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ÉTICA

PROFISSIONAL

Professora Esp. Daniela Sikorski


Professora Esp. Rafaela Cristina Bernardo

GRADUAÇÃO

Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Gerência de Produção de Conteúdos
Gabriel Araújo
Supervisão do Núcleo de Produção de
Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Coordenador de Conteúdo
Maria Cristina Araujo de Brito Cunha
Design Educacional
Isabela Agulhon Ventura
Qualidade Editorial e Textual
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Daniel F. Hey, Hellyery Agda
Distância; SIKORSKI, Daniela; BERNARDO, Rafaela Cristina.
Iconografia
Ética Profissional. Daniela Sikorski; Rafaela Cristina Bernardo. Amanda Peçanha dos Santos
Reimpressão Ana Carolina Martins Prado
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018.
232 p. Projeto Gráfico
“Graduação - EaD”. Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
1. Ética. 2. Profissional. 3. Social 4. EaD. I. Título.
Arte Capa
ISBN 978-85-459-0280-5 Arthur Cantareli Silva
CDD - 22 ed.174.1 Editoração
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Matheus Felipe Davi
Revisão Textual
Daniela Ferreira dos Santos
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Ilustração
Impresso por: Bruno Cesar Pardinho
Marcelo Goto
Luis Ricardo Prado
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um
grande desafio para todos os cidadãos. A busca
por tecnologia, informação, conhecimento de
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a
educação de qualidade nas diferentes áreas do
conhecimento, formando profissionais cidadãos
que contribuam para o desenvolvimento de uma
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais
e sociais; a realização de uma prática acadêmica
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização
do conhecimento acadêmico com a articulação e
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela
qualidade e compromisso do corpo docente;
aquisição de competências institucionais para
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade
da oferta dos ensinos presencial e a distância;
bem-estar e satisfação da comunidade interna;
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de
cooperação e parceria com o mundo do trabalho,
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa-
zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa-
tível com os desafios que surgem no mundo contem-
porâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó-
gica e encontram-se integrados à proposta pedagó-
gica, contribuindo no processo educacional, comple-
mentando sua formação profissional, desenvolvendo
competências e habilidades, e aplicando conceitos
teóricos em situação de realidade, de maneira a inse-
ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais
têm como principal objetivo “provocar uma aproxi-
mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi-
bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos
conhecimentos necessários para a sua formação pes-
soal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cres-
cimento e construção do conhecimento deve ser
apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda-
gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi-
bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en-
quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus-
sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de
professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTORAS

Professora Esp. Daniela Sikorski


Especialista em Política Social e Gestão de Serviços Sociais pela Universidade
Estadual de Londrina (UEL/2005) e graduação em Serviço Social pela
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG/2001). Experiência profissional
na área de Serviço Social na Educação, Terceiro Setor, Responsabilidade Social
e Gestão na Área da Saúde.

Professora Esp. Rafaela Cristina Bernardo


Especialista em Gestão e Planejamento de Projetos Sociais pelo Centro
Universitário Maringá (Unicesumar/2013) e graduada em Serviço Social pela
Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (FECEA/2010).
Atualmente, é mestranda em Educação pela Universidade Estadual de
Maringá (UEM/2014).
APRESENTAÇÃO

ÉTICA PROFISSIONAL

SEJA BEM-VINDO(A)!
Olá, seja bem-vindo(a) à disciplina de Ética Profissional, com ela, iniciamos uma etapa
muito importante em seu processo de formação.
Será um momento significativo, faremos um passeio pelos Códigos de Ética da Profissão,
entender seu contexto histórico e, por fim, compreender o cotidiano como espaço do
fazer profissional e temos certeza que você gostará e com certeza ampliará seu conhe-
cimento.
Este material foi elaborado com muito carinho para que você possa desfrutar de infor-
mações de qualidade, de forma a tornar muito mais agradável esta etapa. O material di-
dático é apenas uma das ferramentas do conhecimento, sendo assim tenha-o em mãos,
mas não se esqueça de recorrer às demais ferramentas: vídeoaulas, aulas conceituais,
estudo de caso, fórum, além de aproveitar o espaço do seu polo para reunir seus colegas
de turma e realizar discussões, trocar experiências e crescer juntos.
Estamos distantes fisicamente, contudo nossa equipe de mediação e formação está à
disposição para contribuir para a sua formação, vamos usar a tecnologia a nosso favor,
construindo também esta nova fase da profissão, que hoje está inserida e consolidada
por meio da Educação a Distância.
Bom, vamos verificar o que será tratado em cada unidade deste material?
Na unidade I, trataremos do universo dos conceitos, que embasará as demais unidades,
veremos o que é a ontologia do ser social, moral e ética.
Na unidade II, vamos nos encontrar com a ética profissional e os Códigos de Ética do
Assistente Social de 1947, 1965, 1975 e 1986, último e atual Código de Ética será traba-
lhado com mais profundidade nas unidades II e III. Vale ressaltar que, ao final de cada
item que tratará dos Códigos de Ética, você poderá conhecê-lo na íntegra, ler e se interar
de todo o seu texto, tornando você mais íntimo da história da ética em nossa profissão.
Isso não é bom? Ter todo esse material à mão?
Na unidade III, vamos conhecer os onze princípios fundamentais que norteiam o Código
de Ética Profissional de 1993 e discutir sobre os valores éticos/políticos que compõem
os princípios.
Na unidade IV, compreenderemos o Código de Ética Profissional de 1993. Esse código
envolve o conjunto de dispositivos legais que compõem o Projeto Ético-Político Profis-
sional do Serviço Social.
Na unidade V, faremos a contextualização do universo do exercício profissional, trazen-
do uma gostosa reflexão acerca do cotidiano, do trabalho como eixo fundante do ser
social, você verá que todas as unidades se relacionam e se completam, fazendo com que
você tenha uma compreensão linear da evolução da profissão.
Desejamos a você uma ótima leitura, ótimos estudos e sucesso sempre!

Profª Daniela Sikorski e Profª Rafaela Cristina Bernardo


09
SUMÁRIO

UNIDADE I

FUNDAMENTOS DA ÉTICA

15 Introdução

16 Ontologia do Ser Social: O Trabalho Como Eixo Fundante do Ser Social

23 O Que é Moral?

28 O Que é Ética?

34 Considerações Finais

UNIDADE II

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL

45 Introdução

46 Ética Profissional

55 Os Códigos de Ética do Assistente Social no Brasil

61 Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais 1947

66 Código de Ética Profissional do Assistente Social 

73 Código de Ética Profissional do Assistente Social

84 Código de Ética Profissional do Assistente Social

94 Considerações Finais
SUMÁRIO

UNIDADE III

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA


PROFISSIONAL DE 1993

105 Introdução

106 Eixos Estruturantes Sobre os Onze Princípios Fundamentais

115 Os Onze Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do


Assistente Social de 1993

139 Considerações Finais

UNIDADE IV

O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DE 1993

151 Introdução

152 A Construção do Código de Ética Profissional de 1993

153 O Código de Ética Profissional de 1993

171 Considerações Finais


11
SUMÁRIO

UNIDADE V

ÉTICA, COTIDIANO E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

181 Introdução

193 Refletindo Sobre o Exercício Profissional

198 Considerações Finais


205 CONCLUSÃO
207 REFERÊNCIAS
213 ANEXO
220 GABARITO
Professora Esp. Daniela Sikorski

I
UNIDADE
FUNDAMENTOS DA ÉTICA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender o conceito de moral e ética.
■■ Compreender a importância dos princípios que norteiam a ética.
■■ Identificar os elementos conceituais e os fundamentos conceituais da
ética.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Ontologia do Ser Social: O trabalho como eixo fundante do ser social
■■ O que é Moral?
■■ O que é Ética?
15

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a)!
Que bom que você chegou até aqui. É muito bom tê-lo aqui conosco, faremos
uma parceria em que, com certeza nascerão muitos frutos bons. Em uma atitude
filosófica, percebemos que hoje estamos um tanto diferentes do que quando ini-
ciamos o curso. Tenho certeza de que ampliou seu senso crítico e desenvolveu
um pensar mais autônomo, dando espaço para indagações e, por consequên-
cia, problematizações acerca da realidade que está levando você a processos de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

investigações, planejamentos e propostas de ação com qualidade.


Desde o início do curso, somos suscitados a compreender e situar o contexto
histórico, cultural e social, perceber que não somos somentes produtos, mas,
também, agentes da história que vivenciamos e sentimos no momento presente.
Porém, a questão é vivenciá-la e senti-la com criticidade, a fim de transformá-
-la, de maneira que a roda da história tenha movimento. E como profissionais
em formação, devemos ampliar o nosso olhar, passar do simples (comum) para
o complexo (crítico).
Nesta unidade, vamos perceber que não podemos dar continuidade aos
nossos estudos sem refletir sobre o trabalho, uma vez que não é possível discu-
tirmos o exercício profissional e os elementos que o englobam sem tratarmos
dessa temática. Veremos o trabalho enquanto ação que transforma a realidade
do ser social, uma “condição de transcendência e, como tal, [expressa] liberdade”
(ARANHA; MARTINS, 2003, p. 24), mas para que seja atingida essa condição
de liberdade, não depende apenas da vontade de cada um. Por vezes, o traba-
lho pode alienar e até mesmo vir a desumanizar, principalmente, nas sociedades
que privilegiam o lucro antes dos valores humanos. Aí sim, em vez de libertar,
acaba escravizando.
Em seguida, entenderemos o que é moral e ética, elementos fundamen-
tais para que possamos entender a Ética Profissional e os Códigos de Ética da
Profissão. Entendermos a ética e a moral também permite nos conhecermos
melhor, entender o homem e a sociedade onde vive, seus valores, princípios e
normas, suas ações e suas convicções.

Introdução
16 UNIDADE I

ONTOLOGIA DO SER SOCIAL:


O TRABALHO COMO EIXO FUNDANTE DO SER SOCIAL

O ser social foi se humanizando na medida em que foi transformando a natu-


reza para atender as suas necessidades, diferenciando-se dos demais animais.
Por meio do trabalho, um novo ser surge, distinguindo-se mediante da ativi-
dade estruturada (trabalho), em que transforma e produz algo que lhe atenda as
necessidades, ou seja, o homem materializa o seu desejo, transforma em mate-
rial aquilo que antes estava apenas no nível das ideias.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Esse processo se torna constante na medida em que suas necessidades se
modificam no decorrer da história, do contexto social, logo, a sua criação tam-
bém se transforma e é recriada.
Como práxis, o trabalho é a base ontológica primária da vida social;
mediação que efetiva objetiva e subjetivamente o intercâmbio entre os
homens e a natureza, pondo em movimento um processo incessante de
(re) criação de novas necessidades; ampliando os sentidos humanos,
instaurando atributos e potencialidades especificamente humanas. Ao
criar novas alternativas para o seu desenvolvimento, o ser social se afas-
ta de suas “barreiras naturais”, amplia sua natureza social e consciente,
estabelece a possibilidade de uma existência social aberta para o novo,
para o diverso, para o amanhã, instaurando objetivações que permitem
autoconstrução do ser social como um ser livre e universal (BARRO-
CO, 2009, p. 166).

O trabalho não se dá sozinho, nem por


meio de uma única pessoa, logo, para que
assuma seu caráter social, depende da inte-
ração com outras pessoas, é necessário que
haja comunicação, cooperação e reciproci-
dade. O trabalho permite que os homens se
reconheçam entre si como seres da mesma
espécie que possuem os mesmos anseios e
necessidades básicas.
O trabalho é um ato consciente, próprio
do ser humano. ©shutterstock

FUNDAMENTOS DA ÉTICA
17

O agir consciente supõe a capacidade de transformar respostas em no-


vas perguntas e as necessidades em novas formas de satisfação. Só o
homem é capaz de agir teleologicamente1, projetando a sua ação com
base em escolhas de valor, de modo que o produto de sua ação possa
materializar sua autoconsciência como sujeito da práxis. Ao desenvol-
ver sua consciência, o homem evidencia o caráter decisório de sua na-
tureza racional. Como diz Lukács, todas as atividades sociais e indivi-
duais exigem escolhas e decisões: “todo indivíduo singular, sempre que
faz algo, deve decidir se o faz ou não. Todo ato social, portanto, surge de
uma decisão entre alternativas acerca de posições teleológicas futuras
(LUKÁCS,1978, p. 6)” (BARROCO, 2009, p. 168).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

É próprio do ser humano emitir juízos de


valor, são eles que nos permitem e definem
nossas escolhas. Exemplos de juízo de valor:
útil – inútil; válido – inválido; certo – errado.
Toda ação que é consciente passa por uma
avaliação subjetiva, na qual percebemos um
juízo de valor.
©shutterstock

Barroco (2009,0p. 168)diz que:


Vê‐se, pois, que estamos diante de um ser capaz de agir eticamente,
quer dizer, dotado de capacidades que lhe conferem possibilidades de
escolher racional e, conscientemente, entre alternativas de valor, de
projetar teleologicamente tais escolhas, de agir de modo a objetivá‐las,
buscando interferir na realidade social em termos valorativos, de acor-
do com princípios, valores e projetos éticos e políticos, em condições
sócio‐históricas determinadas.

De acordo com Netto e Braz (2006), quanto mais se desen-


volve o ser social, mais as suas objetivações transcendem o
espaço ligado diretamente ao trabalho. Ou seja, o trabalho
não se esgota em si, não é finito, sempre se modifica a par-
tir da sua teleologia.
Na análise da prática, é relevante avançarmos nas discus-
sões acerca da categoria trabalho, como ela é vista, entendida
e compreendida.
©shutterstock

1
Teleologia = Finalidade.

Ontologia do Ser Social: O Trabalho Como Eixo Fundante do Ser Social


18 UNIDADE I

Como ponto de partida para essa reflexão, vamos no valer de Engels (1985,
p. 71) que parte do pressuposto de que o trabalho “é a primeira condição funda-
mental de toda a vida humana e com efeito, num grau tal que, em certo sentido,
temos que dizer: ele criou o próprio homem”, pois é o trabalho que possibilita ao ser
humano transformar a natureza ao realizar suas atividades pensadas, pré-idealiza-
das (teleologia), criando os seus instrumentos de trabalho e meios de sobrevivência.
Assim, o homem se diferencia dos demais animais pelo trabalho e esse já é
idealizado na consciência para depois, concretamente, realizar o que foi pensado.
Pode-se dizer que o trabalho do ser social é proposital, já ideado, enquanto que

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dos demais animais são ações instintivas. Para Sales (1999, p. 79), o Ser Social é a:
Categoria teórico-marxista que busca identificar a sociabilidade como
uma característica humana, forjada na relação do homem com a na-
tureza a partir do trabalho. Integra substancialmente as dimensões da
produção e reprodução da vida social.

Portanto, as ações do ser social são conscientes, com intencionalidades e com


isso, ele se transforma e adquire habilidades e conhecimentos para se apropria-
rem e dominarem a natureza. ngels (1985, p. 79) acrescenta que:
Quanto mais os homens se afastam, do animal, tanto mais a sua acção
sobre a Natureza assume caráter de uma ação [handlung] premeditada,
planificada, orientada para determinados objectivos previamente que
faz. (p.79).

O trabalho (além da consciência) é característica fundante do ser social, é o que


o distingue dos demais animais, o homem é o único animal que cria meios e ins-
trumentos para a concretização do seu objeto concreto. O trabalho visa atender
as necessidades do homem, nesse processo, ao sanar tais necessidades, vai dando
origem a outras. Sendo assim, dizemos que o trabalho constitui o ser social,
pois esse dispõe de capacidade teleológica, projetiva, consciente.
Para Guerrra (2007, p. 14),
[...] o trabalho, enquanto objetivação fundante do ser social, contém
em si determinações materiais e ideais, as quais incorporam não ape-
nas o fazer, mas o porquê, o para que e o quando fazer, ou seja, a inten-
cionalidade das ações humanas.

FUNDAMENTOS DA ÉTICA
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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De acordo com Marx (1985), o trabalho pode ser concebido como uma ativi-
dade orientada a um fim, ou o trabalho mesmo, relação de transformação entre
sujeito/objeto/instrumentos, tendo em vista um produto final. O processo de tra-
balho implica em uma matéria-prima ou objeto sobre o qual incide a ação do
sujeito, ou seja, o próprio trabalho, que requer meios ou instrumentos para que
possam ser efetivados. A ação do homem sobre a matéria-prima resulta sem-
pre em um produto.
Na experiência concreta do trabalho o indivíduo vai obtendo informa-
ções e experenciando normas, regras, valores que definem o espaço de
sua atuação. Nesse espaço precisará negociar tanto seu lugar quanto
a aceitação de si e de sua competência. A necessidade de aceitação e
de firmação, a importância de evitar riscos de fracasso ou perda do
emprego, dentre outras urgências, leva a negociações e a encaminha-
mentos de sínteses que superem as contradições e dissonâncias: vida
profissional e pessoal não se dissociam entre si, nem do social e do
simbólico que lhe dão forma. A experiência concreta do trabalho é,
portanto, complexa, pois mobiliza a totalidade do indivíduo com sua
história, experiências e o que foi apropriado na formação, bem como, a
dinâmica do espaço no qual a experiência se efetiva e o movimento da
totalidade social lhes dá concretude (NICOLAU, 2004, p. 85).

Dessa forma, o ser humano vai constituindo sociedades e modos de produção


até chegar à atualidade, como o modo de produção capitalista em pleno grau
de maturidade.

Ontologia do Ser Social: O Trabalho Como Eixo Fundante do Ser Social


20 UNIDADE I

Se o grande diferencial entre o homem e os demais animais é o trabalho,


logo, “o trabalho constitui-se como categoria intermediária que possibilita o
salto ontológico das formas pré-humanas para o ser social” (ANTUNES, 2002,
p. 163, grifo do autor), proporcionando o desenvolvimento do ser humano e das
sociedades. Portanto, o trabalho é a materialização de uma ideia já imaginada
(pré-idealizada) e somente os seres humanos possuem a consciência de pensar
antes de agir e, em suas ações, já possuem as teleologias (finalidades) e objeti-
vidades. Assim, por meio do trabalho, o ser social foi construindo objetos, sua
vida e suas próprias relações sociais.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Dessa maneira, diariamente, o ser social se constrói e se transforma por meio
do ato laborativo, que tanto pode emancipá-lo quanto “escravizá-lo”, dependendo
da forma de organização existente do modo de produção no qual está inserido.
Partindo desses pressupostos, torna-se possível compreender o modo de pro-
dução capitalista e a relação capital/trabalho no sistema vigente.
Com a classe burguesa no poder, emergiu o lema: Liberdade, Fraternidade e
Igualdade que estabelece o homem como indivíduo, singular e com necessidades
especificas. E “por burguesia compreende-se a classe dos capitalistas modernos,
proprietários dos meios de produção social, que empregam o trabalho assala-
riado” (MARX; ENGELS, 1998, p. 04)
No sistema capitalista, emerge como fundamento da sociedade burguesa o
direito a liberdade individual, sendo que a “a aplicação prática do direito humano
da liberdade é o direito humano à propriedade privada.” (MARX, 1991, p. 42).
É um direito limitado, já que a maioria da população não possui propriedade
privada, então, verifica-se que o direito só
privilegia àqueles que constituem a classe
dominante (burguesia).
E o direito de igualdade não distingue as
diferenças e contradições das classes da socie-
dade burguesa, “este direito igual é um direito
desigual para trabalho desigual. Não reco-
nhece nenhuma distinção de classe, porque
aqui cada indivíduo não é mais do que um
operário como os demais” (MARX, 1953, p.
©shutterstock

FUNDAMENTOS DA ÉTICA
21

214). Assim, os direitos constituídos na sociedade burguesa sempre serão direitos


que consolidam a existência da desigualdade. Desse modo, os direitos burgue-
ses possibilitam a exclusão em vez de efetivarem a universalização dos direitos.
Entretanto, o grande salto que o sistema capitalista realizou foi disponibili-
zar a força de trabalho livre para o mercado. “O capitalista compra aos operários
o seu trabalho com dinheiro. Esses vendem o seu trabalho por dinheiro. Mas só
na aparência isto se passa. Na realidade, que os operários vendem por dinheiro ao
capitalista é a sua força de trabalho. [...] A força de trabalho é portanto uma mer-
cadoria, tal e qual como o açúcar. A primeira avalia-se com o relógio, a segunda
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

com a balança” (MARX, 1983, p.17). Portanto, o trabalhador vende parte de sua
força de trabalho, apenas a quantidade que o capitalista quer comprar. Ou seja,
para que exista esse modo de produção capitalista, é essencial que haja novas
relações sociais e, diante disso, Batista (2002, p.136) afirma que:
[...] sob esta forma de se relacionar e da necessidade imediata o modo
de produção capitalista traz uma peculiaridade que o diferencia radi-
calmente dos modos de produção anteriores. É necessário que exista
um determinado número de pessoas ‘livres’ e despossuídas para ofere-
cerem seus trabalhos.

Dessa forma, é estabelecida uma nova hierarquia que simplificou os antagonis-


mos de classe (MARX; ENGELS, 1998), dividindo a sociedade em apenas duas
classes sociais: a burguesia e o proletariado, “classe dos trabalhadores modernos
que privados de meios de produção próprios se vêem obrigados a vender sua
força de trabalho para poder existir” (MARX; ENGELS, 1998, p.04)
A diferença entre ambas é que a burguesia detém todos os demais meios de
produção (matéria-prima, terras, indústrias, máquinas, instrumentos de traba-
lho) e o poder de comprar a força de trabalho dos trabalhadores “livres”. Esses
estão em destaque, pois não escolhem para quem venderão sua força de trabalho,
nem que salário receberão. Dessa forma, sua liberdade fica reduzida à liberdade
de estar no mercado, na livre concorrência e o burguês faz o preço dessa “mer-
cadoria humana”. E o proletariado, por sua vez, detém apenas a força de trabalho
em potência e a vende em troca de um salário, possibilitando sua sobrevivência.
Assim, o trabalhador não realiza mais todas as etapas de produção, porém
apenas uma e, consequentemente, ele não se reconhece como produtor daquela

Ontologia do Ser Social: O Trabalho Como Eixo Fundante do Ser Social


22 UNIDADE I

mercadoria que fabricou e o “trabalho se tornou para o trabalhador como algo


que lhe é estranho, que mortifica e no qual se aliena” (IAMAMOTO, 2001, p. 69)
Para Faleiros (2008, p. 19),
Essas condições levaram a situar a prática e o processo profissional
num contexto e em condições que os determinam. O serviço social
não é uma profissão liberal. O próprio desenvolvimento do capitalismo
vem levando o serviço social a incorporar-se em diversas tarefas como
assalariado. A condição de trabalho do assistente social é de assalaria-
do. Essa realidade concreta levou-o a questionar-se sobre a compra e
venda de sua força de trabalho, de sua utilidade para o capital, de sua

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
produtividade e improdutividade. (p.19)

E essa relação levou o profissional de serviço social a entender que, quando os


trabalhadores possuidores da força de trabalho em potência não conseguem ven-
dê-la para suprir sua subsistência, esses estão situados no exército industrial de
reserva, ou seja, estão desempregados.
Constitui um exército industrial de reserva, um contingente dispo-
nível, que pertence ao capital de modo tão absoluto como se tivesse
sido criado e se mantivesse às suas custas. Oferece-lhe o material hu-
mano, disposto a ser sempre explorado, à medida que o exijam suas
necessidades variáveis de exploração e, além disso, independente dos
limites que o aumento real da população lhe possa opor (MARX apud
IAMAMOTO; CARVALHO, 2001, p. 59)

Cabe esclarecer que o exército industrial de reserva é um artifício do próprio


capital para manter sua estrutura de acumulação e de exploração. E no decor-
rer do tempo esta população vai ficando pauperizada e à margem da produção
capitalista.
É com o sistema capitalista que, pela primeira vez, o crescimento da pobreza
esteve relacionado diretamente com o aumento da “capacidade social de produ-
zir riquezas” (NETTO, 2001, p. 42). Isso demonstra que na relação contraditória
entre capital/trabalho, quanto maior for a produção, maior também será a popu-
lação que não terá acesso aos bens e serviços produzidos, sendo excluída dessa
relação de produção desassistida que vivencia diretamente as expressões da “ques-
tão social” como: desemprego, doenças, miséria, desnutrição, fome etc. “Esses
impasses levaram a uma reflexão teórica sobre o trabalho social e a uma reto-
mada, em outros termos, da discussão de sua prática” (FALEIROS, 2008, p. 19).

FUNDAMENTOS DA ÉTICA
23

Sendo assim, o assistente social passou a entender que é também com o sistema
capitalista que há a ampliação da divisão técnica do trabalho e a introdução de
máquinas nos processos de produção, objetivando aumentar o acúmulo de capi-
tal, acarretando uma transformação significativa do trabalho tanto do processo
quanto dos instrumentos. Dividir o trabalho em funções pormenorizadas foi
um avanço para os capitalistas e um infortúnio para os operários. Essa relação
proporcionou ao capitalista maiores possibilidades de escolhas de qual força de
trabalho e especialidade comprar. E para o trabalhador ficou a desvantagem de
ser comprado como uma mercadoria, tendo que saber diversas especialidades
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para ter maiores chances de ter um emprego.

O QUE É MORAL?

A moral está relacionada com a regulação do comportamento dos seres huma-


nos, que visam ao ajuste das relações sociais. Ela orienta a conduta apontando
normas e deveres, contribuindo para a formação dos hábitos e costumes de
determinada época. A moral não é estática e permanente, reflete o contexto de
cada lugar e sua história.

Considere a seguinte colocação: quanto maior for a produção, maior tam-


bém será a população que não terá acesso aos bens e serviços produzidos,
sendo excluída dessa relação de produção desassistida que vivencia direta-
mente as expressões da “questão social” como: desemprego, doenças, misé-
ria, desnutrição, fome etc. Qual análise que podemos fazer, quais contradi-
ções podemos encontrar hoje em nossa sociedade?
Fonte: a autora.

O Que é Moral?
24 UNIDADE I

©shutterstock
O grau de consciência define o desenvolvimento
da moral. Quando falamos em consciência, fala-
mos do homem que não mais se confunde com a
natureza, ele se distingue pela sua capacidade de
transformá-la para satisfazer suas necessidades e
isso se dá por meio do trabalho, como vimos no
tópico anterior.
A moral pode ser entendida como um con-
junto de normas, princípios e valores, segundo o

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre esses
e a comunidade. Essas normas, de caráter histórico e social, devem ser acatadas
livre e conscientemente por uma convicção íntima e não de maneira mecânica
e impessoal.
Também implica na valorização de ações e comportamentos que se transfor-
mam em deveres e acabam sendo incorporados ao modo de ser dos indivíduos,
gerando sentimentos, escolhas, desejos, atitudes, posicionamentos diante da rea-
lidade, juízos de valor, senso moral, ou seja, responsabilidade diante do outro
e de si mesmo.
Para Barroco (2009, p. 171),
A moral é histórica e mutável: são os homens que criam as normas e os
valores, mas a autonomia dos indivíduos em face das escolhas morais
é relativa às condições de cada contexto histórico. Mesmo nas socie-
dades onde ainda não existe o domínio de classe, a coesão em torno
de um único código de valor não significa a inexistência de tensões.
O ato moral supõe a adesão consciente e voluntária do indivíduo aos
valores éticos e às normas morais, ou seja, implica a convicção íntima
do sujeito em face dos valores e normas, pois se entende que só assim
as mesmas serão internalizadas como deveres.

Os princípios, as normas, as regras, as leis são tidos como parâmetros que balizam
o comportamento humano. Só emitimos julgamentos porque esses princípios,
normas e leis existem.

FUNDAMENTOS DA ÉTICA
25

Oliveira (2012, p. 44) diz que:


Apesar das normas existentes (jurídicas, morais etc.), muitas vezes ain-
da ficamos na dúvida sobre como agir com retidão. Isso porque ou não
existem normas ainda, ou nós não as conhecemos, ou não sabemos in-
terpretá-las. Em poucas palavras, na nossa vida real estamos sempre às
voltas com problemas morais práticos como atos, juízos, normas mo-
rais. Isso vale para todos. Não se pode escapar aos problemas concretos
e muitas vezes não fáceis da moral.

Historicamente, os valores e princípios adquirem diferentes significados e aten-


dem, indiretamente, a interesses ideológicos e políticos de classes e grupos sociais.
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A moral é uma forma de comportamento humano que compreende


tanto o aspecto normativo (regras de ação) quanto o factual (necessida-
de de adequação dos atos humanos às normas). A moral é também um
fato social – com tendência a ajudar a sociedade a organizar suas ações
com base em valores e fins para solucionar suas necessidades.

A moral é um conjunto de normas aceitas livre e conscientemente que


regulam o comportamento individual e social dos homens (VASQUEZ,
2000, p.63).

Segundo Aranha (2003, p. 303), “é a consciência que discerne o valor moral dos nos-
sos atos, o ato moral é portanto constituído de dois aspectos: o normativo e o fatual.”.

ASPECTO NORMATIVO ASPECTO FATUAL


Ideal. Real ou prático.
Constituído pelas normas ou regras Plano dos fatos morais constituído por
de ação e pelos imperativos que certos atos humanos que se realizam
enunciam algo que deve ser. efetivamente.

O realizado (o fatual) só ganha signifi-


O normativo exige ser realizado e se cado moral na medida em que pode ser
orienta no sentido do fatual. referido positiva ou negativamente a
uma norma.
O normativo não existe independentemente do fatual.
O normativo e o factual possuem uma relação mútua.
Quadro 1 - Aspecto Normativo e Fatual da Ética
Fonte: adaptado de Oliveira (2012, p. 44-45).

O Que é Moral?
26 UNIDADE I

POR QUE DIZEMOS QUE A MORAL POSSUI UM CARÁTER SOCIAL?

A moral se manifesta na sociedade e somente nela. Se houver uma mudança


muito grande na estrutura social, certamente, teremos uma mudança de moral.
Vivendo em sociedade, estamos sob a égide de princípios, normas morais, valo-
res já estabelecidos, anteriormente, não se pode simplesmente inventar ou alterar
normas baseado em exigências individuais ou pessoais.
O que imprime o caráter social à moral é o fato dessas normas, leis e prin-
cípios terem sido acordados, determinados pelo meio social, pelo coletivo, de

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
acordo com a necessidade social para a regulação das relações humanas em socie-
dade. Oliveira (2012, p. 46) fala que “A moral tende a fazer com que os indivíduos
harmonizem voluntariamente, de maneira consciente e livre, seus interesses pes-
soais com os interesses coletivos”.

A MORAL É UMA NECESSIDADE SOCIAL? POR QUÊ?

A necessidade social da moral é fruto de desenvolvimento da sociabilidade e seu


espaço é o da cultura. A moral representa um papel no espaço da sociabilidade,
portanto, ela é uma necessidade histórica.

O individual e o coletivo na moral


O indivíduo pode agir moralmente somente em sociedade.
Uma parte do comportamento moral manifesta-se na forma de hábitos e
costumes. O costume apresenta um caráter moral em razão de sua intuição
normativa.
A moral implica sempre uma consciência individual que faz suas ou inte-
rioriza as regras de ação que se lhe apresentam com um caráter normativo,
ainda que se trate de regras estabelecidas pelo costume.
Fonte: Oliveira (2012, p. 46).

FUNDAMENTOS DA ÉTICA
27

O que é e como se estrutura o ato moral?


O ato moral é complexo na medida em que provoca efeitos não só na
pessoa que age, mas naqueles que a cercam e na própria sociedade
como um todo. Portanto, para que um ato seja considerado moral,
deve ser livre, consciente, intencional, mas também solidário. O ato
moral supõe solidariedade e reciprocidade com aqueles com os quais
nos comprometemos. Esse compromisso não deve ser entendido como
algo superficial e exterior, mas como uma promessa pela qual estamos
vinculado à comunidade (ARANHA, 2003, p. 304).

Vamos acompanhar a estrutura do ato moral a partir do esquema a seguir:


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Figura 1- Estrutura do ato moral


Fonte: adaptado de Oliveira (2012, p. 46).

De acordo com o autor supracitado: o ato moral não pode ser reduzido a um de
seus elementos, mas está em todos eles, na sua unidade e nas suas mútuas relações.
Caro(a) aluno(a), para melhor compreensão sobre o que é moral, ler a lei-
tura complementar 1, que se encontra no final desta unidade.

O Que é Moral?
28 UNIDADE I

O QUE É ÉTICA?

Vamos dar continuidade ao nosso estudo falando agora sobre a ética, o que
é e como a vemos, e a importância dela para você, futuro(a) assistente social.
Iniciaremos com uma pequena história, que nos levará a uma reflexão muito
significativa e interessante, vamos lá?
O pesquisador queria saber onde estava a ética.

Foi ao céu.

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“Claro que ela está aqui”!

Lá estava a ética, deslumbrante e transparente, inspirando amor, cora-


gem realização e felicidade.

Satisfeito, mas por mera formalidade, resolve ir ao inferno.

“Claro que ela está aqui”, diz o demo.

Lá estava a “ética”, insinuante, nebulosa, astuta e dissimulada, sugerin-


do ambição, poder, corrupção e competição predatória.

Já em retirada, o pesquisador, confuso, sentiu que era puxado e viu uma


figura diminuta, estranha, nem bonita nem feia, nem simpática nem
antipática, mas que exibia vasta popularidade;

E, ficou perplexo quando ela se revelou:

“Sou a meia-ética” (MATOS, 2008, p. 01).

Qual o seu entendimento sobre ética a partir da história contada anteriormente,


como você a interpretaria? Pare alguns minutinhos, tente sistematizar a sua ideia.
É interessante como a discussão sobre a ética nos remete a exemplos e acon-
tecimentos do nosso dia a dia, não é mesmo? Por que será que isso acontece?
Isso acontece porque a ética está em tudo o que somos e fazemos, está intrín-
seco ao nosso ser enquanto ser humano.
Para Barroco (2009, p. 169):
A ética dirige-se à transformação dos homens entre si, de seus valores,
exigindo posicionamento, escolhas, motivações que envolvem e mo-
bilizam a consciência, as formas de sociabilidade, a capacidade tele-
ológica dos indivíduos, objetivando a liberdade, a universalidade e a
emancipação do gênero humano.

FUNDAMENTOS DA ÉTICA
29

Ao se falar em ética, é possível nos depararmos com uma


série de conceitos e explicações criados para explicá-la, pois
,como vimos na citação anterior, ilustrada pela história do
“pesquisador”, a ética pode se ajustar a inúmeras circunstân-
cias e interesses pessoais. Por isso, encontramos autores que
dizem que não há pessoa sem ética, existem “éticas diferentes”.
Para Cortella (2005, p. 05) a ética é uma questão humana,
uma vez que ela implica em escolha, decisão, possibilidade
de decidir. Fato pelo qual o cachorro e o gato, por exemplo,
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não possuem ética, pois não possuem consciência, agem e


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vivem por instinto e não por escolha.
Cuidado. Há quem diga: “Eu queria ser livre como um pássaro”; la-
mento profundamente, pois pássaros não são livres, pássaros não po-
dem não voar, pássaros não podem escolher para onde voam, pássaros
são pássaros. Se você quiser ser livre, você tem de ser livre como um
humano. Pensemos em algo que pode parecer extremamente horro-
roso: como disse Jean-Paul Sartre, nós somos condenados a ser livres
(CORTELLA, 2005, p. 06, grifo nosso).

Por isso, é muito difícil falarmos em ética sem falarmos em liberade e os gran-
des questionamentos e indagações que ela nos provoca.
De acordo com Matos (2008, p. 03):
A Ética é a ciência da Verdade; não existe ética da mentira, nem a meia-
-ética. A Ética e a Verdade são a essência da consciência humana. Nin-
guém lhes pode ser indiferente. A omissão da consciência é tão dolo-
rosa que o homem, quando não consegue seguir seus ditames, inventa
simulacros2 de ética e de verdade. Cria caricaturas da ética, sacrificando
a verdade por meio de retóricas ideológicas. Prevalecem as exteriori-
zações. É a relativização da Ética, que corresponde à elasticidade da
consciência. A Ética e a Verdade, por habitarem a consciência, vêm de
dentro, têm a ver com o Ser.

É impossível falar em ética sem falar em liberdade. De acordo com o autor e filó-
sofo Cortella, a liberdade nos coloca frente a três questões éticas, que, segundo ele,
orientam toda nossa prática cotidiana (a prática implica em escolhas), são elas:

Simulacro:   aquilo que a fantasia cria e que representa um objeto sem realidade; aparência sem
2

realidade. Imitação, fingimento.

O Que é Ética?
30 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 2 - Questões éticas que orientam nossas escolhas
Fonte: a autora.

Anteriormente, comentamos, a partir das considerações de Cortella (2005), que


não existe ninguém sem ética e que, ao falarmos em ética, devemos ter claro que
ela implica em escolhas e liberdade para tal. Logo, vejamos:
Existe alguém sobre quem eu possa dizer que não tem ética? É possí-
vel falar que tal pessoa “não tem ética”? Não, é impossível. Você pode
dizer que ele não tem uma ética como a tua, você pode dizer que ele
tem uma ética com a qual você não concorda, mas é impossível dizer
que alguém não tem ética, porque ética é exatamente o modo como ele
compreende aquelas três grandes questões da vida: devo, posso, quero?
(CORTELLA, 2005, p. 05).

Essas questões éticas se tornam dilemas quando problematizadas e podem ser assim
entendidas: Tem coisa que eu devo, mas não quero, tem coisa que eu quero, mas
não posso, tem coisa que eu posso, mas não devo (cf. CORTELLA, 2005). Os dile-
mas éticos nos acompanham diariamente e o que nos diferencia é a capacidade e
a liberdade de escolha e decisão para sermos éticos. Agora, se o fazemos ou não é
outra história.

FUNDAMENTOS DA ÉTICA
31
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Figura 3 - Questões Éticas e suas Indagações


Fonte: adaptado de Cortella (2013).

Ao analisarmos a figura anterior, vimos que nela se apresentam as 3 questões


éticas que norteiam nossa vida: Quero, Posso e Devo? A partir disso, para enten-
dermos como se dá a ética, e devemos analisar se aquilo que eu quero eu posso
e devo; se aquilo que eu posso, eu quero e devo; se aquilo que eu devo eu posso
e quero (cf. CORTELLA, 2005, p. 5-6). Se, ao se fazer essas perguntas, as respos-
tas forem afirmativas, saberá que estará agindo eticamente.
Podemos entender que o ser humano ético é aquele que é capaz de escolher
valores e ações que o levem a liberdade (bem). A liberdade como capacidade
humana é, portanto, o fundamento da ética. Assim, agir eticamente, em seu
sentido mais profundo, é agir com liberdade, é poder escolher conscientemente
entre alternativas, é ter condições objetivas para criar alternativas e escolhas.
A ética norteia e orienta nossa conduta. Configura-se em um conjunto de
princípios e valores. Para Barroco (2009, p. 169), o que se busca é:
[...] um ser capaz de agir eticamente, quer dizer, dotado de capacida-
des que lhe conferem possibilidades de escolher racional e, conscien-
temente, entre alternativas de valor, de projetar teleologicamente tais
escolhas, de agir de modo a objetivá-las, buscando interferir na reali-
dade social em termos valorativos, de acordo com princípios, valores e
projetos éticos e políticos em condições sócio-históricas determinadas.

O Que é Ética?
32 UNIDADE I

Tertulian (1999, p. 134), ao estudar a ética em Lukács (1978), entendeu que:


A ação ética é um processo de ‘generalização’, de mediação progressiva
entre o primeiro impulso e as determinações externas; a moralidade
torna‐se ação ética no momento em que nasce uma convergência en-
tre o eu e a alteridade, entre a singularidade individual e a totalidade
social. O campo da particularidade exprime justamente esta zona de
mediações onde se inscreve a ação ética.

Sendo a ética uma dimensão da vida social, é constituída pela moral e pela capaci-
dade humana de ser livre. Quando indivíduos sociais organizados, coletivamente,
conseguem superar os entraves à autonomia, à decisão a respeito das normas,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
às escolhas, estamos diante de situações históricas nas quais a liberdade deixa
de ser um valor e uma possibilidade para se transformar em realidade concreta.
A ética é mais ampla e universal durando mais tempo, enquanto a mo-
ral é restrita e funciona em determinados campos da conduta humana
em determinados períodos. A moral nasce da ética e se a ética desce de
sua generalidade e de sua universalidade, fala-se da existência de uma
moral (OLIVEIRA, 2012, p.41).

O General Eurico Gaspar Dutra dizia que a democracia era uma plantinha
frágil, que precisava ser regada diariamente. Pois bem, fazendo uma adap-
tação, a ética também é. Ela é uma plantinha frágil que temos que regar
diariamente, para não deixá-la perder fertilidade. A palavra “ética”, no grego
arcaico, significa “a morada do humano”, o lugar onde nós vivemos juntos e
com os outros e outras partilhamos essa vida. Assim sendo, é preciso que
tenhamos modos, princípios, valores de conduta para que essa convivência
preserve sua integridade. Seja uma família, uma empresa, uma sociedade,
seja um país inteiro.
Revisitar o tema da ética não é fazê-lo até que as pessoas se cansem, mas até
que se convençam da importância de não deixar nossa casa apodrecer e se
deteriorar. Essa casa, em que nos abrigamos, marca-nos e nos dá identidade.
Afinal, nós somos o que fazemos, e não o que pensamos de nós.
E se somos o que fazemos, do ponto de vista ético, como estamos fazendo?
Fonte: Cortella (2013, p.15).

FUNDAMENTOS DA ÉTICA
33

Antes de finalizarmos esta unidade I, preparamos para você um quadro de defi-


nições e características sobre a moral e a ética para auxiliar em seu estudo, você
pode fazer outros se achar necessário, os quadros nos ajudam a sistematizar e
apreender melhor o conhecimento.

MORAL ÉTICA

São aspectos de condutas específicas É princípio


É temporal É permanente
É cultural É universal
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É conduta de regra É regra


É prática É teoria
Quadro 2 - Moral e Ética - diferenças
Fonte: Rosas (online).

MORAL ÉTICA
É o senso subjetivo que todo ser É a parte ou o ramo da filosofia que
humano tem da responsabilidade de estuda a moral, estuda e compara as
suas ações, conforme seus valores e diversas morais existentes, conforme as
contexto cultural da coletividade em mais diversas áreas de atuação do ser
que está inserido. humano.
É a percepção ou senso de direção e
É o ramo da filosofia que estuda e inter-
de conduta individual (ou coletivo),
preta as morais individuais, coletivas,
conforme a formação do indivíduo (ou
sociais e organizacionais.
de uma coletividade).
Quadro 3 - Moral e Ética - definições
Fonte: a autora.

O Que é Ética?
34 UNIDADE I

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Bom, chegamos ao fim da primeira unidade de estudo. O que você achou? Viu
que é possível compreender o texto e, ao mesmo tempo, relacioná-lo com a vida
diária, não é mesmo?
Não podemos nunca esquecer, que acima de tudo, nós também estamos
inseridos nessa sociedade, também somos ou seremos trabalhadores, somos
pessoas, emitimos juízo de valor, julgamos e somos julgados e, também, temos
os nossos conflitos. Como assistentes sociais, precisamos ter clareza dos concei-

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tos e, principalmente, nos conhecermos. Precisamos saber dos nossos limites e
potencialidades, para, assim, termos bagagem para enteder o outro, o sujeito, o
usuário que chegará até nós.
Precisamos, também, ter o entendimento acerca do trabalho como categoria
do ser social quem nos permite saber que somos e quem são os outros, entendi-
mento esse que proporiciona refletir criticamente sobre as mais diversas relações
de trabalho. Além disso, a ética e a moral, se bem entendidos como alicerces que
são para nossa vida em sociedade, nos permitem que não nos tornemos frágeis
e vulneráveis diante de inúmeras situações.
Não deixe de ler a sugestão de leitura complementar, pois é um material
bastante didático, que nos traz alguns conceitos utilizados por todos nós, mui-
tas vezes, inconscientemente.
Também sugiro que você assista aos vídeos indicados no final desta unidade,
pois lhe auxiliarão na compreensão do trabalho, moral e ética aplicadas no nosso
dia a dia. Vale ressaltar que quando, você assistir aos filmes, deve procurar per-
ceber se os conceitos, os valores apresentados foram totalmente abandonados
ou se ainda hoje, sofremos influência das referidas épocas retratadas.
Boa Leitura e bom filme!

