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Marta Harnecker e Gabriela Uribe - Cadernos de Formação Popular 1 - Explorados e Exploradores
Marta Harnecker e Gabriela Uribe - Cadernos de Formação Popular 1 - Explorados e Exploradores
Gabriela Uribe
0 \
EXPLORADOS E
EXPLORADORES
EXPLORADOS E
EXPLORADORES
MARTA HARNECKER
GABRIELA URIBE
a
t
global editora
COPYRIGHT © 1979
GLOBAL EDITORA E DISTRIBUIDORA LTDA.
D i r e i t o s reservados por
S
jgJobalj
Ztobal editora e distribuidora Itda.
R. J o s e A n t o n i o Coelho. 814 Cep 04011 Fone 549 3137
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Impresso na E d i t o r a Parma
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Ãs revoluções sociais nâo são feitas pelos indivíduos, pelos "grondoo per
sonagens", por mais brilhantes ou heróicos que sejam As revoluções sociais
são feitas pelas massas populares. Sem a participação das grandes massas não
há revolução, é por isso que uma das tarefas mais urgentes neste momento é
que os trabalhadores se eduquem, elevem o seu ní vel de consciência, se capa-
citem para responder às novas responsabilidades que surgem dentro do pro-
cesso revolucionário que o nosso pai's vive.
Se queremos transformar a nossa sociedade numa nova sociedade temos
de ser capazes, por um lado, de compreender quais são as suas características
principais na atualidade, como é que se explica o seu caráter "capitalista de-
pendente", que papel desempenhou o imperialismo na nossa situação atual
de subdesenvolvimento e, por outro lado, saber com que forças sociais conta
a classe operária para lutar contra esta situação.
Além disso devemos saber através de que processo histórico foi possfvel
chegar a este t r i u n f o das forças populares, dado que ele representa apenas o
resultado final de um longo período de luta de classes durante o qual a nossa
terra foi banhada pelo sangue de operários, camponeses e estudantes.
1
Mas para podermos responder a todas estas perguntas suscitadas pela
nossa realidade e para estarmos aptos a resolver outras que surgirão à medida
que este processo se desenvolve, necessitamos de um conhecimento prévio,
um conhecimento que nos sirva de instrumento para analisar a realidade e
para guiar a nossa ação. Este conhecimento é o Materialismo Histórico
que podemos definir como o conjunto dos conhecimentos científicos acerca
da sociedade. Por intermédio do Materialismo Histórico sabemos o que é
que determina a organização e funcionamento da sociedade e porque é
que se produz a mudança de um t i p o de sociedade para outro; isto é, conhe-
cemos as leis fundamentais da sociedade.
É o conhecimento científico de qualquer realidade que permite atuar
sobre ela e transformá-la. Assim, por exemplo, o médico para poder curar
os seus doentes necessita de ter um conhecimento prévio acerca das doenças,
como nascem, como se manifestam e como se tratam, isto é, necessita de
conhecer as leis gerais da medicina. Este conhecimento é o instrumento teó-
rico que ele usa para observar um doente em particular, chegar a um diagnós-
tico e fazer um tratamento que transforme esse doente num homem são. O
mesmo acontece com a realidade social: para podermos transformar uma de-
terminada sociedade temos de fazer uma análise dessa realidade que nos per-
mita atuar sobre ela. O instrumento teórico que usamos neste caso é o co-
nhecimento científico da Sociedade, ou Materialismo Histórico.
1 — Explorados e Exploradores
2 — Exploração Capitalista
3 — Monopólios e Miséria
4 — Luta de Classes
5 — Imperialismo e Dependência
6 — Capitalismo e Socialismo
7 — Socialismo e Comunismo
8
Se bem que cada um destes textos contenha um tema que pode ser com-
preendido sem ser necessária a leitura dos outros, a melhor maneira de estu-
dá-los é seguindo a ordem da série, visto que os primeiros temas vão ajudan-
do a compreender os seguintes. O tema deste primeiro caderno, por exem-
plo, é o estudo dos diferentes aspectos da sociedade, e do modo como eles
se relacionam e estSo organizados. A q u i apenas se diz que esta organiza-
ção se modifica de uma sociedade para outra, sem se entrar no estudo da
maneira como se produz esta transformação. £ mais na frente, no caderno n.
