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Ética Profissional
Ética Profissional
PROFISSIONAL
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
ÉTICA PROFISSIONAL
SEJA BEM-VINDO(A)!
Olá, seja bem-vindo(a) à disciplina de Ética Profissional, com ela, iniciamos uma etapa
muito importante em seu processo de formação.
Será um momento significativo, faremos um passeio pelos Códigos de Ética da Profissão,
entender seu contexto histórico e, por fim, compreender o cotidiano como espaço do
fazer profissional e temos certeza que você gostará e com certeza ampliará seu conhe-
cimento.
Este material foi elaborado com muito carinho para que você possa desfrutar de infor-
mações de qualidade, de forma a tornar muito mais agradável esta etapa. O material di-
dático é apenas uma das ferramentas do conhecimento, sendo assim tenha-o em mãos,
mas não se esqueça de recorrer às demais ferramentas: vídeoaulas, aulas conceituais,
estudo de caso, fórum, além de aproveitar o espaço do seu polo para reunir seus colegas
de turma e realizar discussões, trocar experiências e crescer juntos.
Estamos distantes fisicamente, contudo nossa equipe de mediação e formação está à
disposição para contribuir para a sua formação, vamos usar a tecnologia a nosso favor,
construindo também esta nova fase da profissão, que hoje está inserida e consolidada
por meio da Educação a Distância.
Bom, vamos verificar o que será tratado em cada unidade deste material?
Na unidade I, trataremos do universo dos conceitos, que embasará as demais unidades,
veremos o que é a ontologia do ser social, moral e ética.
Na unidade II, vamos nos encontrar com a ética profissional e os Códigos de Ética do
Assistente Social de 1947, 1965, 1975 e 1986, último e atual Código de Ética será traba-
lhado com mais profundidade nas unidades II e III. Vale ressaltar que, ao final de cada
item que tratará dos Códigos de Ética, você poderá conhecê-lo na íntegra, ler e se interar
de todo o seu texto, tornando você mais íntimo da história da ética em nossa profissão.
Isso não é bom? Ter todo esse material à mão?
Na unidade III, vamos conhecer os onze princípios fundamentais que norteiam o Código
de Ética Profissional de 1993 e discutir sobre os valores éticos/políticos que compõem
os princípios.
Na unidade IV, compreenderemos o Código de Ética Profissional de 1993. Esse código
envolve o conjunto de dispositivos legais que compõem o Projeto Ético-Político Profis-
sional do Serviço Social.
Na unidade V, faremos a contextualização do universo do exercício profissional, trazen-
do uma gostosa reflexão acerca do cotidiano, do trabalho como eixo fundante do ser
social, você verá que todas as unidades se relacionam e se completam, fazendo com que
você tenha uma compreensão linear da evolução da profissão.
Desejamos a você uma ótima leitura, ótimos estudos e sucesso sempre!
UNIDADE I
FUNDAMENTOS DA ÉTICA
15 Introdução
23 O Que é Moral?
28 O Que é Ética?
34 Considerações Finais
UNIDADE II
45 Introdução
46 Ética Profissional
94 Considerações Finais
SUMÁRIO
UNIDADE III
105 Introdução
UNIDADE IV
151 Introdução
UNIDADE V
181 Introdução
205 CONCLUSÃO
207 REFERÊNCIAS
213 ANEXO
220 GABARITO
Professora Esp. Daniela Sikorski
I
UNIDADE
FUNDAMENTOS DA ÉTICA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender o conceito de moral e ética.
■■ Compreender a importância dos princípios que norteiam a ética.
■■ Identificar os elementos conceituais e os fundamentos conceituais da
ética.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Ontologia do Ser Social: O trabalho como eixo fundante do ser social
■■ O que é Moral?
■■ O que é Ética?
15
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a)!
Que bom que você chegou até aqui. É muito bom tê-lo aqui conosco, faremos
uma parceria em que, com certeza nascerão muitos frutos bons. Em uma atitude
filosófica, percebemos que hoje estamos um tanto diferentes do que quando ini-
ciamos o curso. Tenho certeza de que ampliou seu senso crítico e desenvolveu
um pensar mais autônomo, dando espaço para indagações e, por consequên-
cia, problematizações acerca da realidade que está levando você a processos de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Esse processo se torna constante na medida em que suas necessidades se
modificam no decorrer da história, do contexto social, logo, a sua criação tam-
bém se transforma e é recriada.
Como práxis, o trabalho é a base ontológica primária da vida social;
mediação que efetiva objetiva e subjetivamente o intercâmbio entre os
homens e a natureza, pondo em movimento um processo incessante de
(re) criação de novas necessidades; ampliando os sentidos humanos,
instaurando atributos e potencialidades especificamente humanas. Ao
criar novas alternativas para o seu desenvolvimento, o ser social se afas-
ta de suas “barreiras naturais”, amplia sua natureza social e consciente,
estabelece a possibilidade de uma existência social aberta para o novo,
para o diverso, para o amanhã, instaurando objetivações que permitem
autoconstrução do ser social como um ser livre e universal (BARRO-
CO, 2009, p. 166).
FUNDAMENTOS DA ÉTICA
17
1
Teleologia = Finalidade.
Como ponto de partida para essa reflexão, vamos no valer de Engels (1985,
p. 71) que parte do pressuposto de que o trabalho “é a primeira condição funda-
mental de toda a vida humana e com efeito, num grau tal que, em certo sentido,
temos que dizer: ele criou o próprio homem”, pois é o trabalho que possibilita ao ser
humano transformar a natureza ao realizar suas atividades pensadas, pré-idealiza-
das (teleologia), criando os seus instrumentos de trabalho e meios de sobrevivência.
Assim, o homem se diferencia dos demais animais pelo trabalho e esse já é
idealizado na consciência para depois, concretamente, realizar o que foi pensado.
Pode-se dizer que o trabalho do ser social é proposital, já ideado, enquanto que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dos demais animais são ações instintivas. Para Sales (1999, p. 79), o Ser Social é a:
Categoria teórico-marxista que busca identificar a sociabilidade como
uma característica humana, forjada na relação do homem com a na-
tureza a partir do trabalho. Integra substancialmente as dimensões da
produção e reprodução da vida social.
FUNDAMENTOS DA ÉTICA
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
©shutterstock
De acordo com Marx (1985), o trabalho pode ser concebido como uma ativi-
dade orientada a um fim, ou o trabalho mesmo, relação de transformação entre
sujeito/objeto/instrumentos, tendo em vista um produto final. O processo de tra-
balho implica em uma matéria-prima ou objeto sobre o qual incide a ação do
sujeito, ou seja, o próprio trabalho, que requer meios ou instrumentos para que
possam ser efetivados. A ação do homem sobre a matéria-prima resulta sem-
pre em um produto.
Na experiência concreta do trabalho o indivíduo vai obtendo informa-
ções e experenciando normas, regras, valores que definem o espaço de
sua atuação. Nesse espaço precisará negociar tanto seu lugar quanto
a aceitação de si e de sua competência. A necessidade de aceitação e
de firmação, a importância de evitar riscos de fracasso ou perda do
emprego, dentre outras urgências, leva a negociações e a encaminha-
mentos de sínteses que superem as contradições e dissonâncias: vida
profissional e pessoal não se dissociam entre si, nem do social e do
simbólico que lhe dão forma. A experiência concreta do trabalho é,
portanto, complexa, pois mobiliza a totalidade do indivíduo com sua
história, experiências e o que foi apropriado na formação, bem como, a
dinâmica do espaço no qual a experiência se efetiva e o movimento da
totalidade social lhes dá concretude (NICOLAU, 2004, p. 85).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Dessa maneira, diariamente, o ser social se constrói e se transforma por meio
do ato laborativo, que tanto pode emancipá-lo quanto “escravizá-lo”, dependendo
da forma de organização existente do modo de produção no qual está inserido.
Partindo desses pressupostos, torna-se possível compreender o modo de pro-
dução capitalista e a relação capital/trabalho no sistema vigente.
Com a classe burguesa no poder, emergiu o lema: Liberdade, Fraternidade e
Igualdade que estabelece o homem como indivíduo, singular e com necessidades
especificas. E “por burguesia compreende-se a classe dos capitalistas modernos,
proprietários dos meios de produção social, que empregam o trabalho assala-
riado” (MARX; ENGELS, 1998, p. 04)
No sistema capitalista, emerge como fundamento da sociedade burguesa o
direito a liberdade individual, sendo que a “a aplicação prática do direito humano
da liberdade é o direito humano à propriedade privada.” (MARX, 1991, p. 42).
É um direito limitado, já que a maioria da população não possui propriedade
privada, então, verifica-se que o direito só
privilegia àqueles que constituem a classe
dominante (burguesia).
E o direito de igualdade não distingue as
diferenças e contradições das classes da socie-
dade burguesa, “este direito igual é um direito
desigual para trabalho desigual. Não reco-
nhece nenhuma distinção de classe, porque
aqui cada indivíduo não é mais do que um
operário como os demais” (MARX, 1953, p.
©shutterstock
FUNDAMENTOS DA ÉTICA
21
com a balança” (MARX, 1983, p.17). Portanto, o trabalhador vende parte de sua
força de trabalho, apenas a quantidade que o capitalista quer comprar. Ou seja,
para que exista esse modo de produção capitalista, é essencial que haja novas
relações sociais e, diante disso, Batista (2002, p.136) afirma que:
[...] sob esta forma de se relacionar e da necessidade imediata o modo
de produção capitalista traz uma peculiaridade que o diferencia radi-
calmente dos modos de produção anteriores. É necessário que exista
um determinado número de pessoas ‘livres’ e despossuídas para ofere-
cerem seus trabalhos.
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produtividade e improdutividade. (p.19)
FUNDAMENTOS DA ÉTICA
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Sendo assim, o assistente social passou a entender que é também com o sistema
capitalista que há a ampliação da divisão técnica do trabalho e a introdução de
máquinas nos processos de produção, objetivando aumentar o acúmulo de capi-
tal, acarretando uma transformação significativa do trabalho tanto do processo
quanto dos instrumentos. Dividir o trabalho em funções pormenorizadas foi
um avanço para os capitalistas e um infortúnio para os operários. Essa relação
proporcionou ao capitalista maiores possibilidades de escolhas de qual força de
trabalho e especialidade comprar. E para o trabalhador ficou a desvantagem de
ser comprado como uma mercadoria, tendo que saber diversas especialidades
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O QUE É MORAL?
O Que é Moral?
24 UNIDADE I
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O grau de consciência define o desenvolvimento
da moral. Quando falamos em consciência, fala-
mos do homem que não mais se confunde com a
natureza, ele se distingue pela sua capacidade de
transformá-la para satisfazer suas necessidades e
isso se dá por meio do trabalho, como vimos no
tópico anterior.
A moral pode ser entendida como um con-
junto de normas, princípios e valores, segundo o
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qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre esses
e a comunidade. Essas normas, de caráter histórico e social, devem ser acatadas
livre e conscientemente por uma convicção íntima e não de maneira mecânica
e impessoal.
Também implica na valorização de ações e comportamentos que se transfor-
mam em deveres e acabam sendo incorporados ao modo de ser dos indivíduos,
gerando sentimentos, escolhas, desejos, atitudes, posicionamentos diante da rea-
lidade, juízos de valor, senso moral, ou seja, responsabilidade diante do outro
e de si mesmo.
Para Barroco (2009, p. 171),
A moral é histórica e mutável: são os homens que criam as normas e os
valores, mas a autonomia dos indivíduos em face das escolhas morais
é relativa às condições de cada contexto histórico. Mesmo nas socie-
dades onde ainda não existe o domínio de classe, a coesão em torno
de um único código de valor não significa a inexistência de tensões.
O ato moral supõe a adesão consciente e voluntária do indivíduo aos
valores éticos e às normas morais, ou seja, implica a convicção íntima
do sujeito em face dos valores e normas, pois se entende que só assim
as mesmas serão internalizadas como deveres.
Os princípios, as normas, as regras, as leis são tidos como parâmetros que balizam
o comportamento humano. Só emitimos julgamentos porque esses princípios,
normas e leis existem.
FUNDAMENTOS DA ÉTICA
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Segundo Aranha (2003, p. 303), “é a consciência que discerne o valor moral dos nos-
sos atos, o ato moral é portanto constituído de dois aspectos: o normativo e o fatual.”.
O Que é Moral?
26 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
acordo com a necessidade social para a regulação das relações humanas em socie-
dade. Oliveira (2012, p. 46) fala que “A moral tende a fazer com que os indivíduos
harmonizem voluntariamente, de maneira consciente e livre, seus interesses pes-
soais com os interesses coletivos”.
FUNDAMENTOS DA ÉTICA
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De acordo com o autor supracitado: o ato moral não pode ser reduzido a um de
seus elementos, mas está em todos eles, na sua unidade e nas suas mútuas relações.
Caro(a) aluno(a), para melhor compreensão sobre o que é moral, ler a lei-
tura complementar 1, que se encontra no final desta unidade.
O Que é Moral?
28 UNIDADE I
O QUE É ÉTICA?
Vamos dar continuidade ao nosso estudo falando agora sobre a ética, o que
é e como a vemos, e a importância dela para você, futuro(a) assistente social.
Iniciaremos com uma pequena história, que nos levará a uma reflexão muito
significativa e interessante, vamos lá?
O pesquisador queria saber onde estava a ética.
Foi ao céu.
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“Claro que ela está aqui”!
FUNDAMENTOS DA ÉTICA
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Por isso, é muito difícil falarmos em ética sem falarmos em liberade e os gran-
des questionamentos e indagações que ela nos provoca.
De acordo com Matos (2008, p. 03):
A Ética é a ciência da Verdade; não existe ética da mentira, nem a meia-
-ética. A Ética e a Verdade são a essência da consciência humana. Nin-
guém lhes pode ser indiferente. A omissão da consciência é tão dolo-
rosa que o homem, quando não consegue seguir seus ditames, inventa
simulacros2 de ética e de verdade. Cria caricaturas da ética, sacrificando
a verdade por meio de retóricas ideológicas. Prevalecem as exteriori-
zações. É a relativização da Ética, que corresponde à elasticidade da
consciência. A Ética e a Verdade, por habitarem a consciência, vêm de
dentro, têm a ver com o Ser.
É impossível falar em ética sem falar em liberdade. De acordo com o autor e filó-
sofo Cortella, a liberdade nos coloca frente a três questões éticas, que, segundo ele,
orientam toda nossa prática cotidiana (a prática implica em escolhas), são elas:
Simulacro: aquilo que a fantasia cria e que representa um objeto sem realidade; aparência sem
2
realidade. Imitação, fingimento.
O Que é Ética?
30 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 2 - Questões éticas que orientam nossas escolhas
Fonte: a autora.
Essas questões éticas se tornam dilemas quando problematizadas e podem ser assim
entendidas: Tem coisa que eu devo, mas não quero, tem coisa que eu quero, mas
não posso, tem coisa que eu posso, mas não devo (cf. CORTELLA, 2005). Os dile-
mas éticos nos acompanham diariamente e o que nos diferencia é a capacidade e
a liberdade de escolha e decisão para sermos éticos. Agora, se o fazemos ou não é
outra história.
FUNDAMENTOS DA ÉTICA
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O Que é Ética?
32 UNIDADE I
Sendo a ética uma dimensão da vida social, é constituída pela moral e pela capaci-
dade humana de ser livre. Quando indivíduos sociais organizados, coletivamente,
conseguem superar os entraves à autonomia, à decisão a respeito das normas,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
às escolhas, estamos diante de situações históricas nas quais a liberdade deixa
de ser um valor e uma possibilidade para se transformar em realidade concreta.
A ética é mais ampla e universal durando mais tempo, enquanto a mo-
ral é restrita e funciona em determinados campos da conduta humana
em determinados períodos. A moral nasce da ética e se a ética desce de
sua generalidade e de sua universalidade, fala-se da existência de uma
moral (OLIVEIRA, 2012, p.41).
O General Eurico Gaspar Dutra dizia que a democracia era uma plantinha
frágil, que precisava ser regada diariamente. Pois bem, fazendo uma adap-
tação, a ética também é. Ela é uma plantinha frágil que temos que regar
diariamente, para não deixá-la perder fertilidade. A palavra “ética”, no grego
arcaico, significa “a morada do humano”, o lugar onde nós vivemos juntos e
com os outros e outras partilhamos essa vida. Assim sendo, é preciso que
tenhamos modos, princípios, valores de conduta para que essa convivência
preserve sua integridade. Seja uma família, uma empresa, uma sociedade,
seja um país inteiro.
Revisitar o tema da ética não é fazê-lo até que as pessoas se cansem, mas até
que se convençam da importância de não deixar nossa casa apodrecer e se
deteriorar. Essa casa, em que nos abrigamos, marca-nos e nos dá identidade.
Afinal, nós somos o que fazemos, e não o que pensamos de nós.
E se somos o que fazemos, do ponto de vista ético, como estamos fazendo?
Fonte: Cortella (2013, p.15).
FUNDAMENTOS DA ÉTICA
33
MORAL ÉTICA
MORAL ÉTICA
É o senso subjetivo que todo ser É a parte ou o ramo da filosofia que
humano tem da responsabilidade de estuda a moral, estuda e compara as
suas ações, conforme seus valores e diversas morais existentes, conforme as
contexto cultural da coletividade em mais diversas áreas de atuação do ser
que está inserido. humano.
É a percepção ou senso de direção e
É o ramo da filosofia que estuda e inter-
de conduta individual (ou coletivo),
preta as morais individuais, coletivas,
conforme a formação do indivíduo (ou
sociais e organizacionais.
de uma coletividade).
Quadro 3 - Moral e Ética - definições
Fonte: a autora.
O Que é Ética?
34 UNIDADE I
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bom, chegamos ao fim da primeira unidade de estudo. O que você achou? Viu
que é possível compreender o texto e, ao mesmo tempo, relacioná-lo com a vida
diária, não é mesmo?
Não podemos nunca esquecer, que acima de tudo, nós também estamos
inseridos nessa sociedade, também somos ou seremos trabalhadores, somos
pessoas, emitimos juízo de valor, julgamos e somos julgados e, também, temos
os nossos conflitos. Como assistentes sociais, precisamos ter clareza dos concei-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tos e, principalmente, nos conhecermos. Precisamos saber dos nossos limites e
potencialidades, para, assim, termos bagagem para enteder o outro, o sujeito, o
usuário que chegará até nós.
Precisamos, também, ter o entendimento acerca do trabalho como categoria
do ser social quem nos permite saber que somos e quem são os outros, entendi-
mento esse que proporiciona refletir criticamente sobre as mais diversas relações
de trabalho. Além disso, a ética e a moral, se bem entendidos como alicerces que
são para nossa vida em sociedade, nos permitem que não nos tornemos frágeis
e vulneráveis diante de inúmeras situações.
Não deixe de ler a sugestão de leitura complementar, pois é um material
bastante didático, que nos traz alguns conceitos utilizados por todos nós, mui-
tas vezes, inconscientemente.
Também sugiro que você assista aos vídeos indicados no final desta unidade,
pois lhe auxiliarão na compreensão do trabalho, moral e ética aplicadas no nosso
dia a dia. Vale ressaltar que quando, você assistir aos filmes, deve procurar per-
ceber se os conceitos, os valores apresentados foram totalmente abandonados
ou se ainda hoje, sofremos influência das referidas épocas retratadas.
Boa Leitura e bom filme!
FUNDAMENTOS DA ÉTICA
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1. Vimos nesta unidade que as normas morais podem variar dependendo da cultu-
ra e do período histórico, elas também não são imutáveis e permanentes, o que
essa afirmativa significa? Assinale a alternativa correta:
a. As normas morais não precisam de questionamento, pois refletem a verdade
e a vontade unida do ser humano.
b. Devemos concordar com as normas, pois são elas que nunca devem ser ques-
tionadas.
c. A moral é um conjunto de valores pelos quais as pessoas guiam seus compor-
tamentos e, por isso, está sujeita a mudanças a depender do país e do momen-
to histórico em que as pessoas estão inseridas.
d. Não agimos de forma “moral” se obedecermos às regras que a sociedade es-
tabelece.
