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Schwart:
EDlSÜc
Edifora <(• Univor*[d«ri* do SagrmJo Coração
Coordenação
Assessoria
Editorial
I r m ã J a c i n t a Tu r o l o G a r c i a
Administrativa
I r m ã Teresa A n a Solialii
Escravos,
roceiros , e n
Assessoria Comercial
J r m ã Á u r e a d e Almcitla N a s c i t n c n i o rebeldes
Coordenação da Coleção História
L u i z E u g ê n i o Véscio
Tradução de
Jussara Simões
V
listravas, roceiros t reheUtes
p a r a d o s para r e c o n h e c e r a p e n e t r a ç ã o e a p e r n i c i o s i d a d e d o capitulo 5
r e g i m e escravagista e s u a s c o n s e q ü ê n c i a s sobre t o d o s os
atingidos p o r ele. A e s c r a v i d ã o foi u m sistema, e n ã o u m REPENSANDO PALMARES:
S RESISTÊNCIA ESCRAVA NA
simples c o n j u n t o d e r e l a ç õ e s e c o n ô m i c a s . N ã o é d e sur-
p r e e n d e r a descoberta d e q u e obrigava a p a d r õ e s d e p e n s a -
m e n t o s e a ç ã o c o m r e l a ç ã o aos escravos da m e s m a m a n e i r a COLÔNIA
q u e fez c o m a q u e l e s c u j a s origens n ã o traziam tal estigma.
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/:"jcr<m'i, iviWm f rvhehh's KL'jii'iis.imiu raiitwm-s:
Kcsislínría escrava im Colônia
258 221
Etcravos. ron.ros e ivIvMes Rq>cnsaiuio mimares:
Resisiciiíia escrava tia Colônia
222
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Escravas, roceiros e rebelas Kepriittlidti Palmares:
Rcsisiència escrava im Colônia
224 258
R<.'|)t.'ns.imtu Ritmares:
Rcsislêikio tscrava na CulôiitJi
Tabela 12. Lista parcial cios mocambos baianos
226
227
Escravos, rotxirot <t nktlties Ke)ie>isam1u Palmares:
Resistência escrava iia Colimia
228 229
iííffrtvoí, roceiros e reMtfcs Rcpt-iusaudo Palmares:
Kesisiíiicia escrava lia Colônia
230 231
Escravos, nw;7ví t rebeldes fte|iciisaiuii> Palmares;
Resistindo escrava na CotQiila
aconteceria sem os índios? files se revoltariam n o dia seguin- tribos indígenas não-domesticãdas havia o objetivo c o m u m
te e é m u i t o arriscado resistir a inimigos internos/' 1 " da oposição a o regime escravista imposto pelos e u r o p e u s .
Era f r e q ü e n t e o e m p r e g o b e m - s u c e d i d o de soldados, Também n o cativeiro os índios e os africanos m a n t i n h a m
índios clandestinos, c o m a n d a d o s por oficiais p o r t u g u e s e s ou contatos f r e q ü e n t e s e íntimos. Os índios c o n t i n u a v a m a p e r -
capitães, contra m o c a m b o s , por todo o Brasil, n a época colo- fazer u m a g r a n d e , embora decrescente, parcela da força d e
nial. A destruição de p r a t i c a m e n t e todos os m o c a m b o s , des-
trabalho d o s e n g e n h o s n o p e r í o d o d e 1580 e 1650, e n ã o
de Palmares aos esconderijos m u i t o m e n o r e s da Bahia, d o
e r a m i n c u m u n s os casamentos e n t r e negros e índios. A l g u n s
Rio de J a n e i r o e de Goiás, dependia em g r a n d e medida de
observadores, c o m o o padre jesuíta Belchior Cordeiro, a c h a -
tropas e auxiliares indígenas.
