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NTU

Henrique Cunha Júnior*

Resumo: Este artigo faz uma introdução da cultura e do pensamento das


sociedades bantu. Refere-se aos conceitos contidos nas filosofias africanas.
Procura dar uma introdução aos termos classificatórios das línguas bantu como
parte de uma filosofia coletiva disseminada na educação da sociedade bantu.
Tratamos dos significados das classificações de Muntu, Kintu, Hantu, Kuntu e
Nommo. Apresenta a geografia e a sociedade para melhor situar o universo da
filosofia.
Palavras-chave: Filosofia africana, sociedade bantu, conhecimento africano,
cultura bantu.
Abstract: This paper presents an introduction on cultural and thinking of Bantu
societies. It refers to basics concepts of African philosophy. Works with the
classificatory terms of Bantu languages as a part of collective philosophy gave
by the Bantu social education. It is treated the significations of the classificatory
terms Muntu, Kintu, Hantu, Kuntu and Nommo. It is also presented the
geographical localization and general aspects of the Bantu society to possibility
a better understanding of the philosophical aspects.
Key words: African philosophy, Bantu society, Africans knowledge, Bantu
Culture.

Os princípios das formas porque você e os outros existem; tem


NTU, MUNTU, BANTU e UBUNTU um sentido colaborativo da existência
são termos que dão significado a este humana coletiva. As línguas são um
artigo. NTU o principio da existência de espelho das sociedades e dos seus meios
tudo. Na raiz filosófica africana de nomear os seus conhecimentos, no
denominada de Bantu, o termo NTU sentido material, imaterial, espiritual. A
designa a parte essencial de tudo que organização das línguas Bantu reflete a
existe e tudo que nos é dado a conhecer organização de uma filosofia do ser
à existência. O Muntu é a pessoa, humano, da coletividade humana e da
constituída pelo corpo, mente, cultura e relação deste seres com a natureza e o
principalmente, pela palavra. A palavra universo como veremos mais adiante.
com um fio condutor da sua própria As filosofias africanas. O conhecimento
história, do seu próprio conhecimento da realidade e a imaginação reflexiva
da existência. A população, a sobre as compreensões das
comunidade é expressa pela palavra conseqüências das relações instituídas
Bantu. A comunidade é histórica, é uma entre os seres da natureza, animados e
reunião de palavras, como suas inanimados (nas sociedades africanas
existências. No Ubuntu, temos a tudo tem vida), constitui parte das
existência definida pela existência de filosofias africanas vindas das
outras existências. Eu, nós, existimos sociedades ligadas as questões da

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ancestralidade, da identidade territorial, sem folhas, não temos Candomblés e
da transmissão dos conhecimentos pelas Umbandas sem normas de respeito a
palavras falado pelos seres humanos e natureza e as suas forças ou energias.
pelos tambores. Formas de filosofar Pelo menos penso que foi assim que
coletivas de conhecimento geral, aprendi em casa as normas do respeito
produzindo valores éticos que regulam ancestral. A natureza, o meio ambiente,
as vidas cotidianas das sociedades a localidade a comunidade ou os lugares
africanas, ditas tradicionais (tradição no na sua complexidade ou integralidade
sentido da repetição no tempo com fazem parte do ancestral. Penso que foi
modificações e inovações, mas sempre assim que aprendi em casa, não na
referidas a uma historia do passado e escola, nem no convívio social
transmita por um ritual social brasileiro, muito menos e infelizmente
normativo). Sociedade que os textos de nas faculdades universitárias que cursei,
Chinua Achebe (ACHEBE, 1983), a essência do respeito aos ancestrais
Sobonfu Some (SOMÉ, 2003) e José como forma de respeito ao
Flavio Pessoa (PESSOA, ) bem nos conhecimento.
descreve e nos ensina sobre os seus Na escola me impuseram o
princípios, valores e forma de racionalismo ocidental de forma
organização. São formas filosóficas de irracional desconectados das culturas
refletir e ensinar e aprender sobre as vividas pelo meu grupo social e de meu
relações dos seres da natureza, do interesse quanto identidade histórica, ou
cosmo e da existência humana. São seja, pouco convincente do ponto de
filosofias pragmáticas da solução dos vista pedagógico. Disse o primeiro
problemas da vida na terra, professor de filosofia, no curso de
profundamente ligados ao existir e Ciências Sociais (1976), que o pensar
compor o equilíbrio de forças da lógico e filosófico na humanidade nós
continuidade saudável destas devemos aos Gregos. Objeção minha a
existências, sempre na dinâmica dos declaração do professor, como todo o
conflitos e das possibilidades de serem respeito. Povos anteriores aos Gregos já
postas em equilíbrio. A contradição e a tinham organizado as suas lógicas e os
negociação. Os problemas da existência seus sistemas filosóficos. Coisas que eu
física e espiritual fundamentam-se nos tinha ouvido falar em casa nas vozes
da existência de uma totalidade que dos amigos de meu pai, que eu as
governa as gerações e que permite a descrevo um conto (CUNHA JUNIOR,
continuidade dinâmica da vida pela 2005). O conflito de poder estava
interferência humana. São formas de formado, em classe, mas refletia um
pensar, tomadas dos mitos, dos conflito maior entre as nossas
provérbios, dos compromissos sociais sociedades com a ocidental dominante,
que formam uma ética social, refletem, conflito que na época eu não dispunha
inscrevem (e mesmo escrevem da bibliografia que hoje disponho,
(CUNHA JUNIOR, 2007)) registrado portanto a minha argumentação foi
na oralidade os condicionantes da ridicularizada com afirmação
existência humana, da formação social, professoral e meio sorridente que tudo
das relações de poder e justiça, da que não era grego, não era lógico,
continuidade da vida. A natureza como filosófico, baseado em método e que
respeito profundo a vida. Não temos estava externa a história da filosofia
Candomblés e Umbandas (Designando seria portanto. Eu argumentava que
as diversas religiões de base africana) história que ele chamava de história da

