir de Também há a perda do movimento da imagem. A percepção no espaço
tema para piadas. (fonte: Cascão. Maurício de Souza Produções.
se dá por visadas sucessivas, nós movemos a cabeça, andamos, nos
Editora Globo)
movimentamos, estamos inseridos no espaço. A figura estática das
representações abre mão desse movimento.

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Se considerarmos o tempo como uma quarta dimensão, podemos dizer também que a percepção opera na busca por imagens mentais, pelo
que a grande maioria das representações planas perde esta dimensão reconhecimento de imagens prévias, e que a representação é a tentativa
também. Alguns exemplos que trabalham com o tempo serão debatidos de configurar algo numa estrutura reconhecível, de modo que se crie na
em 2.3 Alternativas. mente uma imagem que transcenda a mera materialidade. Essa
configuração em imagens reconhecíveis pode ser exemplificada pela
Além disso, perdem-se todos os demais sentidos que não a visão. Mas
representação de figuras humanas, possivelmente uma das imagens
através da visão é possível evocar os demais sentidos, de modo que
mentais mais fortes que possuímos segundo Baxandall 35 . Ao
somos capazes de perceber texturas visualmente, de salivar ao ver
representar bidimensionalmente uma figura humana, conseguimos,
imagens de alimentos, eventualmente até perceber sons e movimentos
apesar de todas as perdas perceptivas já explicitadas, configurar uma
numa imagem estática. A figura evoca na mente do sujeito que a vê
estrutura que é percebida como uma figura humana.
uma imagem presente em sua mente, de modo que esta percepção de
outros sentidos está circunscrita às experiências pela qual o sujeito Essa é a base do figurativismo. A partir da nossa percepção de que a
passou. Uma pessoa diante de uma foto de um muro chapiscado que figura representa alguma coisa, tomamos essa representação como
nunca presenciou este tipo de acabamento não terá a mesma percepção sendo a coisa, e organizamos o campo perceptivo a partir dessa imagem
quanto alguém que já se ralou em um. mental.
Nas artes plásticas costuma-se opor figurativismo ao abstracionismo,
Alguns outros elementos conseguem se manter, ou ser simulados. As imagens que não têm intenção de representar figuras. Mondrian
relativiza essa nomenclatura, chamando a arte dita figurativa de abstrata,
imagens mentais e a perspectiva são os principais na imagem figurativa.
A partir de construções geométricas, é possível simular a perspectiva da pois ela seria uma abstração da realidade, uma representação que exige
projeção da luz na retina. Com suas devidas limitações, como deve ser uma abstração; e a dita abstrata, de concreta, pois ela diz respeito à sua
em qualquer modelo matemático de compreensão da realidade. O forma de arte, ela não representa, é ela concretamente. Essa definição
mecanismo da perspectiva será discutido em 2.1.3 Perspectivas. vêm de encontro à idéia de que a representação nunca será aquilo que
ela representa; será portanto sempre uma abstração.
Também podem ser simuladas as sombras e iluminações, que trabalham
dentro do sistema da perspectiva. Sua presença colabora na simulação A arte concreta é uma maneira da linguagem dizer sobre ela mesma, ou
dos volumes, quando apenas a construção das linhas da perspectiva seja, é uma metalinguagem, uma auto-reflexão. A linguagem não está
deixa ambigüidades. Também podem ser representadas as texturas, que usufruindo do seu potencial comunicativo, está tensionando sua
qualificam os planos. Porém, quanto mais se acrescenta destes materialidade até os limites. Essa reflexão de natureza metalingüística
elementos – sombras e texturas – mais se torna complexa a produção pode ser realizada também através do figurativismo. Um bom exemplo
desta representação. de metalinguagem figurativa é a obra de M. C. Escher, que através de

Conseguimos também representar imagens conhecidas, configurar


35
formas que representem coisas previamente conhecidas. Sabemos BAXANDALL, Michael – Sombras e Luzes. São Paulo, Edusp, 1997. (texto e arte
15).

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suas gravuras, representação bidimensional, questiona a própria 2.1.1. Desenho


representação bidimensional do tridimensional, evidenciando os limites Desenho é o traço sobre a superfície. Representação plana por
desta linguagem. excelência, é utilizado em diversas ciências, de diversas maneiras, para
diversas finalidades. A palavra desenho tem a mesma origem da palavra
desígnio. Desenhar seria designar, apontar para, indicar uma intenção.
Está ligada a projeto, a projetar, a design, que é a palavra inglesa para
projeto. Diferente da palavra debuxo, do português lusitano, que
equivale a dibujo do espanhol, mais ligada ao desenho como esboço.
Para esta pesquisa, interessa o papel do desenho como linguagem de
representação do espaço, seja para a projetação do espaço, seja para a
leitura dele.
A linguagem desenho apenas não define um sistema de representação,
apenas a materialidade – traço no plano. É necessária uma abstração
através da qual a tridimensionalidade é projetada na superfície.
É importante lembrar que nem todo desenho de representação do
espaço se propõe uma simulação da percepção. Principalmente as
projeções ortogonais – plantas e cortes – não dizem respeito a um ponto
de vista perceptivo possível, mas a uma abstração geométrico-racional
da forma tridimensional. São sistemas de representação que possuem
grande potencial comunicativo e operativo, mas sobre os quais não cabe
analisar sua proximidade com a percepção visual da realidade.

Manfredo Massironi 36 enumera três fatores primários do desenho: 1.


Característica do traço, 2. Posição do plano de representação e 3.
Processo de enfatismo-exclusão.
Gravura de M. C. Escher, retratando escadarias impossíveis. As
ambigüidades geradas na representação bidimensional do espaço As características do traço, que Massironi enumera baseado em Rudolf
são postas em evidência nas gravuras de Escher, Arnheim, podem ser definidas em três tipos básicos: traço como objeto,
metalinguisticamente. (fonte: ESCHER, Maurits Cornelis – M. C.
Escher. Gravuras e Desenhos. Paisagem / Taschen. 2004) 36
MASSIRONI, Manfredo – Ver Pelo Desenho: Aspectos Técnicos, Cognitivos,
Comunicativos. São Paulo / Lisboa, Martins Fontes / Edições 70.

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como contorno e como textura. A linha como objeto presta-se a


representar coisas de pouca espessura, de preferência lineares – uma
corda, um fio, um braço. Como contorno, ela pode delimitar planos,
representando as bordas – inexistentes – das figuras. Como textura ela
passa a representar planos.

Três tipos de traço, como objeto, como contorno e como textura,


conforme anunciado por Massironi. A presença da figura humana
como imagem mental, uma das mais fortes que possuímos segundo
Baxandall, permite que diferentes tipos de estilização sejam
compreendidos.

Uma seqüência de linhas repetidas homogeneamente é lida não


como linhas individuais, mas como uma textura única. Uma textura
deformada gradativamente dá a ilusão de um plano em escorço, e
consequentemente a sensação de profundidade.

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A posição do plano é a forma de uso do plano do desenho, como um reconstruídos noutros espaços e noutros tempos”38. A materialidade do
plano, que ele chama plano frontal, ou como um espaço com desenho, assim como de qualquer elemento bidimensional, é de simples
profundidade, que ele chama plano inclinado. Esta distinção abarca manejo. Podem ser impressas, transportadas, publicadas. No caso de
inclusive gráficos e esquemas geométricos, planos frontais, que não uso didático, tanto da parte de alunos quanto de professores, a questão
interessam a este estudo. Aqui trabalharemos com uma definição mais do transporte é muito importante.
detalhada, através dos tipos de projeção, ortogonal, cônica, etc.
O processo de enfatismo-exclusão é o processo de seleção do que será O desenho requer um plano definido, onde será grafada a figura. Este
representado e da forma como será produzida a representação. É o ato plano, geralmente a folha de papel, é finito, diferente do nosso campo
da estruturação da linguagem que falamos em 1.2.6 Desenvolvimento de visão que pode estender-se conforme nos movemos. Essa finitude do
da Visão Espacial. plano exige uma relação entre o que será representado e onde será
O desenho é a linguagem mais utilizada para o projeto do espaço. representado. É muito comum, por parte de alunos iniciantes, a
Possui grande potencial investigativo, além uma agilidade e praticidade apresentação de desenhos onde partes consideradas secundárias da
de uso, o que levou Perrone37 a considera-lo o signo mais competente figura foram omitidas sob a justificativa de que “não coube no papel”.
da arquitetura. Possui muitas facilidades de produção se comparado à A omissão destas partes pode provocar uma descontextualização dos
representação tridimensional e às representações eletrônicas. elementos e resultar em leituras erradas. È importante perceber que a
Exigem pouca infra-estrutura e tecnologia. Basta um plano e um imagem, contextualizada, é o objetivo primeiro do desenho e se ela não
instrumento para impressionar a superfície para realizar um desenho. cabe no papel, ou deve-se adequar o papel ao desenho, ou o desenho ao
papel, mas nunca truncar a imagem.
Claro que, conforme a complexidade e a definição do desenho
aumentam, aumenta-se a necessidade de instrumentos auxiliares – Entender isso é perceber que a linguagem possui suas limitações, a sua
réguas, esquadros, gabaritos, canetas específicas. O desenho técnico, materialidade é uma delas, e é necessário saber lidar com elas, para que
instrumentado, presta-se à definição ou comunicação com precisão, não se tornem empecilhos.
como a execução de uma obra. Porém, o desenho à mão livre, o croqui,
tem uma agilidade de produção maior, e presta-se à fixação de idéias e
à discussão, como veremos em 2.1.4 Croquis.
Além disso, os desenho “são também a possibilidade da sua fácil
transmissão e deslocação, sendo copiados, reproduzidos e, finalmente,

37 38
PERRONE, Rafael Antonio Cunha – Desenho Como Signo da Arquitetura. Tese CÔRTE-REAL, E. – O Triunfo da Virtude – as origens do desenho arquitetônico.
apresentada à FAUUSP para obtenção do grau de Doutor. São Paulo, 1993. 3 vol. Lisboa, Livros Horizonte, 2001

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2.1.2. Projeções Ortogonais


São a projeção de estruturas tridimensionais no plano através de linhas
paralelas entre si e perpendiculares ao plano. A principal vantagem
deste sistema de projeção é a não distorção das dimensões,
independente da distância dos objetos em relação ao plano de projeção.
Trabalham dentro de um plano predominantemente frontal.
Teoricamente os sistemas de projeção geométricos são capazes de
representar bidimensionalmente qualquer tipo de forma, porém eles se
prestam mais a determinados tipos. A representação de linhas paralelas
e ortogonais é muito mais simples e precisa do que a representação de
formas curvas e orgânicas, por exemplo.
Este sistema de representação exige um desenho preciso, instrumentado.
É necessário manter o paralelismo, a perpendicularidade e os ângulos
corretos; é necessário atenção às qualidades dos traços; é um desenho
geométrico, instrumentado. Exige o uso de réguas, esquadros,
compasso, ou de outros instrumentos, como um software CAD.

Planta e Vista cortada da Villa Rotonda, arquiteto Andrea Palladio.


Par de projeções ortogonais, semelhante à Geometria Descritiva,
possibilitando uma leitura espacial do conjunto. Os desenhos ainda
eram pouco codificados nesta época, mais comprometidos com a
Sistema de projeção em dois planos ortogonais entre si, conforme
iconicidade. (fonte: LANCHA, Joubert José – Do projeto ao objeto,
formulado na Geometria Descritiva de Gaspar Monge. (fonte:
do objeto ao projeto.)
material didático da disciplina PCC201, Poli USP)

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O modo de organização mais conhecido deste sistema é a Geometria referências gráficas como escala humana, carros, etc. Parte deste
Descritiva (GD) de Gaspar Monge, que trabalha conjuntos de dois, três recursos é matemático, como a escala utilizada, as cotas, mas outra
ou mais planos de projeção. O princípio deste trabalho em conjunto parte é mais sensível, como a utilização de escala humana, ou mesmo
vem da difícil leitura que estas projeções proporcionam isoladamente, e da escala gráfica.
do ganho que se tem ao trabalhar duas vistas, ortogonais entre si. Assim,
com dois planos de projeção, cada um deles bidimensional, consegue-se
uma melhor representação da estrutura tridimensional. No caso da
arquitetura, estas projeções podem ser as fachadas e a vista superior, ou
duas fachadas, vistas externas.
Apesar de geometricamente serem vistas impossíveis de se obter, pois
baseiam-se em distancias infinitas, é possível uma visualização
semelhante, tomando-se uma certa distância do objeto, caso haja espaço.
Mas o objetivo do uso destes desenhos não é uma representação do
sensível, e sim uma representação do ideal, do exato.
Um avanço neste sistema de representação é a introdução da abstração
do corte. Ao seccionar a estrutura representada com um plano, ao
mesmo tempo de corte e de projeção, o que se projeta não é apenas uma
vista, mas um corte que mostra o interior desta estrutura. Esta
propriedade é de grande interesse para a mecânica, desenho industrial e
arquitetura.
A partir deste princípio se desenvolve a planta e o corte na arquitetura,
principais instrumentos de trabalho. São os sistemas de representação
mais úteis operativamente na arquitetura e engenharia, e por isso
mesmo, os mais utilizados. Por manter as proporções (escala), são
projeções extremamente úteis para a resolução de problemas e para a
execução de desenhos operativos. Para a representação de objetos de
pequeno porte podem ser utilizados desenhos em escala 1:1, mas Planta executiva do pavimento-tipo dos edifícios Paulicéia e São
geralmente utilizam-se escalas reduzidas ou ampliadas. Porém, a sua Carlos do Pinhal, arquiteto Jacques Pilon, 1956. As cotas e demais
utilização requer alguns cuidados, desde deixar escrito a escala convenções gráficas necessárias à construção tornam-se ruídos
utilizada (1:100, 1:500), inserir escala gráfica no próprio desenho, para quando se busca apenas uma leitura espacial. (fonte: Biblioteca
casos de reduções ou ampliações, inserir as cotas, até a utilização de FAUUSP, setor de projetos)

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Pavimento-tipo do mesmo edifício em versão simplificada para


publicação. Foram retirados todos os símbolos e cotas, e através de
uma escala gráfica é possível aferir as medidas.(fonte: SAMPAIO,
Maria Ruth Amaral de - promoção privada de habitação econômica
e a arquitetura moderna : 1930-1964. São Carlos, SP : RiMa, 2002)

Apesar de tecnicamente iguais, a planta e o corte possuem grandes


diferenças em sua aplicação prática. A planta se relaciona com um
plano real, existente, que é o plano do solo. Apesar de ambas serem
vistas impossíveis de se obter na realidade, podemos ter visões que se
aproximam da visão em planta, como uma obra em construção onde
Ficha do mesmo edifício, contendo implantação com lote completo, foram locadas e iniciaram-se as primeiras fiadas das paredes, ou em
portanto contextualizado, com norte, escala gráfica e legenda; meia escavações arqueológicas onde são encontradas as fundações de alguma
planta do pavimento-tipo, simplificada, com escala gráfica e construção antiga. Além disso, têm um uso mais difundido, desde
legenda para leitura espacial e funcional. As fotografias prestam-se revistas de construção e decoração até folhetos de imóveis entregues
á leitura da altura dos edifícios, suprindo em parte uma elevação ou em semáforos. Por isso, a planta geralmente é mais compreendida por
um corte. (fonte: LEMOS, Carlos; CORONA, Eduardo; XAVIER,
Alberto – Arquitetura Moderna Paulistana. São Paulo, Pini. 1983)
pessoas menos treinadas. Já o corte geralmente possui um plano mais
arbitrário, além de menos popular, e cuja compreensão acaba sendo
mais difícil.

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problemas. Apenas no diálogo entre dois ou mais planos é que é


possível representar a tridimensionalidade.

Cortes do Centro Cultural São Paulo, arquiteto Eurico Prado Lopes e


equipe, 1982. Apesar da codificação dos desenhos executivos, é
possível uma leitura espacial do edifício. (fonte: Revista PROJETO
nº40, maio de 1982)

A planta se presta à resolução funcional, à adequação do programa,


sobretudo ao cumprimento de áreas e dimensões. Ela representa o modo
como se relacionam os espaços num mesmo pavimento, as circulações Planta de cobertura e Fachadas da Residência Rogério Franco,
horizontais, os acessos. O corte possui a capacidade de representar a arquiteto Sylvio Podestá. Conjuga vistas em diversos planos,
volumetria da construção, o desenvolvimento dos pavimentos em altura semelhante à Geometria Descritiva. (fonte: MAIA, Éolo;
e as circulações verticais. Se bem utilizado, possui um grande potencial VASCONCELLOS, Maria Josefina de; PODESTÁ, Sylvio Emrich de – 3
de representação do volume. Assim como na GD, o uso de apenas um Arquitetos. Belo Horizonte, Pampulha. 1982)
plano de projeção não é suficiente para a compreensão ou resolução de

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Essa distinção entre planta e corte não existe em outros campos como a Média era muito comum a prática do palimpsesto, reutilização do
engenharia mecânica ou o desenho industrial. O plano do solo não é suporte para execução de um novo desenho ou texto, que acarretou
mais tão importante, e o uso cruzado de vistas e cortes é mais solto. perdas documentais inestimáveis. Essa prática se justificava não apenas
Além disso, o espaço interno, quando existe, não tem a mesma pelo custo do material, mas também por que o desenho era algo
importância que na arquitetura, de modo que o uso de projeções efêmero, não regia a obra, que era detalhada durante a execução no
cortadas não é maior que o de projeções externas. canteiro. O conceito de projeto como desenhos executivos acabados
antes da obra, e mais ainda, projeto como operação mental e artística de
um intelecto humano, só viriam surgir no Renascimento.
A partir do Renascimento temos essa ampliação da idéia de projeto, e
consequentemente uma maior documentação. O projeto se distancia do
canteiro, deixa de ser aquele traço, esboço de proporções para reger os
artesãos na obra, e passa a ser executivo. Passa a ser cosa mentale, e
deve deixar clara sua diferença em relação ao artesanato e aos ofícios,
cosa manuale. Como forma de exprimir essa posição da arquitetura
dentro das artes maiores e para difundir esse ideal, surgiram os
diversos tratados de arquitetura, baseados no tratado romano de
Vitrúvio, e que a partir do renascimento até o século XIX se espalharam
pela Europa e suas colônias. Além de descrever verbalmente a
arquitetura, traziam exemplos de grandes edifícios, modelos das regras
descritas. Esses edifícios eram representados através de imagens,
principalmente plantas, cortes e fachadas. Através destes desenhos
muitos edifícios se tornavam conhecidos em outros países. Essa
divulgação só foi possível após a invenção da prensa de Guttemberg, e
da evolução das gravuras, permitindo uma reprodução satisfatória das
Elevações da Catedral de Reims. O desenho arquitetônico medieval
não era exato, consistia apenas em um traçado geral, a ser
ilustrações. Esta prática documental e difusora dos tratados é
detalhado durante a obra pelos artesãos. (fonte: PERRONE, Rafael freqüentemente comparada à taxonomia, onde o que se retrata nas
Antonio Cunha – Desenho como signo da arquitetura) ilustrações não é um exemplar de uma planta ou animal específico,
manifestação individual, mas o tipo, o modelo daquela espécie. É o
Durante a antiguidade temos plantas e fachadas gravadas em pedra e mesmo raciocínio dos tratados, não se pretende registrar manifestações
talhadas em madeira, suportes de difícil trabalho, o que resultavam individuais, mas edifícios que sirvam de modelo. Por outro lado, a
desenhos bastante simplificados. O uso de pergaminhos ou papiro era taxonomia, assim como os tratados, presta-se a retratar detalhes, a
regulado, pois era um material difícil de obter, de modo que até a Idade

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separar em componentes, a analisar a estrutura do objeto, valendo-se de alguns exemplos dados por Perrone 39 . Esse pensamento geométrico-
desenhos que se fecham em partes e abstraem seus contextos. racionalista caminhava em paralelo com as novas realizações na
engenharia, arquitetura e no recém criado campo do desenho industrial
no período da revolução industrial. Quanto mais se caminhava para
uma industrialização e uma racionalização da produção, mais o desenho
tinha que ser unívoco, para isso codificado, portanto menos icônico.
Durante a Primeira Guerra Mundial, foi criada na Alemanha a
normatização, que veio organizar essas codificações com intuito de
criar um vocabulário comum, onde fosse possível intercambiar
informações e produtos, otimizando a produção na escala nacional.
Posteriormente essa normatização se estendeu pelo mundo, e ainda hoje
tem grande importância no campo do desenho técnico e da
industrialização, entre muitos outros.
No ano de 1870 foi criada a cópia heliográfica, primeiro sistema
mecânico de reprodução de desenhos técnicos. Essa nova técnica trouxe
alterações profundas no uso do desenho técnico. Deixou de existir a
profissão de desenhista copista, agora as cópias eram obtidas através
deste novo sistema, que utilizava a luz solar para gravar a imagem no
papel preparado quimicamente. Para isso, a imagem tinha que ser mais
Classificação das ordens clássicas do tratado de Serlio, e Detalhes simples, não poderiam haver mais aquarelas, aguados, grafismos,
do capitel e da arquitrave do tratado de Palladio. As vistas apenas hachuras e preenchimentos sólidos, e uma simplificação
ortogonais representando detalhes descontextualizados, como uma considerável no léxico, que colaborava no aumento da codificação do
“taxonomia da arquitetura”. (fonte: PERRONE, Rafael Antonio desenho. Também a partir de agora a presença de desenhos nas obras
Cunha – Desenho como signo da arquitetura) era maior, pois o custo de se fazer cópias reduziu bastante, diferente das
cópias feitas à mão.

Ao longo da era moderna diversos avanços científicos colaboraram para


mudança no caráter do desenho técnico: René Descartes, com sua
filosofia racionalista, sua Dióptrica e sua Geometria; Gaspar Monge e a
Geometria Descritiva; William Farish e a perspectiva paralela são
39
PERRONE, Rafael Antonio Cunha – Desenho Como Signo da Arquitetura. Tese
apresentada à FAUUSP para obtenção do grau de Doutor. São Paulo, 1993. 3 vol.

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Atualmente as restrições técnicas de produção e reprodução de imagens


é extremamente menor. A cópia heliográfica praticamente caiu em
desuso, após o advento das cópias xérox, e do uso dos programas CAD
e das plotagens, sistemas muito mais precisos, e que ampliaram ainda
mais a difusão dos desenhos técnicos.
A possibilidade de difusão destes desenhos conseguiu potencializar sua
utilização, além de divulgar seu uso e ampliar o alcance das imagens, a
ponto de popularizar o desenho arquitetônico.
Há uma crença difundida e infundada de que a planta é uma unidade
autônoma e completa, que sintetiza o projeto. Por isso estamos
acostumados a dizer “planta de prefeitura”, onde o correto seria dizer
projeto.
Como já dissemos, uma representação nunca trará a seu objeto por
completo. No caso das vistas ortogonais parte desta perda de
informação pode ser quantificada: uma das três dimensões é perdida.
Assim sendo, é evidente que necessitamos de no mínimo duas vistas,
ortogonais entre si, para conseguir criar uma imagem que cruze as
informações dos dois desenhos, e assim visualizar sua
tridimensionalidade. A partir da necessidade de inter-relacionar
informações de planta e corte, de medidas horizontais e altura, é que
surgiram as perspectivas, representações erroneamente consideradas
tridimensionais por alguns, mas que cruzam estas informações.

Detalhes construtivos da Torre Eiffel, engenheiro Gustav Eiffel.


Utilizando as projeções ortogonais, são realizadas aproximações
que abstraem o contexto, tornando o projeto unívoco. (fonte:
MASSIRONI, Manfredo – Ver Pelo Desenho.)

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2.1.3. Perspectivas
As perspectivas são sistemas de projeção onde se busca representar as
três dimensões simultaneamente. Material e tecnologicamente, uma
perspectiva é igual a uma projeção ortogonal. Ambas são desenhos
planos, construídas geometricamente com auxílio de um instrumental
técnico. O que difere os dois sistemas é o sistema geométrico de
projeção e a intenção comunicativa.
Existem basicamente dois tipos de perspectiva, a cônica e a paralela. A
primeira, perspectiva cônica, baseia-se em raios de projeção que
convergem num ponto, o observador, e se projetam num plano à sua
frente. A perspectiva paralela não possui observador, ou ele é
considerado a uma distância infinita, de modo que os raios de projeção
sejam paralelos entre si.
Ambas perspectivas podem se utilizar de recursos como texturas e
sombreados, sempre através de simulações destes fenômenos. As
texturas são produzidas de maneira mais artística, através de grafismos,
hachuras e recursos gráficos de desenho.
As sombras podem ser obtidas intuitivamente, de uma maneira mais
artística, ou através do traçado geométrico que, dentro de um modelo de
Construção da perspectiva cônica através da planta e da elevação,
simplificação matemática do traçado da luz baseada no mesmo sistema conforme formulado por Leon Batista Alberti. (fonte: PANOFSKY,
de projeção da perspectiva, consegue traçar sua forma. As intensidades Erwin – Perspectiva como forma simbólica)
não são calculáveis geometricamente, e têm que ser intuídas.
Esse modelo geométrico de traçado de sombras, dentro do sistema da
perspectiva, ignora diversos fenômenos da luz, como a densidade do ar,
que faz com que a intensidade vá se perdendo de acordo com a
distância, ou a difração da luz, que torna indefinidas as bordas das
sombras.