2. Analise as afirmações referentes à Moral e Ética.
I – Moral e Ética possuem o mesmo sentido.
II – A Moral é permanente e universal.
III – Ética quer dizer “conduta de regra” e pode variar na sociedade.
IV – Ética é o ramo da filosofia que estuda e interpreta as morais individuais, co-
letivas sociais e organizacionais.
V– A moral é a ferramenta de trabalho da ética.
Agora, marque a opção que apresenta os itens corretos:
a. I e II
b. II e III
c. I, II e V
d. IV e II
e. IV e V
3. Com base nas sentenças a seguir, preencha as cruzadinhas com as respostas cor-
retas:
A. Base ontológica primária da vida social: _______________
B. Constituída pela moral e pela capacidade humana de ser livre: _________
C. Contradição entre o capital x trabalho gera a:______________
D. O trabalho possibilita ao ser humano ______________ a natureza ao realizar
suas atividades pensadas.
E. Orienta a conduta apontando normas e deveres:
F. Significado de teleologia: _______________________
A MORAL
[...]
A moral é o conjunto das regras de conduta admitidas em determinada época ou por
um grupo de pessoas. [...] podemos, provisoriamente, definir a moral como o conjunto
de regras que determinam o comportamento dos indivíduos em um grupo social.
[...]
Em função da adequação ou não à norma estabelecida, o ato será considerado moral
ou imoral.
O comportamento moral varia de acordo com o tempo e o lugar, conforme as exigências
das condições nas quais as pessoas se organizam ao estabelecerem as formas de relacio-
namento e as práticas de trabalho.
À medida que essas relações se alteram, exigem lentas modificações nas normas de
comportamento coletivo. Por exemplo, a Idade Média se caracteriza pelo regime feudal,
baseado na hierarquia de suseranos, vassalos e servos.
O trabalho é garantido pelos servos, possibilitando aos nobres uma vida dedicada ao
ócio e à guerra.
A moral cavalheiresca que daí deriva baseia-se no pressuposto da superioridade da no-
breza, exaltando a virtude da lealdade e da fidelidade – suporte do sistema de suserania
– bem como a coragem do guerreiro. Em contraposição, o trabalho é desvalorizado e
restrito aos servos. Essa situação tende a ser alterada com o aparecimento da burguesia,
a qual, formada pelo antigos servos libertos, valoriza o trabalho e critica a ociosidade.
Caráter pessoal da moral
[...]
Mesmo considerando o caráter histórico e social da moral, é preciso reconhecer que ela
não se reduz à herança dos valores recebidos pela tradição. À medida que a criança se
aproxima da adolescência, aprimorando o pensamento abstrato e a reflexão crítica, ela
tende a colocar em questão os valores herdados.
A ampliação do grau de consciência e de liberdade, e portanto de responsabilidade pes-
soal no comportamento moral, introduz um elemento contraditório que irá, o tempo
todo, angustiar a pessoa, a moral, ao mesmo tempo que é o conjunto de regras que
determina como deve ser o comportamento dos indivíduos do grupo, é também a livre
e consciente aceitação das normas. Isso significa que o ato só é propriamente moral se
passar pelo crivo da aceitação pessoal da norma. A exterioridade da moral contrapõe-se
à necessidade da interioridade, da adesão mais íntima.
Portanto, o ser humano, ao mesmo tempo que é herdeiro, é criador de cultura, e a vida
moral irá se configurar quando, diante da moral constituída, ele for capaz de propor a
moral constituinte, aquela que se realiza a cada experiência vivida.
Nessa perspectiva, a vida moral se funda em ambiguidade fundamental, justamente, a
que determina seu caráter histórico. Toda moral está situada no tempo e reflete o mun-
do em que nossa liberdade se acha situada diante do passado que condiciona nossos
atos, podemos nos colocar a distância para reassumi-lo ou recusá-lo. A historicidade hu-
mana não se expressa pela mera continuidade no tempo, mas se funda na consciência
ativa do futuro, que torna possível a criação original por meio de um projeto de ação
que muda tudo.
Por experiência própria, cada um sabe como isso é penoso, a partir da descoberta de
que normas adequadas em determinado momento tornam-se obsoletas em outro e de-
vem ser alteradas. As contradições entre o velho e o novo são vividas quando as relações
humanas exigem novo código de conduta.
Mesmo quando queremos manter as antigas normas, há situações críticas enfrentadas
devido a especificidades de cada acontecimento. Por isso, a cisão também pode ocorrer
a partir do enredo de cada drama pessoal: a singularidade do ato moral nos coloca em
situações originais em que só o indivíduo livre e responsável é capaz de decidir, sobre-
tudo quando está diante de conflitos morais ou dilemas. Há certas “situações limite”, tão
destacadas pelo existencialismo, em que regra alguma é capaz de orientar a ação. Por
isso é difícil, para as pessoas que estão “do lado de fora”, avaliarem o que deveria ou não
ter sido feito.
Caráter social e pessoal da moral
[...]
O aspecto social é considerado sob dois pontos de vista. Em primeiro lugar, significa
apenas a herança dos valores do grupo, mas, depois de passar pelo crivo da dimensão
pessoal, o social readquire a perspectiva humana e madura que destaca a ênfase na in-
tersubjetividade essencial da moral. Isto é, quando criamos valores, não o fazemos para
nós mesmos, mas como seres sociais que se relacionam com os outros.
Dessa forma, essa flexibilidade não deve ser interpretada como defesa do relativismo
em que todas as formas de conduta são aceitas indistintivamente. O professor José Ar-
thur Gianotti assim se Expressa: “Os direitos do homem, tais como em geral têm sido
enunciados a partir do século XVIII, estipulam condições mínimas do exercício da mora-
lidade. Por certo, cada um não deixará de aferrar-se à sua moral; deve, entretanto, apren-
der a conviver com outras, reconhecer a unilateralidade de seu ponto de vista. E com
isto está obedecendo à sua própria moral de uma maneira especialíssima, tomando os
imperativos categóricos dela como um momento particular do exercício humano de
julgar moralmente”. Desse modo, a moral do bandido e a do ladrão tornam-se repreen-
síveis do ponto de vista da moralidade pública, pois violam o princípio da tolerância e
atingem direitos fundamentais.
Fonte: Aranha (2003, p. 301-303).
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Comentário: Um ótimo filme que traz a reflexão acerca das relações humanas,
direitos, valores morais e éticos, ética profissional. Por exemplo: o filme começa
com Yuri Orlov declarando: “Há mais de 550 milhões de armas de fogo em
circulação no mundo. É uma arma para cada doze pessoas no planeta. A única
questão é: Como armamos as outras onze?”.
A Letra Escarlate
A história se passa em Massachussetts, nos anos de 1666. Bay Colony (Demi
Moore) é casada com um médico (Robert Duvall), antes de seu marido mudar
para o local, sua missão era encontrar e preparar um lar para morarem. Contudo,
durante esse tempo sozinha, ela acaba se apaixonando pelo reverendo, paixão
que é retribuída e também proibida/reprimida. Chega, então, a notícia de que o
marido de Bay foi morto pelos índios. Ela então acaba ficando grávida. Mediante os
costumes da época e o fato de ela estar solteira, a comunidade a obriga a revelar
quem seria o pai da criança. Bay se recusa e, então, ela passa a andar com a letra “A”
(de adúltera) em seu vestido, simbolizando sua “vergonha” perante a sociedade.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Advogado do Diabo
Kevin Lomax (Keanu Reeves) é um jovem advogado na cidade da Flórida (EUA)
e nunca perdeu uma ação, possui uma habilidade em “seduzir” o juri. É então
contratado pela maior empresa de advocacia de Nova York, cujo dono é o estranho
Jonh Milton (Al Pacino). Kevin passa a receber um alto salário, várias mordomias,
com o tempo, sua esposa começa a ter visões e sente saudade da vida antiga.
Conforme o jovem advogado assume mais casos, menos atenção dá à esposa.
Valores são colocados à prova, a ética em cheque.
Em uma de suas palestras, o filósofo e professor Mario Sergio Cortella discorreu sobre a questão
da ética nos dias atuais, em uma linguagem interessante que resolvi compartilhar com você para
que possamos entender a Ética.
O que é ética (Mario Sergio Cortella).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XNpfJwuh0Es>
Professora Esp. Daniela Sikorski
II
UNIDADE
ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender o conceito e a relevância da Ética Profissional.
■■ Conhecer os diversos Códigos de Ética do Assistente Social,
compreendendo o contexto histórico em que foram aprovados.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Ética profissional
■■ Os Códigos de Ética do Assistente Social no Brasil
45
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a)!
Muito bem, primeira etapa concluída, passemos a segunda.
Quais os resultados que você obteve após o estudo desta primeira unidade?
Quais as indagações, problematizações que você conseguiu obter? É importante
que, após cada unidade de estudo, você elabore um esquema pessoal que lhe
auxiliará na sistematização do conhecimento.
Após refletirmos sobre o trabalho, enquanto categoria ontólogica do ser
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
social, refeltimos também sobre a ética e a moral. Esses três assuntos permearão
o nosso exercício profissional constantemente, uma vez que é impossível dissoci-
á-los do ser humano, nosso usuário. Não somente o trabalho, mas também a ética
e a moral permeiam o nosso dia a dia enquanto cidadão. Dessa maneira, a pri-
meira unidade também propicia-nos uma autorreflexão e um autoconhecimento.
Sendo assim, partiremos para uma unidade muito interessante e bastante
encantadora, pois teremos contato com todos os Códigos de Ética da nossa pro-
fissão. Será possível que você visualize cada um deles e como a profissão foi se
contruindo ao longo das décadas.
O Código de Ética atual, aprovado em 1993, será tratado aqui na unidade II
e, também, na unidade III, para que você tenha possibilidade de se aprofundar
um pouco mais sobre o Código que hoje norteia a nossa profissão, juntamente
com as demais legislações pertinentes.
Antes de adentramos aos Códigos propriamente ditos, faremos uma leitura e
uma compreensão do que venha a ser a Ética Profissional de uma maneira geral
e a sua importância para as categorias profissionais, em seguida, trataremos dos
conceitos de Código de Ética e o que os abrangem.
Uma leitura muito agradável e tranquila, porém cheia de detalhes, por isso,
fique com bastante atenção e, se achar necessário, faça suas anotações separa-
damente, assim, acredito que teremos sucesso.
Grande abraço e ótimo estudo!
Introdução
46 UNIDADE II
ÉTICA PROFISSIONAL
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A Ética não estabelece regras, mas propõe uma reflexão sobre a ação humana,
sobre sua retidão frente à ordem moral. De acordo com Franke (2007, p. 05),
quando falamos em ética, podemos conceber que de maneira espontânea ela gera:
Importante! Só haverá ética profissional efetiva se, primeiro, houver uma ética
pessoal efetiva, a primeira não existe efetivamente sem a segunda.
Logo, faz-se necessária a pergunta: quem e quando podemos considerar
um sujeito ético? Podemos considerar sujeito ético todo aquele que se encon-
tra na situação em que há a necessidade de se tomar uma decisão. Ética implica
em responsabilidade!
E, ainda,
A ética profissional se objetiva como ação moral, por meio da
prática profissional, como normatização de deveres e valores,
por meio do Código de Ética Profissional, como teorização éti-
ca, por meio das filosofias e teorias que fundamentam sua inter-
venção e reflexão e como ação ético-política (BARROCO, 2009,
p. 175).
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Ética Profissional
48 UNIDADE II
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Tais questionamentos devem ser feitos antes da minha ação, toda essa
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preparação se inicia no processo da formação profissional, como estamos
fazendo agora. Para Oliveira (2012, p. 53):
As leis de cada profissão são elaboradas com o objetivo de proteger os
profissionais, as pessoas que dependem deles. Há, porém muitos aspec-
tos não previstos especificamente e que fazem parte do compromisso
do profissional com a ética, aquele que, independentemente de receber
elogios, faz a coisa certa.
Este momento que estamos vivendo faz parte da sua formação profissional e, com
certeza, as perguntas citadas fizeram parte do momento em que
você estava optando pelo curso de graduação e algo lhe chamou
a atenção no momento da escolha.
O momento de decisão pela escolha de uma profissão é
optativo, ninguém é obrigado a escolher essa ou aquela profis-
são. Contudo, a partir do momento em que decido a profissão
que desejo seguir, o conjunto de deveres profissionais se torna
obrigatório.
A decisão pela escolha da profissão é optativa, seu conjunto ©shutterstock
de deveres é obrigatório!
Pouquíssimas pessoas se interessam em saber em que consiste o conjunto
de deveres da profissão que lhe interessa, geralmente se têm contato com ela na
disciplina de Ética, ministrada ao longo do curso.
Ética Profissional
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Você já teve contato com o Código de Ética do Assistente Social? Sabe quan-
tos Código a profissão já teve?
Ainda se valendo das palavras de Glock e Goldim (2003), vemos além das carac-
terísticas da ética profissional, para que servem as leis de cada profissão? As leis
de cada profissão são elaboradas com o objetivo de proteger os profissionais, a
categoria como um todo e as pessoas que dependem daquele profissional. No
entanto, há muitos aspectos não previstos especificamente e que fazem parte do
comprometimento do profissional em ser eticamente correto, aquele que, inde-
pendente de receber elogios, faz a coisa certa.
Ética Profissional
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Veja a seguir o juramento do Assistente Social:
O caráter ético do Serviço Social é dado de forma concreta pela atitude profis-
sional que entendemos como predisposição para pensar, sentir, atuar junto ao
usuário. É uma profissão que, inserida na divisão social e técnica do trabalho,
regulamentada em Lei e fundamentada em seu Código de Ética (1993), defende
a equidade e a justiça social.
Ética Profissional
54 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Esta identidade pressupõe o fazer, as práticas de serviço social que rea-
liza, mas é a aceitação da identidade que força comportamentos, ações
compatíveis com a profissão. É a aceitação que leva a assumir a postura
ética exigida pela profissão. Por isso, a identidade precisa ser continua-
mente re-posta, que significa “agir como”. Comparecer perante o outro
como portador de um papel, mas como representante de si e de um
grupo profissional (FRANKE, 2007, p. 9).
O assistente social deve negar, com sua prática, o errôneo conceito, presen-
te em situações jocosas, de se considerar o profissional como a “moça boazi-
nha, que fala baixinho e que o governo paga para ter dó da gente”. Quantos
anos o Serviço Social foi entendido dentro da perspectiva de uma trabalho
filantrópico ou de caridade? [...]
É necessário distinguir, como profissionais sociais, qual é o limite entre fazer
o bem aos outros e ter um projeto de organização da vida social. No meu
entender, ao discutirmos a Ética, estaremos debatendo também esta ques-
tão, que é a do limite entre o Projeto Político Social, que tem o profissional
de serviço social, e aquilo que se remete apenas a uma ideia romântica de
fazer bem às pessoas.
Claro, é possível coincidir, porque, do contrário, corre-se o risco de uma má
formação profissional. [...] A ética da nossa atividade, nessa relação entre
indivíduo e sociedade, filia-se à compreensão do projeto coletivo. Mas um
projeto coletivo tem de contar as dimensões microssociais da organização
da sociedade, porque, do contrário, trabalharemos na instância do ideal.
Fonte: Cortella (2013, p. 68-70).
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OS CÓDIGOS DE ÉTICA DO
ASSISTENTE SOCIAL NO BRASIL
Como você está indo até agora? Achando interessante?Adquirindo novos conhe-
cimentos com certeza. Pronto para um pouco mais de história da nossa profissão?
Agora, veremos o percurso percorrido dos Códigos de Ética dos Assistentes
Sociais no Brasil.
Ao conhecer os Códigos de Ética, você aprofundará seus conhecimentos
acerca da história do Serviço Social no Brasil, pois, olhando para a história,
entendemos a nossa realidade e da nossa profissão.
Olhar para os Códigos de Ética nesse momento da sua formação permite
que imaginemos como era a realidade dos assistentes sociais em cada período,
isso é muito interessante.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Qual a função do Código de Ética na minha profissão?
A função principal de um Código de Ética é começar pela definição dos
princípios que o fundamentam e se articula em torno de dois eixos de
normas: direitos e deveres. Ao definir direitos, o código de ética cum-
pre a função de delimitar o perfil do seu grupo. Ao definir deveres, abre
o grupo à universalidade. A definição de deveres deve ser tal, que por
seu cumprimento, cada membro daquele grupo social realize o ideal de
ser humano (OLIVEIRA, 2012, p. 52-53).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
um problema social grave. Logo, considerando os princípios e as influências já
citados, o Código de Ética de 1947 apresentava que os indivíduos deviam acei-
tar sua condição como naturalmente dada. No contexto social da época, era
tratada como crime e o ser humano era o responsável pela sua condição socio-
econômica, seja ela qual fosse.
A diferença entre as classes sociais era interpretada como fruto do capita-
lismo, mas sim como algo natural da própria sociedade, e com isso, ambas
as classes deveriam manter um consenso de sua condição dada e assim vi-
verem harmoniosamente, sem conflitos (CARVALHO NETO, 2013, p. 89).
III – (...) não trata apenas de fator material, não se limita à remoção de
um mal físico, ou a uma transação comercial ou monetária: trata com
pessoas humanas desajustadas ou empenhadas no desenvolvimento da
própria personalidade (ABAS,1947).
Você percebeu que nesse Código de Ética (1947), o sujeito usuário do Servi-
ço Social era tratado e recebia a denominação de BENEFICIÁRIO?
É interessante frizar que neste momento, década de 60, haviam poucos escri-
tos e produção acerca da ética em Serviço Social, sendo assim, no ano de 1962,
a Associação Brasileira das Escolas de Serviço Social (ABESS) publica um mate-
rial chamado Código Moral de Serviço Social, que ainda em muito reflete os
Códigos de Ética dos Assistentes Sociais:
[...] um modelo de polidez e cortesia por seu espírito serviçal espontâ-
neo, seu bom humor e amabilidade, sua linguagem correta e simples,
seu trajar alinhado, rejeitando todo o apuro, seus modos e atitudes dis-
tintas, livres de toda afetação... levará uma vida metódica, tanto quanto
possível sem excesso de fadiga; não se recusará, porém, a sacrificar par-
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te de sua saúde, desde que circunstâncias especialmente graves peçam
um devotamento esgotante (HEYLER apud BARROCO, 2005, p. 123).
SECÇÃO I
DEVERES FUNDAMENTAIS
É dever do Assistente Social:
1. Cumprir os compromissos assumidos, respeitando a lei de Deus, os direitos natu-
rais do homem, inspirando‐se, sempre em todos seus atos profissionais, no bem
comum e nos dispositivos da lei, tendo em mente o juramento prestado diante
do testemunho de Deus.
2. Guardar rigoroso sigilo, mesmo em depoimentos policiais, sobre o que saiba em
razão do seu ofício.
3. Zelar pelas prerrogativas de seu cargo ou funções e respeitar as de outrem.
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4. Recusar sua colaboração ou tomar qualquer atitude que considere ilegal, injusta
ou imoral.
5. Manter uma atitude honesta, correta, procurando aperfeiçoar sua personalidade
e dignificar a profissão.
6. Levar ao conhecimento do órgão competente da ABAS Seção São Paulo, qual-
quer transgressão deste Código.
7. Manter situação ou atitude habitual de acordo com as leis e bons costumes da
comunidade.
SECÇÃO II
DEVERES PARA COM O BENEFICIÁRIO DO SERVIÇO SOCIAL
I – É dever do Assistente Social
1. Respeitar no beneficiário do Serviço Social a dignidade da pessoa humana, ins-
pirando-se na caridade cristã.
2. Aplicar todo zelo, diligência e recursos da ciência no trabalho a realizar e nunca
abandonar um trabalho iniciado, sem justo motivo.
II – Não é permitido ao Assistente Social
Aceitar remuneração de um beneficiário de uma organização, por serviços presta-
dos em nome desta.
SECÇÃO III
DEVERES PARA COM OS COLEGAS
I – É dever do Assistente Social
1. Tratar os colegas com perfeita cortesia, evitando fazer quaisquer alusões ou co-
mentários desairosos sobre sua conduta na vida privada e profissional.