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filosofia, não era mais que a historia da ocidental reza tudo aquilo que ele
filosofia grega. Que deixava de fora os desconhece não tem grande importância
Núbios, Etíopes, Egípcios, Indianos, para o conhecimento racional. O
Chineses (discurso que tomava ocidente não conhece, portanto não
emprestado dos discursos de Malcon X, existe. Dado ao desconhecimento
um dos lideres de grande importância ocidental, às vezes acidental noutras
nos Estados Unidos da Américas dos proposital (BERNAL, 1987), grande
anos de 1970, nas sem, no entanto tê-los parte do conhecimento da humanidade
aprofundado). Reposta meio que não existem como conhecimento
silenciosa e irônica foi que eu deveria racional. Reduz os povos não ocidentais
estudar, depois um dia saberia sobre o a povos que não pensam de forma
que estávamos conversando, que até lógica. A ignorância ocidental sobre os
então não sabia de nada. Assim seguiu. não ocidentais (ou pelo menos
Perpetuou-se um sorriso irônico, um conhecimento parcial) produziu a
sorriso da prepotência ocidental. arrogância e desta a eurocentrismo, em
Reafirmado em caracterizar tudo que se considerar única fonte dos únicos
fosse Africano como pré-lógico. Hoje, pensamentos lógicos racionalizados
depois de muito estudar e tentar pelas lógicas do seu conhecimento.
aprender confesso que em uma coisa ele Coisas inclusive tratadas pelos filósofos
tinha razão, eu não sabia e pior ainda gregos e demonstravam uma grande
hoje sei apenas o tamanho do meu admiração pelos Africanos, da Etiópia,
desconhecimento. Continuo a não saber Egito e Núbia (KARAGEORGHIS,
das lógicas e das filosofias da 1988), (OBENGA, 2005). A segunda
humanidade que muitíssimo mais razão, de origem epistemológica, que
amplas que as expressas no ocidente consiste em ter formulado o problema e
(CHENG, 2008), (BIDIMA, 1995), o solucionado apenas segundo os seus
(BIYOGO, 2006), (OBENGA, 1990), limitados métodos científicos. Tendo
(BERNAL, 1987). Vejam como os (S) solucionado o problema a sua forma
esses respectivos do plural. Também se ficaram deslumbrado ante sua magistral
trata em rever as supostas origens criação, dito a si próprio este é “O
gregas da filosofia devidos fatos de que problema” e estas são as suas “Únicas
Pitágoras estuda 23 anos no Egito, Soluções. Diríamos para os filósofos
assim como Euclides, Tales, Sólon e eurocentricos que Narciso detesta tudo
Platão e muitos outros gregos. A ênfase que não seja espelho. Por exemplo,
dada por G. James (JAMES, 1954) no existe um método denominado na
seu livro a “Stolen Legancy” é que o cultura dos faraós de Tep-heseb, que
legado da filosofia dos povos norte consiste na forma correta de tratar os
africanos foram apropriados pelos conhecimentos sobre a natureza
gregos. Esta idéia é retomada por (VERCOUTTER, 1956). Do qual
Martin Bernal nos seu clássico a Atenas poderíamos nos interrogar se dele não
Negra (BERNAL, 1987). deriva a razão teórica da antiga Grécia,
as contribuições de Galieleu e
A racionalidade (o pensamento e a
Descartes. No entanto esta existência,
filosofia) é considerada grega por duas
como outras não são mencionadas pela
razões quase que irracionais. A primeira
filosofia ocidental transmitindo a
pela imensa irracionalidade de
sensação que esta nasce de si própria.
desconhecer o legado de outros povos e
de não os considerar inteligentes pelo As sociedades africanas e
desconhecimento. O eurocentrismo afrodescendentes da diáspora africana

