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FORMAÇÃO DÍZIMO

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SEGUNDO MOMENTO - FORMAÇÃO
O Dízimo
O dízimo é uma contribuição sistemática e periódica dos fiéis, por meio da qual cada
comunidade assume corresponsavelmente sua sustentação e a da Igreja. Ele pressupõe
pessoas evangelizadas e comprometidas com a evangelização.

O dízimo é, antes de tudo, um gesto de gratidão. Somente depois também assume a


característica de contribuição, cujo sentido, porém, não deve ser minimizado, pois a
Igreja é também corporeidade, isto é, precisa de recursos para cumprir sua missão
evangelizadora. Assim, o dízimo torna-se uma bênção de Deus que abre novas
possibilidades para as nossas comunidades.

Como sistema de contribuição, o dízimo tem as seguintes


características:

❏ É relacionado com a experiência de Deus e com o amor fraterno;


❏ É um compromisso moral dos fiéis com a Igreja;
❏ É fixado de acordo com a consciência retamente
formada;
❏ É sistemático e periódico.

Como compromisso moral, a contribuição com o dízimo nasce de uma decisão pessoal
que exprime a pertença efetiva à Igreja, vivida em uma comunidade concreta. A
contribuição que se faz por meio dele é uma manifestação autêntica e espontânea da
fé em Deus, da comunhão e da participação na vida da Igreja e em sua missão. Por isso,
ele se diferencia do simples cumprimento de uma lei e se situa no plano da decisão de
consciência iluminada pela fé.

Assim como a decisão de contribuir com o dízimo, também a escolha da quantia


destinada para isso é decisão de consciência, iluminada pela Palavra de Deus, sensível
às necessidades da Igreja e do próximo O apóstolo Paulo ensina: “Cada um dê
conforme tiver decidido em seu coração, sem pesar nem constrangimento, pois Deus
ama quem dá com alegria” (2Cor 9,7). O termo “dízimo” significa a décima parte (10%).
Essa quantia foi o conteúdo do voto dos patriarcas Abraão e Jacó e assim assumida na
legislação do AT. A Igreja, porém, não estabelece como lei nenhum percentual
predefinido. Santo Tomás de Aquino auxilia a compreender isso fazendo uma
importante distinção entre a substância do dízimo – a contribuição dos fiéis que,
agradecidos, entrega parte de seus bens – e sua forma, que é um modo de contribuir,
este é definido em sintonia com o tempo e os costumes de cada lugar.
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Os fundamentos bíblicos do dízimo

São muitíssimas as passagens da Bíblia que nos falam do dízimo. A título de exemplo,
citamos apenas algumas passagens bíblicas.

Deus é o senhor de tudo o que existe, o proprietário da terra de onde provém o


alimento e a fonte de toda bênção (Lv 25,23; Sl 24,1). Ao se entregar o dízimo a Deus,
segundo a concepção bíblica, reconhece-se que tudo vem dele (1Cr 29,11.14) e, por
reconhecimento e gratidão, o melhor devemos dar a ele (1Sm 2,29; Ml 1,6-14). A
contribuição com o dízimo permite aos dizimistas vivenciar a comunhão de bens,
característica da comunidade que surgiu da Páscoa de Cristo.

A instituição do dízimo acompanha a história e a cultura do antigo Israel desde seus


inícios. É Abraão, nosso pai, quem entrega primeiro um dízimo. Abrão. Depois que as
terras de Canaã foram invadidas, juntou seus aliados e outras populações da região e
iniciou a perseguição aos reis agressores, vencendo-os com uma tropa.

Na volta da batalha, Abraão encontrou-se com Melquisedec, o rei sacerdote de Salém.


Este pronunciou uma bênção sobre o patriarca: “Bendito seja Abraão pelo Deus
Altíssimo que criou o céu e a terra. E bendito seja o Deus Altíssimo que entregou teus
inimigos em tuas mãos”. A reação imediata de Abraão consistiu na entrega do dízimo:
“E Abraão lhe deu o dízimo de tudo” (Gênesis 14, 19-20). O texto nos indica que o ato
parte totalmente do reconhecimento de Abraão a Deus por ter-lhe proporcionado
vencer seus inimigos (Gn 14,20). Uma segunda menção ocorre no livro do Gênesis
28,18-22, quando Jacó se dispõe a oferecer o dízimo como resultado de sua experiência
com Deus em Betel. Em ambos os casos, o dízimo é oferecido pelos patriarcas como
reconhecimento e gratidão pela dádiva de Deus, que abençoa e acompanha aquele que
a ele se confia.