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papel da mulher na sociedade, das acentuadas manifestações sociais re-
flexos do despertar da sociedade latino-americana no cenário político,
o Serviço Social engendra uma possibilidade de mudança marcada por
uma nova postura, o despertar de uma consciência crítica, que será o
eixo condutor da profissão para o processo de renovação (CARVALHO
NETO, 2013, p. 91).
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sistentes Sociais;
O Serviço Social adquire no mundo atual uma am-
plitude técnica e científica, impondo aos membros
da profissão maiores encargos e responsabilidades;
Só à luz de uma concepção de vida, baseada na
natureza e destino do homem, poderá de fato o
Serviço Social desempenhar a tarefa que lhe cabe
na complexidade do mundo moderno;
Um Código de Ética se destina a profissionais de di-
ferentes credos e princípios filosóficos, devendo ser ©shutterstock
aplicável a todos.
O Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS), no uso suas atribuições conferidas
pelo item IV art. 9° do Regulamento aprovado pelo Decreto 994 de 15 de maio de
1962, resolve aprovar o Código de Ética alicerçado nos direitos fundamentais do
homem e as exigências do bem comum, princípios estes reconhecidos pela própria
filosofia do Serviço Social.
CAPÍTULO I
Da profissão
Art. 1° O Serviço Social constitui o objeto da profissão liberal de assistente social, de
natureza técnica ‐ cientifica e cujo exercício é regulado em todo o território nacional
pela Lei n° 3.252 de 27‐08‐1957, cujo Regulamento foi aprovado pelo Decreto n°
994, de 15/05/1962.
Art. 2° O assistente social, no desempenho da profissão, é obrigado a respeitar as exi-
gências previstas na legislação que lhe é específica, inclusive as contidas neste Código.
Art. 3° Ao Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e aos Conselhos Regionais
de Assistentes Sociais (CRAS), órgãos criados para orientar, disciplinar e fiscalizar o
exercício da profissão e do presente Código.
CAPÍTULO II
Dos deveres fundamentais
Art. 4° O assistente social no desempenho das tarefas inerentes a sua profissão deve
respeitar a dignidade da pessoa humana que, por sua natureza é um ser inteligente
e livre.
Art. 5° No exercício de sua profissão, o assistente social tem o dever de respeitar as
posições filosóficas, políticas e religiosas daqueles a quem se destina sua atividade,
prestando‐lhes os serviços que lhe são devidos, tendo‐se em vista o princípio de
autodeterminação.
Art. 6° O assistente social deve zelar pela família, grupo natural para o desenvolvi-
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CAPÍTULO III
Do segredo profissional
Art. 15° O assistente social é obrigado pela Ética e pela Lei (art. 154 do Código Penal)
a guardar segredos sobre todas as confidências recebidas e fatos de que tenha co-
nhecimento ou haja observado no exercício de sua atividade profissional, obrigan-
do‐se a exigir o mesmo segredo de todos os seus colaboradores.
§1° Tendo‐se em vista exclusivamente impedir um mal maior, será admissível a reve-
lação do segredo profissional para evitar um dano grave, injusto e atual ao próprio
cliente, ao assistente social, a terceiros e ao bem comum.
§2° A revelação só será feita, após terem sido empregados todos os recursos e todos
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os esforços, para que o próprio cliente se disponha a revelá‐lo.
§3° A revelação será feita dentro do estrito necessário o mais discretamente possí-
vel, quer em relação ao assunto revelado, quer em relação ao grau e ao número de
pessoas que dele devam tomar conhecimento.
Art. 16° Além do segredo profissional, ao qual está moral e legalmente sujeito, o as-
sistente social deve guardar discrição no que concerne ao exercício de sua profissão,
sobretudo quanto à intimidade das vidas particulares, dos lares e das instituições
onde trabalhe.
Art. 17° O assistente social não se obriga a depor como testemunha, sobre fatos de
que tenha conhecimento profissional, mas intimado a prestar depoimento, deverá
comparecer perante à autoridade competente para declarar‐lhe que está ligado à
obrigação do segredo profissional, de acordo com o art. 144 do Código Civil.
CAPÍTULO IV
Dos deveres para com as pessoas, grupos e comunidades
atingidos pelo serviço social
Art. 18° O respeito pela pessoa humana, considerado nos arts. 4° e 5° deste Código,
deve nortear a atuação do assistente social, mesmo que esta atitude reduza a eficá-
cia imediata da ação.
Art. 19° O assistente social, em seu trabalho junto aos clientes, grupos e comunida-
des, deve ter o sentido de justiça, empregando o máximo de seus conhecimentos
e o melhor de sua capacidade profissional, para a solução dos vários problemas so-
ciais.
Art. 20° A ação do assistente social será perseverante, a despeito das dificuldades
encontradas, não abandonando nenhum trabalho sem justo motivo.
Art. 21° O assistente social esforçar‐se‐á para que seja mantido um bom entrosamento
entre as agências de Serviço Social e demais obras ou serviços da comunidade, com
o objetivo de assegurar mútua compreensão e eficiente colaboração.
Art. 30° O assistente social não aceitará cargo ou função anteriormente ocupados
por um colega, cuja desistência tenha ocorrido por razões de ética profissional, pre-
vistas no presente Código, desde que mantidas as razões determinantes do afasta-
mento.
CAPÍTULO VII
Das associações de classe
Art. 31° O assistente social deve colaborar com os órgãos representativos de sua
classe, zelando pelas suas prerrogativas, no sentido de um aperfeiçoamento cada
vez maior do Serviço Social e dignificação da profissão.
§ único - O assistente social não deve excusar‐se sem justa causa, de prestar aos
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órgãos de classe qualquer colaboração solicitada no âmbito profissional.
Art. 32° É dever de todo assistente social representar, junto aos órgãos de classe,
sobre assunto de interesse profissional geral ou pessoal e do bem comum.
CAPÍTULO VIII
Do trabalho em equipe
Art. 33° O assistente social deve exercer as suas funções na equipe com imparciali-
dade, independente de sua posição hierárquica.
Art. 34° O trabalho em equipe não diminui a responsabilidade de cada profissional
pelos seus atos e funções, devendo, na sua atuação, colaborar para o êxito do tra-
balho em comum.
CAPÍTULO IX
Da responsabilidade e da preservação da dignidade profissional
Art. 35° O assistente social responderá civil e penalmente por atos profissionais da-
nosos a que tenha dado causa no exercício de sua profissão, por ignorância culpá-
vel, omissão, imprudência, negligência, colaboração ou má fé.
Art. 36° Além do respeito às disposições legais, a responsabilidade moral deve ser
o alicerce em que se assentará o trabalho do assistente social, pois na consciência
reta estará a maior garantia do respeito e exercício dos direitos individuais e sociais.
Art. 37° Todo assistente social, mesmo fora do exercício de sua profissão, deverá
abster‐se de qualquer ação que possa desaboná‐lo, procurando firmar sua conduta
pessoal por elevado padrão ético, contribuindo para bom conceito da profissão.
Art. 38° É de responsabilidade do assistente social zelar pelas prerrogativas de seu
cargo ou funções, bem como respeitar as de outrem.
CAPÍTULO X
Da aplicação e observância do código
Art. 39° Todos os que exercem a profissão de assistente social têm o dever de acatar
as decisões deste Código, e ao inscreverem‐se no respectivo Conselho Regional de
Assistentes Sociais (CRAS), deverão declarar conhecê‐lo, comprometendo‐se, por
escrito, a respeitá‐lo.
Art. 40° Compete aos Conselhos Regionais de Assistentes Sociais em primeira ins-
tância, a apuração de faltas cometidas contra este Código, bem como, a aplicação de
penalidades, cabendo recursos ao Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS),
conforme estabelecem os arts. 9° e 12° do Regulamento aprovado pelo Decreto n°
994, 15/05/1962.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Art. 41° Os infratores ao presente Código estão sujeitos às seguintes medidas disci-
plinares:
a. Advertência confidencial;
b. Censura confidencial;
c. Censura pública;
d. Suspensão do exercício da profissão;
e. Cassação do exercício profissional.
Art. 42° Os processos relativos às infrações do presente Código obedecerão ao dis-
posto no Regimento Interno do Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) (cap.
IV – art. 13° a 17°) e as normas contidas em “Instruções” especialmente baixadas pelo
Conselho para este fim.
Art. 43° É dever de todos os assistentes sociais zelar pela observância das normas
contidas neste Código, dar conhecimento no Conselho Regional de Assistentes So-
ciais (CRAS) da respectiva Região, com princípios éticos nele contidos.
§ único - Em caso de dúvida sobre o enquadramento de determinado fato nos prin-
cípios contidos neste Código, o assistente social poderá formular ao respectivo Con-
selho Regional de Assistentes Sociais (CRAS) consulta que, não assumindo caráter
de denúncia, incorrerá nas mesmas exigências de discrição e fundamentação.
CAPÍTULO XI
Das disposições gerais
Art. 44° Caberá ao Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) qualquer altera-
ção do presente Código, consultando os Conselhos Regionais de Assistentes Sociais
(CRAS), competindo, ainda àquele órgão, como Tribunal Superior de Ética Profissio-
nal, firmar jurisprudência na aplicação do mesmo e ainda nos casos omissos.
Art. 45° Caberá ao Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e aos Conselhos
Regionais de Assistentes Sociais (CRAS) promoverem a mais ampla divulgação deste
Código, de modo que seja do pleno conhecimento de entidades nas quais se desen-
volvam programas de Serviço Social.
Art. 46° O presente Código entrará em vigor na data de sua públicação.
Rio de Janeiro, 8 de maio de 1965.
Fonte: CÓDIGO... (1965, online).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O CÓDIGO DE ÉTICA DE 1975
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
atende ao mais elevado e marcante interesse social.
Exigências do bem comum legitimam, com efeito, a ação disciplinadora do Estado,
conferindo‐lhe o direito de dispor sobre as atividades profissionais – formas de vin-
culação do homem à ordem social, expressões concretas de participação efetiva na
vida da sociedade.
As profissões envolvem ingredientes indispensáveis à composição de o bem total
humano, encerram valores sociais inestimáveis, como honestidade e verdade. A
profissão é mais do que um trabalho orientado para a subsistência dos que a exer-
cem: é um dos fundamentos da estruturação da sociedade de sua organização em
uma diversidade de grêmios profissional representa valioso instrumento de defesa
social.
Em síntese, na dialética homem‐sociedade deve assegurar‐se mais ser do Homem,
a partir de:
■■ Subsistência digna;
■■ Direito a um “status” social;
■■ Direito de associação;
■■ Direito de intervenções pertinentes; e, por outro lado, salvaguardar‐se o bem
da sociedade;
■■ De busca de valores que respondem às exigências do dever;
■■ De legislação fiel ao interesse geral;
■■ De instituições adequadas ao meio social;
O valor central que serve de fundamento ao Serviço Social é a pessoa humana. Re-
veste‐se de essencial importância uma concepção personalista que permita ver a
pessoa humana como o centro, objeto e fim da vida social.
Dois valores são essenciais à plena realização da pessoa humana:
■■ Bem comum considerado como conjunto das condições materiais e morais
concretas nas quais cada cidadão poderá viver humana e livremente;
■■ Justiça social, que compreende tanto o que os membros devem ao bem
comum, como o que a comunidade deve aos particulares em razão desse bem.
É fora de dúvida que a comunidade profissional é daquelas formas sociais que são
conaturais, coessenciais ao homem, e condicionantes de um certo desenvolvimen-
to histórico da civilização.
Os postulados versados nesta Introdução justificam por que o Serviço Social, no
dinamismo de sua atuação, exige contínua referência aos princípios de:
I. Autodeterminação – que possibilita a cada pessoa, física ou jurídica, o agir res-
ponsável, ou seja, o livre exercício da capacidade de escolha e decisão;
II. Participação – que é presença, cooperação, solidariedade ativa e corresponsa-
bilidade de cada um, nos mais diversificados grupos que a convivência humana
possa exigir;
III. Subsidiariedade – que é elemento regulador das relações entre os indivíduos,
instituições ou comunidades, nos diversos planos de integração social.
Com base nestes princípios e naqueles valores axiais, explicitam‐se direitos e deve-
res do Assistente Social, no Código de Ética Profissional.
TÍTULO I
Disposições gerais
Art. 1° O Assistente Social, no exercício da profissão, está obrigado à observância do
presente Código, bem como a fazê‐lo cumprir.
Art. 2° O Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e os Conselhos Regionais
de Assistentes Sociais (CRAS) promoverão a mais ampla divulgação deste Código.
Art. 3° Compete ao Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS):
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
I. Introduzir alteração neste Código, consultados os Conselhos Regionais;
II. Como Tribunal Superior de Ética Profissional, firmar jurisprudência na aplicação
deste Código e nos casos omissos.
TÍTULO II
Direitos e deveres do assistente social
CAPÍTULO I
Dos direitos
Art. 4° São direitos do Assistente Social:
I. Com relação ao exercício profissional:
a. Desempenho das atividades inerentes à profissão;
b. Desagravo público por ofensa que atinja sua honra profissional;
c. Proteção à confidencialidade do cliente;
d. Sigilo profissional;
e. Inviolabilidade do domicílio do consultório, dos locais de trabalho e respecti-
vos arquivos;
f. Livre acesso ao cliente;
g. Contratação de honorários segundo normas regulamentares;
h. Representação ao Conselho Regional de Assistentes Sociais (CRAS) com juris-
dição sobre a sede de suas atividades.
II. Com relação ao “status” profissional:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
classe;
b. Aceitar e desempenhar função, com interesse e responsabilidade, nas entida-
des de classe, salvo circunstâncias especiais que justifiquem sua recusa;
c. Representar perante os órgãos competentes sobre irregularidades ocorridas
na administração das entidades de classe;
d. Denunciar às entidades de classe o exercício ilegal da profissão, sob qualquer
forma;
e. Representar às entidades de classe, encaminhando‐lhes comunicação funda-
mentada sobre infração a princípios éticos, sem desrespeito à honra e digni-
dade de colegas.
V. Nas relações com instituições:
a. Cumprir os compromissos assumidos e contratos firmados;
b. Respeitar a política administrativa da instituição empregadora;
c. Contribuir para que as instituições destinadas ao trabalho social mantenham
um bom entrosamento entre si.
VI. Nas relações com a comunidade:
a. Zelar pela família, defendendo a prioridade dos seus direitos e encorajando as
medidas que favoreçam sua estabilidade e integridade;
b. Participar de programas nacionais e internacionais destinados à elevação das
condições de vida e correção dos desníveis sociais;
c. Participar de programas de socorro à população, em situação de calamidade
pública;
d. Opinar em matéria de sua especialidade quando se tratar de assunto de inte-
resse da coletividade.
bibliografia utilizada;
f. Dar igual ênfase aos autores e o necessário destaque ao colaborador principal
ou ao idealizador, na públicação de pesquisas ou estudos em colaboração.
Art. 6° É vedado ao Assistente Social:
a. Usar titulação ou outorgá‐la a outrem indevidamente;
b. Exercer sua autoridade de forma a limitar o direito do cliente de decidir sobre
sua pessoa e seu bem‐estar;
c. Divulgar nome, endereço ou outro elemento que identifique o cliente;
d. Reter, sem justa causa, valores que lhe sejam entregues de propriedade do
cliente;
e. Recusar ou interromper atendimento a cliente, sem prévia justificação;
f. Criticar de público, na presença de cliente ou de terceiro, erro técnico‐ científi-
co ou ato de colega atentatório à ética;
g. Prejudicar, direta ou indiretamente, a reputação, situação ou atividade do colega;
h. Valer‐se de posição ocupada na direção de entidade de classe para obter van-
tagens pessoais, diretamente ou por meio de terceiros;
i. Participar de programa com entidade que não respeite os princípios éticos es-
tabelecidos;
j. Formular, perante cliente, crítica aos serviços da instituição, à atuação de cole-
gas e demais membros da equipe interprofissional;
k. Oferecer prestação de serviço idêntico por remuneração inferior à que se pa-
gue a colega da mesma instituição, e da qual tenha prévio conhecimento;
l. Aceitar, de terceiro, comissão, desconto ou outra vantagem, direta ou indireta-
mente relacionada com atividade que esteja prestando à instituição;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
r. Apresentar como original, ideia, descoberta ou ilustração que não o seja;
s. Utilizar, sem referência ao autor ou sua autorização expressa, dado, informa-
ção ou opinião inédita ou colhida em fonte particular;
t. Prevalecer‐se de posição hierárquica para publicar, em seu nome exclusivo tra-
balho de subordinados e assistentes, embora executado sob sua orientação.
CAPÍTULO III
Do segredo profissional
Art. 7° O Assistente Social deve observar o segredo profissional:
I. Sobre todas as confidências recebidas, fatos e observações escolhidas no exer-
cício da profissão.
II. Abstendo‐se de transcrever informações de natureza confidencial;
III. Mantendo discrição de atitudes nos relatórios de serviço, onde quer que traba-
lhe.
§1° O sigilo estender‐se‐á à equipe interdisciplinar e aos auxiliares, devendo o
Assistente Social empenhar‐se em sua guarda.
§2° É admissível revelar segredo profissional para evitar dano grave, injusto e atual
ao próprio cliente, ao Assistente Social, a terceiro ou ao bem comum.
§3° A revelação do sigilo profissional será admitida após se haverem esgotado todos
os recursos e esforços para que o próprio cliente se disponha a revelá‐lo.
§4° A revelação será feita dentro do estritamente necessário, o mais discretamente
possível, quer em relação ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas
que dele devem tomar conhecimento.
§5° Não constitui quebra de segredo profissional a revelação de casos de sevícias,
castigos corporais, atentados ao pudor, supressão intencional de alimento e uso de
tóxicos, com vista à proteção do menor.
TÍTULO III
Das medidas disciplinares
Art. 9° As infrações aos dispositivos do presente Código estão sujeitas às seguintes
medidas disciplinares:
a. Advertências em aviso reservado;
b. Censura em aviso reservado;
c. Censura em publicação oficial;
d. Suspensão do exercício profissional até 30 (trinta) dias;
e. Cassação do exercício profissional “ad‐referendum” do Conselho Federal.
§único - Ao acusado são garantidas amplas condições para a sua defesa, mesmo
quando revél.
TÍTULO IV
Disposições transitórias
Art. 10° O Conselho Federal de Assistentes Sociais, no prazo de 30 (trinta) dias a
partir da publicação deste Código, expedirá o Código Processual de Ética para os
Conselhos Regionais de Assistentes Sociais.
Art. 11° O presente Código entrará em vigor dentro de 45 (quarenta e cinco) dias de
sua publicação.
Rio de Janeiro, 30 de Janeiro de 1975.
Fonte: CÓDIGO... (1975, online).
Como estamos indo até agora? O que você pôde apreender até aqui no que diz
respeito a nossa profissão e aos seus Códigos de Ética? É possível perceber as
diferenças e as aproximações de cada um?
É importante que você se dedique à leitura e vá compreendendo que a pro-
fissão também se constrói a partir do seu contexto histórico e sua prática não se
dá descolada da realidade, afinal, não viemos de Marte, não é mesmo?
O Código de Ética que veremos agora é o de 1986 e sua aprovação é datada
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de 09 de maio de 1986, a partir da Resolução CFAS nº 1986, período de demo-
cratização do Brasil.
Esse é o quarto Código da profissão, denota um amadurecimento da cate-
goria no que tange à orientação teórica, posicionamento ideológico-político e
compromisso com a classe trabalhadora. Rompendo com ética conservadora
e práticas profissionais tradicionalistas, percebida nos três Códigos anteriores
(1947, 1965 e 1975). Busca-se, agora, uma nova moralidade profissional.
Inserido neste movimento, a categoria de Assistentes Sociais passa
a exigir também uma nova ética que reflita uma vontade coletiva,
superando a perspectiva a‐histórica e a‐crítica, onde os valores
são tidos como universais e acima dos interesses de classe. A nova
ética é resultado da inserção da categoria nas lutas da classe tra-
balhadora e, consequentemente, de uma nova visão da sociedade
brasileira. Neste sentido, a categoria por meio de suas organiza-
ções, faz uma opção clara por uma prática profissional vinculada
aos interesses desta classe. As conquistas no espaço institucional
e a garantia da autonomia da prática profissional requerida pe-
las contradições desta sociedade só poderão ser obtidas por meio
da organização da categoria articulada às demais organizações da
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classe trabalhadora (CFAS, 1986, p. 01).