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enfrentam desde as invasões européias africano e a história e cultura africana.
(1450-1900) e dos desterramentos do Faz parte de um tecido em trabalho de
escravismo criminoso um problema concepção e tecelagem ao mesmo
posto pela dominação eurocentrica. O tempo, de forma ainda inicial. Trata-se
do reconhecimento da cultura e da de parte de um projeto cientifico no
história africana e afrodescendente. O campo do instituímos como
problema da “identidade pensante” e Africanidades Afrodescendência.
ativa na construção do nosso lugar na Este texto apresenta de forma sumaria e
humanidade e nos destinos nossos e da introdutória os princípios do
humanidade. Neste sentido o principal
pensamento das populações Bantu,
problema destas sociedades e nossos como parte de introdução da
como membros dela, mesmo inseridos cosmovisão africana, da história e
em outras sociedades hegemônicas, é o cultura africana nas disciplinas de pós-
problema da expressão própria, da graduação em educação brasileira da
autonomia de pensamento, da liberdade Faculdade de Educação de Universidade
dos seres e dos pensamentos. A Federal do Ceará. Depois de uma
liberdade, a autodeterminação, a década que estamos trabalhando com o
dignidade sócio-econômica e o conhecimento de base africana
conhecimento africano são os chegamos a condição de contarmos com
constituintes das filosofias de africanos três disciplinas de pós-graduação,
e afrodescendentes desde antes mestrado e doutoramento, num só
conhecermos Booker Taliaferro semestre, numa só linha de pesquisa e
Washington (MEIER, 1963) e os como um disciplina seminal na
intelectuais da independência do Haiti. graduação em pedagogia.
Eles nos expressam um fazer filosófico
do qual nos falam Paul Hountonji Bantu com designação
(HOUNTONDJI, 1980), Severino A designação por Bantu de uma grande
Ngoenha (NGOENHA, 1992), Eduardo região africana vem grupo lingüístico.
de Oliveira (OLIVEIRA, 2007), Munis Existe no continente africano uma
Sodré (SODRE, 1983), Emanoel Soares diversidade imensa de línguas e de
(Emanuel, 2008). O que podemos culturas, sendo podemos reconhecer
nomear de filosofia africana e neste conjunto uma unidade cultural.
afrodescendente na atualidade trata-se Unidade esta que Diop (DIOP, 1990)
de uma filosofia como para além de denomina como a unidade na
uma hermenêutica da libertação e da diversidade. Esta unidade cultural pode
redescoberta dos seus elementos no ser reconhecida quando comparamos as
campo de unidade na diversidade da diversas sociedades africanas entre si e
diáspora africana. Trata-se de resolver vemos que todas elas têm em comum
as questões postas pelo eurocentrismo, valores sociais. Estes valores são
colonialismo, racismo, ou seja, do bastante distintos dos valores europeus
conjunto da dominação ocidental sobre ou ocidentais e dos orientais. São
as populações africanas e africanas da fortemente africanos. Podemos designar
diáspora. como região de línguas Bantu uma
No âmbito de uma disciplina semestral imensa região correspondente a quase
este texto tem como propósito a metade do território africano indo de
introdução ao pensamento das Camarões no Atlântico ao Quênia no
sociedades do NTU, para termos um Indico, incluindo todos os países até a
caminho de acesso ao pensamento África do Sul.