6 — Capitalismo e Socialismo — que se dará amplo desenvolvimento a este
tema, já que para o compreendermos, são necessários outros elementos que
estudaremos nos Cadernos que o antecedem. Em todo o caso, sempre que
num caderno um assunto é apenas mencionado, indicar-se-á, por meio de
notas, em que número da série se pode estudá-lo mais a fundo.
Cada caderno contém, para além do desenvolvimento do tema, um pe-
queno resumo, um questionário para que o leitor possa controlar a sua pró-
pria leitura, e uma bibliografia para aqueles que queiram estudar mais a fun-
do cada um dos temas. Isto permite o estudo e leitura coletiva dos CEP, que
recomendamos como a melhor forma de aproveitar esta publicação, já que
asfim os trabalhadores poderáb ajudar-se mutuamente a compreender o tex-
t o , poderão trocar experiências, enriquecer o tema com exemplos tirados da
sua própria realidade e discutir em conjunto como aplicar estes conheci-
mentos â luta diária.
Pedimos aos nossos leitores, e especialmente aos trabalhadores, que nos
façam chegar as suas opiniões, as suas críticas, as suas perguntas, para irmos
melhorando cada vez mais esta série, de modo que ela cumpra de maneira
cada vez mais efetiva os objetivos que se propôs. Para isso devem dirigir-se a
M. H.
G. U.
NOTA DOS A D A P T A D O R E S
9
Sempre f o i necessário, e agora mais do que nunca, a divulgação de manei-
ra acessível do conjunto dos instrumentos científicos que permitam aos tra-
balhadores realizar a análise e a transformação revolucionária da realidade.
O estudo e o debate do materialismo histórica torna-se cada vez mais uma ta-
refa urgente.
é com este objetivo que iniciamos a publicação dos Cadernos de Educa-
ção Popular. Esta adaptação feita sobre a tradução da publicação chilena
procurou integrar o texto â realidade brasileira, respeitando o pensamento
político dos autores.
O U T U B R O 1979
10
SUMÁRIO
Conteúdo do Caderno
1. O T R A B A L H O 0 0 HOMEM E AS R I Q U E Z A S N A T U R A I S .
2. O PROCESSO DE P R O D U Ç Ã O : F O R Ç A DE T R A B A L H O E MEIOS
DE PRODUÇÃO.
4. AS R E L A Ç Õ E S SOCIAIS DE f»RODUÇAO.
t
11
/i
5 . A REPRODUÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS DE P R O D U Ç Ã O ; O
PAPEL DO ESTADO E DA I D E O L O G I A .
7. MODO DE P R O D U Ç Ã O E F O R M A Ç Ã O SOCIAL.
RESUMO
QUESTIONÁRIO
BIBLIOGRAFIA
12
1. O T R A B A L H O DO HOMEM E AS RIQUEZAS NA-
TURAIS.
14
queza criada pelos trabalhadores vai parar nas mãos dos
capitalistas. Uma pequena minoria da população recebe
a esmagadora maioria do rendimento criado pelos traba-
lhadores, que ficam com as migalhas. Enquanto os traba-
lhadores têm que viajar pendurados nos ônibus, os seus
patrões têm dois ou três carros. Enquanto muitos traba-
lhadores não têm um lugar onde viver dignamente, os seus
patrões têm duas ou três casas em diferentes lugares do
país. Enquanto uma grande parte dos trabalhadores só
têm uma roupa decente, quando a têm, os seus patrões
têm os guarda-roupas cheios de ternos. Enquanto os fi-
lhos dos trabalhadores se alimentam mal e muitas vezes
prejudicam a sua saúde e a sua inteligência com isso, os
filhos dos patrões deixam pratos cheios de comida que
vai para o lixo, porque já estão fartos de comer.
17
2. O PROCESSO DE PRODUÇÃO: FORÇA DE TRA-
BALHO E MEIOS DE PRODUÇÃO.
' 19
Quando a costureira trabalha, o que faz? A Costurei-
ra trabalha um determinado corte de pano para transfor-
má-lo num vestido e para isso utiliza, por um lado, linha,
botões, fecho éclair, etc., e, por outro lado, tesouras, agu-
lha, máquina de costura. Além disso tem necessidade de
alugar uma casa para se instalar, e tem de iluminá-la para
poder trabalhar.
