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Objectivos
Objectivo geral
Comprender o pensamento político de Marsílio de Pádua, baseado na obra O
Defensor da Paz (1324).
Objectivos específicos
Analisar principais fundamentos do pensamento político de Marsílio de Pádua;
Analisar a ifluência do pensamento político de Marsílio de Padua no poder da
Igreja Católica.
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O Defensor pacis de Marsílio de Pádua (1324)
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Na Secunda Dictio, o paduano demonstra suas concepções eclesiásticas tendo
como alicerce sua própria teoria política que demonstrou no livro I de sua obra. Trata-se
agora de uma teologia política fundamentada principalmente nas Escrituras: “É isso
também o que o apóstolo afirma claramente na Epistola aos Romanos, capítulo XIII [1]:
Toda criatura se submete às autoridades constituídas, a saber, aos reis, aos príncipes e
aos governantes (...)”. Percebe-se, portanto, que o filósofo deixa um pouco de lado as
fontes profanas que outrora usou na Prima Dictio. Logo, a fim de fundamentar sua
eclesiologia política, Marsílio interpreta literalmente os textos bíblicos usados nessa
parte da obra. Para isso, recorre à teologia de Pedro Lombardo (século XII), em especial
à Glosa Ordinária, à Glosa Interlinear, à Catena Aurea, e às Collectanea in Epistolas
Sancti Pauli.
Dessa forma, o autor Garcia (2008), no início dessa parte do tratado, Marsílio
deixa claro o que vem ser a Igreja que, segundo o filósofo, nada mais é que o “(...)
conjunto dos fiéis que acreditam em Cristo e invocam Seu nome, e a todas as partes
deste conjunto em cada comunidade, inclusive a doméstica”. Essa é uma demonstração
clara de que o Paduano ia de encontro à noção de hierarquia eclesiástica, cujo líder é o
Bispo de Roma.
Em seguida, o pensador rebate a noção de poder sacerdotal coercivo de perdoar
os pecadores de seus pecados, demonstrando que o próprio Cristo, Filho de Deus, não
arrogou para si tal incumbência, a fim de exercê-la neste mundo. Assim, com o intuito
de barrar os excessos cometidos pelo clero, os supostos pecados e heresias, dos
participantes da civitas, estes devem ser julgados pelo detentor do poder coercivo, o
Imperador, eleito pelo povo, visto que as supostas infrações também têm implicações
sociais. Assim, os pecados serão ainda julgados e condenados ou, até mesmo,
absolvidos por Cristo na outra vida, não sendo da competência de um ministro
eclesiástico atribuir com poder a absolvição ou castigo até mesmo na vida futura, como
era costume.
Marsílio vai mais além quando defende também que, para um clérigo ocupar um
cargo mais elevado, como de bispo, ou ainda, ocupar uma paróquia, dependerá agora da
escolha do Legislador Cristão e não mais de seus superiores. Demonstra ainda que
Cristo e os Apóstolos viveram em extrema pobreza, o que seria um exemplo a ser
seguido por todos os seus ministros, que teriam a obrigação de viver das doações dos
fiéis, assim como viveu e ensinou o Apóstolo São Paulo. Dessa forma, o filósofo
chega à conclusão que seria incompatível em uma sociedade perfeita o clero possuir
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terras ou outros bens. Até mesmo porque, a Igreja Primitiva teria seguido o exemplo de
Cristo vivendo em pobreza.
Por fim, na Secunda Dictio, o filósofo analisa a pretensão dos Pontífices
Romanos quanto à suposta plenitude de poder sobre todo o clero, sobre os fiéis e sobre
o Império Romano. Analisa, ainda, as consequências danosas desse pseudo-direito sobre
a Cristandade de modo geral, para que, em seguida, respondesse às prováveis objeções
que surgissem contra suas teorias.
Sobre o assunto tratado na Terceira Parte do Defensor Pacis, o próprio autor o
apresenta como uma recapitulação dos principais objetivos e conclusões apresentadas
nas Partes I e II. É uma espécie de conclusão onde Marsílio continua defendendo que a
principal causa da discórdia e intranquilidade civil nos reinos e cidades estão na
obstinação do Bispo de Roma e dos clérigos em se apoderar dos principados seculares,
acumulando também, escessivamente, bens temporais. É ainda nessa parte, no último
capítulo, que o filósofo dá a explicação referente ao título do tratado, Defensor Pacis.
Garcia (2008)
A Comunidade Política
Para Garcia (2008, p. 25), a comunidade política era, para Marsílio de Pádua,
a comunidade perfeita, a evolução última das agregações humanas a qual
denominou cidade. Era perfeita por apresentar as regras ou maneiras de viver
consolidadas, grupos sociais distintos e uma comunidade que gradualmente
descobria o que era necessário para viver bem a fim de poder se realizar na vida
terrena.
No que tange à lei humana, Marsílio de Pádua considera que, para organizar a
cidade conforme o justo e o útil e garantir a estabilidade governamental, é necessário
legislar. Todavia, como já exposto, o legislador não deve se ocupar em definir apenas o
que é justo e útil, do contrário sequer haveria lei. É necessário também prever um
preceito coercitivo para punir os transgressores da lei.
Contudo, Marsílio de Pádua anota que o que é justo e útil para a cidade não é lei
se não houver um preceito coercitivo impondo sua observância.