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O povoamento da continente africano (Nigéria-Brasil). Este Deus Único é o
parece historicamente ter se dado por criador de tudo, e dele pouco se fala no
ciclos migratórios. Estes ciclos exercem sentido de defini-lo, no entanto
um movimento da região do rio Nilo em reconhecendo a sua manifestação de
direção a regiões do norte africano e da diversas formas no cotidiano das
África ocidental. No sentido da região famílias. A cultura africana de uma
do Oceano Indico para Oceano maneira geral é indissociável do
Atlântico. Por ultimo da região da respeito a este criador, sem que isto
África Ocidental, região do Rio Niger, necessariamente se configure como uma
em direção ao sul africano e religião, com dogmas e cultos
atravessando o continente entre o específicos. O criador na grande maioria
Atlântico e o Indico sul. As culturas das de povos africanos produz a
diversas regiões de certa forma têm humanidade vinda a terra de um grupo
traços em comum vinda destes de pessoas. Os seres humanos na
movimentos migratórios. A região das mitologia africana têm o caráter grupal,
línguas bantu seria a ultima síntese e não individual. O criador estabelece a
cultural, tendo influencias de todas as existência de uma energia presente em
outras migrações. As rotas comerciais tudo que existe que é denominada como
que cruzam o continente e que se força vital (OLIVEIRA, 2003).
comunicam com larga extensão da Ásia Talvez o segundo valor social africano e
e da Europa foram ao longo da historia um dos mais importantes para
um elemento de trocas culturais dentro conhecimento das sociedades africanas
desta dinâmica da produção da este associado a “palavra falada”. A
diversidade e da unidade cultural. palavra falada cria nas sociedades
Na concepção das sociedades o ser africanas. Ela tem o dom transformador.
humano composto do se corpo físico e Uma criança nasce e de imediato é
da sua inteligência viva. Esta classificado na categoria de coisas, seres
inteligência viva não vista como animados, não é um ser humano até que
separada do corpo físico. Em certas através da palavra falado alguém de um
situações, como na morte, o corpo físico nome e o pronuncie. A palavra
pode se separar da inteligência viva. transforma os ser animado em ser com
Trata-se de uma inteligência existente potencial humano, passível de
sem a vida corporal. A inteligência uma inteligência humana a ser desenvolvida
força espiritual viva, que do ponto de durante a vida. O ato da fala envolve
vista filosófico é metafísica, existe muitos meandros interessantes nas
forma eterna, embora sempre de forma sociedades africanas. Temos que os
dinâmica sofre modificações da sua tambores também falam. A síntese de
força existencial. Esta inteligência viva transmissão de informação pelos
renasce e prolonga sua vida nos tambores é realizada em alguns povos.
descendentes. Por outro lado a fala do tambor pode ser
pensada como a comunicação com o
Os povos Bantu participam do conjunto
mundo espiritual, como veremos
de semelhanças culturais que podemos
adiante.
dizer como valores sociais africanos.
Estes valores estão relacionados com O sagrado da palavra é que da a sua
um Deus Único que recebe nomes importância nas sociedades africanas. A
diferentes, tais como Nzambi (Congo), escrita é uma invenção existente em
Mogai ou Ngai (Quênia) e Olorum varias sociedades africanas (CUNHA