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A perspectiva cônica foi criada no Renascimento, com autoria atribuída


por alguns autoras à Fillipo Bruneleschi, mas desenvolvida aos poucos
por diversos artistas da época. Porém, como nos conta Panofsky40, todo
o conhecimento necessário para a sua invenção fora desenvolvido na
Antiguidade, e desenvolvido inclusive durante a Idade Média. Sua
formulação exata se deu no Renascimento por uma adequação ao
pensamento da época.
A principal característica da perspectiva cônica é a presença de um
observador, que tem uma localização relativa ao objeto a ser
representado. A posição deste ponto é que determina a forma final da
perspectiva, o que levou Leonardo Da Vinci a denomina-la “a arte de
bem situar o olhar”. Essa presença do observador no sistema de
projeção reforça o poder do indivíduo, dentro do ideal antropocêntrico
do Renascimento.
A presença do observado gera o ponto de fuga, representação
geométrica do infinito, para onde fogem e onde se encontram todas as
linhas paralelas entre si. As linhas paralelas agora são concorrentes
neste ponto inexistente, o infinito. No caso das linhas perpendiculares
ao plano de projeção, o ponto de fuga coincide com a projeção do
observador; no caso de linhas oblíquas, o ponto de fuga pode ser
localizado passando uma paralela pelo observador e projetando-a no
quadro. Ou seja, todas as direções de linhas paralelas possuem um
ponto de fuga, e um desenho pode ter infinitos pontos de fuga.
Geralmente trabalham-se poucos deles, para simplificar a construção.
Essa abstração geométrica transforma o observador num ponto,
ignorando a fisiologia do olho e todo o processo físico de projeção da
imagem na retina, e consequentemente todo o processo de interpretação
Sombras de plantas projetadas no chão. A sombra das folhas mais das imagens pelo indivíduo.
distantes sofrem um “desfoco” devido à difração da luz, fenômeno
ignorado pela maioria dos modelos geométricos de traçado de
perspectiva. 40
PANOFSKY, Erwin – A Perspectiva como Forma Simbólica. Lisboa, Edições 70.
1993.

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construção geométrica já está pronta, mas obtendo-se perspectivas


menos precisas; ou através de modelos eletrônicos, como veremos em
2.2.2 Modelos Eletrônicos.

Exemplo de construção da perspectiva cônica, J. V. de Vries,


1604. (fonte: MASSIRONI, Manfredo – Ver Pelo Desenho.)

Sua principal aplicação é na simulação de vistas de um observador


Explicação das distorções periféricas na perspectiva linear. A
imerso no espaço representado, que as vistas ortogonais não trazem, a projeção no plano implica em distorções que a visão não apresenta.
partir das relações entre as três dimensões. Porém, o desenho ainda é (fonte: PANOFSKY, Erwin – Perspectiva como forma simbólica)
bidimensional, e como contrapartida a estes ganhos perceptivos, temos
a perda das informações dimensionais que existem nas vistas ortogonais,
a perda da capacidade de trabalhar a localização das funções e dos Foi diversas vezes tomada como reprodução da visão, baseado em
espaços. modelos de percepção matemáticos racionalistas. Sabemos que esta
perspectiva mantém da visão apenas as formas aparentes, e é possível
Além disso, ela tem um custo de produção, de tempo e mão de obra, simular sombras e texturas; ela não possui binocularidade, foco, nem
que é mais alto comparado às vistas ortogonais. A execução da sua movimento. Além disso, a projeção num plano, diferente da projeção
construção geométrica é complexa. Existem maneiras de se contornar retiniana que ocorre numa superfície côncava, acarreta distorções
esse problema, como perspectivas em croquis, como veremos no periféricas (semelhante às que ocorrem na fotografia).
próximo item 2.1,4 Croquis, ou perspectivas sobre fotografias, onde a

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Comparação entre a visão angular e a perspectiva linear. (fonte:


PANOFSKY, Erwin – Perspectiva como forma simbólica)

Fisiologicamente há uma grande distância entre a perspectiva e a visão.


Psicologicamente, ainda é um desenho plano, e pode excitar imagens
mentais tanto quanto qualquer outro tipo de desenho.
Ainda assim são vistas que se prestam a simular a visão, e são muito
utilizadas como tal, principalmente para um público leigo. São de
leitura muito mais fácil do que as vistas ortogonais, por que se
aproxima do sensível. Como define Manfredo Massironi, é “um
aparelho ilusório que mima, de maneira suficientemente convincente,
alguns processos de percepção”41.

Anticristo, gravura medieval anônima, fins do século XV. Não havia


interesse em desenvolver uma perspectiva precisa, pois a
simbologia das figuras era mais importante que a representação do
41
MASSIRONI, Manfredo – Ver Pelo Desenho: Aspectos Técnicos, Cognitivos, espaço. (fonte: MASSIRONI, Manfredo – Ver Pelo Desenho.)
Comunicativos. São Paulo / Lisboa, Martins Fontes / Edições 70.

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Construção de uma malha quadriculada em perspectiva cônica. O


ponto de fuga possibilita o traçado de linhas paralelas ortogonais ao
quadro, passando pelo observador. A partir da distância do
observador é possível encontra o ponto de fuga das diagonais a 45
graus, possibilitando o traçado das profundidades. (fonte:
PANOFSKY, Erwin – Perspectiva como forma simbólica)

Perspectiva da Torre Eiffel. A visão do interior da estrutura não


objetiva elucidar a estrutura, mas surpreender ao observado.
(fonte: MASSIRONI, Manfredo – Ver Pelo Desenho.)

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Gravura de Piranesi Além da construção correta da perspectiva, a


espacialidade é conseguida principalmente pelo claro-escuro e pela
expressividade do traço. (fonte: PERRONE, Rafael Antonio Cunha –
Desenho como signo da arquitetura)

Santíssima Trindade, Masaccio, 1425. Uma das primeiras pinturas a


utilizar a perspectiva exata, resultando num forte ilusionismo.
(fonte: ARGAN, Giulio Carlo – História da Arte Italiana. São Paulo,
Cosac Naify. 2003)

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Cidade Futurista, Antonio Sant’Ellia,1914. Perspectiva cônica


rigorosamente construída, demonstrando um alto nível de
desenvolvimento projetual para uma cidade imaginada. (fonte: Cidade Industrial, Tony Garnier, 1904. Perspectivas do espaço
LAMPUGNANI, V. M. – Dibujos y textos de la arquitectura del siglo urbano de uma cidade inteiramente projetada. (fonte:
XX – Utopía y realidad) LAMPUGNANI, V. M. – Dibujos y textos de la arquitectura del siglo
XX – Utopía y realidad)

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Perspectiva do Museu de Arte de São Paulo (MASP), arquiteto Lina


Bo Bardi, 1968. A construção exata da perspectiva é animada por
acréscimos mais livres. (fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi,
Museu de Arte de São Paulo. São Paulo, Instituto Lina Bo e P.M.
Bardi / Editorial Blau, 1997)

Perspectiva dos solários de hospitais da rede Sarah Kubitschek,


arquiteto Lelé, 1990.A construção exata da perspectiva é aliada ao
traço à mão livre, que aproxima do croqui, dando mais
personalidade ao desenho.(fonte: CTRS, salvador)

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Perspectiva dos edifícios Paulicéia e São Carlos do Pinhal, Jacques


Pilon. A perspectiva externa permite avaliar a volumetria do
conjunto e o partido de implantação. Porém, a supressão do
entorno dá uma falsa imagem dos edifícios. (fonte: Biblioteca
Perspectiva de uma invenção de Leonardo Da Vinci, um dos
FAUUSP, setor de projetos)
primeiros registros de perspectiva paralela, ainda pouco elaborada.
(fonte: PERRONE, Rafael Antonio Cunha – Desenho como signo da
arquitetura)

As perspectivas paralelas têm um caráter bem diverso das cônicas. Elas


não possuem um observador imerso, mas muito distante, que faz com
que alguns a chamem “perspectiva de vôo de pássaro”.
Geometricamente existem alguns tipos de perspectivas paralelas: as
axonométricas, baseadas em raios de projeção perpendiculares ao plano
de projeção; a isométrica, que é um tipo particular de axonométrica
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onde os ângulos são todos iguais; e as cavaleiras, onde os raios de A principal vantagem da perspectiva paralela é que, ao lançar o
projeção são oblíquos em relação ao plano de projeção. Apesar destas observado ao infinito, as linhas que são paralelas no objeto mantém-se
diferenças na construção, conceitualmente elas têm muitas semelhanças. paralelas na projeção, ao contrário da perspectiva cônica. Consegue-se
assim uma maior facilidade na construção, uma maior agilidade.
Porém , está estreitamente vinculada aos três eixos cartesianos espaciais,
X, Y e Z. Qualquer outra direção depende destas coordenadas para ser
construídas, o que significa que ela possui um vínculo com a
ortogonalidade, maior do que a perspectiva cônica.

Perspectivas paralelas cortadas,criadas por Auguste Choisy, que


permitem a visão em planta e corte simultaneamente. Esse recurso
só é possível devida à dupla simetria, característica comum nos
edifícios de inspiração clássica. (fonte: MASSIRONI, Manfredo – Ver
Pelo Desenho.)

Perspectiva de uma máquina de William Farish, que ao procurar Devido ao seu princípio de grande distanciamento, serve para
transmitir mais facilmente o funcionamento das máquinas, acabou representar edifícios vistos a partir de vôos, ou para representar objetos
sistematizando pela primeira vez a perspectiva paralela. (fonte: de menores dimensões. Têm grande aplicação na representação de
PERRONE, Rafael Antonio Cunha – Desenho como signo da máquinas, componentes mecânicos, projetos de marcenaria, etc. É
arquitetura)
inclusive denominada por alguns “perspectiva de máquina”.

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O alvo de nossa expressão, o tridimensional, pode ser representado de


duas maneiras distintas, uma como objeto, e outra como espaço. Um
mesmo objeto pode receber qualquer um dos dois tratamentos,
dependendo a intenção comunicativa e do uso que se fizer dos sistemas
de representação.
A representação de uma estrutura espacial como objeto é seu
tratamento como algo predominantemente cheio, massa, um conjunto
coeso, visto externamente, muitas vezes à distância. Já o segundo modo
de representação, o tratamento como espaço, é predominantemente
vazio, é um conjunto de formas que desenham o espaço restante, e a
visão que se tem é de um espaço interno. Visão não apenas no sentido
de uma imagem, como uma perspectiva, mas como uma maneira de se
interpretar a organização tridimensional em questão.
O que está se chamando aqui de “externo” e “interno” não deve ser
entendido no sentido literal. Uma visão externa pode ser de uma bola,
uma mesa, um edifício visto por fora e à distância em vôo de pássaro. E
uma visão interna pode ser do interior de um edifício, como pode ser do
espaço embaixo da mesa, como pode ser de uma rua ou uma praça.
Quando representamos uma organização tridimensional, geralmente
focamos algum destes aspectos, de acordo com nossa intenção
comunicativa e nosso modo de ver. Tratando especificamente das
perspectivas, podemos notar alguma relação entre este instrumento
técnico e o conteúdo apresentado.
A perspectiva cônica presta-se muito bem à representação de interiores,
Perspectivas paralelas aplicadas a edifícios modernos, dentro do por simular uma visão do ponto de vista do observador, tendo sido
ideal de edifícios como máquinas. Os edifícios são tratados como inclusive louvada como reprodução fiel do olho. No entanto, sua
objetos. (fonte: MASSIRONI, Manfredo – Ver Pelo Desenho.) utilização na arquitetura do renascimento foi muito mais voltada para o
objeto. Podemos tomar como exemplo a primeira máquina perspéctica
de Brunelleschi, onde o que se representa é a vista da praça com o
edifício octogonal no centro. Mesmo se tratando de um espaço externo,
a intenção é representar o edifício, isolado, e o espaço da praça é

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deixado em segundo plano. As formas construídas ao redor não estão


conformando o espaço. É nitidamente uma representação de um objeto.

Pesrpectivas cônicas da Cidade Ideal, atribuídos aos artistas do


círculo de Piero della Francesca, 1470.

Esquema da primeira máquina perspéctica de Brunelleschi. Através Se tomarmos como contra-exemplo uma perspectiva externa barroca,
de um furo na placa que contém o desenho, o observador vê da remodelação de Roma, podemos notar que mesmo apresentando dois
refletido no espelho a perspectiva corretamente construída, tendo a edifícios do ponto de vista externo, o conjunto dos edifícios conforma o
ilusão de ver a realidade. O furo garante a imobilidade e a espaço, que pode ser lido como um espaço interno, cujo teto é o céu.
monocularidade do observador. (fonte: PERRONE, Rafael Antonio
Cunha – Desenho como signo da arquitetura) Essa distinção não é apenas um modo de utilizar a perspectiva, é
também uma diferença de concepção de arquitetura e urbanismo. Os
arquitetos do renascimento projetavam de maneira muito menos
vinculada ao espaço urbano, quando comparados com os arquitetos
barrocos. Estes últimos são conhecidos por suas grandes remodelações
urbanas, onde importava menos cada edifício construído e mais a massa
das edificações que constrói o espaço público urbano.

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explosão dos componentes, como se faz no desenho industrial. O uso


deste sistema de representação reflete o maquinismo, que era mote
desta arquitetura filiada à industria.

Piaza del Poppolo, Roma. Apesar da construção pouco rigorosa


geometricamente, a gravura transmite o caráter do espaço livre,
mais do que dos edifícios individualmente. (fonte: GIEDION,
Siegfried – Espaço, Tempo e Arquitetura. São Paulo, Martins Fontes,
2002)

Esse tipo de associação entre a concepção da arquitetura e a técnica de


representação pode ser observada também no uso das perspectivas
paralelas, sobretudo a cavaleira, pelos arquitetos modernos.
Perspectiva paralela de um residência, Walter Gropius,
Principalmente os ligados à Bauhaus, como Gropius e Rietveld, apresentando o edifício como uma máquina. A dificuldade em
utilizavam a perspectiva de máquina para representar inclusive obras de representar espaços internos é parcialmente sanada pelo recurso da
arquitetura, o que resulta claramente num tratamento da obra como transparência. (fonte: LAMPUGNANI, V. M. – Dibujos y textos de la
objeto industrial, como máquina. Quando era necessário apresentar um arquitectura del siglo XX – Utopía y realidad)
espaço interior, muitas vezes usavam da remoção de planos ou da

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Perspectiva paralela e vistas de um edifício, Theo Van Doesburg. Pintura de Theo Van Doesburg. A composição com planos de cores
Dentro do ideal neoplasticista, o edifício se converte em objeto e puras em perspectiva paralela aproxima a arquitetura, o desenho
em imagens planas de grando força plástica, através das projeções insdustrial e a pintura. (fonte: LAMPUGNANI, V. M. – Dibujos y
ortogonais e da perspectiva paralela. (fonte: LAMPUGNANI, V. M. – textos de la arquitectura del siglo XX – Utopía y realidad)
Dibujos y textos de la arquitectura del siglo XX – Utopía y realidad)

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Profº Orientador Luis Antônio Jorge

Um croqui pode ser tanto uma projeção ortogonal – plantas, cortes-


quanto uma perspectiva, ou mesmo sem nenhum critério de projeção,
2.1.4. Croqui
desde que produzido à mão livre, de maneira mais intuitiva. É um
Existem diversas concepções do que seria um croqui, que abarcam desenho mais ágil, mais adequado às anotações rápidas e ao diálogo em
desde um esboço à mão livre até perspectivas cônicas construídas grupo, onde a linguagem deve ser mais fluida que um desenho
geometricamente, geralmente com intuito de experimentação, de instrumentado.
verificação de um resultado.
Aqui neste estudo, estamos denominando croqui o desenho não-
instrumentado, produzido à mão livre. Traço sobre plano. Não se trata
exatamente de um sistema de representação, como foi definido, pois
não implica uma abstração geométrica específica para sua produção.

Croqui da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Vilanova


Artigas. A perspectiva à mão livre, pouco rigorosa, já contém vários
dos elementos que viriam a conformar o espaço interno, muito
Croqui da Capela Ronchamp, Le Corbusier. É construída uma
antes da definição do projeto. (fonte: ARTIGAS, João Batista
perspectiva à mão livre, simulando uma vista externa do edifício.
Vilanova – Caderno de Riscos Originais)
(fonte: LAMPUGNANI, V. M. – Dibujos y textos de la arquitectura
del siglo XX – Utopía y realidad)

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Croqui do Estádio de Hockey da Universidade de Yale, Eero


Saarinen. Perspectiva externa,com traço bastante expressivo.
(fonte: LAMPUGNANI, V. M. – Dibujos y textos de la arquitectura
del siglo XX – Utopía y realidad)

É uma linguagem de baixa definição, e presta-se às fases de concepção


geral, à expressão de formas e vontades, de partidos projetuais. É um
processo de diálogo entre as idéias e os desenhos, um instrumento
investigativo. Também por ser menos preciso, o croqui se permite
menos comprometido com uma representação estática, podendo
incorporar idéias de movimento, alterações de perspectiva.
Para a concepção de formas espaciais, geralmente é trabalhado em um
Croquis da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Vilanova
“encadeamento de croquis”42, onde vários desenhos são produzidos, e a
Artigas. São trabalhados simultaneamente planta, corte e
perspectivas cônicas e paralelas, buscando uma compreensão
tridimensional global do edifício durante a definição do partido. 42
SCHENK, Leandro Rodolfo – Os Croquis na Concepção do Espaço Arquitetônico:
(fonte: ARTIGAS, João Batista Vilanova – Caderno de Riscos
Um estudo a partir de quatro arquitetos brasileiros. Dissertação de Mestrado
Originais)
apresentada à FAUUSP. São Paulo, 2004.

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cada representação que se faz, as idéias são impulsionadas a diante e o Ao mesmo tempo, é também um desenho mais expressivo que os
partido do projeto vai sendo formado, num processo diacrônico. desenhos instrumentados. É caligráfico, por isso muito mais pessoal,
mais autoral. Muitas vezes as proporções ou a construção geométrica
Serve também às leituras rápidas, como anotações, de espaços, de
são exacerbadas buscando-se uma expressividade que enfatize as
edifícios, de objetos. São anotações visuais de um espaço e servem de
vontades que motivaram o desenho.
documentação, de registro, mas também servem de meio para despertar
a atenção e a reflexão aos aspectos visíveis das formas.

Croqui de perspectiva cônica do vão livre do Museu de Arte de São


Paulo (MASP), arquiteto Lina Bo Bardi, 1968. O rigor geométrico dá Croquis de equipamentos para o Museu de Arte de São Paulo
lugar à expressividade do croqui, corroborada pela técnica gráfica (MASP), arquiteto Lina Bo Bardi, 1968. Perspectivas paralelas à
utilizada, exaltando o espaço conformado pelo museu suspenso. mão livre são utilizadas para apresentar painéis expositivos e placas
(fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, Museu de Arte de São Paulo. de sinalização. (fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, Museu de Arte
São Paulo, Instituto Lina Bo e P.M. Bardi / Editorial Blau, 1997) de São Paulo. São Paulo, Instituto Lina Bo e P.M. Bardi / Editorial
Blau, 1997)

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Croquis analíticos sobre o desenvolvimento espacial de uma planta. Levantamento gráfico realizado pelo professor Antônio Luiz Dias de
(fonte: BONSIEPE, Gui – Teoria y Prática del Diseño Industrial. Andrade (Janjão) de edifício no Vale do Paraíba . A partir de
Barcelona, Gustavo Gili. 1978) medidas em passos, desenhou plantas, cortes e elevações em
croqui, complementado por anotações textuais. (fonte: Revista
Projeto, novembro de 1994)

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Croquis de estudo do Centro Cultural São Paulo, arquiteto Eurico


Prado Lopes. Perspectiva simulando a implantação urbana do
edifício, onde a expressividade se sobrepõe ao rigor geométrico.
(fonte: Revista Projeto nº40, maio de 1982)

Croquis de estudo do Centro Cultural São Paulo, arquiteto Eurico


Prado Lopes. A partir de cortes à mão livre, o arquiteto estuda a 2.1.5. CAD
relação do edifício com as ruas em diferentes níveis e com a
iluminação natural. (fonte: Museu Lasar Segall – A Linguagem do A sigla CAD significa Computer Aided Design, ou Projeto Assistido
Arquiteto: O Croquis) por Computador. Nada mais é que um programa computacional de
desenho técnico, de alta precisão. Assim como o croqui, não é
exatamente um sistema de representação, mas mais uma linguagem, um
instrumento específico. É utilizado principalmente na produção de
projeções ortogonais, pois trabalha dentro do sistema de coordenadas
cartesianas.

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Ao contrário dos croquis, os desenhos instrumentados pelo CAD são através de meios digitais pode trazer algumas inovações, como o uso de
pouco autorais. “O CAD, nos nossos dias, corresponde à prece zoom para trabalhar várias escalas num só desenho.
formulada por Alberti há quinhentos anos atrás. A interferência do Um salto significativo na alteração da percepção espacial se dá na
corpo é mínima e o buraco negro do ecrã é uma representação mais utilização dos CAD 3d, como veremos no item 2.2.2 Modelos
plausível do plano ideal do que a folha de papel. (...) Aproximamo-nos Eletrônicos.
do momento em que o mínimo de acções corporais basta para
impressionar uma superfície” 43 . Os desenhos eletrônicos podem
trabalhar com um plano infinito, diferente do plano do papel, grande
fator limitante. Além disso, outros recursos como o zoom (que muda
toda a percepção da escala), o copiar/colar, o desfazer, muito simples
de se utilizar nos computadores, alteram o modo de produção
profundamente.
Uma característica fundamental dos meios eletrônicos é o formato da
saída. Um arquivo eletrônico sem suporte de saída é apenas um
punhado de dados binários, inutilizáveis. No caso dos desenhos, é
necessário trabalhá-los através da tela do monitor, principal meio de
saída dos computadores, mas sua utilização técnica costuma ser através
do papel impresso, assemelhando-se aos desenhos analógicos. É
possível a impressão de infinitas cópias com grande qualidade baseados
nos arquivos eletrônicos, o que traz uma facilidade a mais de difusão e
uso. Mas é possível a utilização de outros meios também, como o
próprio meio eletrônico. É possível gerar apresentações em formato
digital e apresentá-las em projeções de datashow, ou difundí-las através
de mídias como CD-ROM, ou pela internet.
Do ponto de vista da leitura espacial, o CAD não traz grandes
inovações em relação ao desenho técnico físico, no papel. As maiores
inovações estão no momento da produção, do fazer. As alterações na
fruição do desenho digital em relação ao desenho físico variam de
acordo com o meio de saída. Impresso, não traz grandes diferenças; Planta construída no software AutoCAD. Os recursos eletrônicos
alteraram muito pouco a utilização dos desenhos bidimensionais.
43
CÔRTE-REAL, E. – O Triunfo da Virtude – as origens do desenho arquitetônico. (fonte: www.autodesk.com)
Lisboa, Livros Horizonte, 2001

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2.2. Tridimensionais
As representações de natureza tridimensional trabalham de maneira
muito diversa daquelas de natureza bidimensional. Não há grande parte
daquelas perdas perceptivas, binocularidade, texturas e sombras,
movimento, etc., pois se tratam efetivamente de imagens
tridimensionais. Porém, ainda são representações e, como tal, sempre
prescindem de algumas características do representado.
Outra característica importante das representações tridimensionais é o
fato delas ocuparem volume no espaço, pois são baseadas em uma
materialidade que não apenas um plano, o que acarreta conseqüências
como dificuldade no transporte e difusão. Para ser transportado, um
modelo físico costuma exigir mais espaço e cuidados do que desenhos,
variando conforme as dimensões. E representações planas em geral são
muito mais simples de se difundir por meios impressos e eletrônicos do
que as espaciais, que costumam ser fotografadas, portanto
transformadas em imagem plana, para poder ser impressa no papel.