vam q u e os escravos africanos se t o r n a v a m mais tratáveis
P a r a d o x a l m e n t e , . h a t a m b é m muitas m e n ç õ e s h incor- q u a n d o postos e m c o n t a t o c o m índios cristãos, m a s fosse
poração d e escravos africanos o afro-brasíleiros a aldeias in- qual fosse a n o r m a , os contatos aYro-indfgenas.de fato a c o n -
dígenas e á índios residentes ein c o m u n i d a d e s d e fugitivos. teciam. D u r a n t e todo o p e r í o d o colonial os índios f o r a m ,
As autoridades portuguesas t e m i a m a n a t u r e z a destruidora e
t a n t o os m e l h o r e s aliados em potencial, q u a n t o os m a i s efi-
perigosa de tais contatos. Em 1706, a Coroa o r d e n o u q u e se
cazes o p o n e n t e s dos escravos foragidos.'"
impedisse a p e n e t r a ç ã o de negros, mestiços e escravos n o in-
A principal tática e m p r è g à d a contra os m o c a m b o s
terior, o n d e poderiam j u n t a r - s e a g r u p o s i n d í g e n a s hostis.
consistia s i m p l e s m e n t e e m destruí-los e m a t a r òu reescravi-
Apesar dessas medidas, era c o m u m a cooperação e n t r e afri-
zar seus h a b i t a n t e s , é fácil explicar á oposição dos p o r t u g u e -
canos e índios contra e u r o p e u s , t a n t o n o Brasil p o r t u g u ê s
ses às c o m u n i d a d e s d e fugitivos. Os a t a q u e s e os assaltos dos
q u a n t o n o h o l a n d ê s . Na Bahia, u m f a m o s o e x e m p l o é a sin-
crctica e d u r a d o u r a religião messiânica d e n o m i n a d a Santi- m o c a m b e i r o s a m e a ç a v a m as cidades, o b s t r u í a m a p r o d u ç ã o ,
dade, q u e surgiu nas áreas a o sul da capitania, e n t r e g r u p o s i n t e r r o m p i a m vias d e c o m u n i c a ç ã o è viagens." A d e m a i s ,
indígenas, n o final d o século XVi. Por volta d e 1613, relata- t a n t o p o r m e i o dos a t a q u e s d u da a t r a ç ã o q u e exerciam, os
va-se q u e escravos foragidos h a v i a m se u n i d o a o m o v i m e n - m o c a m b o s a r r a s t a v a m o u t r o s escravos pára fora do cativei-
to, participando em suas incursões e m e s m o f u r t a n d o escra- ro. M u i t o s observadores perceberam, os efeitos dos m o c a m -
vos de Salvador. Até 1627, apesar das expedições punitivas, bos sobre às senzalas e uni relato d e 1692 c o m e n t a q u e " n e -
os fiéis da Santidade ainda realizavam a t a q u e s . "
Isso nos c o n d u z a o até e n t ã o ignorado p r o b l e m a dos
contatos e das relações sociais aíro-indígenas, Apesar das 22. Serafim Leite, "Informação dalgiimaS cousas do Brasil
tentativas dos portugueses no sentido d e t r a n s f o r m a r os ín- por Belchior Cordeiro", Anais da Academia Portuguesa da His-
dios em aliados contra possíveis resistências escravas, alguns tór/d 2â ser. 15 (1965), p.. 175-202.: '
fatores contribuíram pára a a p r o x i m a ç ã o de escravos africa- 23. Numa dissertação provocante, Tho/nas Flory afirma que
nos e índios. Tanto para os escravos foragidos q u a n t o para as 6 desejo pelas terras desbravadas e trabalhadas pelos mo-
caihbeiros, também era iím importante/ incentivo aos ata-
ques da sociedade tojònial. ãuas j>ròvas foram extraídas
principalmente <lo càsó de. ÍPâlniares; Ademais, o fato de
20. "Information q. hize por mandado de VMg. sobre unos muitos mocambos ..estarem em áreas inacessíveis e, em ge-
capítulos q. Duarte Gomez de Silveira Vezino de Parabiba ral, não se localizarem etti téríás que se destinavam às prin-
embio a la Mesa de Consciência", AGS, sec. prov. lib. 1583, cipais culturas de exjíortação pode contradizer tal hipótese,
fs.382-9. embora o desejo dè obter terras com ihèjliórias seja certa-
mente plausível erri alguns casos. Ver Thomas Flory, "Fugi-
21. Discorri sobre o movimento Santidade em alguns deta-
tive Slaves and Free Society: The Case of Ürazil, Journal of
lhes em Sugar Plantations, p. 47-9.
