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FAUUSP
Marcos Kiyoto de Tani e Isoda
Professor Orientador Luís Antônio Jorge
Processo 05/56964-1
Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais Como Instrumental Para o Desenvolvimento da Visão Espacial em Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
Relatório Final
SUMÁRIO
ANEXOS
Trabalho Monográfico
Análise das Disciplinas
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Relatório Final
1. Resumo das Etapas Anteriores: Projeto e Relatório Parcial Disciplinas a serem acompanhadas:
segunda terça quarta quinta sexta
1.1. Projeto 1ºsemestre manhã PCC 201 AUT 510
Esta pesquisa analisará a utilização dos sistemas bi e 2006 tarde
tridimensionais de representação do espaço em alguns exercícios
desenvolvidos em disciplinas da graduação da FAUUSP. A análise 2ºsemestre manhã
2006 tarde AUP 146 AUP 446 / AUP 650
será feita através de acompanhamento e documentação dos
exercícios nas disciplinas, verificando a relação entre a proposta, o
processo de desenvolvimento e o resultado obtido pelos alunos. PCC 201 – Geometria descritiva
AUT 510 – Geometria Aplicada à Produção Arquitetônica
Como auxílio teórico, será lida e fichada uma bibliografia AUP 146 – Arquitetura Projeto II
selecionada, que aborda o tema de maneiras diversas. Além disso, AUP 446 – Design do Objeto
serão levantados e analisados alguns exemplos de utilização dos AUP 650 – Arquitetura da Paisagem
sistemas de representação do espaço, tanto aplicado à concepção de
projeto quanto à leitura espacial.
Ao final da pesquisa, será elaborado um relatório, procurando
analisar criticamente os procedimentos dos exercícios
documentados, que serão apresentados aos professores
responsáveis pelas disciplinas, para que haja troca de experiências
e opiniões.
Objetivos
• Analisar os diversos sistemas de representação do espaço
segundo sua natureza – bi ou tridimensional – e suas
peculiaridades, qualidades e deficiências.
• Verificar o potencial dos diversos sistemas de representação
no ensino e desenvolvimento da visão espacial.
• Verificar como ocorre este desenvolvimento em
determinados exercícios no curso de graduação em
arquitetura e urbanismo da FAUUSP.
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Relatório Final
1.2. Relatório Parcial análises desenvolvidos, sua produção à parte dos relatórios
Este item traz um resumo do relatório parcial, apresentado em também é um exercício de linguagem, de materialização,
junho de 2006. Foram extraídos trechos principais, buscando dialogando com a temática da pesquisa e instruindo a
elucidar as principais atividades realizadas, além das definições e análise.
revisões realizadas até o momento.
• Fichas de Disciplina padronizada para as cinco disciplinas,
uma para cada, contendo uma breve análise dos sistemas
Desenvolvimento utilizados, dos objetivos dos exercícios e da metodologia de
Foram realizadas basicamente três atividades no primeiro semestre. aplicação. Serão entregues preenchidas aos professores,
para comentário, como forma de retorno, e representarão a
As leituras, de acordo com a bibliografia já indicada no plano análise das disciplinas. Após o preenchimento e
inicial, ordenada por grupos de interesse. Além da bibliografia comentário das cinco fichas, serão comentadas em
básica, foram acrescidas algumas referências encontradas durante conjunto. São a materialização da análise proposta como
as leituras. questão fundamental da pesquisa, e se basearão
O acompanhamento das disciplinas previstas para o primeiro completamente no corpo teórico instituído no Trabalho
semestre, conforme o plano inicial. Estão sendo assistidas Monográfico.
praticamente todas as aulas, para um acompanhamento dos • Relatórios Parcial e Final obrigatórios, documentarão o
exercícios aplicados em aula e da sua realização por parte dos processo de desenvolvimento da pesquisa, as constantes
alunos. revisões e os problemas enfrentados. Não diz respeito ao
E, por fim, a organização da materialização do trabalho, tema ou aos objetos da pesquisa, mas é o espaço para fazer
procurando nortear os passos da pesquisa em direção ao seu um balanço do processo e da metodologia, que é o grande
formato final. aprendizado da primeira pesquisa. O esforço de organizar
este processo num relatório é fundamental para este
aprendizado.
Suportes da Pesquisa
Ao final da pesquisa serão apresentados, portanto, três produtos. O
• Trabalho Monográfico sobre os sistemas de representação. relatório obrigatório, o trabalho monográfico e o conjunto
Irá reunir as leituras programadas de maneira comentado de fichas de disciplina.
interseccionada, e as análises de exemplos, tanto de
arquitetura quanto de outros tipos de sistemas de
representação. Unifica todo o embasamento teórico, e Cronograma Revisado
constitui uma totalidade por si só. Vem sendo estruturado
desde já, paralelamente às leituras. Além dos conceitos e A partir das definições dos suportes finais o cronograma foi
revisado, estendendo o tempo de leituras e análises, e fazendo-os
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Relatório Final
andar mais em paralelo, a partir da definição que todo esse 2. Resumo desta Etapa: Progressos, Alterações, Dificuldades,
processo teórico se consumará no Trabalho Monográfico (ver Resultados Obtidos.
Suportes da Pesquisa). Esse trabalho será concluído na metade do As atividades realizadas nesta segunda metade da pesquisa foram
segundo semestre, tendo como desvantagem a finalização após as exatamente as apontadas no Relatório Parcial: finalização das
primeiras disciplinas e o primeiro relatório, mas tendo como leituras, acompanhadas dos fichamentos; redação e diagramação do
vantagem mais tempo para as leituras e para a organização do Trabalho Monográfico (anexo); acompanhamentos das disciplinas
trabalho monográfico, além de evitar a coincidência com o selecionadas e elaboração das Fichas de Avaliação de Disciplinas
fechamento das disciplinas que estou cursando regularmente. correspondentes, comentadas em conjunto (anexo).
Também foi aumentado o tempo de retorno aos professores, para a
Ao final destas etapas, a elaboração deste Relatório Final, que
elaboração da ficha de disciplina. descreve as atividades realizadas de maneira bastante sucinta, pois
J F M A M J J A S O N D mais do que explicar todos os passos, apresentamos os resultados
Leituras obtidos através dos dois anexos.
Análises
Disciplinas
Retorno Conforme previsto no Relatório Parcial, o fechamento está sendo
Relatório um tanto conturbado, devido à coincidência de datas com o final
das aulas, de modo que não apenas as conversas entre bolsista e
orientador ficam comprometidas, mas também o diálogo com os
professores das disciplinas objeto da pesquisa.
Finalização
Os trabalhos foram concluídos dentro das expectativas, do ponto de
O cronograma de execução atual é o Cronograma Revisado,
vista das atividades pretendidas. Os prazos dos cronogramas foram
apresentado acima. Para a continuidade da pesquisa estão previstos
alterados, pois as partes escritas tomaram muito mais tempo do que
a elaboração do trabalho monográfico, incluindo o término das
o esperado, acabando por deixar pouco tempo para a organização
leituras, o levantamento e análise de exemplos, a redação e
das imagens e diagramação, que ficou um pouco aquém do
formatação, o acompanhamento das três disciplinas selecionadas e
desejado, não chegando a afetar o conteúdo.
o fechamento e organização das Fichas de Disciplina.
As disciplinas puderam ser devidamente acompanhadas,
Possivelmente o fechamento será um pouco conturbado, como está
documentadas e fichadas, conforme previsto no projeto. A ausência
sendo este, concomitante ao final do semestre letivo. Por isso foi
dos últimos exercícios das três disciplinas do segundo semestre era
deixado para esta etapa apenas o inevitável, as últimas Fichas de
prevista, uma vez que o prazo estipulado para a entrega do relatório
Disciplina e o Relatório Final. Todas as demais etapas são
final coincide com o fechamento do ano letivo. Para que houvesse
concluídas no Trabalho Monográfico.
tempo hábil para a elaboração das fichas e do relatório, foi
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Relatório Final
necessário concluir as Fichas de Disciplina um mês antes do extremamente importante para o desenvolvimento das análises
encerramento das aulas. Mesmo assim, foi possível identificar as contidas neste estudo.
características de cada disciplina, e o enfoque dado às questões de
representação em cada uma delas.
É interessante perceber a metalinguagem à qual esta pesquisa está
sujeita: ela estuda a representação de espaços através de diversas
O Trabalho Monográfico, enquanto produto, resultou um pouco linguagens, onde apenas através da constante expressão é possível
desconexo, tanto em sua linha condutora quanto em relação à um desenvolvimento de idéias. O mesmo ocorreu com o conteúdo
Análise das Disciplinas, objeto final da pesquisa, de modo que sua desta pesquisa durante as diversas materializações: os relatórios, as
leitura não embasa diretamente a análise posterior, e muito menos fichas de leitura, as fichas disciplina, cada materialização é um
se faz obrigatória àqueles que pretender ler a Análise das momento de reafirmar e lapidar o tema, as questões. Mesmo os
Disciplinas. Porém o processo de elaboração desta primeira etapa, diálogos, as conversas menos compromissadas com professores e
mais teórica, foi importante para direcionar as leituras, colegas, servem de impulso para o desenvolvimento da crítica. Ao
organizando-as sob temas e relacionando-as. Estas leituras expressar uma idéia, não a transmitimos apenas aos demais, mas
embasaram tanto o trabalho monográfico quanto a análise das também a nós mesmo.
disciplinas.
O Trabalho Monográfico foi também muito importante para uma
reafirmação do tema, um esclarecimento quanto aos seus objetivos
e o seu recorte, de modo que ao descrever mais detalhadamente os
limites, foi-se definindo o escopo deste estudo. E este processo de
definição ocorre tanto para os que lêem quanto para quem redige.
Ou seja, o Trabalho Monográfico foi mais importante para a
pesquisa enquanto processo do que enquanto produto.
Além da redação destes produtos, enunciados no item Suportes da
Pesquisa do Relatório Parcial, foi muito importante também para a
definição clara do escopo desta pesquisa o diálogo constante não
apenas com o professor orientador, principal interlocutor, mas com
outros professores, tanto das disciplinas acompanhadas quanto de
outras que estudem temas afins. Também foi constante o diálogo
com colegas da escola, cuja visão crítica sobre o curso contribuiu
para impulsionar as análises. De um modo geral, o diálogo, foi
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Assinam:
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Relatório Final
ANEXOS
Trabalho Monográfico
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Trabalho Monográfico
Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais como Instrumental
Para o Desenvolvimento da Visão Espacial
Anexo do Relatório Final de Iniciação Científica
Apresentado à FAPESP em Dezembro de 2006
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Marcos Kiyoto de Tani e Isoda
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SUMÁRIO
3. Conclusão / Encerramento
4. Bibliografia
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1. Conceituação
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1. Conceituação
Representar é trazer à presença, tornar presente. Mas apenas
Como forma de esclarecer o escopo deste estudo, o tema será
parcialmente, nunca em sua condição integral. A representação elucida
destrinchado e cada termo será discutido, objetivando não apenas
à mente uma totalidade trazendo aos sentidos apenas uma parcialidade,
esclarecer o que será estudado, mas também o que não será estudado.
pois, se fosse completa, deixaria de ser uma representação, e seria o
Este estudo partiu de conceitos bastante empíricos, devido ao seu representado presente. É condição da representação nunca ser aquilo
caráter de iniciação. Ao longo dos estudos foram sendo descobertas as que representa em sua totalidade; é sua eterna condição nunca ser
áreas de estudo com a qual se relaciona, confirmando e completa, sempre buscando assim parecer.
complementando idéias, e ampliando os horizontes da pesquisa.
Assim sendo, um desenho pode ser uma representação de um objeto,
Por não partir de nenhuma corrente específica, abarcamos diversas assim como um modelo tridimensional, uma foto, ou uma descrição
correntes de diversos assuntos, às vezes até contrárias, sem se filiar a verbal, um som, ou qualquer coisa que para um certo alguém faça
nenhuma delas. Este caráter livre foi mantido, devido ao caráter de referência ao representado, sem sê-lo.
estudo inicial.
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As correntes aqui estudadas, ainda que contrárias em diversos aspectos, uma significação está adquirida, e disponível daí por diante, quando
convergem no princípio de que o mundo sensível é onde ocorre a consegui fazê-la habitar num aparelho de palavra que não lhe estava
aquisição de significado. inicialmente destinado”7
Esse ato de estruturar significados é base para o desenvolvimento-
Segundo Merleau-Ponty, o fenômeno linguagem (verbal) ocorre aprendizado, que será discutido mais à frente.
quando, através da organização de palavras pré-existentes, compomos O estudo da fenomenologia da linguagem de Merleau-Ponty deriva da
uma estrutura onde o significado pretendido ultrapassa o significante, e Lingüística de Sausurre, mas sem a dicotomia tão marcada entre
uma mensagem inédita, própria, é transmitida. É “a ancoragem da significante e significado. Merleau-Ponty abre muito mais espaço para
significação inédita nas significações já disponíveis”5. o sujeito, que principalmente em sua fenomenologia da percepção (que
será debatida mais adiante) têm papel fundamental.