2.2.1. Modelos Físicos


Os modelos físicos, ou maquetes, podem ter diversas finalidades, desde
instrumentalizar o projeto, até servir de souvenir ou bibelô. Aqui nos
interessam aqueles utilizados para a compreensão espacial das formas
representadas.
Na Arquitetura é comum a utilização de modelos em escala reduzida.
No campo do Desenho Industrial ou da Mecânica, por exemplo, é
possível trabalhar na escala natural, 1:1, ou mesmo em escalas
ampliadas. Estas alterações de dimensão obrigam a suprimir ou
destacar aspectos formais, numa operação de seleção, enfatismo e
Modelo de estudo em papelão ondulado, produzido durante a
exclusão não muito diferente do que ocorre nos desenhos.
concepção do projeto. (fonte: KNOLL, Wolfgang; HECHINGER,
Martin – Maquetes Arquitetônicas. São Paulo, Martins Fontes. 2003)

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em casos de desenvolvimento de projeto, o que colabora muito para a


avaliação do desempenho.

Modelo de implantação, com relevo em papelão ondulado e edifcíos


volumétricos em madeira. (fonte: KNOLL, Wolfgang; HECHINGER,
Martin – Maquetes Arquitetônicas. São Paulo, Martins Fontes. 2003)

Pelo fato de ser uma materialidade, o modelo físico é percebido da


mesma maneira que qualquer forma tridimensional, com as sombras e Maquete da Catedral de Brasília, Oscar Niemeyer. Modelo
luzes, focos e desfocos e movimentos. Um modelo em escala natural tridimensional para apresentação da volumetria e da escala do
pode ser fruído tal qual seria o seu representado; no caso de objetos, projeto, auxiliado por escalas humanas. (fonte: BRUAND, Yves –
Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo, Perspectiva,
podem ser tateados, manipulados; no caso de construções, podem ser 1981)
adentradas e até parcialmente utilizadas. No caso de modelos em escala,
ainda que não se tenha a noção real das dimensões, pode ser visto de
diversos ângulos, movimentado (ou o espectador se movimenta em Geralmente a execução de modelos exige mais trabalho do que a
torno dele). Uma representação tridimensional pode ser percebida no execução de desenhos, e por isso é utilizado apenas após certo nível de
tempo, através de visadas sucessivas. desenvolvimento dos projetos nos desenhos, quando utilizado, ainda
Além disso, a própria materialidade pode, e geralmente é, diversa. que seja possível produzir modelos rápidos. Mas existem casos de
Podem ser produzidos modelos em papel, madeira, plástico etc. Mas desenvolvimento de formas apenas através de suportes tridimensionais,
também podem ser produzidos no próprio material final, principalmente ainda que menos correntes.

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um modelo tridimensional, basta posicioná-lo em relação a uma fonte


luminosa e o resultado das sombras e reflexões é imediato e real. Deste
modo é possível produzir modelos de estudo de insolação e iluminação.

Maquete de uma habitação indígena. O projeto da construção é


formulado diretamente no modelo tridimensional, que também é
Modelo urbanístico em isopor. Os edifícios são representados por
um ensaio estrutural. (fonte: NOVAES, Sylvia Caiuby (org.) –
volumes homogêneos, pois o foco está no espaço livre delimitado
Habitações Indígenas. São Paulo, Nobel / EdUSP. 1983)
por eles. (fonte: KNOLL, Wolfgang; HECHINGER, Martin – Maquetes
Arquitetônicas. São Paulo, Martins Fontes. 2003)
Geralmente, ao construir um modelo tridimensional, é necessário um
Diferente das representações planas, os modelos podem representar mínimo de geometria para que ele se estruture, pois a matéria tem
aspectos que não apenas os visuais. espessura, tem peso. Diferente dos desenhos, onde é possível criar
formas impossíveis de se estruturar, linhas e planos ideais, sem
A natureza tridimensional traz consigo algumas características muito
espessura, etc. Dependendo do material e da técnica, podem ser
úteis, como o fato de existir sombra e textura reais. Nas representações
antecipados problemas possíveis de funcionamento e de execução,
planas é necessário simular de alguma maneira a iluminação para através de problemas análogos no modelo.
conseguir uma avaliação do desempenho de uma forma. Ao construir
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A partir desta idéia são produzidos modelos estruturais, onde busca-se


representar o desempenho material das formas, com materiais de
funcionamento análogo, se possível iguais. Colaboram muito para a
compreensão dos sistemas construtivos, ainda que muitas vezes não
sejam visualmente parecidos.

Modelo estrutural da Sagrada Família, Antoni Gaudí. Ao construir Maquete modular utilizada numa discussão de projeto entre uma
uma maquete de correntes penduradas (um modelo invertido assessoria técnica e um movimento de moradia em São Paulo.A
portanto), obtém-se um funcionamento à tração análogo ao de necessidade da compreensão espacial do projeto por parte dos
compressão necessário para se obter a mesma forma em pedra. futuros moradores demandou formas de representação alternativas.
(fonte: Página Gaudi Club, www.gaudiclub.com) (fonte: ARANTES, Pedro Fiori – Arquitetura Nova. São Paulo, 34.
2002)

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No Desenho Industrial a utilização de modelos é mais extensa e mais alguns casos pode ser em escala natural, permitindo inclusive ser
organizada. São utilizados tipos de modelo mais variados, para diversos tateado; ou em escala, sendo avaliado apenas visualmente. Geralmente
fins, inclusive com uma nomenclatura mais específica. Podemos é utilizado no início de um projeto, para a verificação das dimensões,
destacar alguns mais relevantes. sem desenvolver o detalhamento. Seu uso é comum também no início
de projetos de arquitetura. Geralmente é produzido de materiais simples,
como papel, argila, massas plásticas, como um croqui volumétrico, de
produção rápida e que permita alterações.
Há também os modelos ergonômicos e as gaiolas, que visam
representar as formas em relação ao ser humano. São extremamente
importantes para o desenvolvimento de projeto. Devem
necessariamente ser em escala natural, e não precisa ser visualmente
Esquema de utilização de modelos e desenhos técnicos em Desenho semelhante, pois o que interessa são as dimensões, as formas táteis, e a
Industrial. Através da utilização alternada de suportes bi e
tridimensionais, o projeto vai sendo impulsionado. (fonte: FAU USP
possibilidade de relação ou de inserção dos seres humanos.
– Desenho Industrial. São Paulo, FAU USP. 1982) Dependendo da necessidade, pode ser um modelo simples, como um
cabo que se adapte à pegada manual, até um modelo complexo, como
uma cabine de automóvel, onde pessoas de dimensões variadas podem
avaliar o dimensionamento e o posicionamento dos diversos comandos.
Os simulacros são modelos que visam simular o aspecto final de um
produto, e avaliar a receptividade, principalmente dos aspectos visuais e
táteis dos materiais de acabamento. Para isso, é necessário um projeto
já desenvolvido, em fase de detalhamento. Deve ser em escala natural,
com todas as dimensões corretas. O aspecto deve ser simulado, mas não
o funcionamento. Materialmente pode ser bem diverso do produto final
esperado, desde que o aspecto externo seja semelhante. Podem ser
comparados com os apartamentos decorados construídos para venda,
stands provisórios de madeira e gesso que reproduzem uma unidade
Exemplo de modelos tridimensionais de cada etapa enunciada. Pré- ainda não construída, com os acabamentos das paredes e mobiliado,
Modelo, Modelo e Protótipo. (fonte: FAU USP – Desenho Industrial.
para simular a sensação da obra futura. São modelos idênticos do ponto
São Paulo, FAU USP. 1982)
vista visual, externo.
O primeiro deles é o modelo volumétrico, ou pré-modelo. O nome é O protótipo por sua vez é um modelo que deve funcionar exatamente
explícito, trata-se de um modelo que representa apenas o volume. Em igual ao produto final, e ter os materiais o mais próximo possível do

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produto final. Um protótipo é produzido na fase final do projeto, e deve


ser perfeitamente utilizável, para uma avaliação final antes da produção
em série. Seu custo unitário pode ser maior que o da unidade definitiva,
pois os processos de produção são mais artesanais. Mas o uso de um
protótipo permite evitar erros que se repetidos em série poderiam
causar grandes prejuízos. Por se relacionar com a produção seriada, seu
uso na arquitetura é mais restrito, ainda que possível em obras com esse
caráter.

Modelo tridimensional de um sistema modular a partir da análise da


estrutura de uma planta. A compreensão espacial do modelo,
apresentado através de fotografia numa publicação impressa, é
Modelo tridimensional de uma forma estrutural a partir da análise auxiliada por vistas ortogonais. (fonte: BONSIEPE, Gui – Teoria y
da estrutura de uma planta. A compreensão espacial do modelo, Prática del Diseño Industrial. Barcelona, Gustavo Gili. 1978)
apresentado através de fotografia numa publicação impressa, é
auxiliada por vistas ortogonais e cortes. (fonte: BONSIEPE, Gui –
Teoria y Prática del Diseño Industrial. Barcelona, Gustavo Gili.
1978)

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2.2.2. Modelos Eletrônicos


Na realidade os modelos eletrônicos de computador não são
tridimensionais, pois como sabemos todo arquivo eletrônico não possui
concretude física (excetuando os dados binários, que podem ser
armazenados em diversos tipos de mídia). Porém, este item foi incluído
dentro dos sistemas tridimensionais por possuir algumas características
que permite refletir sobre sua natureza.
Virtualmente ele é tridimensional. É construído num espaço cartesiano
de três eixos, X, Y e Z, o que faz com que dentro do sistema dos
programas ele seja entendido como tridimensional, o que permite uma
utilização semelhante ao dos modelos físicos, em alguns aspectos.

Perspectiva cônica de intersecção de duas abóbadas de arco pleno,


construída tridimensionalmente no software AutoCAD. Uma vez
construído o modelo eletrônico, é possível tomar inúmeros pontos
de vista.

Os arquivos eletrônicos só tomam forma através de dispositivos de


saída. Sabemos que durante a produção de um arquivo digital o
dispositivo de saída mais utilizado é o monitor, que permite uma
visualização plana com movimento, com tempo portanto. Mas
geralmente sua saída final é através de impressos, imagens planas. Para
esse tipo de uso são feitas renderizações, que nada mais são que
Perspectiva isométrcia de intersecção de duas abóbadas de arco
perspectivas cônicas tomadas como fotografias, sempre com as texturas
pleno, construída tridimensionalmente no software AutoCAD.
e iluminações determinadas. Como produto, não traz nenhuma
característica diferente das perspectivas tradicionais, desenhadas, são
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imagens planas e estáticas. Como processo de produção, é Durante a produção de um modelo eletrônico, é necessária a utilização
extremamente diferente. de diversas vistas simultaneamente, pois a tela do monitor é plana, mas
o modelo é virtualmente tridimensional. Trabalha-se através de uma
O modelo virtual permite a sua movimentação em tempo real,
janela que conecta o mundo físico ao mundo tridimensional virtual.
assemelhando-se ao modelo físico, porém dentro de limitações. Só pode
Além do uso de diversas vistas, é necessário movimenta-lo o tempo
ser visualizado através da tela do monitor, janela para o mundo virtual.
todo, valendo-se da interatividade. Sua produção se assemelha mais à
Ou seja, através de uma representação bidimensional, não pode ser
do modelo físico que à da perspectiva cônica, do ponto de vista dos
manuseado, tateado. Mas a movimentação em tempo real traz a
processo mentais necessários.
interatividade, possibilidade do sujeito que se utiliza do modelo de
escolher pontos de vista, de tomar decisões sobre quais aproximações
ele quer tomar do objeto. Este tipo de utilização do modelo é muito
diverso das renderizações, imagens estáticas. Para uma movimentação
em tempo real, o modelo deve ser simples geometricamente, utilizar o
mínimo de texturas e simulações de iluminação, pois o processamento
destes recursos leva tempo. Uma renderização complexa pode levar
horas, mas o processamento da imagem é anterior a sua utilização
impressa. A geração de imagens interativas deve ser imediata, em
tempo real. O custo desta interatividade é a utilização de modelos
menos complexos.

Outro recurso de saída possível para modelos eletrônicos é a


materialização tridimensional, através de impressoras que esculpem em
cera, em madeira, ou em outro material, através da transmissão CNC
(Computer Numeric Control) do desenho vetorial para máquinas fresa
ou de cortes. Deste modo, os modelos eletrônicos tornam-se
efetivamente modelos tridimensionais. Os equipamentos para este tipo
de saída são ainda um tanto dispendiosos, e o produto possui suas
limitações. Com o uso da fresadora por CNC é possível produzir peças para
montar um modelo tridimensional. (fonte: KNOLL, Wolfgang;
Além disso, é possível o uso de outras saídas, outros suportes de HECHINGER, Martin – Maquetes Arquitetônicas. São Paulo, Martins
apresentação e uso dos modelos eletrônicos, que serão debatidos mais Fontes. 2003)
adiante.

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Depois de produzido o modelo, é possível gerar infinitas renderizações


– perspectivas – de infinitos pontos de vista, muito mais rapidamente
que pelo método analógico. Além disso, uma vez aplicadas texturas e
iluminações, todas as renderizações sairão com as mesmas
características, ficando todo o trabalho a partir daí a cargo do
processador do computador. A produção manual destas imagens
costuma ser muito mais trabalhosa, motivo pela qual o uso dos modelos
eletrônicos tem se difundido.
Essas renderizações, enquanto perspectivas, trazem as mesmas
características das perspectivas geométricas analógicas: trata-se de
projeção de pontos num plano, através de um observador ideal, portanto
sem foco. Toda a sombra traçada é dentro do mesmo sistema de
construção geométrica, portanto simplificada dentro de um modelo
matemático de traçado, exatamente como ocorre no traçado da
perspectiva.
Os modelos eletrônicos trazem uma vantagem no uso de luzes, em
relação aos desenhos: Dentro de modelos matemático-geométricos, é
possível calcular as intensidades de luz, sombra e reflexões, o que
permite além do traçado, a determinação das intensidades da
iluminação. Tudo ainda dentro de modelos matemáticos, simulações da
realidade, ignorando fenômenos como a densidade do ar e a difração da
Cortadora por CNC, que permite cortar formas volumétricas, dentro luz.
das limitações da linha de corte. (fonte: KNOLL, Wolfgang;
Os modelos eletrônicos podem ser desenvolvidos a tal ponto de
HECHINGER, Martin – Maquetes Arquitetônicas. São Paulo, Martins
Fontes. 2003) verossimilhança que chegam a enganar olhos menos expertos. Não que
através de desenhos não seja possível obter verossimilhança, mas
através de computadores esta capacidade foi potencializada. Porém,
Durante a construção do modelo é possível trabalhar a iluminação, esse desenvolvimento tem um custo. Quanto mais o modelo eletrônico
através de simulações baseados em modelos matemático-geométricos, e é elaborado, em texturas e simulações de materiais, em iluminação e
texturas, através de imagens planas aplicadas nos planos geométricos reflexões, mais é requerido de desempenho do hardware. Ou seja, é
ideais. necessário possuir equipamentos melhores, mais caros, e mais tempo é
gasto para sua produção.

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Essa possibilidade da verossimilhança faz muitos caírem no erro de


buscar simular a realidade através dos modelos eletrônicos. Vemos essa
busca em apresentações de arquitetura e design, mas também em filmes
e jogos eletrônicos gerados por computação gráfica, onde o realismo é
tomado como critério de qualidade. Esquecem que, enquanto uma
representação, nunca será completa.

Modelo eletrônico (em construção) da Casa Modernista, arquiteto


Gregory Warchavchik. Ainda que virtualmente, a produção de um
modelo eletrônico se assemelha à de um modelo físico
tridimensional.
Modelo eletrônico volumétrico da Baker House, moradia estudantil
do MIT, Alvar Aalto. (modelo eletrônico: Kelly N. Zimmerman.
disponível em: http://architecture.mit.edu/~knz/pages/)

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Modelo eletrônico da Vila Penteado, edifício da Pós Graduação da


FAUUSP, arquiteto Carlos Ekman. (modelo eletrônico: Fernão
Morato) Modelo Eletrônico da Vila Rotonda, Andrea Palladio.É possível obter
resultados bastante realistas a partir de modelos eletrônicos, a um
alto custo de elaboração e acabamento do modelo. (fonte:
www.rhino3d.com)

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Modelo eletrônico de interior. Com a utilização de softwares que


simulam a difusão das luzes, é possível obter resultados
extremamente realistas, aproximando-se de fotografias, no máximo
vídeos. (fonte: www.maxwellrender.com) Anel de Moebius em rendererização não realística. É constante a
tentativa dar mais vida ao desenho eletrônico através da simulação
do traço imperfeito do croqui. (fonte: www.rhino3d.com)

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2.3. Alternativas 2.3.1. Imagens Estéreo


À parte dos sistemas de representação de natureza bi e tridimensional, Também chamadas estereoscopia, as imagens estéreo são simulações da
serão apontados aqui alguns exemplos alternativos. Este item poderia se binocularidade, um dos fatores que gera a percepção volumétrica. Do
estender infinitamente. Para evitar tal problema, foi tomado como ponto de vista fisiológico, a binocularidade já foi considerada como a
parâmetro recursos que tenham aplicação prática ou didática na grande perda perceptiva da tridimensionalidade. Diversas tentativas de
percepção espacial. Existem recursos que trabalham a partir de resgate desta percepção estereoscópica se autodenominam
simulações de tridimensionalidade, mas com objetivo lúdico ou tridimensionais, acreditando que apenas a busca desta característica
recreativo, como os livros “Olho Mágico”, que se baseiam na conseguirá trazer a espacialidade à imagem plana.
binocularidade para simular formas tridimensionais, ou livros e revistas Em muitas explicações sobre o funcionamento da binocularidade,
infantis com Anaglifos, imagens estéreo que utilizam óculos com filtros encontramos a explicação de que se tivéssemos apenas um olho, não
azul e vermelho, e não serão foco deste item. Porém os processos que perceberíamos espacialmente. Alguns até nos convidam a fazer o teste,
constroem esta tridimensionalidade podem ser utilizados para fins fechando um olho para sentir a diferença, e já presenciamos muitas
educativos, como será demonstrado adiante. decepções ao perceber que a visão não vira um plano, como uma
O objetivo aqui é ampliar o leque de linguagens possíveis, compreender fotografia. Carlos Alonso nos ajuda a entender este fenômeno ao
as potencialidades de alternativas de representação. “Segundo Peirce, explicar que “a profundidade pode ser percebida com um só olho por
(...) o pensamento complexo ao encontrar os limites para a sua que acionamos outras chaves que não a disparidade [retiniana]”45. Além
representação solicita novas formas de ser representado, (...) ou seja, o da binocularidade, há diversos outros fatores que nos trazem a
pensamento impulsiona a evolução das linguagens”44. percepção espacial. Se com poucos destes recursos conseguimos uma
Sempre é bom lembrar que a representação nunca será a totalidade do ilusão de espacialidade, não haveria motivo para, ao eliminar apenas
um aspecto, perdermos completamente a percepção espacial. Perdemos
objeto representado. Cada alternativa aqui apontada representa alguma
característica perceptiva do objeto, ou simula, mas nunca se atinge uma sim parte da percepção da profundidade, mas permanecemos com a
percepção idêntica. visão das formas em perspectiva, com as luzes e sombras, com o
movimento, com a presença das imagens mentais.
Do mesmo modo, apenas a inserção da binocularidade não traz a
percepção espacial completa, mas apenas aproxima um pouco mais a
representação da percepção real.

44
TEIXEIRA, Paulo Sérgio – Espaço e Arquitetura: Entre o Analógico e o Digital.
45
Dissertação apresentada à FAUUSP para obtenção do grau de Mestre. São Paulo, ALONSO, Carlos Egídio – Percepção Tridimensional, Representação
2005. Bidimensional. São Paulo, Doutorado FAUUSP, 1994.

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As imagens estereoscópicas são obtidas a partir de um par de imagens sobrepostas no plano, pois cada olho verá apenas uma delas, sendo a
planas com ponto de vista levemente diferente, sempre obtidas para este outra apagada pelo filtro. Deste modo, a mente interpreta cada imagem
fim, portanto previamente preparadas, que devem ser levadas como sendo uma visão do mesmo objeto, e o interpreta como
independentemente a cada olho, mas interpretadas como sendo uma tridimensional.
mesma imagem. Há diversos recursos para se conseguir levar as Há diversas limitações neste sistema. Ainda é uma imagem estática. A
imagens independentemente a cada olho. Cada sistema parte de uma qualidade da imagem com profundidade gerada na mente depende do
característica física ou fisiológica do funcionamento da visão ou da luz, rigor com que foram produzidas as imagens que compõe o par
sempre subvertendo algum processo natural. estereoscópico, com cuidados como a distância entre as imagens.
Devido ao uso dos filtros, as cores da imagem sofrem distorções. Um
plano completamente vermelho ou azul numa imagem Anaglifo fica
desfavorecido pela separação das cores no filtro. Além disso, o uso
prolongado dos óculos causa um desconforto visual muito grande.
Este sistema se baseia nas características físicas da luz. Toda a luz pode
ser separada em três canais, vermelho, verde e azul, sistema RGB, na
qual operam aparelhos de televisão e monitores de computador. Porém,
são três cores para dois olhos; por isso, um dos filtros é vermelho e o
outro azul ciano, soma do azul com o verde. Geralmente se obtém um
resultado melhor pelo filtro vermelho do que pelo ciano. Além disso, o
sistema de impressão trabalha com o padrão CMYK (ciano, magenta
amarelo e preto), padrão utilizado em impressos, o que gera diferenças
de tonalidade das cores. O resultado da visualização destas imagens
acaba ficando um pouco “sujo” de resquícios da imagem destinada ao
outro olho. A visualização de Anaglifos em monitores resulta um pouco
melhor, mas é mais cansativo aos olhos, pois a luminosidade é mais
forte. Também é utilizado em filmes, podendo ser utilizado tanto em
Anaglifo da Ópera de Sidney, arquiteto Jorn Utzon, produzido a
cinemas quanto em aparelhos de televisão. É um sistema bastante
partir de duas fotografias do edifício.(fonte: www.sterescopy.com)
simples ,que requer pouca tecnologia.
O mais famoso destes processos é o Anaglifo, par de imagens Esse tipo de sistema, além de usos em livros e revistas infantis, tem
sobrepostas com cores azul e vermelho, que deve ser visualizado sido estudado por engenheiros e físicos 46 . Além disso, tem sido
usando óculos adequados, com filtros respectivos. O filtro isola uma 46
imagem para cada olho, de modo que elas podem estar efetivamente Como o artigo “Estereoscopia”, publicado em KIRNER, C. e TORI, R. (eds.) -
Realidade Virtual: Conceitos e Tendências – Livro do Pré-Simpósio SVR 2004, Cap.

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utilizados por alguns campos como a química e a física, na geração de Resultados semelhantes podem ser obtidos por óculos polarizados, onde
imagens planas de estruturas tridimensionais para eliminar cada olho filtra luz numa direção, sem perder as qualidades do matiz.
ambigüidades. Porém esse sistema demanda um par de projeções de imagens com
filtros, polarizando as luzes na fonte. É mais utilizado para projeções
cinematográficas em telões, não pode ser realizado em aparelhos de
televisão.

Par de fotos estéreo da Estátua da Liberdade. Para visualizar a


ilusão de profundidade é necessário alterar a convergência dos
olhos (fonte:www.sterescopy.com)
Anaglifo de uma molécula de sacarose (C12H22O11), produzido
com finalidades educativas. Através do recurso da estereoscopia é Existem também óculos com obturadores de Cristal Líquido (LCD),
possível eliminar ambigüidades de profundidade, auxiliando a que se abrem e fecham numa freqüência muito rápida, imperceptível
visualização de uma estrutura tridimensional. (fonte: aos olhos, e de maneira alternada entre os dois olhos. As imagens
www.omocho.pt) designadas para este tipo de óculos devem ser projetadas, alternando as
imagens de cada ponto de vista através de um computador sincronizado
para obter a mesma freqüência dos obturadores do óculos. Assim, cada
olho verá apenas um das imagens. Este sistema requer uma alta
11, p.179-201. Editora Mania de Livro, São Paulo, 2004, e disponível para download tecnologia de utilização, e se aplica apenas a instalações específicas
em www.tecgraf.puc-rio.br/publications/artigo_2004_estereoscopia.pdf. para este fim.

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Há sistemas que prescindem de alta tecnologia. O Anaglifo é um deles, técnica, pode ser utilizado o par de imagens espelhadas, posicionando
pois necessita apenas de uma imagem simples e um óculos específico. um espelho entre as imagens, de modo que possamos visualizar as duas
imagens sobrepostas. Outro recurso para este mesmo fim é o
estereoscópio, aparelho formado por lentes e espelhos que permite
visualizar duas fotos de maneira sobreposta.

A percepção volumétrica destas imagens não é muito precisa, varia de


acordo com a qualidade das imagens produzidas, com o
posicionamento entre elas e com a distância do observador. Em geral,
serve para eliminação de ambigüidades de profundidade. Em todos
estes casos, concomitantemente aos ganhos de percepção volumétrica,
há contrapartidas tecnológicas ou práticas de sua visualização.
Este princípio da estereografia pode ser somado a outros recursos,
como veremos mais adiante.