Negro History, v. 54, n. 2, p. i 16*30, spring 1979.
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233
Eséravos, nwires t* reMitrs Kt?|MMis.iiult> Palmares:
Rcsistiiida escrow na Colônia
235 231
Ri-peusaiiitu ralmarcs:
Escravos, roceiros e rc/icldcs
Resistência escrava na Colónia
Cosia Cardoso indicasse q u e seu principal objetivo e r a m os n ã o era. o ú n i c o a fazê-lo. Os negros dã cidade d e S a l v a d o r
índios hostis, havia l a m b e m considerável interesse e m des- auxiliavam o quilombo, a j u d a n d o os fugitivos a e n t r a r na ci-
truir "vários quilombos de negros nas cercanias da cidade".' 1 " d a d e à n o i t e para c o m p r a r pólvora e c h u m b o . Tal c o n t a t o era
Não e possível d e t e r m i n a r n ú m e r o e localização, m a s além i n q u i e t a n t e para os proprietários de. escravos e as a u t o r i d a -
de ftapoã, t a m b é m havia, m o c a m b o s e m Cairu a Ipilanga, des da Coroa, q u e temiam b a u m e n t o das fugas ou u m a re-
O Buraco d e Tatu tinha vinte a n o s de existência. À se- belião generalizada. Assim, c o m o e m ' ò u t r o s exemplos, os
melhança da maior parte dos m o c a m b o s baianos, sua e c o n o - brancos t a m b é m cooperavam c o m o quilombo, nesse caso
mia era essencialmente parasitária, a m p a r a d a e m furto, ex- para evitar d a n o s à vida òu propriedade..
torsão e assaltos esporádicos. As principais vítimas, contudo, Ta} cooperação, e m b o r a forçada, indica q u e os fugiti-
n ã o eram os brancos s e n h o r e s de e n g e n h o , m a s os negros vos d o B u r a c o de Tatu n ã o t e n c i o n a v a m travar guerra total
q u e " v i n h a m todos os dias à cidade (Salvador) para v e n d e r d e libertação contra oi s e g m e n t o s da p o p u l a ç ã o q u e e r a m
os alimentos q u e p l a n t a m e m seus terrenos"." 1 As m u l h e r e s proprietários d e escravos. Nà v e r d a d e , òs quilombos p o d e -
mais atraentes t a m b é m e r a m levadas para o m o c a m b o . A es- riam ser p o n t o s d e c o n c e n t r a ç ã o das rebeliões de escravos
cassez crônica de m u l h e r e s e n t r e os escravos brasileiros era mais generalizadas, c o m o a c o n t e c e u n a Bahia n o início d o
reproduzida e exacerbada n o s m o c a m b o s . Os fugitivos pre- século XIX; c o n t u d o , e m geráí, os objetivos dás c o m u n i d a d e s
feriam levar m u l h e r e s negras o u mulatas e há alguns relatos d e fugitivos p a r e c e m ter sido os mais imediatos e práticos re-
de raptos de m u l h e r e s européias. Tal acusação n ã o foi apre- lativos à sobrevivência fora d o controle da sociedade branca.