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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TÍTULO I
Disposições gerais
Art.1° Compete ao Conselho Federal de Assistentes Sociais:
a. Zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, fiscalizando as
ações dos Conselhos Regionais e a prática exercida pelos profissionais, institui-
ções e organizações na área do Serviço Social;
b. Introduzir alteração neste Código, por meio de uma ampla participação da ca-
tegoria, em um processo desenvolvido em ação conjunta com os Conselhos Re-
gionais;
c. Como Tribunal Superior de Ética Profissional, firmar jurisprudência na observân-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cia deste Código e nos casos omissos.
§ único - Compete aos Conselhos Regionais, nas áreas de suas respectivas jurisdi-
ções, zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, e funcionar
como órgão julgador de primeira instância.
TÍTULO II
Dos direitos e das responsabilidades gerais
do assistente social
CAPÍTULO I
Dos direitos
Art. 2° Constituem‐se direitos do Assistente Social:
a. Desempenhar suas atividades profissionais, com observância da legislação em vigor;
b. Livre exercício das atividades inerentes à profissão;
c. Livre acesso aos usuários de seus serviços;
d. Participação na elaboração das Políticas Sociais e na formulação de programas
sociais;
e. Inviolabilidade do domicílio, do local de trabalho e respectivos arquivos e docu-
mentação;
f. Desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;
g. Remuneração por seu trabalho profissional definida pelas organizações sindi-
cais, estaduais e nacionais, articuladas a luta geral da classe trabalhadora;
h. Acesso às oportunidades de aprimoramento profissional;
i. Participação em manifestações de defesa dos direitos da categoria e dos interes-
ses da classe trabalhadora;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
efetivação e em novas conquistas;
b. Refletir com os usuários os limites de sua atuação profissional no sentido de di-
mensionar as possibilidades reais de sua prática no encaminhamento das lutas
conjuntas, bem como identificar os mecanismos de superação dos mesmos;
c. Contribuir para que os usuários utilizem os recursos institucionais como um di-
reito conquistado pela classe trabalhadora;
d. Criar, na discussão conjunta, mecanismos, que venham desburocratizar a rela-
ção com os usuários no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados;
e. Privilegiar práticas coletivas com os usuários no sentido de possibilitar a sua par-
ticipação no processo de decisão e gestão institucional;
f. Discutir com os usuários sobre a utilização dos recursos sociais, para evitar deslo-
camentos desnecessários na busca de atendimento às suas necessidades;
g. Refletir com os usuários sobre a importância de seu engajamento em movimen-
tos populares e/ou órgãos representativos da classe trabalhadora;
h. Respeitar, no relacionamento com o usuário, o seu direito à tomada de decisões,
o saber popular e a autonomia dos movimentos e organizações da classe traba-
lhadora.
Art. 7° É vedado ao Assistente Social:
a. Exercer sua autoridade de forma a limitar ou cercear o direito de participação e
decisão dos usuários;
b. Bloquear o acesso dos usuários aos serviços sociais oferecidos pelas instituições
por meio de atitudes que venham coagir e/ou desrespeitar aqueles que buscam
o atendimento de seus direitos sociais.
CAPÍTULO II
Das relações com as instituições
Art. 8° São direitos do Assistente Social:
a. Administrar, executar e repassar os serviços sociais, influenciando para o fortale-
cimento de novas demandas de interesse dos usuários;
b. Contribuir para alteração da correlação de forças do interior da instituição para
reformulação de sua natureza, estrutura e programa tendo em vista os interesses
da classe trabalhadora.
Art. 9° O Assistente Social no exercício de sua profissão em entidade pública ou pri-
vada terá garantia de condições adequadas de trabalho, o respeito a sua autonomia
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CAPITULO III
Das relações entre profissional de serviço social
Art. 12° Cabe aos Assistentes Sociais manterem entre si a solidariedade que consoli-
da a categoria e fortalece a sua organização.
Art. 13° O Assistente Social, quando solicitado deverá colaborar com seus colegas,
salvo impossibilidade real, decorrente de motivos relevantes.
Art. 14° A crítica pública a colega deverá ser sempre objetiva, construtiva, compro-
vável de inteira responsabilidade de seu autor e fundamentada nos preceitos deste
Código.
Art. 15° É vedado ao Assistente Social:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a. Ser conivente com falhas éticas e com erros praticados por outro profissional;
b. Prejudicar deliberadamente a reputação de outro profissional divulgando infor-
mações falsas.
Art. 16° Ao Assistente Social deve ser assegurada a mais ampla liberdade na rea-
lização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos de participação de
pessoas ou grupos envolvidos em seus trabalhos.
Art. 17° É vedado ao Assistente Social:
a. Prevalecer de posição hierárquica para publicar, em seu nome, trabalhos de su-
bordinados, mesmo que executado sob sua orientação;
b. Deturpar dados quantitativos e/ou qualitativos;
c. Apropriar‐se de produção científica de outros profissionais.
Art. 18° O Assistente Social, ao ocupar uma chefia, deve usar a sua autoridade fun-
cional para a liberação, total ou parcial de carga horária de subordinado que desejar
se dedicar a estudos e pesquisas relacionadas à prática profissional, dando igual
oportunidade a todos.
Art. 19° É vedado ao Assistente Social:
a. Permitir ou exercer a supervisão de alunos de Serviço Social em instituições Pú-
blicas ou Privadas que não tenham em seus quadros Assistente Social que dê
acompanhamento direto ao campo de estágio;
b. Ser conivente com o exercício de função de direção de órgãos formadores de
Assistentes Sociais por outros profissionais.
Art. 20° O Assistente Social deve respeitar as normas éticas das outras profissões.
CAPÍTULO IV
Das relaçoes com as entidades da categoria e demais
organizações da classe trabalhadora
Art. 21° O Assistente Social deve defender a profissão por meio de suas entidades
representativas, participando das organizações que tenham por finalidade a defesa
dos direitos profissionais, no que se refere à melhoria das condições de trabalho, à
fiscalização do exercício profissional e ao aprimoramento científico.
Art. 22° O Assistente Social deverá apoiar as iniciativas e os movimentos de defesa
dos interesses da categoria e divulgar no espaço institucional as informações das
suas organizações, no sentido de ampliar e fortalecer o seu movimento.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a. Transgredir preceito do Código de Ética;
b. Exercer a profissão quando impedido, ou facilitar o seu exercício por quem não
esteja devidamente habilitado;
c. Participar de sociedade que tendo como objeto o Serviço Social, não esteja re-
gularmente inscrito no Conselho;
d. Não pagar regulamente as anuidades.
Art. 32° São medidas disciplinares aplicáveis pelos Conselhos Regionais:
a. Multa;
b. Advertência em aviso reservado;
c. Advertência pública;
d. Suspensão do exercício profissional;
e. Eliminação dos quadros.
Art. 33° A pena de multa variará de 1 (um) até 10 (dez) Obrigações do Tesouro Na-
cional (OTN).
Art. 34° A pena de advertência, reservada ou pública, será aplicada nos casos previs-
tos nas alíneas a, b e c do artigo 31°.
Art. 35° A pena de suspensão será aplicada:
a. Nos casos em que couber advertência pública e o autor da infração disciplinar
for reincidente;
b. Aos que violarem sigilo profissional;
c. Aos que tenham conduta incompatível com o exercício profissional;
d. Aos que demonstrem inépcia profissional;
e. Na hipótese prevista na alínea d no artigo 31°.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Encerramos mais uma unidade de estudo, que foi muito rica, no que tange ao
aprofundamento dos conhecimentos sobre o Serviço Social, espero que tenha
servido para você como um impulsionador da sua formação profissional. Olhar
para nossa história nos permite entender a realidade como se apresenta hoje.
Vimos a ética profissional e a sua relevância para o exercício profissional
de qualidade, aprofundamos-nos um pouco mais sobre os 4 primeiros códigos
de ética (o Código atual será visto com mais detalhes nas duas próximas unida-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
des), conseguimos, assim, compreender como a nossa profissão se comportava
ao longo das décadas.
Vimos, também, que o primeiro Código de Ética do Assistente Social foi
elaborado em 1947 e revisado em 1965. Uma reformulação foi realizada dando
origem a um novo Código aprovado em 1975, todos esses com influências neo-
tomistas e funcionalistas. Pela forte influência da Igreja Católica, a profissão era
considerada um chamado de Deus, era considerada como vocação divina, por
isso, em vários momentos, o serviço social deveria pautar a sua ação profissio-
nal para restaurar a moral cristã. O Código de Ética deve ser entendido como
um instrumento para nortear o exercício profissional.
Foi possível compreender ainda, que toda a reflexão sobre ética e ética profis-
sional tem de estar perpassando nossas preocupações interventivas. A qualificação
do fazer profissional, a articulação com outros sujeitos sociais é condição para a
instituição de uma outra ordem de valores em nossa sociedade.
Até a próxima unidade!
1. De acordo com o estudo da unidade II, entende-se que só haverá ética profissio-
nal efetiva se existir antes:
a. Uma norma imutável e efetiva.
b. Uma assistente social para efetivar e validar os Códigos de Ética.
c. Uma ética pessoal efetiva.
d. Um Código de Ética efetivo.
2. Durante a unidade II, os autores Glock e Goldin (2003) apresentam 15 caracterís-
ticas da ética profissional. Encontre 10 delas no caça palavras a seguir:
1: ____________________ 6: ____________________
2: ____________________ 7: ____________________
3: ____________________ 8: ____________________
4: ____________________ 9: ____________________
5: ____________________ 10: ___________________
3. Sobre a Ética Profissional, analise as sentenças colocando V para verdadeiro e F
para Falso:
( ) O juramento feito pela pessoa no momento da sua formatura caracteriza o
aspecto moral da Ética Profissional.
( ) A Ética Profissional pode ser compreendida como sendo a “reflexão sobre as
exigências do profissional em sua relação: com o cliente/usuário; com o público;
com seus colegas; e com sua corporação, com os demais profissionais” (DURAND,
2003, p. 85).
( ) A ética é indispensável ao profissional, porque na ação humana “o fazer” e “o
agir” estão interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo
profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à con-
duta do profissional, ao conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho
de sua profissão (OLIVEIRA, 2012, p. 51).
a. V - V - F
b. V - F - F
c. F - V - F
d. V - V - V
4. Por que é correto afirmar que o processo de formação profissional, onde se ad-
quire um dado conhecimento capaz de fundamentar as escolhas éticas, não é o
único referencial profissional (BARROCO, 2009, p.07)?
5. Para auxiliar em seus estudo, vamos montar um quadro para entendermos o Có-
digo de Ética para as profissões? Preencha o quadro com as informações socilita-
das, faça de maneira resumida, para facilitar o entendimento:
CÓDIGO DE ÉTICA
O Sorriso de Monalisa
Sinopse: Recria a atmosfera e os costumes do início da década de 1950. Conta
a história de uma professora de arte que, educada na liberal Universidade
de Berkeley, na Califórnia, enfrenta uma escola feminina, tradicionalista
– Wellesley College, onde as melhores e mais brilhantes jovens mulheres dos
Estados Unidos recebem uma dispendiosa educação para se transformarem
em cultas esposas e responsáveis mães. No filme, a professora tentará
abrir a mente de suas alunas para um pensamento liberal, enfrentando a
administração da escola e as próprias garotas. O maior desafio para essa
professora será fazer com que suas alunas assumam sua identidade cultural
como ser social e histórico. Esse filme nos traz a visão mais ampla de novos
conhecimentos.
Comentário: Mostra os desafios enfrentados por um profissional novo no
mercado de trabalho e a perseverança em enfrentá-los.
Material Complementar
Professora Esp. Rafaela Cristina Bernardo
III
OS ONZE PRINCÍPIOS
UNIDADE
FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE
ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993
Objetivos de Aprendizagem
■■ Analisar os onze princípios fundamentais do Código de Ética
Profissional do Assistente Social de 1993.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Eixos estruturantes sobre os onze princípios fundamentais
■■ Os Onze Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do
Assistente Social de 1993
105
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a)!
Estamos ingressando na unidade III do livro de Ética Profissional e esperamos
que a partir dela você compreenda a importância dos princípios fundamentais
do Código de Ética Profissional, para que, em seguida, possamos discutir, espe-
cificamente, o Código de 1993.
Para compreender o que são os princípios fundamentais e quais são os seus
objetivos, vamos iniciar a discussão da unidade III retomando os conceitos acerca
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
106 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
co-metodológica marxista e pela articulação com o projeto societário da classe
trabalhadora a partir dos anos 1980. A construção dos onze princípios funda-
mentais está relacionada ao debate da categoria profissional sobre o Código de
Ética profissional que, segundo Paiva e Salles (2001, p. 174):
O debate sobre a ética no Serviço Social foi desencadeado pelas entida-
des nacionais da categoria a partir de 1991, culminando em 1993 com
a aprovação do novo Código de Ética Profissional do Assistente Social.
Tratou-se de um esforço coletivo que visava redimensionar o signifi-
cado dos valores e compromissos éticos-profissionais, na perspectiva
de lhes assegurar respaldo efetivo na operacionalização quotidiana do
Código, enquanto referência e instrumento normativo para o exercício
profissional e outros propósitos.
Por isso, caro(a) aluno(a), a compreensão sobre o que são os onze princípios
fundamentais é determinante para entender o Código de Ética de 1993 e, principal-
mente, para garantir que o exercício profissional respeite os valores ético-políticos
construídos pela categoria profissional e pelos sujeitos da ação profissional.
Você faz alguma distinção entre os valores que orientam sua vida privada e
os valores que orientam sua atuação profissional?
Se você fosse construir os valores éticos para o Código de Ética Profissional,
quais valores éticos você criaria?
Mas antes de iniciar a análise efetiva dos princípios, é necessário retomar alguns
conceitos que envolvem a sua construção. Esses conceitos já foram abordados
no Capítulo IV do livro de Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do
Serviço Social II e são cruciais para avançarmos na discussão. Vamos denomi-
nar esses conceitos de Eixos Estruturadores dos Onze Princípios Fundamentais.
PROJETOS SOCIETÁRIOS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
capitalista, mediadas pelo trabalho, a burguesia e o proletariado idealizam um
determinado tipo de sociedade que busca atender a interesses de classe que visam
à manutenção dessa relação ou a sua superação, buscando uma sociedade livre
e sem exploração de classe.
Diante da concorrência entre Projetos Societários antagônicos, verificamos que
o desenvolvimento histórico do Serviço Social no Brasil está diretamente relacionado
com os interesses políticos, econômicos e sociais dos projetos em disputa e que tor-
navam a profissão produtora e reprodutora das relações sociais em desenvolvimento.
Para compreender essa questão, é necessário retomar as discussões das dis-
ciplinas de Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social
I e II que explicam o arcabouço teórico metodológico, técnico operativo e ético-
-político construído pelo Serviço Social em cada período histórico que visavam
à intervenção da profissão diante dos interesses societários em disputa.
São características dos Projetos Societários:
■■ A concorrência entre diferentes Projetos Societários é um fenômeno pró-
prio da democracia política. É quando se conquistam e se garantem as
liberdades políticas fundamentais que distintos projetos podem confron-
tar-se e disputar a adesão dos membros da sociedade.
■■ Os Projetos Societários que correspondem aos interesses da classe traba-
lhadora sempre dispõem de condições menos favoráveis para enfrentar
ou superar os Projetos Societários burgueses. Entretanto, isso não signi-
fica que não possam ser alcançados, mas dependem de crises estruturais
criadas pela própria incontrolabilidade de acumulação capitalista para que
haja a sua superação e a incorporação de um novo projeto de sociedade.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dora e de ausência do Estado são imperativos para construir um Projeto
Profissional que dê conta de compreender o que de fato é a sociedade capita-
lista, conceber a questão social como objeto de trabalho e a classe trabalhadora
como sujeito da intervenção profissional.
PROJETOS PROFISSIONAIS
político. Mesmo que um projeto não assuma sua posição frente aos inte-
resses concorrentes entre projetos coletivos e societários, automaticamente
está assumindo um posicionamento, seja ele transformador ou conservador.
■■ Sobre o caráter político dos projetos, o autor Netto (1999b, p. 5) explica que:
É importante ressaltar que os Projetos Profissionais também têm ine-
limináveis dimensões políticas, seja no sentido amplo (referido às suas
relações com os Projetos Societários), seja em sentido estrito (referido às
perspectivas particulares da profissão). Porém, nem sempre tais dimen-
sões são explicitadas, especialmente quando apontam para direções con-
servadoras ou reacionárias. Um dos traços mais característicos do con-
servadorismo consiste na negação das dimensões políticas e ideológicas.
1
Conselho Federal de Serviço Social (CFESS).
2
Conselho Regional de Serviço Social (CRESS).
3
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS).
4
Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da Criança e do Adolescente (ECA), Estatuto do Idoso, Lei Orgânica da
Saúde (LOS) (NETTO, 1999a).
■■ Os Projetos Profissionais requerem componentes indicativos, são aque-
les, segundo Netto (1999a, p. 8), “em torno dos quais não há um consenso
mínimo que garanta seu cumprimento rigoroso e idêntico por todos os
membros do corpo profissional”. Sobre os indicativos, o autor fala do
Código de Ética, que, embora componha o arcabouço jurídico legal da
profissão, sendo passível de punição, caso haja o seu descumprimento, é
um componente passível de contestações de práticas diferenciadas sob
um mesmo princípio.
■■ Os Projetos Profissionais possuem instâncias político/organizativas,
segundo Teixeira (2009), essas instâncias representam os espaços democrá-
ticos de organização para debater sobre a profissão, seus rumos, revisões,
enfrentamentos, alianças e, principalmente, sobre o projeto ético polí-
tico. O conjunto Conselho Federal de Serviço Social (CFESS)/Conselho
Regional de Serviço Social (CRESS), a Associação Brasileira de Ensino e
Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), os Centros e Diretórios Acadêmicos,
a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO) são exem-
plos dessas instâncias. (TEIXEIRA, 2009).
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PROJETO ÉTICO-POLÍTICO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
projeto societário deflagra a mobilização em torno do debate e da cria-
ção de novos valores éticos, o que, por sua vez intensifica esse processo.
Os assistentes sociais dessa forma, coerentes com o Projeto Profissional
que vem sendo construído, deverão se somar ao movimento de consti-
tuição de novos valores éticos, fundamentados decisivamente na liber-
dade e na equidade.
Por isso, é preciso que o conceito de liberdade proposto nesse princípio esteja
fundamentado na perspectiva teórico-metodológica materialista histórica, que
coloca a liberdade como defesa da liberdade de todos em detrimento do con-
ceito individualista de liberdade defendido pelo projeto societário capitalista. A
ideia liberal de liberdade tem sido aprofundada pelo movimento neoliberal que
prega a liberdade individual, o individualismo, a concorrência e a fragmenta-
ção da consciência coletiva.
O conceito de liberdade que deve ser reafirmado no exercício profissional
ético, competente e crítico é apresentado por Paiva e Salles (2001, p. 182):
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O conceito de liberdade que faz referência ao Código de Ética dos As-
sistentes Sociais exige a sua própria redefinição, apontando para uma
nova direção social, que tenha o indivíduo como fonte de valor, mas
dentro da perspectiva de que a plena realização da liberdade de cada
um, requer a plena realização de todos.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Por isso, a liberdade deve ser tomada como valor ético central na medida que preco-
niza a defesa da liberdade coletiva dos sujeitos, para isso, é preciso que autonomia,
emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais também sejam atendidas.
Não é possível garantir liberdade sem contemplar a autonomia, que, por sua vez,
leva à emancipação e ao pleno desenvolvimento dos sujeitos na sua complexidade.
A dimensão ética e política que envolve os valores de liberdade, autonomia e
emancipação dos sujeitos é repleta de contradições e desafios que, muitas vezes,
podem parecer impossíveis de serem alcançados em uma realidade excludente,
de políticas sociais precarizadas, fragmentadas e paliativas.