2.3.2. Vídeo, Animação e Quadrinhos


Outro recurso bastante utilizado para a simulação do espaço é a
inclusão do movimento, do tempo. A partir uma seqüência de imagens
Estereoscópio, aparelho para visualização de um par de fotos
planas, a princípio estáticas, é possível simular movimentação. Ao
estéreo. Através da geometria ótica, as duas imagens são vistas substituir uma imagem por outra levemente diferente, percebemos a
como apenas uma, gerando a ilusão de profundidade. imagem se movimentando, e não como se fosse outra imagem.
A partir deste princípio foi criado o cinema, fotos seqüenciais expostas
Mas é possível conseguir o mesmo efeito com um par de imagens não de maneira a simular movimento. Desta maneira, ao ver uma imagem
sobrepostas, a partir da sobreposição, alterando a convergência dos num plano, como é a tela do cinema ou da televisão, temos a sensação
olhos. É o recurso utilizado em livros como “Olho Mágico”, onde não é de movimento, e consequentemente de profundidade, pois a
necessário nada além de um par de imagens impressas. Não há movimentação dá a mudança de perspectiva constante.
necessidade de nenhum equipamento auxiliar, nem há perda das cores,
porém causa um desconforto físico, principalmente para se manter por
muito tempo. Além disso, exige um treino do indivíduo, e nem todas as
pessoas conseguem alterar a convergência dos olhos. Semelhante à esta

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Bruno Zevi 47 considerou o recurso do vídeo uma aproximação um A produção e difusão dos vídeos está se tornando cada vez mais
pouco melhor da arquitetura que apenas as fotos e os desenhos, pois se acessível ao público em geral, com a evolução dos equipamentos
aproximaria um pouco mais da vivência real, único meio de fruição da eletrônicos. Com a utilização de câmeras digitais e softwares simples, é
obra arquitetônica. Partindo deste princípio, estão sendo realizadas na possível produzir vídeos muito facilmente. Além disso, a difusão em
FAUUSP experiências de documentação arquitetônica em vídeo, num meio digital está tornando-se cada vez mais simples, o que dá maior
trabalho conjunto entre uma disciplina optativa coordenada pela alcance a não apenas a este tipo de meio, mas a vários outros.
professora Ângela Rocha e o Laboratório de Vídeo da FAU48.
O vídeo, assim como a fotografia, presta-se a representar espaços já
existentes. Para representar no tempo espaços imaginados, é necessário
valer-se de outros recursos.
Um deles é a animação, que utiliza-se do mesmo princípio do vídeo:
quadros sucessivos que dão a ilusão de movimento. Porém, ao invés de
ser fotografias, são desenhos. Podem ser desenhos à mão, cuja
execução é bastante trabalhosa, ou imagens geradas a partir de modelos
eletrônicos, recurso muito mais utilizado atualmente devido à agilidade
da execução.
Como já foi dito, a partir da produção de um modelo eletrônico é
possível gerar infinitas vistas, de modo que para realizar uma animação
basta posicionar as câmeras, que o processador se encarrega de gerar as
imagens. A combinação entre modelos eletrônicos e animação
Definição de quadrinhos como arte seqüencial, que traduz tempo
possibilita ótimos resultados.
em espaço. (fonte: McCLOUD, Scott – Desvendando os Quadrinhos.
Tanto no vídeo quanto na animação, é necessária a presença de algum São Paulo, M. Books. 2004; McCLOUD, Scott – Reinventando os
equipamento específico para sua visualização, como um projetor, uma Quadrinhos. São Paulo, M. Books. 2005)
televisão, ou um computador. E a visualização destes formatos se
desenvolve efetivamente no tempo, ou seja, um vídeo tem um tempo de Outro recurso para a simulação do tempo é a imagem seqüencial.
duração, determinado. Conforme nos explica Manfredo Massironi49, “mediante o artifício da
seqüência podem ser prefigurados um ‘antes’ e um ‘depois’, mas ambos
estão aqui e além disso presentes”. Ou seja, pela justaposição de
imagens que formam uma seqüência, podemos intuir a passagem do
47
ZEVI, Bruno – Saber ver a Arquitetura. São Paulo, Martins Fontes. 1994.
48 49
Os trabalhos da disciplina são arquivados no setor de vídeo da biblioteca da MASSIRONI, Manfredo – Ver Pelo Desenho: Aspectos Técnicos, Cognitivos,
FAUUSP, e podem ser consultados. Comunicativos. São Paulo / Lisboa, Martins Fontes / Edições 70.

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tempo e o deslocamento no espaço, ainda que sejam imagens estáticas e


presentes simultaneamente.
Este recurso é utilizado principalmente pelas histórias em quadrinhos,
onde uma narrativa é construída no tempo, mas através de imagens
estáticas. A construção de imagens no tempo se aproxima da narrativa
do cinema, mas o modo de leitura é mais próximo do texto verbal, pois
o leitor pode fazer seu próprio ritmo, inclusive voltar, reler. Há um
comprometimento com o suporte material do papel impresso.
É um recurso muito utilizado para narrar um processo, como etapas de
uma construção por exemplo. Cada desenho representa uma etapa da
produção, de modo que tenhamos a percepção de uma passagem do
tempo pelo desenvolvimento da forma espacial.
Esse tipo de narração também é utilizado por Gordon Cullen em suas
leituras de paisagens urbanas, onde através de seqüências de
perspectivas desenhadas à mão, vai construindo um “passeio” pelo
espaço. Tratam-se de imagens planas, desenhos, com exatamente as
mesmas implicações já discutidas, mas agora trabalhadas num conjunto,
visando construir uma narrativa, que pressupõe um tempo de leitura
mais extenso que nas imagens individuais.

Seqüência de imagens que ilustram a passagem do tempo. Cada


quadro apresenta uma etapa chave na construção de uma parede
em alvenaria armada. (fonte: TAUIL,Carlos Alberto; RACCA, Cid
Luiz - Alvenaria Armada. São Paulo, Projeto. 1981)

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Trajeto urbano. Através de uma seqüência de perspectivas e uma


planta com a locação das vistas, Gordon Cullen transmite a idéia de
Residência Pery Campos, arquitetos Rodrigo Lefèvre e Nestor Reis.
visão serial, destacando a importância do tempo na percepção do
Através do recurso o modelo eletrônico, que facilita a construção de
ambiente urbano. (fonte: CULLEN, Gordon – Townscape. London,
várias perspectivas de um mesmo objeto, é possível produzir
The Architectural Press. 1961)
trajetos “Cullen” de edifícios.

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2.3.3. Planificações
A produção de modelos planificados, ou em peças, para montagem
posterior, presta-se muito bem à difusão de estruturas espaciais. O
princípio é produzir um modelo tridimensional simples, que possa ser
facilmente transportado e difundido, para ser montado posteriormente.
Geralmente têm um caráter lúdico, como um brinquedo ou um souvenir,
mas prestam-se também à leitura de espaços.
Por se tratar de modelos tridimensionais, não têm aquelas perdas
perceptivas da bidimensionalidade. A visualização destes modelos já
têm binocularidade, movimento, textura, etc.

Maquetes planificadas da Ópera de Sidney e do Palácio da Secessão


Vienense, em papel. (fonte: www.paperlandmarks.com)

Devem obrigatoriamente ser de formas já existentes, pois servem para


evocar uma outra imagem já existente, não têm aplicação como
instrumento de projeto. Na realidade, a própria confecção deste tipo de
modelo é um projeto à parte, na escala do desenho industrial, e deve
atentar às características do material e da produção.
A principal característica deste tipo de modelo é a interatividade. Após
realizado o projeto e produzido, o modelo está semi-pronto, num
formato mais prático para o transporte e a difusão.Então ele é adquirido
por um sujeito que vai efetuar sua montagem, concluir sua
tridimensionalização. Este sujeito passa a ser produtor daquele modelo,
Maquete da Torre Eiffel, em acetato e papel. (fonte:
sujeito ativo, participante. Por isso este tipo de modelo presta-se muito
www.instantdurable.com)
a fins lúdicos e didáticos, pois exige a atividade do sujeito.

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Maquete Planificada em papel da Estação Júlio Prestes, produzida


pela Fundação Arquivo e Memória de Santos.

Este tipo de modelo pode ser difundido de diversas maneiras, como


brindes embutidos em outros produtos, cartões postais para recorte e
colagem (estes dois em projetos extremamente sintéticos), kits de
montagem mais complexos, que podem ser comprados, ou até obtidos
em meio eletrônico, onde o usuário imprime o arquivo em sua casa e
monta o modelo (não havendo garantia da qualidade do material
utilizado).

Maquete Planificada em papel da Estação Júlio Prestes, produzida


pela Fundação Arquivo e Memória de Santos.Capa e Instruções.

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Cartão postal com planificação da Sagrada Família, vendido como


souvenir. Apesar das dimensões reduzidas, a complexidade do
edifício representado exigiu um projeto razoavelmente complexo,
nos limites da potencialidade do suporte.

Cartão postal com planificação da Sagrada Família, vendido como


souvenir. O modelo final é bastante simplificado em relação ao
edifício, devido a um comprometimento com a ortogonalidade e com a
superfície do papel.

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Cartão postal com planificação do MASP. O projeto da planificação e


montagem em dimensões reduzidas foram fatores que levaram a “Montáveis”, personagens planificados que são distribuídos como
um modelo extremamente simplificado. O modelo final possui um brinde em pacotes de salgadinhos. De dimensões reduzidas, o
resultado volumétrico próximo do edifício original, que se projeto exige simplicidade, e o resultado não se pretende
compromete com a ortogonalidade e com as superfícies planas. verossímil.

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Cartão Kirigami do edifício da FAUUSP. Produzido pelo ex-aluno


Alexandre Tanaka em 2001.

Um outro recurso que é semelhante à este das planificações são os


Kirigamis (em japonês “papel cortado”), cartões em papel onde
somente através de cortes e dobras se obtém uma forma tridimensional.
Também exigem modelos simplificados, e prestam-se ao transporte,
pois quando fechados os cartões são bidimensionais. Têm como
desvantagem a apresentação apenas de uma direção do objeto (no caso
de edifícios, a fachada principal), além do fato de o sujeito não ser ativo,
pois o modelo monta-se automaticamente ao abrir (e para isso exige um Cartão Kirigami do edifício da Sagrada Família, arquiteto Antoni
projeto muito mais complexo); tem como vantagem o fato de mesmo Gaudi. (fonte: www.gaudiclub.com)
após montado, ainda poder retornar ao estado bidimensional.

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produzidos modelos em papel cartão e alguns outros materiais como


hastes de PVC, onde cada edifício forma um Kit de montagem
individual.
Os modelos produzidos estimulam a percepção das crianças por meio
da interatividade. Os kits de modelos semi-prontos exigem dos sujeitos
uma postura ativa, de produtor, para a sua conclusão, de modo que ao
fim da montagem, cada indivíduo se sinta um pouco autor da obra,
criando um vínculo de identidade. E ao mesmo tempo, despertam o
olhar da criança para as formas arquitetônicas existentes na cidade.

Modelo tridimensional da Oca, produzido pelo LabTri. (fonte: LabTri)

Um bom exemplo de utilização das planificações com fins didáticos é o


LabTri50 (Laboratório de Modelos Tridimensionais), grupo de pesquisa
da FAUUSP, que visa desenvolver modelos arquitetônicos para alunos
da escola primária. Com a realização de oficinas, os alunos são
introduzidos às questões da representação da cidade, para
posteriormente montar os modelos produzidos pelo laboratório. Os
modelos produzidos são de obras de arquitetura existentes, atualmente
o conjunto arquitetônico construído no Parque do Ibirapuera para as
comemorações do IV centenário da cidade de São Paulo. São Oficina do LabTri em escola infantil, onde são montados os modelos
arquitetônicos simplificados. (fonte: LabTri)
50
Está sendo preparada uma publicação sobre o LabTri pela EdUSP, ainda sem
previsão de lançamento.

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2.3.4. Modelos Eletrônicos em Meio Eletrônico Estes vídeos podem ser apresentados através de televisão, ou de um
Como já foi dito, a fruição dos arquivos eletrônicos dependem computador, inclusive ser difundido em meio eletrônico. É possível
fundamentalmente do dispositivo de saída utilizado. Os modelos preparar apresentações em datashow, ou disponibilizá-los em sites pela
internet, assim como vídeos feitos a partir de filmagens de objetos reais.
eletrônicos podem ser utilizados de diversas formas, em diversas
linguagens.
Além da renderização, produção de imagens planas simples, é possível Também é possível produzir um par de imagens estereográficas de um
construir a partir dos modelos eletrônicos vários outros tipos de saídas. modelo digital com grande precisão, através do posicionamento correto
Mediante simulação de câmeras e movimentação do modelo, é possível das câmeras em relação ao modelo, permitindo produzir pares de
produzir vídeos, na realidade animações, pois as câmeras simulam imagens estéreo, que podem ser trabalhadas de diversas maneiras para
fotografias do modelo eletrônico. O resultado é uma animação, que dar a ilusão de profundidade, como vimos em 2.3.1 Imagens Estéreo.
depende de um dispositivo de saída adequado.

Frames de uma animação da Casa Modernista, a partir de um


modelo eletrônico.
Anaglifo da Casa Modernista, arquiteto Gregory Warchavchik,
produzido a partir de duas vistas de um modelo eletrônico.

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As imagens projetadas são animações estereoscópicas obtidas a partir


de modelos eletrônicos, e a chegada de cada imagem em seu respectivo
olho é efetuada pela utilização de óculos de cristal líquido (LCD), que
funcionam como obturadores, sincronizado com a projeção alternada
das imagens através de um computador. As imagens têm que ser
projetadas numa altíssima freqüência, de modo que a supressão de
metade das imagens pelos obturadores LCD, ao dividir pela metade a
taxa de quadros por segundo, não interfira na visualização do
movimento
A Caverna Digital pretende, através da utilização de projeções planas,
simular a binocularidade, o movimento e a imersão do sujeito no
espaço, buscando assim aproximar-se o máximo possível da realidade
percebida.

Anaglifo da Residência Pery Campos, produzido a partir de duas


vistas de um modelo eletrônico.

O par de imagens estéreo pode ser somado ao recurso do vídeo,


somando a binocularidade ao movimento.
Este recurso é utilizado na Caverna Digital, instalação do Laboratório
de Sistemas Integrados (LSI) da Poli-USP, que trabalha a simulação do
espaço através da imersão dos sujeitos numa sala onde são projetadas
imagens estereoscópicas em todas as paredes. Isso exige uma
construção específica para esse fim, uma sala cúbica onde todas as
paredes são telas de projeção, com espaço suficiente para os canhões de Esquema da Caverna Digital, uma sala cúbica com telas de projeção
projeção ao redor desta. nas faces. (fonte: Caverna Digital, LSI Poli-USP)

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modelos físicos; ou é possível disponibilizar os arquivos através da


internet, onde o usuário pode fazer uma cópia e utilizar o modelo na
saída que preferir. Há dois fatores limitantes principais: o modelo não
pode ser muito complexo, pois o tamanho do arquivo limita o acesso, e
o usuário deve ter os softwares necessários para abrir o arquivo.
Existem sítios na internet que funcionam como bancos de dados de
design e arquitetura, disponibilizando modelos eletrônicos
tridimensionais simples de grandes obras. A partir destes modelos é
possível realizar leituras sobre a volumetria e a espacialidade. Além
disso, importando os arquivos para outros softwares é possível realizar
outros tipos de estudos, como gabarito, insolação, perspectivas, etc.

Caverna Digital em funcionamento, com projeções em todas as


faces. (fonte: Caverna Digital, LSI Poli-USP)

O princípio da imersão aproxima-nos da percepção espacial em seis


dimensões, formulada por Aristóteles, em contraposição às três
dimensões. O sujeito se encontra imerso no espaço, onde todas as
Estudo de insolação do edifício Baker House (moradia estudantil do
direções – em cima, em baixo, à direita, à esquerda, à frente e atrás –
MIT), arquiteto Alvar Aalto, realizado a partir de modelo eletrônico
são possíveis de serem percebidas. volumétrico. O modelo eletrônico foi produzido por uma aluna do
MIT, que disponibilizou o arquivo eletrônico numa página, fruto de
uma disciplina do próprio MIT. O modelo eletrônico pode ser
Outro modo de difusão dos modelos eletrônicos é o próprio meio importado para outros softwares, permitindo o traçado da
eletrônico. O arquivo de dados computacional do modelo pode ser insolação.
transferido de diversas maneiras. É possível gravar em mídias como
CD-ROM, cujo transporte é extremamente mais prático comparado aos

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visualização da forma tridimensional e do relevo, além de volumetrias


de algumas cidades do mundo, sempre baseado em fotografias de
satélite.

Modelo eletrônico volumétrico de Nova Iorque baseado em foto


aérea, difundido pela internet através do software Google Earth.
(disponível no site: http://earth.google.com)

Existem também alternativas de difusão de modelos que não necessitem


de um software específico para ser acessado, como arquivos Modelo eletrônico dos edifícios Itália e Copan, baseados em foto
executáveis ou arquivos fechados que permitam a visualização do aérea do centro de São Paulo, difundidos através do software
modelo. Um bom exemplo é o Google Earth51, que é ele próprio um Google Earth. (disponível no site: http://earth.google.com)
software visualizador do seu modelo do planeta terra, que permite uma

51
Pode ser baixado gratuitamente através da página oficial: http://eart.google.com

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3. Conclusão / Encerramento

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3. Conclusão / Encerramento O ensino dos diversos sistemas de representação têm que ter
consciência das implicações e das potencialidades de cada linguagem,
Não se trata exatamente de uma conclusão, pois o trabalho não se
objetivando instrumentalizar os alunos no raciocínio espacial. Este
encerra aqui. A verificação prática das idéias aqui estudadas ocorre na
processo de instrumentalização é extremamente importante para prover
próxima etapa do trabalho, a análise das disciplina do curso de
os estudantes de meios para pensar e dialogar.
graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP. Trata-se mais de
um encerramento de uma etapa e o direcionamento para sua Este trabalho não põe em questão o desenvolvimento de projetos, nem a
continuação, além de especulações sobre possíveis desdobramentos. qualidade de soluções formais. A busca da visão espacial, baseada em
instrumentos gráficos, é uma etapa anterior a qualquer tipo de
proposição projetual ou de crítica qualitativa. Ter à mão bons
Toda linguagem para ser bem utilizada deve ser bem conhecida, em instrumentos não garante um correto desenvolvimento da visão e da
todos os seus aspectos, sonoros, materiais, gráficos, etc. É necessário proposição espacial, mas a ausência destes instrumentos certamente
conhecer não só as potencialidades, mas as deficiências e limitações acarretará problemas, devido à falta de desenvolvimento das idéias.
que cada sistema de comunicação possui, e as implicações de cada Através da constante representação em suportes materiais, é possível
forma sensível. É necessário ter consciência da linguagem que se utiliza. aferir a qualidade e a competência de determinadas soluções
Esta consciência é alcançada através da prática, da atividade constante. imaginadas.
E, como sabemos, o aprendizado e o desenvolvimento são processos Somente após um correto desenvolvimento da visão espacial é possível
internos, individuais. Cada indivíduo tem sua percepção, mesmo em pôr em questão a crítica e a proposição.
atividades coletivas. Assim sendo, a prática é uma etapa imprescindível
para o desenvolvimento no uso das linguagens. O fazer é um dos
processos mais importantes no desenvolvimento no uso das linguagens. Este estudo se limita a um universo bastante restrito, um curso de
graduação em arquitetura, onde o nível de escolaridade é razoavelmente
Cada sistema de representação é uma linguagem distinta, e possui suas
homogêneo. Ainda assim, é possível perceber que deficiências em
potencialidades e limitações. O trabalho em conjunto de diversos
alguns conteúdos do ensino médio podem acarretar em problemas
sistemas colabora com a maior compreensão da forma do espaço.
durante outros exercícios. Não faz parte deste trabalho, mas seria
Principalmente nos sistemas bidimensionais, onde as perdas perceptivas
bastante importante, a análise dos conteúdos obrigatórios ministrados
são muito maiores. Através de um conjunto de representações, somos
pelas escolas e exigidos no ingresso às faculdades, visando um público
capazes de criar em nossas mentes a idéia da totalidade formal.
mais geral.
Mas toda representação é limitada a determinados aspectos do
Outro desdobramento possível deste trabalho é sua ampliação para
representado. No caso das representações gráficas bidimensionais, o
outras escolas de arquitetura e design, pelo país e pelo mundo,
que se representa é apenas o aspecto visual, formal, havendo diversas
comparando diferentes níveis de ensino básico e diferentes enfoques e
outras perdas.
metodologias.

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Considerando que o uso do espaço é uma necessidade de qualquer ser


vivo, e que a sua compreensão e crítica é desejável a todos, seria
bastante interessante ampliar o foco deste estudo para outros públicos,
mais especializado como profissionais da área de Arquitetura e Design,
ou para um público mais geral, como crianças e jovens estudantes do
ensino fundamental e médio, ou um público mais variado mas leigo no
assunto. A base de conhecimento mudaria completamente, trazendo
novos problemas. Através da visão espacial, espera-se que as pessoas
agucem a percepção e a crítica ao espaço habitado, visando sua
melhoria.

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Profº Orientador Luis Antônio Jorge

4. Bibliografia LANCHA, Joubert – Do Projeto ao Objeto, do Objeto ao Projeto.


Dissertação de Mestrado apresentada à EESC-USP. São Carlos,
ALEXANDRE, Carlos Alberto Inácio – Modelos Físicos Aplicados ao
1993.
Desenho Industrial. Tese apresentada à FAUUSP para obtenção do
grau de Doutor. São Paulo, 1992. MASSIRONI, Manfredo – Ver Pelo Desenho: Aspectos Técnicos,
Cognitivos, Comunicativos. São Paulo / Lisboa, Martins Fontes /
ALONSO, Carlos Egídio – Percepção Tridimensional, Representação
Edições 70. 1982.5
Bidimensional. São Paulo, Doutorado FAUUSP, 1994.
MELO, Chico Homem de – Os Desafios do Designer & Outros textos
BAXANDALL, Michael – Sombras e Luzes. São Paulo, Edusp, 1997.
sobre design gráfico. São Paulo, Edições Rosari, 2003. (Coleção
(texto e arte 15)
TextosDesign)
BOSI, Alfredo – “Fenomenologia do Olhar”, in: NOVAES, Adauto
MERLEAU-PONTY, Maurice – Textos Selecionados. Nova Cultural,
(org.) – O Olhar. São Paulo, Cia das Letras, 1995.
São Paulo. 1989. (Coleção Os Pensadores)
CHAUÍ, Marilena de Souza – “Janela da Alma, Espelho do Mundo”,
PANOFSKY, Erwin – A Perspectiva como Forma Simbólica. Lisboa,
in: NOVAES, Adauto (org.) – O Olhar. São Paulo, Cia das Letras,
Edições 70. 1993.
1995.
PEIRCE, Charles Sanders – Semiótica e Filosofia. São Paulo, Cultrix /
CÔRTE-REAL, E. – O Triunfo da Virtude – as origens do desenho
Edusp. 1975.
arquitetônico. Lisboa, Livros Horizonte, 2001
PERRONE, Rafael Antonio Cunha – Desenho Como Signo da
DAHER, Luis Carlos – “Sobre o Desejo – Digo, o Desenho – do
Arquitetura. Tese apresentada à FAUUSP para obtenção do grau de
Arquiteto” in A Linguagem do Arquiteto: O Croquis. Catálogo de
Doutor. São Paulo, 1993. 3 vol.
Exposição do Museu Lasar Segall, São Paulo, 1984.
PIERANTONI, Ruggero – El Ojo y la Idea. Fisiologia de la visión.
GOUVEIA, Anna Paula Silva – O Croqui do Arquiteto e o Ensino do
Barcelona, Paidós. 1984.
Desenho. São Paulo, Tese de Doutorado FAUUSP. 1998. (3 vol.)
PIGNATARI, Décio. Informação Linguagem Comunicação. São Paulo,
JAKOBSON, Roman – Lingüística e Comunicação. São Paulo, Cultrix
Ateliê Editorial. 2003 (25ªed.).
e Edusp. 1969.
ROZESTRATEN, Artur Simões – Estudo Sobre a História dos
JORGE, Luis Antonio – O Desenho da Janela. São Paulo, Annablume,
1995. Modelos Arquitetônicos na Antiguidade: Origens e Características
das Primeiras Maquetes de Arquiteto. Dissertação de Mestrado
LAMPUGNANI, V. M. – Dibujos y textos de la arquitectura del siglo apresentada à FAUUSP. São Paulo, 2003.
XX – Utopía y realidad. Barcelona, G. Gili, 1983.