Definiremos cada um destes elementos do processo de
produção da seguinte maneira:
20
transformar diretamente a matéria-prima são as ferramen-
tas de trabalho e as máquinas. No nosso exemplo: as
tesouras, a agulha, a máquina de costurar:
Os instrumentos de produção que atuam de forma in-
direta, mas não menos necessária, são: os locais de tra-
balho, os meios de iluminação etc.
Sem matéria-prima e sem instrumentos de produção,
não se pode produzir nada. Eles são os meios materiais
para realizar qualquer tipo de trabalho. Por isso, chamá-
-los-emos meios de produção.
22
ELEMENTOS DO P R O C E S S O DE PRODUÇÃO
24
CAPITALISTA
TRABALHADOR DIRETO
25
ciais na transformação direta de matéria-prima, a
que chamaremos T R A B A L H A D O R E S DIRETOS;
por outro lado, os que desempenham funções de
coordenação, vigilância e controle, a que chamare-
mos T R A B A L H A D O R E S INDIRETOS (1).
26
3. A PROPRIEDADE PRIVADA DOS MEIOS DE PRO-
DUÇÃO, ORIGEM DE TODA A EXPLORAÇÃO.
28
mas sim nas mãos dos industriais. Se os operários recla-
mam o patrão diz-lhes: " D e que é que se queixam?
Gontratei-os para trabalharem oito horas por dia a Cr$
12,00 por hora; não é o que estou pagando? Eu sou o
dono desta fábrica! Se não gostam das condições de tra-
balho aqui vão procurar trabalho noutro lugar. Mas como
os operários sabem que acontecerá o mesmo em qualquer
lugar, terminam se sujeitando a trabalhar e enriquecer
o dono dos meios de produção, porque têm consciência
da baixa oferta de emprego, do baixo salário, das filas de
espera nas portas das fábricas.
Partindo dos exemplos vistos podemos dizer que no
processo de produção se estabelecem determinadas rela-
ções entre os proprietários dos meios de produção e os
produtores diretos ou trabalhadores. Os donos dos meios
de produção exploram os que não possuem estes meios.
Ora bem, isto não acontece apenas no sistema capita-
lista-mas também nos sistemas de produção que lhes são
anteriores. No sistema escravista, por exemplo, o amo era
29
*
30
Em resumo, em todos os sistemas de produção que
analisamos, em que os meios de produção estão nas mãos
de um pequeno número de pessoas, os donos destes meios
apropriam-se do trabalho alheio, exploram os trabalhado-
res, isto é, estabelecerrí-se relações de exploração entre es-
tes grupos.
No entanto a exploração não existiu sempre. Nos po-
vos primitivos, onde se produz apenas para sobreviver,
não existe propriedade privada dos meios de produção;
estes pertencem a toda a comunidade e os produtos obti-
dos através do trabalho dos seus membros são repartidos
entre todos de forma igualitária.
Nestes povos não existem relações de exploração mas
sim relações de colaboração recíproca entre todos os
membros da sociedade.
A exploração não é, portanto, algo eterno, tem uma
or.igem histórica bem determinada. Ela aparece quando,
numa sociedade, um grupo de indivíduos consegue con-
centrar nas suas mãos os meios de produção fundamentais
d ) , despojando destes meios a maior parte da população.
* Ela desaparecerá quando desaparecer a propriedade pri-
vada dos meios de produção e estes passarem a ser pro-
priedade coletiva de todo o povo (2).
(1) Para que isto aconteça é necessário que essa sociedade tenha alcan-
çado um grau de desenvolvimento econômico que permita pelo menos, obtçr
um excedente, ou seja, que permita obter mais produtos do que os necessá-
rios para o consumo imediato; este excedente é apropriado por esse grupo.
(2) As condições materiais desta passagem serão analisadas no Caderno
n. 6, "Capitalismo é Socialismo".
dução se estabelecem determinadas relações entre os pro-
prietários dos meios de produção e os trabalhadores ou
produtores diretos.
a) A relação explorador/explorado.
33
e quando nenhum setor da sociedade explora outro. Por
exemplo, as relações de colaboração recíproca que exis-
tem entre os membros das comunidades primitivas ou as
relações de colaboração que caracterizam a sociedade co-
munista.