sentada contra os habitantes d o Buraco d e T a t u . " A resistência escrava, ein todas 'as; süás formas, p o d e ter sido
Apesar dos atos dos fugitivos, havia libertos e escravos u m a a m e a ç a a o escravismo, p o r é m , a p e s a r das c o n s e q ü ê n -
que, por necessidade ou solidariedade, c o o p e r a v a m com o cias do exislência d e q u i l o m b o s pára a "classe" escrava, os
Buraco de Tatu. J o ã o Baptista, u m agricultor m u l a t o , traba- agricultores e as autoridades coloniais percebiam divisões
lhava com os fugitivos e lhes fornecia l e n h a , " Evidentemente, e n t r e os escravos, suficientes pára arriscàr-sé a a r m a r os es-
cravos dos e n g e n h o s , a fim de c o m b a t e r òs fugitivos, c o m o
a f i r m o u é m 1807 o Conde do P o n t e , "
29. AHU, Bahia pap. avui. n. 6451. O b u r a c o de Tatu foi d e s t r u í d o e m 2 de setembro de
3f), lbid. n. 6449. Há uma cópia do documento em IHGU, 1763 e, c o m o auxfiío das descrições militares da c a m p a n h a
1,119 (Correspondência do governador da Bailia 1751-82). e d e u m a planta d e s e n h a d a pela;tropa d e a t a q u e para ilus-
Também está impresso em Inventário dos documentos relativos trar os relatórios, t o r n a m - s e possíveis diversas deduções so-
ao Brasil, ed. Eduardo Castro de Almeida, 8 v. (Rio de Janei- bre a vida interna dessa c o m u n i d a d e . Ò q u i l o m b o era u m
ro, 1914), 2 (Bahia 1763-86), p. 44-45.
p o v p â d o b e m organizado; disposto e m p l a n ò linear de seis fi-
3 1 . 0 resgate de três irmãos, duas moças e um rapaz paulis-
tas, de um quilombo em Minas Gerais é objeto de um rela- leiras d e casas, divididas jior unia g r a n d e rúa central (ver fi-
tório de 1737, no qual o autor rescreveu: "foy hum lastimo- gura 4 ) . Havia 32 unidades residenciais retangulares (B) e,
so acto ver as lágrimas .e lamentações com q. (sua mãe) as conio havia a p r o x i m a d a m e n t e <S5 a d u l t o s n o quilombo, po-
recebeo misturando ao mesmo tempo a alegria com o pe- d e m o s s u p o r q u e essas u n i d a d e s r e p r e s e n t a v a m casas, e n ã o
zar". Ver ANTT, Ms. do Brasil II, I53-I54v. (9 ja». 1737); cortiços. A estreita correlação d e dois a d u l t o s por casa suge-
ms. do Brasil 4, (8 mar. 1737): O temor aos escravos quan- re Um p a d r ã o de monogamia, riiás os indícios h ã o são claros.
to ao aspecto sexiial parece ter papel relativamente peque-
no nas campanhas contra os quilombos, embora haja, às ve-
zes, vestígios desse sentimento.
32. "Certidão da sentença condemnatoria dos negros do 33: Conde do Ponte áo Visconde de Anadia (27 abr. 1807),
quilombo Buraco de Tatu (12 jan 1764)*. AHU, Bahia pap. APB. Cartas do Governo 177,,
avul. n. 6456.
236
Reprnsaiiilt) Palmares:
Estritws, roceiros t rebíhhrs Ht-sisU'iirla t s n a v a na Cnlôiiia
238
Kc|ii'ii!n)iuli> Patinares:
£s<ríHví, roivirvs <•' aiwhUs Rt-iisiíiicia tíscravo .ns'CtijAnta
241 231
Rrpi'iuantlo Palmares:
Estravút. realm < r/Mtks Resistência escrava na Colônia
242
RepensaiHlo Palmarei:
Esttaws. roceiros e rebeldes Resistência escrava na Colônia
teira em geral quanto resultado da estrutura incomum de 48. Acerca da çàíiipàníiá de ÁSSumar t'oriira os quilombos,
Minas Gerais. Há indicações de que a freqüência de forma- ver Francisco Antônio Lòpes, ."Çârnàra e cadeia de Villa
ção de quilombos começou a cair quando a população escra- Rica*; Anuário do Museu da Inconfidência {Wi), p. 103-251,
va tornou-se demograficamente mais estável e houve um que reimpriHKVdocumehtos impqi lanxcíi". O comentário de
deslocalinento do garimpo para a agricultura mista. Assumar Sobre o fracasso dos íiulios iiit tentativa de impedir
a formação de quilombos éncoiitra-se em AHU, Minas pap.