FUNDAMENTOS DA ÉTICA
35

1. Vimos nesta unidade que as normas morais podem variar dependendo da cultu-
ra e do período histórico, elas também não são imutáveis e permanentes, o que
essa afirmativa significa? Assinale a alternativa correta:
a. As normas morais não precisam de questionamento, pois refletem a verdade
e a vontade unida do ser humano.
b. Devemos concordar com as normas, pois são elas que nunca devem ser ques-
tionadas.
c. A moral é um conjunto de valores pelos quais as pessoas guiam seus compor-
tamentos e, por isso, está sujeita a mudanças a depender do país e do momen-
to histórico em que as pessoas estão inseridas.
d. Não agimos de forma “moral” se obedecermos às regras que a sociedade es-
tabelece.
2. Analise as afirmações referentes à Moral e Ética.
I – Moral e Ética possuem o mesmo sentido.
II – A Moral é permanente e universal.
III – Ética quer dizer “conduta de regra” e pode variar na sociedade.
IV – Ética é o ramo da filosofia que estuda e interpreta as morais individuais, co-
letivas sociais e organizacionais.
V– A moral é a ferramenta de trabalho da ética.
Agora, marque a opção que apresenta os itens corretos:
a. I e II
b. II e III
c. I, II e V
d. IV e II
e. IV e V
3. Com base nas sentenças a seguir, preencha as cruzadinhas com as respostas cor-
retas:
A. Base ontológica primária da vida social: _______________
B. Constituída pela moral e pela capacidade humana de ser livre: _________
C. Contradição entre o capital x trabalho gera a:______________
D. O trabalho possibilita ao ser humano ______________ a natureza ao realizar
suas atividades pensadas.
E. Orienta a conduta apontando normas e deveres:
F. Significado de teleologia: _______________________

4. O trabalho é um ato consciente, próprio do ser humano, é isso que o diferencia


dos demais animais. De acordo com (BARROCO, 2009, p.168): “Ao desenvolver
sua consciência, o homem evidencia o caráter decisório de sua natureza racio-
nal”. A partir da afirmação anterior e com base no primeiro item desta unidade
,discorra sobre o trabalho como ontologia do ser social.
37

A MORAL
[...]
A moral é o conjunto das regras de conduta admitidas em determinada época ou por
um grupo de pessoas. [...] podemos, provisoriamente, definir a moral como o conjunto
de regras que determinam o comportamento dos indivíduos em um grupo social.
[...]
Em função da adequação ou não à norma estabelecida, o ato será considerado moral
ou imoral.
O comportamento moral varia de acordo com o tempo e o lugar, conforme as exigências
das condições nas quais as pessoas se organizam ao estabelecerem as formas de relacio-
namento e as práticas de trabalho.
À medida que essas relações se alteram, exigem lentas modificações nas normas de
comportamento coletivo. Por exemplo, a Idade Média se caracteriza pelo regime feudal,
baseado na hierarquia de suseranos, vassalos e servos.
O trabalho é garantido pelos servos, possibilitando aos nobres uma vida dedicada ao
ócio e à guerra.
A moral cavalheiresca que daí deriva baseia-se no pressuposto da superioridade da no-
breza, exaltando a virtude da lealdade e da fidelidade – suporte do sistema de suserania
– bem como a coragem do guerreiro. Em contraposição, o trabalho é desvalorizado e
restrito aos servos. Essa situação tende a ser alterada com o aparecimento da burguesia,
a qual, formada pelo antigos servos libertos, valoriza o trabalho e critica a ociosidade.
Caráter pessoal da moral
[...]
Mesmo considerando o caráter histórico e social da moral, é preciso reconhecer que ela
não se reduz à herança dos valores recebidos pela tradição. À medida que a criança se
aproxima da adolescência, aprimorando o pensamento abstrato e a reflexão crítica, ela
tende a colocar em questão os valores herdados.
A ampliação do grau de consciência e de liberdade, e portanto de responsabilidade pes-
soal no comportamento moral, introduz um elemento contraditório que irá, o tempo
todo, angustiar a pessoa, a moral, ao mesmo tempo que é o conjunto de regras que
determina como deve ser o comportamento dos indivíduos do grupo, é também a livre
e consciente aceitação das normas. Isso significa que o ato só é propriamente moral se
passar pelo crivo da aceitação pessoal da norma. A exterioridade da moral contrapõe-se
à necessidade da interioridade, da adesão mais íntima.
Portanto, o ser humano, ao mesmo tempo que é herdeiro, é criador de cultura, e a vida
moral irá se configurar quando, diante da moral constituída, ele for capaz de propor a
moral constituinte, aquela que se realiza a cada experiência vivida.
Nessa perspectiva, a vida moral se funda em ambiguidade fundamental, justamente, a
que determina seu caráter histórico. Toda moral está situada no tempo e reflete o mun-
do em que nossa liberdade se acha situada diante do passado que condiciona nossos
atos, podemos nos colocar a distância para reassumi-lo ou recusá-lo. A historicidade hu-
mana não se expressa pela mera continuidade no tempo, mas se funda na consciência
ativa do futuro, que torna possível a criação original por meio de um projeto de ação
que muda tudo.
Por experiência própria, cada um sabe como isso é penoso, a partir da descoberta de
que normas adequadas em determinado momento tornam-se obsoletas em outro e de-
vem ser alteradas. As contradições entre o velho e o novo são vividas quando as relações
humanas exigem novo código de conduta.
Mesmo quando queremos manter as antigas normas, há situações críticas enfrentadas
devido a especificidades de cada acontecimento. Por isso, a cisão também pode ocorrer
a partir do enredo de cada drama pessoal: a singularidade do ato moral nos coloca em
situações originais em que só o indivíduo livre e responsável é capaz de decidir, sobre-
tudo quando está diante de conflitos morais ou dilemas. Há certas “situações limite”, tão
destacadas pelo existencialismo, em que regra alguma é capaz de orientar a ação. Por
isso é difícil, para as pessoas que estão “do lado de fora”, avaliarem o que deveria ou não
ter sido feito.
Caráter social e pessoal da moral
[...]
O aspecto social é considerado sob dois pontos de vista. Em primeiro lugar, significa
apenas a herança dos valores do grupo, mas, depois de passar pelo crivo da dimensão
pessoal, o social readquire a perspectiva humana e madura que destaca a ênfase na in-
tersubjetividade essencial da moral. Isto é, quando criamos valores, não o fazemos para
nós mesmos, mas como seres sociais que se relacionam com os outros.
Dessa forma, essa flexibilidade não deve ser interpretada como defesa do relativismo
em que todas as formas de conduta são aceitas indistintivamente. O professor José Ar-
thur Gianotti assim se Expressa: “Os direitos do homem, tais como em geral têm sido
enunciados a partir do século XVIII, estipulam condições mínimas do exercício da mora-
lidade. Por certo, cada um não deixará de aferrar-se à sua moral; deve, entretanto, apren-
der a conviver com outras, reconhecer a unilateralidade de seu ponto de vista. E com
isto está obedecendo à sua própria moral de uma maneira especialíssima, tomando os
imperativos categóricos dela como um momento particular do exercício humano de
julgar moralmente”. Desse modo, a moral do bandido e a do ladrão tornam-se repreen-
síveis do ponto de vista da moralidade pública, pois violam o princípio da tolerância e
atingem direitos fundamentais.
Fonte: Aranha (2003, p. 301-303).
39

SISTEMAS CONCEITUAIS FUNDAMENTAIS DA ÉTICA


Egoísmo – é uma das tarefas da ética responder sobre as questões do egoísmo, que é a pre-
ocupação com os interesses de caráter individual ou corporativo, cujo conceito não inclui a
avaliação moral, pois não nos diz se a preocupação com esses interesses é boa ou má.
Altruísmo – a ética responde a esse conceito que deve significar a preocupação com os
interesses do outro, porém, não inclui a avaliação moral, pois não significa que uma ação
altruística é boa ou má.
Moralidade – é um código de valores capaz de guiar a conduta do homem e suas res-
pectivas escolhas e decisões, permitindo julgamento do certo ou do errado, do bem ou
mal.
Bem objetivo – existem teorias sobre o bem subjetivo que dizem ser ele derivado de
uma avaliação dos fatos da realidade em relação ao homem, segundo um padrão racio-
nal de valor, ou seja, validados por um processo de razão. Outras teorias vêm de escolas
do pensamento, que olham o bem como produto da consciência do homem, indepen-
dentemente da realidade e outro independentemente da consciência do homem.
Virtude – na época contemporânea a virtude é vista com certo moralismo antiquado.
Na época clássica, como conceito central. Com base em vários autores poderíamos tra-
duzir por “excelência”. “O que faz com que um ser humano seja de tal modo pleno ou
autêntico é a virtude”.
Solidariedade – é um princípio que se aplica às instituições sociais, a cada pessoa e
a toda organização, no qual os homens devem aprender a viver para os demais e não
somente com os demais. São obras concretas de serviços aos outros.
Subsidiariedade – é um princípio que se volta a respeito das relações entre os níveis
de concentração de poder e os respectivos interesses sociais a serem satisfeitos. Nem o
Estado ou a sociedade deverão substituir a iniciativa e a responsabilidade das pessoas
nos níveis em que eles podem atuar e também destruir o espaço para a sua liberdade.
Cada ser humano deve ser o autor de seu próprio desenvolvimento. A iniciativa é ponto
de partida para qualquer ação humana sob sua responsabilidade individual de edificar
a sociedade em que vive. Para isso, é preciso maior liberdade possível e menor controle.
Participação – é a garantia de liberdade para se constituírem associações honradas que
contribuem com o bem comum, capazes de reconstituir qualquer esfacelamento social
e deficiências produzidas nas relações sociais.
Finalidade – esse conceito está ligado à pratica da moral vivida e à teoria da moral. “A
finalidade significa aqui que o ser humano age para atingir um determinado objetivo
ou fim”. Diferentemente do instinto e do comportamento pré-determinado do animal, o
homem tem a capacidade de introduzir uma indeterminação.
Consciência – é entendida como “capacidade de projetar, diante de si próprio, a representa-
ção do fim proposto e de escolher em função desse fim um meio, ou uma sucessão de meios”.
Consenso – na época contemporânea, muitos filósofos contestam a problemática do
fundamento da moral. Essa situação depende da recusa da metafísica e da impossibili-
dade de impor ao outro ser humano a sua norma de comportamento.
Responsabilidade da ética – a consequência de procurar o consenso é: insistência so-
bre a responsabilidade pessoal e coletiva. Se o conflito entre morais reenvia cada um
para a sua liberdade, a responsabilidade torna-se o fundamento da ética contemporâ-
nea. No entanto, o sentido comum de responsabilidade é o de assumir as consequências
do ato praticado.
Sabedoria/Prudência – é a prudência que permite articular o que caracterizaríamos
como ligação do real com o ideal. A prudência encarna uma proposta de universalidade
ou uma excelência abstrata nas circunstâncias sempre individualizadas da ação.
Norma – Kant trouxe-nos a questão do dever e da obrigação. O que se impõe como for-
ça normativa à consciência moral é a realização do bem. A norma jurídica é a célula do
ordenamento jurídico (corpo sistematizado de regras de conduta, caracterizadas pela
coercitividade e imperatividade). É um imperativo de conduta, que coage os sujeitos a
se comportarem da forma por ela esperada e desejada.
Moralismo – faz referência mais a determinados campos da conduta humana onde a
visão estreita de moralidade deriva para moralismo – equivale a uma espécie de loucura
da ética, quando se perde o sentido geral das coisas para se apegar a certos pontos ou
normas, que são tomados de forma absoluta, sem levar em conta a amplitude, o conjun-
to. Moralismo é a doença da ética.
Eticidade – segundo Hegel, na sua filosofia do direito, a eticidade torna-se diferente
da moralidade em face apenas de uma concepção institucional, mesmo que continue
sendo a realização de atos humanos, oriundos de sua vontade.
Dever prima facie – o dever prima facie é uma obrigação que se deve cumprir, a menos
que ela entre em conflito, em uma situação particular, com um outro dever de igual ou
maior porte.
Metaética – é o estudo dos aspectos lógicos de um discurso ou tratado moral. É o estu-
do do significado dos termos usados no discurso ético. É o tipo de reflexão que analisa o
discurso moral, constituindo uma metalinguagem de caráter pretendidamente neutro
ou não normativo.
Fonte: Oliveira (2012, p.17-19).
MATERIAL COMPLEMENTAR

O Senhor das Armas


Interpretando um traficante de armas, Yuri Orlov (Nicolas Cage) apresenta-se
como um habilidoso empreendedor, enfrentando com rigor e estratégia rivais,
concorrentes e clientes.

Comentário: Um ótimo filme que traz a reflexão acerca das relações humanas,
direitos, valores morais e éticos, ética profissional. Por exemplo: o filme começa
com Yuri Orlov declarando: “Há mais de 550 milhões de armas de fogo em
circulação no mundo. É uma arma para cada doze pessoas no planeta. A única
questão é: Como armamos as outras onze?”.

A Letra Escarlate
A história se passa em Massachussetts, nos anos de 1666. Bay Colony (Demi
Moore) é casada com um médico (Robert Duvall), antes de seu marido mudar
para o local, sua missão era encontrar e preparar um lar para morarem. Contudo,
durante esse tempo sozinha, ela acaba se apaixonando pelo reverendo, paixão
que é retribuída e também proibida/reprimida. Chega, então, a notícia de que o
marido de Bay foi morto pelos índios. Ela então acaba ficando grávida. Mediante os
costumes da época e o fato de ela estar solteira, a comunidade a obriga a revelar
quem seria o pai da criança. Bay se recusa e, então, ela passa a andar com a letra “A”
(de adúltera) em seu vestido, simbolizando sua “vergonha” perante a sociedade.

Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR

Advogado do Diabo
Kevin Lomax (Keanu Reeves) é um jovem advogado na cidade da Flórida (EUA)
e nunca perdeu uma ação, possui uma habilidade em “seduzir” o juri. É então
contratado pela maior empresa de advocacia de Nova York, cujo dono é o estranho
Jonh Milton (Al Pacino). Kevin passa a receber um alto salário, várias mordomias,
com o tempo, sua esposa começa a ter visões e sente saudade da vida antiga.
Conforme o jovem advogado assume mais casos, menos atenção dá à esposa.
Valores são colocados à prova, a ética em cheque.

Em uma de suas palestras, o filósofo e professor Mario Sergio Cortella discorreu sobre a questão
da ética nos dias atuais, em uma linguagem interessante que resolvi compartilhar com você para
que possamos entender a Ética.
O que é ética (Mario Sergio Cortella).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XNpfJwuh0Es>
Professora Esp. Daniela Sikorski

II
UNIDADE
ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender o conceito e a relevância da Ética Profissional.
■■ Conhecer os diversos Códigos de Ética do Assistente Social,
compreendendo o contexto histórico em que foram aprovados.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Ética profissional 
■■ Os Códigos de Ética do Assistente Social no Brasil
45

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a)!
Muito bem, primeira etapa concluída, passemos a segunda.
Quais os resultados que você obteve após o estudo desta primeira unidade?
Quais as indagações, problematizações que você conseguiu obter? É importante
que, após cada unidade de estudo, você elabore um esquema pessoal que lhe
auxiliará na sistematização do conhecimento.
Após refletirmos sobre o trabalho, enquanto categoria ontólogica do ser
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

social, refeltimos também sobre a ética e a moral. Esses três assuntos permearão
o nosso exercício profissional constantemente, uma vez que é impossível dissoci-
á-los do ser humano, nosso usuário. Não somente o trabalho, mas também a ética
e a moral permeiam o nosso dia a dia enquanto cidadão. Dessa maneira, a pri-
meira unidade também propicia-nos uma autorreflexão e um autoconhecimento.
Sendo assim, partiremos para uma unidade muito interessante e bastante
encantadora, pois teremos contato com todos os Códigos de Ética da nossa pro-
fissão. Será possível que você visualize cada um deles e como a profissão foi se
contruindo ao longo das décadas.
O Código de Ética atual, aprovado em 1993, será tratado aqui na unidade II
e, também, na unidade III, para que você tenha possibilidade de se aprofundar
um pouco mais sobre o Código que hoje norteia a nossa profissão, juntamente
com as demais legislações pertinentes.
Antes de adentramos aos Códigos propriamente ditos, faremos uma leitura e
uma compreensão do que venha a ser a Ética Profissional de uma maneira geral
e a sua importância para as categorias profissionais, em seguida, trataremos dos
conceitos de Código de Ética e o que os abrangem.
Uma leitura muito agradável e tranquila, porém cheia de detalhes, por isso,
fique com bastante atenção e, se achar necessário, faça suas anotações separa-
damente, assim, acredito que teremos sucesso.
Grande abraço e ótimo estudo!

Introdução
46 UNIDADE II

ÉTICA PROFISSIONAL

Acompanhamos, no Brasil e no mundo, uma ampla crise ética e nesse


contexto se faz oportuna a reflexão acerca da ética profissional. É
importante dizermos que ela será comprometida, caso a ética pessoal tam-
bém não estiver de acordo. Já vimos anteriormente que a palavra ética3
é oriunda do grego ethos que quer dizer: costumes, a condução da vida; regras
que regem o comportamento humano.
Em uma linguagem bem simples, podemos dizer que a ética é:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 4 – Sobre a Ética


Fonte: adaptado de Franke (2007, p. 04).

A Ética não estabelece regras, mas propõe uma reflexão sobre a ação humana,
sobre sua retidão frente à ordem moral. De acordo com Franke (2007, p. 05),
quando falamos em ética, podemos conceber que de maneira espontânea ela gera:

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


47
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 5 - Ética: Questionamento, Reflexão e Prática


Fonte: adaptado de Franke (2007, p. 03).

Importante! Só haverá ética profissional efetiva se, primeiro, houver uma ética
pessoal efetiva, a primeira não existe efetivamente sem a segunda.
Logo, faz-se necessária a pergunta: quem e quando podemos considerar
um sujeito ético? Podemos considerar sujeito ético todo aquele que se encon-
tra na situação em que há a necessidade de se tomar uma decisão. Ética implica
em responsabilidade!

E a Ética Profissional pode ser definida como?


A reflexão sobre as exigências do profissional em sua relação: com o
cliente/usuário; com o público; com seus colegas; e com sua cor-
poração, com os demais profissionais (DURAND, 2003, p. 85).

E, ainda,
A ética profissional se objetiva como ação moral, por meio da
prática profissional, como normatização de deveres e valores,
por meio do Código de Ética Profissional, como teorização éti-
ca, por meio das filosofias e teorias que fundamentam sua inter-
venção e reflexão e como ação ético-política (BARROCO, 2009,
p. 175).

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Ética Profissional
48 UNIDADE II

A palavra exigência na citação anterior está relacionada ao:

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A ética profissional expressa posicionamento da categoria, seu compromis-


so político, suas escolhas e a forma que se apresenta sua identidade profis-
sional. É sabido, no entanto, que a categoria profissional dos Assistentes So-
ciais é formada por diferentes indivíduos, em que no momento do vínculo
institucional estão em constante processo de formação. Portanto, os confli-
tos éticos existem no seio da categoria, tornando indispensável uma refle-
xão filosófica e política para a consciência crítica do exercício Profissional.
Fonte: Barroco (2005, p. 68).

A ética profissional é a aplicabilidade da ética geral no campo dos exercícios


profissionais; o sujeito tem que estar convicto de princípios e valores ine-
rentes ao ser humano para vivenciá-los no seu processo laboral é um modo
particular de objetivação da vida ética, em que suas particularidades se
inscrevem na relação complexa que legitimam a profissão e a divisão sócio
técnica do trabalho.
Fonte: Farias (2012, p.12).

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


49

Logo, quando pensamos no conjunto de direitos e obrigações de cada profis-


são, e que esses definem a ética profissional, precisamos ter em mente algumas
questões que devem preceder a nossa prática profissional. Questionamentos,
por exemplo, sobre o exercício da profissão que escolhi, no nosso caso
serviço social:
■■ Em que as ações do meu exercício profissional consistem?
■■ Para quem as ações do meu exercício profissional se destinam?
■■ Para que as ações do meu exercício profissional se destinam?
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Tais questionamentos devem ser feitos antes da minha ação, toda essa
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preparação se inicia no processo da formação profissional, como estamos
fazendo agora. Para Oliveira (2012, p. 53):
As leis de cada profissão são elaboradas com o objetivo de proteger os
profissionais, as pessoas que dependem deles. Há, porém muitos aspec-
tos não previstos especificamente e que fazem parte do compromisso
do profissional com a ética, aquele que, independentemente de receber
elogios, faz a coisa certa.

Este momento que estamos vivendo faz parte da sua formação profissional e, com
certeza, as perguntas citadas fizeram parte do momento em que
você estava optando pelo curso de graduação e algo lhe chamou
a atenção no momento da escolha.
O momento de decisão pela escolha de uma profissão é
optativo, ninguém é obrigado a escolher essa ou aquela profis-
são. Contudo, a partir do momento em que decido a profissão
que desejo seguir, o conjunto de deveres profissionais se torna
obrigatório.
A decisão pela escolha da profissão é optativa, seu conjunto ©shutterstock

de deveres é obrigatório!
Pouquíssimas pessoas se interessam em saber em que consiste o conjunto
de deveres da profissão que lhe interessa, geralmente se têm contato com ela na
disciplina de Ética, ministrada ao longo do curso.

Ética Profissional
50 UNIDADE II

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Por que falamos em ética ligada às profissões?


A ética é indispensável ao profissional, porque na ação humana “o fa-
zer” e “o agir” estão interligados. O fazer diz respeito à competência,
à eficiência que todo profissional deve possuir para exercer bem a sua
profissão. O agir se refere à conduta do profissional, ao conjunto de ati-
tudes que deve assumir no desempenho de sua profissão (OLIVEIRA,
2012, p. 51).

Você já teve contato com o Código de Ética do Assistente Social? Sabe quan-
tos Código a profissão já teve?

Quais as características que compõem a Ética Profissional?


De acordo com Glock e Goldin (2003), a ética profissional é composta pelas
seguintes características:

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


51
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 6 - Características que compõem a ética profissional


Fonte: adaptado de Glock e Goldim (2003, p. 2-3).

Ainda se valendo das palavras de Glock e Goldim (2003), vemos além das carac-
terísticas da ética profissional, para que servem as leis de cada profissão? As leis
de cada profissão são elaboradas com o objetivo de proteger os profissionais, a
categoria como um todo e as pessoas que dependem daquele profissional. No
entanto, há muitos aspectos não previstos especificamente e que fazem parte do
comprometimento do profissional em ser eticamente correto, aquele que, inde-
pendente de receber elogios, faz a coisa certa.

Quando começo a seguir o código de ética da minha profissão?


Já no processo do curso, porque vou estudando, conhecendo e tendo contato com
a história da profissão. No estágio, também é muito oportuno, pois é vivência,
experiência e momento de problematizações, que permitem
conhecer o cotidiano profissional de maneira supervisio-
nada e orientada.
Geralmente, quando se é jovem, escolhe-se a carreira sem
conhecer o conjunto de deveres que está prestes a assumir ao se
tornar parte daquela categoria que escolheu. Todo período de
formação profissional, o aprendizado das competências e habi-
lidades referentes à prática específica em uma determinada área,
deve incluir a reflexão, desde antes do início dos estágios práticos.
O juramento caracteriza o aspecto moral da Ética Profissional.
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Ética Profissional
52 UNIDADE II

Você sabe por que, ao encerrar o processo de graduação, o formando faz


um juramento? O juramento geralmente é realizado durante a cerimônia de
colação de grau, significa que a pessoa adere e se compromete com aquela
categoria profissional. E que a partir daquele instante está apta a desempe-
nhar e aceita que o conjunto de deveres e obrigações da profissão é para si
adequado e está de acordo em respeitá-lo.
Fonte: a autora (2016).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Veja a seguir o juramento do Assistente Social:

Comprometo-me a exercer, com dignidade e respeito, a profissão de Assis-


tente Social, buscando ser criativo, humano, sensível e atento às questões
sociais, fazendo da escuta, da observação e da intervenção, hábeis instru-
mentos de trabalho. Comprometo-me a ter como parâmetro de minhas
ações os valores da democracia, liberdade e cidadania, fundamentados no
direito de cada cidadão. Comprometo-me a trabalhar conforme os princí-
pios éticos da profissão, defendendo os direitos e a emancipação da popu-
lação. Comprometo-me a contribuir para a construção de uma sociedade
mais justa, igualitária e menos excludente.

Quadro 4 - Juramento do Assistente Social


Fonte: JURAMENTO (2010, online).

E, então, parou para pensar na relevância de se assumir uma profissão? Consegue


perceber o arcabouço de responsabilidades
que nossa profissão carrega? Não somente o
Serviço Social, mas todas as profissões. Está
disposto a continuar? Espero que sim!
Então, vamos à diante.
Depois de toda essa explanação acerca de
ética, moral, ética profissional, deveres, direi-
tos etc, você pode estar até se perguntando:
mas eu vou aprender tudo sobre ética nesta
disciplina? É aqui que irão ensinar a ser um
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ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


53

profissional ético, todas as referências que necessito aprenderei agora?


Primeiramente, gostaria de salientar que nenhum de nós é uma folha em branco,
isso significa que você já traz consigo uma história de vida que influenciará no
seu exercício profissional, traz consigo princípios e valores próprios e, de acordo
com Barroco (2009, p. 177):
A formação profissional, onde se adquire um dado conhecimento capaz
de fundamentar as escolhas éticas, não é o único referencial profissio-
nal. Somam‐se a ela – ou a ela se contrapõem – as visões de mundo in-
corporadas socialmente pela educação formal e informal, pelos meios
de comunicação, pelas religiões, pelo senso comum. É o conjunto de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tais manifestações culturais e conhecimentos que forma os hábitos e


costumes que a educação formal pode consolidar ou não.

Barroco (1996, p. 216 - 217) acrescenta:


A ética profissional recebe determinações que antecedem a escolha
pela profissão e, inclusive, a influenciam, uma vez que faz parte de uma
socialização primária que tende a reproduzir determinadas configura-
ções éticas dominantes e se repõem cotidianamente por meio de rela-
ções sociais mais amplas. A objetivação da sociabilidade por meio da
participação cívica, pode reforçar ou se contrapor a valores adquiridos
na socialização primária; o mesmo ocorre com a inserção profissional
que coloca escolhas e compromissos éticos: a necessidade de se posi-
cionar em face do significado e das implicações da ação profissional
e responsabilidade diante das escolhas. Assim, a adesão a um deter-
minado Projeto Profissional implica em decisões de valor inseridas
na totalidade dos papéis e atividades que legitima a relação entre o
indivíduo e a sociedade; eles podem ou não estar em concordância.
Se não estão, instituem conflitos éticos, onde as normas e princípios
podem ser reavaliados, negados ou reafirmados, o que revela as es-
colhas, o compromisso e a responsabilidade como categorias éticas
inelimináveis da profissão, mesmo que, em determinadas circunstân-
cias, passam a não ser conscientes para parte dos agentes.

O caráter ético do Serviço Social é dado de forma concreta pela atitude profis-
sional que entendemos como predisposição para pensar, sentir, atuar junto ao
usuário. É uma profissão que, inserida na divisão social e técnica do trabalho,
regulamentada em Lei e fundamentada em seu Código de Ética (1993), defende
a equidade e a justiça social.

Ética Profissional
54 UNIDADE II

Cada profissional ao longo do seu exercício profissional vai construindo a


sua identidade profissional, assim também acontece com a categoria profissio-
nal, com o passar dos anos e o seu amadurecimento o Serviço Social também foi
construindo a sua identidade e isso se reflete no seu Código de Ética.
A categoria profissional se configura em um grupo, que passa a existir a par-
tir das relações estabelecidas entre aqueles que o compõem.
O processo de graduação pelo qual você está passando lhe possibilita a
assimilação de um processo interno da construção da representatividade dessa
identidade profissional, que vai ganhando mais força com o início do estágio.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Esta identidade pressupõe o fazer, as práticas de serviço social que rea-
liza, mas é a aceitação da identidade que força comportamentos, ações
compatíveis com a profissão. É a aceitação que leva a assumir a postura
ética exigida pela profissão. Por isso, a identidade precisa ser continua-
mente re-posta, que significa “agir como”. Comparecer perante o outro
como portador de um papel, mas como representante de si e de um
grupo profissional (FRANKE, 2007, p. 9).

O assistente social deve negar, com sua prática, o errôneo conceito, presen-
te em situações jocosas, de se considerar o profissional como a “moça boazi-
nha, que fala baixinho e que o governo paga para ter dó da gente”. Quantos
anos o Serviço Social foi entendido dentro da perspectiva de uma trabalho
filantrópico ou de caridade? [...]
É necessário distinguir, como profissionais sociais, qual é o limite entre fazer
o bem aos outros e ter um projeto de organização da vida social. No meu
entender, ao discutirmos a Ética, estaremos debatendo também esta ques-
tão, que é a do limite entre o Projeto Político Social, que tem o profissional
de serviço social, e aquilo que se remete apenas a uma ideia romântica de
fazer bem às pessoas.
Claro, é possível coincidir, porque, do contrário, corre-se o risco de uma má
formação profissional. [...] A ética da nossa atividade, nessa relação entre
indivíduo e sociedade, filia-se à compreensão do projeto coletivo. Mas um
projeto coletivo tem de contar as dimensões microssociais da organização
da sociedade, porque, do contrário, trabalharemos na instância do ideal.
Fonte: Cortella (2013, p. 68-70).

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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OS CÓDIGOS DE ÉTICA DO
ASSISTENTE SOCIAL NO BRASIL

Como você está indo até agora? Achando interessante?Adquirindo novos conhe-
cimentos com certeza. Pronto para um pouco mais de história da nossa profissão?
Agora, veremos o percurso percorrido dos Códigos de Ética dos Assistentes
Sociais no Brasil.
Ao conhecer os Códigos de Ética, você aprofundará seus conhecimentos
acerca da história do Serviço Social no Brasil, pois, olhando para a história,
entendemos a nossa realidade e da nossa profissão.
Olhar para os Códigos de Ética nesse momento da sua formação permite
que imaginemos como era a realidade dos assistentes sociais em cada período,
isso é muito interessante.

Mas o que são os Códigos de Ética e como entendê-los?


Os Códigos de Ética são reflexos da própria profissão diante de deter-
minado contexto histórico, representam o posicionamento ético/mo-
ral da categoria nas objetivações do trabalho profissional, a mediação
entre as categorias históricas-sociais-políticas da profissão, com isso, a
própria práxis presente na realidade do Serviço Social ( NETO; NETO;
2013, p. 87)

Podemos também dizer que os Códigos de Ética são instrumentos, então, de


legislação sobre os comportamentos dos profissionais.

Os Códigos de Ética do Assistente Social no Brasil


56 UNIDADE II

Mas o que representam esses Códigos de Ética?


Os Códigos de Ética representam a configuração das normas, moral e
valores da profissão, princípios éticos, diante de determinado contexto
histórico-social, político e econômico; expressam a visão de homem e de
mundo, e assim, a direção social da profissão e de seus trabalhadores. For-
mados por elementos que variam entre princípios, deveres e direito, tais
diretrizes éticas se apresentam de forma transversal no processo de traba-
lho, na relação com a população usuária, as instituições e entre a própria
categoria profissional (CARVALHO NETO, 2013, p. 87, grifo nosso).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Qual a função do Código de Ética na minha profissão?
A função principal de um Código de Ética é começar pela definição dos
princípios que o fundamentam e se articula em torno de dois eixos de
normas: direitos e deveres. Ao definir direitos, o código de ética cum-
pre a função de delimitar o perfil do seu grupo. Ao definir deveres, abre
o grupo à universalidade. A definição de deveres deve ser tal, que por
seu cumprimento, cada membro daquele grupo social realize o ideal de
ser humano (OLIVEIRA, 2012, p. 52-53).

Quais os limites de um Código de Ética?


Um Código de Ética não tem força jurídica de lei universal, porém deveria ter
força simbólica para tal. Embora um Código de Ética possa prever sanções
para os descumprimentos de seus dispositivos, essas dependerão sempre
da existência de uma legislação, que lhe é juridicamente superior, e por ela
limitado. Por essa limitação, o Código de Ética é um instrumento frágil de
regulação dos comportamentos de seus membros.
Essa regulação só será ética quando o Código de Ética for uma convicção
que venha do íntimo das pessoas. Isso aumenta a responsabilidade do pro-
cesso de elaboração do Código de Ética, para que ele tenha a força da legi-
timidade.
Quanto mais democrático e participativo esse processo, maiores as chances
de identificação dos membros do grupo com seu Código de Ética e, em con-
sequência, maiores as chances de sua eficácia.
Fonte: Oliveira (2012, p. 53-54).

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


57

Destacaremos a essência e a materialização dos Códigos de Ética por meio do


exercício profissional, por meio de uma breve análise dos elementos presentes
em cada Código e, ao final de cada item que trata de cada Código, você poderá
ler na íntegra cada um deles.
Vamos lá? Boa leitura!
Para iniciar, saiba que estamos no nosso quinto Código de Ética, como pode-
mos ver na figura a seguir:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 7 - Códigos de Ética do Serviço Social Brasileiro


Fonte: a autora.

O Código de Ética dos Assistentes Sociais de 1947


O primeiro da categoria Código de Ética foi aprovado em 29 de setembro de 1947
pela Associação Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS), em sua primeira década
de existência no Brasil. Esse Código reforça a legitimação do Serviço Social,
enquanto categoria profissional inserida na categoria social e técnica do trabalho.
Ao analisarmos o Código de 1947, percebemos que esse apresentava ape-
nas os deveres do assistente social, a apresentação dos direitos, juntamente,
aos deveres só apareceram no Código de Ética de 1975. Constatamos com isso
que o primeiro Código de Ética tinha características rígidas e coercitivas para
o profissional de Serviço Social.
O primeiro Código de Ética dotava de uma base ideo-política pautada nos
princípios éticos religiosos (sobretudo da igreja Católica), com valores huma-
nistas neotomistas1 e forte influência do positivismo.
A moral e a ética são apresentadas como indissociáveis, dadas como ciência,
direcionadas ao aspecto comportamental, como podemos observar pela ABAS
(1947): “I – Moral ou Ética pode ser conceituada como a ciência dos princípios e
das normas que se devem seguir para fazer o bem e evitar o mal.”
O aspecto comportamental está fortemente marcado nesse Código, marcado,
sobretudo, pelo entendimento da ética e moral naquele período.

1 Neotomista: adepto do Neotomismo.

Os Códigos de Ética do Assistente Social no Brasil


58 UNIDADE II

De acordo com Carvalho Neto (2013, p. 88):


[...] evidenciam-se as décadas de 1930 e 1940, com a efervescência do
capitalismo e o emergir da questão social e suas manifestações e a ori-
gem da profissão, a questão social foi moralizada, ou seja, suas multi-
formas eram consideradas como falta de moral dos sujeitos diante da
ordem social do Estado e o conjunto capitalista positivista determina-
vam para a organização da sociedade. Como também para a Igreja que
via nestes sujeitos uma falta de princípios morais.

Ou seja, nesse período agravam-se os problemas sociais, devido à expansão indus-


trial, muitas famílias estavam chegando aos grandes centros urbanos, gerando

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
um problema social grave. Logo, considerando os princípios e as influências já
citados, o Código de Ética de 1947 apresentava que os indivíduos deviam acei-
tar sua condição como naturalmente dada. No contexto social da época, era
tratada como crime e o ser humano era o responsável pela sua condição socio-
econômica, seja ela qual fosse.
A diferença entre as classes sociais era interpretada como fruto do capita-
lismo, mas sim como algo natural da própria sociedade, e com isso, ambas
as classes deveriam manter um consenso de sua condição dada e assim vi-
verem harmoniosamente, sem conflitos (CARVALHO NETO, 2013, p. 89).

Quanto ao exposto anteriormente, o assistente tinha como um de seus deveres


para com os beneficiários de seus serviços:
I – É dever do Assistente Social: [...] Respeitar no beneficiário do Ser-
viço Social a dignidade da pessoa humana, inspirando-se na caridade
cristã. Deveres Fundamentais: [...] Manter situação ou atitude habitual
de acordo com as leis e bons costumes da comunidade. (ABAS, 1947,
grifo nosso).

Dados os problemas sociais, a intervenção do assistente social seguia a direção


social da Igreja: “recristianizar os sujeitos e readaptá-los à sociedade” (CARVALHO
NETO, 2013, p. 89). Isso se dava porque os “beneficiários” do serviço social neces-
sitavam se adaptar à sociedade, pois pobreza também era tido como um problema
de caráter e alguns ainda pregavam que estar em situação de vulnerabilidade era
uma vontade ou castigo divino.
Essa concepção da época também se refletiu em nosso primeiro Código de
Ética, que traz o Serviço Social como uma profissão que:

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


59

III – (...) não trata apenas de fator material, não se limita à remoção de
um mal físico, ou a uma transação comercial ou monetária: trata com
pessoas humanas desajustadas ou empenhadas no desenvolvimento da
própria personalidade (ABAS,1947).

Quanto aos princípios comportamentais, de acordo com Carvalho Neto (2013),


eram exigidos do assistente social na época:
■■ Boa aparência.
■■ Bons modos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ Atitude discreta frente à realidade.

■■ Ser espelho para o beneficiário do Serviço Social.

Você percebeu que nesse Código de Ética (1947), o sujeito usuário do Servi-
ço Social era tratado e recebia a denominação de BENEFICIÁRIO?

Em uma época em que a profissão era formada predominantemente por mulhe-


res, tais princípios comportamentais eram necessários, pois a figura feminina era
sinônimo de docilidade, obediência e virtudes morais. Para se manter a ordem
social, era significativo que os profissionais fossem dotados de padrões morais.
A caridade cristã era a imagem da intervenção profissional, pois as prá-
ticas profissionais estavam diretamente ligadas às ações sociais da Igreja
Católica. Nessa época (1940) já se instalava um conflito diante das ações
caritativas afirmadas pela Igreja e a militância profissional, essa caracterís-
tica é evidenciada com a inserção do Serviço Social na divisão sociotécnica
do trabalho. Quando as profissionais assumem novos espaços de trabalho,
tornam-se assalariadas e sofrem todo o rebatimento do capitalismo que se
moldava na sociedade brasileira (CARVALHO NETO, 2013, p. 90).

Com a inserção do serviço social em diversos espaços socioassistenciais, um


novo desenho da profissão começava a se desenhar, mas ainda com uma grande
dose assistencialista.

Os Códigos de Ética do Assistente Social no Brasil


60 UNIDADE II

É interessante frizar que neste momento, década de 60, haviam poucos escri-
tos e produção acerca da ética em Serviço Social, sendo assim, no ano de 1962,
a Associação Brasileira das Escolas de Serviço Social (ABESS) publica um mate-
rial chamado Código Moral de Serviço Social, que ainda em muito reflete os
Códigos de Ética dos Assistentes Sociais:
[...] um modelo de polidez e cortesia por seu espírito serviçal espontâ-
neo, seu bom humor e amabilidade, sua linguagem correta e simples,
seu trajar alinhado, rejeitando todo o apuro, seus modos e atitudes dis-
tintas, livres de toda afetação... levará uma vida metódica, tanto quanto
possível sem excesso de fadiga; não se recusará, porém, a sacrificar par-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
te de sua saúde, desde que circunstâncias especialmente graves peçam
um devotamento esgotante (HEYLER apud BARROCO, 2005, p. 123).

Dotado de um conservadorismo moral, como uma forma de “prescrição” orienta


a forma de ser e agir dos assistentes sociais da época e, por favor, caro(a) alu-
no(a), estamos, agora, falando do Código Moral de Serviço Social, e não do
Código de Ética, embora o primeiro o embasasse.
Quanto ao posicionamento frente a determinadas questões, o Manual dizia
que o assistente social:
Defenderá sempre a noção exata de família [...] opor-se-á a todas as
leis, regulamentos, organizações ou serviços que preconizem uma falsa
noção de família, favoreçam sua instabilidade pelo divórcio, tolerem a
infidelidade, imperem sobre a autoridade paterna [...] Será inimigo de
toda prática contrária ao respeito à família e à vida conjugal: o amor
livre, o concubinato, o adultério, a limitação ilícita dos nascimentos, a
inseminação artificial, o aborto direto, o divórcio etc [...]. Combaterá,
por todos os meios legítimos, os fatores nocivos à família; licenciosi-
dade das ruas, dos espetáculos, da má imprensa, o alcoolismo, a tu-
berculose e outras doenças sociais destruidoras da família, o regime
dos casebres, a propaganda imoral, a desorganização do trabalho [...]
(HEYLER apud BARROCO, 2005, p.123).

O Código Moral de Serviço Social prescrevia ainda que o assistente social


deveria abster-se das:
[...] paixões e desejos imoderados de riqueza, gozo, poder, a pregui-
ça e falta de vontade [...] Fora do serviço, as relações selecionadas e
cultivadas em um nível moral digno de sua profissão. Cumpre evitar
a solidão, flertes e companhias suspeitas, o excesso de bebidas fortes,

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


61

diversões licenciosas, mas também a falta de interesse pela atualização


e progresso na própria formação. Os assistentes sociais solteiros não
receberão no domicílio privado a visita particular de agentes casados
não acompanhados de seus cônjuges, e, a fortiori, de agentes solteiros;
igualmente não aceitarão nenhum convite que lhes façam em circuns-
tâncias análogas (HEYLER apud BARROSO, 2005, p. 124).

O que você achou desse Código Moral de Serviço Social?


Lembrando que ele foi lançado em 1962, nessa época estava vigente o primeiro
Código de Ética.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Após essa apresentação do primeiro Código de Ética, como falamos no início


desse item, você poderá ler a seguir, na íntegra o Código de Ética dos Assistentes
Sociais de 1947.
Boa Leitura!

CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES


SOCIAIS 1947

(Aprovado em Assembleia Geral da Associação Brasileira de Assistentes Sociais


(ABAS) – Seção São Paulo, em 29‐IX‐1947)
INTRODUÇÃO
I – Moral ou Ética pode ser conceituada como a ciência dos princípios e das normas
que se devem seguir para fazer o bem e evitar o mal.
II – A moral aplicada a uma determinada profissão recebe o nome de ÉTICA
PROFISSIONAL; relacionada esta com o Serviço Social, pode ser chamada de DE-
ONTOLOGIA DO SERVIÇO SOCIAL
III – A importância da Deontologia do Serviço Social provém do fato de que o Ser-
viço Social não trata apenas de fator material, não se limita à remoção de um mal
físico, ou a uma transação comercial ou monetária: trata com pessoas humanas de-
sajustadas ou empenhadas no desenvolvimento da própria personalidade.
IV – A observância dos princípios da Deontologia do Serviço Social exige, da parte
do Assistente Social, uma segura formação em todos os ramos da Moral.

Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais 1947


62 UNIDADE II

SECÇÃO I
DEVERES FUNDAMENTAIS
É dever do Assistente Social:
1. Cumprir os compromissos assumidos, respeitando a lei de Deus, os direitos natu-
rais do homem, inspirando‐se, sempre em todos seus atos profissionais, no bem
comum e nos dispositivos da lei, tendo em mente o juramento prestado diante
do testemunho de Deus.
2. Guardar rigoroso sigilo, mesmo em depoimentos policiais, sobre o que saiba em
razão do seu ofício.
3. Zelar pelas prerrogativas de seu cargo ou funções e respeitar as de outrem.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
4. Recusar sua colaboração ou tomar qualquer atitude que considere ilegal, injusta
ou imoral.
5. Manter uma atitude honesta, correta, procurando aperfeiçoar sua personalidade
e dignificar a profissão.
6. Levar ao conhecimento do órgão competente da ABAS Seção São Paulo, qual-
quer transgressão deste Código.
7. Manter situação ou atitude habitual de acordo com as leis e bons costumes da
comunidade.
SECÇÃO II
DEVERES PARA COM O BENEFICIÁRIO DO SERVIÇO SOCIAL
I – É dever do Assistente Social
1. Respeitar no beneficiário do Serviço Social a dignidade da pessoa humana, ins-
pirando-se na caridade cristã.
2. Aplicar todo zelo, diligência e recursos da ciência no trabalho a realizar e nunca
abandonar um trabalho iniciado, sem justo motivo.
II – Não é permitido ao Assistente Social
Aceitar remuneração de um beneficiário de uma organização, por serviços presta-
dos em nome desta.
SECÇÃO III
DEVERES PARA COM OS COLEGAS
I – É dever do Assistente Social
1. Tratar os colegas com perfeita cortesia, evitando fazer quaisquer alusões ou co-
mentários desairosos sobre sua conduta na vida privada e profissional.

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


63

2. Abster‐se de discutir em público sobre assunto de interesse exclusivo e reserva-


do da classe.
II – Não é permitido ao Assistente Social
1. Pronunciar‐se sobre serviço confiado a outro Assistente Social, ainda que tenha
em vista o bem do Serviço Social, sem conhecer os fundamentos da opinião da-
quele, e sem contar com seu expresso consentimento.
2. Aceitar funções ou encargos anteriormente confiados a um Assistente Social
sem antes procurar informar‐se da razão da dispensa deste, de sorte a não acei-
tar a substituição desde que esta implique em desmerecimento para a classe.
SECÇÃO IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

DEVERES PARA COM A ORGANIZAÇÃO ONDE TRABALHA


I – É dever do Assistente Social
1. Pautar suas atividades por critério justo e honesto, empregando todo o esforço
em prol da dignidade e elevação das funções exercidas.
2. Tratar os superiores com respeito, o que não implica restrição de sua indepen-
dência quanto às suas atribuições em matéria específica de Serviço Social.
II – Não é permitido ao Assistente Social
1. Alterar ou deturpar intencionalmente depoimentos, documentos, relatórios e
informes de natureza vária, para iludir seus superiores ou quaisquer outros fins.
2. Valer‐se da influência do seu cargo para usufruir, ilicitamente, vantagens de or-
dem moral ou material.
3. Prevalecer‐se de sua situação para melhoria de proventos próprios em detri-
mento de outrem.
4. Prejudicar a execução de tarefas reclamadas pela natureza do seu cargo, ocu-
pando‐se de assuntos estranhos ao mesmo durante as horas de serviço.
SECÇÃO V
DISPOSIÇÕES GERAIS
1. Qualquer alteração no presente Código somente poderá ser feita em assembleia
geral da ABAS, Secção São Paulo, especialmente convocada para esse fim.
2. O presente Código entrará em vigor na data de sua públicação.
Fonte: CÓDIGO... (1947, online).

Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais 1947


64 UNIDADE II

O CÓDIGO DE ÉTICA DE 1965

O segundo Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais foi aprovado no


dia 08 de maio de 1965, pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS).
A década de 60 no Brasil foi marcada por muitos acontecimentos e trans-
formações tanto de ordem social quanto política e econômica. Nessa realidade
de transformações, no Serviço Social também denotamos algumas delas, como
veremos no decorrer do texto.
Neste contexto assinalado por uma transformação relevante diante do

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
papel da mulher na sociedade, das acentuadas manifestações sociais re-
flexos do despertar da sociedade latino-americana no cenário político,
o Serviço Social engendra uma possibilidade de mudança marcada por
uma nova postura, o despertar de uma consciência crítica, que será o
eixo condutor da profissão para o processo de renovação (CARVALHO
NETO, 2013, p. 91).

O Código de 1965 apresenta mudanças, contudo ainda apresenta sinais tradi-


cionalistas e conservadores, como no Código anterior, de 1947. O viés religioso
ainda se faz presente neste Código, pois,
[...] ao assumir que as condições materiais do homem estão re-
lacionadas ao destino e não as transformações societárias, além
de reafirmar o bem comum, o que leva a naturalizar a realidade e
as contradições presentes naquele contexto (CARVALHO NETO,
2013, p. 92).

A ética tradicional, pois, presente tanto no documento de 1947


quanto no Código de 1965, era apenas de caráter controlador e
normativo, consistindo o código de ética em um instrumento
essencialmente corporativo, que empreende por meios legais, a
adequação da prática profissional ao estabelecido, de forma co-
nectada ao coroamento filosófico da defesa do status quo (BRI-
©shutterstock
TES; SALES, 2000, p. 29-30).

Contudo, inovações começam a aparecer nesse novo Código, trazendo um repen-


sar do exercício profissional, dado um período de muitas mobilizações políticas
populares, também contamos com um novo papel da mulher nesta sociedade.
O Serviço Social começa a assumir um novo posicionamento, uma nova pos-
tura, mais crítica, levando assim ao que chamamos na profissão de processo de
renovação, perspectiva modernizadora (NETTO, 2005).

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


65

Aparece nesse Código, pela primeira vez, o reconhecimento pela diversidade:


“Um Código de Ética se destina a profissionais de diferentes credos e princípios
filosóficos, devendo ser aplicável a todos” (CFAS, 1965).
Também apresentando elementos relacionado a dignidade humana:
Dos deveres fundamentais
Art. 4° O assistente social no desempenho das tarefas inerentes a sua
profissão deve respeitar a dignidade da pessoa humana que, por sua
natureza é um ser inteligente e livre.

Art. 5° No exercício de sua profissão, o assistente social tem o dever de


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

respeitar as posições filosóficas, políticas e religiosas daqueles a quem


se destina sua atividade, prestando‐lhes os serviços que lhe são devidos,
tendo‐se em vista o princípio de autodeterminação (CFAS, 1965).