É importante esclarecer que as relações que se estabe-
lecem entre os homens no processo de produção não são
apenas relações sociais, relações humanas. São relações
entre agentes da produção, isto é, entre homens que reali-
zam tarefas bem determinadas na produção de bens mate-
riais. Já vimos de que modo estas relações dependem da
forma como estes agentes estão relacionados com
meios de produção: proprietários/não proprietários.
A relação que se estabelece entre os homens resulta
da sua relação de propriedade com determinadas coisas:
os meios de produção.
Enquanto os meios de produção forem possuídos por
um pequeno número de pessoas as relações entre os ho-
mens que os possuem e os que não possuem não poderão
deixar de ser relações de exploração, de opressão, isto é,
relações antagônicas, relações em que os interesses de um
grupo se opõem totalmente aos interesses do outro grupo.
Os interesses dos exploradores consistem em prosse-
guir a exploração dos trabalhadores para poderem conti-
nuar a gozar da sua situação de privilegiados. Os interes-
ses dos trabalhadores dirigem-se no sentido da destruição
dessa situação de exploração.
Este é um ponto muito importante pois deita por ter-
ra todas as ilusões suscitadas por alguns acerca da "cola-
boração entre os operários e patrões". As relações entre
operários e patrões não poderão ser fraternais, amistosas,
enquanto as relações destes com os meios de produção
não se modificarem, isto é, enquanto não se termine com
34
a propriedade privada capitalista dos meios de produção;
porém nessa altura o patrão como tal também desaparece-
rá.
As relações sociais çle produção são, portanto, rela-
ções que se estabelecem independentemente da vontade ou
do desejo dos homens. O capitalista explora e explorará
o operário mesmo que não o queira fazer, mesmo que
pessoalmente lute contra essa exploração, pois as leis do
sistema capitalista são inflexíveis. Se o capitalista paga
salários muito elevados e, apesar disso, mantém os mes-
mos preços para vender, estará diminuindo os seus lucros.
Porém, uma parte dos lucros deve ser reinvestida na em-
presa para poder aperfeiçoar a sua tecnologia e desse mo-
do poder competir com os seus concorrentes no mercado.
O que acontece então é que este capitalista vai ficando
para trás até que chega o momento em que já não pode
competir com os preços mais baixos dos outros capitalis-
tas que melhoraram as suas indústrias e, portanto, vai à
falência.
Portanto no sistema capitalista apenas se apresenta
uma alternativa aos trabalhadores: "ou a sua exploração
ou a superação dos empresários".
Ora bem, quando o marxismo afirma que é necessá-
rio destruir as relações capitalistas de produção, que é
necessário que "o empresário morra" não está afirmando
que os capitalistas devem ser destruídos fisicamente. A
afirmação corresponde a algo muito diferente; o que de-
ve desaparecer não é a pessoa do capitalista mas sim a
exploração, isto é, o papel de explorador que este desem-
penha. Se o capitalista aceita ser expropriado e oferece
os seus serviços ao novo sistema econômico que se preten-
de implantar, desaparecerá como capitalista, como explo-
rador, mas não desaparecerá como homem pelo contrário,
i
35
pode agora cumprir uma função de verdadeiro serviço à
sociedade.
36
Pelo fato de serem os donos dos meios de produção,
os capitalistas têm na sua mão o poder econômico e, co-
mo são senhores deste poder, controlam também outros
aspectos da sociedade.
O Estado, por exemplo, não é um aparelho neutro, ao
serviço de toda a sociedade, como os capitalistas nos pre-
tendem fazer crer. O Estado, no fundamental, sempre
tem servido os interesses daqueles que detêm o poder eco-
nômico. No nosso país os governos capitalistas usam com
frequência o exército, a polícia militar, a polícia civil, pa-
ra reprimir os trabalhadores quand^ia&s suas lutas põem
< em perigooseu sistema de domínio: são testemunhas mu-
das destes fatos os inúmeros massacres em que a classe
operária derramou o seu sangue. Por outro lado, todos os
trabalhadores sabem que nunca existiu uma justiça igual
para todos os brasileiros, que existe a lei do pobre e a lei
do rico. Se um grande latifundiário proprietário rouba a
terra a um pequeno camponês passam-se anos sem que a
justiça se mexa para a devolver. Se os camponeses recupe-
ram a terra que lhes havia sido roubada a polícia intervém
para reporá ordem, isto é, para repor uma situação em que
os interesses dos grandes proprietários da terra não fiquem
prejudicados, quando menos, indenizam regiamente o
latifundiá rio.