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Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais Como Instrumental Para o Desenvolvimento da Visão Espacial em Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
Marcos Kiyoto de Tani e Isoda
Profº Orientador Luis Antônio Jorge

SCHENK, Leandro Rodolfo – Os Croquis na Concepção do Espaço


Arquitetônico: Um estudo a partir de quatro arquitetos brasileiros.
Dissertação de Mestrado apresentada à FAUUSP. São Paulo, 2004.
TEIXEIRA, Paulo Sérgio – Espaço e Arquitetura: Entre o Analógico e
o Digital. Dissertação apresentada à FAUUSP para obtenção do
grau de Mestre. São Paulo, 2005.
Universidade de São Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Grêmio – Sobre Desenho. São Paulo, GFAU. 1975.
VYGOTSKY, Lev Semenovich – “Pensamento e palavra” in:
Pensamento e Linguagem. São Paulo, Martins Fontes. 1998.

As imagens sem citação de fonte são de autoria própria.

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Análise das Disciplinas
Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais Como
Instrumental Para o Desenvolvimento da Visão Espacial em
Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
Anexo do Relatório Final de Iniciação Científica
Apresentado à FAPESP em Dezembro de 2006

FAUUSP
Marcos Kiyoto de Tani e Isoda
Professor Orientador Luís Antônio Jorge
Processo 05/56964-1
Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais Como Instrumental Para o Desenvolvimento da Visão Espacial em Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
Análise das Disciplinas

SUMÁRIO

Introdução
1. Disciplinas selecionadas e justificativa
2. Método de Trabalho
3. Fichas de Disciplina
3.1. AUT 510 – Geometria Aplicada à Produção Arquitetônica
3.2. PCC 201 – Geometria Descritiva
3.3. AUP 146 – Arquitetura Projeto II
3.4. AUP 446 – Design do Objeto
3.5. AUP 650 – Arquitetura da Paisagem
4. Comentários
5. Conclusões

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Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais Como Instrumental Para o Desenvolvimento da Visão Espacial em Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
Análise das Disciplinas

Introdução As descrições detalhadas de cada uma estão no item 4. Fichas de


Disciplina, onde estão as ementas e a análise efetuada de cada
Esta é a segunda parte da pesquisa Sistemas de Representação Bi e
disciplina individualmente.
Tridimensionais Como Instrumental Para o Desenvolvimento da
Visão Espacial em Alguns Exemplos do Curso de Graduação da
FAUUSP, que analisa o uso das representações no estudo da Foram utilizados alguns critérios para a escolha das disciplinas.
arquitetura e do espaço em geral. Primeiramente, foram selecionadas disciplinas do começo do
Neste volume estão as análises de disciplinas do curso de curso, que visem introduzir o estudo do espaço e o uso das
graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, objeto representações ao aluno ainda pouco experiente. Das cinco
principal desta pesquisa. Primeiramente serão expostos os critérios disciplinas, quatro são do primeiro ano, e uma (AUP 446) do
de escolha e o método de análise das disciplinas, para segundo ano do curso.
posteriormente apresentar a análise de cada uma das disciplinas, Outro critério foi abarcar disciplinas teóricas (AUT 510 e PCC
individualmente. Por fim, comentário, mais pontuais, e as 201) e práticas. As teóricas, desenvolvidas em sala de aula,
conclusões na busca por compreender as disciplinas trabalham dentro do método de aulas expositivas, com explicações
conjuntamente. auxiliadas por lousa ou retroprojetor, e exercícios para entrega,
diários ou freqüentes. As duas disciplinas teóricas selecionadas
fazem parte de um conjunto de quatro disciplinas obrigatórias que
1. Disciplinas selecionadas e justificativa
visam desenvolver o uso das representações e instrumentalizar os
O objetivo deste estudo é analisar o uso das representações bi e alunos.
tridimensionais do espaço no curso de graduação em arquitetura e
As disciplinas práticas são desenvolvidas no ateliê, com exercícios
urbanismo. Porém, não é possível fazer uma análise do curso como
projetuais, entregues em etapas, e acompanhados pelos professores
um todo, pois resultaria numa análise pouco precisa, ou num
através de atendimentos. Têm uma dinâmica bem diferente das
trabalho muito extenso. Como forma de direcionar o estudo, foram
aulas teóricas. Foi buscada uma diversidade de campos trabalhados
selecionadas cinco disciplinas como objeto para esta pesquisa:
na escola, dentre os cinco grupos de disciplinas projetuais da
• AUT 510 – Geometria Aplicada à Produção Arquitetônica FAUUSP – Planejamento Urbano e Regional, Paisagem e
Ambiente, Projeto de Edificações, Desenho Industrial,
• PCC 201 – Geometria Descritiva
Programação Visual. Destes cinco grupos, não foi selecionada
• AUP 146 – Arquitetura Projeto II disciplina de Planejamento Urbano e Regional, nem de
• AUP 446 – Design do Objeto Programação visual, devido às escalas de trabalho, que pendem ao
bidimensional.
• AUP 650 – Arquitetura da Paisagem

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Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais Como Instrumental Para o Desenvolvimento da Visão Espacial em Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
Análise das Disciplinas

Ao focar na questão gráfica e nas menores dimensões, a 2. Método de Trabalho


Programação visual se compromete mais com o plano que com o O método de trabalho previsto no projeto da pesquisa é o
espaço. É possível um trabalho que envolva objetos acompanhamento integral das disciplinas. Não foram realizados os
tridimensionais, mas neste ponto entra no limite entre Programação trabalhos propostos, mas foram acompanhadas as aulas, os
Visual e Desenho Industrial. desenvolvimentos de trabalho e avaliações, sempre registradas
Já o Planejamento Urbano e Regional, ao abarcar uma grande verbalmente em caderno, e graficamente, através de fotografias e
extensão territorial, acaba por abrir mão da espacialidade em prol desenhos.
da visão planificada dos mapas e fotos aéreas. Ao entrar numa O retorno a estas disciplinas dos primeiros anos do curso após a
escala mais volumétrica, do Desenho Urbano, está na fronteira com passagem por quase todas as disciplinas obrigatórias permite uma
a Paisagem e Ambiente. avaliação crítica, auxiliada amplamente pelas referências teóricas
Dos três grupos, Paisagem e Ambiente, Projeto de Edificações e estudadas durante o processo de construção do projeto e do
Desenho Industrial, foi selecionada a primeira disciplina de cada. desenvolvimento da pesquisa.
Duas do primeiro ano, AUP 146 (que devido a reformulações de Também foi muito importante neste “trabalho de campo” a
currículo se tornou a primeira disciplina de projeto de edificações, colaboração dos professores e monitores das disciplinas, sempre
apesar de se chamar Arquitetura Projeto II) e AUP 650, e uma do muito solícitos. Além de permitir o acompanhamento das
segundo ano, AUP 446. Devido à posição no curso, pudemos atividades e o acesso aos materiais das disciplinas, também foram
perceber inclusive algumas diferenças de enfoque no uso das importantes interlocutores para o desenvolvimento das análises.
representações, como veremos nas análises. Além disso, foi muito constante o diálogo com os alunos que
estavam cursando as disciplinas no momento, trazendo suas
críticas, percepções e dúvidas.
Por uma questão de calendário, as três disciplinas práticas,
acompanhadas no segundo semestre de 2006, ficaram sem seu
último exercício, pois o encerramento do semestre letivo coincidiu Um item fundamental nesta análise foi a criação das Fichas de
exatamente com o encerramento desta pesquisa. Ainda assim, foi Disciplina, não prevista no projeto de pesquisa, mas elaborada ao
possível abarcar praticamente todas as atividades, de modo que o longo dos primeiros meses. O objetivo desta ficha é organizar e
enfoque dado às representações do espaço em cada uma pôde ser direcionar a materialização desta pesquisa, além de dar uma base
caracterizado. comum para a análise de disciplinas de caráter muito diverso.
Desta forma, toda a análise das disciplinas está materializada
através destas fichas. Cada ficha vai acompanhada da ementa e do
programa de aulas do semestre.

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Análise das Disciplinas

3. Fichas de Disciplina
Estão anexadas as fichas de avaliação de disciplina, acompanhadas
dos respectivos programas de aula.
• AUT 510 – Geometria Aplicada à Produção Arquitetônica
• PCC 201 – Geometria Descritiva
• AUP 146 – Arquitetura Projeto II
• AUP 446 – Design do Objeto
• AUP 650 – Arquitetura da Paisagem

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FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA - Folha 1

FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA 2. AULAS E EXERCÍCIOS


Metodologia:
1. DADOS Aulas expositivas (sala de aula) acompanhadas e realização de
Nome: AUT 510 – Geometria Aplicada à Produção Arquitetônica trabalhos práticos em aula. Os trabalhos serão recolhidos ao fim de
cada aula.
Professores: Ângela Rocha, Rosaria Ono
(do programa de aulas)
Monitor: Marcos Vargas Valentin
As professoras utilizam desenhos instrumentados na lousa, e
Carga Horária: 30 (2 horas semanais, curso semestral) transparências para retroprojetor.
Alunos (por turma): 40 Sistemas de Representação Utilizados:
Semestre: primeiro Vistas Ortogonais, Croquis na lousa, Desenhos Instrumentados.
Todos os trabalhos são realizados em papel A3, sempre com
Objetivos: margem e etiqueta. Iniciam-se com vistas ortogonais (fachadas) e
Desenvolver o raciocínio espacial e a compreensão dos meios de secções (planta e corte), passando depois para perspectivas paralelas
expressão e representação gráfica em arquitetura. Estudar os e cônicas.
fundamentos da geometria aplicada à organização tridimensional Também são objetos desta disciplina os instrumentos e a linguagem
do espaço. Propiciar, de modo sistemático e específico, o utilizada. Faz um primeiro contato do aluno ingressante com o
desenvolvimento da capacidade de organizar graficamente o instrumental do desenho técnico.
pensamento visual e habilidade de desenhar.
(do programa de aulas. Programa anexo)
Introduz o aluno recém ingresso na escola ao instrumental do
desenho, às noções de representação, linguagem arquitetônica,
escala, convenções, etc.

Pesquisa de Iniciação Científica


Bolsista FAPESP: Marcos Kiyoto de Tani e Isoda
Professor Orientador: Luis Antonio Jorge
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FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA - Folha 2

3. ANÁLISE Essa série de exercícios que trabalha com vistas ortogonais busca
familiarizar o aluno com o instrumental do desenho técnico – régua
Na primeira aula é aplicado um exercício de desenho de observação, paralela, esquadros, escalímetro, etc. É muito importante, pois o
tendo como modelo um bloco de concreto. Difere um pouco dos instrumental é indissociável da linguagem do desenho técnico.
demais exercícios do curso, por não se tratar de desenho
arquitetônico, mas de um desenho à mão livre. Isso por que neste
primeiro dia de aula os alunos acabaram de receber a lista de A abstração do corte é desenvolvida posteriormente, com um relevo
material necessária ao curso, que parte de uma planta de malha quadrada, iniciando também o
desenho em perspectiva paralela. Dado uma seqüência de cortes
É importante ressaltar que este exercício é um dos poucos que tem
num sentido, é solicitado um outro corte, transversal aos demais,
em seu enunciado um elemento tridimensional, o próprio bloco. O
além da construção da perspectiva isométrica e da implantação de
que se enuncia é um objeto real, e não uma idéia geométrica, com
um volume prismático neste relevo. Ao solicitar o corte transversal,
todas as suas implicações, desde o volume e peso no transporte, até
é exigida do aluno a capacidade de mudar a direção do plano de
as imperfeições e as diferentes interpretações dos alunos.
projeção, atravessando a bidimensionalidade do papel.

Os primeiros exercícios de desenho instrumentado objetivam


fundamentalmente desenvolver o lado operativo, como a margeação
da folha e a legenda técnica. Introduz-se a noção de escala através
da representação de uma parede de tijolos, objeto fundamentalmente
plano, em planta e elevação, e em diversas escalas.
Em seguida é dada uma planta, muito simples, para ser copiada, e O que se exige é uma construção mental do volume ideal, a partir
partir dela é solicitado o corte. Aqui é introduzida a visão das informações dadas, e o instrumento sugerido para esta
tridimensional a partir do bidimensional, necessária no rebatimento construção é a perspectiva axonométrica.
do plano horizontal para o vertical.

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Bolsista FAPESP: Marcos Kiyoto de Tani e Isoda
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FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA - Folha 3
Aqui aparecem indícios de dificuldade de compreensão da As helicóides são representadas com linha cheia nos trechos visíveis
linguagem da perspectiva. Alguns alunos se confundem com a e linha tracejada nos trechos ocultos pelo sólido. A correta
ambigüidade entre as linhas horizontais e verticais na perspectiva representação desta convenção exige do aluno uma maior
axonométrica. Cabe lembrar que o objetivo deste exercício é visualização espacial que apenas a construção da helicóide, que
trabalhar mais os cortes que a perspectiva. pode ser realizada mecanicamente. Deste modo, apenas utilizando
as projeções ortogonais, obtém-se uma compreensão volumétrica do
sólido bastante eficiente.
Os exercícios seguintes são visualizações de sólidos geométricos –
cone e toro – representados apenas com vistas ortogonais. Os
volumes, que são gerados a partir da rotação de figuras planas Ainda trabalhando com as vistas ortogonais, é aplicado um
simples, são “modelados” desenhando-se grelhas regulares em suas exercício de épura, par de projeções ortogonais utilizado pela
superfícies. Estas superfícies são “tateadas” pelos alunos através da Geometria Descritiva (GD). É solicitada ao aluno a construção da
construção de helicóides que se desenvolvem dentro desta grelha. terceira vista, a partir de duas dadas, de um quadrado plano na
vertical. Aparentemente simples, o exercício torna-se extremamente
mais complexo nas etapas seguintes, quando são realizadas dobras
diagonais no quadrado.

Põe-se em questão a dificuldade de representação de elementos


diagonais nas vistas ortogonais. A ênfase aqui é muito mais na
visualização e na tensão entre representação e tridimensionalidade
que nas normatizações e nomenclaturas. A realização por parte dos
alunos demandou o uso de modelos em papel, ou utilizando os
esquadros, para auxiliar a visualização.

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FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA - Folha 4

O exercício seguinte trabalha com uma planta de uma sala com piso
Mesmo sendo um exercício bastante simples, a correta reticulado a cada 1m, na qual serão inseridos painéis, simulando
nomenclatura dos pontos mostrou-se um elemento extremamente uma exposição. O aluno deve alocar os painéis na planta, e desenhá-
importante para eliminar dubiedades na execução e leituras das los na perspectiva. Desta vez é fixado o ponto de vista, inclusive a
épuras. De onde se conclui que a GD é um sistema que alia duas altura do observador, em relação à sala, mas são alterados os
linguagens distintas, a gráfica e a verbal. painéis, de maneira que cada aluno construa uma perspectiva
Além disso, é um dos poucos exercícios que traz em seu enunciado diferente.
um objeto tridimensional. Porém, ele difere daquele primeiro
exercício de observação do bloco, onde se visava uma representação
especificamente daquele bloco real. Neste, o modelo de papel não é
o objeto representado, ele é também uma representação,
tridimensional, do objeto do exercício. O quadrado do exercício é
ideal, sem espessura, muito menos imperfeições. Cada modelo de
papel construído pelos alunos é uma representação tridimensional
daquele mesmo quadrado ideal enunciado.

É introduzida em seguida a perspectiva cônica (quase


simultaneamente à disciplina PCC 201), com um exercício bastante
simples e elementar. São feitas três perspectivas de um mesmo
cubo, a partir de uma mesma distância e ângulo, variando apenas as O que se busca, em ambos exercícios, é fazer o aluno perceber
alturas, de modo que na primeira apareça apenas a face lateral, e nas como trabalham algumas das inúmeras variáveis que compões o
seguintes a inferior e a superior respectivamente. sistema da perspectiva.
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Bolsista FAPESP: Marcos Kiyoto de Tani e Isoda
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FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA - Folha 5

Todos exercícios apontam para dois objetivos principais:


desenvolver a capacidade de raciocinar espacialmente através de
representações bidimensionais; e desenvolver a habilidade
materializar estas representações.
De início, a maior dificuldade dos alunos é com a operação dos
instrumentos (régua paralela, escalímetro, esquadros), motivo pela
qual os primeiros exercícios não exigem muito raciocínio espacial.
Além disso, são introduzidas as primeiras noções de desenho
técnico, espessuras de linha, tracejados, etc., que são objeto da
disciplina que dá seqüência a esta.
Paulatinamente vão sendo trabalhados diversos tipos de sistema,
através de exercícios muito elementares, que fazem o aluno
compreender mais perceptivamente as lógicas internas de cada um.
É propositalmente deixado em segundo plano o ensino exato da
geometria das perspectivas, em troca de um maior desenvolvimento
do uso mais empírico, mais intuitivo.
Parte disso se deve também à carga horária, que exige um curso
compacto; parte à existência da disciplina PCC 201, que é
ministrada concomitantemente, e que trabalha a geometria de
maneira mais exata. Juntas têm grande potencial para trabalhar de
maneira complementar.

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Bolsista FAPESP: Marcos Kiyoto de Tani e Isoda
Professor Orientador: Luis Antonio Jorge
FAUUSP
1º Semestre 2006
AUT- 510 Geometria Aplicada à Produção Arquitetônica
Professores: Ângela M. Rocha e Rosaria Ono

Créditos-Aula: 2
Aulas: 5as-feiras das 8:00 às 10:00hs (Turmas 1 e 2)
das 10:00às 12:00hs (Turmas 3 e 4)

Objetivos:
Desenvolver o raciocínio espacial e a compreensão dos meios de expressão e representação gráfica
em arquitetura. Estudar os fundamentos da geometria aplicada à organização tridimensional do
espaço. Propiciar, de modo sistemático e específico, o desenvolvimento da capacidade de organizar
graficamente o pensamento visual e habilidade de desenhar.

Método de Trabalho:
Aulas expositivas (sala de aula) acompanhadas e realização de trabalhos práticos em aula. Os
trabalhos serão recolhidos ao fim de cada aula.

Material para Uso em Aula:


• Folha de Papel Sulfite – Tamanho A3 (297mm x 420mm)
• Jogo de esquadros acrílicos de 45o e de 30o / 60o sem graduação e com espessura de 2mm,
com cateto maior medindo aprox. 25cm
• Escala triangular (1:20; 1:25, 1:100; 1:50; etc.)
• Compasso
• Grafite Tipo HB para compasso
• Lixa para grafite do compasso
• 1 Lapiseira para grafite ∅=0,7mm
• 1 Lapiseira para grafite ∅=0,5mm
• 1 Lapiseira para grafite ∅=0,3mm
• Grafite ∅=0,7mm Tipo B
• Grafites ∅=0,5mm Tipo HB
• Grafites ∅=0,3mm Tipo HB
• Borracha macia para desenho
• Fita adesiva
• Lápis de cor (12 cores)

Avaliação:
Presença e participação em aula, representados pela realização dos exercícios propostos (freqüência) e
avaliação dos mesmos.

Bibliografia
ABNT - Representação de projetos de arquitetura - NBR 6492.
CHING, Francis D. K..- Dicionário Visual de arquitetura - São Paulo: Martins Fontes, 2000.
DEUSEBIO, Mauro e PAGANO, Clara - La tecnica al servizio dell´uomo - Torino: Il Capitello, 1992.
MACHADO, Ardevan - Perspectiva - São Paulo: Pini, 1988.
PORTER, Tom e GREENSTREET, Bob - Manual de técnicas gráficas para arquitectos, diseñadores y
artistas - Barcelona: Gustavo Gili, 1987.
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FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA 2. AULAS E EXERCÍCIOS


Metodologia:
1. DADOS O conteúdo teórico da disciplina PCC0201 visa principalmente
Nome: PCC 201 – Geometria Descritiva desenvolver habilidades (intelectuais e manuais). Para o
desenvolvimento deste tipo de conteúdo o estudo não basta; é preciso
Professores: Eduardo Toledo, Rovilson Mafalda praticar. E nossa prática vem na forma de exercícios e avaliações.
Assim, durante o curso, os alunos serão requisitados a fazer vários
Carga Horária: 30 (2 horas semanais, curso semestral)
exercícios que serão avaliados pelo professor. As avaliações têm a
Alunos (por turma): 40 finalidade de verificar mais profundamente os conhecimentos
adquiridos. (do programa de aulas)
Semestre: primeiro
Sistemas de Representação Utilizados:
Objetivos:
Vistas Ortogonais, Épura, Croquis na lousa, Desenhos
Ajudar e dar subsídios para o aluno:
Instrumentados. Perspectivas Paralelas e Cônicas.
• Compreender a teoria sobre as projeções e perceber as
Os exercícios são realizados em folhas impressas dadas ou no
conseqüências da aplicação dela na obtenção de soluções gráficas e
caderno, a partir de enunciados dados. As aulas iniciam-se com o
de representações utilizadas habitualmente na comunicação de dados
ensino da épura, seguida das vistas ortogonais, passando depois para
espaciais no ambiente técnico.
perspectivas paralelas e depois cônicas, incluindo as sombras.
• Experimentar a aplicação da teoria das projeções em exercícios de
Para apresentar os exercícios, são utilizadas perspectivas, de
complexidade variada. Isso se fará através dos usos dos métodos
preferência paralelas, em transparência para retroprojetor ou
mais comumente utilizados ou os mais adaptados ao tipo de
desenhado na lousa, à mão livre ou instrumentado.
raciocínio e/ou habilidade desejada ao profissional de arquitetura.
• Desenvolver critérios de avaliação do método mais eficiente e
vantajoso para conseguir produzir uma representação que
comunique com a clareza adequada a solução de problemas
geométricoespaciais.
• Encontrar-se apto a desenvolver a sua capacidade de interpretação
e de solução de problemas espaciais nas demais disciplinas do curso,
usando métodos básicos e avançados.
(do programa de aulas. Programa anexo.)

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3. ANÁLISE
Nos exercícios de Geometria Descritiva (GD), que trabalha
fundamentalmente com a Épura, par de vistas ortogonais, percebe-
se uma dificuldade de abstração muito grande por parte dos alunos.
No material de aula do professor é indispensável a utilização de
perspectivas, sempre paralelas, representando os diedros. O uso
destas perspectivas isométricas geralmente esclarece, apesar de
eventualmente ocorrer alguma ambigüidade.

Passado o período inicial de familiarização, boa parte dos alunos


consegue trabalhar somente com a Épura, resolvendo os problemas
dados de maneira lógica dentro do sistema da GD, mas a
necessidade de visualização ainda é extremamente presente.

Apesar de se basear exclusivamente em imagens planas para


apresentar os exercícios, com alguma freqüência foi necessário
Conforme recomendação dos próprios professores, os alunos devem valer-se de elementos tridimensionais para esclarecer algumas
desenvolver a capacidade de resolver os problemas de maneira situações.
lógica, não intuitiva, procurando minimizar a necessidade de
visualização dos problemas.
A GD trabalha com um léxico gráfico bastante simples. Todos os
elementos são redutíveis a pontos e linhas, com pouca variação de
espessura ou qualidade (linha cheia ou tracejada, e eventualmente
cores, principalmente quando feito na lousa). Por outro lado, a
nomenclatura extremamente normatizada é essencial para a correta
utilização da épura, e que é posta em segundo plano freqüentemente
pelos alunos. Deste modo, a representação gráfica dos exercícios
fica extremamente abstrata e difícil de visualizar, pela simplicidade
dos elementos gráficos, e também extremamente codificada, devido
às nomenclaturas necessárias.
De forma improvisada, foram utilizados esquadros e folhas de papel
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representando planos, réguas e canetas representando retas. Ou de Os exercícios de perspectiva cônica também se baseiam no modelo
maneira mais simples, os próprios braços em relação à lousa ou à de projeção da GD. As aulas são baseadas nos métodos de execução
tela de projeção, representando direções de planos e retas. Fica (denominados de método das visuais, método das fugantes e método
evidente que a representação espacial de situações espaciais é um dos arquitetos), que diferenciam-se apenas pela forma de
recurso alternativo bastante eficaz em relação à representação plana, organização das etapas de produção, sendo o raciocínio
mesmo que precariamente. geométricoespacial essencialmente o mesmo.
Os exercícios seguintes, de sombras nas perspectivas paralelas e
As perspectivas paralelas são trabalhadas na segunda metade do cônicas nada mais são que desdobramentos dos conceitos já
curso (inicia-se com as paralelas, axonométricas e particularmente a apresentados, pois trabalham dentro dos mesmos sistemas de
isométrica, a cavaleira, e por fim a cônica). São trabalhados os projeção já apresentados.
conceitos que geram os diferentes tipos de projeção, sempre
baseado no modelo de projeção da GD. Os exercícios de
Perspectiva paralela são apresentados a partir de projeções em
épura, ou a partir de outro sistema de perspectiva, de modo que o
aluno é solicitado a ler a representação dada, convertendo o objeto
representado em uma forma geométrica abstrata, e representa-la
novamente de acordo com outro sistema.