Diferente do Código de Ética de 1947, o sujeito usuário do Serviço Social era


tratado e recebia a denominação de Cliente.

Mesmo estando em meio ao início da Ditadura Civil-Militar no Brasil, o Código


de Ética de 1965 apresenta, em seus deveres fundamentais, que a ação do assistente
social deve se dar a partir dos princípios democráticos. Isso também evidencia o
gradativo afastamento de uma ação pautada e decorrente do compromisso reli-
gioso (explícito no Código de 1947), porém não rompe totalmente com a visão
tradicional, sendo reforçado que o profissional deveria zelar pelo perfil ético,
sendo a moral um alicerce da ação profissional, como podemos analisar a seguir:
Art. 37° Todo assistente social, mesmo fora do exercício de sua profis-
são, deverá abster‐se de qualquer ação que possa desaboná‐lo, procu-
rando firmar sua conduta pessoal por elevado padrão ético, contribuin-
do para bom conceito da profissão (CFAS, 1965).

Mesmo considerando algumas inovações trazidas pelo novo Código de Ética,


percebemos um viés tradicional forte ainda presente, é um processo que começa
a ser percorrido, para que possamos chegar ao Código de 1993 (vigente até os
dias atuais).
A seguir, você poderá se inteirar e conhecer o Código de Ética do Assistente
Social de 1965.

Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais 1947


66 UNIDADE II

CÓDIGO DE ETICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE


SOCIAL

(APROVADO A 8 DE MAIO DE 1965)


INTRODUÇÃO
Considerando que:
A formação da consciência profissional é fator essencial em
qualquer profissão e que um Código de Ética constitui
valioso instrumento de apoio e orientação para os As-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sistentes Sociais;
O Serviço Social adquire no mundo atual uma am-
plitude técnica e científica, impondo aos membros
da profissão maiores encargos e responsabilidades;
Só à luz de uma concepção de vida, baseada na
natureza e destino do homem, poderá de fato o
Serviço Social desempenhar a tarefa que lhe cabe
na complexidade do mundo moderno;
Um Código de Ética se destina a profissionais de di-
ferentes credos e princípios filosóficos, devendo ser ©shutterstock
aplicável a todos.
O Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS), no uso suas atribuições conferidas
pelo item IV art. 9° do Regulamento aprovado pelo Decreto 994 de 15 de maio de
1962, resolve aprovar o Código de Ética alicerçado nos direitos fundamentais do
homem e as exigências do bem comum, princípios estes reconhecidos pela própria
filosofia do Serviço Social.
CAPÍTULO I
Da profissão
Art. 1° O Serviço Social constitui o objeto da profissão liberal de assistente social, de
natureza técnica ‐ cientifica e cujo exercício é regulado em todo o território nacional
pela Lei n° 3.252 de 27‐08‐1957, cujo Regulamento foi aprovado pelo Decreto n°
994, de 15/05/1962.
Art. 2° O assistente social, no desempenho da profissão, é obrigado a respeitar as exi-
gências previstas na legislação que lhe é específica, inclusive as contidas neste Código.
Art. 3° Ao Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e aos Conselhos Regionais
de Assistentes Sociais (CRAS), órgãos criados para orientar, disciplinar e fiscalizar o
exercício da profissão e do presente Código.

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


67

CAPÍTULO II
Dos deveres fundamentais
Art. 4° O assistente social no desempenho das tarefas inerentes a sua profissão deve
respeitar a dignidade da pessoa humana que, por sua natureza é um ser inteligente
e livre.
Art. 5° No exercício de sua profissão, o assistente social tem o dever de respeitar as
posições filosóficas, políticas e religiosas daqueles a quem se destina sua atividade,
prestando‐lhes os serviços que lhe são devidos, tendo‐se em vista o princípio de
autodeterminação.
Art. 6° O assistente social deve zelar pela família, grupo natural para o desenvolvi-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mento da pessoa humana e base essencial da sociedade, defendendo a prioridade


dos seus direitos e encorajando as medidas que favoreçam a sua estabilidade e in-
tegridade.
Art. 7° Ao assistente social cumpre contribuir para o bem comum, esforçando‐se
para que o maior número de criaturas humanas dele se beneficiem, capacitando
indivíduos, grupos e comunidades para sua melhor integração social.
Art. 8° O assistente social deve colaborar com os poderes públicos na preservação
do bem comum e dos direitos individuais, dentro dos princípios democráticos, lu-
tando inclusive para o estabelecimento de uma ordem social justa.
Art. 9° O assistente social estimulará a participação individual, grupal e comunitária
no processo de desenvolvimento, propugnando pela correção dos desníveis sociais.
Art. 10° O assistente social no cumprimento de seus deveres cívicos colaborará nos
programas nacionais e internacionais, que se destinem a atender às reais necessida-
des de melhoria das condições de vida para a sua pátria e para humanidade.
Art. 11° Ao assistente social cumpre respeitar a justiça em todas as suas formas: co-
mutativa, distributiva e social, lutando para o seu fiel cumprimento, dentro dos prin-
cípios de fraternidade no plano nacional e internacional.
Art. 12° O assistente social, conforme estabelecem os princípios éticos e a Lei penal,
deve pautar toda a sua vida profissional condicionalmente pela verdade.
Art. 13° O assistente social no exercício de sua profissão deve aperfeiçoar sempre
seus conhecimentos, incentivando o progresso, atualização e difusão do Serviço
Social.
Art. 14° O assistente social tem o dever de respeitar as normas éticas das outras pro-
fissões, exigidos, outrossim, respeito àquelas relativas ao Serviço Social, quer atuan-
do individualmente ou em equipes.

Código de Etica Profissional do Assistente Social


68 UNIDADE II

CAPÍTULO III
Do segredo profissional
Art. 15° O assistente social é obrigado pela Ética e pela Lei (art. 154 do Código Penal)
a guardar segredos sobre todas as confidências recebidas e fatos de que tenha co-
nhecimento ou haja observado no exercício de sua atividade profissional, obrigan-
do‐se a exigir o mesmo segredo de todos os seus colaboradores.
§1° Tendo‐se em vista exclusivamente impedir um mal maior, será admissível a reve-
lação do segredo profissional para evitar um dano grave, injusto e atual ao próprio
cliente, ao assistente social, a terceiros e ao bem comum.
§2° A revelação só será feita, após terem sido empregados todos os recursos e todos

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
os esforços, para que o próprio cliente se disponha a revelá‐lo.
§3° A revelação será feita dentro do estrito necessário o mais discretamente possí-
vel, quer em relação ao assunto revelado, quer em relação ao grau e ao número de
pessoas que dele devam tomar conhecimento.
Art. 16° Além do segredo profissional, ao qual está moral e legalmente sujeito, o as-
sistente social deve guardar discrição no que concerne ao exercício de sua profissão,
sobretudo quanto à intimidade das vidas particulares, dos lares e das instituições
onde trabalhe.
Art. 17° O assistente social não se obriga a depor como testemunha, sobre fatos de
que tenha conhecimento profissional, mas intimado a prestar depoimento, deverá
comparecer perante à autoridade competente para declarar‐lhe que está ligado à
obrigação do segredo profissional, de acordo com o art. 144 do Código Civil.
CAPÍTULO IV
Dos deveres para com as pessoas, grupos e comunidades
atingidos pelo serviço social
Art. 18° O respeito pela pessoa humana, considerado nos arts. 4° e 5° deste Código,
deve nortear a atuação do assistente social, mesmo que esta atitude reduza a eficá-
cia imediata da ação.
Art. 19° O assistente social, em seu trabalho junto aos clientes, grupos e comunida-
des, deve ter o sentido de justiça, empregando o máximo de seus conhecimentos
e o melhor de sua capacidade profissional, para a solução dos vários problemas so-
ciais.
Art. 20° A ação do assistente social será perseverante, a despeito das dificuldades
encontradas, não abandonando nenhum trabalho sem justo motivo.
Art. 21° O assistente social esforçar‐se‐á para que seja mantido um bom entrosamento
entre as agências de Serviço Social e demais obras ou serviços da comunidade, com
o objetivo de assegurar mútua compreensão e eficiente colaboração.

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


69

§ único - As críticas construtivas que contribuam para o aperfeiçoamento do Serviço


Social e entendimento crescente entre as obras, poderão ser feitas pertinentemente
e com discrição.
Art. 22° O assistente social deve interessar‐se por todos os grandes problemas so-
ciais da comunidade, dentro de uma perspectiva da realidade brasileira, colabo-
rando com seus recursos pessoais e técnicos, para o desenvolvimento solidário e
harmônico do país.
CAPÍTULO V
Dos deveres para com os serviços empregadores
Art. 23° O assistente social, profissional liberal, tecnicamente independente na exe-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

cução de seu trabalho, se obriga a prestar contas e seguir diretrizes, emanadas do


seu chefe hierárquico, observando as normas administrativas da entidade que o
emprega.
Art. 24° O assistente social tem por dever tratar superiores, colegas e subordinados
hierárquicos com o respeito e cortesia devidos, usando discrição, lealdade e justiça
no convívio que as obrigações do trabalho impõem.
Art. 25° O assistente social deve zelar pelo bom nome da entidade que o emprega,
prestando‐lhe todo esforço para que a mesma alcance com êxito seus legítimos ob-
jetivos.
Art. 26° O assistente social zelará para que seja mantida em seus serviços perfeita
organização, fator valioso de eficiência e produtividade, sem, contudo burocratizar
suas funções.
Art. 27° O assistente social deve ser pontual e assíduo no cumprimento de seus de-
veres para com a entidade, jamais relegando o seu trabalho para ocupar‐se de as-
suntos estranhos à natureza do seu cargo.
Art. 28° O assistente social exercerá suas funções com honestidade, obedecendo
rigorosamente aos preceitos éticos e às legítimas exigências da entidade, não se
prevalecendo de sua situação para obter vantagens.
CAPÍTULO VI
Dos deveres para com os colegas
Art. 29° O assistente social deve ter uma atitude leal, de solidariedade e considera-
ção a seus colegas, abstendo‐se de críticas e quaisquer atos suscetíveis de prejudi-
cá‐los, observando os deveres de ajuda mútua profissional.
§ único - O espírito de solidariedade não poderá, entretanto, induzir o assistente
social a ser conivente com o erro, ou deixar de combater por meio de processos
adequados os atos que infrinjam os princípios éticos e os dispositivos legais que
regulam o exercício da profissão.

Código de Etica Profissional do Assistente Social


70 UNIDADE II

Art. 30° O assistente social não aceitará cargo ou função anteriormente ocupados
por um colega, cuja desistência tenha ocorrido por razões de ética profissional, pre-
vistas no presente Código, desde que mantidas as razões determinantes do afasta-
mento.
CAPÍTULO VII
Das associações de classe
Art. 31° O assistente social deve colaborar com os órgãos representativos de sua
classe, zelando pelas suas prerrogativas, no sentido de um aperfeiçoamento cada
vez maior do Serviço Social e dignificação da profissão.
§ único - O assistente social não deve excusar‐se sem justa causa, de prestar aos

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
órgãos de classe qualquer colaboração solicitada no âmbito profissional.
Art. 32° É dever de todo assistente social representar, junto aos órgãos de classe,
sobre assunto de interesse profissional geral ou pessoal e do bem comum.
CAPÍTULO VIII
Do trabalho em equipe
Art. 33° O assistente social deve exercer as suas funções na equipe com imparciali-
dade, independente de sua posição hierárquica.
Art. 34° O trabalho em equipe não diminui a responsabilidade de cada profissional
pelos seus atos e funções, devendo, na sua atuação, colaborar para o êxito do tra-
balho em comum.
CAPÍTULO IX
Da responsabilidade e da preservação da dignidade profissional
Art. 35° O assistente social responderá civil e penalmente por atos profissionais da-
nosos a que tenha dado causa no exercício de sua profissão, por ignorância culpá-
vel, omissão, imprudência, negligência, colaboração ou má fé.
Art. 36° Além do respeito às disposições legais, a responsabilidade moral deve ser
o alicerce em que se assentará o trabalho do assistente social, pois na consciência
reta estará a maior garantia do respeito e exercício dos direitos individuais e sociais.
Art. 37° Todo assistente social, mesmo fora do exercício de sua profissão, deverá
abster‐se de qualquer ação que possa desaboná‐lo, procurando firmar sua conduta
pessoal por elevado padrão ético, contribuindo para bom conceito da profissão.
Art. 38° É de responsabilidade do assistente social zelar pelas prerrogativas de seu
cargo ou funções, bem como respeitar as de outrem.

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


71

CAPÍTULO X
Da aplicação e observância do código
Art. 39° Todos os que exercem a profissão de assistente social têm o dever de acatar
as decisões deste Código, e ao inscreverem‐se no respectivo Conselho Regional de
Assistentes Sociais (CRAS), deverão declarar conhecê‐lo, comprometendo‐se, por
escrito, a respeitá‐lo.
Art. 40° Compete aos Conselhos Regionais de Assistentes Sociais em primeira ins-
tância, a apuração de faltas cometidas contra este Código, bem como, a aplicação de
penalidades, cabendo recursos ao Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS),
conforme estabelecem os arts. 9° e 12° do Regulamento aprovado pelo Decreto n°
994, 15/05/1962.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Art. 41° Os infratores ao presente Código estão sujeitos às seguintes medidas disci-
plinares:
a. Advertência confidencial;
b. Censura confidencial;
c. Censura pública;
d. Suspensão do exercício da profissão;
e. Cassação do exercício profissional.
Art. 42° Os processos relativos às infrações do presente Código obedecerão ao dis-
posto no Regimento Interno do Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) (cap.
IV – art. 13° a 17°) e as normas contidas em “Instruções” especialmente baixadas pelo
Conselho para este fim.
Art. 43° É dever de todos os assistentes sociais zelar pela observância das normas
contidas neste Código, dar conhecimento no Conselho Regional de Assistentes So-
ciais (CRAS) da respectiva Região, com princípios éticos nele contidos.
§ único - Em caso de dúvida sobre o enquadramento de determinado fato nos prin-
cípios contidos neste Código, o assistente social poderá formular ao respectivo Con-
selho Regional de Assistentes Sociais (CRAS) consulta que, não assumindo caráter
de denúncia, incorrerá nas mesmas exigências de discrição e fundamentação.
CAPÍTULO XI
Das disposições gerais
Art. 44° Caberá ao Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) qualquer altera-
ção do presente Código, consultando os Conselhos Regionais de Assistentes Sociais
(CRAS), competindo, ainda àquele órgão, como Tribunal Superior de Ética Profissio-
nal, firmar jurisprudência na aplicação do mesmo e ainda nos casos omissos.

Código de Etica Profissional do Assistente Social


72 UNIDADE II

Art. 45° Caberá ao Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e aos Conselhos
Regionais de Assistentes Sociais (CRAS) promoverem a mais ampla divulgação deste
Código, de modo que seja do pleno conhecimento de entidades nas quais se desen-
volvam programas de Serviço Social.
Art. 46° O presente Código entrará em vigor na data de sua públicação.
Rio de Janeiro, 8 de maio de 1965.
Fonte: CÓDIGO... (1965, online).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O CÓDIGO DE ÉTICA DE 1975

O Código de Ética dos Assistentes Sociais de 1975 foi aprovado em 30 de janeiro.


Esse Código é tido por alguns como um retrocesso para a profissão, pois exclui
princípios como a democracia e o pluralismo.
Para Brites e Sales (2000, p. 34-35):
No Código de Ética de 1975, aprofundaram-se, sobretudo, os vínculos
teóricos metodológicos do Serviço Social com o estrutural-funciona-
lismo, expressando o adensamento da lógica racionalista, cientificista,
asséptica e a histórica, como parâmetros técnico-operativos ao desen-
cadeamento da prática profissional.

O momento histórico apresentava-se com um:


Estado ditatória que se apresentava estruturado a partir de uma arti-
culação político-militar que engendra caminhos e descaminhos, rom-
pendo as possibilidades democráticas de um Estado de direito. E de
outro lado a população que se organiza em grupos, fazendo das ma-
nifestações sociais a arena para vozes reprimidas diante da coerção, a
censura e outras faces de violências. [...] vivenciava-se neste contexto
um Estado interventor, coercivo e que buscava organizar a sociedade
utilizando todos os caminhos necessários, inclusive as profissões [...]
(CARVALHO NETO, 2013, p. 95).

Nesse período, o Estado interviu sobre toda e qualquer iniciativa de manifesta-


ção social no país, sob a alegação de que isso degradava a sociedade e sua moral.
Diante de novas perspectivas teóricas, aparece pela primeira vez a questão
dos direitos e não somente deveres em nosso Código de Ética. O sujeito usuário

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


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ainda é atendido sob a nomenclatura de cliente, como no Código anterior, e, de


acordo com Barroco (2006), as ações profissionais se encontravam ainda subor-
dinadas aos juízos de valor do profissional, aquele que julga, encaminha a solução
dos problemas segundo avaliações subjetivas e abstratas.
Nessa conjuntura, uma parte da categoria profissional se atinha a práti-
cas conservadoras, com pressupostos morais e éticos tradicionais, outra parte da
categoria se empenhava em debates teóricos críticos além dos muros acadêmicos.
O contexto histórico que se promulga esse código era marcado por em-
bates políticos e ideológicos, que para a profissão expressou o momen-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

to de levar adiante uma tentativa de romper com as amarras postas por


um Estado ditador, que ao final da década de 1970 encontrava-se em
crise, e de uma camada profissional que buscava reviver os conceitos
tradicionalistas que estiveram (e ainda estão) no cerne da profissão.
(CARVALHO NETO, 2013, p.97)

Ainda de acordo com Barroco (2006), os códigos de ética se apresentam também


como produto histórico, e o código de 1975 já não expressava mais a tendência
modernizadora que se evidenciou no código de 1965.

CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE


SOCIAL

(APROVADO EM 30 DE JANEIRO DE 1975)


INTRODUÇÃO AO CÓDIGO DE ÉTICA PRO-
FISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL
A regulamentação do exercício de determina-
da profissão pressupõe:
1. Tratar‐se de profissão organizada;
2. Interessar à defesa da sociedade.
Constitui ponto pacífico exigir‐se que uma
profissão satisfaça os seguintes requisitos es-
senciais:
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Código de Ética Profissional do Assistente Social


74 UNIDADE II

Conjunto de conhecimentos organizados, constantemente ampliado e aprimorado,


e de técnicas especiais baseadas no mesmo;
1. Facilidade de formação sistemática nesse conjunto e em suas aplicações práti-
cas;
2. Identificação da profissão e qualificação para ingresso;
3. Agremiação constituída de número apreciável de membros credenciados para o
exercício profissional, e capaz de influir na manutenção de padrões convenien-
tes;
4. Código de ética profissional.
Regulamentar uma profissão antes de corresponder aos reclamos da classe,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
atende ao mais elevado e marcante interesse social.
Exigências do bem comum legitimam, com efeito, a ação disciplinadora do Estado,
conferindo‐lhe o direito de dispor sobre as atividades profissionais – formas de vin-
culação do homem à ordem social, expressões concretas de participação efetiva na
vida da sociedade.
As profissões envolvem ingredientes indispensáveis à composição de o bem total
humano, encerram valores sociais inestimáveis, como honestidade e verdade. A
profissão é mais do que um trabalho orientado para a subsistência dos que a exer-
cem: é um dos fundamentos da estruturação da sociedade de sua organização em
uma diversidade de grêmios profissional representa valioso instrumento de defesa
social.
Em síntese, na dialética homem‐sociedade deve assegurar‐se mais ser do Homem,
a partir de:
■■ Subsistência digna;
■■ Direito a um “status” social;
■■ Direito de associação;
■■ Direito de intervenções pertinentes; e, por outro lado, salvaguardar‐se o bem
da sociedade;
■■ De busca de valores que respondem às exigências do dever;
■■ De legislação fiel ao interesse geral;
■■ De instituições adequadas ao meio social;

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


75

■■ De oferecimento de condições de vida humana digna, atendendo a aspec-


tos curativos e preventivos;

■■ De composição do bem total humano.

Esta, a essência de um Código de Ética Profissional, garantia de respeito aos direitos


humanos e de fidelidade ao interesse social.
Em nosso país, os requisitos inicialmente referidos e essência ora aludida são evi-
denciados no tocante à profissão do assistente social. O Código, a estruturação legal
e a probidade técnico-científica constituem a trilogia sobre a qual se assenta a reali-
zação do Assistente Social, como profissional.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O valor central que serve de fundamento ao Serviço Social é a pessoa humana. Re-
veste‐se de essencial importância uma concepção personalista que permita ver a
pessoa humana como o centro, objeto e fim da vida social.
Dois valores são essenciais à plena realização da pessoa humana:
■■ Bem comum considerado como conjunto das condições materiais e morais
concretas nas quais cada cidadão poderá viver humana e livremente;
■■ Justiça social, que compreende tanto o que os membros devem ao bem
comum, como o que a comunidade deve aos particulares em razão desse bem.

É fora de dúvida que a comunidade profissional é daquelas formas sociais que são
conaturais, coessenciais ao homem, e condicionantes de um certo desenvolvimen-
to histórico da civilização.
Os postulados versados nesta Introdução justificam por que o Serviço Social, no
dinamismo de sua atuação, exige contínua referência aos princípios de:
I. Autodeterminação – que possibilita a cada pessoa, física ou jurídica, o agir res-
ponsável, ou seja, o livre exercício da capacidade de escolha e decisão;
II. Participação – que é presença, cooperação, solidariedade ativa e corresponsa-
bilidade de cada um, nos mais diversificados grupos que a convivência humana
possa exigir;
III. Subsidiariedade – que é elemento regulador das relações entre os indivíduos,
instituições ou comunidades, nos diversos planos de integração social.
Com base nestes princípios e naqueles valores axiais, explicitam‐se direitos e deve-
res do Assistente Social, no Código de Ética Profissional.

Código de Ética Profissional do Assistente Social


76 UNIDADE II

CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL

TÍTULO I
Disposições gerais
Art. 1° O Assistente Social, no exercício da profissão, está obrigado à observância do
presente Código, bem como a fazê‐lo cumprir.
Art. 2° O Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e os Conselhos Regionais
de Assistentes Sociais (CRAS) promoverão a mais ampla divulgação deste Código.
Art. 3° Compete ao Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS):

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
I. Introduzir alteração neste Código, consultados os Conselhos Regionais;
II. Como Tribunal Superior de Ética Profissional, firmar jurisprudência na aplicação
deste Código e nos casos omissos.
TÍTULO II
Direitos e deveres do assistente social
CAPÍTULO I
Dos direitos
Art. 4° São direitos do Assistente Social:
I. Com relação ao exercício profissional:
a. Desempenho das atividades inerentes à profissão;
b. Desagravo público por ofensa que atinja sua honra profissional;
c. Proteção à confidencialidade do cliente;
d. Sigilo profissional;
e. Inviolabilidade do domicílio do consultório, dos locais de trabalho e respecti-
vos arquivos;
f. Livre acesso ao cliente;
g. Contratação de honorários segundo normas regulamentares;
h. Representação ao Conselho Regional de Assistentes Sociais (CRAS) com juris-
dição sobre a sede de suas atividades.
II. Com relação ao “status” profissional:

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


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a. Reconhecimento do Serviço Social como profissão liberal, incluída entre as de


nível universitário;
b. Garantia das prerrogativas da profissão, e de defesa do que lhe é privativo;
c. Acesso às oportunidades de aprimoramento da formação profissional.
CAPÍTULO II
Dos deveres
Art. 5° São deveres do Assistente Social:
I. No exercício profissional:
a. Obedecer aos preceitos da Lei e da Ética;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

b. Desempenhar sua atividade com zelo, diligência e consciência da própria res-


ponsabilidade;
c. Reconhecer que o trabalho coletivo ou em equipe não diminui a responsabili-
dade de cada profissional pelos seus atos e funções;
d. Abster‐se de atos ou manifestações incompatíveis com a dignidade da profis-
são;
e. Defender a profissão por meio de suas entidades representativas;
f. Incentivar o progresso, a atualização e a difusão do Serviço Social e zelar pelo
aperfeiçoamento de suas instituições.
g. Respeitar as normas éticas das outras profissões quer atue individualmente ou
em equipe;
h. Aperfeiçoar seus conhecimentos.
II. Nas relações com o cliente:
a. Utilizar ao máximo de seus esforços, zelo e capacidade profissional em favor
ao cliente;
b. Esclarecer o cliente quanto ao diagnóstico, prognóstico, plano e objetivos do
tratamento, prestando à família ou aos responsáveis os esclarecimentos que
se fizerem necessários.
III. Nas relações com os colegas:
a. Tratar os colegas com lealdade, solidariedade e apreço, auxiliando‐se no cum-
primento dos respectivos deveres e contribuindo para a harmonia e o prestí-
gio da profissão;
b. Distinguir a solidariedade da conivência com o erro combatê‐lo em face dos
postulados éticos e da legislação profissional vigente;

Código de Ética Profissional do Assistente Social


78 UNIDADE II

c. Respeitar os cargos e funções dos colegas;


d. Recusar cargo ou função anteriormente ocupado por colega, cuja desistência
tenha sido devida a razão, não sanada, de ética profissional prevista neste Có-
digo;
e. Pautar suas relações com colegas hierarquicamente superiores ou subordina-
dos, pelo presente Código, exigindo a fiel observância de seus preceitos e res-
peitando seus legítimos direitos;
f. Prestar aos colegas, quando solicitado, orientação técnica.
IV. Nas relações com entidades de classe:
a. Prestar colaboração de ordem moral, intelectual e material às entidades de

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
classe;
b. Aceitar e desempenhar função, com interesse e responsabilidade, nas entida-
des de classe, salvo circunstâncias especiais que justifiquem sua recusa;
c. Representar perante os órgãos competentes sobre irregularidades ocorridas
na administração das entidades de classe;
d. Denunciar às entidades de classe o exercício ilegal da profissão, sob qualquer
forma;
e. Representar às entidades de classe, encaminhando‐lhes comunicação funda-
mentada sobre infração a princípios éticos, sem desrespeito à honra e digni-
dade de colegas.
V. Nas relações com instituições:
a. Cumprir os compromissos assumidos e contratos firmados;
b. Respeitar a política administrativa da instituição empregadora;
c. Contribuir para que as instituições destinadas ao trabalho social mantenham
um bom entrosamento entre si.
VI. Nas relações com a comunidade:
a. Zelar pela família, defendendo a prioridade dos seus direitos e encorajando as
medidas que favoreçam sua estabilidade e integridade;
b. Participar de programas nacionais e internacionais destinados à elevação das
condições de vida e correção dos desníveis sociais;
c. Participar de programas de socorro à população, em situação de calamidade
pública;
d. Opinar em matéria de sua especialidade quando se tratar de assunto de inte-
resse da coletividade.

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


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VII. Nas relações com a justiça:


a. Aceitar designação por autoridade judicial para atuar como perito em assunto
de sua competência;
b. Informar o cliente acerca do sentido e finalidade de sua atuação no desempe-
nho de trabalho de caráter pericial;
c. Agir, quando perito, com isenção de ânimo e imparcialidade, limitando seu
pronunciamento a laudos pertinentes à área de suas atribuições e competên-
cias.
d. Em relação à publicação de trabalhos científicos:
e. Indicar de modo claro, em todo trabalho científico, as fontes de informações e
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

bibliografia utilizada;
f. Dar igual ênfase aos autores e o necessário destaque ao colaborador principal
ou ao idealizador, na públicação de pesquisas ou estudos em colaboração.
Art. 6° É vedado ao Assistente Social:
a. Usar titulação ou outorgá‐la a outrem indevidamente;
b. Exercer sua autoridade de forma a limitar o direito do cliente de decidir sobre
sua pessoa e seu bem‐estar;
c. Divulgar nome, endereço ou outro elemento que identifique o cliente;
d. Reter, sem justa causa, valores que lhe sejam entregues de propriedade do
cliente;
e. Recusar ou interromper atendimento a cliente, sem prévia justificação;
f. Criticar de público, na presença de cliente ou de terceiro, erro técnico‐ científi-
co ou ato de colega atentatório à ética;
g. Prejudicar, direta ou indiretamente, a reputação, situação ou atividade do colega;
h. Valer‐se de posição ocupada na direção de entidade de classe para obter van-
tagens pessoais, diretamente ou por meio de terceiros;
i. Participar de programa com entidade que não respeite os princípios éticos es-
tabelecidos;
j. Formular, perante cliente, crítica aos serviços da instituição, à atuação de cole-
gas e demais membros da equipe interprofissional;
k. Oferecer prestação de serviço idêntico por remuneração inferior à que se pa-
gue a colega da mesma instituição, e da qual tenha prévio conhecimento;
l. Aceitar, de terceiro, comissão, desconto ou outra vantagem, direta ou indireta-
mente relacionada com atividade que esteja prestando à instituição;

Código de Ética Profissional do Assistente Social


80 UNIDADE II

m. Recusar‐se, quando denunciante, a prestar declaração que esclareça o fato e


as provas de sua denúncia;
n. Recusar‐se a depor ou testemunhar em processo ético‐profissional, sem justa
causa;
o. Divulgar informações ou estudos da instituição ou usufruir de planos e proje-
tos de outros técnicos, salvo quando devidamente autorizado;
p. Valer‐se do Serviço Social para objetivos estranhos à profissão ou consentir
que outros o façam;
q. Funcionar em perícia quando o caso escape a sua competência ou quando se tra-
tar de questão que envolva cliente, amigo, inimigo ou pessoa da própria família;

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
r. Apresentar como original, ideia, descoberta ou ilustração que não o seja;
s. Utilizar, sem referência ao autor ou sua autorização expressa, dado, informa-
ção ou opinião inédita ou colhida em fonte particular;
t. Prevalecer‐se de posição hierárquica para publicar, em seu nome exclusivo tra-
balho de subordinados e assistentes, embora executado sob sua orientação.
CAPÍTULO III
Do segredo profissional
Art. 7° O Assistente Social deve observar o segredo profissional:
I. Sobre todas as confidências recebidas, fatos e observações escolhidas no exer-
cício da profissão.
II. Abstendo‐se de transcrever informações de natureza confidencial;
III. Mantendo discrição de atitudes nos relatórios de serviço, onde quer que traba-
lhe.
§1° O sigilo estender‐se‐á à equipe interdisciplinar e aos auxiliares, devendo o
Assistente Social empenhar‐se em sua guarda.
§2° É admissível revelar segredo profissional para evitar dano grave, injusto e atual
ao próprio cliente, ao Assistente Social, a terceiro ou ao bem comum.
§3° A revelação do sigilo profissional será admitida após se haverem esgotado todos
os recursos e esforços para que o próprio cliente se disponha a revelá‐lo.
§4° A revelação será feita dentro do estritamente necessário, o mais discretamente
possível, quer em relação ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas
que dele devem tomar conhecimento.
§5° Não constitui quebra de segredo profissional a revelação de casos de sevícias,
castigos corporais, atentados ao pudor, supressão intencional de alimento e uso de
tóxicos, com vista à proteção do menor.

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


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Art. 8° É vedado ao Assistente Social:


I. Investigar documento de pessoa física ou jurídica sem estar devidamente auto-
rizado;
II. Depor como testemunha sobre fato de que tenha conhecimento no exercício
profissional;
III. Revelar, quando ligado a contrato que o obrigue a prestar informações, o que
não for de natureza pública e que acarrete a queda do segredo profissional.
§único - Intimado a prestar depoimento, deverá o Assistente Social comparecer
perante a autoridade competente para declarar‐lhe que está obrigado a guardar
segredo profissional, nos termos do Código Civil e deste Código.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

TÍTULO III
Das medidas disciplinares
Art. 9° As infrações aos dispositivos do presente Código estão sujeitas às seguintes
medidas disciplinares:
a. Advertências em aviso reservado;
b. Censura em aviso reservado;
c. Censura em publicação oficial;
d. Suspensão do exercício profissional até 30 (trinta) dias;
e. Cassação do exercício profissional “ad‐referendum” do Conselho Federal.
§único - Ao acusado são garantidas amplas condições para a sua defesa, mesmo
quando revél.
TÍTULO IV
Disposições transitórias
Art. 10° O Conselho Federal de Assistentes Sociais, no prazo de 30 (trinta) dias a
partir da publicação deste Código, expedirá o Código Processual de Ética para os
Conselhos Regionais de Assistentes Sociais.
Art. 11° O presente Código entrará em vigor dentro de 45 (quarenta e cinco) dias de
sua publicação.
Rio de Janeiro, 30 de Janeiro de 1975.
Fonte: CÓDIGO... (1975, online).

Código de Ética Profissional do Assistente Social


82 UNIDADE II

CÓDIGO DE ÉTICA DE 1986

Como estamos indo até agora? O que você pôde apreender até aqui no que diz
respeito a nossa profissão e aos seus Códigos de Ética? É possível perceber as
diferenças e as aproximações de cada um?
É importante que você se dedique à leitura e vá compreendendo que a pro-
fissão também se constrói a partir do seu contexto histórico e sua prática não se
dá descolada da realidade, afinal, não viemos de Marte, não é mesmo?
O Código de Ética que veremos agora é o de 1986 e sua aprovação é datada

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de 09 de maio de 1986, a partir da Resolução CFAS nº 1986, período de demo-
cratização do Brasil.
Esse é o quarto Código da profissão, denota um amadurecimento da cate-
goria no que tange à orientação teórica, posicionamento ideológico-político e
compromisso com a classe trabalhadora. Rompendo com ética conservadora
e práticas profissionais tradicionalistas, percebida nos três Códigos anteriores
(1947, 1965 e 1975). Busca-se, agora, uma nova moralidade profissional.
Inserido neste movimento, a categoria de Assistentes Sociais passa
a exigir também uma nova ética que reflita uma vontade coletiva,
superando a perspectiva a‐histórica e a‐crítica, onde os valores
são tidos como universais e acima dos interesses de classe. A nova
ética é resultado da inserção da categoria nas lutas da classe tra-
balhadora e, consequentemente, de uma nova visão da sociedade
brasileira. Neste sentido, a categoria por meio de suas organiza-
ções, faz uma opção clara por uma prática profissional vinculada
aos interesses desta classe. As conquistas no espaço institucional
e a garantia da autonomia da prática profissional requerida pe-
las contradições desta sociedade só poderão ser obtidas por meio
da organização da categoria articulada às demais organizações da
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classe trabalhadora (CFAS, 1986, p. 01).

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ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


83

Rompe-se neste Código a tratativa de beneficiário ou cliente, passando ago-


ra a ser tratado como usuário dos serviços prestados pelo assistente social.

Diferentemente do Código anterior (1975), aponta-se, agora, como direito do


assistente social participar de manifestações da categoria e enquanto classe
trabalhadora.
Observa-se que os direitos tratados nesse código para os assisten-
tes sociais expressam as possibilidades de materialização do trabalho
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profissional rompendo com as práticas segmentadas, pois reconhece a


capacidade dos profissionais em participar da elaboração de políticas
sociais e não apenas como executores terminais (CARVALHO NETO,
2013, p. 99).

Destaca-se, ainda, a capacidade e conhecimento do assistente social como pen-


sador, formulador e elaborador de políticas, afastando a ideia de mero executor,
operacional. Por isso, o presente código reforça a necessidade do constante apri-
moramento profissional. Surge também o entendimento de articulações coletivas
com outras categorias profissionais, visando a mudança sócio política na socie-
dade e um exercício profissional mais completo, eficiente, valorizando o usuário
e suas demandas.
Iamamoto (1993) também teceu as suas considerações acerca do Código de
Ética dos Assistentes Sociais de 1986, representou uma ruptura com o tradicio-
nalismo profissional, chamando a atenção para a necessidade de construção de
uma prática voltada aos interesses das classes trabalhadoras. Dessa forma, busca
romper com a cultura da neutralidade profissional.
Seu limite, apontado pela autora, foi o de sublinhar o militantismo/mes-
sianismo dos profissionais sem se atentar para o fato do Assistente Social estar
inserido como mediador nas instituições públicas e/ou privadas. O conhecimento
da contraditoriedade das relações sociais impede que tenhamos uma visão uni-
lateral acerca da inserção do Serviço Social nas instituições.
O código de ética, segundo Iamamoto, repõe uma visão dualista das relações
econômicas e de poder e o compromisso político com a classe trabalhadora como
única alternativa para uma categoria profissional heterogênea, social e política.

Código de Ética Profissional do Assistente Social


84 UNIDADE II

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CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE


SOCIAL

(APROVADO EM 09 DE MAIO DE 1986)


INTRODUÇÃO
As ideias, a moral e as práticas de uma sociedade se modificam no decorrer do pro-
cesso histórico. De acordo com a forma em que esta se organiza para produzir, cria
seu governo, suas instituições e sua moral.
A sociedade brasileira no atual momento histórico impõe modificações profundas
em todos os processos da vida material e espiritual. Nas lutas encaminhadas por
diversas organizações nesse processo de transformação, um novo projeto de socie-
dade se esboça, e se constrói e se difunde uma nova ideologia.
Inserido neste movimento, a categoria de Assistentes Sociais passa a exigir também
uma nova ética que reflita uma vontade coletiva, superando a perspectiva a‐his-
tórica e a‐crítica, onde os valores são tidos como universais e acima dos interesses
de classe. A nova ética é resultado da inserção da categoria nas lutas da classe tra-
balhadora e, consequentemente, de uma nova visão da sociedade brasileira. Neste
sentido, a categoria por meio de suas organizações, faz uma opção clara por uma
prática profissional vinculada aos interesses desta classe. As conquistas no espa-
ço institucional e a garantia da autonomia da prática profissional requerida pelas
contradições desta sociedade só poderão ser obtidas por meio da organização da
categoria articulada às demais organizações da classe trabalhadora.
O presente Código de Ética Profissional do Serviço Social é resultado de um amplo
processo de trabalho conjunto, desencadeado a partir de 1983. Em diferentes mo-
mentos deste processo, os Assistentes Sociais foram solicitados por meio do CFAS/

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


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CRAS e demais entidades de organização da categoria a dar contribuições e a par-


ticipar de comissões, debates, assembleias, seminários e encontros regionais e na-
cionais.
Seu conteúdo expressa princípios e diretrizes norteadores da prática profissional
determinados socialmente, e traz a marca da conjuntura atual da sociedade brasilei-
ra. Constitui‐se em parâmetro para o profissional se posicionar diante da realidade,
disciplinando o exercício profissional no sentido de dar garantia à nova proposta da
prática dos Assistentes Sociais.
Os princípios e diretrizes norteadores da prática profissional estão expressos neste
Código sob forma de direitos, deveres e proibições, agrupados em títulos e capí-
tulos. Com caráter introdutório, serão destacados aqueles que dão indicações de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

uma nova ética, tendo como referência o encaminhamento da prática profissional


articulada às lutas da classe trabalhadora:
■■ A devolução das informações colhidas nos estudos e pesquisas aos sujeitos
sociais envolvidos.
■■ O acesso às informações no espaço institucional e o incentivo ao processo de
democratização das mesmas.
■■ A contribuição na alteração da correlação de forças no espaço institucional e
o fortalecimento de novas demandas de interesse dos usuários.
■■ A denúncia das falhas nos regulamentos, normas e programas da instituição
e não acatamento de determinação patronal que fira os princípios e diretri-
zes deste Código.
■■ O respeito à tomada de decisão dos usuários, ao saber popular e à autono-
mia dos movimentos e organizações da classe trabalhadora.
■■ O privilégio ao desenvolvimento de práticas coletivas e o incentivo à partici-
pação dos usuários no processo de decisão e gestão institucional.
■■ A discussão com os usuários sobre seus direitos e os mecanismos a serem ado-
tados na luta por sua efetivação e por novas conquistas; e a reflexão sobre
a necessidade de seu engajamento em movimentos populares e/ou órgãos
representativos da classe trabalhadora.
■■ O apoio às iniciativas e aos movimentos de defesa dos interesses da categoria
e à divulgação no espaço institucional das informações de suas organizações.
■■ A denúncia de agressão e abuso de autoridade às organizações da categoria
e aos órgãos competentes.
■■ O apoio e/ou a participação nos movimentos sociais e organizações da classe
trabalhadora.

Código de Ética Profissional do Assistente Social


86 UNIDADE II

TÍTULO I
Disposições gerais
Art.1° Compete ao Conselho Federal de Assistentes Sociais:
a. Zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, fiscalizando as
ações dos Conselhos Regionais e a prática exercida pelos profissionais, institui-
ções e organizações na área do Serviço Social;
b. Introduzir alteração neste Código, por meio de uma ampla participação da ca-
tegoria, em um processo desenvolvido em ação conjunta com os Conselhos Re-
gionais;
c. Como Tribunal Superior de Ética Profissional, firmar jurisprudência na observân-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cia deste Código e nos casos omissos.
§ único - Compete aos Conselhos Regionais, nas áreas de suas respectivas jurisdi-
ções, zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, e funcionar
como órgão julgador de primeira instância.
TÍTULO II
Dos direitos e das responsabilidades gerais
do assistente social
CAPÍTULO I
Dos direitos
Art. 2° Constituem‐se direitos do Assistente Social:
a. Desempenhar suas atividades profissionais, com observância da legislação em vigor;
b. Livre exercício das atividades inerentes à profissão;
c. Livre acesso aos usuários de seus serviços;
d. Participação na elaboração das Políticas Sociais e na formulação de programas
sociais;
e. Inviolabilidade do domicílio, do local de trabalho e respectivos arquivos e docu-
mentação;
f. Desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;
g. Remuneração por seu trabalho profissional definida pelas organizações sindi-
cais, estaduais e nacionais, articuladas a luta geral da classe trabalhadora;
h. Acesso às oportunidades de aprimoramento profissional;
i. Participação em manifestações de defesa dos direitos da categoria e dos interes-
ses da classe trabalhadora;

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


87

j. Participação nas entidades representativas e de organização da categoria;


k. Pronunciamento em matéria de sua especialidade;
l. Acesso às informações no espaço institucional que viabilizem a prática profis-
sional.
CAPÍTULO II
Dos deveres
Art. 3° Constituem deveres do Assistente Social:
a. Desempenhar suas atividades profissionais, com observância da legislação em
vigor;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

b. Devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos sujeitos sociais


envolvidos, no sentido de que estes possam usá‐los para o fortalecimento dos
interesses da classe trabalhadora;
c. Democratizar as informações disponíveis no espaço institucional, como dos me-
canismos indispensáveis à participação social dos usuários;
d. Aprimorar de forma contínua os seus conhecimentos, colocando‐os a serviço do
fortalecimento dos interesses da classe trabalhadora;
e. Denunciar, no exercício da profissão, às organizações da categoria, às autorida-
des e aos órgãos competentes, qualquer forma de agressão à integridade física,
social e mental, bem como abuso de autoridade individual e institucional;
f. Utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da profissão.
CAPÍTULO III
Do sigilo profissional
Art. 4° O Assistente Social deve observar o sigilo profissional, sobre todas as infor-
mações confiadas e/ou colhidas no exercício profissional.
§1° A quebra do sigilo só é admissível quando se tratar de situação cuja gravidade
possa trazer prejuízos aos interesses da classe trabalhadora.
§2° A revelação será feita dentro do estritamente necessário, quer em relação ao
assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele devam tomar conhe-
cimento.
Art. 5° É vedado ao Assistente Social:
a. Depor como testemunha sobre situação de que tenha conhecimento no exercí-
cio profissional;
b. Revelar sigilo profissional:

Código de Ética Profissional do Assistente Social


88 UNIDADE II

§ único - Intimado a prestar depoimento, deverá o Assistente Social comparecer


perante a autoridade competente para declarar que está obrigado a guardar sigilo
profissional, nos termos do Código Civil e deste Código.
TÍTULO III
Das relações profissionais
CAPÍTULO I
Das relações com os usuários
Art. 6° São deveres do Assistente Social nas suas relações com os usuários:
a. Discutir com os usuários seus direitos e os mecanismos a serem adotados na sua

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
efetivação e em novas conquistas;
b. Refletir com os usuários os limites de sua atuação profissional no sentido de di-
mensionar as possibilidades reais de sua prática no encaminhamento das lutas
conjuntas, bem como identificar os mecanismos de superação dos mesmos;
c. Contribuir para que os usuários utilizem os recursos institucionais como um di-
reito conquistado pela classe trabalhadora;
d. Criar, na discussão conjunta, mecanismos, que venham desburocratizar a rela-
ção com os usuários no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados;
e. Privilegiar práticas coletivas com os usuários no sentido de possibilitar a sua par-
ticipação no processo de decisão e gestão institucional;
f. Discutir com os usuários sobre a utilização dos recursos sociais, para evitar deslo-
camentos desnecessários na busca de atendimento às suas necessidades;
g. Refletir com os usuários sobre a importância de seu engajamento em movimen-
tos populares e/ou órgãos representativos da classe trabalhadora;
h. Respeitar, no relacionamento com o usuário, o seu direito à tomada de decisões,
o saber popular e a autonomia dos movimentos e organizações da classe traba-
lhadora.
Art. 7° É vedado ao Assistente Social:
a. Exercer sua autoridade de forma a limitar ou cercear o direito de participação e
decisão dos usuários;
b. Bloquear o acesso dos usuários aos serviços sociais oferecidos pelas instituições
por meio de atitudes que venham coagir e/ou desrespeitar aqueles que buscam
o atendimento de seus direitos sociais.

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


89

CAPÍTULO II
Das relações com as instituições
Art. 8° São direitos do Assistente Social:
a. Administrar, executar e repassar os serviços sociais, influenciando para o fortale-
cimento de novas demandas de interesse dos usuários;
b. Contribuir para alteração da correlação de forças do interior da instituição para
reformulação de sua natureza, estrutura e programa tendo em vista os interesses
da classe trabalhadora.
Art. 9° O Assistente Social no exercício de sua profissão em entidade pública ou pri-
vada terá garantia de condições adequadas de trabalho, o respeito a sua autonomia
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

profissional e dos princípios éticos estabelecidos.


Art. 10° Constituem deveres do Assistente Social na relação com a instituição:
a. Atender às demandas institucionais em termos de programar, administrar, exe-
cutar e repassar os serviços sociais aos usuários;
b. Denunciar falhas nos regulamentos, normas e programas da instituição em que
trabalha, quando os mesmos estiverem ferindo os princípios e diretrizes conti-
dos neste Código, as necessidades, os direitos e os interesses da classe trabalha-
dora;
c. Dirigir‐se, obrigatoriamente, ao Conselho Regional de Assistentes Sociais, às de-
mais entidades da categoria e a outras que a matéria disser respeito, quando
não encontrar ressonância na instituição em termos de modificação das falhas
apontadas.
Art. 11° É vedado ao Assistente Social:
a. Aceitar emprego ou tarefa de colega exonerado, demitido ou transferido em ra-
zão do cumprimento das prerrogativas legais da profissão e/ou dos princípios e
diretrizes contidos neste Código, enquanto perdurar o motivo da exoneração,
demissão ou transferência;
b. Acatar determinação patronal que fira os princípios e diretrizes contidos neste
Código, ao prestar serviços com qualquer tipo de vínculo;
c. Emprestar seu nome de Assistente Social a firmas, organizações ou empresas
que realizem Serviço Social, sem seu efetivo exercício profissional;
d. Usar ou permitir o tráfico de influência para obtenção de emprego, desrespei-
tando concursos ou processos seletivos;
e. Utilizar os recursos institucionais para fins eleitorais.