Os donos dos meios de produção, tendo nas suas
mãos o poder econômico, têm nas suas mãos o Estado
com todo o seu aparelho: exército, polícia, tribunais,
funcionários públicos, etc. Tem nas suas mãos portanto
não só o poder econômico como também o poder polí-
tico.
Além de controlarem o Estado e as leis, os donos dos
meios de produção mais importantes controlam também
as emissoras de rádio, os jornais, a televisão, as editoras de
38
ifP :
*
40
gualdade na repartição das riquezas num determinado
país tivemos que analisar o modo como nesse país se pro-
duziam os bens materiais. Em todas as socied.ides a pio-
dução dos bens materiais efetua se debaixo de determina
das relações de produção: escravistas, feudais, capitalis-
tas, etc.
Além disso vimos que'estas relações não mudam to-
dos os dias, antes pelo contrário, tendem a maniei s,j e ;;
reproduzir se. Nesta reprodução que se dá ao nível da
economia, intervêm outros elementos sociais, os leis, a
justiça, as idéias, etc., que pertencem a um nível diferente
da sociedade.
O conjunto destes elementos econômicos, jurídicos,
políticos e ideológicos constitui a sociedade. Todas as
sociedades são, portanto, organizações complexas em que
existem dois níveis: um nível.econômico e um nível jurí-
dico-, político-ideológico. Ambos se conjugam para man
ter o funcionamento da sociedade no seu conjunto. l\lo
entanto estes níveis não têm a mesma importância para o
funcionamento da sociedade. Vimos que o nível econô-
mico — a forma como os homens produzem os bens mate
riais e as relações que se estabelecem entre eles no proces-
so de produção — é o nível fundamental, aquele que de-
termina todo o funcionamento da sociedade; são as rela-
ções que se estabelecem entre os proprietários dos meios
de produção e os trabalhadores que nos revelam o segredo
mais escondido, a base mais oculta de toda a sociedade e
são elas que nos explicam porque é que surgem deter-
minadas formas de Estado e determinados tipos de idéias
nessa sociedade.
Uma das grandes contribuições de Marx e de Engels
foi precisamente o de terem descoberto que a sociedade
se organiza de acordo com a forma como os homens pro-
' 41
/
Em resumo:
42
dução", distinguimos dois níveis fundamentais: o nível
econômico,e o nível jurídico-político-ideológico.
Entre estes dois níveis, é o nível econômico que de-
sempenha o papel fundamental dentro da sociedade, é o
nível econômico a base sobre a qual se levanta todo o edi-
fício social. '
Por isso chamaremos "infra-estrutura" o nível econô-
mico. O outro nível, formado por elementos jurídico-po-
líticos (Estado, direito, etc.) e ideológicos (idéias e costu-
mes sociais), chamaremos "superestrutura".
Por outro lado, como vimos, a infra-estrutura deter-
mina a superestrutura. Isto significa que o Estado, as leis,
as idéias que se difundem numa sociedade não são ele-
mentos neutros, ao serviço de todos, mas sim elementos
que estão ao serviço da infra-estrutura econômica, permi-
tindo a esta a sua reprodução contínua.
43
produção que existiam no campo entre latifundiários e
camponeses estavam muito mais próximas do feudalismo
que do capitalismo, eram relações semi-feudais; o campo-
nês não era livre, não vendia a sua força de trabalho por
um salário, mas devia sim trabalhar a terra do patrão com
as suas próprias ferramentas, para receber em troca um
pedaço de terra onde viver e do qual pudesse alimentar
sua família.
Por outro lado, além dos capitalistas e dos operários,
dos latifundiários e dos camponeses, existiam inúmeras
pessoas que se dedicavam a fazer objetos em suas próprias
casas ou a cultivar a sua própria terra, levando seguida-
mente os seus produtos ao mercado; estes artesãos e pe-
quenos agricultores trabalhavam como pequenos proluto-
res independentes ligados ao mercado.