Já em textos relacionados a Moisés e o seu fundante papel no caminho do povo de


Deus, o dízimo passa a ser entregue não somente como reconhecimento, conforme se
viu nos patriarcas, mas por tornar-se um preceito: “Todo o dízimo do país tirano das
sementes da terra e dos frutos das árvores pertence ao Senhor como coisa
consagrada”(Lv 27,30).

Nos profetas, o dízimo é visto sob um prisma mais profundo: o da fidelidade à aliança.
Por isso mesmo não pode ser esquecido, mas, sobretudo, não pode cair no formalismo
cultural sem a interioridade de que necessita estar revestido.

As menções ao dízimo que se encontram nos Evangelhos se referem à prática da


religião judaica no tempo de Jesus. 3
Gostaria de apresentar aqui o exemplo que Jesus deu da oferta da pobre viúva que
ofereceu suas duas moedinhas, “tudo o que tinha para viver” (Mc 12,41-44). Jesus elogia
essa viúva que soube partilhar. A ação da viúva pressupõe a confiança total em Deus e na
providência dele.
Nas primeiras comunidades, o que cada um possuía era posto a serviço dos outros; desse
modo, os bens pessoais se tornavam comunitários por livre decisão.

Nos escritos paulinos, encontra-se um ensinamento que, pelo seu teor, pode iluminar a
compreensão e a prática do dízimo. “O apóstolo ensina que cada fiel deve dar ‘conforme
tiver decidido em seu coração’, pois Deus ama quem dá com alegria” (2Cor 9,7).

Esse percurso bíblico leva a perceber que a consciência do dízimo parte do


reconhecimento a Deus e da gratidão a Ele.

As dimensões do dízimo
Dimensão religiosa: tem a ver com a relação do cristão com Deus. Contribuindo com
parte de seus bens, o fiel cultiva e aprofunda sua relação com aquele de quem provém
tudo o que ele é e tudo o que ele tem, e expressa, na gratidão, sua fé e sua conversão.

Dimensão eclesial: com o dízimo, o fiel vivencia sua consciência de ser membro da Igreja,
pela qual é corresponsável, contribuindo para que a comunidade disponha do necessário
para realizar o culto divino e para desenvolver sua missão.

Dimensão missionária: O fiel, corresponsável por sua comunidade, toma consciência de


que há muitas comunidades que não conseguem prover suas necessidades com os
próprios recursos e que precisam da colaboração de outras.

Dimensão caritativa: Manifesta no cuidado com os pobres, por parte da comunidade.


“Entre eles ninguém passava necessidade”, pois tudo “era distribuído conforme a
necessidade de cada um”. (At 4, 34-35). A atenção para com os pobres e suas
necessidades é uma característica da Igreja apostólica.

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As finalidades do dízimo
Organizar o culto divino, prover o sustento do clero e dos demais ministros, praticar
obras de apostolado, de missão e de caridade, principalmente em favor dos pobres.

O Catecismo diz o seguinte quando fala do quinto Mandamento da Igreja: “Os fiéis
cristãos tem ainda a obrigação de atender, cada um segundo as suas capacidades, às
necessidades materiais da Igreja” (CIC 2043).

O Código de Direito Canônico diz: “Os fiéis tem obrigação de socorrer as necessidades
da Igreja, a fim de que ela possa dispor do que é necessário para o culto divino, para as
obras de apostolado e de caridade e para o honesto sustento dos ministros” (Cânon
222).
Para concluir é preciso avaliar como inaceitável uma forma muito difundida de propor o
dízimo com base na assim chamada “teologia da prosperidade”. Essa interpretação
indica como fundamento alguns textos do Antigo Testamento que relacionam a
obediência a Deus e o dízimo com a multiplicação dos bens materiais, com a
prosperidade pessoal e com a ameaça de castigos no caso de seu não cumprimento.
Esse modo de ler os textos bíblicos, fora do seu contexto e do conjunto da Sagrada
Escritura, é, por isso, chamado de leitura fundamentalista. Em consequência, quando o
dízimo é proposto com esse tipo de fundamentação, se falsifica o rosto paterno e
amoroso de Deus revelado em Jesus Cristo, e a relação com Ele e o autêntico significado
do dízimo são distorcidos, assumindo-se o risco de transformá-lo em uma tentativa de
se negociar com Deus.

TERCEIRO MOMENTO - ORACIONAL


MI 3, 8-10

“Deus ama quem dá com alegra.” (2Cor 9,7)

Referências Bibliográficas
Documento da CNBB – 106. O dízimo na comunidade de fé: orientações e propostas 5
Texto NUCAP – Núcleo de Catequese Paulinas – Ofereça o dízimo com alegria

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