Código de Ética Profissional do Assistente Social


90 UNIDADE II

CAPITULO III
Das relações entre profissional de serviço social
Art. 12° Cabe aos Assistentes Sociais manterem entre si a solidariedade que consoli-
da a categoria e fortalece a sua organização.
Art. 13° O Assistente Social, quando solicitado deverá colaborar com seus colegas,
salvo impossibilidade real, decorrente de motivos relevantes.
Art. 14° A crítica pública a colega deverá ser sempre objetiva, construtiva, compro-
vável de inteira responsabilidade de seu autor e fundamentada nos preceitos deste
Código.
Art. 15° É vedado ao Assistente Social:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a. Ser conivente com falhas éticas e com erros praticados por outro profissional;
b. Prejudicar deliberadamente a reputação de outro profissional divulgando infor-
mações falsas.
Art. 16° Ao Assistente Social deve ser assegurada a mais ampla liberdade na rea-
lização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos de participação de
pessoas ou grupos envolvidos em seus trabalhos.
Art. 17° É vedado ao Assistente Social:
a. Prevalecer de posição hierárquica para publicar, em seu nome, trabalhos de su-
bordinados, mesmo que executado sob sua orientação;
b. Deturpar dados quantitativos e/ou qualitativos;
c. Apropriar‐se de produção científica de outros profissionais.
Art. 18° O Assistente Social, ao ocupar uma chefia, deve usar a sua autoridade fun-
cional para a liberação, total ou parcial de carga horária de subordinado que desejar
se dedicar a estudos e pesquisas relacionadas à prática profissional, dando igual
oportunidade a todos.
Art. 19° É vedado ao Assistente Social:
a. Permitir ou exercer a supervisão de alunos de Serviço Social em instituições Pú-
blicas ou Privadas que não tenham em seus quadros Assistente Social que dê
acompanhamento direto ao campo de estágio;
b. Ser conivente com o exercício de função de direção de órgãos formadores de
Assistentes Sociais por outros profissionais.
Art. 20° O Assistente Social deve respeitar as normas éticas das outras profissões.

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


91

CAPÍTULO IV
Das relaçoes com as entidades da categoria e demais
organizações da classe trabalhadora
Art. 21° O Assistente Social deve defender a profissão por meio de suas entidades
representativas, participando das organizações que tenham por finalidade a defesa
dos direitos profissionais, no que se refere à melhoria das condições de trabalho, à
fiscalização do exercício profissional e ao aprimoramento científico.
Art. 22° O Assistente Social deverá apoiar as iniciativas e os movimentos de defesa
dos interesses da categoria e divulgar no espaço institucional as informações das
suas organizações, no sentido de ampliar e fortalecer o seu movimento.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Art. 23° É vedado ao Assistente Social valer‐se de posição ocupada na direção de


Entidade da categoria para obter vantagens pessoais, diretamente ou por meio de
terceiros.
Art. 24° O Assistente Social ao ocupar uma chefia deve usar a sua autoridade fun-
cional para liberação total ou parcial da carga horária de subordinado que tenha
representação ou delegação de entidade de organização da categoria.
Art. 25° O Assistente Social como profissional e na sua prática social mais geral deve
apoiar e/ou participar dos movimentos sociais e organizações da classe trabalha-
dora que estejam relacionados ao campo de sua atividade profissional, procurando
colocar os recursos institucionais a seu serviço.
CAPÍTULO V
Das relações com a justiça
Art. 26° O Assistente Social no exercício legal da profissão, quando convocado, deve
esclarecer à Justiça em matéria de sua competência, de acordo com a legislação
básica da profissão.
§ 1° O Assistente Social deve informar os usuários acerca do sentido e finalidade de
sua atuação no desempenho de tarefa de caráter pericial.
§2° O Assistente Social ao atuar como perito deve limitar seu pronunciamento a
laudos pertinentes a área de suas atribuições, seguindo as diretrizes deste Código.
§ 3° O Assistente Social deve considerar‐se impedido de atuar em processos de perí-
cias quando a situação não se caracterizar como área de sua competência ou quan-
do se tratar de questão que envolva amigo, inimigo ou membro da própria família.
TÍTULO IV
Da observância, aplicação e cumprimento do código de ética
Art. 27° É dever de todo Assistente Social cumprir e fazer cumprir este Código.

Código de Ética Profissional do Assistente Social


92 UNIDADE II

Art. 28° O Assistente Social deve denunciar ao Conselho Regional de Assistentes


Sociais, por meio de comunicação fundamentada, qualquer forma de exercício ir-
regular da profissão, infrações a princípios e diretrizes deste Código e da legislação
profissional.
Art. 29° Cabe aos Assistentes Sociais docentes e supervisores informar, esclarecer e
orientar os estudantes, quanto aos princípios e normas contidas neste Código.
Art. 30° As infrações a este Código de Ética Profissional acarretarão penalidades,
desde a advertência à cassação do exercício profissional, na forma dos dispositivos
legais e/ou regimentais.
Art. 31° Constituem infrações disciplinares:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a. Transgredir preceito do Código de Ética;
b. Exercer a profissão quando impedido, ou facilitar o seu exercício por quem não
esteja devidamente habilitado;
c. Participar de sociedade que tendo como objeto o Serviço Social, não esteja re-
gularmente inscrito no Conselho;
d. Não pagar regulamente as anuidades.
Art. 32° São medidas disciplinares aplicáveis pelos Conselhos Regionais:
a. Multa;
b. Advertência em aviso reservado;
c. Advertência pública;
d. Suspensão do exercício profissional;
e. Eliminação dos quadros.
Art. 33° A pena de multa variará de 1 (um) até 10 (dez) Obrigações do Tesouro Na-
cional (OTN).
Art. 34° A pena de advertência, reservada ou pública, será aplicada nos casos previs-
tos nas alíneas a, b e c do artigo 31°.
Art. 35° A pena de suspensão será aplicada:
a. Nos casos em que couber advertência pública e o autor da infração disciplinar
for reincidente;
b. Aos que violarem sigilo profissional;
c. Aos que tenham conduta incompatível com o exercício profissional;
d. Aos que demonstrem inépcia profissional;
e. Na hipótese prevista na alínea d no artigo 31°.

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


93

Art. 36° A pena de eliminação dos quadros será aplicada:


a. Nos casos em que couber a pena de suspensão e o infrator for reincidente;
b. Aos que fizerem falsa prova dos requisitos exigidos para o registro no Conselho;
c. Aos que, suspensos por falta de pagamento das anuidades, deixarem transcorrer
3 (três) anos de suspensão.
Art. 37° Serão considerados na aplicação das penas os antecedentes profissionais do
infrator e as circunstâncias em que ocorreu a infração.
Art. 38° Às pessoas jurídicas que infringirem, no que couber, os princípios e diretrizes
contidos neste Código serão aplicadas as penas de multa ou cancelamento do regis-
tro. Às multas serão, nesta hipótese, fixadas entre o mínimo de 20 (vinte) e o máximo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de 100 (cem) Obrigação do Tesouro Nacional (OTN).


Art. 39° As dúvidas na observância deste Código e os casos omissos serão resolvi-
dos pelos Conselhos Regionais de Assistentes Sociais “ad referendum” do Conselho
Federal de Assistentes Sociais, a quem cabe firmar jurisprudência conforme alínea
“c” do artigo 1°.
Art. 40° ‐ O presente Código entrará em vigor na data de sua públicação no Diário
Oficial da União, revogando‐se as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 09 de maio de 1986.
Públicado no Diário Oficial da União nº 101, do 02/06/86, Seção I, p. 7951 e 7952.

Fonte: CÓDIGO... (1986, online).

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Código de Ética Profissional do Assistente Social


94 UNIDADE II

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Encerramos mais uma unidade de estudo, que foi muito rica, no que tange ao
aprofundamento dos conhecimentos sobre o Serviço Social, espero que tenha
servido para você como um impulsionador da sua formação profissional. Olhar
para nossa história nos permite entender a realidade como se apresenta hoje.
Vimos a ética profissional e a sua relevância para o exercício profissional
de qualidade, aprofundamos-nos um pouco mais sobre os 4 primeiros códigos
de ética (o Código atual será visto com mais detalhes nas duas próximas unida-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
des), conseguimos, assim, compreender como a nossa profissão se comportava
ao longo das décadas.
Vimos, também, que o primeiro Código de Ética do Assistente Social foi
elaborado em 1947 e revisado em 1965. Uma reformulação foi realizada dando
origem a um novo Código aprovado em 1975, todos esses com influências neo-
tomistas e funcionalistas. Pela forte influência da Igreja Católica, a profissão era
considerada um chamado de Deus, era considerada como vocação divina, por
isso, em vários momentos, o serviço social deveria pautar a sua ação profissio-
nal para restaurar a moral cristã. O Código de Ética deve ser entendido como
um instrumento para nortear o exercício profissional.
Foi possível compreender ainda, que toda a reflexão sobre ética e ética profis-
sional tem de estar perpassando nossas preocupações interventivas. A qualificação
do fazer profissional, a articulação com outros sujeitos sociais é condição para a
instituição de uma outra ordem de valores em nossa sociedade.
Até a próxima unidade!

ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


95

1. De acordo com o estudo da unidade II, entende-se que só haverá ética profissio-
nal efetiva se existir antes:
a. Uma norma imutável e efetiva.
b. Uma assistente social para efetivar e validar os Códigos de Ética.
c. Uma ética pessoal efetiva.
d. Um Código de Ética efetivo.
2. Durante a unidade II, os autores Glock e Goldin (2003) apresentam 15 caracterís-
ticas da ética profissional. Encontre 10 delas no caça palavras a seguir:
1: ____________________ 6: ____________________
2: ____________________ 7: ____________________
3: ____________________ 8: ____________________
4: ____________________ 9: ____________________
5: ____________________ 10: ___________________
3. Sobre a Ética Profissional, analise as sentenças colocando V para verdadeiro e F
para Falso:
( ) O juramento feito pela pessoa no momento da sua formatura caracteriza o
aspecto moral da Ética Profissional.
( ) A Ética Profissional pode ser compreendida como sendo a “reflexão sobre as
exigências do profissional em sua relação: com o cliente/usuário; com o público;
com seus colegas; e com sua corporação, com os demais profissionais” (DURAND,
2003, p. 85).
( ) A ética é indispensável ao profissional, porque na ação humana “o fazer” e “o
agir” estão interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo
profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à con-
duta do profissional, ao conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho
de sua profissão (OLIVEIRA, 2012, p. 51).
a. V - V - F
b. V - F - F
c. F - V - F
d. V - V - V
4. Por que é correto afirmar que o processo de formação profissional, onde se ad-
quire um dado conhecimento capaz de fundamentar as escolhas éticas, não é o
único referencial profissional (BARROCO, 2009, p.07)?
5. Para auxiliar em seus estudo, vamos montar um quadro para entendermos o Có-
digo de Ética para as profissões? Preencha o quadro com as informações socilita-
das, faça de maneira resumida, para facilitar o entendimento:

CÓDIGO DE ÉTICA

O que é o Código de Ética ?

O que representa o Código de Ética?


97

Qual a função do Código de Ética?

Quais os limites do Código de Ética?

Quando se começa a seguir o Código


de Ética?

6. Qual o entendimento e a nomenclatura utilizada para o sujeito usuário do Servi-


ço Social a partir dos Códigos de Ética do assistente social?
a. Código de Ética de 1947: __________________
b. Código de Ética de 1965: __________________
c. Código de Ética de 1975: __________________
d. Código de Ética de 1986: __________________
e. Código de Ética de 1993: __________________
7. Percebemos, ao longo da unidade, que a decisão pela escolha de uma profissão
é optativa, contudo, seu conjunto de deveres é obrigatório, acrescentaríamos
que junto a esses estão também os direitos dos profissionais. Geralmente, esse
conjunto de direitos e deveres encontra-se nos Códigos de Ética de cada profis-
são. Quanto ao Código de Ética do Assistente Social, complete a lacuna com o
ano correspondente a cada afirmação.
a. Código de Ética que expressa pela primeira vez o rompendo com ética con-
servadora e práticas profissionais tradicionalistas: __________.
b. Códigos de Ética que apresentava apenas os deveres do assistente social:
____________.
c. Em qual dos Códigos de Ética princípios comportamentais: boa aparência;
bons modos; atitude discreta frente à realidade; ser espelho para o beneficiá-
rio do Serviço Social, eram exigidos do assistente social? _________________.
d. O Código de Ética vigente para os profissionais de serviço social foi aprovado
no ano de _________.
e. Dotado de um conservadorismo moral, como uma forma de “prescrição” que
orienta a forma de ser e agir dos assistentes sociais, no ano de ____________
foi criado o Código Moral de Serviço Social.
f. Primeiro Código de Ética do Assistente Social que consta os direitos do profis-
sional: ________________.
g. Código de Ética da profissão que denota um amadurecimento da categoria
no que diz respeito à orientação teórica, posicionamento ideológico-político
e compromisso com a classe trabalhadora: ___________.
h. Código que apresenta pela primeira vez o reconhecimento pela diversidade,
dizendo que o Código “(...) se destina a profissionais de diferentes credos e
princípios filosóficos, devendo ser aplicável a todos”: _____________.
i. Código de Ética que se econtrava num período em que o Estado intervém so-
bre toda e qualquer iniciativa de manifestação social no país, sob a alegação
de que isso degradava a sociedade e sua moral __________ .
99

A NATUREZA DA ÉTICA PROFISSIONAL


A ética profissional é um modo particular de obejtivação da vida ética. Suas particula-
ridades se inscrevem na relação entre o conjunto complexo de necessidades que le-
gitimam a profissão na divisão sociotécnica do trabalho conferindo-lhe determinadas
demandas, e suas respostas específicas, entendidas em sua dimensão teleológica e em
face das implicações ético-políticas do produto concreto da ação.
As necessidades históricas que legitimam as profissões na divisão sócio técnica do
trabalho vinculam-se a determinada sociabilidade, em que se inserem os modos de
consciência moral relativos a valores culturais, normas e princípios éticos que, uma vez
legitimados socialmente, (re)criam novas necessidades e alternativas de valor. Estas, por
sua vez, articulam-se a expectativas sociais referentes ao desempenho de papéis que,
culturalmente internalizados, rebatem nas profissões de modo particular.
Neste sentido, o ethos profissional é um modo de ser constituído na relação complexa
entre as necessidades socioeconomicas e Ideo-culturais e as possibilidades de escolha
inseridas nas ações éticos-morais, o que aponta para sua diversidade, mutabilidade e
contraditoriedade.
O Serviço Social é um fenônomeno típico da sociedade capitalista em seu estágio mo-
nopolista; portanto, o desvelamento da natureza de sua ética só adquire obejtividade
se analisada em função das necessidades e possibilidades inscritas em tais relações so-
ciais. Em face das demandas e respostas éticas construídas nesse marco é que a ética
se objetiva, transforma-se e se consolida como uma das dimensões específicas da ação
profissional.
A ética profissional recebe determinações que antecedem a escolha pela profissão e in-
clusive a influenciam, uma vez que fazem parte de uma socialização primária que tende
a reproduzir determinadas configurações éticas dominantes e se repõem cotidianamen-
te mediante relaçoes sociais mais amplas. A objetivação da sociabilidade, por meio da
participação cívica, pode reforçar ou se contrapor a valores adquiridos na socialização
primária; o mesmo ocorre com a inserção profissional que coloca escolhas e compromis-
sos éticos: a necessidade de se posicionar em face do significado e das implicações da
ação profissional e a responsabilidades diante das escolhas.
Dentre as determinações da ética profissional encontra-se o conhecimento, dado pela
base filosófica incorporada pela profissão. Esse aspecto também é contraditório e con-
flituoso, uma vez que a formação profissional, mediante a qual se adquire um conheci-
mento filosófico capaz de fundamentar as escolhas éticas, não é o único referencial pro-
fissional; somam-se a ele as visões de mundo incorporadas socialmente pela educação
moral primária e por outras instâncias educativas, tais como os meios de comunicação,
as religiões, os partidos políticos, os movimentos sociais etc.
A partir desse conjunto de manifestações culturais é que se formam os hábitos e cos-
tumes que a educação formal pode consolidar ou não. Ao mesmo tempo, a reflexão
filosófica, base de fundamentação da moral profissional, incorpora referenciais que nem
sempre permitem uma leitura crítica e totalizante, o que novamente implica contradi-
ções entre a dinâmica social e sua apresentação profissional.
Como podemos observar, a ética profissional é permeada por conflitos e contradições
e suas determinações fundantes extrapolam a profissão, remetendo às condições mais
gerais da vida social. Neste sentido, a natureza da ética profissional não é algo estático;
suas transformações, porém, só podem ser avaliadas nessa dinâmica, ou seja, em sua
relativa autonomia em face das condições objetivas que constituem as referências éti-
co-morais da sociedade e rebatem na profissão de modos específicos.
Nessa perspectiva, cabe compreender o ethos profissional como um modo de ser cons-
truído a partir das necessidades sociais inscritas nas demandas postas historicamente
à profissão e nas respostas dadas por ela nas várias dimensões que compõem a ética
profissional:
• A dimensão filosófica – fornece as bases teóricas para uma refelexão ética voltada
à compreensão dos valores, princípios e modos de ser ético-morais e oferece os
fundamentos para uma concepção ética;
• O modo de ser (ethos) da profissão no que diz respeito 1) à moralidade profissio-
nal (consciência moral dos seus agentes objetivada na teleologia profissional), o
que reproduz uma imagem social e cria determinadas expectativas; 2) ao produ-
to objetivo das ações profissionais individuais e coletivas (consequências ético-
-políticas);
• A normatização objetiva do Código de Ética Profissional, com suas normas, direi-
tos, deveres e sanções.
Cada uma dessas dimensões, articuladas entre si, opera com múltiplas mediações. Sua
organicidade é maior ou menor, dependendo da coesão dos agentes em torno de fina-
lidades projetadas coletivamente, o que implica uma intenção profissional dirigida a
uma determinada direção ético-política e uma prática comprometida com a objetivação
dessa intencionalidade.
Fonte: Barroco (2005, p. 67-70).
MATERIAL COMPLEMENTAR

O Diabo Veste Prada


Sinopse: A jornalista recém-formada Andrea Sachs (Anne Hathaway) é
uma jovem que conseguiu um emprego na Runaway Magazine, a mais
importante revista de moda de Nova York. Ela passa a trabalhar como
assistente de Miranda Priestly (Meryl Streep), principal executiva da revista.
Como assistente, ela tenta lidar com as exigências de sua chefe, entrando em
conflito de personalidade, porque não consegue conciliar o trabalho com
a família, os amigos e o namorado. Infelizmente, sua contratação, caída dos
céus, como elegante assistente pessoal de Miranda pode significar a morte
de seu próprio eu!
Comentário: Nesse filme, é possível refletir sobre missão, visão e valores,
sobre até que ponto o profissional pretende chegar, quais são os seus limites
e sobre qualidade de vida.

O Sorriso de Monalisa
Sinopse: Recria a atmosfera e os costumes do início da década de 1950. Conta
a história de uma professora de arte que, educada na liberal Universidade
de Berkeley, na Califórnia, enfrenta uma escola feminina, tradicionalista
– Wellesley College, onde as melhores e mais brilhantes jovens mulheres dos
Estados Unidos recebem uma dispendiosa educação para se transformarem
em cultas esposas e responsáveis mães. No filme, a professora tentará
abrir a mente de suas alunas para um pensamento liberal, enfrentando a
administração da escola e as próprias garotas. O maior desafio para essa
professora será fazer com que suas alunas assumam sua identidade cultural
como ser social e histórico. Esse filme nos traz a visão mais ampla de novos
conhecimentos.
Comentário: Mostra os desafios enfrentados por um profissional novo no
mercado de trabalho e a perseverança em enfrentá-los.

Material Complementar
Professora Esp. Rafaela Cristina Bernardo

III
OS ONZE PRINCÍPIOS

UNIDADE
FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE
ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993

Objetivos de Aprendizagem
■■ Analisar os onze princípios fundamentais do Código de Ética
Profissional do Assistente Social de 1993.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Eixos estruturantes sobre os onze princípios fundamentais
■■ Os Onze Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do
Assistente Social de 1993
105

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a)!
Estamos ingressando na unidade III do livro de Ética Profissional e esperamos
que a partir dela você compreenda a importância dos princípios fundamentais
do Código de Ética Profissional, para que, em seguida, possamos discutir, espe-
cificamente, o Código de 1993.
Para compreender o que são os princípios fundamentais e quais são os seus
objetivos, vamos iniciar a discussão da unidade III retomando os conceitos acerca
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dos Projetos Societários, Projetos Profissionais e, finalmente, o Projeto Ético-


Político Profissional do Serviço Social.
Vamos denominar esses conceitos como eixos estruturantes sobre os onze
princípios fundamentais, pois é por meio deles que vamos conseguir relacionar
as razões de ordem teórica e prática que levaram a categoria profissional a cons-
truí-los na década de 1990 no processo de reformulação e de desenvolvimento
do Projeto Ético-Político Profissional do Serviço Social.
Esse articulado com as demandas da classe trabalhadora e da busca por uma
nova ordem societária sem exploração de classe, raça, etnia e gênero e que tenha
a liberdade como valor ético central em busca da cidadania, autonomia e eman-
cipação dos sujeitos sociais livres.
É de suma importância que você faça a leitura dos princípios de maneira
articulada e integrada e busque relacioná-los com o arcabouço teórico que está
construindo no decorrer das disciplinas de Serviço Social. As disciplinas não
são módulos isolados, mas se relacionam e exigem que os estudantes de Serviço
Social façam a relação delas, empenhando a leitura dos livros, mas também dos
materiais complementares, sites e livros obrigatórios do Serviço Social.
Desejamos boa leitura e bons estudos e vamos aprender!

Introdução
106 UNIDADE III

EIXOS ESTRUTURANTES SOBRE OS ONZE PRINCÍPIOS


FUNDAMENTAIS

Nesta unidade, vamos analisar os onze princípios fundamentais do Código de


Ética Profissional do Assistente Social de 1993. Esses princípios envolvem valores
ético-políticos construídos pela categoria profissional no processo de desenvol-
vimento dos Códigos de Ética de 1986 e 1993.
Os onze princípios fundamentais buscam reproduzir o direcionamento teórico
metodológico, ético-político e técnico operativo subsidiado pela matriz teóri-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
co-metodológica marxista e pela articulação com o projeto societário da classe
trabalhadora a partir dos anos 1980. A construção dos onze princípios funda-
mentais está relacionada ao debate da categoria profissional sobre o Código de
Ética profissional que, segundo Paiva e Salles (2001, p. 174):
O debate sobre a ética no Serviço Social foi desencadeado pelas entida-
des nacionais da categoria a partir de 1991, culminando em 1993 com
a aprovação do novo Código de Ética Profissional do Assistente Social.
Tratou-se de um esforço coletivo que visava redimensionar o signifi-
cado dos valores e compromissos éticos-profissionais, na perspectiva
de lhes assegurar respaldo efetivo na operacionalização quotidiana do
Código, enquanto referência e instrumento normativo para o exercício
profissional e outros propósitos.

A partir da construção dos valores e princípios fundamentais, o Código de Ética


Profissional de 1993 busca garantir respaldo de natureza ética política. De acordo
com Paiva e Salles (2001, p. 180), “afinal de contas, só com valores nos tornamos
capazes de prometer. De prometer e cumprir”.
Além de o debate a respeito dos valores éticos darem respaldo à constru-
ção do código de ética, esse processo está inserido em um debate mais geral que
veio a ser consolidado com a configuração do aparato jurídico legal que com-
põe o Projeto Ético-Político Profissional do Serviço Social, que é composto pelo
Código de Ética Profissional de 1993, pela Lei de Regulamentação da Profissão
(Lei 8662/93) e pelas Diretrizes Curriculares de 1996.
É preciso salientar que o Projeto Ético-Político Profissional do Serviço Social
extrapola a dimensão jurídica, mas exige que a categoria profissional realize a
reflexão ética que deve orientar o exercício profissional do assistente social no

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


107

enfrentamento aos desdobramentos da questão social de maneira ética, crítica,


política e competente e articulada com a luta e defesa dos direitos da classe tra-
balhadora e da superação das relações sociais de exploração capitalista. Sobre a
relação entre a ética profissional e a reflexão ética, Paiva e Salles et al (2001, p.
167) afirmam:
[...] a reflexão ética sobre a profissão demanda a explicitação de seus
elementos básicos constitutivos: sua base filosófica e os princípios e
valores ético-politicos subjacentes a um Projeto Profissional defini-
do historicamente. Nos últimos anos, o avanço da reflexão ética tem
propiciado uma leitura crítica dos fundamentos filosóficos da ética
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

profissional, contribuindo para que no campo da produção teórica do


Serviço Social seja reforçada a possibilidade de superação de uma visão
ética abstrata e idealista; ao mesmo tempo, esse repensar incorpora o
amadurecimento teórico prático da profissão, buscando expressá-lo no
debate ético.

Por isso, caro(a) aluno(a), a compreensão sobre o que são os onze princípios
fundamentais é determinante para entender o Código de Ética de 1993 e, principal-
mente, para garantir que o exercício profissional respeite os valores ético-políticos
construídos pela categoria profissional e pelos sujeitos da ação profissional.

Você faz alguma distinção entre os valores que orientam sua vida privada e
os valores que orientam sua atuação profissional?
Se você fosse construir os valores éticos para o Código de Ética Profissional,
quais valores éticos você criaria?

Mas antes de iniciar a análise efetiva dos princípios, é necessário retomar alguns
conceitos que envolvem a sua construção. Esses conceitos já foram abordados
no Capítulo IV do livro de Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do
Serviço Social II e são cruciais para avançarmos na discussão. Vamos denomi-
nar esses conceitos de Eixos Estruturadores dos Onze Princípios Fundamentais.

Eixos Estruturantes Sobre os Onze Princípios Fundamentais


108 UNIDADE III

PROJETOS SOCIETÁRIOS

Os projetos Societários exprimem a construção de uma sociedade ideal de acordo


com os interesses em disputa e partindo da contradição existente na relação entre
capital e trabalho. O conflito de classes apresenta para nós diferentes Projetos
Societários que no seu desenvolvimento contraditório movimentam a história.
Segundo Marx e Engels (1998, p. 41), “a história da sociedade até os nossos dias
tem sido a história da luta de classes”.
Conforme são desenvolvidas as relações sociais no modo de produção

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
capitalista, mediadas pelo trabalho, a burguesia e o proletariado idealizam um
determinado tipo de sociedade que busca atender a interesses de classe que visam
à manutenção dessa relação ou a sua superação, buscando uma sociedade livre
e sem exploração de classe.
Diante da concorrência entre Projetos Societários antagônicos, verificamos que
o desenvolvimento histórico do Serviço Social no Brasil está diretamente relacionado
com os interesses políticos, econômicos e sociais dos projetos em disputa e que tor-
navam a profissão produtora e reprodutora das relações sociais em desenvolvimento.
Para compreender essa questão, é necessário retomar as discussões das dis-
ciplinas de Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social
I e II que explicam o arcabouço teórico metodológico, técnico operativo e ético-
-político construído pelo Serviço Social em cada período histórico que visavam
à intervenção da profissão diante dos interesses societários em disputa.
São características dos Projetos Societários:
■■ A concorrência entre diferentes Projetos Societários é um fenômeno pró-
prio da democracia política. É quando se conquistam e se garantem as
liberdades políticas fundamentais que distintos projetos podem confron-
tar-se e disputar a adesão dos membros da sociedade.
■■ Os Projetos Societários que correspondem aos interesses da classe traba-
lhadora sempre dispõem de condições menos favoráveis para enfrentar
ou superar os Projetos Societários burgueses. Entretanto, isso não signi-
fica que não possam ser alcançados, mas dependem de crises estruturais
criadas pela própria incontrolabilidade de acumulação capitalista para que
haja a sua superação e a incorporação de um novo projeto de sociedade.

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


109

■■ São projetos que se constituem como macroscópicos e somente eles têm


essa característica, de acordo com Netto (1999b, p. 2): “Trata-se daque-
les projetos que apresentam uma imagem de sociedade a ser construída,
que reclamam determinados valores para justificá-la e que privilegiam
certos meios (materiais e culturais) para concretizá-la”.
■■ Nos Projetos Societários há necessariamente uma dimensão política que
envolve relações de poder. Essa questão coloca o Estado como mediador
da relação entre capital e trabalho e, de acordo com um determinado
Projeto Societário, manifesta no terreno político as relações de poder.
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■■ A experiência histórica demonstra que são projetos que constituem estru-


turas flexíveis e cambiantes, buscando superar crises e restabelecer as
relações sociais de produção de acordo com o movimento da história.
Isso explica os mecanismos político/ideológicos apropriados pelo capital
para retomar o processo de acumulação em tempos de crise.
■■ Os Projetos Societários podem visar dois tipos de relações sociais e, con-
sequentemente, de sociedade: Garantir a manutenção das relações sociais
capitalistas ou superá-las almejando a sua transformação para uma outra
forma de sociabilidade, que diante da contradição visaria à eliminação
de classes, da exploração e de seus desdobramentos como a desigual-
dade e a pobreza.
Na segunda metade dos anos 1960 e início da década de 1970, o Brasil estava
diante de um processo de crise econômica, de surgimento e enfraquecimento da
Ditadura Militar e da efervescência dos movimentos sociais. Com isso, a história
oferece os subsídios necessários para que esses Projetos Societários entrassem
em confronto direto, apontando, de um lado, o projeto do capital financiado pela
burguesia brasileira e pelo imperialismo norte americano por meio da Ditadura
Civil-Militar, e, de outro, o projeto societário da classe trabalhadora que se orga-
nizava e reivindicava democracia e direitos sociais plenos.
O Projeto Societário da classe trabalhadora era representado por meio dos
diversos movimentos sociais que se organizavam, dentre eles, podemos destacar:
o Partido dos Trabalhadores (PT), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a
União Nacional dos Estudantes (UNE), o Movimento dos Trabalhadores Sem
Terra (MST), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Movimento Sanitário, den-
tre muitos outros. De modo geral, reivindicavam por um Projeto Societário

Eixos Estruturantes Sobre os Onze Princípios Fundamentais


110 UNIDADE III

que buscava por meio da luta democrática,


conquistar direitos sociais plenos, melho-
res condições de vida, trabalho e divisão da
riqueza socialmente produzida.
E, principalmente, conforme a teoria
marxista vai se espraiando para o interior da
profissão a partir dos anos 1980, as demandas
emergentes vão evidenciando que a extrema
©shutterstock
condição de exploração da classe trabalha-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dora e de ausência do Estado são imperativos para construir um Projeto
Profissional que dê conta de compreender o que de fato é a sociedade capita-
lista, conceber a questão social como objeto de trabalho e a classe trabalhadora
como sujeito da intervenção profissional.

PROJETOS PROFISSIONAIS

“Procure exercitar sua compreensão acerca dos diferentes projetos sociais


em disputa na realidade, analisando os diferentes enfoques dados pela mí-
dia acerca de determinada informação ou fato”.
Fonte: CFESS (2005, p. 35).

■■ Os Projetos Profissionais são construídos por um sujeito coletivo, ou seja,


a categoria profissional, e deve obrigatoriamente envolver todos os sujeitos
que dão instrumentalidade para a profissão. Segundo Netto (1999a, p. 04),

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


111

É por meio da sua organização (envolvendo os profissionais, as insti-


tuições que os formam, os pesquisadores, os docentes e os estudantes
da área, seus organismos corporativos, acadêmicos e sindicais etc.) que
um corpo profissional elabora o seu projeto. Se considerarmos o Ser-
viço Social no Brasil, tal organização compreende o sistema CFESS1/
CRESS2, a ABEPSS3, a ENESSO4, os sindicatos e as demais associações
de assistentes sociais.

■■ Dentro da estrutura e organização de Projetos Profissionais, a dimensão


política deve estar presente, já que entre diferentes projetos há também a
concorrência de projetos coletivos. Essa concorrência é inerente ao debate
democrático, por isso, um Projeto Profissional é obrigatoriamente um projeto
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

político. Mesmo que um projeto não assuma sua posição frente aos inte-
resses concorrentes entre projetos coletivos e societários, automaticamente
está assumindo um posicionamento, seja ele transformador ou conservador.
■■ Sobre o caráter político dos projetos, o autor Netto (1999b, p. 5) explica que:
É importante ressaltar que os Projetos Profissionais também têm ine-
limináveis dimensões políticas, seja no sentido amplo (referido às suas
relações com os Projetos Societários), seja em sentido estrito (referido às
perspectivas particulares da profissão). Porém, nem sempre tais dimen-
sões são explicitadas, especialmente quando apontam para direções con-
servadoras ou reacionárias. Um dos traços mais característicos do con-
servadorismo consiste na negação das dimensões políticas e ideológicas.

■■ Diante do conflito de interesses que está na diversidade de concepções que


existem no interior da categoria profissional, um fator determinante para
equilibrar essa problemática é o respeito da presença do pluralismo. Por
isso, é preciso ter clareza de que, mesmo o Projeto Ético-Político sendo
resultado da construção coletiva e hegemônica da categoria profissional,
estabelecendo aspectos imperativos e indicativos, o debate teórico, ético
e político deve respeitar os posicionamentos contrários e realizá– los por
meio do debate no plano das ideias, jamais pela coerção, pressão ou vio-
lência. Por isso, o pluralismo é importante para movimentar e propor
respostas efetivas para atender os problemas que emergem constante-
mente para a profissão.

1
Conselho Federal de Serviço Social (CFESS).
2
Conselho Regional de Serviço Social (CRESS).
3
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS).
4
Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO).

Eixos Estruturantes Sobre os Onze Princípios Fundamentais


112 UNIDADE III

■■ Os Projetos Profissionais requerem componentes imperativos, pois são


elementos obrigatórios a todos que exercem a profissão. Os elementos
imperativos são os aspectos jurídicos legais e jurídicos políticos que regu-
lam toda a categoria profissional. Os aspectos jurídicos legais são todas as
leis, resoluções e portarias que regem o exercício profissional, dentre elas,
os principais são a Lei de Regulamentação da Profissão (Lei 8662/93), o
Código de Ética Profissional de 1993 e as Diretrizes Curriculares de 1996.
Os aspectos jurídicos políticos são todas as leis que partem do artigo 6º
da Constituição Federal que prevê a garantia dos direitos sociais e que, de
maneira transversal representam os princípios ético/políticos profissio-
nais, por exemplo, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), Estatuto

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da Criança e do Adolescente (ECA), Estatuto do Idoso, Lei Orgânica da
Saúde (LOS) (NETTO, 1999a).
■■ Os Projetos Profissionais requerem componentes indicativos, são aque-
les, segundo Netto (1999a, p. 8), “em torno dos quais não há um consenso
mínimo que garanta seu cumprimento rigoroso e idêntico por todos os
membros do corpo profissional”. Sobre os indicativos, o autor fala do
Código de Ética, que, embora componha o arcabouço jurídico legal da
profissão, sendo passível de punição, caso haja o seu descumprimento, é
um componente passível de contestações de práticas diferenciadas sob
um mesmo princípio.
■■ Os Projetos Profissionais possuem instâncias político/organizativas,
segundo Teixeira (2009), essas instâncias representam os espaços democrá-
ticos de organização para debater sobre a profissão, seus rumos, revisões,
enfrentamentos, alianças e, principalmente, sobre o projeto ético polí-
tico. O conjunto Conselho Federal de Serviço Social (CFESS)/Conselho
Regional de Serviço Social (CRESS), a Associação Brasileira de Ensino e
Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), os Centros e Diretórios Acadêmicos,
a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO) são exem-
plos dessas instâncias. (TEIXEIRA, 2009).

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


113
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

©shutterstok

■■ Os Projetos Profissionais produzem conhecimento teórico/crítico. Na


medida em que a profissão avança no campo científico de produção de
conhecimentos relacionados às ciências sociais, desenvolve a investigação
acerca da realidade social subsidiada pela teoria histórico crítica mar-
xista. Isso que direciona a profissão na esfera interventiva para a defesa
de Projetos Societários da classe trabalhadora e de recusa de concepções
conservadoras e tradicionais que não dão conta de explicar a realidade e
de propor alternativas de enfrentamento para os problemas e desdobra-
mentos da questão social (TEIXEIRA, 2009).
■■ Os Projetos Profissionais requerem sempre uma fundamentação de
natureza ética que extrapola o ordenamento jurídico legal e impõe o
aprofundamento ético, ideológico e político do profissional para além do
código de ética. Esse, por sua vez, não deve ser considerado um manual
de direitos e deveres a ser seguido, uma vez que só tem real efetividade
se o profissional idealizar objetivamente no âmbito político ideológico os
princípios éticos pensados por toda a profissão.

Eixos Estruturantes Sobre os Onze Princípios Fundamentais


114 UNIDADE III

PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

O Projeto Ético-Político do Serviço Social é um Projeto Profissional articulado


com o projeto societário de transformação social e exige pensar a profissão no
âmbito do conflito de classes, partindo das suas contradições e interesses para
fortalecer a consciência de classe, para alcançar uma sociedade justa, emanci-
pada, democrática e livre, que garanta a divisão da riqueza socialmente produzida.
De acordo com Paiva, Netto et al (2001, p. 163):
Esse processo de ampliação da democracia e construção de um novo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
projeto societário deflagra a mobilização em torno do debate e da cria-
ção de novos valores éticos, o que, por sua vez intensifica esse processo.
Os assistentes sociais dessa forma, coerentes com o Projeto Profissional
que vem sendo construído, deverão se somar ao movimento de consti-
tuição de novos valores éticos, fundamentados decisivamente na liber-
dade e na equidade.

A construção dos onze princípios fundamentais deve reproduzir os valores éti-


cos e a necessidade de alinhar o Projeto Profissional do Serviço Social e o Projeto
Ético-Político do Serviço Social com as demandas emergentes da classe trabalha-
dora que se intensificam a partir dos anos 1980, em luta pela democracia e por
direitos sociais, os quais exigem a defesa da liberdade, equidade, justiça social e
defesa intransigente dos direitos humanos e sociais.
Os valores éticos expressam o desejo pela emancipação dos sujeitos sociais
na sua complexidade. Por essas questões é que temos um Projeto Ético- Político
e devemos materializá-lo na prática profissional por meio de uma intervenção
consciente e pautada na análise crítica ancorada em uma teoria que dê conta de
explicar o movimento do real. Pode parecer utópico alcançar uma sociedade para
além do capital, mas a história nos dá provas constantes de que a classe que luta
é a classe que tem o futuro nas mãos.
A partir dos eixos estruturadores: Projetos Societários, Projetos
Profissionais e Projeto Ético-Político, podemos compreender os aspectos
históricos, teórico-metodológicos e práticos que levaram a categoria profis-
sional a construir o seu Projeto Ético-Político articulado com os interesses
da classe trabalhadora.

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


115

Nesse contexto, os onze princípios são, de maneira metafórica, a medula


cervical que sustenta a estrutura jurídica legal do Código de Ética Profissional,
sem eles, o Código de Ética seria apenas um código de conduta direcionado
para a ação técnica desconectada do movimento da realidade, o que eliminaria
a dimensão política e transformadora das ações profissionais do assistente social.
Agora que retomamos os eixos estruturadores, podemos discutir os onze
princípios fundamentais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO


DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DE
1993

Neste momento, vamos iniciar a análise dos onze princípios fundamentais do


Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993. Para fins didáticos,
vamos apresentá-los separadamente, mas é preciso ter consciência e clareza de
que a reflexão ética que envolve os princípios não deve ser realizada de maneira
isolada e fragmentada, ao contrário, deve considerar que os princípios são uni-
dades que se articulam e se relacionam em uma totalidade.

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS SÃO:

1. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das de-


mandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena
expansão dos indivíduos sociais.
Como o próprio princípio afirma, a liberdade de ser compreendida como valor
ético central, isso quer dizer que o assistente social deve tomar a liberdade como
princípio fundante do exercício profissional e dos desafios que são colocados no
cotidiano de trabalho.

Os Onze Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993


116 UNIDADE III

Por isso, é preciso que o conceito de liberdade proposto nesse princípio esteja
fundamentado na perspectiva teórico-metodológica materialista histórica, que
coloca a liberdade como defesa da liberdade de todos em detrimento do con-
ceito individualista de liberdade defendido pelo projeto societário capitalista. A
ideia liberal de liberdade tem sido aprofundada pelo movimento neoliberal que
prega a liberdade individual, o individualismo, a concorrência e a fragmenta-
ção da consciência coletiva.
O conceito de liberdade que deve ser reafirmado no exercício profissional
ético, competente e crítico é apresentado por Paiva e Salles (2001, p. 182):

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O conceito de liberdade que faz referência ao Código de Ética dos As-
sistentes Sociais exige a sua própria redefinição, apontando para uma
nova direção social, que tenha o indivíduo como fonte de valor, mas
dentro da perspectiva de que a plena realização da liberdade de cada
um, requer a plena realização de todos.

Quando tomamos a direção social da liberdade defendida pelo Código de Ética


como referência para o exercício profissional, verificamos que os valores esta-
belecidos pela ordem social capitalista impõem ao assistente social o desafio de
romper com a alienação e o senso comum que reproduzem o discurso de que
todos são livres para alcançarem seus objetivos.
Em uma sociedade desigual e excludente como é a realidade brasileira, esse
ideal de liberdade defendido pelo capital é barrado quando crianças não têm
acesso à educação, saúde, lazer e segurança. Quando o desemprego e a pobreza
impedem que as famílias tenham uma vida digna, quando a concorrência, a com-
petição e a escassez garantem a liberdade de fazer escolhas apenas para alguns.
Podemos exemplificar a diferença entre a liberdade individual e a defesa pela
liberdade enquanto construção coletiva com uma fala muito conhecida de todos,
a saber: se a liberdade individual afirma que o direito de um indivíduo termina
quando começa a do outro, a liberdade coletiva rompe com essa perspectiva ao
defender que o direito de um sujeito termina quando termina o direito do outro.
Ou seja, como ser livre para comer, viver e escolher, se o outro, que é sujeito e
igual a mim, não tem as mesmas possibilidades?

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


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Por isso, a liberdade deve ser tomada como valor ético central na medida que preco-
niza a defesa da liberdade coletiva dos sujeitos, para isso, é preciso que autonomia,
emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais também sejam atendidas.
Não é possível garantir liberdade sem contemplar a autonomia, que, por sua vez,
leva à emancipação e ao pleno desenvolvimento dos sujeitos na sua complexidade.
A dimensão ética e política que envolve os valores de liberdade, autonomia e
emancipação dos sujeitos é repleta de contradições e desafios que, muitas vezes,
podem parecer impossíveis de serem alcançados em uma realidade excludente,
de políticas sociais precarizadas, fragmentadas e paliativas.
Mas é de suma importância que esses desafios sejam percebidos como meios
para construir possibilidades de enfrentamento. A pobreza, o desemprego, a
falta de recursos públicos e de políticas sociais efetivas, ao mesmo tempo que se
colocam como obstáculos para a garantia da liberdade dos sujeitos, tornam-se o
fundamento para que os sujeitos resistam e enfrentem esses problemas coletiva-
mente. É por isso que a defesa da liberdade pressupõe a autonomia, pois, mesmo
que os sujeitos sejam explorados e tenham seus direitos violados, o assistente
social pode colocar-se como instrumento de conscientização dos sujeitos a par-
tir de suas próprias experiências.
Em outras palavras, a liberdade não é alcançada apenas como a conquista de
questões materiais e objetivas, do mesmo modo que a autonomia não se reduz a
possibilidade do sujeito ter renda suficiente para não depender de benefícios e
programas sociais. Liberdade e autonomia pressupõem a construção da consci-
ência coletiva dos sujeitos, a fim de garantir que esses façam escolhas conscientes
sobre si e transformem suas vidas. Segundo CFESS (2005, p. 48):

Os Onze Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993


118 UNIDADE III

A liberdade como capacidade humana é, portanto, o fundamento da


ética. Assim, agir eticamente, em seu sentido mais profundo é agir
como liberdade, é poder escolher conscientemente entre alternativas,
é ter condições objetivas para criar alternativas e escolhas. Por sua im-
portância na vida humana, a liberdade é também um valor, algo que
valoramos positivamente, de acordo com as possibilidades de cada
momento histórico. Por tudo isso, podemos perceber que a liberdade
é também uma questão ética das mais importantes, pois nem todos os
indivíduos têm condições de escolher e de criar novas alternativas de
escolha.

Ter liberdade é fazer escolhas conscientes, é deixar de ser mero receptor de políti-

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cas e serviços para se tornar sujeito do processo. Desse modo, os sujeitos passam
a agir eticamente e têm a possibilidade de questionarem questões que até então
eram tidas como naturais e definitivas. Pobreza, violência, fome e desemprego
passam a ser objetos de análise crítica e reflexiva dos sujeitos que sofrem, quo-
tidianamente, com essas mazelas.
Desse modo, a liberdade é central para a superação dos desafios cotidianos
e deve ser exercida por meio do respeito pelos usuários, suas angústias, neces-
sidades e potencialidades. Do posicionamento crítico e munido de referencial
teórico prático para impedir que o exercício profissional se frustre com a falta
de recursos públicos, descaso dos agentes públicos, falta de estrutura de trabalho
e de equipe técnica que acabam limitando o assistente social e tornando a prá-
tica profissional pontual e imediatista. Conforme Paiva e Salles (2001, p.183):
O assistente social comprometido com a construção e a difusão da li-
berdade não sucumbe, porém a este “vão combate”, mas faz da necessi-
dade o campo de criação e do sonho da liberdade como realidade. Isto
significa que o profissional aposta e é capaz de empreender sua ação
como uma unidade entre a autonomia e direção.

A liberdade como construção coletiva pode então ser considerada um desa-


fio para o alcance do exercício profissional, mas também é uma possibilidade e
deve ser reconhecida como valor ético central do assistente social ético, político
e competente no atendimento às demandas da classe trabalhadora e de questio-
namento da ordem social vigente.