Constatamos assim que nessa época podíamos afirmar
que no Brasil existiam vários tipos diferentes de relações
de produção: capitalistas, semi-feudais, pequena produ-
ção independente, etc. »
O que acontecia no Brasil há anos atrás ocorre ainda
hoje se bem que com algumas diferenças pois a maior par-
te das relações semi-feudais vão desaparecendo gradual-
mente para se transformarem em relações capitalistas.
Os camponeses trabalham hoje como os operários in-
dustriais, com ferramentas pertencentes ao patrão e rece-
bendo a maior parte do pagamento do seu trabalho sob a
forma de salário, se bem que ainda se conservem muitas
influências de caráter político ideológico das relações de
produção anteriores.
Noutros países existem relações semi-servis no campo
e em alguns existem mesmo grupos que vivem em comu-
nidades onde as relações de colaboração recíproca são as
mais importantes.
44
Então porque é que ao falarmos de sociedade
nos referimos sempre a sociedades em que existe
um único tipo de relações de produção?
46
que necessitamos dos conceitos científicos de sociedade;
eles são os instrumentos que usamos para conhecer e
transformara realidade social.
Em todas as sociedades» reais encontramos simultanea-
mente diferentes relações de produção, dominando uma
delas as restantes.
Por isso o mais importante é assinalar por meio do es-
tudo dessa sociedade em particular, qual é a relação de
produção dominante e de que maneira domina as restan-
tes.
São estas relações dominantes que permitem caracte-
rizar uma sociedade determinada.
Por exemplo, quando falamos do Brasil dizemos que
é um país capitalista. Fazemos igual afirmação relativa-
mente a todos os países da Europa. Isto não significa que
nestes países apenas existam relações de produção capita-
listas.' Também existem, como vimos, outras relações de
produção que desempenham um papel secundário e que
se vão desagregando à medida que se desenvolvem as rela-
ções de produção capitalistas.
Estas relações de produção diferentes dão origem a
grupos sociais diferentes. Estes grupos sociais que se dife-
renciam entre si pelo lugar que ocupam na produção dos
bens materiais, chamamos de classes sociais (1).
Portanto, nesta sociedade concreta, a infra-estrutura
ou nível econômico não é uma infra-estrutura simples,
formada por um só tipo de relações de produção, mas
uma infra-estrutura complexa em que há diferentes rela-
ções de produção. Isto implica que a superestrutura ou
nível jurídico-político e ideológico, seja também comple-
47
xa. Nela, juntamente com elementos dominantes que es-
tão determinados pelas relações de produção dominan-
tes, existem elementos secundários, determinados pelas
outras relações de produção. O poder político, por exem-
plo, não resulta sempre do domínio puro de uma única
classe mas pode resultar do domínio conjunto de duas ou
mais classes contra os setores explorados.
Quando estudamos ou falamos de uma sociedade real,
de um determinado país, num momento determinado da
sua história e em que existem diferentes relações de pro-
dução, utilizamos o termo "formação social".
§
Resumindo, analisamos qual a diferença entre o con-
ceito de sociedade ou modo de produção e uma sociedade
historicamente determinada ou formação sociá?.
Estes conceitos permitem-nos compreender que para
estudar uma formação social devemos dirigir a nossa aten-
ção em primeiro lugar para o estudo do modo como se
produzem nessa sociedade os bens materiais, quais são as
relações de produção que ocorrem, qual destas relações é
a dominante, que efeitos produzem estas relações nos ní-
veis político, ideológico, etc.
Para realizar este estudo devemos observar a realidade
concreta, procurar dados concretos, estatísticos ou de ou-
t r o tipo, e estudá-los usando os conceitos que vimos. Não
devemos nunca confundir estes conceitos com a realidade
que estamos estudando, isto é, não devemos nunca aplicar
de forma cega e mecânica esquemas puros.
Não devemos, por exemplo, confundir a sociedade
brasileira com c conceito puro de modo de produção ca-
48
pitalistn, já vimos que no Brasil existem outras relações
do produção além das relações de produção capitalistas.