Partindo do princípio que a aquisição de significado ocorre no
momento em que uma idéia é estruturada em uma linguagem, Merleau-
Ponty nos diz mais: Enquanto na lingüística o significante é aquele que visa trazer o
“[a linguagem] executa a mediação entre minha intenção ainda muda e significado, na semiótica é o signo (também denominado
as palavras, de tal sorte que minhas palavras surpreendam a mim representamem) quem busca elucidar o objeto, mediado pelo
mesmo e me ensinam meu pensamento”. “Esse ato de expressão(...) não interpretante. O interpretante é um outro signo, que aproxima o signo
é para nós, sujeitos falantes, uma operação segunda a que recorreríamos do objeto, e depende diretamente do repertório do sujeito. Daqui
apenas para comunicar a outrem nossos pensamentos, mas é a tomada concluímos que a percepção ocorre na existência de um sujeito. Caso
de posse das significações por nós, sua aquisição”. “Para o sujeito contrário, há apenas o potencial de leitura do significado.
falante, exprimir é tomar consciência; não exprime somente para os O sujeito, ao ler o signo, substitui aquele signo por um outro,
outros, exprime para que ele próprio saiba o que visa.”6. denominado interpretante. Este interpretante pode ser um signo mais
Ou seja, a linguagem é necessária não apenas para comunicar a outros, desenvolvido, que se aproxima mais do objeto ao qual o primeiro signo
mas também para esclarecer a nós mesmos nossas idéias, através das se refere, ou pode ser um signo que se refere a um outro objeto. Por
linguagens, da aquisição de significados. exemplo, um pictograma de uma maçã pode ser interpretado,
substituído, pela imagem de uma maçã real, ou pela palavra maçã; ou
“Digo que sei uma idéia, quando se institui em mim o poder de
pode ser substituído por uma idéia completamente distinta, como uma
organizar à sua volta discursos que têm sentido coerente (...). Digo que
fábrica de computadores (desde que essas idéias já existam no
repertório do sujeito-leitor do signo). Isso significa que o mesmo signo
5
MERLEAU-PONTY, Maurice – “Sobre a Fenomenologia da Linguagem”, in:
Textos Selecionados. Nova Cultural, São Paulo. 1989. Coleção Os Pensadores.
6 7
MERLEAU-PONTY, op. Cit. MERLEAU-PONTY, op. Cit.
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pode ter diversas leituras, variando principalmente de acordo com o pode desconhecer que a representação está minada, contaminada,
repertório do sujeito. assume as características de seu suporte”10
A semiótica parte da análise direta da materialidade, onde tudo é signo,
e mesmo os objetos a que eles podem estar se referindo também são
1.1.2. Sistemas de Representação
signos. Toda a comunicação se dá no plano material, através de signos.
São denominados sistemas os conjuntos de elementos coordenados que
Todo o pensamento se estrutura através de linguagens, e a capacidade visam representar um objeto, com um determinado suporte, técnica e
de se expressar através de uma determinada linguagem depende da materiais, e frutos de abstrações que permita gerar estruturas que
familiaridade com a mesma. Herdeira deste princípio, a Teoria da possam ser tomadas como representação.
Informação considera a linguagem, o meio, como fundamental no
processo da comunicação. Sua potencialidade contamina a mensagem a As técnicas de produção da imagem – desenho, pintura, modelo
ponto de McLuhan afirma que “o meio é a mensagem”8. tridimensional em papel, madeira – por si só não são a representação.
Elas existem em função de uma abstração, que faz com que sejam a
Influenciados por essas teorias, explica-nos Chico Homem de Melo:
representação de algo: um modelo em escala reduzida, uma projeção
“Nossas idéias não surgem dentro da cabeça por meio de geração ortogonal de um objeto tridimensional, etc. E essa abstração só pode
espontânea, mas surgem da relação entre essa cabeça e uma linguagem existir dentro de uma determinada materialidade, pois trata-se de uma
com a qual ela aprendeu a interagir.”; “não há pensamento sem linguagem.
linguagem”9.
Uma mesma abstração pode aceitar diferentes suportes, assim como um
mesmo suporte pode materializar mais de um tipo de abstração, dentro
Ambas correntes convergem para a idéia de que o significado se da separação primeira de natureza bi ou tridimensional, como foi dito.
estrutura simultaneamente à expressão material, e que a sua Um desenho à lápis sobre papel pode suportar tanto uma projeção
materialidade tem implicações na expressão. Isso é ter consciência de ortogonal quanto uma perspectiva cônica; e ambos podem ser
Linguagem. realizados em outras técnicas, como caneta, giz, sobre diversos tipos de
papel, etc.
“Consciência de linguagem é, antes de mais nada, o reconhecimento de
que conteúdo e forma estão fundidos numa coisa só. Assim, não se À este conjunto de abstração e suporte denominamos sistema. Sabemos
que a linguagem contamina o conteúdo, e qualquer alteração em algum
dos elementos – abstração, material, técnica – pode modificar o
8
McLUHAN, Herbert Marshall – Os Meios de Comunicação como Extensões do conteúdo. Por isso é considerado sistema, uma inter-relação entre
Homem. São Paulo, Cultrix, 1969. diversos elementos.
9
MELO, Chico Homem de – “ “Impressões digitais”, in: Os Desafios do Designer &
10
Outros textos sobre design gráfico. São Paulo, Edições Rosari, 2003. (Coleção ALONSO, Carlos Egídio – Percepção Tridimensional, Representação
TextosDesign) Bidimensional. São Paulo, Doutorado FAUUSP, 1994.
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A classificação dos diversos sistemas aqui estudados, que serão instrumento e ao processo produtivo, é ter consciência da linguagem em
descritos na parte 2. Os Sistemas de Representação, foi em função que se está operando.
principalmente de sua natureza – bi ou tridimensional – e da abstração
que a gerou – projeção ortogonal, projeção cilíndrica, modelo em escala
reduzida, etc. Esta classificação aqui utilizada é um tanto arbitrária, 1.1.4. Sistemas de Representação como Instrumento
pois se formou empiricamente. Nos termos presentes nesta pesquisa, os instrumentos são os sistemas
de representação, e a finalidade é o desenvolvimento da visão espacial.
1.1.3. Instrumento Para esclarecer esta questão da linguagem do instrumento, vale registrar
um axioma formulado durante esta pesquisa: Não existe desenho
Instrumento é algo que possibilita ou potencializa uma operação. Esta é instrumentado sem instrumento. Parece óbvio a princípio, até tolo, mas
a definição básica deste termo, que é chave para esta pesquisa. ganha complexidade na análise dos diversos sistemas.
O instrumento tem como função possibilitar uma determinada ação que Por exemplo, não é possível fazer um desenho sem um lápis, ou algum
seria praticamente impossível se realizar sem ele, como por exemplo outro instrumento que faça marcas num plano. Ou seja, desenho à lápis
uma serra que corta a madeira; ou potencializar uma ação possível sem é instrumentado. “É engraçado tanta gente acreditar que o lápis é
ele, como uma pá que cava a terra. ‘neutro’, uma espécie rara de condutor sem atrito, capaz de levar
Existem diversos tipos de instrumentos, alguns mais específicos que mensagens do cérebro até o papel perfeitamente protegidas de qualquer
outros. Por exemplo, uma serra elétrica possui capacidade de corte turbulência. Esquecem o longo, longuíssimo aprendizado que tornou o
muito maior que uma manual. Com este instrumento mais potente, é lápis essa extensão aparentemente natural do cérebro, aprendizado feito
possível aumentar a produtividade e a precisão, porém ela demanda um de idas e vindas, de grandes conquistas e de derrotas amargas”11.
custo de partida (e não me refiro apenas ao custo monetário) maior que Assim como não é possível fazer um desenho técnico instrumentado
sua precedente. A escolha de determinado instrumento de acordo com a
sem uma régua ou escalímetro. O uso destes instrumentos, ainda que
finalidade reflete nos resultados, e o bom resultado vem da correta
simples, requer algum treino. Mas para um estudante do primeiro ano
eleição dos diversos instrumentos ao longo do processo.
do curso de arquitetura as dificuldades impostas pelo instrumento são
Todo instrumento também produz ruídos de natureza informacional no suficientes para mudar o foco da atenção do objeto que se está
processo de produção e no produto final. Uma serra deixa marcas na representando para a operação do instrumento.
direção de seu movimento, um ruído no produto final, que serão
Esse problema se agrava no uso de programas CAD (computer aided
diferentes se for uma serra manual ou uma serra elétrica circular. E o
design), onde a precisão do desenho é extremamente potencializada,
seu manuseio também é diverso, tornando-se um ruído no processo. O
indivíduo, ao cortar uma madeira, pode ter dificuldade em manusear a 11
MELO, Chico Homem de – “ “Impressões digitais”, in: Os Desafios do Designer &
serra, ou de utilizar a serra de disco, alterando o resultado. Ter Outros textos sobre design gráfico. São Paulo, Edições Rosari, 2003. (Coleção
consciência de que esses ruídos existem, e que são inerentes ao TextosDesign)
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assim como as dificuldades operativas do instrumento. E, retomando não é possível uma correta compreensão do espaço e uma correta
nosso axioma, não há desenhos CAD sem o uso do instrumento CAD, e intervenção neste espaço, conseqüentemente.
todas as suas implicações. Denominamos visão espacial esta capacidade de raciocinar,
trabalhando com a idéia de que a visão e o raciocínio estão imbricados.
Como veremos, a percepção se dá através dos sentidos e do pensamento
Como foi dito, toda expressão se estrutura em torno de uma linguagem,
sobre estas sensações, e a visão é o sentido que de alguma maneira
de suportes específicos, baseados em suas potencialidades e limitações.
unifica e sintetiza nossa percepção, sobretudo no que diz respeito à
Cada instrumento possui suas especificidades, e o objetivo é utilizar, de
percepção espacial. Por isso costumamos dizer “olhe essa música”,
cada instrumento, sua máxima potencialidade, e reconhecer suas
“veja se o tempero está bom”, e raramente “cheire este pôr-do-sol”,
limitações. De onde decorre que um resultado ótimo num processo vem
“ouça esta pintura”, como nos esclarece Marilena Chauí12, sobre esta
de uma correta correlação de diversos instrumentos que se apóiam
primazia da visão. E por isso não parece incorreto denominar visão o
mutuamente.
que na realidade é a percepção e o raciocínio espacial.
Um instrumento bem direcionado, com objetivos claros, pode
potencializar muito. Um instrumento mal direcionado não só pode ser
subutilizado, como pode atrapalhar o processo. 1.2.1. Espaço
Assim sendo, consideramos aqui os sistemas de representação como Inicialmente entendido como espaço geométrico, euclidiano (depois
instrumental, como um conjunto de instrumentos, que tem como cartesiano, ordenado pelos eixos de coordenadas), matemático, a noção
objetivo o desenvolvimento da visão espacial, próximo item desta de espaço aqui trabalhada se ampliou no sentido do espaço
Conceituação. Por princípio, nenhum destes sistemas de representação psicofisiológico.
abarcará o objeto por completo. Através do uso conjunto de diversos
Este espaço geométrico-matemático é definido por possuir três
sistemas é possível uma aproximação mais completa ao objeto.
dimensões, em oposição às representações planas, que possuem apenas
duas dimensões. A partir desta caracterização é feita a primeira
distinção entre os sistemas de representação, bidimensionais e
1.2. Visão Espacial
tridimensionais.
A visão espacial é a capacidade de raciocinar estruturas espaciais,
organizações tridimensionais. A capacidade de visualizar o espaço é a Apesar dessa definição de espaço como tridimensional ter perdurado
capacidade de compreender, de raciocinar, e possivelmente interferir até os dias de hoje, não é absoluta. Aristóteles formulou as 6 dimensões,
neste espaço, modificá-lo, qualificá-lo. frente, atrás, acima, abaixo, à direita e à esquerda, em relação ao
indivíduo que se movimenta no espaço. A principal diferença deste
O objetivo deste estudo é entender como o uso do instrumental
enunciado permite o desenvolvimento desta visualização, sem a qual 12
CHAUÍ, Marilena de Souza – “Janela da Alma, Espelho do Mundo”, in: NOVAES,
Adauto (org.) – O Olhar. São Paulo, Cia das Letras, 1995.
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princípio para o anterior é a inclusão do sujeito na mensuração do O espaço estudado aqui é este mesmo ambiente, onde se desenrolam as
espaço, sujeito que se encontra imerso neste espaço, e não à parte dele. atividades humanas, onde podemos erigir edifícios e habitá-los. Porém,
o foco da discussão está na capacidade de representá-lo através de
Também Euclides sabia que este espaço não era tão rígido
diversas linguagens, de entender e criticar este espaço, e de projetá-lo,
matematicamente, e que a nossa percepção se dava esfericamente, a
de imaginar uma nova configuração para ele. O objetivo é debater o uso
partir do observador, o que impossibilitava a projeção de espaços em
do instrumental que possibilita esta análise. Não discutiremos a
planos13.
qualidade dos espaços, mas como instrumentalizar para possibilitar essa
Estas idéias foram descartadas principalmente no Renascimento, que discussão, o que nos coloca num passo anterior. Principalmente por que
postulou o espaço matemático através da perspectiva linear (e não entram parâmetros que não apenas a compreensão daquele espaço, mas
angular como previa Euclides), janela através da qual supostamente se toda a dinâmica social, econômica e cultural da população envolvida,
veria a representação verossímil da realidade. Verossimilhança etc.
conseguida pela exatidão geométrica, racional portanto.
Toda a interpretação geométrico-matemática do espaço abstrai a
fisiologia do olho na percepção visual, transformando-o num ponto ou 1.2.2. Percepção
num observador distante, no infinito. A inclusão dos aspectos Percepção é a aquisição de informação através dos sentidos. Tudo o que
psicofisiológicos quebra a rigidez matemática da projeção plana, e traz chega aos nossos sentidos pode ser percebido, ainda que nem tudo que
diversos parâmetros para compreensão da tensão entre representação e chegue aos nossos sentidos seja percebido. Mais que isso: só
realidade, foco deste trabalho, principalmente aspectos da percepção percebemos o que nos chega aos sentidos. Tudo aquilo que não sou eu é
(como veremos a seguir em 1.2.2 Percepção). Além da diferença externo a mim, e só posso acessá-lo através do mundo sensível.
matemática bi-tridimensional, entram em cena a fisiologia do olho, as Através da percepção no tempo e no espaço, somos capazes de criar em
operações intelectuais da percepção, o modo como compreendemos e nossa mente uma imagem unitária (que vem de imaginário, que se
utilizamos as linguagens, etc. forma na mente) que seja produto daquelas primeiras. Assim sendo,
através da percepção, somos capazes de acessar uma imagem que a
princípio não estava contida no mundo sensível. O resultado do
O Urbanismo, a Geografia, a Sociologia e outras ciências afins
conjunto de percepções vale mais que a soma das percepções isoladas.
diferenciam espaço de lugar, espaço de território, entre outras
denominações, tomando como um dos principais parâmetros a
qualificação que recebe o espaço, e o uso que dele se faz. A percepção é a compreensão de parte do que nos chega aos sentidos.