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


119

“[...] A emancipação humana refere-se a plena expansão dos indivíduos so-


ciais, o que requer autonomia e liberdade. Isto é, a emancipação humana
está relacionada à total superação da propriedade privada e de processos
de alienação e de dominação exploração a que estão submetidos os in-
divíduos da sociedade burguesa [...] a emancipação humana só se realiza
plenamente com a liquidação do capitalismo. Entretanto, a antecipação e
a projeção da realização da emancipação humana devem se constituir no
norte a balizar as lutas sociais no presente”.
Fonte: Vinagre (2011, p. 111).
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2. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do


autoritarismo.
A defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autorita-
rismo segue o mesmo direcionamento ético, político e teórico-metodológico do
princípio da liberdade, ou seja, para que o respeito às liberdades individuais seja
garantido, é preciso que a liberdade coletiva seja uma realidade a ser alcançada.
Nesse sentido, todos os cidadãos, independente de raça, etnia, gênero, orienta-
ção sexual e classe social, possuem dignidade que deve ser respeitada em todas
as suas circunstâncias.
Do ponto de vista do direito, os direitos humanos seguem documentos his-
tóricos internacionais, como a Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e
Explorado de 1918 e a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Essas
declarações precisam ser analisadas a partir do contexto histórico que as cria-
ram, os quais envolvem o desenvolvimento do modo de produção capitalista, do
processo de exploração e agravamento da desigualdade e de desumanização da
dignidade da pessoa humana, da violência brutal da Segunda Guerra Mundial
e dos interesses econômicos da Guerra Fria.
Mas, de modo geral, essas declarações representam a defesa jurídica de que
todos os cidadãos têm direitos sociais, civis, políticos, econômicos e culturais.
Porém é de suma importância destacar que o assistente social ancorado em uma
teoria social crítica precisa considerar, mais uma vez, o contexto histórico e o con-
flito de interesses e contradições que envolvem as declarações para compreender

Os Onze Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993


120 UNIDADE III

qual é sua real finalidade. Desse modo, a finalidade dessas declarações prioriza
a garantia de direitos a partir da perspectiva liberal, a qual, segundo Vinagre
(apud MÉSZÁROS, 2011, p. 115):
Trata os direitos humanos nos postulados legalistas – formais. Esta vi-
são ancorada na teoria liberal, leva à ficção legal da igualdade, ao nível
de direitos concebidos abstratamente, em que um contexto que contra-
ditoriamente inviabiliza os direitos humanos que defende estabelecer.

Em outras palavras, a visão liberal de direitos humanos preconizada nessas


declarações criam a ilusão de que todos são iguais perante a lei, possuidores de

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direitos e deveres. Mas, quando transferimos essa concepção para a prática social,
verificamos que as contradições e desigualdades sociais e econômicas tornam
inviáveis a efetiva defesa dos direitos humanos para todos os cidadãos. Vinagre
(2011, p. 115) apresenta que
Para Marx, a possibilidade de superação dessa ‘contradição insolúvel’
se coloca no interior da prática social, na luta pela extinção do direito
burguês à perspectiva exclusiva. Fora deste horizonte, os direitos de
liberdade e todos os demais direitos humanos se tornam irrealizáveis
plenamente. Por isso, nada se resolve apenas pela proclamação dos
direitos [...] a conquista de direitos proclamados legalmente só ganha
significado estratégico na medida em que se consegue introduzir pro-
fundamente a luta por direitos no corpo da sociedade civil.

Diante da afirmação de Vinagre (2011), podemos fazer duas considerações impor-


tantes para compreender de que forma podemos situar o atuação ética e política
do assistente social conforme esse princípio.
A primeira é que, na sociedade capitalista, os
direitos são acessados aos chamados cidadãos
de bem e que, por sua vez, estão diretamente
relacionados ao direito de propriedade pri-
vada. Consideramos também que a ideologia
neoliberal, ao construir uma nova sociabili-
dade pautada na defesa do individualismo,
concorrência e competição, fragmenta a
consciência coletiva e desumaniza os sujei-
©shutterstok
tos, transformando-os em mercadoria.

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


121

Na prática, essa consciência pode ser visualizada no preconceito entre ricos


e pobres, entre nordestinos e sulistas, entre campo e cidade, entre periferia e
centro. Cada vez mais estamos nos isolando dos limites da nossa consciência
burguesa e nos esquecendo de que todos somos dignos de ter direitos e de ter
uma vida digna.
A segunda questão exige lutar e questionar o autoritarismo em todas as suas
formas, pois não é possível construir uma sociedade livre, autônoma e emanci-
pada com a prática coercitiva e violenta do Estado e do Capital, com a tortura
e a opressão, com a consciência preconceituosa e ignorante que não respeita a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

individualidade dos sujeitos. Essa individualidade deve entender que pessoas


são diferentes e carregam histórias, famílias, conhecimento e são seres humanos.
Diante dessas duas questões é que o assistente social deve lutar na defesa
dos direitos humanos e na recusa do arbítrio e do autoritarismo, principalmente
aliando às minorias que sofrem de maneira mais violenta e brutal, como é a rea-
lidade de negros, mulheres, crianças, pessoas com deficiência, adolescentes em
conflito com a lei e homossexuais. Defender e respeitar esses sujeitos significa
construir uma sociedade que respeita a individualidade e, ao mesmo tempo, luta
para romper com a visão liberal de igualdade que protege apenas aqueles que
são valorizados e respeitados pelo que têm, e não pelo que são.

“Os valores e princípios ético-políticos radicalmente humanos, que ilumi-


naram as trilhas percorridas pelos assistentes sociais nas últimas décadas,
sofrem hoje um forte embate com a idolatria da moeda, o fetiche do merca-
do e do consumo, o individualismo possessivo, a lógica contábil e financeira
que se impõe e sobrepõe às necessidades e direitos humanos e sociais.”
Fonte: CFESS (apud IAMAMOTO, 2005, p.60).

Os Onze Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993


122 UNIDADE III

3. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primor-


dial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis soci-
ais e políticos das classes trabalhadoras.
Precisamos retomar que todos os princípios são articulados entre si e que, jun-
tos, representam os pilares que são legitimidade ética e política para o código
de ética profissional de 1993. Por isso, o princípio da cidadania corresponde ao
princípio da liberdade e da defesa dos direitos humanos. Isso quer dizer que
não é possível garantir um princípio sem levar em consideração a finalidade e
o direcionamento teórico-metodológico que construíram os outros princípios

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
já analisados.
Vamos iniciar a análise desse princípio realizando a seguinte pergunta: o que
é ser cidadão? Se você fosse responder a essa pergunta será que teria a resposta
na ponta da língua? Talvez, responderia que ser cidadão é ter direitos e deve-
res, tem certidão de nascimento, RG e CPF, paga seus impostos, não comete
crimes, não deve nada a ninguém, participa das eleições a cada quatro anos,
cumpre suas obrigações de filho, filha, pai, mãe, tio ou avó, trabalha etc. Pode
ser que sejam essas as primeiras impressões que tomam sua consciência para
responder essa pergunta.
O que não é errado, porque sempre partimos da aparência, daquilo que
vivemos e aprendemos na nossa relação com os sujeitos para responder aos ques-
tionamentos de forma imediata. Mas, como futuro(a) assistente social que tem
clareza de que a concepção ético-política e teórico-metodológica explica que
vivemos em uma realidade excludente e desigual e que, para alcançar a liber-
dade, autonomia e emancipação, só será possível se questionarmos a realidade
vigente, será que ser cidadão continuaria a ser respondido com essas primeiras
impressões? Acreditamos que não.
O princípio da cidadania, como todos os outros, carrega em si interesses de
classe e disputa entre Projetos Societários antagônicos. Assim, a defesa da cida-
dania em uma realidade capitalista não é a mesma cidadania defendida pela
classe trabalhadora. Sabemos que do ponto de vista jurídico formal, a cidadania
envolve os direitos civis, políticos e sociais, e todo sujeito é considerado cidadão
– perante a lei – porque tem direito a esses direitos.

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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No entanto, o Projeto Societário burguês reconhece esses direitos na medida em


que os cidadãos tenham capacidade e liberdade para reinvindicá-los, o que não
oferece a possibilidade real e efetiva de torná-los plenos. Esses direitos só serão
plenos quando todos os cidadãos tiverem a possibilidade de praticá-los plena-
mente. De acordo com Paiva e Salles (2001, p. 187):
Comprometermo-nos com a cidadania implica apreendê-la na sua real
significação, o que seguramente exige a ultrapassagem da orientação
civil e política imposta pelo pensamento liberal, e, como tal, a supera-
ção dos limites engendrados pela reprodução das relações sociais no
capitalismo. A cidadania, de acordo com a nova acepção ético-política
proposta, consiste na universalização dos direitos sociais, civis e políti-
cos, pré-requisitos estes fundamentais a sua realização.

A defesa pela ampliação da cidadania se coloca na prática profissional como um


desafio a ser alcançado, principalmente pelo processo de precarização das polí-
ticas sociais, pela alienação e fragmentação das políticas e serviços públicos em
todas as suas áreas. Contudo esse desafio encontra possibilidades na medida em
que o profissional se apropria do seu espaço de trabalho, dos recursos e equipa-
mentos públicos e os coloca a serviço dos interesses e das necessidades reais dos
sujeitos que os demandam. Isso significa romper com as respostas imediatas que
são dadas a problemas emergenciais e construir alternativas de enfrentamento
à violação dos direitos civis, sociais e políticos a partir da própria população.

Os Onze Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993


124 UNIDADE III

Assim, a concepção de cidadania ultrapassa a visão do senso comum que o


coloca como um indivíduo que tem direitos e deveres, mas como sujeitos coleti-
vos que precisam participar ativamente do desenvolvimento de políticas públicas,
participa dos espaços de deliberação e participação coletiva, tornando-se prota-
gonista da sua família, bairro, comunidade e município.
É importante salientar que a participação não deve ser confundida com
responsabilização, muitas vezes ouvimos que a população tem culpa pela cor-
rupção, porque não sabe votar ou porque não conhece os seus direitos, que se
corrompe pela troca de favores e pelo “jeitinho brasileiro” para conseguir agilizar

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uma consulta ou por conseguir uma vaga na creche do bairro. Essa perspectiva
é comumente defendida por aqueles que querem manter a sociedade da forma
como está, o que, além de não resolver o problema, desconsidera as múltiplas
determinações que envolvem a alienação dos sujeitos.
A plena realização da cidadania se identifica, pois, com o projeto so-
cietário com o qual estamos comprometidos. Daí, por que não pode-
mos nos restringir à referência de cidadania posta pelos parâmetros
de ordem civil e política liberal, que é aquela que se contenta com um
limite mínimo (precaríssimo) para a satisfação das necessidades bási-
cas dos indivíduos, principalmente no que tange aos trabalhadores. Os
assistentes sociais não têm que se orientar por esse limite, e, sim, lutar
para que o nível de possibilidade de atendimento das necessidades dos
trabalhadores e dos usuários do serviço social seja amplo, ambicionado
a contemplação integral dos direitos sociais, e não aquela cidadania que
se esgota nas cestas básicas, na entrega de leite, ou simplesmente em
um vale. Não que esses benefícios não sejam considerados importan-
tes. Temos, inclusive, como categoria profissional, protagonizado toda
uma luta e defesa pela assistência social como política pública, porém
não a pleiteamos descontextualizada das demais políticas sociais (PAI-
VA; SALLES, 2001, p. 187).

A concepção de cidadania deve partir de uma perspectiva ampliada, a qual exige


que o assistente social compreenda os interesses e as contradições em disputa e
pratique a cidadania por meio do exercício ético e político no cotidiano de tra-
balho, tornando os sujeitos participantes e protagonistas de suas vidas para exigir
do Estado que seus direitos sejam garantidos de maneira plena pela articulação
entre os direitos sociais, civis e políticos.

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


125

“Pensarmos a concretização do Projeto Ético-Político do Serviço Social, a


materialização dos Princípios Fundamentais do seu Código de Ética no co-
tidiano profissional e captarmos a percepção dos Assistentes Sociais e esse
respeito é mister para a compreensão dessa profissão frente à crise capita-
lista contemporânea”.
Fonte: Forti (2011, p. 24).
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4. Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização


da participação política e da riqueza socialmente produzida.
Como o próprio princípio já afirma, a democracia defendida pelo Projeto Ético-
Político do Serviço Social vai além do conceito democrático de participação e
de liberdade de expressão e de participação política, mas requer a divisão da
riqueza socialmente produzida. Mas o que devemos entender por socialização
da riqueza? Bom, vamos lá!
Sabemos que o modo de produção capitalista se desenvolve pelo processo
de exploração de uma classe sobre a outra, dos que detêm os meios de produ-
ção e dos sujeitos que vendem a sua mercadoria – a força de trabalho. Assim, o
capitalista acumula riqueza e expropria do trabalhador a sua força de trabalho.
Entretanto, nesse processo, não é apenas a força de trabalho dos trabalhadores
que é explorada, mas tudo que é construído na relação do sujeito com o seu tra-
balho, pois o trabalho é coletivo, portanto, social.
Na medida em que os possuidores dos meios de produção - os capitalistas -
expropriam do trabalhador a sua força de trabalho e a mais valia, promovendo o
processo de alienação e de exploração, o capitalista toma posse privada de uma
riqueza social que foi produzida por meio do trabalho coletivo (social). Isso
quer dizer que ,no modo de produção capitalista, a riqueza socialmente produ-
zida por intermédio do trabalho não é dividida igualmente, mas é apropriada
por uma determinada classe social – a burguesia.

Os Onze Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993


126 UNIDADE III

Nesse processo de apropriação privada da riqueza socialmente produzida,


não temos apenas a desigualdade econômica, mas a apropriação da educação,
da cultura, da arte, da política, do lazer etc. Temos de modo geral a apropriação
de bens que deveriam ser de todos. Por isso, o princípio da democracia que está
presente no Serviço Social se relaciona diretamente com a defesa da participa-
ção e do acesso dos cidadãos aos bens produzidos socialmente.
Assim uma sociedade democrática não é apenas o que respeita a livre expres-
são, o voto e as decisões coletivas, mas é aquela que socializa o conhecimento, a
cultura, a arte, a literatura, a informação, a transparência, a saúde e o trabalho.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
De acordo com Paiva e Salles (2001, p. 188):
Para além da democracia política, consentida e tolerada pela ordem li-
beral burguesa, a democracia que queremos reclama igualdade de aces-
so e oportunidades para que todos os indivíduos tenham direito a um
trabalho e existência dignos, a condições de moradia, saúde, educação,
lazer e cultura. Esse tipo de democracia todavia, não cabe dentro dos
objetivos e limites da sociedade burguesa, porque tal conteúdo social
contraria o núcleo de relações fundantes da acumulação capitalista, a
qual se estrutura a partir da exploração de uma classe sobre a outra.

Vivemos em uma sociedade que tem priorizado a concentração de bens e rique-


zas, sujeitando os trabalhadores a condições precárias de vida, de educação e de
saúde, que enxerga os pobres como sujeitos inferiores, que não tem conheci-
mento, instrução. E, por isso, não são capazes de decidirem por si só, mas que
devem ser submetidos aos ditames neoliberais e governamentais, de políticas
sociais decididas de cima para baixo, pois as classes “menos favorecidas” não
têm condições de saberem o que é melhor para suas vidas, pois isso são tutela-
das e controladas pelo Estado e pelo Capital como massa de manobra política
em tempos de eleição.
Devemos ter clareza que o princípio da democracia não corrobora com os
ideais de democracia difundidos pelo Estado neoliberal com o forte apoio dos
veículos de mídia. Em detrimento desse conceito liberal, a democracia está dire-
tamente articulada com os princípios de cidadania e de liberdade e que deve
ultrapassar a ideia de que todos são cidadãos nessa realidade neoliberal, são
apenas cidadãos quando convém ao Estado ouvi-los para criar alternativas de
controle e manutenção de suas necessidades nos limites do capital.

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


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Por isso, o assistente social que age democraticamente respeita a identidade dos
sujeitos, aceita ouvi-los e trabalha em unidade, em colaboração com as suas
reais necessidades, não decide nada sozinho, mas prioriza as decisões coletivas.
Segundo Paiva e Salles (2001, p. 190):
Com apoio de recursos críticos e criativos, o Serviço Social pode inves-
tir em uma tendência de autodesenvolvimento dos indivíduos sociais,
capaz de conferir nova direção social às suas atividades - de planeja-
mento, formulação e implementação das políticas sociais - incluindo
aquelas partilhadas com outros atores.

Segundo Paiva e Salles (2001), o assistente social torna-se instrumento de mobili-


zação e de organização coletiva desses sujeitos, atuando nos mais variados campos
de trabalho, educação, saúde, assistência social e previdência, buscando agir de
maneira transparente e coerente com os interesses dos usuários para superar os
desafios profissionais e para alcançar o princípio democrático na prática cotidiana.

5. Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que asse-


gure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos pro-
gramas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática.
Sobre esse princípio, devemos chamar a atenção para o conceito de equidade e
justiça social. A equidade entende que, para se garantir a igualdade de direitos,
é preciso garantir o acesso conforme as necessidades dos sujeitos. Por exemplo:

Os Onze Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993


128 UNIDADE III

Para garantir igualdade no acesso a um determinado prédio, precisa haver esca-


das e rampas para atender as necessidades de pessoas com e sem deficiência. No
caso das políticas sociais, esse princípio deve respeitar as peculiaridades dos sujei-
tos para garantir o acesso igualitário aos programas e políticas.
A igualdade, portanto, deve ultrapassar a ideia liberal de que todos são iguais
perante a lei, mas desiguais econômica e socialmente e torná-los iguais no acesso
aos direitos sociais, civis e políticos, o que exige o desenvolvimento de progra-
mas e políticas sociais que trabalhem de maneira integrada e busquem superar
as desigualdades historicamente construídas pelo modo de produção capitalista.

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Nesse sentido, as políticas não podem confundir equidade com privilégios,
mas devem priorizar a população e os sujeitos que sofrem mais violentamente
com o processo de exploração capitalista. Essa questão levanta debates quanto
às cotas raciais, os programas de transferência de renda e as vagas destinadas a
pessoas com deficiência e os programas de inclusão social.
São temas que sempre geram debate no interior da categoria e da sociedade
como um todo; expressam, de um lado, a visão individualista e neoliberal de
quem acredita que todos devem ter o mesmo direito à igualdade, mas que des-
considera a desigualdade criada pelo próprio processo de acumulação, que, por
sua vez, impulsiona visões preconceituosas perante os problemas sociais que
são coletivos. E de outro, a perspectiva que está articulada com o Projeto Ético-
Político que entende a equidade e a igualdade enquanto eixos estruturantes de
práticas que buscam superar a dívida histórica com essas populações a fim de
garantirem a igualdade de oportunidades. Essa perspectiva não secundariza as
necessidades de todos os cidadãos, uma vez que todos sofrem com a desigual-
dade, todos pagam altos impostos e recebem péssimos serviços públicos.

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


129

É necessário insistir na questão da universalidade, porque os assis-


tentes sociais precisam fortalecer cada vez mais, junto aos usuários, o
entendimento de que eles têm direito ao franco trânsito e alcance em
termos dos programas e das lutas políticas enquanto primeira forma de
viabilizar a distribuição de riquezas produzidas no seio da sociedade
(PAIVA; SALLES, 2001, p.191).

A equidade e a igualdade pressupõe a superação de todas as condições de explora-


ção e a garantia do acesso a todos os cidadãos a seus direitos, mas respeitando as
peculiaridades e necessidades de todos. Por isso, o assistente social deve compre-
ender quem são os sujeitos, como vivem, o que sentem, que necessidades passam,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

quais suas angústias e problemas, a fim de garantir que cada cidadão tenha seu
direito sem excluir a dimensão coletiva e universal da igualdade.
Aliada à equidade, temos a defesa da justiça social que pressupõe o acesso
dos cidadãos ao direito que é deles por direito. Pode parecer redundante, mas
a conquista por direitos sociais foi um processo árduo e moroso, no caso bra-
sileiro, tivemos o reconhecimento oficial de que é dever do Estado e direito de
todos à saúde, educação, assistência social, previdência, habitação e outros na
Constituição Federal de 1988.
A partir dessa data, travamos a luta constante em busca de justiça social, rei-
vindicando que temos de fato saúde pública e universal de qualidade, acesso e
permanência na educação pública, assistência social, trabalho e previdência. Lutar
por justiça social faz parte do cotidiano do assistente social e deve ser imperativo
para que o Projeto Ético-Político caminhe cada dia rumo a sua concretização.

Os Onze Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993


130 UNIDADE III

DEMOCRACIA E SERVIÇO SOCIAL


A entrevista coletiva sobre Democracia e Serviço Social foi realizada com
profissionais da área, protagonistas do movimento mudancista da profissão,
no âmbito da organização política, da formação profissional e do exercício
profissional, nas décadas de 1970 e 1980. Os eixos abordados centraram-se
na contribuição dos assistentes sociais nas lutas pela redemocratização da
sociedade civil e, em especial, sobre os marcos e resultados das mudanças

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efetivas desse movimento no Serviço Social.
Entre esses produtos, destacam-se o III Congresso Brasileiro de Assistentes
Sociais, em 1979, que redirecionou o compromisso político da profissão; a
criação da Associação Nacional de Assistentes Sociais (ANAS), em 1983, a
entidade sindical autônoma da categoria; a aprovação do currículo mínimo
pelo Ministério da Educação (MEC), em 1982; o Novo Código de Ética Profis-
sional, em 1986, e a sua reformulação, em 1993, que incorporou o compro-
misso profissional da categoria com a democracia, a liberdade e a justiça so-
cial; e a mudança, em 1993, da Lei de Regulamentação da profissão de 1957,
que garantiu competências e atribuições privativas do assistente social.
Fonte: Serra (2007, p. 01).

6. Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incen-


tivando o respeito à diversidade, à participação de grupos social-
mente discriminados e à discussão das diferenças.
O preconceito pode ser considerado o posicionamento previamente concebido
sobre algo ou alguém, uma primeira impressão, um posicionamento pessoal
subsidiado por valores e costumes construídos na relação com a família e com
a sociedade, porém a prática preconceituosa é uma questão moral e, como tal,
precisa ser analisada.
Os valores morais são criados pelos sujeitos na sua relação com os outros
sujeitos, com o trabalho e com a sociedade de modo geral, são criados para
estabelecer normas e padrões de conduta e estão diretamente relacionados com
interesses de classe. Essas questões influenciam como as famílias vão educar seus

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


131

filhos, como os sujeitos vão se comportar diante de relacionamentos pessoais e


profissionais e como vão conviver em sociedade. Ocorre que os valores morais
não são iguais para todos os sujeitos, ocorrendo o confronto de ideias, posicio-
namentos e opiniões sobre os mais variados temas.
Diante da realidade social que é extremamente desigual e excludente, a ques-
tão do preconceito tem sido utilizada nas relações de poder para garantir que
o processo de exploração continue conduzindo ao lucro, ao desenvolvimento
econômico e social dividido em partes desiguais. Em que ricos são brancos e
pobres são negros, sujeitos de bem são cidadãos e os pobres são criminalizados e
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

excluídos, que mulheres são exploradas por homens e idosos são desnecessários
para a sociedade produtiva e competitiva. A questão principal é que o precon-
ceito não está subsidiado por uma reflexão ética sobre a vida social e, por isso,
aceita qualquer posicionamento como sendo real, verdadeiro e impossível de
ser modificado.
Desse modo, a reflexão ética deve ser priorizada na prática social do assistente
social, o que exige que o assistente social reflita sobre suas questões morais, religio-
sas e pessoais em detrimento de valores que estejam alinhados com a preocupação
em garantir a liberdade, igualdade, emancipação e autonomia dos sujeitos sociais
livres. Essa preocupação não aceita que posicionamentos pessoais em relação à
cor, raça, etnia, gênero, opção sexual e religião impeçam a garantia de direitos
e o respeito integral aos sujeitos. De acordo com Paiva e Salles (2001, p. 194):
Não ceder aos argumentos ‘fáceis’ e preconcebidos é uma das primeiras
atitudes do sujeito consciente no embate contra os preconceitos. Um
anteparo nessa luta é a construção de uma confiança em ideias e con-
vicções que ultrapassem a nossa particularidade individual e, conse-
quentemente, nossos interesses egoísticos. É preciso ainda que se acre-
dite na capacidade de conhecimento e da experiência em refutar ideias
que outrora acalentamos.

Uma sociedade preconceituosa não respeita os sujeitos, impõe a força e a vio-


lência em detrimento do diálogo e do respeito à dignidade da pessoa humana.
Todos são dignos de viver em uma sociedade livre e igual que garanta a cada
indivíduo o direito de trabalhar, ter saúde, educação, cultura, lazer, habitação, ir
e vir independente da sua condição social, cor ou opção religiosa.

Os Onze Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993


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É por isso que o assistente social tem seu código de ética fundamentado em
valores que defendam a liberdade coletiva dos cidadãos e, para tanto, não aceita
práticas preconceituosas que impõem a lei do mais forte sobre o mais fraco ou
que estabelecem respostas à problemas sociais a partir de ideias preconcebidas
sem antes refletir eticamente sobre os dilemas presentes. De acordo com Paiva e
Salles (2001, p. 192): “só poderemos nos libertar dos preconceitos se assumirmos
corajosamente o contínuo processo de desalienação, o que equivale na formula-
ção de Gramsci à superação do senso comum”.
Para eliminar todas as formas de preconceito, é de suma importância que o
assistente social reflita se os valores que têm praticado são pautados em concep-
ções abstratas e imediatas do senso comum ou são feitos a partir de uma reflexão
ética, crítica e que responda efetivamente a questões sociais e coletivas na garan-
tia do respeito e do direito de todos.

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


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7. Garantia do pluralismo, por meio do respeito às correntes profis-


sionais democráticas existentes e as suas expressões teóricas, e
compromisso com o constante aprimoramento intelectual.
Esse princípio está relacionado ao debate construído no interior da categoria pro-
fissional a partir do movimento de reconceituação e da construção do Projeto
Ético-Político profissional nos anos de 1980. O pluralismo está relacionado ao
respeito a diferentes ideias relacionadas a questões políticas, teórico-metodoló-
gicas, éticas e práticas interventivas no âmbito profissional.
É importante salientar que o Projeto Ético-Político é hegemônico, ou seja,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

construído e respeitado por toda a categoria profissional, porém isso não sig-
nifica que o debate de ideias divergentes não estejam presentes. Ao contrário, a
maturidade profissional e o enfrentamento às demandas cotidianas só serão efe-
tivados a partir da construção coletiva subsidiada pelo debate, pelo confronto de
ideias, buscando alcançar um denominador comum em prol do fortalecimento
da categoria e da prática profissional. Segundo Paiva e Salles (2001, p. 97):
Defendemos, pois, uma concepção de pluralismo com hegemonia, o
que é diferente de supremacia: quando a predominância de determi-
nada posição teórico-prática não admite controvérsias nem o fluxo da
polêmica, enfim, não admite o debate.

Por isso, o respeito ao pluralismo está relacionado ao exercício democrático e


com a liberdade para se expressar e argumentar. Assim, a defesa do pluralismo
tem a finalidade de garantir a plena transformação do Serviço Social diante das
mudanças ocorridas na sociedade por meio do debate, do diálogo e do respeito
a posicionamentos diversos. Desse modo, a intolerância, a coerção, a imposição
e a violência são eliminadas pela defesa do pluralismo.

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8. Opção por um Projeto Profissional vinculado ao processo de cons-


trução de uma nova ordem societária, sem dominação, exploração
de classe, etnia e gênero.
Sabemos que a construção do Projeto Ético-Político profissional está centrada no
marco do embate entre Projetos Societários antagônicos, ao mesmo tempo que
assume o posicionamento em favor do Projeto Societário da classe trabalhadora.
Ou seja, está articulado com as demandas da classe trabalhadora e age no sentido
de superar o processo de exploração e alienação dos sujeitos no modo de produção
capitalista, com vistas a uma sociedade sem exploração de uma classe sobre a outra.
Pode parecer impossível alcançar uma sociedade excludente, desigual e que
supere a ordem social capitalista, mas a teoria social crítica e o próprio desen-
volvimento da história nos apresentam que a realidade se movimenta por forças
contraditórias que agem por incorporação e substituição das forças produtivas.
Ou seja, o capitalismo incorporou as forças produtivas do feudalismo e
substituiu a ordem monárquica e religiosa pela relação entre capital X traba-
lho. Do mesmo modo, o desenvolvimento cíclico de crises no capital devido ao
incontrolável processo de acumulação pode chegar a um determinado estágio
de desenvolvimento que será necessário substitui-lo por outro modo de produ-
ção que não o capitalista.

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


135

Estamos querendo afirmar que não será apenas o Serviço


Social o responsável por levantar frentes de batalha con-
tra o capitalismo em busca de uma nova sociedade, mas
o próprio movimento da história e suas múltiplas deter-
minações vão em algum determinado momento histórico
transformar a realidade social, seja ela para uma forma
socialista ou para a barbárie real e radical.
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Porém a compreensão efetiva de que estamos arti-


culados com as demandas da classe trabalhadora nos leva a desenvolver
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práticas que não corroborem com o processo de alienação, exploração e frag-


mentação da consciência coletiva.
Assim, buscamos, no desenvolvimento de políticas sociais, programas e pro-
jetos para valorizar as demandas dos sujeitos da nossa ação e torná-las meios de
garantir direitos e de desenvolvimento pleno dos cidadãos. Desse modo, busca-
mos no dia a dia caminhar rumo a uma sociedade mais justa e igualitária e, com
isso, não corremos o risco de sofrer frustrações ou de desenvolvermos práticas
imediatistas e institucionalizadas.

9. Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais


que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos
trabalhadores.
O nono princípio busca fortalecer os mecanismos de alcance para os princípios
anteriores, ou seja, para que os princípios de liberdade, autonomia, democracia,
justiça social, eliminação do preconceito, defesa dos direitos humanos possam
ser práticas no cotidiano, é preciso trabalhar de maneira articulada com movi-
mentos e categorias que partilhem dos mesmos princípios do código de ética
profissional.
Nesse sentido, elementos como trabalho em rede, interdisciplinar, multidis-
ciplinar, organização e assessoria movimentos sociais, associações e sindicatos
de trabalhadores fazem parte dos mecanismos de trabalho do assistente social
rumo à eliminação de práticas individualistas e fragmentadoras que reprodu-
zem a competição e a exploração de uma classe sobre a outra.

Os Onze Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993


136 UNIDADE III

10. Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população


e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência
profissional
O décimo princípio reafirma a preocupação levan-
tada pela categoria profissional no desenvolvimento
do Projeto Ético-Político profissional: articular
a relação entre teoria e prática. E para isso é
preciso que a qualidade dos serviços seja res-
peitada e é obrigatório que o assistente social

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
exerça uma prática profissional articulada com
o processo de pesquisa e reflexão teórico crítica
acerca dos problemas do cotidiano.
Não é a teoria que responde aos problemas da ©shutterstock

prática, mas é a partir da prática, do cotidiano que o assistente social tem a pos-
sibilidade de construir teoricamente respostas para enfrentar os problemas. É a
realidade que suscita a teoria, a partir dela que as questões se apresentam, por isso,
precisamos de método para analisá-las e transformá-las em respostas.
A teoria marxista permite compreender os problemas da realidade a par-
tir de sua essência, partindo das categorias analíticas de totalidade, mediação e
contradição. O assistente social pode buscar investigar e oferecer respostas com-
petentes e de qualidade para as demandas dos usuários.
A qualidade e a competência então se relacionam com o constante aprimoramento
técnico e intelectual do assistente social, colocando a tarefa de continuar estudando,
pesquisando, participando de seminários, congressos e fóruns da categoria, de ingres-
sar em cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado, de priorizar no cotidiano
de trabalho um tempo para refletir e analisar as ações e atendimentos que realizou.
Desse modo, superamos os valores produtivistas que são difundidos pelo
intenso processo de produção neoliberal que vive na busca constante por resul-
tados, mas que não considera a qualidade dos atendimentos, que intensifica a
prática profissional em detrimento de uma equipe de trabalho reduzida e com inú-
meras atribuições para cumprir em um único dia de trabalho. Para superar esses
desafios, é obrigatório que a qualidade nos serviços prestados esteja diretamente
relacionada com o constante processo de aperfeiçoamento intelectual e técnico.

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


137
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

©shutterstock

11. Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar,


por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião,
nacionalidade, opção sexual, idade e condição física.
Esse princípio reitera o princípio de eliminação de todas as formas de precon-
ceito, a diferença é que também exige que isso se faça no interior da categoria
profissional. Respeitar os sujeitos não pode ser uma prática de dentro do ser-
viço social para com os usuários, mas também deve ser realizada no respeito
aos colegas de trabalho.
A retomada da crítica ao preconceito deve garantir, pela substantivação
da dimensão do direito, o exercício do Serviço Social e a relação com
os que integram a vida profissional cotidiana a partir do que são, isto é:
famílias de fazendeiros, camponeses, homem ou mulher, negro, índio
ou branco, petista ou pefelista, evangélico ou umbandista, brasileiro
ou estrangeiro, homo ou hetero, jovem ou idoso, portador de defici-
ência ou não, enfim, um indivíduo como outro qualquer com manias,
atributos, características que particularizam exclusivamente, mas que
em nada justificam qualquer tipo de exclusão ou privilégio, que extra-
polem o âmbito estrito da competência profissional (PAIVA; SALLES,
2001, p. 206).

Além das questões relacionadas à eliminação das formas de preconceito no inte-


rior da categoria, é preciso salientar outra questão relevante para discutir esse
princípio: o desemprego e a competição entre colegas de trabalho.

Os Onze Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993


138 UNIDADE III

O processo de reestruturação produtiva e de ordenamento neoliberal tem


ampliado o desemprego e a competitividade, no caso do mercado de trabalho
do assistente social, essas questões podem se tornar obstáculos para a garantia
de empregos de qualidade e bem remunerados, ocasionando o risco de ampliar
a competição entre os próprios colegas em busca de uma vaga ou de uma posi-
ção no interior das instituições.
Diante dessas questões, o código de ética estabelece regras de conduta quanto
à relação dos assistentes sociais com seus pares, para que essas práticas não sejam
permitidas no interior da categoria profissional.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Por isso, os assistentes sociais devem se respeitar como colegas e parceiros
de trabalho, independente de processos que incentivem a competição e o mérito.
Mas, acima de tudo, devem buscar a colaboração, a humildade e a eliminação de
qualquer forma de preconceito contra raça, etnia e gênero, os quais são imperati-
vos para garantir o fortalecimento da categoria profissional diante dos inúmeros
problemas que a realidade social nos impõe.

OS ONZE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993


139

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), estamos encerrando a unidade III do livro de Ética Profissional,


por isso, esperamos que todos tenham extraído o máximo de conteúdo possível.
As ideias e discussões apresentadas nessa unidade são apenas portas de entrada
para que você possa investigar e buscar mais informação e conhecimento a res-
peito do tema.
Esperamos que tenha compreendido a importância do Projeto Ético-Político
do Serviço Social para o desenvolvimento de uma prática profissional que esteja
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

articulada com as necessidades da classe trabalhadora e que, para isso, é preciso


garantir o constante processo de reflexão crítica e ética. Os princípios funda-
mentais são importantes para alcançar essa tarefa, pois colocam para o assistente
social valores e princípios éticos construídos por toda a categoria profissional,
buscando garantir o exercício ético, crítico e consciente.
A reflexão acerca dos princípios fundamentais é de suma importância para
que você compreenda o que é o Código de Ética Profissional, pois vai muito
além de um código de conduta profissional, ele deve ser compreendido como
eixo orientador para o enfrentamento dos problemas cotidianos do assistente
social. Se os princípios estiverem bem fixados na consciência e no exercício pro-
fissional, automaticamente, o código de ética estará sendo respeitado e praticado.
Esperamos que faça as leituras complementares, leia os livros sugeridos e use
esta unidade como referência para compreender o Código de Ética Profissional
do Assistente Social. Desejamos que seja um profissional ético, crítico, compe-
tente e transformador da realidade social.

Considerações Finais
1. Por que os princípios são importantes para compreender o código de ética pro-
fissional?
2. Qual é o ideal de liberdade que é defendido pelos princípios fundamentais?
3. Por que o assistente social precisa buscar eliminar as formas de preconceito?
141

CONTRIBUIÇÕES PARA A COMPREENSÃO DO PRINCÍPIO DA LIBERDADE POSTO


NO CÓDIGO DE ÉTICA DE 1993
[...] O princípio da Liberdade no Projeto-Ético Político dos assistentes sociais.
A perspectiva de liberdade posta no código de ética de 1993 e que pretende ser uma
das mediações para a consolidação do Projeto Ético-Político do Serviço Social, pauta-
da nesta perspectiva de liberdade que se associa à consciência do humano-genérico,
está vinculada à crítica da sociedade burguesa, porque esta,  para perpetuar-se como
sociedade de classes, suprime a possibilidade dessa consciência e, portanto,  da efetiva
liberdade.
Assim, a liberdade a que se refere o mencionado princípio não está associada à mera au-
tonomia de escolha entre alternativas postas pelo movimento da realidade de exclusão
social na qual se encontram os que, em sua grande maioria, são usuários dos serviços
sociais.  A liberdade posta neste princípio não é, portanto, a reposição do princípio de
autodeterminação que orientava o exercício profissional no Serviço Social Tradicional,
em que caberia ao “cliente” decidir se acolheria ou não o encaminhamento ou o proces-
so de “tratamento” proposto pelo assistente social. 
O princípio da liberdade, em concomitância com outros princípios postos no código de
ética profissional dos assistentes sociais associam o Projeto Profissional dos assisten-
tes sociais a um Projeto Ético-Político. A esse respeito, cabe reportar à análise de Netto
(2001). O autor, fundado na teoria social de Marx, considera que o sistema capitalista
instaura a sociedade de classes antagônicas.
(...)
No que tange aos Projetos Profissionais, o autor afirma que estes acompanham as trans-
formações sociais e da categoria profissional, portanto, estão sempre em movimento.
São projetos que:
 [...] apresentam a auto-imagem de uma profissão, elegem os valores que
a legitimam socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e fun-
ções, formulam os requisitos (teóricos institucionais, e práticos) para seu
exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e
estabelecem as balizes de sua relação com os usuários de seus serviços,
com outras profissões e com as organizações e instituições sociais, priva-
das e públicas (NETTO, 2001, p. 14).

O Projeto Profissional, continua Netto (2001), deve ser construído por toda a catego-
ria profissional: assistentes sociais em seus respectivos campos de exercício profissio-
nal,  pesquisadores, docentes, estudantes, organismos corporativos e sindicais. Além de
seus aspectos normativos,  traduzidos, sobretudo como direitos e deveres, esse projeto
carrega também as escolhas teóricas, ideológicas e políticas da categoria profissional.
Após essa diferenciação entre Projetos Societários e Projetos Profissionais, Netto (2001)
defende que uma indicação ética só adquire efetividade histórico-concreta quando se
combina com uma direção político-profissional, uma sociedade a ser construída.
Nessa perspectiva, a direção ética proposta pelo Serviço Social está centrada, sobretu-
do,  em um projeto político em que a consciência do humano-genérico se sobreponha
à liberdade individual que orienta valores e escolhas alienadas na sociedade burguesa.
E ainda que a categoria profissional dos assistentes, na contemporaneidade, propõe-se
a orientar as ações profissionais sob o princípio da liberdade como valor ético central,
o que impõe necessariamente a criticidade com relação aos valores burgueses que coí-
bem a explicitação da consciência humano-genérica. 
(...)
Lacerda (2005) entrevista assistentes sociais de áreas diversificadas a fim de verificar
como esses profissionais realizavam a leitura do Projeto Profissional do Serviço Social. A
autora atenta que não pretende classificar os profissionais em categorias como “conser-
vadores” ou “revolucionários”, mas sim absorver a compreensão que esses têm de ele-
mentos fundamentais e centrais do Projeto Ético-Político.
Uma das questões presentes nas entrevistas realizadas por Lacerda (2005) referia-se à
liberdade.  A autora procurou questionar o que era liberdade para o profissional. Como
já evidenciado, as reflexões sobre a liberdade, na sociedade burguesa contemporânea
não ultrapassam o marco individualista do Estado burguês.
Ao contrário, nesse marco a reflexão sobre liberdade está associada apenas a alguns dos
direitos de cidadania como ir e vir e liberdade de expressão. É esta concepção predomi-
nante sobre liberdade entre os profissionais que foram sujeitos de pesquisa de Lacerda.
Assim, dentre esses profissionais, como se constata em Lacerda (2005), compreende-se
que a liberdade:
[...] está vinculada com o respeito que você tem com o próximo dos limi-
tes da vida [dele], da sua ação, porque você ter limite é você ter respeito
pelo outro. Então, se eu quero que você respeite o meu espaço, tenho
que respeitar o seu também. Então, a liberdade é até mesmo onde co-
meça a do outro. Eu não posso invadir o seu espaço. [...] Respeitar o limite
do outro, respeitar o desejo dele, se ele quer se expor ou não. Concordo.
Tenho que ter liberdade até no limite de não estar prejudicando o espa-
ço do outro (p. 66-67).
143

Pela ilustração das falas dos profissionais verifica-se a dificuldade de compreensão do


valor ético central posto para orientar as ações profissionais e também dificuldades ou
má compreensão  do significado da liberdade posto do Projeto Ético-Político da cate-
goria. Cumpre lembrar que o Serviço Social tem a sua peculiaridade interventiva, em
última instância, no bojo das relações sociais. É uma profissão cujas ações têm uma di-
mensão política e, portanto, deve pautar suas ações na conjuntura existente real; isto é,
deve considerar as condições econômicas, sociais, culturais e, principalmente, as ideo-
lógicas-políticas.
De fato, frente a toda a complexidade social que envolve o exercício profissional dos
assistentes sociais, é necessário que esses possuam um Projeto Profissional sólido para
efetivar suas ações na realidade dinâmica da sociedade capitalista. O primeiro pressu-
posto para a consolidação do Projeto Profissional é ter total domínio e compreensão
sobre seus princípios e fundamentos centrais. Ou seja, especificamente, no Projeto Éti-
co-Político dos assistentes sociais, compreender o princípio da liberdade.
[...]
Fonte: Daros e Guedes (2008, p.1-2).
A DEMOCRACIA E O SERVIÇO SOCIAL
[...] O SERVIÇO SOCIAL E A DEMOCRACIA
[...] Uma sociedade é democrática quando, além de eleições, partidos políticos, divisão
dos três poderes da república, respeito à vontade da maioria e das minorias, institui
algo mais profundo, que é condição do próprio regime político, ou seja, quando institui
direitos e que essa instituição é uma criação social, de tal maneira que a atividade de-
mocrática social realiza-se como um contrapoder social que determina, dirige, controla
e modifica a ação estatal e o poder dos governantes.
A democracia proporciona oportunidades para: (1) participação efetiva; (2) Igualdade
de voto; (3) Aquisição de entendimento esclarecido; (4) Exercer o controle definitivo
do planejamento e (5) Inclusão dos adultos. Cada um desses critérios são necessários,
pois se os membros (por mais limitado que seja seu número) forem políticamente iguais
para determinarem as políticas da associação e quando essas exigências são violadas, os
membros não serão políticamente iguais.
O padrão clássico de Welfare State, que ganhou ampla aceitação após a Segunda Guer-
ra Mundial e foi colocado em prática nos países do primeiro mundo, desenvolveu-se,
essencialmente, em um período de grande crescimento econômico. A política adotada
nesses países promoveu uma melhoria das condições de vida de amplos setores da clas-
se trabalhadora em todos os sentidos, apesar de permanecer a diferenciação de acordo
com a qualificação e o tipo de trabalho realizado.
Todavia, o Estado do Bem Estar Social significou uma estratégia adotada pelo capita-
lismo para organizar uma nova forma de reprodução. Ele financiou o capital, e serviu
de substrato ideológico para garantir a manutenção da sociedade capitalista, agora em
um “novo” patamar: o “capitalismo humanizado”. O anseio pela existência de uma vida
democrática, ou da vida social em um ambiente democrático, como uma reivindicação
ou uma demanda humana - tanto individual quanto coletiva - onde a existência de um
Estado Democrático de Direito aparece como o resultado das práticas dos cidadãos e do
respeito aos direitos fundamentais.
Trata-se, desta maneira, de entender a democracia não como simples regime político,
ou como forma de governo, mas sim como forma social, como prática sociopolítica que
se expressa no Espaço Cultural. As lutas sociais e as modificações do capitalismo e do
próprio Estado possibilitaram a ampliação do espaço político, marcando o advento da
sociedade liberal democrática com a conquista do sufrágio masculino, a liberdade de
opinião, a liberdade de associação para os trabalhadores, o direito de greve etc.
Foram transformações impulsionadas não apenas pelas lutas dos trabalhadores e
pela influência dos pensamentos socialista e libertário, mas também pela transfor-
mação dos padrões de acumulação capitalista, que ampliaram os espaços do merca-
do interno, incorporando, como consumidores contribuintes, amplos contingentes
sociais subalternos.
145

É assim que a compreensão do sentido dos direitos humanos no quadro dos Estados de
Bem-Estar Social requer uma análise do significado histórico e das transformações ocor-
ridas no Estado Liberal e a própria consolidação das práticas democráticas “A Luta pelo
Estado de Direito” foram preponderantes, trazendo maior clareza sobre a democracia
política do que a democracia social. Sem dúvida, as organizações contêm espaços de
exercício e democracia direta participativa e de controle social.
Os discursos da categoria (Assistente Social) são laudatórios a tais práticas e não há uma
postura política coletiva que lhe seja defensiva em situações concretas . À discussão
sobre a ampliação da dimensão política da democracia deve ser incorporado um outro
elemento de igual importância: a condição sócio-econômica dos atores sociais que es-
tão envolvidos no jogo democrático.
Além da elevação do número de eleitores e das instâncias onde eles devem exercer o
seu direito de voto, é preciso levar em conta o crescimento qualitativo do eleitorado, no
que diz respeito ao seu nível de vida, de escolarização e às condições objetivas de parti-
cipar das decisões políticas, dos processos administrativos e de exercer o controle sobre
os seus representantes. O crescimento da exclusão social e da miséria, com as políticas
de ajuste estrutural realizadas a partir dos anos 80 do século XX, fez crescer o debate
sobre a cidadania e os direitos humanos.
Dessa forma, sob a interpelação da nova direita neoliberal, o debate contemporâneo
obrigou a uma redefinição do campo progressista, ampliando-se e mostrando em que
medida existe um tensionamento em sociedades cada vez mais complexas, plurais, di-
versificadas e conflitivas.
Por um lado, a exigência de relações democráticas – um alto grau de democracia – para
dar conta desses múltiplos conflitos, complexidades e diversidades. Por outro lado, a
colocação em xeque da própria institucionalidade democrática.
E isso abre todo um campo de reflexão sobre os sujeitos sociais, a democracia e os direi-
tos humanos como prática sociopolítica. A política social no interior da cultura sóciopo-
lítica e econômica brasileira terminam mais por constituir propostas fragmentadas de
atenção à pobreza do que por garantir direitos sociais dentro de um sistema universal
de proteção social.
As análises da construção da democracia e dos direitos sociais como as cidadanias são
essenciais para o posicionamento profissional do Assistente Social. É preciso que se tra-
balhe com uma concepção de direito social em contraposição àquela do direito positivo.
A sociedade democrática institui direitos pela abertura do campo social à criação de
direitos reais, à ampliação de direitos existentes e à criação de novos direitos. A demo-
cracia é a sociedade verdadeiramente histórica, isto é, aberta ao tempo, ao possível, às
transformações e ao novo. Por isso mesmo, a democracia é aquela forma da vida social
que cria para si própria um problema que não pode cessar de resolver, porque a cada so-
lução que encontra, reabre o seu próprio problema, qual seja, a questão da participação.
O movimento de construção democrática no Brasil foi atropelado pela lógica neoliberal
a partir dos anos 90, agravando a questão social, notadamente nas áreas urbanas, quan-
do ganham centralidade as políticas para as cidades.
É, portanto, nas cidades que a questão social concentra as mais dramáticas expressões,
como o desemprego, a precarização das relações de trabalho, a insegurança social, a
violência urbana. E também o aumento da repressão oficial sobre os pobres, a atuali-
zação de práticas higienistas, a retomada da ideia de classes perigosas, que é uma no-
ção que remonta à transição do século passado no Brasil [...] O conceito de democracia
inercial é usado para referir-se à democracia brasileira, onde há uma modernização das
instituições políticas, uma evolução das leis, das regras, no sentido poliárquico.
Contudo, pouco ou nada evolui na dimensão social, ou seja, é uma democracia inercial
que apresenta as seguintes características: a) políticas econômicas que não favorecem
as massas excluídas e que mantêm o desemprego inalterado e estagnado; b) uma cultu-
ra híbrida (misturada) que institucionaliza um comportamento de resignação e hostili-
dade com a política. Esta cultura política de resignação e hostilidade traduz-se em uma
cultura de desconfiança generalizada em relação à política, assim como nas relações
interpessoais na base da sociedade. O problema deste tipo de configuração cultural é
que ele impede o funcionamento da democracia.
[...]
Fonte: Martins; Rodrigues et.al (2014, p.4-7).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Serviço Social e Ética: Convite a uma nova práxis


Dilséa Adeodata Bonetti, Marlise Vinagre, Mione Apolinário Sales, Valéria M.
M. Gonelli.
Editora: Cortez
Sinopse: Reunindo as principais conferências e comunicações apresentadas
durante o amplo processo de discussão que subsidiou a elaboração do Código
de Ética de 1993, o livro renova o interesse pela ética profissional tanto na área
de ensino como nos locais de trabalho.