Além disso, se estudarmos estas relações de produção
observando de forma concreta a nossa realidade, descobri-
remos que elas estão deformadas e submetidas às relações
capitalistas dos países mais avançados d ).
Para concluir devemos afirmar que o conceito de mo-
do de produção nos indica que em todas as formações so-
ciais os elementos da superestrutura ajudam a manter e a
reproduzir as relações de produção, mas em cada caso es-
te fato tem características particulares.
Por isso, a luta dos trabalhadores contra a exploração
econômica exercida pelas classes dominantes requer, para
ter êxito, que se conduza ao mesmo tempó uma luta para
destruir também os aparelhos por meio dos quais se exer-
ce o poder político e ideológico das classes exploradoras.
Exije, além disso, um conhecimento profundo da maneira
como se exerce este domínio nesse país.
Esta luta dos trabalhadores contra a exploração vai
sendo facilitada pois simultaneamente com a tendência
para a reprodução das relações de produção surgem, no
seio da própria sociedade capitalista, as condições que
conduzefn à sua destruição; tornam-se mais agudas as
suas contradições internas e crescem e fortalecem-se as
classes sociais que farão desaparecer este sistema de ex-
ploração.
Os trabalhadores devem ter bem claro que nesta luta
os exploradores nunca renunciarão voluntariamente aos
seus privilégios. Antes pelo contrário, tratarão de conser-
vá-los por todos os meios mesmo recorrendo às piores ar-
.49
jornal da
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... i
TODOS PARADOS POLICIAMENTO INÚTIL
Um único camlnhêo entrou na Refinaria de Paullnla. O» outros Acaram parados A PM foi com a tropa de choque, mas oáo teve trabalho
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que lembrasse o poder
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•i saquear os supermercados / '. ,r f ™ ™
— "w» ^/ram prat/camente sem /
9"«' « I Agiram praticamente sem i ™
V' .o 'V y f m distúrbios
nas ruas dura,»- / sTrem
náopoupar,
serem
/ policia,
f™
mm o l e st t ta ad do so s
toda ela concentrada concentrada /
pp e l a // a d- i r a1 m a3 pP o0 " l ™.
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* mulheres e crumças0» / torro ramerr«./ e preoru I " ^^
can.1.1 ,o1 "grafos foram caçados j /lada
em guarnecer o Palácio /
—. «uvKi» ' ^f <xteime"' < - Petos / do» /«»rs
sol d a / Km 5'
conhecirin* ' / '1 ,ríl s loram / f* dirtürhws prosseguiram
espan• '
.ri»*' Af'" , „ . ' '' 1>" SÍ" « I * o. K i taÜ ' " ' " r i m • • „ " '
mas: o assassinato político, a guerra civil, a invasão impe-
rialista, se forem capazes de o fazer.
51
RESUMO
53
-se e na sua reprodução intervêm os elementos jurídi-
co-político e ideológicos que são controlados por quem
detem o poder econômico.
Esta análise levou-nos a definir sociedade duma
forma científica mediante o conceito do modo de pro-
dução. Este conceito resume duma forma clara o fato
das relações de produção serem o centro organizador
de todos os aspectos da sociedade. O m o d o de produ-
ção é composto por uma infra e por uma superestrutura,
sendo a infra-estrutura que determina em última ins-
tância a superestrutura. Finalmente distinguimos o con-
ceito de modo de produção do conceito de formação
social, que se refere a uma sociedade historicamente
determinada. Acabamos insistindo em qin? a luta contra
a exploração econômica, para ser bem sucedida, deve
destruir os aparelhos através dos quais se exerce o poder
político e ideológico das classes exploradoras. Con-
cluímos que nesta luta as classes dominantes nunca re-
nunciarão de forma voluntária aos seus privilégios e por
isso os trabalhadores devem preparar-se para uma longa
batalha utilizando todas as formas de luta que sejam
necessárias para destruir definitivamente a exploração.
Do que dissemos anteriormente vemos que este
caderno se limita a fornecer os conceitos mais impor-
tantes para o estudo da sociedade, sem entrar no entan-
to no estudo das contradições que explicam a razão
da mudança da sociedade de um tipo para o u t r o . Este
tema será desenvolvido no caderno n. 6 "Capitalismo e
Socialismo".