É dada grande ênfase nos processos operativos da produção da


projeção, chegando a dificultar o entendimento dos alunos. As
abstrações e conceitos que geram a perspectiva cônica acabam
ficando muito incertos para os alunos, que acabam realizando-a
mecanicamente.

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FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA - Folha 4

Os exercícios partem geralmente de uma vista superior e de uma


vista lateral, com plano de projeção e observador dados. Muito do
que foi constatado da dificuldade dos alunos foi proveniente da
insegurança nas etapas de execução. Em alguns casos, por não
saberem exatamente como proceder, acabam traçando
mecanicamente todas as visuais possíveis, resultando num
emaranhado de linhas incompreensível. Noutros casos, traçam
muito poucas linhas, temendo cometer erros.
Esses tipos de atitude são decorrentes da falta de domínio da
linguagem, e demonstram a necessidade de mais exercícios práticos,
para que os alunos adquiram experiência. Acreditamos inclusive
que a inclusão dos exercícios desde o início de cada novo sistema de
representação ajuda a melhor compreender os conceitos. Mas
Entre diversos outros parâmetros mais exatos de comparação
também sabemos que a carga horária é escassa para todo o conteúdo
apresentados, como a agilidade da execução, a facilidade no traçado
necessário.
de curvas, a relação entre objeto e plano de projeção, etc., a
semelhança com a imagem visual do objeto real é uma característica
Os diversos sistemas são freqüentemente comparados entre si pelo muito subjetiva. E, teoricamente, todo tipo de projeção
seu resultado mais ou menos “parecido” com a imagem do objeto bidimensional de uma imagem é igualmente correto, dependendo da
real, de maneira muito empírica. Deste modo, acaba-se posição relativa entre observador e objeto.
subestimando um conceito já explicitado pelos professores no
começo do curso de que toda a representação plana é uma
Outro problema encontrado foi a utilização de um sistema de
deformação sistemática da imagem do objeto tridimensional, na
representação para demonstrar outro sistema de representação. A
medida em que suprime uma dimensão. Ou seja, não é possível
cada novo sistema introduzido, foram apresentadas diversas
quantificar quanto algum sistema de projeção é mais ou menos
imagens planas para demonstrar os princípios do sistema em
parecido, pois todos são representações do objeto.
questão. Porém, este método traz um problema de princípio: o que
se tem é uma representação da representação. Aquilo que é tido
como o objeto perante um plano já é uma representação do objeto, e
não o objeto em si, e a projeção é uma representação dela. Portanto,
apresenta-se uma imagem com dupla deformação.

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Bolsista FAPESP: Marcos Kiyoto de Tani e Isoda
Professor Orientador: Luis Antonio Jorge
Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais como Instrumental para o Desenvolvimento da Visão Espacial em Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA - Folha 5

Não se trata de um problema específico desta disciplina, pois ocorre


também em outros casos analisados nesta pesquisa. É um problema
de método, e da própria natureza das representações. As
representações planas são de transporte e uso extremamente mais O aluno precisa antes compreender o funcionamento lógico-espacial
simples que as espaciais, sendo por isso muito mais utilizadas como do sistema, e adquirir confiança nele, para posteriormente confiar a
material didático. este sistema a resolução de problemas complexos, mesmo que não
consiga visualizá-los. Ele precisa confiar nas operações, ter certeza
que está executando etapas que o levam a um resultado esperado. É
O que pudemos perceber é que, de uma maneira geral, há uma justamente o que falta nos primeiros contatos com cada sistema. A
grande necessidade de visualização espacial dos exercícios por parte incerteza dos resultados intimida a execução, que acaba sendo
dos alunos. Os professores procuraram deixar claro que o desenho realizado mecanicamente.
geométrico não se resolve pela visualização, mas pela lógica.
No entanto, constatamos que essa visualização deve ser estimulada O método de trabalho desta disciplina é bastante diferente da
na apresentação de cada novo sistema de representação utilizado. disciplina AUT 510, oferecida concomitantemente a esta, que
Por isso percebemos a freqüência de uso de outros sistemas de trabalha as representações bidimensionais de maneira mais intuitiva.
representação para auxiliar a visualização, como perspectivas nas Juntas têm grande potencial para trabalhar de maneira
apresentações de novos sistemas de representação, sejam em complementar.
imagens preparadas para retroprojetor, seja em croquis na lousa. E
quando necessário, o uso de elementos espaciais improvisados,
como esquadros, folhas de papel, ou mesmo os próprios braços
gesticulando em frente à lousa ou à tela de projeção.

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PCC0201 – GEOMETRIA DESCRITIVA - 1° SEMESTRE 2006 – FAU 7. MATERIAL
http://ead.redealuno.usp.br/moodle (EPPCC0201) O material necessário para fazer os exercícios de desenho é: lápis ou lapiseira (0.5mm) com
grafite HB e 2B, jogo de esquadros (30/60 e 45 graus), escala (régua graduada transparente), borracha
1. APRESENTAÇÃO plástica (vinil), compasso e folhas sulfite formato A4.
A disciplina PCC0201 é oferecida pelo Departamento de Engenharia de Construção Civil da
Escola Politécnica aos alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo que idealmente estão no 1º 8. QUADRO DE AULAS COM O CONTEÚDO DO CURSO
semestre. Estes alunos ingressantes entrarão em contato com os fundamentos teóricos do desenho e
com as normas técnicas da representação gráfica. Data Aula Temas
2. COORDENAÇÃO E AULAS 20/02/2006 00 Apresentação
27/02/2006 -- Não há aulas (Carnaval)
Coordenação: Prof. Rovilson Mafalda (rovilson.mafalda@poli.usp.br), Edifício de
Engenharia Civil - PCC, Fone: 3091-5388. Aulas: Prof. Rovilson e Eduardo Toledo. 06/03/2006 01 Proj. Cil. Ortogonal / sistema mongeano - Pontos
13/03/2006 02 Retas – paralelismo, perpendicularismo, retas reversas
3. OBJETIVOS DO CURSO 20/03/2006 03 Retas – posições particulares – Planos, traços
Ajudar e dar subsídios para o aluno: 27/03/2006 04 Intersecções entre Planos – Planos, Retas e Retas
• Compreender a teoria sobre as projeções e perceber as conseqüências da aplicação dela na Exercícios de intersecção entre Planos e Retas
03/04/2006 05
obtenção de soluções gráficas e de representações utilizadas habitualmente na comunicação de
dados espaciais no ambiente técnico. 10/04/2006 -- Não há aulas (Semana Santa)
• Experimentar a aplicação da teoria das projeções em exercícios de complexidade variada. Isso se 17/04/2006 06 Exercícios – AVAL P1
fará através dos usos dos métodos mais comumente utilizados ou os mais adaptados ao tipo de 24/04/2006 07 Formas tridimensionais - vértices, arestas e faces
raciocínio e/ou habilidade desejada ao profissional de arquitetura. 01/05/2006 -- Não há aulas (Dia do Trabalho)
• Desenvolver critérios de avaliação do método mais eficiente e vantajoso para conseguir produzir 08/05/2006 08 Formas tridimensionais - posições particulares
uma representação que comunique com a clareza adequada a solução de problemas geométrico- 15/05/2006 09 Perspectivas Axonométricas e Oblíquas
espaciais.
22/05/2006 10 Revisão Perspectivas – AVAL P2
• Encontrar-se apto a desenvolver a sua capacidade de interpretação e de solução de problemas
espaciais nas demais disciplinas do curso, usando métodos básicos e avançados. 29/05/2005 11 Projeções Cônicas: Método dos Arquitetos
05/06/2006 12 Projeções Cônicas: Método das Fugantes
12/06/2006 13 Exercícios sobre perspectivas
4. EXERCÍCIOS E PROJETO
19/06/2006 14 Sombras: Projeções Cônicas
O conteúdo teórico da disciplina PCC0201 visa principalmente desenvolver habilidades 26/06/2006 15 Sombras: Projeções Cilíndricas - AVAL P3
(intelectuais e manuais). Para o desenvolvimento deste tipo de conteúdo o estudo não basta; é preciso
03/07/2006 - SUB
praticar. E nossa prática vem na forma de exercícios e avaliações. Assim, durante o curso, os alunos
serão requisitados a fazer vários exercícios que serão avaliados pelo professor. As avaliações têm a 24/07/2006 - REC (NA POLI)
finalidade de verificar mais profundamente os conhecimentos adquiridos.
5. CRITÉRIO DE APROVEITAMENTO: 9. BIBLIOGRAFIA
N=7xE+3xA onde: E = média das notas dos exercícios. • Cavallin, José – GEOMETRIA DESCRITIVA.
10 A = média das avaliações • Cavallin, José – Lições de geometria descritiva: representação mongeana e sistema de projeções
cotadas.
6. FREQÜÊNCIA E SALA DE AULA
• Cavallin, José – Perspectiva linear cônica.
A freqüência mínima para aprovação é 70%. Falta numa aula implica em nota zero nos • Landi, F. R. - Desenho - Vol. I, II, III PCC-EPUSP
exercícios avaliados naquele dia. Os alunos matriculados nas Turmas 01 e 02 terão aulas das 8:00 às • Machado, Ardevan – Geometria descritiva: teoria e exercícios.
9:50 (sala 808 da FAU) e os alunos nas Turmas 03 e 04 das 10:10 às 12:00 (sala 803 da FAU).
• Machado, Ardevan – Perspectiva: teoria e exercícios.
É importante ser pontual, pois a teoria e as orientações necessárias à execução dos exercícios
• Montenegro, Gildo – A perspectiva dos profissionais.
serão passadas aos alunos já no começo da aula. No restante do tempo, os alunos desenvolverão o
trabalho prático, portanto é fundamental que não sejam interrompidos por seus colegas que chegam • Príncipe Júnior, Alfredo dos Reis – Noções de geometria descritiva.
atrasados com perguntas quanto ao que deve ser feito, ou ao que foi ensinado. • Rodrigues, Álvaro José - Geometria Descritiva.
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FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA - Folha 1

FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA


2. AULAS E EXERCÍCIOS
1. DADOS Metodologia:
Nome: AUP 146 – Arquitetura Projeto II A disciplina será desenvolvida em 15 atividades conforme o
cronograma, constando de aulas expositivas, trabalhos de estúdio e
Professores: Adilson Costa Macedo, Anália Maria Marinho de
seminários de avaliação.
Carvalho Amorin, Bruno Roberto Padovano, João Carlos de
Oliveira César, Rafael Antonio Cunha Perrone, Rodrigo Cristiano Exceto a primeira fase, os trabalhos serão todos individuais. Para
Queiroz, Sylvio Barros Sawaya. os trabalhos de estúdio os alunos serão agrupados em turmas, sob
responsabilidade de um professor.
Monitores: Aline Nassaralla Regino, Emanoela C. Cardoso, Pier
Paolo Bertuzzi Pizzolato, Thomas Sula Elzesser Todos os desenhos inclusive croquis serão realizados em papel
transparente (manteiga ou vegetal) no formato A2.
Carga Horária: 60 (4 horas semanais, curso semestral) Outros elementos como fotos, memoriais e tabelas deverão, para a
Alunos (por turma): 150 entrega, ser montados ou realizados também em papel formato A2.
(sulfite ou similar)
Semestre: segundo
As maquetes ou modelos serão executados sobre base rígida em
Objetivos: formato A2. O método de execução ficará a critério do aluno.
Esta disciplina tem como principal objetivo levar os alunos a (do programa de aulas)
compreender os elementos envolvidos no processo de projeto.
Pretende também desenvolver suas aptidões para as representações Sistemas de Representação Utilizados:
do espaço arquitetônico e inicia-los na resolução de programas de Vistas Ortogonais – Planta, Corte e Elevação, Perspectivas,
necessidades específicos. Modelos Tridimensionais.
(do programa de aulas. Programa anexo) A análise da região é feita através da planta do GEGRAN e visitas à
Neste semestre especificamente foi proposto o projeto de um campo, levantando-se graficamente as fachadas dos edifícios do
edifício habitacional com comércio e serviços no térreo. Este entorno e seus usos.
edifício será inserido num contexto urbano real dado. São feitos modelos tridimensionais do entorno, para ser utilizado
durante a fase de projeto. Todas as entregas incluem modelo
tridimensional.

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3. ANÁLISE urbano, a representação da arquitetura, a modulação e a


construtibilidade.
A disciplina propõe um único projeto individual, a ser desenvolvido
ao longo do semestre. A partir de um terreno dado, um trecho de
quadra na Lapa, os alunos desenvolverão o projeto de um edifício
de uso múltiplo, com predominância de habitação, e usos de
comércio e serviço mais ligados à rua.
O exercício é dividido em algumas etapas, como forma de
direcionar o trabalho dos alunos. Todas as etapas baseiam-se no
produto de entrega, definidos de acordo com o que se pretende
desenvolver em cada uma.

A primeira etapa é o levantamento de campo, realizado em grupo.


São solicitados a cada grupo um levantamento das fachadas das
quadras circundantes, dois cortes do terreno, incluindo os edifícios
adjacentes, plantas de usos e fotos. O que se busca através da
solicitação deste material é um levantamento do local, volumétrico e
funcional.
Os alunos tiveram dificuldade em realizar este exercício, desde
problemas para levantar as medidas e representar as fachadas, até
Paralelamente ao início do desenvolvimento do trabalho, são problemas na compreensão da proposta do exercício. Por ser o
apresentadas algumas aulas expositivas, para introduzir os alunos às primeiro exercício, ainda não havia um diálogo muito estabelecido
questões postas pelo projeto, como relação com a rua e o espaço
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entre professores e alunos. apenas pelo nível de desenvolvimento do projeto que se pretende
alcançar em cada uma delas.
A segunda etapa, ainda em grupo, é a realização do modelo
volumétrico, a partir do levantamento da primeira etapa. Este
modelo visa dar uma noção tridimensional do espaço de trabalho,
através da espacialização do levantamento da primeira etapa, e
assim subsidiar a discussão do projeto que será desenvolvido a
seguir. Ele deve representar a volumetria do entorno, com o terreno
do projeto vago, para posterior uso durante o projeto. Espera-se que
os alunos realizem modelos do projeto, e analisem sua relação com
o entorno colocando-os no espaço deste modelo.
A terceira etapa é um Estudo Preliminar, a ser apresentado em
plantas, cortes e elevações na escala 1:200 e modelo volumétrico.
Deve conter o partido do projeto, a concepção geral.
A quarta etapa é o projeto das unidades habitacionais, que deve ser
apresentada em plantas, cortes e elevações na escala 1:100 e modelo
volumétrico. Espera-se neste momento um desenvolvimento mais
detalhado das habitações.
A quinta etapa é o plano de massas, com plantas, cortes e elevações
na escala 1:100 e modelo volumétrico, onde se espera uma
reavaliação do conjunto, agora mais detalhado.
Todo o desenvolvimento do projeto é acompanhado por
atendimentos no estúdio, onde cada professor abarca um grupo de
alunos. Durante os atendimentos, os professores procuram
encaminhar os alunos a soluções espaciais e funcionais. Também há
a necessidade de debater estrutura, conforto ambiental,
representação, legislação, questões ainda pouco estudadas pelos
alunos do primeiro ano.

As próximas etapas consistem no desenvolvimento do projeto


propriamente dito, individualmente, e estão divididas em três etapas
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A produção de desenhos técnicos, com escala e todas as demais
convenções gráficas, só é realizada no momento das entregas de
etapa. Durante a concepção, incluindo os atendimentos com
professores, são utilizados mais croquis sem escala, com plantas
esquemáticas ou perspectivas distorcidas.

Durante o trabalho, pode-se observar uma grande dificuldade, por


parte dos alunos, de se expressar graficamente. Com freqüência são
apresentadas plantas que cruzam vários níveis, numa tentativa de
economia gráfica, gerando indefinições espaciais. Além disso,
percebe-se uma quase total ausência do uso de cortes no início dos
trabalhos. Quando surge a necessidade de compreender
espacialmente, é mais comum a utilização de croquis-perspectiva,
de pouca precisão.

Somente com a proximidade da entrega de uma etapa é que são


produzidos desenhos com precisão, muitos deles não utilizados
durante a concepção do projeto, de modo que ao ser produzido em
escala e com precisão, traz informações novas, às vezes
surpreendentes. O desenho técnico, instrumentado, não é utilizado
como instrumento de concepção, mas como um produto solicitado
para a entrega, uma obrigação. O mesmo ocorre com as maquetes,
os modelos não são produzidos na busca pela percepção da
espacialidade, apenas como cumprimento de tarefa.

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Após a entrega da primeira etapa, quase todos os alunos já possuem
os desenhos técnicos com escala e os modelos, o que permite um
melhor diálogo com os professores no atendimento.

Mesmo tendo produzido os modelos apenas no momento da entrega,


É comum a apresentação de desenhos pouco contextualizados. ele traz uma leitura espacial que ajuda a impulsionar a continuação
Elevações sem plano de solo, cortes sem entorno, plantas que do projeto. Os professores se utilizam muito dos modelos durante a
terminam no limite do lote, não representando as ruas, as calçadas fase de avaliação, principalmente por que eles são de leitura mais
ou o entorno, etc. A ausência destas referências, além de dificultar a fácil perante um grupo de alunos, e permitem uma leitura rápida do
leitura das imagens, ainda encaminha para soluções projetuais que partido do projeto, em comparação aos desenhos.
não se relacionam com o espaço circundante.

Nos desenhos, percebe-se um uso muito maior de elevações que de


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cortes, ainda que estes sirvam mais à resolução funcional e espacial.
Os alunos sentem dificuldade de compreender e utilizar os cortes, e
acabam deixando sua produção para o final, muitas vezes abrindo
mão deles devido aos prazos de entrega. Por outro lado, não há a
mesma hesitação no uso da planta, ainda que a abstração geométrica
necessária para sua produção seja a mesma do corte.

Ao longo da disciplina é possível perceber um desenvolvimento no


uso da linguagem gráfica, ainda que algumas dificuldades
Mesmo após a produção e entrega de uma etapa de projeto, os persistam. De um modo geral, os alunos vão se familiarizando com
alunos ainda não se sentem seguros para continuar desenhando. Não os diversos sistemas de representação. Aos poucos vai aumentando
há o entendimento da representação, desenhos e maquete, como um a variedade de sistemas utilizados, e os alunos percebem que a
instrumento de projeto, mas apenas como um produto solicitado expressão gráfica é fruto da necessidade, e não uma
para apresentação. É necessário um tempo de assimilação, para obrigatoriedade. Também é possível perceber uma grande
“cair a ficha”, o que nem sempre se concretiza no tempo de um heterogeneidade na utilização destes sistemas. Cada aluno tem um
semestre. desenvolvimento distinto no uso dos sistemas de representação, pois
o aprendizado é sempre individual.
Há uma idéia arraigada nos alunos de que o desenho,
principalmente o técnico, é precioso, em parte devido ao trabalho
despendido para se executar com precisão. Assim, há uma cisão
muito grande entre os croquis da concepção e os desenhos técnicos
da entrega. Na continuação do projeto após a entrega, os desenhos
técnicos são trabalhados com muita parcimônia, pelo medo de
“estraga-los”.

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produzindo uma maquete, etapas que os alunos tiveram bastante
dificuldade de realizar. Ao entrar na questão projetual, o problema
se agrava, pois se trata não mais de um espaço pré-existente, mas
um espaço que está sendo concebido.
Os alunos trazem muitas idéias, mas poucas representações gráficas,
sem perceber que o desenvolvimento do projeto ocorre no momento
em que se materializam as idéias. Há a necessidade de estimular
mais os alunos a utilizar a representação como linguagem de
expressão e pensamento, sobretudo nos atendimentos, momento de
acompanhamento da concepção das formas, cujo enfoque está mais
na questão projetual.
A apresentação do projeto por etapas, ainda que de maneira um
tanto forçada, colabora para o estímulo da produção dos alunos e
Outro desenvolvimento interessante percebido nos alunos é a impulsiona a continuidade do projeto.
percepção do espaço construído da cidade. Através da realização de
um exercício projetual, ou seja, através da representação de uma
intervenção na cidade, os alunos passaram a ter mais atenção às
construções existentes. Aos poucos, vão desenvolvendo senso
analítico e crítico sobre a realidade física da cidade, que
cotidianamente passava despercebida. É o aprofundamento da
percepção através da representação e da proposição sobre o mundo.

Os professores, de uma maneira geral, estão discutindo a


organização funcional, espacial e estrutural dos projetos, que é o
foco da disciplina, porém diversas vezes esbarram em problemas de
representação, ou da ausência dela. Existe a necessidade de
trabalhar mais a habilidade de representação dos alunos, tarefa
difícil de incluir numa disciplina de carga horária tão reduzida,
metade da disciplina AUP 650 (ministrada no mesmo semestre, e
que enfrenta o mesmo tipo de problemas de representação).
Os primeiros exercícios caminham nesta direção, ao propor uma
leitura do local de projeto através de representações, desenhando,
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1.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
DEPARTAMENTO DE PROJETO - GDPR

AUP 0146 Arquitetura Projeto II 2º Semestre/2006

Professores: Prof. Dr. Adilson Costa Macedo


Prof. Dr. Anália Amorim
Prof. Dr. Bruno Padovano
Prof. Dr. João Carlos de Oliveira Cesar
Prof. Dr. Rafael Antonio Cunha Perrone
Prof. Dr. Rodrigo Queiroz
Prof. Dr. Sylvio Barros Sawaya

Monitores: Aline Nassaralla Regino


Emanoela C. Cardoso
Pier Paolo Bertuzzi Pizzolato

OBJETIVO GERAL
Esta disciplina tem como principal objetivo levar os alunos a compreender os
elementos envolvidos no processo de projeto. Pretende também desenvolver suas
aptidões para as representações do espaço arquitetônico e iniciá-los na resolução de
programas de necessidades específicos.

TEMA: CONJUNTO DE EDIFÍCIOS DE USO MÚLTIPLO

PROBLEMA GERAL DO PROJETO:


Trata-se de conceber um conjunto articulado de edificações para ocupação de uma
área de parte de uma quadra numa região da cidade onde os usos de serviços,
comércio e habitacionais devem ser atendidos.
A solução projetual deve atender às necessidades de inserção dos edifícios criando
uma tipologia adequada ao entorno e ao contato requerido pelos usos de serviços e
comércio. Deve, também, atender ao resguardo e contatos desejáveis à vida social e
privacidade dos moradores.
2.
LOCAL
Terreno situado em parte da quadra localizada nas Ruas Aurélia, Faustolo, Scipião e
Aurélia. (conforme planta fornecida).

ELEMENTOS DA LEGISLAÇÂO
− A taxa de ocupação, coeficiente de aproveitamento e gabarito máximo serão
definidos em aula.
− As unidades de uso comercial devem ter pé-direito mínimo de 5,00m podendo
ter mezaninos em 1/3 de suas áreas.

REQUISITOS DE PROJETO
− As unidades habitacionais devem ter área aproximada de 64 m²
− As unidades destinadas ao comércio devem permitir acesso fácil e
independente às ruas.
− As garagens das unidades habitacionais devem situar-se no subsolo.
− As unidades deverão, se possível, ser projetadas em relações modulares
baseadas na dimensão 120 cm, incluindo seus múltiplos e submúltiplos.

PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS
A disciplina será desenvolvida em 15 atividades conforme o cronograma, constando
de aulas expositivas, trabalhos de estúdio e seminários de avaliação.

Exceto a primeira fase, os trabalhos serão todos individuais. Para os trabalhos de


estúdio os alunos serão agrupados em turmas, sob responsabilidade de um professor.
Todos os desenhos inclusive os croquis serão realizados em papel transparente
(manteiga ou vegetal) no formato A2.

Outros elementos como fotos, memoriais e tabelas deverão, para a entrega, ser
montados ou realizados também em papel formato A2. (sulfite ou similar)
As maquetes ou modelos serão executados sobre base rígida em formato A2. O
método de execução ficará a critério do aluno.
3.
ENTREGAS DOS TRABALHOS
Os trabalhos serão acompanhados em cada atividade pelos professores e monitores.
Ao final de cada etapa serão realizadas entregas para avaliação que ocorrerão nos
seminários programados.