Projeto Ético-Político do Serviço Social: Contribuições à sua crítica


Valéria Forti e Yolanda Aparecida Demétrio Guerra
Editora: Lumen Juris
Sinopse: A coletânea que vem a público expressa o compromisso histórico e
político na trajetória de uma profissão e em prol da defesa de uma sociedade
emancipada. Em tempos de desmonte dos direitos sociais conquistados, de
financeirização e mercantilização da vida, de criminalização dos movimentos
sociais, em particular, de ataque à educação e à formação crítica do Serviço
Social, temos em mãos uma publicação que nos fortalece, encoraja-nos e
reanima o caminhar ético e político de nosso projeto profissional. A inquietação,
os desafios e os nossos princípios fundamentais dirigem os artigos aqui
presentes. É disso que precisamos, é assim que se faz ciência, política e História.

Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR

Direitos Humanos e Serviço Social: Polêmicas, Debates e Embates


Valéria Forti e Yolanda Aparecida Demétrio Guerra
Editora: Valéria Forti e Cristina M. Brites
Sinopse: “Os direitos humanos, expressão que encerra concepções
heterogêneas e até antagônicas, são (aqui) tomados enquanto um campo
epistemológico e de luta social estratégica, no horizonte de construção
de uma ordem social libertária, no contexto de um campo de disputa de
Projetos Societários. […] os direitos são construções históricas fruto de
lutas protagonizadas por classes e grupos populares contra a exploração,
a repressão, a tortura, o arbítrio, a violência, a discriminação, a desproteção
social, a degradação ambiental e contra a dependência econômica e política
de povos e países. Nesse sentido, os direitos humanos constituem direitos
conquistados coletivamente, podendo ser considerados como patrimônio
da humanidade” - Marlise Vinagre (Professora Adjunta da Escola de Serviço
Social/ UFRJ).

Para saber mais sobre a construção do Projeto Ético-Político do Serviço Social, leia o
artigo de Netto (1996), intitulado “A construção do Projeto Ético-Político do Serviço
Social”.
Disponível em: < http://welbergontran.com.br/cliente/
uploads/4c5aafa072bcd8f7ef14160d299f3dde29a66d6e.pdf>.
No link a seguir, você fica por dentro do debate da categoria profissional no congresso
sobre a questão da diversidade trans.
Disponível em: <http://www.cfess.org.br/js/library/pdfjs/web/viewer.html?pdf=(a)
rquivos/2015-CfessManifesta-SeminarioTrans.pdf>
No link a seguir, você fica informado sobre a campanha de gestão e Dia Internacional
dos Direitos Humanos.
Disponível em: <http://www.cfess.org.br/js/library/pdfjs/web/viewer.html?pdf=/
editor/..(a) rquivos/cfessmanifesta2012_campanhagestao_SITE.pdf>.
Professora Esp. Rafaela Cristina Bernardo

IV
O CÓDIGO DE ÉTICA

UNIDADE
PROFISSIONAL DO
ASSISTENTE SOCIAL DE 1993

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender o Código de Ética Profissional do Assistente Social de
1993.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A construção do Código de Ética Profissional de 1993
■■ O Código de Ética Profissional de 1993
151

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), chegamos a unidade IV da nossa disciplina de Ética Profissional,


até o momento foi possível ter uma visão ampla da história da nossa profissão
no que tange à permanente discussão sobre a ética na categoria profissional.
Nesta unidade, veremos o quanto é importante compreender que o Código
de Ética orienta o exercício profissional do Assistente Social em seu cotidiano.
Ele é composto por um aspecto normativo, pedagógico e educativo.
O Código de Ética de 1993 é resultado da revisão e discussão do código de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

1986, que se encontra em vigor até os dias atuais. O Código de 1993 entrou em
vigou por meio da Resolução 273/93 e mostra também o amadurecimento da
categoria profissional. Nesta oportunidade, procuraremos comentar com cari-
nho e profundidade esse documento.
Veremos nas próximas páginas: os direitos e as resposnabilidades do assis-
tente social; os deveres do assistente social; apresentaremos, também, como se
dá as relações do assistente social junto aos usuários, às instituições emprega-
doras, com os colegas assistentes sociais e outros profissionais.
Um outro aspecto que falaremos com atenção é o sigilo profissional, o qual
daremos continuidade em nossa Mídia Interativa Digital (MID). Finalizaremos
com a reflexão sobre a relação do profissional do serviço social com a justiça,
infrações disciplinares, penalidades, cumprimento e aplicação do Código de Ética.
Ao final deste material, você terá na íntegra o Código de Ética de 1993,
importantíssimo que você o tenha sempre em mãos, leia, releia, consulte sem-
pre que estiver com dúvidas, pois ele guiará a sua jornada profissional e, a partir
do estágio, ele já estará te norteando.
Boa leitura!!!!

Introdução
152 UNIDADE IV

A CONSTRUÇÃO DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL


DE 1993

A construção do Código de Ética Profissional de 1993 é resultado do processo


de revisão do Código de Ética Profissional de 1986 que é considerado um marco
para a categoria profissional no que toca ao posicionamento da categoria profis-
sional frente às contradições da relação entre capital/trabalho aliando-se à classe
trabalhadora na construção de um novo Projeto Societário e, consequentemente,
de um novo Projeto Ético-Político.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Foi necessário realizar a revisão do código de 1986 tendo em vista que o
contexto social, político e econômico, bem como do desenvolvimento teórico
crítico da categoria profissional estavam em constante efervescência, exigindo
que algumas fragilidades sejam corrigidas para garantir que o código alcançasse
o ser e o fazer profissional. Segundo Paiva e Salles (2001, p. 176 - 177), as prin-
cipais limitações do Código de Ética de 1986 que precisaram ser revisadas no
Código de Ética de 1993 envolvem :
[...] No Código de Ética de 1986, havia, pois, um privilégio das ins-
truções teórico-metodológicas de como conduzir a prática profis-
sional: dever-se-ia, por exemplo priorizar o trabalho com grupos, em
equipes, de forma coletiva. Tinha-se quase um como fazer, e não do
que se deve ou não se deve fazer frente aos compromissos assumidos.
[...] Tratava-se de um documento muito datado, na medida em que
possuía um forte traço conjuntural. Este dado significa que, ao des-
colar, de certa forma, a atenção da totalidade da prática profissional
– em razão daquele contexto de profundas esperanças democráticas,
esse Código acabou perdendo em eficácia, porque não considerou
a singularidade da intervenção profissional. [...] Ele vai apresentar
uma leitura marcadamente idealista e voluntarista no que tange ao
potencial político da profissão. Isto quer dizer que, se foi uma conquista
descobrir e atentar para dimensão política na prática, por outro houve
um excesso de ênfase no aspecto político e também de ideologização
no Código de Ética.

Nesse sentido, o Código de Ética de 1993 tentou corrigir essas questões, buscando
garantir mais eficácia e legitimidade ao Código de Ética frente aos desafios colo-
cados pela realidade social. É importante salientar que o Código de 1986 foi uma
importante conquista para a categoria profissional, uma vez que impulsionou a

O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DE 1993


153

denúncia e a crítica ao processo de exploração capitalista. Contudo, as questões


teórico-práticas e ético-políticas necessitavam de bases mais sólidas para que
pudessem ser exercidas pelos assistentes sociais.

“O Código de 1993 aprimora, assim, a dimensão normativa e punitiva, pre-


servando sua condição indiscutível. De instrumento político e educativo, na
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

medida em que os comandos imperativos, ali inscritos, são dotados de ca-


pacidade de orientar a ação profissional, de impedir que violações ocorram
por mero desconhecimento ou pela dificuldade interpretativa de normas
em questão”.
Fonte: CFESS (2005, p. 20).

O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993

Vamos dar início à apresentação do Código de Ética de 1993, para isso, vamos
utilizar o texto aprovado em 13 de março de 1993 com alterações introduzidas
pelas Resoluções CFESS nº 290/94, 293/94, 333/96 e 594/11. No final de cada
Título, faremos a análise das normativas.
O Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993 é instituído pela
Resolução 273/93.
TÍTULO I
Disposições gerais
Art.1º Compete ao Conselho Federal de Serviço Social:
a. Zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, fiscalizando as
ações dos Conselhos Regionais e a prática exercida pelos profissionais, institui-
ções e organizações na área do Serviço Social;
b. Introduzir alteração neste Código, por meio de uma ampla participação da catego-
ria, em um processo desenvolvido em ação conjunta com os Conselhos Regionais;
c. Como Tribunal Superior de Ética Profissional, firmar jurisprudência na observân-
cia deste Código e nos casos omissos.

O Código de Ética Profissional de 1993


154 UNIDADE IV

§ único: Compete aos Conselhos Regionais, nas áreas de suas respectivas jurisdi-
ções, zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, e funcionar
como órgão julgador de primeira instância.
ANÁLISE: A partir das disposições gerais, verificamos que o Conselho Federal de
Serviço Social (CFESS) é o órgão máximo de deliberação da categoria profissional,
entretanto, ele respeita o princípio democrático de participação por meio das ins-
tâncias do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
“A finalidade social desses órgãos de fiscalização diz respeito, exatamente,
à sua atribuição precípua de fiscalizar o exercício profissional. Tal atribuição
tem alcance social, pois objetiva garantir a qualidade técnica e ética dos ser-
viços prestados à população, bem como a defesa da profissão, posto que
representa um bem disponível ao seu usuário. Nesta medida, as profissões
de nível técnico superior devem estar a serviço da sociedade, atendendo as
necessidades sociais”.
Fonte: CFESS (2005, p. 24).

TÍTULO II
Dos direitos e das responsabilidades gerais do(a) assistente social
Art. 2º Constituem direitos do(a) assistente social:
Garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de Regu-
lamentação da Profissão e dos princípios firmados neste Código;
a. Livre exercício das atividades inerentes à Profissão;
b. Participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na formula-
ção e implementação de programas sociais;
c. Inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação, ga-
rantindo o sigilo profissional;
d. Desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;
e. Aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos prin-
cípios deste Código;

O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DE 1993


155

f. Pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando se tratar


de assuntos de interesse da população;
g. Ampla autonomia no exercício da Profissão, não sendo obrigado a prestar servi-
ços profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou funções;
h. Liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos
de participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos.
ANÁLISE: Em relação aos direitos dos assistentes sociais, verificamos a preocupação
do código de garantir a autonomia profissional e a defesa da participação do assis-
tente social em áreas e conteúdos de sua especialidade, como o desenvolvimento
de políticas e o direito de pronunciamento em matéria de Serviço Social.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Essas questões são fundamentais para garantir o respeito e a defesa da prática pro-
fissional voltada para o atendimento das demandas da classe trabalhadora frente
aos obstáculos colocados pelo Estado neoliberal, pela escassez de recursos e assé-
dio político diante da prática do assistente social na sua relação com os usuários.
A partir desses direitos, o assistente social não deve aceitar imposições que são con-
trárias aos princípios éticos defendidos pelo Código e, por isso, deve denunciar caso
algum direito seja violado, sendo o violador passível de punição.
Art. 3º São deveres do(a) assistente social:
a. Desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade,
observando a legislação em vigor;
b. Utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da Profissão;
c. Abster-se, no exercício da Profissão, de práticas que caracterizem a censura, o
cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando
sua ocorrência aos órgãos competentes;
d. Participar de programas de socorro à população em situação de calamidade pú-
blica, no atendimento e defesa de seus interesses e necessidades.
ANÁLISE: Os deveres do assistente social expressam o compromisso ético-político com
a qualidade dos serviços e o respeito aos usuários. É importante destacar a importância
da utilização do registro profissional, esse registro é tirado assim que o estudante de
Serviço Social receber o diploma, ele deve, então, solicitar o registro junto ao CRESS e só
pode exercer a prática profissional após ter recebido o número de registro profissional.
O registro é obrigatório, pois permite que qualquer usuário atendido pelo assisten-
te social possa fiscalizar a sua prática ao mesmo tempo que resguarda as ações do
assistente social. A prestação de socorro à população em situação de calamidade
pública é independente da atuação profissional do assistente social em uma área
específica. Em outras palavras, caso haja uma situação de calamidade pública é de-
ver do assistente social se dispor a colaborar no atendimento dos usuários mesmo
que não trabalhe diretamente com a questão.

O Código de Ética Profissional de 1993


156 UNIDADE IV

Art. 4º É vedado ao(à) assistente social:


a. Transgredir qualquer preceito deste Código, bem como da Lei de Regulamenta-
ção da Profissão;
b. Praticar e ser conivente com condutas antiéticas, crimes ou contravenções pe-
nais na prestação de serviços profissionais, com base nos princípios deste Códi-
go, mesmo que estes sejam praticados por outros(as) profissionais;
c. Acatar determinação institucional que fira os princípios e diretrizes deste Códi-
go;
d. Compactuar com o exercício ilegal da Profissão, inclusive nos casos de estagi-
ários(as) que exerçam atribuições específicas, em substituição aos/às profissio-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nais;
e. Permitir ou exercer a supervisão de aluno(a) de Serviço Social em Instituições Pú-
blicas ou Privadas que não tenham em seu quadro assistente social que realize
acompanhamento direto ao(à) aluno(a) estagiário(a);
f. Assumir responsabilidade por atividade para as quais não esteja capacitado(a)
pessoal e tecnicamente;
g. Substituir profissional que tenha sido exonerado(a) por defender os princípios
da ética profissional, enquanto perdurar o motivo da exoneração, demissão ou
transferência;
h. Pleitear para si ou para outrem emprego, cargo ou função que estejam sendo
exercidos por colega;
i. Adulterar resultados e fazer declarações falaciosas sobre situações ou estudos
de que tome conhecimento;
j. Assinar ou publicar em seu nome ou de outrem trabalhos de terceiros, mesmo
que executados sob sua orientação.
ANÁLISE: As ações que são vedadas dizem respeito àquilo que é terminantemen-
te proibido, o que o assistente social não deve fazer. A proibição visa garantir o
respeito dos assistentes sociais com os colegas de trabalho, garantindo a conduta
profissional ética e coerente com os princípios éticos, também busca defender a
legitimidade da categoria enquanto sujeitos que influem diretamente na vida das
pessoas.
Do mesmo modo que uma pessoa sem formação em medicina é proibida de exercer
atividades clínicas, o assistente social não deve ser flexível com pessoas que buscam
substituir as competências exclusivas do assistente social, por isso mesmo a preocu-
pação em impedir que o assistente social não tenha conhecimento suficiente para
exercer uma determinada ação ou assinar e publicar trabalhos de outras pessoas.
Segundo Barroco e Terra (2011, p. 116).

O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DE 1993


157

Entre as questões éticas debatidas no campo da pesquisa encontram-se


as do plágio e da adulteração de fontes e de documentos. Formas de
comportamento utilitaristas são expressões práticas da incorporação
da lógica mercantil na vida cotidiana. A prática do plágio – exemplo
dessa relação que visa obter vantagens a qualquer preço – apresenta-
-se em diferentes espaços de formação e pesquisa em várias áreas de
conhecimento. É curioso porque revela um fenômeno que não é novo,
mas que tem se intensificado a partir da ampliação do acesso a internet
e da mercantilização do ensino. [...].

Lembre-se tudo que fazemos tem intervenção direta na vida das pessoas, as pesqui-
sas que realizamos influem na vida de crianças, mulheres, famílias, idosos, pessoas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

com deficiência etc. De modo geral, devemos nos preocupar com a nossa conduta
e com a categoria profissional como um todo.
TÍTULO III
Das relações profissionais
CAPÍTULO I
Das Relações com os(as) Usuários(as)
Art. 5º São deveres do(a) assistente social nas suas relações com os(as) usuá-
rios(as):
a. Contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuária nas
decisões institucionais;
b. Garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades, consequências,
das situações apresentadas, respeitando democraticamente as decisões dos(as)
usuários(as), mesmo que sejam contrárias aos valores e às crenças individuais
dos(as) profissionais, resguardados os princípios deste Código;
c. Democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço
institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos(as)
usuários(as);
d. Devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos(às) usuários(as),
no sentido de que estes possam usá-los para o fortalecimento dos seus interes-
ses;
e. Informar à população usuária sobre a utilização de materiais de registro au-
diovisual e pesquisas a elas referentes e a forma de sistematização dos dados
obtidos;
f. Fornecer à população usuária, quando solicitado, informações concernentes ao
trabalho desenvolvido pelo Serviço Social e as suas conclusões, resguardado o
sigilo profissional;

O Código de Ética Profissional de 1993


158 UNIDADE IV

g. Contribuir para a criação de mecanismos que venham desburocratizar a relação


com os(as) usuários(as), no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados;
h. Esclarecer aos(às) usuários(as), ao iniciar o trabalho, sobre os objetivos e a ampli-
tude de sua atuação profissional.
ANÁLISE: Os deveres do assistente social na sua relação com os usuários reforça
a necessidade de garantir a democracia, a participação e o respeito aos usuários,
buscando priorizar a participação coletiva e a universalização das informações nas
ações profissionais.
De acordo com os deveres, os assistentes sociais são convocados a garantir a auto-
nomia e a decisão dos usuários diante das instituições, programas e políticas sociais,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
devendo facilitar o acesso aos serviços e garantindo que a população participe ati-
vamente do desenvolvimento de programas, projetos e políticas.
Nesse sentido, é imperativo ao assistente social ser instrumento de participação e de-
mocratização do acesso aos direitos sociais, universalizando as informações a fim de
tornar os sujeitos conscientes e críticos sobre seus direitos e deveres na sociedade.

O assistente social se depara com diferentes situações-limite, como suicídio,


aborto, eutanásia, uso de drogas etc. Se não estiver aberto para aceitar o di-
reito de escolha do outro, ou mesmo a possibilidade de ou outro não ter al-
ternativa, como poderá conviver com essa circunstância? Se estiver absorto
em atitudes preconcebidas e estereótipos, como poderá se relacionar com
essas situações no trabalho profissional?
Fonte: Barroco e Terra (2011, p. 78).

Art. 6º É vedado ao(à) assistente social:


a. Exercer sua autoridade de maneira a limitar ou cercear o direito do(a) usuário(a)
de participar e decidir livremente sobre seus interesses;
b. Aproveitar-se de situações decorrentes da relação assistente social/usuário(a),
para obter vantagens pessoais ou para terceiros;
c. Bloquear o acesso dos(as) usuários(as) aos serviços oferecidos pelas instituições,
por meio de atitudes que venham coagir e/ou desrespeitar aqueles que buscam
o atendimento de seus direitos.

O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DE 1993


159

ANÁLISE: Além de proibir práticas que não respeitem a decisão coletiva dos usuá-
rios, observamos que o assistente social não pode impedir que os cidadãos acessem
os seus direitos ou cercear a liberdade de escolha e de opinião.
Por isso é obrigatório que o assistente social procure socializar o máximo de infor-
mações possíveis sobre os direitos sociais, bem como as políticas e meios de acesso
aos serviços. Caso contrário, estará violando o código de ética e, principalmente,
impedindo que cidadãos tenham a possibilidade de superar a condição de pobreza,
exclusão social e de direitos sociais básicos, como saúde e educação.
CAPÍTULO II
Das Relações com as Instituições Empregadoras e outras
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Art. 7º Constituem direitos do(a) assistente social:


a. Dispor de condições de trabalho condignas, seja em entidade pública ou priva-
da, de forma a garantir a qualidade do exercício profissional;
b. Ter livre acesso à população usuária;
c. Ter acesso a informações institucionais que se relacionem aos programas e polí-
ticas sociais e sejam necessárias ao pleno exercício das atribuições profissionais;
d. Integrar comissões interdisciplinares de ética nos locais de trabalho do(a) pro-
fissional, tanto no que se refere à avaliação da conduta profissional, como em
relação às decisões quanto às políticas institucionais.
ANÁLISE: Os direitos do(a) assistente social em relação às instituições empregado-
ras visam à defesa da autonomia, de condições de trabalho favoráveis e de acompa-
nhamento e fiscalização da conduta profissional e das políticas desenvolvidas pelas
instituições, essas questões são cruciais para defender os princípios éticos do(a) as-
sistente social do ponto de vista operacional.
Desse modo, o(a) assistente social tem a possibilidade de reivindicar do ponto
de vista legal por melhores condições de trabalho caso essas sejam violadas ou
precarizadas, garantindo espaço adequado para o atendimento dos(as) usuá-
rios(as), do mesmo modo que permite que o(a) assistente social contribua para a
melhoria de políticas e serviços institucionais direcionados para o atendimento
dos cidadãos.
Art. 8º São deveres do(a) assistente social:
a. Programar, administrar, executar e repassar os serviços sociais assegurados ins-
titucionalmente;

b. Denunciar falhas nos regulamentos, normas e programas da instituição em que


trabalha, quando os mesmos estiverem ferindo os princípios e diretrizes deste
Código, mobilizando, inclusive, o Conselho Regional, caso se faça necessário;

O Código de Ética Profissional de 1993


160 UNIDADE IV

c. Contribuir para a alteração da correlação de forças institucionais, apoiando as


legítimas demandas de interesse da população usuária;
d. Empenhar-se na viabilização dos direitos sociais dos(as) usuários(as), por meio
dos programas e políticas sociais;
e. Empregar com transparência as verbas sob a sua responsabilidade, de acordo
com os interesses e necessidades coletivas dos(as) usuários(as).
ANÁLISE: Sabemos que as instituições empregadoras são um espaço contraditório
de conflitos e interesses políticos e econômicos, mesmo que tenham a finalidade de
desenvolver práticas sociais.
Nessa contradição, o assistente social é um trabalhador, portanto, deve respeitar os

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
estatutos definidos pelas instituições, mas é demandado para atender as necessida-
des da população usuária, além de possuir princípios éticos legais que não corrobo-
ram com práticas que venham a prejudicar o desenvolvimento de políticas sociais
justas, igualitárias e equitativas que garantam a justiça social e a democracia.
Diante dessas questões, o código de ética resguarda ao assistente social o direito
de defender os interesses dos usuários, o que implica a denúncia de práticas que
violem tais direitos.
Art. 9º É vedado ao/à assistente social:
a. Emprestar seu nome e registro profissional a firmas, organizações ou empresas
para simulação do exercício efetivo do Serviço Social;
b. Usar ou permitir o tráfico de influência para obtenção de emprego, desrespei-
tando concurso ou processos seletivos;
c. Utilizar recursos institucionais (pessoal e/ou financeiro) para fins partidários,
eleitorais e clientelistas.
ANÁLISE: A defesa pela legitimidade profissional exige que os próprios assistentes
sociais sejam íntegros e honestos com suas ações, somos uma profissão de nível
superior, com conhecimentos específicos e com atribuições privativas, ou seja, que
apenas o(a) assistente social pode exercer.
Nesse sentido, é inaceitável que o assistente social utilize sua profissão para burlar
normas e, principalmente, aproveitar-se para obter benefícios pessoais ou para ter-
ceiros.

O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DE 1993


161

CAPÍTULO III
Das Relações com Assistentes Sociais e outros(as) Profissionais
Art. 10 São deveres do(a) assistente social:
a. Ser solidário(a) com outros(as) profissionais, sem, todavia, eximir-se de denun-
ciar atos que contrariem os postulados éticos contidos neste Código;
b. Repassar ao seu substituto as informações necessárias à continuidade do trabalho;
c. Mobilizar sua autoridade funcional, ao ocupar uma chefia, para a liberação de car-
ga horária de subordinado(a), para fim de estudos e pesquisas que visem o apri-
moramento profissional, bem como de representação ou delegação de entidade
de organização da categoria e outras, dando igual oportunidade a todos(as);
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

d. Incentivar, sempre que possível, a prática profissional interdisciplinar;


e. Respeitar as normas e princípios éticos das outras profissões;
f. Ao realizar crítica pública a colega e outros(as) profissionais, fazê-lo sempre de ma-
neira objetiva, construtiva e comprovável, assumindo sua inteira responsabilidade.
ANÁLISE: Os deveres do assistente social na sua relação com outros profissionais
reafirma a necessidade de fortalecimento da categoria profissional, incentivando o
trabalho em grupo, interdisciplinar, respeito e solidariedade entre colegas de traba-
lho, bem como do incentivo para que todos possam ter tempo e recursos para se
especializar e pesquisar sobre as práticas que exercem.
Os assistentes sociais precisam fazer a relação entre teoria e prática para garantir o
trabalho com qualidade e eficiente, por isso, quando ocupamos cargos que permi-
tem gerir as equipes é de suma importância que a dimensão do ensino e pesquisa
sejam priorizados na organização do trabalho interdisciplinar.
É importante destacar que a solidariedade não pode ser confundida com omissão
em relação a práticas de trabalho antiéticas de colegas. Por isso, é preciso manter
um relacionamento interprofissional que saiba respeitar os limites entre amizade e
competência. Segundo Barroco e Terra (2011, p.88):
A não convivência com a violação dos princípios da ética profissional
tem dimensões diversas de acordo com as relações e com os níveis de
inserção dos sujeitos na instituição, supondo encaminhamentos dife-
renciados. Quando ao desrespeito no Código de Ética é realizado por
colega a relação é diversa da estabelecida entre o profissional e os usu-
ários. Na relação entre colegas de profissão e entre eles e as instituições
existem formas de enfrentamento da questão da violação de direitos
que passam por encaminhamentos junto a equipe, aos Conselhos Pro-
fissionais, sob a forma de discussão, prevenção, denuncia, entre outras.

O Código de Ética Profissional de 1993


162 UNIDADE IV

Pois também é dever do assistente social denunciar profissionais e instituições que


estejam violando os direitos da população usuária. Entretanto até a própria denún-
cia deve ser feita com coerência e seguindo os parâmetros legais aplicáveis, evitan-
do comentários, fofocas e assédio moral que podem causar conflitos entre a própria
equipe de trabalho.
Art. 11 É vedado ao/à assistente social:
a. Intervir na prestação de serviços que estejam sendo efetuados por outro(a) pro-
fissional, salvo a pedido desse(a) profissional; em caso de urgência, seguido da
imediata comunicação ao/à profissional; ou quando se tratar de trabalho multi-
profissional e a intervenção fizer parte da metodologia adotada;

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
b. Prevalecer-se de cargo de chefia para atos discriminatórios e de abuso de auto-
ridade;
c. Ser conivente com falhas éticas de acordo com os princípios deste Código e com
erros técnicos praticados por assistente social e qualquer outro(a) profissional;
d. Prejudicar deliberadamente o trabalho e a reputação de outro(a) profissional.
ANÁLISE: Abuso de autoridade e conivência com falhas antiéticas são inaceitáveis
em qualquer profissão, mas é preciso considerar que essas questões estão proibidas
ao assistente social. Na medida em que defendemos a qualidade na prestação de
serviços à população, isso perpassa pela conduta profissional coerente com essa
questão, não é possível garantir tal qualidade de serviços com práticas que violem
os princípios éticos do assistente social na sua relação com assistentes sociais e ou-
tros profissionais.
Das Relações com Entidades da Categoria e demais organizações da Sociedade
Civil
Art.12 Constituem direitos do(a) assistente social:
a. Participar em sociedades científicas e em entidades representativas e de organi-
zação da categoria que tenham por finalidade, respectivamente, a produção de
conhecimento, a defesa e a fiscalização do exercício profissional;

b. Apoiar e/ou participar dos movimentos sociais e organizações populares vincu-


lados à luta pela consolidação e ampliação da democracia e dos direitos de cida-
dania.
ANÁLISE: Os direitos dos assistentes sociais na relação com entidades e organiza-
ções da sociedade civil garantem a possibilidade de fortalecer a organização coleti-
va para reivindicar e lutar por direitos.
A garantia desta questão na esfera do direito permite que o assistente social não
seja impedido de assessorar ou integrar grupos e movimentos sociais. As principais
conquistas sociais foram resultados da mobilização popular.

O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DE 1993


163

Segundo Barroco e Terra ( 2011, p. 83):


O assistente social tem o direito de manter contato direto com a popu-
lação usuária, junto aos seus locais de moradia e de organização, o que
permite estabelecer vínculos com os seus movimentos e apreender as
suas demandas. O assistente social detém informações, tem conheci-
mento sobre os programas que devem ser postos a serviço dos usuá-
rios, reforçando seu poder reivindicatório junto às instituições respon-
sáveis pelas políticas e programas.

Pelo direito à saúde, tivemos na década de 1980 a contribuição do Movimento Sa-


nitarista, por Reforma Agrária, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), as
mobilizações sindicais em luta por melhores condições de trabalho e os movimen-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tos estudantis na defesa por autonomia universitária e ensino superior de qualida-


de. Por isso é de suma importância que o assistente social participe desses movi-
mentos, auxiliando e lutando coletivamente por direitos.
Art. 13 São deveres do(a) assistente social:
a. Denunciar ao Conselho Regional as instituições públicas ou privadas, onde as
condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar os(as) usuários(as)
ou profissionais;
b. Denunciar, no exercício da Profissão, às entidades de organização da categoria,
às autoridades e aos órgãos competentes, casos de violação da Lei e dos Direi-
tos Humanos, quanto a: corrupção, maus-tratos, torturas, ausência de condições
mínimas de sobrevivência, discriminação, preconceito, abuso de autoridade indi-
vidual e institucional, qualquer forma de agressão ou falta de respeito à integri-
dade física, social e mental do(a) cidadão(ã);
c. Respeitar a autonomia dos movimentos populares e das organizações das classes
trabalhadoras.
Art. 14 É vedado ao/à assistente social valer-se de posição ocupada na direção
de entidade da categoria para obter vantagens pessoais, diretamente ou por
meio de terceiros(a)s.
ANÁLISE: Observamos que esses deveres estão relacionados à defesa intransigente
dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo que impedem a liber-
dade, cidadania e autonomia dos sujeitos.
Nesse sentido, é preciso que o assistente social tenha consciência de sua função
social para não ser conivente com práticas e instituições que violem os direitos
humanos que desumanizam os sujeitos em detrimento de interesses pessoais,
econômicos e políticos.
É uma questão um tanto quanto delicada, mas o Código de Ética é um instrumento
jurídico legal reconhecido em nível nacional e deve ser respeitado tanto por assis-
tentes sociais quanto por instituições empregadoras.

O Código de Ética Profissional de 1993


164 UNIDADE IV

O dever de denunciar e não ser conivente é necessário para garantir a melhoria dos
serviços públicos e a própria proteção da autonomia do assistente social no cotidia-
no de trabalho.
CAPÍTULO V
Do Sigilo Profissional
Art. 15 Constitui direito do(a) assistente social manter o sigilo profissional.
Art. 16 O sigilo protegerá o(a) usuário(a) em tudo aquilo de que o(a) assistente so-
cial tome conhecimento, como decorrência do exercício da atividade profissional.
§ único: Em trabalho multidisciplinar só poderão ser prestadas informações dentro

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dos limites do estritamente necessário.
Art. 17 É vedado ao/à assistente social revelar sigilo profissional.
Art. 18 A quebra do sigilo só é admissível quando se tratarem de situações cuja gra-
vidade possa, envolvendo ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos interesses do(a)
usuário(a), de terceiros(as)e da coletividade.
§ único: A revelação será feita dentro do estritamente necessário, quer em relação
ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele devam tomar co-
nhecimento.
ANÁLISE: Lidamos no cotidiano de trabalho com usuários que nos trazem proble-
mas, angústias, dramas e muitas vezes problemas relacionados à violência sexual,
física, moral, psicológica, problemas econômicos, sociais, desemprego, fome etc.
Enfim, questões que são coletivas, mas que fazem parte da vida singular de sujei-
tos que têm família, amigos, vivem em comunidade com relacionamentos afetivos,
pessoais e profissionais.
Todas essas questões são objetos de investigação do assistente social no atendi-
mento aos usuários nos mais variados campos de trabalho, saúde, assistência, pre-
vidência, organizações não governamentais, empresas, escolas etc. E que exigem o
respeito, a privacidade dos usuários e o fortalecimento do vínculo entre assistente
social e sujeito, mas é de suma importância que o assistente social tenha consciên-
cia de que nem todas as informações colhidas podem ser divulgadas e que sejam
comentadas com outras pessoas. Principalmente quando essas pessoas não são
profissionais que possam contribuir para solução do problema apresentado.
Devemos salientar que, antes do direito ao sigilo, tanto assistente social quanto usuário
tem direito à privacidade, isso exige uma sala reservada para atendimentos, arquivo es-
pecífico para os relatórios do assistente social, de preferência que possam ser trancados
e evitar que as informações colhidas em entrevistas e questionários sejam divulgadas
em conversas entre amigos e familiares. Segundo Barroco e Terra (2011, p. 208):

O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DE 1993


165

Quanto ao limite do estritamente necessário, deve-se buscar tal parâ-


metro nos próprios princípios do Código de Ética do assistente social,
no compromisso com a defesa da dignidade do usuário e da emancipa-
ção dos indivíduos sociais. Dessa forma, toda revelação que se mostre
desnecessária e que puder trazer qualquer prejuízo, lesão de direito,
perigo, constrangimento ao usuário e que não seja um dado absoluta-
mente fundamental, ou melhor, imprescindível para os cuidados com
ele, não pode ser revelado.

A discussão sobre problemas apresentados pelo usuário na entrevista com o assis-


tente social só pode se realizar em reuniões de equipe interdisciplinar que também
tenham o princípio do sigilo no Código de Ética e que sejam profissionais envolvi-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dos com as demandas dos usuários.


A quebra do sigilo só é permitida quando a informação pode prejudicar a vida do
sujeito ou de terceiros, mas, mesmo assim, é preciso estabelecer acordos com os
atendidos a fim de que tomem consciência sobre essa questão.

Será que as redes sociais e a super exposição da vida pessoal das pessoas
pode ser um obstáculo para manter o sigilo profissional? Será que consegui-
mos separar a vida privada da vida profissional?
Fonte: a autora.

CAPÍTULO VI
Das Relações do(a) Assistente Social com a Justiça
Art. 19 São deveres do(a) assistente social:
a. Apresentar à justiça, quando convocado na qualidade de perito ou testemunha,
as conclusões do seu laudo ou depoimento, sem extrapolar o âmbito da compe-
tência profissional e violar os princípios éticos contidos neste Código;
b. Comparecer perante a autoridade competente, quando intimado(a) a prestar de-
poimento, para declarar que está obrigado(a) a guardar sigilo profissional nos
termos deste Código e da Legislação em vigor.

O Código de Ética Profissional de 1993


166 UNIDADE IV

Art. 20 É vedado ao/à assistente social:


a. Depor como testemunha sobre situação sigilosa do(a) usuário(a) de que tenha
conhecimento no exercício profissional, mesmo quando autorizado;
b. Aceitar nomeação como perito e/ou atuar em perícia quando a situação não se
caracterizar como área de sua competência ou de sua atribuição profissional, ou
quando infringir os dispositivos legais relacionados a impedimentos ou suspei-
ção.
ANÁLISE: Devemos chamar a atenção para o fato de manter o sigilo perante a jus-
tiça ser um vedado ao assistente social. Desse modo, o assistente social é impedido
de divulgar informações sigilosas e não pode ser obrigado a realizar tal prática.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
De acordo com Barroco e Terra ( 2011,p.215):
Esta disposição reitera a vedação ao assistente social de depor como
testemunha sobre situação sigilosa do usuário que teve conhecimento
no exercício profissional. A proteção do sigilo profissional está consa-
grada no âmbito do direito à cidadania, sendo resguardada no Código
Penal e Civil. A defesa do sigilo profissional, portanto,é um dever do
assistente social e um direito do usuário.

Sobre a questão da perícia social, que é um instrumento de trabalho do assistente


social realizado área sócio-jurídica, salientamos que é de competência privativa do
assistente social. Assim, quando se tratar de assuntos de matéria do assistente so-
cial, esse é convocado ou nomeado para empenhar uma perícia social a fim de sub-
sidiar a decisão judicial, essas práticas são comumente utilizadas na vara da infância
e juventude no acompanhamento de processos de adoção.
O assistente social deve comparecer em juízo na qualidade de perito
parecerista, assistente técnico ou em outra condição profissional para
esclarecer quesitos ou questionamentos, orais ou escritos, acerca de sua
atividade ou intervenção técnica em relação ao atendimento realizado.
Quando convocado como testemunha, deve comparecer e declarar que
está sujeito ao sigilo profissional (BARROCO; TERRA, 2011, p. 215).

Essa prática não deve ser realizada caso o assunto não seja da especialidade do as-
sistente social, por isso, apenas o assistente social pode realizar perícia social, emitir
parecer social e resguardar o direito do sigilo profissional perante a justiça.
TÍTULO IV
Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento deste Código
Art. 21 São deveres do(a) assistente social:
a. Cumprir e fazer cumprir este Código;

O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DE 1993


167

b. Enunciar ao Conselho Regional de Serviço Social, por meio de comunicação fun-


damentada, qualquer forma de exercício irregular da Profissão, infrações a princí-
pios e diretrizes deste Código e da legislação profissional;
c. Informar, esclarecer e orientar os(as) estudantes, na docência ou supervisão,
quanto aos princípios e normas contidas neste Código.
ANÁLISE: Além de cumprir as normas do código, é preciso que a realização de de-
núncia tenha fundamento, o que garante a seriedade das denúncias e o andamento
do processo investigatório. Segundo Barroco e Terra (2011, p. 217),
A denúncia deve ser apresentada, independente de sua natureza, por
comunicação escrita e de forma fundamentada. Isso significa dizer que
os fatos devem ser descritos, bem como fundamentados da solicita-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ção de apuração. Não é necessário que o denunciante assinale quais os


artigos ou disposições que foram violados, tarefa esta de competência
do Conselho Regional de Serviço Social que buscará orientação para a
perfeita adequação e tipificação jurídica da situação, por meio de sua
assessoria jurídica, para que o procedimento utilizado, no âmbito ad-
ministrativo, extra ou judicial, seja o mais adequado ao fim pretendido.

No dia a dia de trabalho, é importante que, antes de uma prática antiética ser ra-
dicalmente denunciada, o diálogo e a correção das falhas sejam priorizados, pois
muitas vezes a falta de controle e acompanhamento das ações leva a erros, mas,
quando se verifica que o ato antiético é consciente, frequente e inalterado, é preciso
que o assistente social recorra aos Conselhos Regionais para solicitar orientação
sobre como proceder diante da questão.
Muito além de instâncias de julgamento profissional, o CRESS tem a função peda-
gógica e está disponível para esclarecimento e orientação de dúvidas que podem
surgir no trabalho, na relação com os usuários, instituições e equipes.

No trabalho, criamos vínculos profissionais e amizades, será que você seria


capaz de separar as relações pessoais das relações profissionais, caso um
colega de trabalho tivesse uma conduta antiética que prejudicasse a vida
dos usuários?
Fonte: a autora.

O Código de Ética Profissional de 1993


168 UNIDADE IV

Art. 22 Constituem infrações disciplinares:


a. Exercer a Profissão quando impedido(a) de fazê-lo, ou facilitar, por qualquer meio,
o seu exercício ao(às) não inscritos(as) ou impedidos(as);
b. Não cumprir, no prazo estabelecido, determinação emanada do órgão ou auto-
ridade dos Conselhos, em matéria destes, depois de regularmente notificado(a);
c. Deixar de pagar, regularmente, as anuidades e contribuições devidas ao Conse-
lho Regional de Serviço Social a que esteja obrigado(a);
d. Participar de instituição que, tendo por objeto o Serviço Social, não esteja inscrita
no Conselho Regional;
e. Fazer ou apresentar declaração, documento falso ou adulterado, perante o Con-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
selho Regional ou Federal.
ANÁLISE: De acordo com Barroco e Terra (2011, p. 219):
[...] chamamos de infração disciplinar, genericamente, toda aquela vio-
lação que se baseia na atribuição especial que algum órgão ou entidade
detém sobre todos aqueles que se vinculam aos seus serviços, ativida-
des, regras de conduta profissional, submetendo-se, por imperativo le-
gal, à sua disciplina.

Nesse sentido, o assistente social, ao se credenciar ao CRESS, passa a atender normas,


regras e resoluções estabelecidas pela categoria, dentre as quais exige-se que os as-
sistentes sociais estejam aptos para exercerem a profissão a partir de regras de condu-
ta. Desse modo, a infração disciplinar consiste na violação dessas regras de conduta.
Das Penalidades
Art. 23 As infrações a este Código acarretarão penalidades, desde multa à cassação
do exercício profissional, na forma dos dispositivos legais e/ou regimentais.
Art. 24 As penalidades aplicáveis são as seguintes:
a. Multa;
b. Advertência reservada;
c. Advertência pública;
d. Suspensão do exercício profissional;
e. Cassação do registro profissional.
§ único - Serão eliminados(as) dos quadros dos CRESS aqueles(as) que fizerem falsa
prova dos requisitos exigidos nos Conselhos.
Art. 25 A pena de suspensão acarreta ao(à) assistente social a interdição do exercício
profissional em todo o território nacional, pelo prazo de 30 (trinta) dias a 2 (dois) anos.

O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DE 1993


169

§ único - A suspensão por falta de pagamento de anuidades e taxas só cessará com


a satisfação do débito, podendo ser cassada a inscrição profissional após decorridos
três anos da suspensão.
Art. 26 Serão considerados na aplicação das penas os antecedentes profissionais
do(a) infrator(a) e as circunstâncias em que ocorreu a infração.
Art. 27 Salvo nos casos de gravidade manifesta, que exigem aplicação de penalidades
mais rigorosas, a imposição das penas obedecerá à gradação estabelecida pelo artigo 24.
Art. 28 Para efeito da fixação da pena serão considerados especialmente graves as
violações que digam respeito às seguintes disposições:
artigo 3º - alínea c;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

artigo 4º - alínea a, b, c, g, i, j;
artigo 5º - alínea b, f;
artigo 6º - alínea a, b, c; artigo 8º - alínea b;
artigo 9º - alínea a, b, c;
artigo 11 - alínea b, c, d;
artigo 13 - alínea b;
artigo 14;
artigo 16;
artigo 17;
§ único do artigo 18;
artigo 19 - alínea b;
artigo 20 - alínea a, b.
§ único: As demais violações não previstas no
“caput”, uma vez consideradas graves, autori-
zarão aplicação de penalidades mais severas,
em conformidade com o artigo 26.
Art. 29 A advertência reservada, ressalvada a hi-
pótese prevista no artigo 33 será confidencial,
sendo que a advertência pública, suspensão e a
cassação do exercício profissional serão efetiva-
das por meio de públicação no Diário Oficial e
em outro órgão da imprensa, e afixado na sede
do Conselho Regional onde estiver inserido(a)
o(a) denunciado(a) e na Delegacia Seccional do
CRESS da jurisdição de seu domicílio.
©shutterstock

O Código de Ética Profissional de 1993


170 UNIDADE IV

Art. 30 Cumpre ao Conselho Regional a execução das decisões proferidas nos pro-
cessos disciplinares.
Art. 31 Da imposição de qualquer penalidade caberá recurso com efeito suspensivo
ao CFESS.
Art. 32 A punibilidade do assistente social, por falta sujeita a processo ético e disci-
plinar, prescreve em 5 (cinco) anos, contados da data da verificação do fato respec-
tivo.
Art. 33 Na execução da pena de advertência reservada, não sendo encontrado o(a)
penalizado(a) ou se este(a), após duas convocações, não comparecer no prazo fixa-
do para receber a penalidade, será ela tornada pública.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
§1º A pena de multa, ainda que o(a) penalizado(a) compareça para tomar conheci-
mento da decisão, será públicada nos termos do artigo 29 deste Código, se não for
devidamente quitada no prazo de 30 (trinta) dias, sem prejuízo da cobrança judicial.
§ 2º Em caso de cassação do exercício profissional, além dos editais e das
comunicações feitas às autoridades competentes interessadas no assunto, proceder-
se-á a apreensão da Carteira e Cédula de Identidade Profissional do(a) infrator(a).
Art. 34 A pena de multa variará entre o mínimo correspondente ao valor de uma
anuidade e o máximo do seu décuplo.
Art. 35 As dúvidas na observância deste Código e os casos omissos serão resolvidos
pelos Conselhos Regionais de Serviço Social “ad referendum” do Conselho Federal
de Serviço Social, a quem cabe firmar jurisprudência.
Art. 36 O presente Código entrará em vigor na data de sua públicação no Diário
Oficial da União, revogando-se as disposições em contrário;

A pena é, assim, resultado da declaração da procedência da ação ética e,


consequentemente, da comprovação inequívoca da violação às disposições
normativas. Pressupõe, ademais, que o penalizado esgotou, pelas vias admi-
nistrativas, seu amplo direito de defesa e do contraditório exercido e amplia-
do no seio das entidades regionais a partir da radicalização da democracia
que deve estar presente nas relações processuais”.
Fonte: Barroco e Terrra (2011 p. 227).