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JUNIOR, 2007), como a Etiópia, Núbia populações africanas cristianizadas tem
e Egito, sendo que mesmo na presença como valor social a ancestralidade). A
destas a palavra falada é um valor ancestralidade esta presente nos mitos
social. Da palavra decorre o discurso de criação dos diversos povos africanos.
oral, a oralidade. O discurso oral tem Os ancestrais mais antigos são
um lugar privilegiado nas sociedades considerados como sagrados, cultuados
africanas. A oralidade funciona como e respeitados como iniciadores de uma
uma matriz cultural de construção do determinada cultura e povo. Na
discurso e tem diversos empregos nas ancestralidade reside a definição de uma
diferentes sociedades do continente. família, de grupos locais, de etnias e de
Deste discurso oral emergem as povos africanos. O povo Queniano
mitologias, provérbios, histórias e construí a explicação da sua origem
literaturas. As literaturas escritas baseada em 9 ancestrais mulheres
guardam o suporte da oralidade Moombi (KENYATTA, 1938). Desta
(PADILHA, 2007), (QUEIROZ, 2007), ancestralidade resultam as bases da
(BATTESTRI, 1997). A oralidade identidade do povo Queniano. O povo
africana é um conceito amplo, que santo de religião Nagô no Brasil tem
abrange oratura, oralitura, inscritura, como ancestrais os Orixás. Sendo que
tradição oral, literatura oral e historia as populações Iorubanas da Nigéria
oral. São formas da arte verbal e da também têm os Orixás como ancestrais.
construção do pensamento na sua forma Os ancestrais são importantes tanto para
verbal. O discurso verbal pensando e a construção da identidade como da
composto com diversas formas de territorialidade dos diversos povos
expressão, como teatro, a música, a africanos e de africanos na diáspora.
dança e a expressão corporal. O Estes ancestrais mais antigos fazem a
discurso composto incorpora os ligação entre o mundo visível e
instrumentos musicais e o corpo. São invisível, o que de maneira simplista,
textos das mais variadas formas que não devido a influência cristã no
implicam de forma necessária os pensamento brasileiro, denominaríamos
acessos públicos. Temos textos de como a terra e o céu. Da
iniciáticos, textos de grupos de ancestralidade implica também uma
conhecimento científicos e tecnológicos visão sobre a morte, como continuidade
secretos de grupos de especialistas, da vida inteligente no mundo invisível e
textos eruditos, no sentido do o ressurgimento desta noutra vida
conhecimento decodificado por um corpórea no mundo visível.
grupo fechado. A decorrência da A família entendida é um valor social
palavra é muito ampla nas diversas que decorre da ancestralidade e das
culturas do continente africano. associações realizadas na sociedade.
A ancestralidade é um valor social Trata-se de uma família realizada em
contido nas sociedades tradicionais que sociedade com poligamias masculinas e
resiste mesmo a urbanização moderna femininas. Com conceitos de pertencer
ou a presença de religiões européias. (O a uma família mesmo pelo uso comum
cristianismo que de é origem asiática – do solo, por vizinhança ou por adoção.
africana - judaica, se encontra na base A família estendida tem importância nas
da construção do ocidente, onde foi relações sociais de poder e econômicas.
elaborada uma versão ideológica onde Da reunião destas famílias estendidas
esta religião fica caracterizado como surge o glã, as comunidades locais das
uma religião européia. Mesmo as

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vilas, dos glãs, os povos, deste os cavar a terra. Nos territórios da África
estados nacionais. do Sul entre os Zulus o sistema de
corvéia na terra do chefe local é
Os valores sociais no campo da
chamados de um-Butiso. O trabalho é
economia têm relação com a produção
coordenado e ritmado por cânticos.
rural, criação, plantação e pesca que
Aqui também o chefe local promove
sempre tem um modo de produção de
uma festa durante o trabalho. Não são
uso comum das terras e cooperação dos
modos de produção compulsórios. Esta
membros da sociedade, de reserva de
herança do trabalho comunitário
parte da produção para os mais velhos e
cantando e festejado se repete em
para as atividades sociais. Existe
algumas comunidades quilombolas e
também uma ampla realização da
rurais do Brasil constituindo um modo
urbanização e do comercio nas
de produção africano de difícil ajuste a
sociedades africanas representado sobre
convivência com os modo capitalista
tudo pela feira e mercados. O comercio,
destruidor das culturas não ocidentais.
as feiras e os mercados africanos são
parte dos valores sociais africanos. O NTU, MUNTU, KINTU, HANTU,
desenvolvimento das sociedades KUNTU. As formas dos princípios
africanas em estados é resultado da filosóficos
associação do comercio como a família NTU é a força do universo, que sempre
estendida. A mineração e produção ocorre ligada a sua manifestação em
manufatureira são integrantes do alguma coisa existente no campo
comercio e produtores de material ou do simbólico ou do
particularidades das sociedades espiritual, nomeados nas formas de
nacionais. A metalurgia do ferro muntu, kintu, hantu e kuntu. O NTU
aconteceu em todas as sociedades embora não existe por si próprio, ele
africanas do passado. Para todas aparece transforma a tudo que existe com
um ancestral inspirador da metalurgia elementos tendo uma mesma natureza
do ferro. As principais transformações em comum. Tudo tem o seu NTU. O
de grande parte do continente africano NTU não expressa a força da natureza
ocorreram depois do advento do ferro. em si, mas a sua existência. Importante
A produção rural nas sociedades Bantu que Deus é a única categoria a parte que
ocorre por dois modos de produção, um não tem necessidade de se expressar
cooperativo informal e outro de trabalho pelo NTU. O Deus é único é não é um
coletivo nas terras do chefe local NTU, mas os ancestrais e Inquices são
(ALTUNA, 2006). O trabalho parte de um dado NTU. O NTU é uma
cooperativo informal é nas terras de expressão de energia. Tudo é composta
uma família. Nesta os anfitriões da combinação ou transformações da
convidam os vizinhos para ajudá-lo e energia em qualidades diversas. Cada
promove uma festa em recompensa ao categoria tem um NTU em determinada
trabalho. O clima de trabalho é de qualidade ou modalidades.
amizade solidariedade e festa. Não Nas línguas africanas as existências do
existe muita hierarquia e nem uma mundo material e imaterial podem se
perfeita organização. O trabalho é agrupadas em um numero de pelo
completamente espontâneo. Já o menos quatro categorias. São
trabalho nas terras de um chefe local classificações lingüísticas. Estas quatro
tem uma organização. Existe uma categorias básicas de tudo que existe é
perfeita sincronia, por exemplo, no bem explicita nas línguas bantu e