As entregas serão realizadas no departamento durante o período da manhã (das 9 às


11 horas com a Eliane no GDPR) nos dias indicados no calendário.
Nas entregas planejadas deverão constar os seguintes elementos:

EXERCÍCIO 1 – LEVANTAMENTO DO TERRENO (em grupo)

− Fachadas rebatidas das três faces da quadra e do entorno (esc. 1:100)


− 2 cortes transversais indicando os volumes mais significativos (esc. 1:200)
− Fotos
− Planta de usos com identificação clara do uso

EXERCÍCIO 2 – MODELO VOLUMÉTRICO (em grupo)


− Execução de modelo volumétrico do entorno da quadra (esc. 1:200).

EXERCÍCIO 3 – ESTUDO PRELIMINAR


− Implantação geral (esc. 1:200)
− Plantas, cortes e elevações (esc. 1:200)
− Modelo volumétrico (esc. 1:200)

EXERCÍCIO 4 – PROJETO DAS UNIDADES


− Planta, cortes, arranjos/ combinações (esc. 1:100)
− Modelo volumétrico.

EXERCÍCIO 5 – PLANO DE MASSAS


− Planta, cortes, arranjos/ combinações (esc. 1:100)
− Modelo volumétrico.
.
4.
CALENDÁRIO DA DISCIPLINA

Aula 01 - 02/Ago
Apresentação da disciplina.
Exercício – Relatório sobre João Filgueiras Lima, Lelé.
Aula 02 - 09/Ago
Exercício – Relatório sobre João Filgueiras Lima, Lelé.
Aula 03 - 16/Ago
Exercício – Relatório sobre João Filgueiras Lima, Lelé.
Aula 04 - 23/Ago
Entrega do Relatório sobre João Filgueiras Lima, Lelé.
Apresentação do Projeto Lapa e Exercício 1 – Levantamento do terreno. (sala 812).
Aula: Quadra, Rua e Lote (Prof. Dr. Adilson Costa Macedo). (sala 812).
Ateliê.
Aula 05 - 30/Ago
Entrega do exercício 1 – Levantamento do terreno no GDPR das 9 as 11 h.
Apresentação do Exercício 2 – Modelo volumétrico (sala 812).
Aula: Projetos Referenciais Prof. Dr. Rodrigo Queirós). (sala 812).
Ateliê
NÃO HAVERÁ AULA NO DIA 06.09
Aula 06 - 13/Set
Entrega do exercício 2 – Modelo volumétrico no GDPR das 9 as 11 h.
Apresentação do Exercício 3 – Estudo preliminar (sala 812).
Aula: Representação de projeto. Dr. João Carlos de Oliveira Cesar). (sala 812).
Ateliê.
Aula 07 - 20/Set
Aula: Unidade de habitação e modulação (Profª. Drª. Anália Amorim). (sala 812).
Ateliê – desenvolvimento do exercício 3 e orientação.
Aula 08 - 27/Set
Ateliê – desenvolvimento do exercício 3 e orientação.
5.
Aula 09 - 04/Out
Entrega do exercício 3 – Estudo preliminar no GDPR das 9 as 11 h.
Apresentação do Exercício 4 – Projeto das unidades (sala 812).
Ateliê.
Aula 10 - 11/Out
Ateliê - desenvolvimento do Exercício 4 e orientação.
Aula 11 - 18/Out
Ateliê - desenvolvimento do Exercício 4 e orientação.
Aula 12 - 25/Out
Ateliê - desenvolvimento do Exercício 4 e orientação.
Aula 13 - 01/Nov
Entrega do exercício 4 – Projeto das unidades no GDPR das 9 as 11 h.
Apresentação do Exercício 5 – Plano de massas (sala 812).
Ateliê.
Aula 14 - 08/Nov
Ateliê - desenvolvimento do Exercício 5 e orientação.
NÃO HAVERÁ AULA NO DIA 15.11
Aula 15 - 22/Nov
Ateliê - desenvolvimento do Exercício 5 e orientação.
Revisão e elaboração da apresentação final.
Aula 16 - 29/Nov
Entrega final, exercício 5.
Aula 17 - 06/Dez
Avaliação Final. Entrega dos desenhos no Departamento e maquetes na sala de aula
Aula 18 - 13/Dez
Avaliação Final.
6.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA

BLASER, W. Patios 5.000 años de evolución desde la antigüedad hasta nuestros días. Barcelona:
8.
Gustavo Gilli, 1997.

CAMBI, E., CRISTINA, B. e STEINER, G. Tipologias residenciales en hilera. Madri: Xarait Ediciones,
1985.

CHING, F. D. K. Arquitetura, forma, espaço e ordem. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

___. Dicionário visual de arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

___. Representação gráfica para desenho e projeto. Barcelona: Gustavo Gili, 2004.
CORNOLDI, A. La arquitectura de la vivienda unifamiliar: manual del espacio doméstico. Barcelona:
Gustavo Gili, 1999.
CUITO, A. (Org). Espaços para viver e trabalhar. Barcelona: Gustavo Gilli, 2001.

GALFETTI, G. G. Pisos piloto. Células domésticas experimentales. Barcelona: Gustavo Gilli, 1997.

HASSENPFLUG, G. e PETERS, P. Nuevos bloques de vivendas - Bloques laminoires, casas torre, casas
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HERTZBERGER, H. Lições de arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

KRAMER, K. Casas unifamiliares en grupo. Barcelona, Gustavo Gilli, 1966.

LENGEN, J.v. Manual do Arquiteto Descalço. Porto Alegre: Livraria do Arquiteto; Rio de Janeiro: TIBÁ,
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de oriente y occidente. Barcelona: Gustavo Gili, 1984.

NOTA: Além da bibliografia estará disponível com a Eliane Katibian (secretária do departamento de
Projeto, no GDPR) um cd para ser copiado, contendo projetos e imagens referenciais para o
desenvolvimento do trabalho.
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FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA - Folha 1

FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA


2. AULAS E EXERCÍCIOS
1. DADOS Metodologia:
Nome: AUP 446 – Design do Objeto Aulas expositivas, trabalhos de ateliê, seminários
Professores: Carlos Egídio Alonso, Cibele Haddad Taralli, Giorgio Desenvolvimento de exercícios projetuais, realizados em estúdio,
Giorgi Jr., Luis Antônio Jorge, Robinson Salata. com acompanhamento dos professores. São aplicados três
exercícios projetuais, com temáticas e materiais diferentes, mas
Monitores: Miriam A. Pappalardo
inter-relacionados entre si.
Carga Horária: 120 (8 horas semanais, curso semestral)
Sistemas de Representação Utilizados:
Alunos (por turma): 150 Os primeiros dois exercícios trabalham com o projeto direto no
Semestre: segundo suporte final, através da construção de modelos tridimensionais.
Não são utilizados desenhos, nem outros tipos de representação
Objetivos: planas na concepção das estruturas tridimensionais na concepção
Desenvolver o pensamento projetual característico do Desenho das estruturas espaciais.
Industrial no âmbito do projeto do produto. Abordar o
desenvolvimento da atividade projetual, enfocando questões
metodológicas e epistemológicas.
(do programa de aulas. Programa anexo)
A disciplina busca evidenciar as implicações de projetar através de
sistemas de representação, principalmente a representação de
estruturas tridimensionais no desenho plano. Para isso, propõe
exercícios que trabalham direto no tridimensional.
Também enfatiza a percepção das características do material e da
técnica. Para isso, o projeto é realizado no suporte considerado o O terceiro exercício utiliza o desenho apenas na primeira fase,
final para o objeto, de modo que seu comportamento possa ser analítica. O projeto, feito a partir de dados extraídos desta análise,
explorado. deve ser realizado a partir de modelos tridimensionais, de
preferência num suporte eleito como final.

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3. ANÁLISE formas tridimensionais, que se estruturem de acordo com


características dos materiais e da técnica empregada.
Os exercícios buscam principalmente evidenciar a importância de
conhecer o suporte material do objeto, e sua influencia no
desenvolvimento do projeto. O objetivo é destacar a distância O primeiro exercício é a passagem do plano para o tridimensional.
existente entre um objeto e sua representação. Os dois primeiros O trabalho é desenvolvido individualmente; o suporte designado é o
exercícios baseiam-se neste problema central. papel duplex, conformado por cortes e dobras, sem nenhum tipo de
cola; o pretexto é uma embalagem para uma garrafa escolhida pelo
Trabalham através de modelos tridimensionais que obrigatoriamente
aluno.
são do suporte designado para o objeto final, sem intermédio de
desenhos ou de outros sistemas de representação. Deste modo, os
modelos tridimensionais produzidos ao longo do processo de
projeto não são exatamente uma representação; são mais rascunhos,
na mesma escala e do mesmo suporte, que impulsionam o projeto.
Este método elimina os ruídos dos sistemas de representação, e
incluem os ruídos do próprio suporte, que tendem a ser ignorados
nas representações, mas que são intrínsecos ao suporte, e portanto
ao objeto.
Além disso, o trabalho direto no tridimensional geralmente produz
estruturas espaciais menos comprometidas com a ortogonalidade,
mais inusitadas. Todos os exercícios enfocam esse trabalho com os
modelos tridimensionais.
Vale lembrar que esse método de trabalho direto no suporte final é
perfeitamente aplicável na escala do objeto, do desenho industrial.
Em exercícios de arquitetura poderia ser interessante, porém é
operacionalmente inviável. Como já foi dito, a proposta parte de um pretexto, uma embalagem
Outra característica dos exercícios desta disciplina é a ausência de para garrafa, mas não se trata de uma embalagem de um produto,
função dos objetos. Função no sentido de uso, de aplicação prática. algo que se transporte, exponha ou venda. É apenas o mote para
Os objetos projetados não visam suprir alguma demanda de uso fazer o papel duplex envolver um objeto, e para isso deve ser
real. Todas as propostas buscam uma estrutura espacial que não estruturado apenas através de cortes e dobras.
necessariamente cumpre uma função, não se projeta um utensílio. Mesmo tendo sido designado, o suporte pode sofrer variações.
Parte-se de um pretexto simples, objetivando apenas trabalhar Alguns substituem pelo papel triplex, de acabamento mais fino, e
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um pouco mais resistente. Também existem tipos diferentes de dos fechamentos laterais, modelos de fechamento superior, etc. Tal
papel duplex, dependendo da procedência, que podem gerar procedimento é extremamente válido para a busca de possibilidades
respostas diferentes. do suporte, numa espécie de brainstorm dentro dos limites do
Foram percebidos alguns procedimentos, por parte dos alunos, que suporte, mas conforme o projeto se desenvolve (e
iam contra o espírito do exercício. conseqüentemente aumentam os retalhos) não é mais recomendável.
Primeiro, por que conduz a soluções fragmentadas, com fundo,
laterais e tampa independentes, ao invés de uma estrutura unitária.
Segundo, por que o funcionamento da estrutura só pode ser
verificado através da construção de um modelo completo, onde cada
parte influencia as demais, e possíveis soluções encontradas em
modelos parciais tendem a não funcionar plenamente no conjunto.
O objeto deve ser uma sintaxe, onde o conjunto significa mais que a
somatória das partes isoladas. Cada dobra realizada no papel
tensiona todo o objeto, e da relação entre todos os encaixes e dobras
Um deles é a utilização de papéis diferentes na execução de é que se obtém uma estrutura unitária.
rascunhos de modelos, desde papéis craft, cartolinas, até papel Ao realizar um modelo, estamos representando as idéias, tornando-
sulfite e jornal, às vezes com escala reduzida, objetivando economia as presentes. E é necessário representá-las o mais contextualizadas
de material. Deste modo trabalham no tridimensional, mas não no possível, para um melhor percepção do funcionamento em conjunto,
suporte designado. Aos poucos os alunos perceberam que tais e não das partes isoladas.
experimentos não eram perfeitamente traduzíveis para o suporte
papel duplex, suporte obrigatório para o modelo final

O segundo exercício é a passagem do linear para o tridimensional.


O suporte é a vareta de madeira e a linha, uma linha rígida e outra
flexível. O tipo de linha rígida (vareta de bambu, palito de
churrasco) e a linha flexível (de costura, de pipa, barbante) ficam a
Outro procedimento recorrente era a utilização de retalhos de papel critério dos alunos, desde que definido um tipo de cada apenas. As
duplex para o estudo de partes da estrutura. São realizados modelos varetas devem ter no máximo 30cm, e através de amarrações e

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encaixes devem compor uma estrutura capaz de vencer um vão de partes.
no mínimo 1,20m. Este exercício é desenvolvido em duplas de Neste exercício foram muito menos recorrentes problemas na
alunos, devido principalmente à dificuldade operacional de trabalhar utilização de modelos, como os citados no primeiro exercício.
as amarrações com apenas um par de mãos. Percebe-se que os alunos sentem-se mais seguros para explorar as
possibilidades dos materiais, obtendo resultados inusitados,
extremamente ricos espacialmente.

Propõe-se a utilização de módulos, uma vez que a estrutura deve


desenvolver-se linearmente. Deste modo, os alunos são estimulados
a trabalhar um sistema estrutural, onde é exercitada a capacidade de Vale ressaltar que estas estruturas, projetadas espacialmente,
trabalhar elementos repetidos. comprometem-se com a estabilidade da forma, sendo recorrente o
uso de triângulos e tetraedros, e no caso do bambu o arco e as
curvaturas. Formas estáveis, mas de difícil representação através de
desenhos, devido à não-ortogonalidade. Além disso, é recorrente o
desenvolvimento curvo, torcido e até espiralado dos módulos. Daqui
se conclui que tais estruturas dificilmente seriam concebidas
somente através de representações planas.

Verificam-se inclusive alguns casos onde diferentes duplas de


alunos partiram de módulos bastante semelhantes, e seus trabalhos
resultaram em estruturas finais completamente distintas. Percebe-se
aqui que o objeto não nasce apenas do elemento do módulo, mas
também da maneira como tais módulos são relacionados entre si,
compondo uma linguagem que não é mero produto da soma entre as

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através da etapa da análise.

O terceiro exercício é inspirado na biônica, análise de estruturas e


mecanismos da natureza, e sua transposição para suportes artificiais. Essa etapa de análise é entregue pelos alunos e comentada pelos
Na primeira fase é realizada a análise de um objeto extraído da professores, como forma de avaliar o desenvolvimento, para
natureza escolhido pelo aluno, através de desenhos. Objetiva-se prosseguir para a etapa seguinte.
compreender padrões de desenvolvimento, funcionamento
mecânico, formas estruturais, na busca por algum princípio que
possa ser reconstruído posteriormente. A segunda etapa, de síntese, é à produção de um objeto à luz das
análises realizadas. São produzidos modelos tridimensionais que
visam reproduzir os princípios encontrados no elemento analisado,
buscando um funcionamento semelhante.

São realizados desde desenhos de observação, extremamente


artísticos, como primeiro contato com o objeto, até desenhos
esquemáticos, geometrizados, abstratos, buscando uma
compreensão geométrico-estrutural. São enfatizadas as diferenças entre a produção de objetos naturais e
Aqui percebe-se a distinção entre a função utilitária, que não se artificiais, como diferenças nas qualidades dos materiais (onde os
pretende nos exercícios, e a função como funcionamento estrutural naturais tendem a ser um contínuo heterogêneo, onde as qualidades
ou mecânico dos materiais, que é aquela que se busca encontrar do material vão mudando gradativamente, e os artificiais um
conjunto de componentes, cada um deles homogêneo) e na
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composição de sistemas (a natureza se permite gradações de Juntamente com o desenvolvimento da habilidade projetual na
tamanho e quantidade variáveis, onde na produção seriada busca-se escala do objeto, está sendo posta em questão a representação do
a repetição e a padronização). tridimensional. Ao prescindir das representações planas em
Assim sendo, a transposição de um princípio da natureza para um praticamente todo o processo de projeto, evidencia-se a diferença
objeto artificial sofrerá estas implicações, entre outras. O trabalho entre desenho, representação plana e projeto, concepção de formas
direto no suporte permite compreender como funciona o material tridimensionais. Esta disciplina, diferente das demais escolhidas
artificial, homogêneo, e como se pode trabalhá-lo para que para esta pesquisa, está alocada no 4º semestre do curso, segundo
reproduza o princípio desejado. semestre do segundo ano, e por isso já encontra os alunos mais
habilitados na discussão das representações.

Através de todos os exercícios busca-se evidenciar a diferença de


projetar sem a mediação de representações planas. Mais que isso,
diretamente no suporte designado como final. Os resultados trazem
formas menos comprometidas com a ortogonalidade, e soluções que
exploram as qualidades do material, sua resistência, flexibilidade,
textura.
Tal tipo de proposta, perfeitamente aplicado em exercícios de
design do objeto, dificilmente pode ser realizado na escala da
arquitetura. Deste modo, esta disciplina se aproveita desta vantagem
para aplicar estes princípios.
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2. AULAS E EXERCÍCIOS
1. DADOS Metodologia:
Nome: AUP 650 – Arquitetura da Paisagem A disciplina possui caráter eminentemente prático organizando-se como
conjunto de exercícios projetuais introduzidos e acompanhados por
Professores: Silvio Soares Macedo, Fabio Mariz Gonçalves, Paulo
aulas expositivas. Cada exercício enfatizará um aspecto, um conceito e
Renato Mesquita Pellegrino, Vladimir Bartalini.
uma questão específica. Contudo, é importante ressaltar que todos
Monitores: Maki Hirai, Sidney Vieira de Carvalho. deverão ser apresentados da melhor maneira que o grupo possa fazer. A
Carga Horária: 120 (8 horas semanais, curso semestral) qualidade e a clareza da exposição dos projetos é parte integrante do
aprendizado. Bons projetos mal apresentados perdem parte de suas
Alunos (por turma): 150 qualidades. O exercício, como ferramenta de ensino, integra questões
Semestre: segundo conceituais, formais e gráficas sem prescindir de nenhuma delas.
Cada aula expositiva e cada exercício serão acompanhados por
Objetivos:
bibliografia específica. A discussão e a assimilação de cada conceito
Introduzir o estudante de arquitetura e urbanismo aos fundamentos devem ser registradas em textos que acompanharão cada entrega.
teóricos da formação da paisagem, à reflexão sobre questões
Os alunos deverão organizar-se em grupos e produzir os projetos em
profissionais fundamentais relativas a suas transformações e à
ateliê. A sala será organizada da mesma maneira que a disciplina AUP
prática de projeto que a aborde em sua integridade.
0146 - Arquitetura Projeto II: as mesas serão distribuídas entre os
Apresentar ao aluno conceitos relativos a: paisagem; paisagem professores, os grupos orientados pelos professores deverão reunir-se
urbana; espaços livres urbanos; sistemas de espaços livres nas respectivas mesas, facilitando o acompanhamento dos trabalhos.
urbanos; condicionantes econômico-sociais, culturais e ambientais
(do programa de aulas)
do projeto de espaços livres urbanos.
Desenvolver habilidades para: projetar espaços livres; representar Sistemas de Representação Utilizados:
projetos de espaços livres; organizar trabalhos em equipe. Modelos tridimensionais, Vistas Ortogonais – Plantas, Cortes e
(do programa de aulas. Programa anexo) Elevações, perspectivas cônicas, em croqui.
Grande ênfase no cruzamento entre sistemas de representação –
planta e corte, planta e maquete –, visando a visualização espacial.
Fotografias em campo. Foto Aérea e levantamento GEGRAN para
análises em campo.

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3. ANÁLISE O objetivo é que o projeto seja todo desenvolvido na maquete, onde


os elementos podem ser alterados com facilidade. Posteriormente ao
Esta disciplina visa introduzir o aluno às questões da paisagem e do projeto são realizados os desenhos – plantas e cortes – do espaço
espaço livre. Para isso, procura trabalhar os diversos aspectos projetado.
paulatinamente, através de alguns exercícios. Todos os exercícios
Como base para esse trabalho, são realizadas visitas dentro do
são práticos, realizados em grupo no ateliê e com algumas visitas à
próprio campus da USP, para uma leitura de espaços existentes.
campo.
Nestas visitas, guiadas pelos professores, a estruturação do espaço
pela vegetação pode ser apreendida diretamente no espaço real.

O primeiro exercício trabalha o uso da vegetação como elemento


estruturador do espaço. Desenvolvido todo a partir de uma maquete
em escala reduzida, que é o próprio suporte do projeto, de base de
isopor onde os modelos de vegetação podem ser espetados. O
terreno é um plano ideal abstrato, de forma a simplificar os
condicionantes do projeto apenas à questão espacial.

Todo o material – maquete e desenhos – é comentado pelos


professores, durante a produção em atendimentos no estúdio, em
apresentações intermediárias, e na entrega final. Além da questão
projetual dos espaços, são enfatizados os problemas na
representação, como espessuras de linha, legendas, convenções,

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buscando sempre aumentar a legibilidade dos trabalhos, e Neste exercício inverte-se o foco em relação ao anterior: não há
consequentemente o diálogo sobre os projetos. projeto, apenas análise. Desta forma, desperta-se a atenção para os
fatores sociais e geográficos da cidade, pois se trata de um espaço
real.

O segundo exercício é a análise de um espaço livre existente na Toda a análise é baseada em desenhos, representações planas. Os
cidade de São Paulo. Cada grupo seleciona seu objeto de estudo a grupos iniciam o trabalho com o levantamento GEGRAN, planta da
partir de uma listagem feita pelos professores, que inclui praças, cidade com ruas, lotes e construções, quando possível uma planta
largos e ruas, em localizações bastante variadas na cidade. Os específica do espaço (no caso de espaços que tenham passado por
grupos devem fazer um levantamento da estrutura espacial do um projeto), e com uma foto aérea. A partir de visitas à campo são
logradouro, elencando a vegetação e equipamentos urbanos realizados os levantamentos de usos do espaço e das construções do
existentes, os usos e gabarito do entorno e o uso do espaço. Trata-se entorno, de gabarito, e da vegetação existentes. Também são
de uma análise espacial e funcional. Os professores auxiliam a realizados desenhos de observação no local, individuais, para que
análise durante os atendimentos, dando informações sobre o todos os alunos realizem ao menos uma leitura gráfica do local.
histórico da região, o desenvolvimento do bairro e sua inserção no Além disso, os grupos realizam levantamento fotográfico. Após as
contexto da cidade. visitas são produzidas no ateliê as plantas e cortes.
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Além de problemas gráficos – espessura de traço, convenções
gráficas – que geram grande dificuldade de leitura e ambigüidades,
são destacados problemas em relação ao conteúdo informado nas
imagens. Com freqüência são desenhados cortes e plantas que se
limitam a mostrar apenas o objeto. No caso de praças, a planta
termina nos limites da praça, não abarcando a rua, os cortes não
mostram os edifícios do entorno, etc. Desta forma, a leitura do
espaço livre não pode ser feita, pois o objeto de estudo encontra-se
descontextualizado. O espaço se estrutura através das relações entre
todos os elementos presentes. Além disso, é recorrente a ausência da
escala humana, elemento que dimensiona o espaço representado em
escala reduzida.
Durante todo o exercício foram enfatizadas as questões de
representação, sobretudo a legibilidade e a comunicabilidade dos
desenhos. Por tratarem-se de alunos de primeiro ano, ainda há uma
grande dificuldade de comunicação através das representações, de
modo que mesmo tendo feito uma análise do local, os alunos não
conseguem comunicar esta análise graficamente.

O terceiro exercício, realizado em etapas, é um projeto de um

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espaço livre real. Entram em cena os diversos condicionantes,
trabalhados aos poucos até agora.
A partir de um espaço dado, o Mutirão Estrela Guia, os grupos
devem desenvolver um projeto para os espaços livres, públicos e
semi-públicos. Os grupos recebem uma planta do local, e realizam
uma visita ao local, para uma apreensão real do espaço e dos usos.

Ainda há uma grande dificuldade no uso da linguagem gráfica.


Neste exercício não foi solicitado obrigatoriamente um número de
cortes ou perspectivas, de modo que trabalho das equipes sempre se
inicia pela planta, trabalhando sobre a planta-base fornecida pelos
professores. Alguns alunos hesitam na passagem da planta para o
corte, ou no uso de perspectivas, e acabam cometendo equívocos,
como desconsiderar o relevo. Ou seja, utilizam a projeção ortogonal
da planta como um plano, e não como uma representação de uma
configuração física e topográfica.

O projeto, realizado no ateliê, é acompanhado através de


atendimentos por grupo e de seminários parciais, onde todos os
grupos apresentam o material gráfico produzido.

Ainda assim, é possível verificar alguns avanços no uso das


representações. Podemos ver alguns croquis-perspectiva, de acordo
com a necessidade de se raciocinar espacialmente. Os professores
procuram estimular os alunos a raciocinar graficamente,
espacialmente, principalmente pela utilização de cortes, como um
instrumento de trabalho das alturas.
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Podemos perceber ao longo do desenvolvimento dos exercícios um


avanço no uso da linguagem gráfica. Lentamente os alunos vão
aprendendo a utilizar uma variedade de sistemas de representação.
E, o mais importante, vão sentindo a necessidade de utilizar estes
sistemas, necessidade de compreender espacialmente o que estão
projetando, e para isso se valem de perspectivas paralelas e cônicas,
e de cortes.

