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CARTA AO PROFESSOR

Prezado professor, prezada professora,

É com muita alegria e satisfação que apresentamos o Material Digital


do Professor da obra Nove lendas urbanas aterrorizantes, de Ricardo Dalai e
Susana Ventura, com projeto gráfico de Roberta Asse. Trata-se de um diálogo
entre nós, autores e equipe editorial, e você, profissional que está a frente
talvez da maior missão e maior desafio do meio social: a educação; e neste
caso específico, também como mediador entre a obra literária e os alunos.

Em primeiro lugar, vale lembrar que as propostas e orientações aqui


apresentadas estão de acordo com as orientações da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC). A partir de suas competências e habilidades, abordamos
também recentes discussões teóricas sobre a narrativa literária, visando
sempre ampliar as possibilidades de trabalhos com a obra. Tal carpintaria
partiu do pressuposto de ser a escola a principal fonte de acesso dos jovens a
obras e autores brasileiros, em especial os contemporâneos. Portanto, nosso
objetivo maior aqui é fornecer subsídios para que a mediação valorize tanto o
contexto de produção dos contos como os efeitos que eles provocam na leitura.

Esse último ponto esconde um desejo mais íntimo: que a leitura e o


trabalho com a obra literária instiguem novas leituras e, quem sabe, a própria
escrita. Não raro, os jovens que compreendem a literatura como manifestação
cultural como patrimônio imaterial da humanidade e como forma de
representação e expressão da realidade se encantam com ela fora do âmbito
escolar, fora da exigência, da avaliação. Esse desejo está implícito,
acreditamos, em todos que trabalham com a literatura. Esperamos que isso
possa, por fim, colaborar para o desenvolvimento de uma leitura mais crítica de
outros textos do cotidiano e da própria realidade: a palavra literária nos abre ao
infinito e complexo mundo da condição humana, seus segredos, seus
mistérios, a imaginação e o simbólico que nos circundam. Olhar para o Outro
como se fosse outro Eu, e não um estranho, um inimigo. Não é assim que
melhoramos a sociedade? Sendo melhores?
Além disso, claro, nosso outro foco é você, docente: queremos ser
companhia nessa difícil missão de ser educador em uma sociedade que tão
pouco valoriza o professor. Acreditamos em uma educação libertadora,
promovedora de voos não imaginados, uma educação que seja prática de
liberdade. Esse deve ser o principal objetivo do professor e por isso é o
professor nosso principal objetivo aqui. Esperamos apresentar subsídios
teóricos e críticos que auxiliem não só no trabalho em sala com a obra Nove
lendas urbanas aterrorizantes, mas também com outros textos literários. Temos
conhecimento da multiplicidade de realidades escolares existentes em território
nacional, e dos pequenos e gigantes desafios encontrados no dia a dia da sala
de aula e da comunidade escolar. Buscamos oferecer atividades coringas,
capazes de serem efetuadas mesmo em meio de dificuldades físicas,
estruturais e sociais. É parte de uma crença, talvez utópica, do poder
emancipador da literatura e da educação. Onde falta profissionalização da
docência, que possamos cumprir a missão com a vocação, com o amor e a
dedicação em ensinar e ajudar na formação de cidadãos do futuro.

Há, além disso, outro obstáculo para o contato dos jovens com a
literatura no mundo contemporâneo: as mídias digitais, seus jogos e encantos,
muitas vezes oprimem a escola e a literatura ao campo das exigências
insuportáveis. Como encantar os jovens mergulhados em bytes, games, sites e
likes?

Nesta obra, Ricardo Dalai e Susana Ventura apostam em dois recursos:


no intertexto e no universo do horror presente nas lendas urbanas. Assim,
temos um recurso muitíssimo empregado desde os tempos do romantismo
gótico em um espaço contemporâneo, próximo do jovem leitor. Além disso,
tanto Ricardo Dalai quanto Susana Ventura conhecem não só o “lado de cá” da
literatura: ambos são também professores, e entendem os anseios e
dificuldades no manejo com o texto literário em sala de aula. Conhecem, por
exemplo, os temas mais discutidos entre os jovens, as experiências que eles
vivem nessa segunda década do século XXI. Por fim, autor e autora possuem
viés teórico e crítico, evidentes nas pesquisas de doutorado nas áreas de
Teoria Literária e Literatura Comparada. São exemplos do que Evelina Hoisel
(2019) chama de “escritores múltiplos”, que somam as esferas didática, criativa
e crítica, promovendo um discurso que busca dar liberdade ao professor ao
mesmo tempo que fornece subsídios e conceitos teóricos-críticos.

Neste Material Digital é encontrado também, além das atividades


propostas, uma seção de Aprofundamento teórico em relação ao gênero
narrativo conto e suas semelhanças e diferenças com o gênero lenda.

Por fim, podemos dizer que são contos que mergulham nas lembranças
afetivas dos dois autores, que revisitaram, por meio da ficção, lugares da
memória. Ora, se as lendas urbanas sobrevivem nesses textos, elas
“sobrevivem em parte porque nos lembram do que sabemos e em parte porque
nos trazem de volta o que consideramos significativo" (FULFORD, 1999, p. 3) 1.

Nosso desejo é que este trabalho propicie a você, professor, e a seus


alunos, experimentarem momentos de desestabilização da crença, das
certezas sobre o que é verdade ou não por meio dos contos que compõem a
obra e as lendas urbanas que evocam. Que vocês possam adentrar no mundo
do fantástico, do sobrenatural, e experimentar na segurança da ficção esse
medo do desconhecido que preenche a existência humana.

Com as mãos trêmulas de medo e o coração aquecido de afeto,

Os autores

1
Stories survive partly because they remind us of what we know and partly because
they call us back to what we consider significant.

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