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podem ser nomeadas como: MUNTU, humana. O conhecimento é uma
para os seres humanos completos, manifestação da inteligência ativa. A
KINTU, para as coisas animadas e inteligência ativa nas culturas bantu é
inanimadas consideradas todas como pensada como tendo duas formas
portadores de vida, HANTU, distintas de manifestação, a prática e a
representando tudo que tem relação com habitual. Na inteligência pratica estão
tempo e espaço, KUNTU, como agrupados os atos compreensão dos
modalidade ou como os atributos de sentidos das coisas, os aprendizados
inter-relação de categorias, como uma rápidos, do desvendar de secretos e da
força que permite a ligação entre dois sagacidade e da esperteza. A
significados. (KAGAME, 1956). Esta inteligência da habilidade contém os
quatro categorias não são apenas da atos de conhecimento sedimentado, as
lingüística elas são categorias também habilidades aprendidas e aperfeiçoadas.
da filosofia coletiva africana. Toda a A existência de inteligência implica
existência, toda a essência, em toda sobre tudo na possibilidade de
forma que ela pode ser concebida e compressão e interpretação da natureza
pode ser submetida a este conjunto de e das relações da vida. Esta inteligência
categorias. Notamos a diferença com as ativa implica na forma que o ser Muntu
línguas ocidentais, onde as palavras são utiliza a força ou a energia da natureza,
classificadas por gênero gramaticais. ou seja, dos Kintu. Podemos talvez
Nas línguas bantu as palavras dentro dizer que um ser humano completo é o
destes grupos de classificação são possui inteligência ativa e desenvolveu
conhecidas pelos seus sons que uma personalidade. O Muntu é um ser
agrupam energias de uma determinada humano com uma identidade e uma
qualidade (FINNEGAN, 1983). Cada história.
palavra possui uma espécie de prefixo KINTU é uma classificação para coisa,
determinativo da sua natureza, ou tendo o sentido de forças do NTU não
melhor, dizendo da qualidade, natureza contendo inteligência e que fica a
ou estado da sua força ou energia disposição dos seres humanos para
interna, da organização do seu NTU. propiciarmos a vida. O plural de
MUNTU é classificação para seres KINTU é a palavra BINTU, ou coisas.
dotados de inteligência. São São seres que não tem atividade própria,
considerados Muntu os seres humanos, sendo que a idéia das atividades não é
vivos ou mortos. Os ancestrais e mesmo no sentido de movimento, mas sim de
os Inquices, como ancestrais mais fazer pelo uso da inteligência que
antigos da sociedade, estão nesta implica na capacidade de aprender criar
categoria de Muntu. Os animais não ou executar. Vegetais, animais e
possuem a inteligência humana, sendo substâncias como os metais são
que a eles é considerada a existência de classificados como Kintu. Somente pela
uma inteligência limitada e voltada mais ação de um Muntu que os tem atividade
para a repetição ou imitação do que a ou transformações em outras coisas.
criação da inovação. No entanto, para as KUNTU é uma modalidade que abriga
sociedades bantu os seres humanos e os qualidades subjetivas e modificadoras
seres animais têm em comum os de outras qualidades. A inteligência é
sentidos da audição, visão, olfato, uma propriedade classificada como
paladar e o sentimento. Mas os sentidos Kuntu. A inteligência é um atributo
humanos são dotados do completo do humano que compõe outro conceito
conhecimento advindo da inteligência