45. Vallejos, "Slave Control"; 6-8; Russell-Wood, The Black avul. Coroa áo Çoiicíe de Assiimár (12 jan. 1719).
Man, p. 42.
245 231
RepcuiamUi Palmares:
Escravos. roceiros « rebeldes Resistência escrava na Colônia
246
247
i
Repensando Pai mares;
Escravos. mviroí e ftbehies Rcsislfinla estrava na Colônia
258 249
Ki-jiMisaiidu Palmares:
.I?»r<m>í, roceiros e rebeldes Resistência escrava na Oilôm.i
258 251
KcpcMiuimt» Palmares:
Escravos, roceiros t rebeldes Uesistêiiria escrava «a Colônia
253 231
Repensando Calmares:
Esativot, roceiros e rebeldes
Resistência escrava na Colônia
254
Estraws, meeiros e rebeldes RcpfHsjiuUi Palmares:
Rosisit'iida escrava nà Cotftiila
257 231
Escrows, roceiros e rebeldes K(.*|icnsaiiclo Palmares:
iu-sistêium t'saavft ti A CulíViila
Ao deslocarçm-se para o sul, e n t r a n d o e m Angola, n o bo era o nganga a zumba, i i m sacerdote cuja responsabilidade
início d o século XVII, os imbangalas e n c o n t r a r a m c m r c o era lidar com o espírito dos mortos. O Ganga Zumba d e Pal-
povo M b u n d u u m a instituição q u e a d o t a r a m para seus pro- m a r e s era p r o v a v e l m e n t e o d e t e n t o r desse cargo, q u e n ã o
pósitos." Tratava-se d o ki-lombo, Mina sociedade de iniciação era d e fato u m n o m e próprio, mas ú m título. Há outros ecos
ou c a m p o d e Circuncisão, o n d e os j o v e n s d o sexo m a s c u l i n o das descrições de Angola q u e p a r e c e m sugestivos. No qui-
e r a m p r e p a r a d o s para o status d e a d u l t o s e guerreiros. Os l o m b o imbangala a liderança dependia d e a l g u m tipo d e
imbangalas a d a p t a r a m essa instituição a seus próprios desíg- aclamação ou eleição popular, e x a t a m e n t e c o m o a f i r m a m
nios. A r r a n c a d o s das terras. e dos deuses ancestrais, sem alguns dos relatos brasileiros. w É b a s t a n t e curiosa a observa-
compartilhar l i n h a g e m c o m u m , v i v e n d o de conquistas e, se- ção de A n d r e w Batell, q u e viveu e n t r e os imbangalas e rela-
g u n d o observadores e u r o p e u s , r e j e i t a n d o a agricultura, a tou q u e seu m a i o r luxo era o v i n h o de p a l m a e q u e suas ro-
base tradicional dás sociedades da região, os imbangalas ne- tas a a c a m p a m e n t o s e r a m influenciados pela disponibilidade
cessitavam de unia instituição q u e desse coesão aos e l e m e n - de palmeiras. Seus comentários fazem c o m q u e a associação
tos étnicos díspares q u e c o m p u n h a m seus b a n d o s . O ki-lom- e n t r e á c o m u n i d a d e dos m a r r o n s e a região dos Palmares pa-
bo, uma sociedade militar à q u a l q u a l q u e r h o m e m podia p e r - reça mais do q u e coincidência.""