Daí se infere que Marsílio concebe dois aspectos na lei humana: um aspecto
material, de conteúdo (concorrer para o bem comum e o que é justo e útil para a cidade;
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conceder segurança e estabilidade governamental) e outro formal, de caráter
sancionatório (previsão de preceito coercivo para punir eventuais transgressores).
Com efeito, quanto à forma, Marsílio de Pádua aduz que a lei, “em si mesma,
enquanto revela somente o que é justo ou injusto, útil ou nocivo […] é chamada
doutrina ou ciência do direito”. No que toca ao conteúdo, consoante Marsílio de Pádua a
lei “considera o que um preceito coercitivo estipulado impõe como recompensa ou
castigo a ser atribuído neste mundo, conforme a finalidade do seu cumprimento, ou,
ainda, na medida em que é dado mediante tal preceito”.
Ainda quanto ao conteúdo da lei, exige-se a dimensão exata do que é justo e útil
para que a lei seja considerada perfeita. Quando um ponto de vista distorcido sobre o
que é justo e útil acaba se tornando lei (porque acrescido de preceito coercitivo quanto a
seu cumprimento), não necessariamente tem a condição exigida para que seja lei justa
(do que se conclui que a lei humana nem sempre é justa), mas ainda assim será
considerada lei.
b) Um maior número de pessoas pode apontar com mais exatidão alguma falha
na proposição legal: a utilidade comum de uma lei é melhor percebida pela totalidade
dos indivíduos, porque ninguém se prejudica conscientemente; lei não pode ser
promulgada por um ou alguns mais em seu benefício que no bem comum;
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c) As leis serão melhor cumpridas ou observadas: uma lei é melhor cumprida se
o cidadão julga tê-la imposto a si mesmo (e, se a lei não viesse a ser cumprida, seria
inútil promulgá-la);
a) É por meio do legislador que as leis e tudo o que se estabelece por eleição
deve ser ratificado;
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hereditária, quem deve ser escolhido governante, que predicados este deve ter, o número
de governantes e a causa eficiente do governo civil.
Segundo o paduano, quanto à escolha do monarca, pode ela ser eletiva, na qual o
monarca governa mais de acordo com a vontade dos súditos, com base em leis que
visam ao bem comum, ou não eletiva, em que os súditos são menos conscientes de seus
direitos e as leis não visam ao bem comum. Marsílio considera o governo eletivo
superior ao não eletivo, pois entende que pela eleição se obtém o melhor governo, e
aduz que as outras espécies de governo temperado que não a monarquia real também
são, em sua maioria, instituídas por eleição. Prossegue e indaga se o governo eletivo
deve ser instituído com ou sem o direito de legar o poder a descendentes (sucessão
hereditária), analisando as vantagens e desvantagens de cada uma das duas hipóteses,
inclinando-se, ao final, em favor do modelo que não admite a sucessão hereditária.
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forma de governo (é a causa eficiente do governo civil) e o governante (Marsílio se
inclina pelo governante eleito), elaborar a lei (definir o que é justo e útil para a cidade) e
prever o preceito coercitivo para punir seus transgressores (punição temporal), instituir
os grupos sociais e os ofícios (primariamente) e fiscalizar os atos do governo e, em caso
de transgressão, julgá-lo e depô-lo (consequência da titularidade do poder). Assim, para
Marsílio de Pádua o legislador é quem cria a lei (humana) e o Direito e institui e
controla os responsáveis por sua aplicação e efetivação.
Ao julgador, por sua vez, cabe promover os julgamentos conforme a lei e não
segundo seu próprio arbítrio. Desse modo, como quem elabora a lei é o legislador, este
figura acima do julgador, que somente na falta da lei atua segundo a equidade,
prudência e justiça. O julgador também aplica o preceito coercitivo, executando os
julgamentos e aplicando castigo aos transgressores da lei (conforme a terceira acepção
de direito antes exposta), deve fazer justiça, de modo a manter a paz, alcançar a
suficiência comum (conforme a primeira acepção de direito antes exposta) e a restaurar
a igualdade ou proporção (conforme a quarta acepção de direito antes exposta).
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CONCLUSÕES
A fim de provar que não existia, de facto, um poder espiritual, e que a plenitude de
poder era do povo, Marsílio de Pádua retirou do pontífice romano toda a autoridade e
poder ao delimitar e limitar sua esfera de actuação: ligar e desligar os pecados do
mundo e, principalmente, segundo Marsílio, controlar as paixões humanas, a fim de que
o detentor do poder temporal pudesse governar e, através das leis, manter a paz e a
tranqüilidade no reino. Mas isso somente se tornou possível por meio da idéia de
representação por delegação do poder civil e de sua teoria conciliar, a qual estabeleceu o
meio pelo qual seria exercida essa mesma representação. Para Marsílio, todo o poder,
foi transmitido do povo a alguém, ou seja, foi delegado a um representante. A
comunidade política era constituída pela universitas civium, o conjunto dos cidadãos ou
sua parte mais importante, que era a valentiors pars ou o legislador humano. Esse
representante, o governante, não detinha o poder irrestrito, pois, como todo ser humano
estava suscetível a paixões, amores e ódios originários das relações humanas. Para
resolver essa questão, foi necessário o estabelecimento das leis, para que o governante
fosse justo em seus julgamentos.
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alcançasse seu fim último nesta vida, mantendo a paz e a tranqüilidade, O mais
importante ou inovador na teoria de Marsílio de Pádua foi o início da idéia da
separação do poder civil, nas figuras do legislador e do executor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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