Mas é de suma importância que esses desafios sejam percebidos como meios
para construir possibilidades de enfrentamento. A pobreza, o desemprego, a
falta de recursos públicos e de políticas sociais efetivas, ao mesmo tempo que se
colocam como obstáculos para a garantia da liberdade dos sujeitos, tornam-se o
fundamento para que os sujeitos resistam e enfrentem esses problemas coletiva-
mente. É por isso que a defesa da liberdade pressupõe a autonomia, pois, mesmo
que os sujeitos sejam explorados e tenham seus direitos violados, o assistente
social pode colocar-se como instrumento de conscientização dos sujeitos a par-
tir de suas próprias experiências.
Em outras palavras, a liberdade não é alcançada apenas como a conquista de
questões materiais e objetivas, do mesmo modo que a autonomia não se reduz a
possibilidade do sujeito ter renda suficiente para não depender de benefícios e
programas sociais. Liberdade e autonomia pressupõem a construção da consci-
ência coletiva dos sujeitos, a fim de garantir que esses façam escolhas conscientes
sobre si e transformem suas vidas. Segundo CFESS (2005, p. 48):
Ter liberdade é fazer escolhas conscientes, é deixar de ser mero receptor de políti-
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cas e serviços para se tornar sujeito do processo. Desse modo, os sujeitos passam
a agir eticamente e têm a possibilidade de questionarem questões que até então
eram tidas como naturais e definitivas. Pobreza, violência, fome e desemprego
passam a ser objetos de análise crítica e reflexiva dos sujeitos que sofrem, quo-
tidianamente, com essas mazelas.
Desse modo, a liberdade é central para a superação dos desafios cotidianos
e deve ser exercida por meio do respeito pelos usuários, suas angústias, neces-
sidades e potencialidades. Do posicionamento crítico e munido de referencial
teórico prático para impedir que o exercício profissional se frustre com a falta
de recursos públicos, descaso dos agentes públicos, falta de estrutura de trabalho
e de equipe técnica que acabam limitando o assistente social e tornando a prá-
tica profissional pontual e imediatista. Conforme Paiva e Salles (2001, p.183):
O assistente social comprometido com a construção e a difusão da li-
berdade não sucumbe, porém a este “vão combate”, mas faz da necessi-
dade o campo de criação e do sonho da liberdade como realidade. Isto
significa que o profissional aposta e é capaz de empreender sua ação
como uma unidade entre a autonomia e direção.
qual é sua real finalidade. Desse modo, a finalidade dessas declarações prioriza
a garantia de direitos a partir da perspectiva liberal, a qual, segundo Vinagre
(apud MÉSZÁROS, 2011, p. 115):
Trata os direitos humanos nos postulados legalistas – formais. Esta vi-
são ancorada na teoria liberal, leva à ficção legal da igualdade, ao nível
de direitos concebidos abstratamente, em que um contexto que contra-
ditoriamente inviabiliza os direitos humanos que defende estabelecer.
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direitos e deveres. Mas, quando transferimos essa concepção para a prática social,
verificamos que as contradições e desigualdades sociais e econômicas tornam
inviáveis a efetiva defesa dos direitos humanos para todos os cidadãos. Vinagre
(2011, p. 115) apresenta que
Para Marx, a possibilidade de superação dessa ‘contradição insolúvel’
se coloca no interior da prática social, na luta pela extinção do direito
burguês à perspectiva exclusiva. Fora deste horizonte, os direitos de
liberdade e todos os demais direitos humanos se tornam irrealizáveis
plenamente. Por isso, nada se resolve apenas pela proclamação dos
direitos [...] a conquista de direitos proclamados legalmente só ganha
significado estratégico na medida em que se consegue introduzir pro-
fundamente a luta por direitos no corpo da sociedade civil.
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já analisados.
Vamos iniciar a análise desse princípio realizando a seguinte pergunta: o que
é ser cidadão? Se você fosse responder a essa pergunta será que teria a resposta
na ponta da língua? Talvez, responderia que ser cidadão é ter direitos e deve-
res, tem certidão de nascimento, RG e CPF, paga seus impostos, não comete
crimes, não deve nada a ninguém, participa das eleições a cada quatro anos,
cumpre suas obrigações de filho, filha, pai, mãe, tio ou avó, trabalha etc. Pode
ser que sejam essas as primeiras impressões que tomam sua consciência para
responder essa pergunta.
O que não é errado, porque sempre partimos da aparência, daquilo que
vivemos e aprendemos na nossa relação com os sujeitos para responder aos ques-
tionamentos de forma imediata. Mas, como futuro(a) assistente social que tem
clareza de que a concepção ético-política e teórico-metodológica explica que
vivemos em uma realidade excludente e desigual e que, para alcançar a liber-
dade, autonomia e emancipação, só será possível se questionarmos a realidade
vigente, será que ser cidadão continuaria a ser respondido com essas primeiras
impressões? Acreditamos que não.
O princípio da cidadania, como todos os outros, carrega em si interesses de
classe e disputa entre Projetos Societários antagônicos. Assim, a defesa da cida-
dania em uma realidade capitalista não é a mesma cidadania defendida pela
classe trabalhadora. Sabemos que do ponto de vista jurídico formal, a cidadania
envolve os direitos civis, políticos e sociais, e todo sujeito é considerado cidadão
– perante a lei – porque tem direito a esses direitos.
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uma consulta ou por conseguir uma vaga na creche do bairro. Essa perspectiva
é comumente defendida por aqueles que querem manter a sociedade da forma
como está, o que, além de não resolver o problema, desconsidera as múltiplas
determinações que envolvem a alienação dos sujeitos.
A plena realização da cidadania se identifica, pois, com o projeto so-
cietário com o qual estamos comprometidos. Daí, por que não pode-
mos nos restringir à referência de cidadania posta pelos parâmetros
de ordem civil e política liberal, que é aquela que se contenta com um
limite mínimo (precaríssimo) para a satisfação das necessidades bási-
cas dos indivíduos, principalmente no que tange aos trabalhadores. Os
assistentes sociais não têm que se orientar por esse limite, e, sim, lutar
para que o nível de possibilidade de atendimento das necessidades dos
trabalhadores e dos usuários do serviço social seja amplo, ambicionado
a contemplação integral dos direitos sociais, e não aquela cidadania que
se esgota nas cestas básicas, na entrega de leite, ou simplesmente em
um vale. Não que esses benefícios não sejam considerados importan-
tes. Temos, inclusive, como categoria profissional, protagonizado toda
uma luta e defesa pela assistência social como política pública, porém
não a pleiteamos descontextualizada das demais políticas sociais (PAI-
VA; SALLES, 2001, p. 187).
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De acordo com Paiva e Salles (2001, p. 188):
Para além da democracia política, consentida e tolerada pela ordem li-
beral burguesa, a democracia que queremos reclama igualdade de aces-
so e oportunidades para que todos os indivíduos tenham direito a um
trabalho e existência dignos, a condições de moradia, saúde, educação,
lazer e cultura. Esse tipo de democracia todavia, não cabe dentro dos
objetivos e limites da sociedade burguesa, porque tal conteúdo social
contraria o núcleo de relações fundantes da acumulação capitalista, a
qual se estrutura a partir da exploração de uma classe sobre a outra.
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Por isso, o assistente social que age democraticamente respeita a identidade dos
sujeitos, aceita ouvi-los e trabalha em unidade, em colaboração com as suas
reais necessidades, não decide nada sozinho, mas prioriza as decisões coletivas.
Segundo Paiva e Salles (2001, p. 190):
Com apoio de recursos críticos e criativos, o Serviço Social pode inves-
tir em uma tendência de autodesenvolvimento dos indivíduos sociais,
capaz de conferir nova direção social às suas atividades - de planeja-
mento, formulação e implementação das políticas sociais - incluindo
aquelas partilhadas com outros atores.
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Nesse sentido, as políticas não podem confundir equidade com privilégios,
mas devem priorizar a população e os sujeitos que sofrem mais violentamente
com o processo de exploração capitalista. Essa questão levanta debates quanto
às cotas raciais, os programas de transferência de renda e as vagas destinadas a
pessoas com deficiência e os programas de inclusão social.
São temas que sempre geram debate no interior da categoria e da sociedade
como um todo; expressam, de um lado, a visão individualista e neoliberal de
quem acredita que todos devem ter o mesmo direito à igualdade, mas que des-
considera a desigualdade criada pelo próprio processo de acumulação, que, por
sua vez, impulsiona visões preconceituosas perante os problemas sociais que
são coletivos. E de outro, a perspectiva que está articulada com o Projeto Ético-
Político que entende a equidade e a igualdade enquanto eixos estruturantes de
práticas que buscam superar a dívida histórica com essas populações a fim de
garantirem a igualdade de oportunidades. Essa perspectiva não secundariza as
necessidades de todos os cidadãos, uma vez que todos sofrem com a desigual-
dade, todos pagam altos impostos e recebem péssimos serviços públicos.
quais suas angústias e problemas, a fim de garantir que cada cidadão tenha seu
direito sem excluir a dimensão coletiva e universal da igualdade.
Aliada à equidade, temos a defesa da justiça social que pressupõe o acesso
dos cidadãos ao direito que é deles por direito. Pode parecer redundante, mas
a conquista por direitos sociais foi um processo árduo e moroso, no caso bra-
sileiro, tivemos o reconhecimento oficial de que é dever do Estado e direito de
todos à saúde, educação, assistência social, previdência, habitação e outros na
Constituição Federal de 1988.
A partir dessa data, travamos a luta constante em busca de justiça social, rei-
vindicando que temos de fato saúde pública e universal de qualidade, acesso e
permanência na educação pública, assistência social, trabalho e previdência. Lutar
por justiça social faz parte do cotidiano do assistente social e deve ser imperativo
para que o Projeto Ético-Político caminhe cada dia rumo a sua concretização.
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efetivas desse movimento no Serviço Social.
Entre esses produtos, destacam-se o III Congresso Brasileiro de Assistentes
Sociais, em 1979, que redirecionou o compromisso político da profissão; a
criação da Associação Nacional de Assistentes Sociais (ANAS), em 1983, a
entidade sindical autônoma da categoria; a aprovação do currículo mínimo
pelo Ministério da Educação (MEC), em 1982; o Novo Código de Ética Profis-
sional, em 1986, e a sua reformulação, em 1993, que incorporou o compro-
misso profissional da categoria com a democracia, a liberdade e a justiça so-
cial; e a mudança, em 1993, da Lei de Regulamentação da profissão de 1957,
que garantiu competências e atribuições privativas do assistente social.
Fonte: Serra (2007, p. 01).
excluídos, que mulheres são exploradas por homens e idosos são desnecessários
para a sociedade produtiva e competitiva. A questão principal é que o precon-
ceito não está subsidiado por uma reflexão ética sobre a vida social e, por isso,
aceita qualquer posicionamento como sendo real, verdadeiro e impossível de
ser modificado.
Desse modo, a reflexão ética deve ser priorizada na prática social do assistente
social, o que exige que o assistente social reflita sobre suas questões morais, religio-
sas e pessoais em detrimento de valores que estejam alinhados com a preocupação
em garantir a liberdade, igualdade, emancipação e autonomia dos sujeitos sociais
livres. Essa preocupação não aceita que posicionamentos pessoais em relação à
cor, raça, etnia, gênero, opção sexual e religião impeçam a garantia de direitos
e o respeito integral aos sujeitos. De acordo com Paiva e Salles (2001, p. 194):
Não ceder aos argumentos ‘fáceis’ e preconcebidos é uma das primeiras
atitudes do sujeito consciente no embate contra os preconceitos. Um
anteparo nessa luta é a construção de uma confiança em ideias e con-
vicções que ultrapassem a nossa particularidade individual e, conse-
quentemente, nossos interesses egoísticos. É preciso ainda que se acre-
dite na capacidade de conhecimento e da experiência em refutar ideias
que outrora acalentamos.
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É por isso que o assistente social tem seu código de ética fundamentado em
valores que defendam a liberdade coletiva dos cidadãos e, para tanto, não aceita
práticas preconceituosas que impõem a lei do mais forte sobre o mais fraco ou
que estabelecem respostas à problemas sociais a partir de ideias preconcebidas
sem antes refletir eticamente sobre os dilemas presentes. De acordo com Paiva e
Salles (2001, p. 192): “só poderemos nos libertar dos preconceitos se assumirmos
corajosamente o contínuo processo de desalienação, o que equivale na formula-
ção de Gramsci à superação do senso comum”.
Para eliminar todas as formas de preconceito, é de suma importância que o
assistente social reflita se os valores que têm praticado são pautados em concep-
ções abstratas e imediatas do senso comum ou são feitos a partir de uma reflexão
ética, crítica e que responda efetivamente a questões sociais e coletivas na garan-
tia do respeito e do direito de todos.
construído e respeitado por toda a categoria profissional, porém isso não sig-
nifica que o debate de ideias divergentes não estejam presentes. Ao contrário, a
maturidade profissional e o enfrentamento às demandas cotidianas só serão efe-
tivados a partir da construção coletiva subsidiada pelo debate, pelo confronto de
ideias, buscando alcançar um denominador comum em prol do fortalecimento
da categoria e da prática profissional. Segundo Paiva e Salles (2001, p. 97):
Defendemos, pois, uma concepção de pluralismo com hegemonia, o
que é diferente de supremacia: quando a predominância de determi-
nada posição teórico-prática não admite controvérsias nem o fluxo da
polêmica, enfim, não admite o debate.
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exerça uma prática profissional articulada com
o processo de pesquisa e reflexão teórico crítica
acerca dos problemas do cotidiano.
Não é a teoria que responde aos problemas da ©shutterstock
prática, mas é a partir da prática, do cotidiano que o assistente social tem a pos-
sibilidade de construir teoricamente respostas para enfrentar os problemas. É a
realidade que suscita a teoria, a partir dela que as questões se apresentam, por isso,
precisamos de método para analisá-las e transformá-las em respostas.
A teoria marxista permite compreender os problemas da realidade a par-
tir de sua essência, partindo das categorias analíticas de totalidade, mediação e
contradição. O assistente social pode buscar investigar e oferecer respostas com-
petentes e de qualidade para as demandas dos usuários.
A qualidade e a competência então se relacionam com o constante aprimoramento
técnico e intelectual do assistente social, colocando a tarefa de continuar estudando,
pesquisando, participando de seminários, congressos e fóruns da categoria, de ingres-
sar em cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado, de priorizar no cotidiano
de trabalho um tempo para refletir e analisar as ações e atendimentos que realizou.
Desse modo, superamos os valores produtivistas que são difundidos pelo
intenso processo de produção neoliberal que vive na busca constante por resul-
tados, mas que não considera a qualidade dos atendimentos, que intensifica a
prática profissional em detrimento de uma equipe de trabalho reduzida e com inú-
meras atribuições para cumprir em um único dia de trabalho. Para superar esses
desafios, é obrigatório que a qualidade nos serviços prestados esteja diretamente
relacionada com o constante processo de aperfeiçoamento intelectual e técnico.
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Por isso, os assistentes sociais devem se respeitar como colegas e parceiros
de trabalho, independente de processos que incentivem a competição e o mérito.
Mas, acima de tudo, devem buscar a colaboração, a humildade e a eliminação de
qualquer forma de preconceito contra raça, etnia e gênero, os quais são imperati-
vos para garantir o fortalecimento da categoria profissional diante dos inúmeros
problemas que a realidade social nos impõe.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
1. Por que os princípios são importantes para compreender o código de ética pro-
fissional?
2. Qual é o ideal de liberdade que é defendido pelos princípios fundamentais?
3. Por que o assistente social precisa buscar eliminar as formas de preconceito?
141
O Projeto Profissional, continua Netto (2001), deve ser construído por toda a catego-
ria profissional: assistentes sociais em seus respectivos campos de exercício profissio-
nal, pesquisadores, docentes, estudantes, organismos corporativos e sindicais. Além de
seus aspectos normativos, traduzidos, sobretudo como direitos e deveres, esse projeto
carrega também as escolhas teóricas, ideológicas e políticas da categoria profissional.
Após essa diferenciação entre Projetos Societários e Projetos Profissionais, Netto (2001)
defende que uma indicação ética só adquire efetividade histórico-concreta quando se
combina com uma direção político-profissional, uma sociedade a ser construída.
Nessa perspectiva, a direção ética proposta pelo Serviço Social está centrada, sobretu-
do, em um projeto político em que a consciência do humano-genérico se sobreponha
à liberdade individual que orienta valores e escolhas alienadas na sociedade burguesa.
E ainda que a categoria profissional dos assistentes, na contemporaneidade, propõe-se
a orientar as ações profissionais sob o princípio da liberdade como valor ético central,
o que impõe necessariamente a criticidade com relação aos valores burgueses que coí-
bem a explicitação da consciência humano-genérica.
(...)
Lacerda (2005) entrevista assistentes sociais de áreas diversificadas a fim de verificar
como esses profissionais realizavam a leitura do Projeto Profissional do Serviço Social. A
autora atenta que não pretende classificar os profissionais em categorias como “conser-
vadores” ou “revolucionários”, mas sim absorver a compreensão que esses têm de ele-
mentos fundamentais e centrais do Projeto Ético-Político.
Uma das questões presentes nas entrevistas realizadas por Lacerda (2005) referia-se à
liberdade. A autora procurou questionar o que era liberdade para o profissional. Como
já evidenciado, as reflexões sobre a liberdade, na sociedade burguesa contemporânea
não ultrapassam o marco individualista do Estado burguês.
Ao contrário, nesse marco a reflexão sobre liberdade está associada apenas a alguns dos
direitos de cidadania como ir e vir e liberdade de expressão. É esta concepção predomi-
nante sobre liberdade entre os profissionais que foram sujeitos de pesquisa de Lacerda.
Assim, dentre esses profissionais, como se constata em Lacerda (2005), compreende-se
que a liberdade:
[...] está vinculada com o respeito que você tem com o próximo dos limi-
tes da vida [dele], da sua ação, porque você ter limite é você ter respeito
pelo outro. Então, se eu quero que você respeite o meu espaço, tenho
que respeitar o seu também. Então, a liberdade é até mesmo onde co-
meça a do outro. Eu não posso invadir o seu espaço. [...] Respeitar o limite
do outro, respeitar o desejo dele, se ele quer se expor ou não. Concordo.
Tenho que ter liberdade até no limite de não estar prejudicando o espa-
ço do outro (p. 66-67).
143
É assim que a compreensão do sentido dos direitos humanos no quadro dos Estados de
Bem-Estar Social requer uma análise do significado histórico e das transformações ocor-
ridas no Estado Liberal e a própria consolidação das práticas democráticas “A Luta pelo
Estado de Direito” foram preponderantes, trazendo maior clareza sobre a democracia
política do que a democracia social. Sem dúvida, as organizações contêm espaços de
exercício e democracia direta participativa e de controle social.
Os discursos da categoria (Assistente Social) são laudatórios a tais práticas e não há uma
postura política coletiva que lhe seja defensiva em situações concretas . À discussão
sobre a ampliação da dimensão política da democracia deve ser incorporado um outro
elemento de igual importância: a condição sócio-econômica dos atores sociais que es-
tão envolvidos no jogo democrático.
Além da elevação do número de eleitores e das instâncias onde eles devem exercer o
seu direito de voto, é preciso levar em conta o crescimento qualitativo do eleitorado, no
que diz respeito ao seu nível de vida, de escolarização e às condições objetivas de parti-
cipar das decisões políticas, dos processos administrativos e de exercer o controle sobre
os seus representantes. O crescimento da exclusão social e da miséria, com as políticas
de ajuste estrutural realizadas a partir dos anos 80 do século XX, fez crescer o debate
sobre a cidadania e os direitos humanos.
Dessa forma, sob a interpelação da nova direita neoliberal, o debate contemporâneo
obrigou a uma redefinição do campo progressista, ampliando-se e mostrando em que
medida existe um tensionamento em sociedades cada vez mais complexas, plurais, di-
versificadas e conflitivas.