Por uma questão de economia de energia, não percebemos tudo o que
nos chega aos sentidos, mas apenas ao que direcionamos nossa atenção,
13
Tanto a teoria de Aristóteles quanto de Euclides estão descritas em: PANOFSKY, ao que focamos. Por isso somos capazes de olhar e não ver nada, sobre
Erwin – A Perspectiva como Forma Simbólica. Lisboa, Edições 70. 1993. tudo quando nosso foco está em outra sensação, como um som, ou em
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outra operação, como um pensamento. É isso que chamamos foco da suas bordas, que contrastam com o entorno, mas tendemos a
atenção. homogeneizar o seu preenchimento. Funciona como uma economia de
esforço perceptivo. Daqui decorrem também diversos tipos de ilusões
A analogia com o foco visual é bastante elucidativa. Ao focar um
de ótica, como manchas inexistentes, relevos e movimentos,
determinado elemento, acaba-se muitas vezes desfocando outras
ambigüidades figura-fundo, etc.
presentes no mesmo campo visual, de modo que possam se tornar
ininteligíveis. É possível inclusive um desfoque completo, onde nada se
apreende. O foco é a atenção daquele sujeito em algum elemento
daquele campo percebido.
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A organização destas imagens é sistêmica, contextual, trabalha sempre dotamos de figuras, da potência do reconhecimento16. Isso significa que
com o todo, e não com as partes individuais. Ao contrário do que o contexto cultural em questão, a faixa etária, as condições sociais e o
postulavam os racionalistas, a percepção não opera pela apreensão repertório de cada indivíduo fazem parte do ato perceptivo. A presença
individual e total de cada objeto existente num contexto, mas opera destas imagens é muito forte, e ajuda a organizar o campo perceptivo.
sempre no contexto. A apreensão do sentido se dá sempre num sistema, “Um objeto conhecido pode ‘dimensionar’ o espaço”17. Ao olhar para
onde todos os elementos presentes influenciam de alguma maneira a as coisas, buscamos organizá-las segundo nosso repertório: vemos
leitura dos demais. Esta percepção contextual é explicada por livros, que são casos particulares da imagem de livro que possuímos;
fenômenos como ilusões de ótica, onde linhas paralelas aparentam estar vemos árvores, como um objeto, e não como um agrupamento de caule,
em ângulo, etc. Do mesmo modo somos levados a enganos perceptivos, raiz, galhos e folhas, ainda que conheçamos os componentes
como observar um objeto à distância e reconhecer um cachorro, e ao tê- individualmente. Cada vez que ouvimos uma expressão como “bom
lo próximo de si perceber que se tratava de uma pedra. À primeira vista dia”, não entendemos cada palavra, mas a expressão como um todo.
foi criada a imagem do cachorro, que permanece até que a aproximação, Expressões operam como uma imagem única.
portanto a possibilidade de uma visada mais precisa, trouxesse a Mais ainda: uma frase pode operar como uma imagem unitária, como
imagem da pedra, que passa a substituir a imagem anterior um todo. Uma frase bem recebida passa a ter um sentido como um todo,
definitivamente.
de modo que somos capazes de reproduzir seu sentido, ainda que não
Também daqui tiramos outra conclusão: a percepção se dá no tempo, nos lembremos das palavras exatas. E o mesmo ocorre com o oposto.
através de visadas sucessivas. A imagem mental é composta não só Quando não apreendemos o sentido total da frase, quando não
pelo conjunto de objetos que compõe um sistema perceptivo, mas acessamos o seu significado, não somos capazes de reproduzir seu
também pelo conjunto de percepções sucessivas ao longo do tempo. sentido, ainda que sejamos capazes de recordar as suas palavras,
“Na percepção, nunca poderemos ver, de uma só vez, as seis faces de separadamente. Esse esforço de compreender o significado, de criar no
um cubo, pois ‘perceber um cubo’ significa, justamente, nunca vê-lo de intelecto a imagem mental que não existe a priori, é o ato da percepção.
uma só vez por inteiro. Ao contrário, quando o geômetra pensa o cubo, “Nenhuma idéia me é dada na transparência e todo o esforço para
ele o pensa como figura de seis lados e, para seu pensamento, as seis fechar a mão sobre o pensamento que habita a palavra deixa apenas um
faces estão todas presentes simultaneamente.” “Perceber é diferente de punhado de material verbal entre nossos dedos”18.
pensar”15.
A percepção opera pela busca de imagens mentais, referências pré- 16
existentes no nosso imaginário. Estas referências são adquiridas do CÔRTE-REAL, E. – O Triunfo da Virtude – as origens do desenho arquitetônico.
Lisboa, Livros Horizonte, 2001
mundo à nossa volta, que configuramos constantemente, isto é, 17
ALONSO, Carlos Egídio – Percepção Tridimensional, Representação
Bidimensional. São Paulo, Doutorado FAUUSP, 1994.
18
15 MERLEAU-PONTY, Maurice – “Sobre a Fenomenologia da Linguagem”, in:
CHAUÍ, Marilena de Souza – “Capítulo 2: A Percepção” in: Convite à Filosofia. Textos Selecionados. Nova Cultural, São Paulo. 1989. Coleção Os Pensadores.
São Paulo, Ática. 1996
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1.2.3. Primazia da Visão maior quantidade de informações que chega à nós. “Alguns chegam à
exatidão do número: oitenta por cento dos estímulos seriam visuais” 20.
Nossa percepção do mundo se dá através dos sentidos. Cada um dos
cinco sentidos abarca uma gama de estímulos sensíveis. Aqui Os olhos situam-se na parte frontal do rosto, portanto olhar é voltar à
interessam os que colaboram na percepção espacial. face, é ato intencional, o que para Husserl é a definição da essência dos
atos humanos 21 . Mais ainda, ao olhar apreendemos as distâncias, e
Como já foi dito, costumamos dizer “veja esta música”, sem nos dar
nossa relação com os objetos. Medimos o espaço através do nosso
conta da sinestesia. A visão possui a capacidade de congregar os
alcance corporal. “Tudo o que eu vejo por princípio está a meu alcance,
demais sentidos. Através de imagens somos capazes de evocar o tato, o
pelo menos ao alcance do meu olhar, assinalado no mapa do ‘eu
paladar, desde que esta relação já exista na mente.
posso’”22. Por isso Merleau-Ponty afirma que “ver é ter à distância”23.
Filósofos do iluminismo discutiram longamente sobre como a visão
percebe um circulo sombreado como sendo uma esfera sólida.
Relacionam de diversas maneiras a experiência do mundo vivido, a 1.2.4. Fisiologia e Percepção Visual
visão e o tato, propondo a abstração de cada um destes sentidos através Percebemos do que foi exposto até agora que a percepção visual vai
de hipóteses, como um cego que adquirisse visão, ou uma estátua que muito além da projeção na retina da luz refletida pelos objetos. Esta
apenas enxergasse, mas não pudesse tocar. Também foram operação mecânica, que chegou a ser equiparada à perspectiva cônica,
acrescentados a este debate relatórios médicos, como de um garoto que
não leva em conta todos os processos mentais envolvidos na percepção.
aos treze anos de idade foi operado de catarata, sendo até então
A recepção da luz na retina é um processo passivo, mas a percepção das
praticamente cego. Percebeu-se que a relação entre tato e visão não
figuras ali existentes e a formação das imagens na mente é um processo
havia sido realizada pelo menino, que não conseguia associar as
ativo.
imagens inéditas às coisas já conhecidas por ele através do tato. Não
podia emitir qualquer juízo sobre as distâncias; não sabia distinguir um Sabemos que a percepção se dá de maneira sistêmica, onde todos os
gato de um cachorro visualmente, apesar de fazê-lo pelo tato; não elementos presentes se inter-relacionam. Ou seja, percebemos sempre
conseguia entender pinturas, pois mal sabia reconhecer as formas das os objetos contextualizados.
coisas reais, menos ainda sua representação num plano. 19 Se a percepção sempre se dá contextualizada, o campo visual em
A visão opera como uma síntese dos demais sentidos, desde que estes questão é um elemento fundamental. No caso da visão, o campo de
tenham sido estimulados em conjunto, fato que não ocorreu no exemplo
citado. 20
BOSI, Alfredo – “Fenomenologia do Olhar”, in: NOVAES, Adauto (org.) – O
Admitimos a primazia da visão neste estudo a partir de um Olhar. São Paulo, Cia das Letras, 1995.
21
desenvolvimento equilibrado. O fato é que a visão é responsável pela BOSI, Alfredo. Op. Cit.
22
MERLEAU-PONTY, Maurice – “O Olho e o Espírito”, in: Textos Selecionados.
19
BAXANDALL, Michael – Sombras e Luzes. São Paulo, Edusp, 1997. (texto e arte Nova Cultural, São Paulo. 1989. Coleção Os Pensadores.
23
15). Há um capítulo dedicado à este debate no Iluminismo. MERLEAU-PONTY, Maurice. Op. Cit.
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24
ALONSO, Carlos Egídio – Percepção Tridimensional, Representação
Bidimensional. São Paulo, Doutorado FAUUSP, 1994.
25
MERLEAU-PONTY, Maurice. Op. Cit.
26
BOSI, Alfredo. Op. Cit.
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fenômeno pode ser dar em diversas escalas, de acordo com a dimensão diante de uma figura tridimensional e sua representação bidimensional
dos sinais e a distância do observador. Um bairro inteiro pode ser lido serão discutidas em 2.1 Bidimensionais32.
como uma textura numa foto aérea.
As texturas podem também dar informações sobre a profundidade, se Podemos sintetizar todos os aspectos visuais da percepção espacial
trabalhadas de acordo com a perspectiva. Uma simples gradação de através do espelho. Uma figura refletida num espelho plano possui
linhas pode dar a idéia de profundidade, pois trabalha de acordo com a todas as qualidades visuais de uma figura real (ignorando-se o fato de
perspectiva, de que falaremos adiante. estar espelhada). A sua perspectiva é correta; é possível ter uma visão
Todas essas informações, sombra, textura, são complementares à forma binocular, pois cada olho terá sua projeção levemente diferente; ela será
do objeto. Esta é apreendida, como já dissemos, pelas bordas, pelos devidamente sombreada e texturizada; é possível se movimentar diante
contrastes de luminosidade. Uma variação abrupta de iluminação da figura, inclusive alterar o foco; ela encontra-se devidamente
costuma ser interpretada como uma borda, de modo que somos capazes contextualizada. Porém, não possui materialidade, não é tátil, é apenas
de ler não apenas as bordas dos objetos, mas as bordas das sombras uma imagem visual intangível. O espelho funciona como uma janela
lançadas. A interpretação de bordas vai se compondo num sistema de que olha para a realidade.
formas que, se não é idêntico ao da perspectiva linear, é similar. As
formas se projetam na retina a partir de um ponto de vista, que se
aproxima da construção da perspectiva cônica, e em caso de grandes 1.2.5. Desenvolvimento-Aprendizado
distância, da perspectiva paralela. A variação de tamanho, posição e o Procuramos aqui, com o instrumental enunciado, desenvolver o
escorço que as formas sofrem depende da perspectiva, do ponto de vista raciocínio e a visão espacial. E para tal é necessário entender como
do observado em relação ao que se observa. opera o aprendizado e o desenvolvimento das faculdades mentais. É
Assim sendo, apesar de termos comprovado que a perspectiva linear claro que esse tema compete a outras áreas, principalmente à pedagogia
não é uma reprodução do aparelho visual, não podemos negar sua e à psicologia, e sua abordagem aqui se dará de maneira bastante rasa e
validade como simulação de um dos mecanismos deste aparelho, o da intuitiva, não se valendo de muitas fontes dessas áreas, devido às
percepção das formas. limitações desta pesquisa. Assim sendo, será esboçada aqui uma breve
fundamentação do aprendizado e do desenvolvimento.
Vale lembrar que estes três últimos aspectos, forma, sombra e textura,
podem ser representados de maneira estática, diferente daqueles citados Como já foi dito, estuda-se a linguagem gráfica e seu desenvolvimento,
no início, dependentes do movimento. Podem portanto ser plasmados e para isso serão feitos alguns paralelos com a linguagem verbal, da
numa representação plana. As relações entre o que é captado pelo olho qual há maior quantidade de estudos.
32
Para um estudo mais completo sobre o assunto, conferir: ALONSO, Carlos Egídio –
Percepção Tridimensional, Representação Bidimensional. São Paulo, Doutorado
FAUUSP, 1994.
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Por outro lado, numa aula prática dificilmente um aluno sairá sem ter só existe uma materialização dos conceitos numa organização sensível,
apreendido nada, uma vez que a atividade faz parte dela, diferente da como também uma maior clareza deles por parte do autor.
aula “palestra” onde é possível a passividade completa. A diferença é Podemos dizer que, ao redigir o texto, o sujeito desenvolveu um
que neste caso trata-se de um aprendizado mais operativo, a atividade conhecimento que já possuía. E também desenvolveu a habilidade de
prática é o próprio objetivo do ensino. No outro caso busca-se um encadear as palavras, operação necessária e inerente ao processo.
ensino mais conceitual, e a atividade prática, a anotação, vêm como
forma de estimular a atividade mental.
Deste modo, a materialização se mostra um eficiente método de
organização e revisão de um conhecimento presente na mente. Ao se
Através do exercício, das atividades, é que se aprimoram as expressar, o sujeito é obrigado a realizar a ponte entre seu mundo
capacidades. Quanto mais desenvolvidas, mais apto está o sujeito a interior, subjetivo, e o mundo sensível, realizando uma materialização
interpretar novos estímulos postos a ele. Um escritor possui facilidade que permite o acesso de outros sujeitos, ao mesmo tempo em que
para compreender textos, um pintor possui olho atento ao mundo desenvolve seu conhecimento. Uma maior familiaridade com os
visível, um músico é sensível a estímulos sonoros em geral. Este conceitos e com o suporte da materialização resulta num melhor
desenvolvimento se dá através da leitura de estímulos externos, com a resultado, e vice-versa.
atividade mental, e da produção de novas organizações sensíveis, da
expressão externa da interioridade do sujeito. A atividade do sujeito mostra-se assim um parâmetro bastante eficiente
para a compreensão do aprendizado e desenvolvimento das faculdades
A capacidade de expressão do sujeito demonstra a afinidade que ele mentais.
possui com um assunto. Ao se expressar, precisa organizar o
conhecimento relacionado que possui interiormente numa determinada
materialização. Deste modo desenvolve suas idéias, podendo inclusive 1.2.6. Desenvolvimento da Visão Espacial
efetuar relações ou atingir conclusões inesperadas.