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complexo que é vida da inteligência. O Dongo do Mali. O Nommo neste povo
sorriso, a beleza ou a esperteza são tem relação com os conhecimentos
formas de energia da qualidade do avançados de astronomia. Na mitologia
Kuntu. Existe o atributo que tem vida milenar Dongo, que tem muita relação
própria independente do ser da natureza com o Egito e Núbia antigo, aparece
que o expresse. O sorriso é um ato que uma descrição do sistema estrelar
possui energia própria. (Kuntu é o Sirius, como três estrelas e como a
conceito mais difícil de expressar nas origem do Universo. Até 1970 e
línguas ocidentais). astronomia do ocidente conhecia apenas
uma estrela deste sistema. Em 1970 foi
HANTU é a categoria classificatória de
descoberta a segunda estrela (Sirius B),
lugares. Temos que no pensamento
e em 1995 a terceira (Sirius C). Tornou-
africano um lugar é definido com
se conhecido então como o mistério do
relação a um tempo. A categoria espaço
conhecimento astronômico Dongo. Os
– tempo formam um binômio produzido
Dongos já sabiam da rotação da terra
pela classificação em Hantu. As
em torno do sol, da existência das luas
palavras ligadas aos pontos cardeais,
de Júpiter e dos anéis de saturno, muito
aos espaços geográficos ou a descrições
antes deste terem sido pensados nas
do tipo mapas estão presentes nesta
sociedades do ocidente.
categoria. Mas também ontem, hoje e
amanha. Manha, tarde, entardecer, noite Para melhor compreensão do Nommo
e amanhecer. Hantu é a qualidade de na cultura Bantu, podemos acrescentar
energia da localização espacial, os conceitos de totalidade e de Ubuntu
temporal e do movimento de mudanças. das línguas Bantu (FOSTER, 2006),
(NGOENHA, 2006). A noção de
O NOMMO é um complicador neste
totalidade é uma importante no mundo
universo das formas de existência do
bantu. A totalidade de toda a existência
NTU. NOMMO é a força motora que da
seja material, espiritual e humana. A
vida, sentido e eficácia para todas as
totalidade é um aspecto preponderante
coisas (Eficácia como a qualidade
do cosmo. A totalidade pode ser
daquilo que produz o efeito desejado).
descoberta em todas as esferas da visão
Nommo é uma fonte dessa qualidade,
de mundo das sociedades bantu. Na
onde temos uma palavra, uma semente,
criação do universo o criador fez como
uma água e um sangue. O NOMMO é
que tudo que existe tivesse uma relação,
uma qualidade ligada a harmonia dos
esta relação possui uma dinâmica de
Muntu, Kintu, Hantu e Kuntu. Trata-se
transformação, podendo ser alterada
da forma de manter a organização
pelos Muntu, visíveis e invisíveis. A
desses elementos. O que nos faz
noção de totalidade é semelhante a
compreender a organização e o
noção de sistema na matemática atual
significado destes conceitos
ocidental, onde seria um conjunto
classificatórios e de suas associações. O
completo de tudo que existe e das
NOMMO produz uma possibilidade de
relações passiveis entre eles. O criador
harmonia das forças de tudo que existe
realizou a criação ou continua realizado
no mundo visível e invisível.
tendo como fator importante a harmonia
Nas culturas africanas a palavra e o equilíbrio. Entretanto a harmonia e
NOMMO aparece de diversas formas e equilíbrio são variáveis, existe a
com vários significados, todos eles de necessidade de atos dos Bantu (pessoas
natureza complexa. Nommo tem uma visíveis e invisíveis) para preservação
grande importância na cultura do povo