Por um lado, a exigência de relações democráticas – um alto grau de democracia – para
dar conta desses múltiplos conflitos, complexidades e diversidades. Por outro lado, a
colocação em xeque da própria institucionalidade democrática.
E isso abre todo um campo de reflexão sobre os sujeitos sociais, a democracia e os direi-
tos humanos como prática sociopolítica. A política social no interior da cultura sóciopo-
lítica e econômica brasileira terminam mais por constituir propostas fragmentadas de
atenção à pobreza do que por garantir direitos sociais dentro de um sistema universal
de proteção social.
As análises da construção da democracia e dos direitos sociais como as cidadanias são
essenciais para o posicionamento profissional do Assistente Social. É preciso que se tra-
balhe com uma concepção de direito social em contraposição àquela do direito positivo.
A sociedade democrática institui direitos pela abertura do campo social à criação de
direitos reais, à ampliação de direitos existentes e à criação de novos direitos. A demo-
cracia é a sociedade verdadeiramente histórica, isto é, aberta ao tempo, ao possível, às
transformações e ao novo. Por isso mesmo, a democracia é aquela forma da vida social
que cria para si própria um problema que não pode cessar de resolver, porque a cada so-
lução que encontra, reabre o seu próprio problema, qual seja, a questão da participação.
O movimento de construção democrática no Brasil foi atropelado pela lógica neoliberal
a partir dos anos 90, agravando a questão social, notadamente nas áreas urbanas, quan-
do ganham centralidade as políticas para as cidades.
É, portanto, nas cidades que a questão social concentra as mais dramáticas expressões,
como o desemprego, a precarização das relações de trabalho, a insegurança social, a
violência urbana. E também o aumento da repressão oficial sobre os pobres, a atuali-
zação de práticas higienistas, a retomada da ideia de classes perigosas, que é uma no-
ção que remonta à transição do século passado no Brasil [...] O conceito de democracia
inercial é usado para referir-se à democracia brasileira, onde há uma modernização das
instituições políticas, uma evolução das leis, das regras, no sentido poliárquico.
Contudo, pouco ou nada evolui na dimensão social, ou seja, é uma democracia inercial
que apresenta as seguintes características: a) políticas econômicas que não favorecem
as massas excluídas e que mantêm o desemprego inalterado e estagnado; b) uma cultu-
ra híbrida (misturada) que institucionaliza um comportamento de resignação e hostili-
dade com a política. Esta cultura política de resignação e hostilidade traduz-se em uma
cultura de desconfiança generalizada em relação à política, assim como nas relações
interpessoais na base da sociedade. O problema deste tipo de configuração cultural é
que ele impede o funcionamento da democracia.
[...]
Fonte: Martins; Rodrigues et.al (2014, p.4-7).
MATERIAL COMPLEMENTAR
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Para saber mais sobre a construção do Projeto Ético-Político do Serviço Social, leia o
artigo de Netto (1996), intitulado “A construção do Projeto Ético-Político do Serviço
Social”.
Disponível em: < http://welbergontran.com.br/cliente/
uploads/4c5aafa072bcd8f7ef14160d299f3dde29a66d6e.pdf>.
No link a seguir, você fica por dentro do debate da categoria profissional no congresso
sobre a questão da diversidade trans.
Disponível em: <http://www.cfess.org.br/js/library/pdfjs/web/viewer.html?pdf=(a)
rquivos/2015-CfessManifesta-SeminarioTrans.pdf>
No link a seguir, você fica informado sobre a campanha de gestão e Dia Internacional
dos Direitos Humanos.
Disponível em: <http://www.cfess.org.br/js/library/pdfjs/web/viewer.html?pdf=/
editor/..(a) rquivos/cfessmanifesta2012_campanhagestao_SITE.pdf>.
Professora Esp. Rafaela Cristina Bernardo
IV
O CÓDIGO DE ÉTICA
UNIDADE
PROFISSIONAL DO
ASSISTENTE SOCIAL DE 1993
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender o Código de Ética Profissional do Assistente Social de
1993.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A construção do Código de Ética Profissional de 1993
■■ O Código de Ética Profissional de 1993
151
INTRODUÇÃO
1986, que se encontra em vigor até os dias atuais. O Código de 1993 entrou em
vigou por meio da Resolução 273/93 e mostra também o amadurecimento da
categoria profissional. Nesta oportunidade, procuraremos comentar com cari-
nho e profundidade esse documento.
Veremos nas próximas páginas: os direitos e as resposnabilidades do assis-
tente social; os deveres do assistente social; apresentaremos, também, como se
dá as relações do assistente social junto aos usuários, às instituições emprega-
doras, com os colegas assistentes sociais e outros profissionais.
Um outro aspecto que falaremos com atenção é o sigilo profissional, o qual
daremos continuidade em nossa Mídia Interativa Digital (MID). Finalizaremos
com a reflexão sobre a relação do profissional do serviço social com a justiça,
infrações disciplinares, penalidades, cumprimento e aplicação do Código de Ética.
Ao final deste material, você terá na íntegra o Código de Ética de 1993,
importantíssimo que você o tenha sempre em mãos, leia, releia, consulte sem-
pre que estiver com dúvidas, pois ele guiará a sua jornada profissional e, a partir
do estágio, ele já estará te norteando.
Boa leitura!!!!
Introdução
152 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Foi necessário realizar a revisão do código de 1986 tendo em vista que o
contexto social, político e econômico, bem como do desenvolvimento teórico
crítico da categoria profissional estavam em constante efervescência, exigindo
que algumas fragilidades sejam corrigidas para garantir que o código alcançasse
o ser e o fazer profissional. Segundo Paiva e Salles (2001, p. 176 - 177), as prin-
cipais limitações do Código de Ética de 1986 que precisaram ser revisadas no
Código de Ética de 1993 envolvem :
[...] No Código de Ética de 1986, havia, pois, um privilégio das ins-
truções teórico-metodológicas de como conduzir a prática profis-
sional: dever-se-ia, por exemplo priorizar o trabalho com grupos, em
equipes, de forma coletiva. Tinha-se quase um como fazer, e não do
que se deve ou não se deve fazer frente aos compromissos assumidos.
[...] Tratava-se de um documento muito datado, na medida em que
possuía um forte traço conjuntural. Este dado significa que, ao des-
colar, de certa forma, a atenção da totalidade da prática profissional
– em razão daquele contexto de profundas esperanças democráticas,
esse Código acabou perdendo em eficácia, porque não considerou
a singularidade da intervenção profissional. [...] Ele vai apresentar
uma leitura marcadamente idealista e voluntarista no que tange ao
potencial político da profissão. Isto quer dizer que, se foi uma conquista
descobrir e atentar para dimensão política na prática, por outro houve
um excesso de ênfase no aspecto político e também de ideologização
no Código de Ética.
Nesse sentido, o Código de Ética de 1993 tentou corrigir essas questões, buscando
garantir mais eficácia e legitimidade ao Código de Ética frente aos desafios colo-
cados pela realidade social. É importante salientar que o Código de 1986 foi uma
importante conquista para a categoria profissional, uma vez que impulsionou a
Vamos dar início à apresentação do Código de Ética de 1993, para isso, vamos
utilizar o texto aprovado em 13 de março de 1993 com alterações introduzidas
pelas Resoluções CFESS nº 290/94, 293/94, 333/96 e 594/11. No final de cada
Título, faremos a análise das normativas.
O Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993 é instituído pela
Resolução 273/93.
TÍTULO I
Disposições gerais
Art.1º Compete ao Conselho Federal de Serviço Social:
a. Zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, fiscalizando as
ações dos Conselhos Regionais e a prática exercida pelos profissionais, institui-
ções e organizações na área do Serviço Social;
b. Introduzir alteração neste Código, por meio de uma ampla participação da catego-
ria, em um processo desenvolvido em ação conjunta com os Conselhos Regionais;
c. Como Tribunal Superior de Ética Profissional, firmar jurisprudência na observân-
cia deste Código e nos casos omissos.
§ único: Compete aos Conselhos Regionais, nas áreas de suas respectivas jurisdi-
ções, zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, e funcionar
como órgão julgador de primeira instância.
ANÁLISE: A partir das disposições gerais, verificamos que o Conselho Federal de
Serviço Social (CFESS) é o órgão máximo de deliberação da categoria profissional,
entretanto, ele respeita o princípio democrático de participação por meio das ins-
tâncias do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
“A finalidade social desses órgãos de fiscalização diz respeito, exatamente,
à sua atribuição precípua de fiscalizar o exercício profissional. Tal atribuição
tem alcance social, pois objetiva garantir a qualidade técnica e ética dos ser-
viços prestados à população, bem como a defesa da profissão, posto que
representa um bem disponível ao seu usuário. Nesta medida, as profissões
de nível técnico superior devem estar a serviço da sociedade, atendendo as
necessidades sociais”.
Fonte: CFESS (2005, p. 24).
TÍTULO II
Dos direitos e das responsabilidades gerais do(a) assistente social
Art. 2º Constituem direitos do(a) assistente social:
Garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de Regu-
lamentação da Profissão e dos princípios firmados neste Código;
a. Livre exercício das atividades inerentes à Profissão;
b. Participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na formula-
ção e implementação de programas sociais;
c. Inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação, ga-
rantindo o sigilo profissional;
d. Desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;
e. Aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos prin-
cípios deste Código;
Essas questões são fundamentais para garantir o respeito e a defesa da prática pro-
fissional voltada para o atendimento das demandas da classe trabalhadora frente
aos obstáculos colocados pelo Estado neoliberal, pela escassez de recursos e assé-
dio político diante da prática do assistente social na sua relação com os usuários.
A partir desses direitos, o assistente social não deve aceitar imposições que são con-
trárias aos princípios éticos defendidos pelo Código e, por isso, deve denunciar caso
algum direito seja violado, sendo o violador passível de punição.
Art. 3º São deveres do(a) assistente social:
a. Desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade,
observando a legislação em vigor;
b. Utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da Profissão;
c. Abster-se, no exercício da Profissão, de práticas que caracterizem a censura, o
cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando
sua ocorrência aos órgãos competentes;
d. Participar de programas de socorro à população em situação de calamidade pú-
blica, no atendimento e defesa de seus interesses e necessidades.
ANÁLISE: Os deveres do assistente social expressam o compromisso ético-político com
a qualidade dos serviços e o respeito aos usuários. É importante destacar a importância
da utilização do registro profissional, esse registro é tirado assim que o estudante de
Serviço Social receber o diploma, ele deve, então, solicitar o registro junto ao CRESS e só
pode exercer a prática profissional após ter recebido o número de registro profissional.
O registro é obrigatório, pois permite que qualquer usuário atendido pelo assisten-
te social possa fiscalizar a sua prática ao mesmo tempo que resguarda as ações do
assistente social. A prestação de socorro à população em situação de calamidade
pública é independente da atuação profissional do assistente social em uma área
específica. Em outras palavras, caso haja uma situação de calamidade pública é de-
ver do assistente social se dispor a colaborar no atendimento dos usuários mesmo
que não trabalhe diretamente com a questão.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nais;
e. Permitir ou exercer a supervisão de aluno(a) de Serviço Social em Instituições Pú-
blicas ou Privadas que não tenham em seu quadro assistente social que realize
acompanhamento direto ao(à) aluno(a) estagiário(a);
f. Assumir responsabilidade por atividade para as quais não esteja capacitado(a)
pessoal e tecnicamente;
g. Substituir profissional que tenha sido exonerado(a) por defender os princípios
da ética profissional, enquanto perdurar o motivo da exoneração, demissão ou
transferência;
h. Pleitear para si ou para outrem emprego, cargo ou função que estejam sendo
exercidos por colega;
i. Adulterar resultados e fazer declarações falaciosas sobre situações ou estudos
de que tome conhecimento;
j. Assinar ou publicar em seu nome ou de outrem trabalhos de terceiros, mesmo
que executados sob sua orientação.
ANÁLISE: As ações que são vedadas dizem respeito àquilo que é terminantemen-
te proibido, o que o assistente social não deve fazer. A proibição visa garantir o
respeito dos assistentes sociais com os colegas de trabalho, garantindo a conduta
profissional ética e coerente com os princípios éticos, também busca defender a
legitimidade da categoria enquanto sujeitos que influem diretamente na vida das
pessoas.
Do mesmo modo que uma pessoa sem formação em medicina é proibida de exercer
atividades clínicas, o assistente social não deve ser flexível com pessoas que buscam
substituir as competências exclusivas do assistente social, por isso mesmo a preocu-
pação em impedir que o assistente social não tenha conhecimento suficiente para
exercer uma determinada ação ou assinar e publicar trabalhos de outras pessoas.
Segundo Barroco e Terra (2011, p. 116).
Lembre-se tudo que fazemos tem intervenção direta na vida das pessoas, as pesqui-
sas que realizamos influem na vida de crianças, mulheres, famílias, idosos, pessoas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
com deficiência etc. De modo geral, devemos nos preocupar com a nossa conduta
e com a categoria profissional como um todo.
TÍTULO III
Das relações profissionais
CAPÍTULO I
Das Relações com os(as) Usuários(as)
Art. 5º São deveres do(a) assistente social nas suas relações com os(as) usuá-
rios(as):
a. Contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuária nas
decisões institucionais;
b. Garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades, consequências,
das situações apresentadas, respeitando democraticamente as decisões dos(as)
usuários(as), mesmo que sejam contrárias aos valores e às crenças individuais
dos(as) profissionais, resguardados os princípios deste Código;
c. Democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço
institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos(as)
usuários(as);
d. Devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos(às) usuários(as),
no sentido de que estes possam usá-los para o fortalecimento dos seus interes-
ses;
e. Informar à população usuária sobre a utilização de materiais de registro au-
diovisual e pesquisas a elas referentes e a forma de sistematização dos dados
obtidos;
f. Fornecer à população usuária, quando solicitado, informações concernentes ao
trabalho desenvolvido pelo Serviço Social e as suas conclusões, resguardado o
sigilo profissional;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
devendo facilitar o acesso aos serviços e garantindo que a população participe ati-
vamente do desenvolvimento de programas, projetos e políticas.
Nesse sentido, é imperativo ao assistente social ser instrumento de participação e de-
mocratização do acesso aos direitos sociais, universalizando as informações a fim de
tornar os sujeitos conscientes e críticos sobre seus direitos e deveres na sociedade.
ANÁLISE: Além de proibir práticas que não respeitem a decisão coletiva dos usuá-
rios, observamos que o assistente social não pode impedir que os cidadãos acessem
os seus direitos ou cercear a liberdade de escolha e de opinião.
Por isso é obrigatório que o assistente social procure socializar o máximo de infor-
mações possíveis sobre os direitos sociais, bem como as políticas e meios de acesso
aos serviços. Caso contrário, estará violando o código de ética e, principalmente,
impedindo que cidadãos tenham a possibilidade de superar a condição de pobreza,
exclusão social e de direitos sociais básicos, como saúde e educação.
CAPÍTULO II
Das Relações com as Instituições Empregadoras e outras
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
estatutos definidos pelas instituições, mas é demandado para atender as necessida-
des da população usuária, além de possuir princípios éticos legais que não corrobo-
ram com práticas que venham a prejudicar o desenvolvimento de políticas sociais
justas, igualitárias e equitativas que garantam a justiça social e a democracia.
Diante dessas questões, o código de ética resguarda ao assistente social o direito
de defender os interesses dos usuários, o que implica a denúncia de práticas que
violem tais direitos.
Art. 9º É vedado ao/à assistente social:
a. Emprestar seu nome e registro profissional a firmas, organizações ou empresas
para simulação do exercício efetivo do Serviço Social;
b. Usar ou permitir o tráfico de influência para obtenção de emprego, desrespei-
tando concurso ou processos seletivos;
c. Utilizar recursos institucionais (pessoal e/ou financeiro) para fins partidários,
eleitorais e clientelistas.
ANÁLISE: A defesa pela legitimidade profissional exige que os próprios assistentes
sociais sejam íntegros e honestos com suas ações, somos uma profissão de nível
superior, com conhecimentos específicos e com atribuições privativas, ou seja, que
apenas o(a) assistente social pode exercer.
Nesse sentido, é inaceitável que o assistente social utilize sua profissão para burlar
normas e, principalmente, aproveitar-se para obter benefícios pessoais ou para ter-
ceiros.
CAPÍTULO III
Das Relações com Assistentes Sociais e outros(as) Profissionais
Art. 10 São deveres do(a) assistente social:
a. Ser solidário(a) com outros(as) profissionais, sem, todavia, eximir-se de denun-
ciar atos que contrariem os postulados éticos contidos neste Código;
b. Repassar ao seu substituto as informações necessárias à continuidade do trabalho;
c. Mobilizar sua autoridade funcional, ao ocupar uma chefia, para a liberação de car-
ga horária de subordinado(a), para fim de estudos e pesquisas que visem o apri-
moramento profissional, bem como de representação ou delegação de entidade
de organização da categoria e outras, dando igual oportunidade a todos(as);
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
b. Prevalecer-se de cargo de chefia para atos discriminatórios e de abuso de auto-
ridade;
c. Ser conivente com falhas éticas de acordo com os princípios deste Código e com
erros técnicos praticados por assistente social e qualquer outro(a) profissional;
d. Prejudicar deliberadamente o trabalho e a reputação de outro(a) profissional.
ANÁLISE: Abuso de autoridade e conivência com falhas antiéticas são inaceitáveis
em qualquer profissão, mas é preciso considerar que essas questões estão proibidas
ao assistente social. Na medida em que defendemos a qualidade na prestação de
serviços à população, isso perpassa pela conduta profissional coerente com essa
questão, não é possível garantir tal qualidade de serviços com práticas que violem
os princípios éticos do assistente social na sua relação com assistentes sociais e ou-
tros profissionais.
Das Relações com Entidades da Categoria e demais organizações da Sociedade
Civil
Art.12 Constituem direitos do(a) assistente social:
a. Participar em sociedades científicas e em entidades representativas e de organi-
zação da categoria que tenham por finalidade, respectivamente, a produção de
conhecimento, a defesa e a fiscalização do exercício profissional;
O dever de denunciar e não ser conivente é necessário para garantir a melhoria dos
serviços públicos e a própria proteção da autonomia do assistente social no cotidia-
no de trabalho.
CAPÍTULO V
Do Sigilo Profissional
Art. 15 Constitui direito do(a) assistente social manter o sigilo profissional.
Art. 16 O sigilo protegerá o(a) usuário(a) em tudo aquilo de que o(a) assistente so-
cial tome conhecimento, como decorrência do exercício da atividade profissional.
§ único: Em trabalho multidisciplinar só poderão ser prestadas informações dentro
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dos limites do estritamente necessário.
Art. 17 É vedado ao/à assistente social revelar sigilo profissional.
Art. 18 A quebra do sigilo só é admissível quando se tratarem de situações cuja gra-
vidade possa, envolvendo ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos interesses do(a)
usuário(a), de terceiros(as)e da coletividade.
§ único: A revelação será feita dentro do estritamente necessário, quer em relação
ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele devam tomar co-
nhecimento.
ANÁLISE: Lidamos no cotidiano de trabalho com usuários que nos trazem proble-
mas, angústias, dramas e muitas vezes problemas relacionados à violência sexual,
física, moral, psicológica, problemas econômicos, sociais, desemprego, fome etc.
Enfim, questões que são coletivas, mas que fazem parte da vida singular de sujei-
tos que têm família, amigos, vivem em comunidade com relacionamentos afetivos,
pessoais e profissionais.
Todas essas questões são objetos de investigação do assistente social no atendi-
mento aos usuários nos mais variados campos de trabalho, saúde, assistência, pre-
vidência, organizações não governamentais, empresas, escolas etc. E que exigem o
respeito, a privacidade dos usuários e o fortalecimento do vínculo entre assistente
social e sujeito, mas é de suma importância que o assistente social tenha consciên-
cia de que nem todas as informações colhidas podem ser divulgadas e que sejam
comentadas com outras pessoas. Principalmente quando essas pessoas não são
profissionais que possam contribuir para solução do problema apresentado.