tencer p o r m e i o de t r e i n a m e n t o e iniçiação, servia à q u e l e
Se os f u n d a d o r e s de Palmarés inspiraram-se n o ki-
propósito. Criada para a g u e r r a , essa instituição gerou u m
lombo Imbangala para a f o r m a ç ã o d e sua sociedade, sua ver-
poderoso culto guerreiro ao receber grandes n ú m e r o s d e es-
são dele era incompleta ou, pelo m e n o s , u m a variante do
trangeiros sem ancestrais c o m u n s . O kí-lombo imbangala se
m o d e l o original, i n ú m e r a s características associadas aos ki-
distinguia devido a suas leis rituais. A linhagem e o p a r e n -
lombos Imbangala n ã o t i n h a m paralelo n ó Brasil. Em primei-
tesco, tão i m p o r t a n t e s para òs o u t r o s povos e s s e n c i a l m e n t e
ro lugar, os imbangalas e r a m s e m p r e m e n c i o n a d o s c o m o ca-
mairitineares da região, e r a m n e g a d o s d e n t r o d o ki-lombo e,
nibais q u e p r a t i c a v a m á antropofagia e sacrifícios h u m a n o s
embora os observadores e u r o p e u s m e n c i o n a s s e m infanticí-
para aterrorizar os inimigos. Esses c o s t u m e s e r a m rigida-
dio, as m u l h e r e s , e s t r i t a m e n t e falando, p o d i a m deixar os li-
m e n t e controlados, b e m c o m o a p r e p a r a ç ã o de ma$ia samba,
mites do ki-lombo para dar à luz. O q u e se proibia era u m laço
üiha pasta feita d e gordura h u m a n a e o u t r a s substâncias q u e
matrilinear legal d e n t r o d o ki-lombo q u e pudesse prejudicar
s u p o s t a m e n t e tornava invencívéis os guerreiros do ki-lombo.
o conceito d e u m a sociedade e s t r u t u r a d a p o r iniciação e m
Havia n o ki-lombo uni rígido c o n j u n t o d e leis rituais (kijila).
vez de parentesco. O historiador J o s e p h Miller acredita q u e
As m u l h e r e s eram'proibidas dé e n t r a r iib terreiro interno do
o "assassinato" imbangala dois próprios filhos era u m a m e t á -
ki-lontbot havia prescrições rituais rigorosas contra m u l h e r e s
fora da eliminação cerimonial dos laços d e parentesco e sua
m e n s t r u a d a s . N e n h i i m desses c o s t u m e s é m e n c i o n a d o na
substituição pelas leis e prescrições d o ki-lombo.
d o c u m e n t a ç ã o r e m a n e s c e n t e de Palmares.
A criação de u m a organização social baseada em asso-
O uso d o t e r m o "quilombo" com referência a Palma-
ciação gerava riscos. Os h a b i t a n t e s d o ki-lombo incorriam em
res n ã o significa q u e todos os aspectos rituais daquela insti-
especial perigo espiritual, u m a vez q u e lhes faltava a linha-
tuição, tal c o m o e r a m praticados e m Angola, estavam pre-
g e m n o r m a l d e ancestrais q u e p u d e s s e m interceder p o r eles
sentes n o Brasil n e m q u é os f u n d a d o r e s e líderes s u b s e q ü e n -
j u n t o aos deuses. Assim, u m a figura f u n d a m e n t a l 110 ki-lom-
78. Miller, Kings and Kinsmen, 151-75, 224-64, oferece uma 79. Cadornega, Histor'ia, II, p. 221.
análise intensa. As fontes clássicas sobre o Jaga ki-lombo são 80. E. G. Ravenstein, The Strange Adventures of Andrew Battel
Cadornega e Gavazzi de Montecuccoío. of Leigh in Angola and Adjoining Regions (London, 1901).
258
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list ra ws, roivims t ifMiies Kepciisamto Palmares:
Kesisiêiiría escrava na Colônia
260 231