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CENTRO UNIVERSITÁRIO PAULISTANO UNIPAULISTANA

Curso de Psicologia

PATRICIA SOARES CARLETTI – RA: 20710035

Atividade desenvolvida de nota de eficiência para a disciplina Tanatologia

Professora Léa Oliveira

São Paulo - 2021

A morte domada

A mentalidade primitiva percebeu a presença da morte na vida, ou a presença da vida diante a


morte, o homem se percebeu mortal. Foi desta maneira que a morte foi vivenciada e
representada pelas religiões e pelas artes durante a Idade Média, período em que ela foi uma
presença constante e opressiva. Época em que a mortandade infantil era enorme e todos
estavam a mercê de pestes e pragas, guerras e doenças. Philpp Ariès trata neste livro "História
da Morte no Ocidente" sob o ponto de vista histórico e sociológico analisando e comparando
as atitudes diante da morte desde a morte domada, na Idade Média onde as pessoas tinham
uma postura muito religiosa. Uma imagem que elucida bem essa morte domada é a do
enfermo rodeado por familiares se despedindo, fazendo acerto de contas, não é temida nem
vista com repugnância, é a morte familiar, a que faz parte da vida. A sociedade era muito
influenciada pela religião e portanto era importante que os mortos fossem enterrados sob
proteção dos santos e garantir a segurança dos vivos. Inicialmente os considerados cristãos e
ricos que contribuíam com doações a igreja tinham melhores lugares, eram enterrados nas
igrejas enquanto que os mais pobres eram amontoados na mesma vala. Esse fato que foi
sendo abolido em vista do aumento das cidades e da população dando lugar ao cemitério que
inicialmente se localizam fora do centro das cidades para evitar o contágio e contaminação por
cheiros e restos de mortandade.

Os enterros se davam fora das cidades, e a crença geral era de que os mortos dormiam
aguardando por um Juízo Final.

A Morte de si mesmo x A morte do outro

A morte passa ser esperada como um porto seguro. Surge a morte poética, cantada, suave e
até desejada passa a ser assistida pelos entes amados. A morte passa a ter relação com as
artes. Em 1854 surge o Espiritismo com Allan Kardec.

Com a percepção da separação de si mesmo e do outro causada pela morte (século XIII), as
desconfianças se tornam preocupações individuais e levam estes indivíduos da Idade Média a
uma tentativa de racionalização e de ordenação das coisas de seu mundo. Passam então a
deixar suas ordens escritas e gravadas para que não sejam esquecidas.

Os homens numa tentativa imperceptível de eternização, imortalizam também os santos de


sua devoção, apegando-se à crença que depois da morte eles passam a viver na dimensão
divina. Os mortos passam a ter um endereço. Os cemitérios começam a crescer e passam a ser
local de visita aos mortos, um local público aonde as pessoas se encontram para teatro, feiras,
badalações. No início dos séculos XV e XVI, as maneiras de bem morrer estão associadas a uma
biografia individual, a tomada da consciência de si mesmo.  O comportamento dos homens nos
ajuda a pensar as mudanças que a sociedade sofreu com o passar do tempo. Estranho a nossa
cultura, mas isso ainda existe.

A título de contribuição, na Argentina o cemitério da Recoleta que abriga celebridades como


Evita Peron, é ponto turístico com atividades teatrais, feiras, comidas típicas, cafés e visita
guiada aos túmulos de personalidades que fazem parte da cultura e da história da Argentina. A
entrada é paga com direito a visita guiada onde são comentados sobre os túmulos de famílias
tradicionais ou famosos que estão enterrados lá. Os túmulos são considerados verdadeiros
monumentos históricos que demonstram a estirpe da família pela constituição de tamanho,
forma, tipo de material usado na construção e assinatura arquitetônica pois alguns, são
assinados por artistas renomados e famosos. É um passeio meio macabro pelas histórias que
se houve, mas vale a pena dentro do contexto cultural local.

A morte invertida

Inversão nas características da morte:  ela necessita passar despercebida, não sendo mais
considerada um fenômeno natural do ser vivo, e sim, um fracasso. É uma forma
absolutamente nova de morrer, que surgiu durante o século XX, em algumas zonas mais
industrializadas, urbanizadas e tecnicamente adiantadas no mundo ocidental. Neste ínterim, a
morte se apresenta como a retirada do individuo do seu cotidiano levado para as organizações
especializadas de tratamento de doenças, comedimento da morte e prolongamento da vida. A
trajetória da morte é alterada: o nojo faz a doença e a morte serem escondidas.

A entrada da racionalidade cientifica na orientação da vida, a medicalização e cuidados com o


corpo e saúde, passam a não mais permitir a entrada da morte na vida senão de forma oculta,
dissimulada, escondida. Daí o termo invertida ser entendido como a morte que se esconde.

Os rituais de morte passam a ser mais discretos. A morte foi retirada da sociedade e com isso o
processo de luto sofre interferências. Cada vez mais vale uma atitude discreta, como se a dor
não existisse. A expressão do luto se torna indecente como a própria morte.

O hospital é esse lugar aonde se busca o alívio da dor mas é também o loca aonde essas
ocorrem essas mortes ocultas, não se tem mais contato com o moribundo e mutas vezes não é
possível contato e intimidade suficientes para uma despedida.

A partir dai se estabelece a morte gradual, processada em etapas: morte clínica e morte
cerebral. Essas etapas de morte podem causar grande sofrimento a família e entes amados
pois ao mesmo tempo em que a morte e vista como fracasso, ela é prolongada com a entrada
da técnica de doação de órgãos que mantém o paciente ligado a aparelhos cuja duração agora
é decidida por médicos e familiares. O ser humano é pivado de seu processo de morrer
naturalmente. Lembrando os dizeres do “Inferno” de Dante Alighieri na Divina Comédia:
“Abandonais toda a esperança vós que entrais.”

Inconsciência sobre que está acontecendo é parte de morrer na mentalidade interdita ou


através de sedativos e calmantes ou anestésicos.

Vida e morte se mesclam dificultando saber quando ela de fato ocorreu.

Com isso surgem os profissionais que cuidam do processo de funeral, velório, empresários e
empresas que se propõem a administrar esse processo entre a morte e o sepultamento. Mas e
o luto? O luto não tem um tempo determinado, para cada indivíduo o seu fim será vivido de
forma única, a duração desse processo de luto, corresponde ao tempo que nossa psique leva
para assimilar a ausência e integralizar a saudade.

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