Devemos salientar que, antes do direito ao sigilo, tanto assistente social quanto usuário
tem direito à privacidade, isso exige uma sala reservada para atendimentos, arquivo es-
pecífico para os relatórios do assistente social, de preferência que possam ser trancados
e evitar que as informações colhidas em entrevistas e questionários sejam divulgadas
em conversas entre amigos e familiares. Segundo Barroco e Terra (2011, p. 208):
Será que as redes sociais e a super exposição da vida pessoal das pessoas
pode ser um obstáculo para manter o sigilo profissional? Será que consegui-
mos separar a vida privada da vida profissional?
Fonte: a autora.
CAPÍTULO VI
Das Relações do(a) Assistente Social com a Justiça
Art. 19 São deveres do(a) assistente social:
a. Apresentar à justiça, quando convocado na qualidade de perito ou testemunha,
as conclusões do seu laudo ou depoimento, sem extrapolar o âmbito da compe-
tência profissional e violar os princípios éticos contidos neste Código;
b. Comparecer perante a autoridade competente, quando intimado(a) a prestar de-
poimento, para declarar que está obrigado(a) a guardar sigilo profissional nos
termos deste Código e da Legislação em vigor.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
De acordo com Barroco e Terra ( 2011,p.215):
Esta disposição reitera a vedação ao assistente social de depor como
testemunha sobre situação sigilosa do usuário que teve conhecimento
no exercício profissional. A proteção do sigilo profissional está consa-
grada no âmbito do direito à cidadania, sendo resguardada no Código
Penal e Civil. A defesa do sigilo profissional, portanto,é um dever do
assistente social e um direito do usuário.
Essa prática não deve ser realizada caso o assunto não seja da especialidade do as-
sistente social, por isso, apenas o assistente social pode realizar perícia social, emitir
parecer social e resguardar o direito do sigilo profissional perante a justiça.
TÍTULO IV
Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento deste Código
Art. 21 São deveres do(a) assistente social:
a. Cumprir e fazer cumprir este Código;
No dia a dia de trabalho, é importante que, antes de uma prática antiética ser ra-
dicalmente denunciada, o diálogo e a correção das falhas sejam priorizados, pois
muitas vezes a falta de controle e acompanhamento das ações leva a erros, mas,
quando se verifica que o ato antiético é consciente, frequente e inalterado, é preciso
que o assistente social recorra aos Conselhos Regionais para solicitar orientação
sobre como proceder diante da questão.
Muito além de instâncias de julgamento profissional, o CRESS tem a função peda-
gógica e está disponível para esclarecimento e orientação de dúvidas que podem
surgir no trabalho, na relação com os usuários, instituições e equipes.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
selho Regional ou Federal.
ANÁLISE: De acordo com Barroco e Terra (2011, p. 219):
[...] chamamos de infração disciplinar, genericamente, toda aquela vio-
lação que se baseia na atribuição especial que algum órgão ou entidade
detém sobre todos aqueles que se vinculam aos seus serviços, ativida-
des, regras de conduta profissional, submetendo-se, por imperativo le-
gal, à sua disciplina.
artigo 4º - alínea a, b, c, g, i, j;
artigo 5º - alínea b, f;
artigo 6º - alínea a, b, c; artigo 8º - alínea b;
artigo 9º - alínea a, b, c;
artigo 11 - alínea b, c, d;
artigo 13 - alínea b;
artigo 14;
artigo 16;
artigo 17;
§ único do artigo 18;
artigo 19 - alínea b;
artigo 20 - alínea a, b.
§ único: As demais violações não previstas no
“caput”, uma vez consideradas graves, autori-
zarão aplicação de penalidades mais severas,
em conformidade com o artigo 26.
Art. 29 A advertência reservada, ressalvada a hi-
pótese prevista no artigo 33 será confidencial,
sendo que a advertência pública, suspensão e a
cassação do exercício profissional serão efetiva-
das por meio de públicação no Diário Oficial e
em outro órgão da imprensa, e afixado na sede
do Conselho Regional onde estiver inserido(a)
o(a) denunciado(a) e na Delegacia Seccional do
CRESS da jurisdição de seu domicílio.
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Art. 30 Cumpre ao Conselho Regional a execução das decisões proferidas nos pro-
cessos disciplinares.
Art. 31 Da imposição de qualquer penalidade caberá recurso com efeito suspensivo
ao CFESS.
Art. 32 A punibilidade do assistente social, por falta sujeita a processo ético e disci-
plinar, prescreve em 5 (cinco) anos, contados da data da verificação do fato respec-
tivo.
Art. 33 Na execução da pena de advertência reservada, não sendo encontrado o(a)
penalizado(a) ou se este(a), após duas convocações, não comparecer no prazo fixa-
do para receber a penalidade, será ela tornada pública.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
§1º A pena de multa, ainda que o(a) penalizado(a) compareça para tomar conheci-
mento da decisão, será públicada nos termos do artigo 29 deste Código, se não for
devidamente quitada no prazo de 30 (trinta) dias, sem prejuízo da cobrança judicial.
§ 2º Em caso de cassação do exercício profissional, além dos editais e das
comunicações feitas às autoridades competentes interessadas no assunto, proceder-
se-á a apreensão da Carteira e Cédula de Identidade Profissional do(a) infrator(a).
Art. 34 A pena de multa variará entre o mínimo correspondente ao valor de uma
anuidade e o máximo do seu décuplo.
Art. 35 As dúvidas na observância deste Código e os casos omissos serão resolvidos
pelos Conselhos Regionais de Serviço Social “ad referendum” do Conselho Federal
de Serviço Social, a quem cabe firmar jurisprudência.
Art. 36 O presente Código entrará em vigor na data de sua públicação no Diário
Oficial da União, revogando-se as disposições em contrário;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro (a) aluno(a), chegamos ao final de mais uma etapa de estudos, mas não é
o final do processo de investigação e pesquisa sobre o tema. A discussão sobre
o código e sua aplicabilidade será uma prática constante no processo de estudos
e, principalmente, no cotidiano profissional.
Por isso, é importante que o Código seja compreendido como uma referên-
cia ético-política e teórico-prática que deve orientar o exercício profissional ético
e competente, comprometido com a prestação de serviços à sociedade visando
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Considerações Finais
1. Apresentar à justiça, quando convocado na qualidade de perito ou testemunha,
as conclusões do seu laudo ou depoimento, sem extrapolar o âmbito da compe-
tência profissional e violar os princípios éticos contidos neste Código. Isso é um
direito ou um dever do assistente social?
2. O artigo 23 coloca que as infrações a este Código acarretarão penalidades, des-
de a multa à cassação do exercício profissional, na forma dos dispositivos legais
e/ou regimentais. Quais são as penalidades aplicáveis?
3. Prevalecer-se de cargo de chefia para atos discriminatórios e de abuso de auto-
ridade é:
a. Um direito na relação do assistente social com profissionais e outras institui-
ções.
b. Vedado ao assistente social na relação com outros profissionais e instituições;
c. Vedado ao assistente social nas relações com Assistentes Sociais e outros(as)
Profissionais.
d. Um direito ao assistente social nas relações com Assistentes Sociais e ou-
tros(as) Profissionais.
173
Quer dizer, talvez não se trate de definir esquematicamente o que cabe à instituição e
o que cabe ao profissional, mas refletir anteriormente qual é o direito que está sendo
reclamado pelo demandante. E, nessa perspectiva, definir o limite do sigilo. Para Cene-
viva (1996, p.17), o dever ético cujo cumprimento é atribuído a uma pessoa em razão
de sua profissão lhe imputa uma atitude de “obter apenas a informação necessária para
o cumprimento da missão profissional, e não mais que isso”. Isso serve para pensar não
apenas a obtenção da informação, mas ainda a veiculação desta ao que for necessário
para o cumprimento do direito.
A resposta adequada para a pergunta “dizer ou não dizer?” é posterior à atitude pro-
fissional que a princípio deve procurar não ir além do que é necessário para o cumpri-
mento do objetivo profissional. Em algumas situações, a troca e o compartilhamento de
informações nem sempre se estabelecem entre profissionais que possuem a obrigação
do sigilo, sendo diferentes os papéis e as responsabilidades de cada um.
Por outro lado, geralmente o assistente social é um trabalhador assalariado em uma
instituição, inserido em uma equipe e em uma rede maior que tem outros profissionais,
outras instituições, que se articulam justamente por meio da colaboração e da comu-
nicação de informações. Nesse conjunto, o que pode ou não ser dito sem caracterizar
violação do sigilo profissional?
Esse cuidado deve ser orientado na comunicação restrita apenas ao necessário ao in-
teresse do direito do usuário, que deve estar de acordo ou, pelo menos, informado do
processo que segue, e dito a outro profissional que também esteja submetido ao sigilo
profissional. Isso pode gerar dúvidas sobre o que deve ser matéria de sigilo profissional.
E, principalmente, a seguinte reflexão: se a função social de uma informação fosse a
mesma, seria irrelevante se ela fosse colhida pelo policial, pelo advogado, pelo médico,
pelo assistente social ou pelo juiz.[...]
Fonte: Sampaio e Rodrigues (2014, p. 86 - 88).
A COMPETÊNCIA REFLEXIVA PROCESSUAL EM SERVIÇO SOCIAL NA AÇÃO PROFIS-
SIONAL JUNTO ÀS POPULAÇÕES.
RESUMO: Este artigo resulta de pesquisa etnográfica desenvolvida em Portugal, Brasil e
Canadá sobre a atividade profissional dos assistentes sociais e se centra nos aspectos re-
lacionados ao saber que se mobiliza na interação junto às populações. A atividade pro-
fissional dos assistentes sociais responde a problemas vividos por indivíduos de forma
singular, mas que decorrem do funcionamento das estruturas socioeconômicas e polí-
ticas e de seus sistemas que influenciam percursos, modos e condições de vida de pes-
soas, grupos e identidades individuais e coletivas. A resposta a esses problemas da ação
exige um saber profissional proveniente de uma estrutura sociocognitiva específica que
está na base da forma identitária que se constrói e reconstrói pela reflexão individual e
coletiva e pela afirmação da autonomia profissional na ação. Os profissionais trabalham
em tensão permanente, intrínseca à própria ação, para reinventar e adaptar procedi-
mentos difíceis de codificar e formalizar no cruzamento de relações sociais complexas
com lógicas individuais e coletivas diversas e mesmo antagônicas. Tensões, conflitos e
limites nos contextos de interação com as populações são fatores de complexificação e
de incerteza no saber. Mas, para agir nessas condições, o profissional precisa de algum
padrão de regularidade e de generalidade que se constituem como procedimentos pro-
fissionais de seu saber de ação, como mostra este artigo.
[...]
O SABER PROFISSIONAL: UM SABER DE AÇÃO COMPLEXO
O exercício da profissão depende dos esquemas operacionais que o profissional é ca-
paz de formular antes de agir, nos quais recontextualiza, adapta e combina saberes que
antecipam a ação. Mas depende igualmente de valores, decisões subjetivas com todas
as suas estruturas racionais, cognitivas e afetivas conscientes e inconscientes. O serviço
social é caracterizado como uma profissão mista que integra competência do domínio
do saber agir, mas também do domínio do talento (Le Boterf, 2003). Isso porque se trata
de saberes de ação e relacionais que se aplicam em situações do cotidiano das práticas
profissionais. Podem-se enunciar as seguintes características:
177
Acesse o link a seguir que discorre sobre a Resolução CFESS nº 428/2002 de 14 de maio de 2002,
que dispõe sobre as normas que regulam o CÓDIGO PROCESSUAL DE ÉTICA, incluindo todas
as alterações que foram regulamentadas por Resolução, bem como aquelas aprovadas pelo
Encontro Nacional CFESS/CRESS realizado em 2001.
Disponível em: <http://www.cressrs.org.br/docs/Codigo_Processual_de_etica.pdf>.
Acesse também o link a seguir que discorre sobre as Resoluções e Portarias CFESS que orientam e
normatizam o exercício profissional de assistentes sociais.
Disponível em: <http://www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/resolucoes-e-portarias-cfess>.
Professora Esp. Daniela Sikorski
ÉTICA, COTIDIANO E
V
UNIDADE
EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender cotidiano enquanto espaço privilegiado do exercício
profissional.
■■ Refletir acerca da categoria trabalho e sua relação com o Serviço
Social.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O Cotidiano: Espaço Privilegiado da Prática Profissional
■■ Refletindo Sobre a Categoria Trabalho e o Serviço Social
■■ Refletindo Sobre o Exercício Profissional
181
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a)!
As nossas unidades de estudo foram uma caminhada gostosa, cheia de des-
cobertas e muitas, mas muitas reflexões. Aposto que em muitos momentos você
se questionou quanto à profissão e à forma como ela se configura na sociedade
antiga e atual. Isso é bom, é muito bom!
A ideia do Código de Ética é de que os profissionais vejam nele não somente
seu caráter punitivo, mas um instrumento privilegiado que permite à profissão
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
182 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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A profissão de Serviço Social possui muita força; fez e faz parte de uma marcha
histórica marcada por grandes conquistas, muitas lutas, avanços e uma trajetó-
ria de muito valor.
O modo capitalista de produzir supõe um modo capitalista de pensar, ou
seja, não é a forma como pensa o capitalista, mas, antes de tudo, a forma neces-
sária de toda a sociedade pensar e agir, fundamental à reelaboração das bases de
sustentação - ideológicas e sociais - do capitalismo.
Portanto, o controle social não se reduz ao controle governamental e institu-
cional, é também exercido por meio de relações diretas, expressando o poder de
influência de determinados agentes sociais sobre o cotidiano de vida dos indivíduos,
reforçando a internalização de normas e comportamentos legitimados socialmente.
Dentre esses agentes institucionais, encontra-se o profissional do Serviço Social.
O lócus onde a prática profissional cotidiana, sob o vínculo emprega-
tício e assalariada, ocorre predominantemente é o das instituições. Ali,
no ‘todo dia’ do trabalho, o sujeito depara com atividades normatiza-
das, técnico-burocrática, onde, via de regra, a preocupação está mais
voltada para a produção quantitativa, de aparência imediata, que para
resultados qualitativos e duradouros (BAPTISTA, 2001, p.112, grifo do
autor).
Introdução
184 UNIDADE V
O acesso que temos às histórias de vida dos sujeitos (usuários), muitas vezes, são enten-
didas como uma “invasão” de privacidade da pessoa que procura o assistente social.
ATENÇÃO!
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Com base nessa colocação, reforçamos aqui a importância do compromisso
social do profissional, orientado no sentido de solidarizar-se com o projeto de
vida do trabalhador ou de usar esse acesso para objetivos que lhes são estranhos
e, sobretudo, ter claro o Código de Ética vigente!
Importante considerar que os organismos institucionais dependem da ade-
são, pelo menos passiva, de seus agentes, para o alcance das metas e estratégias
de classe que implementam. Ou seja, ele depende de os profissionais aderiram
sua proposta, aceitando a contratação. Se o Assistente Social, enquanto trabalha-
dor assalariado dever responder às exigências básicas da entidade que contrata
seus serviços, ele dispõe de uma relativa autonomia no exercício de suas fun-
ções institucionais.
É também corresponsável pelo rumo imprimido às suas atividades, pelas
formas de conduzi-las. A imprecisão quanto à delimitação das atribuições desse
profissional pode ser um fator de ampliação da margem de possibilidade de rede-
finição de suas estratégias de trabalho.
No entanto o assistente social no âmbito das instituições tem exercido uma
função de subordinação no processo de decisão. Essa situação acaba culminando
em um profissional executor, e não que decide ações pertinentes ao atendimento
à demanda institucional.
Sem poder ter decisão ao nível global, ele utiliza a manipulação de
pequenos recursos para reforçar seu próprio poder pessoal. Assim, o
relacionamento pessoal com a clientela esconde uma relação de poder
muito mais ampla em que o assistente social se insere frente a uma
população usuária dividida e carente de poder sobre sua vida (FALEI-
ROS, 2008, P. 20).
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
186 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
decolam da singularidade, o que significa que não conseguem estabe-
lecer relação entre a universalidade da teoria e a imediaticidade do sin-
gular (MUNHOZ, 2001, p.16, grifos nossos).
nela própria – ela é algo necessário – mas no fato de ela ser imposta como
fim, em detrimento do real enfrentamento das questões e do processo de
criação e renovação de conhecimentos e práticas.
Introdução
188 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
- O que está sendo afirmado? Há ideias implícitas no argumento?
- O que é usado para apoiar as ideias?
- As evidências (se houver) apoiam as ideias?
- Há facetas importantes do problema abordado que não foram considera-
das? O que outras pessoas sugerem?
- O autor caracteriza bem o problema abordado? Ou sua caracterização dis-
torce o problema? Quais as questões principais envolvidas? O autor reco-
nhece a centralidade de tais questões? Essas questões são de fato, de valor
ou conceituais?
- Que informações poderiam ajudar a esclarecer as questões principais?
- Que ideias ou conceitos poderiam ajudar a esclarecer as questões princi-
pais?
- Que ideias ou conceitos precisam ser explorados para esclarecer as ques-
tões principais?
Fonte: Carraher (1983, p.127-128).
©shutterstock
Introdução
190 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A questão do assalariamento parecia encoberta pela própria visão hu-
manista que fazia o serviço social aparecer como um sacerdócio, uma
atividade benevolente e sem caráter determinado pela sua inserção no
processo técnico e social do trabalho (FALEIROS, 2008, p. 19).
Sabemos que a profissão rompeu com sua origem católica (porém, não a nega
enquanto processo histórico) na medida em que surge a consolidação do mer-
cado de trabalho e o assalariamento da força de trabalho do profissional, (não
eram mais moças de família, mas camadas médias que tiveram que vender sua
força de trabalho). O significado social da profissão encontra-se estreitamente
vinculado às políticas sociais do Estado, via instituições de saúde, educação,
assistência social etc, em que instituições constituem em um marco operativo e
funcional no qual se desenvolve nossa profissão.
©shutterstock
Introdução
192 UNIDADE V
A prática profissional torna-se cada vez mais complexa e não pode mais
ser reduzida ingenuamente a entrevistas, reuniões e visitas ou a um
militantismo partidário e sectário. Ele se torna um saber estratégico.
Ela se torna um saber tático. Um saber que precisa situar-se em um
contexto político global e em um contexto institucional particular vi-
sualizando as relações de poder (NICOLAU, 2004, p. 85).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
‘Intervenção profissional’, [...] é empregado para referir-se à ação do
profissional que se dirige a alguma parte de um sistema ou de um pro-
cesso com a intenção de nele induzir uma transformação (GORDON,
1993, p. 88) um ato profissional é dirigido e posto em execução por
meio do emprego consciente do conhecimento e dos valores do Ser-
viço Social e, assim está em harmonia com a ideia de prioridade [...]
intervenção, tradicionalmente, significa provocar uma diferença no
resultado ou curso dos acontecimentos (BARTLETT, 1993, p. 88, grifo
do autor).
A partir dessa colocação, entendemos que “a prática profissional deve ser situada
no contexto das relações sociais concretas de cada sociedade” (CELATS, 1985,
p.57). E podemos conceber a prática, o cotidiano como um espaço privilegiado
do fazer profissional do assistente social, em que encontramos a matéria-prima
do trabalho do profissional, que são as múltiplas expressões das questões sociais,
que é objeto de trabalho desse profissional.
O fazer profissional foi historicamente construído e socialmente determinado
pelas relações de forças postas pelo sistema e, como assistentes sociais, estamos
mais que inseridos nesse processo e dele não podemos nos abster, uma vez que
incidimos sobre a consciência dos sujeitos (lembrando que somos seres de rela-
ções e na medida em que influenciamos, também somos influenciados) e desta
maneira podemos compreender que:
Tal característica circunscreve, na práxis social, a posição teleológica
deste trabalho profissional: trabalho que ao ser mediatizado pelos ser-
viços sócio-assistenciais demandados pelos setores público e privado
em respostas as diferentes expressões da questão social, caracteriza-se
de forma dominante ao nível político-ideológico [...] (NICOLAU, 2004,
p.86)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Que caminhos ou que processos devem ser trabalhados em função do
processo de reflexão gerador das ações necessárias?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
meras possibilidades ao exercício profissional.
Esse rumo ético-político requer um pro-
fissional informado, culto, crítico e competente.