A partir destes princípios, procuramos entender como aplicar os
Para escrever um texto, é necessário ter as idéias em mente. É possível diversos sistemas de representação na busca pelo desenvolvimento da
já ter todo o conteúdo do texto sem ter escrito. A sua materialização, o visão espacial.
processo de seleção e organização das palavras, exige uma prática no
manejo do verbal, que não se confunde com os conceitos que se Cada sistema de representação é uma linguagem, com um potencial
pretende transmitir. Ao longo da execução o embate entre as palavras e cognitivo e comunicativo distinto. Percebemos que, ao comunicar algo
as idéias exige uma constante revisão dos conceitos, todos eles já a alguém, somos obrigados a estruturar a linguagem em torno do nosso
presentes desde o início. É um processo diacrônico muito claro para o discurso (seja ele verbal, visual, sonoro, etc.), e que esse esforço
autor, ainda que apareça plasmado num objeto único e sincrônico para comunicativo nos obriga a uma organização das nossas idéias, que
os demais sujeitos, leitores do produto final. Ao final do processo, não antes se encontravam esparsas. Também que, ao estruturar a linguagem
para significar o que pretendemos, materializamos numa representação,
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que passa a estar disponível então. Inclusive para o próprio atenção ao mundo visual. A expressão do mundo visual através de uma
comunicador, que passa a dispor deste novo “aparelho significante”. É linguagem de representação “nos obriga a transitar entre essa percepção
a aquisição de significados. habitual [pragmática] e uma percepção atenta, e é esse estado de
atenção que pode provocar o desenvolvimento do conhecimento e,
Sabemos também que esse processo de estruturação dos significados
conseqüentemente, uma nova percepção” 34.
não é simples, podendo ser inclusive penoso. Nossos pensamentos só se
estruturam através de uma linguagem. Se não possuímos o domínio da O produto da expressão traz plasmado todo o processo, numa
linguagem em questão, ou se não temos a definição da linguagem a ser organização material sincrônica. O processo não é recuperável, a não
utilizada, os pensamentos ficam abstratos. No momento de estruturá-lo ser pelo próprio produtor (sendo o produto final apenas um suporte da
numa linguagem, ele não “caberá” nela, ou seja, não pode ser memória do processo de produção). Uma representação gráfica, como
materializado adequadamente e não significará o que deveria. um desenho por exemplo, é a materialização sincrônica de um processo
diacrônico de percepção, seleção e combinação de alguns aspectos
É freqüente perceber neste sentido a decepção de desenhistas iniciantes
numa linguagem específica. Como dissemos, este processo é individual
com a distância entre o produto realizado e a idéia que tinha em mente
e interno para cada sujeito, podendo ser expresso em parte verbalmente,
de seu desenho. Não percebem a importância da produção deste
textualmente.
desenho que, mesmo errado, está desenvolvendo neste sujeito a
capacidade de se expressar nesta linguagem, “aprendizado feito de idas O produto interessa enquanto linguagem comunicativa, enquanto
e vindas, de grandes conquistas e de derrotas amargas”33. expressão de algo para alguém externo. Porém, esta comunicação
depende da capacidade do sujeito que se expressa em tornar claras as
O ato de estruturação de uma linguagem, de expressão do sujeito, é
sempre um processo diacrônico, que se desenvolve no tempo. Essa idéias através de uma linguagem. Do ponto de vista do
desenvolvimento individual do sujeito, interessa menos o produto
estruturação das linguagens ocorre num processo constante de seleção,
desenho, e mais o processo pela qual passou seu produtor, a sua
do que deve ser comunicado, e de que modo deve ser combinado.
realização. Para a análise do desenvolvimento e do aprendizado,
Este processo pode ser penoso, feito de idas e vindas, mas é um dos interessa o processo de estruturação da linguagem.
momentos mais ricos da estruturação das linguagens, da aquisição dos
significados.
Além disso, ao se expressar através de uma linguagem, o sujeito aguça
sua percepção na busca por uma melhor expressão. No caso das
linguagens visuais, aquele que se expressa visualmente passa a ter mais
33
MELO, Chico Homem de – “ “Impressões digitais”, in: Os Desafios do Designer &
Outros textos sobre design gráfico. São Paulo, Edições Rosari, 2003. (Coleção 34
ALONSO, Carlos Egídio – Percepção Tridimensional, Representação
TextosDesign) Bidimensional. São Paulo, Doutorado FAUUSP, 1994.
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2. Os Sistemas de Representação
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Se considerarmos o tempo como uma quarta dimensão, podemos dizer também que a percepção opera na busca por imagens mentais, pelo
que a grande maioria das representações planas perde esta dimensão reconhecimento de imagens prévias, e que a representação é a tentativa
também. Alguns exemplos que trabalham com o tempo serão debatidos de configurar algo numa estrutura reconhecível, de modo que se crie na
em 2.3 Alternativas. mente uma imagem que transcenda a mera materialidade. Essa
configuração em imagens reconhecíveis pode ser exemplificada pela
Além disso, perdem-se todos os demais sentidos que não a visão. Mas
representação de figuras humanas, possivelmente uma das imagens
através da visão é possível evocar os demais sentidos, de modo que
mentais mais fortes que possuímos segundo Baxandall 35 . Ao
somos capazes de perceber texturas visualmente, de salivar ao ver
representar bidimensionalmente uma figura humana, conseguimos,
imagens de alimentos, eventualmente até perceber sons e movimentos
apesar de todas as perdas perceptivas já explicitadas, configurar uma
numa imagem estática. A figura evoca na mente do sujeito que a vê
estrutura que é percebida como uma figura humana.
uma imagem presente em sua mente, de modo que esta percepção de
outros sentidos está circunscrita às experiências pela qual o sujeito Essa é a base do figurativismo. A partir da nossa percepção de que a
passou. Uma pessoa diante de uma foto de um muro chapiscado que figura representa alguma coisa, tomamos essa representação como
nunca presenciou este tipo de acabamento não terá a mesma percepção sendo a coisa, e organizamos o campo perceptivo a partir dessa imagem
quanto alguém que já se ralou em um. mental.
Nas artes plásticas costuma-se opor figurativismo ao abstracionismo,
Alguns outros elementos conseguem se manter, ou ser simulados. As imagens que não têm intenção de representar figuras. Mondrian
relativiza essa nomenclatura, chamando a arte dita figurativa de abstrata,
imagens mentais e a perspectiva são os principais na imagem figurativa.
A partir de construções geométricas, é possível simular a perspectiva da pois ela seria uma abstração da realidade, uma representação que exige
projeção da luz na retina. Com suas devidas limitações, como deve ser uma abstração; e a dita abstrata, de concreta, pois ela diz respeito à sua
em qualquer modelo matemático de compreensão da realidade. O forma de arte, ela não representa, é ela concretamente. Essa definição
mecanismo da perspectiva será discutido em 2.1.3 Perspectivas. vêm de encontro à idéia de que a representação nunca será aquilo que
ela representa; será portanto sempre uma abstração.
Também podem ser simuladas as sombras e iluminações, que trabalham
dentro do sistema da perspectiva. Sua presença colabora na simulação A arte concreta é uma maneira da linguagem dizer sobre ela mesma, ou
dos volumes, quando apenas a construção das linhas da perspectiva seja, é uma metalinguagem, uma auto-reflexão. A linguagem não está
deixa ambigüidades. Também podem ser representadas as texturas, que usufruindo do seu potencial comunicativo, está tensionando sua
qualificam os planos. Porém, quanto mais se acrescenta destes materialidade até os limites. Essa reflexão de natureza metalingüística
elementos – sombras e texturas – mais se torna complexa a produção pode ser realizada também através do figurativismo. Um bom exemplo
desta representação. de metalinguagem figurativa é a obra de M. C. Escher, que através de
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A posição do plano é a forma de uso do plano do desenho, como um reconstruídos noutros espaços e noutros tempos”38. A materialidade do
plano, que ele chama plano frontal, ou como um espaço com desenho, assim como de qualquer elemento bidimensional, é de simples
profundidade, que ele chama plano inclinado. Esta distinção abarca manejo. Podem ser impressas, transportadas, publicadas. No caso de
inclusive gráficos e esquemas geométricos, planos frontais, que não uso didático, tanto da parte de alunos quanto de professores, a questão
interessam a este estudo. Aqui trabalharemos com uma definição mais do transporte é muito importante.
detalhada, através dos tipos de projeção, ortogonal, cônica, etc.
O processo de enfatismo-exclusão é o processo de seleção do que será O desenho requer um plano definido, onde será grafada a figura. Este
representado e da forma como será produzida a representação. É o ato plano, geralmente a folha de papel, é finito, diferente do nosso campo
da estruturação da linguagem que falamos em 1.2.6 Desenvolvimento de visão que pode estender-se conforme nos movemos. Essa finitude do
da Visão Espacial. plano exige uma relação entre o que será representado e onde será
O desenho é a linguagem mais utilizada para o projeto do espaço. representado. É muito comum, por parte de alunos iniciantes, a
Possui grande potencial investigativo, além uma agilidade e praticidade apresentação de desenhos onde partes consideradas secundárias da
de uso, o que levou Perrone37 a considera-lo o signo mais competente figura foram omitidas sob a justificativa de que “não coube no papel”.
da arquitetura. Possui muitas facilidades de produção se comparado à A omissão destas partes pode provocar uma descontextualização dos
representação tridimensional e às representações eletrônicas. elementos e resultar em leituras erradas. È importante perceber que a
Exigem pouca infra-estrutura e tecnologia. Basta um plano e um imagem, contextualizada, é o objetivo primeiro do desenho e se ela não
instrumento para impressionar a superfície para realizar um desenho. cabe no papel, ou deve-se adequar o papel ao desenho, ou o desenho ao
papel, mas nunca truncar a imagem.
Claro que, conforme a complexidade e a definição do desenho
aumentam, aumenta-se a necessidade de instrumentos auxiliares – Entender isso é perceber que a linguagem possui suas limitações, a sua
réguas, esquadros, gabaritos, canetas específicas. O desenho técnico, materialidade é uma delas, e é necessário saber lidar com elas, para que
instrumentado, presta-se à definição ou comunicação com precisão, não se tornem empecilhos.
como a execução de uma obra. Porém, o desenho à mão livre, o croqui,
tem uma agilidade de produção maior, e presta-se à fixação de idéias e
à discussão, como veremos em 2.1.4 Croquis.
Além disso, os desenho “são também a possibilidade da sua fácil
transmissão e deslocação, sendo copiados, reproduzidos e, finalmente,
37 38
PERRONE, Rafael Antonio Cunha – Desenho Como Signo da Arquitetura. Tese CÔRTE-REAL, E. – O Triunfo da Virtude – as origens do desenho arquitetônico.
apresentada à FAUUSP para obtenção do grau de Doutor. São Paulo, 1993. 3 vol. Lisboa, Livros Horizonte, 2001
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O modo de organização mais conhecido deste sistema é a Geometria referências gráficas como escala humana, carros, etc. Parte deste
Descritiva (GD) de Gaspar Monge, que trabalha conjuntos de dois, três recursos é matemático, como a escala utilizada, as cotas, mas outra
ou mais planos de projeção. O princípio deste trabalho em conjunto parte é mais sensível, como a utilização de escala humana, ou mesmo
vem da difícil leitura que estas projeções proporcionam isoladamente, e da escala gráfica.
do ganho que se tem ao trabalhar duas vistas, ortogonais entre si. Assim,
com dois planos de projeção, cada um deles bidimensional, consegue-se
uma melhor representação da estrutura tridimensional. No caso da
arquitetura, estas projeções podem ser as fachadas e a vista superior, ou
duas fachadas, vistas externas.
Apesar de geometricamente serem vistas impossíveis de se obter, pois
baseiam-se em distancias infinitas, é possível uma visualização
semelhante, tomando-se uma certa distância do objeto, caso haja espaço.
Mas o objetivo do uso destes desenhos não é uma representação do
sensível, e sim uma representação do ideal, do exato.
Um avanço neste sistema de representação é a introdução da abstração
do corte. Ao seccionar a estrutura representada com um plano, ao
mesmo tempo de corte e de projeção, o que se projeta não é apenas uma
vista, mas um corte que mostra o interior desta estrutura. Esta
propriedade é de grande interesse para a mecânica, desenho industrial e
arquitetura.
A partir deste princípio se desenvolve a planta e o corte na arquitetura,
principais instrumentos de trabalho. São os sistemas de representação
mais úteis operativamente na arquitetura e engenharia, e por isso
mesmo, os mais utilizados. Por manter as proporções (escala), são
projeções extremamente úteis para a resolução de problemas e para a
execução de desenhos operativos. Para a representação de objetos de
pequeno porte podem ser utilizados desenhos em escala 1:1, mas Planta executiva do pavimento-tipo dos edifícios Paulicéia e São
geralmente utilizam-se escalas reduzidas ou ampliadas. Porém, a sua Carlos do Pinhal, arquiteto Jacques Pilon, 1956. As cotas e demais
utilização requer alguns cuidados, desde deixar escrito a escala convenções gráficas necessárias à construção tornam-se ruídos
utilizada (1:100, 1:500), inserir escala gráfica no próprio desenho, para quando se busca apenas uma leitura espacial. (fonte: Biblioteca
casos de reduções ou ampliações, inserir as cotas, até a utilização de FAUUSP, setor de projetos)
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Essa distinção entre planta e corte não existe em outros campos como a Média era muito comum a prática do palimpsesto, reutilização do
engenharia mecânica ou o desenho industrial. O plano do solo não é suporte para execução de um novo desenho ou texto, que acarretou
mais tão importante, e o uso cruzado de vistas e cortes é mais solto. perdas documentais inestimáveis. Essa prática se justificava não apenas
Além disso, o espaço interno, quando existe, não tem a mesma pelo custo do material, mas também por que o desenho era algo
importância que na arquitetura, de modo que o uso de projeções efêmero, não regia a obra, que era detalhada durante a execução no
cortadas não é maior que o de projeções externas. canteiro. O conceito de projeto como desenhos executivos acabados
antes da obra, e mais ainda, projeto como operação mental e artística de
um intelecto humano, só viriam surgir no Renascimento.