O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DE 1993


171

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) aluno(a), chegamos ao final de mais uma etapa de estudos, mas não é
o final do processo de investigação e pesquisa sobre o tema. A discussão sobre
o código e sua aplicabilidade será uma prática constante no processo de estudos
e, principalmente, no cotidiano profissional.
Por isso, é importante que o Código seja compreendido como uma referên-
cia ético-política e teórico-prática que deve orientar o exercício profissional ético
e competente, comprometido com a prestação de serviços à sociedade visando
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

à garantia de direitos e ao respeito aos sujeitos sociais.


O código, então, é um aspecto normativo, mas também pedagógico e edu-
cativo, colocando-se como um mecanismo de defesa do direito à autonomia e a
liberdade profissional na sua relação com as instituições, usuários e outros pro-
fissionais, ao mesmo tempo que define deveres e proíbe atitudes que violem os
princípios éticos e o Projeto Ético-Político profissional.
Nesse sentido, espero que a conduta ética, reflexiva, crítica e consciente faça
parte do exercício cotidiano de trabalho e que você busque participar ativamente
do Conjunto CFESS/CRESS no processo de fiscalização do exercício profissional
e de luta pela legitimidade do trabalho do assistente social frente aos obstáculos
e desafios estruturais da realidade brasileira.
Espero que você faça as leituras complementares, levante questionamentos,
faça pesquisas sobre o tema e que utilize esse material como primeiro passo para
avançar no debate sobre os meios de alcançar efetivamente o Código de Ética
profissional na realidade brasileira.

Considerações Finais
1. Apresentar à justiça, quando convocado na qualidade de perito ou testemunha,
as conclusões do seu laudo ou depoimento, sem extrapolar o âmbito da compe-
tência profissional e violar os princípios éticos contidos neste Código. Isso é um
direito ou um dever do assistente social?
2. O artigo 23 coloca que as infrações a este Código acarretarão penalidades, des-
de a multa à cassação do exercício profissional, na forma dos dispositivos legais
e/ou regimentais. Quais são as penalidades aplicáveis?
3. Prevalecer-se de cargo de chefia para atos discriminatórios e de abuso de auto-
ridade é:
a. Um direito na relação do assistente social com profissionais e outras institui-
ções.
b. Vedado ao assistente social na relação com outros profissionais e instituições;
c. Vedado ao assistente social nas relações com Assistentes Sociais e outros(as)
Profissionais.
d. Um direito ao assistente social nas relações com Assistentes Sociais e ou-
tros(as) Profissionais.
173

ÉTICA E SIGILO PROFISSIONAL


[...]
O sigilo profissional trata de uma informação a ser protegida, impõe uma relação en-
tre privacidade e publicidade, cujo dever profissional se estabelece desde a se ater ao
estritamente necessário ao cumprimento de seu trabalho, a não informar a matéria si-
gilosa. Partindo da hipótese que a esfera privada da vida de alguns indivíduos tende a
ser confiscada em maior medida que a da vida de outros, pode-se dizer que o lugar de
tensão entre o respeito à vida privada, sem discriminação, e as escolhas da sociedade
estão desaparecendo; é como se todos os meios fossem válidos desde que justificados.
A vida das pessoas pobres sofre maior interferência e intervenção do poder público e
da mídia sob alegação de segurança e proteção. Na ordem atual em que a mídia explora
largamente a exposição da vida dos indivíduos pobres, a banalização da questão social
e o tratamento sensacionalista dispensados pela mídia fortalecem a despolitização e a
naturalização dessas existências, reforçando um espaço público espetacular que se faz
como exposição vazia da vida privada.
Os pobres, ou melhor, a sua “imagem” tem sido alvo devidamente cuidado pela rede tele-
visiva brasileira com a justificativa ou alegação de uma eficiente cobertura da realidade.
Com esse propósito, por exemplo, são reproduzidos dezenas de programas televisivos,
os quais têm como carro-chefe a exposição dos dramas cotidianos de pessoas pobres,
criando uma imagem dessa população e utilizando-a como produto mercadológico.
A variedade como é manipulada a existência da população pobre percorre muitos pro-
gramas, desde o conhecido telejornal policial, passando pelo talk show, até chegar aos
palcos dos programas de auditório, e outros meios que se pretendem mais sutis (Sam-
paio, 2006).
Não é difícil constatar que a programação televisiva está repleta, em seus diversos horá-
rios e programações (desde os menos concorridos até os que atingem melhor Ibope) de
histórias reais de infortúnio e reclamações variadas. Vidas destinadas a passar ao largo
podem na TV denunciar ou solicitar. Esse fato poderia à primeira vista ser motivo sufi-
ciente de comemoração de uma destinação pública de um espaço no programa televi-
sivo ou, então, de uma sensibilidade social.
Mas será que devemos mesmo comemorar essa explosão de realidade na telinha? É na
contracorrente e na crítica a esse intenso processo de espetacularização da pobreza que
se encontram os valores éticos que fundam o Código de Ética Profissional do Assistente
Social, aliado à compreensão da pessoa a ser atendida como sujeito de direito, sendo
que a prática profissional se estabelece para recuperar um direito que já foi ferido ou, na
maioria das vezes, nunca existiu de fato.
Nesse quadro, o assistente social trabalha com profissionais de outras áreas, que ain-
da que tenham o sigilo profissional circunscrito em seus códigos, não estão sujeitos às
mesmas obrigações, apresentam objetivos diferentes e, ainda, lógicas e prioridades dis-
tintas das do Serviço Social. O assistente social atua em circuitos em que as informações
devem ser partilhadas e, ao mesmo tempo, em que a confidencialidade é, legalmente,
autorizada.
Outro elemento que também deve ser considerado é a diversidade de interpretações,
nem sempre compatíveis, alicerçadas sobre diferentes valores em jogo. Além do que, o
sigilo profissional no domínio do que se convencionou chamar “social” é menos digno de
nota, sofre uma hierarquia menor que o referente a outras profissões, como advogados
e médicos.
É como se quando o “cliente” dessas profissões fosse mais digno do que quando usuário
do Serviço Social. Aliada a todos esses elementos somam-se outras questões: o que
fazer quando as palavras repassadas são deformadas, retiradas do contexto que foram
ditas e apropriadas juridicamente para um fim que estava de antemão definido? O que
fazer diante do dever de testemunhar sem que isso abale o igual dever, de proteção
da infância, por exemplo? Como assegurar a proteção ao anonimato e resguardar a
qualidade da informação e a segurança dos envolvidos? Como definir dentro do que foi
dito, o que deve ser matéria de sigilo? Quais as informações que realmente contribuem
para o direito reclamado? Resumindo, em que circunstâncias o assistente social deve
resguardar o sigilo profissional?
Essa pergunta possui diversos vetores: a obrigação jurídica, as regras de determinada
instituição, as escolhas éticas do profissional, o estabelecido pelo Código de Ética Profis-
sional, a própria relação entre o usuário do serviço e o assistente social, a realidade que
suscita o sigilo. Por tudo isso, a resposta pode parecer simples, mas não é. Não se trata
apenas de uma decisão no âmbito da lei.
175

Quer dizer, talvez não se trate de definir esquematicamente o que cabe à instituição e
o que cabe ao profissional, mas refletir anteriormente qual é o direito que está sendo
reclamado pelo demandante. E, nessa perspectiva, definir o limite do sigilo. Para Cene-
viva (1996, p.17), o dever ético cujo cumprimento é atribuído a uma pessoa em razão
de sua profissão lhe imputa uma atitude de “obter apenas a informação necessária para
o cumprimento da missão profissional, e não mais que isso”. Isso serve para pensar não
apenas a obtenção da informação, mas ainda a veiculação desta ao que for necessário
para o cumprimento do direito.
A resposta adequada para a pergunta “dizer ou não dizer?” é posterior à atitude pro-
fissional que a princípio deve procurar não ir além do que é necessário para o cumpri-
mento do objetivo profissional. Em algumas situações, a troca e o compartilhamento de
informações nem sempre se estabelecem entre profissionais que possuem a obrigação
do sigilo, sendo diferentes os papéis e as responsabilidades de cada um.
Por outro lado, geralmente o assistente social é um trabalhador assalariado em uma
instituição, inserido em uma equipe e em uma rede maior que tem outros profissionais,
outras instituições, que se articulam justamente por meio da colaboração e da comu-
nicação de informações. Nesse conjunto, o que pode ou não ser dito sem caracterizar
violação do sigilo profissional?
Esse cuidado deve ser orientado na comunicação restrita apenas ao necessário ao in-
teresse do direito do usuário, que deve estar de acordo ou, pelo menos, informado do
processo que segue, e dito a outro profissional que também esteja submetido ao sigilo
profissional. Isso pode gerar dúvidas sobre o que deve ser matéria de sigilo profissional.
E, principalmente, a seguinte reflexão: se a função social de uma informação fosse a
mesma, seria irrelevante se ela fosse colhida pelo policial, pelo advogado, pelo médico,
pelo assistente social ou pelo juiz.[...]
Fonte: Sampaio e Rodrigues (2014, p. 86 - 88).
A COMPETÊNCIA REFLEXIVA PROCESSUAL EM SERVIÇO SOCIAL NA AÇÃO PROFIS-
SIONAL JUNTO ÀS POPULAÇÕES.
RESUMO: Este artigo resulta de pesquisa etnográfica desenvolvida em Portugal, Brasil e
Canadá sobre a atividade profissional dos assistentes sociais e se centra nos aspectos re-
lacionados ao saber que se mobiliza na interação junto às populações. A atividade pro-
fissional dos assistentes sociais responde a problemas vividos por indivíduos de forma
singular, mas que decorrem do funcionamento das estruturas socioeconômicas e polí-
ticas e de seus sistemas que influenciam percursos, modos e condições de vida de pes-
soas, grupos e identidades individuais e coletivas. A resposta a esses problemas da ação
exige um saber profissional proveniente de uma estrutura sociocognitiva específica que
está na base da forma identitária que se constrói e reconstrói pela reflexão individual e
coletiva e pela afirmação da autonomia profissional na ação. Os profissionais trabalham
em tensão permanente, intrínseca à própria ação, para reinventar e adaptar procedi-
mentos difíceis de codificar e formalizar no cruzamento de relações sociais complexas
com lógicas individuais e coletivas diversas e mesmo antagônicas. Tensões, conflitos e
limites nos contextos de interação com as populações são fatores de complexificação e
de incerteza no saber. Mas, para agir nessas condições, o profissional precisa de algum
padrão de regularidade e de generalidade que se constituem como procedimentos pro-
fissionais de seu saber de ação, como mostra este artigo.
[...]
O SABER PROFISSIONAL: UM SABER DE AÇÃO COMPLEXO
O exercício da profissão depende dos esquemas operacionais que o profissional é ca-
paz de formular antes de agir, nos quais recontextualiza, adapta e combina saberes que
antecipam a ação. Mas depende igualmente de valores, decisões subjetivas com todas
as suas estruturas racionais, cognitivas e afetivas conscientes e inconscientes. O serviço
social é caracterizado como uma profissão mista que integra competência do domínio
do saber agir, mas também do domínio do talento (Le Boterf, 2003). Isso porque se trata
de saberes de ação e relacionais que se aplicam em situações do cotidiano das práticas
profissionais. Podem-se enunciar as seguintes características:
177

Inscrevem-se em acontecimentos localizados e contextualizados, em situações experi-


mentais que sempre recomeçam em contextos e circunstâncias diversas e nas quais é
necessário tomar decisões sem conhecer todos os parâmetros de diagnóstico.
■■ Situam-se em contextos pouco estruturados, contraditórios, paradoxais, com ní-
veis de incerteza elevados e com variáveis e relações de força desconhecidas que
podem se revelar determinantes para influenciar o curso da ação.
■■ Desenvolvem-se em sistemas de interação, no cruzamento de relações sociais di-
versas, quase sempre conflituosas, marcadas pelas particularidades de uma situ-
ação relacional em que coexistem diversas subjetividades e em que se articulam
o coletivo e individual, o objetivo e o subjetivo, e, por isso, jogam-se emoções e
sentimentos.
■■ As situações sociais problemáticas são muitas vezes intrigantes e aparentemente
sem sentido pela subjetividade que os atores transportam para a ação, mas não
se pode ignorar o conhecimento sobre as regularidades sociais e os determinis-
mos sociais que explicam e interpretam os problemas e suas origens.
■■ A ação profissional dos assistentes sociais é condicionada, e muitas vezes pres-
crita, pelas políticas sociais, macro e micro. A ação é socialmente significativa
porque aborda contextos e problemas que preocupam a sociedade, influencia
percursos de vida individuais e coletivos e o sofrimento ou bem-estar de seres
humanos concretos, e tem reflexos na sociedade em geral, envolvendo elevados
recursos públicos e privados, sempre escassos para a amplitude dos problemas.
[...]
Fonte: Granja (2011, p. 2-3).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Código de Ética do/a Assistente Social: Comentado


Maria Lucia Silva Barroco e Sylvia Helena Terra.
Editora: Cortez
Sinopse: Este livro preenche uma lacuna, porque não havia até agora um
texto acadêmico destinado a comentar o Código de Ética em vigor, de 1993,
na sua totalidade. As autoras comentam o Código em seus fundamentos
sócio-históricos e ontológicos, bem como em suas reais possibilidades de
materialização, no contexto de uma sociabilidade fundada na acumulação e
na propriedade privada.

Os direitos sociais e sua regulamentação: Coletânea de Leis


Luiz Antonio Miguel Ferreira
Editora: Cortez
Sinopse: A atuação eficiente dos profissionais que atuam nas áreas da
educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, segurança, previdência
social e proteção à infância e à maternidade, assistência aos desamparados,
pessoas com deficiência e idosos, necessita apoiar-se na legislação específica
de que tratam esses temas. A presente obra, visando facilitar o desempenho
dos citados profissionais, selecionou as principais leis que contemplam esses
temas. Esta 2º edição passou por uma revisão e atualização, já que várias leis
sofreram alterações substanciais e outras pontuais.

Acesse o link a seguir que discorre sobre a Resolução CFESS nº 428/2002 de 14 de maio de 2002,
que dispõe sobre as normas que regulam o CÓDIGO PROCESSUAL DE ÉTICA, incluindo todas
as alterações que foram regulamentadas por Resolução, bem como aquelas aprovadas pelo
Encontro Nacional CFESS/CRESS realizado em 2001.
Disponível em: <http://www.cressrs.org.br/docs/Codigo_Processual_de_etica.pdf>.
Acesse também o link a seguir que discorre sobre as Resoluções e Portarias CFESS que orientam e
normatizam o exercício profissional de assistentes sociais.
Disponível em: <http://www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/resolucoes-e-portarias-cfess>.
Professora Esp. Daniela Sikorski

ÉTICA, COTIDIANO E

V
UNIDADE
EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender cotidiano enquanto espaço privilegiado do exercício
profissional.
■■ Refletir acerca da categoria trabalho e sua relação com o Serviço
Social.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O Cotidiano: Espaço Privilegiado da Prática Profissional
■■ Refletindo Sobre a Categoria Trabalho e o Serviço Social
■■ Refletindo Sobre o Exercício Profissional
181

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a)!
As nossas unidades de estudo foram uma caminhada gostosa, cheia de des-
cobertas e muitas, mas muitas reflexões. Aposto que em muitos momentos você
se questionou quanto à profissão e à forma como ela se configura na sociedade
antiga e atual. Isso é bom, é muito bom!
A ideia do Código de Ética é de que os profissionais vejam nele não somente
seu caráter punitivo, mas um instrumento privilegiado que permite à profissão
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

expressar sua identidade ético-política à sociedade. O que nos garante respaldo


perante a sociedade e a consolida como profissão inserida na divisão sociotéc-
nica do trabalho.
Então, agora, é hora de arregaçar as mangas, respirar fundo, pois alguns já
estão inseridos em campos de estágio, outros começarão essa jornada em breve,
esse é ou será o momento que você poderá viver com tudo o que estudamos até
aqui,tendo a oportunidade de conhecer, analisar, interpretar, sintetizar, ampliar
a realidade que se apresenta.
Esta nossa última unidade visa nos aproximar um pouco mais da realidade
profissional, pois apresentará reflexões sobre o cotidiano e o exercício profissional.
Porém, não espere encontrar aqui respostas prontas, elas não existem, não existe
fórmula mágica ou bola de cristal, para dizermos como agir milagrosamente.
Estudo e capacitação permanente, debates e análises propiciam ao assistente
social um senso crítico mais apurado, tornando mais competente, eficaz e eficiente.
Precisamos olhar além, procurar a cada página fazer a experiência da aná-
lise, das relações e aproximações a partir dos conhecimentos e das experiências
que já possui, mas agora fazendo de uma maneira mais crítica e elaborada.
O material que segue visa sobretudo ampliar o conhecimento e a discussão
acerca da prática profissional do assistente social, valendo-se dos elementos:
exercício profissional do assistente social, sua relação com o Código de Ética e
o cotidiano como espaço do fazer profissional.
Vamos lá? Mãos à obra e ótimos estudos!

Introdução
182 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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O COTIDIANO: ESPAÇO PRIVILEGIADO DA PRÁTICA


PROFISSIONAL

A profissão de Serviço Social possui muita força; fez e faz parte de uma marcha
histórica marcada por grandes conquistas, muitas lutas, avanços e uma trajetó-
ria de muito valor.
O modo capitalista de produzir supõe um modo capitalista de pensar, ou
seja, não é a forma como pensa o capitalista, mas, antes de tudo, a forma neces-
sária de toda a sociedade pensar e agir, fundamental à reelaboração das bases de
sustentação - ideológicas e sociais - do capitalismo.
Portanto, o controle social não se reduz ao controle governamental e institu-
cional, é também exercido por meio de relações diretas, expressando o poder de
influência de determinados agentes sociais sobre o cotidiano de vida dos indivíduos,
reforçando a internalização de normas e comportamentos legitimados socialmente.
Dentre esses agentes institucionais, encontra-se o profissional do Serviço Social.
O lócus onde a prática profissional cotidiana, sob o vínculo emprega-
tício e assalariada, ocorre predominantemente é o das instituições. Ali,
no ‘todo dia’ do trabalho, o sujeito depara com atividades normatiza-
das, técnico-burocrática, onde, via de regra, a preocupação está mais
voltada para a produção quantitativa, de aparência imediata, que para
resultados qualitativos e duradouros (BAPTISTA, 2001, p.112, grifo do
autor).

ÉTICA, COTIDIANO E EXERCÍCIO PROFISSIONAL


183

Contudo é importante perceber na citação


anterior uma reflexão posta: a preocupação
com o quantitativo sobreposto ao qualitativo.
É de suma importância que o assistente social
não se deixe levar pela quantidade exces-
siva de demanda de trabalho a realizar. Logo,
faz-se necessário que o profissional esteja
atento para não “ser engolido” pela rotina (da
qual falaremos a seguir), não perca de vista a ©shutterstock
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

qualidade dos serviços prestados e do com-


promisso assumido. Esquecendo-se dos princípios que o norteiam.
Também, é importante ressaltar que a ideologia dominante é um meio de
obtenção do consentimento dos dominados e oprimidos socialmente, adaptando
-os à ordem vigente. Em outros termos: a difusão e a reprodução da ideologia
dominante são de exercício do controle social.
De acordo com Iamamoto (2001), a compreensão do cotidiano não se reduz
aos aspectos mais aparentes, triviais e rotineiros; se eles são parte da vida em
sociedade, não a esgotam. O cotidiano é a expressão de um modo de vida, his-
toricamente circunscrito, em que se verifica não só a reprodução de suas bases,
mas são também gestados os fundamentos de uma prática inovadora.
Para Baptista (2001, p. 112, grifos do autor),
O profissional e seu mundo sócio-profissional interatuam, armando
uma rede fina de relações, de sistemas de signos e de símbolos, com sua
estrutura particular de significados, de formas institucionalizadas de
organização social de sistemas de status etc.

Assim, o cotidiano não está apenas mergulhado no “falso”, mas referido ao


possível. A descoberta do cotidiano é a descoberta das possibilidades de trans-
formação da realidade. Por isso, a reflexão sobre o cotidiano acaba sendo crítica
e comprometida com o possível. O cotidiano é o “solo” da produção e repro-
dução das relações sociais. Somando-se a isso, podemos acrescentar e afirmar
o pensamento de Baptista (2001, p. 111) para o qual:

Introdução
184 UNIDADE V

[...] o espaço privilegiado da intervenção profissional é o cotidiano, o


‘mundo da vida’, o ‘todo dia’ do trabalho que se revela como o ambien-
te no qual emergem exigências imediatas e são desenvolvidos esforços
para satisfazê-las, lançando mão de diferentes meios e instrumentos. É
um ambiente material e de relações no qual o profissional deve se mo-
ver ‘naturalmente’ com uma pretensa intimidade e confiança sabendo
manipular as coisas, os costumes e as normas que regulam os compor-
tamentos no campo social e técnico.

O acesso que temos às histórias de vida dos sujeitos (usuários), muitas vezes, são enten-
didas como uma “invasão” de privacidade da pessoa que procura o assistente social.
ATENÇÃO!

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Com base nessa colocação, reforçamos aqui a importância do compromisso
social do profissional, orientado no sentido de solidarizar-se com o projeto de
vida do trabalhador ou de usar esse acesso para objetivos que lhes são estranhos
e, sobretudo, ter claro o Código de Ética vigente!
Importante considerar que os organismos institucionais dependem da ade-
são, pelo menos passiva, de seus agentes, para o alcance das metas e estratégias
de classe que implementam. Ou seja, ele depende de os profissionais aderiram
sua proposta, aceitando a contratação. Se o Assistente Social, enquanto trabalha-
dor assalariado dever responder às exigências básicas da entidade que contrata
seus serviços, ele dispõe de uma relativa autonomia no exercício de suas fun-
ções institucionais.
É também corresponsável pelo rumo imprimido às suas atividades, pelas
formas de conduzi-las. A imprecisão quanto à delimitação das atribuições desse
profissional pode ser um fator de ampliação da margem de possibilidade de rede-
finição de suas estratégias de trabalho.
No entanto o assistente social no âmbito das instituições tem exercido uma
função de subordinação no processo de decisão. Essa situação acaba culminando
em um profissional executor, e não que decide ações pertinentes ao atendimento
à demanda institucional.
Sem poder ter decisão ao nível global, ele utiliza a manipulação de
pequenos recursos para reforçar seu próprio poder pessoal. Assim, o
relacionamento pessoal com a clientela esconde uma relação de poder
muito mais ampla em que o assistente social se insere frente a uma
população usuária dividida e carente de poder sobre sua vida (FALEI-
ROS, 2008, P. 20).

ÉTICA, COTIDIANO E EXERCÍCIO PROFISSIONAL


185

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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A preocupação com a prática profissional está dirigida ainda a resgatar, sis-


tematizar e fortalecer o potencial inovador contido na vivência cotidiana dos
trabalhadores, na criação de alternativas concretas de resistência ao processo de
dominação. Esse projeto traduz-se na confiança que move uma prática, na pos-
sibilidade histórica de criação de novas bases de vida em sociedade, assumido e
subvertido em direção a um novo tempo, a uma nova prática.
Detemos nossa atenção à seguinte questão: o cotidiano não deve ser enca-
rado e entendido como uma rotina que sacrifica o profissional, a burocratização
que, por vezes, mortifica, não deve ser reproduzida como espaço que põe por
terra todo o conhecimento adquirido na graduação.
Muitas vezes, desenvolvemos um potencial crítico ótimo na graduação, ana-
lisamos os campos de estágios, efetuamos propostas de melhorias, visualizamos
uma prática futura ideal, sonhando em sermos os melhores profissionais do
mundo, contudo é comum ouvirmos alguns profissionais falarem que: “Na teoria,
é uma coisa e, na prática é outra.” Ou então:
“Na teoria tudo é lindo e maravilhoso, mas
na prática, não é bem assim que acontece”.
Essas percepções acontecem por conta de
muitos profissionais acharem que a teoria é
aplicada na prática, quando, na verdade, esta
a fundamenta, e onde é que temos a opor-
tunidade de experenciarmos as teorias? No
cotidiano, porque é o espaço no qual a prá-
tica profissional acontece.
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Introdução
186 UNIDADE V

Vamos analisar a citação a seguir e buscar compreender os elementos que ela


nos apresenta:
[...] observa-se que, por razões diversas, os assistentes sociais da prática
têm, em geral, fragilidade de conhecimento teórico para enfrentar o
cotidiano; dessas razões, uma é a falta de preparo do profissional para
proceder a mediação entre a universalidade da teoria e a configura-
ção singular dos fenômenos no cotidiano da prática. Alguns assistentes
sociais buscam o conhecimento apenas com fins pragmático- imedia-
tistas em contraposição a outros que, embora avançando na discussão
sobre temas do cotidiano, não se instrumentalizam para trabalhá-los
no seu dia a dia; uns não descolam do plano do discurso e outros não

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
decolam da singularidade, o que significa que não conseguem estabe-
lecer relação entre a universalidade da teoria e a imediaticidade do sin-
gular (MUNHOZ, 2001, p.16, grifos nossos).

Quando encaramos a rotina como algo já objetivado sem perspectivas de intera-


ção, ou que já dominamo-a por achar que tudo está pronto e acabado, corremos
um sério risco:
Neste contexto de risco quero lembrar da banalização da vida humana,
que pode ser provocada pela rotina, pelo trato cotidiano de situações de
segregação, de injustiça. O risco da perda da capacidade da paixão, da
indignação - motor necessário para uma ação comprometida - que pode
levar o profissional a viver sua prática mecanicamente, procurando re-
sultados, mas sem paixão (BAPTISTA, 2001, p.118, grifo do autor).

Quando encaramos o exercício profissional com um olhar “apaixonado e crítico”,


quando lidamos com o cotidiano como espaço para desvelamento das relações e
vida humana, somos capazes de efetuar uma leitura partindo do particular para o
universal, com uma leitura e análise crítica da realidade particular em questão.
Para Baptista (2001, p. 118),
Em tal contexto, as ações repetidas ‘todo dia’, as rotinas e determinadas
práticas derivadas da experiência acumulada, que se moldam a um padrão
e podem ser reproduzidas, compõem algo que foi chamado por Schutz
de ‘estoque de conhecimentos’, no qual as mesmas são admitidas como
certas e sempre à mão. Essa reprodução sistemática de ações e rotinas, ao
mesmo tempo que pode se constituir em limites para a ação profissional,
abre possibilidades consideráveis de avanços na medida em que implica
importantes ganhos psicológicos, ao tornar desnecessário que cada situa-
ção seja definida a cada vez, etapa por etapa, possibilitando que a ativida-
de prossiga com um mínimo de tensões e decisões e, com isso, liberando
energia para outras decisões e inovações. O problema da rotina não está

ÉTICA, COTIDIANO E EXERCÍCIO PROFISSIONAL


187

nela própria – ela é algo necessário – mas no fato de ela ser imposta como
fim, em detrimento do real enfrentamento das questões e do processo de
criação e renovação de conhecimentos e práticas.

Portanto é a partir do trabalho concreto do profissional que emergem novos


impasses, exige-se, a partir desse posicionamento, uma atuação cada vez mais
em função dos interesses da população usuária da política social. Assim, o desen-
volvimento das organizações profissionais, para Faleiros (2008, p. 28), “vem
contribuindo para esse posicionamento, que não é estático, mas dialético e arti-
culado em cada situação concreta de forma diversificada”.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

E é pensando na prática profissional que se elabora o paradoxo do exercí-


cio profissional, pois foi a partir do movimento de reconceituação que se inicia
o processo de se pensar o espaço profissional, como vimos na unidade II deste
livro, quando estudamos os primeiros Códigos de Ética.
Para efeitos didáticos, abordaremos, a seguir, os níveis de intervenção profis-
sional do assistente social, uma vez que eles se dão na prática de forma contínua
e articulada, permitindo um desenvolvimento constante das partes envolvidas e
interessadas no processo (sistema, comunidade, instituição e sociedade):

caracterizado pela prática direta ou indireta e por uma intervenção junto


a cidadãos, grupos, comunidades e unidades de prestação de serviços
sociais junto à população, tais como escola, centros de saúde, centros de
lazer, entidades sociais, empresas, organizações e outros.

caracterizado por uma intervenção ao nível das estruturas e sistemas


operantes em extratos mais amplos da sociedade; atua, portanto, junto
aos agentes decisórios, estruturas, populações, instituições, subsistemas
e, mesmo, a nível de burocracia.

Fonte: Falcão (1979, p. 59 - 60).

A reflexão acerca do cotidiano profissional não se encerra aqui, aliás nunca se


encerrará, pois o exercício profissional acontece e se realiza nele e durante todo
esse material, direta ou indiretamente, estamos abordando essa temática, pois o
exercício profissional é indissociável do cotidiano e vice-versa.

Introdução
188 UNIDADE V

Falando sobre análise crítica:


[...]
A análise crítica é o processo segundo o qual questões são esclarecidas. Sa-
lientamos a palavra crítica, pois quem faz tal análise exige que suas ideias
sejam examinadas e questionadas. As dúvidas ajudam-nos a formular per-
guntas. O pensador crítico, ao avaliar os argumentos de si próprio e dos ou-
tros, levanta muitas questões, entre as quais as seguintes:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
- O que está sendo afirmado? Há ideias implícitas no argumento?
- O que é usado para apoiar as ideias?
- As evidências (se houver) apoiam as ideias?
- Há facetas importantes do problema abordado que não foram considera-
das? O que outras pessoas sugerem?
- O autor caracteriza bem o problema abordado? Ou sua caracterização dis-
torce o problema? Quais as questões principais envolvidas? O autor reco-
nhece a centralidade de tais questões? Essas questões são de fato, de valor
ou conceituais?
- Que informações poderiam ajudar a esclarecer as questões principais?
- Que ideias ou conceitos poderiam ajudar a esclarecer as questões princi-
pais?
- Que ideias ou conceitos precisam ser explorados para esclarecer as ques-
tões principais?
Fonte: Carraher (1983, p.127-128).

ÉTICA, COTIDIANO E EXERCÍCIO PROFISSIONAL


189
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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REFLETINDO SOBRE A CATEGORIA TRABALHO E O


SERVIÇO SOCIAL

No Brasil, o capitalismo tem sua implementação no século XX, tendo um grande


impulso na década de 1950 (período desenvolvimentista), e intensificação na
década de 1960 (Ditadura Militar) com as indústrias de bens de consumo durá-
veis (são produtos como: automóveis, eletrodomésticos, eletroeletrônicos etc.),
entretanto uma das bases da economia brasileira permaneceu na área exporta-
dora de produtos agrícolas (ANTUNES, 2002).
Em âmbito mundial, na década de 1970, houver a reestruturação produ-
tiva. Já no Brasil, somente na década de 1980 iniciaram-se as primeiras alterações
decorrentes dessa mudança global do capitalismo e, principalmente, na década de
1990, com os governos de Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando
Henrique Cardoso (Antunes, 2002), impulsionaram a flexibilização das leis tra-
balhistas, privatização das empresas estatais, desregulamentação dos direitos
sociais etc.
Contudo, a população, em diversos momentos da história mundial, não
apenas observou as mudanças, como também reivindicou melhores condições
de vida e garantia dos direitos. Com a pauperização e as precárias condições de
trabalho, a população trabalhadora começou a manifestar-se exigindo direitos,
e o Estado teve que criar leis e mecanismos que amenizassem as consequências
que o modo de produção capitalista gerou cotidianamente.

Introdução
190 UNIDADE V

A partir deste momento seremos mais específicos no que diz respeito ao


trabalho e ao Serviço Social. No que se refere à fundamentação do trabalho pro-
fissional, a categoria trabalho passa a ser compreendida pela profissão no que se
refere a sua inserção na divisão social e técnica do trabalho.
Para entendimento da categoria trabalho, o serviço social utilizará os estudos
de Lukács (1978) em relação à ontologia do ser social. Para o autor, a categoria
trabalho é fundante do ser social, isso significa a compreensão de que os assis-
tentes sociais são trabalhadores assalariados, para tanto, estabelecem relações no
processo de trabalho que tem como objeto as políticas sociais.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A questão do assalariamento parecia encoberta pela própria visão hu-
manista que fazia o serviço social aparecer como um sacerdócio, uma
atividade benevolente e sem caráter determinado pela sua inserção no
processo técnico e social do trabalho (FALEIROS, 2008, p. 19).

Isso coloca o assistente social em uma relação de mediação entre organismos


empregadores públicos e privados e os usuários dos serviços prestados, pois um
trabalhador com qualificação, dotado de força de trabalho, nesse sentido, mer-
cadoria, irá, juntamente com outros trabalhadores, articular o trabalho coletivo.
A inserção em campo tem um papel definido como fator de progresso
científico e político. Sua importância reside não apenas no aporte teó-
rico que realiza no conhecimento de níveis particulares da formação
social como, igualmente no valor estratégico para organização popular
(CELATS, 1980, p. 60).

Sabemos que a profissão rompeu com sua origem católica (porém, não a nega
enquanto processo histórico) na medida em que surge a consolidação do mer-
cado de trabalho e o assalariamento da força de trabalho do profissional, (não
eram mais moças de família, mas camadas médias que tiveram que vender sua
força de trabalho). O significado social da profissão encontra-se estreitamente
vinculado às políticas sociais do Estado, via instituições de saúde, educação,
assistência social etc, em que instituições constituem em um marco operativo e
funcional no qual se desenvolve nossa profissão.

ÉTICA, COTIDIANO E EXERCÍCIO PROFISSIONAL


191
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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A prática profissional tem um caráter técnico, subordinado à dimensão


política. O débil e insuficiente desenvolvimento teórico-metodológico
da profissão fá-la mais vulnerável à manipulação política por parte dos
empregadores. A privilegiada dimensão política do assistente social
como articulador entre os setores populares e os programas institu-
cionais no campo dos serviços sociais faz parte deste profissional um
agente político por excelência. Sua intervenção, a partir destes progra-
mas, nos aspectos concretos da vida cotidiana da população trabalha-
dora, é um dos elementos básicos para a análise da prática profissional.
Sua intervenção decorre predominantemente sob uma ação de caráter
educativo e organizativo que busca transformar as maneiras de ver, agir
e sentir dos indivíduos em sua inserção na sociedade. O assistente so-
cial, portanto, incide no modo de viver e de pensar dos trabalhadores.
(CELATS, 1985, p. 59).

Sendo assim, não podemos pensar o desenvolvimento e renovação do social sem


vincularmos essa discussão aos movimentos da sociedade, bem como compre-
endemos o processo de institucionalização da profissão de maneira simultânea
ao processo histórico do Brasil.
A profissão de Serviço Social é constituída como um instrumento de esclareci-
mento e conscientização sobre os direitos, os serviços, os benefícios da instituição
e a forma de acesso a ela. O Serviço Social está situado entre a demanda insti-
tucional (e a sua incapacidade em resolver as problemáticas dos indivíduos) e
diante da revolta e do inconformismo da população.

Introdução
192 UNIDADE V

A prática profissional torna-se cada vez mais complexa e não pode mais
ser reduzida ingenuamente a entrevistas, reuniões e visitas ou a um
militantismo partidário e sectário. Ele se torna um saber estratégico.
Ela se torna um saber tático. Um saber que precisa situar-se em um
contexto político global e em um contexto institucional particular vi-
sualizando as relações de poder (NICOLAU, 2004, p. 85).

Ao longo deste material, estaremos a todo instante abordando questões relativas


à prática profissional do assistente social, ou seja, à intervenção profissional, por
esse motivo, faz-se mister a reflexão acerca da citação a seguir, antes de qualquer
outra coisa, a saber: o termo,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
‘Intervenção profissional’, [...] é empregado para referir-se à ação do
profissional que se dirige a alguma parte de um sistema ou de um pro-
cesso com a intenção de nele induzir uma transformação (GORDON,
1993, p. 88) um ato profissional é dirigido e posto em execução por
meio do emprego consciente do conhecimento e dos valores do Ser-
viço Social e, assim está em harmonia com a ideia de prioridade [...]
intervenção, tradicionalmente, significa provocar uma diferença no
resultado ou curso dos acontecimentos (BARTLETT, 1993, p. 88, grifo
do autor).

A partir dessa colocação, entendemos que “a prática profissional deve ser situada
no contexto das relações sociais concretas de cada sociedade” (CELATS, 1985,
p.57). E podemos conceber a prática, o cotidiano como um espaço privilegiado
do fazer profissional do assistente social, em que encontramos a matéria-prima
do trabalho do profissional, que são as múltiplas expressões das questões sociais,
que é objeto de trabalho desse profissional.
O fazer profissional foi historicamente construído e socialmente determinado
pelas relações de forças postas pelo sistema e, como assistentes sociais, estamos
mais que inseridos nesse processo e dele não podemos nos abster, uma vez que
incidimos sobre a consciência dos sujeitos (lembrando que somos seres de rela-
ções e na medida em que influenciamos, também somos influenciados) e desta
maneira podemos compreender que:
Tal característica circunscreve, na práxis social, a posição teleológica
deste trabalho profissional: trabalho que ao ser mediatizado pelos ser-
viços sócio-assistenciais demandados pelos setores público e privado
em respostas as diferentes expressões da questão social, caracteriza-se
de forma dominante ao nível político-ideológico [...] (NICOLAU, 2004,
p.86)

ÉTICA, COTIDIANO E EXERCÍCIO PROFISSIONAL


193

REFLETINDO SOBRE O EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Ao longo deste estudo, falamos muito sobre o ser profissional, as características da


categoria e como ela foi se configurando ao longo dos anos, independente da cate-
goria profissional, todos estamos enfrentando as mudanças no mercado profissional
de trabalho, nesse caso, em especial, enfocaremos o profissional de serviço social.
Assistimos a uma crescente segmentação das atividades profissionais, reque-
rendo cada vez mais profissionais especializados; sem contar que está ocorrendo
também uma diferenciação progressiva das condições de trabalho nas instituições
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

estatais e nas de iniciativa privada, estas como esquemas de controle e aferição


mais estritos do desempenho profissional.
Todas as exigências que estão colocadas ao Serviço Social convergem para
a questão da qualificação profissional, uma vez que, além da formação gene-
ralista recebida pelo aluno nas instituições de ensino superior, faz-se necessária
a institucionalização da especialização como requisito ao exercício profissional,
como já aponta o Código de Ética vigente: “Dos direitos e das responsabilida-
des gerais do(a) assistente social [...] a) Aprimoramento profissional de forma
contínua, colocando-o a serviço dos princípios deste Código”. (CFESS, 1993).
Além dessa preocupação, há que se reciclar aqueles que já estão nos campos
de trabalho por meio de cursos de atualização, reciclagem, que venham aten-
der às exigências de uma intervenção localizada, de acordo com a afinidade e/
ou área de atuação profissional. Sabemos que as legislações sofrem alterações,
novos estudos surgem constantemente acerca de diversos assuntos específicos
da profissão, sem contar a discussão entre os profissionais da categoria, o con-
tribui muito para o avanço do entendimento, da interpretação e da análise da
realidade, sem contar no fortalecimento da classe.
Para que haja a superação de tais limites, algumas questões precisam ser enten-
didas pelos profissionais da área, o primeiro deles é que existe uma necessidade de
que os assistentes sociais se apropriem, busquem maior aprofundamento sobre as
teorias sociais ligadas à profissão (matrizes teóricas do pensamento social), para
que se descubram novos caminhos (novas formas de fazer) para a prática profis-
sional. Em segundo lugar, porém não menos relevante, o profissional deve buscar
aperfeiçoamento técnico-operativo, visando uma inserção qualificada no mercado.

Refletindo Sobre o Exercício Profissional


194 UNIDADE V

Essa busca e superação deve ser constante, pois permanentemente está em


contato com interesses e preocupações próprias e da demanda institucional.
Apresentamos, na sequência, algumas questões para reflexão e análise acerca do
exercício profissional e do entendimento dele, proposto por Souza (2004, p. 153
- 154, grifo nosso):
■■ Como problematizar a realidade que aí está colocada em termos de inte-
resses e preocupações?
■■ Quais as teorias, ou qual a teoria mais capacitada a explicar mais obje-
tivamente a realidade do objeto da ação?

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Que caminhos ou que processos devem ser trabalhados em função do
processo de reflexão gerador das ações necessárias?

A partir da citação anterior, procure, na medida do possível, responder as ques-


tões, levando em consideração todo o conhecimento que você adquiriu até aqui,
lembre-se de que as experiências vividas também contribuem para o exercício
profissional, logo, devem ser consideradas no momento da análise.
Os pontos citados anteriormente são fundamentais e complementares entre
si. Porém, aprisionados em si mesmos, transformam-se em limites que vão
tecendo o cenário de algumas dificuldades, identificadas pela categoria profis-
sional: o teoricismo, o militantismo e o tecnicismo.
Quando falamos em qualificação profissional, explicitamente, falamos na
constante capacitação e busca por novos saberes
pelo profissional, isso (a busca) não compete a
mais ninguém senão ao assistente social, moti-
vado pelo seu compromisso com a profissão e a
sua demanda. E muitos profissionais, além da cor-
reria do dia a dia não buscam algo novo, pois “a
carga horária semanal na instituição não permite,
as atividades são muitos exautivas!” ou, então,
“não posso me ausentar um minuto da institui-
ção, senão tudo vai abaixo e ninguém sabe o que
fazer!” ou, mais ainda, “para que tanto estudo se
na prática tudo continua a mesma coisa?”.
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ÉTICA, COTIDIANO E EXERCÍCIO PROFISSIONAL


195

Os profissionais, por vezes, se perdem na rotina, no cotidiano, uma vez que


não se estabelece um processo autorreflexivo, alguns profissionais não se per-
mitem um tempo para a leitura da realidade, assim, acabam virando meros
executores de tarefas, encontrando-se exaustos ao final do dia. Considerando
ainda a “falta de tempo” para uma autoanálise da atuação profissional.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Senso de dever: Há uma diferença entre está na hora e a hora é agora.


Porque está na hora é apenas apontar o horário em que algo tem que ser
feito. Agora, a hora é agora indica urgência, sem adiamentos, sem escapes.
Uma das coisas mais importantes na formação de uma personalidade, de
um pesquisador, de um profissional, de uma criança e de um jovem, é que
ele tenha esse senso de dever e o senso de urgência. Não se pode, eviden-
temente, ficar fazendo apenas aquilo que é urgente, também é necessário
dedicar-se ao importante. Quando cuidamos demais do urgente, o impor-
tante fica de lado.
[...]
André Gide, Prêmio Nobel de Literatura em 1947, fazia uma pergunta impor-
tante: “Se não fizeres logo, quando será?” Parece uma frase pronta de avô ou
avó. Mas é preciso ter o senso de dever e o senso de urgência em relação
ao que deve ser executado, a uma tarefa profissional ou escolar, ao cum-
primento de um prazo. Porque se algo tem que ser feito, temos que fazê-lo,
vamos fazê-lo. Se tem que ser feito logo, que seja logo, sem adiamento ou
procrastinação.
Fonte: Cortella (2013, p. 78).

O que se busca construir é uma cultura política democrática em que a socie-


dade e seus sujeitos tenham um papel questionador, propositivo, por meio do
qual se possa partilhar poder e diferentes responsabilidades. O assistente social
é tido como o profissional da participação, entendido como partilhamento de
decisões e de poder.

Refletindo Sobre o Exercício Profissional


196 UNIDADE V

O assistente social pode impulsionar formas democráticas na gestão de polí-


ticas e programas, socializar informações, alargar canais que dão voz e poder
decisório à sociedade civil, permitindo ampliar sua possibilidade de ingerência
na coisa pública.
Os assistentes sociais, ao exercerem suas ações profissionais, exercem a função
de um educador político, um educador comprometido com uma política demo-
crática ou um educador envolvido com a política dos “donos do poder”. Mas é
nesse campo atravessado por feixes de tensões
que se trabalha e nele é que são abertas inú-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
meras possibilidades ao exercício profissional.
Esse rumo ético-político requer um pro-
fissional informado, culto, crítico e competente.
Exige romper com o teoricismo estéril, com o pragmatismo,
aprisionado no fazer pelo fazer, em alvos e interesses imedia-
tos. É requisitada uma competência crítica, capaz de decifrar a
gênese dos processos sociais, suas desigualdades e as estratégias de
ação para enfrentá-la.
Supõe competência teórica e fidelidade ao movimento da realidade; com-
petência técnica e ético-política que subordine o “como fazer” ao “o que fazer”,
este, ao “dever ser”, sem perder de vista seu enraizamento no processo social.
Enfim, requer uma nova natureza do trabalho profissional, que não recusa
as tarefas socialmente atribuídas a esse profissional, mas lhe atribui um trata-
mento teórico-metodológico e ético-político diferenciado.
No processo de trabalho do Serviço Social, faz-se fundamental indicar
suas peculiaridades: possui mandato legal e científico (legislação profissional,
Código de Ética e associações profissionais). Esse mandato é fruto não de um
movimento interno da categoria, mas resultante de enfrentamento e negociações

ÉTICA, COTIDIANO E EXERCÍCIO PROFISSIONAL


197

permanentes. A autonomia é uma concessão legal de natureza tanto científica


quanto política-social, vista sob essa perspectiva, ela é sempre constituída his-
toricamente como processo.

A competência técnica e ético-política pertencem a um conjunto que faz


parte do desenvolvimento e da atuação do profissional, sendo assim, anali-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sando o cenário que encontramos hoje, o Assistente Social consegue aplicá-


-las na sua autonomia?
Fonte: a autora.

Alguns autores sinalizam que o trabalho desenvolvido em organizações comple-


xas onde a burocratização (burocracia; sujeito à hierarquia e regulamentos rígidos
e a uma rotina inflexível) se manifesta como forte mecanismo de controle, sua
racionalidade (da burocracia) tende a se impor sobre qualquer trabalhador. Por
que a necessidade de burocratizar os serviços públicos de saúde, por exemplo?
[...] o Serviço Social só melhorará sua performance como conjunto,
como categoria profissional, se for capaz de instrumentalizar seus
agentes profissionais para responder com competência e comprome-
timento aos interesses da população, às necessidades e demandas so-
ciais, à luz da teoria crítica, e em consonância com a natureza e limites
de (sua) prática profissional, Prática essa que se admite em permanente
desafio em face da sua pretensão de se opor a essa ordem (im)posta e
contribuir para a construção de uma nova sociedade (SERRA, 2008,
p.186, grifo do autor).