Exige romper com o teoricismo estéril, com o pragmatismo,
aprisionado no fazer pelo fazer, em alvos e interesses imedia-
tos. É requisitada uma competência crítica, capaz de decifrar a
gênese dos processos sociais, suas desigualdades e as estratégias de
ação para enfrentá-la.
Supõe competência teórica e fidelidade ao movimento da realidade; com-
petência técnica e ético-política que subordine o “como fazer” ao “o que fazer”,
este, ao “dever ser”, sem perder de vista seu enraizamento no processo social.
Enfim, requer uma nova natureza do trabalho profissional, que não recusa
as tarefas socialmente atribuídas a esse profissional, mas lhe atribui um trata-
mento teórico-metodológico e ético-político diferenciado.
No processo de trabalho do Serviço Social, faz-se fundamental indicar
suas peculiaridades: possui mandato legal e científico (legislação profissional,
Código de Ética e associações profissionais). Esse mandato é fruto não de um
movimento interno da categoria, mas resultante de enfrentamento e negociações
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
buscar respostas. Após todo esse momento de leitura e estudo, é possível uma
reflexão sobre o exercício da nossa profissão? No que consiste tal exercício e a
quem se destina?
Alerto apenas para o seguinte: como vimos ao longo das unidades de estudo,
as reflexões devem iniciar antes do exercício permanente da profissão, ou seja,
antes da formatura, pois, no processo de graduação, você também já está contri-
buindo para a construção da profissão, uma vez que até mesmo para a escolha
do curso foram necessários momentos de reflexão, você lembra disso?
O que estamos fazendo aqui é percorrer o caminho de construção teórico-
-metodológico. Para tanto, fica a questão: será que estou tomando ciência de todo
conjunto de deveres que estou a caminho de assumir? Estou me preparando e me
empenhando o suficiente para assumir os compromissos que a categoria prega?
Minha missão é contribuir com a formação de novos e ótimos profissionais
(conforme previsto no Código de Ética 1993), profissionais éticos, críticos e
conscientes de sua profissão. Dessa maneira, o estudo e a dedicação são mais que
necessários, pois não podemos correr o risco de sermos vistos como assistentes
sociais que são apenas coletores de dados ou “preenchedores” de formulários.
A formação profissional nos possibilita uma formação técnica, desvinculando-
-se do fazer leigo. Existem objetivos e intenções fundamentadas na nossa ação
profissional enquanto assistentes sociais.
Pense nisso. Sucesso sempre e até a próxima.
Profª. Daniela Sikorski
2. Já ouvimos alguns profissionais dizerem que “Na teoria, é uma coisa e, na prática,
é outra!”. Ou, então, “Na teoria, tudo é lindo e maravilhoso, mas, na prática, não
é bem assim que acontece!”. Ou, ainda “que nada do que se estuda ou aprende
na graduação serve quando se está no dia a dia profissional, com os problemas
batendo à porta”. Considerando a sua leitura e a reflexão feita ao longo da
unidade, quais análises podemos estabelecer?
3. (FCC – 2008 - TRT - 18ª Região (GO) - Analista Judiciário - Serviço Social) A refle-
xão ética sobre o comportamento profissional, que pensa a relação do eu com o
coletivo, estabelece parâmetros para a relação do profissional com a sociedade.
Essa relação possibilita:
a. Seu retorno à prática, pois ilumina a ação profissional e o posicionamento da
profissão diante da realidade social.
b. A suspensão da cotidianidade, com objetivo de responder às necessidades
imediatas, sistematizando a crítica da vida cotidiana.
c. Um juízo de valor, uma avaliação que qualifica ações, objetos, pessoas e rela-
ções na atuação profissional mais efetiva.
d. Respeito ao outro, aceitando conscientemente que o diferente é capaz, mas
necessita da intervenção profissional para se conscientizar disso.
e. A capacidade de se elevar ao humano-genérico, e agir a partir de tal elevação,
comprometendo assim a ação profissional.
4. (FCC - 2008 - TRT - 18ª Região (GO) - Analista Judiciário - Serviço Social) O
conteúdo da ética profissional é construído na prática cotidiana, espaço de con-
fronto com situações de conflito que demandam um posicionamento de valor.
Existem, assim, limites e possibilidades para a ética profissional, que são
dados:
a. Pelos movimentos neoliberais e pela ampliação da competência teórica volta-
da à reflexão ética, capaz de desmistificar o agir profissional.
b. Pelos projetos emancipatórios de uma sociedade e pela prática profissional
voltada para o enfrentamento dos desdobramentos da questão social.
c. Pela compreensão dos fundamentos sócio-históricos da ética que têm origem
na práxis, ou seja, na atividade prática consciente que possibilita ao homem
constituir-se como ser social.
d. Pelas tendências estruturais e conjunturais da sociedade capitalista e pela prá-
tica profissional orientada teleologicamente em função de um projeto coleti-
vo.
e. Pela práxis ético-política pautada em projetos sociais voltados para a manu-
tenção e ampliação do neoliberalismo e por um Projeto Profissional que obje-
tiva a realização e a ampliação de direitos sociais e humanos.
201
Material Complementar
205
CONCLUSÃO
Parabéns! É muito bom ver que você conseguiu cumprir mais uma etapa. Foi um
aprendizado e tanto, você não acha?
Algumas certezas ficam mais ressaltadas, como a de que a ética é sempre um exer-
cício da nossa relação com o outro, da nossa relação enquanto sujeito coletivo. De
que, ao olharmos a história, conseguimos compreender que realmente somos su-
jeitos que influenciamos e somos influenciados pela sociedade em que vivemos.
Daqui cem anos, com certeza, muitas coisas que hoje eram aceitas certamente não
serão e o contrário também será válido. Pode ser que nosso Código de Ética seja
reformulado, pode ser que não, isso dependerá das ações e reflexões coletivas. As
mudanças não ocorrem porque um indivíduo quer apenas.
Enteder o trabalho, a ética, a moral, a ética profissional, os Códigos de Ética da nossa
profissão, que são Projetos Societários, Projetos Profissionais e, finalmente, o Proje-
to Ético-Político Profissional do Serviço Social foi deveras importante para que pu-
déssemos compreender melhor o Código atual, aprovado em 1993.
Compreender os seus eixos estruturantes, seus princípios, mostrou-nos que cada
um deles é fundamentado teoricamente, baseado na trajetória da sociedade e do
amadurecimento da profissão de serviço social, enquanto categoria profissional in-
serida na categoria sociotécnica do trabalho. Desvinculada da caridade e do assis-
tencialismo, aberta, pluralista, dotada de saber, com direitos e deveres.
Uma profissão séria e que deve ser encarada com seridade, para isso faz-se necessá-
rio, além de conhecer o Código de Ética, o profissional vivenciá-lo durante o exercí-
cio profissional, não deve ser apenas mais um caderninho para colocar na prateleria
ou na gaveta.
Ao estudarmos as cinco unidades, fica claro que hoje nossa profissão está consolida-
da e é reconhecida. Porém, quando iniciamos o curso, nossa compreensão sobre o
que é e o que faz o assistente social pode ser um “pouco diferente” do que realmente
é (e isso geralmente ocorre), porém, com o passar do tempo, vamos descobrindo
que é preciso muito mais que boa vontade ou desejo de ajudar. É necessário estudo,
análise e entendimento acerca do homem, suas relações e a sociedade em que vive.
Essa construção é maravilhosa, mas nem sempre fácil e, com certeza, é o que garan-
te a formação de ótimos profissionais que fazem e farão a diferença na sociedade.
Sucesso sempre. Até a próxima.
UNIDADE I
1. Resposta Correta: letra C. Justificativa: As normas variam a cada momento histó-
rico a depender de cada cultura.
2. Resposta Correta: letra E. Comentário: Moral e Ética não possuem o mesmo sen-
tido, ética é ser bom e justo, moral é como ser bom em determinada cultura.
- A “Ética” é permanente e universal.
- A “Moral” quer dizer conduta de regra e pode variar na sociedade.
3. Resposta:
GABARITO
UNIDADE II
1. Resposta correta: Letra C. Comentário: De acordo com o texto da unidade II, só
haverá ética profissional efetiva se, primeiramente, houver uma ética pessoal
efetiva, a segunda não existe efetivamente sem a primeira.
2. Resposta do caça palavras
Palavras distribuídas: Afetividade – Competência – Flexibilidade – Privacidade – En-
volvimento – Respeito – Aprimoramento – Confiança – Fidelidade - Tolerância
215
GABARITO
CÓDIGO DE ÉTICA
O que é o Código de Ética ? Os Códigos de Ética são reflexos da
própria profissão diante de determi-
nado contexto histórico, representam
o posicionamento ético/moral da
categoria nas objetivações do traba-
lho profissional, a mediação entre as
categorias históricas-sociais-políticas
da profissão, com isso, a própria práxis
presente na realidade do Serviço So-
cial. (NETO, 2013, p.87)
O que representa o Código de Ética? Os Códigos de Ética representam a con-
figuração das normas, moral e valores
da profissão, princípios éticos, diante
de determinado contexto histórico-so-
cial, político e econômico; expressam
a visão de homem e de mundo, e
assim, a direção social da profissão e
de seus trabalhadores. Formados por
elementos que variam entre princípios,
deveres e direito, tais diretrizes éticas
se apresentam de forma transversal no
processo de trabalho, na relação com
a população usuária, as instituições e
entre a própria categoria profissional.
(CARVALHO NETO, 2013, p.87)
GABARITO
6. Respostas:
Código de Ética de 1947: Beneficiário
Código de Ética de 1965: Cliente
Código de Ética de 1975: Cliente
Código de Ética de 1986: Usuário
Código de Ética de 1993: Usuário
7. Respostas:
01 02 03 04 05 06 07 08 09
1947 e
1986 1947 1993 1962 1975 1986 1965 1975
1965
GABARITO
UNIDADE III
1. Os onze princípios são, de maneira metafórica, a médula cervical que sustenta
a estrutura jurídica legal do Código de Ética Profissional, sem eles, o Código de
Ética seria apenas um código de conduta direcionado para a ação técnica des-
conectada do movimento da realidade, o que eliminaria a dimensão política e
transformadora das ações profissionais do assistente social.
2. A liberdade deve ser tomada como valor ético central na medida que preconiza
a defesa da liberdade coletiva dos sujeitos, para isso, é preciso que autonomia,
emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais também sejam atendidas.
Não é possível garantir liberdade sem contemplar a autonomia, que, por sua vez,
leva à emancipação e ao pleno desenvolvimento dos sujeitos na sua complexi-
dade.
3. Para eliminar todas as formas de preconceito, é de suma importância que o as-
sistente social reflita se os valores que ele tem praticado são pautados em con-
cepções abstratas e imediatas do senso comum, ou são feitos a partir de uma
reflexão ética, crítica e que responda efetivamente a questões sociais e coletivas
na garantia do respeito e do direito de todos.
UNIDADE IV
1. É um dever.
2. As penalidades aplicáveis são as seguintes:
a. Multa.
b. Advertência reservada.
c. Advertência pública.
d. Suspensão do exercício profissional.
e. Cassação do registro profissional.
UNIDADE V
1.
2. Orientação de Resposta:
Essas percepções podem acontecer por conta de muitos profissionais acharem que
a teoria é aplicada na prática, quando, na verdade, essa a fundamenta. É no coti-
diano que temos a oportunidade de experenciar as teorias. O cotidiano é o espaço
onde a prática profissional acontece.
O profissional que não estabelece um processo reflexivo sobre a sua prática, acaba
por ser engolido pela rotina e pelo imediatismo. A reflexão nos permite fazer e en-
tender o sentido do nosso exercício profissional, a falta da reflexão, estudo, discus-
são, criticidade coloca a profissão apenas no patamar técnico.
3. Reposta correta: letra a.
4. Reposta correta: letra D.
ANEXO
Princípios Fundamentais
■■ Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas
políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos
indivíduos sociais;
■■ Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do
autoritarismo;
■■ Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de
toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das
classes trabalhadoras;
■■ Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da parti-
cipação política e da riqueza socialmente produzida;
■■ Posicionamento em favor da eqüidade e justiça social, que assegure univer-
salidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas
sociais, bem como sua gestão democrática;
■■ Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o
respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados
e à discussão das diferenças;
■■ Garantia do pluralismo, por meio do respeito às correntes profissionais demo-
cráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante
aprimoramento intelectual;
■■ Opção por um Projeto Profissional vinculado ao processo de construção de uma
nova ordem societária, sem dominação exploração de classe, etnia e gênero;
■■ Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que parti-
lhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores;
■■ Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com
o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;
■■ Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por ques-
tões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção
sexual, idade e condição física.
TÍTULO I
Disposições gerais
Art.1º Compete ao Conselho Federal de Serviço Social:
a. Zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, fiscalizando
as ações dos Conselhos Regionais e a prática exercida pelos profissionais, ins-
tituições e organizações na área do Serviço Social;
ANEXO
b. Introduzir alteração neste Código, por meio de uma ampla participação da cate-
goria, num processo desenvolvido em ação conjunta com os Conselhos Regionais;
c. Como Tribunal Superior de Ética Profissional, firmar jurisprudência na obser-
vância deste Código e nos casos omissos.
§ único - Compete aos Conselhos Regionais, nas áreas de suas respectivas jurisdi-
ções, zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, e funcionar
como órgão julgador de primeira instância.
TÍTULO II
Dos direitos e das responsabilidades gerais do Assistente Social
Art. 2º Constituem direitos do assistente social:
a. Garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de
Regulamentação da Profissão e dos princípios firmados neste Código;
b. Livre exercício das atividades inerentes à Profissão;
c. Participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na formu-
lação e implementação de programas sociais;
d. Inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação,
garantindo o sigilo profissional;
e. Desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;
f. Aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos
princípios deste Código;
g. Pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando se tra-
tar de assuntos de interesse da população;
h. Ampla autonomia no exercício da Profissão, não sendo obrigado a prestar ser-
viços profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou funções;
i. Liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direi-
tos de participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos.
TÍTULO III
Das relações profissionais
CAPÍTULO I
Das Relações com os Usuários
Art. 5º São deveres do assistente social nas suas relações com os usuários:
a. Contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuária
nas decisões institucionais;
ANEXO
CAPÍTULO II
Das Relações com as Instituições Empregadoras e outras
Art. 7º Constituem direitos do assistente social:
a. Dispor de condições de trabalho condignas, seja em entidade pública ou pri-
vada, de forma a garantir a qualidade do exercício profissional;
b. Ter livre acesso à população usuária;
c. Ter acesso a informações institucionais que se relacionem aos programas e polí-
ticas sociais e sejam necessárias ao pleno exercício das atribuições profissionais;
227
ANEXO
CAPÍTULO III
Das Relações com Assistentes Sociais e outros Profissionais
Art. 10º São deveres do assistente social:
a. Ser solidário com outros profissionais, sem, todavia, eximir-se de denunciar
atos que contrariem os postulados éticos contidos neste Código;
b. Repassar ao seu substituto as informações necessárias à continuidade do
trabalho;
c. Mobilizar sua autoridade funcional, ao ocupar uma chefia, para a liberação
de carga horária de subordinado, para fim de estudos e pesquisas que visem
o aprimoramento profissional, bem como de representação ou delegação
de entidade de organização da categoria e outras, dando igual oportuni-
dade a todos;
ANEXO
CAPÍTULO IV
Das Relações com Entidades da Categoria e demais Organizações da
Sociedade Civil
Art.12º Constituem direitos do assistente social:
a. Participar em sociedades científicas e em entidades representativas e de orga-
nização da categoria que tenham por finalidade, respectivamente, a produção
de conhecimento, a defesa e a fiscalização do exercício profissional;
b. Apoiar e/ou participar dos movimentos sociais e organizações populares vin-
culados à luta pela consolidação e ampliação da democracia e dos direitos
de cidadania.
Art. 14º É vedado ao assistente social valer-se de posição ocupada na direção de entida-
de da categoria para obter vantagens pessoais, diretamente ou por meio de terceiros.
CAPÍTULO V
Do Sigilo Profissional
Art. 15º Constitui direito do assistente social manter o sigilo profissional.
Art. 16º O sigilo protegerá o usuário em tudo aquilo de que o assistente social tome
conhecimento, como decorrência do exercício da atividade profissional.
§ único - Em trabalho multidisciplinar só poderão ser prestadas informações dentro
dos limites do estritamente necessário.
Art. 17º É vedado ao assistente social revelar sigilo profissional.
Art. 18º A quebra do sigilo só é admissível quando se tratarem de situações cuja
gravidade possa, envolvendo ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos interesses
do usuário, de terceiros e da coletividade.
§ único - A revelação será feita dentro do estritamente necessário, quer em relação
ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele devam tomar co-
nhecimento.
CAPÍTULO VI
Das Relações do Assistente Social com a Justiça
Art. 19º São deveres do assistente social:
a. Apresentar à justiça, quando convocado na qualidade de perito ou testemu-
nha, as conclusões do seu laudo ou depoimento, sem extrapolar o âmbito da
competência profissional e violar os princípios éticos contidos neste Código.
b. Comparecer perante a autoridade competente, quando intimado a prestar
depoimento, para declarar que está obrigado a guardar sigilo profissional nos
termos deste Código e da Legislação em vigor.
TÍTULO IV
Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento Deste Código
Art. 21º São deveres do assistente social:
a. Cumprir e fazer cumprir este Código;
b. Denunciar ao Conselho Regional de Serviço Social, por meio de comunicação
c. Fundamentada, qualquer forma de exercício irregular da Profissão, infrações
a princípios e diretrizes deste Código e da legislação profissional;
d. Informar, esclarecer e orientar os estudantes, na docência ou supervisão,
quanto aos princípios e normas contidas neste Código.
Das Penalidades
Art. 23º As infrações a este Código acarretarão penalidades, desde a multa à cas-
sação do exercício profissional, na forma dos dispositivos legais e/ ou regimentais.
Art. 24º As penalidades aplicáveis são as seguintes:
a. Multa;
b. Advertência reservada;
c. Advertência pública;
d. Suspensão do exercício profissional;
e. Cassação do registro profissional.
§ único - Serão eliminados dos quadros dos CRESS aqueles que fizerem falsa prova
dos requisitos exigidos nos Conselhos.
231
ANEXO
Art. 30º Cumpre ao Conselho Regional a execução das decisões proferidas nos pro-
cessos disciplinares.
Art. 31º Da imposição de qualquer penalidade caberá recurso com efeito suspensi-
vo ao CFESS.
Art. 32º A punibilidade do assistente social, por falta sujeita a processo ético e dis-
ciplinar, prescreve em 05 (cinco) anos, contados da data da verificação do fato res-
pectivo.
Art. 33º Na execução da pena de advertência reservada, não sendo encontrado o
penalizado ou se este, após duas convocações, não comparecer no prazo fixado
para receber a penalidade, será ela tornada pública.
§ Primeiro - A pena de multa, ainda que o penalizado compareça para tomar conhe-
cimento da decisão, será publicada nos termos do Art. 29 deste Código, se não for
devidamente quitada no prazo de 30 (trinta) dias, sem prejuízo da cobrança judicial.
§ Segundo - Em caso de cassação do exercício profissional, além
dos editais e das comunicações feitas às autoridades competentes interessadas no
assunto, proceder-se-á a apreensão da Carteira e Cédula de Identidade Profissional
do infrator .
Art. 34º A pena de multa variará entre o mínimo correspondente ao valor de uma
anuidade e o máximo do seu décuplo.
Art. 35º As dúvidas na observância deste Código e os casos omissos serão resolvidos
pelos Conselhos Regionais de Serviço Social “ad referendum” do Conselho Federal
de Serviço Social, a quem cabe firmar jurisprudência.
Art. 36º O presente Código entrará em vigor na data de sua publicação no Diário
Oficial da União, revogando-se as disposições em contrário.
Brasília, 13 de março de 1993.
Marlise Vinagre Silva - Presidente do CFESS
Publicado no Diário Oficial da União N 60, de 30.03.93, Seção I, páginas 4004 a 4007
e alterado pela Resolução CFESS n.º 290, publicada no Diário Oficial da União de
11.02.94.