A partir do Renascimento temos essa ampliação da idéia de projeto, e
consequentemente uma maior documentação. O projeto se distancia do
canteiro, deixa de ser aquele traço, esboço de proporções para reger os
artesãos na obra, e passa a ser executivo. Passa a ser cosa mentale, e
deve deixar clara sua diferença em relação ao artesanato e aos ofícios,
cosa manuale. Como forma de exprimir essa posição da arquitetura
dentro das artes maiores e para difundir esse ideal, surgiram os
diversos tratados de arquitetura, baseados no tratado romano de
Vitrúvio, e que a partir do renascimento até o século XIX se espalharam
pela Europa e suas colônias. Além de descrever verbalmente a
arquitetura, traziam exemplos de grandes edifícios, modelos das regras
descritas. Esses edifícios eram representados através de imagens,
principalmente plantas, cortes e fachadas. Através destes desenhos
muitos edifícios se tornavam conhecidos em outros países. Essa
divulgação só foi possível após a invenção da prensa de Guttemberg, e
da evolução das gravuras, permitindo uma reprodução satisfatória das
Elevações da Catedral de Reims. O desenho arquitetônico medieval
não era exato, consistia apenas em um traçado geral, a ser
ilustrações. Esta prática documental e difusora dos tratados é
detalhado durante a obra pelos artesãos. (fonte: PERRONE, Rafael freqüentemente comparada à taxonomia, onde o que se retrata nas
Antonio Cunha – Desenho como signo da arquitetura) ilustrações não é um exemplar de uma planta ou animal específico,
manifestação individual, mas o tipo, o modelo daquela espécie. É o
Durante a antiguidade temos plantas e fachadas gravadas em pedra e mesmo raciocínio dos tratados, não se pretende registrar manifestações
talhadas em madeira, suportes de difícil trabalho, o que resultavam individuais, mas edifícios que sirvam de modelo. Por outro lado, a
desenhos bastante simplificados. O uso de pergaminhos ou papiro era taxonomia, assim como os tratados, presta-se a retratar detalhes, a
regulado, pois era um material difícil de obter, de modo que até a Idade
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separar em componentes, a analisar a estrutura do objeto, valendo-se de alguns exemplos dados por Perrone 39 . Esse pensamento geométrico-
desenhos que se fecham em partes e abstraem seus contextos. racionalista caminhava em paralelo com as novas realizações na
engenharia, arquitetura e no recém criado campo do desenho industrial
no período da revolução industrial. Quanto mais se caminhava para
uma industrialização e uma racionalização da produção, mais o desenho
tinha que ser unívoco, para isso codificado, portanto menos icônico.
Durante a Primeira Guerra Mundial, foi criada na Alemanha a
normatização, que veio organizar essas codificações com intuito de
criar um vocabulário comum, onde fosse possível intercambiar
informações e produtos, otimizando a produção na escala nacional.
Posteriormente essa normatização se estendeu pelo mundo, e ainda hoje
tem grande importância no campo do desenho técnico e da
industrialização, entre muitos outros.
No ano de 1870 foi criada a cópia heliográfica, primeiro sistema
mecânico de reprodução de desenhos técnicos. Essa nova técnica trouxe
alterações profundas no uso do desenho técnico. Deixou de existir a
profissão de desenhista copista, agora as cópias eram obtidas através
deste novo sistema, que utilizava a luz solar para gravar a imagem no
papel preparado quimicamente. Para isso, a imagem tinha que ser mais
Classificação das ordens clássicas do tratado de Serlio, e Detalhes simples, não poderiam haver mais aquarelas, aguados, grafismos,
do capitel e da arquitrave do tratado de Palladio. As vistas apenas hachuras e preenchimentos sólidos, e uma simplificação
ortogonais representando detalhes descontextualizados, como uma considerável no léxico, que colaborava no aumento da codificação do
“taxonomia da arquitetura”. (fonte: PERRONE, Rafael Antonio desenho. Também a partir de agora a presença de desenhos nas obras
Cunha – Desenho como signo da arquitetura) era maior, pois o custo de se fazer cópias reduziu bastante, diferente das
cópias feitas à mão.
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2.1.3. Perspectivas
As perspectivas são sistemas de projeção onde se busca representar as
três dimensões simultaneamente. Material e tecnologicamente, uma
perspectiva é igual a uma projeção ortogonal. Ambas são desenhos
planos, construídas geometricamente com auxílio de um instrumental
técnico. O que difere os dois sistemas é o sistema geométrico de
projeção e a intenção comunicativa.
Existem basicamente dois tipos de perspectiva, a cônica e a paralela. A
primeira, perspectiva cônica, baseia-se em raios de projeção que
convergem num ponto, o observador, e se projetam num plano à sua
frente. A perspectiva paralela não possui observador, ou ele é
considerado a uma distância infinita, de modo que os raios de projeção
sejam paralelos entre si.
Ambas perspectivas podem se utilizar de recursos como texturas e
sombreados, sempre através de simulações destes fenômenos. As
texturas são produzidas de maneira mais artística, através de grafismos,
hachuras e recursos gráficos de desenho.
As sombras podem ser obtidas intuitivamente, de uma maneira mais
artística, ou através do traçado geométrico que, dentro de um modelo de
Construção da perspectiva cônica através da planta e da elevação,
simplificação matemática do traçado da luz baseada no mesmo sistema conforme formulado por Leon Batista Alberti. (fonte: PANOFSKY,
de projeção da perspectiva, consegue traçar sua forma. As intensidades Erwin – Perspectiva como forma simbólica)
não são calculáveis geometricamente, e têm que ser intuídas.
Esse modelo geométrico de traçado de sombras, dentro do sistema da
perspectiva, ignora diversos fenômenos da luz, como a densidade do ar,
que faz com que a intensidade vá se perdendo de acordo com a
distância, ou a difração da luz, que torna indefinidas as bordas das
sombras.
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onde os ângulos são todos iguais; e as cavaleiras, onde os raios de A principal vantagem da perspectiva paralela é que, ao lançar o
projeção são oblíquos em relação ao plano de projeção. Apesar destas observado ao infinito, as linhas que são paralelas no objeto mantém-se
diferenças na construção, conceitualmente elas têm muitas semelhanças. paralelas na projeção, ao contrário da perspectiva cônica. Consegue-se
assim uma maior facilidade na construção, uma maior agilidade.
Porém , está estreitamente vinculada aos três eixos cartesianos espaciais,
X, Y e Z. Qualquer outra direção depende destas coordenadas para ser
construídas, o que significa que ela possui um vínculo com a
ortogonalidade, maior do que a perspectiva cônica.
Perspectiva de uma máquina de William Farish, que ao procurar Devido ao seu princípio de grande distanciamento, serve para
transmitir mais facilmente o funcionamento das máquinas, acabou representar edifícios vistos a partir de vôos, ou para representar objetos
sistematizando pela primeira vez a perspectiva paralela. (fonte: de menores dimensões. Têm grande aplicação na representação de
PERRONE, Rafael Antonio Cunha – Desenho como signo da máquinas, componentes mecânicos, projetos de marcenaria, etc. É
arquitetura)
inclusive denominada por alguns “perspectiva de máquina”.
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Esquema da primeira máquina perspéctica de Brunelleschi. Através Se tomarmos como contra-exemplo uma perspectiva externa barroca,
de um furo na placa que contém o desenho, o observador vê da remodelação de Roma, podemos notar que mesmo apresentando dois
refletido no espelho a perspectiva corretamente construída, tendo a edifícios do ponto de vista externo, o conjunto dos edifícios conforma o
ilusão de ver a realidade. O furo garante a imobilidade e a espaço, que pode ser lido como um espaço interno, cujo teto é o céu.
monocularidade do observador. (fonte: PERRONE, Rafael Antonio
Cunha – Desenho como signo da arquitetura) Essa distinção não é apenas um modo de utilizar a perspectiva, é
também uma diferença de concepção de arquitetura e urbanismo. Os
arquitetos do renascimento projetavam de maneira muito menos
vinculada ao espaço urbano, quando comparados com os arquitetos
barrocos. Estes últimos são conhecidos por suas grandes remodelações
urbanas, onde importava menos cada edifício construído e mais a massa
das edificações que constrói o espaço público urbano.
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Perspectiva paralela e vistas de um edifício, Theo Van Doesburg. Pintura de Theo Van Doesburg. A composição com planos de cores
Dentro do ideal neoplasticista, o edifício se converte em objeto e puras em perspectiva paralela aproxima a arquitetura, o desenho
em imagens planas de grando força plástica, através das projeções insdustrial e a pintura. (fonte: LAMPUGNANI, V. M. – Dibujos y
ortogonais e da perspectiva paralela. (fonte: LAMPUGNANI, V. M. – textos de la arquitectura del siglo XX – Utopía y realidad)
Dibujos y textos de la arquitectura del siglo XX – Utopía y realidad)
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cada representação que se faz, as idéias são impulsionadas a diante e o Ao mesmo tempo, é também um desenho mais expressivo que os
partido do projeto vai sendo formado, num processo diacrônico. desenhos instrumentados. É caligráfico, por isso muito mais pessoal,
mais autoral. Muitas vezes as proporções ou a construção geométrica
Serve também às leituras rápidas, como anotações, de espaços, de
são exacerbadas buscando-se uma expressividade que enfatize as
edifícios, de objetos. São anotações visuais de um espaço e servem de
vontades que motivaram o desenho.
documentação, de registro, mas também servem de meio para despertar
a atenção e a reflexão aos aspectos visíveis das formas.
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Croquis analíticos sobre o desenvolvimento espacial de uma planta. Levantamento gráfico realizado pelo professor Antônio Luiz Dias de
(fonte: BONSIEPE, Gui – Teoria y Prática del Diseño Industrial. Andrade (Janjão) de edifício no Vale do Paraíba . A partir de
Barcelona, Gustavo Gili. 1978) medidas em passos, desenhou plantas, cortes e elevações em
croqui, complementado por anotações textuais. (fonte: Revista
Projeto, novembro de 1994)
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Ao contrário dos croquis, os desenhos instrumentados pelo CAD são através de meios digitais pode trazer algumas inovações, como o uso de
pouco autorais. “O CAD, nos nossos dias, corresponde à prece zoom para trabalhar várias escalas num só desenho.
formulada por Alberti há quinhentos anos atrás. A interferência do Um salto significativo na alteração da percepção espacial se dá na
corpo é mínima e o buraco negro do ecrã é uma representação mais utilização dos CAD 3d, como veremos no item 2.2.2 Modelos
plausível do plano ideal do que a folha de papel. (...) Aproximamo-nos Eletrônicos.
do momento em que o mínimo de acções corporais basta para
impressionar uma superfície” 43 . Os desenhos eletrônicos podem
trabalhar com um plano infinito, diferente do plano do papel, grande
fator limitante. Além disso, outros recursos como o zoom (que muda
toda a percepção da escala), o copiar/colar, o desfazer, muito simples
de se utilizar nos computadores, alteram o modo de produção
profundamente.
Uma característica fundamental dos meios eletrônicos é o formato da
saída. Um arquivo eletrônico sem suporte de saída é apenas um
punhado de dados binários, inutilizáveis. No caso dos desenhos, é
necessário trabalhá-los através da tela do monitor, principal meio de
saída dos computadores, mas sua utilização técnica costuma ser através
do papel impresso, assemelhando-se aos desenhos analógicos. É
possível a impressão de infinitas cópias com grande qualidade baseados
nos arquivos eletrônicos, o que traz uma facilidade a mais de difusão e
uso. Mas é possível a utilização de outros meios também, como o
próprio meio eletrônico. É possível gerar apresentações em formato
digital e apresentá-las em projeções de datashow, ou difundí-las através
de mídias como CD-ROM, ou pela internet.
Do ponto de vista da leitura espacial, o CAD não traz grandes
inovações em relação ao desenho técnico físico, no papel. As maiores
inovações estão no momento da produção, do fazer. As alterações na
fruição do desenho digital em relação ao desenho físico variam de
acordo com o meio de saída. Impresso, não traz grandes diferenças; Planta construída no software AutoCAD. Os recursos eletrônicos
alteraram muito pouco a utilização dos desenhos bidimensionais.
43
CÔRTE-REAL, E. – O Triunfo da Virtude – as origens do desenho arquitetônico. (fonte: www.autodesk.com)
Lisboa, Livros Horizonte, 2001
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2.2. Tridimensionais
As representações de natureza tridimensional trabalham de maneira
muito diversa daquelas de natureza bidimensional. Não há grande parte
daquelas perdas perceptivas, binocularidade, texturas e sombras,
movimento, etc., pois se tratam efetivamente de imagens
tridimensionais. Porém, ainda são representações e, como tal, sempre
prescindem de algumas características do representado.
Outra característica importante das representações tridimensionais é o
fato delas ocuparem volume no espaço, pois são baseadas em uma
materialidade que não apenas um plano, o que acarreta conseqüências
como dificuldade no transporte e difusão. Para ser transportado, um
modelo físico costuma exigir mais espaço e cuidados do que desenhos,
variando conforme as dimensões. E representações planas em geral são
muito mais simples de se difundir por meios impressos e eletrônicos do
que as espaciais, que costumam ser fotografadas, portanto
transformadas em imagem plana, para poder ser impressa no papel.