Uma sugestão dada pelos professores foi a de utilizar as plantas


perspectivadas, um artifício bastante interessante para dar altura às
plantas, porém bastante limitado. Não informa com precisão as
alturas, nem permite trabalhar relevos, e quando utilizado em
demasia, gera desenhos um pouco confusos. Não substitui o uso dos
cortes e das perspectivas. Ainda assim, é um recurso válido para o
entendimento da planta como uma representação de um espaço, e
dos edifícios como volumes que conformam este espaço.

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que o projeto não ocorre numa única representação, mas num
encadeamento delas, onde a cada nova imagem produzida
impulsiona a resolução das formas espaciais. Assim sendo, cada
desenho produzido não deve ser tomado como acabado, mas como
transitório.

A disciplina se propõe, além do exercício do projeto de espaços


livres, a exercitar a representação espacial, como verificamos no
programa de aulas. Isso deve-se à posição da disciplina no primeiro
ano do curso, quando os alunos ainda não possuem muita prática no
uso das linguagens gráficas. Os próprios professores sentem a
necessidade de estimular a familiarização dos alunos com a
linguagem da representação gráfica, sem a qual não é possível
dialogar sobre os projetos. Além disso, a disciplina possui uma
carga horária razoavelmente grande, comparada à disciplina AUP
146, dispondo de mais tempo para debater estas questões.
Os alunos são estimulados a produzir representações intensamente,
a pensar através delas. Os professores procuram quebrar a idéia
existente nos alunos de que cada desenho é precioso, enfatizando

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DOC. 01/AUP-650/2006
FAUUSP - DEPARTAMENTO DE PROJETO
Grupo de Disciplinas Paisagem e Ambiente
AUP-650 - ARQUITETURA DA PAISAGEM
Disciplina Obrigatória - Créditos: (06cr/aula + 02cr/trabalho)
2º Semestre de 2006

Professores: Dr. Fábio Mariz Gonçalves


Dr. Paulo Renato Mesquita Pellegrino
Dr. Silvio Soares Macedo
Dr. Vladimir Bartalini

OBJETIVOS

Introduzir o estudante de arquitetura e urbanismo aos fundamentos teóricos da formação da


paisagem, à reflexão sobre questões profissionais fundamentais relativas a suas transformações e à
prática de projeto que a aborde em sua integridade.

Apresentar ao aluno conceitos relativos a


• paisagem;
• paisagem urbana;
• espaços livres urbanos;
• sistemas de espaços livres urbanos;
• condicionantes econômico-sociais, culturais e ambientais do projeto de espaços livres urbanos.

Desenvolver habilidades para;


• projetar espaços livres;
• representar projetos de espaços livres;
• organizar trabalhos em equipe.

CONTEÚDOS

Paisagens são produtos histórico-culturais cuja essência é a transformação: suas configurações são
sínteses das relações significativas que pautam a vida da sociedade.
A apreensão das mudanças das paisagens, a identificação das particularidades de suas
configurações sucessivas é, portanto, uma aproximação ao sentido próprio dos processos históricos
que as geraram, expressos em sua territorialidade, e marcados pelas fusões peculiares entre os artefatos
criados pela sociedade e o suporte ‘dado’, ou ‘natural’ do espaço, tornando-os únicos.
Os elementos recorrentes da paisagem das cidades brasileiras, e com mais ênfase, as paisagens
atuais de suas metrópoles falam da forma como se engendrou, no país, o movimento de urbanização.
Suas disparidades internas, suas infra-estruturas incompletas e lacunares, seus padrões de edificação
díspares ou a segregação espacial que se aprofunda mais e mais entre os diversos setores urbanos
apontam as características impostas no país ao processo de generalização do assalariamento, com seus
níveis de concentração de renda. Falam desse mesmo processo o desolamento e degradação física das
periferias urbanas, suas vossorocas, terrenos desestabilizados, águas poluídas, uma vez que é sabido
que é a falta de poder aquisitivo para viver em um lote urbanizado e infra-estruturado é que empurra a
metade da população de São Paulo, por exemplo, para a ‘informalidade’.
Ou, então, o centro congestionado de automóveis, as montanhas de terra diariamente movimentadas
para a construção de estacionamentos subterrâneos, os grandes edifícios mais e mais voltados a si
próprios, isolados atrás de suas fachadas espelhadas, em um processo autista que crescentemente nega

1
partilhar do espaço em que se situa. Ou os condomínios fechados, que se subtraem à vida coletiva, e os
espaços de uso coletivo abandonados, decaídos, ou então apropriados para usos privativos.
É nessa paisagem que a disciplina se propõe intervir, através de um conjunto de atividades
organizadas em torno de exercícios de projeto descritos a seguir.

MÉTODO

A disciplina possui caráter eminentemente prático organizando-se como conjunto de exercícios


projetuais introduzidos e acompanhados por aulas expositivas. Cada exercício enfatizará um aspecto,
um conceito e uma questão específica. Contudo, é importante ressaltar que todos deverão ser
apresentados da melhor maneira que o grupo possa fazer. A qualidade e a clareza da exposição dos
projetos é parte integrante do aprendizado. Bons projetos mal apresentados perdem parte de suas
qualidades. O exercício, como ferramenta de ensino, integra questões conceituais, formais e gráficas
sem prescindir de nenhuma delas.
Cada aula expositiva e cada exercício serão acompanhados por bibliografia específica. A discussão
e a assimilação de cada conceito devem ser registradas em textos que acompanharão cada entrega.
Os alunos deverão organizar-se em grupos e produzir os projetos em ateliê. A sala será organizada
da mesma maneira que a disciplina AUP 0146 - Arquitetura Projeto II: as mesas serão distribuídas
entre os professores, os grupos orientados pelos professores deverão reunir-se nas respectivas mesas,
facilitando o acompanhamento dos trabalhos.

EXERCÍCIOS
O semestre será dividido em três exercícios básicos:
1. O Entendimento da Paisagem – Apresenta aos alunos os elementos e as questões mais comuns
em projetos de espaços livres. O exercício discute as principais características de espaços
existentes, exigindo do aluno o domínio de diferentes escalas e o entendimento a partir da
representação;
2. O Projeto do Espaço Livre – Desenvolve o projeto de um conjunto de espaços livres em uma
área residencial existente, considerando as determinantes sócio-econômicas observadas em
campo;
3. O Projeto da Paisagem – Desenvolve o projeto de um pequeno bairro residencial como extensão
do exercício anterior, articulando as diversas questões tratadas nos demais exercícios.
Deste modo, os exercícios incorporam, gradativamente, questões de complexidades e escalas
crescentes ao longo do semestre.

FORMA DE AVALIAÇÃO
Os trabalhos serão avaliados, considerando os seguintes pesos:
1. O Entendimento da Paisagem. peso 01
2. O Projeto do Espaço Livre. peso 01
3. O Projeto da Paisagem. peso 02
Obs.: A não entrega de um trabalho (exercício) implicará na reprovação do aluno.
Recuperação: Caso o aluno tenha média entre 3,00 e 4,90 e freqüência superior a 70%, terá direito
a refazer o(s) trabalho(s) em que não tenha obtido nota necessária, ou fará prova determinada pelo
professor. As normas de recuperação da disciplina serão publicadas juntamente com a lista de
avaliação final da mesma.
Entrega de trabalhos: Na secretaria, nas datas previstas no cronograma.

2
CRONOGRAMA
O cronograma poderá sofrer alteração. Aulas poderão ser acrescentadas ou ter datas alteradas
conforme o andamento e a necessidade da disciplina.

aula data atividade .


01 03 de agosto aula expositiva: Conceito de Paisagem
1º Exercício: A estruturação do espaço com a vegetação.
02 04 de agosto atividades de campo/ateliê
03 10 de agosto atividades de campo/ateliê
04 11 de agosto atividades de ateliê
05 17 de agosto atividades de ateliê
06 18 de agosto atividades de ateliê
05 24 de agosto Seminário do 1º Exercício
06 25 de agosto 2º Exercício: O Espaço Livre Público
07 31 de agosto atividades de campo
08 01 de setembro atividades de ateliê
07 de setembro
08 de setembro Semana da Pátria - não haverá aulas
09 14 de setembro atividades de ateliê
10 15 de setembro atividades de ateliê
11 21 de setembro Seminário do 2º Exercício
12 22 de setembro 3º Exercício: O Espaço Livre Habitacional
aula expositiva: O Mutirão Estrela Guia
13 28 de setembro atividades de campo/ateliê
14 29 de setembro atividades de campo/ateliê
15 05 de outubro atividades de ateliê
16 06 de outubro atividades de ateliê
12 de outubro
13 de outubro Nsa. Sra. - não haverá aulas
17 19 de outubro Seminário do 3º Exercício
18 20 de outubro 4º Exercício: O Projeto da Paisagem.
aula expositiva: A Rua e a Quadra
19 26 de outubro aula: Conforto /ateliê
20 27 de outubro atividades de campo/ateliê
02 de novembro
03 de novembro Finados - não haverá aulas
21 09 de novembro atividades de ateliê
22 10 de novembro Seminário Intermediário
23 16 de novembro aula: Repertório/ateliê
24 17 de novembro atividades de ateliê - com maquete
25 23 de novembro aula: Repertório/ateliê
26 24 de novembro atividades de ateliê - com maquete
27 30 de novembro atividades de ateliê - com maquete
28 01 de dezembro atividades de ateliê - com maquete
29 07 de dezembro atividades de ateliê - com maquete
30 08 de dezembro SEMINÁRIO FINAL /ENTREGA

3
BIBLIOGRAFIA
Esta bibliografia será complementada pelas demais bibliografias apresentadas em aula e nos demais
exercícios.

ASHIHARA, Yoshiburo - El diseño de espacios exteriores.


Barcelona, Editorial Gustavo Gili, 1982.
BARTALINI, Vladimir - Praças do Metrô.
São Paulo, Dissertação de Mestrado, FAUUSP, 1988.
BARTALINI, Vladimir - Espaços Livres Públicos na Cidade.
In OCULUM, nº5, Campinas, 1993.
CHING - Arquitetura, Forma, Espaço e Ordem.
México, Gustavo Gili, 1998.
CHOAY, Francoise - O Urbanismo.
São Paulo, Perspectiva, 1979.
CULLEN, Gordon - Paisagem Urbana.
São Paulo, Martins Fontes, 1983.
DEÁK, Csaba e SCHIFFER, Sueli Ramos (orgs.) O processo de urbanização no Brasil.
São Paulo, Edusp, Fupam, 1999.
QUEIROGA, Eugênio - A Megalópole e a Praça.
São Paulo, Tese de Doutorado, FAUUSP, 2001.
GDPA, Grupo de Disciplinas Paisagem e Ambiente - Paisagem e Ambiente : ensaios
São Paulo, FAUUSP, revista números de 01 a 12.
LAURIE, Michael - Introducción a la arquitectura del paisaje.
Barcelona, Gustavo Gili, 1983.
LEITE, Maria Ângela F. Pereira - Projeto e uso dos espaços livres públicos : o código, a
interpretação. In Fechini e Oliveira (orgs) Intertextualidade, Visualidade e
Urbanidade. São Paulo, Hacker, 2000.
LEITE, Maria Ângela F. Pereira - A Natureza e a Cidade : Rediscutindo Suas Relações.
In Natureza e Sociedade Hoje: Uma Leitura Geográfica. São Paulo, Hucitec, 1993.
MACEDO, Silvio Soares - Os espaços Livres de Edificações e o Desenho da Paisagem.
In Turckienicz B. e Malta, Maurício, (org.).
Anais do II SEDUR, São Paulo, PINI, 1982.
MACEDO, Silvio Soares - Quadro do Paisagismo no Brasil.
São Paulo, FAUUSP, 1999.
SANTOS, Carlos Nelson F. Dos - Quando a Rua Vira Casa.
São Paulo, Editora Projeto, 1985.
WALKER, Theodore - Plan Graphics.
New York, Van Nostrand Reinhold, 1990.
Site www.usp.br/fau/quapa

4
Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais Como Instrumental Para o Desenvolvimento da Visão Espacial em Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
Análise das Disciplinas

4. Comentários respondem que não houve nenhuma relação, outros mais otimistas
dizem que houve alguma, principalmente no aprendizado do
Pudemos perceber que todas as disciplinas têm a preocupação de
desenho técnico, mas ainda pequena. Poucos afirmam ter ajudado
instrumentalizar os alunos, trabalhar de alguma maneira o uso de
muito.
representações do espaço. Porém, ainda de maneira um tanto
esparsa, carecendo de uma melhor articulação entre as disciplinas, Claro que a avaliação dos alunos que estão cursando as disciplinas
o que poderia potencializar os resultados. não é um termômetro exato do nível de desenvolvimento atingido,
mas traz algumas informações importantes. Muitas vezes os alunos
Por parte dos alunos, é evidente a necessidade de um tempo para a
não percebem os objetivos de determinados exercícios por
familiarização com as linguagens de representação do espaço. Os
buscarem resultados imediatos. As disciplinas teóricas não
conteúdos trabalhados nas disciplinas teóricas do primeiro
precisam necessariamente ensinar um conteúdo que será aplicado
semestre, e mesmo as orientações dadas nas disciplinas práticas
diretamente em uma disciplina prática.
acabam sendo esquecidas ou negligenciadas durante a execução
dos trabalhos práticos. Há diversos outros itens que tomam a As disciplinas AUT 510 e PCC 201 procuram mais levar os alunos
atenção dos alunos, como o programa funcional a ser cumprido, o a raciocinar espacialmente através da geometria, apenas
ritmo de trabalho e os prazos, aos quais ainda não estão habituados, introduzindo ao desenho técnico. A disciplina AUT 512 – Desenho
questões inerentes ao método de ensino que acabam dificultando o Arquitetônico (não analisada nesta pesquisa), seqüência da AUT
desenvolvimento no uso das linguagens de representação. 510, é mais voltada para a prática neste sentido, ensina desenho
técnico, incluindo convenções gráficas, normatizações, e pode ser
O aprendizado de qualquer linguagem é um processo lento, que
diretamente aplicada nas disciplinas práticas.
requer um tempo de assimilação e familiarização. Não pode ser
restrito ao período de um ano (ainda que tenhamos percebido que a
disciplina do segundo ano, AUP 446, consegue um nível de Também pudemos perceber por parte dos alunos muita hesitação
discussão sobre as representações mais avançado que as demais), na utilização dos sistemas de representação em geral. A
devendo se estender por todo o curso. Trata-se efetivamente de um insegurança da indefinição leva os alunos adiar até o último
processo, que inclui a prática. Só se aprende uma linguagem se momento a materialização de idéias através de representações
expressando através dela, motivo pela qual mesmo as disciplinas precisas, de desenhos elaborados, sem perceber que é através
teóricas, do primeiro semestre, são baseadas em exercícios destas linguagens que surgirão as definições. Acaba sendo uma
práticos. São consideradas teóricas por que não objetivam um estratégia eficiente a apresentação de trabalhos por etapas, pois
projeto, apenas desenvolver a representação. havendo a necessidade de entregar algum material, os alunos
registram seus trabalhos graficamente, ainda que de maneira
forçada. Tratando-se de uma etapa intermediária, a materialização
Quando questionados sobre a relação entre as disciplinas teóricas e
gráfica permite impulsionar o desenvolvimento das idéias.
as práticas, os alunos não trazem boas perspectivas. Alguns

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Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais Como Instrumental Para o Desenvolvimento da Visão Espacial em Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
Análise das Disciplinas

Há também a hesitação na utilização de alguns sistemas


específicos, como perspectivas, cortes, etc. De um modo geral, as Foram também obtidos alguns subprodutos durante a pesquisa,
plantas são mais utilizadas, possivelmente por ser a base da maioria algumas informações não buscadas, mas que se tornaram evidentes
dos trabalhos práticos, onde os professores fornecem uma planta- ao longo do acompanhamento das disciplinas.
base para trabalho, mas também por ser um sistema mais popular,
mas difundido. A passagem para o corte é bastante difícil, ainda O principal deles é a relação professor-aluno e o tamanho das
que geometricamente seja simples. Há um mito quase natural de turmas. Nas aulas teóricas, as salas maiores (mais de 50 alunos)
que o corte vem depois, e portanto é necessário definir bem a têm rendimento menor que as salas pequenas (em torno de 30
planta antes de inicia-lo. Ou pior, de que é possível resolver os alunos), o diálogo do professor com os alunos é mais direto, mais
espaços apenas através de plantas. claro. Nas disciplinas práticas, essa relação é diferente, pois os
alunos trabalham livremente, e o professor intervém apenas através
Geralmente a visualização dos volumes e das alturas fica a cargo de atendimentos. Ainda assim há um limite, que têm sido
das perspectivas paralelas, razoavelmente simples de construir, e frequentemente excedido devido à falta de professores.
muito utilizadas para a análise mais geral, como definição de
partidos. Ou de fachadas, como forma de suprimir o uso de cortes, Um recurso muito válido para auxiliar (mas não para resolver) esta
por ser um pouco mais fáceis de construir. A perspectiva cônica questão da relação professor-aluno é a monitoria. Existe atualmente
ainda é muito pouco utilizada, devido principalmente à sua na FAUUSP dois tipos de monitores: Os monitores PAE (Programa
construção complexa. de Aperfeiçoamento de Ensino), alunos da Pós-Graduação que
fazem monitoria como uma espécie de estágio obrigatório; e os
Os modelos tridimensionais também são pouco utilizados, monitores-alunos, do curso de Graduação. O trabalho de ambos
principalmente devido ao tempo despendido para a sua produção. monitores é bastante útil na orientação dos alunos em questões
Mesmo quando exigidos, são produzidos apenas no último mais simples, desde esclarecimentos sobre os exercícios, prazos,
momento, mais como uma tarefa que como um instrumento de formatos de entrega, e dependendo do tipo de pesquisa
projeto. Por esse motivo a disciplina AUP 446 parte do trabalho desenvolvido pelos Pós-Graduandos, atendimentos de orientação
direto no modelo, proibindo o uso do desenho no processo de de trabalho. Desta forma o trabalho dos professores é otimizado.
projeto. Os alunos passam a perceber que tanto os desenhos quanto Ainda assim, não elimina o problema da falta de professores na
os modelos tridimensionais são representações, tão úteis quanto escola. O foco principal do trabalho dos monitores não é completar
qualquer outra forma de representação na busca de uma o corpo docente, mas aprofundar o aprendizado do discente-
espacialidade. monitor, aproximando-o da atividade docente.
É interessante perceber que essas dificuldades, quando superadas,
permitiram um avanço na percepção espacial por parte dos alunos.
Muitos alunos afirmaram que ao enfrentar determinados exercícios,
apesar das dificuldades, o resultado foi satisfatório.

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Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais Como Instrumental Para o Desenvolvimento da Visão Espacial em Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
Análise das Disciplinas

5. Conclusões A análise deste conjunto de cinco disciplinas demonstra que o


desenvolvimento da visão espacial é um problema amplo, e não
As conclusões aqui apresentadas, apesar deste estudo realizado ao
pode ser encerrado num estudo deste porte.
longo de um ano, ainda se baseia muito em percepções empíricas e
pessoais. Pudemos perceber durante as análises das disciplinas, que o
desenvolvimento do uso do instrumental de representação é lento,
requer uma digestão, uma maturação, como em qualquer
A escolha deste tema deu-se por dois fatores principais: a extrema aprendizado de linguagem. Seu ensino não deve restringir-se às
importância deste desenvolvimento no campo da arquitetura e da disciplinas teóricas, mas deve estender-se às práticas, e mais que
estruturação do espaço em geral; e a precariedade no seu ensino isso, deve se inter-relacionar. As disciplinas práticas analisadas
atualmente na FAUUSP. aqui procuram de alguma maneira estimular o desenvolvimento do
Foi esta precariedade que moveu esta pesquisa, uma busca por uso das representações, principalmente por serem disciplinas
entender o funcionamento deste desenvolvimento e do seu ensino. introdutórias.
A FAUUSP possui uma seqüência de disciplinas de representações
pequena, em comparação a outras escolas (uma avaliação não
O curso da FAUUSP possui uma deficiência no ensino de
apenas quantitativa, mas também qualitativa demandaria uma
representações. A habilidade dos alunos no uso das diversas
pesquisa comparativa, maior que esta). Nos últimos anos o curso
linguagens de representação é muito variada. Sabemos que todo
vem passando por reestruturações, numa busca por otimizar os
aprendizado é individual, e não é possível homogeneizar
conteúdos e disciplinas. Ainda assim, percebemos que grande parte
completamente o desenvolvimento de um grupo de alunos. Ainda
das disciplinas trabalha de forma fragmentada. Mas uma análise
assim, é necessário conseguir uma base mínima para a maioria, o
mais completa exigiria uma avaliação do curso como um todo,
que não ocorre atualmente. O desenvolvimento ocorre muito mais
entrando outras questões em jogo. Esta pesquisa serve como uma
individualmente, através de estudos pessoais.
introdução ao assunto, uma primeira aproximação ainda pouco
aprofundada. Há uma pequena seqüência de desenho, que trabalha o lado mais
operativo, o desenho técnico, os instrumentos, as convenções
gráficas e as construções geométricas, além do desenho eletrônico
Ao final desta pesquisa, ficou evidente que o modo como ela se CAD. As questões sobre linguagem, representação, e percepção
estruturou partiu desta visão fragmentada, onde foram analisadas espacial acabam sendo pouco trabalhadas. Limita-se praticamente a
disciplinas individualmente, sem buscar uma visão do curso como um ensino de desenho técnico, que não consegue enfocar
um todo. Esta visão fragmentada é conseqüência da própria suficientemente a visualização espacial, pois se detém em
estrutura do curso que motivou este estudo. problemas de ordem técnica e operativa.

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Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais Como Instrumental Para o Desenvolvimento da Visão Espacial em Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
Análise das Disciplinas

Sabemos que este ensino é necessário, pois a operação dos panacéia. Um bom desenvolvimento da visão espacial vem, como
instrumentos faz parte da linguagem, e o aprendizado destas já dissemos, de uma utilização de diversos sistemas, uma vez que
operações também é parte do desenvolvimento do uso das cada um deles nos traz um aspecto diferente, e através da utilização
linguagens. Porém, há um hiato entre esse aprendizado operativo e conjunta de diversos sistemas podemos atingir uma maior
a sua aplicação prática, onde são dados problemas funcionais, compreensão, pois é característica de toda representação nunca ser
estruturais, espaciais. As materializações em representações completa.
exigidas para entrega são realizadas como um “passar a limpo”,
como se representar fosse apenas “empacotar” uma idéia para
entregar. Não há a compreensão da representação como uma A partir destas conclusões, ficam indicadas aqui algumas possíveis
simulação, um suporte para o pensamento, um instrumento do ampliações desta pesquisa.
raciocínio espacial. É possível enfoques em sistemas de representações mais
Sabemos que a representação nunca será completa e cada sistema específicos, como o desenho, que possui uma quantidade boa de
de representação tem um potencial de expressão diferente, de modo estudos, a maioria ligada à questão projetual, poucos voltados à
que através da utilização conjunta de diferentes sistemas questão didática; os modelos tridimensionais, que carecem de
conseguimos uma compreensão maior de um objeto. Ao estudos mais profundos, principalmente sob a ótica da visualização
confrontarmos a gama de possibilidades enunciada no Trabalho espacial e do ensino; ou os modelos eletrônicos, muito mais
Monográfico e a utilizada pelas disciplinas analisadas nas Fichas recentes, com muitos estudos em desenvolvimento, mas com muito
de Disciplina, a diferença é perceptível. A variedade de sistemas de campo ainda a ser explorado.
representação possível é pouco explorada, e a visualização dos Também é possível uma análise do ensino de representação e de
espaços trabalhos é poucas vezes alcançada. Recursos simples, visualização espacial a partir de um curso como um todo, e não
como perspectivas paralelas e cônicas, são pouco utilizados, assim partindo das disciplinas, unidades fragmentadas. Possivelmente um
como os modelos tridimensionais. Quando exigidos, são estudo abarque mais escolas, nacionais e internacionais,
produzidos como uma obrigação, raras vezes como uma possibilitando comparações entre diferentes metodologias de
necessidade de compreensão espacial. trabalho, o que permitiria uma análise crítica mais profunda.
O uso de modelos eletrônicos tem ganhado cada vez mais espaço,
uma vez que são considerados mais fáceis de executar pelos
alunos, frutos da geração eletrônica. Ainda que não haja disciplinas
obrigatórias que trabalhem este conteúdo, o modelo eletrônico tem
ganhado força, mostrando o potencial de autodidatismo dos alunos.
È um recurso novo, ainda pouco explorado, e que traz grande
potencial de utilização, porém, não deve ser tomado como

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