54
QUESTIONÁRIO
56
BIBLIOGRAFIA
I. TEXTOS PEDAGÓGICOS
57
"5. Engels: Do Socialismo U t ó p i c o ao Socialismo C i e n t í f i c o ; Cole-
ção Bases n. 13 Global E d i t o r a .
58
COLEÇÃO BASES
John Reed
DEZ DIAS QUE ABALARAM O MUNDO, (4» edição)
Maiakovsky
POÉTICA - COMO FAZER VERSOS, (2» edição)
Karl Marx
A ORIGEM DO CAPITAL: A ACUMULAÇÃO PRIMITIVA
(4.a edição)
Marta Harnecker
O CAPITAL: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Marx/Turgot
TEORIAS DAS MAIS-VALIA: OS FISIOCRATAS
Alexandra Kollontai
A NOVA MULHER E A MORAL SEXUAL
Leon Trotsky
COMO FIZEMOS A REVOLUÇÃO, (2? edição)
Wilhelm Reich
PSICOPATOLOGIA E SOCIOLOGIA DA VIDA SEXUAL
Lenin
AS TRÊS FONTES E AS TRÊS PARTES CONSTITUTIVAS DO
MARXISMO
Stalin
MATERIALISMO DIALÉTICO E MATERIALISMO HISTÓRICO
Lenin
COMO ILUDIR O POVO
Marx
DIFERENÇA ENTRE AS FILOSOFIAS DA NATUREZA EM
DEMÓCRITO E EPICURO
Engels •
DO SOCIALISMO UTÓPICO AO SOCIALISMO CIENTIFICO
Trotsky
AS LIÇÕES DE OUTUBRO
Kropotkin/ Bakunin/Malatesta/Engels
O ANARQUISMO E A DEMOCRACIA BURGUESA
Marx/Engels
SOBRE LITERATURA E ARTE
Althusser/Badiou
MATERIALISMO HISTÓRICO E MATERIALISMO DIALÉTICO
Amin/Bettelheim/Emmanuel/Palloix
IMPERIALISMO E COMÉRCIO INTERNACIONAL
Eric Hobsbawm
AS ORIGENS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Marx/Engels/Lenin
SOBRE A MULHER
Samora Machel/A.Kollontai/Vito Kapo e outros
A LIBERTAÇÃO DA MULHER
A * revoluções t o cia is n í o são feita* pelos i n d i v í d u o s , pato* "granda»
.personagens", p o r mal* brilhante* ou h e r ó i c o * q u a *e}am. A » revohl-
ç£et i o c i a i * tão feita* pela* massas populares. Sem a p a r t i c i p e ç f o
das grande* massa* n f o h4 revolução. £ por i**o que uma da* tarefa*
mais urgentes ne*te m o m e n t o é que os trabalhadora* *e e d u q u e m ,
elevem o seu n í v e l d a consciência, te capacitem para retponder è*
suai reiponsabilidadet.
1 — E x p l o r a d o * e Exploradora*
2 — E x p l o r a ç ã o Capitalista
3 — M o n o p ó l i o s e Miséria
4 — L u t a de Classes
5 — I m p e r i a l i s m o e Dependência
6 — Capitalismo a Socialismo
7 —Socialismo e Comunismo
tlóbal
GB
global editora
A s r e v o l u ç õ e s sociais não são f e i t a s pelos i n d i v í d u o s , pelos " g r a n d e s
. p e r s o n a g e n s " , p o r mais b r i l h a n t e s o u h e r ó i c o s q u e sejam. A s r e v o l u -
ções sociais são feitas pelas massas p o p u l a r e s . Sem a p a r t i c i p a ç ã o
das grandes massas não há r e v o l u ç ã o . E p o r isso q u e u m a das tarefas
mais u r g e n t e s neste m o m e n t o é q u e os t r a b a l h a d o r e s se e d u q u e m ,
elevem o seu n í v e l d e c o n s c i ê n c i a , se c a p a c i t e m para r e s p o n d e r às
suas r e s p o n s a b i l i d a d e s .
1 — Explorados e Exploradores
2 — Exploração Capitalista
3 — M o n o p ó l i o s e Miséria
4 — L u t a de Classes
5— Imperialismo e Dependência
6 — Capitalismo e Socialismo
7 — Socialismo e Comunismo
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