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Modelo estrutural da Sagrada Família, Antoni Gaudí. Ao construir Maquete modular utilizada numa discussão de projeto entre uma
uma maquete de correntes penduradas (um modelo invertido assessoria técnica e um movimento de moradia em São Paulo.A
portanto), obtém-se um funcionamento à tração análogo ao de necessidade da compreensão espacial do projeto por parte dos
compressão necessário para se obter a mesma forma em pedra. futuros moradores demandou formas de representação alternativas.
(fonte: Página Gaudi Club, www.gaudiclub.com) (fonte: ARANTES, Pedro Fiori – Arquitetura Nova. São Paulo, 34.
2002)
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No Desenho Industrial a utilização de modelos é mais extensa e mais alguns casos pode ser em escala natural, permitindo inclusive ser
organizada. São utilizados tipos de modelo mais variados, para diversos tateado; ou em escala, sendo avaliado apenas visualmente. Geralmente
fins, inclusive com uma nomenclatura mais específica. Podemos é utilizado no início de um projeto, para a verificação das dimensões,
destacar alguns mais relevantes. sem desenvolver o detalhamento. Seu uso é comum também no início
de projetos de arquitetura. Geralmente é produzido de materiais simples,
como papel, argila, massas plásticas, como um croqui volumétrico, de
produção rápida e que permita alterações.
Há também os modelos ergonômicos e as gaiolas, que visam
representar as formas em relação ao ser humano. São extremamente
importantes para o desenvolvimento de projeto. Devem
necessariamente ser em escala natural, e não precisa ser visualmente
Esquema de utilização de modelos e desenhos técnicos em Desenho semelhante, pois o que interessa são as dimensões, as formas táteis, e a
Industrial. Através da utilização alternada de suportes bi e
tridimensionais, o projeto vai sendo impulsionado. (fonte: FAU USP
possibilidade de relação ou de inserção dos seres humanos.
– Desenho Industrial. São Paulo, FAU USP. 1982) Dependendo da necessidade, pode ser um modelo simples, como um
cabo que se adapte à pegada manual, até um modelo complexo, como
uma cabine de automóvel, onde pessoas de dimensões variadas podem
avaliar o dimensionamento e o posicionamento dos diversos comandos.
Os simulacros são modelos que visam simular o aspecto final de um
produto, e avaliar a receptividade, principalmente dos aspectos visuais e
táteis dos materiais de acabamento. Para isso, é necessário um projeto
já desenvolvido, em fase de detalhamento. Deve ser em escala natural,
com todas as dimensões corretas. O aspecto deve ser simulado, mas não
o funcionamento. Materialmente pode ser bem diverso do produto final
esperado, desde que o aspecto externo seja semelhante. Podem ser
comparados com os apartamentos decorados construídos para venda,
stands provisórios de madeira e gesso que reproduzem uma unidade
Exemplo de modelos tridimensionais de cada etapa enunciada. Pré- ainda não construída, com os acabamentos das paredes e mobiliado,
Modelo, Modelo e Protótipo. (fonte: FAU USP – Desenho Industrial.
para simular a sensação da obra futura. São modelos idênticos do ponto
São Paulo, FAU USP. 1982)
vista visual, externo.
O primeiro deles é o modelo volumétrico, ou pré-modelo. O nome é O protótipo por sua vez é um modelo que deve funcionar exatamente
explícito, trata-se de um modelo que representa apenas o volume. Em igual ao produto final, e ter os materiais o mais próximo possível do
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imagens planas e estáticas. Como processo de produção, é Durante a produção de um modelo eletrônico, é necessária a utilização
extremamente diferente. de diversas vistas simultaneamente, pois a tela do monitor é plana, mas
o modelo é virtualmente tridimensional. Trabalha-se através de uma
O modelo virtual permite a sua movimentação em tempo real,
janela que conecta o mundo físico ao mundo tridimensional virtual.
assemelhando-se ao modelo físico, porém dentro de limitações. Só pode
Além do uso de diversas vistas, é necessário movimenta-lo o tempo
ser visualizado através da tela do monitor, janela para o mundo virtual.
todo, valendo-se da interatividade. Sua produção se assemelha mais à
Ou seja, através de uma representação bidimensional, não pode ser
do modelo físico que à da perspectiva cônica, do ponto de vista dos
manuseado, tateado. Mas a movimentação em tempo real traz a
processo mentais necessários.
interatividade, possibilidade do sujeito que se utiliza do modelo de
escolher pontos de vista, de tomar decisões sobre quais aproximações
ele quer tomar do objeto. Este tipo de utilização do modelo é muito
diverso das renderizações, imagens estáticas. Para uma movimentação
em tempo real, o modelo deve ser simples geometricamente, utilizar o
mínimo de texturas e simulações de iluminação, pois o processamento
destes recursos leva tempo. Uma renderização complexa pode levar
horas, mas o processamento da imagem é anterior a sua utilização
impressa. A geração de imagens interativas deve ser imediata, em
tempo real. O custo desta interatividade é a utilização de modelos
menos complexos.
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44
TEIXEIRA, Paulo Sérgio – Espaço e Arquitetura: Entre o Analógico e o Digital.
45
Dissertação apresentada à FAUUSP para obtenção do grau de Mestre. São Paulo, ALONSO, Carlos Egídio – Percepção Tridimensional, Representação
2005. Bidimensional. São Paulo, Doutorado FAUUSP, 1994.
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As imagens estereoscópicas são obtidas a partir de um par de imagens sobrepostas no plano, pois cada olho verá apenas uma delas, sendo a
planas com ponto de vista levemente diferente, sempre obtidas para este outra apagada pelo filtro. Deste modo, a mente interpreta cada imagem
fim, portanto previamente preparadas, que devem ser levadas como sendo uma visão do mesmo objeto, e o interpreta como
independentemente a cada olho, mas interpretadas como sendo uma tridimensional.
mesma imagem. Há diversos recursos para se conseguir levar as Há diversas limitações neste sistema. Ainda é uma imagem estática. A
imagens independentemente a cada olho. Cada sistema parte de uma qualidade da imagem com profundidade gerada na mente depende do
característica física ou fisiológica do funcionamento da visão ou da luz, rigor com que foram produzidas as imagens que compõe o par
sempre subvertendo algum processo natural. estereoscópico, com cuidados como a distância entre as imagens.
Devido ao uso dos filtros, as cores da imagem sofrem distorções. Um
plano completamente vermelho ou azul numa imagem Anaglifo fica
desfavorecido pela separação das cores no filtro. Além disso, o uso
prolongado dos óculos causa um desconforto visual muito grande.
Este sistema se baseia nas características físicas da luz. Toda a luz pode
ser separada em três canais, vermelho, verde e azul, sistema RGB, na
qual operam aparelhos de televisão e monitores de computador. Porém,
são três cores para dois olhos; por isso, um dos filtros é vermelho e o
outro azul ciano, soma do azul com o verde. Geralmente se obtém um
resultado melhor pelo filtro vermelho do que pelo ciano. Além disso, o
sistema de impressão trabalha com o padrão CMYK (ciano, magenta
amarelo e preto), padrão utilizado em impressos, o que gera diferenças
de tonalidade das cores. O resultado da visualização destas imagens
acaba ficando um pouco “sujo” de resquícios da imagem destinada ao
outro olho. A visualização de Anaglifos em monitores resulta um pouco
melhor, mas é mais cansativo aos olhos, pois a luminosidade é mais
forte. Também é utilizado em filmes, podendo ser utilizado tanto em
Anaglifo da Ópera de Sidney, arquiteto Jorn Utzon, produzido a
cinemas quanto em aparelhos de televisão. É um sistema bastante
partir de duas fotografias do edifício.(fonte: www.sterescopy.com)
simples ,que requer pouca tecnologia.
O mais famoso destes processos é o Anaglifo, par de imagens Esse tipo de sistema, além de usos em livros e revistas infantis, tem
sobrepostas com cores azul e vermelho, que deve ser visualizado sido estudado por engenheiros e físicos 46 . Além disso, tem sido
usando óculos adequados, com filtros respectivos. O filtro isola uma 46
imagem para cada olho, de modo que elas podem estar efetivamente Como o artigo “Estereoscopia”, publicado em KIRNER, C. e TORI, R. (eds.) -
Realidade Virtual: Conceitos e Tendências – Livro do Pré-Simpósio SVR 2004, Cap.
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utilizados por alguns campos como a química e a física, na geração de Resultados semelhantes podem ser obtidos por óculos polarizados, onde
imagens planas de estruturas tridimensionais para eliminar cada olho filtra luz numa direção, sem perder as qualidades do matiz.
ambigüidades. Porém esse sistema demanda um par de projeções de imagens com
filtros, polarizando as luzes na fonte. É mais utilizado para projeções
cinematográficas em telões, não pode ser realizado em aparelhos de
televisão.
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Há sistemas que prescindem de alta tecnologia. O Anaglifo é um deles, técnica, pode ser utilizado o par de imagens espelhadas, posicionando
pois necessita apenas de uma imagem simples e um óculos específico. um espelho entre as imagens, de modo que possamos visualizar as duas
imagens sobrepostas. Outro recurso para este mesmo fim é o
estereoscópio, aparelho formado por lentes e espelhos que permite
visualizar duas fotos de maneira sobreposta.
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Bruno Zevi 47 considerou o recurso do vídeo uma aproximação um A produção e difusão dos vídeos está se tornando cada vez mais
pouco melhor da arquitetura que apenas as fotos e os desenhos, pois se acessível ao público em geral, com a evolução dos equipamentos
aproximaria um pouco mais da vivência real, único meio de fruição da eletrônicos. Com a utilização de câmeras digitais e softwares simples, é
obra arquitetônica. Partindo deste princípio, estão sendo realizadas na possível produzir vídeos muito facilmente. Além disso, a difusão em
FAUUSP experiências de documentação arquitetônica em vídeo, num meio digital está tornando-se cada vez mais simples, o que dá maior
trabalho conjunto entre uma disciplina optativa coordenada pela alcance a não apenas a este tipo de meio, mas a vários outros.
professora Ângela Rocha e o Laboratório de Vídeo da FAU48.
O vídeo, assim como a fotografia, presta-se a representar espaços já
existentes. Para representar no tempo espaços imaginados, é necessário
valer-se de outros recursos.
Um deles é a animação, que utiliza-se do mesmo princípio do vídeo:
quadros sucessivos que dão a ilusão de movimento. Porém, ao invés de
ser fotografias, são desenhos. Podem ser desenhos à mão, cuja
execução é bastante trabalhosa, ou imagens geradas a partir de modelos
eletrônicos, recurso muito mais utilizado atualmente devido à agilidade
da execução.
Como já foi dito, a partir da produção de um modelo eletrônico é
possível gerar infinitas vistas, de modo que para realizar uma animação
basta posicionar as câmeras, que o processador se encarrega de gerar as
imagens. A combinação entre modelos eletrônicos e animação
Definição de quadrinhos como arte seqüencial, que traduz tempo
possibilita ótimos resultados.
em espaço. (fonte: McCLOUD, Scott – Desvendando os Quadrinhos.
Tanto no vídeo quanto na animação, é necessária a presença de algum São Paulo, M. Books. 2004; McCLOUD, Scott – Reinventando os
equipamento específico para sua visualização, como um projetor, uma Quadrinhos. São Paulo, M. Books. 2005)
televisão, ou um computador. E a visualização destes formatos se
desenvolve efetivamente no tempo, ou seja, um vídeo tem um tempo de Outro recurso para a simulação do tempo é a imagem seqüencial.
duração, determinado. Conforme nos explica Manfredo Massironi49, “mediante o artifício da
seqüência podem ser prefigurados um ‘antes’ e um ‘depois’, mas ambos
estão aqui e além disso presentes”. Ou seja, pela justaposição de
imagens que formam uma seqüência, podemos intuir a passagem do
47
ZEVI, Bruno – Saber ver a Arquitetura. São Paulo, Martins Fontes. 1994.
48 49
Os trabalhos da disciplina são arquivados no setor de vídeo da biblioteca da MASSIRONI, Manfredo – Ver Pelo Desenho: Aspectos Técnicos, Cognitivos,
FAUUSP, e podem ser consultados. Comunicativos. São Paulo / Lisboa, Martins Fontes / Edições 70.
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2.3.3. Planificações
A produção de modelos planificados, ou em peças, para montagem
posterior, presta-se muito bem à difusão de estruturas espaciais. O
princípio é produzir um modelo tridimensional simples, que possa ser
facilmente transportado e difundido, para ser montado posteriormente.
Geralmente têm um caráter lúdico, como um brinquedo ou um souvenir,
mas prestam-se também à leitura de espaços.
Por se tratar de modelos tridimensionais, não têm aquelas perdas
perceptivas da bidimensionalidade. A visualização destes modelos já
têm binocularidade, movimento, textura, etc.
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2.3.4. Modelos Eletrônicos em Meio Eletrônico Estes vídeos podem ser apresentados através de televisão, ou de um
Como já foi dito, a fruição dos arquivos eletrônicos dependem computador, inclusive ser difundido em meio eletrônico. É possível
fundamentalmente do dispositivo de saída utilizado. Os modelos preparar apresentações em datashow, ou disponibilizá-los em sites pela
internet, assim como vídeos feitos a partir de filmagens de objetos reais.
eletrônicos podem ser utilizados de diversas formas, em diversas
linguagens.
Além da renderização, produção de imagens planas simples, é possível Também é possível produzir um par de imagens estereográficas de um
construir a partir dos modelos eletrônicos vários outros tipos de saídas. modelo digital com grande precisão, através do posicionamento correto
Mediante simulação de câmeras e movimentação do modelo, é possível das câmeras em relação ao modelo, permitindo produzir pares de
produzir vídeos, na realidade animações, pois as câmeras simulam imagens estéreo, que podem ser trabalhadas de diversas maneiras para
fotografias do modelo eletrônico. O resultado é uma animação, que dar a ilusão de profundidade, como vimos em 2.3.1 Imagens Estéreo.
depende de um dispositivo de saída adequado.