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ou constante restabelecimento da semelhante. O Ntu ou a idéia de uma
harmonia e do equilíbrio. partícula constituinte da totalidade está
presente não apenas no conhecimento
Na sociedade o Ubuntu representa a
cotidiano da filosofia, nas filosofias
existência respeitosa e equilibrada entre
coletivas, como aparece em corpos
os seres da natureza. No Ubuntu
filosóficos escritos africanos, como é
repousa a comunidade e suas relações
caso da Etiópia cujo exemplo mais
sócias baseadas na tradição, na ética
conhecido no ocidente é a obra de Zaara
social e no reconhecimento de todos
Yagob (É o principal filosofo Etíope do
como indispensáveis. A identidade e a
século 17, tendo vivido entre 1599 e
personalidade dos indivíduos é parte do
1692.). Nos seus trabalhos ele remete o
Ubuntu. Este Ubuntu é a aplicação do
principio da filosofia Etíope a expressão
conceituo de totalidade as relações
Se ‘en. Deste termo se compõe muitas
humanas e as sociedades existentes. O
formas de explicação da vida como das
Nommo tem haver com a preservação
ciências. Se’na Afaatarik é a arte da
da harmonia.
ciência da história oral (SUMMER,
Dado o preâmbulo da forma 1999) (Ver Claude Summer que tem
terminamos aqui como começamos vários livros sobre a obra de Zara
Na raiz filosófica africana denominada Yagob, como também Teodoro Kiros
de Bantu, o termo NTU designa a parte (KIROS, 2000)). Se’en é o Deus da
essencial de tudo que existe e tudo que criação e da criatividade, que é o
nos é dado a conhecer à existência. O principio da filosofia Etíope. A tradição
Muntu é a pessoa, constituída pelo filosófica da Etiópia produz uma
corpo, mente, cultura e principalmente, herança na Jamaica que é o pensamento
pela palavra. A palavra com um fio Rastafari (MELLO / SOUZA, 2008)
condutor da sua própria história, do seu Terminamos repetindo sobre a
próprio conhecimento da existência. A importância do conhecimento e do
população, a comunidade é expressa reconhecimento dos conceitos
pela palavra Bantu. A comunidade é filosóficos e da cosmovisão africana
histórica, é uma reunião de palavras, para o entendimento das culturas de
como suas existências. No Ubuntu, base africana na sociedade brasileira.
temos a existência definida pela Para uma melhor compreensão do
existência de outras existências. Eu, significado da presença das populações
nós, existimos porque você e os outros africanas na diáspora brasileira. E
existem; tem um sentido colaborativo também para construção de um
da existência humana. Neste texto conhecimento que possa ir além das
demos uma possibilidade de introdução amarras do eurocentrismo e das
a cultura e a filosofia das sociedades limitações do universo grego judaico
Bantu. cristão romano. Irmos além das
Ainda a titulo de complemento das proposições apenas do marxismo
informações nos temos que a idéia do europeu como fonte de inspiração para
NTU como principio, energia reflexão das populações oprimidas. Não
fundamental, não é único das podemos pensar que arrancou os dentes
sociedades Bantu, aparece de outras deva ser agradecido por nos dar
denominações em outras sociedades de dentaduras. O conhecimento das
filosofias sociais coletivas africanas, filosofias nos proporciona a liberdade
com mesmo sentido ou sentido de pensar o povo africano e
afrodescendente como produtores de

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conhecimento filosófico. Este artigo é JAMES, G. Stolen Legancy, the Greeks were
apenas uma introdução que apresenta de not the Authors of Greek Philosophy,but the
People of North Africa, Commonly called the
maneira genérica, como um roteiro de Eggyptians. New York: phailosofical Library,
leituras, as possibilidades de pensarmos 1954.
a filosofia africana num das suas raízes
KAGAME, Aléxis. La philosophie Bantu –
que é a cultura Bantu. Embora se Rwandaise de l`Etre. 1956.
apresente de maneira introdutória as
KARAGEORGHIS, V. Blacks in Ancient
exemplificações deixam registros de Cypriot art. Houston, Tex: Menil Foundation.
que a filosofia não é única, nem se quer 1988.
apenas um legado da cultura grega.
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também é afrodescendente, faz parte da
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HENRIQUE CUNHA JÚNIOR é Professor Titular da Universidade Federal do Ceará.
Membro do Instituto de Pesquisa da Afrodescendencia – IPAD.

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