Refletindo Sobre o Exercício Profissional


198 UNIDADE V

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muito bem, caro(a) e precioso(a) acadêmico(a), estamos encerrando (tempora-


riamente) mais uma etapa. Parabéns! Mas saiba que, de forma alguma, o estudo
proposto se encerra aqui. Pelo contrário, estamos apenas no início da cami-
nhada profissional e eu espero que você tenha gostado e se apaixonado ainda
mais pela profissão.
Como não encerramos em definitivo (e creio que isso não acontecerá) fique
neste momento com algumas questões, quais você deverá se comprometer em

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
buscar respostas. Após todo esse momento de leitura e estudo, é possível uma
reflexão sobre o exercício da nossa profissão? No que consiste tal exercício e a
quem se destina?
Alerto apenas para o seguinte: como vimos ao longo das unidades de estudo,
as reflexões devem iniciar antes do exercício permanente da profissão, ou seja,
antes da formatura, pois, no processo de graduação, você também já está contri-
buindo para a construção da profissão, uma vez que até mesmo para a escolha
do curso foram necessários momentos de reflexão, você lembra disso?
O que estamos fazendo aqui é percorrer o caminho de construção teórico-
-metodológico. Para tanto, fica a questão: será que estou tomando ciência de todo
conjunto de deveres que estou a caminho de assumir? Estou me preparando e me
empenhando o suficiente para assumir os compromissos que a categoria prega?
Minha missão é contribuir com a formação de novos e ótimos profissionais
(conforme previsto no Código de Ética 1993), profissionais éticos, críticos e
conscientes de sua profissão. Dessa maneira, o estudo e a dedicação são mais que
necessários, pois não podemos correr o risco de sermos vistos como assistentes
sociais que são apenas coletores de dados ou “preenchedores” de formulários.
A formação profissional nos possibilita uma formação técnica, desvinculando-
-se do fazer leigo. Existem objetivos e intenções fundamentadas na nossa ação
profissional enquanto assistentes sociais.
Pense nisso. Sucesso sempre e até a próxima.
Profª. Daniela Sikorski

ÉTICA, COTIDIANO E EXERCÍCIO PROFISSIONAL


199

1. Preencha os espaços vazios e complete com tais palavras o quadro a seguir:


a. A profissão de Serviço Social é constituída como um instrumento de esclare-
cimento e conscientização sobre os________________, os serviços, os benefí-
cios da instituição e forma de acessá-la.
b. A ________________ é o processo em que questões são esclarecidas.
c. Termo empregado para se referir à ação do profissional que se dirige à alguma
parte de um sistema ou de um processo com a intenção de nele induzir uma
transformação.
d. O __________________ não deve ser encarado e entendido como rotina que
sacrifica o profissional.
e. O Serviço Social está situado entre a __________________ institucional (e a
sua incapacidade em resolver as problemáticas dos indivíduos) e diante da
revolta e inconformismo da população.
f.

2. Já ouvimos alguns profissionais dizerem que “Na teoria, é uma coisa e, na prática,
é outra!”. Ou, então, “Na teoria, tudo é lindo e maravilhoso, mas, na prática, não
é bem assim que acontece!”. Ou, ainda “que nada do que se estuda ou aprende
na graduação serve quando se está no dia a dia profissional, com os problemas
batendo à porta”. Considerando a sua leitura e a reflexão feita ao longo da
unidade, quais análises podemos estabelecer?
3. (FCC – 2008 - TRT - 18ª Região (GO) - Analista Judiciário - Serviço Social) A refle-
xão ética sobre o comportamento profissional, que pensa a relação do eu com o
coletivo, estabelece parâmetros para a relação do profissional com a sociedade.
Essa relação possibilita:
a. Seu retorno à prática, pois ilumina a ação profissional e o posicionamento da
profissão diante da realidade social.
b. A suspensão da cotidianidade, com objetivo de responder às necessidades
imediatas, sistematizando a crítica da vida cotidiana.
c. Um juízo de valor, uma avaliação que qualifica ações, objetos, pessoas e rela-
ções na atuação profissional mais efetiva.
d. Respeito ao outro, aceitando conscientemente que o diferente é capaz, mas
necessita da intervenção profissional para se conscientizar disso.
e. A capacidade de se elevar ao humano-genérico, e agir a partir de tal elevação,
comprometendo assim a ação profissional.
4. (FCC - 2008 - TRT - 18ª Região (GO) - Analista Judiciário - Serviço Social) O
conteúdo da ética profissional é construído na prática cotidiana, espaço de con-
fronto com situações de conflito que demandam um posicionamento de valor.
Existem, assim, limites e possibilidades para a ética profissional, que são
dados:
a. Pelos movimentos neoliberais e pela ampliação da competência teórica volta-
da à reflexão ética, capaz de desmistificar o agir profissional.
b. Pelos projetos emancipatórios de uma sociedade e pela prática profissional
voltada para o enfrentamento dos desdobramentos da questão social.
c. Pela compreensão dos fundamentos sócio-históricos da ética que têm origem
na práxis, ou seja, na atividade prática consciente que possibilita ao homem
constituir-se como ser social.
d. Pelas tendências estruturais e conjunturais da sociedade capitalista e pela prá-
tica profissional orientada teleologicamente em função de um projeto coleti-
vo.
e. Pela práxis ético-política pautada em projetos sociais voltados para a manu-
tenção e ampliação do neoliberalismo e por um Projeto Profissional que obje-
tiva a realização e a ampliação de direitos sociais e humanos.
201

3. O “chão” do exercício profissional: a vida cotidiana num contexto de regressão


de direitos da classe trabalhadora
O “chão” do exercício profissional, para o qual queremos chamar a atenção, é primeira-
mente aquele onde se dá todo o agir histórico: o cotidiano. Afinal, a vida cotidiana é in-
suprimível e existe em todas as sociabilidades humanas. A outra característica do “chão”
que queremos ressaltar é a forma como os direitos da classe trabalhadora vêm sendo
tratados, tema fundamental para assistentes sociais, uma vez que atendem à classe tra-
balhadora ao mesmo tempo que fazem parte dela. Se a vida cotidiana é insuprimível,
certamente ganha contornos próprios diante da alienação na sociedade de classes.
3.1 Vida cotidiana e valores
O cotidiano faz parte da vida. Em todos os momentos históricos os homens vivem no
cotidiano. É quando damos respostas para as questões que emergem no dia a dia, seja
na esfera privada, profissional, no âmbito do lazer, do descanso etc. Lidamos com muitas
informações e, pela agilidade, - diga-se de passagem, cada vez mais requerida nesse
trato -, pouco paramos para refletir sobre o que pensamos, falamos e fazemos.
O fato de que todas as suas capacidades se coloquem em funcionamento determina
também, naturalmente, que nenhuma delas possa realizar-se, nem de longe em toda
sua intensidade. O homem da cotidianidade é atuante e fruidor, ativo e receptivo, mas
não tem nem tempo nem possibilidade de se absorver inteiramente em nenhum desses
aspectos; por isso, não pode aguçá-los em toda intensidade. (HELLER, 1992, p. 17-18).
As características do cotidiano são: a heterogeneidade (o desenvolvimento de diferen-
tes ações simultaneamente, ainda que haja uma hierarquia entre elas. Por exemplo: na
sociedade de classes o trabalho alienado é a principal atividade), a imediaticidade (uma
relação automática entre o pensamento e a ação) e a superficialidade extensiva (uma
vez que há o desenvolvimento simultâneo de diferentes ações, o indivíduo domina ape-
nas superficialmente a realidade e os conhecimentos que mobiliza). (NETTO, 2000).
Se o cotidiano é insuprímivel, também é importante dizer que nem por isso é necessa-
riamente sempre alienador, pois se vivêssemos em outra ordem societária, com valores
emancipatórios hegemônicos, daríamos respostas mais qualificadas, ainda que imedia-
tas, e manejando conhecimentos distintos ao mesmo tempo.
No cotidiano, o indivíduo vive o mundo a partir do “eu”. Somente quando ele supera
essa singularidade pode ter acesso à consciência humano-genérica. Para isso, tem que
suspender a heterogeneidade da vida cotidiana (processo esse entendido como homo-
geneização do ser singular em direção ao humano-genérico). E as formas privilegiadas
para suspensão são: o trabalho criador, a arte, a ciência, a ética. Não tem como o indi-
víduo ficar permanentemente “suspenso”, mas, ao voltar ao cotidiano, ele o percebe de
forma diferente.
Diversas pesquisas têm mostrado que os(as) assistentes sociais afirmam seu compro-
misso com a democracia, com os direitos e com o Projeto Ético-Político do Serviço So-
cial. Também nas provas de concurso ou seleção pública para empregos, as questões
referentes ao Código de Ética do(a) Assistente Social não costumam ter problemas para
ser respondidas corretamente por profissionais da área. Assim, podemos partir da cons-
tatação de que tanto verbalizam como sabem teoricamente sobre quais são os princí-
pios do projeto profissional. Mas será que realmente internalizaram seus valores?
É preciso ter claro que a categoria de assistentes sociais não está imune ao caldo
conservador da sociedade brasileira. Mas se opta por valores conservadores - ainda que
discordemos -, essa tem que ser uma escolha consciente, e não como vem se dando na
maioria das vezes, como um “autoengano”.
O “autoengano” referido se dá pelo discurso de que “o que penso e faço como profissio-
nal pode ser distinto do que penso e faço fora do trabalho”. É como se houvesse uma
“muralha chinesa”: ao chegar ao trabalho, dou um “stop” nos meus valores e, ao colocar
o crachá, o jaleco ou um uniforme, ou mesmo ao bater o ponto, “plim!”, tenho em mim
os valores do Projeto Ético-Político.
Isso é impossível, pois as ações desenvolvidas no cotidiano formam um continuum. Afi-
nal, “não sou um(a) em casa e outro(a) no trabalho”. Trago em mim valores, e esses são
fortes. São como bússolas para a imediaticidade do cotidiano. Não paro para pensar,
nem ligo para o CRESS frente a uma situação que necessita de uma resposta profissional
imediata: faço, mesmo que depois não o fizesse com a mesma intenção.
O cotidiano é o espaço das respostas imediatas em todas as esferas da nossa sociabilida-
de, inclusive as relativas ao trabalho. Logo se estivermos mais qualificados(as), daremos,
no trabalho, respostas melhores. Se efetivamente internalizarmos os valores do Projeto
Ético-Político, que são emancipatórios, daremos respostas emancipatórias para a “dure-
za” do dia a dia - que naturaliza a desigualdade social, estimula o preconceito, desqua-
lifica os indivíduos fora do padrão dominante etc. -, tanto no trabalho como nas outras
esferas da sociabilidade.
Fonte: Matos (2015, p. 682-685).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Ensaio sobre a Cegueira


Ano: 2008
Sinopse: Inspirado no livro: “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago
(1995), o filme retrata um caos na sociedade, ocasionado por uma
inexplicável cegueira, causado inicialmente por um oriental no centro de
uma cidade do Brasil, em seguida, todas as pessoas que tiveram contato
com ele começam a ficar cegas. Por não haver explicação para a causa do
fenômemo, as pessoas afetadas começam a ser isoladas, em quarentena.
Logo, os recursos e serviços oferecidos pelo Estado para que essas pessoas
comecem a faltar, assim, as pessoas que estão isoladas comecem uma
luta pela sobrevivência, em busca das suas necessidades básicas. Nessa
situação, a única pessoa que ainda consegue enxergar é a mulher de um
médico (Julianne Moore), que, juntamente com um grupo de internos,
tenta encontrar a humanidade perdida.
O filme nos apresenta um ponto de reflexão muito importante: como as
pessoas reagem em situações extremas? Como definem suas escolhas?
Como se comportam moral e eticamente? O filme serve ainda para
analisarmos nosso exercício profissional? Como analisar um contexto, a
reação de cada pessoa mediante uma dada realidade etc.

Material Complementar
205
CONCLUSÃO

Parabéns! É muito bom ver que você conseguiu cumprir mais uma etapa. Foi um
aprendizado e tanto, você não acha?
Algumas certezas ficam mais ressaltadas, como a de que a ética é sempre um exer-
cício da nossa relação com o outro, da nossa relação enquanto sujeito coletivo. De
que, ao olharmos a história, conseguimos compreender que realmente somos su-
jeitos que influenciamos e somos influenciados pela sociedade em que vivemos.
Daqui cem anos, com certeza, muitas coisas que hoje eram aceitas certamente não
serão e o contrário também será válido. Pode ser que nosso Código de Ética seja
reformulado, pode ser que não, isso dependerá das ações e reflexões coletivas. As
mudanças não ocorrem porque um indivíduo quer apenas.
Enteder o trabalho, a ética, a moral, a ética profissional, os Códigos de Ética da nossa
profissão, que são Projetos Societários, Projetos Profissionais e, finalmente, o Proje-
to Ético-Político Profissional do Serviço Social foi deveras importante para que pu-
déssemos compreender melhor o Código atual, aprovado em 1993.
Compreender os seus eixos estruturantes, seus princípios, mostrou-nos que cada
um deles é fundamentado teoricamente, baseado na trajetória da sociedade e do
amadurecimento da profissão de serviço social, enquanto categoria profissional in-
serida na categoria sociotécnica do trabalho. Desvinculada da caridade e do assis-
tencialismo, aberta, pluralista, dotada de saber, com direitos e deveres.
Uma profissão séria e que deve ser encarada com seridade, para isso faz-se necessá-
rio, além de conhecer o Código de Ética, o profissional vivenciá-lo durante o exercí-
cio profissional, não deve ser apenas mais um caderninho para colocar na prateleria
ou na gaveta.
Ao estudarmos as cinco unidades, fica claro que hoje nossa profissão está consolida-
da e é reconhecida. Porém, quando iniciamos o curso, nossa compreensão sobre o
que é e o que faz o assistente social pode ser um “pouco diferente” do que realmente
é (e isso geralmente ocorre), porém, com o passar do tempo, vamos descobrindo
que é preciso muito mais que boa vontade ou desejo de ajudar. É necessário estudo,
análise e entendimento acerca do homem, suas relações e a sociedade em que vive.
Essa construção é maravilhosa, mas nem sempre fácil e, com certeza, é o que garan-
te a formação de ótimos profissionais que fazem e farão a diferença na sociedade.
Sucesso sempre. Até a próxima.

Profª Daniela Sikorski e Profª Rafaela Cristina Bernardo


207
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TERRA, S.  Ética e Instrumentos Processuais. Módulo II -  Curso de Capacitação
Ética para Agentes Multiplicadores. Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). 2.
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TERTULIAN, N. O grande projeto da ética. Ensaios Ad Hominen. São Paulo: Edições
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VALLS, A. L. M. O que é Ética. São Paulo: Brasiliense. Coleção Primeiros Passos, 2008.
VASQUEZ, A. S. Ética. 20 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
VINAGRE, M. Ética, Direitos Humanos e Projeto Profissional Emancipatório. In: FORTI,
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213
GABARITO

UNIDADE I
1. Resposta Correta: letra C. Justificativa: As normas variam a cada momento histó-
rico a depender de cada cultura.
2. Resposta Correta: letra E. Comentário: Moral e Ética não possuem o mesmo sen-
tido, ética é ser bom e justo, moral é como ser bom em determinada cultura.
- A “Ética” é permanente e universal.
- A “Moral” quer dizer conduta de regra e pode variar na sociedade.
3. Resposta:
GABARITO

4. Orientação de Resposta: O homem é o único animal que cria meios e instrumen-


tos para a concretização do seu objeto concreto. O trabalho visa atender as ne-
cessidades do homem e, nesse processo, ao sanar tais necessidades, vai dando
origem a outras. Sendo assim, dizemos que o trabalho constitui o ser social, pois
esse dispõe de capacidade teleológica, projetiva, consciente. O trabalho não
se dá sozinho, nem por meio de uma única pessoa, logo para que assuma seu
caráter social depende da interação com outras pessoas, é necessário que haja
comunicação, cooperação e reciprocidade. O trabalho permite que os homens
se reconheçam entre si como seres da mesma espécie que possuem os mesmos
anseios e necessidades básicas.

UNIDADE II
1. Resposta correta: Letra C. Comentário: De acordo com o texto da unidade II, só
haverá ética profissional efetiva se, primeiramente, houver uma ética pessoal
efetiva, a segunda não existe efetivamente sem a primeira.
2. Resposta do caça palavras
Palavras distribuídas: Afetividade – Competência – Flexibilidade – Privacidade – En-
volvimento – Respeito – Aprimoramento – Confiança – Fidelidade - Tolerância
215
GABARITO

3. Reposta correta: letra D – todas as afirmativas são verdadeiras.


4. Orientação de Resposta: podemos partir do princípio de que nenhum de nós
somos como uma folha em branco quando chegamos à graduação, pois já pos-
suímos uma história de vida, dotada de experiências, “as visões de mundo incor-
poradas socialmente pela educação formal e informal, pelos meios de comuni-
cação, pelas religiões, pelo senso comum. É o conjunto de tais manifestações
culturais e conhecimentos que formam os hábitos e costumes que a educação
formal pode consolidar ou não”. (BARROCO, 2009, p.177), que influenciarão tam-
bém no aprendizado e exercício da profissão futuramente.
5. As informações necessárias para a conclusão da atividade pode ser encontrada
entre as páginas xx e do livro xxxx. aguardar diagramação do material.

CÓDIGO DE ÉTICA
O que é o Código de Ética ? Os Códigos de Ética são reflexos da
própria profissão diante de determi-
nado contexto histórico, representam
o posicionamento ético/moral da
categoria nas objetivações do traba-
lho profissional, a mediação entre as
categorias históricas-sociais-políticas
da profissão, com isso, a própria práxis
presente na realidade do Serviço So-
cial. (NETO, 2013, p.87)
O que representa o Código de Ética? Os Códigos de Ética representam a con-
figuração das normas, moral e valores
da profissão, princípios éticos, diante
de determinado contexto histórico-so-
cial, político e econômico; expressam
a visão de homem e de mundo, e
assim, a direção social da profissão e
de seus trabalhadores. Formados por
elementos que variam entre princípios,
deveres e direito, tais diretrizes éticas
se apresentam de forma transversal no
processo de trabalho, na relação com
a população usuária, as instituições e
entre a própria categoria profissional.
(CARVALHO NETO, 2013, p.87)
GABARITO

Qual a função do Código de Ética? A função principal de um Código de


Ética é começar pela definição dos
princípios que o fundamentam e se
articula em torno de dois eixos de nor-
mas: direitos e deveres. Ao definir direi-
tos, o código de ética cumpre a função
de delimitar o perfil do seu grupo. Ao
definir deveres, abre o grupo à univer-
salidade. A definição de deveres deve
ser tal, que por seu cumprimento, cada
membro daquele grupo social realize o
ideal de ser humano. (OLIVEIRA, 2012,
p. 52-53)
Quais os limites do Código de Ética? Um Código de Ética não tem força
jurídica de lei universal, porém deveria
ter força simbólica para tal. Embora um
Código de Ética possa prever sanções
para os descumprimentos de seus
dispositivos, essas dependerão sempre
da existência de uma legislação, que
lhe é juridicamente superior, e por ela
limitado. Por essa limitação, o Código
de Ética é um instrumento frágil de
regulação dos comportamentos de
seus membros.
Essa regulação só será ética quando o
Código de Ética for uma convicção que
venha do íntimo das pessoas. Isso au-
menta a responsabilidade do processo
de elaboração do Código de Ética, para
que ele tenha a força da legitimidade.
Quanto mais democrático e participa-
tivo esse processo, maiores as chances
de identificação dos membros do
grupo com seu Código de Ética e, em
consequência, maiores as chances de
sua eficácia. Fonte: Oliveira (2012, p.
53-54).
217
GABARITO

Quando se começa a seguir o Código Já no processo do curso porque vou es-


de Ética? tudando, conhecendo e tendo contato
com a história da profissão. E também
no estágio que é muito oportuno, pois
é vivência, experiência e momento
de problematizações, que permitem
conhecer o cotidiano profissional de
maneira supervisionada e orientada.

6. Respostas:
Código de Ética de 1947: Beneficiário
Código de Ética de 1965: Cliente
Código de Ética de 1975: Cliente
Código de Ética de 1986: Usuário
Código de Ética de 1993: Usuário
7. Respostas:

01 02 03 04 05 06 07 08 09

1947 e
1986 1947 1993 1962 1975 1986 1965 1975
1965
GABARITO

UNIDADE III
1. Os onze princípios são, de maneira metafórica, a médula cervical que sustenta
a estrutura jurídica legal do Código de Ética Profissional, sem eles, o Código de
Ética seria apenas um código de conduta direcionado para a ação técnica des-
conectada do movimento da realidade, o que eliminaria a dimensão política e
transformadora das ações profissionais do assistente social.
2. A liberdade deve ser tomada como valor ético central na medida que preconiza
a defesa da liberdade coletiva dos sujeitos, para isso, é preciso que autonomia,
emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais também sejam atendidas.
Não é possível garantir liberdade sem contemplar a autonomia, que, por sua vez,
leva à emancipação e ao pleno desenvolvimento dos sujeitos na sua complexi-
dade.
3. Para eliminar todas as formas de preconceito, é de suma importância que o as-
sistente social reflita se os valores que ele tem praticado são pautados em con-
cepções abstratas e imediatas do senso comum, ou são feitos a partir de uma
reflexão ética, crítica e que responda efetivamente a questões sociais e coletivas
na garantia do respeito e do direito de todos.

UNIDADE IV
1. É um dever.
2. As penalidades aplicáveis são as seguintes:
a. Multa.
b. Advertência reservada.
c. Advertência pública.
d. Suspensão do exercício profissional.
e. Cassação do registro profissional.

Reposta correta: letra C.


219
GABARITO

 UNIDADE V
1.

2. Orientação de Resposta:
Essas percepções podem acontecer por conta de muitos profissionais acharem que
a teoria é aplicada na prática, quando, na verdade, essa a fundamenta. É no coti-
diano que temos a oportunidade de experenciar as teorias. O cotidiano é o espaço
onde a prática profissional acontece.
O profissional que não estabelece um processo reflexivo sobre a sua prática, acaba
por ser engolido pela rotina e pelo imediatismo. A reflexão nos permite fazer e en-
tender o sentido do nosso exercício profissional, a falta da reflexão, estudo, discus-
são, criticidade coloca a profissão apenas no patamar técnico.
3. Reposta correta: letra a.
4. Reposta correta: letra D.
ANEXO

CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES


SOCIAIS
Aprovado em 15 de março de 1993
com as alterações introduzidas
pelas resoluções CFESS n.º 290/94 e 293/94
Resolução CFESS N.º 273/93 de 13 março 93
Institui o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais e dá outras providên-
cias.
A Presidente do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), no uso de suas atribui-
ções legais e regimentais, e de acordo com a deliberação do Conselho Pleno, em
reunião ordinária, realizada em Brasília, em 13 de março de 1993.
Considerando a avaliação da categoria e das entidades do Serviço Social de que o
Código homologado em 1986 apresenta insuficiências;
Considerando as exigências de normatização específicas de um Código de Ética
Profissional e sua real operacionalização;
Considerando o compromisso da gestão 90/93 do CFESS quanto à necessidade de
revisão do Código de Ética;
Considerando a posição amplamente assumida pela categoria de que as conquistas
políticas expressas no Código de 1986 devem ser preservadas;
Considerando os avanços nos últimos anos ocorridos nos debates e produções so-
bre a questão ética, bem como o acúmulo de reflexões existentes sobre a matéria;
Considerando a necessidade de criação de novos valores éticos, fundamentados na
definição mais abrangente, de compromisso com os usuários, com base na liberda-
de, democracia, cidadania, justiça e igualdade social;
Considerando que o XXI Encontro Nacional CFESS/CRESS referendou a proposta de
reformulação apresentada pelo Conselho Federal de Serviço Social;
RESOLVE:
Art. 1º Instituir o Código de Ética Profissional do assistente social em anexo.
Art. 2º O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) deverá incluir nas Carteiras de
Identidade Profissional o inteiro teor do Código de Ética.
Art. 3º Determinar que o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Serviço So-
cial procedam imediata e ampla divulgação do Código de Ética.
221
ANEXO

Art. 4º A presente Resolução entrará em vigor na data de sua publicação no Diário


Oficial da União, revogadas as disposições em contrário, em especial, a Resolução
CFESS nº 195/86, de 09.05.86.
Brasília, 13 de março de 1993.
Marlise Vinagre Silva
A.S. CRESS Nº 3578 7ª Região/RJ
Presidente do CFESS
INTRODUÇÃO
A história recente da sociedade brasileira, polarizada pela luta dos setores demo-
cráticos contra a ditadura e, em seguida, pela consolidação das liberdades políticas,
propiciou uma rica experiência para todos os sujeitos sociais. Valores e práticas até
então secundarizados (a defesa dos direitos civis, o reconhecimento positivo das
peculiaridades individuais e sociais, o respeito à diversidade etc.) adquiriram novos
estatutos, adensando o elenco de reivindicações da cidadania. Particularmente para
as categorias profissionais, esta experiência ressituou as questões do seu compro-
misso ético-político e da avaliação da qualidade dos seus serviços.
Nestas décadas, o Serviço Social experimentou no Brasil um profundo processo de
renovação. Na intercorrência de mudanças ocorridas na sociedade brasileira com o
próprio acúmulo profissional, o Serviço Social se desenvolveu teórica e praticamen-
te, laicizou-se, diferenciou-se e, na entrada dos anos noventa, apresenta-se como
profissão reconhecida academicamente e legitimada socialmente.
A dinâmica deste processo - que conduziu à consolidação profissional do Serviço
Social - materializou-se em conquistas teóricas e ganhos práticos que se revelaram
diversamente no universo profissional. No plano da reflexão e da normatização éti-
ca, o Código de Ética Profissional de 1986 foi uma expressão daquelas conquistas
e ganhos, por meio de dois procedimentos: negação da base filosófica tradicional,
nitidamente conservadora, que norteava a “ética da neutralidade”, e afirmação de
um novo perfil do técnico, não mais um agente subalterno e apenas executivo, mas
um profissional competente teórica, técnica e políticamente.
De fato, construía-se um Projeto Profissional que, vinculado a um projeto social
radicalmente democrático, redimensionava a inserção do Serviço Social na vida
brasileira, compromissando-o com os interesses históricos da massa da popula-
ção trabalhadora. O amadurecimento deste projeto profissional, mais as alterações
ocorrentes na sociedade brasileira (com destaque para a ordenação jurídica consa-
grada na Constituição de 1988), passou a exigir uma melhor explicitação do sentido
imanente do Código de 1986. Tratava-se de objetivar com mais rigor as implicações
dos princípios conquistados e plasmados naquele documento, tanto para fundar
mais adequadamente os seus parâmetros éticos quanto para permitir uma melhor
instrumentalização deles na prática cotidiana do exercício profissional.
ANEXO

A necessidade da revisão do Código de 1986 vinha sendo sentida nos organismos


profissionais desde fins dos anos oitenta. Foi agendada na plataforma programática
da gestão 1990/1993 do CFESS. Entrou na ordem do dia com o I Seminário Nacional
de Ética (agosto de 1991) perpassou o VII CBAS (maio de 1992) e culminou no II
Seminário Nacional de Ética (novembro de 1992), envolvendo, além do conjunto
CFESS/CRESS, a ABESS, a ANAS e a SESSUNE. O grau de ativa participação de assis-
tentes sociais de todo o País assegura que este novo Código, produzido no marco
do mais abrangente debate da categoria, expressa as aspirações coletivas dos pro-
fissionais brasileiros.
A revisão do texto de 1986 processou-se em dois níveis. Reafirmando os seus va-
lores fundantes - a liberdade e a justiça social -, articulou-os a partir da exigência
democrática: a democracia é tomada como valor ético-político central, na medida
em que é o único padrão de organização político-social capaz de assegurar a ex-
plicitação dos valores essenciais da liberdade e da eqüidade. É ela, ademais, que
favorece a ultrapassagem das limitações reais que a ordem burguesa impõe ao de-
senvolvimento pleno da cidadania, dos direitos e garantias individuais e sociais e
das tendências à autonomia e à autogestão social. Em segundo lugar, cuidou-se de
precisar a normatização do exercício profissional de modo a permitir que aqueles
valores sejam retraduzidos no relacionamento entre assistentes sociais, instituições/
organizações e população, preservando-se os direitos e deveres profissionais, a qua-
lidade dos serviços e a responsabilidade diante do usuário.
A revisão a que se procedeu, compatível com o espírito do texto de 1986, partiu da
compreensão de que a ética deve ter como suporte uma ontologia do ser social: os
valores são determinações da prática social, resultantes da atividade criadora tipificada
no processo de trabalho. É mediante o processo de trabalho que o ser social se constitui,
instaura-se como distinto do ser natural, dispondo de capacidade teleológica, projetiva,
consciente; é por esta socialização que ele se põe como ser capaz de liberdade.
Esta concepção já contém, em si mesma, uma projeção de sociedade - aquela em
que se propicie aos trabalhadores um pleno desenvolvimento para a invenção e
vivência de novos valores, o que, evidentemente, supõe a erradicação de todos os
processos de exploração, opressão e alienação. É ao projeto social aí implicado que
se conecta o Projeto Profissional do Serviço Social - e cabe pensar a ética como pres-
suposto teórico-político que remete para o enfrentamento das contradições postas
à Profissão, a partir de uma visão crítica, e fundamentada teoricamente, das deriva-
ções ético-políticas do agir profissional.
223
ANEXO

Princípios Fundamentais
■■ Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas
políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos
indivíduos sociais;
■■ Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do
autoritarismo;
■■ Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de
toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das
classes trabalhadoras;
■■ Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da parti-
cipação política e da riqueza socialmente produzida;
■■ Posicionamento em favor da eqüidade e justiça social, que assegure univer-
salidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas
sociais, bem como sua gestão democrática;
■■ Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o
respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados
e à discussão das diferenças;
■■ Garantia do pluralismo, por meio do respeito às correntes profissionais demo-
cráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante
aprimoramento intelectual;
■■ Opção por um Projeto Profissional vinculado ao processo de construção de uma
nova ordem societária, sem dominação exploração de classe, etnia e gênero;
■■ Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que parti-
lhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores;
■■ Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com
o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;
■■ Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por ques-
tões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção
sexual, idade e condição física.

TÍTULO I
Disposições gerais
Art.1º Compete ao Conselho Federal de Serviço Social:
a. Zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, fiscalizando
as ações dos Conselhos Regionais e a prática exercida pelos profissionais, ins-
tituições e organizações na área do Serviço Social;
ANEXO

b. Introduzir alteração neste Código, por meio de uma ampla participação da cate-
goria, num processo desenvolvido em ação conjunta com os Conselhos Regionais;
c. Como Tribunal Superior de Ética Profissional, firmar jurisprudência na obser-
vância deste Código e nos casos omissos.

§ único - Compete aos Conselhos Regionais, nas áreas de suas respectivas jurisdi-
ções, zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, e funcionar
como órgão julgador de primeira instância.
TÍTULO II
Dos direitos e das responsabilidades gerais do Assistente Social
Art. 2º Constituem direitos do assistente social:
a. Garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de
Regulamentação da Profissão e dos princípios firmados neste Código;
b. Livre exercício das atividades inerentes à Profissão;
c. Participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na formu-
lação e implementação de programas sociais;
d. Inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação,
garantindo o sigilo profissional;
e. Desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;
f. Aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos
princípios deste Código;
g. Pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando se tra-
tar de assuntos de interesse da população;
h. Ampla autonomia no exercício da Profissão, não sendo obrigado a prestar ser-
viços profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou funções;
i. Liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direi-
tos de participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos.

Art. 3º São deveres do assistente social:


a. Desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabili-
dade, observando a legislação em vigor;
b. Utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da Profissão;
c. Abster-se, no exercício da Profissão, de práticas que caracterizem a censura,
o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denun-
ciando sua ocorrência aos órgãos competentes;
225
ANEXO

d. Participar de programas de socorro à população em situação de calamidade


pública, no atendimento e defesa de seus interesses e necessidades.

Art. 4º É vedado ao assistente social:


a. Transgredir qualquer preceito deste Código, bem como da Lei de
Regulamentação da Profissão;
b. Praticar e ser conivente com condutas antiéticas, crimes ou contravenções
penais na prestação de serviços profissionais, com base nos princípios deste
Código, mesmo que estes sejam praticados por outros profissionais;
c. Acatar determinação institucional que fira os princípios e diretrizes deste
Código;
d. Compactuar com o exercício ilegal da Profissão, inclusive nos casos de estagi-
ários que exerçam atribuições específicas, em substituição aos profissionais;
e. Permitir ou exercer a supervisão de aluno de Serviço Social em Instituições
Públicas ou Privadas que não tenham em seu quadro assistente social que
realize acompanhamento direto ao aluno estagiário;
f. Assumir responsabilidade por atividade para as quais não esteja capacitado
pessoal e tecnicamente;
g. Substituir profissional que tenha sido exonerado por defender os princípios
da ética profissional, enquanto perdurar o motivo da exoneração, demissão
ou transferência;
h. Pleitear para si ou para outrem emprego, cargo ou função que estejam sendo
exercidos por colega;
i. Adulterar resultados e fazer declarações falaciosas sobre situações ou estu-
dos de que tome conhecimento;
j. Assinar ou publicar em seu nome ou de outrem trabalhos de terceiros, mesmo
que executados sob sua orientação.

TÍTULO III
Das relações profissionais
CAPÍTULO I
Das Relações com os Usuários
Art. 5º São deveres do assistente social nas suas relações com os usuários:
a. Contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuária
nas decisões institucionais;
ANEXO

b. Garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e conseqüên-


cias das situações apresentadas, respeitando democraticamente as decisões
dos usuários, mesmo que sejam contrárias aos valores e às crenças individu-
ais dos profissionais, resguardados os princípios deste Código;
c. Democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço
institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos
usuários;
d. Devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos usuários, no
sentido de que estes possam usá-los para o fortalecimento dos seus interesses;
e. Informar à população usuária sobre a utilização de materiais de registro audio-vi-
sual e pesquisas a elas referentes e a forma de sistematização dos dados obtidos;
f. Fornecer à população usuária, quando solicitado, informações concernentes
ao trabalho desenvolvido pelo Serviço Social e as suas conclusões, resguar-
dado o sigilo profissional;
g. Contribuir para a criação de mecanismos que venham desburocratizar a rela-
ção com os usuários, no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados;
h. Esclarecer aos usuários, ao iniciar o trabalho, sobre os objetivos e a amplitude
de sua atuação profissional.

Art. 6º É vedado ao assistente social:


a. Exercer sua autoridade de maneira a limitar ou cercear o direito do usuário
de participar e decidir livremente sobre seus interesses;
b. Aproveitar-se de situações decorrentes da relação assistente social - usuário,
para obter vantagens pessoais ou para terceiros;
c. Bloquear o acesso dos usuários aos serviços oferecidos pelas instituições, por
meio de atitudes que venham coagir e/ou desrespeitar aqueles que buscam
o atendimento de seus direitos.

CAPÍTULO II
Das Relações com as Instituições Empregadoras e outras
Art. 7º Constituem direitos do assistente social:
a. Dispor de condições de trabalho condignas, seja em entidade pública ou pri-
vada, de forma a garantir a qualidade do exercício profissional;
b. Ter livre acesso à população usuária;
c. Ter acesso a informações institucionais que se relacionem aos programas e polí-
ticas sociais e sejam necessárias ao pleno exercício das atribuições profissionais;
227
ANEXO

d. Integrar comissões interdisciplinares de ética nos locais de trabalho do pro-


fissional, tanto no que se refere à avaliação da conduta profissional, como em
relação às decisões quanto às políticas institucionais.

Art. 8º São deveres do assistente social:


a. Programar, administrar, executar e repassar os serviços sociais assegurados
institucionalmente;
b. Denunciar falhas nos regulamentos, normas e programas da instituição em que
trabalha, quando os mesmos estiverem ferindo os princípios e diretrizes deste
Código, mobilizando, inclusive, o Conselho Regional, caso se faça necessário;
c. Contribuir para a alteração da correlação de forças institucionais, apoiando
as legítimas demandas de interesse da população usuária;
d. Empenhar-se na viabilização dos direitos sociais dos usuários, por meio dos
programas e políticas sociais;
e. Empregar com transparência as verbas sob a sua responsabilidade, de acordo
com os interesses e necessidades coletivas dos usuários.

Art. 9º É vedado ao assistente social:


a. Emprestar seu nome e registro profissional a firmas, organizações ou empre-
sas para simulação do exercício efetivo do Serviço Social;
b. Usar ou permitir o tráfico de influência para obtenção de emprego, desres-
peitando concurso ou processos seletivos;
c. Utilizar recursos institucionais (pessoal e/ou financeiro) para fins partidários,
eleitorais e clientelistas.

CAPÍTULO III
Das Relações com Assistentes Sociais e outros Profissionais
Art. 10º São deveres do assistente social:
a. Ser solidário com outros profissionais, sem, todavia, eximir-se de denunciar
atos que contrariem os postulados éticos contidos neste Código;
b. Repassar ao seu substituto as informações necessárias à continuidade do
trabalho;
c. Mobilizar sua autoridade funcional, ao ocupar uma chefia, para a liberação
de carga horária de subordinado, para fim de estudos e pesquisas que visem
o aprimoramento profissional, bem como de representação ou delegação
de entidade de organização da categoria e outras, dando igual oportuni-
dade a todos;
ANEXO

d. Incentivar, sempre que possível, a prática profissional interdisciplinar;


e. Respeitar as normas e princípios éticos das outras profissões;
f. Ao realizar crítica pública a colega e outros profissionais, fazê-lo sempre de maneira
objetiva, construtiva e comprovável, assumindo sua inteira responsabilidade.

Art. 11º É vedado ao assistente social:


a. Intervir na prestação de serviços que estejam sendo efetuados por outro pro-
fissional, salvo a pedido desse profissional; em caso de urgência, seguido da
imediata comunicação ao profissional; ou quando se tratar de trabalho mul-
tiprofissional e a intervenção fizer parte da metodologia adotada;
b. Prevalecer-se de cargo de chefia para atos discriminatórios e de abuso de
autoridade;
c. Ser conivente com falhas éticas de acordo com os princípios deste Código e com
erros técnicos praticados por assistente social e qualquer outro profissional;
d. Prejudicar deliberadamente o trabalho e a reputação de outro profissional.

CAPÍTULO IV
Das Relações com Entidades da Categoria e demais Organizações da
Sociedade Civil
Art.12º Constituem direitos do assistente social:
a. Participar em sociedades científicas e em entidades representativas e de orga-
nização da categoria que tenham por finalidade, respectivamente, a produção
de conhecimento, a defesa e a fiscalização do exercício profissional;
b. Apoiar e/ou participar dos movimentos sociais e organizações populares vin-
culados à luta pela consolidação e ampliação da democracia e dos direitos
de cidadania.

Art. 13º São deveres do assistente social:


a. Denunciar ao Conselho Regional as instituições públicas ou privadas, onde
as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar os usuá-
rios ou profissionais.
b. Denunciar, no exercício da Profissão, às entidades de organização da catego-
ria, às autoridades e aos órgãos competentes, casos de violação da Lei e dos
Direitos Humanos, quanto a: corrupção, maus tratos, torturas, ausência de
condições mínimas de sobrevivência, discriminação, preconceito, abuso de
autoridade individual e institucional, qualquer forma de agressão ou falta de
respeito à integridade física, social e mental do cidadão;
229
ANEXO

c. Respeitar a autonomia dos movimentos populares e das organizações das


classes trabalhadoras.

Art. 14º É vedado ao assistente social valer-se de posição ocupada na direção de entida-
de da categoria para obter vantagens pessoais, diretamente ou por meio de terceiros.
CAPÍTULO V
Do Sigilo Profissional
Art. 15º Constitui direito do assistente social manter o sigilo profissional.
Art. 16º O sigilo protegerá o usuário em tudo aquilo de que o assistente social tome
conhecimento, como decorrência do exercício da atividade profissional.
§ único - Em trabalho multidisciplinar só poderão ser prestadas informações dentro
dos limites do estritamente necessário.
Art. 17º É vedado ao assistente social revelar sigilo profissional.
Art. 18º A quebra do sigilo só é admissível quando se tratarem de situações cuja
gravidade possa, envolvendo ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos interesses
do usuário, de terceiros e da coletividade.
§ único - A revelação será feita dentro do estritamente necessário, quer em relação
ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele devam tomar co-
nhecimento.
CAPÍTULO VI
Das Relações do Assistente Social com a Justiça
Art. 19º São deveres do assistente social:
a. Apresentar à justiça, quando convocado na qualidade de perito ou testemu-
nha, as conclusões do seu laudo ou depoimento, sem extrapolar o âmbito da
competência profissional e violar os princípios éticos contidos neste Código.
b. Comparecer perante a autoridade competente, quando intimado a prestar
depoimento, para declarar que está obrigado a guardar sigilo profissional nos
termos deste Código e da Legislação em vigor.

Art. 20º É vedado ao assistente social:


a. Depor como testemunha sobre situação sigilosa do usuário de que tenha
conhecimento no exercício profissional, mesmo quando autorizado;
b. Aceitar nomeação como perito e/ou atuar em perícia quando a situação não
se caracterizar como área de sua competência ou de sua atribuição profissio-
nal, ou quando infringir os dispositivos legais relacionados a impedimentos
ou suspeição.
ANEXO

TÍTULO IV
Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento Deste Código
Art. 21º São deveres do assistente social:
a. Cumprir e fazer cumprir este Código;
b. Denunciar ao Conselho Regional de Serviço Social, por meio de comunicação
c. Fundamentada, qualquer forma de exercício irregular da Profissão, infrações
a princípios e diretrizes deste Código e da legislação profissional;
d. Informar, esclarecer e orientar os estudantes, na docência ou supervisão,
quanto aos princípios e normas contidas neste Código.

Art. 22º Constituem infrações disciplinares:


a. Exercer a Profissão quando impedido de fazê-lo, ou facilitar, por qualquer
meio, o seu exercício aos não inscritos ou impedidos;
b. Não cumprir, no prazo estabelecido, determinação emanada do órgão ou auto-
ridade dos Conselhos, em matéria destes, depois de regularmente notificado;
c. Deixar de pagar, regularmente, as anuidades e contribuições devidas ao
Conselho Regional de Serviço Social a que esteja obrigado;
d. Participar de instituição que, tendo por objeto o Serviço Social, não esteja ins-
crita no Conselho Regional;
e. Fazer ou apresentar declaração, documento falso ou adulterado, perante o
Conselho Regional ou Federal.

Das Penalidades
Art. 23º As infrações a este Código acarretarão penalidades, desde a multa à cas-
sação do exercício profissional, na forma dos dispositivos legais e/ ou regimentais.
Art. 24º As penalidades aplicáveis são as seguintes:
a. Multa;
b. Advertência reservada;
c. Advertência pública;
d. Suspensão do exercício profissional;
e. Cassação do registro profissional.

§ único - Serão eliminados dos quadros dos CRESS aqueles que fizerem falsa prova
dos requisitos exigidos nos Conselhos.
231
ANEXO

Art. 25º A pena de suspensão acarreta ao assistente social a interdição do exercício


profissional em todo o território nacional, pelo prazo de 30 (trinta) dias a 2 (dois)
anos.
§ único - A suspensão por falta de pagamento de anuidades e taxas só cessará com
a satisfação do débito, podendo ser cassada a inscrição profissional após decorridos
três anos da suspensão.
Art. 26º Serão considerados na aplicação das penas os antecedentes profissionais
do infrator e as circunstâncias em que ocorreu a infração.
Art. 27º Salvo nos casos de gravidade manifesta, que exigem aplicação de penalida-
des mais rigorosas, a imposição das penas obedecerá à gradação estabelecida pelo
artigo 24.
Art. 28º Para efeito da fixação da pena serão considerados especialmente graves as
violações que digam respeito às seguintes disposições:
Art. 3º - alínea c
Art. 4º - alínea a, b, c, g, i, j
Art. 5º - alínea b, f
Art. 6º - alínea a, b, c
Art. 8º - alínea b, e
Art. 9º - alínea a, b, c
Art.11º - alínea b, c, d
Art. 13º - alínea b
Art. 14º
Art. 16º
Art. 17º
§ único do art. 18º
Art. 19º - alínea b
Art. 20º - alínea a, b
§ único - As demais violações não previstas no “caput”, uma vez consideradas graves,
autorizarão aplicação de penalidades mais severas, em conformidade com o art. 26.
Art. 29º A advertência reservada, ressalvada a hipótese prevista no art. 32 será con-
fidencial, sendo que a advertência pública, suspensão e a cassação do exercício
profissional serão efetivadas por meio de públicação em Diário Oficial e em outro
órgão da imprensa, e afixado na sede do Conselho Regional onde estiver inserido o
denunciado e na Delegacia Seccional do CRESS da jurisdição de seu domicílio.
ANEXO

Art. 30º Cumpre ao Conselho Regional a execução das decisões proferidas nos pro-
cessos disciplinares.
Art. 31º Da imposição de qualquer penalidade caberá recurso com efeito suspensi-
vo ao CFESS.
Art. 32º A punibilidade do assistente social, por falta sujeita a processo ético e dis-
ciplinar, prescreve em 05 (cinco) anos, contados da data da verificação do fato res-
pectivo.
Art. 33º Na execução da pena de advertência reservada, não sendo encontrado o
penalizado ou se este, após duas convocações, não comparecer no prazo fixado
para receber a penalidade, será ela tornada pública.
§ Primeiro - A pena de multa, ainda que o penalizado compareça para tomar conhe-
cimento da decisão, será publicada nos termos do Art. 29 deste Código, se não for
devidamente quitada no prazo de 30 (trinta) dias, sem prejuízo da cobrança judicial.
§ Segundo - Em caso de cassação do exercício profissional, além
dos editais e das comunicações feitas às autoridades competentes interessadas no
assunto, proceder-se-á a apreensão da Carteira e Cédula de Identidade Profissional
do infrator .
Art. 34º A pena de multa variará entre o mínimo correspondente ao valor de uma
anuidade e o máximo do seu décuplo.
Art. 35º As dúvidas na observância deste Código e os casos omissos serão resolvidos
pelos Conselhos Regionais de Serviço Social “ad referendum” do Conselho Federal
de Serviço Social, a quem cabe firmar jurisprudência.
Art. 36º O presente Código entrará em vigor na data de sua publicação no Diário
Oficial da União, revogando-se as disposições em contrário.
Brasília, 13 de março de 1993.
Marlise Vinagre Silva - Presidente do CFESS
Publicado no Diário Oficial da União N 60, de 30.03.93, Seção I, páginas 4004 a 4007
e alterado pela Resolução CFESS n.º 290, publicada no Diário Oficial da União de
11.02.94.

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