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Pode ser baixado gratuitamente através da página oficial: http://eart.google.com
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3. Conclusão / Encerramento
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3. Conclusão / Encerramento O ensino dos diversos sistemas de representação têm que ter
consciência das implicações e das potencialidades de cada linguagem,
Não se trata exatamente de uma conclusão, pois o trabalho não se
objetivando instrumentalizar os alunos no raciocínio espacial. Este
encerra aqui. A verificação prática das idéias aqui estudadas ocorre na
processo de instrumentalização é extremamente importante para prover
próxima etapa do trabalho, a análise das disciplina do curso de
os estudantes de meios para pensar e dialogar.
graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP. Trata-se mais de
um encerramento de uma etapa e o direcionamento para sua Este trabalho não põe em questão o desenvolvimento de projetos, nem a
continuação, além de especulações sobre possíveis desdobramentos. qualidade de soluções formais. A busca da visão espacial, baseada em
instrumentos gráficos, é uma etapa anterior a qualquer tipo de
proposição projetual ou de crítica qualitativa. Ter à mão bons
Toda linguagem para ser bem utilizada deve ser bem conhecida, em instrumentos não garante um correto desenvolvimento da visão e da
todos os seus aspectos, sonoros, materiais, gráficos, etc. É necessário proposição espacial, mas a ausência destes instrumentos certamente
conhecer não só as potencialidades, mas as deficiências e limitações acarretará problemas, devido à falta de desenvolvimento das idéias.
que cada sistema de comunicação possui, e as implicações de cada Através da constante representação em suportes materiais, é possível
forma sensível. É necessário ter consciência da linguagem que se utiliza. aferir a qualidade e a competência de determinadas soluções
Esta consciência é alcançada através da prática, da atividade constante. imaginadas.
E, como sabemos, o aprendizado e o desenvolvimento são processos Somente após um correto desenvolvimento da visão espacial é possível
internos, individuais. Cada indivíduo tem sua percepção, mesmo em pôr em questão a crítica e a proposição.
atividades coletivas. Assim sendo, a prática é uma etapa imprescindível
para o desenvolvimento no uso das linguagens. O fazer é um dos
processos mais importantes no desenvolvimento no uso das linguagens. Este estudo se limita a um universo bastante restrito, um curso de
graduação em arquitetura, onde o nível de escolaridade é razoavelmente
Cada sistema de representação é uma linguagem distinta, e possui suas
homogêneo. Ainda assim, é possível perceber que deficiências em
potencialidades e limitações. O trabalho em conjunto de diversos
alguns conteúdos do ensino médio podem acarretar em problemas
sistemas colabora com a maior compreensão da forma do espaço.
durante outros exercícios. Não faz parte deste trabalho, mas seria
Principalmente nos sistemas bidimensionais, onde as perdas perceptivas
bastante importante, a análise dos conteúdos obrigatórios ministrados
são muito maiores. Através de um conjunto de representações, somos
pelas escolas e exigidos no ingresso às faculdades, visando um público
capazes de criar em nossas mentes a idéia da totalidade formal.
mais geral.
Mas toda representação é limitada a determinados aspectos do
Outro desdobramento possível deste trabalho é sua ampliação para
representado. No caso das representações gráficas bidimensionais, o
outras escolas de arquitetura e design, pelo país e pelo mundo,
que se representa é apenas o aspecto visual, formal, havendo diversas
comparando diferentes níveis de ensino básico e diferentes enfoques e
outras perdas.
metodologias.
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Análise das Disciplinas
Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais Como
Instrumental Para o Desenvolvimento da Visão Espacial em
Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
Anexo do Relatório Final de Iniciação Científica
Apresentado à FAPESP em Dezembro de 2006
FAUUSP
Marcos Kiyoto de Tani e Isoda
Professor Orientador Luís Antônio Jorge
Processo 05/56964-1
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Análise das Disciplinas
SUMÁRIO
Introdução
1. Disciplinas selecionadas e justificativa
2. Método de Trabalho
3. Fichas de Disciplina
3.1. AUT 510 – Geometria Aplicada à Produção Arquitetônica
3.2. PCC 201 – Geometria Descritiva
3.3. AUP 146 – Arquitetura Projeto II
3.4. AUP 446 – Design do Objeto
3.5. AUP 650 – Arquitetura da Paisagem
4. Comentários
5. Conclusões
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Análise das Disciplinas
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Análise das Disciplinas
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Análise das Disciplinas
3. Fichas de Disciplina
Estão anexadas as fichas de avaliação de disciplina, acompanhadas
dos respectivos programas de aula.
• AUT 510 – Geometria Aplicada à Produção Arquitetônica
• PCC 201 – Geometria Descritiva
• AUP 146 – Arquitetura Projeto II
• AUP 446 – Design do Objeto
• AUP 650 – Arquitetura da Paisagem
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FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA - Folha 1
3. ANÁLISE Essa série de exercícios que trabalha com vistas ortogonais busca
familiarizar o aluno com o instrumental do desenho técnico – régua
Na primeira aula é aplicado um exercício de desenho de observação, paralela, esquadros, escalímetro, etc. É muito importante, pois o
tendo como modelo um bloco de concreto. Difere um pouco dos instrumental é indissociável da linguagem do desenho técnico.
demais exercícios do curso, por não se tratar de desenho
arquitetônico, mas de um desenho à mão livre. Isso por que neste
primeiro dia de aula os alunos acabaram de receber a lista de A abstração do corte é desenvolvida posteriormente, com um relevo
material necessária ao curso, que parte de uma planta de malha quadrada, iniciando também o
desenho em perspectiva paralela. Dado uma seqüência de cortes
É importante ressaltar que este exercício é um dos poucos que tem
num sentido, é solicitado um outro corte, transversal aos demais,
em seu enunciado um elemento tridimensional, o próprio bloco. O
além da construção da perspectiva isométrica e da implantação de
que se enuncia é um objeto real, e não uma idéia geométrica, com
um volume prismático neste relevo. Ao solicitar o corte transversal,
todas as suas implicações, desde o volume e peso no transporte, até
é exigida do aluno a capacidade de mudar a direção do plano de
as imperfeições e as diferentes interpretações dos alunos.
projeção, atravessando a bidimensionalidade do papel.
O exercício seguinte trabalha com uma planta de uma sala com piso
Mesmo sendo um exercício bastante simples, a correta reticulado a cada 1m, na qual serão inseridos painéis, simulando
nomenclatura dos pontos mostrou-se um elemento extremamente uma exposição. O aluno deve alocar os painéis na planta, e desenhá-
importante para eliminar dubiedades na execução e leituras das los na perspectiva. Desta vez é fixado o ponto de vista, inclusive a
épuras. De onde se conclui que a GD é um sistema que alia duas altura do observador, em relação à sala, mas são alterados os
linguagens distintas, a gráfica e a verbal. painéis, de maneira que cada aluno construa uma perspectiva
Além disso, é um dos poucos exercícios que traz em seu enunciado diferente.
um objeto tridimensional. Porém, ele difere daquele primeiro
exercício de observação do bloco, onde se visava uma representação
especificamente daquele bloco real. Neste, o modelo de papel não é
o objeto representado, ele é também uma representação,
tridimensional, do objeto do exercício. O quadrado do exercício é
ideal, sem espessura, muito menos imperfeições. Cada modelo de
papel construído pelos alunos é uma representação tridimensional
daquele mesmo quadrado ideal enunciado.
Créditos-Aula: 2
Aulas: 5as-feiras das 8:00 às 10:00hs (Turmas 1 e 2)
das 10:00às 12:00hs (Turmas 3 e 4)
Objetivos:
Desenvolver o raciocínio espacial e a compreensão dos meios de expressão e representação gráfica
em arquitetura. Estudar os fundamentos da geometria aplicada à organização tridimensional do
espaço. Propiciar, de modo sistemático e específico, o desenvolvimento da capacidade de organizar
graficamente o pensamento visual e habilidade de desenhar.
Método de Trabalho:
Aulas expositivas (sala de aula) acompanhadas e realização de trabalhos práticos em aula. Os
trabalhos serão recolhidos ao fim de cada aula.
Avaliação:
Presença e participação em aula, representados pela realização dos exercícios propostos (freqüência) e
avaliação dos mesmos.
Bibliografia
ABNT - Representação de projetos de arquitetura - NBR 6492.
CHING, Francis D. K..- Dicionário Visual de arquitetura - São Paulo: Martins Fontes, 2000.
DEUSEBIO, Mauro e PAGANO, Clara - La tecnica al servizio dell´uomo - Torino: Il Capitello, 1992.
MACHADO, Ardevan - Perspectiva - São Paulo: Pini, 1988.
PORTER, Tom e GREENSTREET, Bob - Manual de técnicas gráficas para arquitectos, diseñadores y
artistas - Barcelona: Gustavo Gili, 1987.
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FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA - Folha 1
3. ANÁLISE
Nos exercícios de Geometria Descritiva (GD), que trabalha
fundamentalmente com a Épura, par de vistas ortogonais, percebe-
se uma dificuldade de abstração muito grande por parte dos alunos.
No material de aula do professor é indispensável a utilização de
perspectivas, sempre paralelas, representando os diedros. O uso
destas perspectivas isométricas geralmente esclarece, apesar de
eventualmente ocorrer alguma ambigüidade.
OBJETIVO GERAL
Esta disciplina tem como principal objetivo levar os alunos a compreender os
elementos envolvidos no processo de projeto. Pretende também desenvolver suas
aptidões para as representações do espaço arquitetônico e iniciá-los na resolução de
programas de necessidades específicos.
ELEMENTOS DA LEGISLAÇÂO
− A taxa de ocupação, coeficiente de aproveitamento e gabarito máximo serão
definidos em aula.
− As unidades de uso comercial devem ter pé-direito mínimo de 5,00m podendo
ter mezaninos em 1/3 de suas áreas.
REQUISITOS DE PROJETO
− As unidades habitacionais devem ter área aproximada de 64 m²
− As unidades destinadas ao comércio devem permitir acesso fácil e
independente às ruas.
− As garagens das unidades habitacionais devem situar-se no subsolo.
− As unidades deverão, se possível, ser projetadas em relações modulares
baseadas na dimensão 120 cm, incluindo seus múltiplos e submúltiplos.
PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS
A disciplina será desenvolvida em 15 atividades conforme o cronograma, constando
de aulas expositivas, trabalhos de estúdio e seminários de avaliação.
Outros elementos como fotos, memoriais e tabelas deverão, para a entrega, ser
montados ou realizados também em papel formato A2. (sulfite ou similar)
As maquetes ou modelos serão executados sobre base rígida em formato A2. O
método de execução ficará a critério do aluno.
3.
ENTREGAS DOS TRABALHOS
Os trabalhos serão acompanhados em cada atividade pelos professores e monitores.
Ao final de cada etapa serão realizadas entregas para avaliação que ocorrerão nos
seminários programados.
Aula 01 - 02/Ago
Apresentação da disciplina.
Exercício – Relatório sobre João Filgueiras Lima, Lelé.
Aula 02 - 09/Ago
Exercício – Relatório sobre João Filgueiras Lima, Lelé.
Aula 03 - 16/Ago
Exercício – Relatório sobre João Filgueiras Lima, Lelé.
Aula 04 - 23/Ago
Entrega do Relatório sobre João Filgueiras Lima, Lelé.
Apresentação do Projeto Lapa e Exercício 1 – Levantamento do terreno. (sala 812).
Aula: Quadra, Rua e Lote (Prof. Dr. Adilson Costa Macedo). (sala 812).
Ateliê.
Aula 05 - 30/Ago
Entrega do exercício 1 – Levantamento do terreno no GDPR das 9 as 11 h.
Apresentação do Exercício 2 – Modelo volumétrico (sala 812).
Aula: Projetos Referenciais Prof. Dr. Rodrigo Queirós). (sala 812).
Ateliê
NÃO HAVERÁ AULA NO DIA 06.09
Aula 06 - 13/Set
Entrega do exercício 2 – Modelo volumétrico no GDPR das 9 as 11 h.
Apresentação do Exercício 3 – Estudo preliminar (sala 812).
Aula: Representação de projeto. Dr. João Carlos de Oliveira Cesar). (sala 812).
Ateliê.
Aula 07 - 20/Set
Aula: Unidade de habitação e modulação (Profª. Drª. Anália Amorim). (sala 812).
Ateliê – desenvolvimento do exercício 3 e orientação.
Aula 08 - 27/Set
Ateliê – desenvolvimento do exercício 3 e orientação.
5.
Aula 09 - 04/Out
Entrega do exercício 3 – Estudo preliminar no GDPR das 9 as 11 h.
Apresentação do Exercício 4 – Projeto das unidades (sala 812).
Ateliê.
Aula 10 - 11/Out
Ateliê - desenvolvimento do Exercício 4 e orientação.
Aula 11 - 18/Out
Ateliê - desenvolvimento do Exercício 4 e orientação.
Aula 12 - 25/Out
Ateliê - desenvolvimento do Exercício 4 e orientação.
Aula 13 - 01/Nov
Entrega do exercício 4 – Projeto das unidades no GDPR das 9 as 11 h.
Apresentação do Exercício 5 – Plano de massas (sala 812).
Ateliê.
Aula 14 - 08/Nov
Ateliê - desenvolvimento do Exercício 5 e orientação.
NÃO HAVERÁ AULA NO DIA 15.11
Aula 15 - 22/Nov
Ateliê - desenvolvimento do Exercício 5 e orientação.
Revisão e elaboração da apresentação final.
Aula 16 - 29/Nov
Entrega final, exercício 5.
Aula 17 - 06/Dez
Avaliação Final. Entrega dos desenhos no Departamento e maquetes na sala de aula
Aula 18 - 13/Dez
Avaliação Final.
6.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BLASER, W. Patios 5.000 años de evolución desde la antigüedad hasta nuestros días. Barcelona:
8.
Gustavo Gilli, 1997.
CAMBI, E., CRISTINA, B. e STEINER, G. Tipologias residenciales en hilera. Madri: Xarait Ediciones,
1985.
CHING, F. D. K. Arquitetura, forma, espaço e ordem. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
___. Representação gráfica para desenho e projeto. Barcelona: Gustavo Gili, 2004.
CORNOLDI, A. La arquitectura de la vivienda unifamiliar: manual del espacio doméstico. Barcelona:
Gustavo Gili, 1999.
CUITO, A. (Org). Espaços para viver e trabalhar. Barcelona: Gustavo Gilli, 2001.
GALFETTI, G. G. Pisos piloto. Células domésticas experimentales. Barcelona: Gustavo Gilli, 1997.
HASSENPFLUG, G. e PETERS, P. Nuevos bloques de vivendas - Bloques laminoires, casas torre, casas
escalonadas. Barcelona: Gustavo Gilli, 1967.
LENGEN, J.v. Manual do Arquiteto Descalço. Porto Alegre: Livraria do Arquiteto; Rio de Janeiro: TIBÁ,
2004.
PANERO, J. Las dimensiones humanas en los espacios interiores. México: Gustavo Gilli, 1991.
NEUFERT, P. e NEFF, L. Casa apartamento jardim: projetar com conhecimento construir corretamente.
Barcelona: Gustavo Gili, 1999.
SCHOENAUER, N. 6000 años de habitat. De los poblados primitivos a la vivienda urbana en las culturas
de oriente y occidente. Barcelona: Gustavo Gili, 1984.
NOTA: Além da bibliografia estará disponível com a Eliane Katibian (secretária do departamento de
Projeto, no GDPR) um cd para ser copiado, contendo projetos e imagens referenciais para o
desenvolvimento do trabalho.
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FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA - Folha 1
O segundo exercício é a análise de um espaço livre existente na Toda a análise é baseada em desenhos, representações planas. Os
cidade de São Paulo. Cada grupo seleciona seu objeto de estudo a grupos iniciam o trabalho com o levantamento GEGRAN, planta da
partir de uma listagem feita pelos professores, que inclui praças, cidade com ruas, lotes e construções, quando possível uma planta
largos e ruas, em localizações bastante variadas na cidade. Os específica do espaço (no caso de espaços que tenham passado por
grupos devem fazer um levantamento da estrutura espacial do um projeto), e com uma foto aérea. A partir de visitas à campo são
logradouro, elencando a vegetação e equipamentos urbanos realizados os levantamentos de usos do espaço e das construções do
existentes, os usos e gabarito do entorno e o uso do espaço. Trata-se entorno, de gabarito, e da vegetação existentes. Também são
de uma análise espacial e funcional. Os professores auxiliam a realizados desenhos de observação no local, individuais, para que
análise durante os atendimentos, dando informações sobre o todos os alunos realizem ao menos uma leitura gráfica do local.
histórico da região, o desenvolvimento do bairro e sua inserção no Além disso, os grupos realizam levantamento fotográfico. Após as
contexto da cidade. visitas são produzidas no ateliê as plantas e cortes.
Pesquisa de Iniciação Científica
Bolsista FAPESP: Marcos Kiyoto de Tani e Isoda
Professor Orientador: Luis Antonio Jorge
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FICHA DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA - Folha 4
Além de problemas gráficos – espessura de traço, convenções
gráficas – que geram grande dificuldade de leitura e ambigüidades,
são destacados problemas em relação ao conteúdo informado nas
imagens. Com freqüência são desenhados cortes e plantas que se
limitam a mostrar apenas o objeto. No caso de praças, a planta
termina nos limites da praça, não abarcando a rua, os cortes não
mostram os edifícios do entorno, etc. Desta forma, a leitura do
espaço livre não pode ser feita, pois o objeto de estudo encontra-se
descontextualizado. O espaço se estrutura através das relações entre
todos os elementos presentes. Além disso, é recorrente a ausência da
escala humana, elemento que dimensiona o espaço representado em
escala reduzida.
Durante todo o exercício foram enfatizadas as questões de
representação, sobretudo a legibilidade e a comunicabilidade dos
desenhos. Por tratarem-se de alunos de primeiro ano, ainda há uma
grande dificuldade de comunicação através das representações, de
modo que mesmo tendo feito uma análise do local, os alunos não
conseguem comunicar esta análise graficamente.
OBJETIVOS
CONTEÚDOS
Paisagens são produtos histórico-culturais cuja essência é a transformação: suas configurações são
sínteses das relações significativas que pautam a vida da sociedade.
A apreensão das mudanças das paisagens, a identificação das particularidades de suas
configurações sucessivas é, portanto, uma aproximação ao sentido próprio dos processos históricos
que as geraram, expressos em sua territorialidade, e marcados pelas fusões peculiares entre os artefatos
criados pela sociedade e o suporte ‘dado’, ou ‘natural’ do espaço, tornando-os únicos.
Os elementos recorrentes da paisagem das cidades brasileiras, e com mais ênfase, as paisagens
atuais de suas metrópoles falam da forma como se engendrou, no país, o movimento de urbanização.
Suas disparidades internas, suas infra-estruturas incompletas e lacunares, seus padrões de edificação
díspares ou a segregação espacial que se aprofunda mais e mais entre os diversos setores urbanos
apontam as características impostas no país ao processo de generalização do assalariamento, com seus
níveis de concentração de renda. Falam desse mesmo processo o desolamento e degradação física das
periferias urbanas, suas vossorocas, terrenos desestabilizados, águas poluídas, uma vez que é sabido
que é a falta de poder aquisitivo para viver em um lote urbanizado e infra-estruturado é que empurra a
metade da população de São Paulo, por exemplo, para a ‘informalidade’.
Ou, então, o centro congestionado de automóveis, as montanhas de terra diariamente movimentadas
para a construção de estacionamentos subterrâneos, os grandes edifícios mais e mais voltados a si
próprios, isolados atrás de suas fachadas espelhadas, em um processo autista que crescentemente nega
1
partilhar do espaço em que se situa. Ou os condomínios fechados, que se subtraem à vida coletiva, e os
espaços de uso coletivo abandonados, decaídos, ou então apropriados para usos privativos.
É nessa paisagem que a disciplina se propõe intervir, através de um conjunto de atividades
organizadas em torno de exercícios de projeto descritos a seguir.
MÉTODO
EXERCÍCIOS
O semestre será dividido em três exercícios básicos:
1. O Entendimento da Paisagem – Apresenta aos alunos os elementos e as questões mais comuns
em projetos de espaços livres. O exercício discute as principais características de espaços
existentes, exigindo do aluno o domínio de diferentes escalas e o entendimento a partir da
representação;
2. O Projeto do Espaço Livre – Desenvolve o projeto de um conjunto de espaços livres em uma
área residencial existente, considerando as determinantes sócio-econômicas observadas em
campo;
3. O Projeto da Paisagem – Desenvolve o projeto de um pequeno bairro residencial como extensão
do exercício anterior, articulando as diversas questões tratadas nos demais exercícios.
Deste modo, os exercícios incorporam, gradativamente, questões de complexidades e escalas
crescentes ao longo do semestre.
FORMA DE AVALIAÇÃO
Os trabalhos serão avaliados, considerando os seguintes pesos:
1. O Entendimento da Paisagem. peso 01
2. O Projeto do Espaço Livre. peso 01
3. O Projeto da Paisagem. peso 02
Obs.: A não entrega de um trabalho (exercício) implicará na reprovação do aluno.
Recuperação: Caso o aluno tenha média entre 3,00 e 4,90 e freqüência superior a 70%, terá direito
a refazer o(s) trabalho(s) em que não tenha obtido nota necessária, ou fará prova determinada pelo
professor. As normas de recuperação da disciplina serão publicadas juntamente com a lista de
avaliação final da mesma.
Entrega de trabalhos: Na secretaria, nas datas previstas no cronograma.
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CRONOGRAMA
O cronograma poderá sofrer alteração. Aulas poderão ser acrescentadas ou ter datas alteradas
conforme o andamento e a necessidade da disciplina.
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BIBLIOGRAFIA
Esta bibliografia será complementada pelas demais bibliografias apresentadas em aula e nos demais
exercícios.
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Sistemas de Representação Bi e Tridimensionais Como Instrumental Para o Desenvolvimento da Visão Espacial em Alguns Exemplos do Curso de Graduação da FAUUSP
Análise das Disciplinas
4. Comentários respondem que não houve nenhuma relação, outros mais otimistas
dizem que houve alguma, principalmente no aprendizado do
Pudemos perceber que todas as disciplinas têm a preocupação de
desenho técnico, mas ainda pequena. Poucos afirmam ter ajudado
instrumentalizar os alunos, trabalhar de alguma maneira o uso de
muito.
representações do espaço. Porém, ainda de maneira um tanto
esparsa, carecendo de uma melhor articulação entre as disciplinas, Claro que a avaliação dos alunos que estão cursando as disciplinas
o que poderia potencializar os resultados. não é um termômetro exato do nível de desenvolvimento atingido,
mas traz algumas informações importantes. Muitas vezes os alunos
Por parte dos alunos, é evidente a necessidade de um tempo para a
não percebem os objetivos de determinados exercícios por
familiarização com as linguagens de representação do espaço. Os
buscarem resultados imediatos. As disciplinas teóricas não
conteúdos trabalhados nas disciplinas teóricas do primeiro
precisam necessariamente ensinar um conteúdo que será aplicado
semestre, e mesmo as orientações dadas nas disciplinas práticas
diretamente em uma disciplina prática.
acabam sendo esquecidas ou negligenciadas durante a execução
dos trabalhos práticos. Há diversos outros itens que tomam a As disciplinas AUT 510 e PCC 201 procuram mais levar os alunos
atenção dos alunos, como o programa funcional a ser cumprido, o a raciocinar espacialmente através da geometria, apenas
ritmo de trabalho e os prazos, aos quais ainda não estão habituados, introduzindo ao desenho técnico. A disciplina AUT 512 – Desenho
questões inerentes ao método de ensino que acabam dificultando o Arquitetônico (não analisada nesta pesquisa), seqüência da AUT
desenvolvimento no uso das linguagens de representação. 510, é mais voltada para a prática neste sentido, ensina desenho
técnico, incluindo convenções gráficas, normatizações, e pode ser
O aprendizado de qualquer linguagem é um processo lento, que
diretamente aplicada nas disciplinas práticas.
requer um tempo de assimilação e familiarização. Não pode ser
restrito ao período de um ano (ainda que tenhamos percebido que a
disciplina do segundo ano, AUP 446, consegue um nível de Também pudemos perceber por parte dos alunos muita hesitação
discussão sobre as representações mais avançado que as demais), na utilização dos sistemas de representação em geral. A
devendo se estender por todo o curso. Trata-se efetivamente de um insegurança da indefinição leva os alunos adiar até o último
processo, que inclui a prática. Só se aprende uma linguagem se momento a materialização de idéias através de representações
expressando através dela, motivo pela qual mesmo as disciplinas precisas, de desenhos elaborados, sem perceber que é através
teóricas, do primeiro semestre, são baseadas em exercícios destas linguagens que surgirão as definições. Acaba sendo uma
práticos. São consideradas teóricas por que não objetivam um estratégia eficiente a apresentação de trabalhos por etapas, pois
projeto, apenas desenvolver a representação. havendo a necessidade de entregar algum material, os alunos
registram seus trabalhos graficamente, ainda que de maneira
forçada. Tratando-se de uma etapa intermediária, a materialização
Quando questionados sobre a relação entre as disciplinas teóricas e
gráfica permite impulsionar o desenvolvimento das idéias.
as práticas, os alunos não trazem boas perspectivas. Alguns
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Sabemos que este ensino é necessário, pois a operação dos panacéia. Um bom desenvolvimento da visão espacial vem, como
instrumentos faz parte da linguagem, e o aprendizado destas já dissemos, de uma utilização de diversos sistemas, uma vez que
operações também é parte do desenvolvimento do uso das cada um deles nos traz um aspecto diferente, e através da utilização
linguagens. Porém, há um hiato entre esse aprendizado operativo e conjunta de diversos sistemas podemos atingir uma maior
a sua aplicação prática, onde são dados problemas funcionais, compreensão, pois é característica de toda representação nunca ser
estruturais, espaciais. As materializações em representações completa.
exigidas para entrega são realizadas como um “passar a limpo”,
como se representar fosse apenas “empacotar” uma idéia para
entregar. Não há a compreensão da representação como uma A partir destas conclusões, ficam indicadas aqui algumas possíveis
simulação, um suporte para o pensamento, um instrumento do ampliações desta pesquisa.
raciocínio espacial. É possível enfoques em sistemas de representações mais
Sabemos que a representação nunca será completa e cada sistema específicos, como o desenho, que possui uma quantidade boa de
de representação tem um potencial de expressão diferente, de modo estudos, a maioria ligada à questão projetual, poucos voltados à
que através da utilização conjunta de diferentes sistemas questão didática; os modelos tridimensionais, que carecem de
conseguimos uma compreensão maior de um objeto. Ao estudos mais profundos, principalmente sob a ótica da visualização
confrontarmos a gama de possibilidades enunciada no Trabalho espacial e do ensino; ou os modelos eletrônicos, muito mais
Monográfico e a utilizada pelas disciplinas analisadas nas Fichas recentes, com muitos estudos em desenvolvimento, mas com muito
de Disciplina, a diferença é perceptível. A variedade de sistemas de campo ainda a ser explorado.
representação possível é pouco explorada, e a visualização dos Também é possível uma análise do ensino de representação e de
espaços trabalhos é poucas vezes alcançada. Recursos simples, visualização espacial a partir de um curso como um todo, e não
como perspectivas paralelas e cônicas, são pouco utilizados, assim partindo das disciplinas, unidades fragmentadas. Possivelmente um
como os modelos tridimensionais. Quando exigidos, são estudo abarque mais escolas, nacionais e internacionais,
produzidos como uma obrigação, raras vezes como uma possibilitando comparações entre diferentes metodologias de
necessidade de compreensão espacial. trabalho, o que permitiria uma análise crítica mais profunda.
O uso de modelos eletrônicos tem ganhado cada vez mais espaço,
uma vez que são considerados mais fáceis de executar pelos
alunos, frutos da geração eletrônica. Ainda que não haja disciplinas
obrigatórias que trabalhem este conteúdo, o modelo eletrônico tem
ganhado força, mostrando o potencial de autodidatismo dos alunos.
È um recurso novo, ainda pouco explorado, e que traz grande
potencial de utilização, porém, não deve ser tomado como
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